a etica das virtudes

4

Click here to load reader

Upload: didapgdy

Post on 05-Aug-2015

100 views

Category:

Education


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: A etica das virtudes

Focus Consulting Engenharia de Gestão Ltda. Av. Cândido de Abreu 526 Cj. 1401 - A Curitiba-PR Fone (41) 3252-2082 – www.consultoriafocus.com.br

1

A ÉTICA DAS VIRTUDES

Paulo Luccas

[email protected]

Resumo

Aristóteles reconhece na felicidade o objetivo da vida, e na virtude o caminho

para alcançá-la. São as virtudes que formam o homem na sua ação atualizando

sua potencialidade natural. A Ética das Virtudes se mostra assim, como um

caminho privilegiado para a realização pessoal.

Uma definição clássica do homem é a de que ele é um ser que esquece. Não por

uma deficiência da faculdade da memória, mas pela submissão às pressões externas do

meio e internas das paixões. Superar esta submissão parece exigir mais do que técnica,

mais do que ciência racionalista, exige pensar, filosofar.

A ciência quer decompor o todo em partes, o organismo em

órgãos, o obscuro em conhecido. Ela não procura conhecer os

valores e as possibilidades ideais das coisas, nem o seu significado

total e final; contenta-se em mostrar a sua realidade e sua

operação atuais, reduz resolutamente o seu foco, concentrando-o

na natureza e no processo das coisas tais como são. (...) A ciência

nos dá o conhecimento, mas só a filosofia pode nos dar a

sabedoria. (DURANT, 2000, p. 26-27).

O homem só é pleno em unidade. Não pode ser ele feliz no trabalho

desprezando sua saúde física ou o seu ambiente familiar. Existem princípios que regem

sua formação e sua conduta os quais se não forem respeitados põem a perder tudo o

que constrói. O homem precisa conduzir-se de acordo com o bem elevado, com

sabedoria, com ética. E como é um ser que esquece, precisa ouvir para poder refletir e

escolher o melhor bem.

Page 2: A etica das virtudes

Focus Consulting Engenharia de Gestão Ltda. Av. Cândido de Abreu 526 Cj. 1401 - A Curitiba-PR Fone (41) 3252-2082 – www.consultoriafocus.com.br

2

Aristóteles é um desses a quem se deve ouvir. Como discípulo de Platão herda

também a maiêutica de Sócrates, o método de questionar, de fazer pensar. Como seus

mestres, ama a filosofia e através dela busca a felicidade. Reconhece que o objetivo da

vida não é a bondade pela bondade, mas a felicidade. Em busca desta felicidade

desenvolve o caminho das virtudes, ou da excelência, entendendo-a como o justo meio

entre duas tendências. Este justo meio não é uma média matemática, mas algo que só

se revela à razão madura e flexível.

A excelência é uma arte obtida com o treinamento e o hábito: não

agimos corretamente porque temos virtude ou excelência, mas a

temos porque agimos corretamente; essas virtudes se formam no

homem enquanto ele vai agindo, nós somos aquilo que fazemos

repetidas vezes. A excelência, então, não é um ato, mas um

hábito: o bem do homem é a alma trabalhar no caminho da

excelência uma vida inteira. (DURANT, 2000, p. 91).

O pensamento grego tem claro que as paixões não representam vícios em si,

mas constituem a matéria prima tanto para as virtudes como para os vícios. Isto

reforça o pensamento socrático de entender a virtude como conhecimento, ou platônico

de reconhecer a virtude como uma ação harmoniosa.

Também importante é a noção que Aristóteles tem do ser ao considerá-lo não

apenas por aquilo que já existe, mas também por aquilo que pode vir a ser, a

virtualidade, a potência. A passagem da potência ao ato é o que irá constituir segundo

Aristóteles, o movimento. Todo movimento constitui a atualização da potência de um

ser que somente ocorre pela atuação de um ser já em ato. Cada ser atualiza suas

virtualidades devido à ação de outro ser que, possuindo-as em ato, funciona como

motor daquela transformação. Entende em sua construção lógica que não pode o mais

vir do menos, ou o superior do inferior. Em conseqüência defende a existência de uma

unidade harmoniosa a reger todo o universo hierarquizando suas ações.

Concebe, então, todo o universo como regido pela finalidade e

torna os vários movimentos (atualizações das virtualidades de

diferentes naturezas) interdependentes, sem fundi-los, todavia, na

continuidade de um único fluxo universal. Haveria uma ação

Page 3: A etica das virtudes

Focus Consulting Engenharia de Gestão Ltda. Av. Cândido de Abreu 526 Cj. 1401 - A Curitiba-PR Fone (41) 3252-2082 – www.consultoriafocus.com.br

3

encadeada e hierarquizada dos vários motores, o mais atualizado

movimentando o menos atualizado. (ARISTÓTELES, 1996, p. 20).

Neste encadeamento de motores mais atualizados haveria um primeiro motor, o

que daria origem aos demais, ato puro, a quem Aristóteles chama de Deus. É a causa

final de todos os seres, incorpóreo e auto-contemplativo. Estas relações metafísicas:

matéria-forma, potência-ato, comandam a explicação aristotélica do homem,

correspondendo ao objetivo primordial da investigação ética o de descobrir a causa

verdadeira da existência humana. Num universo regido pela finalidade, a causa é a

procura do bem ou da felicidade que a alma alcança apenas quando exerce as

atividades que lhe permitam a plena realização.

O pensamento grego a respeito de virtude, potência e realização, não são

exclusivos na filosofia humana. Outras culturas desenvolvem esta percepção e

pensamento.

Na filosofia chinesa, a palavra que designa virtude (Te, em chinês)

é por vezes traduzida como potência. Trata-se de uma imagem

adequada, pois uma virtude é uma forma de poder. É o potencial

de uma pessoa. É aquilo que permite que nos tornemos quem de

fato somos. Mas quem somos depende dos papéis que

desempenhamos na vida, e as maiores virtudes são as que nos

ajudam ao longo do caminho (Tão, em chinês). (SOLOMON, 2000,

p. 111).

Para Josef Pieper (2001, p. 15): “A virtude é em termos gerais a elevação do ser

na pessoa humana. (...) É o máximo a que pode aspirar o homem, ou seja, a realização

das possibilidades humanas no aspecto natural e sobrenatural. O homem virtuoso é

aquele que realiza o bem obedecendo às suas inclinações mais íntimas.” A concepção

de Pieper destaca em referência a Tomás de Aquino a inclinação do homem ao bem

elevado, a sua última potência, e a capacidade de realizá-la.

Para Abbagnano (2000, p.1003), o termo virtude “designa uma capacidade

qualquer ou excelência, seja qual for a coisa ou o ser a que pertença.” Enquanto

capacidade de realizar uma tarefa é um conceito platônico, e como hábito ou disposição

racional constante para realizar algo é um conceito aristotélico, sendo este o mais

difundido na ética clássica.

Page 4: A etica das virtudes

Focus Consulting Engenharia de Gestão Ltda. Av. Cândido de Abreu 526 Cj. 1401 - A Curitiba-PR Fone (41) 3252-2082 – www.consultoriafocus.com.br

4

Para Tanquerey (1996, p. 531), “virtude são hábitos bons, adquiridos pela

freqüente repetição de atos, que fazem mais fácil a prática do bem honesto.” No

conceito de Tanquerey, a influência aristotélica é patente. É a prática de atos bons que

leva à virtude, e esta prática livremente desejada proporciona facilidade de atuação, ou

seja, há um efeito positivo que estimula a se buscar mais, a se fazer melhor. Não pode,

portanto, limitar-se a um ato isolado, um vencimento momentâneo, que por mais

elevado e heróico que seja, não cria a disposição constante, marca própria da virtude.

Seja pela capacidade platônica de Pieper, ou pela prática aristotélica de

Tanquerey, a virtude apresenta-se como um bem que deve ser buscado pelo

esclarecimento racional e imposto pelo querer decidido do homem na atualização de si

mesmo, onde suas faculdades mais elevadas da inteligência e vontade atuam em

sintonia para realizar o seu próprio bem.

A aquisição desses hábitos bons é uma decisão que propõe a luta por uma vida,

e por isso é importante conhecer quais dessas virtudes são fundamentais para

sustentar o desenvolvimento humano.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

DURANT, W. A história da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

PIEPER, J. Las virtudes fundamentales. 7. ed. Madri: Rialp, 2001.

SOLOMON, R. C. A melhor maneira de fazer negócios. São Paulo: Negócio, 2000

TANQUEREY, A. Compendio de teologia ascética e mística. 2. ed. Madri: Palabra,

1996.