a fisioterapia no programa saÚde da

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DOUGLAS LUCIANO LOPES GALLO A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA: PERCEPÇÕES EM RELAÇÃO À ATUAÇÃO PROFISSIONAL E FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA Londrina 2005

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Page 1: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

DOUGLAS LUCIANO LOPES GALLO

A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA:

PERCEPÇÕES EM RELAÇÃO À ATUAÇÃO PROFISSIONAL E FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

Londrina 2005

Page 2: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

DOUGLAS LUCIANO LOPES GALLO

A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA:

PERCEPÇÕES EM RELAÇÃO À ATUAÇÃO PROFISSIONAL E FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação, em Saúde Coletiva, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Márcio José de Almeida

Londrina

2005

Page 3: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

DOUGLAS LUCIANO LOPES GALLO

A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA:

PERCEPÇÕES EM RELAÇÃO À ATUAÇÃO PROFISSIONAL E FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-graduação, em Saúde Coletiva, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. Márcio José de Almeida Universidade Estadual de Londrina

Profª. Drª. Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes

Universidade Estadual de Londrina

Profª. Drª. Vera Maria da Rocha Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

Londrina, ____ de _____________ de 2005

Page 4: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Aos meus pais, Edson e Adelaide, apoio e incentivo constantes. Vocês me ensinaram a ter garra e dedicação para vencer obstáculos e conquistar meus sonhos. Dedico-lhes esta obra, pois sem vocês nada teria sido possível...

Page 5: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Agradecimentos

Na construção de uma peça teatral, a presença de todos é imprescindível. Não existirá um cenário se não houver quem o construa. Por detrás dos bastidores, estão os grandes responsáveis pela realização da peça.

À minha família, pela certeza de um porto seguro, sempre. A todos os amigos pessoais, que tornaram o caminho menos árduo e mais

colorido, vocês que me acompanharam, choraram, riram, sentiram, participaram, aconselharam, dividiram... companhias, sorriso, palavras e ausências, expressões de um amor profundo. A vontade de citar nomes é imensa, mas a memória poderia ser injusta, vocês sabem quão importantes foram.

Ao Prof. Dr. Márcio José de Almeida, pelo exemplo de vida, que mais que

palavras, orientou-me por um caminho seguro. Meu reconhecimento permanente, e gratidão eterna pela liberdade para “voar”, e firmeza para concretização desta obra.

Às Professoras Elisabete de Fátima Pólo de Almeida Nunes, Vera Maria

da Rocha, Luiza Nakama e Dirce Shizuo Fujisawa, pelas apreciações sinceras e valiosas durante a qualificação deste trabalho, e por sonharmos o mesmo sonho.

A Profª Celita Salmaso Trelha, por plantar em meu espírito uma

inquietação, por abrir meus olhos para uma Fisioterapia além da reabilitação, pela amizade, carinho, aprendizagem e estímulo na realização deste mestrado. Minha gratidão e reconhecimentos eternos.

A todos os professores e funcionários do Núcleo de Estudos em Saúde

Coletiva e do Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina, por compreenderem minhas limitações e acreditarem em minhas potencialidades. Sentir-me-ei sempre em casa...

Aos colegas do mestrado, pelas valiosas contribuições durante o

processo, por compartilharem as angústias e as conquistas e principalmente pela amizade.

À Secretaria Municipal de Saúde e Coordenações dos cursos de

Fisioterapia da UEL, UNOPAR e UNIFIL, pela possibilidade de realizar o estudo, pela atenção e apoio.

Page 6: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Aos fisioterapeutas do Programa Saúde da Família e docentes

entrevistados, pela atenção que viabilizou a construção deste trabalho. À CAPES, por oportunizar-me as melhores condições para esta pesquisa. A todos aqueles que de uma maneira ou de outra fizeram parte desta

caminhada. Acredito que sem o auxílio e compreensão dispensados sempre que necessitei, o meu sonho jamais teria se concretizado.

Especialmente a Deus: “As pernas fraquejaram, só não comprometeram a

jornada, porque foste o incentivo velado fortificando-me na marcha. Os olhos marejaram, só não atingiram a cegueira, porque ventavas no invisível secando minhas lágrimas. Soube resistir diante do pânico do desconhecido, porque me deste lucidez nos momentos de necessidade. Conservei-me distante do frio desânimo da descrença, porque me lembravas que a vida vai muito além. Que eu saiba no correr dos meus dias corresponder à Tua confiança, que no momento da chegada, eu posso me lembrar da partida, do Teu impulso inicial, na inspiração firme e carinhosa, que repetia sempre: - Vai!

Enfim, a você leitor, principal objetivo deste trabalho... Boa leitura...

Page 7: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Se a doença é colocada entre parênteses, o olhar deixa de ser

exclusivamente técnico, exclusivamente clínico. Então, é o

doente, é a pessoa o objetivo do trabalho, e não a doença. Desta

forma a ênfase não é mais colocada no processo de cura, mas no processo

de invenção da saúde e de reprodução social do paciente.

Basaglia

Page 8: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

GALLO, Douglas Luciano Lopes. A Fisioterapia no Programa Saúde da Família: percepções em relação à atuação profissional e formação universitária. 2005. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade Estadual de Londrina.

RESUMO

Para consolidação do Programa Saúde da Família (PSF) faz-se necessária uma adequação dos profissionais de saúde à nova estratégia, considerando-se a integralidade como eixo estrutural e a saúde vista em sua positividade. A Fisioterapia historicamente admitiu como objeto de trabalho o indivíduo doente, porém com sua inclusão gradual no PSF também torna-se co-responsável pela mudança na abordagem. Este estudo teve por objetivo analisar a inserção e a prática do fisioterapeuta no PSF do município de Londrina e as adequações da formação universitária a essa atuação. Tendo em vista a natureza do objeto de pesquisa adotou-se uma metodologia de pesquisa qualitativa, configurando-se como um estudo aplicado às ciências sociais. Como instrumento de coleta de dados foi utilizada a entrevista semi-estruturada e os informantes-chave foram oito fisioterapeutas que trabalhavam no PSF em Londrina e seis professores de três instituições de ensino superior com formação em Fisioterapia (três coordenadores de curso e três professores responsáveis pela disciplina de Saúde Pública) existentes no mesmo município. O corpus de pesquisa foi submetido à análise de conteúdo, sendo desenvolvidas três categorias: a) A fisioterapia no Programa Saúde da Família em Londrina; b) A fisioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS); c) A formação do fisioterapeuta. Na primeira categoria analisou-se a estruturação do serviço de fisioterapia no PSF em Londrina, como se dá a atuação do fisioterapeuta e qual o seu perfil para atuar no PSF. Na segunda categoria, as percepções dos fisioterapeutas e professores em relação à atuação da fisioterapia no SUS e suas visões do SUS. Na terceira e última categoria analisou-se como é o ensino em fisioterapia e sua adequação ao perfil profissional requerido para o fisioterapeuta no PSF. Concluiu-se que a inserção do fisioterapeuta se deu de maneira pouco organizada e objetivando uma demanda específica, a do acamado, porém os profissionais foram se adequando, passando a novas linhas de atuação. O perfil profissional requerido para atuação no PSF incluiu: formação generalista, flexibilidade e criatividade, empatia, autonomia e iniciativa, capacidade de trabalho em equipe e conhecimento sobre o SUS. A formação ainda não estaria adequada a estas exigências, embora algumas iniciativas tenham surgido decorrentes dessas necessidades, como é o caso de uma instituição que possui estágio em PSF aos seus alunos. Palavras-chave: Fisioterapia (especialidade). Programa saúde da família. Recursos humanos em saúde. Desenvolvimento de recursos humanos. Ensino superior. Pesquisa qualitativa.

Page 9: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

GALLO, Douglas Luciano Lopes. Physiotherapy in the Family Health Program: perceptions regarding professional performance and university training. 2005. Thesis (Master Degree in Public Health) – Londrina State University.

ABSTRACT For consolidation of the Family Health Program (FHP), adaptation of healthcare workers to the new strategy becomes necessary, considering integrality as a structural axis and the positive aspects of health. Physiotherapy has historically regarded the sick individual as the working object, but its gradual inclusion in the FHP also renders him co-responsible for the change in the approach. The objective of the present study was to analyze the incorporation and practice of the physiotherapist within the FHP of the municipality of Londrina and the adaptation of university training to this performance. In view of the nature of the study subject, a qualitative research method was adopted, representing a study applied to social sciences. Data were collected by a semi-structured interview and the key informants were eight physiotherapists working in the FHP of Londrina and six teachers with a physiotherapy degree (three course coordinators and three teachers responsible for the discipline of public health) from three higher education institutions in the same municipality. The body of the study was submitted to content analysis and divided into three categories: a) physiotherapy within the FHP of Londrina; b) physiotherapy within the Brazilian Public Health System (Sistema Único de Saúde, SUS); c) training of the physiotherapist. In the first category, the structure of the physiotherapy service within the FHP of Londrina was analyzed regarding the performance of the physiotherapist and his profile to work in the FHP. In the second category, the perceptions of the physiotherapists and teachers in terms of the performance of physiotherapy within the SUS and their vision of SUS were evaluated. In the third category, the physiotherapy training and its adaptation to the professional profile required for the physiotherapist within the FHP were analyzed. The results showed that the incorporation of the physiotherapist occurred in a poorly organized manner and was aimed at a specific demand, i.e., that of the bedridden patient, but the professionals were adapting to the new lines of work. The professional profile required to work in the FHP includes a general training background, flexibility and creativity, empathy, autonomy and initiative, the ability to work in a team, and knowledge about SUS. The university training has not yet been adapted to these requirements, although some initiatives emerged from these needs such as the case of one institution which offers training in FHP to its students. Key-words: Physical therapy (specialty). Family health program. Health manpower. Staff development. Education, higher. Qualitative research.

Page 10: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Breve cronologia da promoção da saúde .................................

22

Figura 2 – Serviços hospitalares que compõem o sistema municipal de saúde (SUS) de Londrina – PR ................................................

34

Figura 3 – Serviços ambulatoriais que compõem o sistema municipal de saúde (SUS) de Londrina – PR ................................................

35

Figura 4 – Diferenças entre educação continuada e permanente..............

44

Figura 5 – Caracterização da formação dos fisioterapeutas que atuam no Programa Saúde da Família em Londrina, 2005 .................

89

Figura 6 – Caracterização da formação e atuação dos docentes entrevistados em Londrina, 2005 .............................................

90

Figura 7 – Caracterização das percepções de fisioterapeutas e docentes quanto à atuação da fisioterapia no SUS – Londrina, 2005 .....

118

Figura 8 – Caracterização das visões de fisioterapeutas e docentes em relação ao SUS – Londrina, 2005 .............................................

127

Figura 9 – Caracterização das percepções de fisioterapeutas e docentes sobre a formação em Fisioterapia – Londrina, 2005 ................

136

Figura 10 – Percepções de docentes a cerca da adequação da formação universitária ao perfil profissional requerido para atuar no PSF – Londrina, 2005 .......................................................................

144

Page 11: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AACD Associação de Assistência à Criança Defeituosa

ABENFISIO Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia

ABRASCO Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva

ACS Agente Comunitário de Saúde

APS Atenção Primária à Saúde

AVC Acidente Vascular Cerebral

AVE Acidente Vascular Encefálico

CAP Caixa de Aposentadoria e Pensão

CISMEPAR Consórcio Intermunicipal do Médio Paranapanema

CONASEMS Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde

DAS Departamento de Ações em Saúde

ESF Equipe de Saúde da Família

HE Hospital Evangélico

HURNP Hospital Universitário Norte do Paraná

IAP Instituto de Aposentadoria e Pensão

ICL Instituto do Câncer de Londrina

IES Instituição de Ensino Superior

IFF Instituto Fernandes Figueira

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

INAR Instituto Nacional de Reabilitação

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

INESUL Faculdade Integrada INESUL

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

IR Instituto de Reabilitação

ISCAL Irmandade Santa Casa de Londrina

LDB Leis de Diretrizes e Bases da Educação

OMS Organização Mundial da Saúde

PAI Pronto Atendimento Infantil

PADI Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar

Page 12: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

PCSS Plano de Carreira, Cargos e Salários

PUCCAMP Pontifícia Universidade Católica de Campinas

PSF Programa Saúde da Família

RH Recursos Humanos

RHS Recursos Humanos em Saúde

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SIATE Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergência

SID Sistema de Internação Domiciliar

SMS Secretaria Municipal de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCE Traumatismo Crânio Encefálico

TRM Traumatismo Raqui-Medular

UBS Unidade Básica de Saúde

UEL Universidade Estadual de Londrina

UFPe Universidade Federal de Pernambuco

UNIFIL Centro Universitário Filadélfia

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

UNOPAR Universidade Norte do Paraná

USP Universidade de São Paulo

UTI Unidade de Terapia Intensiva

Page 13: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 14

CAPÍTULO 1 – O setor saúde no Brasil e a Estratégia de Saúde da Família ..... 18

1.1 Paradigmas em Saúde ............................................................................ 19

1.2 Evolução das políticas de saúde no Brasil .............................................. 23

1.3 Estratégia de Saúde da Família .............................................................. 26

1.3.1 Atribuições da Equipe de Saúde da Família ........................................... 28

1.3.2 Atribuições do Fisioterapeuta 29

1.4 Caracterização do município de Londrina ............................................... 31

1.5 Desenvolvimento do Sistema de Saúde em Londrina ............................ 32

CAPÍTULO 2 – Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde ................. 37

2.1 O trabalho em saúde ............................................................................... 38

2.2 Recursos Humanos em Saúde ............................................................... 42

2.3 Movimentos de mudança na formação em saúde .................................. 44

2.4 Paradigmas da educação em saúde ....................................................... 48

2.5 Formação: questão de competência ....................................................... 50

CAPÍTULO 3 – A Fisioterapia como profissão .................................................... 52

3.1 Evolução histórica e construção do objeto de trabalho da Fisioterapia .. 53

3.2 A Fisioterapia no Brasil ........................................................................... 56

3.3 Fisioterapia e Saúde Coletiva ................................................................. 59

3.4 O ensino da Fisioterapia ......................................................................... 65

CAPÍTULO 4 – OBJETIVOS ............................................................................... 69

4.1 Objetivo geral .......................................................................................... 70

4.2 Objetivos específicos .............................................................................. 70

CAPÍTULO 5 – METODOLOGIA ......................................................................... 71

5.1 Processo de Investigação: a pesquisa qualitativa .................................. 72

5.2 Determinação dos casos ......................................................................... 75

Page 14: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

5.3 Caminho percorrido: a construção do corpus de pesquisa ..................... 78

5.4 Roteiro de entrevista ............................................................................... 83

5.5 Aspectos éticos ....................................................................................... 85

5.6 Análise dos dados: análise de conteúdo ................................................. 85

CAPÍTULO 6 – RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................. 88

6.1 Caracterização dos entrevistados ........................................................... 89

6.2 A Fisioterapia no Programa Saúde da Família em Londrina .................. 90

6.2.1 Estruturação do serviço .......................................................................... 90

6.2.2 Atuação do fisioterapeuta ....................................................................... 97

6.2.3 Perfil profissional ..................................................................................... 107

6.3 A Fisioterapia e o Sistema Único de Saúde ............................................ 117

6.3.1 Atuação da Fisioterapia no SUS ............................................................. 117

6.3.2 Visões de fisioterapeutas em relação ao SUS ........................................ 126

6.4 A Formação do Fisioterapeuta ................................................................ 135

6.4.1 O ensino em fisioterapia ......................................................................... 135

6.4.2 O perfil do fisioterapeuta para atuar no PSF ........................................... 143

CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES .......................................................................... 154

CONSIDERAÇÕES FINAIS 157

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 162

APÊNDICES ........................................................................................................ 173

APÊNDICE 1 – Termo de consentimento livre e esclarecido ........................... 174

APÊNDICE 2 – Roteiro de entrevista – fisioterapeutas do PSF ....................... 175

APÊNDICE 3 – Roteiro de entrevista – docentes e coordenadores ................ 176

APÊNDICE 4 – Ofício para Secretaria Municipal de Saúde ............................. 177

APÊNDICE 5 – Ofício para Coordenação de curso ......................................... 178

ANEXOS .............................................................................................................. 179

ANEXO 1 – Parecer do Comitê de Ética .......................................................... 180

Page 15: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Apresentação

“Mude, mas comece devagar porque a direção é mais importante que a

velocidade”. Clarice Lispector

Page 16: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Apresentação

15

O Programa Saúde da Família (PSF), criado pelo Ministério da Saúde em

1994, procura reestruturar a atenção básica e todo o sistema de saúde a partir de

ações conjugadas com os princípios do SUS, territorialização, intersetorialidade,

descentralização, co-responsabilidade e priorização de grupos populacionais mais

vulneráveis. Surgem experiências e vivências onde o fisioterapeuta se insere no

PSF, e é neste contexto que em Londrina é estruturado o serviço de Fisioterapia

junto à Saúde da Família.

Existe uma grande deficiência de estudos sobre o trabalho do

fisioterapeuta, em especial analisando sua inserção nos serviços municipais de

saúde, particularmente na atenção básica. Apesar de estar muito relacionada com a

doença/incapacidade e com a reabilitação, a Fisioterapia vem conquistando espaço

e aumentando seu interesse pela saúde coletiva, pela prevenção e promoção da

saúde. Sem a pretensão de esgotar o assunto, que se acredita em contínua

construção, pretende-se com esta pesquisa auxiliar no preenchimento desta lacuna,

servir de fomento e incentivo a novas pesquisas e construção de um objeto de

estudo de uma profissão jovem, em busca de maturidade.

A importância que a graduação exerce sobre o desenvolvimento de

recursos humanos para a saúde e a necessidade de discussões da temática são

inquestionáveis. Londrina possui quatro cursos de Fisioterapia sendo três em plena

atividade: Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Norte do Paraná

(UNOPAR), e Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL); e um curso iniciado no ano de

2005: Faculdade Integrada INESUL (INESUL). O Curso da UEL foi fundado em

1979, sendo o primeiro curso de Fisioterapia do Paraná, e um dos mais antigos do

país.

Page 17: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Apresentação

16

Como a atuação da Fisioterapia na atenção básica ainda é incipiente,

existe a necessidade de se analisar seu trabalho, com vistas a contribuir para sua

reorganização e reorientação.

Neste contexto é que surgiu a idéia deste estudo. Buscou-se levantar

dentro do município de Londrina, as características da inserção do fisioterapeuta no

Programa de Saúde da Família, e sua organização. Optou-se por analisar também a

formação universitária, acreditando-se que exerce influência na ação dos

fisioterapeutas como atores no Sistema Único de Saúde (SUS).

Trabalhar com Saúde Coletiva é, ao mesmo tempo, um desafio e um

sonho. Desafio perante uma categoria de profissionais que historicamente se

organizou na atenção predominantemente curativa e reabilitadora, e um sonho de

ver este profissional assumindo seu papel dentro da integralidade do SUS.

Esta pesquisa teve como tema “o trabalho e a formação do fisioterapeuta”,

e assumiu como objeto de pesquisa “o fisioterapeuta no PSF em Londrina”. Definiu-

se como problema de estudo “a formação e a prática deste profissional na Atenção

Básica”. O pressuposto que se acredita é que a formação do fisioterapeuta não

contempla adequadamente a Atenção Básica à Saúde.

Como ponto de partida levantou-se as seguintes questões norteadoras:

“Como se deu a organização do serviço de Fisioterapia no Programa Saúde da

Família em Londrina?”; “Quais são os conflitos e dificuldades que o fisioterapeuta

encontra ao ingressar no serviço de Atenção Básica/PSF em Londrina?”; e “A

formação universitária é adequada às necessidades exigidas pelo PSF?”.

O estudo objetivou analisar a inserção e a prática do fisioterapeuta no

Programa Saúde da Família do município de Londrina, e as adequações da

formação universitária a essa atuação.

Page 18: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Apresentação

17

No capítulo 1 foi realizada uma contextualização do setor saúde no Brasil,

das bases conceituais do PSF e do histórico dos avanços conquistados pelo

município de Londrina. O capítulo 2 aborda a questão da formação de recursos

humanos em saúde e no capítulo 3 discute-se a profissão do fisioterapeuta, sua

relação com a saúde coletiva e ensino. No capítulo 4 são apresentados os objetivos

da pesquisa e no capítulo 5 é descrito o caminho investigativo trilhado e os aspectos

metodológicos. O capítulo 6 traz os resultados principais do estudo, sua análise e

discussão. O texto é encerrado com as conclusões do estudo (capítulo 7) e

considerações pertinentes, que surgiram durante a realização da pesquisa, mesmo

que empiricamente, reflexões sobre a prática e formação profissional do

fisioterapeuta.

Que este trabalho possa contribuir ao desenvolvimento da Fisioterapia, de

maneira especial à discussão da formação universitária e da reorganização do

processo de trabalho dos profissionais envolvidos com a Estratégia da Saúde da

Família.

Page 19: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1 O setor saúde no Brasil e a estratégia de Saúde da Família

“Nós devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo”.

Mahatma Gandhi

Page 20: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

19

Ao se analisar o setor saúde, seus processos de trabalho e

desenvolvimento de recursos humanos é necessário considerar seus paradigmas e

a evolução das políticas públicas que levaram à configuração contemporânea do

cenário nacional. Conhecer um pouco da evolução no município de Londrina

também é importante para a compreensão da conjuntura municipal.

1.1 Paradigmas em Saúde

O termo paradigma tem sido usado de forma ampliada para designar

qualquer tipo de conhecimento humano com referência a práticas sociais de

naturezas diversas. Em seu sentido técnico no campo teórico da filosofia kuhniana

este termo possui dois sentidos principais. Como categoria epistemológica constitui

um instrumento de abstração, uma ferramenta para auxiliar o pensamento

sistemático da ciência. Já em seu sentido mais amplo, constitui uma visão-de-mundo

peculiar, própria do campo social científico. Implica em um conjunto de

generalizações simbólicas configurando-se como a subcultura de determinada

comunidade científica (PAIM e ALMEIDA FILHO, 2000).

No campo da saúde o termo “paradigma” diz respeito a distintos

movimentos ideológicos. Este uso menos rigoroso corresponde a um conjunto de

noções, pressupostos e crenças, relativamente compartilhados por determinado

segmento de sujeitos sociais, servindo de referencial para ação. Aqui foi utilizado

para designar os movimentos: Flexnerismo, Medicina Preventiva, Saúde Comunitária

e Saúde Coletiva ou movimento de Promoção da Saúde (PAIM e ALMEIDA FILHO,

2000).

Page 21: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

20

No início do século XX, com o célebre Relatório Flexner, é desencadeado

nos Estados Unidos uma profunda reavaliação das bases científicas da medicina.

Como resultado, redefiniu-se o ensino e a prática médica com bases em princípios

tecnológicos rigorosos. Reforçou-se a separação entre individual e coletivo, privado

e público, biológico e social, curativo e preventivo (PAIM e ALMEIDA FILHO, 2000).

A Medicina Preventiva emergiu em um campo formado por três vertentes:

a higiene, originada no século XIX, ligada ao desenvolvimento do capitalismo e da

ideologia liberal; a discussão dos custos da atenção médica, desenvolvida nas

décadas de 1930 e 1940 nos Estados Unidos, até mesmo por ocasião da Grande

Depressão e o surgimento do Estado interventor; e o aparecimento de uma

redefinição das responsabilidades médicas, surgida no interior da educação médica

(AROUCA, 1975).

Arouca (1975) refere que a Medicina Preventiva é apenas uma nova forma

de Medicina privada. O autor reflete:

(...) que a Medicina Preventiva caracterizou-se como um movimento ideológico que procurava transformar as representações sobre a prática médica, sem, contudo, procurar ser um movimento político que realmente transformasse essa prática. Dessa forma, o seu discurso mantinha uma relação de organicidade com o momento histórico vivido pela sociedade norte-americana, representando uma leitura civil e liberal dos problemas de saúde (AROUCA, 1975, p.138-9).

A Medicina Preventiva foi conceituada pelo Departamento de Medicina

Preventiva da USP como a aplicação de conhecimentos e métodos de várias

disciplinas à promoção, manutenção e restauração da saúde, bem como, a

prevenção de doenças, de incapacidades e de mortalidade prematura por meio de

programas individuais ou coletivos de atenção médica (AROUCA, 1975).

A proposta da Saúde Comunitária recuperava parte do discurso da

Medicina Preventiva, em especial a ênfase nas ciências sociais aplicadas a

Page 22: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

21

problemas de saúde. Porém esse conhecimento serviu para uma integração das

equipes de saúde nas comunidades “problemáticas”, por meio dos agentes e forças

sociais locais (PAIM e ALMEIDA FILHO, 2000).

O conceito de Promoção da Saúde como prática surgiu em países

desenvolvidos, nas últimas duas décadas. Este conceito foi difundido pela Medicina

Social na América Latina e pela Saúde Coletiva no Brasil. Em 1974, no Canadá, o

Relatório Lalonde definiu suas bases, apresentando a idéia de que é necessário não

apenas adicionar anos à vida mas vida aos anos (PAIM e ALMEIDA FILHO, 2000).

Buss (2003) reconstrói uma cronologia da Promoção da Saúde (Figura 1) onde

destaca três conferências internacionais sobre o tema, de grande importância para a

definição das bases conceituais e políticas da Promoção da Saúde, em Ottawa

(1986), Adelaide (1988) e Sundsval (1991).

1974 – Informe Lalonde: uma nova perspectiva sobre a saúde dos canadenses

1976 – Prevenção e Saúde: interesse para todos, DHSS (Grã-Bretanha)

1977 – Saúde para todos no ano 2000 – 30ª Assembléia Mundial de Saúde

1978 – Conferência Internacional sobre Atenção Primária de Saúde – Declaração de Alma

Ata

1984 – Toronto Saudável 2000 – Campanha lançada no Canadá

1985 – Escritório Europeu da Organização Mundial da Saúde: 38 metas para a saúde na

região européia

1986 – Carta de Ottawa sobre promoção da saúde – I Conferência Internacional sobre

Promoção da Saúde (Canadá)

1987 – Lançamento pela OMS do Projeto Cidades Saudáveis

1988 – Declaração de Adelaide sobre Políticas Públicas Saudáveis – II Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde (Austrália)

Page 23: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

22

1991 – Declaração de Sundsval sobre Ambientes Favoráveis à Saúde – III Conferência

Internacional sobre Promoção da Saúde (Suécia)

1992 – Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92)

1992 – Declaração de Santafé de Bogotá – Conferência Internacional sobre Promoção da

Saúde na Região das Américas (Colômbia)

1993 – Carta do Caribe para a promoção da saúde – I Conferência de Promoção da Saúde

do Caribe (Trinidad y Tobago)

1997 – Declaração de Jakarta sobre Promoção da Saúde (Jakarta)

2000 – V Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde (México)

Fonte: Adaptado de Buss (2003).

Figura 1 - Breve cronologia da promoção da saúde.

Segundo Mendes (1996) um novo paradigma na saúde vem sendo

construído em oposição ao flexneriano, cuja visão de saúde definiu-se como a

ausência de doença. Esse novo paradigma deveria ser construído considerando a

saúde em sua positividade e como um processo que poderia melhorar ou deteriorar

conforme a ação de uma sociedade sobre os fatores que lhe são determinantes. O

novo paradigma proposto é o da produção social da saúde.

A produção social da saúde pode ser vista então como:

(...) um circuito em que o agir social de um ator supõe o uso de recursos econômicos, de recursos de poder, de conhecimentos e em que essa produção reverte-se para o ator-produtor como acumulações e desacumulações de novos recursos econômicos, recursos de poder, valores ou conhecimentos (MENDES, 1996, p. 240).

Este novo paradigma implicaria em se considerar que numa determinada

sociedade, num determinado momento, respeitadas suas regras previamente

definidas, existem capacidades de gerar fluxos de produção de fatos que por sua

vez vão acumulando ou desacumulando saúde (MENDES, 1996).

Page 24: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

23

1.2 Evolução das Políticas de Saúde no Brasil

Percorrer a trajetória do sistema de saúde brasileiro é fundamental para se

entender a natureza processual do SUS. No século XX, o sistema de saúde transitou

entre o sanitarismo campanhista (início do século até 1965) para o modelo médico-

assistencial privatista, até chegar, ao final dos anos de 1980, ao modelo plural

vigente, que inclui como sistema público o SUS (MENDES, 1996).

Carvalho, Martin e Cordoni Junior (2001) apresentam uma divisão artificial,

porém didática, dessa evolução.

Do início do século XX até 1920, tempo da primeira república, adotou-se o

modelo das campanhas sanitárias. Como a economia era voltada para a agricultura

de exportação, o objetivo era o saneamento dos espaços de circulação do café, em

especial, o dos portos. Preocupava-se em combater as endemias urbanas e,

posteriormente, as rurais.

Entre 1920 a 1945 o sanitarismo campanhista continua sendo a principal

política de saúde. Começam a surgir os embriões do modelo médico assistencial

com surgimento da primeira CAP (Caixa de Aposentadoria e Pensões) em 1923, e

sua expansão a partir de 1926. Em 1933, nasceu uma nova estrutura previdenciária,

os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAP). Também surgiu neste momento

(1930) o Ministério de Educação e Saúde.

No pós-guerra, entre 1945 e 1966, com o aumento do desemprego

agravaram-se as condições sociais no país, ao mesmo tempo, desenvolveu-se em

vários países da Europa a concepção de “Estado de Bem-Estar Social” (“Welfare

State”). A partir de 1950, a assistência médica previdenciária passou a consumir

recursos cada vez mais importantes. Em 1967 ocorreu a unificação dos IAPs no

Page 25: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

24

Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Cresceu também a influência da

indústria farmacêutica, de equipamentos médico-hospitalares e dos proprietários de

hospitais. Em 1974 ocorreu uma desvinculação da Previdência Social e da

assistência à saúde com a criação do Instituto Nacional de Assistência Médica da

Previdência Social (INAMPS), aumentando a dicotomia entre áreas preventivas e

curativas no sistema de saúde brasileiro. Este modelo que vigorou hegemônico dos

anos 1960 até meados dos anos 1980, em plena ditadura militar, denominou-se

modelo médico-assistencial privatista.

Durante a década de 1970, em especial na segunda metade, ganhou

corpo discussões sobre reformas políticas na saúde, conhecida como Reforma

Sanitária. Acrescentou-se a este painel os conceitos de Atenção Primária à Saúde

(APS), sistematizados no Congresso de Alma Ata (1978). No período compreendido

entre 1980 e 1990 ocorreu o enfraquecimento da ditadura militar e o processo de

transição democrática do país. Iniciaram-se os primeiros movimentos de

descentralização da saúde. Em 1986 ocorre a VIII Conferência Nacional de Saúde,

espaço amplo de discussão da situação de saúde no país, de onde sai um relatório

final que passa a constituir o Projeto de Reforma Sanitária Brasileira.

A Constituição de 1988 e as “Leis Orgânicas da Saúde” Lei nº. 8.080 de

19 de setembro de 1990 e Lei nº. 8.142 de 28 de dezembro de 1990, incorporaram

grandes mudanças no sistema público de saúde, dando origem ao SUS com seus

princípios: Universalidade, Eqüidade e Integralidade, e organizado pela

Regionalização e Hierarquização, Descentralização, Resolutividade, Participação da

comunidade e Complementaridade do setor privado.

Para Starfield (2004) a Atenção Primária deve ser o nível de um sistema

que oferece entrada para todas as necessidades e problemas. Este deve oferecer

Page 26: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

25

atenção à pessoa, e não à doença, no decorrer do tempo. É definida por um

conjunto de funções combinadas próprias deste nível, incluindo atenção à

prevenção, tratamento e reabilitação, e o trabalho em equipe. A autora a distingue

dos demais níveis de atenção:

A atenção primária difere da atenção por consulta, de curta duração (atenção secundária) e do manejo da enfermidade a longo prazo (atenção terciária) por várias características. A atenção primária lida com problemas mais comuns e menos definidos, geralmente em unidade comunitárias como consultórios, centros de saúde, escolas e lares. Os pacientes têm acesso direto a uma fonte adequada de atenção que é continuada ao longo do tempo, para diversos problemas e que inclui a necessidade de serviços preventivos (STARFIELD, 2004, p. 29).

A Declaração de Alma-Ata assim se refere aos cuidados primários em

saúde:

(...) são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, (...). Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde as pessoas vivem ee trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde. (CONFERÊNCIA, 1978)

Segundo Mendes (1996) é nítida a superioridade conceitual da atenção

primária como reformulação de todo o sistema de saúde, porém os resultados são

discutíveis, pois “a generosidade do discurso não é capaz de torná-lo palatável para

políticos e administradores, especialmente em ambiente dominado pela cultura

flexneriana” (p.272).

Page 27: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

26

1.3 Estratégia de Saúde da Família

O Programa Saúde da Família surgiu com o propósito de colaborar para a

organização do SUS e a municipalização da saúde. Em sua concepção foi assim

definido:

O Programa de Saúde da Família é um modelo de assistência à saúde que vai desenvolver ações de promoção e proteção à saúde do indivíduo, da família e da comunidade, através de equipes de saúde, que farão o atendimento na unidade local de saúde e na comunidade, no nível de atenção primária. (BRASIL, 1994, p.6).

O mesmo documento traz como objetivo do PSF melhorar o estado de

saúde da população, buscando por meio de um modelo de assistência voltado à

família e à comunidade englobar a proteção, promoção da saúde, identificação

precoce e tratamento das doenças (BRASIL, 1994).

Essa nova estratégia do setor é vista como uma forma de substituição do

modelo vigente, sintonizada com os princípios de universalização, eqüidade e

integralidade. Essa reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica

deve imprimir uma nova dinâmica nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), com co-

responsabilização entre equipe e usuários na saúde da população (BRASIL, 2000).

O atendimento no PSF deveria ser sempre realizado por uma equipe

multiprofissional. A constituição “mínima” desta equipe é de um médico, um

enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS).

Na composição desta equipe deveria ser considerado: o enfrentamento dos

determinantes do processo saúde-doença; a integralidade da atenção; a ênfase na

prevenção, sem descuidar do atendimento curativo; o atendimento nas clínicas

básicas de pediatria, ginecologia-obstetrícia, clínica médica e clínica cirúrgica

Page 28: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

27

(pequenas cirurgias ambulatoriais); a parceria com a comunidade; e as

possibilidades locais (BRASIL, [199-]).

Outro aspecto importante para a resolutividade esperada pela Equipe de

Saúde da Família (ESF), além da equipe multiprofissional, deveria ser a

intersetorialidade. Essa interação com outros setores, como escolas, creches, asilos,

presídios, companhias de habitação, de água e saneamento, luz, coleta de lixo, etc.,

seria importante para assegurar uma assistência integral, contínua e de qualidade

(BERTUSSI, OLIVEIRA e LIMA, 2001).

Duarte et al (2005) consideram como maior desafio na efetiva expansão e

consolidação da estratégia de Saúde da Família, encontrar, no mercado de trabalho,

profissionais de saúde capazes de se comprometerem e de operacionalizar as

mudanças necessárias na organização do cuidado à saúde.

Com a criação de milhares de postos de trabalho pelo PSF, em um tempo

relativamente curto, impôs-se a necessidade de buscar soluções criativas por meio

dos Pólos de Capacitação em Saúde da Família. A articulação entre a capacidade

instalada nas universidades e nos serviços de saúde, levou à necessidade de

diálogo e pactuação entre essas instituições. Não bastaria apenas exortar à

mudança na formação dos profissionais de saúde, já que uma universidade e uma

faculdade não são capazes de alterar rapidamente seus “processos produtivos”

(PAIM, 2001).

A necessidade de transformação das práticas de saúde, no PSF, tem

demandado um redirecionamento na formação dos profissionais de saúde. Deve-se,

assim, buscar uma formação capaz de perceber a multicausalidade dos processos

mórbidos, tanto individuais como coletivos, visualizando o indivíduo em seu meio

ambiente, seu contexto familiar e social (COSTA NETO, 2000).

Page 29: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

28

1.3.1 Atribuições da Equipe de Saúde da Família

Cada membro da ESF possui atribuições específicas, porém algumas

atribuições são básicas de uma ESF, ou seja, são atribuições gerais de todos os

membros, segundo Brasil (2000) são:

• Conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis;

• Identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco;

• Elaborar, em conjunto com a comunidade, um plano local de

enfrentamento dos fatores que comprometem a saúde;

• Programar as atividades e reestruturar o processo de trabalho;

• Executar, de acordo com a qualificação profissional específica, os

procedimentos de vigilância à saúde e epidemiológica, nos diversos

ciclos da vida;

• Valorizar a relação com o usuário e com a família para criação de

vínculo;

• Resolver a maior parte dos problemas de saúde detectados e garantir

a continuidade do tratamento por meio de referência adequada;

• Prestar assistência integral, visando promover a saúde por meio da

educação sanitária;

• Desenvolver processos educativos por intermédio de grupos voltados à

recuperação da auto-estima, troca de experiências, apoio mútuo e

melhoria do auto-cuidado;

• Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações na

comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas;

Page 30: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

29

• Promover a qualidade de vida e contribuir para que o meio ambiente

torne-se mais saudável;

• Discutir de forma permanente, junto à equipe e a comunidade, o

conceito de cidadania, com ênfase aos direitos de saúde;

• Incentivar a formação e/ou participação ativa nos Conselhos Locais de

Saúde e no Conselho Municipal de Saúde.

1.3.2 Atribuições do Fisioterapeuta

Nos documentos oficiais, como em Brasil (2000), não se encontram

atribuições específicas do fisioterapeuta na ESF, pois este profissional ainda não faz

parte da composição básica da equipe. Porém, Ragasson et al (2005), a partir da

vivência prática de fisioterapeutas em Residência em Saúde da Família, elaboraram

um perfil com as atribuições deste profissional na equipe, o qual também foi

abordado por Silva, Trelha e Almeida (2005). As atribuições do fisioterapeuta na

ESF seriam:

• Executar ações de assistência integral em todas as fases do ciclo de

vida, intervindo na prevenção, por meio da atenção primária e

também em nível secundário e terciário de saúde;

• Realizar atendimentos domiciliares em pacientes portadores de

enfermidades crônicas e/ou degenerativas, pacientes acamados ou

impossibilitados. Encaminhando aos serviços de mais complexidade,

quando necessário;

Page 31: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

30

• Prestar atendimento pediátrico a pacientes portadores de doenças

neurológicas com retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, mal

formações congênitas, distúrbios nutricionais, afecções respiratórias,

deformidades posturais;

• Orientar os pais ou responsáveis, contando com a dedicação e

colaboração da família, para que o procedimento seja completo e

eficaz;

• Realizar técnicas de relaxamento, prevenção e analgesia para

diminuição e/ou alívio da dor nas diversas patologias ginecológicas;

• Atuar no pré-natal e puerpério realizando condicionamento físico,

exercícios de relaxamento e orientações;

• Desenvolver atividades físicas e culturais para a terceira idade,

preservando a independência funcional do idoso, melhorando sua

qualidade de vida e prevenindo complicações decorrentes da idade;

• Desenvolver programas de atividades físicas, condicionamento

cardiorrespiratório, e orientações nutricionais para o obeso;

• Prescrever atividades físicas, principalmente exercícios aeróbicos, em

patologias específicas como a hipertensão arterial sistêmica, diabetes

mellitus, tuberculose e hanseníase, a fim de prevenir e evitar

complicações;

• Atender de forma integral às famílias por meio de ações

interdisciplinares e intersetoriais, visando assistência e inclusão social

de portadores de deficiências.

Page 32: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

31

1.4 Caracterização do Município de Londrina.

Londrina localiza-se na Região Sul do Brasil, norte do estado do Paraná,

tem uma extensão geográfica de 1.650,809 Km2, ocupando uma área inferior a 1%

do total do estado. Atualmente possui oito distritos rurais: Espírito Santo, Guaravera,

Irerê, Lerroville, Maravilha, Paiquerê, São Luiz e Warta. Segundo o censo

demográfico de 2000, a população era de 447.065 habitantes, sendo 433.369

residentes na zona urbana e 13.696 na zona rural. A estimativa populacional para o

ano de 2004 era de 480.822 habitantes, e uma densidade demográfica de 259,21 e

291,26 hab/km2, respectivamente para os anos de 2000 e 2004 (LONDRINA, 2005).

O município foi planejado pelos ingleses, daí a origem do nome Londrina,

que significa “pequena Londres”, por intermédio da Companhia de Terras do Norte

do Paraná, que abriu na região uma das maiores colonizações do mundo (mais de

um milhão de hectares loteados). Pretendiam-se abrigar aproximadamente 30.000

habitantes, embora haja fontes que refiram 20.000 habitantes (GUTIERREZ, 1999).

A condição de Sede da Companhia de Terras do Norte do Paraná foi determinada

pela localização privilegiada e proximidade com o estado de São Paulo. Até 1970 a

cidade polarizava a economia agrícola regional, baseada na monocultura cafeeira,

cedendo lugar após esta década às culturas sazonais da soja e do trigo (RAMOS M.

L. R., 2002).

Londrina vem abandonando a tendência de centro de produção agrícola e

firmando-se como prestadora de serviços, assumindo papel de centro comercial de

toda uma região. A criação da Região Metropolitana de Londrina vem corroborar

esta tendência, envolvendo os municípios de Bela Vista do Paraíso, Cambé, Ibiporã,

Jataizinho, Londrina, Rolândia, Sertanópolis e Tamarana, constituindo uma

Page 33: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

32

população de 678.032 habitantes em 2000 com estimativa de 728.120 para 2004

(LONDRINA, 2005). A influência econômica e social em toda região é expressa

pelos recursos disponíveis nas áreas de saúde, educação e tecnologia (RAMOS M.

L. R., 2002).

A composição demográfica londrinense evidencia modificações

importantes na estrutura, com alargamento da parte intermediária e do topo quando

correlacionados com a base. Ocorreu uma diminuição na participação de crianças e

jovens e aumento de participação de idosos. Esses dados sugerem um

envelhecimento da população londrinense, apresentando uma transição demográfica

ao longo de sua recente colonização, passando de uma população de característica

jovem para uma população velha (GUTIERREZ, 1999).

O nível de saúde da população pode ser considerado bom, em média,

sendo que o coeficiente de mortalidade infantil vem apresentando significativa

redução nas últimas décadas, passando de 37,0/1.000 nascidos vivos em 1979 para

11,09/1.000 em 2001 (RAMOS M. L. R., 2002).

1.5 Desenvolvimento do Sistema de Saúde em Londrina

Durante o período de 1969-72 ocorreu o início da organização de serviços

de saúde pela Prefeitura de Londrina, com a criação da Secretaria de Bem-Estar

Social pela Lei n° 1.578/69 e do Serviço Municipal de Pronto Socorro pela Lei n°

1.639/70 (ALMEIDA, 1979).

No início da década de 70, o curso de Medicina da Universidade (UEL)

juntamente com a prefeitura implantou dois Postos de Saúde localizados em bairros

Page 34: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

33

da periferia da cidade, servindo de campo de estágio aos alunos do curso, onde os

mesmos poderiam prestar cuidados médicos à população numa abordagem de

assistência integrada ao indivíduo (CORDONI JUNIOR, 1986; GIL, MARTIN e

GUTIERREZ, 2001).

Em 1972 é firmado um convênio entre a Prefeitura e a Universidade (UEL)

para funcionamento do Pronto Socorro, os serviços passaram a ser prestados pela

equipe do Pronto Socorro do Hospital Universitário. O município comprometeu-se a

transferir anualmente uma quantia fixa de dinheiro à Universidade e com isso

ocorreu uma separação entre provedor e financiador do serviço. Outro convênio

entre Prefeitura e UEL, foi firmado em 1973, estabelecendo como prioritária a

prestação de assistência médica global, tanto curativa como preventiva às

populações de baixo poder aquisitivo, como as da periferia da cidade e zona rural

(GUTIERREZ, 1999).

Londrina foi um dos municípios pioneiros no país e o primeiro no Estado

do Paraná a garantir a municipalização dos serviços de saúde, atendendo às

determinações do Ministério da Saúde e assumindo a gestão semiplena em

dezembro de 1995. Com isso o município teve a possibilidade de planejar e

organizar os serviços, adquirindo a titularidade e responsabilidade de gerir todo o

sistema (GIL, MARTIN e GUTIERREZ, 2001).

Em maio de 1998 o município assumiu a Gestão Plena do Sistema

Municipal de Saúde, de acordo com a Norma Operacional Básica do Sistema Único

de Saúde – NOB-SUS/1996. Por meio de repasse de recursos federais, diretamente

do Ministério da Saúde para o Fundo Municipal de Saúde, o município assumiu a

responsabilidade por toda a programação, controle e avaliação pertinente ao

sistema de saúde local. Desta forma garantiu a prestação de serviços em seu

Page 35: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

34

território, desde as unidades de saúde ambulatoriais até procedimentos hospitalares

de alta complexidade, controle de vigilância sanitária e epidemiológica (RAMOS M.

L. R., 2002).

De acordo com o Plano Municipal de Saúde (LONDRINA, 2003) o Sistema

Municipal de Saúde de Londrina conta com 16 serviços hospitalares (entre públicos

municipal e estadual, privados e filantrópicos), com um total de 1197 leitos

disponibilizados para o SUS e o Serviço de Internação Domiciliar tem capacidade

para 100 pacientes/mês (Figura 2).

SETOR PÚBLICO MUNICIPAL

Maternidade Municipal Lucilla Ballalai Serviço de Internação Domiciliar (100 pacientes/mês)

SETOR PÚBLICO ESTADUAL

Hospital Universitário Regional Norte do Paraná – HURNP (309 leitos)

Hospital Dr. Anísio Figueiredo – ZONA NORTE (56 leitos) Hospital Eulalino de Andrade – ZONA SUL (41 leitos)

SETOR FILANTRÓPICO Hospital Evangélico de Londrina – HEL (203 leitos, 93 – SUS)

Irmandade Santa Casa de Londrina – ISCAL (151 leitos, 135 – SUS)

Instituto do Câncer de Londrina – ICL (106 leitos, 85 – SUS)Hospital Infantil Sagrada Família (42 leitos, 20 – SUS)

SETOR PRIVADO Hospital dos Olhos – Hoftalon (9 leitos, 6 – SUS) Hospital da Mulher (27 leitos) Hospital Ortopédico (16 leitos, 5 – SUS) Hospital Mater Dei (50 leitos) Clínica Psiquiátrica de Londrina (240 leitos, 230 – SUS) Maxwell – Hospital Dia de Psiquiatria (40 leitos, 30 – SUS) Clínica Psiquiátrica Vila Normanda (65 leitos, 65- SUS) Clínica das Palmeiras – Psiquiatria (45 leitos)

Fonte: Londrina, 2003. Figura 2 - Serviços hospitalares que compõem o sistema municipal de saúde (SUS) de Londrina – PR.

O serviço ambulatorial conta com 52 UBS, 3 unidades de Saúde Mental e

uma rede de serviços públicos municipal e estadual, filantrópicos e privados, como

indicado na Figura 3, além do Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma e

Emergência (SIATE) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

Page 36: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

35

53 Unidades Básicas de Saúde (39 na zona urbana e 13 na zona rural)

3 unidades de Pronto Atendimento 24 horas

2 unidades de Pronto Atendimento 16 horas

47 unidades 12 horas 3 Unidades de Saúde Mental 1 CAPS 3 - adulto (CONVIVER)

1 CAPS 1 – infantil (NAPS-CA) 1 CAPS A/D – álcool e drogas

(ESPAÇO VIDA) 1 Laboratório de patologia Clínica/Radiologia

CISMEPAR – Consórcio Intermunicipal do Médio Paranapanema (diagnose/terapia)

SETOR PÚBLICO MUNICIPAL

1 Farmácia municipal Centro de Ref em doenças infecto-contagiosas – CIDI

Ambulatório de Especialidades, Diagnose e Terapia – HC/UEL

Farmácia Regional de Medicamentos Excepcionais

Hemocentro – UEL Clínica de hemodiálise – HU

SETOR PÚBLICO ESTADUAL

Clínica de Quimioterapia – HU 3 ambulatórios de Especialidades, Diagnose e Terapia

Ambulatório do Alto da Colina (HEL) Ambulatório da Irmandade Santa

Casa de Londrina Ambulatório do Instituto do Câncer

de Londrina (quimioterapia e radioterapia)

SETOR FILANTRÓPICO

1 Clínica de Reabilitação Otológica – ILES

Fisioterapia 1 Clínica UNOPAR 3 Clínicas de Reabilitação

Especialidades Médicas 8 Clínicas de Oftalmologia 1 Clínica de Cardiologia 1 Clínica de Gastroenterologia 3 Clínicas de Ortopedia 1 Clínica de Saúde Mental

Serviços de Diagnose 10 Laboratórios de Patologia Clínica 3 Laboratórios de Citopatologia 1 Serviço de Radiologia 2 Serviços de Ultra-sonografia 2 Serviços de Mamografia 2 Serviços de Tomografia

SETOR PRIVADO

Terapias especializadas 1 Clínica de Hemoterapia 2 Clínicas de Terapia Renal Substitutiva

Fonte: Londrina, 2003. Figura 3 - Serviços ambulatoriais que compõem o sistema municipal de saúde (SUS) de Londrina – PR.

Page 37: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 1

36

Apesar de uma razoável infra-estrutura física e equipe profissional

disponível na rede básica com ampla oferta de procedimentos diagnósticos e

terapêuticos, persistiam problemas caracterizados pela elevação da demanda

reprimida, filas e reclamações. A baixa resolutividade do serviço era devido, em

grande parte, à não incorporação pelo modelo vigente de práticas sanitárias

direcionadas aos fatores e situações de risco da população, com base em

informações epidemiológicas (LONDRINA, [2003?]).

Fez-se uma opção pela implantação ampla do PSF com cobertura de

100% da população na zona rural e 70% na zona urbana, abrangendo-se áreas de

maior risco do município com intenção de reorganizar a Atenção Básica em Londrina

(LONDRINA, [2003?])

O PSF em Londrina foi criado em 1995, com 4 equipes na zona rural. Em

maio de 2001 expandiram-se de 4 para 81 equipes e no início de 2002 ampliaram-se

para 93 ESF. Em abril de 2003 mais uma equipe foi criada, passando-se para 94

equipes no total, juntamente com a criação de 8 equipes de Saúde Bucal. As 94 ESF

estavam distribuídas em 50 unidades de saúde. Em cada região da área urbana

atuava, em apoio às equipes, um fisioterapeuta realizando atendimento aos

pacientes acamados, orientação postural aos grupos de idosos e gestantes entre

outros (LONDRINA, [2003?]).

Page 38: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2 Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde

“Mover toda engrenagem com fé e músculo, abrir as portas do

impossível com dardos d’Esperança. Mover adagas de ventura, em busca do invisível do melhor dos mundos.”

Reivaldo Vinas

Page 39: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

38

Atualmente um nó na consolidação do SUS e especificamente da

Estratégia de Saúde da Família é o desenvolvimento de recursos humanos em

saúde. Existe a necessidade de formarem-se profissionais de saúde com visão

ampla do processo saúde doença, considerando-se a saúde em sua positividade. A

valorização de ações preventivas e de promoção da saúde devem encontrar no

pessoal da saúde o combustível para sua consolidação e, conseqüente,

transformação do modelo assistencial.

2.1 O Trabalho em Saúde

O trabalho em saúde é essencial à vida humana e faz parte do setor de

serviços. O setor terciário ou de serviços cresceu significativamente e possui grande

diversificação em relação a prestígio, níveis salariais e atividades desenvolvidas. O

resultado do trabalho em serviços pode ser uma mercadoria vendável ao capitalismo

ou a outro consumidor, como é a prestação de serviços em saúde. O setor saúde

compartilha, assim, de características do processo de produção do terceiro setor da

economia e, ao mesmo tempo, possui características específicas (PIRES, 1999).

O setor saúde é importante não só pela natureza dos serviços prestados,

como pelo volume de empregos gerados diretamente. Em plena era tecnológica,

caracterizada pela redução de mão-de-obra, é um setor que continua empregando

grande contingente de profissionais. No Brasil ocorreu historicamente uma divisão

dos mercados de trabalho em esfera pública e privada. Recentemente vem

ocorrendo uma inversão na composição destas esferas, sendo a privada

sobrepujada pela pública (MACHADO, 2003).

Page 40: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

39

Na saúde o trabalho é da esfera não material, completando-se no ato de

sua realização. Como resultado, não tem um produto material, independente do

processo de produção e comercializável, o produto é indissociável do processo,

resultando da própria realização da atividade. O ato assistencial em saúde envolve a

avaliação de um indivíduo ou grupo, seguindo-se a indicação e/ou realização de

uma conduta. Este ato engloba um trabalho do tipo profissional, pois é realizado por

profissionais que dominam os conhecimentos e técnicas especiais, o usuário ou

grupo social não pode executar a técnica por si mesmo ou sem a ajuda profissional

(PIRES, 1999).

Segundo Pires (1999):

O processo de trabalho dos profissionais da saúde tem como finalidade – a ação terapêutica de saúde; como objeto – o indivíduo ou grupos doentes, sadios ou expostos a risco, necessitando medidas curativas, preservar a saúde ou prevenir doenças; como instrumento de trabalho – os instrumentos e as condutas que representam o nível técnico do conhecimento que é o saber de saúde e o produto final é a própria prestação da assistência de saúde que é produzida no mesmo momento em que é consumida (PIRES, 1999, p.32).

Almeida (1999) afirma que a “prática médica está ligada à transformação

histórica do processo de produção econômica.” Deste modo, a estrutura econômica

determinaria o lugar da medicina na estrutura social, como ocorre com os demais

componentes da sociedade. A prática profissional é vista não como simples

processo, mas como prática social, determinada por uma estrutura social e a uma

formação social concreta (SCHRAIBER, 1993).

Para se definir uma profissão há necessidade de determinado volume de

conhecimentos específicos e um direcionamento dos serviços prestados. Por

conseguinte, uma profissão é uma ocupação que cria e utiliza de forma sistemática o

conhecimento geral acumulado na solução de problemas suscitados por um cliente,

individual ou coletivo. Diferentemente, a atividade profissional é um conjunto de

Page 41: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

40

conhecimentos novos e específicos, fortemente relacionados a uma esfera

ocupacional (MACHADO, 1995 apud PRZYSIEZNY, 1999).

Na grande maioria das instituições assistenciais em saúde não existe

coordenação na assistência prestada pelos diversos grupos de profissionais. O

trabalho é compartimentalizado e cada grupo se organiza e presta parte da

assistência separadamente. Os profissionais envolvidos dominam os conhecimentos

necessários para o exercício das atividades específicas de sua qualificação. O

profissional de nível superior detém o poder relativo à sua profissão delegando

tarefas específicas aos trabalhadores de nível médio ou elementar (PIRES, 1999).

Outro aspecto interessante é que a satisfação e as necessidades da

clientela, em sua grande maioria, não fazem parte do planejamento dos serviços de

saúde, mesmo que presentes nos discursos dos profissionais e dirigentes

institucionais (PIRES, 1999).

Segundo Feuerwerker (2002) o médico perdeu seu monopólio na definição

dos serviços e boa parte do controle sobre os instrumentos, a clientela e o preço da

remuneração de trabalho. A esta perda progressiva de controle junta-se a

especialização médica acentuando, assim, as transformações na relação entre

médico e pacientes. O paciente não escolhe mais livremente o médico que vai

atendê-lo e nem este é mais o responsável pelas condições em que se dá o

atendimento.

Outra interpretação alternativa, utilizada para analisar a questão de

recursos humanos em saúde, é a questão do cuidado. Cuidado é entendido como

uma idéia central de “suporte”. Este suporte não seria fornecer ao outro algo de que

ele careça, e sim oferecer um suporte ao “querer ser” do outro. O cuidado não se

define por uma beneficência utilitarista, nem por um saber que vise dar conforto e

Page 42: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

41

bem-estar ao paciente, deve estar voltado ao doente e não à doença (NOGUEIRA,

2002).

Não se quer dizer com isso que se deve separar o cuidado do tratamento,

sendo impossível concebê-lo separadamente de uma dimensão técnica, o cuidado

deve direcionar o tratamento e contê-lo em si. Outra interpretação para o cuidado

seria a descrição de um conjunto de ações simultaneamente instrumentais e

comunicativas, com dominância das últimas. Assim, deve-se superar a dicotomia

entre as diversas profissões de saúde, cuidadores e tratadores, para que todos

sejam entendidos como agentes participantes do cuidado (NOGUEIRA, 2002).

Nogueira (2002) explica que a razão para o uso da noção de cuidado ao

invés de trabalho seria a existência de “inúmeras práticas de saúde em contextos

sociais onde não se pode perceber o domínio da racionalidade instrumental própria

ao trabalho” (p. 268), práticas estas assumidas pelas famílias ou por cuidadores e

dispensadas solidariamente a indivíduos acometidos por enfermidades. O autor

estende, ainda, a noção de cuidado às atitudes que a pessoa realiza em interesse à

sua própria saúde, como hábitos saudáveis.

Ao se reportar à noção de cuidado, Pinheiro e Guizardi (2004) não a

apreendem como um nível de atenção do sistema de saúde ou como um

procedimento técnico simplificado, mas como uma atenção integral, com significados

e sentidos voltados para a compreensão de saúde como o direito de ser. Engloba-se

o tratar, o respeitar, o acolher, o atender o ser humano em seu sofrimento, fruto de

uma fragilidade social.

Page 43: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

42

2.2 Recursos Humanos em Saúde

Um grande desafio para a consolidação do Sistema Único de Saúde é a

questão dos Recursos Humanos (RH).

Recursos Humanos em Saúde (RHS) denomina um conjunto de agentes

capazes de desenvolver ações de saúde, sejam as de promoção,

proteção/prevenção, recuperação ou reabilitação (PAIM, 1994).

Desta forma, pessoal de saúde seriam os agentes formalmente habilitados

e inseridos no mercado de trabalho, onde se inclui a noção de agentes. Força de

trabalho em saúde constitui um segmento da população economicamente ativa

vinculada ao mercado de trabalho, formalmente capacitada ou não. Categorias

profissionais é um conceito utilizado para designar agentes tecnicamente

preparados para exercer determinadas ações no contexto da divisão técnica e social

do trabalho em saúde. Trabalhadores de saúde são todos aqueles que se inserem

direta ou indiretamente na prestação de serviços em saúde (PAIM, 1994).

Os paradigmas contemporâneos de gestão organizacional já consideram a

primazia das pessoas na busca da excelência para a produção de bens e serviços e

para valorizar a própria transformação institucional. As políticas de RH, no entanto,

mais que mecanismos de vinculação e distribuição de pessoal, devem ser formas

democráticas de responsabilização e mobilização para propiciar maior adesão às

novas missões desempenhadas pelo SUS (FONSECA e SEIXAS, 2002).

Os RHS são responsáveis por manter a organização produtiva e devem

estar mobilizados para o processo de transformação do modelo assistencial e da

prática sanitária, visando assim o cumprimento de todos os princípios e diretrizes do

SUS (SAKAI et al, 2001).

Page 44: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

43

Fonseca e Seixas (2002) enfatizam a necessidade de se trabalhar

questões relativas ao sistema de produção de recursos humanos e ao sistema de

utilização destes recursos, quando se discute a política de RH. O primeiro diz

respeito à formação/preparação para o trabalho (o mundo da formação), e o

segundo à gestão do trabalho (o mundo do trabalho).

A Lei nº. 8.080 de 19 de setembro de 1990 traz como atribuição do SUS a

ordenação da formação de recursos humanos na área da saúde (BRASIL, 2001a).

Já a Lei nº. 8.142 de 28 de dezembro de 1990 dispõe sobre a necessidade de uma

comissão para elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) para os

trabalhadores do SUS (BRASIL, 2001b).

De acordo com Fonseca e Seixas (2002) as principais necessidades na

preparação de RH para a saúde são:

• Formação de pessoal de nível técnico para os serviços de saúde;

• Insuficiência na formação de nível superior – graduação;

• Especialização profissional – o “mix” de especialistas;

• Preparação para a gerência e gestão da saúde;

• Capacitação e abordagem pedagógica.

Formação é um conceito que compreende educação advinda de uma

instituição da sociedade, de um sistema educacional formal público ou privado. Já

capacitação é entendida como processos educativos que ocorrem para a

qualificação específica necessária ao trabalho (SAKAI et al, 2001).

Atualmente, dentro da área da saúde percebe-se uma necessidade de

continuidade na formação, ultrapassando a formação básica, seja ela técnica ou

universitária. Buscando a constante atualização dos profissionais, surgem os

conceitos de educação continuada e permanente. A Figura 4 apresenta algumas

Page 45: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

44

diferenças entre Educação Continuada e Educação Permanente. Embora sejam

processos distintos, não precisam ser, necessariamente, antagônicos.

Aspectos Educação Continuada Educação Permanente

Público alvo Uniprofissional Multiprofissional Inserção no mercado de trabalho

Prática autônoma Prática institucionalizada

Enfoque Temas da especialidade Problemas de saúde Objetivo principal Atualização técnico-científica Transformação das práticas

técnicas e sociais

Periodicidade Esporádica Contínua

Metodologia Pedagogia da transmissão Pedagogia centrada na resolução de problemas

Resultados Apropriação passiva do saber científico e aperfeiçoamento das práticas individuais

Mudança institucional, apropriação ativa do saber científico e fortalecimento das ações em equipe

Fonte: Almeida, 1997. Figura 4 - Diferenças entre educação continuada e permanente

A questão da gestão dos RHS é objeto de atenção prioritária, com

necessidade de estudos referentes a novas formas de contratação, de remuneração

e de avaliação de desempenho do pessoal da saúde. Já a questão das mudanças

da formação e capacitação dos RH, apesar de serem declaradas como

necessidades não são observadas, em termos de intervenções já realizadas, como

prioritárias (ALMEIDA, 1999).

2.3 Movimentos de Mudança na Formação em Saúde

Existem pressões, das mais variadas naturezas, para que ocorram

mudanças na formação médica. Porém continuam as resistências às mudanças,

Page 46: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

45

principalmente em relação à orientação de uma formação mais geral

(FEUERWERKER, 2002). A mesma autora reflete que para que a mudança seja

efetiva, a decisão de mudar deve ser institucional, “(...) a proposta de mudar deve

entrar pela porta da frente, deve ser compromisso do núcleo central de poder, ou

seja, da direção” (p.19).

Por mudança no processo de formação entendem-se alterações nos

processos, nas relações e nos conteúdos de educação. Almeida (1999), analisando

a educação médica, distingue três planos de profundidade de mudanças, inovação,

reforma e transformação, como observado a seguir.

No primeiro plano têm lugar as mudanças superficiais na formação. São

mudanças normalmente pontuais, localizadas, particulares e parciais. As inovações

se concentram nas atividades, nos meios e nas relações técnicas entre os agentes e

o processo de ensino. Desenvolvem-se e coexistem juntamente com o tradicional,

resultando de alterações isoladas, normalmente nos processos.

No plano da reforma, ou plano dos sujeitos e atores sociais, têm lugar

mudanças que buscam substituir dimensões mais abrangentes do processo de

formação com algum grau de reinterpretação das bases conceituais da educação.

Atingem as relações sociais incluindo os pacientes e a comunidade.

No terceiro plano, o da transformação, ou estrutural, têm lugar as

mudanças que buscam introduzir uma nova ordem no processo de formação e em

suas relações com a estrutura socioeconômica. Engloba todo o contexto e a

sociedade, envolvendo a essência do próprio processo de produção do

conhecimento. O maior impacto ocorre nas relações políticas entre os sujeitos e

resultam em alterações globais dos conteúdos, dos processos e das relações.

Page 47: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

46

Feuerwerker (2002) discute que o primeiro plano corresponderia à

concepção tradicional de educação e à concepção biologista em saúde. O segundo

corresponderia à concepção humanista (libertária) de educação e ao conceito

ampliado de saúde. E o terceiro plano corresponderia à concepção pedagógica

crítico-reflexiva e ao pensamento estratégico em saúde.

Em 1985 foi constituída uma rede, que articulava projetos de integração

docente-assistencial (Rede IDA) existentes no Brasil, promovendo o intercâmbio de

experiências. Entretanto as relações com os serviços em muitos casos eram

bastante verticais, ou seja, a universidade fazia o que achava importante

desconsiderando os interesses e as necessidades dos serviços e da população. Os

serviços eram vistos mais como cenários do que parceiros (FEUERWERKER, 2002).

Ao final da década de 80, a coordenação da Fundação W. K. Kellogg para

América e Caribe, iniciam uma série de discussões, culminando com o surgimento,

no início da década de 90, do programa UNI. Visando maior articulação entre o

ensino das diversas profissões de saúde e a incorporação da comunidade em

colaboração com as instituições educacionais, o programa UNI – “Uma Nova

Iniciativa na Educação dos Profissionais de Saúde: União com a Comunidade”, tinha

como objetivos: contribuir para reorientação da formação profissional dos cursos de

graduação; fortalecer a construção de Sistemas Locais de Saúde; promover o

desenvolvimento comunitário em matéria de saúde. No início contou com a

participação de líderes do movimento de educação dos profissionais da saúde e da

reforma sanitária (ALMEIDA, 1999).

Em 1996, numa oficina de trabalho, foi definida uma nova identidade para

a Rede, passando a se chamar UNIIDA, buscando fortalecer a parceria entre

universidades, instituições de pesquisa, serviços e comunidade e formular políticas

Page 48: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

47

de financiamento para formação e capacitação de recursos humanos para o SUS

entre outras atividades. Em 1998 a Rede passou a se chamar Rede UNIDA

concebida como:

Espaço de troca e divulgação de experiências de articulação entre universidades, instituições de ensino e pesquisa, serviços, comunidade, constituída por projetos, instituições e pessoas interessadas em promover mudanças no modelo de atenção, no modelo de ensino em saúde e nas formas de participação social, coerentes com os princípios do SUS (FEUERWERKER, 2002, p.238).

A Rede considerava que estudantes, docentes e comunidades podiam

contribuir para a mudança do modelo de atenção. Procurou atuar no cenário político

produzindo propostas para favorecer a mudança na formação (FEUERWERKER,

2002).

A partir de 1996 o currículo mínimo foi extinto pela Lei nº. 9.394 de 20 de

dezembro, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996). Como principal

característica, houve a flexibilização dos currículos dos cursos de graduação,

ultrapassando o modelo anterior com ênfase nas disciplinas e cargas horárias

(SCHMIDT, 2002).

Em 1997 foi lançado o Edital MEC/SESu nº 04/97, com convocação para

que todos dos cursos de graduação elaborassem suas diretrizes curriculares

(SCHMIDT, 2002). Foi iniciada uma série de discussões dentro da Rede UNIDA,

contribuindo em todo o país para a construção e elaboração coletiva das Diretrizes

Curriculares Nacionais para os Cursos Universitários da Área da Saúde, publicadas

no D.O.U. entre 2001 e 2003. Em 2003 a Rede Unida publica uma coletânea com as

diretrizes das doze profissões da área da saúde (ALMEIDA, 2003).

Page 49: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

48

2.4 Paradigmas da Educação em Saúde

Na teoria kuhniana, em comunidades científicas, os paradigmas são

caracterizados por seqüências de entendimentos tácitos compartilhados. O conceito

de paradigma stricto sensu formulado por Khun não seria aplicável à educação das

profissões da saúde, porém é usado em lato sensu, na América Latina para designar

o modelo dominante de educação influenciado pelos estudos de Flexner, divulgados

no relatório de mesmo nome (LAMPERT, 2002).

O Relatório Flexner foi publicado em 1910, sendo responsável por

grandes modificações no ensino médico. Incentivou a valorização das disciplinas

biológicas, como anatomia, fisiologia, bioquímica, patologia, farmacologia, histologia,

embriologia e microbiologia, tendo grande peso nos currículos das escolas médicas.

Os ensinamentos estavam inseridos num contexto reducionista e tinham de ser

dissociados de preocupações sociais, consideradas descontextualizadas da

medicina, enfatizando a pesquisa e o tratamento (PRZYSIEZNY, 1999).

Segundo Przysiezny (1999) os aspectos preventivos e promocionais da

saúde não foram tratados com grande entusiasmo pelo Relatório Flexner. Já

Lampert (2002) cita que as orientações do relatório foram cumpridas apenas em

parte, uma vez que pouco foi feito em relação à parte social e humana, que também

foi abordada no documento.

A partir de 1968 com a Reforma Universitária, o Brasil passou a adotar

oficialmente o modelo americano nas escolas médicas, dividindo o ensino em ciclo

básico e ciclo profissionalizante (LAMPERT, 2002). A partir da década de 50 já

proliferavam conferências e seminários que fixavam em linhas gerais o

Page 50: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

49

desenvolvimento da Medicina Preventiva, provinda dos Estados Unidos, como

aborda Arouca (1975).

O novo paradigma necessário, da integralidade, teria como imagem-

objetivo a ser alcançada uma formação mais contextualizada, considerando as

dimensões sociais, econômicas e culturais da vida da população. Implicaria em

capacitação profissional para o enfrentamento dos problemas do processo saúde-

doença de forma contextualizada, estimulando uma atuação interdisciplinar e

multiprofissional e respeitando os princípios do SUS. Este paradigma levaria a uma

construção pedagógica que equilibraria a excelência técnica com a relevância social

(LAMPERT, 2002).

Ao referir-se à integralidade, seja como princípio orientador das práticas,

seja como orientadora da organização do trabalho ou das políticas, Mattos (2001)

reflete que se implicaria em uma recusa ao reducionismo e à objetivação dos

sujeitos e, possivelmente, uma afirmação da abertura ao diálogo. Não se reduz o

paciente a uma lesão que no momento provoque um sofrimento, tampouco a um

corpo com possíveis lesões ainda silenciosas, ou um conjunto de situações de risco.

Apesar da clara insatisfação com o paradigma flexneriano, para que haja

sua substituição pelo da integralidade ainda é necessário uma nova prática que

busque a integralização nos serviços e nos processos de formação de recursos

humanos (LAMPERT, 2002).

Page 51: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

50

2.5 Formação: Questão de Competência

O termo competência está na roda do debate educacional no Brasil. As

Novas Diretrizes Nacionais para os Cursos da Saúde tratam de competências que

os estudantes devem adquirir em seu processo de formação.

Competência assume um caráter polissêmico, Depresbiteris (2001) a

conceitua como:

• Capacidade para aplicar habilidade, conhecimentos e atitudes em

tarefas ou combinações de tarefas operativas;

• Habilidade de alguém utilizar seu conhecimento para alcançar um

propósito;

• Capacidade de mobilizar saberes: saber-fazer, saber-ser e saber-agir;

• Mobilização de um conjunto de capacidade para resolução de um

problema.

• Competência profissional é a capacidade de utilizar conhecimentos e

habilidades adquiridas para o exercício de uma situação profissional.

Segundo Mello (2003), sempre que se diz o que um aluno deve aprender

e o que ele deve fazer com o que aprendeu, refere-se a competência. Competência

seria a capacidade de mobilizar conhecimentos, valores e decisões para agir em

determinada situação, só poderia ser constituída na prática.

A competência não é algo observável diretamente, podendo ser inferida

pelos desempenhos (realização das tarefas essenciais, fundamentadas por atributos

cognitivos, pscicomotores e atitudinais qualificados). O desempenho pode ser

observável. Os padrões de competência (critérios de satisfação) explicitariam o que

o sujeito deve fazer para desempenhar sua prática com sucesso, com padrões de

Page 52: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 2

51

profissionalismo. As capacidades seriam os aspectos cognitivos, as habilidades e as

atitudes (DUARTE et al, 2005).

As habilidades possuem um duplo estatuto, sendo pressuposto e

resultado manifestável da competência. No primeiro caso as habilidades teriam o

mesmo sentido de capacidades, isto é, “um potencial cognitivo que, colocado em

ação diante de uma situação concreta, por associação com os saberes, constituem

competências” (p. 69), e são expressas por verbos de ação (compreender,

comparar, etc). Como resultado, isto é, manifestação das competências, as

habilidades consolidam-se na forma do saber-fazer, sendo tomadas como

indicadores de desempenho nas avaliações (RAMOS M. N., 2002). Habilidades são

compreendidas como os procedimentos gerais e específicos dominados pelo sujeito

e essenciais para o enfrentamento das situações (RAMOS, 2001).

Page 53: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 A Fisioterapia como profissão

“A Fisioterapia marcha a passos vertiginosos para a Fisioterapia

Social, e é aqui onde o Fisioterapeuta se integra

perfeitamente na responsabilidade da sua missão.”

Editorial da Associação Brasileira de Fisioterapia - 1962

Page 54: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 53

Para apreender como objeto de estudo a prática e a formação do

fisioterapeuta faz-se interessante, antes, rever a história da profissão e sobre a

constituição de seu objeto de trabalho. O ensino da Fisioterapia e a sua relação com

a Saúde Coletiva permeiam as discussões deste estudo, assim faz-se necessária

uma reflexão inicial sobre a temática.

3.1 Evolução Histórica e Construção do Objeto do Trabalho da

Fisioterapia

A Fisioterapia como profissão, ou área de conhecimento, tem um passado

recente, porém ao se estudar seu objeto de trabalho verifica-se que este, além de

ser antigo, foi desenvolvido de maneira difusa e não exclusiva por uma categoria

profissional. Rebelatto e Botomé (1999) buscaram a partir de uma análise em

diferentes momentos históricos, explicitar qual seria o campo de atuação dessa

profissão. Estes autores partiram do que era concebido ou exercido na área que se

entende hoje por objeto da Fisioterapia.

Remonta à antiguidade a utilização de agentes físicos como a eletricidade

(peixe elétrico) ou os movimentos do corpo para eliminação, do que na época

denominavam-se diferenças incômodas (entendidas como doenças físicas, porém

abrangendo também idéias, comportamentos, atividades sociais, políticas e outras).

Neste período a preocupação centrava-se mais no que poderia ser classificado

como atenção curativa e reabilitadora, não existindo a preocupação com a

prevenção, apesar de em alguns locais, como na Grécia, existir a preocupação com

o corpo: “mens sana in corpore sano” (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999).

Page 55: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 54

Com o início da Era Cristã a ginástica como tratamento dessas diferenças

esteve em poder dos sacerdotes (ANDRADE, BORGES e CAMPO, 2003). Durante a

Idade Média os estudos na área da saúde foram interrompidos, pois houve a

depreciação do corpo, que era visto como algo inferior, e a atividade física como

curativa passou a ser proibida. Surge um novo uso para os exercícios físicos, não

mais visto como valorização do corpo, mas como uma necessidade advinda da

guerra, controle da população e dos bens. As diferenças incômodas neste período

eram vistas como algo a ser “exorcizado”, os exercícios físicos passaram a ser

privilégio da nobreza como forma de lazer (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999).

Com o Renascimento (séc. XV e XVI) e a retomada da beleza pelo

movimento artístico e literário, a forma física masculina e feminina voltou a ser

valorizada. A atividade física deixou de ser apenas uma forma de tratamento, para

também se tornar uma preocupação com a manutenção das condições normais.

Surge uma preocupação que vai além da cura e da reabilitação. No período de

transição entre o Renascimento e a Industrialização acentuaram-se movimentos de

separação entre a ginástica para pessoas sãs e a com finalidade de cura. Essa

divisão profissional em função do estado de saúde da população parece ter

contribuído, na análise de Rebelatto e Botomé (1999), para a concepção do objeto

de trabalho futuro da Fisioterapia.

As concepções de cuidado com o corpo que advinham do período

Renascentista sofrem grandes alterações com o advento da Revolução Industrial

nos séculos XVIII a XIX. Com a necessidade de combate às novas doenças e

epidemias, a metodologia científica é agregada às escolas médicas e o saber

científico passa a ser valorizado. A explicação “unicausal” das doenças contribui

para a concepção de que bastava tratar os operários quando esses adoecessem.

Page 56: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 55

Predominou neste momento uma atenção curativa, recuperadora e reabilitadora,

inibindo-se o ideário de manutenção da saúde que havia surgido no Renascimento.

Neste contexto começaram a surgir no século XIX as especializações na

medicina, que se elaboraram e permaneceram pelo século XX. Os conhecimentos e

formas de trabalho que viriam a caracterizar a Fisioterapia seguiriam na mesma

direção da área médica, compartimentalizando as áreas de estudo e campos de

atuação profissional. Desta forma no início do século XX o exercício físico e outras

maneiras de atuar que caracterizam a Fisioterapia foram desenvolvidos com a

preocupação de tratar as pessoas acometidas de disfunções.

Durante a Primeira Guerra surgem escolas de cinesioterapia, a partir de

clínicas universitárias ortopédicas. Até a metade do século ficou consolidada a

separação entre instituições de educação física pura e de tratamento de enfermos.

Como conseqüências das guerras existiam um grande contingente de indivíduos

com lesões, mutilações e incapacidades que necessitavam tratamento. Novaes

Junior (2005) afirma que na França já existia faculdade de Fisioterapia em 1927.

O objeto de trabalho e de estudo da Fisioterapia, bem como de toda a

“área da saúde”, passou no decorrer da história por diversas oscilações, e foi muito

influenciado pelas relações de produção. Porém quase sempre o atendimento e os

recursos nesta área foram voltados para o indivíduo doente, mesmo com a

superação da teoria da “unicausalidade”, os conhecimentos foram pautados em

aspectos, em geral, biológicos. A própria denominação das formas de atuação e da

própria profissão (Fisioterapia) denuncia esta visão: Cinesioterapia (atuação

terapêutica por meio de exercício), Eletroterapia (eletricidade), Crioterapia (frio), etc

(REBELATTO e BOTOMÉ, 1999).

Page 57: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 56

A Fisioterapia tem como objeto de trabalho, juntamente com os demais

profissionais da saúde, o indivíduo ou grupos doentes, sadios ou expostos a riscos.

Utiliza-se de instrumentos e condutas representativos de seu saber específico. E

como produto final obtém-se a própria prestação de serviço que é oferecida no

mesmo momento em que é consumida (MACHADO, 1997 apud TRELHA, 2002).

O fisioterapeuta atende, normalmente, mediante solicitação médica. Os

fisioterapeutas controlam o processo de trabalho no campo da Fisioterapia, e

quando há divisão do trabalho ocorre entre as especializações do conhecimento,

não havendo divisão entre o saber e o fazer (PIRES, 1999).

3.2 A Fisioterapia no Brasil

A história da Fisioterapia brasileira iniciou-se antes mesmo da delimitação

e criação da profissão em si, surgiu com a chegada da família real portuguesa ao

Brasil e criação das primeiras escolas médicas. No século XIX os recursos

fisioterapêuticos ainda faziam parte da terapêutica médica. Surgem por volta de

1879 e 1883 o serviço de eletricidade médica e o serviço de hidroterapia, chamado

“Casa das Duchas”, no Rio de Janeiro. Em 1884 o médico Arthur Silva participou

ativamente da criação do primeiro serviço de Fisioterapia da América do Sul,

organizado no Hospital de Misericórdia do Rio de Janeiro. O médico Raphael

Penteado de Barros fundou o departamento de eletricidade médica, onde

futuramente se constituiria a USP, em 1919, e o médico Waldo Rolim de Moraes, em

1929, instalou o Serviço de Fisioterapia do Instituto Radium Arnaldo Vieira de

Carvalho (NOVAES JUNIOR, 2005).

Page 58: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 57

Esse início foi marcado por uma forma de atuação sempre dependente

dos “médicos da reabilitação”, como eram conhecidos os médicos da época, que

atuavam com esses recursos. Direcionada para a Reabilitação, considerava-se a

Fisioterapia como sinônimo de uma assistência apenas “reabilitadora”.

Em 1951 foi organizado o primeiro curso para a formação de técnicos em

Fisioterapia, no Hospital das Clínicas em São Paulo (USP), com duração de um ano,

para formar profissionais que atuassem em reabilitação, os egressos eram

chamados fisioterapistas. Em 1952 foi retomada na Faculdade de Ciências Médicas

do Rio de Janeiro a cátedra de Fisioterapia e em 1954 foi criada a Associação

Beneficente de Reabilitação que após dois anos ministra o curso de técnico em

reabilitação. Esses novos profissionais foram absorvidos pelas entidades:

Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD), Lar Escola São Francisco

e as Casas da Esperança (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999; NOVAES JUNIOR,

2005).

Em 1959, com a Fundação do Instituto Nacional de Reabilitação (INAR), o

curso da USP passou para dois anos e em 1964 quando o INAR transmuta-se para

Instituto de Reabilitação (IR), são criados os primeiros cursos de Fisioterapia e

Terapia Ocupacional (ANDRADE, BORGES e CAMPO, 2003).

Além desta conjuntura, outros fatores contribuíram para fortalecer a

concepção da Fisioterapia, no país, como uma atuação reabilitadora. A incidência de

poliomielite na década de 50 atingiu índices alarmantes, contribuindo para um

grande contingente de pessoas com seqüelas motoras. Outro fator determinante foi

a grande quantidade de trabalhadores lesados pelos acidentes de trabalho e que

necessitavam de reabilitação para se reintegrarem ao mercado de trabalho

(REBELATTO e BOTOMÉ, 1999).

Page 59: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 58

Regulamentada, a profissão de Fisioterapia tem um passado bem recente.

Em relação à legislação, existem quatro documentos oficiais que podem ser

considerados como “Certidão de Nascimento Oficial da Fisioterapia no Brasil”

(PRZYSIEZNY, 1999).

O primeiro documento oficial foi o parecer n° 388/63 do Conselho Federal

de Educação. Este documento descrevia a atividade do fisioterapeuta como sendo

auxiliar do médico, ou seja, um técnico, não lhe cabendo executar diagnóstico, mas

apenas executar tarefas terapêuticas sob orientação e responsabilidade do médico.

O segundo documento oficial foi o decreto lei n° 938/69 de 13 de outubro

de 1969, que assegurava o exercício profissional do fisioterapeuta, destacava

apenas aspectos curativos e reabilitadores da profissão como pode ser visto no

terceiro artigo. “É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas

fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade

física do paciente” (BRASIL, 1969).

O terceiro documento foi a Lei n° 6.316 de 17 de dezembro de 1975,

decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Presidente da República do

Brasil, criou o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia

Ocupacional, dispondo sobre o exercício profissional, anuidades, infrações e

penalidades (BRASIL, 1975).

O quarto documento oficial foi a Resolução n° 10 de 03 de julho de 1978,

do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, onde ficou estabelecido

o Código de Ética Profissional do Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional. Neste

documento já existe uma visão mais ampliada da prática profissional, no primeiro

artigo explicita-se que “O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional prestam

Page 60: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 59

assistência ao homem, participando da promoção, tratamento e recuperação de sua

saúde” (COFFITO, 1978).

3.3 Fisioterapia e Saúde Coletiva

A ênfase em sua origem e a direção das ações do campo profissional do

fisioterapeuta sempre foi para as atividades reabilitadoras. Fundamentalmente, o

surgimento da profissão deu-se com o tratamento das pessoas lesadas fisicamente,

decorrentes das guerras. Essas circunstâncias favoreceram uma prática voltada à

doença, que era adequada para o momento. Desta forma o modelo flexneriano

também influenciou o desenvolvimento da profissão no desenvolver de sua história

(PRZYSIZNY, 1999).

Na reflexão de Deliberato (2002), o fisioterapeuta além de estar inserido

no mesmo contexto dos demais profissionais da saúde com formação direcionada à

doença, padece deste infortúnio de forma mais acentuada, já que é visto como “o

profissional da reabilitação”, ou seja, atuando exclusivamente no momento em que a

doença, lesão ou disfunção já foi estabelecida.

Em sua grande maioria, os fisioterapeutas trabalham em hospitais,

clínicas, consultórios, ambulatórios, postos de saúde pública, alguns com plantões

nos finais de semana. Todas as atuações citadas seguem um princípio oriundo da

formação universitária, ou seja, uma atuação exclusivamente curativa

(PRZYSIZNY, 1999).

Hoje o fisioterapeuta é um membro da equipe da saúde com sólida

formação científica, que atua desenvolvendo ações de prevenção, avaliação,

Page 61: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 60

tratamento e reabilitação, utilizando nessas ações, programas de orientações e

promoção da saúde, além de agentes físicos como o movimento, a água, o calor, o

frio e a eletricidade (DELIBERATO, 2002).

Barros (2002b) na apresentação do livro “O Fisioterapeuta na Saúde da

População” comenta sobre a responsabilidade social do fisioterapeuta, e da

necessidade de, nos tempos atuais, se criar condições necessárias para o

desenvolvimento da saúde, mais que recuperar e curar pessoas. Os profissionais de

saúde precisariam saber mais que curar para transformar a realidade da saúde da

população brasileira. Também se refere da seguinte maneira ao PSF:

A participação intensa do fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família e em programas e ações similares de cuidados primários em saúde é condição fundamental para a concretização das diretrizes de uma assistência à saúde realmente integral, ao contrário do tradicional modelo medicalizado, fragmentado, hospitalocêntrico e baseado na dependência e exclusão social. O fisioterapeuta é peça fundamental para a conquista e desenvolvimento de uma assistência à saúde da população que se baseia na inclusão social, centrada na comunidade e na participação efetiva desta, na conquista da saúde como instrumento através do qual cidadãos possam realizar suas aspirações e satisfazer suas necessidades, adquirindo a capacidade de mudar seu entorno ou enfrenta-lo. (BARROS, 2002b, p. 8)

São vários os exemplos em que o fisioterapeuta insere-se na agenda da

saúde pública. Ora por necessidade da população, ora pela luta da classe em

demonstrar sua utilidade, a Fisioterapia vem ao encontro da saúde pública, com seu

potencial não só curativo-reabilitador, como também na prevenção, e por que não na

promoção da saúde, em ações individualizadas ou coletivas, como pode ser

observado pelos relatos no jornal de seu Conselho Federal. Seguem algumas

experiências.

A Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia apurou que o

fisioterapeuta deveria estar presente nos quadros da Secretaria, tanto no

atendimento à família como na prevenção, além da fase curativa. A prevenção é

Page 62: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 61

realizada em grupos, o fisioterapeuta realiza orientações quanto à postura, preparo

para o parto em gestantes, participando também de programas de hanseníase,

prevenção de incapacidade, grupos de lombalgia e hipertensão (COFFITO, 1999).

Em Santarém (AM) o fisioterapeuta está presente na Secretaria Municipal

de Saúde de forma incipiente, atuando em nível hospitalar, e quando há

necessidade de alguma equipe do PSF (Programa de Saúde da Família), o

fisioterapeuta trabalha junto à equipe. Na zona rural alguns pacientes que antes

necessitavam ser encaminhados à capital, passaram a ser atendidos em suas

comunidades (COFFITO, 2000a).

Em Camaragibe (PE) o fisioterapeuta está inserido em duas equipes do

PSF, nas regiões mais populosas, e no Núcleo de Reabilitação. A jornada do

fisioterapeuta é dividida entre ambulatório e visitas domiciliares. Além do

atendimento individual, atua-se em grupos coletivos de prevenção nas Unidades de

Saúde da Família (COFFITO, 2001a, b).

A Universidade Federal da Paraíba e a Faculdade de Fisioterapia de

Caratinga desenvolvem estágios rurais para seus acadêmicos, inserindo-os na

Saúde Pública. Ambos os programas utilizam a metodologia do PSF (COFFITO,

2001c).

No Rio de Janeiro, fisioterapeutas do Instituto Fernandes Figueira (IFF),

ligado à Fiocruz, participam do Programa de Assistência Domiciliar Interdisciplinar

(PADI). O programa segue uma orientação multiprofissional, realizando visitas à

comunidades dos subúrbios da cidade ou da baixada fluminense. O modelo de

atendimento é voltado à criança, buscando-se o envolvimento do profissional com a

família-paciente (COFFITO, 2001d).

Page 63: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 62

Audiência Pública em Goiânia no dia 31 de outubro de 2000, ratificou a

importância da atuação do fisioterapeuta como profissional essencial na saúde

pública, habilitados no diagnóstico de distúrbios cinético-funcionais, na prescrição

das condutas fisioterapêuticas, na sua ordenação e indução na clientela até a alta do

serviço, devendo também estar presente em programas preventivos e nas pesquisas

científicas voltadas para a promoção da saúde do indivíduo e da comunidade

(COFFITO, 2001e).

Em Natal (RN), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a

Universidade Potiguar desenvolveram um programa preventivo com um grupo de

pacientes diabéticos, mediante condutas voltadas a atividade aeróbica (COFFITO,

2001f).

Em Paracambi (RJ) o fisioterapeuta foi inserido no PSF devido à

insistência de uma fisioterapeuta que conseguiu demonstrar às autoridades e á

população a importância da inclusão deste profissional no PSF, uma vez que era

grande a prevalência de pessoas com seqüelas neurológicas, na maior parte,

restritos ao leito, sem acesso aos serviços de saúde (COFFITO, 2002a).

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) em Cascavel (PR)

disponibilizou na Residência em Saúde da Família, vagas para fisioterapeutas

(COFFITO, 2002b).

Sobral (CE) possuía fisioterapeutas em hospitais e clínicas conveniadas

com o SUS, e uma profissional que realizava atendimentos domiciliares quando

solicitada pelas equipes de PSF até 2000, quando este profissional foi incluído no

PSF. O fisioterapeuta realiza a Escola de Posturas (prevenção e tratamento das

algias da coluna), atua em grupos de gestantes, hipertensos, diabéticos e de

hanseníase, além de atendimentos a pacientes com necessidades especiais, como

Page 64: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 63

portadores de seqüelas de AVE, TCE, TRM, amputados, dentre outros distúrbios

neurológicos. A Escola de Saúde da Família Visconde de Sabóia por meio de sua

especialização também agrega fisioterapeutas, numa formação voltada à atenção

básica (COFFITO, 2003a).

Em dezembro de 2000 a presença do fisioterapeuta no PSF foi efetivada

em Campos dos Goytacazes (RJ), realizando atendimentos principalmente a

indivíduos portadores de distúrbios neurológicos, seguidos pelos traumato-

ortopédicos funcionais. Contava-se em 2003 com oito fisioterapeutas, onde era

realizado trabalho preventivo e em consultório (COFFITO, 2003b).

A inserção do fisioterapeuta no PSF, em Macaé (MG) teve inicio em 2001,

onde desenvolve atividades de educação junto à comunidade e atendimentos nas

áreas de Saúde da Criança, da Mulher, do Adulto e do Idoso, além de atendimento a

pacientes acamados. Utiliza-se a própria unidade ou locais cedidos pela

comunidade, e os atendimentos são realizados individualmente ou em grupos

(COFFITO, 2003c).

Em entrevista ao COFFITO em junho de 2003, Luiz Odorico Monteiro de

Andrade, então presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de

Saúde (CONASEMS) ao falar da interdisciplinaridade no PSF, defendeu a

importância do fisioterapeuta no PSF. Refletiu que essa atuação deveria incluir a

Fisioterapia comunitária, com uma abordagem mais integral, de promoção de saúde,

trabalhando com a qualidade de vida das pessoas e no internamento domiciliar em

situações especiais (ANDRADE, 2003).

No 7º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva em Brasília, 2003, ocorreu

uma oficina temática com o tema: “Fisioterapeutas e Saúde Coletiva: enfrentando o

desafio da integralidade da atenção”, nos dias 29 e 30 de julho. A experiência

Page 65: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 64

congregou profissionais fisioterapeutas comprometidos com uma oferta de atenção

primária como estratégia para substituir o modelo tradicional de cuidado à saúde

(PEREIRA, 2003). Em 2004, no 6º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, realizado

pela Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) em

Recife, outra oficina temática deu continuidade às discussões do ano anterior, com o

tema: “Fisioterapia e a Cidade: em busca do olhar epidemiológico”. (COFFITO,

2004a). A crescente participação da categoria em tais eventos da Saúde Coletiva

demonstra o aumento de interesse por esta área.

Em Balneário Camboriú – SC, a rede pública oferece atendimento de

Fisioterapia no Núcleo de Atenção ao Idoso e no Centro de Fisioterapia e

Reabilitação. Além do atendimento ambulatorial, os profissionais realizam visitas a

pacientes triados pelo PSF, atividades voltadas à prevenção num programa

denominado “Agito no Bairro” e com orientações sobre atividades físicas e

caminhadas durante o verão (COFFITO, 2004b).

Barros (2002a) traz uma coletânea de vinte experiências da Fisioterapia

Comunitária, reunidas pela ocasião do prêmio Fisiobrasil Edição 2001. Os trabalhos

apresentados nesta obra demonstram, em todo o Brasil, a necessidade e a

capacidade da Fisioterapia preocupar-se também com as questões de saúde da

população, inserindo-se em todos os níveis de atenção.

Tonin (2004) realizou uma revisão de literatura sobre a Fisioterapia na

Estratégia de Saúde da Família. A autora concluiu que o profissional fisioterapeuta

está habilitado a atuar na atenção básica, e que várias conquistas neste âmbito já

foram alcançadas. Também discutiu a possibilidade de uma negação da

Integralidade e Universalização na atenção básica com a ausência desta categoria

profissional.

Page 66: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 65

É perceptível uma tendência à mudança no sentido da integralidade,

porém ainda subsiste uma supervalorização da doença, em detrimento da saúde em

seu conceito ampliado, como observado no discurso de Yvane Elizabeth Figueira ao

COFFITO (2002b). Percebe-se a necessidade de uma atuação mais abrangente por

parte do fisioterapeuta, sem, contudo, ultrapassar seu núcleo específico de saber.

É muito difícil encontrar um fisioterapeuta que, em lugar da clínica, pense em ser um educador (...). O fisioterapeuta deve estar ciente que não estará infringindo nenhuma questão legal do exercício da profissão, mas atuando e ajudando a comunidade, sem negligenciar as questões básicas. Temos que nos sentir como integrante da equipe de saúde. O fisioterapeuta precisa entender que vai promover a atenção específica de sua área, mas ao redor estão inseridas outras questões, como doenças endêmicas, por exemplo, tem que conhecer o perfil epidemiológico se deseja agir como agente formador de idéias e ações, enfim como educador e planejador (COFFITO, 2000b).

Campos (2000) assim diferencia núcleo e campo de saberes e práticas:

núcleo seria uma aglutinação de conhecimentos e conformação de um determinado

padrão concreto, demarcaria a identidade profissional, já campo, seria um espaço de

limites imprecisos onde cada disciplina e profissão buscaria em outras, apoio para

cumprir suas tarefas teóricas e práticas.

3.4 O Ensino da Fisioterapia

Até 1969, ano da regulamentação da profissão, existiam seis escolas de

reabilitação para a formação de fisioterapeutas no país. Nos doze anos seguintes

surgiram quatorze novos cursos e em 1984 o número de cursos subiu para vinte e

dois. Anterior à LDB em 1996 já existiam aproximadamente sessenta cursos no

Brasil. Em 1998 já se contava com 115 cursos de Fisioterapia no território nacional

Page 67: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 66

chegando a 249 cursos de graduação em Fisioterapia no ano de 2002 de acordo

com dados do INEP. Esses cursos eram assim distribuídos: 156 (63 %) na região

sudeste, 44 (18 %) no sul, 26 (10 %) no nordeste, 15 (6 %) no centro-oeste e 8 (3 %)

na região norte (PEREIRA e ALMEIDA, 2003). Em 2003, participaram do ENADE

estudantes de 297 cursos de Fisioterapia, o que indica um numera ainda maior de

cursos.

Até o final de década de 1990 havia duas propostas curriculares para o

ensino da Fisioterapia, estabelecendo o currículo mínimo. A primeira tornada pública

pela Portaria Ministerial nº. 511, de 1964, foi elaborada com base no Parecer nº.

388, de 1963. Assinalava que os cursos de Fisioterapia seriam destinados a formar

técnicos em Fisioterapia, com duração de três anos letivos, onde seriam ministradas

as matérias: Fundamentos de Fisioterapia, Ética e História da Reabilitação,

Administração Aplicada, Fisioterapia Geral e Aplicada (REBELATTO e BOTOMÉ,

1999).

O segundo currículo foi determinado em 28 de fevereiro de 1983 pela

Resolução nº. 4, do então Conselho Federal de Educação, estabelecendo o

conteúdo mínimo. Este dividia o currículo de Fisioterapia em quatro ciclos. O

primeiro era considerado o Ciclo das Matérias Biológicas (anatomia humana,

fisiologia, histologia, bioquímica, biofísica, patologia geral e de órgãos e sistemas). O

segundo ciclo era o Ciclo de Matérias de Formação Geral com o desenvolvimento de

disciplinas como sociologia, psicologia, antropologia e metodologia da pesquisa

científica. Em seguida seria o Ciclo de matérias pré-profissionalizantes, com espaço

para disciplinas sobre fundamentos da profissão, estudo dos movimentos do corpo

humano, bases e técnicas de avaliação em Fisioterapia e dos diversos recursos

terapêuticos. O último ciclo seria o profissionalizante, estabelecendo disciplinas

Page 68: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 67

referidas à aplicação dos recursos fisioterápicos nas diversas áreas de

especialidade médica. Também era prevista uma disciplina que discutisse a

utilização dos mesmos recursos nas condições sanitárias, criando assim a

Fisioterapia Preventiva (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999).

Percebe-se na elaboração do currículo mínimo da Fisioterapia forte

influencia da Educação Médica, e do paradigma flexneriano, com a divisão em ciclo

básico e profissionalizante, como apontado por Lampert (2002).

Em 19 de fevereiro de 2002 foram instituídas as Diretrizes Curriculares

para o curso de Fisioterapia, pela Resolução nº. CNE/CES 4. Este documento

determinou que o egresso/profissional deve ter uma formação generalista,

humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis de atenção à

saúde. Em seu quarto artigo especifica quais são as competências e habilidades

gerais que o egresso deve possuir. Traz os “conteúdos” essenciais ao curso,

contemplando “ciências biológicas e da saúde”, “ciências sociais e humanas”,

“conhecimentos biotecnológicos” e “conhecimentos fisioterapêuticos”. Também

garante o desenvolvimento de estágios curriculares sob supervisão docente

(BRASIL, 2002).

Quando o aluno se gradua em determinado curso, já apresenta um

comportamento profissional e está autorizado a exercer a profissão com seus

direitos e responsabilidade. Esta mudança e aquisição da profissão ocorrem devido

ao processo de mudanças internas no estudante, dando-se no confronto com as

situações, circunstâncias e experiências com que se defronta em todo o processo de

formação (PRZYSIEZNY, 1999).

A disciplina de Fisioterapia Preventiva foi incluída no currículo em 1983,

Przysiezny (1999) observou, em sua análise da Disciplina nas instituições da região

Page 69: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 3 68

sul do Brasil, um aumento nas ações de promoção da saúde com amplo

entendimento sobre a definição da Fisioterapia Preventiva. Porém Pereira e Almeida

(2003) encontraram uma dificuldade na definição dos objetos de estudo da disciplina

nas instituições do Paraná.

Pereira e Almeida (2003) ao estudar os cursos de Fisioterapia do Paraná

em 2001, evidenciaram que ainda não tinha ocorrido uma verdadeira incorporação

na formação acadêmica do conceito ampliado de saúde expresso pela Constituição

de 1988. Quando este conceito está presente, isso ocorre de forma teórica, não

sendo relacionado com a prática profissional. A maioria das atividades preventivas

dos cursos estariam relacionadas a projetos de extensão e atividades extra-

curriculares.

Page 70: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 4 Objetivos

“Nada há de permanecer, exceto a mudança.”

Heráclito

Page 71: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 4 70

4.1 Objetivo Geral

Analisar a inserção e a prática do Fisioterapeuta no Programa Saúde da

Família do município de Londrina, e as adequações da formação universitária a essa

atuação.

4.2 Objetivos Específicos

• Caracterizar a inserção, a atuação e o perfil do fisioterapeuta no Programa

Saúde da Família em Londrina.

• Identificar possíveis conflitos e dificuldades enfrentadas pelos

fisioterapeutas ao ingressar na Atenção Básica.

• Averiguar a adequação da formação universitária às necessidades

exigidas à atuação no Programa Saúde da Família.

Page 72: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 Metodologia

“Tudo na vida depende de uma idéia inteligente e de uma decisão

firme”. Goethe

Page 73: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 72

5.1 Processo de Investigação: a pesquisa qualitativa

Pesquisa é a atividade básica das Ciências na sua indagação e

descoberta da realidade. Atividade de aproximação sucessiva da realidade que

nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados. A

pesquisa social reflete posições frente à realidade, momentos do desenvolvimento e

da dinâmica social, preocupações e interesses de classes e de grupos determinados

(MINAYO, 2004).

A pesquisa social apóia-se em dados sociais, ou seja, dados sobre o

mundo social, que são o resultado e ao mesmo tempo, são também construídos nos

processos de comunicação (BAUER e GASKELL, 2003). Para estes mesmos

autores a pesquisa qualitativa evitaria os números, lidando com interpretações das

realidades sociais.

A metodologia é aqui entendida como “o caminho e o instrumental

próprios de abordagem da realidade” (MINAYO, 2004, p.22) e como o “caminho do

pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade” (MINAYO, 1994,

p.16). Nela se inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas

que possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo do

pesquisador. A escolha da metodologia deve ser baseada na natureza do problema

estudado.

Dias (1994) reflete que o abrir mão de um pretenso rigor científico em

favor do registro, o mais criterioso possível, de uma forma de ver o processo, é

justificado na tentativa de que este registro facilite a captação da intimidade e

possibilite a identificação dos elementos para a construção de uma teoria ou

identidade de um setor na saúde.

Page 74: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 73

Ao tentar definir o que seria ciência, Demo (1995) reflete que é sempre

mais fácil definir o que não seria ciência.

O critério de distinção do senso comum é o conhecimento acrítico, imediatista, crédulo. O homem simples da rua também “sabe” de inflação, mas seu conhecimento é diferente do daquele do economista, que é capaz de elaborar uma teoria da inflação, discutir causas e efeitos. Pode-se colocar no senso comum modos ultrapassados de conhecer fenômenos ou também crendices sem base dita científica. [...] O senso comum é, assim, marcado pela falta de profundidade, de rigor lógico, de espírito crítico, mas não possui apenas o lado negativo, a começar por ser o saber comum que organiza o cotidiano da maioria (DEMO, 1995, p.18).

Assim faz-se necessário discutir o que é considerado como realidade para

este estudo, uma vez que o autor citado anteriormente refere-se à realidade social

como o maior problema da ciência, e não o método, já que aquela não seria

evidente e nem coincidente completamente com a idéia que se tem dela. É

necessário a priori explicitar o que se considera real, pois a realidade social é aqui

compreendida como algo a se fazer, um processo.

Segundo Minayo (2004): “a realidade se apresenta como uma totalidade

que envolve as mais diferentes áreas de conhecimento e, também, ultrapassa os

limites da ciência.” Como então apreender a realidade do trabalho do Fisioterapeuta

no Programa Saúde da Família no município de Londrina? Como analisar se a

formação do fisioterapeuta está contemplando o que é necessário para este

profissional atuar junto à Atenção Básica?

Desta forma delineou-se o objeto em estudo: “a prática da Fisioterapia em

Londrina, no Programa Saúde da Família, e como o perfil necessário para essa

atuação esta sendo trabalhado na formação universitária”. Após a definição do

objeto, optou-se pelo desenvolvimento de uma metodologia de pesquisa qualitativa,

por ser adequada à apreensão e conhecimento das percepções dos atores sociais

em questão.

Page 75: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 74

Muitos sociólogos consideram importantes os estudos qualitativos apenas

para fins exploratórios, recomendando sempre o uso de questionários estruturados

para o que definem como “pesquisa científica”, onde há possibilidade de testes de

hipóteses, possibilidades de repetição pela padronização das perguntas, teste de

validade e, portanto, certeza de fidedignidade (visão positivista). É como se o

refinamento de um instrumento para análise de variáveis solucionasse a questão

fundamental do conhecimento da realidade (MINAYO, 2004).

A opção de um método científico tradicional, garantiria uma maior

probabilidade de se atingir a neutralidade, objetividade, validade, confiabilidade,

poder de generalização dos resultados, comprovação e refutação, indispensáveis

para um trabalho rigoroso (DIAS, 1994). No entanto, provavelmente não seria

suficiente para a captação da realidade a qual este tipo de estudo se propõe.

Em relação à escolha do método:

É assim meridianamente claro que a utilização de métodos e técnicas não-quantitativas em uma pesquisa não é questão de escolha de alternativa ou de preferência pessoal, são procedimentos simplesmente necessários. (...) a necessidade de usar métodos e técnicas não-quantitativas é conseqüência da necessidade de captar algo dos aspectos subjetivos da realidade social, e de reconhecer a “dualidade do qualitativo” (PARGA NINA, 1983 apud MINAYO, 2004, p.133).

A pesquisa qualitativa tem assim a importância de compreender os valores

culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos;

compreender as relações que se dão entre atores sociais tanto no âmbito das

instituições como no dos movimentos sociais; avaliar as políticas públicas e sociais

tanto do ponto de vista de sua formulação, aplicação técnica, como dos usuários a

quem se destina.

Ressalta-se que a pesquisa qualitativa procura uma compreensão

possível da realidade e não a explicação única e “verdadeira” dessa realidade, como

Page 76: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 75

se pretende no modelo positivista, de abordagem quantitativa. Acredita-se que

existam inúmeras compreensões, provavelmente a mesma quantidade que de

pesquisadores interessados na análise de determinada realidade.

5.2 Determinação dos Informantes

A questão da amostra de pesquisa é ponto que mais suscita confrontos

entre metodologias quantitativas e qualitativas. A denominação de amostra, já muito

consagrada na pesquisa quantitativa, significa uma porção, um pedaço, um

fragmento, que é selecionada para demonstrar propriedades da natureza ou

qualidade do todo (TURATO, 2003). Deslandes e Assis (2002) discutem com

propriedade as diferenças entre as duas metodologias, trazendo suas importâncias,

particularidades e complementaridades.

O sujeito de estudo da pesquisa social deve ser considerado: gente, em

determinada condição social ou classe com suas crenças, valores e significados.

Implica considerar também que o objeto das ciências sociais é complexo,

contraditório, inacabado e em permanente transformação (MINAYO, 2004). O termo

sujeito é tido como o “eu” pensante e atuante, que pode estar na posição

(contraditória gramaticalmente) de objeto enquanto participante de quaisquer

estudos sobre seres humanos (TURATO, 2003).

A pesquisa qualitativa preocupa-se menos com a generalização e mais

com o aprofundamento e abrangência da compreensão, seja de um grupo social, de

uma organização, de uma instituição, de uma política ou de uma representação.

Page 77: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 76

Pode-se considerar que uma “amostra” ideal é aquela capaz de refletir a totalidade

em suas múltiplas dimensões.

Turato (2003) vai mais além quando menciona que: “não se trata de nos

preocuparmos menos ou mais com o problema da generalização, mas simplesmente

esta questão não tem sentido de se impor” (p.361). Continua dizendo que a

diferença da pesquisa quantitativa é que esta procura ver como o fenômeno se

comporta matematicamente numa população; já a pesquisa qualitativa busca

interpretar o que as pessoas dizem sobre tal fenômeno, o que fazem ou como lidam

com ele.

A investigação qualitativa é tipicamente focada na profundidade, em

amostras relativamente pequenas. A lógica e o poder da amostragem proposital

situam-se em selecionar casos ricos em informação para estudo em profundidade.

Casos ricos em informação são aqueles dos quais pode-se aprender muito sobre

assuntos de importância central para os propósitos da investigação. Estes casos

produzem discernimento e compreensão em profundidade, em vez de

generalizações empíricas (PATTON, 2002 apud CAMARGO, 2004).

Muitos atores sociais podem ser descobertos no decorrer da pesquisa, no

efeito de inclusão progressiva no estudo. Porém, certamente, o número de pessoas

é menos importante do que a teimosia de enxergar a questão sob várias

perspectivas, pontos de vista e de observações (MINAYO, 2004).

Turato (2003) traz três principais metodologias de “amostragem” na

pesquisa qualitativa: amostragem por saturação, amostragem por bola-de-neve e

amostragem por variedade de tipos. Neste estudo optou-se pela terceira técnica,

onde:

[...] um processo de seleção de amostra de sujeitos escolhidos segundo o arbítrio e interesse do pesquisador, cuja resolução no

Page 78: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 77

entanto, embora definida como livre eleição [...], deve vir acompanhada de suas justificativas junto ao projeto. (TURATO, 2003, p. 365).

Apesar da diversidade existente, todos os sujeitos devem encontrar-se

reunidos por um critério de homogeneidade fundamental, ou seja, pelo menos uma

determinada característica ou variável deve haver em comum a todos os sujeitos,

que normalmente é o próprio tema do trabalho. A arbitrariedade tanto na

determinação dos sujeitos, quanto no encerramento das entrevistas é sobrepujada

“já que o que está em jogo não é a ingênua ambição de abarcar o todo, mas o

suficiente para atender à demanda de curiosidade científica” (TURATO, 2003, p.

364).

Foram entrevistados todos os fisioterapeutas que atuam no PSF em

Londrina, num total de oito profissionais, buscando reconstruir sua inserção neste

serviço de Atenção Básica, e todo seu processo. Destes, sete foram formados pela

Universidade Estadual de Londrina – UEL, e um pela Universidade Norte do Paraná

– UNOPAR. Três profissionais são concursados pela prefeitura municipal, e os

demais contratados por intermédio de uma administradora local de serviços.

Também foram entrevistados os coordenadores e professores dos cursos

de Fisioterapia das Instituições de Ensino Superior (IES) de Londrina: UEL,

UNOPAR e UNIFIL. Os coordenadores de curso foram selecionados por acreditar-se

que estes tenham mais conhecimento quanto às competências que estão sendo

trabalhadas em seus respectivos cursos e o perfil profissional do egresso. Optou-se,

também, pelos professores das Disciplinas de Fisioterapia em Saúde Pública e/ou

Fisioterapia Preventiva, por serem estas as disciplinas que deveriam manter maiores

vínculos com os princípios do SUS e com as práticas dos serviços públicos de

saúde, contribuindo para a formação do fisioterapeuta apto a atuar no PSF.

Os docentes foram estudados por seu papel na formação profissional:

Page 79: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 78

“... por representarem não apenas o referencial técnico para os futuros profissionais, mas o modelo de profissional em sentido amplo, transmitindo também valores e representações sociais que influenciam de forma acentuada e duradoura os profissionais, e que se reproduzem entre estes mesmos atores sociais” (CAMARGO, 2004, p 71).

Lampert (2002) ao estudar a formação médica, salienta que a

compreensão da maneira como alguém se forma médico (e aqui se pode estender à

formação dos profissionais da saúde) vai além de simplesmente conhecer a

proposta curricular e os conhecimentos propriamente técnicos, cognitivos e de

habilidades. Seria na abordagem da pessoa doente que se identificam um jeito e

uma postura que caracterizam o profissional. O aprendizado indireto, que engloba

atitudes, valores e padrões de comportamento, é adquirido pelos estudantes como

subproduto do contato com instrutores e pares.

5.3 Caminho percorrido: a construção do corpus de pesquisa

Inicialmente foi realizada uma ampla pesquisa e revisão bibliográfica,

visando à construção de um referencial teórico e marco conceitual. Segundo Minayo

(2004), sem a problemática teórica, a pesquisa social degeneraria em pesquisa de

opinião e entronização do senso comum. E a ausência de uma investigação da

realidade concreta levaria a um simples discurso filosófico ou político.

A palavra “corpus” significa simplesmente “corpo”. Bauer e Gaskell (2003)

discutem sua representação, nas ciências históricas, como uma coleção de texto, e

é aqui entendida como “uma coleção finita de materiais, determinada de antemão

pelo analista, com (inevitável) arbitrariedade, e com a qual ele irá trabalhar” (p.44).

Essa arbitrariedade é inevitável e não uma questão de conveniência simplesmente.

Page 80: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 79

Os autores descrevem também a necessidade de uma homogeneização dos

materiais, desta maneira não se deve misturar texto e imagens em um mesmo

corpus.

A entrevista semi-estruturada foi o instrumento de apreensão da realidade

neste estudo, buscando assim alcançar os objetivos propostos, e construir o corpus

de análise, composto pelas transcrições dos relatos verbais obtidos das entrevistas.

A entrevista semi-estruturada não deve ser confundida com a entrevista

não estruturada (não obstante seu valor), pois a primeira, ao mesmo tempo em que

valoriza a presença do investigador, oferece todas as possibilidades para que o

informante alcance a liberdade e espontaneidade necessárias ao enriquecimento da

investigação (TRIVIÑOS, 1987).

A ordem dos assuntos abordada na entrevista não obedece a uma

seqüência rígida, e sim é determinada freqüentemente pelas próprias preocupações

e ênfases que os entrevistados fornecem aos assuntos em pauta. A quantidade de

material produzido tende a ser maior e com grau de profundidade incomparável em

relação ao questionário, pois a aproximação qualitativa permite atingir regiões

inacessíveis a simples pergunta e resposta (MINAYO, 2004).

Entende-se aqui a entrevista semi-estruturada como aquela que possui

certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses interessantes à

pesquisa, e que permite amplo campo de interrogativas decorrentes de novas

hipóteses, que surgem à medida que se recebem as respostas do informante

(TRIVIÑOS, 1987).

Minayo (2004, p.108) assim se reporta à entrevista: “Conversa a dois, feita

por iniciativa do entrevistador, destinada a fornecer informações pertinentes para um

Page 81: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 80

objeto de pesquisa, e entrada (pelo entrevistador) em temas igualmente pertinentes

com vistas a este objetivo”.

Palú (2004) cita Pinheiro (1999) ao definir a entrevista como uma prática

discursiva entendida como ação, interação situada e contextualizada, “por meio da

qual se produzem sentidos e se constroem versões da realidade” (p.28).

O roteiro de entrevista visa a apreender o ponto de vista dos atores sociais

previstos nos objetivos da pesquisa. É um instrumento para orientar uma “conversa

com finalidade”, que deve ser facilitador de abertura, de ampliação e de

aprofundamento da comunicação e conter poucas questões. A formulação das

questões obedeceu às seguintes orientações propostas por Schraiber (1995):

a) cada questão que se levanta, deve fazer parte do delineamento do

objeto de modo que todas se encaminhem para lhe dar forma e conteúdo.

b) permitir ampliar e aprofundar a comunicação e não cerceá-la.

c) contribuir para emergir a visão, os juízos e as relevâncias a respeito dos

fatores e das relações que compõem o objeto, do ponto de vista dos interlocutores.

A entrevista produz uma interpretação que é em geral uma ordenação

original de coisas velhas, de experiências, imagens e opiniões guardadas na

memória, e essa interpretação é mais ampla do que se pode ter no cotidiano

(SCHRAIBER, 1995).

Fez-se um contato prévio por telefone com os informantes, para

agendamento do horário e local da entrevista. Esse procedimento de “explicação

das regras do jogo” é importante, segundo Schraiber (1995), uma vez que é

freqüente o indivíduo esperar por uma pesquisa de curta duração com questionários

de rápida aplicação e padronizados, a entrevista semi-estruturada, por sua vez,

requer explicações mais detalhadas.

Page 82: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 81

A interação do pesquisador com o entrevistado é tanto inevitável como

esperada, e não é só uma forma de entender e captar o outro, mas de se fazer

entender também; assim a história de vida e a posição social e científica distintas

introduzem linguagens divergentes (SCHRAIBER, 1995). E este envolvimento

confere uma qualidade viva ao processo, num caráter de construção permanente do

objeto.

As entrevistas foram registradas com dois gravadores, um magnético e um

digital. A gravação das entrevistas é recomendada por diversos autores (TRIVIÑOS,

1987; SCHRAIBER, 1995). Este recurso permite contar com todo o material

fornecido pelo informante, o que seria impossível por outro meio. Existem algumas

críticas à gravação, por ser inibidora para pessoas não acostumadas com o

gravador, mas isso é verdadeiro apenas para o início do trabalho, sendo que

rapidamente qualquer sujeito faz caso omisso do aparelho.

O desenvolvimento das entrevistas seguiu uma proposta feita por Palú

(2004), onde houve um primeiro momento de conversa informal com os informantes

da pesquisa, com fins de descontração e familiarização. Num segundo momento

foram explicitados os objetivos da pesquisa, bem como fornecidos esclarecimentos

em relação aos aspectos éticos e legais, com a assinatura do termo de

consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE 1) e explicação da dinâmica da

entrevista (SCHRAIBER, 1995). No terceiro momento realizou-se a entrevista

propriamente dita, de acordo com o roteiro de entrevista (APÊNDICES 2 e 3), e em

seguida prosseguiu-se o quarto e último momento, onde foi aberto um espaço para

considerações e reflexões do informante, finalizando-se com os agradecimentos.

As transcrições foram realizadas por duas pessoas contratadas para tal,

com posterior conferência pelo pesquisador, uma vez que o profissional da

Page 83: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 82

transcrição raramente domina o linguajar próprio do segmento técnico investigado,

como explicita Schraiber (1995). Esta revisão foi aproveitada para a edição dos

textos, com a garantia do anonimato e exclusão de termos e expressões fonéticas

como “né”, “ta”, “é”, etc. Optou-se por reproduzir a fala dos entrevistados sem

alterações nem correções gramaticais. Para assegurar o anonimato as entrevistas

foram designadas por uma codificação, representada por uma letra e seguida de

dois numerais, a letra “F” representa os profissionais fisioterapeutas do PSF e a letra

“D” os docentes ou coordenadores dos cursos de Fisioterapia.

Foi também utilizado o caderno de campo (TRIVIÑOS, 1987; PALÚ, 2004),

onde foram anotadas percepções, observações e análises do pesquisador durante o

processo de investigação. Este instrumento auxiliou na interpretação das falas e das

percepções dos sujeitos de pesquisa, uma vez que a comunicação não verbal

muitas vezes expressava significados mais importantes que o discurso. Nele foram

registradas, também, as dificuldades encontradas, contribuições sugeridas, entre

outras percepções, comportando-se como um diário de pesquisa.

Foram realizadas quatorze entrevistas, com duração média de quarenta

minutos cada entrevista, variando entre vinte e dois minutos e uma hora e quinze

minutos, totalizando aproximadamente nove horas e trinta minutos de registros.

Após serem transcritas, as entrevistas constituíram um corpus com 204 laudas de 35

linhas cada, aproximadamente. Esta coleta de dados foi realizada nos meses de

março e abril de 2005, em local de trabalho dos entrevistados, por escolha dos

mesmos. A estratégia utilizada foi a de entrevistar primeiro os profissionais do PSF e

em seguida os docentes e coordenadores.

Page 84: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 83

5.4 Roteiro de Entrevista

As questões do roteiro (APÊNDICES 2 e 3) foram previamente

elaboradas, visando alcançar os objetivos propostos pela pesquisa, com base em

teorias e hipóteses que interessam à pesquisa. Foram formulados tópicos guias que

oferecessem amplo campo de interrogativas e liberdade para o informante se

expressar, e o pesquisador interferir com novos questionamentos e inferências que

por ventura surgissem no processo (TRIVIÑOS, 1987).

Os roteiros, tanto dos fisioterapeutas atuantes no PSF como dos docentes

e coordenadores de curso, iniciavam com questões pessoais visando reconstruir a

trajetória profissional dos sujeitos de pesquisa, seus anseios, perspectivas e

realizações como profissionais, para assim contextualizar suas atuações atuais.

Para os fisioterapeutas do PSF buscou-se também neste momento reconstruir suas

trajetórias dentro do serviço público e, consequentemente, a organização e

desenvolvimento da Fisioterapia no PSF em Londrina.

Após este bloco inicial, outro bloco de questões baseou-se na proposta de

Camargo (2004):

• Como você vê a assistência fisioterapêutica hoje?

• Como você vê a assistência fisioterapêutica no futuro?

Com estas questões buscou-se captar as representações do profissional

sobre a realidade na qual está inserido, buscando sua avaliação da própria prática

profissional e de sua categoria em geral. Também procurou-se perceber as

expectativas futuras em relação à profissão, entendendo que o olhar prospectivo

denunciaria a “visão de mundo” elaborada pelo sujeito, conscientemente, enquanto

imagem-objetivo traçada, a ser perseguida. A assistência foi vista em relação às

Page 85: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 84

quatro dimensões: a profissional, o paciente, as práticas assistenciais e o contexto

(social, econômico, político e cultural).

Imagem-objetivo aqui entendida como Mattos (2001) a define:

“usada [...] para designar uma certa configuração de um sistema ou de uma situação que alguns atores na arena política consideram desejável. Diferencia-se de uma utopia pelo fato de que os atores que a sustentam julgam que tal configuração pode ser tornada real num horizonte temporal definido.” (p.41).

Em seguida, para os professores e coordenadores de curso buscou-se

captar como está sendo realizada a formação universitária, em relação às

competências trabalhadas na graduação, e as contribuições para a atuação do

fisioterapeuta também na Saúde da Família. Procuraram-se representações

relacionadas aos aspectos da Integralidade à saúde: promoção, prevenção, curativa

e reabilitadora. Já para os profissionais do serviço (PSF) buscou-se por meio de sua

experiência pessoal reconhecer competências e perfil necessários ao fisioterapeuta

para atuar no serviço.

O último bloco de questões guias tratou especificamente do SUS,

avaliando o significado do termo “SUS” para os entrevistados, com todas as suas

implicações culturais, políticas e ideológicas. Camargo (2004) reflete que o

profissional ao emitir seu ponto de vista sobre o SUS estabelece uma relação com

esse conceito, assumindo um posicionamento frente a ele. Objetivou-se reconhecer

também como são construídas as relações entre a profissão e a Saúde Coletiva.

Page 86: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 85

5.5 Aspectos Éticos

O projeto de pesquisa recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, em 07 de dezembro de 2004:

Parecer CEP 271/04 (ANEXO 1). Também foram solicitadas autorizações para a

pesquisa à Secretaria Municipal de Saúde de Londrina (APÊNDICE 4) e às

respectivas coordenações de cursos das IES (APÊNDICE 5).

As entrevistas foram concedidas voluntariamente, precedidas de

esclarecimento quanto aos aspectos éticos e legais, garantindo-se o anonimato, em

conformidade com a Resolução CNS 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres

humanos (CONSELHO, 1996). E somente após a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 1), pelo pesquisador e entrevistado,

em duas vias de igual teor, ficando uma em posse do entrevistado e outra com o

pesquisador, a coleta de informações foi realizada.

5.6 Análise dos Dados: análise de conteúdo

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, visa inferir conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção dessas mensagens (RICHARDSON, 1999). Segundo Triviños

(1987) ela se presta ao estudo das motivações, atitudes, valores, crenças,

tendências e para o desvendar das ideologias que podem existir e não se apresentar

com a devida clareza.

Page 87: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 86

Bardin (1977) divide e organiza a análise de conteúdo em três fases: pré-

análise; exploração do material; e tratamento dos resultados, inferência e

interpretação.

Na primeira fase, foi realizado o que Bardin (1977) denomina de leitura

flutuante e escolha dos documentos, ou seja, a reunião e conferência das

informações coletadas. É a fase da organização propriamente dita, determinando

assim o corpus e permitindo uma reformulação dos objetivos e hipóteses do estudo.

Em seguida caracterizou-se a leitura longitudinal das entrevistas, com a

codificação, a classificação e a categorização das mensagens (TRIVIÑOS, 1987).

Foi a fase mais exaustiva e até fastidiosa, onde se pode realizar uma nova e mais

apurada edição das transcrições, com maior aprofundamento no conteúdo manifesto

pelos sujeitos de pesquisa. A codificação correspondeu a uma transformação dos

dados brutos do texto, obviamente seguindo regras precisas, transformação essa

por meio de recortes, agregação e enumeração, permitindo assim uma

representação do conteúdo (BARDIN, 1977). Já a categorização que “se refere a um

conjunto que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se

relacionam entre si” (MINAYO, 1994, p. 70), foi utilizada para estabelecer

classificações.

A terceira fase compreendeu o tratamento dos resultados e sua

interpretação constituiu-se numa leitura transversal do material já categorizado. Os

dados foram assim tratados de uma maneira a serem significativos (“falantes”) e

válidos (BARDIN, 1977). As relações foram estabelecidas com base nas reflexões,

na intuição e com embasamento nos materiais empíricos. Triviños (1987) ressalta a

importância do pesquisador não deter sua atenção exclusivamente no conteúdo

Page 88: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 5 87

manifesto dos documentos, e sim aprofundar sua análise tentando desvendar o

conteúdo latente que possuem.

Foram analisadas três categorias:

• A Fisioterapia no Programa Saúde da Família em Londrina.

• A Fisioterapia e o Sistema Único de Saúde.

• A Formação do Fisioterapeuta

Page 89: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 Resultados e Discussão

“Com tempo suficiente, oportunidade suficiente e desejo

suficiente, é provável que qualquer habilidade possa ser desenvolvida

por qualquer indivíduo”. Dr. Robert L. Ebel

Page 90: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 89

6.1 Caracterização dos entrevistados

O tempo médio de formação e atuação profissional dos fisioterapeutas

que atuam no PSF foi de dez anos e meio, com tempo de formado mínimo de quatro

anos e máximo de dezoito anos. Um dos profissionais é do sexo masculino, e as

demais do sexo feminino. Apenas um profissional não tem especialização e outro

estava realizando especialização em Saúde Coletiva, os outros possuem titulação

de especialista, porém em outras áreas diversas da Fisioterapia (Figura 5).

Sexo Término graduação Universidade Especialização Área temática 1* F 1992 UEL Sim Hidroterapia

Neuropediatria 2* F 2001 UNOPAR Sim Neurofuncional 3* F 1993 UEL Sim Exercício 4* F 1998 UEL Não - 5* F 1987 UEL Sim Deficiência metal 6* M 1996 UEL Não - 7* F 1994 UEL Sim Pneumofuncional 8* F 1995 UEL Sim Pneumofuncional * Numeração aleatória, não condiz com a codificação presente nas falas dos entrevistados.

Figura 5 -Caracterização da formação dos fisioterapeutas que atuam no Programa Saúde da Família em Londrina, 2005.

No grupo de professores o tempo médio de atuação profissional foi de

dezoito anos, variando entre vinte e nove anos e oito anos de formado. Somente um

professor era do sexo masculino e os outros cinco do sexo feminino. Cinco docentes

foram graduados em instituições públicas (federal e estadual), sendo que os dois

docentes com maior tempo de atuação profissional (29 e 26 anos) não foram

formados pela UEL. Todos os professores possuíam ao menos especialização, dois

tinham a titulação de mestre, uma doutora, e uma (mestre) realizando doutorado.

Dos professores responsáveis pela disciplina de Fisioterapia em Saúde Pública, uma

única tinha titulação (especialização e mestrado) em Saúde Coletiva, outra estava

Page 91: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 90

realizando especialização em Saúde Coletiva e a terceira tinha especialização em

outra área da Fisioterapia (Figura 6).

Sexo Término Graduação

Universidade E M D Área temática IES atual

1* F 1995 UEL x - - Neurofuncional UniFil 2* F 1997 UEL x - x Fisiopatologia

em Clínica médica

UniFil

3* F 1989 UEL x x - Saúde Coletiva UEL 4* F 1976 PUC-CAMP x x - Educação UEL 5* F 1986 UEL x - - Pediatria

Pneumofuncional UNOPAR

6* M 1979 UFPe x x - Bioengenharia UNOPAR * Numeração aleatória, não condiz com a codificação presente nas falas dos entrevistados.

E – especialização; M – mestrado; D – doutorado.

Figura 6 - Caracterização da formação e atuação dos docentes entrevistados em Londrina, 2005. 6.2 A Fisioterapia no Programa Saúde da Família em Londrina

6.2.1 Estruturação do Serviço

A inserção da Fisioterapia no Programa Saúde da Família em Londrina

ocorreu no início de 2002, aproximadamente um ano após a implantação do

programa no município, que contava com sua equipe básica de médico, enfermeiro,

auxiliar de enfermagem e agente comunitário de saúde (ACS). Anterior a este

período o serviço de Fisioterapia municipal estava centralizado no Serviço de

Internação Domiciliar (SID) e no Pronto Atendimento Infantil (PAI), considerando-se

apenas os profissionais diretamente vinculados à Secretária Municipal de Saúde

(SMS), concursados e celetistas.

Page 92: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 91

No PAI, a atuação fisioterapêutica era voltada às afecções respiratórias

oferecida de três formas, ambulatorial, observação e urgência e emergência, sendo

realizada por cinco profissionais concursados. Já no SID os cinco fisioterapeutas,

celetistas, se dividiam em equipes multiprofissionais compostas também por um

médico, um enfermeiro e dois auxiliares de enfermagem. A proposta do serviço era

de humanizar o atendimento por meio da prestação de cuidados no próprio

domicílio, em contato com a família. A atuação da Fisioterapia centrava-se na

educação e capacitação da família quanto aos cuidados para com o paciente

(COFFITO, 2001g).

Segundo Faro (2004) em abril de 2002 iniciou-se a atividade de

Fisioterapia no PSF em Londrina. Quatro profissionais que atuavam no PAI foram re-

alocados, essa necessidade teria surgido devido a uma alta demanda de indivíduos

acamados, levantada pelas visitas domiciliares das ESF. Os motivos e justificativas

para essa transferência não são consensuais entre os fisioterapeutas entrevistados.

Para alguns profissionais essa mudança teria sido “forçada” pela SMS para

solucionar o problema dos acamados, já que as ESF não conseguiam absorver essa

demanda. Para outros existiam problemas de relacionamento com a equipe no PAI

ou, ainda, os próprios fisioterapeutas teriam sentido a necessidade de um melhor

aproveitamento junto às equipes do PSF:

[...] começaram a surgir muitas dúvidas com essa equipe que já estava lá, e começaram a surgir casos, muitos pacientes acamados porque quando a proposta do PSF era de prevenção, mas também de acompanhar, os agentes comunitários também começaram a achar esses pacientes acamados, então o que quê aconteceu? Quando eles começaram a achar esse povo se criou uma nova demanda que o pessoal da gerência tinha que resolver, e agora o que nós vamos fazer com o pessoal acamado? Aí foi onde veio e se sugeriu para que saísse dos cinco, quatro fisioterapeutas do PAI, ficasse uma só e os outros iam começar a atuar nas Unidades Básicas de Saúde, e nós, a princípio triamos as unidades, os pacientes acamados, cada unidade tem uma demanda diferenciada

Page 93: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 92

e esses pacientes que a gente foi triando, a gente começou a analisar as unidades que a gente ia dar preferência [...] (F.3.0) No caso do PSF, o PSF já tinha alguns fisioterapeutas que tinham saído do PAI pela dificuldade de entrosamento com a equipe médica e tinham sido deslocados para o PSF, quatro fisioterapeutas, em fevereiro, em janeiro ou fevereiro mais ou menos, desse mesmo ano que eu entrei, eu entrei em agosto. (F.1.1) [...] mas com o início do Programa Saúde da Família a demanda abaixou muito no PAI, e daí nós, na época [...] propusemos ao prefeito então, [...] que nós viéssemos pra atuar junto do PSF, isso foi logo no começo do mandato [...] em 2001, só que aí nós só fomos realmente remanejados pro PSF dois anos depois, foi uma luta. (F.4.0) [...] aí logo em seguida veio essa proposta de entrar pro PSF. Então as pessoas que optaram, saíram do PAI pra fazer PSF. (F.6.0)

Já em Curitiba a incorporação de vinte fisioterapeutas na Atenção Básica,

por meio de concurso público em dezembro de 2001, teve como prioridade inicial a

avaliação de todos os usuários de tratamento fisioterapêutico em clínicas

credenciadas ao SUS, bem como os que estavam em espera de vagas

(TESSEROLLI, 2003).

Criado o serviço observou-se a necessidade de aumentar o número de

profissionais atuando junto às equipes. Desta forma em agosto de 2002 foi aberto

processo seletivo com conseqüente contratação de duas profissionais para atuar no

PSF. Nenhuma das novas fisioterapeutas tinha experiência em atenção básica,

sendo que apenas uma já atuava no serviço público, no ambulatório do Consórcio

Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema (CISMEPAR), serviço esse, de

nível secundário. Com a valorização da estratégia foram incorporados ao PSF mais

duas fisioterapeutas em setembro de 2003, estas advindas do SID (Sistema de

Internação Domiciliar). Em 2005 ingressou no serviço uma fisioterapeuta, que

inicialmente, cobriria a licença de uma profissional concursada em afastamento, mas

que acabou sendo contratada.

Page 94: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 93

[...] ía ter essa seleção para o Programa Saúde da Família, no início ela nem falou o que era, ela falou que era uma seleção para um trabalho na saúde pública, não falou o que era, se era internação domiciliar, Programa da Saúde da Família, o Programa Saúde da Família estava começando com fisioterapeutas, aí a gente fez a entrevista e no caso daí foi colocado o que era o Programa Saúde da Família, eu nem conhecia, eu não sabia falar nada sobre o Programa Saúde da Família, aí foi quando eu passei na entrevista e já comecei, isso já foi em outubro de 2002, aí que eu fui assim, começar mesmo a me interar mesmo na saúde pública, que até então eu não tinha muita noção do que era um posto de saúde, eu comecei a entrar na realidade. (F.2.1) Até que em setembro de 2003, teve toda uma remodelação, vamos dizer assim, um remodelamento na saúde pública e até várias coisas que aconteceram que a gente saiu [...], nós saímos da internação domiciliar e entramos no PSF. Que no PSF só tinha fisioterapeutas que eram mesmo funcionários públicos, [...] nós saímos da internação domiciliar para ir para o PSF. (F.5.1)

O início das atividades foi dificultado por uma falta de organização

estratégica do serviço e pela falta de experiência em atenção básica. Inexperiência

essa, não apenas dos fisioterapeutas envolvidos no processo, como também da

própria categoria profissional. Existia uma escassez de experiências e diretrizes na

literatura sobre a atuação da Fisioterapia no PSF. A escassez de informações sobre

a atuação da Fisioterapia no PSF também foi relatada por Tesserolli (2003) em

Curitiba. A demanda existia, o serviço foi criado, mas não se sistematizou qual seria

o papel do fisioterapeuta, qual sua forma de atuação, cabendo ao profissional

adaptar-se à realidade de cada unidade. Assim os seis fisioterapeutas inicialmente,

e em seguida os oito, dividiram-se entre as UBS das regiões norte, leste, oeste,

centro e zona rural, sendo que a região sul era campo de estágios dos alunos de

graduação em Fisioterapia de uma instituição particular da cidade.

Então, como eu estava te falando, quando o profissional ele foi inserido no PSF aqui em Londrina, um fisioterapeuta, ele não tinha serviço pra fazer, ele não tinha sala pra se alocar, ele não tinha o referencial, ele foi criando algum tipo de trabalho, como ele foi encontrando, de acordo como ele foi encontrando facilidades na unidade onde ele estava. Então se tinha uma unidade onde ele conseguia bem um carro, bem, ele conseguia desenvolver um trabalho com visitas. Se não tinha um carro ele teve que desenvolver um outro trabalho. E isso se diluiu no sistema. (F.8.1)

Page 95: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 94

Não, não teve nada. A gente teve que se adequar, teve que conhecer o espaço, teve que ver no que a gente poderia trabalhar, a gente teve que encontrar o nosso caminho, mais ou menos isso. Ninguém nos mostrou o nosso caminho, a gente teve que encontrar nosso caminho. Até hoje. (F.5.1) Bom, eu acho que como a maior parte, agora não tanto, mas como quase tudo na fisioterapia, você não tem nem muita bibliografia, a gente não conseguia nem muita coisa, nós conseguimos pouquíssimo material, nós buscamos em livros, nós buscamos na Internet, alguns programas tentamos buscar, o Nordeste já estava na nossa frente, o Nordeste já tinha alguma coisa, [...] eu acho que assim como um processo de capacitação é de crescimento mesmo, a gente buscou material, a gente leu, a gente viu e foi uma coisa bem interligada porque você tinha uma população, você tinha uma demanda, aí você começava a analisar o que o Ministério preconiza como saúde pública, como eu posso encaixar a fisioterapia na saúde pública pelo o que o Ministério preconiza? Porque a princípio quando nós fomos chamados, nós fomos chamados apenas pra resolver a problemática do acamado [...] (F.3.0)

Um reflexo da não sistematização no momento de criação deste serviço

pode ser observado na seguinte fala:

[...] quando nós chegamos na rede a reação do pessoal do posto de saúde [funcionários], a primeira coisa “nossa que bom, veio fisioterapeuta pra cuidar de nós”, foi as primeiras palavras que eles usaram. (F.1.1)

Na fala anterior se observa uma necessidade por cuidados sentida pelos

próprios funcionários das unidades, demonstrando uma fragilidade nas condições de

trabalho. Em parte também se observa um não entendimento da inserção da

Fisioterapia no PSF por parte dos funcionários das próprias UBS, que pode ser

explicado, em parte, pela pouca definição do objeto de trabalho desse profissional.

Apesar de a atuação ter sido centrada na problemática do acamado, aos poucos, as

possibilidades aumentaram. Cada fisioterapeuta ficou responsável em média por

cinco UBS, acompanhando cada unidade em um dia da semana, seis horas diárias.

O fisioterapeuta realizaria atividade em uma equipe por dia, como em cada UBS

poderia haver até três ESF, em unidades maiores o fisioterapeuta retornaria à

mesma ESF somente após três semanas da última visita. No estudo de Tesserolli

Page 96: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 95

(2003), os fisioterapeutas de Curitiba também eram responsáveis por um grande

número de Unidades de Saúde, permanecendo em média oito horas semanais em

cada uma, um dia na semana.

A dificuldade de tempo para o acompanhamento dos pacientes aliada às

características de cada realidade determinou a configuração das áreas de atuação

junto às ESF:

[...] o grande problema era o seguinte: a enfermagem ia pra casa do paciente e não sabia se um paciente com seqüela de AVC você mandava apertar bolinhas, se você não mandava apertar bolinhas, se você botava o joelho dobrado, se não botava esticado, então sem saber se virava de lado, pro lado ruim ou pro lado bom. Então isso era um grande desespero pra enfermagem então quando eles vieram pra nós falaram assim: ‘o que quê a gente faz com esse paciente? Qual a melhor orientação pra dar pra esse paciente?’ E para aquele paciente acamado de longa data sem prognóstico de reabilitação, esse prognóstico é aquele que você sabe que investindo em fisioterapia você ia conseguir recuperar alguma função, que é, a grosso modo, a grande maioria dos acamados que foram levantados, você indo, tendo um bom cuidador no domicilio, você orientando aqueles cuidados básicos, você consegue atingir um objetivo até satisfatório. (F.8.1)

A atuação centrou-se no acompanhamento dos pacientes acamados, com

orientação ao cuidador, para que este fosse responsável pelo acompanhamento do

paciente. Aliada a essa dificuldade de definição do objeto de trabalho e pouca

estrutura disponibilizada ao fisioterapeuta, encontra-se a visão trazida da formação e

da prática profissional centrada na doença e na abordagem curativa e a falta de

capacitação para atuar no novo modelo, abordadas por autores como Aguiar (2005),

Gava (2004), Rebelatto e Botomé (1999), Przysiezny (1999), Moser (1997) entre

outros.

Mas a maior dificuldade foi assim, essa avaliação em todos os pacientes, nós iniciamos com os acamados, porque passaram uma lista enorme de acamados pra gente, pra gente passar avaliando cada um pra ver quais os que teriam a prioridade no atendimento. E é complicado porque você vê que muitos precisam e você tem que escolher alguns pra estar iniciando. Mas a dificuldade também foi de que você não estava tratando, você não estava cuidando, você como profissional com o paciente; você tinha que orientar a família, você

Page 97: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 96

tinha que fazer uma terapia, mostrar o básico do básico, mostrar pra alguém da família pra que essa pessoa assumisse, entendesse alguns exercícios e pudesse passar pro paciente. (F.6.0) [...] porque nós não éramos respeitados pelos nossos amigos e nem temos espaço dentro da UBS pra trabalhar, nem sala não tem. (F.1.1)

Quanto à capacitação dos primeiros fisioterapeutas transferidos do PAI,

estes acompanharam os profissionais do SID, em visitas domiciliares, para verificar

a abordagem no domicílio. Os profissionais que ingressaram depois acompanharam

os atendimentos já desenvolvidos pela equipe de fisioterapeutas do PSF durante

curto período.

[...] quando nós estávamos no PAI pra passar pro PSF nós acompanhamos alguns terapeutas, que estavam no sistema de internação domiciliar, então eles levavam a gente até a casa, mostravam como que era a abordagem, [...] então essa foi a nossa passagem do PAI pro PSF. (F.6.0) [...] tinha já três fisioterapeutas trabalhando no Programa Saúde da Família que são fisioterapeutas da rede e então ela que acabou passando mais pra mim, [...] passando como é o serviço da fisioterapia em uma semana, e o que eu fiquei com ela nos postos que ela trabalhava, ela foi me passando alguma coisa, mas nada muito profundo. (F.2.1)

Também houve alguns treinamentos, não específicos à Fisioterapia,

palestras sobre doenças diversas, entre outras, disponibilizadas pela SMS a todos

os profissionais, porém essas atividades diminuíram. Segundo Tesserolli (2003), os

fisioterapeutas de Curitiba também não receberam treinamento direcionado ao PSF.

Também ocorreram treinamentos voltados a programas específicos, como é o caso

do programa de asma.

O que tem, o que a gente não pode reclamar da rede, por exemplo no ano que eu entrei, pelo menos uma vez por semana tinha palestras sobre patologias cardíacas, ginecológicas, pediátricas, endemias, então tinha assim, eu tive mais de, vamos falar, uns 30 treinamentos no primeiro ano, hoje ainda tem, mas tá um pouco mais parado [...]. (F.1.1) [...] assistindo as palestras sobre o programa da asma, os treinamentos sobre asma, bebê chiador [...]. (F.7.1)

Page 98: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 97

Com a resolução da demanda inicial dos acamados, onde todos os

pacientes listados pelas unidades receberam visita e orientação fisioterapêutica

ocorreu uma reestruturação do serviço de Fisioterapia. Novas demandas foram

surgindo e novas frentes de atuação foram instituídas.

[...] esses acamados que tinha sido essa demanda, ela já tinha sido vista, ela já tinha sido coberta no seguinte tipo: todo acamado que tinha sido listado, [...] todos esses acamados eles já receberam pelo menos uma visita do fisioterapeuta. E qual o objetivo dessa visita do fisioterapeuta? Você não vai lá pra realizar uma terapia, porque você está lá uma vez por semana. (F.8.1)

A demanda pediátrica passou a ser abordada, os fisioterapeutas

passaram a atuar no programa de asma do município – “Respira Londrina” –

juntamente com o bebê chiador. Criou-se o programa “Cuidando do Cidadão”, com a

proposta de realizar ginástica laboral com os funcionários das UBS, preocupando-se

com a saúde do trabalhador e iniciou-se a atuação em grupos de terceira idade,

diabéticos e hipertensos, numa busca pela prevenção de agravos e promoção da

saúde.

6.2.2 Atuação do Fisioterapeuta

Atualmente com 39 Unidades Básicas de Saúde na zona urbana e 13 na

zona rural os oito fisioterapeutas se dividem para atuar em todas as UBS urbanas e

em duas maiores na rural: Lerroville e Guaravera. A atuação dos profissionais ainda

ocorre apenas um dia na semana por UBS, num período de seis horas. As

atividades são desenvolvidas nos domicílios e nas unidades, nas quais normalmente

não há um espaço destinado à Fisioterapia nem recursos materiais para sua

atuação. Também em Curitiba uma das dificuldades percebidas pelos fisioterapeutas

Page 99: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 98

foi a falta de recursos materiais e espaço físico adequado (TESSEROLLI, 2003).

Pereira et al (2004), ao analisar a inserção do fisioterapeuta no PSF em Sobral – CE

discutiram que a cinesioterapia e as terapias manuais foram, às vezes, os únicos

recursos disponibilizados a este profissional.

Cada unidade tem dinâmica e demandas próprias, assim as atividades

desenvolvidas pelos fisioterapeutas variam com cada realidade. Em linhas gerais o

trabalho se divide entre o atendimento ao bebê chiador dentro da UBS, visitas

domiciliares, grupos de alongamentos para terceira idade, hipertensos e diabéticos e

atendimento individual.

[...] então a gente vai um dia da semana em cada Unidade Básica de Saúde [...] e hoje eu tenho assim, porque cada unidade é uma realidade [...]. (F.3.0) O fisioterapeuta entra dentro da unidade uma vez por semana, então ele já tem uma agenda quilométrica, [...]. (F.1.1)

O atendimento foi direcionado à parte respiratória até pelo

comprometimento de vida que pode acarretar. Voltou-se preferencialmente ao bebê

chiador (asmático) pela necessidade surgida com a criação do programa municipal

de asma e pela satisfação com os resultados encontrados, apesar de um

atendimento semanal, já que o atendimento à criança asmática deveria ter uma

freqüência média semanal de três vezes (PAYNO, 1999 apud AGUIAR, 2005). As

atividades desenvolvidas não requeriam grandes recursos, além do atendimento

fisioterapêutico que vise a desobstrução brônquica, seriam realizadas atividades

educativas e de orientação quanto à hidratação oral, higiene e controle ambiental.

Pereira et al (2004) discutem que entre as atribuições do fisioterapeuta no PSF

estaria a atuação junto a grupos de asma, com caráter educativo/informativo e

higiene brônquica. Em algumas unidades o profissional realiza apenas este tipo de

atendimento, que tem uma duração média de vinte minutos.

Page 100: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 99

[...] sendo que a gente ensina alguma coisa, hidratação oral, limpeza brônquica, assim nasal, aspiração, só pro paciente poder dar uma aliviada, aspiração nasal, aquele aspiradorzinho Dalila [marca comercial de aspirador nasal], aquela coisinha simplesinha que tem na farmácia, nada de aspirador de sonda, nada disso, e ensinar a limpar, a higienizar a criança porque as mães não sabem nem isso, a população é muito carente. (F.1.1) Então aí a gente acabou chegando à conclusão de que esta prioridade é a parte respiratória, porque as outras diretamente não acabam comprometendo a vida da pessoa. Mas a parte respiratória compromete, por isso que a gente acabou optando por essa prioridade. Então a gente acabou, está atendendo mais a parte respiratória, então, asma, o bebê chiador. (F.5.1) [...] hoje nós já estamos com um programa específico de bebê chiador e isso a gente não demanda de tanto recurso porque nas unidades básicas nós não temos recurso, então a gente usa o que a gente tem lá na unidade básica, que é soro, seringa, aspirador e o profissional. (F.3.0) A gente já estava na unidade trabalhando com bebê chiador. [...] é um trabalho que a gente está conseguindo escrever, que a gente está conseguindo se frustrar menos com ele, e está conseguindo ajudar a população. A gente atende quinze, dezessete, vinte crianças numa manhã, em seis horas, dentro da unidade, dentro desse programa. Então foi uma coisa que puxa, apareceu. E começou a ter reconhecimento, que as mães começaram a elogiar, as crianças começaram a deixar de internar, a demanda do PAI baixou assustadoramente, [...]. (F.8.1)

O programa de asma abrange além do bebê chiador (0 a 2 anos) o

trabalho com grupo infantil (2 a 12 anos) e adulto (maior de 12 anos). Em Curitiba o

atendimento a indivíduos com infecções respiratórias e alergias restringe-se aos 14

anos (TESSEROLLI, 2003). Naqueles grupos realizam-se orientações quanto à

fisiopatologia da asma, controle ambiental, controle de crise, exercícios respiratórios

e acompanhamento com medidas de peak-flow (pico de fluxo expiratório).

[...] a gente que faz a reunião e fala um pouquinho sobre a asma e daí a gente vai passando os exercícios fisioterápicos, eu começo com reeducação diafragmática, e aos pouquinhos em cada reunião a gente vai acrescentando alguma coisa para eles, até pra estar acompanhando a evolução mesmo, [...] a gente faz o peak-flow, na primeira e na última reunião pra avaliar a melhora e assim vai. (F.2.1)

As visitas domiciliares são realizadas após uma triagem prévia dos ACS.

Com a superação da demanda inicial dos acamados e devido à impossibilidade de

Page 101: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 100

acompanhamento mais próximo de todos os casos a prioridade foi dada aos

indivíduos com patologias mais recentes e agudas. Para Freitas (2002) os pacientes

prioritários para o atendimento domiciliar deveriam ser os indivíduos com

acometimentos recentes que possuam melhor prognóstico e os indivíduos que

representem a força ativa de trabalho de suas famílias. Àqueles pacientes com

seqüelas mais crônicas, cujo prognóstico de reabilitação não é muito favorável, são

dadas orientações aos cuidadores quanto ao melhor posicionamento, exercícios

respiratórios e motores visando o bem-estar do indivíduo.

Campos (2003) alerta para a necessidade de uma clínica ampliada, uma

clínica do sujeito que deve ir de encontro a clínica oficial cujo comportamento é

alienado, atendendo os casos de forma padronizada, quase independente da

gravidade e das necessidades de cada paciente. O autor discute que uma clínica de

qualidade somente será possível quando se conseguir avaliar riscos e, em

decorrência, concentrar-se a atenção em famílias e pessoas com maior

vulnerabilidade. A saída para a contraposição entre a demanda infinita e a finitude

de recursos seria envolver os pacientes, famílias e comunidade na produção de

saúde. Dever-se ia estimular o autocuidado, por meio da educação em saúde,

aumentando assim a capacidade de as pessoas serem terapeutas de si mesmas.

Os pacientes com melhor prognóstico têm um acompanhamento mais

próximo.

A gente vai visitar nas casas pacientes em fase aguda, aqueles pacientes acamados antigos a gente visita ocasionalmente numa necessidade, mas hoje a gente visita pacientes mais em fase aguda, chegou do hospital agora, acabou de ter um AVC [acidente vascular cerebral], aí a gente vai acompanhando até conseguir que ele esteja em uma situação melhor e consiga mandar para o ambulatório [...]. (F.3.0)

Page 102: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 101

As visitas domiciliares da Fisioterapia devem ter uma abordagem familiar,

e não centrada no indivíduo doente, envolvendo assim todos os membros da família

(VERÁS et al, 2004).

Os casos mais atendidos são seqüelas de acidente vascular encefálico

(AVE), traumatismo crânio encefálico (TCE), fraturas decorrentes de acidentes

motociclísticos ou quedas em idosos, doenças respiratórias e problemas pediátricos

como atraso no desenvolvimento, torcicolo e pé torto congênitos. Desta maneira,

apesar de, a grande maioria do atendimento, ser voltado à parte respiratória o

fisioterapeuta no PSF desenvolve atendimentos também na área motora e

neurológica, bem como em alguns casos, menos freqüentes, como em queimaduras,

paralisias faciais periféricas e síndromes mais raras.

É osteosíntese de quadril, idoso que cai e quebra o quadrilzinho, é então isso já é arroz com feijão, acidente de moto, tíbia e a fíbula fraturada, é TCE por causa do acidente de moto, é AVE, que mais? E as patologias respiratórias, um enfisema grave que tá deitado, a bronquite, aquele ‘PCzinho’ complicado [...]. (F.1.1) [...] o PSF é basicamente assim, AVC, então a parte motora, que trabalha com alongamento, [...] e respiratório também, pneumonia, que são casos mais agudos ali, que faz uma terapia mais intensa ali na hora e melhora, principalmente o respiratório. [...] Um caso ou outro que às vezes aparece, que são casos mais diferentes, a gente está sempre entrando em contato, eu converso com as outras fisio, quando é um caso que saí um pouco do meu, do meu alcance, eu estou sempre conversando com elas, mas é bem raro. (F.2.1)

Já em unidades menores a atuação do fisioterapeuta torna-se mais

generalista:

[...] em uma unidade pequena eu acabo vendo coluna, fratura, é até prolapso de bexiga, na unidade pequena você acaba vendo de tudo, [...] atraso de desenvolvimento motor, torcicolo congênito [...]. (F.3.0)

A Fisioterapia no PSF em Londrina também atua em grupos de terceira

idade, diabéticos e hipertensos. Por meio de atividades como alongamentos e

caminhadas procura-se melhorar a qualidade de vida da população e prevenir

agravos à saúde. A atividade física busca também auxiliar no controle glicêmico e da

Page 103: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 102

pressão arterial. Apesar da importância dessas atividades, não são realizadas em

todas as UBS. Fernandes (2002) relata uma experiência vivenciada em Natal – RN,

onde a Fisioterapia atua junto à população diabética, controlando níveis glicêmicos

por meio de exercícios aeróbicos e aquáticos. A mesma autora ressalta a

importância da atuação na prevenção de neuropatias periféricas e na promoção do

bem estar por intermédio de atividades de lazer e recreação. Em Belo Horizonte,

acadêmicos de Fisioterapia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

participam de atividades educativas com grupos de diabéticos e hipertensos, neste

último, realiza também atividades aeróbicas, como caminhadas monitoradas

(SAMPAIO, 2002).

Outra atividade preventiva desenvolvida foi a elaboração de um programa

de Ginástica Laboral para os funcionários das unidades de saúde. Foi feita uma

filmagem com quatro séries de exercícios físicos para cada dia da semana. O intuito

seria realizar uma pausa nas atividades diárias da unidade para a realização de

atividades físicas, contando-se com a colaboração de funcionários da própria UBS,

muitos destes, com formação em educação física, mas que desempenham outra

função. De acordo com Pereira et al (2004, p.99), também faz parte das atribuições

do fisioterapeuta na ESF atenção à saúde do trabalhor: “Orientar sobre as doenças

osteoarticulares, doenças relacionados ao trabalho e doenças sistêmicas (...)”. No

início do trabalho dos fisioterapeutas no PSF em Curitiba também eram realizadas

pausas durante as atividades das unidades para realização de exercícios de

alongamento (TESSEROLLI, 2003).

Ainda na área da promoção da saúde do trabalhador foi realizado um

levantamento junto às equipes de saúde bucal. Por meio de palestras e orientações

posturais procurou-se intervir nas posturas laborativas daqueles profissionais. Por

Page 104: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 103

outro lado, na percepção de alguns fisioterapeutas, não se realiza um trabalho de

prevenção no PSF por não existir condições para isso.

As maiores dificuldades relatadas pelos fisioterapeutas se referem à falta

de estrutura para sua atuação. Essa falta de estrutura é expressa pelo número

insuficiente de profissionais para a demanda, a inexistência de recursos terapêuticos

como aparelhagem e mesmo ambiente físico adequado, dificuldades essas também

encontradas nos estudos de Tesserolli (2003) em Curitiba e Almeida (2004) em

Cascavel. A atenção ao acamado, pautada na orientação, esbarra num problema

ético quando se reconhece a necessidade de uma atuação mais específica e sua

impossibilidade de realização, sendo impossível transferir a responsabilidade

terapêutica a uma pessoa leiga:

Mas já sabemos que existe o problema ético do fisioterapeuta. Tem coisa que você não pode orientar, você não vai formar um fisioterapeuta no domicílio. Você pode orientar alguém a posicionar o paciente, a alongar uma perna, você não tem como ensinar uma técnica de quebra de padrão, você não tem como..., um alongamento ativo, ou uma outra técnica, é sua, é do seu conhecimento profissional. E se você fizesse isso, você estaria dizendo: ‘não sou necessário, você pode fazer por mim, você que é leigo pode fazer por mim’. E aí eu acho que a fisioterapia descambou. Porque entendeu-se então que fisioterapia era só ensinar a esticar e dobrar o joelho do Seu João e pronto, e qualquer um pode fazer isso. E o próprio profissional deu a entender isso. (F.8.1)

De acordo com legislação própria a atividade fisioterapêutica é exclusiva

deste profissional (BRASIL, 1969). Essa característica do atendimento dependente

do cuidador, transferindo muito de responsabilidade para o mesmo, traz outras

dificuldades, por exemplo, quando não se encontra uma pessoa disponível para

essa função.

E isso assim, primeiro que é uma pessoa leiga, ela tem medo de fazer, e muitas vezes não tem vontade pra fazer. A dificuldade maior hoje que a gente encontra é de conseguir o cuidador, porque geralmente a pessoa que, é a que mais assume compromisso na casa, que cuida já do paciente, que limpa a casa, que faz a comida e tem mais uma coisa pra gente estar cobrando dela. Então,

Page 105: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 104

geralmente a dificuldade é esse cuidador. A boa vontade de um cuidador. (F.6.0)

A ausência de um local fixo de trabalho é mais uma característica desta

prática fisioterapêutica, ao mesmo tempo em que exige do fisioterapeuta uma

capacidade de adaptação grande, também dificulta a criação de vínculo. Para

Pereira et al (2004) o fisioterapeuta inserido nas ESF deveria criar vínculos com a

comunidade. Tesserolli (2003) também encontrou a mesma dificuldade explicada

também pela dinâmica de trabalho, onde o profissional passa apenas oito horas

semanais em cada unidade. O profissional precisa estar atento às características de

cada equipe profissional, cada estrutura organizacional e processo de trabalho.

E outra coisa, que cada dia é uma realidade diferente. Quando você tem um local de trabalho você vai se adequando àquele local, e vai se encaixando, as pessoas vão te conhecendo, vão sabendo como é seu método de trabalho, e você vai se encaixando. No PSF não. (F.5.1)

Quanto ao trabalho em equipe, apesar de ser considerado de grande

importância pelos fisioterapeutas, existem grandes dificuldades em se concretizar.

Ora por falta de tempo, ora por falta de interesse pelo diálogo, esta dimensão do

trabalho no PSF, que deveria ser pautado na multiprofissionalidade e

interdisciplinaridade, fica comprometida. Quando presente o diálogo é pontual não

representando uma característica presente no processo. Até mesmo a interação

entre os fisioterapeutas é difícil, embora se procure realizar reuniões mensais, existe

um agravante nesta relação, a diferença salarial, pois os profissionais concursados

ganham em média duas vezes o valor que os demais.

[...] hoje o nosso relacionamento com a equipe multiprofissional é pequeno não por causa da inflexibilidade dos profissionais, é pequeno porque nós não temos tempo pra conversar. (F.1.1)

Em Sobral – CE, o trabalho multiprofissional e por vezes interdisciplinar é

um dos pontos relevantes da inserção do fisioterapeuta no PSF (PEREIRA et al,

Page 106: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 105

2004). A dificuldade de intercâmbio entre os profissionais da saúde na ESF também

foi observada por Tesserolli (2004) em Curitiba, onde o processo de trabalho e a

carga horária semanal do fisioterapeuta são semelhantes aos de Londrina, mas a

autora conclui que o relacionamento dos demais profissionais com o fisioterapeuta

está melhorando.

A Fisioterapia não possui uma diretoria ou chefia própria, está

subordinada diretamente à Diretoria de Ações em Saúde (DAS). A falta de

organização e de protocolos pode ser responsabilizada, em parte, pela não

uniformização nas ações fisioterapêuticas. Foram criados alguns protocolos, como

da atenção ao hipertenso e diabético em grupos, visita domiciliar ao acamado, grupo

asma infantil e adulto, bebê chiador e atendimento individual às demandas

neurológicas e ortopédicas pediátricas, mas cada profissional tem a liberdade de

priorizar suas ações de acordo com a necessidade da UBS em que atue.

No entanto é importante ressaltar a necessidade de a atenção ser

individualizada, uma vez que a adoção de protocolos pode aumentar o grau de

alienação dos agentes de saúde em relação aos sujeitos concretos que dependem

do cuidado. Alienação, afastamento, desinteresse, fixação em procedimentos

técnicos padronizados, dificuldade para escutar queixas, impossibilidade de

comunicar qualquer coisa além da seqüência automática de procedimentos não

podem superar o conceito de sujeito, de construção social da saúde (CAMPOS,

2003).

A atuação realmente necessita estar voltada às particularidades locais,

porém não se exclui a necessidade de padronizações de algumas condutas.

Então é assim, você acaba ficando completamente perdido dentro do sistema. Você acaba atendendo algumas coisas que você considera mais importante, dentro do teu ponto de vista, do teu ponto de vista pessoal, você não cria um protocolo, não cria um sistema, não padroniza o serviço e não consegue colher resultados dele. (F.8.1)

Page 107: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 106

Não obstante às dificuldades encontradas e à frustração dos profissionais,

diante das dificuldades de percurso, persiste um otimismo em relação a esta

atuação. Resultados existem, em especial em atividades em que o fisioterapeuta

consegue dar continuidade e maior atenção.

[...] os resultados têm sido muito bons, muito bons, muito positivos. (F.4.0) E eu acho hoje, que se você perguntar pra mim, então o que você acha uma vez por semana esse atendimento? ‘É ridículo’ Já falei isso pra chefia. Eu falei: ‘Oh, do ponto de vista fisioterapêutico, eu como profissional, dizer pra você que estou lá uma vez por semana na unidade, estou fazendo fisioterapia, eu estou mentindo. É besteira! Eu estou lá apagando fogo.’ [...] hoje eu posso dizer que eu sou apaixonada pelo serviço e extremamente frustrada, extremamente infeliz com a realidade, como ela é hoje; insatisfeita com essa realidade. (F.8.1)

Aproveitando os programas do Ministério da Saúde o fisioterapeuta

poderia ter sua atuação estendida, como percebem muitos dos profissionais de

Londrina, em alguns exemplos citados. Na atenção à saúde da mulher, poderia atuar

com gestantes no preparo para o parto, prevenindo lombalgias e promovendo

fortalecimento perineal. Na saúde da criança, trabalhar com orientação e

acompanhamento do desenvolvimento neuropsicomotor na puericultura. Na atenção

ao diabético, realizar prevenção de deformidades e lesões juntamente com a

atividade física, coadjuvante na manutenção de níveis glicêmicos. Atenção ao

hipertenso, buscar prevenir complicações como AVE. Além de programas

preconizados como hanseníase e tuberculose cuja atuação fisioterapêutica também

é conhecida.

De acordo com a literatura, atividades individuais e coletivas são

realizadas pelo fisioterapeuta nos diferentes ciclos de vida da população. Educação

postural e escolas de posturas, educação no trânsito, grupos temáticos (hanseníase,

gestantes, asma, hipertensos, diabéticos, obesidade, tuberculose, entre outros). Na

Page 108: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 107

saúde da criança, a partir do nascimento, acompanhamento do desenvolvimento

neuropsicomotor, e saúde do escolar. Na saúde do adulto, orientando e tratando às

diversas doenças que acometem a cinética corporal, bem como na saúde do

trabalhador. Na saúde do idoso, promovendo melhor qualidade de vida, bem estar e

auto-estima. Na saúde da mulher, desde o período gestacional até o climatério

(PEREIRA et al, 2004; TESSEROLLI, 2003; ALMEIDA, 2004).

6.2.3 Perfil Profissional

O fisioterapeuta para atuar no Programa Saúde da Família deve possuir

algumas características pessoais e profissionais que o diferenciem. O perfil tratado

neste bloco foi construído em cima das percepções dos fisioterapeutas que atuam

no PSF em Londrina, representa desta forma, as necessidades sentidas e

vivenciadas por indivíduos específicos, numa realidade determinada. Porém, em

linhas gerais, são características, habilidades e conhecimentos necessários que

podem ser generalizados a outras situações.

Documentos do Ministério da Saúde atentam para a necessidade de um

perfil diferenciado do profissional para atuar na Saúde da Família, quando dispõe

que na contratação deve-se atentar à identificação de indivíduos com postura

profissional de respeito e compromisso com a ESF e com as pessoas da

comunidade (BRASIL, 2000). Duarte et al (2005) consideram como maior desafio à

consolidação da Saúde da Família o encontro de profissionais capazes desse

comprometimento.

Page 109: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 108

Formação generalista

O profissional deve ter uma base sólida em todas as áreas de

conhecimento da Fisioterapia, sem a necessidade de especializar-se em um campo

específico. A grande diversidade de situações em que se afronta lhe exige um

conhecimento amplo, deve estar preparado para enfrentar circunstâncias que nem

sempre são de sua competência profissional exclusiva. A necessidade de uma

formação generalista é percebida como a capacidade de atuar em casos agudos e

crônicos e em comprometimentos cinesiofuncionais de ordens diversas. Não implica

em negar a importância das especialidades, mas em admitir que nestas, os

procedimentos sejam mais padronizados enquanto no PSF a variância de situações

é mais acentuada.

[...] conhecimento técnico eu acho que é fundamental pra qualquer um, pro PSF a pessoa tem que saber um pouco de tudo, ela tem que ser generalista, o fisioterapeuta ele não pode ser, não precisa ser nenhum especialista em área nenhuma do conhecimento da fisioterapia [...]. (F.8.1) [...] você tem que estar pronto pra tudo, porque se você trabalha em UTI você já sabe mais ou menos o que vai ter lá, se você trabalha com a neuro você também sabe, mas no PSF você não sabe em que circunstância vai chegar. (F.1.1)

O fisioterapeuta deve ter também a capacidade de conseguir integrar

todos os seus conhecimentos. A formação normalmente é desintegrada, com

compartimentalização de conhecimentos e disciplinas. Ao atuar no PSF o

profissional precisa integrar seus conhecimentos para solucionar os agravos

apresentados pela população.

Page 110: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 109

Flexibilidade e criatividade

A questão da flexibilidade na atuação profissional estende-se à

adaptabilidade do fisioterapeuta às circunstâncias e limitações diversas e às

relações interpessoais. Com a falta de local destinado ao atendimento

fisioterapêutico, este profissional realiza suas atividades em ambientes diversos,

locais improvisados, domicílios e com limitados recursos. Com a organização do

trabalho, um dia na semana em cada UBS, o fisioterapeuta precisa ter capacidade

de adaptar-se aos ambientes e equipes de trabalho diversos. A criatividade foi uma

característica valorizada pelos entrevistados, sendo importante para o

desenvolvimento de seu trabalho e solução dos problemas da população.

[...] então com isso nós aprendemos a ser, isso que eu sou apaixonada pelo PSF, a se adaptar em todas as circunstâncias, seja dentro da UBS a gente sempre tem que ser aquele camarada flexível [...]. (F.1.1) [...] todo e qualquer profissional da área de fisioterapia pra ele atuar no PSF ele tem que ser criativo, ele tem que usar a sua criatividade, a sensibilidade, enfim ele vai ter que usar aquilo que ele aprendeu na Universidade [...]. (F.4.0) Nós temos que acabar se adequando cada dia com uma realidade diferente. (F.5.1) Você tem que ser habilidoso, e saber improvisar, saber lhe dar com o que você tem. Se hoje aqui eu tenho soro fisiológico e uma seringa, é ele que eu vou usar e a minha mão pro trabalho ser bom. (F.7.1)

De acordo com Costa (2004), o profissional para atuar no PSF deve ser

capaz de adaptar-se a situações novas. Pereira et al (2004) especifica que o

fisioterapeuta deve ter a habilidade de adaptar ações e instrumentos terapêuticos de

acordo com recursos disponíveis na comunidade. Segundo documento do Ministério

da Saúde (BRASIL, 2000), o profissional para atuar no PSF deve possuir um perfil

criativo e com capacidade de tomar iniciativas.

Page 111: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 110

Formação humanista

A formação humana levantada pelos fisioterapeutas abrange aspectos de

empatia com o ser humano, necessidade de apoio psicológico ao paciente e

conhecimento das diferenças sociais para uma atuação mais contextualizada. A

transferência de campo de atuação da clínica para o domicilio do indivíduo e seu

contexto familiar torna importante o reconhecimento de diferenças individuais, de se

criar uma empatia e acima de tudo uma responsabilização social na prática

profissional.

Na realidade brasileira é a classe socioeconômica mais baixa a maior

beneficiária do SUS, com aumento significativo de adesão por parte da classe

média. A prática fisioterapêutica deve ter presente a importância de um atendimento

digno, pois a saúde é tida como um direito básico do cidadão. Reconhecer essa

dimensão e estabelecer uma relação de empatia e respeito humano é uma

necessidade na atuação no PSF.

[...] vai ter que sempre ter, além do conhecimento científico, a sensibilidade, a humanidade, a criatividade [...]. (F.4.0) É ter um pouco de vivência com população, é saber lidar com o ser humano, ter habilidades de lidar com o ser humano, em todos os níveis sociais, porque hoje quem procura a unidade básica, quem é paciente do PSF é desde daquela pessoa mais humilde lá da favela, até a pessoa de classe média de um bairro um pouco melhor. (F.8.1) Então acho que aquela coisa do respeito humano, da tolerância, da compreensão, que acho que isso falta e muito nos profissionais da saúde. (F.5.1)

As diretrizes curriculares para o curso de Fisioterapia explicitam a

necessidade de uma formação humanista (BRASIL, 2002). Costa (2004) embora

não trate especificamente do fisioterapeuta, identifica a necessidade de empatia por

parte dos profissionais que atuam no PSF e facilidade no trato com as pessoas. A

Page 112: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 111

abordagem humana na estratégia perpassa o conhecer a realidade das famílias

pelas quais se é responsável, uma valorização dessa relação com família e paciente

fundamental para a criação de vínculo (SOUSA, 2002).

Comunicação

Uma das habilidades necessárias à atuação no PSF é a comunicação.

Comunicar-se com os demais companheiros de trabalho, com o paciente, cuidador,

família, enfim, entender e fazer-se entender em diversos círculos de interação

interpessoal. A Fisioterapia atua diretamente com o indivíduo ou coletividade, a

orientação é uma função vista com grande importância dentro da Saúde Pública e

pelos profissionais do serviço. Para o bom êxito na orientação, o que foi dito deve

ser assimilado pelo ouvinte, o que acarreta a necessidade de uma linguagem

familiar ao sujeito.

Ter habilidade de comunicação, porque mesmo que não seja, eu acho que não seja a função principal do fisioterapeuta, mas tem que ser uma função muito hábil pra ele [...]. (F.8.1)

De acordo com as diretrizes curriculares, o fisioterapeuta, como os demais

profissionais da saúde, deve possuir habilidades de comunicação, envolvendo a

comunicação verbal, não verbal e habilidades de escrita e leitura (BRASIL, 2002).

Silva (1996) diferencia a comunicação verbal, associada às palavras, por meio da

linguagem escrita ou falada, da comunicação não verbal, esta ocorreria na interação

pessoa-pessoa, excetuando-se as palavras. A mesma autora ainda resgata a

necessidade de o profissional de saúde resgatar esta comunicação não verbal, uma

vez que por meio dela poderia perceber com maior precisão os sentimentos, dúvidas

e dificuldades do paciente, muitas vezes fragilizado.

Page 113: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 112

O profissional fisioterapeuta na ESF realiza também atividades educativas,

como palestras, onde necessita de habilidade em comunicação (TESSEROLLI,

2003; PEREIRA et al, 2004) além da necessidade de prover orientações diversas

(RAGASSON et al, 2005).

Autonomia e tomada de decisão

O profissional para atuar no PSF deve ser uma pessoa ativa, com

capacidade de buscar o conhecimento e tomar decisões. O fisioterapeuta não pode

ser acomodado, uma vez que está numa área em construção, deve buscar

ativamente o conhecimento, ter curiosidade, ser habilidoso e desinibido para atender

o paciente em seu ambiente domiciliar, muitas vezes na presença da família ou

cuidador. Pela falta de tempo o fisioterapeuta não pode demorar-se na realização de

suas atividades, tendo resolutividade e eficiência.

[...] ter espírito de autonomia, competência [...]. (F.3.0)

Advinda da necessidade de ser generalista o profissional depara-se com

muitas situações em que não está acostumado, tendo a necessidade de buscar o

conhecimento. Neste contexto surge a necessidade da educação continuada ou

permanente.

[...] profissional que está inserido na Saúde Pública ele tem que ter capacitação, ele tem que ter curso de atualização, ele tem que ser um profissional antenado, não pode ser aquele cara que se formou e nunca mais pegou em nada [...]. (F.8.1)

A iniciativa é uma das características do perfil profissional necessário à

atuação no PSF (BRASIL, 2000), e a capacidade de aprender continuamente deve

ser trabalhada desde a graduação segundo as diretrizes curriculares (BRASIL,

2002). A necessidade, demonstrada pelos profissionais, de atualização vai ao

Page 114: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 113

encontro da política de educação permanente, que busca mediante a

problematização do processo de trabalho uma “aprendizagem no trabalho, onde o

aprender e o ensinar se incorporam ao quotidiano das organizações e ao trabalho”

(BRASIL, 2004a, p.12). Como a educação permanente é de caráter multiprofissional

(ALMEIDA, 1997) torna-se um importante mecanismo no desenvolvimento da

própria concepção de equipe e vinculação com a população (BRASIL, 2000).

Trabalho em equipe

A atuação no PSF deve ocorrer num trabalho em equipe multiprofissional

e se possível interdisciplinar. A importância do trabalho em equipe é percebida pelos

fisioterapeutas, visto por alguns como troca de informações sobre os pacientes, ou

uma relação em hierarquias.

[...] trabalho em equipe é você estar pronto pra saber que cada cabeça é uma sentença e que você tem que estar pronto pra ter um nível de relacionamento ali, de reconhecer como cada pessoa é, como cada pessoa age e como você vai conseguir mostrar o seu serviço não desrespeitando o outro pra que ele ache que você é importante na equipe dele sem você influenciar, sem você atrapalhar o trabalho dele. (F.3.0) Você tem dúvidas, você conversa com o profissional, o médico que está lá sobre aquele paciente, e ele te esclarece muitas coisas, ele vem perguntar pra gente sobre o paciente, então, eu acho que isso enriquece muito, a gente consegue ter uma visão melhor de cada paciente, de cada patologia. (F.6.0) [...] tem que saber trabalhar em equipe, saber respeitar hierarquias, e como lidar com elas, saber trabalhar em equipe mesmo, tanto de pessoas de níveis acima de você quanto com pessoas abaixo de você, porque você tem a enfermagem que é a coordenação da unidade, você tem os médicos e você tem os agentes comunitários, então, você tem todos os níveis de hierarquia [...]. (F.8.1)

Na proposta do PSF um dos pressupostos mais importantes é o trabalho

em equipe, que requer respeito profissional entre todos os membros e uma

concepção de igualdade, na qual não deve ocorrer a valorização da profissão

Page 115: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 114

médica, em detrimento das demais (BRASIL, 2000). Dever-se-ia reservar horários,

diários ou semanais, para a discussão e encaminhamento conjuntos de cada caso.

Na prática, no PSF, observa-se uma deficiência do trabalho

multiprofissional, distanciamento ainda maior em relação à interdisciplinaridade. Esta

pressupõe uma atitude diferente a ser assumida diante do problema do

conhecimento, com a substituição da concepção fragmentária do ser humano, pela

integral (FÉLIX, 2005).

Integralidade

Os fisioterapeutas sentem a necessidade de se ter uma visão holística do

indivíduo, considerando-o não apenas em seu aspecto físico. O profissional não

deve ter uma visão fragmentada do corpo humano, preocupando-se com o ser

humano no todo. Atividades de promoção à saúde, prevenção de agravos, curativas

e reabilitadores são desenvolvidas no PSF, suscitando uma visão integral por parte

dos profissionais que atuem na estratégia.

O processo de trabalho no PSF deve ser embasado em uma visão integral

do ser humano e da assistência, buscando resolutividade, por intermédio de ações

de promoção e proteção à saúde, bem como tratamento e recuperação, garantindo-

se o atendimento a todas as necessidades por meio de um sistema de referência e

contra-referência (BRASIL, 1994, 2000). A formação pautada em profissionais

superespecialistas afasta-se de uma visão do indivíduo como “um todo” inserido em

seu contexto familiar, profissional e social (FÉLIX, 2005), embora seja necessária a

formação de fisioterapeutas aptos a desenvolver ações em todos os níveis (BRASIL,

Page 116: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 115

2002). Os fisioterapeutas do PSF em Londrina demonstram uma preocupação com a

integralidade, apesar de terem tido uma formação tradicional.

Especialização

Um ponto de vista encontrado entre os fisioterapeutas foi necessidade de

se fazer uma especialização em Saúde da Família. Nesta percepção observou-se

que não seria papel da universidade, na graduação, formar um profissional apto a

atuar no PSF, e que o mesmo necessitaria de experiência na área, que seria

oportunizada em residências. Outro profissional coloca a necessidade de

especialização do conhecimento em nível de especialização ou mestrado.

[...] mas eu não acho que seja papel da Universidade formar o profissional pra atuar no PSF. [...] mas ele precisa ser especialista em PSF, em Saúde Pública, saber como se comportar [...]. (F.8.1) O mestrado melhor ainda, pra você ter uma bagagem e estar direcionado para alguma área: “sou especialista em tal coisa”. (F.7.1)

Para atuar no PSF os profissionais necessitam de conhecimentos em

saúde comunitária (BRASIL, 1994) e atenção básica, que muitas vezes são

deficitários na formação do fisioterapeuta, como observado por Pereira e Almeida

(2003). A necessidade sentida pelos profissionais estudados, de uma especialização

na área de saúde pública, pode estar relacionada à deficiência dessa formação na

graduação.

Conhecimento e vivência no SUS

Os fisioterapeutas consideraram o conhecimento sobre o SUS como de

grande importância ao profissional que ingressa ao PSF. A noção do que é o

Page 117: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 116

sistema de saúde, do seu funcionamento, dos programas estratégicos do Ministério

da Saúde, de políticas de saúde, das áreas de atuação na Saúde Pública, da UBS,

suas diretrizes e áreas de abrangência seriam pré-requisitos à atuação no sistema

público de saúde. Para os fisioterapeutas do PSF esses conhecimentos poderiam e

deveriam ser abordados na graduação em Fisioterapia. Juntamente com essa

abordagem a formação deveria garantir uma vivência no PSF, propiciando ao aluno

um contato com o serviço e a realidade na comunidade.

Estágios de observação ou acompanhamento dos profissionais em serviço

seriam oportunidades de se formar fisioterapeutas mais engajados em Saúde

Pública e aptos a uma atuação mais integral. Além de auxiliar na mudança de

mentalidade que privilegia a atuação em clínicas particulares e o pré-conceito em

relação ao serviço público.

[...] eu acho que hoje dentro da universidade isso tem que ficar bem claro, os estudantes tem que ter noção do que é o SUS, eles têm que ter noção dos programas que o Ministério da Saúde preconiza, e o que eles podem fazer dentro de cada um desses programas. (F.3.0) A quem que você se reporta? Como é que funciona a unidade? Quais são as diretrizes da unidade? O que quê, com que a unidade está preocupada? Quais são os principais objetivos? O que quê a gente tem que somar? Com quem que a gente tem que somar? Tudo isso era muito vago [...]. (F.8.1)

Indo ao encontro da necessidade em se conhecer e vivenciar mais o

Sistema Único de Saúde, o Ministério da Saúde no primeiro semestre de 2004,

lançou o AprenderSUS. A iniciativa visa a mudança no perfil profissional mediante a

adoção da integralidade como eixo estrutural na formação, articulação entre

Ministérios da Educação e Saúde, incentivo aos Pólos de Educação Permanente em

Saúde e sistematização de experiências existentes (BRASIL, 2004b). Uma IES de

Londrina já possui uma iniciativa no sentido de o estudante vivenciar o SUS,

introduzindo-o na saúde da família. Outra instituição estaria envolvida num projeto

Page 118: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 117

moldado de acordo com o AprenderSUS (FÉLIX, 2005). Experiências de inserção do

estudante na atenção básica também foram relatadas na Paraíba (COFFITO,

2001c), Belo Horizonte (SAMPAIO, 2002), Juiz de Fora (FREITAS, 2002) e Natal

(FERNADES, 2002).

6.3 A Fisioterapia e o Sistema Único de Saúde

Nesta categoria de análise observam-se percepções dos fisioterapeutas

em relação ao SUS, necessidades percebidas para a sua atuação e visões em

relação ao sistema e prática profissional.

6.3.1 Atuação da Fisioterapia no SUS

A Figura 7 apresenta as principais percepções de fisioterapeutas e

docentes em relação à atuação da Fisioterapia no SUS e suas caracterizações.

Percepção Características 1 Integralidade na atuação Identifica a necessidade de uma ação integral na

Saúde Pública e PSF, analisa a atuação do fisioterapeuta em relação à promoção, prevenção, tratamento e reabilitação.

2 Falta de estrutura Refere-se aos recursos disponíveis à atuação do fisioterapeuta, estrutura física e quantidade de profissionais em serviço, assim como a direção e organização do trabalho.

3 Exclusão da Fisioterapia no PSF

Analisa a real inserção da Fisioterapia no PSF e o conhecimento de fisioterapeutas e demais profissionais em relação a esta atuação.

4 Crescimento da Fisioterapia na Saúde Pública

Percebe uma aproximação entre a Fisioterapia e a Saúde Pública e sua atuação nos programas preconizados pelo Ministério da Saúde.

Page 119: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 118

5 Fisioterapia elitizada Identifica o atendimento privado como de qualidade superior, analisando-se a concepção geral de que o tratamento fisioterapêutico não é acessível a todos.

6 Visão negativa da Atenção Básica

Relaciona a Atenção Básica com atendimento simplificado, sem complexidade e com pouca exigência profissional.

7 Trabalho em equipe no SUS Caracteriza o modo como é visto o trabalho em equipe, multiprofissional e interdisciplinar dentro do SUS

8 Satisfação com atuação no PSF Identifica o reconhecimento da importância da inserção do fisioterapeuta no SUS, e valorização do campo de atuação.

Figura 7 - Caracterização das percepções de fisioterapeutas e docentes quanto à atuação da fisioterapia no SUS – Londrina, 2005.

Integralidade na assistência

A prática profissional no Sistema Único de Saúde, e em especial no

Programa Saúde da Família exige uma integralidade na assistência para contemplar

todas as necessidades do usuário. Apesar da necessidade e consciência de

integralidade, a percepção dos fisioterapeutas é de que a atuação do fisioterapeuta

não é integral. Limitações diversas e mesmo a valorização da doença pela categoria

profissional são empecilhos a uma atuação em todos os níveis, da promoção à

reabilitação. Inclusive a demanda exigida pelo serviço é predominantemente

curativa. A fala a seguir caracteriza muito bem a visão da categoria em relação a seu

objeto de trabalho.

Mas aí o fisioterapeuta ele sempre procura uma coisa que ele possa reabilitar, isso, eu acho que isso é, faz parte de qualquer profissional que tem o título de fisioterapeuta. (F.8.1)

Em algumas áreas dentro da Atenção Básica são percebidas falhas, como

na saúde da mulher, da gestante, escola de postura, saúde da criança, com

escolares e na puericultura, saúde do trabalhador, mesmo na saúde do idoso,

embora sejam realizados atendimentos em grupos, entre outras. O fisioterapeuta

Page 120: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 119

reconhece a possibilidade de atuação em diferentes programas e atividades, porém

limitações lhe são impostas.

Agora na parte de tratamento você vê que fica falho mesmo porque você não tem condições de estar retornando em todos os pacientes que você gostaria, uma vez por semana acaba sendo pouco. (F.2.1) Ainda o fisioterapeuta está fazendo assistência, está fazendo atendimento, não está fazendo muita promoção e prevenção [...]. (D.2.1) Não é prevenção. A gente está fazendo um serviço curativo, é nessa área que a gente faz, a gente não consegue abranger prevenção nem de longe. (F.5.1)

A não realização de atividades preventivas, ou mesmo a impossibilidade

de acompanhamento em um programa terapêutico são sentidas como limitantes da

atuação fisioterapêutica. Os serviços que deveriam servir de apoio ao PSF, que

seriam as clínicas conveniadas ao SUS, em um nível de atenção secundária, são

vistos como ineficazes e com baixa resolutividade. A reestruturação desses serviços

corroboraria a integralidade à assistência.

A discussão de integralidade abordada por Mattos (2001) aponta para

uma negação a reducionismos e para um caráter complexo e polissêmico deste

princípio, quer seja tomado como re-orientador da prática, ou reorganizador dos

serviços. As percepções encontradas, em relação à assistência integral, relacionam-

se a estes sentidos, quando o profissional percebe a necessidade de uma visão

mais global do indivíduo ou à necessidade de melhorias no sistema de saúde,

buscando contemplar todas as necessidades dos usuários. Em relação à falha

sentida na participação do fisioterapeuta em programas diversos no processo de

trabalho em Londrina, alguns autores abordam essa temática e a possibilidade da

atuação fisioterapêutica (TESSEROLLI, 2003; PEREIRA et al, 2004; ALMEIDA,

2004; RAGASSON et al, 2005; SILVA, TRELHA e ALMEIDA, 2005).

Page 121: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 120

Falta de estrutura

A falta de estrutura para o atendimento fisioterapêutico no SUS engloba

recursos humanos e materiais. Com o pequeno número de profissionais no PSF em

Londrina ocorre uma sobrecarga aos profissionais do programa, que sentem a

necessidade de aumento no quadro de contratação. A estrutura física, com ausência

de local para atendimento e de recursos terapêuticos auxiliares, minimizam a

resolutividade da atuação. Nesta perspectiva a ausência de uma diretoria de

Fisioterapia é vista como coadjuvante desta precariedade.

Porque a impressão que você tem é que o fisioterapeuta ele está ali, porque colocaram ele ali, mas não criaram estrutura nenhuma para a gente trabalhar. (F.5.1)

A falta de estrutura e de profissionais para atuar em UBS e no PSF

também foi percebida em outros serviços, como no estudo de Tesserolli (2003), e

pode estar relacionada à ainda insipiente atuação da Fisioterapia na saúde coletiva

e ao fato deste profissional não fazer parte da equipe mínima do PSF, tendo sua

inclusão de acordo com necessidades locais e interesses em conflito. Documentos

do Ministério da Saúde explicitam que este profissional pode fazer parte da equipe

ou formar equipes de apoio, o que pode acarretar numa sobrecarga de unidades e

equipes sob responsabilidade de um único profissional (BRASIL, 2000, 2005).

Exclusão da Fisioterapia do PSF

A Fisioterapia ainda é vista como excluída da Saúde Pública. A inclusão

de alguns profissionais no PSF ainda não foi suficiente para a construção de uma

identidade com o serviço público. Os profissionais sentem um desconhecimento em

Page 122: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 121

relação a sua atuação em Atenção Básica, desconhecimento este por parte das

demais profissões e da própria categoria.

[...] os outros profissionais vêem a necessidade de fisioterapeuta, sempre lembrando da reabilitação, ainda acho que precisamos conquistar o espaço da promoção e prevenção. (D.2.1)

Algumas profissões como enfermagem e medicina, historicamente criaram

uma identidade com o Sistema Único de Saúde, resultado inclusive de um

engajamento maior pela reforma sanitária brasileira. Outras categorias, mais

recentemente, buscam esta identificação com o serviço público. Camargo (2004)

analisando representações de cirurgiões dentistas sobre o SUS encontrou, mesmo

entre profissionais que atuavam na rede pública, percepções relativas à exclusão do

profissional do SUS. Schmidt (2002) ao estudar os cursos de Fisioterapia no Paraná,

também observou, por parte de professores, um sentimento de exclusão da

Fisioterapia do SUS.

Apesar da percepção de desconhecimento quanto a atuação do

fisioterapeuta por parte das demais categorias, Aguiar (2005), ao estudar o

conhecimento dos profissionais da ESF em relação à atuação do fisioterapeuta,

encontrou um grau de conhecimento geral considerado, pelo autor, como suficiente,

o que correspondia a 64,8% do teste aplicado.

Crescimento da Fisioterapia na saúde pública

Apesar de ser incipiente, a inserção da Fisioterapia na Saúde Pública está

em ascensão. Percebe-se uma valorização desta atuação e um sentimento de que

sua importância aos poucos é reconhecida como pode ser observado nos discursos:

Tem os grupos com orientação da enfermagem, a fisioterapia não participa [...]. (F.7.1)

Page 123: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 122

[...] hoje a gente já vê embora ainda não está, o fisioterapeuta ainda não está incluído como, na formação da equipe básica, mínima básica do PSF, mas já tem muitas cidades, muitos locais que já tem fisioterapeuta [...] mas ele está se inserindo, isso ocorro até porque outras pessoas não conhecem muito a nossa profissão e nós também temos muita dificuldade de lidar com isso [...]. (D.2.1)

O crescimento do interesse em saúde pública, pela categoria, pode ser

observado por diversos relatos apresentados no capítulo três, sessão 3.3, deste

texto. Essa necessidade em se discutir mais a inserção do fisioterapeuta nos

espaços da saúde coletiva evidenciou-se também no VII Congresso Brasileiro de

Saúde Coletiva realizado em Brasília no ano de 2003. Na ocasião realizou-se uma

oficina de trabalho, cujo relatório aponta para a crescente importância deste campo

de atuação (ABRASCO, 2003). Uma rápida pesquisa nos anais do mesmo

congresso, utilizando como descritores Fisioterapia e fisioterapeuta, apresentou um

total de cento e onze trabalhos apresentados, corroborando a participação da

categoria (CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE COLETIVA, 2003)

Fisioterapia elitizada

A Fisioterapia ainda é vista como um tratamento caro e elitizado. Schmidt

(2002) encontrou, na fala de docentes, a percepção de que o fisioterapeuta é um

profissional de elite, não sendo comportado pelo SUS. Algumas falas encontradas

apontam para essa mentalidade, que estaria presente na sociedade e não nos

profissionais inseridos no PSF, embora o profissional caracterize o atendimento

particular como de melhor qualidade.

A fisioterapia hoje ela é assim, ela é pra quem tem recursos financeiros, para as classes menos abastadas a fisioterapia é algo considerado luxo, é mais ou menos como colocar a fisioterapia como se fosse um tratamento é de... Pra pobreza, é como se a fisioterapia fosse algo requintado, quando na realidade deveria estar inserido em

Page 124: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 123

todas as unidades básicas de saúde, o fisioterapeuta teria que estar dentro de todas as unidades básicas de saúde [...]. (F.4.0) Em Londrina, infelizmente, o que a gente percebe é que a gente tem abismos, o que eu vejo é que nós vivemos abismos, nós estamos assim, pra quem tem condições de pagar pelo atendimento ela tem um atendimento de qualidade, nós temos clínicas excelentes, com pessoal muito capacitado, mas há um custo um pouco fora da realidade da população. (F.8.1)

Barros (2002b) aborda a necessidade de uma responsabilidade social na

Fisioterapia. A necessidade de uma “des-elitização” da Fisioterapia é um importante

passo na democratização do atendimento e conseqüente integralidade da

assistência (SILVA, TRELHA e ALMEIDA, 2005). Outro aspecto que pode contribuir

para esta percepção é o fato de a Fisioterapia estar enquadrada na atenção

especializada, e por acreditar-se que haja a necessidade de aparatos tecnológicos

para o seu desenvolvimento (AGUIAR, 2005). Outro aspecto, levantado por Ploszaj

(2002), é a ausência da categoria nas instâncias políticas, como conselhos e

conferências de saúde, a preferência dada pelos profissionais ao atendimento em

clínicas particulares e convênios fortalece a visão de uma atenção cara, longe da

realidade das populações.

A visão de uma Fisioterapia elitizada vai ao encontro da prática liberal da

profissão em clínicas particulares, onde a assistência torna-se distante da realidade

da grande maioria da população que, devido a condições sócio-econômicas, não

têm acesso ao serviço (SCHWINGEL, 2002).

Visão negativa da atenção básica

Persiste, ainda, alguma desvalorização e reducionismo em relação à

Atenção Básica. O cuidado primário em saúde, por parecer tratar-se de serviço

simples, com poucos equipamentos tem sido visto como assistência simplificada, no

Page 125: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 124

entanto, apresenta complexidade na articulação de diversos saberes e múltiplos

profissionais (LAMPERT, 2002). Considera-se ainda essa atenção como realização

de procedimentos simplificados e de baixa complexidade, o que pode ser observado

na fala:

[...] aí a gente entra com a terapia física, [...] coisas assim simples que a gente consegue numa unidade básica de saúde [...]. (F.3.0)

A especialização do conhecimento fortaleceu a ideologia de uma prática

profissional privada, afastando o fisioterapeuta da Saúde Pública:

Mas enfim, na verdade, então essa filosofia que se formou, de que um profissional saindo da Universidade, tem que buscar um conhecimento específico, se especializar numa área e assim por diante, acabou, essa nossa ideologia criada, acabou afastando um pouco o profissional das áreas de assistência primária. (D.1.3)

A priorização da medicalização do processo saúde-doença, associada às

pressões das indústrias de medicamento e equipamentos, trouxe a hipervalorização

de uma atenção tecnológica, centrada no ambiente hospitalar e de alto custo, em

detrimento da atenção básica e promoção da saúde. Costa (2004) aponta a

necessidade de se desmistificar pré-conceitos como a questão de a Atenção Básica

ser uma saúde pobre, para pobres, de baixa resolutividade e local de profissionais

com baixa qualificação.

Trabalho em equipe no SUS

O trabalho em equipe é valorizado e considerado necessário, mas se

percebem dificuldades em sua concretização. Persistem idéias equivocadas sobre a

interdisciplinaridade, vista como a agregação de habilidades profissionais diferentes,

porém sem articulação, permanecendo cada profissional em sua área específica. A

ausência de interação multiprofissional também é notada por alguns fisioterapeutas

Page 126: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 125

nos processos de trabalho do SUS, não existiria tempo para trocar informações,

para sentar-se junto e discutir o trabalho numa UBS.

Interdisciplinaridade e trabalho multiprofissional não são sinônimos e nem

menos este é sinônimo de trabalho em equipe. Segundo Feuerwerker e Sena (1999)

no trabalho multiprofissional existe uma interação entre os vários conhecimentos

técnicos específicos com a produção de uma intervenção que não seria produzida

por nenhum dos profissionais isoladamente, já o trabalho em equipe implica em

compartilhamento no planejar e no agir, com cooperação e colaboração.

O conceito de interdisciplinaridade surgiu como uma necessidade de se

transcender e ultrapassar o conhecimento fragmentado agregado à idéia da unidade

do saber (FÉLIX, 2005). É importante ressaltar, que apesar das dificuldades, a

interação multiprofissional e interdisciplinar é essencial ao desenvolvimento do

trabalho no PSF (BRASIL, 2000).

Satisfação com atuação no PSF

Como aspecto favorável, observa-se, também, satisfação por parte dos

fisioterapeutas, com a atuação no PSF, e na academia, a valorização da inserção

deste profissional. A percepção de bons resultados na atuação fisioterapêutica

demonstra o reconhecimento de um trabalho bem feito. Junto a esse

reconhecimento inicia-se a construção de uma nova prática profissional que

paulatinamente abre espaços de atuação e reconhecimento por outras categorias

profissionais. A satisfação profissional apresentou-se muito relacionada com o êxito

no tratamento, assim, quando é possível dar continuidade ao tratamento, alcançam-

se resultados com conseqüente realização profissional.

Page 127: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 126

[...] a gente tem tentado fazer alguma coisa dentro disso, e aí que nós estamos descobrindo, o que nós já sabemos, ou fazendo com que as pessoas descubram o quanto a gente tem pra fazer dentro da rede, dentro do PSF, daria pra fazer muito mais coisa certo, mas por enquanto nós temos que nos contentar com o que nós temos, que é a nossa realidade [...]. (F.1.1) Eu acho assim, que você não precisa ficar esperando aparecer aquelas dores, você ficar, querer ir fazer uma consulta pra você começar a tratar. Você tem que entender que o seu corpo precisa de cuidados, e você procurar isso. (F.6.0) [...] eu acredito, tenho uma visão assim, super otimista de que isso está mudando. (D.2.1)

Tendências de mudanças na prática do fisioterapeuta no SUS apontam

para uma necessidade percebida de ações integrais, com ampliação de atividades

preventivas e de promoção. Desta forma esses profissionais se aproximam mais do

conceito ampliado de saúde, tornando o atendimento mais humano e sensível às

necessidades da população (ALMEIDA, 2004).

6.3.2 Visões de Fisioterapeutas em relação ao SUS

A Figura 8 apresenta as visões/percepções dos fisioterapeutas e docentes

em relação ao Sistema Único de Saúde e suas características gerais.

Percepções Características 1 Visão negativa do SUS Percebe o SUS como atendimento de baixa qualidade,

simplificado ou para pobres, desorganizado, voltado para a doença e hospitalocêntrico.

2 Falência da Fisioterapia conveniada ao SUS

Analisa o atendimento das clínicas de Fisioterapia conveniadas pelo SUS como um serviço sem resolutividade, com grande demanda reprimida, desvalorizado e com baixa remuneração.

3 SUS como Atenção Básica Identifica percepções que confundem o SUS com a Atenção Básica ou com cuidados mínimos para a saúde da população, apenas.

4 Visão positiva do SUS Visão otimista do SUS, reconhece as dificuldades do sistema, mas valoriza seus avanços e ideais. Percebe Londrina como uma exceção, com qualidade exemplar.

Page 128: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 127

5 Integralidade no SUS Observa a necessidade de um atendimento integral no SUS com valorização de atuações preventivas e promocionais, ou sua necessidade.

6 Fisioterapia incipiente no SUS

Reconhece a ausência da Fisioterapia na Saúde Pública, ora por desinteresse da categoria, ora pela falta de oportunidades. Analisa a falta de conhecimento da atuação da Fisioterapia no SUS.

7 Sentimento em relação ao trabalho no SUS

Caracteriza a percepção dos profissionais que atuam no sistema em relação a sua atuação, satisfações e frustrações.

Figura 8 - Caracterização das visões de fisioterapeutas e docentes em relação ao SUS – Londrina, 2005.

Visão negativa do SUS

Ainda existe uma imagem negativa do SUS, mesmo entre os profissionais

que atuam no sistema. Faz parte da percepção dos fisioterapeutas a idéia de que o

atendimento no SUS é de baixa qualidade, baixa resolutividade, um atendimento

inferior para pessoas carentes e que não têm condições de pagar por um

atendimento mais digno, verdadeiramente, uma saúde para país subdesenvolvido.

Os profissionais percebem a existência de uma demanda que o sistema não

comporta, com aumento do tempo de espera, número insuficiente de vagas para

exames e especialidades médicas acarretando em filas e mau atendimento.

[...] infelizmente a gente vê que a grande maioria que depende do SUS, que depende do Sistema Único de Saúde, ela fica mesmo à margem do atendimento, ou de um sub-atendimento. (F.8.1) Eu acho que o SUS, hoje, eu acho que a saúde no Brasil, ainda é de um país subdesenvolvido [...]. (D.1.1) Porque você vai lidar com a classe mais humilde, porque um paciente que tem convênio ele não precisa estar no PSF ele tem convênio, [...]. (F.1.1) Ahhh... Precário. Precário, e a gente sabe que o SUS foi um sistema implementado, é, pra atingir a maioria, carente, e que isso não acontece, por “n” motivos: desvio de verba, mau treinamento dos profissionais, não estão preparados pra atendimento público, o próprio sistema sócio-econômico que não comporta o SUS hoje, [...]

Page 129: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 128

mas que hoje em dia não acontece dentro dos moldes de que foi proposto. Precário! (D.2.3)

O caos existente no SUS é atribuído também à má administração, à

vinculação do sistema à vontade política e à falta de investimentos com saúde.

Alguns fisioterapeutas reconhecem o SUS como um sistema bom no papel, mas

que, contudo, não foi colocado em prática e que não atingiu o que se propõe. A falta

de comprometimento dos funcionários estaria diretamente relacionada à não

responsabilização do servidor para com o usuário. A população não compreenderia

o sistema e este estaria voltado à doença com valorização da atenção especializada

e centrada em hospitais. A impossibilidade de o usuário escolher o profissional que o

atende também é realçada ao se comparar o SUS com o sistema de saúde

complementar ou particular.

Eu vejo o SUS assim, como, ele é um grande sistema, devia funcionar muito bem, tem condições de funcionar melhor do que funciona, mas o que estraga o SUS é a política; o fato de ser algo ligado à vontade política, ligado à vontade, a interesses políticos ele fica a mercê também das mudanças políticas e das brigas políticas, então, é complicado você dizer que hoje o SUS ele responde àquilo que ele se propõe, não, está muito fora do que ele se propõe a fazer, de atender a população. (F.8.1) E também a questão que no particular você pode escolher o seu médico, e no SUS se é um atendimento ruim, tanto do médico ou do fisioterapeuta, você não tem opção. É aquilo lá que você caiu. (F.6.0)

Em estudo realizado por Schmidt (2002) observou-se também uma

imagem negativa do SUS por parte de professores de graduação em Fisioterapia.

Camargo (2004), estudando cirurgiões-dentistas, também encontrou representações

negativas do SUS, em relação à pouca resolutividade, assistência de má qualidade,

dificuldades financeiras, política como empecilho à saúde e uma imagem negativa

do sistema, pela sociedade. Schwingel (2002) aborda o tema, explicitando que a

imagem do SUS, comumente encontrada em fóruns de debate, gira em torno da

Page 130: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 129

idéia de filas, leitos em corredores de hospitais, falta de medicamentos, precarização

do serviço, entre outras percepções negativas do sistema de saúde.

Falência da Fisioterapia conveniada ao SUS

O serviço de Fisioterapia realizado em clínicas conveniadas pelo SUS é

percebido como desorganizado, de baixa resolutividade e qualidade, e com uma

demanda reprimida elevada. A remuneração ao fisioterapeuta neste serviço é muito

baixa, desqualificando e inviabilizando a assistência. Quando existe necessidade de

se encaminhar um paciente, a um serviço de reabilitação, os profissionais do PSF

não conseguem vagas, ao mesmo tempo, em que alguns pacientes permanecem

nas clínicas conveniadas por períodos muito superiores ao esperado para a

reabilitação.

Percebe-se uma contrariedade por parte dos fisioterapeutas com esta

situação de precariedade, ao mesmo tempo em que se compreende a insuficiência

de condições para o trabalho. Algumas falas referem-se à municipalização do

serviço como uma possível solução do problema, com a criação de clínicas

descentralizadas e sob responsabilidade pública facilitar-se-ia o controle e qualidade

do atendimento.

Em Curitiba, anteriormente à inserção de fisioterapeutas nas unidades

municipais de saúde, percebia-se também uma precarização do atendimento em

clínicas conveniadas. Ocorria de as cotas de Fisioterapia serem ocupadas por longo

tempo por um paciente sem prognóstico, ou má utilização das mesmas, levando a

um aumento da demanda reprimida. A situação foi melhorada, pois os

fisioterapeutas das unidades são responsáveis pela triagem dos pacientes

Page 131: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 130

encaminhados, e estes quando em tratamento devem retornar à unidade, a cada

dez sessões, para acompanhamento pelo profissional que encaminhou

(TESSEROLLI, 2003).

SUS como Atenção Básica

Algumas percepções relacionam e confundem a Sistema Único de Saúde

com a Atenção Básica, ou ainda, com atendimento apenas das necessidades

básicas de saúde da população. A relação também é encontrada quando, em uma

fala, o profissional frisa o aumento da Atenção Básica com a instituição do SUS.

Ah o SUS ele é o, vamos dizer assim, ele é o plano de saúde que mais atende gente nesse país, em atenção básica, nenhum plano particular supera o número de clientes que são atendidos pelo SUS [...], eu vejo o SUS como uma ferramenta importantíssima, importantíssima pra que a gente consiga manter as pessoas, os cidadãos com condições mínimas de saúde [...]. (F.4.0) O SUS é um sistema voltado para atender a população em suas necessidades primárias, necessidades básicas. (F.7.1) Olha o SUS quer garantir à população atendimento mínimo, básico, à saúde. (F.8.1) [...] é um sistema que podia ser muito interessante pra população, pra assistência básica da população [...]. (D.2.3)

É importante ressaltar que, segundo legislação, compete ao SUS prestar

assistência às pessoas no âmbito da promoção, proteção e recuperação da saúde

(CARVALHO, MARTIN e CORDONI JUNIOR, 2001), com uma organização de

serviços hierarquizada e organizada em níveis de complexidade crescente. Sendo a

atenção primária em saúde, apenas, o primeiro nível de atenção, a porta de entrada

para o sistema, cuja resolutividade deve ser de aproximadamente 90% (PUSTAI,

1996; BRASIL, 2000). Desta forma o SUS não pode ser confundido com a Atenção

Básica, esta faz parte do sistema e é valorizada e prioritária.

Page 132: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 131

Visão positiva do SUS

Algumas percepções, em especial relacionadas à Londrina, remetem a

uma visão positiva do SUS. Este fato pode estar relacionado ao fato de Londrina ter

organizado seus serviços públicos de saúde incorporando, durante sua história, as

diretrizes da reforma sanitária brasileira, sendo um dos municípios pioneiros no

processo de municipalização da saúde (GIL, MARTIN e GUTIERREZ, 2001;

ALMEIDA, 1979; SILVA, 2001)

Considera-se o atendimento prestado de boa qualidade, com ampla

cobertura de especialidades e competência da equipe profissional. A preferência por

ações preventivas e de promoção é vista como avanço na saúde brasileira,

juntamente ao deslocamento da atenção ao ambiente familiar. São percebidas

falhas e reclamações dos usuários, porém são vistas como inerentes a qualquer

sistema e faz parte do papel do usuário reivindicar, buscando a melhoria do serviço.

O SUS é visto também como opção não apenas para pobres, mas também àqueles

que podendo pagar por outro sistema opta por sua utilização, o que é garantido pela

diretriz da universalidade do acesso ao sistema (PUSTAI, 1996).

Eu acho que o processo é muito interessante. Desde o momento que você trabalha bastante com prevenção [...]. (D.1.2) [...] o atendimento está sendo prestado com bastante respeito à comunidade, pra quem usa mesmo o SUS, claro que sempre tem, todo serviço tem algumas falhas, mas eu acho que o SUS assim esta bem, aqui em Londrina eu acho que é um..., que está dando bons resultados, eu acho que tem um retorno que a população espera. (F.2.1) [...] o SUS hoje é a saída real pra quem não tem condições de ter um plano de saúde, mas é a saída concreta também pra pessoas que teriam condições de ter um plano de saúde [...]. (F.4.0)

O SUS também é visto como um processo, um avanço importante para a

população e que estaria em construção. A consciência de um SUS como um dos

Page 133: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 132

melhores sistemas de saúde do mundo é observada no discurso que segue,

refletindo sua natureza processual, sem negar os avanços já concretizados.

Diferente de outras visões que colocam o SUS ideal apenas no papel, negando seus

benefícios, esta percepção, apesar de ressaltar a diferença entre teoria e prática,

admite uma melhora na saúde brasileira.

Hoje eu percebo que realmente o SUS é um dos melhores modelos que existem, e que o problema é que nós não sabemos como corrigir essa política de saúde, aonde está os erros? Porque que a coisa não funciona? Porque ele é melhor modelo para a população, junto com esse sistema democrático nós conseguimos o melhor modelo de assistência de saúde, mas penso que ele não funciona como deveria. [...] nós não podemos separar a saúde das questões econômicas e políticas de um país. (D.2.2)

Camargo (2004) também encontrou uma visão positiva do SUS entre os

cirurgiões-dentistas estudados, além da percepção de uma concepção teórica

excelente do sistema. O caráter processual do SUS encontrado nesta percepção

também é analisado por Mendes (1996).

Integralidade no SUS

A integralidade é vista como uma necessidade da atuação no SUS, porém

persistiria uma atuação centrada na doença e no hospital como lócus de assistência

privilegiada. O Sistema Único de Saúde buscaria transferir este cenário privilegiado

de atuação para o domicílio, confundindo-se aqui com a própria estratégia de Saúde

da Família. O PSF busca exatamente o desenvolvimento de uma assistência

integral, com ênfase na proteção e promoção à saúde (BRASIL, 2000), em

conformidade com as diretrizes do SUS (PUSTAI, 1996). A ênfase na prevenção e

promoção é vista também como importante instrumento de controle de gastos.

O SUS é um sistema de saúde, que visa promover a saúde, ah, desde a prevenção, curativo, até a reabilitação, [...]. (D.2.3)

Page 134: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 133

A ausência da Fisioterapia no SUS comprometeria a integralidade da

assistência à medida que não seria possível atender a todas as necessidades da

população.

É essencial a presença desse profissional [fisioterapeuta] até porque vai de encontro com os princípios do SUS pra que todos tenham acesso, e que tenham acesso de acordo com as suas necessidades [...]. (D.2.1)

Alguns autores questionam como a assistência na estratégia Saúde da

Família pode ser integral com uma equipe multiprofissional composta por poucos

profissionais, a exclusão do fisioterapeuta, por exemplo, comprometeria essa

integralidade (SILVA, TRELHA e ALMEIDA, 2005; TONIN, 2004; ALMEIDA, 2004).

Fisioterapia incipiente no SUS

A atuação do fisioterapeuta no SUS ainda é percebida como incipiente e

desconhecida. Os profissionais sentem que há a necessidade de se mostrar a

atuação da Fisioterapia no SUS, pois tanto a própria categoria quanto as demais

categorias da área da saúde não reconhecem a sua atuação no sistema. Apesar

desta percepção, Aguiar (2005) encontrou entre médicos e enfermeiros do PSF um

conhecimento satisfatório em relação à atuação da Fisioterapia, e uma atitude

positiva em relação à mesma. Algumas percepções demonstram que os

fisioterapeutas que atuam no PSF não conheciam o SUS, nem qual seria sua

atuação, anteriormente à sua inclusão no serviço. Isto é devido, em parte, pela

formação que valoriza aspectos relacionados ao aparato e terminologia técnicos e

ao modelo hospitalocêntrico utilizado na quase totalidade de escolas no país

(ABRASCO, 2003).

Page 135: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 134

O que poderia explicar a negação do SUS pela categoria profissional seria

a desvalorização do trabalho público, observado pela baixa remuneração nas

clínicas conveniadas. Schwingel (2002) cita a remuneração inferior no SUS, quando

comparada à da prática liberal, em especial se proprietário, como um aspecto

relevante desta negação e que a resistência ao trabalho em saúde pública pode

residir na perda de reconhecimento social acarretada. O desconhecimento da

atuação do fisioterapeuta no SUS pelos outros profissionais e a ausência de

concursos e contratações afasta ainda mais a categoria do sistema. Percebe-se uma

desvalorização até salarial do fisioterapeuta em relação a outras categorias no SUS.

Existe uma indignação por parte de fisioterapeutas quanto a esta “exclusão” da

saúde pública, e gradativamente se percebe um aumento no interesse e na

importância atribuída a esta atuação.

Bom eu vejo assim que a fisioterapia precisaria, precisa crescer muito ainda no SUS, posso falar que a gente está engatinhando no serviço público [...]. (F.2.1) Acho que o principal mesmo é mostrar que a fisioterapia tem espaço, faz um trabalho bom e um trabalho importante dentro da Saúde Pública. (F.7.1) E no PSF ela [fisioterapia] está despontando. (F.8.1) Infelizmente a gente ainda não conseguiu ser incluído no sistema SUS como um todo, eu vejo que a gente ainda esta de fora. Mesmo aquelas cidades que já incorporaram o fisioterapeuta no PSF, o fisioterapeuta é discriminado, ele recebe um salário menor [...]. (D.1.2) [...] a própria secretaria de saúde, Ministério de Saúde, não tem noção, e os próprios fisioterapeutas alguns, não tem noção de que a fisioterapia pode atuar nessas áreas, então eu vejo com importância o fisioterapeuta ingresso dentro do PSF, dentro de uma Unidade Básica, junto ao Sistema Único de Saúde. [...]. (D.2.2)

Page 136: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 135

Sentimento em relação ao trabalho no SUS

Em relação ao sentimento vivenciado pelos fisioterapeutas com a atuação

no SUS observa-se uma mistura de satisfação e frustração. Os profissionais

reconhecem na Saúde Pública uma atuação prazerosa, e gostam do serviço que

fazem, mas admitem como frustrante algumas dificuldades enfrentadas no

desenvolvimento de seu trabalho.

[...] eu me considero uma pessoa que é apaixonada pelo serviço, eu acredito na fisioterapia em Saúde Pública [...] eu acho que ainda existe muita esperança em relação a isso. (F.8.1) A maior frustração em relação ao acompanhamento é de cuidador e de estar com paciente difícil de acompanhar. (F.6.0)

A mudança de paradigmas e de referenciais, necessária à atuação do

fisioterapeuta no PSF, vai ao encontro de uma prática mais humana, integral, e

socialmente responsável. Os conflitos são inerentes, uma vez que surgem dessa

necessidade de mudança e adaptação. Nas experiências relatadas, por exemplo, no

livro organizado por Barros (2002a), o profissional sempre demonstra satisfação com

o processo de trabalho. As limitações e dificuldades fazem parte desta construção,

ainda recente, da inserção do fisioterapeuta no SUS.

6.4 A Formação do Fisioterapeuta

6.4.1 O Ensino em Fisioterapia

A Figura 9 apresenta percepções quanto ao ensino na graduação em

Fisioterapia e as características encontradas.

Page 137: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 136

Percepções Características 1 A Integralidade na formação Reconhece a necessidade de uma abordagem integral

do indivíduo na graduação e a centralidade da formação na doença. Aborda a setorialização dentro da academia.

2 A Saúde Coletiva na formação

Reconhece a escassez da abordagem do SUS nos currículos e sua centralização em uma única disciplina, e a necessidade de ampliação de espaços de discussão.

3 Formação generalista versus especialização

Analisa a crise entre a necessidade de uma formação generalista e a valorização da especialização do conhecimento e a especialização docente frente a essas necessidades.

4 Campos de estágio Analisa os campos de estágios e as atividades extra-muros, na comunidade.

5 Mudanças e perspectivas na formação

Reconhece os processos e necessidades de mudanças na formação, os avanços alcançados e as perspectivas próximas.

Figura 9 - Caracterização das percepções de fisioterapeutas e docentes sobre a formação em Fisioterapia - Londrina, 2005.

A integralidade na formação

Assim como os fisioterapeutas percebem que tiveram uma formação

centrada na doença e na reabilitação, ainda hoje, a graduação é falha em aspectos

de promoção de saúde e prevenção de doenças. Existe a consciência da

importância em se trabalhar a integralidade na formação, porém a realidade ainda é

diferente. Algumas experiências, isoladas, são colocadas em prática, mas a

formação ainda possui currículos fixos, compartimentalização do conhecimento,

valorização da clínica, utilização de recursos tecnológicos e é centrada nos espaços

internos das Universidades (hospitais e ambulatórios).

Nós tivemos, agora nem me lembro direito, mas nós tivemos a parte preventiva, mas a atuação é mais na área curativa, é mais curativa. (F.6.0) [...] quando você vê na Universidade as atuações do fisioterapeuta, eles colocam de uma maneira onde você tenha toda a estrutura de trabalho possível. (F.5.1)

Page 138: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 137

Que nós ainda, temos nas Universidades, e nas Faculdades, temos uma formação cartesiana, no modelo flexneriano [...]. (D.2.2)

A integralidade é vista de forma precária e centrada nos estágios, quando

se tem a presença do paciente, sendo que nos primeiros anos o aluno receberia

informações mais passivamente. Embora alguns docentes tenham a visão de

integração das disciplinas e trabalho interdisciplinar, muitos outros valorizam suas

matérias e a setorialização.

Ainda acontece de maneira precária, está se modificando aos poucos, isso [integralidade] a gente consegue fazer mais quando a gente tem o paciente [...]. Porque o que parece ainda, que durante os primeiros anos o aluno acaba sendo muito mais passivo e no quarto ano daí ele tem que tomar uma atitude mais ativa [...]. (D.2.1) [...] uma grade curricular parecida, com as disciplinas do ciclo básico, as disciplinas do ciclo profissionalizante e os estágios no final. (D.1.3)

Para a reorientação do processo de trabalho é necessária a adoção da

integralidade como eixo central na formação dos recursos humanos. Atualmente,

vem ocorrendo amplas discussões sobre a necessidade da visão integral na

formação do fisioterapeuta. As diretrizes curriculares nacionais para o curso de

Fisioterapia explicitam a necessidade de um profissional competente a atuar em

todos os níveis de atenção, com uma prática integrada e integral (BRASIL, 2002).

Buscando as mudanças necessárias na formação dos RHS, o Ministério

da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, vem implantando uma política

educacional para o SUS, desde o início de 2003, englobando não apenas a

formação universitária. Estratégias como o AprenderSUS, os Pólos Regionais de

Educação Permanente em Saúde e os Núcleos de Atenção Integral na Saúde da

Família, procuram reorganizar a prática dos profissionais da saúde, orientada e

alicerçada na integralidade (FÉLIX, 2005; BRASIL, 2004a, 2004b, 2005).

Page 139: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 138

A saúde coletiva na formação

A formação do fisioterapeuta em relação ao SUS é limitada às disciplinas

de Saúde Coletiva, Saúde Pública ou Fisioterapia Preventiva, e estas disciplinas são

pontuais e ofertadas nos primeiros anos de graduação. Pereira e Almeida (2003)

encontraram que a carga horária dessas disciplinas são equivalentes às disciplinas

clínicas, porém seriam as únicas disciplinas que abordam uma visão ampliada do

conceito de saúde, mantendo-se desta forma uma abordagem pontual. Esta situação

leva a não sedimentação do conhecimento e sua desvalorização. Para Campos

(2000) a saúde coletiva deveria influenciar a transformação de saberes e práticas.

Em linhas gerais o egresso desconhece as diretrizes e princípios do SUS e do

processo de trabalho em uma UBS ou ESF.

[...] então a gente não tinha muita escolha, a gente não tinha muita noção de Saúde Pública, a visão que a gente tinha era de sair e trabalhar numa clínica. (F.3.0) Mas, a gente não tinha noção, eu não tinha noção nenhuma do que fosse atenção pública, nem a nível primário, não sabia como funcionava um posto de saúde [...]. (F.8.1) Tinha uma disciplina chamada Saúde Pública e que até hoje eu tento lembrar o que foi dito de Saúde Pública nessa disciplina! (F.8.1) Hoje a gente tem uma disciplina única no currículo que está vigente, é uma disciplina de Preventiva e Saúde Pública no segundo ano. (D.2.1)

As diretrizes curriculares explicitam a necessidade de o estudante receber

uma formação que atenda às necessidades do sistema de saúde brasileiro (BRASIL,

2002). Desde o currículo de 1983 já havia sido criada e inserida na graduação

disciplinas que discutiam uma abordagem às condições sanitárias, com a criação da

disciplina de Fisioterapia Preventiva (REBELATTO e BOTOMÉ, 1999;

PRZYSIEZNY, 1999). Porém observa-se que a simples inclusão, mesmo que legal,

Page 140: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 139

de disciplinas voltadas à saúde coletiva não garantiram mudanças na formação e

práticas dos profissionais.

Przysiezny (1999) observou, em seu estudo sobre a disciplina de

Fisioterapia Preventiva nas IES da região sul do Brasil, que esta disciplina tem como

função primordial desenvolver uma atitude preventiva nos estudantes, criando uma

consciência ampla de saúde, transcendendo a simples prescrição de tratamento. O

mesmo autor, ainda, encontrou um aumento nas ações de promoção à saúde

desenvolvidas na formação, enquanto Pereira e Almeida (2003), estudando os

cursos de Fisioterapia do Paraná, encontraram uma dificuldade na definição dos

objetos de estudo desta disciplina.

Algumas iniciativas buscam corrigir esta distorção como a introdução de

um estágio em PSF no último ano em uma instituição e a tentativa de tornar as

disciplinas mais interessantes por meio de aulas práticas e contato com ambientes

fora das salas de aula.

[...] o paciente é agendado, duas visitas ou três pra determinado dia, é contactuado com o ACS, eles vão pra visita com esse ACS, retornam, evoluem, elaboram tudo certinho como foram feitos [...]. (D.2.2) [...] eles [alunos] escolhem um local, uma área de atuação e eles desenvolvem um programa, eles implantam um programa mais voltado pra promoção e prevenção, aí os alunos vão pra comunidade [...] desenvolver essas atividades da fisioterapia relacionada à promoção e prevenção da saúde. (D.2.1)

Experiências de inclusão dos estudantes no SUS já foram citadas

anteriormente (COFFITO, 2001c; SAMPAIO, 2002; FREITAS, 2002; FERNANDES,

2002).

Page 141: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 140

Formação generalista versus especialização

A formação generalista é percebida como objetivo das três instituições de

ensino. Schmidt (2002), ao analisar os currículos do curso de Fisioterapia do Paraná

e seus campos de estágios, observou que as áreas contempladas nos estágios

favoreciam uma visão ampla e abrangente da atuação do fisioterapeuta. Algumas

percepções em relação à graduação apontam para a necessidade de a formação

vislumbrar ao aluno diferentes áreas de atuação, ampliando assim as possibilidades

para o formando, o que vai ao encontro do preconizado pelas diretrizes curriculares

(BRASIL, 2002) e das necessidades de RHS.

[...] a gente tem buscado dar a formação generalista que tanto se fala. [...] A gente tem tentado dar ao aluno toda essa visão, a visão global. (D.1.2) [...] o currículo de hoje, o aluno sai mais com uma visão de um profissional generalista, mas não tem realmente uma visão da realidade de um atendimento ao sistema de saúde. (D.1.1) [...] eu acho que a Universidade ela tem o caráter de abrir nossos olhos, de tirar a venda e o resto a gente tem que correr atrás [...]. (F.1.1)

Essa formação generalista esbarra na especialização do conhecimento

que acaba sendo hegemônica. A tendência de valorização da pesquisa na

Fisioterapia está muito presente na formação universitária. Algumas percepções

mostram a necessidade de se ter professores especialistas para formar um

fisioterapeuta generalista.

Eu sempre digo pro meu aluno: -“ Não se especialize na graduação”. (D.1.2) [...] estar formando um profissional com uma visão um pouco mais generalista, com isso a gente consegue fazer um trabalho com bons especialistas, trabalhando com o aluno para ele se formar como um bom generalista [...]. (D.1.3)

Page 142: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 141

Eu não consigo dar uma visão geral pro meu paciente ou pro meu aluno se eu não tiver vários especialistas falando de cada área. (D.1.2) [...] sai um profissional que eu acredito hoje, assim, com uma visão mais ampla, da pesquisa, porque eu acho que a pesquisa dentro da fisioterapia, ela teve uma abertura de uns sete anos para cá, [...]. (D.1.1)

Félix (2005) cita que profissionais superespecialistas, quando professores,

tendem a formar profissionais com a mesma visão especializada, mecanicista e

biológica. Lampert (2002) ao estudar a formação médica observou um desequilíbrio

entre especialistas e clínicos gerais e que essa distorção é maior nos centros mais

dinâmicos da economia, o mesmo ocorre com a Fisioterapia. A autora ainda explica

que o estudante incorpora como próprias, as formas de comportamento e os valores

dominantes no grupo profissional. Desta forma, questiona-se se um sistema que

privilegia tanto a especialização é capaz de formar profissionais generalistas, e até

que ponto estará atento às necessidades básicas de saúde da população.

Campos de estágio

Percebe-se que os campos de estágios continuam centrados em hospitais

e ambulatórios no interior das instituições, quando muito em instituições

conveniadas. As necessidades de formação, percebidas e procuradas pelos

professores, não se traduzem em realidade, na prática, dentro das instituições de

ensino.

O ensino é centrado na Universidade, e o aluno não tem a vivência do

SUS e do atendimento na comunidade. Quando ocorre a introdução do aluno na

comunidade a atuação continua sendo assistencialista. Apenas um curso possui

Page 143: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 142

experiência de estágio junto ao PSF. Outras atividades de estágio são realizadas em

hospitais, ambulatórios, asilos e instituições da cidade.

Os campos de estágio curricular são espaços onde todas as

possibilidades de práticas profissionais são realizadas, Pereira e Almeida (2003)

encontraram um forte predomínio de ações nos níveis secundário e terciário nas IES

do Paraná, onde não se proporcionava campos de estágio em atenção primária.

Mudanças e perspectivas na formação

Além do estágio no Programa Saúde da Família existente em uma escola,

outro curso realizará uma reforma curricular em 2006 onde pretende instituir o

estágio em PSF. A terceira instituição também pretende fazer uma reforma e relatou

a intenção em se levar o aluno à comunidade, mas nada específico ou estruturado

em relação ao PSF foi abordado.

Uma proposta concreta, na primeira reforma curricular relatada, é a

expansão da disciplina de Saúde Coletiva para três anos. Desta forma se procuraria

levar o aluno a aproximações sucessivas com o SUS. Nesta proposta se culminaria

com o estágio em PSF no quarto ano. Outra proposta deste novo currículo seria a

inserção de disciplinas, também nos três primeiros anos, de Habilidades e de

Pesquisa. Experiência semelhante já acontece na segunda instituição, que pretende

fazer uma reforma, com inclusão destas duas últimas disciplinas.

Mudanças na formação de RHS tem sido assunto de debates e grandes

preocupações, uma vez que se faz extremamente urgente para a adequação dos

profissionais ao sistema de saúde e à concepção ampliada de saúde (PAIM, 1994;

ALMEIDA, 1999; FEUERWERKER, 2002; LAMPERT, 2002; ALMEIDA, 2003). Na

Page 144: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 143

Fisioterapia, apesar de poucos estudos, também é percebida a necessidade de

mudanças na formação (BRASIL, 2002; ABENFISIO, 2003; MARINHO, 1999;

PEREIRA e ALMEIDA, 2003; ALMEIDA, 2004; TONIN, 2004).

A educação baseada na comunidade possibilitaria o desenvolvimento e

treinamento de competências como: liderança, trabalho multiprofissional, interação

com a comunidade, resolução de problemas, comunicação e planejamento

(TRELHA e SANTOS, 2003). A Abenfisio (2003) deliberou, como necessidade, o

desenvolvimento da disciplina Fisioterapia Preventiva de forma longitudinal, durante

todo o processo de formação, fato que se pretende instituir numa reforma curricular

citada. Pereira e Almeida (2003) discutem a necessidade de um maior

aproveitamento de disciplinas como Preventiva e Saúde Pública. Este deveria

ocorrer durante toda a graduação, como o proposto pela instituição pesquisada e

pela Abenfisio.

6.4.2 O Perfil do Fisioterapeuta para atuar no PSF

Nesta sub-categoria são analisadas as percepções de docentes em

relação à adequação da formação universitária ao perfil de profissional necessário

ao Programa Saúde da Família. A Figura 10 apresenta as principais percepções e

suas características.

Page 145: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 144

Percepções Características 1 Formação humanista Reconhece a necessidade de uma formação

humanística, as limitações e os avanços neste campo.

2 Criatividade e adaptabilidade Apresenta as contribuições para a formação do fisioterapeuta criativo, analisa a forma como o aluno pode desenvolver sua capacidade de adaptação.

3 Liderança e tomada de decisão

Analisa como a formação poderia interferir na formação de lideranças e autonomia dos alunos e as diferenças entre instituições pública e privada.

4 Comunicação Apresenta as atividades desenvolvidas para trabalhar a comunicação do aluno.

5 Trabalho em equipe Analisa a inserção do aluno em equipes multiprofissionais e interdisciplinares e suas limitações.

6 Conhecimento e vivência do SUS

Apresenta as formas como os alunos têm acesso ao SUS, as disciplinas que o abordam e as experiências de vivência do aluno no sistema.

Figura 10 - Percepções de docentes a cerca da adequação da formação universitário ao perfil profissional requerido para atuar no PSF - Londrina, 2005.

Formação humanista

A necessidade de uma formação mais humana, com valorização do

indivíduo e de suas necessidades é percebida pelos docentes, porém esta

abordagem ainda é precária e não específica. Algumas percepções se referem à

inerência da humanização na prática fisioterapêutica e que esta característica seria

pessoal e individual sendo difícil ser desenvolvida na graduação.

É hoje, [...] eu acho que falar de Fisioterapia sem falar da parte humanística é muito, é muito difícil. [...] Hoje o peso da parte humanística ela não é tão grande no nosso currículo [...]. (D.1.1) Eu acho que é pessoal! Eu acho que é pessoal. Na minha opinião particular é pessoal. (D.1.2)

A parte humana, na formação do fisioterapeuta, é relacionada com a

presença de disciplinas sociais como filosofia, sociologia, antropologia e psicologia.

Este aspecto também é trabalhado quando o aluno é colocado em contato com o

paciente, desde o início da graduação, e se tem a preocupação com as

Page 146: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 145

necessidades da população assistida. Com a introdução de discussões de bioética

na formação, e de disciplinas de habilidades, algumas tentativas nessa direção

foram implementadas.

[...] então essa questão da humanização eu acho muito, eu estou dando um grande enfoque, trabalhando desde as questões de bioética, [...]. (D.2.2)

A formação humana é amplamente abordada nas discussões sobre a

formação do RHS, indo ao encontro das necessidades do Sistema Único de Saúde e

da própria população, que procura um atendimento digno e que respeite sua

individualidade (LAMPERT, 2002; ABENFISIO, 2003; TEIXEIRA, 2003).

As diretrizes curriculares para o curso de Fisioterapia apontam para uma

“formação generalista, humanista, crítica e reflexiva” (BRASIL, 2002). Para atuação

numa ESF o profissional necessita de uma formação humana bem sólida (BRASIL,

2000). Przysiezny (1999) chama a atenção para o descontentamento generalizado

em relação aos serviços de saúde e profissionais, que teria como principal causa a

fundamentação da atuação, desumana e voltada não para o indivíduo, mas para a

doença.

Criatividade e adaptabilidade

A criatividade e capacidade de adaptação não são desenvolvidas em

nenhuma disciplina específica, mas é solicitada aos estudantes, em especial no que

diz respeito à terapia realizada.

Os professores entrevistados percebem que esta habilidade é mais

desenvolvida em estudantes de instituição pública. Eles associam a falta de recursos

com a melhor desenvoltura dos acadêmicos. Já em escolas particulares o aluno, por

ter todos os recursos terapêuticos disponíveis, não sente a necessidade de adaptar-

Page 147: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 146

se e ser criativo. Outra explicação possível, diz respeito à seleção realizada pelo

vestibular, alunos em instituições públicas teriam sido “selecionados” devido à

concorrência do vestibular.

As experiências “extra-muros” colaboram sobremaneira para o

desenvolvimento dessas habilidades nos estudantes. No estágio em Programa

Saúde da Família, desenvolvido por uma escola, é solicitada aos alunos a

adaptação à realidade da UBS, e do domicilio do paciente. O estímulo pessoal do

professor para a criatividade na terapia e nos recursos utilizados ainda é a forma

predominante de trabalho desta habilidade.

Alencar e Fleith (2004) ressaltam que a criatividade é um fenômeno

complexo e plurideterminado, onde inúmeras características do indivíduo e

ambientais contribuem para sua expressão. Características como o interesse do

aluno, seu potencial criativo, background de conhecimento, disponibilidade de tempo

para dedicar-se, são alguns fatores que influenciam na criatividade. No entanto,

observa-se que a prática docente de se exigir do aluno a reprodução de

conhecimento e memorização cerceiam a capacidade criativa dos alunos. Então, se

o professor pode tolher a criatividade do aluno, poderia também facilitá-la.

A necessidade de um profissional criativo e com condições de adaptação

são competências exigidas pela profissão e devem ser desenvolvidas durante a

formação (BRASIL, 2002; ABENFISIO, 2003). A limitação percebida por docentes

em cultivar a criatividade em sala de aula pode ser explicada pela ausência de

conteúdos na área de criatividade na própria formação docente (ALENCAR e

FLEITH, 2004). As mesmas autoras citam alguns fatores que contribuiriam para um

exercício docente que estimule a criatividade, seriam: incentivo a novas idéias, clima

Page 148: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 147

para expressão de idéias, avaliação e metodologias de ensino, interesse pela

aprendizagem do aluno.

Liderança e Tomada de Decisões

Outras características percebidas diferentemente em instituições públicas

e privadas são a liderança e tomada de decisões. Alguns professores as consideram

pessoais e inerentes ao indivíduo, não sendo trabalháveis na graduação.

Numa faculdade particular essa questão é sempre um pouco mais complicada, porque normalmente, assim, as lideranças, elas não são lideranças assim muito enfáticas. . Porque numa faculdade particular você praticamente tem tudo que você precisa, então você tem bons recursos, bons locais de estudo. Mas de qualquer maneira, liderança eu, não sei, eu acho que cada um nasce para ser líder, não sei se é uma coisa que seja muito treinável [...]. (D.1.3)

Por meio de trabalhos em grupos, divisões de tarefas e mesmo na prática

em estágio a liderança é observada e trabalhada na graduação. A liderança surgiria

com a liberdade, ao permitir que o estudante seja livre, a liderança se desenvolveria,

até mesmo pela necessidade de se posicionar e tomar decisões, em particular frente

ao paciente, nos estágios.

Simões e Fávero (2000) reconhecem a importância da competência em

liderança, pois esta cria oportunidades para a inovação, levando à implantação de

mudanças. A formação em Fisioterapia tem como responsabilidade formar um

profissional competente em liderança (BRASIL, 2002) e segundo Almeida (2004),

Ragasson et al (2005) e Pereira et al (2004) faz parte das atribuições do

fisioterapeuta na ESF a capacidade de liderança e tomada de decisões.

Os estudos sobre liderança são consensuais em relação ao fato de a

liderança não se desenvolver isoladamente, ela é um fenômeno grupal, dependente

de interação entre duas ou mais pessoas. Para o aprendizado da liderança são

Page 149: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 148

necessárias algumas mudanças na formação: focagem na interação, mudança da

imagem de líder, maior distribuição de poderes, estrutura que facilita a colaboração

entre pares, valorização das diferenças e uma perspectiva de renovação (NEUFELD

et al, 1995).

Para ser líder é necessário ser adaptável, flexível, e habilidoso em

comunicação, bem como ser um facilitador e coordenador, mais que administrador.

A promoção dessas habilidades na formação torna-se um desafio, um entrave no

desenvolvimento da liderança seria a falta de estímulos pela não criação de

oportunidades que favoreçam a expansão das potencialidades com autonomia

(SIMÕES e FÁVERO, 2000).

Desta forma algumas habilidades poderiam ser desenvolvidas na

formação, tais como: buscar o auto-conhecimento, bom relacionamento interpessoal,

comunicação simples e clara, delegação de poderes, buscando o melhor de cada

um, incentivo à equipe, ser facilitador e inspirador, mais que controlador e ter clareza

quanto à filosofia, crenças e valores da profissão (SIMÕES e FÁVERO, 2000). O

desenvolvimento dessas habilidades pode ser perfeitamente estimulado e

apreendido durante a formação, cabe questionar as disciplinas de Administração em

Fisioterapia, uma vez que seriam responsáveis pelos conteúdos de gerenciamento e

liderança. Quais estão sendo as características de chefia e processo de tomada de

decisão, abordados por elas?

Comunicação

Quanto a uma disciplina específica para o desenvolvimento da habilidade

de comunicação, apenas uma instituição possui a disciplina de Habilidades, que

Page 150: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 149

trabalha especificamente essa questão. Outra proposta de inclusão, também, de

uma disciplina de habilidades, apareceu na instituição que passará por uma reforma

curricular em 2006. A terceira IES não relatou nenhuma disciplina ou proposta

concreta.

A questão da comunicação com pacientes ou familiares, com outros

profissionais, e mesmo a comunicação científica é valorizada e requisitada pelos

docentes. No mundo do trabalho, o profissional necessita não apenas de

competência técnica, mas também interagir com outros indivíduos, o que ocorre por

intermédio da competência comunicativa (MARKERT, 2002). Nas instituições

pesquisadas, busca-se trabalhar essas questões por meio de apresentações de

trabalhos, seminários e casos clínicos.

Atividades comunicativas e educativas junto à comunidade são

trabalhadas no estágio em PSF e em uma disciplina de Saúde Pública, quando os

estudantes vão à comunidade desenvolver atividades de prevenção e promoção.

Outros meios são utilizados como de desenvolver a comunicação, alguns exemplos

citados pelos professores foram elaboração de “folders”, teatros e cartazes.

A necessidade de se trabalhar na formação a competência comunicativa

já foi abordada anteriormente, e em especial para a atuação no PSF (RAGASSON et

al, 2005; TESSEROLLI, 2003; PEREIRA et al, 2004). Apesar de se procurar

trabalhar a questão da comunicação verbal, percebe-se uma dificuldade maior

quanto à comunicação não-verbal. Para Silva (1996), quanto mais esta for do

domínio do profissional da saúde, tanto melhor será sua condição de emitir sinais

não verbais coerentes com seu discurso, na relação com o paciente.

Page 151: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 150

Trabalho em Equipe

O trabalho em equipe aparece de forma extracurricular na graduação, por

meio de projetos de extensão e atividades pontuais. Vale ressaltar que a formação

do fisioterapeuta deve objetivar dotar o profissional de capacidade para o trabalho

em equipe multiprofissional (BRASIL, 2002). Quando essas capacidades não são

trabalhadas curricularmente, mas apenas por meio de atividades extracurriculares,

não se pode garantir o seu desenvolvimento por todos os acadêmicos. É importante

rever como essa competência, essencial ao trabalho no PSF (BRASIL, 1994, 2000),

vem sendo desenvolvida na formação dos fisioterapeutas. Félix (2005) também

encontrou, em Santa Catarina, que as práticas de trabalho em equipe ocorrem

somente em projetos de extensão, sendo falhas nas disciplinas, durante a

graduação.

Isso acontece mais em alguns projetos, os projetos de extensão e os projetos de ensino. (D.2.1) Esse tipo de coisa a gente consegue englobar aqui na instituição, pelos vários projetos que nós da área da saúde temos em conjunto. (D.1.3)

Mesmo quando presentes as atividades se restringem a relações

multiprofissionais, e não interdisciplinares. Novamente os docentes percebem uma

maior dificuldade em trabalhar essas questões em instituições particulares.

Aparecem dificuldades em se trabalhar interdisciplinarmente na academia, cabendo

ao estágio na comunidade ou em instituições conveniadas, a possibilidade de uma

interação multiprofissional.

Levando-se em consideração as diferenças entre o trabalho

multiprofissional e interdisciplinar, abordadas por Feuerwerker e Sena (1999), e

discutidos anteriormente, percebe-se que ainda é distante a concretização da

Page 152: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 151

interdisciplinaridade na formação em Fisioterapia. A dificuldade encontrada, em

especial pelas instituições privadas, relaciona-se a ausência de diversidade em

cursos na área da saúde oferecidos, e a uma dificuldade de entrosamento e

articulação entre os cursos existentes. Ressalta-se que em todos os cursos de

graduação na área da saúde explicita-se a necessidade de trabalho multiprofissional

em suas diretrizes (ALMEIDA, 2003).

Conhecimento e vivência do SUS

O estudo dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde está

centrado, geralmente, em uma única disciplina nos primeiros anos da graduação.

Percebe-se que esta situação não mudou muito desde o estudo de Schmidt (2002),

e que pode ser explicada pela influencia do currículo mínimo na estruturação da

maioria dos cursos. É comum nas falas dos docentes destas disciplinas perceberem

a necessidade de ampliação da atuação do fisioterapeuta no SUS. Observam-se

também uma dificuldade de aceitação por parte dos alunos, sendo exigido do

professor estratégias para tornar a disciplina mais interessante. Essa rejeição pode

estar associada ao que Schwingel (2002) aborda, qual seria uma possibilidade de

perda de reconhecimento social no trabalho em saúde pública.

[...] entrando em Saúde Pública acho que são aproximações sucessivas. É um conteúdo pesado, o aluno na maioria das vezes não tem muito interesse por essa área, são poucos alunos que se interessam, então a gente tenta fazer uma coisa mais prática, mais dinâmica; tem aulas teóricas, tem aulas com discussão de vídeo, com discussão de reportagens, tem aulas no laboratório de informática pra gente fazer um levantamento de dados sócio-demográficos, indicadores de saúde, aí a gente trabalha as questões relacionadas a epidemiologia. (D.2.1) [...] tentar ampliar o horizonte do aluno, pra focar que a fisioterapia não é só curativa e reabilitadora, mas sim preventiva também, então mostrar para o aluno a inserção do fisioterapeuta nos Programas de

Page 153: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 152

Saúde da Família, junto aos agentes comunitários, é, trazendo este aluno mais pra prática também, não só na teoria [...]. (D.2.3) Dentro da disciplina de Saúde Pública, a minha visão, da formação do profissional, que ele seja mais atuante, e ele tenha uma participação maior nas questões sociais [...]. (D.2.2)

O objetivo principal do estágio PSF é mostrar a importância e a

abordagem da atuação do fisioterapeuta na estratégia, levando o aluno a vivenciar o

SUS.

[...] é levar o aluno pra atender, pra trabalhar, pra estagiar dentro do SUS, pra ele perceber quais as áreas e como nós podemos atender dentro do SUS, [...] e junto com isso nós estamos iniciando um trabalho de criação científica, nós estamos começando a produção de artigos, mostrando a importância do profissional fisioterapeuta dentro da Saúde Pública. (D.2.2)

No entanto, estratégias de mudanças, com a inserção e vivência do

estudante no sistema de saúde já vêm sendo implantadas. O AprenderSUS busca

contribuir para essa realidade. Como já abordado, uma instituição já disponibiliza

estágio no PSF e outra pretende incluí-lo no novo currículo, além de já ter tido uma

experiência de trabalho multiprofissional e interdisciplinar nas UBS, como relatado

por Trelha e Santos (2003). Apenas interesse em incorporar às práticas de estágio,

a vivência no sistema de saúde, não garantem sua consolidação, uma vez que

Schmidt (2002) já havia observado este interesse em 2001, e após quatro anos

pouco foi modificado.

O ensino continua centrado no hospital e clínica com recursos

tecnológicos avançados. Segundo Rosa (1994) professores e alunos são resistentes

à idéia de sair dos hospitais terciários para treinamento em unidades de menor

complexidade, a autora lembra que não se pode esquecer que a graduação busca

formar pessoal para atuar nas diversas situações reais do exercício profissional. No

caso da Fisioterapia a situação é complicada, pois não se vê no SUS um grande

Page 154: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 6 153

empregador, uma vez que esta ainda não faz parte do quadro profissional

obrigatório da rede de serviços.

Page 155: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 7 Conclusões

“A verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas, mas em

escapar às idéias antigas”. John Maynard Keynes

Page 156: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 7 155

A inserção do fisioterapeuta em equipes do Programa Saúde da Família

acontece conforme a necessidade e realidade locais. Em Londrina este profissional

teve seu ingresso no PSF devido uma demanda específica, o grande contingente de

indivíduos acamados encontrado pelas ESF. Esta forma de inclusão influenciou a

configuração do atendimento prestado, porém o número de profissionais não

conseguiu abranger toda a demanda apresentada, levando os profissionais a se

adaptarem. Esta inserção, também, não foi seguida de uma organização e

padronização no atendimento, fato observado pela ausência de uma diretoria

específica para a Fisioterapia e pela deficiência estrutural. Conseqüentemente cada

profissional, inicialmente, desenvolveu atividades de acordo com suas

características pessoais e facilidades encontradas.

A atuação do fisioterapeuta no PSF de Londrina orientou-se

predominantemente às demandas curativas, como acompanhamentos e orientação

de indivíduos acamados, tratamento de crianças asmáticas e resolução de

demandas curativas diversas. Em algumas UBS o fisioterapeuta conseguiu

desenvolver atividades coletivas preventivas e promocionais, mas essa atuação foi

determinada mais pelas características da comunidade e do profissional em

particular, que por uma reorientação do serviço.

O perfil profissional do fisioterapeuta do PSF encontrado foi o de um

profissional crítico-reflexivo, engajado e comprometido socialmente. Algumas

características gerais demonstraram que este profissional deve ter: empatia e

facilidade de comunicação, capacidade de trabalho em grupo, criatividade e

iniciativa, liderança e flexibilidade, visão integral do ser humano, conhecimento sobre

o SUS e formação generalista.

Page 157: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Capítulo 7 156

Os principais conflitos vivenciados pelos fisioterapeutas no ingresso no

PSF relacionaram-se à parte estrutural e falta de profissionais no serviço. Observou-

se que a mudança de ambiente de trabalho, representada pelo abandono da clínica

ou consultório em favor do ambiente domiciliar, foi um fator a mais de adaptação dos

profissionais. No geral, os profissionais não tiveram grandes dificuldades nesta

transição, o que pode ser justificado, em grande parte, pelas características gerais

necessárias poderem ser desenvolvidas individualmente ou na prática profissional

pessoal.

Apesar de a formação preocupar-se com a integralidade e formação

direcionada ao SUS, observou-se que ocorrem deficiências nesta formação. A

graduação busca a formação de um fisioterapeuta generalista e crítico-reflexivo, mas

as metodologias de ensino e os campos de estágio contribuem para uma formação

que valoriza a especialização do conhecimento, centrada na doença e com

metodologias baseadas na transmissão de conhecimentos. Algumas iniciativas

buscaram inserir o acadêmico na rede de serviços municipais e no PSF, porém são

iniciativas pontuais. As mudanças ocorridas situaram-se no plano das inovações,

carecendo de transformações que possam realmente corroborar a mudança no

objeto de trabalho do fisioterapeuta, deslocando-o da doença para a saúde.

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Considerações finais

“Caminhar Vem vamos embora que esperar não

é saber Quem sabe faz a hora não espera

acontecer” G. Vandré

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Considerações finais 158

Este estudo analisou as percepções encontradas nas entrevistas de

fisioterapeutas e docentes. Percepções de determinados atores podem não ter sido

identificadas, por limitações metodológicas da entrevista semi-estruturada, por

possíveis deficiências de sensibilidade do instrumento, na sua aplicação ou na

exploração do tema pelo pesquisador, tanto no decorrer das entrevistas como no

momento de análise.

À medida que a pesquisa se desenvolvia ocorreu uma maior aproximação

entre pesquisador e a temática, possibilitando maior aprofundamento. A

categorização empírica, inerente à metodologia escolhida, buscou a compreensão

do objeto de pesquisa e das questões norteadoras. Vale lembrar que, devido à

natureza da análise de conteúdo temática, as definições dos temas e categorias são

resultados de elaboração e análise deste autor, destituído de qualquer pretensão à

neutralidade, embora, imbuído do sentimento de contribuir legitimamente para maior

aproximação cognitiva do objeto estudado.

O Programa Saúde da Família vem provocando uma “revolução” na

atuação profissional e estruturação do trabalho em saúde. Conseqüentemente

ocorre a necessidade de adequação dos recursos humanos, indivíduos cuja

formação, na maioria das vezes, se deu no modelo tecnicista e biologicista, e que

entram em confronto com uma prática desafiadora, a da integralidade. Fruto deste

processo observa-se, ainda, muitos profissionais que não transformaram suas

condutas, reproduzindo o modelo em que foram formados.

A Fisioterapia vem encontrando um espaço de atuação amplo dentro da

Saúde Coletiva, em especial nas ESF, porém muitas barreiras ainda são impostas a

essa nova prática. O profissional precisa focar sua atenção no indivíduo e na saúde

como qualidade de vida, não se quer dizer com isso, que se deva ignorar todo o

Page 160: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Considerações finais 159

conhecimento acumulado em relação à terapia e reabilitação, pois apesar da

necessidade em considerar a saúde de maneira ampliada, como qualidade de vida,

a doença, a deficiência e as limitações também fazem parte da existência humana.

O que não pode ocorrer é a permanência de uma atenção voltada exclusivamente a

estes aspectos, sem considerar o indivíduo, seu contexto, e sua condição de sujeito.

Em sua inserção no PSF, o fisioterapeuta deve também mudar sua

concepção de saúde e de assistência. Para que isso ocorra de forma mais natural,

as instituições formadoras são peças fundamentais no processo. Os professores

possuem papel privilegiado na formação, uma vez que são vistos como exemplos,

imagem-objeto e identidade profissional idealizada pelos estudantes. As IES e o

SUS precisam estabelecer pactuações para que o aparelho formador esteja

condizente com a realidade do sistema de saúde nacional. As diretrizes curriculares

vieram somar, e as mudanças, apesar de tímidas, vão ao encontro de uma atenção

mais integral. Ainda são necessárias mudanças profundas na sociedade, nos alunos

e docentes, pois se valoriza acentuadamente uma atenção especializada,

hospitalocêntrica e medicalizada.

Para atuar no PSF o fisioterapeuta deve desenvolver competências de

trabalho em equipe, criatividade, liderança, comunicação, autonomia, dentre outras,

bem como ter uma formação humana, generalista e com visão integral. A

graduação, em seu papel formador, deve prover condições para que o estudante

possa desenvolver suas capacidades e alcançar as competências necessárias. Para

tanto é importante a adoção de metodologias de ensino-aprendizagem mais ativas,

centradas no aluno, além de uma maior articulação com o serviço e a comunidade.

É de importância fundamental a qualificação docente, uma vez que a maioria dos

professores foi formada no modelo que se busca superar.

Page 161: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Considerações finais 160

A formação profissional não se restringe à graduação, cada vez mais se

percebe a busca por cursos de pós-graduação ou aperfeiçoamento na Fisioterapia.

Em relação a atuação no PSF, ainda é deficiente a disponibilidade de vagas para

fisioterapeutas em residências multiprofissionais em saúde da família. Também a

educação permanente e continuada são estratégias que necessitam de

consolidação para que a atuação dos profissionais esteja mais adequada às

necessidades da população e do Sistema Único de Saúde.

Será difícil alcançar uma formação generalista enquanto a especialização

e compartimentalização do saber forem supervalorizadas. Também não se pode

confundir aquela formação com uma atuação simplista e desqualificada, nem negar

a importância dos avanços no conhecimento decorrentes da especialização e da

pesquisa. O profissional generalista não deve ser apenas aquele que sabe um

pouco de tudo, mas aquele que considera em sua atuação o indivíduo em seu

contexto, analisando e abordando as diversas dimensões que influem na produção

da saúde. Não se pretende, nem seria ideal, extinguir as especialidades, mas

inverter a lógica e a relação generalista/especialista.

Enfim, o processo começou e as mudanças em direção a uma concepção

mais ampla de saúde e uma atuação mais integral já estão em debate, mas a

caminhada é longa, e as forças contrárias são fortes. A ausência da categoria na

arena política se reflete na escassez de campos de trabalho e a abertura

exponencial de cursos de graduação já se reflete no aumento da competitividade e

precarização do trabalho.

A Fisioterapia ainda precisa se consolidar no PSF, e os profissionais

devem assumir uma atuação mais integral. A formação não pode continuar omissa a

Page 162: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Considerações finais 161

este novo campo de atuação e de estágio, preparando realmente seus egressos

para uma atuação em todos os níveis de atenção.

Como a atuação do fisioterapeuta no PSF ainda é incipiente, outros

estudos ainda são necessários. Como dito inicialmente a presente pesquisa nunca

pretendeu esgotar o assunto, o importante é estimular discussões acerca da prática

e formação universitária do fisioterapeuta. Muitas questões ainda precisam ser

respondidas. Quais as melhorias nos níveis de saúde da população com a atuação

do fisioterapeuta no PSF? E o papel do acadêmico nesta transformação de

paradigmas? Como assumir a integralidade eixo estruturante na formação e prática

do fisioterapeuta? Como andam as mudanças na formação em Fisioterapia?

Algumas questões surgem ao término deste estudo, outras deverão surgir

nas rodas de discussão e na reflexão da própria prática...

Page 163: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Referências

“Posso não concordar com uma única palavra do que dizeis, mas

defendereis até a morte o direito de dizê-la”.

Voltaire

Page 164: A FISIOTERAPIA NO PROGRAMA SAÚDE DA

Referências 163

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Apêndices

“Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.”

Fernando Pessoa

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APÊNDICE 1

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,___________________________________________________________________,

consinto em participar da pesquisa “O Fisioterapeuta no Programa Saúde da Família: a experiência de Londrina”. Essa pesquisa tem o objetivo de “Analisar a inserção e a prática do

fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família, do serviço de Atenção Básica do município de

Londrina, e como as competências e habilidades necessárias para sua atuação estão sendo

trabalhadas na formação universitária”. Entendo que serão feitas perguntas a respeito de minha vida profissional, minha formação, e

estou ciente de que as informações serão confidenciais, e os resultados deste trabalho serão

divulgados de forma anônima e global. Sei também que não precisarei efetuar qualquer pagamento.

Em caso de dúvidas sobre esta pesquisa ou minha participação, posso esclarecê-las com o

próprio pesquisador, Sr. Douglas Luciano Lopes Gallo, pelos telefones 3347 5958 e 9942 0000 e e-

mail: [email protected]. Entendo que tenho a liberdade de aceitar ou não responder às

questões da entrevista e me recusar a participar no momento em que quiser, sem prejuízo para mim

ou minha família. O mesmo se aplica a algum documento que me seja solicitado.

Autorização: _________________________________________________

Londrina, ___/___/_____.

O pesquisador se compromete a conduzir todas as atividades desta pesquisa de acordo com os termos do presente Consentimento Livre e Esclarecido. Assinatura: __________________________________________________

Londrina, ___/___/_____.

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175

APÊNDICE 2

ROTEIRO DE ENTREVISTA – FISIOTERAPEUTAS DO PSF Perguntas sobre o entrevistado:

• Nome • Idade • Formação acadêmica (local, tempo, titulação) • Atuação profissional (tempo) • Trabalhos anteriores

Fale-me sobre o início de sua atividade profissional (quais eram suas áreas de

interesse, perspectivas, dificuldades).

Fale-me sobre sua incorporação no serviço público e a equipe do PSF, e seu

processo de capacitação.

Como você vê a assistência fisioterapêutica hoje?

Como você vê a assistência fisioterapêutica, no futuro?

Como você vê o SUS?

Como você vê a atuação da fisioterapia no SUS, e no PSF?

O que você considera importante para a atuação do fisioterapeuta no PSF

(habilidades e competências)?

Gostaria de fazer mais algum comentário?

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APÊNDICE 3

ROTEIRO DE ENTREVISTA – DOCENTES E COORDENADORES Perguntas sobre o entrevistado:

• Nome • Idade • Formação acadêmica (local, tempo, titulação) • Atuação profissional (tempo)

Como você vê a assistência fisioterapêutica hoje?

Como você vê a assistência fisioterapêutica, no futuro?

Quais as habilidades e competências que o egresso tem?

Como tais competências e habilidades (o que os fisioterapeutas do PSF vão

levantar) estão sendo trabalhadas na graduação?

Como você vê o SUS?

Como você vê a atuação da fisioterapia no SUS, e no PSF?

Gostaria de fazer mais algum comentário?

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177

APÊNDICE 4

______________________________________________________________________ OFÍCIO DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS

Londrina, 20 de janeiro de 2005. Prezado Senhor: Solicitamos a V. Sª. a autorização para a realização do projeto de pesquisa “O fisioterapeuta na Atenção Básica de Londrina-Programa Saúde da Família: novas práticas, organização e representações dos Fisioterapeutas”, do mestrando Douglas Luciano Lopes Gallo, na Rede Municipal de Saúde de Londrina, com os fisioterapeutas que atuam no PSF. O referido estudo é baseado em uma metodologia qualitativa, e o projeto encontra-se em anexo. Certos de poder contar com vossa valiosa colaboração, nos colocamos à sua disposição para maiores informações: Marcio – fone (43) 9995 4321 ou e-mail [email protected] e Douglas – fone (43) 9942 0000; e-mail [email protected].

Atenciosamente,

Prof. Dr. MARCIO JOSÉ DE ALMEIDA Orientador

VISTO: Prof. Dr. DARLI ANTONIO SOARES Coordenador do Programa de Mestrado em Saúde Coletiva Ilmo Sr. Dr. SILVIO FERNANDES DA SILVA DD. Secretário Municipal de Saúde Londrina-PR

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APÊNDICE 5

______________________________________________________________________ OFÍCIO DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS

Londrina, 20 de novembro de 2004. Prezado Sr(a). Coordenador(a), Venho através deste solicitar a gentileza de permitir que Douglas Luciano Lopes Gallo, fisioterapeuta e mestrando em Saúde Coletiva/CCS, tenha autorização para coletar dados referentes à formação do fisioterapeuta na Instituição de Ensino Superior da qual V. Sª. responde como coordenador(a) do curso de Fisioterapia. Esta solicitação se refere ao estudo de sua dissertação, cujo objetivo é analisar a inserção e a prática do fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família, do serviço de Atenção Básica do município de Londrina, e como as competências e habilidades necessárias para sua atuação estão sendo trabalhadas na formação universitária. Desde já nos comprometemos com o anonimato das informações obtidas, pois os dados serão trabalhados globalmente. Contando com sua valiosa colaboração e colocando-nos a disposição para maiores esclarecimentos, agradeço.

Atenciosamente

Marcio José de Almeida Prof. Dr. Orientador da Dissertação de Mestrado

Ilmo(a). Sr(a). Prof(a). (nome de cada coordenador(a)) Coordenador(a) do Curso de Fisioterapia (nome da instituição) (nome da cidade)

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Anexos

“O erro do intelectual consiste em acreditar que se possa saber sem

compreender e principalmente sem sentir.” Gramsci

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ANEXO 1