a familia do preso

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50 A FAMÍLIA DO PRESO: EFEITOS DA PUNIÇÃO SOBRE A UNIDADE FAMILIAR Yasmin Tomaz Cabral * Bruna Agra de Medeiros ** RESUMO O presente artigo tem como objetivo retratar a inaplicabilidade prática do princípio da personalização da pena, positivado constitucionalmente. Apesar da sanção penal (pena privativa de liberdade) não restringir diretamente a liberdade de terceiros os quais não colaboraram para a realização do delito, o faz de modo indireto. É possível perceber essa translação punitiva principalmente a partir da análise da dinâmica familiar do condenado. Aqueles que estão mais próximos afetivamente do agente, também sofrem de modo significativo com os efeitos da sanção nos âmbitos psicológico, social e financeiro. O preconceito, o medo e o desrespeito à dignidade humana são apenas algumas das dificuldades que os cercam durante todo o tempo do encarceramento e, ainda, depois da volta do detento ao lar. Além disso, destacam-se as proteções constitucionais referentes ao apenado e à sua família e explicam-se os aspectos do auxílio- reclusão. Palavras-chave: Sanção Penal. Pena privativa de liberdade. Família do preso. Efeitos sobre a família. 1 INTRODUÇÃO A pena privativa de liberdade retrata a punição mais grave existente dentro do sistema penal brasileiro. Em razão da severidade de suas implicações, tem feição subsidiária no que tange a sua aplicabilidade, ou seja, é tida como ultima ratio estatal. Essa característica tem o poder de limitar a capacidade incriminadora do Estado, haja vista restringir a atuação do Direito Penal para apenas quando nenhum outro meio de controle social conseguir tutelar adequadamente bens jurídicos relevantes para o indivíduo e para a sociedade 1 . O cárcere, na * Graduanda do curso de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN. ** Graduanda do curso de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN. 1 Nas palavras de ROXIN: ―El Derecho penal sólo es incluso la última de entre todas las medidas protectoras que hay que considerar, es decir que sólo se le puede hacer intervenir cuando fallen otros medios de solución social del problema —como la acción civil, las regulaciones de policía o jurídico-técnicas, las sanciones no penales, etc.—.‖ ROXIN, Claus. Derecho Penal: Parte General. Tomo I: Fundamentos. La estructura de la teoría del delito. 1ª ed. Trad.: Diego-Manuel Luzon Peña et. al. Madrid: Editorial Civitas, 1997. p. 65.

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  • 50

    A FAMLIA DO PRESO: EFEITOS DA PUNIO SOBRE A UNIDADE FAMILIAR

    Yasmin Tomaz Cabral*

    Bruna Agra de Medeiros**

    RESUMO

    O presente artigo tem como objetivo retratar a inaplicabilidade prtica

    do princpio da personalizao da pena, positivado

    constitucionalmente. Apesar da sano penal (pena privativa de

    liberdade) no restringir diretamente a liberdade de terceiros os quais

    no colaboraram para a realizao do delito, o faz de modo indireto.

    possvel perceber essa translao punitiva principalmente a partir da

    anlise da dinmica familiar do condenado. Aqueles que esto mais

    prximos afetivamente do agente, tambm sofrem de modo

    significativo com os efeitos da sano nos mbitos psicolgico, social

    e financeiro. O preconceito, o medo e o desrespeito dignidade

    humana so apenas algumas das dificuldades que os cercam durante

    todo o tempo do encarceramento e, ainda, depois da volta do detento

    ao lar. Alm disso, destacam-se as protees constitucionais referentes

    ao apenado e sua famlia e explicam-se os aspectos do auxlio-

    recluso.

    Palavras-chave: Sano Penal. Pena privativa de liberdade. Famlia

    do preso. Efeitos sobre a famlia.

    1 INTRODUO

    A pena privativa de liberdade retrata a punio mais grave existente dentro do

    sistema penal brasileiro. Em razo da severidade de suas implicaes, tem feio subsidiria

    no que tange a sua aplicabilidade, ou seja, tida como ultima ratio estatal. Essa caracterstica

    tem o poder de limitar a capacidade incriminadora do Estado, haja vista restringir a atuao

    do Direito Penal para apenas quando nenhum outro meio de controle social conseguir tutelar

    adequadamente bens jurdicos relevantes para o indivduo e para a sociedade1. O crcere, na

    * Graduanda do curso de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN.

    ** Graduanda do curso de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, UFRN. 1 Nas palavras de ROXIN: El Derecho penal slo es incluso la ltima de entre todas las medidas protectoras que

    hay que considerar, es decir que slo se le puede hacer intervenir cuando fallen otros medios de solucin social

    del problema como la accin civil, las regulaciones de polica o jurdico-tcnicas, las sanciones no penales, etc.. ROXIN, Claus. Derecho Penal: Parte General. Tomo I: Fundamentos. La estructura de la teora del delito. 1 ed. Trad.: Diego-Manuel Luzon Pea et. al. Madrid: Editorial Civitas, 1997. p. 65.

  • 51

    maioria dos casos, significa o prolongamento de uma excluso iniciada antes mesmo da

    entrada no estabelecimento prisional. Significa posicionar o indivduo margem da

    sociedade, colocando em perigo sua existncia social. Assim, por prejudicar de modo

    irreparvel a vida do apenado, deve ser utilizado de modo cuidadoso.

    inegvel que os malefcios oriundos da punio no acabam com o trmino da

    sano penal prevista na deciso do magistrado. Efetivamente, o encarcerado passa a ser

    considerado pela sociedade de maneira pejorativa e preconceituosa, de modo que toda a sua

    vida, durante e aps o cumprimento da pena, ser estigmatizada, o que vai corroborar para a

    sua excluso do convvio social.

    No se pode dizer ainda que aqueles os quais se relacionam diretamente com o

    indivduo condenado pena privativa de liberdade no sofrem com os reflexos de tal pena. O

    estigma acaba por se estender aos familiares que, em diversos aspectos, sofrem as

    consequncias da sano penal aplicada ao membro da famlia condenado. Concretamente,

    observam-se infinitas situaes no somente relativas ao estigma em que se d uma

    translao punitiva, isto , a expanso dos efeitos da punio queles que, de nenhuma forma,

    ajudaram na realizao do delito: a famlia do agente. Esses fatores provocam a reorganizao

    da unidade familiar em torno do instituto carcerrio, que passar a exercer seu poder

    disciplinar tambm sobre ela.

    , por isso, sobre as mencionadas implicaes da punio no mbito familiar que

    este artigo se desenvolve. Prope-se, ento, inicialmente, a realizar consideraes acerca da

    proteo constitucional garantida ao preso e famlia, explorando os seus conceitos.

    Posteriormente, ocorrero breves delineamentos a respeito da famlia do apenado e sobre o

    princpio da personalizao da pena. A seguir, sero explorados os diversos efeitos da punio

    sobre a unidade familiar e, por fim, os aspectos relativos ao auxlio-recluso.

    2 PROTEO CONSTITUCIONAL AO PRESO E UNIDADE FAMILIAR

    Inicialmente, faz-se mister ponderar sobre a supremacia da Constituio brasileira

    perante as leis infraconstitucionais, de modo que os preceitos legislativos regulamentados

    pelo Cdigo de Processo Penal, formulado em 1941, assim como outros hierarquicamente

    semelhantes possuem o condo de respeitar, de forma prioritria, a Lei Maior, bem como

    adequar-se s suas diretrizes via exerccio da atividade hermenutica.

  • 52

    Os direitos dos apenados foram definidos na Constituio Federal de 1988 e tambm

    por outros institutos, a exemplo da Lei de Execuo Penal, tendo em vista a definio

    constitucional que assevera o zelo ao princpio da dignidade da pessoa humana, conforme

    aduz o artigo 1, inciso III, da Carta Magna ptria.

    Em sntese, so direitos constitucionais assegurados ao preso:

    1) No ser preso fora das hipteses legais de priso;

    2) Imediata comunicao da priso e do lugar onde se encontra ao juiz competente e

    famlia do preso ou pessoa por ele indicada;

    3) Ser informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe

    assegurada a assistncia da famlia e de advogado;

    4) A identificao dos responsveis por sua priso ou por seu interrogatrio policial;

    5) Ao imediato relaxamento da priso ilegal;

    6) A liberdade provisria, com ou sem fiana, quando a lei a admitir.

    Conforme o artigo 41 da Lei de Execuo Penal (LEP), so direitos do preso:

    I - alimentao suficiente e vesturio;

    II - atribuio de trabalho e sua remunerao;

    III - Previdncia Social;

    IV - constituio de peclio;

    V - proporcionalidade na distribuio do tempo para o trabalho, o descanso e a

    recreao;

    VI - exerccio das atividades profissionais, intelectuais, artsticas e desportivas

    anteriores, desde que compatveis com a execuo da pena;

    VII - assistncia material, sade, jurdica, educacional, social e religiosa;

    VIII - proteo contra qualquer forma de sensacionalismo;

    IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

    X - visita do cnjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;

    XI - chamamento nominal;

    XII - igualdade de tratamento salvo quanto s exigncias da individualizao da

    pena;

    XIII - audincia especial com o diretor do estabelecimento;

    XIV - representao e petio a qualquer autoridade, em defesa de direito;

    XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondncia escrita, da leitura e

    de outros meios de informao que no comprometam a moral e os bons costumes;

    XVI - atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade

    da autoridade judiciria competente. (Includo pela Lei n 10.713 , de 13.8.2003).

    Pargrafo nico. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV podero ser suspensos

    ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

    Como se pode perceber, embora os apenados estejam em tal condio em virtude de

    cometerem uma conduta infratora e, via de regra, danosa ou ameaadora sociedade, existe a

    fundamentao detalhada de um conjunto de direitos, os quais podem por eles serem

    usufrudos e requisitados.

    Nessa perspectiva, havendo compilao normativa em prol da execuo dos direitos

    dos apenados, de se entender a extenso dessas seguridades s suas famlias, haja vista o

    vnculo indissocivel entre elas. Em outras palavras, h a necessidade de compreender que h

  • 53

    uma entidade familiar a ser preservada por trs das condutas transgressoras dos infratores, a

    qual no pode responder jurdica ou socialmente pelos verdadeiros autores dos crimes. Cabe

    s entidades pblicas, porm, averiguar a participao, a coautoria ou o nvel de influncia

    dos seus familiares, sendo estes ltimos passveis de responsabilizao criminal em casos

    afirmativos, mas no devendo ser sujeitos de sanes indevidas.

    Nesse sentido, tendo em vista os direitos dos transgressores estarem intrinsecamente

    associados aos de seus familiares, as garantias constitucionalmente asseguradas expressas

    acima so extensivas, de modo que esses possuem legitimidade para pleite-los frente s

    autoridades judiciais para favorec-los, ou, para obter a concretizao dos seus anseios

    pessoais dentro da legalidade jurisdicional.

    No entanto, estabelecer uma ntida relao entre o preso e seus familiares implica em

    relembrar a definio atualmente atribuda famlia, como uma instituio, a fim de

    delinearmos com preciso queles que so veridicamente detentores desses direitos. Desse

    modo, o Direito Constitucional ptrio compreendeu ser a famlia titular de especial proteo

    do Estado, conforme predispe o artigo 226 desse manual. Em relao ao Cdigo Civil

    vigente, afirma o ilustre doutrinador Slvio de Salvo Venosa (2008, p. 1) relativa temtica

    em aluso: o Direito Civil moderno apresenta como regra geral, uma definio restrita,

    considerando membros da famlia as pessoas unidas por relao conjugal ou de parentesco.

    Seguindo uma concepo biolgica, psicolgica e, sobretudo, sociolgica, na medida

    em que as sociedades evoluem dado o progressivo aumento de sua complexidade, tambm

    torna-se imprescindvel lembrar a amplitude do conceito da famlia, como pondera Maria

    Berenice Dias (2007, p. 30): existe uma nova concepo de famlia, formada por laos

    afetivos de carinho e de amor. Em sntese, figuram como detentores dos direitos extensivos

    aos presos no s os pais, ascendentes e descendentes advindos de consanguinidade ou

    relao matrimonial, mas tambm queles provenientes de unies estveis ou novas

    conformaes afetivas.

    Diante da estruturao do conceito moderno de famlia enquanto instituio jurdica,

    podemos compreender com maior clareza quais so as pessoas passveis de requererem seus

    direitos perante a condio de seu ente apenado ou, ainda, de pleitear pelos direitos dele na

    condio de parente ou posto semelhante.

    Postas tais especificaes, conseguimos compreender mais do que o conceito

    extensivo dos direitos da famlia do preso, mais informamo-nos, inclusive, a respeito do

    direito reivindicatrio desse, em funo dos princpios constitucionais de cidadania e

  • 54

    humanidade, assim como em decorrncia da inquestionvel problemtica do transgressor

    como elemento integrante da famlia e, sobretudo, contribuinte para a renda residencial.

    Em verdade, parcela dos infratores embora no significativa destina o rendimento

    proveniente do crime ao sustento da famlia (ou sua complementaridade). Isso justifica,

    portanto, a necessidade de recursos provindos da colaborao governamental, haja vista a

    subtrao monetria ocorrida e as dificuldades decorrentes desse fato. Partindo-se desse

    princpio e analisando a estrutura do nosso direito, compreende-se que esse abono advm da

    supremacia dos direitos constitucionais, os quais defendem a arguio de direitos

    concernentes ao preso sob o enfoque extensivo s famlias de modo a priorizar os direitos

    fundamentais do cidado.

    Nesse contexto de garantias constitucionalmente detalhadas aos componentes do

    sistema carcerrio brasileiro, bem como s suas famlias ou afetos que recebem tal ttulo

    imprescindvel mencionar a existncia dos direitos fundamentais supracitados, os quais por

    serem amplos sociedade atingem o pblico alvo desse estudo, a saber, os apenados e seus

    familiares. Assim sendo, dentre os preceitos descritos na Constituio Federal vigente

    relativos essa tal ressalva, destacam-se:

    Art. 5. Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,

    garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade

    do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos

    seguintes:

    I - homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta

    Constituio;

    II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude

    de lei;

    III - ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

    IV - livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o anonimato;

    V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, alm da indenizao

    por dano material, moral ou imagem;

    VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre

    exerccio dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de

    culto e a suas liturgias;

    VII - assegurada, nos termos da lei, a prestao de assistncia religiosa nas

    entidades civis e militares de internao coletiva;

    VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de crena religiosa ou de

    convico filosfica ou poltica, salvo se as invocar para eximir-se de obrigao

    legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa, fixada em lei;

    IX - livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de

    comunicao, independentemente de censura ou licena;

    Almeja-se, ademais, a preservao dos direitos fundamentais concernentes ao

    dispositivo III, na medida em que os Direitos Humanos, enquanto instituio, atua em prol da

    tutela desses direitos, como ocorre, por exemplo, nos procedimentos de segurana submetidos

  • 55

    aos visitantes nos dias apropriados, bem como aos prprios presos no interior do sistema

    carcerrio com o intuito de evitar constrangimentos, agresses ou situaes agressoras

    integridade fsica ou psicolgica dessas pessoas.

    3 A FAMLIA DO APENADO

    Para iniciar as discusses sobre os efeitos das sanes penais na unidade familiar,

    necessrio, primeiramente, traar algumas consideraes sobre o instituto da famlia e como

    ele se apresenta no contexto de um indivduo condenado a uma pena privativa de liberdade,

    seja ela de recluso ou de deteno.

    Atualmente, claro perceber que as famlias ocupam uma posio de notoriedade

    quando se discute o tema da criminalidade e da progressiva violncia urbana. Atribuem-se

    famlia diversos papeis dentro de tais questes, muitas vezes, contraditrios entre si. Nesse

    cenrio, tem se observado a famlia ora como um dos culpados no abandono de seus

    membros, ora como vtima ao azar da situao de pobreza, por exemplo.

    Imprescindvel notar a esse ponto que a famlia o ambiente primrio no qual o

    indivduo ir iniciar seu processo de desenvolvimento e socializao, isto , onde, pela

    primeira vez, ter relaes interindividuais e pessoais. Exerce, por isso, grande influncia na

    formao psicolgica e social de seus membros, justamente pelo fato de constituir o meio

    primitivo de transferncia de valores e condutas (SCHENKER; MINAYO, 2003).

    Dada a importncia do instituto familiar no processo de formao do indivduo,

    compreende-se tambm sua relevncia devido capacidade de fornecer cuidados necessrios

    a componentes incapacitados, tanto de forma temporria quanto de modo permanente. Nessa

    esteira, conclui o bispo Joo Carlos Petrini (2003, p. 43) que quanto mais frgeis os vnculos

    e os cuidados que a rede da solidariedade familiar oferece, tanto menores so as chances de

    integrao social para os seus membros. Percebe-se, assim, o imenso valor da unidade

    familiar para a vida de um condenado a uma pena a qual restringe sua liberdade, visto ser a

    famlia o maior liame que ele possui com a realidade fora do estabelecimento prisional

    (OLIVEIRA, 2010, p. 7).

    Partindo para a anlise da famlia do indivduo tido como criminoso, delimitam-se

    algumas caractersticas comumente encontradas no seu ambiente de desenvolvimento.

    Geralmente, as unidades familiares dos presos evidenciam uma dinmica disfuncional, isto

  • 56

    , so, de alguma maneira, desestruturadas. Nesse sentido, podem no possuir a presena de

    um elemento com funo parental, o pai ou a me, apresentar uma situao socioeconmica

    crtica ou miservel, conviver com portadores de vcios, ou at mesmo, podem combinar

    todos esses fatores, por exemplo (GARCIA, 2003, p.108).

    Nota-se ainda que o aparecimento de algum sintoma que perturbe a estrutura da

    famlia remete a algo ameaador do equilbrio do sistema familiar. O sintoma da sano penal,

    portanto, sugere tanto um aspecto regulador na dinmica do sistema, quanto uma perspectiva

    denunciadora de questes no solucionadas, as quais se mostram ocultas ou disfaradas no

    convvio da famlia.

    Salienta-se tambm, por fim, que os fenmenos relativos ao movimento familiar no

    podem ser tidos como nicos fatores os quais causam a prtica de uma conduta criminalmente

    punvel. Devem ser consideradas, em igual patamar, as questes sociais, polticas,

    psicolgicas e culturais, que, de modo conjunto com os eventos concernentes famlia,

    contribuiro para a formao de uma atmosfera favorvel consumao do crime.

    4 A (IN)TRANSCENDNCIA DA PENA

    Inicialmente, cumpre-se dizer que conforme a Democracia caminha para o

    desenvolvimento, mais ganha fora a ideia de que os direitos daqueles que possuem sua

    liberdade privada devem ser minimamente afetados. Tal premissa trazida pelo prprio

    entendimento constitucional do Direito Penal, o qual tende a diminuir os efeitos negativos da

    sano penal. Assim, os princpios trazidos na Constituio Federal de 1988, os quais tm o

    condo de influenciar ou so diretamente relacionados com a cincia penal, buscam sempre a

    proteo das prerrogativas individuais ou oferecem uma base para que a legislao

    infraconstitucional cuide de bens jurdicos transindividuais, isto , de interesses coletivos e

    difusos. Nesse sentido, observa-se que, dentro de um Estado Democrtico de Direito, o

    princpio da dignidade da pessoa humana serve como base para a interpretao de toda a

    mquina penalista.

    Nesse sentido, afirma Capez que:

    O legislador, no momento de escolher os interesses que merecero a tutela penal,

    bem como o operador do direito, no instante em que vai proceder a adequao tpica,

    devem, forosamente, verificar se o contedo material daquela conduta atenta contra

    a dignidade da pessoa humana ou os princpios que dela derivam. Em caso positivo,

    estar manifestada a inconstitucionalidade substancial da norma ou daquele

  • 57

    enquadramento, devendo ser exercitada o controle tcnico, afirmando a

    incompatibilidade vertical com o Texto Magno. A criao do tipo e a adequao

    concreta da conduta ao tipo devem operar-se em consonncia com os princpios

    constitucionais do Direito Penal, os quais derivam da dignidade humana que, por sua

    vez, encontra fundamento no Estado Democrtico de Direito. (CAPEZ, 2004, p. 13)

    Desse modo, com a evoluo do Direito Penal sob o enfoque dos direitos

    fundamentais, formou-se a ideia do princpio da personalizao da pena, a qual fez cair o

    entendimento passado de que a punio por um delito podia atingir queles que faziam parte

    do convvio do agente, ou seja, seus familiares e a prpria comunidade (SHECAIRA;

    CORRA JR, 2002, p. 79). A inteno do princpio, portanto, a de se punir apenas a pessoa

    do condenado, no transcendendo a outros e, consequentemente, no modificando o prprio

    fim da pena.

    Apesar de tal princpio ter surgido junto com a teoria clssica da pena, que defendia a

    punio como justificativa da preveno de novos crimes e da retribuio da conduta ilcita

    realizada, tem conformidade com uma ideologia mais crtica e com a representao do direito

    penal mnimo. Dessa maneira, o princpio da personalidade da pena de profunda

    importncia na estruturao do sistema penalista o qual se funda nos valores democrticos.

    No Texto Constitucional atual, apresentado destacadamente no artigo 5, XLV, assim

    transcrito:

    Art. 5: Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza,

    garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade

    do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos

    seguintes:

    () XLV - nenhuma pena passar da pessoa do condenado, podendo a obrigao de

    reparar o dano e a decretao do perdimento de bens ser, nos termos da lei,

    estendidas aos sucessores e contra eles executadas, at o limite do valor do

    patrimnio transferido;

    Percebe-se, ento, pela leitura do dispositivo constitucional supramencionado, como

    dito nas palavras de Jos Eduardo Goulart (1994, p. 96), que esse princpio trata-se de uma

    conquista do Direito Penal, atuando como uma de suas verdades mais expressivas, no sentido

    da dignidade e Justia.

    No obstante a caracterstica pessoal de a pena ser elemento imprescindvel para a

    validade democrtica do sistema penal, ao realizar-se uma anlise crtica sobre a aplicao do

    princpio em termos prticos, observa-se a contradio com a realidade. Na verdade, o que se

    reflete a inalcanabilidade da personalizao da pena quando da privao da liberdade do

    agente condenado.

  • 58

    Pretende-se entender aqui a natureza dplice da personalidade da sano penal, haja

    vista a existncia de dois aspectos diferentes relativos a ela. O primeiro referente

    interpretao restrita do princpio, sob a qual se sustenta a intransponibilidade da aplicao de

    punies a outros que no o prprio agente da conduta tpica, ilcita e culpvel. O segundo

    aspecto concernente viabilidade da sano refletir seus efeitos em terceiros, isto , de

    modo indireto, atingir de maneira malfica outros os quais no foram condenados

    juridicamente pelo comportamento criminoso. Somente pela compreenso das duas

    dimenses do princpio de personalidade da pena, entende-se que ele, em sua plenitude, no

    vigora de forma satisfatria na vida concreta.

    Sabe-se que, embora a punio no seja objetivamente aplicada a terceiros, influi de

    forma extraordinria naqueles que, de alguma forma, esto ligados ao preso. Nessa percepo,

    observa-se que muito pouco feito para que as consequncias advindas da punio no

    cheguem a quem nada fez para o delito. O afastamento do apenado da sociedade por meio do

    seu encarceramento priva tambm os outros do convvio com o primeiro e produz efeitos com

    os quais os terceiros precisam aprender a conviver, haja vista o desprezo da sociedade e do

    prprio Estado com relao a tais dificuldades.

    Desse modo, fcil inferir que quanto maior a situao de proximidade com o

    indivduo condenado, mais o terceiro sofrer com os reflexos da punio. Assim, a famlia

    daquele o qual a liberdade foi cerceada torna-se o alvo mais certo a sofrer, de maneira

    imensurvel, os resultados danosos, j que a plena personalizao da pena no pode ser

    concretizada.

    5 AS CONSEQUNCIAS DA SANO PENAL NO MBITO FAMILIAR

    Como j foi afirmado no ponto sobre a (in)transcendncia da pena aplicada ao preso,

    a famlia do condenado tambm sofre imensamente com a privao da liberdade de seu

    membro. A relao de interdependncia dos elementos componentes da famlia faz com que a

    pena aplicada a um estenda seus efeitos a todos os outros, reorganizando, em diversos

    sentidos, o movimento dinmico familiar. As consequncias da punio no mbito da famlia

    aparecem sob o ponto de vista psicolgico, social e financeiro (OLIVEIRA, 2010, p. 9).

    5.1 Efeitos psicolgicos

  • 59

    No tocante perspectiva psicolgica dos efeitos advindos da privao de liberdade

    de um dos membros da unidade familiar, destacam-se as consequncias da prpria separao

    da famlia em si. O afastamento do apenado do cotidiano com os parentes provoca profunda

    dor nele mesmo e tambm nos que fazem parte de sua vida rotineira, haja vista a restrio ser

    no s da liberdade propriamente dita, mas do convvio, essencial para a manuteno das

    relaes familiares. A natureza compulsria e imediata dessa separao valora ainda mais a

    negatividade do desmembramento. O condenado se v sem a possibilidade de realizar nada

    para mudar sua situao e isso o afeta consideravelmente.

    Muitos momentos da vida normal so perdidos enquanto o indivduo vive no

    estabelecimento carcerrio. O filho, especialmente, sofre irremediavelmente com a ausncia

    do pai ou da me em sua vida, principalmente se for adolescente ou criana, quando sua

    formao psicolgica ainda est ocorrendo. O apartamento da figura materna ou paterna

    implica, para os pais, a perda do desenvolvimento dos filhos e da possibilidade de

    crescimento pessoal que advinda desse acompanhamento. Os filhos, por sua vez, se

    crianas, no entendem o motivo pelo qual seu pai/me est distante, podendo, assim,

    desenvolver ideias fantasiosas como a de que o culpado por tal fato so eles mesmos. Se

    adolescentes, so capazes de criarem pensamentos de fracasso dos pais em seu imaginrio, j

    que, muitas vezes, os tem como protetores da famlia (OLIVEIRA, 2010, p. 16). Observa-se,

    portanto, que o sofrimento bilateral.

    Cumpre-se afirmar ainda que h diferenas no tratamento por parte dos filhos em

    relao a qual dos genitores est afastado. Explicando a diferena entre prises destinadas

    apenas s mulheres e prises direcionadas a homens, aduz Maria Palma Wolf:

    O fato de abrigar mulheres define especificidades pela prpria questo de gnero: a

    presena de crianas, as demandas no campo da sade, as inmeras questes

    familiares que o aprisionamento feminino traz consigo. Sendo que o papel de

    cuidadora assumido muito mais pela mulher, quando ocorre a priso uma

    importante lacuna se estabelece na famlia, lacuna da qual ela ir se ocupar mesmo

    de dentro da priso. Diferentemente da situao do homem preso, que normalmente

    pode contar com o apoio da companheira e/ou da me, a mulher tem poucos apoios

    externos e necessita lanar de diferentes recursos para continuar mantendo a famlia

    (WOLF, 2009, p. 10).

    Percebe-se, assim, que quando a priso da figura materna, os filhos parecem ter

    mais dificuldades em se adaptar, justamente pelo fato de ser a me o seu referencial de pessoa

    cuidadora. Portanto, na maioria dos casos, o lugar da me mais difcil de ser ocupado, visto

    que ela tem funes mais amplas perante sua famlia. Ademais, as consequncias do crcere

  • 60

    para ela prpria tambm parecem ser piores, j que possui pouca ajuda quando da manuteno

    da famlia2.

    Alm disso, os efeitos se refletem tambm na vida matrimonial ou na unio estvel

    do detento. A falta de contato com o cnjuge ou companheiro provoca o estremecimento dos

    laos de afinidade e afetividade, prejudicando, dessa forma, a relao de modo considervel.

    Tanto o preso como o cnjuge ter que lidar com a solido advinda da separao. Muitas

    vezes, o relacionamento tem fim pois o companheiro decide no esperar pelo trmino do

    cumprimento da sano penal ou pelo prprio afastamento emocional, fruto da separao

    fsica. Pode ocorrer tambm o envolvimento do cnjuge com um terceiro, o que contribuiria

    para a morte da relao.

    Felizmente, ao se analisar os vnculos afetivos quando o preso do sexo masculino,

    observa-se que os relacionamentos amorosos, na maioria das vezes, conservam-se enquanto o

    preso est cumprindo pena. No tocante ao sexo feminino, a realidade diferente. Ocorre com

    muito mais frequncia a quebra dos vnculos familiares, haja vista a mulher se tornar mais

    vulnervel por perder, alm da liberdade, seu papel de mulher, de esposa, de me e de filha

    (SANTA RITA, 2006, p. 150-151).

    Como exemplo, cita-se a pesquisa de campo realizada por Guiomar Veras de Oliveira

    no Pavilho Feminino do Complexo Penal Dr. Joo Chaves, no Rio Grande do Norte, que

    custodia 113 (cento e treze) mulheres, sendo que, desse total, apenas 06 (seis) recebem

    visitas de esposo/companheiro (OLIVEIRA, 2010, p. 20).

    Tambm importante notar as mudanas oriundas da necessidade de visitao

    quando um membro familiar condenado a uma pena privativa de liberdade, passando a viver

    dentro de um estabelecimento prisional. Inicialmente, observa-se que as imposies para

    poder se realizar a visita transformam toda a rotina cotidiana da famlia, a qual precisa passar

    por um processo de readaptao de seu calendrio de acordo com o funcionamento do

    instituto carcerrio. No contexto das visitas, visualiza-se claramente que o poder disciplinar

    de uma priso estendido aos familiares, haja vista as prticas prisionais tambm serem

    aplicadas a eles. Isso ocorre por meio da limitao da quantidade de visitantes, da

    investigao dos objetos levados para os condenados e da restrio de horrio e tempo de

    2 Sobre o apoio para a manuteno dos laos afetivos entre mes e filhos, Maria Palma Wolf retrata a experincia

    em um presdio feminino: Alm da existncia do espao fsico da creche e de alguma atividade prestada por voluntrios ou estagirios de fora do sistema penitencirio, no existia, na poca do desenvolvimento da

    pesquisa, nenhum programa especialmente dirigido s mes presas. (...) a busca de alternativas deveria ser vista

    no como um privilgio das mulheres presas, mas como um direito das crianas, ou seja, no como um

    tratamento desigual da lei, mas como a observao de uma diferena inerente questo de gnero (WOLF, 2009, p. 12).

  • 61

    permanncia, por exemplo (BRECKENFELD, 2010, p. 21).

    Tais determinaes no consideram os aspectos individuais de cada famlia,

    generalizam todo o procedimento o qual destinado igualmente a todos os familiares,

    desrespeitando at mesmo as crianas3.

    Alm de tudo, as exigncias para se realizar uma visita trazem profundo

    constrangimento para os visitantes devido aos procedimentos, na maioria das vezes, abusivos

    e desrespeitosos integridade e dignidade das pessoas. As revistas ntimas so ainda mais

    constrangedoras, visto que submetem o visitante a se despir e se colocar em posies que

    violam sua intimidade.

    Apesar de todo o carter vexatrio da experincia das visitas para os visitantes,

    importa-se perceber que, para a unidade familiar, ela de profunda importncia, no sentido da

    preservao da afetividade e dos vnculos familiares. por meio das visitas que o cenrio

    caseiro pode ser levado para o espao carcerrio. Nesse sentido, afirma Guiomar Veras de

    Oliveira:

    Os momentos de visitas sociais constituem uma especial representao da famlia a

    qual os apenados pertencem. Nas visitas, o contexto domstico literalmente

    transportado para o ambiente prisional. como se um pedao de tecido que consegue retratar exatamente o que a estampa do todo contm fosse transportado para mostrar ao apenado um pedacinho do contexto familiar (OLIVEIRA, 2010, p.

    13).

    As visitas representam, na verdade, a ligao que o preso possui com seus familiares

    e com a sua casa. Alm disso, retratam tambm o nico momento no qual a famlia pode ter

    contato fsico com o preso, tendo-o de volta ao seu entorno e sentindo completo o espao

    vazio deixado por ele.

    Outro aspecto que afeta psicologicamente no s o preso, como tambm as pessoas

    em sua volta seus familiares , o momento de sua sada do estabelecimento prisional e do

    seu regresso ao lar. Apesar de muitos acharem que com o retorno do detento para a vida em

    sociedade se d o fim de todo o sofrimento enfrentado por ele e por sua famlia, isso no

    ocorre. Sob o ponto de vista psicolgico, as pessoas as quais lidaram com toda a dinmica das

    prises, inclusive o condenado, no so mais as mesmas de antes do encarceramento

    acontecer.

    3 DIP, Andrea. GAZZANEO, Fernando. Em So Paulo, at crianas so submetidas a revista vexatria. Carta

    Capital, So Paulo, jul. 2013. Disponvel em: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/eles-assistem-tudo-

    depois-e-a-vez-deles-6734.html

  • 62

    Desse modo, uma nova realidade deve ser enfrentada por eles. O convvio com o

    novo elemento da famlia requer uma adaptao e, at mesmo, uma reformulao, completa

    com novos aspectos antes inexistentes. Muitas vezes, os filhos no mais querem manter o

    respeito pelo genitor do qual foi afastado ou os cnjuges deixam de confiar no companheiro,

    por exemplo. Essas situaes precisam ser cuidadosamente tratadas, a fim de que o egresso

    no sofra ainda mais no seu processo de reinsero na sociedade.

    Percebe-se, portanto, que h muitos impactos negativos causados, sob a ptica da

    psicologia, aos presos e a sua famlia. A vergonha e o medo so sentimentos os quais

    atormentam a unidade familiar. O primeiro est presente, por exemplo, quando se vai a um

    estabelecimento prisional realizar uma visita, e o segundo, quando no se sabe ao certo se o

    membro da famlia privado de liberdade est sendo maltratado, ou se est enfrentando

    situaes perigosas dentro do prprio ambiente de recluso, ou, at mesmo, se antes de ser

    preso contraiu dvidas que podero ser cobradas de algum modo famlia.

    5.2 Efeitos sociais

    Aliada s consequncias psquicas existe tambm a repercusso social quando algum

    elemento da estrutura familiar condenado restrio de liberdade em estabelecimento

    prisional. inegvel que o estigma4 se dilata e vai alm do indivduo preso, alcanando

    aqueles que tm alguma relao com ele. Na realidade, importante perceber que as imagens

    da pessoa encarcerada e da sua famlia se fundem, aparecendo no imaginrio da sociedade

    como um s. Nessa esteira, aduzem Schilling e Miyashiro (2008, p. 248): A sociedade os v

    de maneira fundida: a mulher de presidirio ou o filho de presidirio. Com base nesses

    pressupostos, podemos concluir que o olhar estigmatizante que direcionado famlia do

    presidirio uma extenso do estigma que o cerca.

    A essa situao d-se o nome de estigma de cortesia5. Significa que as privaes

    tpicas do grupo estigmatizado no caso, os encarcerados tambm ocorrem de maneira

    similar queles que se relacionam com o grupo a famlia e os amigos. Desse modo, as

    4 Nas palavras de Schilling e Miyashiro significa: marca ou cicatriz deixada por ferida; qualquer marca ou

    sinal; mancha infamante e imoral na reputao de algum; sinal infamante outrora aplicado, com ferro em brasa

    nos ombros ou braos de criminosos, escravos etc.; aquilo que considerado indigno, desonroso; falta de lustre,

    brilho ou polimento; moral; desonra, descrdito, infmia, demrito, descrdito, deslustro, enxovalho, infmia,

    labu, mcula, ndoa, perdio, perdimento, raiva, vergonha (SCHILLING; MIYASHIRO, 2008, p. 248). 5 Atribui-se tal denominao Erving Goffman. Para aprofundamento: Estigma: notas sobre a manipulao da

    identidade deteriorada, Erving Goffman, 1963.

  • 63

    pessoas que mantm vnculo com os presos podem, da mesma forma que eles, no serem

    aceitas por outros grupos, ou seja, serem excludos socialmente. Os descendentes diretos dos

    detentos, por exemplo, vivem em uma condio indefinvel que atua no deslocamento do

    estigma para eles.

    Nesse sentido, os parentes do autor do crime sofrem com o preconceito tanto quanto

    o prprio indivduo. No raras vezes so taxados como pessoas de m conduta e carter, as

    quais colocam em risco a paz de outras famlias ao seu redor. Tais atribuies contribuem para

    a obstruo das relaes sociais dessas pessoas, que nada podem fazer para mudar essa

    realidade. Acontece que a prpria sociedade se encarrega de fortalecer as prticas de

    banimento e ostracismo impostos aos presos e seus familiares, corroborando para a sua

    segregao. Fica clara, assim, a insuficincia do dispositivo constitucional da personalidade

    da pena, analisado anteriormente em tpico especfico.

    A famlia enfrenta tambm outro aspecto de dimenso social quando ocorre a

    chamada reincidncia6. Nesse caso, o conceito preconceituoso sobre a famlia agravado,

    pois se entende que, alm do fracasso do prprio indivduo na sua reintegrao social, a

    unidade familiar no foi capaz de exercer sua funo acolhedora e cuidadora para que o

    indivduo pudesse se reinserir eficazmente na sociedade. Em caso de outro membro da mesma

    unidade familiar recair tambm em conduta criminosa, compreende-se, de modo similar, que

    tal famlia no conseguiu atingir seus objetivos ticos, o que enseja o seu afastamento social

    (BRECKENFELD, 2010, p. 21-22).

    5.3 Efeitos financeiros

    Conforme se percebe pelos aspectos explanados, com a sano penal e a efetiva

    privao da liberdade do agente, toda a cena familiar obrigada a se adaptar nova

    conjuntura na qual um membro da famlia no se faz presente. Nesse contexto se encontra a

    situao financeira da famlia, a qual sofre um desarranjo com o afastamento do apenado.

    Em muitos casos, o detento o principal responsvel pela subsistncia da famlia.

    Com o seu encarceramento, alm do comprometimento da continuao do abastecimento

    financeiro, outros encargos surgem. Esses so concernentes a sua prpria manuteno no

    estabelecimento prisional, como o transporte at o local no perodo de visita, despesas com

    6 De acordo com o artigo 63 do Cdigo Penal: Verifica-se a reincidncia quando o agente comete novo crime,

    depois de transitar em julgado a sentena que, no Pas ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.

  • 64

    advogado, alimentao e higiene pessoal, por exemplo (OLIVEIRA, 2010, p. 27)

    Na eventualidade de ser o homem privado de liberdade, a mulher adquire ainda mais

    responsabilidades. Alm da funo de cuidadora da prole, com o dficit no suprimento

    econmico, ter que buscar novos meios de subsistncia familiar, a exemplo da candidatura a

    outro emprego ou da submisso a uma carga maior de trabalho. Assim, para garantir o

    sustento da famlia, modificar sua rotina e abdicar de maior tempo e cuidado com os filhos,

    em virtude da situao em que se encontra.

    No raras vezes, as famlias precisam recorrer a subsdios estatais, como o auxlio-

    recluso, tratado mais adiante. Contudo, tal alternativa no assegura a soluo para a

    repercusso financeira advinda da separao de um dos membros da unidade familiar.

    Wacquant afirma:

    A entrada na priso tipicamente acompanhada pela perda do trabalho e da

    moradia, bem como da supresso parcial ou total das ajudas e benefcios

    sociais. Esse empobrecimento material sbito no deixa de afetar a famlia do

    detento e, reciprocamente, de afrouxar os vnculos e fragilizar as relaes

    afetivas com os prximos (separao da companheira ou esposa, "colocao"

    das crianas, distanciamento dos amigos etc.) (WACQUANT, 2005 apud

    OLIVEIRA, 2010, p. 26).

    Nesse sentido, percebe-se, ainda, que o empobrecimento econmico no se restringe

    a afetar apenas as condies financeiras do condenado e de sua famlia, mas fundamental

    tambm para tornar mais dbil as suas prprias relaes pessoais, ou seja, afet-lo no sentido

    de aprimorar sua excluso social.

    6 O AUXLIO-RECLUSO

    O auxlio-recluso foi criado em junho de 1991, pelo advento lei n 8.213, segundo a

    qual so definidos os requisitos indispensveis para a concesso desse benefcio. O valor

    recebido pelo(s) dependente(s) dividido entre os beneficirios - cnjuge ou companheira(o)

    -, filhos menores de vinte e um anos de idade ou invlidos, pais ou irmos no emancipados

    menores de 21 anos ou invlidos. Salienta-se, inclusive, que o valor no varia conforme o

    nmero de dependentes do preso.

    Independentemente de o apenado ter sido membro contribuinte efetivo das despesas

    de seus lares ou no, fato que as famlias deles necessitam de um apoio financeiro, em

    especial s suas esposas ou companheiras, a quem fica a obrigao de educar e prover o

  • 65

    sustento dos filhos. No entanto, questo polmica aquela relativa ao auxlio-recluso

    recebido por parte de seus dependentes. De fato, as crticas apontadas demonstram,

    substancialmente, o desconhecimento por parte de seus crticos sobre conhecimento a respeito

    dessa poltica pblica empreendida.

    Na realidade, tero direito ao auxlio em estudo os trabalhadores presos que antes de

    serem condenados exerciam uma atividade regulamentada e, de modo imprescindvel,

    contribuam com o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), alm de estarem inseridos no

    regime fechado ou semiaberto, pois a sistemtica do sistema aberto no se adqua a tal

    benesse haja vista sua consistncia permitir o cumprimento de trabalho formal ou informal

    por parte do apenado.

    O principal argumento para que seja assegurado com veemncia o auxlio-recluso

    o princpio da personalidade da pena, explanado em tpico especfico. Significa que o recurso

    monetrio em meno comprova a no responsabilizao dos familiares (ou pessoas

    afetivamente vinculadas) pelas atitudes de outrem.

    Ademais, negar a concesso do referido abono financeiro seria violar Constituio

    Federal, especificamente o art. 1, inciso IV7, na medida em que seria uma interferncia ao

    direito social do trabalho, haja vista o desrespeito aos mpetos sociais dos trabalhadores que

    por motivos diversos adentraram no sistema prisional.

    Inclusive, a prpria Carta Magna se porta a afirmar a famlia como sendo passiva de

    especial proteo do Estado8.

    Entretanto, alm dos requisitos mencionados, para o(s) dependente(s) serem

    beneficirios desse programa, necessrio que os presos estejam classificados como sendo de

    baixa renda, a saber, aqueles que:

    Na data do recolhimento da priso tiveram como ltimo salrio de contribuio o

    valor igual ou inferior a R$ 915,05, de acordo com a Portaria n 02, de 6/1/2012. (...)

    O auxlio-recluso ter valor correspondente a 100% do salrio-de-benefcio, que,

    por sua vez, a mdia dos 80% maiores salrios-de-contribuio do perodo

    contributivo, a contar de julho de 1994. Dessa forma, o valor do auxlio-recluso no

    fixo e vai variar de acordo com as contribuies de cada segurado (MOURO,

    2012).

    Outro aspecto de importante relevncia quanto aplicabilidade do auxlio recluso

    est no processo de acompanhamento pelo qual passa esse programa, a fim de que sejam

    7 Constituio Federal/88: Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados

    e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: IV

    - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. 8 Constituio Federal/88: Art. 226: A famlia, base da sociedade, tem especial proteo do Estado.

  • 66

    evitados fraudes ou repasse indevido de verba s famlias. Assim sendo, as famlias so

    obrigadas a entregar trimestralmente ao INSS um documento atestando a permanncia do

    apenado no sistema prisional. Ressalta-se: o benefcio pode se transformar em penso caso o

    preso venha falecer, ou ainda, nos casos de aposentadoria e auxlio-doena, quando os

    dependentes podero optar por escrito pelo recebimento do benefcio mais vivel

    economicamente.

    Em sntese, a implementao dessa medida uma forma que o Estado encontrou no

    s para tentar exercer o princpio da personalidade da pena, mas tambm de se retratar por no

    conseguir realizar polticas pblicas eficazes o suficiente para impedir a insero dos cidados

    na criminalidade.

    Por outro lado, interessante observar a atuao das Leis de Execuo Penal, as

    quais tambm possuem um mbito de aplicabilidade voltado para ateno dada famlia do

    apenado. A Lei de Execuo Penal foi crida em 1984 com o intuito de estabelecer parmetros

    para reintegrao do preso sociedade ou, de maneira mais completa, conforme aduz seu

    primeiro artigo, a execuo penal tem por objetivo efetivar as disposies de sentena ou

    deciso criminal e proporcionar condies para a harmnica integrao social do condenado e

    do internado.

    A referida lei dispe em seu artigo 28 que o trabalho exercido pelo preso, embora

    seja remunerado e tenha suas particularidades, no est sujeito ao regime da Consolidao das

    Leis do Trabalho (CLT). Porm, seus preceitos normativos de nmeros 29 e 33 afirmam que a

    atividade por eles desempenhada ser remunerada conforme detalhamentos de tabela pr-

    estabelecida, de modo que o apenado no pode receber valores inferiores a (trs quartos) do

    salrio mnimo, e seu trabalho ser efetuado com carga horria entre seis e oito horas, com

    previso de descanso nos domingos e feriados.

    O cumprimento de atividade dentro do regime prisional, como aduzido, inclui a

    remunerao, a qual ser parcialmente destinada famlia do apenado. Mais uma vez, o poder

    legislativo reconheceu os interesses e, sobretudo, os direitos familiares ao definir o

    ressarcimento de parte da produo financeira do condenado aos seus dependentes.

    Novamente, o artigo 29 citado supra, em seu pargrafo primeiro, comprova tal assertiva:

    Art. 29. O trabalho do preso ser remunerado, mediante prvia tabela, no podendo

    ser inferior a 3/4 (trs quartos) do salrio mnimo.

    1 O produto da remunerao pelo trabalho dever atender:

    a) indenizao dos danos causados pelo crime, desde que determinados

    judicialmente e no reparados por outros meios;

    b) assistncia famlia;

  • 67

    c) a pequenas despesas pessoais;

    d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manuteno do

    condenado, em proporo a ser fixada e sem prejuzo da destinao prevista nas

    letras anteriores.

    vlido ponderar, ainda, que alm da remunerao recebida pela execuo das

    atividades enquanto inseridos no sistema prisional, o condenado que trabalha ou depreende o

    seu tempo em atividades educacionais, estando ele em regime fechado ou semiaberto, tem

    direito a remir a sua pena. Pela LEP (Leis de Execuo Penal), a cada trs dias de trabalho

    haver a reduo de um dia de cumprimento de pena. Ou, a cada doze horas de frequncia

    escolar, divididas no mnimo em trs dias, um dia de pena ser diminudo do montante

    estabelecido no ato condenatrio, conforme aduz o art. 126, 1, I e II9.

    Em sntese, louvvel reconhecimento por parte da legislao brasileira, bem como

    pela atuao do poder jurisdicional no tocante concretizao e concesso dos direitos s

    famlias. At mesmo porque o fato de estarem inseridas direta ou indiretamente no universo

    das ilicitudes, via seus parentes ou pessoas vinculadas, no as torna passveis de

    responsabilizao direta pelo cometimento das infraes. Alm disso, no facultar programas

    de apoio a essas unidades familiares implica, de forma provvel, no aumento progressivo dos

    ndices de criminalidade, j que as mesmas ficariam impossibilitadas de prover seu

    autossustento ou a complementaridade da renda estimulando, ento, seus componentes a

    optarem pela criminalidade como forma de exercer o poder aquisitivo.

    No entanto, ressalta-se que mesmo havendo a regulamentao e garantia de direitos

    unidade familiar do apenado, falta na considerao do plano da eficcia, j que a situao das

    famlias pouco muda com a existncia de tais direitos, os quais, na maioria dos casos, no

    suprem suas necessidades reais. Desse modo, exige-se mais dos poderes no campo da

    aplicabilidade prtica das garantias asseguradas tanto no texto constitucional como nos

    diplomas infraconstitucionais.

    7 CONSIDERAES FINAIS

    As anlises expostas no decorrer do presente artigo demonstraram a supervenincia

    9 Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poder remir, por trabalho ou por

    estudo, parte do tempo de execuo da pena. 1 A contagem de tempo referida no caput ser feita razo de: I -

    1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequncia escolar - atividade de ensino fundamental, mdio,

    inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificao profissional - divididas, no mnimo, em 3

    (trs) dias

  • 68

    da famlia enquanto entidade suprema, mesmo com o progressivo processo de desvalorizao

    pelo qual vem passando. Em verdade, a complexizao das sociedades e os avanos

    alcanados pelas populaes em geral viabilizaram a flexibilizao do conceito familiar, bem

    como facilitaram a aceitao das novas conformidades existentes nesse instituto. Em outros

    termos, a quebra de paradigmas histricos, a exemplo da regularizao do matrimnio para

    casais homossexuais, assim como a concesses de direitos s unies estveis, propiciaram

    uma decadncia axiolgica no conceito tradicional de famlia, mas tal fato no desprotege

    constitucionalmente o instituto da famlia em si.

    Dessa forma, coube Carta Magna adaptar-se s novas diretrizes sociais, ao mesmo

    tempo em que lhe ficou a incumbncia de suportar as diferenas advindas da modernidade em

    concomitncia com a manuteno da defesa eficaz da unidade familiar. Atinge, outrossim,

    esse diploma supremo, a sua funo primordial: superar as inovaes por mais divergentes

    que forem em relao aos parmetros vigentes e exercer com propriedade a segurana jurdica

    de forma ampla aos cidados.

    No tocante ao Direito Penal, analisado sob o enfoque do texto constitucional,

    entende-se que a proteo aos direitos fundamentais deve ser extremamente priorizada no

    caso dos indivduos condenados pena privativa de liberdade. No obstante haver a proteo

    constitucional ao instituto da famlia e ao indivduo encarcerado, clama-se pelo amparo da

    famlia do apenado, extremamente fragilizada pelo afastamento de um de seus membros. Isso

    implica dizer que essencial respeitar os direitos dos presos e, do mesmo modo, daqueles que

    vivem ao seu redor, haja vista a garantia dos direitos de um ocorrer somente com a

    preservao dos direitos do outro.

    Exige-se ainda a respeitabilidade ao princpio da personalidade da pena, posto que

    terceiros no podem, definitivamente, responder pelas infraes praticadas por outrem.

    Emergem, por conseguinte, os programas de auxlio-recluso e assistncia de naturezas

    diversas a fim de tentar minimizar os traumas oriundos da relao com algum condenado

    pena privativa de liberdade.

    Percebe-se, entretanto, que tais medidas assistencialistas no garantem a

    aplicabilidade prtica da personalidade da sano penal, sendo inegvel o sofrimento das

    famlias, o qual pode ser comparado em um patamar quase de igualdade s dificuldades

    enfrentadas pelo prprio preso. Os efeitos psicolgicos, financeiros e sociais com os quais as

    famlias precisam conviver acabam por fragilizar a dinmica familiar natural e, desse modo,

    enfraquecem tambm a relao dos parentes com a pessoa egressa, dificultando ainda mais o

  • 69

    processo de cumprimento de pena e a prpria reinsero do detento quando da sua volta ao

    convvio social.

    REFERNCIAS

    BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. Vol. 1. 13 ed. atual.

    So Paulo: Saraiva, 2008.

    BRECKENFELD, Maria Araci Martins. Efeitos intergeracionais da sano penal na

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    BRASIL. Cdigo Penal. Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

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    BRASIL. Lei n 7.210, de 11 de julho de 1984.

    CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 8 edio, So Paulo: Saraiva, 2004.

    DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famlias. 4. ed. So Paulo: RT,

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    DIP, Andrea. GAZZANEO, Fernando. Em So Paulo, at crianas so submetidas a revista

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    http://www.cartacapital.com.br/sociedade/eles-assistem-tudo-depois-e-a-vez-deles-6734.html.

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    DOROTEU, Leandro Rodrigues. CORRA, Mzia Raquel Vieira Barreiros. O preso

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    THE FAMILY OF THE PRISONER: EFFECTS OF PUNISHMENT ON THE FAMILY

    UNITY

    ABSTRACT

    This article aims to portray the practical inapplicability of the

    principle of individualization of punishment, constitutionally

    expressed. Although the criminal sanction (deprivation of liberty) not

    directly restrict the liberty of others which did not cooperate for the

    realization of the offense, it does indirectly. It is possible to perceive

    this punitive translation mainly from the analysis of the prisoners family dynamics. Those who are emotionally closer to the agent, also

    suffer significantly from the effects of the penalty in the

    psychological, social and financial spheres. Prejudice, fear and

    disrespect for human dignity are just some of the difficulties that

    surround them throughout the time of incarceration, and even after the

    inmate returns home. Besides that, the constitutional protections

    relating to convicts and their families are highlighted and the aspects

    of aid-seclusion are explained.

    Keywords: Criminal sanction. Deprivation of liberty. Prisoners family. Effects on the family.