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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO A EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO SETOR SUCROALCOOLEIRO NO PERÍODO DE 2002-2012 LUIZA AMARA MACIEL BRAGA Matrícula n.º110051761 [email protected] ORIENTADORA: Profª. Maria da Graça Derengowski Fonseca [email protected] MARÇO 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO A EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO SETOR SUCROALCOOLEIRO NO PERÍODO DE 2002-2012 1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

A EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO SETOR

SUCROALCOOLEIRO NO PERÍODO DE 2002-2012

LUIZA AMARA MACIEL BRAGA

Matrícula n.º110051761

[email protected]

ORIENTADORA:

Profª. Maria da Graça Derengowski Fonseca

[email protected]

MARÇO 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

A EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE DO SETOR

SUCROALCOOLEIRO NO PERÍODO DE 2002-2012

1

_______________________________

LUIZA AMARA MACIEL BRAGA

Matrícula n.º: 110051761

[email protected]

ORIENTADORA:

Profª. Maria da Graça Derengowski Fonseca

[email protected]

MARÇO 2014

2

As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva

responsabilidade do autor

A Paulo Roberto Rocha Braga

e Bernadete Procópio Maciel Braga

AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a Deus, já que sem ele eu não seria capaz de realizar este

trabalho. Também devo gratidão à Beata Nhá Chica a quem sempre direcionei minhas orações

nos momentos de fraqueza, recebendo de volta o ânimo necessário para prosseguir.

Aos meus pais agradeço por todo o apoio, compreensão, carinho e amor. Vocês

sempre foram e sempre serão os grandes exemplos que tento diariamente seguir. Ao meu pai

sou grata por despertar-me o interesse pelos assuntos relacionados à agricultura sem o qual eu

não sentiria prazer em estudar este setor e por ser uma fonte inesgotável de conhecimentos

sempre disposto a transmiti-lo. À minha mãe agradeço por compartilhar dos meus sonhos

3

mesmo quando estes fugiam às suas expectativas e por sempre me dirigir palavras de apoio

nos momentos em que tive vontade de desistir.

Não posso deixar de falar algumas palavras de gratidão ao meu namorado, João Paulo

Lima, que me acompanhou nesses quatro anos. Foram muitos os momentos em que não pude

lhe dedicar atenção por precisar estudar e nos últimos meses por precisar me dedicar a este

trabalho, mas em nenhum momento fui questionada, sempre recebendo dele muito carinho e

compreensão.

Ao meu primo, que considero um irmão, Felipe Marques Maciel, sou especialmente

grata por estar sempre disposto a me auxiliar nos percalços que enfrentei com a língua

portuguesa e com os programas de leitura de dados. Além de ter sido uma maravilhosa

companhia para os sábados em que tive que me privar do convívio social.

Aos amigos sem os quais essa jornada não teria sido a mesma. Agradeço aos amigos

da faculdade, sem os quais meus dias teriam sido inundados pelo tédio e muitas matérias se

tornariam impossíveis. Devo fazer um agradecimento especial à minha amiga Raíssa Fersant

que por várias vezes foi a pessoa mais paciente e caridosa do mundo com seus cadernos

completos e incrível paciência em me ensinar. Aos amigos de Niterói, Luíza Cortez, Vinícius

Schuabb, André Filipe Guedes, Mariana Cardozo e Pedro Teixeira agradeço pelas

maravilhosas viagens de barca, os almoços especiais e pela amizade que pretendo levar por

toda a vida.

Também preciso declarar minha gratidão à minha colega Roberta de Souza Chagas,

que desde o primeiro dia em que comecei a integrar a equipe do Infosucro-UFRJ sempre foi

uma pessoa agradável, sempre disposta a compartilhar seus conhecimentos. Sem sua ajuda

este trabalho provavelmente não seria possível.

Por último quero registrar meu eterno agradecimento a minha orientadora Professora

Maria da Graça Derengowsky da Fonseca, que foi muito mais do que uma simples orientadora.

Na verdade ela me introduziu à vida acadêmica, dando um novo sentido à minha graduação e

com isso à minha vida. Agradeço por todos os ensinamentos, pela oportunidade de participar

do Infosucro e por ter me guiado neste trabalho.

RESUMO

Este trabalho compreende uma breve revisão histórica sobre o setor

sucroalcooleiro. Ao mesmo tempo ocorre uma descrição da estrutura e

conjuntura vigentes no recorte de tempo escolhido para análise (2002-2012). A

descrição da conjuntura é feita através da exposição dos números e dos fatos

do setor. O cerne desta monografia se encontra no estudo do desempenho do

setor sucroalcooleiro durante os anos de 2002 até 2012 através do cálculo e

análise da produtividade individual dos fatores. São calculados os valores da

produtividade da terra, industrial e do trabalho. A partir dos valores encontrados

são delimitados os fatores que podem ter causado as variações de

4

produtividade. Esses fatores são, então, relacionados aos dados e fatos do

setor, que foram introduzidos no início do trabalho.

ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES

OECD - The organization for economic co-operation and developmentPAM – Produção agrícola Municipal IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e EstatísticaIE – Instituto de economiaUFRJ – Universidade federal do Rio de JaneiroART – Açúcar reduzido totalPNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de DomicíliosUNICA – União das indústrias de cana-de-açúcarTON - ToneladaM³ - Metro cúbicoKG - KilogramaSTAB – Sociedade dos técnicos açúcareiros alcooleiros do BrasilMAPA – Ministério da agricultura, pecuá´rria e do abastecimentoIAA – Instituto do açúcar e álcoolCONAB – Companhia nacional do abastecimentoINMET – Instituto Nacional de MeteorologiaFIESP – Federação das indústrias do estado de São PauloANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e BiocombustíveisMTE – Ministério do TrabalhoBNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e SocialCTC – Centro de Tecnologia CanavieiraANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de veículos automotoresEMBRAPA – Empresa Brasileira de pesquisas agropecuárias

5

PECEGE – Programa de educação continuada em economia e Gestão de EmpresasESALQ – Escola superior de agricultura Luiz Queiroz

Conteúdo

6

INTRODUÇÃO

Esta monografia é resultado de pesquisas realizadas junto ao Grupo de

Bioeconomia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de

Janeiro sob coordenação da Professora Maria da Graça Derengowski da

Fonseca. A metodologia aqui utilizada foi desenvolvida pela Professora, com o

auxílio de seus pesquisadores, orientandos e estagiários.

O setor sucroalcooleiro é caracterizado pela sua grande importância no

mercado nacional, já que a produção de etanol vislumbra a possibilidade de

auto-suficiência da matriz energética de forma limpa, possibilitando a redução

do consumo de combustíveis com origem fóssil, como a gasolina. Ele também

se destaca no mercado internacional, para onde são anualmente direcionadas

milhares de toneladas de açúcar, e que assim contribuem com a saúde da

balança comercial brasileira.

O objetivo principal desta monografia é estudar o desempenho dessa

agroindústria, durante o período que compreende os anos de 2002 até 2012,

sob a ótica das produtividades individuais dos fatores: terra, indústria e

trabalho. Pretende-se, partir dos cálculos de produtividade e de suas variações,

compreender os impactos, positivos e negativos, causados por algumas

mudanças que ocorreram ao longo dos anos estudados. Como objetivo

secundário, se buscará a compreensão da relação entre esses

acontecimentos, as variações de produtividade e atual crise enfrentada pelo

setor.

A metodologia utilizada é baseada na análise empírica dos dados do

setor, através dos quais serão calculadas as produtividades da agricultura, da

indústria e do trabalho. É importante mencionar que algumas das metodologias

de cálculo empregadas foram escolhidas de acordo com os dados disponíveis,

como é o caso da produtividade do trabalho.

O primeiro capítulo apresenta a agroindústria sucroalcooleira brasileira.

Inicialmente é feita uma contextualização histórica, onde são citados alguns

acontecimentos de épocas que antecedem o período que este trabalho

pretende analisar, mas que foram relevantes para a formação da atual

estrutura. Em seguida são introduzidas algumas características referentes à

7

estrutura desse setor e à distribuição da produção no território brasileiro.

Também são expostos os dados referentes à lavoura de cana-de-açúcar e à

produção de açúcar e álcool, que se mostram relevantes para a posterior

análise das produtividades. Por último, são descritos os principais fatos

ocorridos no período, que impactaram de alguma maneira esta agroindústria.

O segundo capítulo é introduzido por uma abordagem teórica sobre as

medidas de produtividade, seguida das definições e metodologias utilizadas

neste estudo. Os resultados dos cálculos são expostos na seção seguinte,

acompanhados de uma breve análise sobre as variações resultantes.

O terceiro capítulo funciona como uma ponte entre os dois primeiros

capítulos, buscando delinear as relações existentes entre as variações de

produtividade e os fatos que ocorreram ao longo do mesmo período. A primeira

seção enumera os fatores que podem ter sido responsáveis pelo aumento ou

redução de produtividade ao longo dos onze anos. A segunda seção expõe as

principais conseqüências dos acontecimentos do primeiro capítulo, que por sua

vez podem ter ligação direta com as alterações nas taxas de produtividade

calculadas.

CAPÍTULO I – A AGROINDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA

BRASILEIRA

Este primeiro capítulo tem como objetivo apresentar o setor

sucroalcooleiro brasileiro. Inicialmente será feita uma contextualização histórica

que permitirá um melhor entendimento da situação atual. Tal análise se mostra

8

importante pelo fato de explicar qual foi o caminho traçado pelo setor desde

que este começou a se delinear como agroindústria, permitindo um melhor

entendimento da dinâmica existente entre as intervenções do estado e os

interesses do setor privado. Em seguida, será feita uma exposição sobre a

agroindústria sucroalcooleira, a partir da delimitação de suas características

mais relevantes.

Este capítulo também compreende uma análise mais profunda sobre o

desempenho da lavoura e da indústria na década a ser estudada (2002-2012),

buscando mostrar o caminho galgado pelo setor. Além disso, também serão

introduzidos alguns fatos que se mostraram significativos para a formação da

conjuntura do setor no período em questão.

I.1 Breve histórico do setor

Os primórdios da agroindústria sucroalcooleira brasileira

A história da cana-de-açúcar está diretamente relacionada com a história

mundial, já que esta planta, cujo nome científico é Saccharum

officinarum,esteve presente em grande parte dos eventos mundiais que são

contados pela história da humanidade, como, por exemplo, as Cruzadas e o

descobrimento do Novo Mundo.

A introdução do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil ocorreu no início da

colonização da região e foi realizada pelos portugueses, que perceberam que a

terra e o clima eram propícios para o cultivo e enxergaram, nessa

oportunidade, a possibilidade de efetivar a colonização brasileira, tornando-a

rentável. Mesmo após a Proclamação da Independência e, posteriormente, da

República, a produção da cana-de-açúcar e de alguns de seus derivados

nunca deixaram de ter grande importância na produção nacional. Inclusive,

muitas foram as vezes que as exportações de açúcar contribuíram

positivamente para a Balança comercial brasileira.

Apesar da grande importância desse setor para o país, a atual estrutura

e segmentação da agroindústria sucroalcooleira começaram a ser construídas

somente na segunda metade do século XX, após o aumento da produção de

álcool e de uma série de intervenções estatais. (ROSÁRIO, 2008)

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O século XX e a atuação estatal

No final do século XIX, o setor passa por uma profunda crise de

superprodução que não permitia que os preços subissem devido ao aumento

da produção interna, que tinha se expandido, e ao aumento da concorrência

externa, pois nesse período, além da grande produção de açúcar de beterraba

na Europa, muitos países como Cuba e até África do Sul já tinham adotado o

cultivo da cana e a produção de açúcar. (LAGES, 1993). Cuba, por exemplo,

depois da abolição da escravatura, conseguia produzir o açúcar com um custo

extremamente baixo quando comparado ao custo brasileiro.

(VASCONCELLOS, 2008) Diante desse cenário, muitos produtores solicitavam

que o Estado realizasse alguma ação regulatória para o setor, mas tal ação só

se efetivaria depois da 1ª Guerra Mundial, quando a situação agravou-se ainda

mais1.

Em junho de 1933, durante o governo Vargas, foi criado o IAA, órgão

regulador, criado sob o decreto n° 22.789 que seria responsável pela regulação

do setor sucroalcooleiro. Seria sua responsabilidade igualar a oferta e a

demanda (interna e externa) de açúcar, estabelecendo cotas de produção por

usina e por estado, além de ser o responsável pela emissão de licenças para a

construção de novas usinas. O preço no mercado interno da cana e dos seus

subprodutos também era estabelecido pelo IAA.

Outra função do Órgão regulador seria o incentivo à instalação de novas

destilarias e à modernização das que já existiam. Essas funções buscavam o

fomento da produção de álcool anidro que também teria seu preço regulado

pelo órgão. Tal incentivo era muito importante para o país, uma vez que nessa

época ainda não existiam refinarias de petróleo no Brasil. A ideia de utilização

de álcool no lugar da gasolina era, então, muito importante, já que diminuiria a

dependência energética do petróleo estrangeiro. (VASCONCELOS, 2008)

O IAA deveria, então, planejar o desenvolvimento do setor, dando

subsídios às regiões produtoras menos favorecidas e auxiliando na expansão

1Durante o período da Primeira Guerra (1914-1918), a queda na produção de açúcar dos países envolvidos nos conflitos gerou aumento nos preços, o que fez os usineiros brasileiros aumentar suas produções. Com o fim do conflito, a produção mundial voltou ao normal e os produtores brasileiros ficaram com excesso de produção. (LAGES, 1993).

10

das mais promissoras. Nesse momento, o setor começou a desenvolver certa

dependência em relação ao Estado, já que atuação do IAA denotava uma clara

redução dos riscos para os empresários do setor privado que pretendiam

investir no setor, criando uma situação de maior conforto. As exportações de

açúcar, por exemplo, constituíam um monopólio do IAA que, segundo Rosário

(2008), funcionava como um colchão protetor em épocas de superprodução,

momentos em que o preço do açúcar no mercado internacional acabava

caindo.

A atuação desse instituto, apesar de ter se mostrado positiva, não

conseguiu evitar crises de superprodução como a que ocorreu em 1975 que,

somado aos problemas brasileiros advindos do primeiro choque do petróleo,

levaram à criação do Proálcool, o maior programa brasileiro voltado para o

setor sucroalcooleiro. Naquele momento, a conjuntura econômica brasileira

permitiu a elaboração de uma série de medidas que propiciaram a ampla

expansão e modernização do setor.

O programa seria responsável por estimular positivamente a demanda e

oferta de álcool anidro que, numa primeira fase, seria adicionado à gasolina,

funcionando como um produto complementar, e numa segunda fase seria

promovido uma expansão de carros movidos somente a álcool ao mesmo

tempo em que este combustível seria disponibilizada nos Postos de Gasolina.

Essa ação seria benéfica para o setor, para o país e para o meio ambiente, por

ser menos poluente. Com isso seria possível diminuir os déficits comerciais

gerados pela importação dos derivados de petróleo; alocar a oferta excedente

de cana-de-açúcar; estimular ainda mais a agricultura brasileira, forçando a

utilização de recursos que antes estavam ociosos, como mão-de-obra e terra; e

ainda promover a expansão dos bens de capital. (VASCONCELOS, 2008)

Segundo Rosário (2008), o programa permitiu uma coordenação entre

os interesses do Governo Federal, usineiros, o setor de máquinas e

equipamentos e a indústria automobilística. Essa última indústria teria ficado

receosa em realizar os investimentos necessários para a produção de carros

11

movidos a álcool, mas acabou recebendo subsídios2 do governo para tal. A

tabela 1 mostra a porcentagem de carros movidos a álcool que eram vendidos

depois do lançamento do programa, e que na década de 1980 chega a

ultrapassar os 90%, reduzindo muito a frota movida à gasolina3.

Tabela 1: Proporção de vendas de veículos movidos à álcool sobre o total

de veículos no Brasil entre 1986 - 1995

Ano % de veículos a álcool1986 92,1%1987 88,4%1988 94,4%1989 52,5%1990 11,6%1994 12,2%1995 3,6%

Fonte: OHASHI (2008) - (Baseado em: SHIKIDA (1998))

Ao mesmo tempo, o agronegócio cresceu intensamente, puxado pela

expansão enorme do setor sucroalcooleiro que teve acesso aos financiamentos

do governo para a obtenção de novas tecnologias. Essa nova configuração

seria responsável pela expansão intensa da produção de álcool, que pode ser

vista na tabela 2.

2Com os benefícios do Proálcool, as frotas de carro movido a álcool aumentaram significativamente por terem, entre outros benefícios, a isenção de IPI (imposto sobre o produto industrializado), o que tornou possível o aumento da demanda pelo álcool, favorecendo o setor sucroalcooleiro que então se beneficiou de uma crescente demanda interna.

3Nesse período não existiam veículos Flex Fuel, assunto que será introduzido nas próximas seções.

12

Tabela 2: Evolução de produção de álcool durante o período do Proálcool

(1970 - 1987) (Milhões de litros)

Safras Anidro Hidratado Total1970/1971 252,4 384,8 637,21971/1972 390,0 223,1 613,11972/1973 388,9 292,1 681,01973/1974 306,2 259,8 566,01974/1975 216,5 408,5 625,01975/1976 232,6 323,0 555,61976/1977 300,3 363,7 664,01977/1978 1.176,9 293,4 1.470,31978/1979 2.095,9 395,0 2.490,91979/1980 2.712,4 671,4 3.383,81980/1981 2.104,0 1.602,1 3.706,11981/1982 1.413,2 2.750,2 4.163,41982/1983 3.549,7 2.273,6 5.823,31983/1984 2.466,7 5.394,0 7.860,71984/1985 2.103,0 7.149,0 9.252,01985/1986 3.200,0 8.621,0 11.821,01986/1987 2.193,0 8.220,0 10.413,0

Fonte: OHASHI (2008) - (Baseado em: RAMOS (2008), IAA)

Também é possível perceber no Gráfico 1 um aumento da área colhida

de cana-de-açúcar após 1975, quando se inicia o programa. A partir de 1990,

quando ele é abandonado, é visível que a expansão do cultivo não continua.

Gráfico 1: Evolução área colhida de cana-de-açúcar antes e depois

do Proálcool (1965 -1995)

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

4.000.000

4.500.000

5.000.000

1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Evolução área colhida (Hec) ­ BRASIL

Início doProálcool

Abandonodo  Proálcool

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados do IPEADATA

Com isso é possível confirmar que desde a época da criação do IAA, e

com a posterior criação do Proálcool, o setor estudado acabou se acostumando

13

com a intensa intervenção do Estado. O próprio setor acabou desenvolvendo

um corporativismo característico que, segundo Rosário (2008), “induz e conduz

políticas públicas relacionadas ao interesse do setor”. Todo esse auxílio foi

positivo por permitir à expansão das terras cultivadas, aprimoramento

tecnológico e incentivo direto ao aumento da demanda pelos produtos

derivados da cana-de-açúcar. Contudo, toda essa proteção fornecida pelo

Estado nem sempre foi edificante, o que fica claro no seguinte trecho, como foi

explicado por Ely, 2007:

“O sistema produtivo estava ameaçado pela ausência de riscos. Neste caso, oEstado era quem assumia os riscos do setor privado, dando-lhe uma situação de extremo conforto, porém, impedindo o desenvolvimento do setor.”(ELY, R. N., 2007, pg.47)

Segundo Chagas (2011), em meados da década de 80 a presença

estatal no setor começa a diminuir. Nesse período, o país estabelece sua

produção nacional de petróleo ao mesmo tempo em que ocorre o contra

choque do petróleo, conforme o trecho abaixo:

“(...) A estrutura vigente com forte presença do Estado entrou em declínio em meados da década de 1980 com o contra choque do petróleo e o estabelecimento da produção nacional de petróleo.” (CHAGAS, R. S. B., 2011, pg. 51)

Com isso o programa nacional de Álcool começa a ser abandonado e a

demanda por carros movidos a álcool combustível começa a encolher.

Os anos 90 foram árduos para os empresários canavieiros, que sofriam

com a diminuição na demanda por álcool combustível, com o preço

internacional do açúcar4 e com a falta de crédito (BACCARIN, 2009). Ademais,

esse período foi caracterizado pela desregulamentação do setor. Segundo

Barros e Moraes (2002), os instrumentos de controle da inflação e o movimento

de liberalização da economia levaram ao afastamento dos mecanismos

utilizados para intervir em setores como o sucroalcooleiro. Em 1999, depois de

4 Segundo Baccarin (2009), o preço máximo do período foi os U$200,00 por tonelada.

14

ser promulgada a portaria nº 275, em outubro de 1998, os preços, do açúcar e

do etanol começaram a ser formados pelo mercado.

I.2 – A atual agroindústria sucroenergética

Principais características

A agroindústria sucroalcooleira é caracterizada pela produção de três

produtos principais, o açúcar, o etanol e a co-geração de eletricidade. Além

desses, também existe a possibilidade de fabricação dos subprodutos, grupo

que compreende a aguardente, o bioplástico, o vinhoto e outras possibilidades,

sendo uma indústria diversificada.

A indústria sucroenergética possui uma estrutura de mercado com

muitas empresas que atuam em diferentes etapas do processo produtivo.

Segundo aInfosucro-IE, é comum que as usinas sejam integradas

verticalmente com a etapa agrícola, o que é confirmado por Chagas (2011) no

seguinte trecho:

“Na safra de 2009/2010, (...), a agroindústria

canavieira continua integrada verticalmente

sendo responsável nesta safra por 57% da

própria produção de cana-de-açúcar. (MAPA,

2011)”

(CHAGAS, 2011, pg 57)

A integração vertical, tal qual a diversificação, proporcionam economias

de escopo resultantes da produção de diferentes produtos a partir da mesma

matéria-prima (cana-de-açúcar). A integração vertical também é responsável

por gerar redução de custos, enquanto a diversificação é capaz de garantir

acesso a diferentes mercados.

É importante observar que a produção de açúcar e etanol é realizada na

mesma planta industrial. Essa característica permite ao usineiro escolher

produzir entre 40% e 50% de etanol ou açúcar. A co-geração de energia

elétrica é feita utilizando o bagaço da cana-de-açúcar como fonte de biomassa,

também dentro da mesma planta. Inclusive grande parte das usinas produz a

própria energia utilizada no processo de produção e comercializa o excedente.

15

Principais regiões produtoras

Conforme a Tabela 3, a região Centro-Sul, em 2012, possuía mais de

86% das lavouras de cana-de-açúcar do país. Já a região Norte-Nordeste,

onde o cultivo da cana-de-açúcar foi primeiro introduzido, tem participação de

apenas 13%. As quantidades produzidas de açúcar e etanol na região Centro-

Sul também são superiores aos valores correspondentes à Norte-Nordeste.

Tabela 3: Valores de plantio e produção por região5 (2012)

RegiãoÁrea

plantada (hec)

Produção de açúcar (ton)

Produção de etanol

(m³)Centro-Sul 8.482.249 31.304 20.542Norte-Nordeste 1.270.079 4.621 2.139Brasil 9.752.328 35.925 22.682

Fonte: ÚNICA

O peso da região Centro-Sul está diretamente relacionado ao

desempenho do estado de São Paulo que, segunda a Única, foi responsável

por mais de 50% da produção de açúcar e etanol. São Paulo é o estado com

maior número de usinas, o que é visualizado na Figura 1.

Figura 1: Mapa da Produção de cana-de-açúcar no Brasil (2012)

5 Os valores de área plantada são anuais e correspondem ao ano de 2012, enquanto os de produção são por safra e correspondem à safra 2011/2012.

16

Fonte:Única, com base em NIPE-UNICAMP, IBGE e CTC

I.3 Dados e fatos do setor entre 2002 e 2012

Dados (2002-2012)

Esta subseção se propõe a resumir os principais dados do setor

sucroalcooleiro durante o período analisado. Aqui serão expostos alguns dados

que auxiliaram na posterior análise das produtividades.

A lavoura de cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar é uma planta semi-perene, cujo ciclo agronômico leva

entre seis e sete anos. Os produtores possuem pouca mobilidade de

substituição da lavoura, situação que é explica por Conab (2009):

“(...) Uma vez iniciado o plantio é preciso

aguardar o final do ciclo agronômico para

apurar os resultados econômicos. Por esse

motivo, mesmo enfrentando dificuldades de

preços pouco remuneradores, os produtores

independentes têm pouca chance de mudar

de atividade no curto e médio prazo.”

(CONAB, 2009, pg. 7)

17

Sendo assim, na maioria das vezes, os dados de produção não sofrem

súbitas variações. A expansão e a redução do cultivo costumam se adaptar ao

longo do tempo.

Durante o período analisado, existiu uma tendência ao crescimento dos

canaviais. Isso fica evidente no Gráfico 2, que mostra a evolução da área

plantada no Brasil para o período. A taxa de crescimento geométrico nos onzes

anos chegou aos 7%.

Gráfico 2: Área plantada de cana-de-açúcar (2002-2012)

5.206.656 5.377.216 5.633.7005.815.151

6.390.474

7.086.851

8.210.8778.845.833 9.164.756

9.616.6159.752.328

0

2.000.000

4.000.000

6.000.000

8.000.000

10.000.000

12.000.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Área Plantada (Hectares)

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados do MAPA

Já a produção anual de cana-de-açúcar cresceu a uma taxa de 8%,

evidenciando que o aumento da produção foi maior do que o da área plantada,

o que pode ser um indício de ganho de produtividade. O Gráfico 3 mostra a

produção brasileira de cana-de-açúcar de 2002 a 2012 em toneladas.

Gráfico 3: Quantidade de cana-de-açúcar produzida (2002-2012)

18

0

100.000.000

200.000.000

300.000.000

400.000.000

500.000.000

600.000.000

700.000.000

800.000.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Quantidade produzida (Toneladas)

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados da PAM (IBGE)

No ano de 2012 houve uma queda de produção acumulada de 2% em

relação ao ano de 2011, sendo esta a única queda registrada no período. Mas

se dividirmos o período 2002 a 2012 em três períodos diferentes (2002-2005;

2006-2009; 2010-2012), percebemos que o primeiro período tem uma taxa de

crescimento de 8%, enquanto o segundo possui um crescimento de 20% e o

terceiro apresenta um crescimento de apenas 1%, o que denota uma

desaceleração no crescimento nos últimos anos.

O mercado de açúcar

O açúcar é uma commodity agrícola e por isso sua produção é voltada

para o mercado interno e externo, devido a sua facilidade de comercialização.

Seu preço é formando no mercado, sendo influenciado pela demanda interna e

externa. Essa característica é explicada no trecho abaixo:

“Uma vez que o país seja competitivo na produção e não haja barreiras importantes ao comércio, as transações domésticas e internacionais garantem a regularidade do abastecimento, determinam os níveis de preços de comércio e a remuneração dos agentes econômicos envolvidos, requerendo pouca ou nenhuma intervenção governamental.”(Conab, 2009, pg. 5)

19

Com isso é possível dizer que a oferta de açúcar, que é determinada

pela produção de cana-de-açúcar, também tem grande influência do mercado

externo, principalmente no que diz respeito aos preços. Como o usineiro tem

certa flexibilidade na produção e a sua decisão de produção está intimamente

ligada aos preços, as variações de preço do açúcar no mercado internacional

podem fazê-lo preferir à produção de açúcar em detrimento a do etanol.

Durante o período de análise, o preço do açúcar cresceu, chegando a

custar em 2011 U$ 25,99 por libra-peso, o que pode ser visualizado no Gráfico

4.

Gráfico 4: Evolução do preço internacional do açúcar (US$ por

libra-peso)

6,617,33 7,16

9,33

13,94

11,4112,15

15,13

20,16

25,99

23,37

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Preço do açúcar (US$ por libra­peso)

Fonte: IPEADATA

A quantidade produzida de açúcar também cresceu, como é possível

verificar no Gráfico 5- que mostra a evolução da produção nos anos em

questão.Em 2002, a produção brasileira de açúcar foi de 22 milhões de

toneladas. Em 2012, dez anos depois, ela já tinha ultrapassado os 38 milhões

de toneladas, o que representa um crescimento acumulado de mais de 70% na

produção total.

Gráfico 5: Produção Brasileira de Açúcar (2002-2012)

20

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

30.000.000

35.000.000

40.000.000

45.000.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Açúcar(ton)

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados do MAPA

No gráfico 6, que mostra o total de açúcar exportado pelo Brasil ao longo

do período, é possível verificar que o total exportado também aumentou,

chegando perto dos 28 milhões de toneladas exportados em 2010.

Gráfico 6: Exportação brasileira de Açúcar (2002-2012)

0,00

5.000.000,00

10.000.000,00

15.000.000,00

20.000.000,00

25.000.000,00

30.000.000,00

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Exportação Açúcar (Toneladas)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ÚNICA

O peso da importação de açúcar no Brasil costuma ser mínimo diante

dos outros valores relacionados a essa commodity, o que é comprovado pela

Tabela 4, que representa o valor da importação ao longo do período. O ano de

2012 teve o maior valor do período, com 187 toneladas. Perto dos 25 milhões

de toneladas exportados no mesmo ano, essa quantidade não tem importância.

21

Mas, ao ser comparada aos valores de importação dos outros anos, ela denota

uma taxa de crescimento geométrico de 25% no período.

Tabela 4: Importação brasileira de açúcar (2002-2012)

AnosImportação de açúcar

(toneladas)2002 202003 52004 102005 82006 282007 622008 252009 212010 362011 382012 187

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados do MAPA

O mercado de etanol

Presentemente, o etanol anidro e o hidratado são os dois principais tipos

de álcool produzidos pelas usinas brasileiras. Eles têm processos de

beneficiamento muito semelhantes, distinguindo-se apenas no momento

posterior à fermentação, quando o etanol anidro passa por um processo de

desidratação, o que não acontece com o hidratado. Sendo assim, a principal

diferença entre os dois está no percentual de água em sua composição, que

chega a 5% no álcool hidratado e é inferior a 1% no anidro. No que diz respeito

à utilização, o anidro é adicionado à gasolina6, enquanto o hidratado é usado

puro, sendo comercializado nas bombas dos postos de gasolina.

O Gráfico 7, expõe o progresso da produção de etanol no Brasil de 2002

até 2012. É possível verificar que a produção de etanol anidro se manteve

durante o período, sendo diretamente influenciada pela Lei nº 10.203/2001,

responsável pelo estabelecimento de que um percentual, entre 20% e 25% de

etanol anidro, deveria ser adicionado à gasolina. Já a produção de etanol

6Com a adição de etanol anidro à gasolina no Brasil, busca-se a redução da importação de gasolina, o estímulo do setor sucroalcooleiro e também a redução de poluentes.

22

hidratado, que nos primeiros anos era menor do que a de anidro, a partir de

2003, começou a crescer, ultrapassando o etanol anidro em 2005. Esse fato

está diretamente relacionado ao surgimento dos carros Flex Fuel, fato que será

exposto na próxima seção. A soma da produção dos dois tipos de etanol

ultrapassou os 27 milhões de metros cúbicos produzidos em 2008 e 2010, mas

indicou decrescimento nos últimos dois anos do período.

Gráfico 7: Produção Brasileira de Etanol (2002-2012)

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

30.000.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Et. Anidro (m³) Et. Hidratado (m³) Etanol Total (m³)

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados do MAPA

O etanol brasileiro é caracterizado pela sazonalidade da produção7,

característica que também afeta o açúcar e gera altos custos para os

empresários, que precisam formar estoques. No caso do etanol, a formação de

estoques é de suma importância para evitar a falta de abastecimento interna.

Diferentemente do açúcar, o etanol ainda não é uma commodity, fazendo parte

de um grupo de produtos definido na seguinte passagem:

“(..) Apesar de terem consumo generalizado e serem competitivos no mercado internacional, têm um espaço de comércio externo muito pequeno em relação ao volume de produção e consumo domésticos, como é o caso dos biocombustíveis, etanol e biodiesel. Para todos esses produtos, a formação dos preços está

7O período de produção é menor do que o período de consumo, o que torna necessário o gerenciamento de estoques.

23

dissociada dos mercados internacionais e estes preços, de modo geral, dependem do volume da produção e do consumo doméstico; da política de gestão de estoques dos agentes (...)”(CONAB, 2009, pg. 6)

Sendo assim, a formação de preço do etanol é realizada no mercado

interno devido ao peso mínimo das exportações, quando comparadas à

produção total. As importações são ainda menores, o que é mostrado pela

Tabela 5, que compara os volumes produzidos, exportados e importados

durante os anos estudados.

Tabela 5: Produção, Exportação e Importação brasileira de etanol

(2002-2012)

Volume Produzido (m³) Volume exportado (m³) Volume Importado (m³)2002 12.588.624 789.152 1.7102003 14.469.951 757.375 6.1002004 14.647.254 2.408.292 4002005 16.039.887 2.600.617 2002006 17.764.262 3.416.555 1002007 22.556.901 3.530.145 4.1002008 27.140.405 5.118.696 5002009 26.103.093 3.308.384 4.4002010 27.962.558 1.905.419 75.6002011 22.892.504 1.967.556 1.137.0002012 23.539.991 3.098.298 554.000

Anos Etanol

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados do MAPA

Fatos do setor (2002-2012)

Esta subseção discorrerá sobre eventos que ocorreram ao longo da

última década, e que influenciaram o setor sucroalcooleiro. São fatos que

auxiliarão, posteriormente, a análise de produtividade.

Introdução dos carros Flex Fuel

No final da década de 1990, a demanda por álcool hidratado era baixa

devido à falta de confiança do consumidor na oferta do produto. Isso fica claro

no argumento de Ely (2007):

“A falta de confiança do consumidor no setor sucroalcooleiro era evidente. Este, não possui, ainda, garantias concretas que o empresário não vá produzir açúcar caso este produto esteja com preços mais elevados. Na

24

compra de um carro a álcool, o consumidor estaria novamente dependente do produto.”(ELY, 2007, pg, 58)

Muitas vezes os consumidores preferiam adquirir carros movidos à

gasolina, apesar do maior preço, por temer a dependência de um produto que

poderia ter redução de oferta pelo simples fato dos preços do açúcar terem

aumentado. Com isso houve redução nas vendas de carros movidos a álcool, o

que por sua vez reduziu as expectativas de demanda por etanol hidratado.

(CHAGAS, 2011).

As expectativas de demanda para o álcool hidratado começaram a

mudar nos primeiros anos do novo milênio. Em 2003, começaram a ser

comercializados os carros Flex Fuel, uma tecnologia brasileira que tornou

possível a utilização de gasolina ou etanol pelo mesmo motor, separados ou

misturados. Com isso o consumidor aumentou as suas possibilidades de

escolhas e a demanda por álcool hidratado aumentou, o que foi explicado por

Rosário (2009):

“O crescimento da demanda de álcool brasileiro está fundamentado na introdução dos automóveis flex-fuel no mercado nacional desde 2003. Ou seja, o mercado para o álcool é prioritariamente interno e sua dinâmica está sendo resultado do aumento de automóveis flex-fuel.”(ROSÁRIO, 2007, pg. 77)

Os carros Flex Fuel foram bem recebidos pelos consumidores, fato que é comprovado pelo gráfico 8, que mostra o aumento da produção destes, em detrimento da redução da produção dos veículos movidos à gasolina.

Gráfico 8: Produção de veículos no Brasil (unidades)

25

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Gasolina Flex Fuel Etanol Diesel

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados a ANFAVEA

Mudanças na legislação

As mudanças de legislação que ocorreram ao longo do período foram

um dos fatos que influenciaram o desempenho do setor ao longo do período.

Em 8 de julho de 1998, foi criado o decreto federal nº 2.661, que estabelece

uma série de normas de precaução que se referem ao emprego do fogo em

atividades agropastoris e florestais. O capítulo IV deste decreto estabelece que

a queima da palha da cana-de-açúcar para facilitar a colheita deve ser

gradativamente abandonada nas lavouras consideradas mecanizáveis,

conforme mostra o trecho abaixo:

“Da Redução gradativa do emprego do fogo:

Art 16. O emprego do fogo, como método

despalhador e facilitador do corte de cana-de-açúcar

em áreas passíveis de mecanização da colheita,

será eliminado de forma gradativa, não podendo a

redução ser inferior a um quarto da área

mecanizável de cada unidade agroindustrial ou

propriedade não vinculada a unidade agroindustrial,

a cada período de cinco anos, contados da data de

publicação deste Decreto.

§ 1º Para os efeitos deste artigo, considera-se

mecanizável a área na qual está situada a lavoura

26

de cana-de-açúcar, cuja declividade seja inferior a

doze por cento.”

(DECRETO Nº 2.661, DE 8 DE JULHO DE 1998.

Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos)

A queima da palha da cana-de-açúcar é um método amplamente

utilizado para eliminar a palha e as folhas secas da planta. Essa técnica auxilia

na colheita manual, pois economiza o tempo de trabalho. Apesar de tornar a

colheita manual mais eficiente, a queima é muito nociva ao meio ambiente, pois

prejudica a qualidade do ar sendo uma fonte de liberação de CO2.

Muitos estados acabaram estabelecendo normas próprias para

encaminhar à eliminação da queimada, como Mato Grosso do Sul, Goiás,

Paraná e São Paulo, a maioria estipulando um prazo para eliminar totalmente a

queima. Em outros estados, como Minas Gerais, a queimada passou a ser

regulada e fiscalizada.

O estado de São Paulo, que é o principal produtor, aprovou a Lei

Estadual nº 11.241/02, que “Dispõe sobre a eliminação gradativa da queima da

palha da cana-de-açúcar e dá providências”. Esta lei determina que a queima

deve ser eliminada totalmente em regiões mecanizáveis até 2021, e nas áreas

não mecanizáveis até 2031. Este prazo foi antecipado pelo protocolo

Agroambiental, assinado entre o governo do Estado São Paulo e a ÚNICA em

2007. Nas áreas mecanizáveis, a queima deverá ser eliminada até 2014 e as

não mecanizáveis tem um prazo um pouco maior, até 2017. Obviamente, o

protocolo não é obrigatório, mas foi amplamente aceito pelas usinas paulistas.

O endurecimento da legislação trabalhista também afetou a lavoura de

cana. Um exemplo foi a modificação da Norma Reguladora Nº31, estabelecida

pela portaria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) nº 86, em março de

2005. O objetivo dessa norma seria o de “estabelecer os preceitos a serem

observados na organização e no ambiente de trabalho, de forma a tornar

compatível o planejamento e o desenvolvimento das atividades da

agricultura,pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura com a

segurança e saúde e meio ambiente do trabalho.”(MTE, 2005). Logo, as

regulamentações implementadas pela norma não se restringiam ao setor

sucroalcooleiro, mas sim a todo e qualquer trabalho considerado rural.

27

A norma estabeleceu uma série de obrigatoriedades. Entre as que mais

afetaram a produção canavieira estão a necessidade de realização de exame

médico admissional para novos trabalhadores contratados e a disponibilização

de instalações sanitárias fixas ou móveis, água potável (analisada

quimicamente) e fresca e ainda abrigos para refeições nas frentes de trabalho.

Todas essas medidas, apesar de positivas para os trabalhadores, aumentam os

custos de produção do corte manual e acabam induzindo o produtor a realizar

a mecanização mais rapidamente.

Aumento de custos

Ao longo do período analisado (2002-2012), existiu uma tendência de

crescimento dos custos de produção do setor sucroalcooleiro. Este fato é

comprovado pelo Relatório de Custos de produção de cana-de-açúcar, açúcar

e etanol no Brasil, produzido pelo PECEGE- Esalq ao final de cada safra.

O estudo realizado pelo PECEGE-Esalq se baseia no levantamento de

custos realizado por meio da cooperação de duzentas instituições atuantes no

setor, entre usinas e fornecedores. Ele é feito durante o período de safra, entre

abril e agosto, e sua metodologia divide os custos de três áreas diferentes,

Tradicional, Expansão e Nordeste. A área Tradicional compreende os estados

do Centro-Sul com maior participação na produção nacional, incluindo o

Paraná e São Paulo - este último sendo o maior produtor. A área Expansão

engloba os estados produtores do Centro-Sul que iniciaram suas produções

mais recentemente e nos quais o cultivo de cana-de-açúcar ainda está em

expansão, como Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Já a área

Nordeste compreende os estados da região nordeste, onde o cultivo da cana-

de-açúcar foi primeiramente introduzido, englobando os estados Paraíba,

Alagoas e Pernambuco. Essa divisão se torna necessária devido às

peculiaridades inerentes a cada região. A versão do relatório utilizada como

base de análise desta monografia expõe os custos referentes ás safras de

2007/08 a 2011/12.

A Tabela 6 mostra os custos de produção para cada tonelada de cana-

de-açúcar produzida. Ao mesmo tempo são apresentados os valores por

tonelada de cana comprada de fornecedores externos. Os custos aumentaram

tanto para a cana comprada quanto para a produzida. Na área de expansão, os

custos da tonelada de cana comprada no período tiveram uma taxa de

28

crescimento acumulado de 105,3%. Já a cana produzida, na mesma região e

período, teve um crescimento acumulado de 47,2%, o que mostra que, apesar

do custo da tonelada de cana comprada ser menor em algumas safras do que

a produzida, a variação dos custos da cana comprada são maiores do que a

produzida.

Tabela 6: Preço da cana-de-açúcar pago a fornecedores externos /Custos

de produção da cana-de-açúcar (R$/ton) (Safra 2007/08 a 2011/12)

2007/ 08 2008/ 09 2009/ 10 2010/ 11 2011/ 12Expansão 35,48 35,97 46,81 58,22 72,85 19,2% 105,3%Tradicional 34,55 35,92 45,16 63,04 74,61 21,0% 11,6%Nordeste 38,11 45,13 61,68 68,9 74,12 17,5% 94,5%

2007/ 08 2008/ 09 2009/ 10 2010/ 11 2011/ 12Expansão 47,93 45,91 47,89 49,35 70,58 8,5% 47,2%Tradicional 42,53 45,93 47,61 56,26 77,21 14,0% 81,5%Nordeste 54,51 60,06 58,7 66,45 74,31 7,2% 36,3%

Custo da safra ­ Cana comprada do fornecedorRegião Variação anual

Variação acumulada

Região Custo da safra ­ Cana da própria usina Variação anual

Variação acumulada

Fonte: Reprodução PECEGE- ESALQ

Já a Tabela 7 mostra os valores de produção para cada tonelada de

açúcar produzido. Aqui também é possível verificar um aumento de custos de

produção,que chegaram a ter uma média de variação anual de 16,2% na

região tradicional.

Tabela 7: Custos de produção do açúcar (R$/ton) (Safra 2007/08 a 2011/12)

2007/ 08 2008/ 09 2009/ 10 2010/ 11 2011/ 12Expansão 502,5 558,2 649,83 660,31 898,54 13,3% 78,8%Tradicional 481,77 535,01 703,39 707,14 943,14 16,2% 95,8%Nordeste 611,83 607,91 714,88 793,87 893,43 10,2% 46,0%

Região Custo da safra ­ Açúcar Variação anual

Variação acumulada

Fonte: Reprodução PECEGE- ESALQ

Por último a tabela 8 compara os custos de produção do m³ do etanol

anidro e do etanol hidratado. Aqui, mais uma vez, os custos cresceram ao

longo das safras. O etanol anidro, por ter uma etapa de produção a mais do

que o hidratado, apresenta custos superiores.

Tabela 8: Custos de produção do etanol anidro e do etanol hidratado

(R$/m³) (Safra 2007/08 a 2011/12)

29

2007/ 08 2008/ 09 2009/ 10 2010/ 11 2011/ 12Expansão 812,73 925,34 1011,64 1011,43 1361,04 11,2% 67,5%Tradicional 783,56 879,87 1035,83 1050,58 1413,54 13,6% 80,4%Nordeste 1003,19 1033,88 1182,14 1271,73 1420,22 9,0% 41,6%

2007/ 08 2008/ 09 2009/ 10 2010/ 11 2011/ 12Expansão 763,78 865,85 958,37 945,9 1289,63 11,4% 68,8%Tradicional 731,88 816,98 960,99 985,1 1327,6 13,8% 81,4%Nordeste 952,11 981,24 1121,95 1206,98 1347,91 9,0% 41,6%

Região Custo da safra ­ Etanol anidro Variação anual

Variação acumulada

Região Custo da safra ­ Etanol hidratado Variação anual

Variação acumulada

Fonte: Reprodução PECEGE- ESALQ

O estudo realizado pelo PECEGE-Esalq (2012) conclui que houve

aumento dos custos de produção do setor, que por sua vez prejudicaram os

resultados financeiros do mesmo.

Preço da gasolina X Preço do etanol

O conteúdo energético da gasolina é 30% maior do o do etanol

hidratado, ou seja, para se conseguir o mesmo potencial energético da

gasolina são necessários 30% a mais de etanol. Por causa desta

característica, o preço do etanol deve representar 70% do preço da gasolina,

para que o consumidor opte pelo seu consumo. O preço da gasolina acaba

funcionando como um limitador ao preço do etanol.

O preço da gasolina, que é controlado pela Petrobrás, vem sendo

utilizado como política para controle de inflação. Tal política se mostra efetiva,

pois um aumento no preço do combustível levaria a um aumento natural para

praticamente todas as cadeias produtivas do país. Segundo Luiz Gonzaga

Bertelli, diretor da FIESP,a própria Petrobrás vem sofrendo para manter os

preços: “Artificialmente, o governo vem congelando os preços dos combustíveis

e, desde 2011, a nossa principal empresa do Estado importa-os a preços mais

altos do que vende no mercado interno. Os preços da gasolina e do diesel

continuam defasados entre 15% e 16% em relação ao mercado

internacional.”.O controle de preços da gasolina realizado pela Petrobrás acaba

influenciando diretamente o setor sucroalcooleiro, que sofre com os baixos

preços da gasolina e que, por sua vez, geram preços baixos para o etanol,

muitas vezes prejudicando o rendimento da atividade conforme foi explicado

pela Conab (2009):

30

“Tudo indica que a remuneração do esforço

produtivo desse setor está muito baixa, e

mesmo negativa em certos casos, e parece

estar pondo em risco a sustentabilidade da

atividade.”

(CONAB, 2009, pg. 28)

Como é possível ver na Tabela 9, que mostra os preços médios de

distribuição dos dois combustíveis no Brasil e o percentual do preço do etanol

em relação ao preço da gasolina, a partir de 2011 os produtores de álcool

tiveram dificuldades em manter a proporção dos 70%. Os custos de produção

do álcool, que se mostraram crescentes no período (conforme mostrado no

tópico anterior) não permitiriam a manutenção dos preços abaixo dos 70%.

Tabela 9: Preço médio de distribuição de combustíveis (2002 - 2012)

(R$/l)

Etanol Hidratado Gasolina Comum2002 0,815 1,486 54,8%2003 1,077 1,817 59,2%2004 1,003 1,835 54,7%2005 1,166 2,047 57,0%2006 1,404 2,241 62,7%2007 1,189 2,163 55,0%2008 1,190 2,164 55,0%2009 1,223 2,176 56,2%2010 1,405 2,226 63,1%2011 1,737 2,371 73,3%2012 1,665 2,360 70,5%

Anos Preço médio de distribuição (R$/l) Percentual do preço do Etanol em relação a gasolina

Fonte: ANP

Os consumidores, que agora podiam escolher qual combustível utilizar

por causa dos carros Flex Fuel, demandaram mais gasolina devido aos preços.

O Gráfico 9, que mostra a evolução da venda de combustíveis no país, mostra

claramente essa tendência, já que a partir de 2009 os consumidores começam

a perceber o aumento do preço do etanol que não ocorria na mesma proporção

para a gasolina e, assim, preferiram consumir o combustível fóssil. Com isso

31

interrompe-se a tendência de crescimento de consumo do etanol que ocorria

desde 2003.

Gráfico 9: Vendas de etanol e gasolina no Brasil (m³) (2002-2012)

­

5.000.000 

10.000.000 

15.000.000 

20.000.000 

25.000.000 

30.000.000 

35.000.000 

40.000.000 

45.000.000 

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Etanol Hidratado (m³) Gasolina (m³)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da ANP

I.4 – Resumo do capítulo

Este primeiro capítulo fez uma contextualização conjuntural e estrutural

da agroindústria sucroalcooleira. Inicialmente, um breve histórico foi feito,

delimitando as ações e acontecimentos ocorridos no período anterior aquele

que esta monografia se propõe a estudar (anterior a 2002). Em seguida, as

principais características estruturais dessa indústria foram introduzidas, e as

regiões brasileiras produtoras foram expostas. Por último, foi feito resumo dos

dados do setor e dos fatos que influenciaram seu desempenho, enfatizando os

acontecimentos que impactaram o setor e que assim auxiliarão no

entendimento posterior das variações dos cálculos de produtividade.

32

CAPÍTULO II – DEFININDO A PRODUTIVIDADE

Este capítulo apresenta as medidas de produtividade parcial que serão

utilizadas como base para estudo da produtividade do setor sucroalcooleiro na

década 2002-2012. O entendimento de como é feita essa mensuração é de

grande importância para a compreensão dos resultados obtidos e das análises

decorrentes.

Inicialmente, será exposta uma definição geral para a produtividade.

Posteriormente serão definidas as três formas de mensuração utilizadas neste

estudo: produtividade física da terra, produtividade da indústria e finalmente a

produtividade do trabalho, na lavoura e na indústria. Em seguida serão

apresentados os resultados dos cálculos das produtividades com uma breve

análise dos resultados.

II.1 Definição geral do cálculo da produtividade

Segundo o manual da OECD, “measuring productivity” (2001), o conceito

de produtividade é normalmente definido como uma proporção entre o volume

produzido (de saída) e o volume dos fatores utilizados no processo. Tal

definição, devido a sua generalidade, pode ser utilizada nas mais diversas

áreas e setores, assumindo então formas diferentes e podendo ser lapidada de

acordo com as medidas utilizadas para contabilizar a produção e os fatores

utilizados nela.

Zvi Griliches, em seu artigo “Productivity: measurement problems

(1987)”, disse que o significado e a qualidade do cálculo vão depender da sua

fórmula, da qualidade dos ingredientes escolhidos e dos pesos utilizados para

agregar os componentes e relacioná-los. A escolha da melhor forma de medir a

produtividade depende, então, do objetivo da mensuração e dos dados

disponíveis e da sua qualidade, não sendo uma tarefa trivial. Ao mesmo tempo

em que tal medida é flexível e versátil, é também complexa, pois uma escolha

mal feita pode resultar em um índice pouco relevante para ser utilizado numa

reflexão analítica.

33

É possível medir a produtividade individual dos fatores (relacionando o

valor da produção com um tipo de fator) ou a produtividade total dos fatores

(relacionando o valor da produção com todos os fatores envolvidos). Além

disso, também é possível escolher calcular a produtividade pelo produto total

ou pelo valor adicionado. Este trabalho utilizará a produtividade individual dos

fatores, relacionando o valor do produto total com a quantidade de cada fator

individualmente.

Os órgãos, instituições e pessoas que fazem uso das definições de

produtividade, podem ser de setores completamente diferentes e podem querer

relacionar produtos e insumos diversos, mas normalmente estão buscando as

mesmas respostas. De acordo com OECD (2001), entre os principais objetivos

que levam a medição da produtividade estão:

Tentar medir o impacto da adoção de novas tecnologias sobre o processo

produtivo. A tentativa de se associar o aumento da produtividade com

aumento da incorporação de novas tecnologias na produção é muito

comum, apesar de não ser uma relação necessariamente direta. Essa ideia

é também abordada por Griliches (1987):

“Measuring technological change is of interest

because, in a sense, it defines our wealth and puts limits on

what we can accomplish. (...) Changes in such indexes

especially Sharp short-run fluctuations, should be

interpreted with great care since they may have little to do

with technological change proper.” (Griliches 1987, pg

1010)

Buscar alterações no nível de eficiência de um processo. Tais alterações

podem ser tanto positivas como negativas e assim impactar a

produtividade de ambas as formas. Sendo assim, o cálculo da

produtividade pode auxiliar na identificação de qual é a forma ideal de

produção, auxiliando na eliminação de ineficiências que podem ser

técnicas ou organizacionais.

34

Identificar se mudanças no processo produtivo geraram reduções nos

custos reais de produção. Assim como mudanças na eficiência e na

tecnologia, reduções de custos reais também podem impactar os

resultados da produtividade.

Levando em consideração tais objetivos, é possível dizer que o cálculo

de produtividade, devido a sua grande flexibilidade, pode ser aplicável a quase

todos os setores da economia, sendo de grande utilidade, uma vez que

colabora para a busca do aumento da eficiência dos processos, redução de

custos e aumento da produção.

Produtividade física da terra

A cadeia produtiva do setor sucroalcooleiro inicia-se nas lavouras de

cana-de-açúcar, que é o insumo básico que dá origem ao etanol, ao açúcar, à

cachaça e a todos os outros produtos dela derivados. A cana-de-açúcar é um

insumo agrícola e a terra é um dos seus mais importantes fatores de produção,

justificando a necessidade de avaliarmos sua produtividade8.

Kageyama (2003) mostrou que é possível obter-se a produtividade da

terra dividindo-se o valor bruto da produção em toneladas pelo total de

hectares explorados. Dessa divisão temos os resultado de quantas toneladas

são produzidas por hectare explorado. Contudo, tal definição deixa uma dúvida

em relação à ideia de área explorada, já que pode ser tanto a área plantada

quanto a área colhida. Essa diferenciação se torna relevante ao considerar-se

que pelos dados da PAM (IBGE), no período em questão, a área colhida de

cana-de-açúcar chega a ser 2,65% menor do que a plantada quando se

considera a produção brasileira, como se pode ver na Tabela 10.

8 Existem outros dois fatores de produção importantes para o estudo da produtividade da terra, capital e insumos químicos, mas o estudo destes não é objetivo deste trabalho.

35

Tabela 10: Área plantada e colhida de cana-de-açúcar no Brasil (2002-

2012)

AnosÁrea

plantada (Hectares)

Área colhida (Hectares)

Variação

2002 5.206.656 5.100.405 2,08%2003 5.377.216 5.371.020 0,12%2004 5.633.700 5.631.741 0,03%2005 5.815.151 5.805.518 0,17%2006 6.390.474 6.355.498 0,55%2007 7.086.851 7.080.920 0,08%2008 8.210.877 8.140.089 0,87%2009 8.845.833 8.617.555 2,65%2010 9.164.756 9.076.706 0,97%2011 9.616.615 9.601.316 0,16%2012 9.752.328 9.705.388 0,48%

Brasil

Fonte: PAM (IBGE)

Diante dessa evidência pode-se concluir que no processo de plantio,

cultivo e colheita da cana acontecem perdas que não permitem o total

aproveitamento de área plantada. Para calcular a produtividade, de forma a

evidenciar a quantidade real de cana produzida por hectare, devemos utilizar a

área total colhida.

Essa metodologia é utilizada nos estudos de produtividade do setor

sucroalcooleiro do Observatório Infosucro, que pertence ao grupo de

Bioeconomia (IE-UFRJ) e será a medida adotada nesta monografia.

Pode-se então definir:

Produtividadef sicadaterraí = ( ) ( )Quantidadeproduzida toneladas reacolhida hectaresÁ

A partir desse cálculo podem-se obter quantas toneladas são produzidas

por hectare (ton/hec), o que vai permitir a comparação ao longo dos anos do

36

desempenho da agricultura praticada nas lavouras de cana-de-açúcar

brasileiras. Além disso, as variações do índice resultante podem evidenciar o

impacto das várias mudanças técnicas e climáticas sofridas pelas lavouras

neste período.

Os dados utilizados no cálculo foram retirados da Pesquisa Municipal

Agrícola (PAM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para

todos os anos (2002-2012). Tais dados são disponibilizados online no Banco

Sidra (séries históricas) que pertence ao próprio IBGE.

Produtividade da Indústria

Após a colheita, a cana-de-açúcar é levada para as usinas, onde ocorre

seu beneficiamento e produção dos derivados. É importante ressaltar que a

planta produtiva de açúcar é a mesma que produz o etanol.

Diferente da medida de produtividade anteriormente definida, a

produtividade da indústria busca determinar qual é o percentual da cana-de-

açúcar que é realmente aproveitado para a produção de açúcar, etanol, entre

outros, pois somente uma parte é utilizada no processo de obtenção dos bens

finais. Para compreender melhor esse processo, é necessário saber um pouco

mais sobre a composição química da cana-de-açúcar, representada pelo

Gráfico 10. Nele é possível verificar que a maior parte da planta é composta

pela a água, pouco mais de 70%.Os outros 30% são divididos entre o bagaço

(fibra) e os açúcares (brix).

37

Gráfico 10: Percentual dos componentes da cana-de-açúcar

FIBRA10 ­ 16%

BRIX18­ 25%

ÁGUA72­ 76%

Açúcares(15,5 ­24%)

­­>Sacarose14,5 ­24%

­­>Glicose0,2 ­ 1%

­­> Frutose 0 ­ 0,5%

Não açúcares(1 ­ 2,5%)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do Nipe/Unicamp

Ao chegar à usina, a cana é encaminhada para moagem, onde ocorre

seu esmagamento e a extração do caldo. Após o esmagamento, o bagaço

(fibra) é separado do caldo (brix+água). O bagaço não é aproveitado para a

produção do açúcar e do etanol9, mas pode ser utilizado, por exemplo, para a

produção de energia de biomassa. O caldo vai ser manipulado de acordo com

o objetivo final da produção, podendo gerar açúcar e etanol, como é

representado pela Figura 2, ou outros derivados como a cachaça e a rapadura.

Figura 2: Fluxograma simples da produção de açúcar e etanol

9 No caso do etanol de segunda geração, o etanol celulósico, o bagaço (fibras) é o insumo principal.

38

1Produção de açúcar

Cana­de­açúcar Pesagem Descarga Lavagem Preparo Extração do caldo

2 Produção de Etanol

1Tratamento do caldo Evaporação Cozimento Centrifugação Secagem Açúcar Cristal

Hidratado

2Tratamento do caldo Fermentação Centrifugação Destilação Etanol

Anidro

Fonte: LEMOS et al, (2010)

Pelo Gráfico 10 é possível ver que, mesmo após a retirada das fibras, a

maior parte do caldo vai ser composta pela água. Para o processo energético

somente o brix (açúcares e não açúcares) será relevante, já que serão

justamente os açúcares (Sacarose, glicose e frutose) que serão aproveitados.

Por causa disso, a medida de produtividade da indústria busca medir qual é a

parte da matéria-prima que é de fato aproveitada, avaliando a qualidade da

mesma.

O ART, açúcar reduzido total, é um indicador de produtividade industrial

que mede justamente a redução de açúcares extraídos da cana-de-açúcar

durante o seu processo de transformação em energia, sendo, por isso, utilizado

pelas usinas como uma forma eficaz para avaliar a produtividade industrial. O

Infosucro (Observatório da agroindústria sucroenergética) também utiliza tal

medida para avaliar a produtividade da indústria do setor, realizando os

cálculos para avaliação da produtividade no nível agregado. Este trabalho,

portanto, também utiliza essa medida, definida por Fonseca e Menard com

base no manual da STAB.

Este cálculo permite identificar o percentual de açúcares redutores

presente em cada tonelada de cana-de-açúcar colhida. A produtividade

industrial aumenta à medida que a quantidade açúcares por tonelada de cana

também aumenta. Para que isso aconteça, muitos fatores são importantes,

39

como o tipo de cana plantado10, a forma como é realizado o plantio e o cultivo,

a maneira como ocorre a colheita11, o transporte e até mesmo a maneira como

ocorre a lavagem e moagem na usina. Dessa forma, o indicador em questão é

influenciado por todas as etapas do processo agrícola e também pelas etapas

industriais. As máquinas utilizadas para seu beneficiamento, seja no cozimento

ou destilação (conforme Figura 2) influenciam no aproveitamento final, assim

como os aditivos escolhidos para realizar a fermentação e todas as etapas.

Sendo assim, a estrutura produtiva e a mão-de-obra encarregada devem

sempre buscar retirar o máximo de açúcares possível.

Metodologia da pesquisa:

Para realizar o cálculo do açúcar redutor total (ART), serão utilizadas as

conversões estabelecidas pela STAB (Sociedade dos técnicos açucareiros e

alcooleiros do Brasil) que consiste na seguinte proporção:

• 1 kg de açúcar = 1,052631579 kg de ART

• 1 l de álcool = 1,8181818 kg de ART

Com essas proporções realiza-se o primeiro passo do cálculo:

• Açúcar convertido em ART = Total da produção de açúcar (Ton) * 1,052631579

• Álcool convertido em ART = Total da produção de álcool (m³) * 1,8181818

• Total de ART = Açúcar convertido em ART + Álcool convertido em ART

Em seguida passa-se para a etapa final do cálculo, onde se deseja obter

a produtividade industrial, ou seja, quantos quilogramas de ART existem por

tonelada de cana-de-açúcar:

10Algumas variedades de cana-de-açúcar são manipuladas para aumentarem seu percentual de açúcar, enquanto outras buscam aumentar o percentual de fibras.

11 A colheita mecanizada e muito diferente da manual, o que acaba impactando na produtividade.

40

( )= * .Produtividadeindustrial KgdeARTTondecana TotaldeARTCanaTon 1 000

Serão utilizados os dados disponibilizados pela UNICA (União das

indústrias de cana-de-açúcar) e pelo MAPA para calcular a produtividade da

indústria. Enquanto o MAPA divulga os dados anuais, a ÚNICA disponibiliza os

dados por safra. Iniciaremos o cálculo na safra 2001/2002 e iremos até a safra

2011/2012.

Os dados usados na pesquisa serão os de produção total de açúcar

(ton), produção total de etanol (anidro+hidratado)12 e a produção total de cana-

de-açúcar (ton) para o Brasil.

Produtividade do trabalho

O fator trabalho é outro fator de produção relevante para ser explorado.

A OECD (2001) define em seu manual a seguinte fórmula para o cálculo

da produtividade do trabalho:

Produtividadedotrabalho = Produ obrutaQuantidadedetrabalhoçã

A fórmula acima permite obter o valor de produto gerado por uma

unidade de trabalho. A unidade de trabalho pode ser tanto o número de

trabalhadores quanto o número de horas trabalhadas.

Kageyama (2003) utiliza a seguinte taxa:

Produtividadedotrabalho = ( )Quantidadeproduzida Toneladas N merodetrabalhadoresú

Para este trabalho, a fórmula acima será usada em duas versões (uma

para a produtividade do trabalho na lavoura e outra para a produtividade do

trabalho na indústria), já que a PNAD (IBGE) permite obter o número de

trabalhadores do setor sucroalcooleiro no período a ser investigado.

12 Produção Total Etanol = Produção Etanol Anidro + Produção Etanol Hidratado.

41

= Produtividadedotrabalhonalavoura Quantidadeproduzida

( ) ( )toneladasdecana N merodetrabalhadores nalavouraú

= (Produtividadedotrabalhonaind stria Totaldaprodu o ARTtotalú çã )

O indicador do ART será utilizado no cálculo por ser uma forma de

unificar as medidas de açúcar e álcool que sem ele seriam incompatíveis, já

que o açúcar é medido em toneladas enquanto o álcool é medido em metros

cúbicos.

Mudanças na produtividade do trabalho podem evidenciar uma série de

alterações que não se restringem a variações na quantidade de trabalhadores

ou horas trabalhadas, pois a quantidade produzida por cada trabalhador

depende de outros fatores além de seu esforço pessoal. Pela definição de

OECD (2001), através da mesma é possível avaliar alterações na quantidade

de capital investido, quantidade de insumos utilizados, variação na capacidade

produtiva, a adoção de novas tecnologias ou técnicas organizacionais, entre

outros fatores, capazes de aumentar ou diminuir a quantidade produzida por

cada trabalhador.

A análise da produtividade do trabalho mostra-se, então, de grande

utilidade para avaliar os impactos das mudanças feitas no setor nos últimos

anos, justificando-se pelo fato das legislações trabalhistas e ambientais terem

forçado uma substituição progressiva da mão-de-obra humana para máquinas,

principalmente na lavoura.

Metodologia da pesquisa:

O número de trabalhadores foi extraído dos microdados da Pesquisa

Nacional por amostra de domicílios (PNAD) também do IBGE. Tal pesquisa é

realizada anualmente, excetuando apenas os anos em que o IBGE realiza o

Censo Demográfico que só acontece a cada 10 anos. Apesar das metodologias

serem bastante semelhantes, os pesos amostrais são diferentes já que o censo

tem proporções bem maiores que a PNAD, sendo assim para evitar uma

) ART Total = ART Açúcar + ART Álcool.

42

inconsistência estatística, não calcularemos o índice de produtividade para o

ano de 2010 (ano em que o censo foi realizado). O número de trabalhadores do

setor sucroalcooleiro é composto pelos trabalhadores que declararam realizar

as seguintes atividades na semana de referência:

• Cultivo de cana-de-açúcar (código 0115);

• Produção e refino de açúcar (código 23400);

• Produção de etanol (código 15041).

Para o cálculo da produtividade do trabalho na lavoura será utilizado o

número de trabalhadores que declararam como atividade o cultivo de cana-de-

açúcar (código 0115). Já para o cálculo da produtividade do trabalho na

indústria serão utilizados os trabalhadores que declararam como atividade a

produção e refino de açúcar (código 23400) e produção de etanol (código

15041). É importante ressaltar que, como a planta da usina compreende a

produção de açúcar e etanol, grande parte dos trabalhadores atua nas duas

atividades e por isso não seria possível calcular as produtividades do trabalho

de cada uma das atividades.

A quantidade produzida de cana-de-açúcar utilizada na pesquisa foi

fornecida pelo MAPA (Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento),

sendo anual e medida em toneladas. A quantidade de açúcar e álcool,

utilizadas para calcular o total de ART, também são fornecidos pelo MAPA. A

ÚNICA fornece esses dados, mas por safra; o MAPA os fornece anualmente, o

que permite a comparação com os dados da PNAD, que também são anuais.

II.2 – Os resultados dos cálculos da produtividade (2002-2012)

A importância do estudo da produtividade individual dos fatores do setor

sucroalcooleiro, entre 2002 e 2012, se dá pela necessidade de relacionar as

modificações conjunturais e estruturais, que se apresentaram para os usineiros

e produtores de cana-de-açúcar, com o aumento ou diminuição da produção ao

43

longo do período.Isso contribui para o melhor entendimento de todos os

problemas enfrentados nos últimos anos.

Resultados da produtividade física da terra

A tabela 11 apresenta os resultados dos cálculos da produtividade física

da terra para o período estudado. É possível verificar que em 2002, quando a

conjuntura do setor começou a se modificar devido ao aumento da demanda

pelo etanol, cada hectare de cana colhida rendia 71,4 toneladas de cana-de-

açúcar. Em 2008, cada hectare já estava produzindo por volta de 79 toneladas,

o que representa um crescimento absoluto de 11% na produtividade da terra

até aquele momento. A análise permite observar que em cinco anos (2004,

2005, 2010, 2011, 2012) houve queda de produtividade. Apesar do resultado

negativo, somente em um dos anos, 2012, ocorreu a diminuição de 1,8% da

produção. Já a área colhida, presente no denominador da fórmula, sempre

apresentou crescimento. Deve-se levar em consideração que a fórmula é uma

proporção. Desta, forma, quando o aumento no crescimento da área colhida for

superior ao crescimento da produção, como resultado obtém-se um número de

toneladas por hectare menor (para existir crescimento da produtividade é

necessário que a produção apresente crescimento percentual superior ao da

área colhida). Esse foi o caso de todos os anos mencionados. Em 2011, por

exemplo, a área colhida aumentou 5,7%,ao passo que a produção cresceu

apenas 2,3%.

Tabela 11: Produtividade da terra ao longo do período 2002-2012 (Ton/hec)

(Cana-de-açúcar)

44

AnoProdutividade física da terra (ton/hec)

Taxa anual de crescimento acumulado

2002 71,4432003 73,731 3,20%2004 73,726 -0,01%2005 72,854 -1,18%2006 75,118 3,11%2007 77,632 3,35%2008 79,274 2,12%2009 80,255 1,24%2010 79,045 -1,51%2011 76,448 -3,28%2012 74,297 -2,81%

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados da PAM (IBGE)

Na tabela 12, calcula-se a taxa de crescimento geométrico para os onze

anos estudados, revelando um crescimento de apenas 0,39% no período. Esta

tabela também apresenta essa taxa para períodos de três anos obtidos a partir

da divisão do período total. A redução da produtividade da terra só teria se

iniciado nos últimos anos analisados. Como foi explicado no primeiro capítulo,

após os produtores realizarem o plantio da cana-de-açúcar, eles deverão

esperar até o final do ciclo agronômico da planta (que é superior a quatro anos)

para realizarem seus resultados. Isso significa que a queda na produtividade da

terra nos últimos anos analisados não tem necessária referência com os

problemas do setor naqueles anos específicos. Provavelmente é resultado de

ações e fatos ocorridos nos anos anteriores.

Tabela 12: Taxa de crescimento geométrico da produtividade da terra nos

períodos contidos em 2002-2012

Períodos Taxa de Crescimento geométrico 2002-2004 1,59%2004-2006 0,94%2006-2008 2,73%2008-2010 -0,15%2010-2012 -3,05%2002-2012 0,39%

45

Fonte: Elaboração própria baseada nos dados da PAM (IBGE)

Resultados da produtividade da indústria

A produtividade da indústria calculada a partir dos dados anuais

divulgados pelo MAPA é apresentada pela Tabela 13. Nela é possível ver que a

metade dos anos analisados apresentou aumento da produtividade e a outra

metade apresentou diminuição.

Tabela 13: Produtividade anual da indústria ao longo do período 2002-

2012 (art/ton) (Açúcar+Álcool)

AnoProdutividade industrial- ART (art/ton)

Taxa anual de crescimento acumulado

2002 144,1792003 148,707 3,14%2004 143,941 -3,20%2005 148,520 3,18%2006 151,338 1,90%2007 151,684 0,23%2008 147,034 -3,07%2009 133,274 -9,36%2010 144,243 8,23%2011 140,980 -2,26%2012 140,233 -0,53%

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MAPA

Contudo, assim como no caso da produtividade da agricultura, a queda

ocorreu, na maioria das vezes, pelo fato de a produção de cana-de-açúcar ter

tido um aumento maior do que os açúcares reduzidos totais extraídos da

produção de açúcar e álcool. Somente no ano de 2011 a produção de cana-de-

açúcar e a quantidade de ART presentes na produção diminuíram, sendo que,

no caso da quantidade de açúcares reduzidos totais (ART13), o decréscimo foi

de mais de 10% em relação ao ano anterior.

Apesar do comentário acima ser relevante para a análise, ele não

invalida a importância dos números de produtividade, pois evidencia que os

13 ART=ART álcool+ ART Açúcar.

46

investimentos realizados podem não estar sendo realizados de forma uniforme.

Não adianta aumentar a capacidade de produção de cana-de-açúcar e tornar o

cultivo mais produtivo se não existem usinas suficientes e capacitadas para

beneficiar a planta e produzirem seus derivados. Isso sugere a necessidade de

uniformizar os investimentos para que, assim, exista um crescimento

sustentado.

A tabela 14, por sua vez, apresenta o cálculo de crescimento geométrico

dos períodos, como foi feito para a produtividade da agricultura. A partir deste

cálculo é possível concluir que o balanço do período foi negativo, já que

ocorreu uma diminuição de 0,28%.

Tabela 14: Taxa de crescimento geométrico da produtividade da

indústria nos períodos contidos em 2002-2012

Períodos Taxa de Crescimento geométrico 2002-2004 -0,08%2004-2006 2,54%2006-2008 1,45%2008-2010 -0,95%2010-2012 -1,40%2002-2012 -0,28%

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do MAPA

Já a tabela 15 apresenta os valores da produtividade da indústria por

safra, calculados através das estatísticas divulgadas pela ÚNICA. O cálculo

por safras é interessante pelo fato de não levar em consideração o ano civil e

sim o período de produção que reúne colheita e o beneficiamento. Tal período,

na maioria das vezes, se inicia em um ano e termina no outro. Apesar desse

detalhe estatístico, as produtividades calculadas por safras não possuem

divergências acentuadas. Contudo, no caso da tabela 15, o número de safras

que apresentaram decrescimentos é maior do que o número de anos na

mesma situação da tabela 13.

Tabela 15: Produtividade da indústria por safra ao longo do período 2002-

2012 (art/ton) (Açúcar+Álcool)

47

SafraProdutividade industrial - ART (art/ton)

Taxa anual de crescimento acumulado

2001/2002 140,6092002/2003 145,661 3,59%2003/2004 147,796 1,47%2004/2005 145,558 -1,51%2005/2006 145,269 -0,20%2006/2007 149,676 3,03%2007/2008 148,504 -0,78%2008/2009 145,341 -2,13%2009/2010 135,175 -6,99%2010/2011 144,713 7,06%2011/2012 141,367 -2,31%

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da UNICA

Resultados da produtividade do trabalho

O cálculo da produtividade do trabalho é dividido em duas fases.

Primeiro calcula-se a produtividade do trabalho na agricultura, que compreende

todos os trabalhadores que laboram na lavoura, e depois se realiza o cálculo

de um segundo grupo compreendido pelos trabalhadores da usina, que são

responsáveis pela produção de açúcar, álcool e outros derivados. É sempre

importante lembrar que dentro da usina nem sempre existe uma divisão entre

aqueles que produzem álcool e os que produzem açúcar, como já foi dito.

Salvo os casos em que se necessita de mão-obra técnica e especializada,

grande parte dos trabalhadores participa dos dois processos.

Na tabela 16 é possível ver os valores resultantes do cálculo da

produtividade do trabalho na agricultura. Todos os anos que apresentaram

quedas são resultados, mais uma vez, do aumento de trabalhadores

proporcionalmente maior do que o aumento da produção. Mas, nos anos

posteriores a 2008, a produção cresceu mais do que o número de pessoas

envolvidas no cultivo e colheita da cana-de-açúcar. A verdade é que desde que

o prazo para mecanização foi reduzido pelo protocolo agroambiental, assinado

no estado de São Paulo14 em 2007, o número de trabalhadores vem se

14 Devido ao peso da produção paulista, qualquer modificação em sua estrutura impacta no resultado total do país.

48

reduzindo cada vez mais. Em 2011 a redução foi de 20%. Nesse mesmo ano,

inclusive, a produtividade do trabalho cresceu aproximadamente 30% em

relação ao ano anterior, mesmo em um momento ruim para o setor, com uma

queda de 9% na produção total, denotando um claro aumento de eficiência.

Tabela 16: Produtividade do trabalho na agricultura ao longo do período

2002-2012 (ton/trabalhador) (cana-de-açúcar)

AnoProdutividade do Trabalho - Agricultura (ton/trabalhador)

Taxa anual de crescimento acumulado

2002 695,7892003 746,557 7,30%2004 705,482 -5,50%2005 692,668 -1,82%2006 762,393 10,07%2007 916,640 20,23%2008 897,417 -2,10%2009 1.111,042 23,80%2011 1.473,275 32,60%2012 1.454,313 -1,29%

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PAM e PNAD (IBGE)

A inserção das máquinas nas lavouras se apresenta como ator principal

desse aumento de produtividade. Esses aparatos demandam grandes

investimentos para sua aquisição e para a adaptação das lavouras a esse novo

sistema de manejo.

A tabela 17 apresenta os valores de produtividade do trabalho usando a

indústria, ou seja, calcula a quantidade de açúcares reduzidos totais

produzidos por trabalhador dentro da usina, somando o resultado de açúcar e

álcool. Logo no início, no ano de 2003, a produtividade cresceu 39,9% em

relação ao primeiro ano. Isso ocorreu devido a uma queda acentuada de 19,9%

na quantidade de trabalhadores, mas que foi recuperada nos anos seguintes,

diminuindo o número de ART’s gerados por trabalhador. A partir de 2008, a

quantidade de trabalhadores foi reduzindo-se enquanto a quantidade de ART’s

extraídos por trabalhador aumentou, o que ocorreu até o final do período.

Tabela 17: Produtividade do trabalho na indústria ao longo do período

2002-2012 (art/trabalhador) (Açúcar+Álcool)

49

AnoProdutividade do Trabalho - Indústria (art/trabalhador)

Taxa anual de crescimento acumulado

2002 291,9932003 408,493 39,90%2004 271,526 -33,53%2005 276,940 1,99%2006 274,895 -0,74%2007 241,291 -12,22%2008 300,928 24,72%2009 312,310 3,78%2011 319,028 2,15%2012 372,846 16,87%

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PAM e PNAD (IBGE)

Tanto a produtividade do trabalho da agricultura quanto produtividade do

trabalho da indústria cresceram nos últimos anos. A mecanização da

agricultura, que tem relação direta com aumento da eficiência do trabalhador

rural, também auxilia no aumento da eficiência do trabalhador industrial.

II.3 - Resumo do capítulo

A utilização do cálculo da produtividade para analisar o setor

sucroalcooleiro no período que compreende os anos de 2002 até 2012 justifica-

se pela necessidade dese entender quais foram os impactos das muitas

mudanças pelas quais o setor passou no período em questão.

O cálculo da produtividade da terra evidenciou um aumento na

produtividade em quase todos os anos anteriores a 2008. Os anos posteriores

a 2008 apresentaram queda de produtividade pelo fato de ter sido colhido

proporcionalmente mais do que se foi produzido, ou seja, o aumento da área

colhida foi superior ao aumento da produção total. O caso da produtividade da

indústria foi semelhante ao da terra, já que a queda de produtividade se

concentrou nos últimos anos do período analisado, quando o setor já estava

em crise. Nesse caso, as quedas foram causadas por um aumento na

produção física de cana-de-açúcar superior ao total de ART’s extraídos pela

indústria. A produtividade do trabalho, como resultado da diminuição do número

de trabalhadores no período, apresentou na maior parte dos anos aumentos

consideráveis na produtividade. A partir dessas medidas será possível fazer

50

algumas suposições que expliquem os fatores estruturais que levaram o setor à

atual crise.

CAPÍTULO III – SOBRE AS DETERMINANTES DA

PRODUTIVIDADE DO SETOR SUCROALCOOLEIRO

Este terceiro capítulo se propõe a analisar quais foram os fatores

determinantes das variações de produtividade, sejam elas positivas ou

negativas. Também se pretende relacionar esses fatores com os fatos

ocorridos no período (2002-2012), que foram expostos no capítulo I.

III.1 – Impactos associados ao aumento e a redução da

produtividade

Sobre as variações positivas

O sucesso do setor sucroalcooleiro, assim como do agronegócio

brasileiro, está intrinsecamente ligado à alta fertilidade das terras brasileiras,

sobretudo no que diz respeito a culturas de origem tropical. Apesar de ser uma

51

planta capaz de se adaptar a variações de solo e clima, a cana-de-açúcar

atinge os maiores índices de produtividade em solos específicos. O solo ideal

deve ter entre 2% e 5% de declividade15, deve possuir profundidade superior a

um metro para o desenvolvimento das raízes, uma boa infiltração e alta

capacidade de armazenamento de água. O seu pH ideal seria 6,5, mas a

planta se desenvolve bem entre 4 e 8,5. O latossolo vermelho apresenta todas

essas características e por isso é atualmente o solo que, sem correção

química, apresenta a maior produtividade. A grande maioria das lavouras

paulistas se encontra nesse tipo de solo, mas que também é encontrado em

outras regiões. Os demais tipos de solo também são capazes de gerar alta

produtividade, desde que passem por correção química anteriormente, como

costuma ocorrer inclusive com o latossolo, buscando-se a maior produtividade

possível. (EMBRAPA, 2014)

O aumento da produtividade da terra das lavouras de cana-de-açúcar

está muito associado a um pacote tecnológico utilizado nos canaviais,

sobretudo nas áreas do Centro-Oeste brasileiro, onde ocorreu recentemente

uma grande expansão da cultura da cana-de-açúcar. Esse pacote combina,

segundo Derengowski Fonseca, M. (1991), mecanização, insumização e tratos

culturais ao solo. Esse pacote permite o domínio do solo, que é corrigido

quimicamente, tornando-se apto ao plantio das diversas culturas, inclusive a da

cana-de-açúcar.

O centro-oeste brasileiro, por exemplo, possui em grande parte um solo

muito ácido, onde foram combinadas a correção dos solos, a mecanização e a

fertilização, tornando possível e rentável a agricultura naquela região.

Primeiramente, a soja foi introduzida, o que por sua vez melhorou os níveis de

nitrogênio das terras, abrindo espaço para outras espécies como a cana-de-

açúcar. (CASTRO e DERENGOWSKI FONSECA, 1994)

Outro fator que contribuiu positivamente para os valores de

produtividade, principalmente da indústria, é a alta integração que existe entre

a lavoura e a usina. Segundo o Relatório de Custos de produção de cana-de-

açúcar, açúcar e etanol no Brasil, produzido pelo PECEGE- Esalq(2011/12), o

15 Segundo a Embrapa (2014), solos com declividade inferior a 2% necessitam ser drenados antes do plantio e, acima de 5%, começam a ser impróprios para utilização de máquinas.

52

custo da cana para as usinas que a produzem é inferior ao custo econômico de

comprá-la de fornecedores externos, apesar do preço da cana comprada ser

inferior ao custo de produção, situação que mostra as vantagens competitivas

da produção integrada lavoura-usina.

A integração entre a lavoura e planta industrial pode aumentar a

competitividade do agronegócio, pois o transporte entre a plantação e a usina é

controlado de forma a não gerar perdas, através de ganhos logísticos. Evitam-

se, então, perdas que poderiam ocorrer no processo de transporte, seja pela

falta de cuidado com a matéria-prima,seja, ainda, por causa de problemas com

o gerenciamento de estoques. Qualquer avaria sofrida pela planta é capaz de

diminuir sua produtividade industrial, o que por sua vez também reduz a

produtividade industrial do trabalho.

A mecanização da lavoura também foi um fator determinante para o

aumento da produtividade. Entre as décadas de 50 e 60, começaram a chegar

ao Brasil as primeiras máquinas para a colheita da cana que eram importadas

da Austrália. Na década de 70 iniciou-se a produção nacional, que teve grande

expansão nesse período devido ao Proálcool. Nesse período existiam dois

tipos de colheitadoras, uma que cortava a cana inteira e a deixava no solo para

ser posteriormente recolhida, e o outro tipo que picava a cana que já era

recolhida pela própria máquina. Na década de 90, o método da cana picada

acabou sendo preferido pelos produtores devido ao menor custo e a menor

quantidade de impurezas16. (BRAUNBECK E MAGALHÃES, 2010)

Pode-se dizer que o processo de mecanização da lavoura de cana-de-

açúcar brasileira estava ocorrendo aos poucos devido ao fato da mão-de-obra

ser eficiente no caso de ser colhida após a queima da cana, o que

desestimulava os produtores a aderirem à tecnologia. Após a proibição da

queima pela mudança na legislação ambiental, os produtores foram obrigados

a modificar o sistema de manejo por motivos que foram definidos por Moraes,

(2007):

16 O outro método (cana inteira) cortava a cana em sua base e a deixava no chão para ser posteriormente recolhida. Quando esta era recolhida, ela vinha com uma série de impurezas, como terra e folhas, que depois tinham que ser separadas da matéria-prima.

53

“A produtividade do trabalhador com a colheita da

cana crua manual cai muito (em média de 6

toneladas por dia por empregado para 3 toneladas

por dia por empregado), o que inviabiliza a adoção

desta prática em ambiente de livre mercado. A

colheita mecânica da cana crua é economicamente

mais eficiente, dados os menores custos de

produção, além do fato de as próprias convenções

coletivas de trabalho estipularem que o corte manual

deve ser de cana queimada, dadas as dificuldades

encontradas no corte manual da cana crua.”

(MORAES, 2007, pg.609)

Os produtores de cana-de-açúcar viram-se, então, obrigados a realizar a

mecanização que, além de ser necessária, parecia ser uma opção muito

vantajosa, mas que demandava investimentos de alto custo. A Tabela 18

mostra como se deu essa substituição da colheita manual para a colheita

mecanizada, a partir de 2005, na região Centro-Sul, que é a maior produtora do

Brasil.

Tabela 18: Evolução da mecanização da colheita da cana-de-açúcar na

região Centro-Sul (2005-2012) (%)

Anos Colheita mecânica Colheita manual2005 34,7% 65,3%2006 36,7% 63,2%2007 42,8% 57,2%2008 53,4% 46,6%2009 60,1% 39,9%2010 72,8% 27,2%2011 79,2% 20,8%2012 85,1% 14,9%

Fonte: BNDES (2012), com base nos dados de CTC

54

O plantio mecanizado passou a ser uma boa opção, cada vez mais

interessante para as fazendas de cana-de-açúcar, mesmo não existindo

nenhuma objeção ambiental ao plantio manual. O que acabou ocorrendo foi a

diminuição da disponibilidade da mão-de-obra rural para a realização deste

trabalho depois que a colheita mecanizada reduziu o número de trabalhadores

necessários (MORAES, 2007). Nos meses de replantio da cana-de-açúcar, a

mão-de-obra disponível para a realização do serviço acabou ficando reduzida,

o que incentivou a mecanização do plantio. A Tabela 19 mostra a evolução

desse processo. Em 2007, apenas 8,9% das lavouras do Centro-Sul

realizavam o seu plantio com máquinas. No final do período, em 2012, mais da

metade das lavouras já tinham incorporado máquinas também no plantio, o que

representa um aumento de mais de 45% em termos absolutos.

Tabela 19: Evolução da mecanização do plantio da cana-de-açúcar na

região Centro-Sul (2005-2012) (%)

Anos Plantio mecânico200520062007 8,9%2008 24,8%2009 32,6%2010 35,1%2011 47,8%2012 59,6%

Fonte: BNDES (2012), com base nos dados do CTC

Tanto o plantio mecanizado quanto a colheita apresentam vantagens

além da redução de empregados e redução de custos. Existe, por exemplo, a

possibilidade de se trabalhar 24 horas e regularizar a operação, otimizando o

uso da frota agrícola. Esses aspectos têm grande impacto sobre as

produtividades, mas, sem dúvida, a redução do número de empregados é o

que causa o maior impacto sobre a produtividade, principalmente no que diz

respeito à produtividade do trabalho e da agricultura. No caso do plantio, para o

55

manual eram necessárias 8,5 pessoas por hectare, enquanto o mecanizado

utiliza cerca de 2,5 pessoas, existindo casos em que apenas 1,5 são

necessárias. (DATAGRO, 2013)

Sobre as variações negativas

A análise dos dados apresentados nesta monografia mostra que os três

tipos de produtividades estudados apresentaram queda nos últimos anos

(2008-2012), além de terem alternado anos de crescimento e decrescimento ao

longo do período. Esta seção se propõe a analisar quais foram os fatores que

geraram esses impactos negativos.

Um dos fatores que possui grande influência na produtividade da terra e

da indústria é a ocorrência de secas nas regiões produtoras. A falta de chuvas 17

pode ter afetado de maneira direta as plantas. Algumas podem não ter resistido

e outras simplesmente podem ter reduzido sua quantidade de açúcares. O

regime de secas costuma ser complicado para a cana-de-açúcar,

principalmente no caso de lavouras plantadas em solo arenoso. Após meses de

estiagem, as chuvas começam a ocorrer em excesso, o que acaba lavando os

aditivos químicos do solo e atrapalhando sua correção e posterior aumento de

produtividade.

Os produtores de cana-de-açúcar estão levando cada vez mais tempo

para realizar o e replantio dos canaviais, como mostra o Gráfico 13, o que

também pode estar impactando negativamente a produtividade da terra e da

Indústria. Em 2011 a média de anos para o corte atingiu os 3,7 anos, a maior

média em mais de 20 anos.

Gráfico 13: Estágio médio de corte para o replantio da cana-de-açúcar

(anos)

17Pelo registro da base meteorológica de São Simão-SP, os níveis de chuva do ano 2010 ficaram abaixo da média dos demais anos na mesma base. (BDMEP – INMET)

56

3,18

3,7

2,9

3

3,1

3,2

3,3

3,4

3,5

3,6

3,7

3,8

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Estágio médio de corte (anos)

Fonte: Reprodução CTC (2012)

O replantio dos canaviais precisa ocorrer no período em que a planta

começa a ter uma redução na quantidade de açúcares. Com o tempo, a

produtividade agrícola começa a diminuir devido à redução da quantidade de

toneladas produzidas18, sendo necessária a redução dos tempos mortos19. A

produtividade da indústria também é afetada devido à redução de açúcares que

ocorre naturalmente com o passar do tempo. Além disso, também se deixa de

lado o plantio de novas variedades que costumam ser modificadas

geneticamente para se adaptarem melhor ao ambiente e assim produzir mais.

A falta de novas variedades de mudas de cana-de-açúcar também é

uma das possibilidades para a diminuição no crescimento da produtividade. Se

os produtores utilizarem sempre as mesmas variedades, com o tempo, existe

uma tendência das lavouras apresentarem rendimentos decrescentes. Não é

possível dizer que não existiram novas variedades disponibilizadas no

mercado. Segundo Braga e Raizer (2011), entre 1970 e 2010 surgiram 207

novas variedades e entre 1990 e 2010, 150 novas variedades foram testadas

pelos produtores. Logo, se supõe que na verdade o que estaria faltando é

18Além disso, durante a colheita muitas plantas podem sofrer pisoteamento, entre outras avarias, principalmente se a colheita for mecanizada e acabar não brotando novamente.

19 Período em que a produtividade da planta é reduzida devido ao seu envelhecimento.

57

justamente o emprego e utilização dessas novas variedades na lavoura.

(BNDES, 2013)

Atualmente existem quatro principais instituições de pesquisas que são

fontes de novas variedades de cana-de-açúcar, realizando pesquisas

constantes visando justamente o desenvolvimento de novos tipos de

variedades que sejam capazes de reduzir as problemáticas da lavoura. A

Planalsucar – Ridesa (RB), a Copersucar (SP), a CTC (CTC) e a IAC (IAC).

Cada uma dessas instituições oferece dezenas de variedades específicas para

os tipos de clima, solo, colheita, pragas e doenças. Cabe então ao produtor ter

o conhecimento de suas necessidades e, principalmente, capital necessário

para adquirir a tecnologia certa para sua situação, o que gera um custo

necessariamente maior. Muitos produtores, tentando contornar o aumento dos

custos, podem ter utilizado a cana-soca20 ou os toletes para o replantio ao

invés de adquirirem novas mudas, afetando negativamente a produtividade.

(BNDES, 2013)

As técnicas de manejo associadas à mecanização da lavoura também

podem ter contribuído para a redução da produtividade. O impacto positivo da

incorporação dessas tecnologias no cultivo, como o aumento de horas

trabalhadas e a redução do número de empregados, depende de vários

fatores, não sendo suficiente apenas adquirir o maquinário. É importante que

se faça uma adaptação dos canaviais para a colheita mecanizada e das usinas

para o recebimento dessa cana, que agora é cortada de uma forma diferente,

necessitando de beneficiamento específico. Caso esses requisitos não sejam

atendidos, tanto a produtividade agrícola como a industrial podem sofrer

variações negativas.

Ao longo do período, algumas dificuldades foram encontradas durante o

processo de adoção da mecanização, ainda não finalizado. No caso do plantio

mecanizado, muitas usinas perceberam que o número de toletes necessários

por hectare de cana-de-açúcar aumentou. Na época do plantio manual

utilizava-se pouco mais de dez toneladas de toletes por hectare. Com o plantio

20 Segundo a UDOP, a cana-soca é a cana proveniente do segundo corte da planta, ou

seja,o segundo broto.

58

mecanizado, esse valor subiu para quase vinte toneladas devido às avarias

sofridas pelos toletes ao longo do processo. O tolete é a parte do colmo da

cana que possui algumas gemas e que, assim como a cana-soca, serve como

muda. Essas gemas são bastante sensíveis e, ao sofrerem danos, podem

acabar não brotando, diminuído assim a produtividade agrícola. Apesar do

problema já ter sido verificado e ter motivado pesquisas que diminuam os

impactos sobre as gemas, uma parte dos produtores podem ter demorado a

perceber a necessidade de se aumentar a quantidade de toletes por hectare.

Muitos também podem ter evitado o aumento simplesmente porque não

podiam aceitar um aumento de custos. (BNDES, 2012)

Outro problema também mencionado pela análise do BNDES (2012) é a

incapacidade das plantadoras de semear mais de uma linha de plantio por vez.

A passagem da máquina, várias vezes em lugares muito próximos, aumenta o

pisoteamento da terra prejudicando o solo e o desenvolvimento das mudas. O

plantio,quando não é feito de forma bem-alinhada e sem falhas, acaba

prejudicando posteriormente a colheita mecanizada, já que a máquina pode

acabar passando em cima da planta e assim reduzir a produção.

Com isso, pode-se dizer que a integração entre o plantio e a colheita

mecanizada é de extrema importância para o sucesso da incorporação das

máquinas com o crescimento da produtividade. A própria colheita mecanizada,

que iniciou sua popularização entre os produtores muito antes do plantio, ainda

sofre com algumas dificuldades. Um exemplo disso é o já mencionado

pisoteamento do solo pela máquina, que prejudica a qualidade da terra, devido

a sua compactação. As máquinas utilizadas na colheita também só são

capazes colher uma linha por vez, o que acaba agravando a situação.

As próprias usinas, muitas vezes, não possuem a tecnologia e o

conhecimento técnico para lidar com esse produto, que não chega ali da

mesma forma que chegava no passado, quando prevalecia a mão-de-obra

humana. Os empresários do setor precisam entender que a eficiência,

produtividade e competitividade do setor dependem de uma revisão total nos

métodos, iniciando por uma difusão de conhecimento técnico entre produtores

e empregados. A adoção da mecanização traz consigo a necessidade da

adoção de uma forma renovada de produção que, por sua vez, depende

diretamente de um alto investimento.

59

III.2 – Análise dos fatos e de suas consequências para as

produtividades do setor sucroalcooleiro

Esta seção fará uma análise de algumas consequências dos

acontecimentos apresentado no primeiro capítulo que tiveram influência sobre

as variações de produtividade, principalmente no que diz respeito às variações

negativas.

No decorrer do período analisado, alguns fatos contribuíram para o

aumento do endividamento dos produtores e empresários do setor

sucroenergético. No Gráfico 14, é possível verificar o aumento da

porcentagem do endividamento do setor em relação ao seu faturamento. Na

safra de 2007/2008, por exemplo, o valor do endividamento era superior ao do

faturamento.

Gráfico 14: Valores médios do endividamento líquido sobre o faturamento

liquido do setor sucroalcooleiro (2002/03-2011/12)

21,4%

33,5%25,3%

34,2%

49,5%

123,8%112,5%

77,3%73,0%

98,4%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

120,0%

140,0%

2002/2003 2003/2004 2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012

Curto prazo (até 360 dias) e Longo Prazo (após 360 dias) (%)

Fonte: ÚNICA

60

O endividamento excessivo do setor pode estar relacionado com ao

aumento da quantidade de financiamentos buscados por ele. A Tabela 20

apresenta os investimentos concedidos pelo BNDES aos agentes do setor. No

período que compreende os anos de 2004 até 2008, o setor emprestou do

BNDES um total de quase 14 bilhões de reais.

Tabela 20: Financiamentos concedidos ao setor sucroalcooleiro (R$ mil)

(2004-2008)

2004 2005 2006 2007 2008Cogeração de energia elétrica 77.443 256.492 264.555 127.616 854.258 1.580.364Cultivo da cana­de­açúcar 193.960 224.255 366.736 571.464 685.373 2.041.788Fabricaçãode açúcar 273.166 479.705 897.854 1.263.779 1.877.520 4.792.024Fabricação de álcool 60.361 137.836 446.651 1.629.543 3.079.500 5.353.891Total 604.930 1.098.288 1.975.796 3.592.402 6.496.651 13.768.067

Anos Acumulado nos últimos 5 anos

Destinação

Fonte: Reprodução de CONAB (2009), com base nos dados do BNDES

Esse capital foi emprestado para que os empresários e produtores

pudessem investir na renovação e aumento da capacidade produtiva. No

entanto, grande parte desses investimentos não foram realizados, o que, por

sua vez, tem relação direta com os acontecimentos que foram apresentados no

primeiro capítulo. Essa relação foi explicada pelo boletim de informe setorial do

BNDES, em junho de 2013:

“Os últimos anos foram difíceis para o setor

sucroenergético. Safras adversas se somaram à

redução dos investimentos em nova capacidade

produtiva. Foram adiados até mesmo investimentos

corriqueiros, como aqueles em renovação de

canaviais e tratos culturais, o que contribuiu para a

redução da qualidade e da quantidade de cana

disponível.”

(BNDES, 2013b, pg. 1)

Entre as adversidades enfrentadas pelos empresários, e o trecho acima

faz referência, estão o aumento de custos e o controle estatal do preço da

gasolina. O aumento de custos tem impacto direto sobre a rentabilidade da

atividade que, por sua vez, afeta a capacidade e as decisões de investimento.

O capital que deveria ser investido em capacidade produtiva acaba sendo

61

utilizado para despesas diversas. O preço do etanol, que tem tido dificuldades

para se manter 30% menor do que o preço da gasolina (que é controlado pelo

governo através da Petrobrás), também prejudica o desempenho do setor,

impactando diretamente a receita e, assim, também resulta na diminuição da

rentabilidade da atividade, o que, por sua vez, também vai impactar no

aumento do endividamento e da redução da taxa de investimento.

As variações de produtividade, sobretudo as negativas, podem ter

relação direta com essa situação de redução de investimento e crescimento do

endividamento. Essa relação é inclusive citada no trecho acima, referente ao

informe do BNDES, que deixa claro que por causa dessas adversidades

provenientes dos acontecimentos, os investimentos não foram feitos, reduzindo

a taxa de renovação de canaviais. A não utilização de novas variedades, assim

como a falta de adaptação das lavouras e usinas à mecanização, também pode

ser explicada pela relação entre o endividamento e a redução dos

investimentos.

O conjunto de acontecimentos e suas conseqüências, o que inclui as

variações de produtividade, levaram o setor sucroalcooleiro á uma crise

generalizada que foi caracterizada pela Conab (2009), como a “crise

econômica de grande intensidade e, certamente, a mais persistente e

duradoura desde o final do processo de liberalização desse setor no fim dos

anos 90”. A produção de álcool foi muito mais afetada que a produção de

açúcar, justamente por causa dos altos preços do açúcar ao longo dos anos.

Os altos preços do açúcar no mercado internacional, na verdade, constam

como uma das causas dessa crise, já que, visando aproveitar os altos preços,

os usineiros preferem aumentar suas produções açucareiras em detrimento do

álcool, que não oferece os preços esperados.

III.3 – Resumo do capítulo

Este capítulo procurou mostrar que existe uma relação direta entre as

variações de produtividade e a conjuntura do setor sucroalcooleiro durante o

período analisado (2002-2012). Apesar da dificuldade de se estabelecer

relações de causalidade direta, é possível constatar que os fatos ocorridos

estão relacionados à ocorrência, ou falta dela, dos fatores que geram variações

nas produtividades.

62

CONCLUSÃO

63

A contextualização histórica permitiu um entendimento da importância do

setor sucroalcooleiro para o país. Ao longo da história econômica brasileira, o

açúcar sempre fez parte da pauta de exportações. Com o surgimento do álcool

combustível, surgiu também a possibilidade da diminuição da dependência

energética do país. Essa perspectiva culminou numa parceria entre o Estado e

o setor privado que foi responsável pela expansão do plantio e da produção.

Além disso, os investimentos realizados naquele período foram responsáveis

por delinear a estrutura dessa agroindústria e sua organização no território

brasileiro.

Os números da indústria sucroenergética, durante o período 2002-2012,

mostram que a introdução dos carros Flex Fuel teve um impacto extremamente

positivo sobre o mercado do etanol. No momento anterior à introdução desses

carros, existia uma baixa expectativa em relação à produção de álcool

hidratado, já que a frota de carros movidos a esse combustível reduzia-se cada

vez mais. Por outro lado, a produção de etanol foi prejudicada pelo controle de

preços da gasolina, realizado pelo governo através da Petrobrás. O baixo preço

da gasolina implicava num preço baixo do etanol, o que acabava incentivando

os produtores a preferirem pela produção de açúcar. Durante o período o preço

do açúcar no mercado internacional cresceu bastante, o que naturalmente já

desestimulava a produção do etanol.

A lavoura sofreu o impacto da mudança na legislação ambiental que

proibiu a queima da cana, forçando a adesão da colheita mecanizada. Os

dados referentes a agricultura mostraram que houve expansão de área

plantada e também um aumento da produção, apesar da crise enfrentada pelo

setor. Isso pode ser explicado pelo longo ciclo agronômico da cana, já que

mesmo em situações adversas, os prejuízos dos produtores são menores com

a manutenção da lavoura do que com o seu abandono.

Tanto a lavoura quanto a indústria sofreram com o aumento dos custos

de produção que somados ao baixo preço do etanol, prejudicaram a

rentabilidade da atividade. A interação entre esses dois eventos, com algumas

escolhas dos empresários e investidores do ramo, teve como resultado o

endividamento generalizado do setor, o que por sua vez impactou diretamente

na produtividade.

64

A análise da produtividade mostrou que, no período anterior a 2008,

todas as produtividades tiveram variações positivas e negativas em anos

alternados. Após 2008, a produtividade da terra e da indústria apresentou

variações negativas, enquanto a produtividade do trabalho aumentou

consideravelmente. As variações positivas da produtividade da terra e da

indústria foram determinadas pelo aumento da produção enquanto a

produtividade do trabalho, sobretudo a que se refere ao trabalho agrícola, foi

determinada pela redução do número de trabalhadores. As variações

negativas, em sua maioria não foram resultado de queda na produção, mas na

verdade de um crescimento dos fatores de produção (denominador) maior do

que o crescimento da produção (numerador), evidenciando uma necessidade

de se uniformizar os investimentos.

As variações positivas de produtividade foram influenciadas pela

fertilidade das terras brasileiras e pela adoção do pacote tecnológico (correção

dos solos aliada à fertilização e à mecanização). A integração vertical existente

entre a agricultura e a indústria também gerou impactos positivos, pois permitiu

a redução dos custos de transação. A mecanização, imposta pela legislação

ambiental, levou á redução do número de trabalhadores, o que também gerou

ganho de produtividade do trabalho na agricultura.

As variações negativas tiveram relação com a baixa renovação dos

canaviais e com a não utilização de novas variedades no plantio. Outro aspecto

que impactou negativamente as produtividades, agrícola e industrial foi a falta

de adaptação dos canaviais e das usinas ao novo sistema de manejo

introduzido com a mecanização. Como o processo de mudança da colheita

manual para a mecanizada ainda não foi finalizado, espera-se que essa

questão seja resolvida nas próximas safras.

Como já foi mencionado, os eventos descritos pelo primeiro capítulo,

resultaram no endividamento do setor, seguido da redução dos investimentos.

A falta dos investimentos pode ser apontada, por sua vez, como a principal

causa das variações negativas de produtividade. A falta de investimentos

impede a renovação de canaviais, inviabiliza a adoção de novas variedades e

posterga a adaptação do sistema à mecanização.

A crise pela qual o setor atravessa é resultado da interação entre todos

esses eventos e fatores, o que fica claro a partir da análise das produtividades.

65

A sua superação está, então, ligada a um novo comportamento dos agentes do

setor, que devem retomar os investimentos. Com isso chega-se a conclusão de

que é de suma importância para o aumento das produtividades, e assim para o

desenvolvimento do setor, que sejam direcionados investimentos voltados para

a introdução de inovações e para o aumento da capacidade produtiva.

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ANEXO: Lista de Gráficos e Tabelas

I - Lista de Tabelas

Tabela 1: Proporção de vendas de veículos movidos à álcool sobre o total de veículos no Brasil entre 1986 – 1995.

70

Tabela 2: Evolução de produção de álcool durante o período do Proálcool (1970 - 1987) (Milhões de litros)Tabela 3: Valores de plantio e produção por região (2012)Tabela 4: Importação brasileira de açúcar (2002-2012) Tabela 5: Produção, exportação e importação brasileira de etanol (2002-2012) Preço médio de distribuição de combustíveis (2002 - 2012) (R$/l)Tabela 6: Preço da cana-de-açúcar pago a fornecedores externos /Custos de produção da cana-de-açúcar (R$/ton) (Safra 2007/08 a 2011/12)Tabela 7: Custos de produção do açúcar (R$/ton) (Safra 2007/08 a 2011/12)Tabela 8: Custos de produção do etanol anidro e do etanol hidratado (R$/m³) (Safra 2007/08 a 2011/12)Tabela 9: Preço médio de distribuição de combustíveis (2002-2012) (R$/l)Tabela 10: Área plantada e colhida de cana-de-açúcar no Brasil (2002-2012)Tabela 11: Produtividade da terra ao longo do período 2002-2012 (Ton/hec) (Cana-de-açúcar)Tabela 12: Taxa de crescimento geométrico da produtividade da terra nos períodos contidos em 2002-2012Tabela 13: Produtividade anual da indústria ao longo do período 2002-2012 (art/ton) (Açúcar+Álcool)Tabela 14: Taxa de crescimento geométrico da produtividade da indústria nos períodos contidos em 2002-2012Tabela 15: Produtividade da indústria por safra ao longo do período 2002-2012 (art/ton) (Açúcar+Álcool)Tabela 16: Produtividade do trabalho na agricultura ao longo do período 2002-2012 (ton/trabalhador) (cana-de-açúcar)Tabela 17: Produtividade do trabalho na indústria ao longo do período 2002-2012 (art/trabalhador) (Açúcar+Álcool)Tabela 18: Evolução da mecanização da colheita da cana-de-açúcar na região Centro-Sul (2005-2012) (%)Tabela 19: Evolução da mecanização do plantio da cana-de-açúcar na região Centro-Sul (2005-2012) (%)Tabela 20: Financiamentos concedidos ao setor sucroalcooleiro (R$ mil) (2004-2008)

II – Lista de Gráficos

Gráfico 1: Evolução área colhida de cana-de-açúcar antes e depois do Proálcool (1965 -1995)Gráfico 2: Área plantada de cana-de-açúcar (2002-2012)Gráfico 3: Quantidade de cana-de-açúcar produzida (2002-2012)Gráfico 4: Evolução do preço internacional do açúcar (US$ por libra-peso)Gráfico 5: Produção Brasileira de Açúcar (2002-2012) Gráfico 6: Exportação brasileira de açúcar (2002-2012) Gráfico 7: Produção Brasileira de Etanol (2002-2012)Gráfico 8: Produção de veículos no Brasil (unidades)Gráfico 9: Vendas de etanol e gasolina no Brasil (m³) (2002-2012)Gráfico 10: Percentual dos componentes da cana-de-açúcarGráfico 11: Quantidade de cana-de-açúcar produzida (Toneladas)Gráfico 12: Níveis de precipitação mensal da base meteorológica de São Simão - SP (mm)Gráfico 13: Estágio médio de corte para o replantio da cana-de-açúcar (anos)Gráfico 14: Valores médios do endividamento líquido sobre o faturamento liquido do setor sucroalcooleiro (2002/03-2011/12)

71

III) Lista de figuras:

Figura 1: Mapa da Produção de cana-de-açúcar no Brasil (2012)

Figura 2: Fluxograma simples da produção de açúcar e etanol

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