a expansÃo marÍtima europÉia

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A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPÉIA A expansão marítima européia, processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, contribuiu para que a Europa superasse a crise dos séculos XIV e XV. Através das Grandes Navegações há uma expansão das atividades comerciais, contribuindo para o processo de acumulação de capitais na Europa. O contato comercial entre todas as partes do mundo (Europa, Ásia, África e América) torna possível uma história em escala mundial, favorecendo uma ampliação do conhecimento geográfica e o contato entre culturas diferentes. Fatores para a Expansão Marítima A expansão marítima teve um nítido caráter comercial, daí definir este processo como uma empresa comercial de navegação, ou como grandes empreendimentos marítimos. Para o sucesso desta atividade comercial o fator essencial foi à formação do Estado Nacional. Formação do Estado Nacional e a centralização política-os Grandes Navegações só foram possíveis com a centralização do poder político, pois fazia-se necessário uma complexa estrutura material de navios, armas, homens, recursos financeiros. A aliança rei-burguesia possibilitou o alcance destes objetivos tornando viável a expansão marítima. Avanços técnicos na arte náutica-o aprimoramento dos conhecimentos geográficos, graças ao desenvolvimento da cartografia; o desenvolvimento de instrumentos náutica- bússola, astrolábio, sextante - e a construção de embarcações capazes de realizar viagens a longa distância, como as naus e as caravelas. Interesses econômicos- a necessidade de ampliar a produção de alimentos, em virtude da retomada do crescimento demográfico; a necessidade de metais preciosos para suprir

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A EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPÉIA

A expansão marítima européia, processo histórico ocorrido entre os séculos XV e XVII, contribuiu para que a Europa superasse a crise dos séculos XIV e XV.

Através das Grandes Navegações há uma expansão das atividades comerciais, contribuindo para o processo de acumulação de capitais na Europa.

O contato comercial entre todas as partes do mundo (Europa, Ásia, África e América) torna possível uma história em escala mundial, favorecendo uma ampliação do conhecimento geográfica e o contato entre culturas diferentes.

Fatores para a Expansão Marítima

A expansão marítima teve um nítido caráter comercial, daí definir este processo como uma empresa comercial de navegação, ou como grandes empreendimentos marítimos. Para o sucesso desta atividade comercial o fator essencial foi à formação do Estado Nacional.

Formação do Estado Nacional e a centralização política-os Grandes Navegações só foram possíveis com a centralização do poder político, pois fazia-se necessário uma complexa estrutura material de navios, armas, homens, recursos financeiros. A aliança rei-burguesia possibilitou o alcance destes objetivos tornando viável a expansão marítima.

Avanços técnicos na arte náutica-o aprimoramento dos conhecimentos geográficos, graças ao desenvolvimento da cartografia; o desenvolvimento de instrumentos náutica-bússola, astrolábio, sextante - e a construção de embarcações capazes de realizar viagens a longa distância, como as naus e as caravelas.

Interesses econômicos- a necessidade de ampliar a produção de alimentos, em virtude da retomada do crescimento demográfico; a necessidade de metais preciosos para suprir a escassez de moedas; romper o monopólio exercido pelas cidades italianas no Mediterrâneo que contribuía para o encarecimento das mercadorias vindas do Oriente; tomada de Constantinopla, pelo turcos otomanos, encarecendo ainda mais os produtos do Oriente.

Sócias enfraquecimento da nobreza feudal e o fortalecimento da burguesia mercantil.Religiosos possibilidade de conversão dos pagãos ao cristianismo mediante a ação missionária da Igreja Católica.

Expansão marítima portuguesaPortugal foi à primeira nação a realizar a expansão marítima. Além da posição geográfica, de uma situação de paz interna e da presença de uma forte burguesia mercantil; o pioneirismo português é explicado pela sua

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centralização política que, como vimos, era condição primordial para as Grandes Navegações.

A formação do Estado Nacional português está relacionada à Guerra de Reconquista - luta entre cristãos e muçulmanos na península Ibérica.A primeira dinastia portuguesa foi a Dinastia de Borgonha (a partir de 1143) caracterizada pelo processo de expansão territorial interna.

Entre os anos de 1383 e 1385 o Reino de Portugal conhece um movimento político denominado Revolução de Avis -movimento que realiza a centralização do poder político: aliança entre a burguesia mercantil lusitana com o mestre da Ordem de Avis, D. João. A Dinastia de Avis é caracterizada pela expansão externa de Portugal: a expansão marítima.

Etapas da expansãoA expansão marítima portuguesa interessava à Monarquia, que buscava seu fortalecimento; à nobreza, interessada em conquista de terras; à Igreja Católica e a possibilidade de cristianizar outros povos e a burguesia mercantil, desejosa de ampliar seus lucros.

A seguir, as principais etapas da expansão de Portugal:1415 -tomada de Ceuta, importante entreposto comercial no norte da África;1420 -ocupação das ilhas da Madeira e Açores no Atlântico;1434 -chegada ao Cabo Boja dor;1445 -chegada ao Cabo Verde;1487 -Bartolomeu Dias e a transposição do Cabo das Tormentas;1498 -Vasco da Gama atinge as Índias ( Calicute );1499 -viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.

Expansão marítima espanholaA Espanha será um Estado Nacional somente em 1469, com o casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão. Dois importantes reinos cristãos que enfrentaram os mouros na Guerra de Reconquista.No ano de 1492 o último reduto mouro -Granada -foi conquistado pelos cristãos; neste mesmo ano, Cristovão Colombo ofereceu seus serviços aos reis da Espanha.Colombo acreditava que, navegando para oeste, atingiria o Oriente. O navegante recebeu três navios e, sem saber chegou a um novo continente: a América.

A seguir a principais etapas da expansão espanhola:1492 - chegada de Colombo a um novo continente, a América;1504 - Américo Vespúcio afirma que a terra descoberta por Colombo era um novo continente;1519 a 1522 - Fernão de Magalhães realizou a primeira viagem de circunavegação do globo.

As rivalidades IbéricaPortugal e Espanha, buscando evitar conflitos sobre os territórios descobertos ou a descobrir, resolveram assinar um acordo-proposto pelo papa Alexandre VI

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- em 1493: um meridiano passando 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, dividindo as terras entre Portugal e Espanha. Portugal não aceitou o acordo e no ano de 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas.O tratado de Tordesilhas não foi reconhecido pelas demais nações européias.

Navegações TardiasInglaterra, França e Holanda.

O atraso na centralização política justifica o atraso destas nações na expansão marítima:A Inglaterra e França envolveram-se na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) e, após este longo conflito, a Inglaterra passa por uma guerra civil - a Guerra das Duas Rosas (1455-1485); já a França, no final do conflito com a Inglaterra enfrenta um período de lutas no reinado de Luís XI (1461-1483).

Somente após estes conflitos internos é que ingleses, durante o reinado de Elizabeth I (1558-1603); e franceses, durante o reinado de Francisco I iniciaram a expansão marítima.A Holanda tem seu processo de centralização política atrasado por ser um feudo espanhol. Somente com o enfraquecimento da Espanha e com o processo de sua independência é que os holandeses iniciarão a expansão marítima.

CONSEQÜÊNCIAS

As Grandes navegações contribuíram para uma radical transformação da visão da história da humanidade. Houve uma ampliação do conhecimento humano sobre a geografia da Terra e uma verdadeira Revolução Comercial, a partir da unificação dos mercados europeus, asiáticos, africanos e americanos.

A seguir algumas das principais mudanças:A decadência das cidades italianas; a mudança do eixo econômico do mar Mediterrâneo para o oceano Atlântico; a formação do Sistema Colonial; enorme afluxo de metais para a Europa proveniente da América; o retorno do escravismo em moldes capitalistas; o euro-centrismo, ou a hegemonia européia sobre o mundo; e o processo de acumulação primitiva de capitais resultado na organização da formação social do capitalismo.

Mercantilismo

Podemos definir o mercantilismo como sendo a política econômica adotada na Europa durante o Antigo Regime. Como já dissemos o governo absolutista interferia muito na economia dos países. O objetivo principal destes governos era alcançar o máximo possível de desenvolvimento econômico, através do acúmulo de riquezas. Quanto maior a quantidade de riquezas dentro de um reino, maior seria seu prestígio, poder e respeito internacional.

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 Podemos citar como principais características do sistema econômico mercantilista:

Metalismo : o ouro e a prata eram metais que deixavam uma nação muito rica e poderosa, portanto os governantes faziam de tudo para acumular estes metais. Além do comércio externo, que trazia moedas para a economia interna do país, a exploração de territórios conquistados era incentivada neste período. Foi dentro deste contexto histórico, que a Espanha explorou toneladas de ouro das sociedades indígenas da América como, por exemplo, os maias, incas e astecas.

Industrialização: o governo estimulava o desenvolvimento de indústrias em seus territórios. Como o produto industrializado era mais caro do que matérias-primas ou gêneros agrícolas, exportar manufaturados era certeza de bons lucros.

Protecionismo Alfandegário: os reis criavam impostos e taxas para evitar ao máximo a entrada de produtos vindos do exterior. Era uma forma de estimular a indústria nacional e também evitar a saída de moedas para outros países.

Pacto Colonial: as colônias européias deveriam fazer comércio apenas com suas metrópoles. Era uma garantia de vender caro e comprar barato, obtendo ainda produtos não encontrados na Europa. Dentro deste contexto histórico ocorreu o ciclo econômico do açúcar no Brasil Colonial.

Balança Comercial Favorável: o esforço era para exportar mais do que importar, desta forma entraria mais moedas do que sairia, deixando o país em boa situação financeira.

Colonização Ibérica, Inglesa, Francesa é Holandesa

Processo de ocupação territorial, povoamento e exploração comercial do continente americano pelos europeus iniciado logo após o descobrimento da América. Na busca do caminho para as Índias (nome genérico dado ao Oriente), Cristóvão Colombo chega à América em 1492. Dois anos depois, o Tratado de Tordesilhas divide o controle do Novo Mundo entre portugueses e espanhóis. Nos anos seguintes, espanhóis, portugueses, franceses, ingleses e holandeses disputam o domínio do novo continente e sua exploração nos moldes do mercantilismo europeu.

De maneira geral, as colônias européias na América dividem-se em colônias de exploração e de povoamento. As primeiras caracterizam-se pela grande propriedade, pela monocultura e pelo trabalho escravo. Especializam-se na produção de metais preciosos e gêneros agrícolas para abastecer o mercado europeu, como é o caso da colonização espanhola e portuguesa e da inglesa no sul dos EUA. No segundo tipo de colônia predominam a pequena propriedade, a policultura e a mão-de-obra familiar. A produção destina-se ao

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mercado interno. Um exemplo é a colonização inglesa na região conhecida como Nova Inglaterra, nos EUA.

Colonização espanhola – Inicia-se com a conquista das ilhas do Caribe no final do século XV e começo do XVI. Com o contato dos espanhóis com as civilizações pré-colombianas, as populações nativas são praticamente exterminadas por causa das guerras, das doenças e da exploração de mão-de-obra. O processo é semelhante em todo o continente. No México, os astecas são arrasados em 1519. No Peru, a conquista e a destruição do Império Inca começam em 1532.

A exploração das minas de metais preciosos é a principal atividade econômica das colônias espanholas. Sistemas de trabalho forçado garantem a utilização de mão-de-obra indígena. Por meio do repartimento, a terra é dividida entre os colonos, e, pela encomenda, é entregue a eles certo número de índios. Na região andina, pelo sistema da mita uma parcela da população das comunidades indígenas é deslocada temporariamente para o trabalho compulsório nas atividades mineradoras. A Casa de Contratação, criada em Sevilha em 1503, detém o monopólio das mercadorias comercializadas entre a Espanha e a América. A administração dos territórios é distribuída entre os quatro vice-reinados (Nova Espanha, Nova Granada, Peru e Rio da Prata) e as três capitanias gerais (Cuba, Guatemala e Venezuela). A fragmentação após o processo de independência da América Espanhola dá origem às atuais nações.

Colonização portuguesa

Com o declínio do comércio na Ásia, Portugal passa a ocupar definitivamente o território brasileiro, com a implantação das capitanias hereditárias e a instalação de sesmarias. A partir do século XVII, a pecuária, a mineração e as atividades missionárias expandem a ocupação para o interior.

Colonização inglesa

Começa em 1607 com a colonização da América do Norte. O povoamento ocorre por meio de colônias pertencentes à realeza ou territórios concedidos pela Coroa à iniciativa particular. No século XVII já estavam formadas as 13 colônias da Nova Inglaterra. Pequenos e médios proprietários, refugiados políticos e religiosos (protestantes calvinistas) instalam-se ao norte (Massachusetts, New Hampshire, Rhode Island e Connecticut) e ao centro (Pensilvânia, Nova York, Nova Jersey e Delaware). Formam pequenas propriedades baseadas no trabalho livre e no artesanato. Certa atividade industrial é tolerada no centro-norte por não competir com o comércio da metrópole. A região cresce economicamente e passa a escoar o excedente da produção para os mercados do sul. Mais tarde cria-se o comércio triangular: comerciantes da Nova Inglaterra fabricam o rum para ser trocado por escravos na África, que são vendidos no Caribe e nas colônias do sul. Nos territórios sulistas (Virginia, Maryland, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia) implanta-se a monocultura algodoeira, destinada à exportação. Desenvolve-se uma sociedade baseada no trabalho de escravos africanos e forma-se uma camada de ricos proprietários de terras e grandes comerciantes exportadores.

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Apesar de submetidas ao controle da Inglaterra, as 13 colônias instituem uma tradição de autogoverno, que será fundamental na luta pela independência dos Estados Unidos.

Colonização francesa

Os franceses instalam-se na América do Norte, nas regiões do rio São Lourenço e dos Grande Lagos. Formam as colônias de Terra nova, Nova Escócia e Nova França (Canadá) a partir de 1603. Québec é fundado em 1608 e Montreal, em 1643. A partir de 1682 vão para o vale do Mississipi (Louisiana) e fundam Nova Orleans. Para manter o controle das colônias, a Coroa francesa utiliza-se de autoridades locais. O povoamento é pequeno, e as colônias acabam servindo apenas como postos comerciais e estratégicos.

Economia e Sociedade Canavieira

Durante toda a fase colonial brasileira, houve sempre um produto em torno do qual se organizava a maior parte da economia. A importância de determinado produto crescia até alcançar o apogeu e depois entrava em decadência. Embora sua produção continuasse, surgia outro produto que entrava rapidamente em ascensão, substituindo em importância o anterior. Esse mecanismo repetitivo levou muitos historiadores a usarem a denominação ciclo econômico para o estudo do período colonial, identificando o ciclo do pau-brasil (século XVI), o da cana-de-açúcar (séculos XVI e XVII) e mais tarde o da mineração (século XVIII).

Contudo, é importante observar os limites do nome "ciclo". Ele pressupõe que, após o apogeu de uma determinada atividade econômica, ocorre, sempre, o seu desaparecimento, e não foi isso que aconteceu com a economia da cana-de-açúcar, por exemplo, a qual continuou existindo durante toda a época da mineração no século XVIII. O ciclo do pau-brasil predominou em todo o período pré-colonial. Como sua exploração não fixava o homem a terra, levando apenas à instalação de algumas feitorias, não possibilitava a definitiva ocupação da colônia. Assim, ao decidir integrar efetivamente a colônia à metrópole, optou-se pelo plantio da cana-de-açúcar, que atingia dois objetivos: atendia às necessidades de colonização e possibilitava grandes lucros a Portugal.

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Quanto à mão-de-obra necessária para o empreendimento, contava-se com os indígenas e principalmente com os negros africanos que Portugal há muito escravizava. A instalação da empresa açucareira no Brasil exigia a aplicação de imensos capitais para a compra de escravos, o plantio da cana-de-açúcar e a instalação dos, onde se moía a cana e se fabricava o açúcar. Além disso, o transporte e a distribuição do produto para a Europa, a parte mais lucrativa do empreendimento, era uma tarefa gigantesca, para a qual Portugal não tinha recursos suficientes. Os portugueses associaram-se, então, aos holandeses que, em troca do financiamento para a instalação da empresa açucareira na colônia, ficariam com o direito de comercialização do produto final, o açúcar, na Europa. Dessa forma, foi à Holanda que financiou a instalação dos engenhos no Brasil. Na colônia, organizou-se a produção açucareira, sujeita às exigências metropolitanas de produção de riquezas, num processo de dependência denominado pacto colonial.

Latifúndio, monocultura e escravidão

Toda a vida colonial girava em torno das relações econômicas com a Europa: buscava-se produzir o que interessava à metrópole nas maiores quantidades possível e pelo menor custo.Assim, o cultivo da cana-de-açúcar desenvolveu-se em grandes propriedades, chamadas latifúndios, originadas das sesmarias distribuídas pelos donatários e governadores-gerais.

Contando com o solo argiloso comum no litoral e nas margens dos rios, o Nordeste transformou-se no principal pólo açucareiro do Brasil, tendo à frente as regiões de Pernambuco e Bahia. Nos grandes engenhos só se plantava cana-de-açúcar, usando-se mão-de-obra escrava, o que caracterizava como monocultores e escravistas.

 No latifúndio, conhecido como engenho, somente uma pequena parte das terras destinava-se ao cultivo de itens agrícolas para subsistência, como mandioca, milho, feijão, etc. Constituindo por extensas áreas desmatadas de florestas, seguidas de plantações de cana, o engenho tinha como núcleo central a casa-grande, onde residia o proprietário e sua família e concentrava-se toda a administração.

Próximo a ela, ficava a capela e, mais distante, situava-se a senzala, um grande barracão miserável onde se alojavam os escravos. Alguns engenhos maiores chegaram a possuir centenas de escravos, que viviam amontoados na senzala. O engenho propriamente dito, onde se fabricava o açúcar, era composta pela moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar.

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Na moenda, a cana era esmagada, extraindo-se o caldo; na casa das caldeiras, esse caldo era engrossado ao fogo em grandes tachos; finalmente, na casa de purgar, o melaço de cana era colocado em fôrmas de barro para secar e alcançar o "ponto de açúcar".

Após algum tempo, esses blocos eram desenformados dando origem aos "pães de açúcar", blocos duros e escuros, formados pelo que hoje chamaríamos de rapadura. Os "pães de açúcar" eram então encaixotados e enviados para Portugal, e, de lá, para a Holanda, onde passavam por processo de refinação, ficando pronto o açúcar para comercialização e consumo.

Senhores e escravos

Durante o ciclo da cana-de-açúcar, a sociedade colonial se definia a partir da casa-grande e da senzala. Formando o poderoso grupo socioeconômico da colônia, havia os brancos colonizadores, donos dos engenhos, que habitavam as casas-grandes. O poder dessa aristocracia canavieira ia além de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmeras Municipais e a vida colonial.

 A autoridade do senhor de casa-grande era absoluta: em família a obediência lhe era incondicional e o respeito como chefe superior, indiscutível, estando às mulheres submetidas a um papel subordinado, complementar. A sociedade açucareira teve, assim, um caráter explicitamente patriarcal.

Os escravos, considerados simples mercadorias, formavam a base econômica dessa sociedade indígena e, principalmente, negros africanos eram responsável pela quase totalidade dos trabalhos braçais executados na colônia, constituindo "as mãos e pés do senhor". Os escravos, em sua maioria, trabalhavam de sol a sol na lavoura e na produção de açúcar, vigiados por um feitor, sofrendo constantes castigos físicos.

Alguns exerciam trabalhos domésticos na casa-grande como cozinheiras, arrumadeiras, amas de crianças, moleques de recados, etc. Formando uma pequena parcela da população, havia os homens livres, plantadores de cana com poucos recursos, que não possuíam instalações para produzir o açúcar (engenhos), sendo obrigados a vender a cana a um senhor de engenho.

A essa camada intermediária pertenciam também os feitores, capatazes, comerciantes, artesãos, padres, militares e funcionários públicos, moradores das poucas vilas e cidades da época.

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Auge do ciclo da cana-de-açúcar

Durante os séculos XVI e XVII, o Brasil tornou-se o maior produtor de açúcar do mundo, gerando imensa riqueza para os senhores de engenho, para Portugal e, sobretudo, para os holandeses. Ostentando sua opulência, os senhores de engenho do Nordeste importavam da Europa desde roupas e alimentos até louças e objetos de decoração. Como conseqüência da maciçaimportação de mercadorias européias, da importação de escravos e da participação dos holandeses e portugueses no comércio de açúcar, quase toda a riqueza gerada por este ciclo econômico foi desviada da colônia para as áreas metropolitanas, caracterizando as condições do pacto colonial.

Atividades complementares da economia açucareira

Embora a economia do período colonial tenha se baseado num único produto, que concentrava quase completamente o interesse e as atividades de toda a colônia, havia algumas atividades secundárias, realizadas para complementar as necessidades da população. Sendo assim, havia, dentro do próprio engenho, uma pequena produção de aguardente e rapadura, utilizada no consumo interno da colônia e também no escambo de escravos africanos.

Ao mesmo tempo, iniciou-se a criação do gado que se desenvolveu no Nordeste, próximo aos engenhos, penetrando depois no interior. Sendo uma atividade complementar, importância comercial da criação de gado era muito menor que a da produção de açúcar. Entretanto, além de servir para mover as moendas e transportar o açúcar, o gado era fonte de alimentação e fornecia o couro que era usado na confecção de roupas, calçados, móveis e outros utensílios. Na criação de gado, quase não havia escravos, predominando o trabalho livre, principalmente dos indígenas.

O gado era criado de forma extensiva, ou seja, solto nas terras, sempre à procura de melhores pastagens. Dessa forma, o gado  penetraram no interior, alcançado, já no século XVII, o Maranhão e o Ceará, ao norte, e, mais ao sul, as margens do rio São Francisco. Originaram-se, assim, diversas fazendas no interior, o que acabou levando ao desbravamento da atual região Nordeste. Além da criação e gado, havia o cultivo de alguns produtos agrícolas complementares, como a mandioca que constituía a base da alimentação da população colonial, principalmente dos escravos.

O fumo ou tabaco era produzido principalmente para ser trocado por negros escravos na costa africana, onde era muito valorizado. Sua produção desenvolveu-se mais na Bahia e em Alagoas. Já o cultivo de algodão

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desenvolveu-se mais no Maranhão e visava apenas à produção de tecidos rústicos usando na confecção das roupas dos escravos, já que, para os senhores de engenho e suas famílias, as vestimentas vinham da Europa.

A produção de artigos manufaturados na colônia era controlada pela metrópole portuguesa, a quem interessava assegurar a venda dos tecidos produzidos na Europa. No século XVII, a riqueza do açúcar levou os holandeses a invadirem o Brasil. Durante alguns anos, eles dominaram o Nordeste e se apropriaram de suas técnicas de produção. Após sua expulsão, em 1654, os holandeses tornaram-se os maiores concorrentes dos produtores nordestinos, passando a fabricar açúcar nas suas colônias das Antilhas. Isso marcou o início da decadência econômica do Nordeste açucareiro, o que levou toda a colônia a uma profunda crise.

Colônias de Exploração e Colônias de Povoamento

A colonização portuguesa no Brasil, assim como a espanhola na América, realizou-se com base no pacto colonial, produzindo riquezas que quase nunca ficavam nas áreas coloniais. Ao mesmo tempo, para garantir os ganhos e o domínio colonial, as metrópoles definiam o tipo de propriedade e a forma de produzir, além de exercerem o controle da produção.

 Resulta daí uma economia e uma organização social que espelhavam a dominação e a dependência. Para atender às exigências metropolitanas, o Brasil e a América Espanhola transformaram-se num conjunto de colônias de exploração. Situação muito diferente aconteceu com a América Inglesa, em cuja colonização, só iniciada no século XVII, teve predomínio as colônias de povoamento. Para lá se dirigiram colonos que fugiram de perseguições religiosas ou políticas e que tinham interesse em se instalar na colônia e produzir para sua sobrevivência. Fundando as chamadas Treze Colônias, contavam com o clima temperado de boa parte de seu território, muito semelhante àquele que haviam deixado na Europa. 

Especialmente no norte (região conhecida como Nova Inglaterra) e no centro da costa atlântica da América do Norte, desenvolveu-se uma economia dinâmica, com produção para o mercado interno, logo se desdobrando em atividades comerciais e manufatureiras, produzindo as origens da riqueza dos Estados Unidos. Veja o quadro abaixo: 

COLÔNIA DE EXPLORAÇÃO COLÔNIA DE POVOAMENTO

Latifúndio Pequena propriedade familiar

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MonoculturaPolicultura e desenvolvimento de

manufaturados

Trabalho compulsório: escravidão e servidão indígena

Trabalho livre e "servidão por contrato"

Mercado externo Mercado interno

Pacto colonial Liberdade econômica