a figura complexa de rey

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MIP em Psicologia / Clínica / Métodos de Diagnóstico e Orientação em Psicologia I 1 2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins A FIGURA COMPLEXA DE REY - OSTERRIETH DESCRIÇÃO Este teste, que permite havaliar as capacidades de organização visuo-espacial (percepção) e o planeamento e desenvolvimento de estratégias relacionadas, foi criado por Rey em 1941 e desenvolvido por Osterrrieth em 1944. O objectivo consiste em compreender se a existência de transtornos mnésicos se deve a uma desorganização perceptiva, por isso, antes de se pedir a reprodução da figura, comprova-se se o paciente chegou a captar a sua organização gráfica de forma inteligível. André Rey, apresentou uma prova que visa essencialmente avaliar a organização mental bem como a percepção e memoria visuais de indivíduos a partir dos 4 anos. A prova apresentada consiste em copiar um desenho com ausência de significado evidente (repetindo-se depois o processo por memória), fácil realização gráfica e estrutura de conjunto suficientemente complicada de forma a implicar uma actividade perceptiva analítica e organizadora, e posterior reprodução. Na prova, valoriza-se o nível de organização, a exactidão, e o tempo empregue ne execução da cópia. Consoante a pontuação obtida na copia e reprodução de memoria, pode-se analisar o tipo de copia do individuo, o seu percentil relativamente a população portuguesa por exemplo; verificar qualquer dificuldade de memoria ou algum desvio da norma, etc. Avalia a capacidade de organização perceptivo-motora, a atenção e a memória visual. É uma prova bastante utilizada em contexto clínico, mais propriamente na avaliação da estrutura espacial e da organicidade dos défices manifestados. Apresenta duas figuras, A e B, das quais a figura B deve ser aplicada a crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 8 anos, ou adultos com suspeita grave de

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  • MIP em Psicologia / Clnica / Mtodos de Diagnstico e Orientao em Psicologia I 1

    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    A FIGURA COMPLEXA DE REY - OSTERRIETH

    DESCRIO

    Este teste, que permite havaliar as capacidades de organizao visuo-espacial

    (percepo) e o planeamento e desenvolvimento de estratgias relacionadas, foi criado

    por Rey em 1941 e desenvolvido por Osterrrieth em 1944. O objectivo consiste em

    compreender se a existncia de transtornos mnsicos se deve a uma desorganizao

    perceptiva, por isso, antes de se pedir a reproduo da figura, comprova-se se o

    paciente chegou a captar a sua organizao grfica de forma inteligvel.

    Andr Rey, apresentou uma prova que visa essencialmente avaliar a

    organizao mental bem como a percepo e memoria visuais de indivduos a partir

    dos 4 anos.

    A prova apresentada consiste em copiar um desenho com ausncia de

    significado evidente (repetindo-se depois o processo por memria), fcil realizao

    grfica e estrutura de conjunto suficientemente complicada de forma a implicar uma

    actividade perceptiva analtica e organizadora, e posterior reproduo. Na prova,

    valoriza-se o nvel de organizao, a exactido, e o tempo empregue ne execuo da

    cpia.

    Consoante a pontuao obtida na copia e reproduo de memoria, pode-se

    analisar o tipo de copia do individuo, o seu percentil relativamente a populao

    portuguesa por exemplo; verificar qualquer dificuldade de memoria ou algum desvio da

    norma, etc.

    Avalia a capacidade de organizao perceptivo-motora, a ateno e a memria

    visual. uma prova bastante utilizada em contexto clnico, mais propriamente na

    avaliao da estrutura espacial e da organicidade dos dfices manifestados.

    Apresenta duas figuras, A e B, das quais a figura B deve ser aplicada a crianas

    com idades compreendidas entre os 4 e os 8 anos, ou adultos com suspeita grave de

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    degradao mental, e a figura A que deve ser aplicada a indivduos com idades

    superiores a 5 anos.

    Figura A

    Figura B

    Assim, a Figura Complexa de Rey uma figura geomtrica complexa composta

    por um retngulo grande, com sectores horizontais e verticais, duas diagonais, e

    detalhes geomtricos adicionais, dentro e fora do retngulo grande.

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    A aplicao do teste simples, mas a avaliao e a interpretao de resultados

    um pouco mais complexa.

    TEMPO DE APLICAO

    Mais ou menos 10 minutos.

    MATERIAL

    Deve-se dispor de:

    Alguns lpis de cores diferentes (lpis de minas bem afiadas, meia dzia bastam);

    Duas folhas de papel branco A5 (das quais uma no deve estar visvel);

    Folha do Modelo da Figura (que se encontra na ltima pgina deste documento);

    Folha de Cotao da Figura (que se encontra na penltima pgina deste documento);

    Manual (para proceder s cotaes e clculo dos percentis);

    Cronmetro para medir os tempos de execuo.

    prefervel utilizar os lpis de cor em vez de canetas de pontas de feltro, j que

    estes premitem ainda conhecer aspectos como a tonicidade e a tenso corporal postas

    no movimento ao realizar o traado.

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    PROCEDIMENTO

    Reproduo por Cpia

    O modelo da figura a apresentar ao sujeito examinado est impresso numa folha

    de papel de formato A5, que deve ser colocada horizontalmente, sobre a mesa, em

    frente do sujeito. D-se-lhe uma folha de papel branco de dimenses iguais. O sujeito

    poder, caso queira, mover a sua folha de papel, mas no pode mover a folha do

    modelo (contido isto no deve ser dito para no induzir esse comportamento).

    Pede-se ao examinando para copiar a figura, o melhor e o mais depressa que

    puder. Ao mesmo tempo que isto se pede, entrega-se um dos lpis de cor ao sujeito.

    Assim que ele comea a desenhar comea-se a contar o tempo.

    Muda-se o lpis cada vez que o sujeito desenha cada uma das estruturas

    grficas que compem a figura. Faz-se isto estendendo-lhe o novo lpis e retirando

    activamente o anterior, e evita-se qualquer tipo de conversa pois o tempo est a ser

    cronometrado.

    Cada vez que se retira um lpis, deve colocar-se parte, conservando a ordem

    pela qual foram retirados. Cada lpis usado no se volta a dar ao sujeito. O objectivo

    disto o de se puder identificar a sequncia de cores usadas, ou seja, por onde este

    comeou o seu desenho, o que desenhou primeiro, a seguir, etc, para podermos

    depois caracterizar o Tipo de Execuo.

    Se, usados os lpis de que se dispem, o examinado ainda no tiver concluido a

    figura, no se retira o ltimo lpis, premitindo-se que conclua o seu desenho com essa

    mesma cor.

    Escreve-se nessa folha a palavra Cpia, para se poder diferenar da execuo

    seguinte. Anota-se tambm o nome do sujeito e a idade ( til que a data de

    nascimento seja j um dado conhecido aquando da realizao das entrevistas iniciais).

    Coloca-se a data em que a prova est a ser realizada.

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    Tempo de intervalo

    Quando este acaba de desenhar desliga-se o cronmetro e v-se o Tempo de

    Execuo, que deve ser anotado na folha em que o sujeito desenhou.

    Retiram-se imediatamente da frente do sujeito o modelo e a folha, tendo o

    cuidado de os guardar no deixando a figura vista.

    Ao mesmo tempo conta-se discretamente 3 minutos pelo relgio (o objectivo

    iniciar ao fim desse tempo a reproduo por memria). Com os lpis que esto de lado,

    sempre respeitando a ordem pela qual foram retirados, faz-se um pequeno risco com

    cada um num dos cantos dessa folha (para mais tarde se saber a ordem em que foram

    usados).

    Incia-se ento com o sujeito uma pequena conversa adequada ao

    preenchimento dos 3 minutos que entretanto esto a ser contados. Muitas vezes esta

    faz algum comentrio sobre o desenho que realizou, ou sobre as suas capacidades

    para o desenho. Deve ter-se em conta que o tipo de conversa a manter nesse

    momento no deve prejudicar a interrupo que dali a momentos se vai ter de fazer,

    evitando por isso algum assunto mais implicativo.

    Reproduo por Memria Imediata

    Ao fim dos 3 minutos interrompe-se a conversa, e sem aviso prvio, coloca-se

    rapidamente sobre a mesa uma nova folha brancoa formato A5 (esta deve tambm ser

    posta horizontalmente frente do sujeito).

    Pede-se-lhe agora que desenhe a figura que desenhou h pouco, o melhor que

    souber e o mais depressa que puder. Se o sujeito comentar que no se lembra ou no

    sabe diz-se que faa o melhor que puder. No se alimentam conversas de forma a no

    prolongar mais o tempo de intervalo.

    Proce-se eno como da primeira vez, a diferena que agora a folha do modelo

    j no mostrada ao sujeito e ele deve reproduzir a figura conforme se lembrar.

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    Ao entregar os lpis a ordem pela qual se vo dando as cores no deve ser a

    mesma que se usou da primeira vez, para evitar que isso possa auxiliar a

    memorizao.

    Anotam-se tambm na folha o Tempo de Execuo e a ordem pela qual as cores

    foram usadas. Escreve-se a palavra Memria, o nome do sujeito e a idade. Coloca-se

    tambm a data em que a prova est a ser realizada.

    Reproduo por Memria Tardia

    Quando a memria tardia tambm avaliada, solicita-se ao examinando que

    reproduza a figura novamente aps 30 minutos. Neste caso o examinador deve estar

    atento para no utilizar outros testes com memorizao de figuras no intervalo entre a

    aplicao da memria imediata e da memria tardia.

    O procedimento idntico ao anterior, escrevendo-se agora na folha Memria

    Tardia.

    COTAO (Pontos)

    Utiliza-se a Folha de Cotao da Figura (que se encontra na ltima pgina deste

    documento).

    A cotao dos Pontos faz-se de acordo com as instrues do Manual, e a

    atribuio de pontos tem a ver com a correco da execuo, tal que:

    A um elemento da figura que est correcta e completamente desenhado e que se encontra no stio certo atribui-se o maior nmero de pontos;

    A um elemento da figura que est correcta e completamente desenhado mas que se encontra no stio errado, bem como a um elemento que est

    incorrecta ou incompletamente desenhado mas que se encontra no stio

    certo, atribui-se um menor nmero de pontos;

  • MIP em Psicologia / Clnica / Mtodos de Diagnstico e Orientao em Psicologia I 7

    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    A um elemento que est ausente da figura atribui-se 0. Assim, atribuiem-se pontos conforme os seguintes casos:

    Figura correcta: o Bem colocada 2 pontos

    o Mal colocada 1 ponto

    Distorcida ou incompleta, mas reconhecvel: o Bem colocada 1 ponto

    o Mal colocada ponto

    Ausente ou irreconhecvel 0 pontos Desta forma, para o total dos 18 elementos que compem a figura, o nmero

    mnimo de pontos que se pode obter 0, e o nmero mximo 36.

    A atribuio dos pontos, de forma a cotar segundo os elementos da figura se

    encontram correcta ou incorrectamente reproduzidos, bem ou mal colocados, faz-se

    tendo em ateno os elementos que compem a figura e que esto assinalados (a

    cores) na tabela abaixo.

    Elementos que Compem a Figura Complexa de Rey

    1 2 3

    4 5 6

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    ANLISE

    A anlise da Figura Complexa de Rey resulta da sntese integrada de todos

    estes aspectos.

    1. Verbalizaes, Corporalidade e Comportamentos (aspectos qualitativos do comportamento do examinado durante a situao de prova);

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    2. Qualidade da Reproduo - Atravs da anlise percentlica dos Pontos (Cpia e Memria). Este aspecto deve sempre ser apreciado em conjunto com o seguinte,

    reflectindo a clareza de anlise e sntese espao-perceptivas, associadas capacidade

    grfica de execuo motora fina;

    3. Rapidez de Reproduo - Atravs da anlise percentlica dos Tempos de Execuo (Cpia e Memria). Tal como o anterior, este aspecto deve sempre ser

    apreciado em conjunto com esse, sendo sensvel a aspectos comportamentais tais

    como situaes de impulsividade, meticulusidade ou perciosismo;

    4. Relao entre a Qualidade e a Rapidez da Reproduo - Entre os percentis dos Pontos e dos Tempos - (Cpia e Memria)), como compreenso da adequao aos

    padres do desenvolvimento grafo-perceptivo relativos s vrias faixas etrias;

    5. Relao entre a Cpia e a Memria Entre os parmetros acima mencionados, nas figuras executadas nas duas partes do teste. Detecta factores tais

    como capacidades de ateno ateno, anlise,, e estruturao perceptiva, e perdas

    do rendimento mnsico de cariz patolgico;

    6. Estratgias de Organizao da Informao Perceptiva (Funo Executiva) - Atravs dos Tipos de Reproduo, como formas perceptivas de aceder adequao

    do desenvolvimento gentico-evolutivo;

    7. Projeco Corporal - Atravs da organizao do desenho na folha de papel com implicao das coordenadas espaciais que estruturam o corpo prprio, tendo em

    ateno os aspectos ligados organizao dos elementos: esquerda/direita,

    interior/exterior, em cima/em baixo, como formas de aceder projeco de uma

    delimitao corporal, do espao, e da lateralidade;

    8. Tipo de Erros de Execuo Atravs das deformaes primitivas, como formas de deteco de organicidade ou psicopatologia.

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    1 . Verbalizaes, Corporalidade e Comportamentos

    Aspectos do comportamento do sujeito, no decorrer da prova, que se analisam

    em conjunto com os restantes resultados. Assim, entre outros aspectos, deve-se

    prestar ateno aos seguintes elementos:

    Comentrios, exclamaes, perguntas, e outras verbalizaes; Postura fsica (mais ou menos propcia facilitao dos movimentos ao

    desenhar);

    Tenso muscular (mais ou menos facilitadora e que informa sobre a facilitao dos movimentos ao desenhar);

    Coordenao motora fina (grau de habilidade na coordenao inter-digital que influencia o processo de escrita);

    Lateralidade (que informa sobre a mo dominante na escrita lateralidade de uso);

    Presena de sincinias de imitao (movimentos contra-laterais parasitas que se apresentam durante a escrita e esto associados a

    imaturidade psicomotora);

    Outros comportamentos (podem informar sobre aspectos emocionais ou projectivos, e devem ser examinados em relao aos restantes elementos

    concomitantes com o momento em que estes se manifestaram).

    2 . Qualidade da Reproduo (Cpia e Memria)

    Faz-se atravs da observao dos percentis (que se encontram por observao

    da tabela constante do Manual, e que esto construidos em relao s diversas idades

    a partir dos 4 anos). Assim:

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    Um percentil igual a 50 corresponde mdia. Um resultado a que corresponda o percentil 50 um resultado de qualidade mdia;

    Um percentil inferior a 50 corresponde a um resultado inferior mdia, portanto, um resultado de qualidade inferior;

    Um percentil superior a 50 corresponde a um resultado superior mdia, portanto, um resultado de qualidade superior.

    3. Rapidez da Reproduo (Cpia e Memria)

    Faz-se faz-se tambm atravs da observao dos percentis (que se encontram

    tambm por observao da tabela respectiva, constante do Manual, e que esto

    construidos em relao s diversas idades a partir dos 4 anos). Assim:

    Um percentil igual a 50 corresponde mdia. Um tempo a que corresponda o percentil 50 um resultado que se encontra dentro da

    mdia;

    Um percentil inferior a 50 corresponde a um resultado inferior mdia, portanto, o sujeito demorou-se muito tempo a executar a figura, foi muito

    lento;

    Um percentil superior a 50 corresponde a um resultado superior mdia, portanto, o sujeito demorou-se pouco tempo a executar a figura,

    foi muito rpido.

    4. Relao entre a Qualidade e a Rapidez da Reproduo (Cpia e

    Memria)

    Faz-se atravs da comparao dos percentis (anteriormente encontrados e

    analisados). Assim, pode acontecer:

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    Boa Qualidade e Rapidez de Execuo So os resultados de melhor nvel;

    Boa Qualidade e Lentido de Execuo Pode ser devida a meticulosidade, perfeccionismo e/ou a aspectos defensivos de carcter

    rgido;

    M Qualidade e Rapidez de Execuo Pode ser devida a impulsividade, impacincia, disperso da ateno, ou dificuldade de

    concentrao.

    M Qualidade e Lentido da Execuo Pode ser devida a dificuldades perceptivas ou de execuo perceptiva.

    5. Relao entre a Cpia e a Memria

    Cpia e Memria de boa qualidade A situao mais desejvel, nos parametros da normalidade, tanto melhor quanto melhor for a qualidade e a rapidez

    da execuo.

    Cpia melhor que a Memria Indica dificuldades de memorizao que devem ser integradas em conjunto com os outros aspectos j analisados, devendo ser

    prestada uma ateno especial capacidade de ateno e concentrao do sujeito.

    Assim, a elaborao perceptiva pode ser insuficiente por falta de conhecimentos

    e de mtodos podendo destinguir-se, entre os sujeitos carentes de instruo, os que

    apresentam perturbaes precoces do desenvolvimento intelectual, e aqueles em que

    se pode supor uma diminuio da capacidade de elaborao perceptiva, j que

    anteriormente eram capazes de um nvel de actividade normal. Noutros casos,

    especificamente a reproduo de memria que est alterada, podendo a falar-se em

    dficit mnsico.

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    6. Estratgias de Organizao Perceptiva (Funo Executiva) -

    Tipo de Reproduo

    Osterrieth analisou os desenhos de acordo com o mtodo utilizado pelo paciente

    para desenhar, bem como erros de cpia especficos. Considerando a rapidez da cpia

    e a preciso dos resultados, identificou 7 tipos diferentes de formas do sujeito realizar a

    figura:

    1) Tipo I - Construo sobre a Estrutura - O sujeito comea pelo retngulo principal e os detalhes so adicionados em relao a este;

    Exemplo 1 Construo sobre a Estrutura

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    2) Tipo II - Detalhes englobados na Estrutura (Tipo Intermdio) - O sujeito inicia com um detalhe ligado ao retngulo principal, ou faz o retngulo incluindo nele

    um outro detalhe e depois termina a reproduo do retngulo;

    Exemplo 2 Detalhes Englobados na Estrutura

    3) Tipo III - Contorno Geral da Figura - O sujeito comea com o contorno geral da figura, sem diferenciar o retngulo central e ento adiciona os detalhes internos;

    Exemplo 3 Contorno Geral da Figura

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    4) Tipo IV - Justaposio de Detalhes - O sujeito realiza justaposio de detalhes um a um, sem uma estrutura organizada;

    Exemplo 4 Justaposio de Detalhes

    5) Tipo V - Detalhes sobre Fundo Confuso - O sujeito copia partes do desenho sem nenhuma organizao;

    Exemplo 5 Detalhes sobre Fundo Confuso

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    6) Tipo VI - Reduo a um Esquema Familiar - O sujeito substitui o desenho por um objeto semelhante, tal como um barco ou uma casa, ou uma figura humana;

    Exemplo 6 Reduo a um Esquema Familiar

    7) Tipo VII - Reproduo Irreconhecvel / Garatuja - O desenho uma garatuja, na qual no se reconhecem os elementos do modelo.

    Exemplo 7 Reproduo Irreconhecvel / Garatuja

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    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    Tipos de Reproduo por Idades:

    Os Tipos de Reproduo evoluem, segundo Osterrieth, ao largo de trs etapas:

    Na primeira etapa, aos 4 anos, domina o tipo V, aparecendo o IV como secundrio. A percepo global e sinttica;

    Na segunda etapa, entre os 5 e os 11 anos, domina o tipo IV, acompanhado de elementos infantis, tais como deformaes por

    interpretao, desestruturao, repeties, confuses, simplificaes,

    insuficiente execuo grfica, e outras manifestaes infantis. At aos 7

    anos, aparece como secundrio tipo III, e, a partir da, o I e o II;

    A terceira etapa, a partir dos 10, 12 anos, aparecem apenas como dominantes reprodues do tipo I e II, surgindo o tipo IV como secundrio.

    Adultos - Na amostra de Osterrieth, 83% dos sujeitos do grupo controle de adultos seguiram os procedimentos do Tipo I e II, 15% o Tipo IV e nenhum usou o Tipo

    III.

    Crianas - Acima dos 7 anos, nenhuma criana utilizou os Tipos V, VI e VII, e a partir dos 13 anos, mais da metade das crianas seguiram os Tipos I e II. Nenhuma

    criana ou adulto produziu o tipo VII.

  • MIP em Psicologia / Clnica / Mtodos de Diagnstico e Orientao em Psicologia I 18

    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    7. Projeco Corporal

    A organizao do desenho sobre a folha de papel implica a utilizao das

    coordenadas espaciais que estruturam o corpo prprio.

    Assim, ter-se- ateno s organizaes que implicam estas coordenadas:

    Esquerda / Direita Implicam a lateralidade do sujeito:

    o Em relao a si prprio Observar a correco da correspondncia entre os elementos da figura que se encontram

    esquerda e direita, no modelo e na reproduo; Observar a

    ordem da reproduo (atravs da ordem das cores utilizadas) dos

    diversos elementos da esquerda para a direita, ou da direita para

    a esquerda;

    o Em relao ao outro Observar se a reproduo da figura executada correctamente ou em espelho. A esta caracterstica

    Reproduo em Espelho est geralmente associada a

    reproduo do tipo IV, a Justaposio de Detalhes. Nestes casos,

    muitas vezes, o sujeito desenha tambm os elementos da figura,

    da direita para a esquerda.

  • MIP em Psicologia / Clnica / Mtodos de Diagnstico e Orientao em Psicologia I 19

    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    Exemplo de Reproduo em Espelho

    Interior / Exterior Existncia de delimitao entre o interno e o externo. Importncia das reprodues com ou sem contornos fechados, e

    organizao dos elementos da figura que pode chegar a apresentar-se

    catica, reflectindo estes aspectos caractersticas associadas s da

    integridade ou disperso/fragmentao da imagem corporal.

    Em cima / em baixo Associada s caractersticas da reproduo em espelho.

  • MIP em Psicologia / Clnica / Mtodos de Diagnstico e Orientao em Psicologia I 20

    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    8. Tipo de Erros de Execuo

    Devem ser analisadas as formas pelas quais o sujeito errou na reproduo da

    figura, tendo em conta categorias mais frequentes de erro verificadas na execuo da

    prova, normais na infncia mas com caractersticas patolgicas numa progresso

    etria, conhecidas como deformaes primitivas.

    importante relacionar as deformaes com os restantes aspectos da anlise

    da figura, com o propsito de aferir do seu grau de normatividade, psicopatologia, ou

    organicidade (possveis danos neurolgicos).

    O critrio mais lato o da normalidade do aparecimento de deformaes nos

    traados de crianas pequenas, variando a severidade da patologia em funo directa

    da desestruturao da figura, com associao de caractersticas psicopatolgicas

    multiplicidade de elementos interpretativos associados; aspectos instrumentais

    relacionados com imaturidade grfica ou dificuldades de lateralizao; aspectos de

    dficit cognitivo relacionados com simplificaes; e caractersticas de organicidade

    associadas a rotaes ou perseverao de elementos, traados trmulos ou

    inacabados, ou disperso de elementos sofrivelmente reproduzidos enquanto formas

    individuais mas caoticamente dispostos no conjunto do traado.

    Deformaes Primitivas:

    1. Deformao por interpretao Detalhes da figura completados conforme a interpretao do sujeito;

    2. Deformao por ausncia de estruturao Acumulao catica de formas vagas, que podem contudo apresentar-se dentro de uma linha fechada,

    podendo alguns detalhes estar situados fora da figura;

  • MIP em Psicologia / Clnica / Mtodos de Diagnstico e Orientao em Psicologia I 21

    2007 / 2008 Mestre Ana Pina Martins

    3. Deformao por repetio Repetio estereotipada de um elemento da figura;

    4. Deformao por faltas de ateno Confuso total ou parcial de uns elementos da figura com outros, elementos colocados de forma invertida, rotao de

    elementos, zonas parciais de elementos da figura que se intersectam simplificando e

    confundindo o todo;

    5. Deformao por simplificao Execuo reducionista do desenho que reduzido a uma figura simples, com escamoteao, alterao ou ausncia de alguns

    dos seus elementos;

    6. Deformao por falta de competncia grfica Aspecto distorcido da figura provocado por tentativas de correco da forma ou das posies relativas dos

    elementos da figura que executou.

    7. Deformao por tendncia para a simetria Distoro, repetico ou escamoteao de elementos da figura, devida a uma alterao do traado geral

    conducente simetria do conjunto.

    __________________

    NOTA A sntese de todos os elementos avaliativos desta prova no deve ser esquecida, pois a sua integrao que permite a correcta contribuio para o

    diagnstico do paciente, bem como para o prognstico final.

    Assim, por exemplo, no caso de uma criana de 12 anos, em que a correco da

    reproduo por cpia seja abaixo da mdia (percentil 40), e a da memria se situe num

    nvel ainda inferior (percentil 15), se o tipo de reproduo empregue for de um nvel

    mais elevado em termos de organizao grafo-perceptiva (tipo III), este ltimo facto

    permite um prognstico mais favorvel, mesmo em face dos elementos anteriores. No

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    esquecer, no entanto, que os dados que esta prova fornece para a avaliao devem

    ser tambm, por sua vez, integrados na restante avaliao a que se houver procedido,

    e que esta ganha sentido como resposta s hipteses diagnsticas formuladas perante

    a histria do paciente at a elaborada.

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    Figura Complexa de Rey

    Folha de Cotao

    Nome:

    __________________________________________________________________

    Data do Nascimento: ___ / ___ / ___ Data do Exame: ___ / ___ / ___ Idade: _____

    CPIA MEMRIA

    Pontos: Total : _________ Percentil: _______

    Tempo: Total : _________ Percentil: _______

    Pontos: Total : _________ Percentil: _______

    Tempo: Total : _________

    Percentil: _______

    Tipo de Reproduo: _______________________ Tipo de Reproduo: _______________________

    Pontos Cpia Pontos Memria

    1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 9 9

    10 10 11 11 12 12 13 13 14 14 15 15 16 16 17 17 18 18

    Total Total

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