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A EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Um estudo dos movimentos de evasão de jovens e adultos na Escola Municipal Professora Socorro Amaral MARIA MADALENA SILVA OLIVEIRA 1 WALTER PINHEIRO BARBOSA JUNIOR 2 RESUMO O presente artigo discute os movimentos de evasão dos alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos da Escola Municipal Professora Socorro Amaral, uma unidade de ensino situada na Cidade de Currais Novos/RN. Objetivamos com nosso estudo, entender aspectos do movimento de evasão na unidade de ensino estudada. Para buscarmos atingir nosso objetivo, nos respaldamos teoricamente em autores, tais como: Vasconcellos (1995); Freire (1996), Arroyo (1996), Nóvoa (1992), entre outros. Quanto aos dados e informações para ser analisado no curso dos nossos estudos, reconstituímos os resultados das observações do Estágio Supervisionado, que fizemos no período de 17 de abril a 10 de maio de 2017 e, de um estudo que foi feito na mesma escola no período de 11 a 15 de setembro, quando visitamos a escola para construir dados e informações que nos possibilitasse compreender um pouco mais sobre o nosso objeto de estudo: movimentos de evasão dos alunos da Escola Municipal Professora Socorro Amaral. Esses procedimentos e a literatura estudada nos possibilitou concluir que o professor não define a continuidade ou não dos discentes, pois os fatores sociais e econômicos são muito fortes, no que diz respeito à evasão escolar ou a assiduidade desse aluno na escola, mas por outro lado, o professor e sua forma de trabalhar a educação contribuem para evasão ou a permanência do aluno. Por fim, podemos inferir que com esse estudo foi possível constatar que os alunos esperam da EJA muito mais do que aprender a ler e escrever. Eles pretendem continuar os estudos e utilizá-lo para a sua formação crítica e social, eles enxergam a escola como uma chance, uma oportunidade para um futuro melhor. Palavras-chave: Evasão escolar. Educação de Jovens e Adultos. Aprendizagem. 1 Cursando Pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] 2 Professor, lotado no Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação, que orientou o trabalho apresentado nesse artigo.

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A EVASÃO ESCOLAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Um estudo

dos movimentos de evasão de jovens e adultos na Escola Municipal Professora

Socorro Amaral

MARIA MADALENA SILVA OLIVEIRA1

WALTER PINHEIRO BARBOSA JUNIOR2

RESUMO

O presente artigo discute os movimentos de evasão dos alunos matriculados na Educação de

Jovens e Adultos da Escola Municipal Professora Socorro Amaral, uma unidade de ensino

situada na Cidade de Currais Novos/RN. Objetivamos com nosso estudo, entender aspectos

do movimento de evasão na unidade de ensino estudada. Para buscarmos atingir nosso

objetivo, nos respaldamos teoricamente em autores, tais como: Vasconcellos (1995); Freire

(1996), Arroyo (1996), Nóvoa (1992), entre outros. Quanto aos dados e informações para

ser analisado no curso dos nossos estudos, reconstituímos os resultados das observações do

Estágio Supervisionado, que fizemos no período de 17 de abril a 10 de maio de 2017 e, de

um estudo que foi feito na mesma escola no período de 11 a 15 de setembro, quando

visitamos a escola para construir dados e informações que nos possibilitasse compreender

um pouco mais sobre o nosso objeto de estudo: movimentos de evasão dos alunos da Escola

Municipal Professora Socorro Amaral. Esses procedimentos e a literatura estudada nos

possibilitou concluir que o professor não define a continuidade ou não dos discentes, pois os

fatores sociais e econômicos são muito fortes, no que diz respeito à evasão escolar ou a

assiduidade desse aluno na escola, mas por outro lado, o professor e sua forma de trabalhar

a educação contribuem para evasão ou a permanência do aluno. Por fim, podemos inferir

que com esse estudo foi possível constatar que os alunos esperam da EJA muito mais do que

aprender a ler e escrever. Eles pretendem continuar os estudos e utilizá-lo para a sua

formação crítica e social, eles enxergam a escola como uma chance, uma oportunidade para

um futuro melhor.

Palavras-chave: Evasão escolar. Educação de Jovens e Adultos. Aprendizagem.

1 Cursando Pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected] 2 Professor, lotado no Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação, que orientou o trabalho apresentado nesse artigo.

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1 INTRODUÇÃO

Este artigo analisa a evasão na Educação de Jovens e Adultos que vem se

apresentando na Escola Municipal Professora Socorro Amaral, localizada na Cidade de

Currais Novos, no Estado do Rio Grande do Norte.

O texto apresenta parte dos resultados das observações do estágio supervisionado,

realizado no período de 17 de abril a 10 de maio de 2017 e, de um estudo que foi feito na

mesma escola no período de 11 a 15 de setembro de 2017, quando para se conhecer um

pouco mais os motivos da evasão aplicou-se um questionário com questões abertas e

fechadas.

A evasão escolar é um dos temas que está presente nos debates e reflexões sobre os

problemas da educação brasileira e que ainda hoje, infelizmente, atinge a maioria dos jovens

que por diversos fatores abandonam a escola. Em face dessas circunstâncias, vários

dispositivos legais, dentre eles está a Constituição, que em seu art. 206, inciso I, preconiza:

“igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”, neste artigo se instaura o

princípio de garantir educação escolar para todos, enquanto acesso e permanência.

Na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, diz o Art.

37: “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou

oportunidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria”. Ao ser

estabelecida na LBD a EJA ganha visibilidade e passa a ser incorporada como uma

modalidade a ser trabalhada pelo Estado.

O princípio constitucional acima mencionado e seu desdobramento na LDB, no que

diz respeito a EJA, instauram novos horizontes para essa modalidade. Esses instrumentos

legais possibilitaram melhorias das condições de acesso e permanência dos jovens e adultos

nas escolas.

A evasão e o abandono representam um processo muito complexo, dinâmico e

cumulativo de saída do estudante do espaço da vida escolar. Nesse sentido, o fracasso escolar

implica uma visão contextualizada e ampla da abordagem qualitativa e quantitativa.

Este cenário fez emergir a necessidade deste trabalho, pois ele surgiu devido a

percepção que ganhamos com as disciplinas trabalhadas no curso e por termos tido a

oportunidade de conviver com os elevados índices de evasão na escola que estagiamos e que

mesmo tentado trabalhar diversas metodologias para conter esta evasão, como por exemplo:

trabalhar com a família na escola; manter sempre o diálogo com esse sujeito; procurar saber

as suas dificuldades; planejar a construção de um currículo que englobasse conteúdos

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vivenciados pelos educandos. Nenhuma metodologia surtiu o resultado esperado, foram

essas referências que nos motivaram a querer saber mais sobre a evasão na EJA.

Como temos essa grata tarefa de produzir um Trabalho de Conclusão de Curso, nos

motivamos a fazer um estudo/pesquisa, com os alunos da Educação de Jovens e Adultos da

Escola Municipal Professora Socorro Amaral, procurando identificar e refletir sobre por que

os jovens e adultos matriculados na Escola estudada se sentem desmotivados com relação

aos estudos, considerando que no segundo semestre quase 48% dos estudantes evadem-se

da escola. Queremos com esse estudo obter dados concretos e construir informações que

possam nortear projetos futuros.

Nesse sentido, nossa pesquisa teve como objetivo identificar as causas que levam os

alunos da EJA a se evadirem da escola. Mas, além desse objetivo geral, outras dimensões

motivaram nosso estudo, são elas: Conhecer os aspectos sociais e econômicos dos alunos da

EJA; Identificar qual o sentido que a Escola tem para os alunos da EJA; Compreender o

porquê da evasão dos alunos da EJA na Escola Municipal Professora Socorro Amaral.

Pensamos que, uma vez nos aproximando dessas dimensões, seja possível pensarmos em

uma concepção de alfabetização baseada na construção dos conhecimentos necessários aos

Jovens e Adultos.

Para buscarmos atingir nosso objetivo, embasamos a pesquisa nas ideias de alguns

autores, como: Vasconcellos (1995); Freire (1996), Arroyo (1996), Nóvoa (1992), entre

outros. Buscamos dialogar com estes autores, entendendo que a evasão escolar é um grande

desafio no Brasil e que as causas da evasão escolar são variadas, elas podem ocorrer por

condições socioeconômicas, culturais, geográficas ou mesmo questões referentes aos

encaminhamentos didáticos-pedagógicos. Podemos mesmo sugerir que a desatenção das

escolas as especificidades dos estudantes jovens, adultos e idosos, podem ser apontadas

como causas possíveis para a evasão escolar no Brasil.

Conforme Freire (2001) nos sugere, os sujeitos da EJA têm a leitura de mundo que

precede a leitura da palavra, ou seja, são pessoas com uma bagagem cheia de experiências e

conhecimentos que buscam novas formas de expressarem suas necessidades.

Compreendendo que a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino

voltado para o cotidiano do estudante, salienta-se a importância da reflexão do educador

sobre a metodologia a ser utilizada em sala de aula. É de se esperar que muitos educadores

conduzam consigo a probabilidade de produzir uma aula voltada à realidade desses

estudantes, buscando uma forma de interação que possibilite a aprendizagem dos estudantes.

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O professor deve ser mediador de um ensino que considerando as necessidades dos

estudantes, busque uma metodologia de ensino transformadora e inovadora, de modo que o

discente se encontre à vontade e com prazer de participar das aulas, dividindo experiências

com os colegas e com o próprio professor, fazendo com que este também aprenda com as

histórias de seus alunos. Pois, por serem adolescentes acima de 15 anos e adultos, podemos

afirmar que eles possuem conhecimentos e experiências de vida, são esses saberes que

podem vir a ser à base de organização das aulas dos professores.

Um elemento muito importante a ser considerado no processo de organização das

aulas para EJA, é que muitas vezes os alunos podem estar com sua autoestima muito baixa.

Nas palavras de Libâneo (1990, p.p. 13-14), comenta que: “Todo esforço está em estabelecer

um clima favorável a uma mudança dentro do indivíduo, isto é, a uma adequação pessoal às

solicitações do ambiente”. Nessa situação, trás sentido a uma prática pedagógica que

objetive motivar cada um dentro de seu contexto. A autoestima é fundamental para o

processo ensino aprendizagem, pois quando há esperanças se tem forças para vencer os

desafios na busca de um objetivo.

As turmas da EJA, geralmente, funcionam a noite que é o horário disponível para as

pessoas que trabalham diariamente, observando essa condição, nos causa uma certa

admiração, ao perceber que essas pessoas jovens e adultas possuem força de vontade, uma

vez que trabalham o dia inteiro e a noite, quando seria seu momento de descanso ou de cuidar

do cotidiano da casa, eles se dirigem para a escola buscando saber algo mais.

De acordo com Oliveira (2008, p.145), é preciso que a escola tenha claro quem são

os jovens e adultos que procuram a escola e quais as suas expectativas, bem como que

sujeitos e sociedade ela quer ajudar a construir, para assim definir objetivos, metodologias

que atendam aos interesses desses alunos.

É importante afirmar que estes estudantes da EJA, não são abstrações, sujeitos

idealizados, mas são pessoas com nome, sobrenome, geralmente uma profissão e que buscam

a escola cotidianamente para aprender alguma coisa. Eles são de carne, osso e possuem

coração.

Vale salientar que muitas pessoas que se matriculam na EJA, se evadem. Talvez, por

se sentir desmotivados e cansados. Trabalham o dia inteiro e algumas mulheres trabalham

fora e outras em casa. É importante que os professores tenham mais atenção, sejam mais

dinâmicos, trabalhem com a realidade do aluno e procure sempre inovar as aulas sem criar

obstáculos que contribuam para afastar esses estudantes.

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Em nossa observação da prática de educação escolar no campo da EJA, foi possível

perceber que o professor não define a continuidade ou não dos estudantes, pois os fatores

sociais e econômicos são muito fortes, no que diz respeito a evasão ou a continuidade do

estudante na escola; por outro lado nos foi possível perceber que o professor e sua forma de

trabalhar a educação escolar contribui de modo significativo para evasão ou continuidade

dos estudantes na escola.

Quando se pensa em evasão na EJA é de suma importância conhecer o perfil destes

alunos, para tentar entender por que se dá esta evasão. As causas da evasão na EJA são

muitas, podemos destacar o cansaço após um dia de serviço, a distância entre casa/escola

que aumenta as possibilidades de assaltos, entre outros fatores que se dá por conta da

violência urbana.

Outro fator é o apoio da família que nem sempre existe, o apoio do governo, da

escola, direção, professores e muitas vezes não estimulam os alunos; e também o

desinteresse interfere sobre esta questão. Mas, essas variáveis foram estudadas e agora

pretendemos apresentar o que nos foi possível conhecer sobre os motivos da evasão na

Escola Municipal Professora Socorro Amaral.

Nesse sentido, o convidamos a uma aproximação da escola que se constituiu no

campo de estudo da nossa pesquisa. Vinde e vede.

2 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA E DOS SUJEITOS MATRICULADOS NA

MUNICIPAL PROFESSORA SOCORRO AMARAL

2.1 Caracterização da Escola Municipal Professora Socorro Amaral

A Escola Municipal Professora Socorro Amaral, funciona com as modalidades de

Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos. Foi criado pelo Decreto Lei nº 614 de

22 de abril de 1988, tendo sido reconhecida e autorizada pela Portaria nº 293/96 – SECD/GS,

que foi publicada pelo DOE em 29 de junho de 1996.

A referida Escola está situada a Rua Oscar Alberto Dantas, 51, Bairro Paizinho

Maria, na Cidade de Currais Novos/RN, sendo a mesma mantida pelo Governo Municipal,

e subordinada tanto técnica, como administrativamente pela Secretaria Municipal de

Educação, Cultura e Esportes.

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Essa unidade de ensino, também é financiada pelo Programa Dinheiro Direto na

Escola (PDDE); Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); Programa Nacional de

Alimentação Escolar (PNAE) e PDE Escola.

Atualmente, a Escola conta com um prédio amplo, com espaço físico adequado que

permite a implantação de novas ações e a implementação das já existentes no projeto de

gestão, elaborado pelos pais, alunos e profissionais da escola e aprovado em assembleia

geral.

Segundo os arquivos oficiais da supracitada escola, a mesma conta com um quadro

geral de 34 funcionários efetivos, assim distribuídos: 01 diretor; 01 vice-diretor; 02

secretários escolares; 03 coordenadores pedagógicos; 16 professores; 02 professores na Sala

de Leitura; 01 bibliotecário; 02 vigias; 03 merendeiras e 03 Auxiliares de serviços gerais.

Além desses 34 efetivos, a escola conta ainda com 03 cuidadores contratados.

As suas dependências contam com 08 salas de aula, 01 sala de leitura, 01 biblioteca,

01 sala da direção, 01 secretaria, 01 cozinha e 01 depósito para a merenda, 05 banheiros (um

para os funcionários, dois masculinos e dois femininos) e 01 almoxarifado.

Os alunos são oriundos de famílias de baixa renda, com pouca escolaridade e

encontram-se na faixa etária de 6 a 62 anos. Muitos são beneficiados pelo Programa Bolsa-

Família. Procuram a escola, motivados por ser perto de casa e ser a única no bairro. De modo

geral, há uma busca por vagas na escola.

A escola da rede municipal possui 239 alunos no Ensino Fundamental I e EJA, sendo

186 do 1º ao 5º Ano e 53 nos Níveis II, III e IV da Educação e Jovens e Adultos na faixa

etária de 18 a 72 anos. Assim, podemos inferir que se trata de uma turma que atende a jovens,

adultos e idosos. Eis aqui as características básicas da escola que se constituiu em nosso

campo de estudo.

Agora, vamos nos debruçar um pouco sobre as características do público jovem e

adulto que frequenta essa Escola. Mas, antes vamos apresentar características desse público

que encontramos na literatura pertinente a Educação de Jovens e Adultos.

2.2 Sujeitos da EJA, que encontramos na Literatura de EJA

Nos textos que acessamos durante nosso processo formativo, no Curso de Pedagogia,

quando estudamos EJA, e por ocasião de realização do nosso Estágio supervisionado,

quando nos ocupamos dessa modalidade de ensino, nos foi possível identificar que a

Literatura que trata da EJA, como por exemplo, a obra de ARROYO (2000), intitulada:

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“Fracasso-Sucesso: o peso da cultura escolar e do ordenamento da educação básica” trata os

sujeitos que frequentam as salas de aula da Educação de Jovens e Adultos como pessoas com

idade de 15 a 25 anos que abandonaram a escola logo cedo e/ou jovens de grupos sociais

vulneráveis. São pessoas jovens, adultas e idosas que foram identificados como

trabalhadores, um público diferenciado que já traz uma trajetória pessoal e escolar marcada

por insucessos.

Encontramos nos textos e livros estudados, autores que se referem aos adultos e

idosos, salientando que esses não puderam concluir seus ciclos de escolarização por conta

de questões relacionadas ao trabalho e/ou responsabilidades advindas de suas organizações

familiares. Por isso, quando retornam aos estudos, geralmente demonstram-se

entusiasmados e são mais participativos.

Arroyo (2001, p. 24), chama a atenção para o discurso escolar que os trata, a priori,

como os repetentes, evadidos, defasados, aceleráveis, deixando de fora dimensões da

condição humana desses sujeitos, que são básicas para o processo educacional.

Assim, podemos inferir que a literatura que trata da EJA, chama a atenção para o fato

de que se trata esse púbico como alunos sem identidade, qualificando-os com diferentes

nomes, mas quase todos relacionados diretamente ao chamado "fracasso escolar".

(ANDRADE, 2004, p. 1)

Nossa reflexão sobre esse sujeito nos indicou que eles são sujeitos sócio-histórico-

culturais com diferentes experiências de vida que se afastaram da escola devido a fatores de

ordem econômica, política, geográfica e/ou cultural, e que muitas vezes ingressam de forma

prematura no mundo do trabalho, o que os induz a evasão e a repetência escolar.

Agora vamos nos aproximar um pouco dos sujeitos, que nos debruçamos no processo

de construção desse conhecimento que compartilhamos por meio desse texto.

2.3. Os sujeitos da EJA, que encontramos na Escola Municipal Professora Socorro

Amaral

Na Escola Municipal Profª Socorro Amaral, lócus da nossa pesquisa, encontramos

adultos que possuem responsabilidades como trabalho, família, e alguns jovens sem

ocupação. Identificamos estudantes que nunca foram a uma escola, outros que já estudaram

e abandonaram a escola porque precisavam trabalhar. Entre as mulheres, foi possível saber

que algumas abandonaram a escola por ter engravidado e, outras não quiseram mais estudar

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quando eram adolescentes, enfim são muitas variáveis que encontramos e que ajudam a

compreender porque os jovens e adultos abandonaram e retornaram a escola.

Visitando os arquivos da escola estudada, nos foi possível identificar que no ano de

2017, 86 (oitenta e seis) alunos foram matriculados. Sendo 54 (cinquenta e quatro) mulheres

e 32 (trinta e dois) homens. As matriculas citadas foram feitas entre os Nível I e IV (1º ao 9º

Ano) do Ensino Fundamental. Também, identificamos que existem outros empecilhos para

se inserir jovens e adultos em uma sala de aula da rede regular de ensino, conforme podemos

observar nos dados construídos no curso da nossa pesquisa e apresentados na tabela abaixo.

TABELA 1 – Quadro dos alunos por Nível, Sexo, Faixa Etária, Matriculados e Frequentando-2017

NÍVEL SEXO FAIXA ETÁRIA

ALUNOS

MATRI-

CULADOS

ALUNOS

FREQUEN-

TANDO

F M 15 17/18 20/29 31/42 45/50 51/54 62 - -

NÍVEL I 8 5 2 2 3 4 1 1 - 13 09

NÍVEL II 12 8 1 4 2 2 5 4 2 20 14

NÍVEL III 16 9 4 6 5 4 3 2 1 25 16

NÍVEL IV 18 10 1 8 6 6 4 3 - 28 18

Fonte: Autoria própria, 2017.

Observe-se que os dados apresentados distribuem os 86 alunos matriculados, nos

possibilitando perceber que do ponto de vista da idade temos uma variação entre 15 anos e

62 anos de idade. Observe-se que uma sala de aula com essa disparidade de idade dificulta

bastante o trabalho pedagógico, pois as demandas de um jovem são diferentes das

expectativas de um idoso com 62 anos deidade.

Decorrente dessa variação de idade nos foi possível perceber na sala de aula, que o

professor da EJA, se depara com a dificuldade de organizar a aula atendendo as necessidades

de jovens e idosos que estavam na mesma sala de aula (espaço) e no mesmo momento

(tempo). Saímos da sala de aula refletindo sobre como poderíamos organizar uma aula para

atender essa variação de idades e demandas.

Temos um número de mulheres que quase duplica em se considerando os homens. A

tabela com matriculados evidencia que temos 54 mulheres matriculadas, correspondendo a

62,8% enquanto homens somam apenas 32, o que equivale a 37,2%. Esse dado nos remeteu

a reflexão sobre porque as mulheres buscam mais a escola do que os homens? Entre nossas

reflexões outras perguntas surgiram, como por exemplo, por que os homens são mais bem

remunerados no trabalho do que as mulheres? Pois são elas que buscam mais o saber escolar

do que eles? Como essas dimensões não se constituem no objeto da nossa pesquisa,

guardamos essas ideias como desdobramentos para uma futura pesquisa a ser realizada.

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Do ponto de vista da evasão na EJA, objeto da nossa pesquisa, os dados construídos

junto à escola estudada, nos diz que temos uma matrícula inicial de 86 estudantes e no mês

de setembro estávamos com uma frequência de 57 estudantes, o que corresponde a uma

média de 66,27%. Assim, podemos inferir que na Escola Municipal Professora Socorro

Amaral encontra uma evasão elevada.

Talvez, em Currais Novos os estudantes da EJA procuram esta modalidade de ensino

buscando principalmente a conclusão dos estudos para melhorar sua condição no mercado

de trabalho, talvez essa explicação nos ajude a entender porque a evasão não foi tão grande.

Mas, em se tratando de evasão escolar, o modo como se materializa a prática

educativa influenciam muito no resultado final da turma. Nesse sentido, vamos continuar

com o mesmo modo de expor o que aprendemos com nossa pesquisa, ou seja, tratando

inicialmente do modo como os autores expõem e em seguida compartilhando o que

encontramos na escola pesquisada.

3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA ESCOLAR NA EJA

3.1 Concepções de autores sobre a prática escolar na EJA

A Educação de Jovens e Adultos se inscreve no contexto da educação permanente.

Isto é, numa nova concepção da educação, que consiste no fato de que o homem e a mulher

aprendem durante toda sua vida, no marco da política de “educação para todos”, e dentro da

concepção de “educação para a democracia”, entendendo que os indivíduos podem ter uma

participação social consciente e efetiva, na medida em que o povo é educado.

Neste sentido, a EJA favorece o desenvolvimento integral do indivíduo e sua

incorporação à sociedade, como uma pessoa consciente, critica e responsável de suas

atuações (FREIRE, 1996).

Também responde à obrigação do Estado de proporcionar a oportunidade à

população adulta de satisfazer seu direito à educação, partindo do fato de que não há limite

de idade para aprender, e que as pessoas sempre podem ampliar sua formação. Essa

aprendizagem é medida conforme a necessidade e característica do grupo, de acordo com a

realidade escolar e a vivência de cada educando.

Sabendo que a escola atual precisa estar preparada para receber e formar estes jovens

e adultos que são frutos dessa sociedade injusta, e para isso é preciso, professores dinâmicos,

responsáveis, criativos, que sejam capazes de inovar e transformar sua sala de aula em um

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lugar atrativo e estimulador. É que encontramos em alguns autores algumas pistas sobre

como a prática educativa em EJA pode acontecer.

Para Menegolla (1989), “o professor necessita selecionar os conteúdos que não sejam

portadores de ideologias destruidoras de individualidades ou que venham atender a

interesses opostos aos indivíduos”.

De acordo com o ponto de vista de Menegolla (1989) a seleção de conteúdos é de

alto valor pedagógico, que deve estar direcionado aos interesses sociais, culturais e históricos

dos jovens e adultos com os quais se trabalha, para que as aulas façam sentido e sirvam para

despertá-lo da consciência ingênua e promova a transição para uma consciência crítica.

Arroyo (1996) ressalta que trabalhar com Jovens e Adultos é uma prática desafiadora

para o profissional da educação, visto estes serem sujeitos históricos concretos, ativos na

sociedade onde estão inseridos e que voltam a escola muitas vezes depois de muitos anos

sem estudar. Não é pertinente, portanto, que sejam tratados da mesma forma que os alunos

do ensino regular. A própria organização do trabalho escolar tem de ser diferenciada. O que

nos leva a questionar se o professor atuante em EJA está preparado para isso.

Dessa forma, o currículo escolar, insere-se como fator relevante para fomentar na

escola um movimento entre os professores no sentido de responder com práticas educativas

inovadoras aos desafios postos pela EJA. Assim, pensamos que os espaços de formação

dentro da escola na qual defendemos constituem-se nas trocas de experiências e de saberes,

nos quais, segundo Nóvoa (1992, p. 26), cada professor desempenha, simultaneamente, o

papel de formador e de formando.

Então, acreditamos que o desenvolvimento de uma postura reflexiva por parte dos

professores passa também pela necessidade de produção de saberes e de valores

comprometidos com os princípios da ética através do fortalecimento da autonomia nas várias

dimensões que fazem parte da existência humana.

A instauração do diálogo na escola entre todos os envolvidos é fundamental para

consolidar saberes construído através da prática profissional reflexiva, através da qual

também são construídas novas significações. Concordamos com Nóvoa (1992, p.36) quando

ele afirma que:

A escola e os professores não se podem limitar a reproduzir um discurso

tecnocrático, socialmente asséptico, culturalmente descomprometido.

Todo o silêncio é cúmplice, e não podemos calar a voz das injustiças que

se reproduzem também através da escola. Na verdade, o que distingue a

profissão docente de muitas outras profissões é que ela não se pode definir

apenas por critérios técnicos ou por competências científicas. Ser professor

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implica a adesão a princípio e a valores, e a crença na possibilidade de

todas as crianças terem sucesso na escola.

Não é possível esquecer que a organização do cotidiano escolar acaba, na maioria

das vezes, impossibilitando a troca de saberes construído pelas práticas educativas

desenvolvidas pelos professores. Dessa forma, destacamos Schön (1992) quando este afirma

que a prática docente deve envolver o conhecimento na ação, reflexão na ação e reflexão

sobre a ação, o que conduz o professor, através do repensar sobre à compreensão de que está

produzindo sua vida e sua profissão.

Conforme a narrativa dos autores trabalhados acima, podemos inferir que existe a

possibilidade de se instaurar práticas educativas inovadoras. Talvez, um dos caminhos mais

promissores, seja o de se instaurar uma prática enraizada na prática de pensar a prática.

Agora, vamos nos aproximar do que encontramos sobre as práticas educativas na

Escola que estudamos a Evasão na EJA.

3.1 A prática escolar trabalhada com a EJA, que encontrei na escola pesquisada.

A Escola estudada é, portanto, um espaço privilegiado nessa comunidade por contar

com ambientes e recursos destinados especificamente a determinados fins pedagógicos, tais

como: biblioteca com um bom acervo; quadra para a prática de esportes; laboratório de

informática; espaços para realização de atividades artísticas com destaque para a música,

Educação ambiental e sexual, as atividades extras-classe, como: olimpíadas, feira de cultura,

festa junina, excursões, entre outros.

A Escola que visitamos caracteriza-se do ponto de vista da gestão, por ter uma prática

de gestão participativa, buscando envolver a comunidade na tomada de decisões, o que já

ocorre na elaboração do calendário escolar, com as reuniões por turma, de pais, Conselho de

Escola, dos conselhos de classe, na entrega de boletins, bem como na definição do uso de

recursos financeiros. O desafio atual nessa unidade de ensino é ampliar e sistematizar essa

participação, fortalecendo o que já foi construído e trabalhando a inserção dos estudantes,

por meio da formação do grêmio estudantil.

Observando a prática pedagógica dos professores da Escola Municipal Prof.ª Socorro

Amaral, turno noturno, nas turmas da EJA, percebemos que uma parte dos professores

apresenta-se como responsável, competente e comprometido com a Escola, trabalhando de

forma adequada com relação ao atendimento do jovem e adulto, enquanto alguns professores

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necessitam mudar sua prática pedagógica, já que o trabalho desenvolvido aparece centrado

no livro didático, priorizando aulas expositivas e desmotivadas. A esse respeito Vasconcellos

(1995), diz que “a falta de adaptação do aluno somado ao método de ensino das escolas são

os responsáveis em grande parte pelo fracasso escolar”.

Os professores planejam as aulas de acordo com a necessidade de cada turma,

consideram que é importante oferecer aos alunos projetos de resgate da autoestima, de leitura

e escrita, como também os projetos culturais que propiciam atividades extraclasses, tais

como: visitas a reservas ecológicas, teatro, cinema e museus.

Conforme Paulo Freire (1996, p. 23) explicita é “na atuação no mundo que nos

fazemos, é na inserção no mundo e não na adaptação a ele que nos tornamos seres históricos

e éticos, capazes de optar, de decidir, de romper”. Partindo dessa concepção, sugerimos que

todo o processo ensino aprendizagem precisa estar relacionado à formação de uma

consciência critica e à participação, visto que alunos e professores fazem parte de um

processo dialógico, e que o acesso à educação escolar deve permitir a reflexão e a ação do

indivíduo sobre o mundo para atuar e transformar sua própria realidade.

As disciplinas que contemplam a Educação de Jovens e Adultos, são as seguintes:

Português (4 aulas); Matemática (4 aulas); Ciências (3 aulas); História (2 aulas); Geografia

(2 aulas); Ensino Religioso (1 aula); Artes (1 aula); Educação Física (1 aula) e Inglês (2

aulas), e o turno de aula funciona das 19h às 22h.

A falta de autoestima, a evasão e a falta de acolhimento pela própria escola são hoje

grandes problemas do ensino noturno. Na educação dada a alunos jovens e adultos, o

trabalho do educador requer compromisso político com a educação, manifestadas em várias

medidas concretas, como a valorização dos conhecimentos e da forma de expressão de cada

um como seu processo de socialização, levando em conta as dúvidas, inquietações,

realidades socioculturais, jornada de trabalho e condições emocionais decorrentes da

exclusão social. Assim, devem-se garantir condições para que prevaleça uma atitude positiva

diante dos estudos.

Encontramos uma escola que nos animou do ponto de vista da prática educativa, pois

encontramos professores que se dedicam ao trabalho. Claro, que não são todos os docentes,

mas podemos afirmar que na escola pesquisada, encontramos docentes que buscam trabalhar

suas práticas educativas a partir da diversidade e complexidade que a EJA carrega consigo.

Agora, vamos seguir a exposição do que nos foi dado conhecer com a pesquisa imergindo

no debate sobre a evasão nessa modalidade de ensino.

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3.2 DISCUTINDO A EVASÃO ESCOLAR NA EJA

Os sujeitos que chegam à EJA são marcados por trajetórias distintas que desafiam o

fazer da escola. Atendê-los, requer profissionais preparados, além de uma estrutura

pedagógica diferenciada que faça a ligação entre escola e a vida social dos jovens, adultos e

idosos.

A EJA exige, ainda, um olhar diferenciado sobre os educandos e as suas histórias,

vislumbrando em cada um deles cidadãos de direitos. Mas, a pesquisa nos possibilitou

compreender que a evasão ocorre por motivos que transcendem o âmbito escolar, pois na

maioria das vezes, é ocasionada pelo fato de que alunos não conseguem conciliar o tempo

entre o trabalho e o estudo. Esse fenômeno ocorre porque a maioria desse público se constitui

de jovens e adultos de baixa renda, que já constituíram família e que são provenientes em

sua maioria da classe baixa.

Assim, o estudo que realizamos nos possibilitou entender que os sujeitos da EJA são

trabalhadores que, desde muito cedo, precisam ingressar no mundo do trabalho. São

advindos das classes trabalhadoras, produtos da sociedade capitalista, que impôs desafios e

a busca pela sobrevivência. Essas pessoas são de origem humilde, as famílias geralmente

são numerosas e sobrevivem com sacrifício, com muito trabalho e pouco lazer. (SOEK,

HARACEMIV e STOLTZ, 2009, p.23).

Nesses casos, a evasão caracteriza-se como uma expulsão da escola, pois evadir

evoca uma noção de que a escola esta lá e o sujeito é que não quer frequentar. Mas, quando

percebemos que na relação entre a demanda da vida e as demandas da escola são

inconciliáveis, porque os sujeitos não têm escolha, mas são obrigados a deixar a escola,

podemos então questionar em que medida os estudantes da EJA se evadem e em que

momento eles tem seu direito a escolarização negada, pela dinâmica social e econômica.

A evasão escolar ao longo da implantação dos programas tem apresentado resultados

negativos, tornando-se desafiador para o professor, possibilitar a permanência do aluno na

escola. Dentro deste contexto sócio cultural, podemos dizer que existem alguns fatores

produzidos no âmbito escolar, como professores sem uma qualificação adequada para

trabalhar com EJA.

A evasão escolar que, não é um problema restrito apenas a algumas unidades

escolares, mas é uma questão nacional vem ocupando espaços relevantes nas discussões

educacionais, de maneira geral, observaram que os estudos analisam o fracasso escolar, a

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partir de duas diferentes abordagens: a primeira, que busca explicações a partir dos fatores

externos à escola, e a segunda, a partir de fatores internos.

Dentre os fatores externos relacionados à questão do fracasso escolar são apontados

o trabalho, as desigualdades sociais, e a família. E dentre os fatores intra-escolares são

apontados a própria escola, a linguagem e a prática do professor.

Outro fator seria a diferença de idade, sendo que a EJA, tem sido alvo da Escola

regular, todo aluno que não desenvolve suas capacidades de aprendizagem é empurrado de

forma indireta para a EJA. E, este aluno sofre pressão psicológica ao se deparar com a

realidade de não conseguir acompanhar na sala de aula as atividades propostas.

O educador procura fazer um trabalho diferenciado de modo que desperte o

desempenho de suas habilidades, contudo na maioria dos casos não se obtém sucesso devido

este aluno conhecer todo o processo de uma sala de aula que não conseguiu despertar nele o

interesse pela escola.

Portanto, quando o mesmo aluno chega à EJA, encontra-se cansado e desmotivado,

nos parece que chega mesmo convencido de que não consegue mais aprender. Talvez essa

desconfiança sobre si mesmo tenha um peso muito grande na permanência do sujeito da EJA

na escola.

Outro problema que identificamos em nossa pesquisa, através da fala das mulheres e

que tem se constituído constante é com relação ao cônjuge, nos tem causado grandes

transtornos por causa do ciúme, bem mais acentuado no sexo masculino, insinuando que a

companheira retorna à escola, não com intuito de estudar, e sim para fins amorosos. Através

das companheiras nos chegam essas notícias.

Muitos são os artifícios que eles utilizam para dificultar a permanência da

companheira na escola. Observamos casos em que o marido deu-se ao trabalho de fazer

presença na escola, e quando não há possibilidade de isso acontecer, o marido impõe

condições e induzir a desistência com a mulher. Sabemos que problemas é o que não faltam

dentro da Educação, por exemplo, outro fator agravante é o horário que nem sempre condiz

com o trabalho. E, por isso necessita de uma compreensão não só do educador, mas de todo

o corpo administrativo escolar. O tempo do jovem e adulto da EJA, não pode ser submetido

ao tempo relógio. Porque alguns trabalham e dependem da liberação do patrão, ou de

finalizar o trabalho com a cliente, como é o caso de algumas empregadas domésticas e

cabeleireiras respectivamente.

Quando a escola é muito exigente quanto ao cumprimento do horário, a tendência

deste aluno é a desistência, porque quando não consegue obedecer às normas da escola, o

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educador por mais que compreenda a situação do educando, chega em um determinado

momento que nem um, nem o outro tem mais argumento para assegurar a permanência do

aluno na escola.

Mas, observamos que existem práticas escolares que contribuem para permanência

do aluno da EJA na escola, como é o caso da existência de merenda escolar. Ao fazer a

refeição na escola, o jovem ou adulto encontra nesse elemento um incentivo para manter sua

frequência regular, uma vez que ele ganha tempo não necessitando de preparar sua refeição,

podendo chegar no horário exigido pela escola.

Os estudos que realizamos, nos fez pensar que seria importante os professores

juntamente com a equipe pedagógica buscar atualizar seus conhecimentos e métodos de

ensino, voltados a essa modalidade na perspectiva de reorganizar o tempo. Talvez, seja

importante elaborar um cronograma de aulas ajustado à disponibilidade dos alunos, pois

organizando os dias e horários das disciplinas segundo as necessidades da turma garanta o

atendimento continuo dentro de uma flexibilidade do tempo pedagógico.

Na escola que pesquisamos, foi importante perceber que os Gestores estão sempre

atentos a evasão escolar. Eles procuram visitar os alunos em suas casas, dialogar para trazê-

los de volta a escola, mas às vezes esse movimento gera nos gestores e professores um

sentimento de fracasso e impotência, porque esse aluno abandonou a escola para trabalhar,

ou encontra-se em riscos.

Sabendo que cada escola tem suas particularidades, com suas fragilidades e

potências, é importante que o diretor junto com a equipe pedagógica busque entender o que

está causando a evasão na escola para intervir de forma eficaz. Pois, um fator que ajuda

muito é tratar da evasão em sua concretude.

Para melhorar essa situação e prevenir a evasão escolar, é necessário que as politicas

educativas e as organizações escolares enfrentem a desigualdade social, cultural, que

reformulem a Educação de Base, articulando suas ações com a luta para promover

oportunidades de empregos; investimento financeiro na educação pública e gratuita;

enfrentamento do corporativismo e a descontinuidade dos programas educacionais para EJA

e que incentivem os professores a frequentarem cursos de formação continuada, de forma a

diminuir os altos índices de evasão.

É essencial que o educador permaneça motivado a desenvolver em seus discentes a

capacidade de aprender, com certeza os incentivará na procura de novos conhecimentos, e

estará criando condições mais favoráveis à aprendizagem e redução da evasão.

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Na perspectiva do desenvolvimento local, combater a evasão significa colaborar na

execução dos direitos das pessoas jovens, adultas e idosas, contribuindo para uma sociedade

mais justa e menos excludente, potencializando o processo de autonomia e protagonismo de

todos os que estão no mundo.

A evasão é um grande desafio no Brasil. Assim, para corrigir as possíveis causas da

evasão escolar, é necessário enfrentar as desigualdades socioeconômicas, culturais e

geográficas, através da elaboração e execução de projetos de longo prazo para a EJA.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esse estudo foi possível constatar que os alunos esperam da EJA muito mais

do que aprender a ler e escrever. Eles pretendem continuar os estudos e utilizá-lo para a sua

formação crítica e social, eles enxergam a escola como uma chance, uma oportunidade para

um futuro melhor.

A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade que enriquece a educação por

completo e, sua diferença reside na existência de alunos que não tiveram a oportunidade de

ingressar em seus estudos na idade certa e, por isso mesmo agem de modo estranho a cultura

escolar. Para eles o importante é aprender e não ser aprovado, eles constroem vínculos

afetivos muito profundos com seus professores, de tal modo que se pudessem seguiam

estudando sempre com o mesmo professor.

Mas, o público de EJA, carrega antes de tudo a característica de se constituir com

uma maioria de pessoas humildes, que trabalham, cuidam de suas famílias e ainda encontram

tempo para tentar realizar o sonho de aprender a ler e escrever, e aprender conteúdos que lhe

possibilitem se situar histórica e geograficamente com e no seu mundo.

Assim, concluímos nosso estudo, sugerindo que a escola mesmo sendo

comprometida com este público, como foi o caso da escola que estudamos, busque construir

um saber enraizado nas necessidades do viver cotidiano do aluno, ou seja, que tudo aquilo

que ele aprenda faça sentido em seu contexto social. Talvez, esse caminho contribua para

diminuir a evasão.

Vale salientar que é importante buscar ações que possam restringir o índice de

evasão dos alunos, abordando temas relacionados a sua realidade, fazendo conexões entre as

disciplinas e suas relações culturais, econômicas e sociais. Esses cuidados são primordiais

para possibilitar a permanência do aluno na escola, pois torna o aprendizado mais atraente,

despertando o seu interesse, e fazendo com que descubra na educação um significado, um

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poder transformador de sua vida pessoal e profissional e da sua associação com outros

homens e outras mulheres.

REFERÊNCIAS

ARROYO, M. G. Fracasso-Sucesso: o peso da cultura escolar e do ordenamento da

educação básica. In: ABRAMOWICZ, A. e MOLL, A. (orgs.) Para além do Fracasso

Escolar. 4. ed. Campinas, SP: Papirus, 2000.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial,

1988.

______. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação de jovens e

adultos. Brasília. 2000.

______. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: LDB

nº 9394, de 20 de Dezembro de 1996.

FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 10ª ed. São Paulo: Paz

e Terra, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 13.

ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1996.

MENEGOLLA, M. Didática: aprender a ensinar. 5 ed. São Paulo: Loyola, 1989.

NÓVOA, Antônio. Os professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, Antônio.

(Org.). Vidas de professores. Porto, Porto Editora, 1992. p.11-30.

SOEK, Ana Maria; HARACEMIV, Sonia M.C; STOLTZ, Tânia. Mediação Pedagógica na

Alfabetização de Jovens e Adultos. 1ª ed. Curitiba: Positiva, 2009.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula.

Cadernos Pedagógicos do Libertad, 2; 3. ed. São Paulo: Libertad, 1995.

Sites pesquisados:

http://www.ebah.com.br/content/ABAAABhmAAA/Artigo-pos-graduação-educação-

evasao-escolar.

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