a estrada da infância 15

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Menino, filho de mãe espanhola e pai brasileiro, do interior de São Paulo, revive a sua infância na década de 1960, na Vila Maria, bairro da Zona Norte da cidade de São Paulo, na companhia da família e de suas práticas um tanto quanto transgressoras para os padrões da normalidade e da ordem vigente, ocasionando, por muitas vezes, efeitos tragicômicos inesperados, chocando as pessoas ditas “certinhas”.

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A ESTRADA DA INFÂNCIA I

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São Paulo 2016

Hélio Ortega

A ESTRADA DA INFÂNCIA I

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Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa Ueslei Petená

Diagramação Camila C. Morais

Revisão Andrea Bassoto

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________A817e

Arruda, Hélio Ortega A estrada da infância I / Hélio Ortega Arruda. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2016. 280 p.

ISBN 978-85-437-0628-3

1. Arruda, Hélio Ortega - Narrativas pessoais. 2. Homem- Brasil- Biografia. I. Título.

16-32818 CDD: 920.71 CDU: 929-055.1________________________________________________________________05/05/2016 06/05/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Blog do autor: www.mundoliteris.wordpress.comE-mail: [email protected]

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ÍNDICE

Agradecimento/dedicatória ..........................................7

Apresentação ...............................................................9

Introdução ................................................................13

I - Prelúdio ................................................................17

II – Ambiente familiar ...............................................29

III – Ambiente externo ...........................................135

IV - Epílogo ............................................................269

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AGRADECIMENTO/DEDICATÓRIA

Este livro tornou-se uma realidade graças à inspiração divina. Sem ela não haveria essa possibilidade. Deus, em Sua inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, capacitou-me na exata medida do merecimento a avançar linha após linha, parágrafo seguido de parágrafo, e página e mais página, até alcançar a feitura completa da obra.

Dedico este livro especialmente à memória da mi-nha saudosa mãe Carmen e, ainda, ao meu pai Benedito, à minha irmã Maria de Lourdes e aos meus tios Cristo-vão, Adolfo e Rafael.

Agradeço aos amigos e colegas que conviveram co-migo e são citados nas saborosas histórias. E àqueles não mencionados, por esquecimento, naturalmente, da mes-ma maneira o meu “Muito obrigado”.

Por fim, agradeço à Jaqueline Ferreira, companheira sempre presente, que durante dois meses leu e releu os originais dos escritos e em todos os instantes me incen-

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tivou e encorajou-me a prosseguir, na certeza de pleno êxito. Mesmo quando eu lançava certas dúvidas acerca da qualidade e clareza do trabalho em elaboração, seguia ela me motivando.

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ApRESENTAçãO

Creio que tudo começou em uma quadra difícil na Europa, quando muitas famílias deixavam o velho conti-nente e rumavam para a América. Em sua bagagem tra-ziam sonhos, amor, força para o trabalho e esperança de encontrar um mundo melhor e criar a família, os filhos, os filhos dos filhos e os que ainda viriam.

Era uma época em que quando uma criança deseja-va brincar e não sabia o nome da outra chamava: “Oh, português!”, “Oh, espanhol!”, “Oh, japonês!”, “Oh, ita-liano!”. Era assim que grande parte das crianças se apro-ximavam. Os senhores mais velhos nós os tratávamos de “Seu Zé”. A maioria dos adultos não gostava, mas grande parte era José. A maioria não tinha TV para colocar nos filhos os nomes dos artistas e dos personagens.

Como nada é por acaso, em uma dessas famílias de espanhóis que migraram para o Brasil, a família Ortega, havia uma bela Andaluza. Ainda mocinha, provavelmente

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com uma flor nos cabelos, que a deixava ainda mais bonita, passeando em uma praça, conheceu um jovem e charmoso brasileiro, com sotaque caipira do interior de São Paulo ‒ para ser mais exato, da bela Rio Claro. Não sei dizer se foi amor à primeira vista, mas os corações dos jovens ba-teram mais forte. Deve ter sido amor sim. Era uma época em que as pessoas se aproximavam pela energia boa que transmitiam umas às outras, um pouco diferente dos dias atuais. Era um tempo até inocente. As músicas falavam de paixão e todos tinham no olhar e na mente uma palavra muito bonita e simples chamada esperança. Da miscigena-ção, que é uma das belezas do povo brasileiro e da família Ortega Arruda, nasceu um casal de paulistanos.

Hélio Ortega nasceu no Brás, um bairro de São Pau-lo onde moravam italianos, ainda hoje um local em que se fala com sotaque italiano orgulhosamente: “Belo, eu sou Palestra, mais conhecido como Parmera”.

Aprendemos com os espanhóis que:1 - “Se não existir governo, haveremos de criar um,

mas se existir governo, sou contra”.2- “Não acredito em bruxas, mas que elas existem,

existem”.Entre tantas coisas maravilhosas, como culinária,

música, literatura e por aí vai, também aprendemos com os espanhóis de São Paulo a torcer pelo Corinthians.

Conheci o Hélio Ortega em um tempo em que ligá-vamos o rádio e ouvíamos Roberto Carlos, com suas can-ções embalando corações e fazendo a moçada requebrar com seus sucessos. No cinema nacional, Mazzaropi com sua ingenuidade e pureza, levava milhares de pessoas aos

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cinemas. Assistir Charles Chaplin, então, era encantador. Poucos tinham televisão, mas erámos muito felizes. Elvis deixava todas as meninas apaixonadas. Essas gurias eram as irmãs e primas dos meninos da nossa turma. Às vezes, uma dessas meninas se dizia apaixonada por um menino, que era sempre mais velho ou era da outra rua.

Estudávamos pela manhã e à tarde queríamos mes-mo era brincar de pipa, pião, mana mula. Mas o que mais gostávamos era jogar bola na rua e Hélio era o mais novo de todos nós, caçulinha. Nosso time era bom. Sempre ga-nhávamos da rua de baixo e da rua de cima. Nós tínhamos o Hélio, craque do pedaço e nosso artilheiro. Lembro-me bem de que naquele tempo ele era corinthiano.

Nosso campinho, local de tantas glórias, tantas lu-tas, nosso lugar de lazer onde fazíamos fogueiras de São João, virou uma praça ‒ uma bela praça, por sinal ‒, mas sem vibração. E as crianças, elas têm agora outras prefe-rências e frequentam ambientes fechados.

Fazer parte deste livro é um privilégio, uma alegria úni-ca. Das peladas de rua na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo, ele fez o caminho inverso que grande parte de amigos meus fizeram: foi para Salvador, na Bahia, e se tornou so-ciólogo, economista e, principalmente, um grande escritor.

Meu amigo, que o Grande Arquiteto do Universo o ilumine nessa empreitada e que tenha o merecido suces-so. E a quem se dispuser, tenha uma boa leitura e apro-veite ao máximo algumas reflexões humanistas contidas neste livro.

Wismar Rabelo

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INTRODuçãO

Os primeiros anos de vida são marcados pelas desco-bertas. Toda criança nasce curiosa. As explosões de infor-mações captadas pelos sentidos ainda em desenvolvimento deslumbram o infante. Cores, sabores, cheiros, sons e tex-turas aguçam a mente do pequeno ser humano em forma-ção. Com o jovem Hélio não foi diferente. Daí para frente é que a estrada da vida começou a ganhar seus próprios contornos, recheada de aventuras e, claro, desventuras.

O Brasil atravessava um momento de pleno cresci-mento econômico. O plano de Juscelino Kubitschek de 50 anos de progresso em 5 anos de realizações parecia estar dando certo, e o país vivia uma aceleração socioeconômica marcante, em que empresas prosperavam aproveitando os incentivos do governo. O sentimento era de segurança e paz, o regime militar ainda não havia sido instaurado e o AI-5 não passava pela cabeça nem dos mais pessimistas.

“A Estrada da Infância I” impressiona logo de partida pelas memórias, tão precisas, tenras e ao mesmo tempo tão

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vívidas na mente do autor. O fiel retrato de uma família humilde de imigrantes espanhóis encanta pela forma ino-cente com que é captada pelos olhos de uma criança.

A narrativa, além de prender a atenção do leitor, traz como pano de fundo uma São Paulo diferente da atual. Ainda em desenvolvimento, apresentava características de cidades do interior do Estado, tanto na sua fachada como nos seus habitantes. Esse caldeirão de vidas e cul-turas foi sendo incrementado por meio dos imigrantes estrangeiros (assim como os espanhóis Ortega, portugue-ses, italianos e japoneses, dentre outras nacionalidades) e os nordestinos, como é bem sabido.

A Vila Maria é o palco principal das peripécias do, ainda garoto, Hélio. A família, numerosa, apinhava-se numa casa humilde, porém própria (com muito orgu-lho!). O núcleo familiar honrava seu sangue latino e an-daluz, as brigas e confusões eram constantes e homéri-cas, todavia, revelavam um amor entre os membros dessa grande e beligerante família.

A pobreza era uma constante naquela época. As crianças sentem menos essa situação, pois possuem seus próprios mecanismos de defesa, além de ser uma fase da vida em que o ser humano precisa de muito pouco para ser feliz. No entanto, nada passava despercebido pela mente fervilhante daquele moleque, que sempre buscava formas de tornar a vida melhor para si e para os seus.

Um dos produtos da pobreza é o conflito constante. Qualquer coisa é motivo para hostilidades. A rua e a es-cola eram os refúgios do pequeno, as brigas entre os pais e tios tornaram a convivência na residência dos Ortega

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uma missão quase impossível para o menino que crescia cada dia mais bem-disposto, ativo e participativo.

No início da infância, a escola era o destino de eleição do guri, ávido por conhecimentos e um tanto motivado pe-las notas e pelo olhar orgulhoso e de aprovação de sua mãe. Ele passava suas horas alternando entre a sala de aula e o tão aguardado recreio, momento de congregação com a patota.

As férias escolares eram também momentos de ple-nitude e farra com os crescentes amigos que fazia: fute-bol, pipas, gudes, carrinhos de rolimã – tudo para gastar a energia típica dos primeiros anos de vida (e para pou-par os adultos das azucrinações dos fedelhos). Os balões se tornaram um passatempo bastante apreciado e muito aguardado, especialmente nas festas juninas. As cores e formatos que ilustravam o céu da Vila Maria hipnotiza-vam e deslumbravam o bedelho.

Com o tempo a escola foi perdendo o seu encanto e a sala de aula, em conjunto com os mestres e as suas lições, foram aos poucos sendo deixados de lado em favor da liberdade das ruas e suas infinitas possibilidades, sem a presença sufocante dos adultos, sempre a podar as tra-vessuras dos mais novos.

A pobreza foi um traço marcante ao longo da sua infância e um dos grandes fatores que ajudaria a moldar o caráter do bedelho e influenciaria as suas atitudes. As suas peripécias e convívios com a família estavam ape-nas começando. O futuro guardava inúmeras surpresas – boas e nem tão boas – para a cria da Dona Carmen e da Vila Maria.

Felipe Teixeira