a evolução do traçado urbano e da malha viária de campo ... · resumo campo mourão é uma...
TRANSCRIPT
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
287
EIXO TEMÁTICO: (X) Acessibilidade e Mobilidade Urbana ( ) Arborização Urbana ( ) Espaços Livres de Uso Público ( ) Geração de Renda e o Desenvolvimento Sustentável ( ) Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos ( ) Gestão de Riscos e Desastres Urbanos ( ) Gestão Qualitativa de Obras Públicas ( ) Governança Pública ( ) Habitação e a Gestão de Territórios Informais ( ) Participação Popular e o Direito à Cidade ( ) Planos e Projetos Urbanísticos ( ) Políticas Públicas e o Meio Ambiente ( ) Rios Urbanos e a Infraestrutura Verde ( ) Saneamento Ambiental
A Evolução do Traçado Urbano E da Malha Viária de Campo Mourão – Pr
The Urban Layout And The Street Pattern Evolution Of Campo Mourão – Pr
El Entorno Urbano Y El Patrón De La Calle Evolución De Campo Mourão - Pr
Yara Campos Miranda Mestranda em Engenharia Urbana, UEM, Brasil
Alexandro Gasparini Larocca
Mestrando em Engenharia Urbana, UEM, Brasil [email protected]>
Bruno Luiz Domingos De Angelis
Professor Doutor, UEM, Brasil. [email protected]
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
288
RESUMO Campo Mourão é uma cidade de médio porte, localizada na região centro-oeste do Paraná, que devido ao acentuado êxodo rural da década de 1980, obteve uma expansão acelerada em sua malha urbana. Assim, o estudo busca analisar a evolução do traçado urbano e do sistema viário da urbe, por meio de bibliografia, análises de documentos obtidos e elaboração de mapas cartográficos. Objetiva-se entender a influência proporcionada pelo aumento populacional no formato e dinamismo da cidade, bem como o diagnóstico da atual situação do seu sistema viário. Constatou-se por meio do levantamento realizado, a evolução, no que tange seu território e sistema viário. Entretanto, uma vez que a mesma foi planejada visando a utilização do método de malha ortogonal, é possível verificar a ocorrência de prejuízos a sua expansão, haja visto que novos loteamentos não seguem este modelo devido a terrenos declivosos, bem como prejuízos a malha viária, que não possibilitam deslocamento eficiente no sentido em que a urbe atualmente está se expandindo. PALAVRAS-CHAVE: Planejamento Urbano. Ocupação territorial. Mobilidade Urbana. ABSTRACT Campo Mourão is a medium-sized city, located in the central-western region of Paraná, which, due to the strong rural migration that occurred in the 1980s, obtained a rapid expansion of its urban infrastructure. Considering that, this study intends to analyze the evolution of the urban layout, together with its streets pattern, through literature reviews, analysis of obtained documents and preparation of cartographic maps. The objective is to comprehend the influence caused by the increase of population on the arrangement and dynamic of this city, with the analysis of the current situation of its streets pattern. It is verified by this study the evolution concerning its territory and streets pattern. However, since this city was planned adopting the method of orthogonal grid, it is possible to verify the occurrence of expansion problems, given the fact that new housing developments do not follow this model due to the declivity of surrounding areas, disarranging the streets network, providing inefficient street arrangement in the direction which this city is currently expanding. KEYWORDS: Urban Planning. Territorial Occupation. Urban Mobility. RESUMO Campo Mourão es una ciudad de tamaño mediano, ubicada en la región centro-occidental de Paraná, que gracias a la fuerte migración rural que se produjo en la década de 1980, obtuvo una rápida expansión de su infraestructura urbana. este estudio pretende analizar la evolución del trazado urbano, junto con su patrón de calles, a través de revisiones bibliográficas, análisis de documentos obtenidos y elaboración de mapas cartográficos. El objetivo es comprender la influencia que causa el aumento de la población en el ordenamiento y dinámica de esta ciudad, con el análisis de la situación actual de su patrón de calles. Se verifica por este estudio la evolución de su patrón de territorio y calles. Sin embargo, ya que esta ciudad fue planeada adoptando el método de rejilla ortogonal, es posible verificar la ocurrencia de problemas de expansión, dado el hecho de que los nuevos desarrollos de viviendas no siguen este modelo debido a la declividad de las áreas circundantes, Proporcionando un arreglo de calles ineficiente en la dirección que esta ciudad está expandiendo actualmente. PALABRAS-CLAVE: Planificación urbana. Ocupación Territorial. Movilidad urbana
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
289
1 INTRODUÇÃO
O elevado crescimento populacional verificado em Campo Mourão a partir da década de 1980,
ocasionou transformações espaciais, decisivas no processo de reestruturação da malha
urbana, acarretando em uma ocupação expansiva, diferindo do projeto inicial da urbe.
Conhecer os primórdios da ocupação das cidades auxilia no estudo e diagnóstico das causas
dos problemas locais. Dessa forma, é possível adquirir importantes informações referentes a
experiências passadas, aumentando a possibilidade de acertos ao se remediar situações atuais.
(VALLE JUNIOR; PASCOALETTO, 2012).
De acordo com Endlich (2011) a história e a dinâmica social dos centros urbanos auxilia em
modificações de planos já elaborados, sendo essencial para a qualidade de vida dos citadinos.
As cidades paranaenses, em geral, surgem com o intuito de proporcionar moradias e incentivar
a ocupação dos centros urbanos pela população rural, perfazendo projetos com preços baixos
e utilizando-se de sistemas geométricos, devido aos menores custos e maior aproveitamento
do terreno.
Esta tendência foi observada em Campo Mourão, sendo adotada a malha ortogonal no
planejamento urbano. De acordo com Mascaró (2003), o sistema simétrico melhor aplica-se a
terrenos planos e com declividade baixa, aspectos estes observados na urbe local.
Entretanto, esta tipologia possui aspectos conflitantes quando em terrenos declivosos,
dificultando a ocupação do solo urbano, que atualmente apresenta crescimento em áreas
onduladas, ocasionando problemas no planejamento de novos lotes e infraestrutura urbana,
principalmente no que tange ao sistema viário.
Gonçalves, Rothfus e Morato (2012) analisam que o ambiente urbano possui elevado
dinamismo. Assim, torna-se difícil a adoção de práticas administrativas e de planejamento que
correspondam perfeitamente a realidade, ocasionando, por vezes, legislações que não regem
de maneira eficiente aspectos infraestruturais imprescindíveis a população, como moradia,
locomoção, entre outras.
A utilização errônea do plano diretor como ferramenta eficiente nos centros urbanos é
comumente observada nas cidades brasileiras. Além disso, os responsáveis pela elaboração do
plano, em geral, preocupam-se apenas com subsistemas isolados. No entanto, de acordo com
Barczak e Duarte (2012) uma vez que o ambiente urbano deve ser tratado como um
organismo, regido por diversos mecanismos, estes quando integrados, podem otimizar e
proporcionar melhor convívio para os cidadãos.
Nota-se carência de estudos no âmbito do processo de formação das cidades e de seus
sistemas. Estes, ao serem contemplados de maneira ampla e efetiva, auxiliam em futuras
decisões, além de identificar e minimizar possíveis erros e exaltar as atitudes corretas outrora
adotas, servindo de embasamento para os projetos de futuros profissionais.
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
290
Por fim, objetiva-se o estudo da evolução da malha urbana e do sistema viário de Campo
Mourão, de forma a estabelecer relação entre o crescimento populacional e o dinamismo da
cidade, objetivando elaborar um diagnóstico da atual situação do município, principalmente
no que se refere ao sistema viário.
2. METODOLOGIA
Realizou-se uma busca em bibliografias especializadas sobre a temática. Posteriormente,
foram obtidas imagens e informações sobre o crescimento de Campo Mourão, disponibilizadas
por meio da Secretaria de Planejamento do Município, além de uma visita ao museu Municipal
de Campo Mourão.
Também utilizou-se imagens do software Google Earth® para elaboração de mapas temáticos
com o auxílio do software Qgis ®, visando melhor compreensão da evolução da morfologia e
da malha viária da urbe.
A partir destes dados, foi possível elaborar uma evolução da malha urbana e do sistema viário
de Campo Mourão, bem como do diagnóstico de sua situação atual.
3. CARACTERIZACÃO E LOCALIZAÇÃO DE CAMPO MOURÃO
Campo Mourão está localizado na região Centro-Oeste do Estado do Paraná (figura 1),
abrangendo uma área de 787,55 km2 com população estimada em 92.930 habitantes, sendo
considerada como cidade polo da região, tendo a agricultura e prestação de serviços como as
principais atividades econômicas. (IBGE, 2015).
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
291
Figura 1: Localização da cidade de Campo Mourão – PR.
Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2016.
A malha urbana do município corresponde a aproximadamente 20 km2, formada a partir de
104 bairros, com projetos de expansão para outras áreas ainda não habitadas. (BATISTA,
CORDOVIL, 2012).
O clima da região do município é definido, segundo a Classificação Climática de Köppen-Geiger
como Cfa subtropical úmido mesotérmico, com verões quentes e geadas pouco frequentes,
tendência de concentração das chuvas nos meses de verão; sem estação seca definida e média
das temperaturas dos meses mais quentes é superior a 22 ºC e a dos meses mais frios é
inferior a 18 ºC (CAVIGLIONE et al. 2000).
Presente no terceiro planalto paranaense, na subunidade denominada Planalto de Campo
Mourão, apresenta dissecação baixa com declividade predominante entre 6-12%. O relevo
possui gradiente de 360 metros com altitudes variando entre 480 (mínima) e 840 (máxima)
metros em relação ao nível do mar. As formas predominantes são topos aplainados, vertentes
retilíneas e côncavas na base e vales em calha, modeladas em rochas da Formação Serra Geral,
por meio de processos de aplainamento e dissecação fluvial, apresentando relevo suavemente
ondulado (MINEROPAR, 2006).
No que tange a hidrografia, Campo Mourão é banhado pelos rios Mourão, rio do Campo e Km
119, pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Ivaí, tributário do Rio Paraná. O Rio Mourão, o
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
292
qual atravessa o Município de sul a norte, é o de maior importante local, devido a sua vazão
oferecer o maior potencial hídrico para empreendimentos hidrelétricos.
Segundo a EMBRAPA (2007), possui formações rochosas areníticas e basálticas e sua
decomposição local origina Latossolos Vermelhos, Nitossolos Vermelhos, Neossolos Litólitos e
Argissolos. Porém, a predominancia é o latossolo roxo, de textura argilosa, profundo, muito
fértil, de grande aptidão para sustentar intensa atividade agrícola.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Campo Mourão, teve suas terras leiloadas pela Companhia Melhoramentos do Paraná, que, na
época, oferecia financiamentos com juros baixos, para incentivar a ocupação populacional do
estado e o plantio do café (REGO; MENEGUETTI, 2008) .
Em meados de 1940, o Topógrafo Eugenio Zaleski foi convidado para demarcar as terras de
onde seria o Distrito de Campo Mourão (SIMIONATTO, 2007). O modelo de malha urbana
adotado foi o sistema ortogonal (Figura 2) também conhecido por quadriculas ou xadrez,
sendo amplamente utilizado nas cidades brasileiras.
Figura 2: Planta do patrimônio de Campo Mourão - PR datada de 1945
Fonte: SECRETARIA DO PLANEJAMENTO DE CAMPO MOURÃO, 2016.
Este sistema, segundo Mascaró (2003) é indicado apenas para terrenos planos com baixa
declividade, devido ao fato que exige lotes regulares. Além disso, os custos reduzidos estão
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
293
associados a terrenos com a forma mais quadrada possível, pois nestes, as casas podem ser
projetadas visando a melhor orientação solar.
Ferrari (1979) defende que os lotes planos facilitam a implantação de uma rede viária do tipo
tabuleiro de xadrez ou grelha, uma vez que esta estrutura simplifica o processo de
desmembramento, propiciando com que os planejadores consigam seguir o modelo, conforme
a expansão urbana.
A quadricula, de acordo com o mesmo autor, além disso, pode servir para uniformização
estética e uso racional dos espaços, permitindo a hierarquização de ruas.
Entretanto, Duarte e Serra (2003) afirmam que as ruas retas oferecem desvantagens quanto a
possibilidade de canalização de ventos e, ocasionalmente, ofuscamento da visão de motorista
no trânsito de veículos em determinados horários, pela luz do sol. Além disso, Lamas (2004)
salienta, que este traçado, pode tornar-se monótono, necessitando o emprego de outros
elementos como praças e parques.
A priori, o plano piloto de Campo Mourão, em sua região central, previu o dimensionamento
de terrenos grandes e retangulares, com a designação de avenidas principais espaçosas e uma
praça central. Assim como outrora, reside na praça central, a primeira igreja da urbe,
denominada Catedral de São José, demonstrando certa preocupação de seu planejador com os
aspectos paisagísticos da cidade.
Este padrão observado é comum a diversos centros urbanos, haja visto que de acordo com
Bovo e Andrade (2012) monumentos religiosos são os primeiros a serem construídos na
formação de um novo agrupamento populacional, aspecto este advindo culturalmente,
observado desde os primórdios das cidades.
Popularmente conhecida como praça da Catedral, encontra-se na maior cota hipsometrica da
urbe, considerada um divisor de aguas entre as sub-bacias de Drenagem do Rio km 119 e o Rio
do Campo, sendo que o último é utilizado para a captação de agua para a população (BOVO;
ANDRADE, 2012).
Nota-se a tendência destes padrões, nas demais cidades dessa região, onde a Companhia
Melhoramentos do Paraná realizava projetos pautados em dois aspectos principais, sendo,
situar-se no espigão (caso de Campo Mourão) e/ou junto a linha férrea construída, como é
observado em Maringá, Umuarama, Paiçandu, Mandaguari entre outras cidades (REGO;
MENEGUETTI, 2008).
Inicialmente, o sistema viário da urbe foi planejado a partir de cinco avenidas principais, sendo
elas, Avenida Capitão Indio Bandeira, que é o divisor das sub-bacias, Manoel Mendes de
Camargo, Goioerê, Irmãos Pereira e José Custódio de Oliveira. Ambas homenageiam os
fundadores da cidade, excetuando-se a Goioerê, a qual foi denominada por fornecer o
caminho a esta cidade vizinha (SIMIONATTO, 2007).
A partir de 1943, Campo Mourão obteve emancipação de Guarapuava – PR, passando a ser
distrito de Pitanga. Torna-se município apenas em 1947, por meio da Lei 02/47 de 1947,
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
294
sancionada pelo governador Moysés Lupion. Sua expansão ocorreu exacerbadamente, sendo
que em 1953 (figura 3), observa-se que a malha urbana já ultrapassava o projeto inicial.
Figura 3: Cidade de Campo Mourão em 1953, o traçado vermelho indica o projeto inicial realizado em 1945
Fonte: SECRETÁRIA DO PLANEJAMENTO DE CAMPO MOURÃO, 2016 (adaptada pelos autores).
A rede viária da época restringia-se a ruas sem pavimentação, onde Campo Mourão
apresentava apenas uma estrada principal de ligação intermunicipal, sendo esta a atual saída
para Tuneiras do Oeste – PR.
Todavia, nota-se que o formato de quadricula é mantido. A ideia inicial de grande parte dos
planejadores da época, é que ao se implantar a malha viária e urbana desta tipologia, a cidade
poderia estender-se indefinidamente conforme seu crescimento, onde as vias encontrariam as
pequenas ruas e terminariam em avenidas (VALLE JUNIOR; PASCOALETTO,2012).
No início da década de 1970, ocorreu uma transformação paisagística na malha urbana, pois os
espaços públicos da igreja matriz, passam a englobar características propriamente ditas de
praças e áreas livres de lazer. (BOVO; ANDRADE, 2012). Esta década é marcada também pela
revitalização das avenidas principais da região central, com o plantio de árvores nos canteiros.
Com a expansão urbana desencadeada na década de 1980 (Figura 4), marcada pelo êxodo
rural, ocorreram modificações significativas, onde os lotes que anteriormente apresentavam-
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
295
se com até 900 m2, passaram a ser menores e padronizados, e as vias, que no projeto inicial
eram largas, estreitaram-se, acarretando em modificações no ambiente urbano de Campo
Mourão. (MORIGI; MORIGI, 2013).
Ainda na mesma década, consorciadamente ao crescimento urbano, nota-se o início de
atividades industriais na mesorregião, a partir do decrescimento da cultura de café, que até
meados de 1970 era incentivada por políticas públicas. Muito disso dá-se pelo surgimento da
Cooperativa Agroindustrial Mourãoense (COAMO) no município, sendo que até hoje possui
grande representatividade econômica na mesorregião de Campo Mourão. Estes dois fatores
consolidaram o êxodo rural, transformando a população do município em predominantemente
urbana (BATISTA; CORDOVIL, 2012).
Figura 4: Foto aérea de Campo Mourão datada de 1980, com destaque em vermelho ao traçado inicial, em
amarelo a Perimetral Tancredo Neves e em azul o surgimento do bairro Lar Paraná.
Fonte: SECRETARIA DE PLANEJAMENTO DE CAMPO MOURÃO – PR, 2016. (Adaptado pelos autores)
Outro fator importante no discernimento das mudanças ocorridas na malha urbana local dá-se
com o surgimento de novos bairros, como o Lar Paraná, aumentado a malha viária e a
implementação de várias outras estradas, facilitando a evacuação da produção agrícola local, e
o comercio de bens e serviços.
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
296
O surgimento da via que atualmente é denominada Perimetral Tancredo Neves melhorou o
deslocamento da urbe. A mesma é considerada, na hierarquização, como uma via arterial, pois
tem o intuito de retirar o trânsito pesado de caminhões do centro da cidade.
O rio do Campo e o rio Km 119, foram por muito tempo limitantes naturais do crescimento da
malha urbana mourãoense, perfazendo com que sua expansão ocorresse no sentido leste
oeste. Entretanto, com o passar dos anos, estas barreiras foram superadas, e no cenário atual,
é possível observar a ocupação ao longo da bacia destes corpos hídricos (BATISTA; CORDOVIL,
2012).
4.1 MALHA URBANA E SISTEMA VIARIO ATUAL
Atualmente, Campo Mourão enfrenta dificuldades para a implantação de novos
empreendimentos seguindo o formato de quadriculas, haja vista que este exige terrenos
planos, e por consequências da à expansão urbana, os locais dos disponíveis apresentam
relevos que variam de suavemente ondulado a ondulado.
Consequentemente, observa-se que o tamanho dos lotes sofre reduções drásticas, e, segundo
o plano diretor do município (2014), dependendo da zona em que o loteamento encontra-se,
são aceitos lotes de até 125 m2. Ferraudo, Louzada Neto e Ferreira (2010) afirmam que a
especulação imobiliária aliada a um mau planejamento ocasionam terrenos em que não se
considera a qualidade de vida dos indivíduos.
Novos bairros estão em ascensão em terrenos com declividade acentuada, haja visto que os
limites, anteriormente marcados pelas bacias do rio do Campo, e rio Km 119, atualmente
encontram-se ocupados, acarretando sérios problemas ao planejamento. De acordo com
Mascaró (2003) o emprego da quadricula em locais declivosos deve ser evitado, sendo
adequado planejar os lotes de acordo com a topografia do local.
No sistema viário, (figura 5) as avenidas principais da urbe funcionam como arteriais, de
acordo com a classificação proposta pelo DNIT (2010), haja visto que possuem mão dupla e
proporcionam a mobilidade urbana para o centro e demais atividades cotidianas, com
ausência de preferenciais, o que caracteriza trânsito rápido, onde a velocidade máxima
permitida é 50 km/h.
As demais vias do centro de Campo Mourão podem ser classificadas como coletoras devido ao
fato de interligarem as arteriais; possuírem menor tamanho e transferirem o trânsito para as
vias arteriais (DNIT, 2010).
Ainda, a urbe conta com a Perimetral Tancredo Neves, com a finalidade de evitar o fluxo de
caminhões e veículos de passagem no centro da cidade. Esta também possui características de
vias arteriais, haja visto que interliga o trânsito para rodovias importantes da região, como a
saída para Maringá (BR 317), Cascavel (BR369) e Guarapuava (BR 487).
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
297
Figura 5: Hierarquização das vias da região central de Campo Mourão
Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2016.
A diferença entre as avenidas principais de Campo Mourão e a Perimetral Tancredo Neves é o
formato em que ambas se encontram. Enquanto as avenidas possuem rotatórias para o
controle do trânsito na zona central, a perimetral conta com semáforos que, na prática, são
dessincronizados, dificultando a mobilidade do local.
As rotatórias empregadas na região central da cidade, apesar do formato, não possuem esta
função, sendo utilizadas como retornos, visando facilitar cruzamentos e interseções entre as
vias coletoras e arteriais.
Contudo, o exacerbado número de veículos da urbe, que em 10 anos (2010/2015) aumentou
em 50% , atingindo atuais 34.861 automóveis (IBGE, 2015), faz com que este sistema
apresente dificuldades de locomoção aos citadinos, haja visto que as vias não suportam a
quantidade de automóveis, e os estacionamentos são escassos, bem como a ocorrência de
congestionamentos, tornando-se cotidianos na vida dos cidadãos.
De acordo com Souza e Raia Junior (2015) formatos geométricos estruturadores do sistema
viário devem ser cuidadosamente planejados, sendo que, ao se implantar um mecanismo que
não satisfaz a necessidade dos moradores, após implementado, torna-se difícil sua
readequação, acumulando problemas de mobilidade urbana.
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
298
No município de Campo Mourão, evidencia-se que as vias foram projetadas em uma época
onde era inimaginável a utilização efetiva e exacerbada de veículos nos centros urbanos.
Outro aspecto negativo é que estas proporcionam fluidez apenas no sentido leste oeste, que é
oposto ao atual crescimento, dificultando a mobilidade nas regiões de maior expansão atual da
urbe. Entretanto, é possível a implantação de medidas mitigatórias a este fato, visando
proporcionar melhor facilidade a locomoção urbana.
Uma possibilidade seria a implantação de sinaleiros nas principais ruas que interligam a cidade
nos novos ambientes urbanos, o que facilitaria a mobilidade em outros sentidos. Scaringella
(2001) indica o uso de semáforos inteligentes, que se programados adequadamente,
proporcionam melhoria no transito, além de não possuem custos elevados, ao se comparar
com outros mecanismos.
Quanto a ausência de estacionamentos na região central, políticas públicas acabaram por
transformar a Avenida José Custódio de Oliveira, destinando apenas uma única faixa de
rolagem e ambos os lados com estacionamentos, dificultando a locomoção e visibilidade em
horários de pico.
Outras alterações também foram realizadas na Avenida Capitão Índio Bandeira, por meio da
retirada do canteiro central, com estacionamento transversal e transformando-o em
estacionamento duplo em ambos os lados da via.
Entretanto, essas medidas não são suficientes para atender a atual frota de veículos, sendo
que, uma solução para isto, seria a implantação de estacionamentos rotativos, que de acordo
com Paradela et.al. (2015) são uma solução paliativa que visa proporcionar o uso do espaço
público pelo maior número de pessoas.
Contudo, torna-se evidente a necessidade de incentivos a utilização de outros meios de
locomoção nas cidades brasileiras; adoção de um sistema de transporte coletivo eficiente e
construção de ciclovias, sendo medidas que podem vir a melhorar a mobilidade urbana. Além
disso, futuros planejadores devem pensar na cidade como um todo, podendo desta maneira
auxiliar em políticas públicas que visem melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
5. CONCLUSÃO
Por meio de análise comparativa das imagens do traçado inicial e atual de Campo Mourão,
evidencia-se que a cidade cresceu significativamente, o que atualmente ocasionou problemas
a urbe, como a dificuldade da mobilidade urbana consorciada ao mau planejamento de novos
lotes, acarretando sérios problemas aos citadinos mouraoenses.
O formato ortogonal aplicado a malha urbana possui dificuldades de adaptação a terrenos de
declive maior, recomendando-se o emprego de outras técnicas nestes locais, visando melhorar
o uso e ocupação do solo da urbe.
O sistema viário, encontra-se esgotado e com sérios problemas relacionados a mobilidade
urbana, sendo importante a adoção de práticas simples, como a implantação de
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
299
estacionamentos rotativos e sinaleiros para melhorar a trafegabilidade nos horários de maior
trânsito na região central da cidade.
Ainda, recomenda-se paulatinamente o aprofundamento de estudos na área visando a
obtenção de outros métodos que visem melhorar a trafegabilidade e a implantação de novos
loteamentos na urbanos
AGRADECIMENTO
Agradecemos a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pelo
apoio financeiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARCZAK, Rafael; DUARTE, Fábio. Impactos ambientais da mobilidade urbana: cinco categorias de medidas mitigadoras Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, Curitiba - Pr, v. 4, n. 1, p.13-32, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-33692012000100002 Acesso em: 24 set 2016. BATISTA, Marinalva Reis; CORDOVIL, Fabíola Castelo de Souza. Desenvolvimento Urbano E Morfológico De Campo Mourão, Paraná, Brasil. Geoingá, Maringá - Pr, v. 4, n. 2, p.77-92, jan. 2012. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Geoinga/article/view/19365/10568 Acesso em: 12 set 2016. BOVO, Marcos Clair; ANDRADE, Thiago Bocon. Produção Do Espaço Histórico-Cultural De Campo Mourão (Pr) Brasil: Um Estudo De Suas Praças Centrais. Revista Formação Online, São Paulo - Sp, v. 1, n. 19, p.3-24,2012. Disponível em: http://revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/view/919/1714 Acesso em: 22 set 2016. Brasil. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Diretoria Executiva. Instituto de Pesquisas Rodoviárias (DNIT). Manual de projeto geométrico de travessias urbanas. - Rio de Janeiro, 2010. 392p. (IPR. Publ., 740) Disponível em: http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-manuais/manuais/documentos/740_manual_projetos_geometricos_travessias_urbanas.pdf Acesso em 12 set 2016. CAVIGLIONE, J. H.; KIIHL, L. R. B.; CARAMORI, P. H.; OLIVEIRA, D. Cartas climáticas do Paraná. Londrina: IAPAR, 2000. Disponível em: http://www.iapar.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=677 Acesso em: 27 set 2016. DUARTE, Denise Helena Silva; SERRA, Geraldo Gomes. Padrões de ocupação do Solo e microclimas Urbanos na Região de Clima Tropical Continental brasileira: Correlações e Proposta de um indicador. Ambiente Construido, Porto Alegre - Rs, v. 3, n. 2, p.7-20, jun. 2003. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/view/3447 Acesso em 01 set 2016. EMBRAPA, Empresa Brasileira De Pesquisa Agropecuária. Mapa De Solos Do Estado Do Paraná. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, P. 73, 2007 ENDLICH, Angela Maria. Território E Morfologia Urbana Em Pequenas Cidades: O Que Revelam? Revista Geográfica de América Central, Costa Rica, p.1-14, 2011. Número Especial EGAL. Disponível em: http://www.revistas.una.ac.cr/index.php/geografica/article/view/2275/2171 Acesso em 02 set 2016. FERRARI, CÉLSON. Curso de planejamento municipal integrado - URBANISMO. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 2ª edição, 1979, 631 p
ISBN 978-85-68242-46-9
Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo
300
FERRAUDO, Guilherme Moraes; LOUZADA-NETO, Francisco; FERREIRA, José Fabrício. Determinação Do Valor De Mercado De Lotes Urbanos: Estudo De Caso - Município De São Carlos, São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Biometria, São Paulo - Sp, v. 28, n. 4, p.52-65, dez. 2010. Disponível em: http://jaguar.fcav.unesp.br/RME/fasciculos/v28/v28_n4/A4_Guilherme.pdf Acesso em: 14 set 2016. GONÇALVES, Natália Martins; ROTHFUSS, Rainer; MORATO, Randy Souza. A organização e a ocupação do espaço urbano nas cidades do século XXI: impactos das políticas públicas do Brasil dos anos 90 no direito de ir e vir no ambiente local. Amicus Curiae, Criciuma, v. 9, n. 9, p.1-26, jan. 2012. Disponível em: http://periodicos.unesc.net/amicus/article/viewFile/875/829 Acesso em 01 out 2016. IBGE - Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística. Ibge/Cidades, Campo Mourao 2015. Disponível em; < http://cod.ibge.gov.br/9P4 > Acesso em: 25 set. 2016 LAMAS, J. M. R. Morfologia urbana e desenho da cidade. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian - Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2004. MASCARÓ, Juan Luis. Loteamentos Urbanos. Porto Alegre: L. Mascaró, 2003. MINEROPAR - Serviço Geológico Do Paraná. Atlas geomorfológico do Estado do Paraná. Paraná, 2006. Disponível em: http://www.mineropar.pr.gov.br/arquivos/File/2_Geral/Geomorfologia/Atlas_Geomorforlogico_Parana_2006.pdf. Acesso em: 02. out. 2016 MORIGI, Josimari de Brito; MORIGI, Mauro Cesar. A Ocupação Territorial E A Evolução Do Espaço Urbano De Campo Mourão – Paraná. In: Simpósio De Estudos Urbanos - A Dinâmica Das Cidades E A Produção De Espaços, 2013, Campo Mourão - Pr. Anais.... Campo Mourão: Fecilcam, 2013. Disponível em: http://www.fecilcam.br/anais/ii_seurb/documentos/morigi-josimari-de-brito.pdf Acesso em: 05 out 2016. PARADELA, Carolina Soares Matuck, ZARPELLON, Caetano Sebastião Matucheski; MENDES, Vicente de Paula, PESSOA, Fernando de Oliveira. Estacionamento Rotativo: Uma Abordagem Ampla A Partir Do Exemplo De Belo Horizonte. Pensar Engenharia, Belo Horizonte - Mg, v. 3, n. 1, p.1-19, jan. 2015. Disponível em: http://revistapensar.com.br/engenharia/pasta_upload/artigos/a147.pdf Acesso em: 23 set 2016. REGO, Renato Leão; MENEGUETTI, Karin Schwabe. O Território E A Paisagem: A Formação Da Rede De Cidades No Norte Do Paraná E A Construção Da Forma Urbana. Paisagem Ambiente: Ensaios, São Paulo - Sp, v. 251, p.37-54, jan. 2008. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/paam/article/view/40258/43124 Acesso em:22 out 2016. SCARINGELLA, Roberto Salvador. A Crise Da Mobilidade Urbana Em São Paulo. São Paulo em Perspectiva, São Paulo - Sp, v. 15, n. 1, p.55-59, jan. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v15n1/8589.pdf Acesso em 12 out 2016. SIMIONATO, Edina . Principais Avenidas, Ruas, Praças e Logradouros Públicos de Campo Mourão, 1947 – 2007: Biografias dos Homenageados (Edição Comemorativa aos 60 anos de Emancipação Político-Administrativa do Município). FUNDACAM, Campo Mourão, 2007. SOUZA, Johnny Vieira de; RAIA JUNIOR, Archimedes Azevedo. Segurança de pedestres em rotatórias urbanas. Journal Of Transport Literature, São José dos Campos - Sp, v. 10, n. 4, p.10-14, jan. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2238-10312016000400010 Acesso em: 13 set 2016. VALLE JÚNIOR, Francisco Rodrigues; PASQUALETTO, Antônio. O Planejamento Urbano E A Função Social Da Propriedade. Revista Estudos, Goiania, v. 39, n. 1, p.29-43, jan. 2012. Disponível em: http://seer.ucg.br/index.php/estudos/article/viewFile/2363/1452 Acesso em: 23 set 2016.