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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 429 • ANO XXXVIII ABRIL 2009 • MENSAL • 1, 50 A ESQUADRA EM EXERCÍCIOS A ESQUADRA EM EXERCÍCIOS

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 429 • ANO XXXVIII ABRIL 2009 • MENSAL • € 1,50

A ESQUADRA EM EXERCÍCIOSA ESQUADRA EM EXERCÍCIOS

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A “Sagres” de Roger ChapeletNa altura em que é editado o magnífico livro “Sagres - Construindo a Lenda” da autoria do CTEN António Manuel

Gonçalves, não é demais salientar a acção que o notável artista francês Roger Chapelet, “Pintor de Marinha”, teve na divulgação da imagem do navio.

Nesta página apresentam-se três quadros de R. Chapelet do Museu de Marinha.

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 429 • Ano XXXVIII

Abril 2009

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

Redacção2TEN TSN Ana Alexandra Gago de Brito

Secretário de RedacçãoSAJ L Mário Jorge Almeida de Carvalho

Colaboradores PermanentesCFR Jorge Manuel Patrício Gorjão

CFR FZ Luís Jorge R. Semedo de MatosCFR SEG Abel Ivo de Melo e Sousa1TEN Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves

Administração, Redacção e PublicidadeRevista da Armada

Edifício das InstalaçõesCentrais da Marinha

Rua do Arsenal1149-001 Lisboa - Portugal

Telef: 21 321 76 50Fax: 21 347 36 24

Endereço da Marinha na Internet http://www.marinha.pt

e-mail da Revista da Armada [email protected]

Fotocomposição, paginação electrónica, fotolito,

montagem e produçãoPágina Ímpar, Lda.

Estrada de Benfica, 317 - 1º F1500-074 Lisboa

Tiragem média mensal:6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73

com o nº 44/23Depósito Legal nº 55737/92

ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

ANUNCIANTES: MAN FERRoSTAAl PoRTUgAl, lda.; RoHDE & SCHWARZ, lda; CASA DE SAÚDE DE gUIMARÃES.

A “SAGRES” DE ROGER CHAPELET 2PONTO AO MEIO DIA 4SERVIR A PÁTRIA COM ESPÍRITO MILITAR 5O NRP “ÁLVARES CABRAL” NA STANDING NATO MARITIME GROUP 1 6COMBATE À POLUIÇÃO DO MAR 11CADETES DA ESCOLA NAVAL DESCEM RIO GUADIANA / O COMANDANTE SALDANHA CARREIRA DEIXOU A ESCOLA NAVAL 12O ENSINO DOS TEMAS ESTRATÉGICOS NAS UNIVERSIDADES 13A MARINHA DE JOÃO III (44) 14CENTRO DE SIMULAÇÃO MÉDICA DA MARINHA / NOVA PISCINA DA MARINHA 15HOMENAGEM AO ALMIRANTE GAGO COUTINHO 16TOMADAS DE POSSE 22VIGIA DA HISTÓRIA 9 / NOTÍCIA 27NOTÍCIAS 29HISTÓRIAS DA BOTICA (62) 30CENTRO DE COMUNICAÇÕES DE DADOS E DE CIFRA DA MARINHA (CCM) / CONVÍVIOS 31QUARTO DE FOLGA / NOTÍCIA 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIO 34INSTALAÇÕES DA MARINHA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2009 3

Lançamento do livro “Sagres-Construindo a Lenda”

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INSTREX 01098

Gago Coutinho –– Marinheiro, Geógrafo, Aviador,

Sábio e Herói –

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 429 • ANO XXXVIII ABRIL 2009 • MENSAL • € 1,50

A ESQUADRA EM EXERCÍCIOSA ESQUADRA EM EXERCÍCIOS

Foto: Sociedade de Geografia

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4 ABRIL 2009 • Revista da aRmada

PONTO AO MEIO DIA

O novo quadro da Segurança Interna e a Marinha

Nota iNtrodutória

A Lei de Segurança Interna (LSI) foi aprovada pela Lei nº 53/2008, de 29AGO.

Finalizou-se, assim, um processo legisla-tivo relativamente longo que conheceu, nas suas fases iniciais de estudo e concepção, quer a elaboração de um estudo de fundo sobre modelos de organização, estruturas de polícia e hipóteses de reordenação de es-truturas coordenadoras da SI (cujo Relatório Preliminar já havia sido entregue ao Gover-no em 08JUN2006), quer a participação das autoridades interventoras no quadro da Se-gurança Interna (SI). A Autoridade Marítima Nacional participou, desde início, no proces-so de consultas e pareceres sobre os textos que foram sucessivamente sendo presentes para análise, precisamente por ser uma das autoridades que, nos termos dos artigos 14º e 15º da anterior Lei de Segurança Interna (Lei nº 20/87, de 12JUN, alterada pela Lei nº 8/91, de 01ABR) integra o elenco das forças e serviços de segurança.

Existem, contudo, alguns antecedentes úteis para se apreender a necessidade que, no âmbito da Marinha/Autoridade Maríti-ma Nacional (AMN), existia em rever o con-teúdo inicial da LSI, inclusive porque a pró-pria terminologia que vigorava nos textos iniciais de 1987 não era já coincidente com as novas estruturas da Autoridade Maríti-ma/Polícia Marítima (PM), sobretudo des-de a publicação do Decreto-Lei nº 248/95, de 21SET, que publicou o Estatuto do Pes-soal da Polícia Marítima (EPPM) e demais legislação complementar. O mais importan-te daqueles antecedentes corporizou-se, em 30JUL2005, na apresentação de um conjun-to de propostas pela Marinha/AMN à tute-la visando a alteração da Lei nº 20/87, das quais se relevam:

1. O âmbito territorial da Lei, em concreto a sua aplicação à Zona Contígua (ZC) face ao regime jurídico estabelecido pelo artigo 33º da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) devidamente con-jugado com o estatuído nos artigos 4º e 5º do Decreto-Lei nº 43/2002, de 02MAR;

2. O elenco das entidades que constavam do artigo 14º da LSI então vigente, e a ne-cessidade de actualização do quadro das autoridades que exercem funções no âm-bito da SI;

3. O regime de medidas de polícia, cla-

ramente inadequado a um exercício da au-toridade do Estado em espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional, e a con-sequente necessidade em se preverem, e ti-pificarem, medidas especiais de polícia direc-cionadas para o âmbito marítimo, quer face à envolvente geo gráfica específica determi-nada pelos acessos de navios e embarcações a águas interiores, e/ou a sua permanência em espaços portuários, quer devido ao re-gime imposto pelo controlo de navios pelo Estado do porto.

Em complemento àquelas propostas, e relativamente aos anteprojectos de altera-ção ao Código Penal (CP) a Marinha/AMN viria, na oportunidade e em sedes próprias, a apresentar um conjunto de propostas con-cretas de alteração, designadamente os ar-tigos 279º (poluição marítima), 288º e 289º (obstáculos à segurança da navegação) to-dos do CP, num quadro de análise que visa-va dar consistência jurídica ao exercício da autoridade de polícia em espaços territoriais nacionais. Esta vertente ganhou maior ên-fase substantiva porquanto, em JUN2006, a Marinha/AMN foi formalmente chamada a dar contributos quanto aos anteprojectos de alteração do próprio CP e do Código do Processo Penal (CPP), atendendo a que inte-gra a estrutura da Segurança Interna, e ainda pelo facto acrescido de, como AMN, integrar um órgão de polícia e de polícia criminal, a Polícia Marítima.

Precisamente naquele contexto, impor-tava, em tal oportunidade, explicitar o en-quadramento jurídico das Unidades de Co-ordenação e Intervenção Conjunta (UCIC) – usualmente conhecidas como brigadas mis-tas – criadas pelo Decreto-Lei nº 81/95, de 22ABR, e a integração da PM em tais estrutu-ras, tal como preceituava, e impunha, o nº2, do artigo 9º, do DL 43/2002, de 02MAR. Por subsistirem algumas dúvidas circunstanciais de conceito relativamente à inclusão da PM no âmbito do DL 81/95, o diploma da arti-culação de autoridades de polícia, aprovado pelo Decreto Regulamentar nº 86/2007, de 12DEZ, viria, definitivamente, através do preceituado no nº3 do seu artigo 5º, a resol-ver a questão.

Constituindo-se como elementos de nu-clear importância quanto ao exercício da au-toridade de polícia do Estado Português em espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional e noutros espaços dominiais, e, por-tanto, basilares para a percepção funcional

da inserção da Marinha/AMN no quadro da Segurança Interna, foram publicados, suces-sivamente, os seguintes diplomas:

1. Em 15NOV2006, o Decreto-Lei nº 226/2006, que definiu, em âmbito interno, procedimentos e mecanismos funcionais no âmbito do Código ISPS (código internacio-nal para a protecção dos navios e das insta-lações portuárias), cujo regime comunitário foi estabelecido em sede do Regulamento nº 725/2004, do Parlamento Europeu e do Con-selho, de 31MAR, e da Directiva nº 2005/65/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 26OUT. Um olhar atento pelo contex-to preambular daquele decreto-lei indicia, com grande limpidez normativa, a lógica institucional que deve existir no âmbito da Segurança Interna, entre as estruturas de co-ordenação da SI, a Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT) e a AMN no quadro da segurança de pessoas e bens, isto é, da protecção (security) em âmbito marítimo.

2. O Decreto-Lei nº 370/2007, de 06NOV, que define e regula os actos de Estado no âmbito de acesso e saída de navios e em-barcações dos portos nacionais, e em cujo contexto jurídico é notória a salvaguarda dos aspectos relativos à supramencionada protecção, em concreto quanto às situações em relação às quais exista qualquer tipo de suspeita de prática de ilícitos penais e/ou contra-ordenacionais;

3. O Decreto Regulamentar nº 86/2007, de 12DEZ, que aprovou, nos espaços sob soberania e jurisdição nacional, o formato de articulação entre autoridades de polícia e demais entidades técnicas competentes, e do qual resulta clara a funcionalidade nu-clear que a lei comete aos órgãos e serviços da AMN;

4. A Lei de Organização da Investiga-ção Criminal (LOIC), aprovada pela Lei nº 49/2008, de 27AGO, que definiu, nos seus artigos 3º, nº2, e 13º, nº1, alínea c), o âmbito jurídico dos órgãos de polícia criminal de competência específica (como a PM), e sua representação no Conselho Coordenador dos Órgãos de Polícia Criminal (CCOPC).

Identificados que estão alguns anteceden-tes e elementos essenciais do regime da SI, importa agora rever, de forma necessaria-mente breve, as grandes novidades da nova LSI, o que se apresentará na próxima R.A.

J. M. Silva CarreiraVALM

1ª Parte

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Revista da aRmada • ABRIL 2009 5

Servir a Pátria com espírito militar é o ideal cimeiro que deve regu-lar a expressão das aspirações e

a materialização da vontade de todo o cadete da Escola Naval, para que: sejam correctos os caminhos que escolhe e per-corre na satisfação dos seus anseios de realização pessoal e profissional; exista determinação na força que o impele ao cumprimento dos deveres de militar e de cidadão; haja um foco gerador de es-tímulos e esperança, que determina a sua conduta pública e privada.

É obrigação de todo o professor militar da Escola Naval, contribuir para que os cadetes adop-tem o propósito nobre e supremo de servir a Pátria com espírito mi-litar, porque ele é essencial para en-grandecer os senti-mentos, dignificar a vontade e puri-ficar o carácter dos futuros oficiais da Armada. Sem esta referência funda-mental para a car-reira na Marinha, não compreende-rão a razão de ser da sua função so-cial. Poderá mesmo dizer-se que, na sua ausência, não conseguirão reforçar o seu estatuto de cidadão, pela incorporação da condição de militar!

Adopção progressiva da aspiração ardente de servir a Pátria com espírito militar, vai distinguindo, cada dia que passa, o cadete da Escola Naval do seu amigo que frequenta uma Universida-de. Este, visa obter o diploma que o ha-bilitará a exercer uma certa profissão, em Portugal ou noutra qualquer parte do mundo. Em ambos os casos poderá servir a Pátria, pelo seu contributo para a satisfação de interesses nacionais. Po-rém, não dedica a sua vida a todos e a cada um dos seus concidadãos, execu-tando as tarefas públicas que tiver a seu cargo, quaisquer que sejam as dificul-dades associadas, como acontece com o oficial da Armada.

Servir a Pátria na Marinha, implica o desenvolvimento progressivo, na perso-

nalidade de cada cadete da Escola Naval, das três forças que suportam, nutrem e animam o espírito militar: a disciplina; a lealdade; e a coragem.

A disciplina é essencial ao espírito mi-litar, na medida em que apela: à vonta-de de aprender com os exemplos justos e honrados; ao cumprimento das ordens dos superiores hierárquicos, aceitando a sua autoridade; ao respeito à lei, à ordem e aos costumes da sociedade portuguesa. Também é a disciplina que leva os mili-tares a desenvolver a cultura de mérito, que premeia a dedicação e a valentia,

pune a indolência e a covardia, e rejeita a indignidade e o oportunismo.

A lealdade é determinante do espírito militar, em virtude de traduzir: o orgu-lho e a dedicação à condição militar; o sacrifício dos interesses pessoais aos ob-jectivos da Marinha; o respeito intransi-gente à verdade; o cumprimento inaba-lável do juramento feito à Pátria.

A coragem é imprescindível ao espí-rito militar, porque confere: firmeza nos revezes e contenção nos triunfos; capa-cidade para decidir com oportunidade e clareza perante a adversidade; deter-minação e ânimo para enfrentar os de-safios; equilíbrio emocional e força para superar as dificuldades no cumprimen-to das missões.

Ao ingressar na Escola Naval é essen-cial que o jovem cadete seja educado na disciplina, na lealdade e na coragem, de forma a que adquira um espírito militar adequado às exigências das suas futu-

ras funções. Se assim acontecer, como oficial da Armada manter-se-á fiel à sua carreira, sem despropósitos materialistas e com gosto pelo trabalho.

Com efeito, todo o oficial da Armada que tem espírito militar, empenha-se no serviço da Pátria, sem se envolver em nada que não contribua para esta fina-lidade superior. Mantém-se assim, para não perder a qualidade profissional, nem a consideração pública conquista-das à custa, quer de trabalho sério, útil e abnegado, quer dos exemplos virtuosos daqueles que o antecederam.

Por outro lado, todo o oficial da Armada dotado de espírito militar, não espera enrique-cer pelo exercício das suas funções. O reconhecimento justo pelo seu tra-balho, o equilíbrio entre direitos e de-veres, e a garantia de uma vida digna e socialmente equi-tativa, são suficien-tes para que ma-nifeste uma total devoção à Pátria. Para além disso, proporcionam-lhe a independência

intelectual, que pode desfrutar e apreciar com um grau de liberdade incomparável ao de qualquer outra condição social.

O espírito militar também leva o oficial da Armada a gostar do trabalho, viven-do para as suas funções, com atenção e dedicação. Leva-o a conhecer todos os problemas que dizem respeito à Mari-nha, pelo que acompanha trabalhos e informa-se de tudo o que possa ter inte-resse para melhorar o seu desempenho. É o espírito militar que estimula o oficial da Armada a pensar permanentemente na sua condição e a cuidar devotada-mente dos seus encargos, que são, para ele, uma preocupação constante. Tam-bém é o espírito militar que incute no oficial da Armada o orgulho por repre-sentar a instituição que serve na defesa do país que ama.

António Silva RibeiroCALM

Servir a Pátria com Espírito MilitarServir a Pátria com Espírito Militar

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AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 2

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6 ABRIL 2009 • Revista da aRmada

“alvorada, Alvorada”, são 06:00 da manhã e ou-ve-se o primeiro aviso

do dia. É sem dúvida um dia de sorte esta sexta-feira dia 13 de Fe-vereiro por ser o dia de chegada ao tão esperado porto de Lisboa. Os vigias buscam incessantemen-te as marcas que já tantas vezes avistaram do mar e que conhe-cem como as palmas das suas mãos. Pelos binóculos, o vigia de estibordo afirma ter avistado o Farol do Bugio, primeiro símbo-lo da proximidade a Lisboa e ao Tejo. Lentamente, a guarnição vai acordando, preparando-se a cada segundo que passa para atracar o navio no cais de passageiros de Alcântara. O mestre, dirige-se à ponte e apita à faina às 07:20, preparando assim, de imediato, a amarração para uma atracação e estadia seguras.

A força atracou pelas 0800 da manhã, poucos metros a montan-te da Ponte 25 de Abril. Desde cedo neste dia, a grande priorida-de do navio passou a ser a prepa-ração da plataforma para enfren-tar tanto as semanas de navegação que se avizinhavam como o pla-neamento exigente que, segundo o mesmo, levariam a força até aos portos de Toulon, Palermo e Souda-Bay.

Na noite de 13 de Fevereiro, o navio alemão FGS “Emden” ofe-receu uma agradável recepção a bordo, tendo comparecido convi-dados das guarnições dos navios da Força e altas entidades da Ma-rinha Portuguesa, sendo de notar a magnificência da Ponte 25 de Abril e o Cristo Rei como pano de fundo sempre presente.

Lisboa, sendo o porto de ori-gem da Fragata “Álvares Cabral”, permitiu a todos os elementos da guarnição a oportunidade de ma-tar saudades da família e amigos, num fim-de-semana curto mas me-recido, aproveitando os dias sola-rengos e temperaturas amenas que se fizeram sentir, contrastando com algumas das con-dições meteorológicas que se fizeram sentir em outros portos já visitados nesta mesma missão. Para as guarnições das marinhas es-

trangeiras também muito havia para ver na cidade alfacinha. Desde os pontos históricos como a Torre de Belém e Mosteiro dos Jeróni-

mos, Castelo de São Jorge e Alfama, que pro-porcionaram, de certo, óptimos momentos de lazer durante o dia, passando pelos bares e restaurantes das Docas ou Parque das Na-ções para os mais noctívagos.

Os navios da força voltaram a navegar no rio Tejo no dia 16 de Fevereiro para mais duas semanas de mar, com forças re-

temperadas e guarnições pron-tas para enfrentarem os desafios diários que se vislumbravam no horizonte. O destino era o Mar Mediterrâneo, para participar no exercício internacional LOYAL MARINER 09, efectuando certi-ficação dos elementos do STAFF da SNMG1. Durante o trânsito, os navios aproveitaram o tempo dis-ponível para treinar as suas guar-nições numa variedade de exercí-cios que incluíam aproximações RAS, exercícios de tiro, exercícios de comunicações e FLYEX’s com o helicóptero “Rogue”.

Prosseguindo a missão da SNMG1 após a paragem em Lis-boa, começa a contagem decres-cente para a passagem no Estrei-to de Gibraltar, porta de entrada para os próximos rumos e portos. As condições meteorológicas são boas, mas o mar parece demasia-do agitado.

As próximas “tiradas”, afigu-ram-se longas mas produtivas, com um programa seriado variado e completo. O treino interno pros-segue com exercícios de “Sea-manship”, FLYEX’s com o “Rogue” e ainda no âmbito da batalha in-terna, com simulações de alaga-mentos e incêndios.

Após uma semana a navegar torna-se necessário efectuar uma arribada em terras gaulesas para reabastecer. Este dia 20 de Feve-reiro surgiu como uma paragem bem-vinda e a oportunidade de conhecer a cidade de Toulon. Esta povoação da Riviera francesa, re-velou-se uma cidade agradável e acolhedora em que se observam fortes influências do Norte de África e da cultura Árabe. Antes de voltar ao trabalho, a força rea-basteceu e preparou-se para en-frentar o próximo périplo de mar até ao próximo porto.

No dia seguinte os navios lar-garam de Toulon e retomaram as operações. A semana começou com a participação num exercí-

cio com a Marinha Francesa, o FANAL09. Assim, durante os três primeiros dias da se-mana juntaram-se os navios da SNMG1, em companhia dos navios franceses FS “Cour-bet”, CG “Charles de Gaulle”, FS “Mont-

O NRP “Álvares Cabral”STANDING NATO MARITIME GROUP 1

O NRP “Álvares Cabral”2ª PARTE

O NRP “Álvares Cabral” à largada do porto de Lisboa com o navio ameri-cano USS “Klakring” que também integra a SNMG1.

O NRP “Álvares Cabral” em aproximações para reabastecimento com o navio francês FS “Courbet” da classe “La Fayette”, durante o exercício FANALE 09.

O helicóptero “Rogue” do NRP “Álvares Cabral”.

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Revista da aRmada • ABRIL 2009 7

calm” e FS “Jean Bart”. Durante este perío-do treinaram-se procedimentos de guerra de superfície e sub-superfície, ficando marcado principalmente pela interacção muito pro-dutiva entre as diversas marinhas presentes no exercício.

Findo o exercício, as duas forças sepa-ram-se e rumaram a Palermo, na Sicí-lia, a próxima esca-la a efectuar. Ainda faltavam alguns dias de trânsito pela fren-te, até à chegada ao país das “Pizzas” e das “Pastas”, no dia 26 de Fevereiro. Para alguns a novidade dominava o pensa-mento, para outros não... mas ninguém poderia dizer que não tinha boas pers-pectivas para uma estadia de três dias na Sicília! A navegação ficou ainda marca-da pela celebração da festa de Carnaval a bordo. A Comissão de Bem-Estar divulgou o evento, colocando cartazes nas câmaras e refeitórios. Começa-se a falar sobre másca-ras, disfarces... é necessário deitar “mãos à obra”, e iniciar os preparativos! Nessa noi-te elegeram-se os disfarces mais originais; os melhores proporcionaram gargalhadas e boa disposição! Todos ficamos surpreen-didos com a originalidade e qualidade das máscaras...! Com pouco, muito se faz!

A estadia em Palermo revelou--se novamente bastante agradá-vel. Todos puderam confirmar, na verdade, que Itália é mesmo o país das massas e pizzas. Ao sair do porto, todos nós nos deparáva-mos com um tráfego automóvel, cujo melhor adjectivo é, caótico. Quer de carro quer de motoriza-da, a veia corredora do condutor italiano está sempre presente e mostra-se a cada curva. Palermo ofereceu paisagens bonitas, ruas movimentadas e uma noite calma mas muito divertida.

“Sinal táctico enviado”, diz o operador da onda táctica, in-formando o oficial de acção táctica, que a ordem para o primeiro navio da força efec-tuar a largada de Palermo está transmitida. Por fim, larga o Navio-Almirante, pronto para assumir o papel importante de coman-dante da força, enquanto são ultimados os preparativos finais para o exercício LOYAL MARINER 09.

Este exercício internacional, significa a certificação do staff da SNMG1 e con-tou com a participação de navios de dife-rentes marinhas: França, Itália, Espanha, Alemanha, Finlândia e Estado Unidos da América.

O exercício começou com um planea-mento já bem recheado, estando previstas a realização de inúmeras séries do tipo CA-SEX, SURFEX, ADEX, GUNEX, RAS e BO-ARDING. Durante parte do exercício este-ve embarcada a bordo da “Álvares Cabral”

uma equipa de jornalistas (simulados), que acompanhou as séries do planeamento ope-racional mais importantes, tendo também embarcado a bordo dos navios FGS “Em-den” e USS “Klakring”. Esta era, ela própria, uma série avaliada, que iria, sem dúvida, pôr à prova as capacidades da guarnição, em lidar com os “media”, situação cada vez mais usual e absolutamente determinante para apresentar ao público a importância das missões da Marinha.

É jogado um cenário fictício, localizado

junto ao Corno de África. A ilha de Sar-drus, é disputada por duas Nações, Kamon e Tytan, que possuem soberania sobre o ter-ritório. Uma terceira Nação, Stellaria, apa-rentemente neutra e cooperativa, possui in-teresses não declarados em Sardrus e apoia secretamente Kamon. Após o desenrolar do cenário, a Organização das Nações Unidas decide intervir nesta crise mundial e o Con-selho de Segurança elabora resoluções e a força da NATO SNMG1 é chamada a actu-ar nesta “zona quente” do globo, impondo um embargo de armas a Kamon.

Tudo está a postos para o BOARDING.

A equipa da ponte começou por inquirir o navio suspeito sobre as suas característi-cas, carga, guarnição e destino, enquanto a equipa da embarcação se prepara para transportar as equipas de segurança e vis-toria. A equipa de segurança, composta

por fuzileiros na-vais, efectua as ulti-ma verificações no seu extenso rol de equipamentos e ar-mamento. Negros como a noite, estão prontos para tornar esta operação, arris-cada na sua génese, segura para os ele-mentos da equipa de vistoria. A em-barcação semi-rígi-da larga a equipa de segurança no navio a abordar e começa a operação. A tripu-lação é controlada num só local, fican-

do os elementos indispensáveis à seguran-ça da navegação nos seus postos, tornan-do assim mais fácil o controlo do pessoal e minimizando situações de risco. Após o navio ser considerado seguro, é inserida a equipa de vistoria. São fotografados todos os documentos do cargueiro “abordado” e os elementos da sua guarnição. Para dar rea-lismo e simultaneamente treino às equipas, é simulado que são encontrados explosivos. São seguidos os procedimentos adequados. Finda a série, são bastantes os pontos posi-

tivos, nesta interacção bastante complexa e importante.

As previsões meteorológicas não nos faziam sorrir para os dias seguintes. Aproximavam-se ma-res mais agitados, mas que não seriam suficientes para travar a determinação desta guarnição e o seu navio. O exercício LOYAL MARINER 09 continuou a desen-rolar-se sem incidentes e sempre em cumprimento do planeamen-to. Os exercícios do tipo CASEX e ADEX revelaram uma excelen-te interoperacionalidade entre as diversas marinhas pertencentes à aliança da NATO.

O dia 9 de Março marcou o final do exercício LOYAL MARINER 09 mas tam-bém o da chegada do NRP “Corte Real” as estas águas. O planeamento da NATO entra agora na segunda parte do primeiro semestre, fase em que a força se irá dirigir para o Canal do Suez, com as bandeiras da NATO hasteadas no Mar Vermelho, Corno de África e Extremo Oriente, assumindo-se como Navio-Almirante da SNMG1 o NRP “Corte Real”.

(Colaboração do COMANDO DO NRP “ÁLVARES CABRAL”)

Faina de atracação no porto italiano de Augusta na Sicília.

Fuzileiro em posto de “force protection”.Interior do centro de operações, imagem das consola de compilação de superfície e de “link”.

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8 ABRIL 2009 • Revista da aRmada

“Realizou-se, entre os passados dias…”, é a forma normalmente seguida para iniciar os artigos que

descrevem exercícios em que participam os navios da Marinha. Desta vez, porém, pro-ponho ao leitor uma abordagem diferente: convido-o a seguir a metodologia que está por detrás do desenho do próprio exercício. Pretendo sobretudo contribuir para que exista uma maior com-preensão sobre as razões de seguirmos determinadas li-nhas de acção, responden-do a questões que, porven-tura, já terá colocado a si próprio:

- Porque nos mantemos fo-cados em acções que se ins-crevem em empenhamentos fora do nosso espaço de res-ponsabilidade (entendendo--o como o que se circunscre-ve ao espaço inter-territorial e às águas sob responsabilidade e jurisdição nacional);

- Qual é a lógica de continuarmos a trei-nar as disciplinas tradicionais da guerra no mar (anti-submarina, anti-superfície e anti--aérea);

- Qual é a utilidade de navios com as (redu-zidas) capacidades das corvetas (e, por ana-logia, dos futuros Navios de Patrulha Oceâ-nica - NPO) para missões de natureza militar como as que treinamos nos exercícios das séries INSTREX e CONTEX.

O ENQUADRAMENTO

Não querendo elaborar em profundidade sobre matérias de natureza estratégica, é, no entanto, importante compreender que o pla-neamento militar é condicionado, e nortea-do, por grandes linhas condutoras que são estabelecidas ao mais alto nível. Podemos assim dizer que a Marinha não tem os meios

que quer, mas aqueles de que necessita para cumprir as missões que lhe são confiadas. E se aqueles meios materializam um deter-minado conjunto de valências, face às suas características de robustez, sustentação, sis-temas de armas e sensores, etc., as linhas de acção que seguimos são ditadas pela forma

como exploramos tais capacidades para se maximizarem os resultados que pretende-mos alcançar.

Se pensarmos que as capacidades dos nos-sos navios são limitadas, uma vez que na sua maioria se destinam à defesa própria (possi-bilitando, nalguns casos pontuais, também a defesa das unidades em companhia), quando existem alternativas que conferem a determi-nadas unidades uma capacidade mais ofen-siva (por exemplo os mísseis Tomahawk que permitem realizar ataques contra alvos em terra a grande distância), teremos de aceitar que tal opção se insere numa qualquer lógi-ca. De facto, mais do que uma razão de na-tureza financeira, ela assenta num conceito e numa postura estratégica de cariz defensivo, a qual se constitui como uma das pedras ba-silares da nossa acção no plano militar. E o tipo de navios de que a Marinha dispõe terá de ser coerente com tal raciocínio. Ou seja, não é linear concluir que a razão pela qual

a Marinha não dispõe de um porta-aviões é porque se trata de um meio dispendioso. Na realidade, será mais correcto admitir que tal acontece porque, sendo um meio de carac-terísticas marcadamente ofensivas, ele não se insere dentro da nossa postura estratégi-ca (sirva o exemplo para ilustrar a lógica a

que aludo, sem prejuízo de outros juízos que se possam fazer em torno do caso parti-cular dos porta-aviões).

Na sequência da dedu-ção anterior, à qual acres-ce um todo de variáveis que não cabe aqui enumerar, chega-se à configuração do sistema de forças da Mari-nha, ou seja, ao conjunto de meios de que vamos dispor. Mas para que um exercício possa ser consequente, pre-parando as unidades para aquilo que se espera que a Marinha, no plano das ope-

rações, consiga realizar, importa saber:- “o que defender”, porque se trata de um

vector fundamental para enquadrar e definir as diferentes missões;

- “onde defender”, porque nos permite ca-racterizar os teatros de operações e identificar as características dos meios a empregar;

- “como defender”, porque nos possibilita reconhecer a forma de empregar e de articu-lar os meios, e de melhor explorar as respec-tivas capacidades.

Relativamente à primeira interrogação, e fazendo uso de uma linguagem simplista, poderemos afirmar que outrora se defendiam territórios, sistemas políticos, etc. Hoje, fala-mos mais da defesa de interesses, dos valo-res universais, da segurança de espaços co-muns… (esqueçamos por agora, por nada acrescentar ao propósito do artigo, a questão religiosa ou a civilizacional, ora tão em voga quando se discutem estes assuntos. Também não me debruço sobre a “salvaguarda da vida

A Esquadra em ExercíciosINSTREX 0109

A Esquadra em Exercícios

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humana no mar” ou sobre o apoio a activi-dades económicas, como a fiscalização da pesca, porque pretendo focar a discussão no plano das operações de natureza estritamente militar). Tal apreciação permite-nos concluir que, na actualidade, a “defesa” se pode re-lacionar com o garante do respeito pela vida ou dos direitos humanos; ligar-se à preserva-ção de interesses ou de vantagens no plano económico; referir-se à protecção de comu-nidades, pessoas ou bens; reportar-se à con-tenção de conflitos dentro de um espaço de segurança comum; ou aludir ao garante da independência nacional.

A evolução do pensamento e dos concei-tos tal como exposto no parágrafo anterior admite ainda novas aproximações ao pro-blema da segurança e da defesa, às quais não é estranha a avaliação sobre o grau de perigosidade e da probabilidade de ocor-rência de determinadas ameaças. Sabemos que o enfoque foi retirado da defesa territo-rial e da consequente necessidade de cada país dispor de uma pesada estru-tura de forças, para um conjunto de políticas direccionadas para a cooperação e para a partilha de responsabilidades. Mas se, por um lado, isso permitiu redireccionar recursos financeiros dos Estados em benefício de uma maior pros-peridade no plano social e econó-mico, traduziu-se, por outro, no assumir de um conjunto de com-promissos que garantem que as ameaças à segurança (em sentido lato) sejam endereçadas num pla-no abrangente e não apenas ao ní-vel interno de cada Estado. Isto faz com que, por vezes, as nossas Forças Armadas sejam chamadas a intervir em teatros que, para um espectador menos informado, não parecem estar relacionados com os nossos interesses próximos. Aqui tem o leitor a resposta por-que devemos considerar o emprego de meios fora do nosso “espaço de responsabilidade”, ou seja, porque devemos desenvolver a nos-sa aptidão para deslocarmos e empenharmos forças em teatros longínquos (maneira des-pretensiosa de tentar definir o princípio de “projecção de força”).

Atente, que identificámos já “o que defen-der” e “onde defender”. Respondemos tam-bém à primeira interrogação que formulámos no início deste artigo. Mas falta-nos ainda re-conhecer o “como defender”.

Uma primeira conclusão pode desde logo ser retirada da alusão a “responsabilida-des partilhadas” e a “iniciativas de nature-za cooperativa”: a acção militar autónoma tem vindo a ser gradualmente substituída por operações conduzidas através de forças multi-nacionais. O nosso próprio enquadra-mento estratégico aponta para que a defesa dos interesses nacionais, fora do nosso espa-ço de interesse permanente (o já referido e conhecido “triangulo estratégico”), privilegie a acção no seio das alianças e das parcerias. Isto significa que teremos de ser capazes de

operar com outras forças, promovendo a in-teroperabilidade ao nível do material, criar uma linguagem, desenvolver doutrina e im-plementar procedimentos comuns.

Hoje contesta-se muito a utilidade dos exercícios de guerra anti-submarina (ASW), anti-superfície (ASUW) e anti-aérea (AAW), que se têm como emblemáticos das opera-ções oceânicas, num contexto em que as operações no litoral têm surgido com maior relevo. A seu favor, e se outro argumento não houvesse, poderíamos mais uma vez tomar como referência o nosso enquadramento estratégico, o qual estipula que as forças ar-madas devem manter uma capacidade mí-nima que assegure a defesa autónoma dos nossos interesses vitais, em particular das parcelas do território e dos espaços maríti-mos inter-territoriais. Tal corresponde a reter um conjunto de competências que nos per-mitam contrariar todo o tipo de ameaças no mar, o que inclui a ameaça submarina, de superfície e aérea (em áreas oceânicas, esta

necessariamente vocacionada para a defesa anti-míssil). Todavia, basta recordar eventos recentes (como o ataque à corveta israelita ao largo do Líbano), para nos lembrarmos que as proficiências naquelas disciplinas são perma-nentemente postas à prova, mesmo nas ope-rações em águas costeiras. Senão vejamos: a proliferação de sistemas de armas e a pro-ximidade de terra torna os navios especial-mente vulneráveis a ataques por meios aéreos (mísseis e aeronaves combatentes); a amea-ça de superfície, mesmo quando considera-da em termos assimétricos, impõe o mesmo tipo de requisitos de controlo do panorama, de comando e controlo e de disposição de meios. Apenas (o que não é pouco!) acres-centa novos desafios ao nível das reacções e do emprego de armas.

Já no que respeita à ameaça submarina, houve, efectivamente, um decrescer tácito da sua relevância. Não porque não se conti-nue a considerar aquela como a ameaça mais letal (muitos países ocidentais, nos quais nos incluímos, mantêm a sua capacidade subma-rina como único e verdadeiro instrumento de dissuasão). Tal acontece porque, apesar do grande número de regimes potencialmente antagónicos que dispõem de submarinos, não têm ocorrido situações que nos desper-tem para aquela realidade. Mas seremos tan-to mais vulneráveis a acções perpetradas por

submarinos, quanto menos aptos estivermos para reconhecer e para contrariar tais amea-ças. Assim sendo, e para responder à segunda questão, julgo que concordará comigo quan-do digo que a necessidade de treinarmos as tradicionais disciplinas da guerra no mar se mantém hoje tão válida como outrora.

Por outro lado, esse treino visa, tão só e apenas, a sobrevivência das nossas forças. A verdadeira mais-valia do emprego de for-ças navais está relacionada com o que estas podem oferecer em defesa dos valores, prin-cípios e interesses que já mencionei. Para a Marinha isso significa, por exemplo, ser ca-paz de prestar auxílio a populações sinistra-das; de conseguir resgatar cidadãos de locais de instabilidade ou de conflito; de garantir a livre circulação de pessoas e de bens através da protecção da navegação mercante, das linhas de navegação marítimas, dos portos e dos respectivos acessos; de fiscalizar e impe-dir o tráfego marítimo de produtos proibidos; de controlar os movimentos ilegais de bens e

de pessoas através do mar.Aí tem o leitor o “como defen-

der”!Falta-nos agora colocar tudo o

que atrás se disse em perspectiva e dar-lhe um sentido prático, no que aos exercícios diz respeito. Para isso falemos então do INSTREX 0109 (até que enfim, dirá!).

O INSTREX 0109

Embora se tenha desenvolvido sob a forma de um seriado, o INS-TREX 0109 sustentou-se num ce-

nário que enformou as acções dentro de uma tónica que se pretendeu realista, permitindo assim promover o seu sentido de utilidade. Se quisermos fazer agora espelhar os passos seguidos nas considerações teóricas no de-senho do exercício – para o que convido o leitor a ir regressando aos sublinhados nos parágrafos anteriores –, podemos ir ordenan-do os respectivos requisitos com os objecti-vos do CTG:

a. (O que defender) Em termos de cenário, a situação criada apelava à intervenção da comunidade internacional para apoiar um governo legítimo (num país fictício), cuja au-toridade era desafiada por uma conjuntura de instabilidade interna e pela ausência de controlo sobre actividades ilícitas ao largo da respectiva costa (as quais incluíam actos de pirataria no mar).

No plano dos interesses e dos valores é possível revermos aqui algumas das conside-rações feitas anteriormente, as quais, como na altura procurei explicar, se inserem numa lógica de defesa e de segurança que pode justificar uma intervenção. Repare também, na referência à “comunidade internacional” como forma de legitimar esta acção.

Ou seja: o desenho do cenário tem em conta todo o enquadramento a que se alu-diu, inserindo-se numa lógica bastante bem definida.

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Qual o objectivo de treino do CTG que se enquadra neste ponto?

Ao agirmos em defesa de valores interna-cionalmente (universalmente?) reconhecidos, teremos de assumir uma postura, e de trans-mitir uma mensagem, que se deve alinhar com a noção de “força para o bem”. O CTG definiu assim que as acções teriam de aten-der à necessidade de baixar o ambiente de conflituosidade, para o que foi implementa-do, não só um perfil restritivo de Regras de Empenhamento (ROE – que determinam o grau de utilização da força), como foi determinado um indicador de vontade política (PPI) que visava o decréscimo da tensão. Pretendeu--se, sobretudo, testar a conduta e o comando e controlo ao nível in-termédio, designadamente no que toca à gestão das ROE e, em con-sequência, ao uso da força. A novi-dade relativamente a outros exer-cícios é a condução das operações sob o referido indicador (PPI - X), aspecto que em ocasiões ante-riores se tem jogado no plano da “manutenção do status quo” (PPI – Y), opção que se pode entender como mais permissiva.

Repare no encadeamento: “ac-ção em defesa de valores universais” – “força para o bem” – “restrições ao uso da força”.

b. (Onde defender) O cenário aludia a uma situação “fora-de-área”, para cuja resolução Portugal entendeu contribuir através do em-penhamento de uma Força Naval (PO TG). A ser verdadeira, tal eventualidade materializa-ria uma necessidade de projecção de força, o que é um requisito coerente com o enqua-dramento teórico que se estabeleceu. Dentro deste âmbito foram objectivos do CTG tes-tar o aprontamento da força, bem como a capacidade de sustenta-ção, na ausência de suporte logís-tico no teatro de operações.

c. (Como defender) As questões relacionadas com a capacidade ASW, ASUW e AAW, sobre cuja lógica me pronunciei, foram ob-jecto de séries dedicadas em que se recorreu ao apoio de aeronaves da FAP, bem como a outras uni-dades navais de superfície (LFR) e submarinas para agirem como for-ças oponentes (OPFOR).

Recordando que num passa-do recente se testou a acção de uma força naval numa situação de apoio humanitário (matéria objecto de um artigo recente na RA), e que os exercí-cios da série LUSÍADA e SWORDFISH en-volvem, invariavelmente, tarefas de resgate de cidadãos não combatentes (NEO), o INS-TREX foi pensado para exercitar a POTG em missões de apoio marítimo (tradução livre de Maritime Support Operations – MSO), que envolviam a protecção e a escolta de navios mercantes (abrangendo o combate à pirataria e defensive boarding), e de interdi-

ção marítima (MIO – Maritime Interdiction Operations) para incluir acções identifica-ção, seguimento e abordagem (boarding) de contactos de interesse. Note, que todas es-tas missões foram já identificadas no nosso processo de construção teórico, e que, dado o treino que tem sido feito noutras vertentes, houve a preocupação de privilegiar um deter-minado conjunto de operações, para garantir que, ao longo do ano operacional, o proces-so de preparação da PO TG se desenrola de forma equilibrada.

d. Impõe-se, por fim, identificar e planear o modo como iremos empenhar as forças e os meios (aspecto mais detalhado do “como defender”). Para o fazer, é importante saber primeiro que forças e meios estão disponíveis e, de seguida, desenvolver um conceito para o seu emprego.

No caso vigente, a POTG era constituída por uma fragata da classe “Vasco da Gama” (o NRP “Corte Real”) e por três corvetas (NRP’s “João Roby”, “Baptista de Andrade” e “Antó-

nio Enes”). A Standing NATO Maritime Group 1 (SNMG1), força naval permanente da NATO comandada pelo CALM Pereira da Cunha e constituída pelo NRP “Álvares Cabral” e pelas fragatas FGS “EMDEN” e USS “KLAKRING”, participou a convite da Marinha Portuguesa. O NRP “Bérrio”, que se encontrava no mar em treino assistido, integrou a TG portuguesa apenas durante parte do exercício.

Dado o desnível de capacidades entre os navios da esquadra, defini, logo numa

fase muito precoce do meu comando como COMPOTG, que o emprego da força deverá respeitar um princípio de acção segundo di-ferentes camadas (do inglês, layered): posto de forma simples, as unidades combatentes (FFGH) garantem a protecção (AWW e ASW), constroem um panorama em profundidade e difundem a informação; as unidades com menor valor militar (FS), processam os dados para apoiar o respectivo comandante no pro-cesso de decisão que conduz à intercepção, abordagem, escolta, e protecção da navega-

ção num espaço interior.Se para as FFGH este conceito

é relativamente linear, havendo apenas que considerar que estão a operar com navios que não dis-põem de sistemas automáticos de tratamento de dados tácticos (Tac-tical Data System - TDS), já para as FS pede-se que:

- saibam operar em força e co-nheçam as regras básicas de defe-sa própria, para o que integraram as séries tácticas, onde tiveram a oportunidade de praticar mano-bras anti-torpédicas, e de se fami-liarizar e executar procedimentos de defesa anti-míssil e anti-FBA (aeronaves portadoras de bom-

bas). Como todas estas manobras exigem grande à-vontade e são feitas com os navios em proximidade, foram também conduzidos exercícios de manobras e evoluções que vi-sam desenvolver as perícias dos oficiais de quarto à ponte.

- construam e mantenham um panorama de superfície ao nível táctico, para o que se procuraram explorar os novos sistemas de que os navios dispõem, como o C2PC;

- garantam, a defesa própria contra amea-ças assimétricas, para o que se rea-lizaram séries específicas e se testa-ram diferentes soluções ao nível da organização interna dos navios;

- mantenham o controlo próxi-mo da situação de superfície, pro-cesso para o qual pode contribuir a integração de novos equipamen-tos, como é o caso da utilização da câmara óptica / infra-vermelhos (IR) nas tarefas de vigilância.

Todas estas necessidades confi-guraram igual número de objec-tivos de treino. Para responder às dúvidas do leitor, repare que se garantirmos a proficiência dos na-vios nestes campos, e entender-

mos como isso pode resultar em benefício do conceito de emprego atrás enunciado, então compreenderemos a utilidade das FS no con-texto mais alargado das operações militares.

O relacionamento entre a força portugue-sa e a força da NATO, teve como principal objectivo testar as modalidades de coman-do cooperativo, em particular o conceito de “comando apoiante” / “comando apoiado”. Existindo duas forças, foi possível configurar um empenhamento num contexto multina-

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cional, permitindo exercitar a doutrina e os procedimentos, testar a interoperabilidade e treinar a integração.

O papel da SNMG1 inseriu-se ainda no conceito de emprego atrás definido, consti-tuindo aquela força o designado “grupo de protecção”. Ainda naquele contexto, progra-maram-se exercícios de integração das dife-rentes unidades – aéreas, submarinas e de superfície –, visando a construção de um pa-norama em profundidade numa mesma rede RMP, e testar a consistência do fluxo e da qualidade da informação, desde a detecção inicial – pelo MPA / SSK – até ao “utilizador final” – navios que faziam as intercepções e as abordagens (FS).

Em suma, desenhámos o exercício para en-quadrar a missão da POTG num contexto de legitimidade internacional, de projecção de

força no âmbito multinacional e respeitando um conceito de emprego definido pelo CTG. As séries visaram o desenvolvimento das pe-

rícias necessárias à utilização das unidades segundo aquele mesmo conceito. Repare, que tudo se desenvolve ao longo de uma li-nha de pensamento e de planeamento con-sequentes.

Uma palavra de realce para a presença do reabastecedor de esquadra, o NRP “Bérrio”, que veio permitir recuperar uma capacida-de, e dar um treino (RAS) de que a esquadra estava bastante necessitada.

Por último, saiba o leitor que o exercício INSTREX 0109 se realizou entre os passados dias 9 e 13 de Fevereiro, tendo envolvido cer-ca de 1000 militares, contabilizando apenas os efectivos embarcados.

Luís Sousa PereiraCMG

COMPOTG

Navio reabastecedor “Bérrio” em operação de reabastecimento. Delegação do Tribunal de Contas.

Durante o período de mar, e como é também hábito nestas ocasiões, foi possível acolher a vi-sita de um distinto grupo de convidados civis, na circunstância, juízes pertencentes à estrutura superior do Tribunal de Contas, delegação lide-rada pelo Juiz Conselheiro João Ferreira Dias que foram acompanhados na sua deslocação a bordo pelo CMG AN Silva Duarte (DAR). Além da normal demonstração naval, o CTG, CMG Sousa Pereira, fez uma pequena apresentação que focava a utilidade prática das opções e da forma de emprego dos meios navais, realçando vertentes como a transparência e o custo-efi-cácia, muito em linha com o teor que também pretendi imprimir ao presente artigo.

l Realizou-se no dia 1 de Março, por oca-sião do Dia Internacional da Protecção Civil, o exercício “Baía de Cascais 2009”, conjun-to entre a Câmara Municipal de Cascais e a Capitania do Porto de Cascais, que visou trei-nar a resposta e a articulação dos meios de protecção e socorro, face a uma colisão entre uma embarcação de recreio e uma embarca-ção de pesca na Baía de Cascais.

Além da Marinha/Autoridade Marítima, participaram a Câmara Municipal de Cascais, através do Serviço Municipal de Protecção Civil, as corporações de bombeiros do Con-celho, o INEM, a PSP, a Polícia Municipal, a Empresa Municipal de Ambiente de Cascais (EMAC) e serviços de Acção Social.

Da colisão resultaram diversos feridos e um queimado, e derrames de combustível e óleo lubrificante, hidrocarbonetos que fo-ram, como é usual nestes exercícios, simula-dos por pipocas.

Uma vez dado o alerta da colisão e activa-da a operação de socorro marítima, dirigida pelo capitão de porto de Cascais, esta Au-toridade Marítima Local accionou os meios necessários para o salvamento marítimo e ac-

tivou o Plano Mar Limpo no 3º grau de pron-tidão, coordenando e dirigindo as operações de salvamento marítimo e de combate à po-luição do mar, nas quais contou com o apoio do Serviço de Combate à Poluição do Mar por Hidrocarbonetos (SCPMH). O SCPMH este-ve presente com 10 dos seus 20 efectivos, a semi-rígida “Benavente”, 40 m de barreiras de estuário, um recuperador VIKOVAK e um tanque portátil, e ainda dois veículos pesados e três veículos ligeiros, para transporte do ma-terial e do pessoal. Participaram, também as embarcações Salva-Vidas “SR6” e “Nossa Sr.ª da Conceição”, e os seus sete tripulantes, duas

semi-rigidas da Polícia Marítima, duas viatu-ras TT e dez agentes da Polícia Marítima que tiveram, no seu conjunto, como missão a esta-bilização, evacuação de feridos, o combate à poluição e a segurança das operações.

As operações de combate à poluição do mar duraram quase duas horas e usaram a técni-ca da bolha para contenção e recolha do po-luente: a barreira foi rebocada para o local da mancha e envolveu a embarcação de pesca e a mancha poluente; a barreira foi fechada em torno da mancha e foi rebocada para junto do cais, onde um recuperador recolheu o poluen-te para um tanque portátil. A EMAC recebeu então os resíduos e transportou-os para local adequado até à sua eliminação definitiva.

Apesar de ser um pequeno exercício, o “Baía de Cascais 2009” mostrou como é de-terminante a cooperação entre a Autoridade Marítima e as autarquias locais em operações de socorro, e como se adaptam as técnicas de combate à poluição do mar às circunstâncias concretas.

CMG ECN Jorge Silva PauloChefe do SCPMH (DGAM)

EXERCÍCIO “BAÍA dE CASCAIS 2009”

COMBATE À POLUIÇÃO DO MAR

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a Escola Naval, no âmbito das actividades de aplicação militar-naval, planeou e executou um exercício fluvial que consistiu na descida do rio Guadiana, num percurso com cerca de 21 Km. No dia 20 de Fevereiro do corrente ano, os ca-

detes utilizaram botes pneumáticos militares e, com recurso a remos, percorreram o rio entre as localidades de Mértola e Pomarão.

A Câmara Municipal de Castro Verde associou-se às actividades da Escola Naval e, na véspera do exercício, promoveu uma visita cultural pelos marcos históricos da re-gião, onde se destaca a visita ao local da batalha de Ourique - S. Pedro das Cabeças, e a visita à Basílica Real onde foi celebrada uma missa pelo Capelão da Escola Naval (1TEN CAP Rui Valério) antigo pároco de Castro Verde. Após a celebração da missa foi servido um jantar no parque de campismo, oferecido pelo Comandante da Escola Naval ao Presidente da Câmara Municipal e outras entidades locais, bem como aos restantes apoiantes do evento.

No dia 20 de Fevereiro pelas 08H00 em Mértola, os cadetes embarcaram por equipas nos botes pneumáticos disponibilizados pelo Corpo de Fuzileiros. Durante o exercício os cadetes desenvolveram e treinaram capacidades de liderança, sentido de camara-dagem, espírito de corpo, coragem física e moral, suplantando de forma sucessiva e continuada as dificuldades que uma operação desta natureza sempre acarreta, cimen-tando, deste modo, as qualidades de chefia, de liderança e tenacidade que tão impor-tantes são no desenvolvimento da carreira e acção permanente de um oficial da Mari-nha. Cerca de quatro horas depois da partida chegou a equipa mais eficiente, cadetes do 4º ano, que tiveram o privilégio de varar o primeiro bote em Pomarão. A segurança do exercício foi mantida por uma equipa de Mergulhadores da Armada e embarcações da Capitania de Vila Real de S. António, no âmbito da Direcção Geral de Autoridade Marítima. O exercício decorreu sob o comando do CMG Machado da Silva, Coman-dante do Corpo de Alunos, coadjuvado pelo 1TEN Pereira de Castro. Este exercício de descida do rio Guadiana envolveu cerca de 143 alunos da Escola Naval, entre cadetes do 2º, 3º e 4º anos e alunos do Ensino Superior Politécnico, tendo proporcionado a prática dos conhecimentos adquiridos durante as instruções de formação marinheira, de comportamento organizacional, organização e instrução militar.

O total de participantes no evento rondou as 200 pessoas, entre cadetes, alunos convidados e organização. O evento contou com o apoio do Comando do Corpo de Fuzileiros, através da Unidade de Meios de Desembarque, o Comando de Zona Ma-rítima do Sul, a Capitania de Vila Real de S. António, a Direcção de Transportes e o Destacamento de Mergulhadores Sapadores, salientando-se ainda a Câmara Municipal de Castro Verde que além do programa cultural disponibilizou o espaço para a base de apoio logístico.

a Escola Naval realizou no passado dia 3 de Fevereiro a Cerimónia de Jubilação

do CMG EMA Carlos Saldanha Carreira presidida pelo Coman-dante da Escola Naval, CALM Ma-cieira Fragoso. Esta cerimónia teve início com um almoço de confra-ternização oferecido pelo Coman-dante da Escola Naval aos familia-res e convidados do Engenheiro Saldanha Carreira, a que se se-guiu o descerramento de uma pla-ca com a atribuição do seu nome a uma sala no Departamento de Formação de Engenheiros Navais – Armas e Electrónica, e o registo formal da doação do espólio bibliográfico do homenageado à Bi-blioteca da Escola Naval. A efeméride terminou com a Cerimónia Solene no auditório perante todo o Corpo de Alunos.

O Engenheiro Saldanha Car-reira ao longo da sua brilhan-te carreira serviu 21 anos como Professor na Escola Naval, onde leccionou Teoria de Circuitos, Conversão Electrico-Mecânica de Energia, Sistemas de Controlo Au-tomático, Electrónica Analógica Aplicada, Balística e Mísseis, Sis-temas de Armamento, Fundamen-tos de Electrónica e Automação e Controlo. Com esta iniciativa inédita, o Comandante da Esco-la Naval pretendeu homenagear o Engenheiro Saldanha Carreira

e, através do seu exemplo, sublinhar a importância da nobre fun-ção de docente.

(Colaboração da ESCOLA NAVAL)

O Comandante Saldanha Carreira deixou a Escola Naval

Cadetes da Escola Naval descem rio Guadiana

Cadetes da Escola Naval descem rio Guadiana

O Comandante Saldanha Carreira deixou a Escola Naval

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Ao longo de várias décadas, o ensino da Estratégia e da Geo­política esteve circunscrito ao

ensino ministrado nas Academias Militares e Institutos Superiores Mi­litares portugueses.

Por outro lado, é um facto que, ter­minada a II Guerra Mundial, a for­mação proporcionada pelo ensino militar português privilegiava ain­da temas essencialmente tácticos em detrimento da dimensão político­­estratégica que envolve o emprego da força armada. Esta fase foi, na­turalmente, ultrapassada há muito. Porém, esta circunstância mostra como foi demorada a consolidação do ensino e investigação dos temas de Segurança e Defesa no Portugal democrático.

O ensino da Estratégia chegou às Universidades portuguesas com mais de três décadas de atraso em relação à experiência americana e inglesa. Com efeito, a “civilinização” da investiga­ção e ensino destas matérias nas Uni­versidades anglo­saxónicas ocorreu nas décadas de 40 e 50 do século que passou. Historiadores, matemáticos, sociólogos e economistas lançaram as bases teóricas da estratégia de dissu­asão nuclear e apoiaram os decisores políticos norte­americanos na imple­mentação deste paradigma estratégi­co durante todo o período bipolar.

Em Portugal, a introdução dos te­mas estratégicos e geoestratégicos está intimamente relacionada com a criação do curso de Relações Inter­nacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Uni­versidade Técnica de Lisboa (ISCSP), no início da década de 80 do século que passou, com a inclusão no cur­rículo de duas disciplinas nuclea­res na área da Segurança e Defesa: “Geopolítica” e “Estratégia e Rela­ções do Poder”. Mais tarde, o ISCSP decidiria abrir o primeiro mestrado em Estratégia do país. Ao longo dos anos, destacados oficiais das Forças Armadas portuguesas têm ensinado matérias de Segurança e Defesa nes­te mestrado, frequentado por alunos com diferentes formações de base e experiências profissionais. Também o mestrado em Relações Internacio­nais, hoje com uma especialização em Segurança e Informações, incluía ori­

ginalmente as disciplinas “Geopolí­tica” e “Pactos Militares e Organiza­ções de Defesa”.

Actualmente, estas matérias estão presentes nos currículos das licencia­turas em Relações Internacionais de várias universidades: Universidade Autónoma, Universidade de Braga, Universidade Católica Portuguesa, Universidade de Coimbra, ISCTE, Universidade Lusíada, Universida­de Nova, entre outras, bem como ao nível de pós­graduações, mestrados e doutoramentos em várias áreas de especialização. Do mesmo modo, vários institutos de investigação ci­vis, como o IDN, o IPRI, o IPRIS e o IEEI têm assumido a divulgação destas matérias e existe, inclusiva­mente, um Jornal de Defesa e Rela­ções Internacionais on line, mantido, como se sabe, pelo Almirante Reis Rodrigues.

Ora, é justo realçar que a introdu­ção destas matérias nos cursos uni­versitários portugueses ocorreu ex­clusivamente pela mão dos oficiais portugueses que estudam e publicam nesta área do saber, permitindo uma aproximação das gerações universitá­rias aos temas estratégicos. Refiro­me concretamente a nomes como General Pedro Cardoso, General Abel Cabral Couto, General Martins Barrento, Te­nente­General Garcia Leandro, Gene­ral Pinto Ramalho, General Pezarat Correia, Almirante Emílio Sacchetti, Almirante Vieira Matias, Almirante Lopo Cajarabille, Almirante Silva Ri­beiro, entre outros oficiais que distin­tamente transmitiram o seu saber e deram provas da elevada capacidade científica dos oficiais de topo das For­ças Armadas portuguesas. O ensino, a que alguns continuam ligados, e a obra publicada representam, sem dú­vida, muito do pensamento estratégi­co português da actualidade.

É justo destacar a importância do Almirante Sacchetti, recentemente falecido, neste processo de aproxi­mação entre a instituição militar e o mundo universitário, pelo papel que desempenhou na consolidação destes saberes nos currículos uni­versitários.

Recorde­se que o Almirante Sac­chetti foi professor catedrático con­vidado em três universidades por­

tuguesas. Desde a primeira hora, foi o regente da disciplina “Estratégia e Relações do Poder”, no curso de Relações Internacionais no ISCSP, até deixar a docência neste Institu­to, por limite de idade. Teve, igual­mente, sob sua responsabilidade, a docência da disciplina “Pactos Mili­tares e Organizações de Defesa” no mestrado de Relações Internacionais, foi responsável pela disciplina “Teo­ria dos Conflitos” e “Geopolítica e Geoestratégia” ministrada no curso de Ciência Política da Universidade Internacional, foi professor na Uni­versidade Autónoma, entre outras colaborações. Manteve até ao fim a sua ligação ao Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (pós­graduação e mes­trado em Ciência Política e Relações Internacionais: Segurança e Defesa), onde leccionava “Teoria da Resolu­ção dos Conflitos”.

Intelectualmente, o Almirante Sac­chetti é uma referência para a nova geração de investigadores que traba­lham na área da Segurança e Defesa. Muitos de nós fomos seus alunos. Os seus escritos sobre a geopolítica dos oceanos, estratégia nuclear, contro­lo de armamentos e desarmamento, organizações de segurança e defesa, segurança europeia, assuntos do mar, direitos humanos, Marinha e Forças Armadas, entre muitos outros as­suntos sobre os quais escreveu, con­tinuarão, com toda a certeza, a ser consultados e citados pelas gerações vindouras.

Concluímos com uma referência à personalidade e carácter do Almi­rante Sacchetti. Diferentes gerações de estudantes, instituições de inves­tigação e as próprias Forças Arma­das portuguesas (recorde­se que as relações eram excelentes com os três ramos), testemunharam a fidelidade aos princípios que sempre nortearam a sua conduta e o rigor científico da sua actividade docente e de inves­tigação. Esta combinação, rara nas Universidades portuguesas, é ainda mais invulgar porque decorreu em paralelo com uma carreira militar brilhante.

Prof.ª Doutora Maria Francisca SaraivaEx docente do ISNG

O ENSINO DOS TEMAS ESTRATÉGICOS NAS UNIVERSIDADES– O CONTRIBUTO DOS OFICIAIS PORTUGUESES –

O ENSINO DOS TEMAS ESTRATÉGICOS NAS UNIVERSIDADES– O CONTRIBUTO DOS OFICIAIS PORTUGUESES –

Em memória do VALM António Sacchetti

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14 ABRIL 2009 • Revista da aRmada

A MARINHA DE D. JOÃO III (44)

O Infante D. Luís na conquista de TunesO Infante D. Luís na conquista de Tunes

À parte de todas as operações navais de que tenho vindo a falar, e que decor-reram nos mares do Oriente ou nas

proximidades do Norte de África junto das praças que então estavam sob domínio por-tuguês, devo salientar uma singular expedi-ção realizada contra a cidade de Tunes, no ano de 1535, realizada sob o alto patrocínio do imperador Carlos V, contando com a pre-sença de uma esquadra portuguesa e onde esteve presente o infante D. Luís, irmão do rei de Portugal.

São complexas as circunstâncias que le-varam o Imperador até ao Norte de África, e especialmente até à cidade de Tunes, entendendo que a ocupação da praça por Khaïr-ed-Dine (ou Hayeret-tin), o conhecido Barbarroxa, merecia um esforço militar e naval, como não ousara de-senvolver quando viu cres-cer o seu poder em Argel, muito mais perto dos por-tos de Espanha. É assunto que importa estudar com mais pormenor, porque aju-da a perceber as decisões de D. João III, mas deixá-lo-ei para mais tarde, procurando explicar antes os factos que envolveram a participação portuguesa nesta operação. E o primeiro desses factos é, sem dúvida a ocupação da praça norte-africana por Bar-barroxa, em 1534, expulsando Muley Hassan, soberano aliado da Espanha.

Apesar de saber que estas acções turcas se desenvolviam a par da política francesa contra o Império, Carlos V não deixou de apelar à união de toda a cristandade contra o inimigo islâmico, e pediu ajuda directa ao rei português, a quem o ligavam os laços dos casamentos de ambos. A imperatriz Isabel era irmã de D. João III e a rainha Dª Cata-rina era irmã do imperador. Portugal deci-diu imediatamente o envio de uma armada, cujo comando seria entregue ao veterano do Oriente António Saldanha, inicialmente pre-vista para englobar 22 navios e depois acres-centada até 26, integrando o que os textos da época referem ser um grande galeão ou o galeão “S. João Baptista”.

Durante os preparativos, o infante D. Luís não expressou publicamente qualquer von-tade de integrar a expedição. Sabia por ex-periência que o irmão não lho permitiria, e a desobediência ao rei estava completamente fora de causa. Já antes manifestara vontade de passar ao Norte de África para combater os mouros, e de atravessar a Europa para

defrontar os turcos na Hungria, mas vira sempre negada a autorização régia neces-sária. Agora optara pelo silêncio discreto, partilhando as suas intenções apenas com uns quantos fidalgos mais íntimos, sem que D. João suspeitasse das suas reais intenções. Quando a esquadra zarpou do Tejo no dia 1 de Abril de 1535, ao cair da noite, estando toda a corte em Évora longe destes prepara-tivos e acontecimentos, o infante reuniu os tais amigos íntimos e pôs-se a caminho de Barcelona, onde contava encontrar os exér-citos do seu cunhado. D. João só teve conhe-cimento do atrevimento quando o irmão já

estava em Espanha, e não ousou mandá-lo regressar, compreendendo o seu sentimen-to e as suas intenções. Foi-lhe ao caminho o Conde da Castanheira, mas para lhe dar a devida autorização régia, e conceder-lhe o crédito da verba necessária para as despe-sas da jornada.

António Saldanha foi avisado de que D. Luís estaria presente e que deveria obedecer-lhe em todas as circunstâncias, ao mesmo tempo que Álvaro Mendes de Vasconcelos, embaixador português na corte de Carlos V, recebeu ins-truções para integrar o infante na expedição, da forma que fosse apropriada à sua condi-ção. Como era normal naqueles longínquos tempos, os navios chegaram ao seu destino quase um mês antes dos caminhantes, mas o Imperador aguardou a chegada do seu cunha-do antes de mandar largar a esquadra que iria reconquistar o porto e a cidade de Tunes.

Estava planeado que em Barcelona se reu-niriam os navios portugueses com uma par-te dos espanhóis e com as galés de Andrea Dória, o genovês que se furtara à obediência de Francisco I de França para servir a aliança católica, que englobava forças pontifícias, da

Itália sob domínio espanhol e da ordem mi-litar de S. João de Jerusalém (hospitalários) recém-expulsa de Rodes pelos turcos. Aliás, o almirante italiano tinha ouvido falar no ga-leão português, e fez questão em observá-lo com atenção no porto catalão, opinando que em Génova fizera um outro, tão grande ou maior que aquele, mas com menos capaci-dade de fogo.

Em Cagliari se juntaram todas as forças, num total de cerca de 100 navios de guerra e 300 de transporte (as fontes não são unâni-mes, mas estes números parecem-me razoá-veis), com cerca de 40000 soldados. A maioria

das versões portuguesas que têm origem na primeira me-tade do século XVIII – quan-do o embate com os turcos voltava a ser uma imagem presente e intensa para os portugueses (a batalha do Cabo Matapan ocorrera em 1717) – dizem-nos que os na-vios portugueses seguiram à frente de toda a Armada, e o “S. João” – agora rebapti-zado como “Botafogo” – en-trou na barra de Goleta que-brando uma corrente de ferro que protegia o porto. É uma versão que não tem corres-pondência em nenhuma das abundantes (e esquecidas) fontes da época, onde o com-portamento dos portugue-ses merece o realce suficiente

para tornar desnecessário o exagero dos mitos próprios de uma conturbada época.

As tropas desembarcaram na Goleta, for-mando sucessivas linhas de artilharia que avançaram de forma apoiada até às mura-lhas, bombardeadas na fase final pelos na-vios, e atacadas pelos veteranos das Com-panhias Velhas do Terço de Nápoles. A 25 de Julho – dia de Santiago – deu-se o assalto final às fortificações de Goleta e quatro dias depois o exército marchava para Tunes que se rendeu sem grande resistência. Barbarroxa perdeu cerca de 80 galés e muitos milhares de soldados, mas conseguiu fugir e salvar uma parte da sua força naval. Carlos V não conseguiu (ou não quis) explorar o suces-so de Tunes, e D. Luís regressou a Portugal embarcando no galeão “S. João”. Recomen-davam os interesses espanhóis no Mediter-râneo que se avançasse sobre Argel, aniqui-lando um inimigo enfraquecido, mas tal não foi a escolha do Imperador, cujas opções ten-tarei analisar na próxima revista.

J. Semedo de MatosCFR FZ

Pormenor de uma das Tapeçarias de Tunes representando o galeão português “São João”. Jan Cornelisz Vermeyen – Kunsthistorische Museum, Vienna.

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Revista da aRmada • ABRIL 2009 15

inaugurado a 26 de Fevereiro pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, o Centro de Simulação

Médica da Marinha (CSMM) é o mais recente recurso de formação, treino e avaliação da Escola de Tecnologias Navais (ETNA).

Fruto de um projecto desenvolvido ao longo de 3 anos, por iniciativa da Direcção do Serviço de Saúde (DSS), com o apoio da Direcção do Serviço de Formação, o centro é parte inte-grante do Departamento de Limita-ção de Avarias da ETNA, embora a sua actividade, desenvolvida em articulação com o Centro de Medicina Naval, responda a requisitos e siga as orientações técnicas for-muladas pela DSS.

Com uma área de implantação de cerca de 250 m2, 1 sala de aula e 2 salas de simulação, o CSMM dispõem de 6 manequins para Su-porte Básico de Vida e 3 simuladores de alta tecnologia para Suporte Avançado de Vida.

Com a criação do único centro de simu-lação médica ao nível das Forças Armadas Portuguesas, e um dos raros centros de simu-

lação do País, a Marinha assume, uma vez mais, a vanguarda na criação de valor, des-ta vez, na área da emergência médica, pas-sando a dispor de um local privilegiado para a prática das inúmeras técnicas de trauma e suporte de vida.

Este esforço humano e financeiro tem um objectivo muito claro, o de melhor formar, treinar e avaliar na área da saúde.

A necessidade de elevar os padrões de de-sempenho na área da emergência médica não é recente. Se, por um lado, a esquadra

é detentora de uma baixa incidência de situações com risco de vida, por outro é inquestionável a necessidade de preparar as guarnições para lidar com este tipo de eventos.

Pretendendo intervir ao nível de quatro populações alvo, Médicos, Enfermeiros, Socorristas e restante pessoal, o CSMM assume-se como pólo gerador de conhecimento con-tribuindo de uma forma decidida e eficaz para elevação dos padrões de desempenho, numa vertente muito importante da Saúde, ao nível do es-

tado da arte. O futuro reserva-nos médicos e enfermeiros

com competências acrescidas ao nível do Su-porte Avançado de Vida, Socorristas com com-petências reforçadas ao nível das técnicas de trauma e Suporte Básico de Vida, e toda uma guarnição capaz de responder a um qualquer evento médico emergente com rapidez, eficá-cia e sobretudo confiança nos actos. A Saúde de todos, é responsabilidade de todos.

(Colaboração do CENTRO DE SIMULAÇÃO MÉDICA DA MARINHA)

a nova piscina do Centro de Educação Física da Armada (CEFA), construída junto à Escola de Tecnologias Navais

(ETNA), foi inaugurada pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, na tarde do passado dia 26 de Fe-vereiro. Esta nova in-fra-estrutura vem au-mentar a capacidade de formação e ades-tramento do pessoal em natação, tendo como finalidade principal garantir os planos de estu-dos e de formação da Escola Naval e da ETNA, assim como o treino do pessoal do Corpo de Fuzileiros. As características da nova piscina vão possibilitar, neste âmbito, que se mi-nistrem mais de 2.000 tempos de ins-trução por ano.

Na cerimónia de inauguração, o Almirante CEMA descerrou uma placa alusi-va ao evento, ao que se seguiu uma demons-tração de técnicas de salvamento e uma aula de aprendizagem de natação, pelos forman-dos em curso no CEFA.

Moderna e amiga do ambiente, a piscina

ora inaugurada, está equipada com oito pis-tas de vinte e cinco metros, quatro balneários amplos, paineis solares térmicos que permi-

tem minimizar os custos do aqueci-mento da água e a manutenção da temperatura am-biente no interior

do edifício. A nova piscina reúne boas con-dições para o conjunto de finalidades a que se destina, nomeadamente a aprendizagem e adestramento dos militares da Marinha.

Esta infra-estrutura vai ao encontro dos re-quisitos de desenvolvimento de aptidão físi-

ca dos militares da Marinha, potenciando a sua vertente de adaptação ao meio aquáti-co, aptidão esta que tem merecido, ao lon-go dos tempos a maior atenção, pelo impor-tante contributo na prontidão dos militares da Marinha.

A gestão integrada das piscinas cobertas da área do Alfeite, no âmbito do CEFA e na dependência da Direcção do Serviço de For-

mação, é o garante da optimização dos recursos, permitindo rendibilizar, de forma coordenada e integrada, as necessidades que se fazem sentir na aprendizagem e treino da natação.

A nova piscina vem, desta forma, responder, em tempo ao aumento das necessidades de formação e treino na natação na Marinha e assegurar, de forma consolidada, o seu futuro. Com esta nova instalação, a Marinha, como é seu timbre, renova-se, cria va-lor e condições para melhor preparar os seus militares para o desempenho

das missões e outros desafios do futuro. Nes-te momento as condições já existem, cabe ao CEFA e a todos os militares potenciarem a excelência desta nova instalação.

(Colaboração da DSF)

Centro de Simulação Médica da Marinha

Nova piscina da Marinha

Centro de Simulação Médica da Marinha

Nova piscina da Marinha

Criar valor e transmitir conhecimentos

Aumento da capacidade formativa na área da adaptação ao meio aquático

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Em 18 de Fevereiro data em que passaram 50 anos sobre o falecimento do Almi-rante Gago Coutinho, realizaram-se várias cerimónias que evocaram este gran-de vulto nacional.

Assim às 11.00 h no Cemitério da Ajuda junto à pedra tumular do Almirante e numa iniciativa do Aero Clube de Portugal, procedeu-se à deposição de três coroas de flores em representação do Aero Clube, da Marinha e da Força Aérea.

Com a presença do CEMA, Almirante Melo Gomes e Major General Carlos Tia em representação do CEMGFA, a figura do Alm. Gago Coutinho foi evocada pelo Dr. Ma-nuel Salta, Presidente do Aero Clube de Portugal.

Estiveram presentes vários oficiais de Marinha, uma grande representação da Esqua-drilha de Helicópteros e alguns cadetes da Escola Naval.

Seguidamente, às 12.15 h junto ao monumento a Gago Coutinho na Avenida D. Carlos I e perto Chafariz da Esperança e por iniciativa da Marinha, na presença do Almirante CEMA, do representante do CEMGFA e do Presidente do Aero Clube de Portugal, de muitos ofi-ciais da antiga Aviação Naval, o CMG Rodrigues Pereira, Director do Museu de Marinha, evocou o grande Almirante nas suas facetas de oficial de Marinha, geógrafo e herói da Aviação Naval.

Por fim foram depositadas coroas de flores junto do Monumento, enquanto a fan-farra da Marinha executava os toques de “Silêncio”, “Homenagem aos Mortos” e “Alvorada”.

16 ABRIL 2009 • Revista da aRmada

Homenagem ao AlmiranteGago Coutinho

Homenagem ao Almirante Gago Coutinho

A Sociedade de Geografia de Lisboa celebrou os 140 anos do nascimento do Almirante

Gago Coutinho e os 50 anos do seu falecimento numa Sessão Solene no passado dia 18 de Fevereiro, presi-dida pelo Presidente da República e Presidente de Honra da Sociedade Prof. Doutor Cavaco Silva.

Ao iniciar a sessão falou o Prof. Dou-tor Luís Ayres de Barros, Presidente da Sociedade de Geografia que realçou a importância do evento e introduziu o orador convidado Prof. Doutor José Pereira Osório, Académico e Professor da Universidade do Porto que proferiu uma notável conferência realçando a figura do homenageado.

Por fim, o Presidente da República recor-dou a vida do “grande sábio-marinheiro” que “alcançou a fama como navegador de avião num único voo” e que “merece ser recordado por muito mais do que a travessia aérea do Atlântico Sul”.

... “O homem de ciência que homena-geamos ensinou-nos que, para termos confiança em nós, precisamos de saber onde estamos e para onde vamos. Eis a mais profunda lição do eminente enge-nheiro geógrafo que foi o Almirante Gago Coutinho”.

A seguir à sessão solene o Presi-dente da República e os convidados tiveram ensejo de visitar uma Expo-sição na qual se exibiram um vasto espólio material e parte da bibliote-

ca que o Almirante Gago Coutinho, sócio durante 57 anos, doou à Sociedade de Ge-ografia de Lisboa, e que esteve patente ao público durante duas semanas nas suas instalações.

Realizou-se no passado dia 19 de Fevereiro uma Sessão So-lene evocativa dos 50 anos

do falecimento do Almirante Gago Coutinho.

A sessão foi presidida pelo Almiran-te CEMA que na mesa se encontrava ladeado pela Vice-Presidente da Aca-demia, Professora Doutora Raquel Soeiro de Brito e pelo Comandante Silva Soares.

Foram proferidas três conferências, pelo Comandante Silva Soares – “Gago

Coutinho e a travessia do Atlântico Sul”, pelo Dr. Rui Miguel da Costa Pin-to – “Gago Coutinho historiador da náutica e dos descobrimentos” e pelo Comandante Malhão Pereira – “Gago Coutinho e a história da náutica”.

Estiveram presentes, além de nu-merosos oficiais generais da Armada e da Força Aérea, muitos convidados, membros da Academia de Marinha e outros interessados na personalidade do Almirante Gago Coutinho.

Na Sociedade de Geografia

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Revista da aRmada • ABRIL 2009 17

“Andarilho no sertão,Marinheiro aventureiro,Os sete mares percorreu…Aviador destemido,Pelo povo foi querido,Nossa Pátria engrandeceu.”

José da Silva Henriques, in Margens de um Rio, 1991

Introdução

No mês em que se assinalam os 140 anos do seu nascimento e os 50 anos da sua morte, re-

cordemos a figura ímpar do Almirante Gago Coutinho, passando em revista cada uma das suas múltiplas facetas, as quais, embora grosseiramente balizáveis no tempo e no espaço, se interligam e in-tercalam em contínuo, centradas numa única e grandiosa personalidade.

o MarInheIro

Carlos Viegas Gago Coutinho nasceu em Lisboa1, a 17 de Fevereiro de 1869. Podemos dizer que tinha, de nascença, san-gue marinheiro, pois o seu pai, marítimo do Algarve, servira na Marinha até 1873, tendo embarcado na nau “Vasco da Gama” e na fra-gata “D. Fernando II e Glória” (tinha, ainda, outra “costela” marítima no tio materno, pa-trão de um caíque). Praticamente não chegou a conhecer a mãe, também algarvia, que per-deu em muito tenra idade (ficando a cargo de uma sua amiga).

Uma vez que a família não era de gran-des posses, o pai não teve possibilidades de o mandar estudar Engenharia na Alemanha, como o jovem desejava, o que o levou a optar por seguir uma carreira na Marinha. Frequen-tou, assim, a Escola Politécnica entre 1885 e 1886, completando o curso da Escola Naval nos dois anos seguintes.

Em 1888 embarcou na corveta “Afonso de Albuquerque”, na qual viajou para Moçam-bique e integrou a Divisão Naval da África Oriental, participando nas operações militares de ocupação da zona do Tungue, destinadas a contrariar as pretensões territoriais do sul-tão de Zanzibar2.

Promovido a Segundo-Tenente em 7 de Março de 1891, e após uma breve comissão na canhoneira “Zaire”, cumpre o seu primei-ro comando na lancha-canhoneira “Loge”. Seguem-se as canhoneiras “Limpopo” e “Zambeze”.

Na corveta “Mindelo” segue para o Brasil, em 1893, na altura em que ocorre, no Rio de Janeiro, a “Revolta dos Almirantes”, duran-

te a qual a força naval portuguesa, enviada a proteger os interesses nacionais, dá asilo aos militares vencidos. Ali contrai a febre-amare-la, sendo um dos três sobreviventes dos seis oficiais contagiados. E os embarques pros-seguem, em rápida sucessão: serve a bordo da canhoneira “Liberal” e viaja pelo Atlân-tico Norte na corveta “Duque da Terceira”; parte para Moçambique no transporte “Pero de Alenquer”, passa à corveta “Rainha de Portugal” e regressa a Lisboa na canhonei-ra “Douro”.

Neste período, em que cruzou o Atlântico e o Índico em veleiros e na-vios mistos, adquiriu uma grande ex-periência na manobra de navios à vela3 e um profundo conhecimento dos ven-tos e das correntes daquele vasto espa-ço oceânico, aos quais viria, mais tarde a recorrer abundantemente, já noutras labutas.

Embarcando, ainda, na corveta cou-raçada “Vasco da Gama”, dali desta-caria, em finais de Março de 1898, para cumprir a primeira de várias comissões como geógrafo ultramarino, no âmbito da Comissão de Cartografia, criada em 1883. Seria este o tipo de trabalho que o ocuparia nas décadas seguintes, embora o interrompesse entre 1911 e 1912 para exercer mais dois comandos no mar: o da canhoneira “Sado”, em missão na Índia Portuguesa, e o da canhoneira “Pátria”, na qual participou na cam-panha de Timor, entre Abril e Junho de 1912. No decurso destes combates, em que foi dominada uma revolta nativa, o seu engenho concebeu um sistema

pioneiro para aumentar o alcance das peças de artilharia do navio, tendo a sua acção sido muito louvada.

o GeóGrafo

Em 1885, a Conferência de Berlim consagra-ra no Direito Internacional o reconhecimento da ocupação efectiva dos territórios ultrama-rinos em detrimento dos chamados “direitos históricos” e preconizara uma divisão terri-torial efectiva, mais rigorosa do que as tradi-cionais zonas de influência4. No ano seguin-te, Portugal estabelecia com a França e com a Alemanha os limites da Guiné e de Angola e, em 1891, na sequência do Ultimatum, assi-nava com a Inglaterra os tratados referentes às fronteiras de Angola e Moçambique com a África do Sul. Procurando adaptar-se aos novos tempos, e colmatando o trabalho inci-piente até então realizado, o País levou, então, a cabo, o levantamento geográfico sistemático das suas possessões de além-mar, recorrendo frequentemente às valências dos militares ali destacados, sobretudo aos oficiais de Mari-nha, cuja formação de base em Navegação, Astronomia, Hidrografia e Matemática era a que mais se adequava àquele tipo de solicita-ções5. É assim que, no período compreendido entre 1898 e 1918, vamos encontrar Gago Cou-tinho a trabalhar como geógrafo de campo em missões geodésicas e de delimitação de fron-teiras nas províncias de Timor, Moçambique, Angola e S. Tomé.

1869-1959

GAGO COUTINHOMARINHEIRO, GEÓGRAFO, AVIADOR, SÁBIO E HERÓI

GAGO COUTINHOMARINHEIRO, GEÓGRAFO, AVIADOR, SÁBIO E HERÓI

Gago Coutinho, 1º Tenente.

O CTEN Gago Coutinho e o 1TEN Costa Marques num intervalo dos trabalhos da demarcação da fronteira do Barotze.

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18 ABRIL 2009 • Revista da aRmada

Começa como adjunto do governador Ce-lestino da Silva na comissão de delimitação da província de Timor, onde também efectua o reconhecimento da costa e o levantamen-to topográfico de uma área de cerca de 3.000 Km2. É uma missão espinhosa e atribulada, que o leva ao topo do monte Ramelau, o mais alto de todo o império português. Apanhado no meio da chamada “guerra das batatas”6, que deixa o território a ferro e fogo, chega a ser atacado no seu acampamento, sem que, contudo, os tiros e a gritaria interrompam os trabalhos em curso.

Em 1900, é nomeado delegado por Portugal na delimitação da fronteira luso-britânica do Niassa, numa extensão de 300 quilómetros. No ano seguinte desempenha idêntica mis-são entre o Noqui e o Cuango, na zona que confinava com os territórios belgas. Seguem--se, em 1904 e 1905, as fronteiras a norte e a sul de Tete.

Em 1906, pouco tempo antes de ser promo-vido a Capitão-Tenente, chefia a Missão Geo-désica da África Oriental, encarregue da elaboração da carta desta colónia e da respectiva ligação geodésica à África do Sul. É nessa comissão que conhece o então Segundo-Tenente Sa-cadura Cabral, com quem estabelece uma relação de amizade que muitos frutos viria a dar, no futuro.

De 1912 a 1914 encabeça a deli-mitação da fronteira entre Angola e o Barotze, a respeito da qual Portu-gal mantinha um longo litígio com a Inglaterra, desde 1891 (sendo que a questão apenas ficara resolvida em 1905, com recurso à arbitragem do Rei de Itália). Nesta missão, que virá a considerar como a mais importante da sua vida, recorre aos métodos de navegação astro-nómica para se posicionar e corrigir os rumos durante a travessia dos sertões e das extensas florestas7, o que o obriga, muitas vezes, face à escassez de pontos elevados no terreno, a subir às árvores ou a improvisar toscas torres de observação em madeira. Estes métodos re-velam-se extremamente precisos e rigorosos, de tal modo que se dá ao luxo de assinalar à delegação britânica, muito melhor equipada, um erro de posicionamento, quando com ela se encontra. Detecta também alguns erros na construção dos teodolitos de marca “Salmoi-raghi” que utiliza. Denuncia-os, por carta, aos atarantados fabricantes italianos, cujo renome internacional jamais os fizera supor que um geógrafo de campo pudesse detectar tais im-precisões. Dos mais de 10 mil quilómetros que percorre, metade são feitos a pé8, enquanto os mantimentos, o parco equipamento e o cimen-to para a construção das marcas seguem em rudimentares carros de bois. Destas fainas vi-ria a redigir um minucioso relatório, Algumas Determinações de Longitude Feitas Ultimamente em África, pela Missão da Fronteira do Barotze, que é, justamente, considerado uma das suas obras mais emblemáticas – aliás, o único livro de carácter monográfico que publica.

Do trabalho de geógrafo de campo viria a

escrever mais tarde (1921): “deverá saber algu-ma coisa de pedreiro, carpinteiro, serralheiro, fazer fotografia, até consertar botas! Deverão ser homens de sport, quase capazes de satis-fazer as exigências dos heróis de fita anima-tográfica americana: montar a cavalo, mula ou burro; andar bem; trepar bem a montes e picos ou árvores; não sofrer da vertigem; go-vernar barcos, nadar, mergulhar, voar; caçar; lutar […] E, ao mesmo tempo, precisa ter deli-

cadeza de mãos para rectificar teodolitos e mi-crómetros, pôr fios de aranha em retículos, ou apontar óculos como bom observador. Enfim, ter uma educação parecida com a de bordo, e até a de navios de vela, se for possível.”

Em 1916, na qualidade de chefe da mis-

são geodésica de S. Tomé, já como Capitão-de-Fragata, empreende um notável trabalho, onde chega à conclusão de que, ao contrário do que então se supunha, a linha do Equador não passava entre S. Tomé e o ilhéu das Rolas, mas sim dentro deste último (depois bapti-zado como Ilhéu Gago Coutinho), no qual se procedeu ao seu devido assinalamento por uma marca. O relatório que elabora vale-lhe novo louvor e o reconhecimento das suas ap-tidões como geógrafo.

É a elas, sem dúvida, que se deve a sua no-meação como vogal da Comissão de Carto-grafia em 1918, à qual virá a presidir sete anos mais tarde (será o seu último presidente). Nes-tas funções terá um papel determinante na criação da Missão Geográfica de Moçambique e no estabelecimento definitivo da fronteira luso-belga na região do Dilolo.

Será, também o grande impulsionador dos estudos geográficos em Portugal, ao propor, em 1920, numa sessão da Sociedade de Geo-grafia, a criação do curso de Engenheiro Geo-

gráfico, que verá a luz do dia logo no ano seguinte.

Não estava, ainda, esgotado o seu trabalho como geógrafo, cujos conhe-cimentos lhe viriam a servir de base para estudos de outra natureza.

Aguardava-o, entretanto, uma nova aventura.

o avIadorA partir de 1917, a experiência de

geógrafo e de navegador de Gago Coutinho, aliada a uma natural curio-sidade científica, leva-o a interessar--se pela Aviação, mais concretamen-

te pela problemática associada à navegação aérea. Estabelecendo uma cúmplice parceria com o seu antigo companheiro de trabalhos geográficos, o Capitão-Tenente Sacadura Ca-bral, já então um aviador naval de reconhe-cido mérito, desenvolve com ele o projecto de uma travessia aérea entre Lisboa e o Rio de Janeiro para comemorar o primeiro cen-tenário da independência do Brasil. Esta ideia surge integrada num contexto em que as grandes potências, terminada a I Guerra Mundial e com o aumento do prestígio da Aviação, se lançam em vastos programas de voos intercontinentais que visam ligar a Eu-ropa à América.

Para resolver os esperados problemas rela-cionados com o controlo do posicionamento da aeronave, Coutinho procura adaptar à na-vegação aérea os instrumentos e as técnicas da navegação marítima, tendo em 1919 con-cebido um sextante com horizonte artificial de bolha de ar (de modo a eliminar os inconve-nientes resultantes dos tectos de nuvens), por si baptizado como “astrolábio de precisão” e que a partir de 1938 viria a ser comercializado pelo fabricante alemão C. Plath com o nome “System Admiral Gago Coutinho”9. A utiliza-ção deste instrumento é complementada com o recurso a tábuas de navegação especialmen-te adaptadas para o efeito e a métodos de cál-

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culo expeditos (impostos pela grande veloci-dade de deslocação e pelo espaço exíguo do hidroavião) feitos com o auxílio de um calcu-lador mecânico de rumos por si desenvolvido, destinado a corrigir os efeitos da deriva sobre a trajectória do avião. A promoção a Capitão-de-Mar-e-Guerra encontra-o, em 1920, nestas lucubrações.

Após alguns voos experimentais em se-gredo, ensaia, com sucesso, os novos mé-todos, em 22 de Março de 1921, num voo entre Lisboa e a Madeira, na companhia de Sacadura Cabral, Ortins de Bettencourt e o mecânico francês Roger Soubiran, ten-do percorrido 530 milhas em cerca de sete horas e meia. É de referir que, nessa altura, era Director da Aeronáutica Naval o cele-bérrimo Comandante Afonso Cerqueira, que muito se empenhou no êxito desta missão, embora viesse a abandonar o car-go no ano seguinte, devido a divergências com o Poder Político.

A Marinha não estava só na “corrida”, pois também a Aeronáutica Militar, tute-lada pelo Exército, desenvolvia, então, projectos de semelhante calibre. No en-tanto, nunca teve, por parte da sua hierar-quia, um amparo à altura do que recebia a sua congénere naval, razão pela qual várias tentativas que poderiam ter sido pioneiras acabaram por abortar10. Adicio-nalmente, a Marinha dispunha de meios próprios que lhe permitiam prestar apoio aos seus aviadores em pleno espaço oceânico11, o que se viria a revelar fundamental para a con-clusão da fase seguinte.

Entre 30 de Março e 17 de Junho de 1922, juntamente com Sacadura Cabral, Gago Cou-tinho leva, finalmente, a cabo a grande traves-sia, que foi também, oficialmente, a primeira navegação aérea efectuada com rigor científi-co. Nesta viagem, recheada de peripécias, é de assinalar a proeza que constituiu a amaragem, para reabastecimento, junto aos penedos de S. Pedro e S. Paulo. No fim da mais longa das etapas, com a aeronave já no limite do com-bustível, atingir estes rochedos de dificílimo avistamento localizados no meio do Atlântico foi uma verdadeira prova de fogo para os mé-todos de navegação por si desenvolvidos.

E é, justamente, na manobra de amaragem que surge um desagradável contratempo: o hidroavião fairey IIID, entretanto baptizado como “Lusitânia” pelo governo português, parte um flutuador e fica inutilizado. Resga-tados pelo cruzador “República”, que ali se deslocara para proceder ao reabastecimento, os dois aviadores são informados, por telegra-ma, da sua promoção, por distinção, ao posto imediato. Agradecendo a “honra imerecida”, aproveitam para solicitar ao Ministro da Ma-rinha o envio de um novo avião. O pedido é deferido e o novo aparelho segue a bordo do navio brasileiro “Bagé”. Acaba, porém, por sofrer uma avaria na passagem junto a Fer-nando Noronha, sendo os intrépidos aven-tureiros salvos pelo navio inglês “Paris Star”, que, por fortuna, se desviara inopinadamente da rota que levava. É-lhes enviado, então, um

terceiro avião, a bordo do cruzador “Carvalho Araújo”, com o qual atingem, finalmente, a costa brasileira.

Depois de uma triunfante passagem por Recife, Baía, Porto Seguro e Vitória, chegam ao Rio de Janeiro a 17 de Junho, completando um trajecto de 4.637 milhas num total de 60 horas de voo. São apoteoticamente recebidos

pela população carioca e o avião “finalista” é baptizado “Santa Cruz” pela esposa do Pre-sidente da República Brasileira.

A memorável façanha, que abre uma nova página na navegação aérea e dá fama mundial aos heróicos aviadores, vale a Gago Coutinho

a atribuição da Grã-Cruz da Ordem da Torre e Espada e da Grã-Cruz da Ordem de Santiago da Espada. A França agracia-o com a comenda da legião de Honra, o Brasil atribui-lhe a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul e a Espa-nha condecora-o com as medalhas de Mérito Naval e Mérito Militar. É também condecora-do pelos governos da Bélgica e da Itália, sendo ainda proclamado Doutor honoris causa pelas Faculdades de Ciências de Lisboa e do Porto.

Portugal exulta de orgulho patriótico e todo o povo deseja tomar parte activa nas homena-gens que se sucedem em vertiginosa cadência. Até a turbilhante Primeira República, ainda ferida pelas memórias da infame “Noite San-grenta”12, encontra neste estrondoso sucesso uma panaceia temporária para as suas incon-táveis enfermidades.

Em 1926, o celebrado navegador aéreo é nomeado director honorário da Aero-náutica Naval Portuguesa, ganhando o direito de usar o distintivo de piloto avia-dor encimado por duas palmas. Em 1927, por ocasião da travessia aérea nocturna do Atlântico Sul efectuada pelos aviado-res militares Sarmento de Beires, Jorge de Castilho e Manuel Gouveia, não hesitou em apoiá-los com o seu saber e experiên-cia, tendo um telegrama por si enviado constituído a única mensagem de felicita-ções que os três aventureiros receberam à chegada - um gesto e elegância e desinte-ressada camaradagem que, infelizmente, não apaga a ingratidão pátria em relação a muitos dos seus heróis. É, aliás, de men-cionar que Beires e os seus companheiros recorreram a uma versão adaptada (por Jorge de Castilho) do sextante de Couti-nho, com iluminação da bolha de nível, de modo a que as leituras pudessem ser feitas à noite. Era mais uma prova do su-cesso das técnicas de navegação concebi-

das pelo Almirante.Naquele mesmo ano, Charles Lindbergh

efectuava a ligação entre Nova Iorque e Paris num único “salto” de 3.500 milhas (comple-tado em 33 horas e meia), feito que, muito in-justamente, viria a relegar para segundo pla-no o trabalho pioneiro dos seus antecessores. Era o definitivo virar de uma página iniciada dez anos antes.

Para o nosso protagonista, era tempo de re-gressar aos labores da Geografia.

o SábIoEm 1928, Coutinho foi indicado pelo Mi-

nistério da Guerra para presidir à comissão de reorganização dos serviços geográficos, cadastrais e cartográficos. Ainda nesse ano foi encarregue de proceder a estudos carto-gráficos em França e na Itália, onde se de-bruçou sobre os resultados experimentais dos novos processos de levantamento aéreo (aproveitando ainda a sua recente experiên-cia de aviador).

Pouco tempo depois, era enviado ao Brasil para inventariar os documentos cartográficos com interesse para a História de Portugal. Co-meçava a desvendar a sua faceta de historia-dor, um interesse que já na Escola Naval lhe tinha sido despertado por distintos Professo-res como Vicente Almeida d’Eça e João Braz de Oliveira.

Em 1930 integra a comissão instaladora do Museu de Marinha e no ano seguinte é nome-ado para a comissão encarregada de organi-zar as comemorações centenárias de Nuno Álvares Pereira.

Gago Coutinho fazendo observações no telhado do Ministério da Marinha.

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Vogal do Conselho Superior das Colónias desde 1926, regressa a Moçambique para tra-balhos geográficos em 1933. Prestes a deixar as lides ultramarinas, redige um artigo que é uma verdadeira mensagem de despedida, em que recorda as provações que passara, mas também as exóticas e coloridas vivências, en-quadradas por um ambiente da mais sã ca-maradagem14. Passa à Reserva, como Vice-Almirante, no ano seguinte.

Em 1936 é nomeado para a Comissão Orientadora da Exposição Histórica da Ocu-pação e do primeiro Congresso da Expansão Portuguesa no Mundo. Três anos antes fizera parte da comissão encarregada de proceder ao estudo do projecto de um monumento ao Infante D. Henrique em Sagres.

A sua experiência como nave-gador e geógrafo serviu-lhe para coligir um valioso conjunto de trabalhos sobre a náutica do tem-po dos Descobrimentos, do qual se salienta o estudo das viagens de Vasco da Gama e de Pedro Ál-vares Cabral. A grande conclusão dos seus estudos, que incluíram observações feitas com réplicas de instrumentos náuticos da épo-ca das Descobertas, foi a de que as rotas seguidas pelos descobrido-res não foram obra do acaso, sen-do, antes, planeadas com base nos seus conhecimentos empíricos, que lhes permitiam contornar, no mar alto, as correntes e ventos con-trários, como sucedia na célebre “Volta da Mina”, que Coutinho designava por “volta pelo largo”. Como as suas conjecturas entra-vam em confronto com as teorias defendidas por alguns historia-dores, viu-se envolvido em vivas discussões, nomeadamente nas que se relacionavam com a auto-ria das descobertas da América, do Brasil ou da Austrália. Uma das polémicas mais acesas e inte-ressantes foi a que manteve com Quirino da Fonseca a respeito do aparelho e da manobra da carave-la portuguesa. Frontal e inflexível, afirmava: “Gosto de controvérsias, de tudo o que possa esclarecer, pois sou muito comunicativo, como todos os homens do mar. Gosto da discussão que faz luz”.

Naturalmente, os seus estudos assentavam mais em conhecimentos de ordem prática do que na consulta arquivística (a sua pesquisa limitava-se, basicamente, à leitura das fontes impressas). Debruçou-se, porém, sobre aspec-tos até então algo descurados pelos historiado-res marítimos: necessidades de abastecimento de água e víveres e a envolvente meteo-ocea-nográfica, que impunham severas limitações às rotas utilizadas pelos descobridores. Para testar as suas teorias chegou a navegar, à vela, do Rio de Janeiro para o Porto, na barca “Foz do Douro”. Nela percorreu cerca de 8 mil milhas, entre 1943 e 1944. Como disse Júlio

Dantas: “Gago Coutinho foi o último herói, o nauta sobrevivente dos descobrimentos e na-vegações que o génio henriquino inspirou”.

Tendo, essencialmente, publicado artigos dispersos (mais de 400 títulos!), A Náutica dos Descobrimentos, obra em dois volumes pu-blicada em 1951, que, sob a coordenação do Comandante Moura Braz, compila e orde-na sequencialmente um significativo núcleo dos seus estudos sobre o tema, é o seu grande contributo para a história da Náutica. Os seus trabalhos foram repartidos na colaboração em várias revistas, como os Anais do Clube Militar Naval, Boletim da Sociedade de Geografia, Seara Nova, e em vários jornais portugueses e bra-sileiros, tendo também efectuado várias con-ferências em Portugal e no Brasil.

Foi sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa (desde 192815), vogal da Academia de Ciências de Lisboa, sócio da Academia de História, sócio do Instituto Histórico e Geo-gráfico do Rio de Janeiro, sócio honorário da Sociedade de Geografia de Lisboa (da qual fa-zia parte desde 1902) e sócio da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Além das distin-ções atrás enunciadas era condecorado com a Ordem do Império Colonial, a Grã-Cruz da Ordem de Avis e a medalha comemorativa das campanhas do Exército português.

Reformado em 1944, passou a deslocar-se ao Brasil (que considerava uma segunda pá-tria) com maior frequência, tendo chegado a participar no voo inaugural Lisboa-Rio de Ja-neiro em DC-4, quando o Presidente da Repú-blica Brasileira o convidou para assinalar o 33º aniversário do seu épico voo. Claro que esta

viagem foi feita com maior conforto, em con-dições mais adequadas a um “turista”, como ele próprio se passara, então, a designar.

Foi promovido por distinção ao posto de Almirante em 1958, na sequência de uma de-liberação da Assembleia Nacional16. A carta-patente de promoção foi-lhe entregue pesso-almente pelo Ministro da Marinha, Almirante Américo Tomás (que acabara de ser eleito Pre-sidente da República), aquando do seu regres-so do Brasil, a 24 de Junho daquele ano. Para o efeito, o governante embarcou no “Vera Cruz” em Cascais, quando o paquete, que trazia o distinto Sábio, pairava para receber piloto. No cais da Rocha Conde de Óbidos aguardava-os o Chefe do Estado-Maior da Armada, Vice-Almirante Guerreiro de Brito, e um batalhão

de Marinha com fanfarra.Todas estas honrarias não afec-

taram a sua simplicidade. Sempre orgulhoso das suas origens humil-des, era uma pessoa muito estima-da no bairro lisboeta da Madra-goa, onde viveu cerca de setenta anos e pelo qual nutria grande ca-rinho, extensível, aliás, a toda a ci-dade. Além do seu amor a Lisboa, era também famosa a sua espiri-tuosidade, com respostas prontas e ditos adequados a todas as oca-siões. Quando, certa vez, lhe per-guntaram como tinha conseguido atravessar África a pé, respondeu de imediato: “Como havia de ser? Com as botas rotas, para a água sair mais à vontade, porque, para entrar, entrava sempre.”

Gago Coutinho faleceu na sua amada Lisboa um dia depois de completar noventa anos17. Na sua vida aventurosa atravessara, incólume, três regimes políticos radicalmente opostos, sem que o prestígio e o respeito que soube-ra granjear fossem minimamen-te beliscados. Foi sepultado com o seu uniforme de campo e na sua campa, conforme seu desejo expresso18, foi colocada a singela inscrição:

Gago Coutinho1869-185919

Geógrafo

Se este epitáfio traduz bem a simplicidade e a modéstia do Homem que recorda, muito par-co se torna em descrever a dimensão e a ampli-tude da sua Obra. E muito menos descreve o seu carácter independente, a sua honestidade, o seu espírito democrático e o seu incansável labor, sem falar na jovialidade de quem, já na sua nona década de vida, dizia que continuava a ter “alma de Tenente” ou no brio do Oficial que mesmo no meio do sertão africano nunca deixara de se sentir marinheiro, pois as suas diversas facetas, continuadas entre si, mais não foram do que diferentes manifestações de uma só paixão.

Fragata “Almirante Gago Coutinho” 1967-1992.

Navio-hidrográfico “Almirante Gago Coutinho” 2000-.

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epíloGoApós o falecimento do ilustre Almirante,

foi o seu lugar na Academia das Ciências de Lisboa ocupado por outra brilhante persona-gem: o então Capitão-Tenente Avelino Teixeira da Mota, que se encarregou de redigir o elogio histórico do seu insigne antecessor, o mesmo que, duas décadas antes, muito enaltecera a sua memória de fim de curso da Escola Naval (sobre o problema da determinação da longitu-de na primeira viagem de circum-navegação do Globo). O discurso foi proferido em sessão solene da Academia a 28 de Fevereiro de 1962. Dez anos depois, Teixeira da Mota tomaria a seu cargo a compilação e publicação da obra completa do grande Sábio, reunindo textos pu-blicados ao longo de várias décadas e que ver-sam temas de índole vária, desde a Geografia à História, passando por assuntos cientí-ficos em voga na sua época como a Teoria da Relatividade Restrita, a Telegrafia Sem fios ou a Educação Física (ele que desde a adolescência praticara ginástica de apare-lhos e mesmo com uma idade avançada ainda se treinava numas argolas penden-tes de uma trave do tecto da sua casa na Rua da Madragoa)20.

Em 1967 foi o seu nome atribuído à se-gunda das três fragatas da classe “Pereira da Silva”. Em 1999, dez anos depois do abate ao efectivo daquele escoltador oce-ânico, um outro “Gago Coutinho” veio servir a Marinha, desta vez como navio oceanográfico. O baptismo desta última unidade naval, pelo tipo de missões que lhe são atribuídas, terá sido, sem dúvi-da, uma homenagem mais adequada ao eminente cientista que adoptou como patrono.

Entretanto, fora o seu nome também es-colhido para designar o curso de cadetes que entrou na Escola em 1973, uma deci-são tomada por ocasião da passagem dos cinquenta anos sobre a histórica ligação transatlântica entre Lisboa e o Rio de Janeiro.

Por fim, há que mencionar um infindável número de referências que a toponímia na-cional consagra a esta incontornável figura da nossa História, nascida há 140 anos e falecida há 50. E não é, decerto, por acaso que uma de-las é a da avenida que desemboca no actual Aeroporto de Lisboa, do qual partem, hoje, voos muito menos aventurosos do que a me-morável Travessia Aérea de 1922, mas sempre buscando novos horizontes, tal como Gago Coutinho nunca deixou de fazer ao longo da sua longa e profícua existência.

J. Moreira SilvaCTEN

Notas1 Assim consta na sua certidão de nascimento, embora

haja quem lhe atribua nascimento algarvio (S. Bartolo-meu de Messines), apoiado, sobretudo, no facto de am-bos os pais serem naturais de Faro e de durante muito tempo terem vivido naquela região.

2 Esta questão só ficou definitivamente resolvida com a morte do sultão, embora a Inglaterra tenha proposto uma mediação sob arbitragem da Holanda, que Portu-gal recusou.

3 Só à vela, percorreu mais de 22 mil milhas, num to-tal de 314 dias.

4 Como é sabido, estas divisões “a régua e esqua-dro”, feitas em confortáveis gabinetes situados a gran-de distância dos territórios delimitados, vieram a causar grandes problemas, pois muitas vezes não respeitaram os acidentes naturais do terreno – como montes, rios ou lagos – nem as áreas ocupadas pelas diferentes et-nias indígenas.

5 Acresce, ainda que a Marinha representava, na altura, o elo privilegiado de ligação ao Ultramar (ra-zão, aliás, pela qual os respectivos ministérios eram acumulados na mesma pasta), pelo que os oficiais de Marinha deviam estar preparados para desempenhar funções de natureza variada no âmbito da administra-ção ultramarina.

6 Como esta designação sugere, o conflito deveu-se a litígios, entre a população nativa, surgidos na sequência do desvio de alguns produtos hortícolas.

7 A própria equipa é conduzida como se fosse a guar-nição de um navio, não faltando, inclusive, um conselho administrativo para controlar as despesas da missão.

8 Ao longo da sua vida, sempre se orgulharia de ter efectuado este percurso sem perder um único homem da sua equipa.

9 Nunca exigiu direitos de patente pelo invento, satis-fazendo-se com o reconhecimento da sua autoria.

10 Em 1919, Sarmento de Beires pedira autorização para efectuar um voo entre Lisboa e Pernambuco, ten-do-lhe sido recusada a autorização por parte dos seus superiores. Em 1920, sem autorização do Ministério da Guerra, o mesmo oficial tentara, juntamente com Bri-to Pais, efectuar a ligação aérea Lisboa-Madeira, falha-do a aterragem devido ao nevoeiro e acabando por ser socorrido por um navio mercante inglês. No entanto, a 20 de Junho de 1924, os dois aviadores conseguiram completar o raid aéreo Lisboa Macau. Três anos de-pois, Beires, juntamente com Jorge de Castilho e Ma-nuel Gouveia, efectuaria a travessia do Atlântico Sul em voo nocturno.

11 Sem prejuízo de poder apoiar, também, as iniciativas dos seus “rivais”, como sucedeu no final do raide Lisboa-Macau, em que a canhoneira “Pátria” providenciou o transporte de Beires e Pais entre Hong Kong e Macau.

12 Ocorrida menos de um ano antes, mais concreta-mente a 19 de Outubro de 1921.

13 Por isso mesmo baptizado como “Lindy Hop”, que, na altura, deu o nome a uma dança da moda.

14 Refere, por exemplo a lealdade e a dedicação dos seus companheiros nativos, com os quais perdera todos os preconceitos e vira desmentida a alegada superiori-dade da raça branca, então muito apregoada.

15 Ocupando, na Secção de Ciências Aplicadas e His-tória das Ciências, a vaga do eminente historiador ma-rítimo Luciano Pereira da Silva.

16 Na sessão em que foi proposta a promoção distin-

guiu-se o discurso apologético feito pelo então Como-doro Manuel Sarmento Rodrigues.

17 O pai também morrera com uma idade avança-da (93 anos).

18 Nas suas disposições testamentárias, determinara: “O caixão, de pinheiro, será pobre, para caber no jazigo onde está o meu nome. Vestir-me-ão os calções e casaco de caqui, como atravessei a África. Tudo pobre, como nasci. Aliás, nunca fui Almirante a valer, mas autêntico geógrafo de campo.”

19 Na inscrição por si redigida deixara em branco o úl-timo dígito do ano de falecimento, o qual, naturalmente, não podia prever.

20 Escreveu, ainda, argumentos de filmes (que desig-nava por “apontamentos”), os quais nunca terão passa-do ao ecrã por falta de financiamento, embora possam ter, eventualmente, servido de inspiração para algu-mas películas.

FontesCOUTINHO, Carlos Viegas Gago, Algumas Deter-

minações de Longitude Feitas Ultimamente em África, pela Missão da Fronteira do Barotze: Tanto por Meio da Lua Como por Meio do Cabo Submarino, Coimbra, Imprensa da Uni-versidade, 1915

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Revista da aRmada • ABRIL 2009 21

Almirante Gago Coutinho.

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TOMADAS DE POSSE

Foto

Júlio

Titol Presidida pelo VALM Teles Palhi-

nha e co-presidida pelo SSM, VALM Conde Baguinho teve lugar no dia 9 de Janeiro no átrio da Biblioteca do EMA, a tomada de posse do novo Presidente da DAGI-CE e DITIC-CE, CALM Gameiro Marques, que rendeu o CALM Salinas Ribeiro.

Estiveram presentes altas entidades da Marinha, familiares do empossado e também pessoal militar e civil das re-feridas unidades.

Após a leitura da Ordem, usou da palavra o novo Presidente de que se realça: “... me empenharei para que a DAGI e a DITIC contribuam de forma tangível, e no âmbito das respectivas áreas de competência, para uma Marinha optimizada, de duplo uso e equilibra-da. Fá-lo-ei através do aproveitamento das sinergias e da complementaridade existente entre a DAGI e a DITIC, do incremento da proximidade das duas Direcções aos Órgãos directamente envolvidos com a concretização das missões da Marinha, e da procura de soluções modulares, reutilizáveis e interoperáveis com as diversas entidades com que devemos operar...”.

No final usou da palavra o VICE-CEMA do qual destacamos: “(…) As duas Direcções são assim complementares e, por isso mesmo, devem formar um conjunto coerente em termos de objectivos, de planeamento, de funciona-mento e de coordenação. Os seus desafios centram-se na transformação da in-formação existente em conhecimento e no desenvolvimento de ferramentas e in-dicadores de gestão que habilitem uma melhor coordenação de todos os sectores e actividades da Marinha, bem como a avaliação do seu desempenho. (…)”

O CALM António Gameiro Marques licenciou-se em Ciências Militares Na-vais, pela E N, Mestre em Engenharia Electrónica e de Computadores pela Na-val Postgraduate School, Monterey, Cali-fórnia, EUA, CGNG no ISNG, Curso do Colégio de Defesa NATO, Roma e Curso de Promoção a Oficial General .

Especializou-se em Comunicações e frequentou em Portugal e no estrangei-ro, cursos nas áreas das tecnologias de comunicação e informação, com enfo-que em sistemas existentes nas fragatas “Vasco da Gama”, dos quais se desta-cam: R eal-Time Systems Software De-

sign no Reino Unido (1989), Real-Time Systems Software Development na Holanda.

Prestou serviço no NRP “João Belo” como oficial de Navegação e no NRP “Save” como Oficial Imediato. Posteriormente, desempenhou car-gos no CITAN e na Flotilha, relevando-se, a participação na equipa de ligação ao Flag Officer Sea Training no âmbito do treino e avaliação das fragatas “Vasco da Gama” e o acompanhamento e participação no desen-volvimento do sistema de comando e controlo e de apoio à decisão exis-tentes naqueles navios.

Foi oficial na Divisão de Comunicações e Sistemas d Informação no EMA, tendo simultaneamente chefiado dois projectos na área das teleco-municações e dos sistemas de informação na Marinha em parceria com NATO. Desempenhou o cargo de conselheiro militar do Embaixador de Portugal no QG da NATO em Bruxelas, onde cumulativamente represen-tava Portugal no NATO Consultation Command and Control Board .

Tem vários trabalhos publicados tanto a nível nacional como no estran-geiro.

Possui vários louvores e condecorações.

PRESIDENTE DA DAGI-CE E DA DITIC-CE

l Em 19 de Dezembro realizou-se no Gabinete do Superintendente dos Serviços de Pessoal e presidida pelo SSP VALM Vilas Boas, a cerimónia da tomada de posse do novo Direc-tor do Serviço de Saúde, CALM MN Teles Martins que rendeu o CALM MN Goulart Porto. Assistiram à ce-rimónia diversas altas entidades da Armada e muito pessoal militar e ci-vil do âmbito da Saúde Naval (H.M., LAFTM, DSS e Centro Médico).

Após a leitura da ordem, usou da palavra o novo Director, de que se realça: “... É possível imaginar a saúde naval como: uma estrutura flexível, adaptável e projectável, capaz de responder às necessidades operacionais da Marinha; uma estrutura capaz de satisfazer os objectivos da prevenção, promoção, manutenção, tratamento e reabilitação da saúde individual do pessoal da Marinha; uma estrutura capaz de actuar de modo competente, rigoroso e dedicado procurando a excelência nas suas áreas de intervenção fundamental e específica; uma estrutura que mantenha o apoio aos militares na reserva e na reforma e seja capaz de es-tender a sua acção aos familiares; uma estrutura que integre uma dimensão hospitalar generalista que permita manter uma resposta coerente e adequada e, ainda, que seja capaz de fazer parcerias, de modo biunívoco e num plano de igualdade, com as mais desenvolvidas estruturas do SNS...”.

No final o VALM SSP proferiu algumas palavras de que se refe-re “... Entendo ainda que, num período em que, concomitantemente com a protecção dos interesses da família naval, é necessário justificar, salva-guardar e sustentar a principal missão da Saúde Naval, isto é, garantir a prontidão sanitária dos seus militares e militarizados, é imperativo optimi-zar o funcionamento dos equipamentos de saúde de que a Marinha dispõe,

como o Hospital da Marinha e o Centro de Abastecimento Sanitário.

Neste âmbito, será necessário: Pros-seguir o esforço, que já vem sendo reali-zado, no sentido de tornar o sistema de Consultas do HM mais adequado e eficaz (e logo, reconhecidamente mais útil pela generalidade da Marinha), racionalizar e optimizar a utilização dos excelentes equipamentos de exames auxiliares de diagnóstico instalados e melhorar o re-lacionamento com o utilizador, dinami-zando e potenciando o recém-criado Ga-

binete de Apoio ao Utente.Criar condições para que o Centro de Abastecimento Sanitário responda

de uma forma perfeita às necessidades e solicitações tanto dos utentes, como dos prestadores de cuidados de saúde..”.

DIRECTOR DO SERVIÇO DE SAÚDE

O CALM MN Eduardo Teles Castro Martins é licenciado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, Especialista em Cardiologia e medicina Desportiva, Doutor em Ciências Fisiológicas pela Faculdade de Medicina de Lisboa.

Foi interno do Internato Policlínico do Hospital Distrital de Portalegre, In-terno do Internato Complementar de Cardiologia do Hospital de St. Marta, Chefe do Departamento Médico do Centro de Educação Física da Armada, Especialista e Chefe do Serviço de Cardiologia e Director Clínico, Subdirector e Director do HM. Foi Subdirector do Serviço de Saúde da Marinha.

É Professor de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Lisboa.Proferiu cerca de 250 comunicações e palestras em congressos e outras reu-

niões. Tem 85 artigos publicados em Livros e Revistas Médicas.Tem os CGNG, CCNG e Curso de Promoção a Oficial General.Tem diversos louvores e condecorações.

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decorreu no passado dia 4 de Março, no Pavilhão das Galeotas, no Museu de Marinha a cerimónia de lançamen-

to do livro “Sagres - Construindo a Lenda”, da autoria do Comandante António Manuel Gonçalves. Presidiu à cerimónia o Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Dr. João Mira Gomes, e contou com a presença do Chefe do Estado-Maior da Arma-da, Almirante Fernando Melo Gomes, o Presiden-te da Vodafone Portugal, Dr. António Carrapatoso, entidade que patrocinou a edição do livro, entre muitos convidados.

Abriu a sessão o Presi-dente da Comissão Cul-tural da Marinha, CALM MN Rui de Abreu, que depois de cumprimentar e agradecer a presença das personalidades da mesa e da assistência, te-ceu um breve comentário sobre a biografia do Co-mandante António Gon-çalves e sobre o livro ago-ra editado pela CCM que, como referiu, “muito honra a editora”.

Classificando a obra “Sagres – Construindo a Lenda” como “obra exaustiva, da paixão de um marinheiro pelo navio que fez seu”, salien-tou depois o facto do seu autor ser licenciado em História e Mestre em Historia dos Desco-brimentos e da Expansão Portuguesa, em paralelo com a sua carreira naval.

E não obstante ser ainda um jovem oficial, acrescentou, ter já no seu activo duas obras sobre dois navios emblemáticos da Marinha – o “Creoula” e agora esta completís-sima biografia da nossa “Sagres”, “fruto de onze anos de trabalho” e que “ambos Livro e Autor pas-sarão à posteridade”.

Falou de seguida o Al-mirante J.M. Castanho Paes sobre a obra “Sagres – Construindo a lenda” e o seu autor.

Depois de cumprimen-tar a Mesa e a assistência afirmou:

Recebido o honroso convite do Senhor Presi-dente da Comissão Cultural da Marinha para co-mentar esta obra e o seu conteúdo, por ocasião do respectivo lançamento, é com o maior gosto que o vou fazer, por três ordens de razões:

A primeira, porque a obra respeita ao navio mais antigo e emblemático ao serviço da nos-sa Marinha, por onde passaram todas as gera-ções de oficiais da Armada que frequentaram os cursos tradicionais da Escola Naval e se en-contram presentemente no activo, começan-do por V.Ex.ª, Sr. Alm. CEMA, e terminando no mais moderno guarda-marinha.

A segunda, por ter tido a honra e o grande privilégio de ter sido Comandante deste navio, durante cerca de três anos e meio, dos quais guardo as melhores recordações de toda a mi-nha carreira profissional;

A terceira, porque entendo que o seu autor teve o indiscutível talento e mérito de produzir

uma obra, a todos os títulos notável, que cons-titui uma referência marcante, e certamente de consulta obrigatória, para qualquer estudioso futuro que a queira continuar ao longo dos muitos anos que o navio ainda terá para viver, pressupondo que a sua utilidade e missões se

perpetuarão no tempo, sejam quais forem as conjunturas que o País venha a atravessar. A não ser que Portugal abandone ou renegue a força da sua História e da sua vocação uni-versalista, assentes nas sólidas raízes culturais, económicas e sociais que o ligam ao mar, sin-ceramente não vejo razões para pensar de outro modo.

Devo, no entanto, co-meçar por dizer que quem deveria estar aqui no meu lugar, de pleno e merecido direito, seria o seu primeiro Comandan-te, Alm. Silva Horta, que, só por motivo de se en-contrar fora do País, não pode estar hoje entre nós a cumprir esta missão, a qual certamente de-sempenharia com muito maior brilho e saber do que eu.

Porém, já que tive esta grata oportunidade, pro-curarei não desmerecer as expectativas de V.Exas relativamente ao interesse deste importante evento,

evocativo de um carismático navio que repre-senta expressivas parcelas da História de três Marinhas, ao longo das últimas sete décadas, e em que naturalmente se realça a da Marinha portuguesa, tão rica e detalhadamente descrita na obra em apreço.

Na verdade, com os seus actuais 71 anos de idade, o navio já passou por quatro nacionalidades e teve três nomes: a ale-mã, sua nacionalidade de origem, responsável pelo seu projecto, construção e lançamento à água em 30 de Outubro de 1937, com o nome de “Albert Leo Schlageter”, e onde per-maneceu ao serviço da Marinha alemã até 1945, portanto, num total de 8 anos; a norte-americana, até 1948, em que este-ve a aguardar 3 anos por uma decisão sobre o seu futuro; a brasileira, onde foi rebaptizado com o nome de “Guanabara” e se manteve ao serviço da

Marinha brasileira até 1961 (mais 13 anos); e, por fim, a portuguesa, com o tradicional nome de “Sagres”, o mesmo da velha barca sua ante-cessora, assim se mantendo ao serviço da Ma-rinha portuguesa já lá vão 47 anos.

Os cuidados primários que lhe têm sido

Mesa da Presidência.

Lançamento do livro “Sagres - Construindo a Lenda”

Lançamento do livro “Sagres - Construindo a Lenda”

Aspecto da assistência.

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ministrados pelas suas sucessivas guarnições portuguesas e os periódicos tratamentos re-cebidos no Arsenal do Alfeite, têm felizmente permitido manter o seu bom estado de saúde, não esquecendo também, justiça seja feita, os ajustados planeamentos de manutenção, reparação e modernização que as estruturas técnicas da Marinha lhe têm oportunamente vindo a dedicar, desde há largos anos.

A decisão sobre a via a seguir para substituir a anterior “Sagres”, que na altura precisaria de gran-des e extensas reparações, envolvendo avultados custos face ao estado de degradação a que chega-ra e aos trabalhos de recu-peração e modernização de que necessitaria para continuar a cumprir as suas missões, esteve longe de ser pacífica. Para ilus-trar este facto, passo a ci-tar alguns excertos de um artigo publicado à época, no Diário de Notícias de 30 de Março de 1960, da autoria do então capitão-tenente Serra Bran-dão, na altura distinto professor da Escola Na-val, cujo título era precisamente “ A propósito da substituição do navio-escola Sagres”. Dizia então esse artigo:

Publicou o Diário de Notícias um interessan-te artigo intitulado “A substituição do navio-es-cola Sagres, escolha entre a vela e a máquina” e nele se sugere, como solução económica, que o velho navio de vela, no termo dos seus dias, seja substituído nas suas funções por um aviso de 1ª classe tipo “Bartolo-meu Dias”.

Nada tendo a objectar à transformação do aviso em navio-escola, até por ser evidente que a prepa-ração dos novos oficiais e marinheiros tem de ser feita em navios de guerra modernamente equipa-dos, a aceitação do de-saparecimento da vela na fase preliminar da sua formação suscita-nos a publicação das seguintes considerações.

Ao aproximar-se uma decisão desta natureza não é possível esquecer o importante papel que à Vela cabe na preparação do novo oficial, tornando-o mais marinheiro, dando-lhe um perfeito conhecimento do meio em que actua, formando-lhe e desenvolvendo--lhe qualidades, modificando-lhe a sua manei-ra de sentir, pensar e querer, adaptando-lhe o corpo e moldando-lhe o espírito.

A Vela não é apenas distracção elegante dos que podem suportar os encargos de uma

embarcação, um aprazível passatempo da juventude, como podem julgar os profanos, nem uma prática anacrónica, filha de um sau-dosismo doentio, como outros a consideram. Muito mais do que isso, a Vela, para além de um desporto saudável e de uma agradável ini-ciação nas lides do mar, é um inestimável e insubstituível instrumento de prefeita prepara-

ção profissional.A Vela está na verdadeira essência da arte

de navegar…… Raros são hoje os (grandes) veleiros que

sulcam as águas dos oceanos. Na sua quase totalidade são navios-escolas onde os jovens marinheiros do mundo civilizado iniciam a sua formação, onde se aperfeiçoam e se impreg-nam daquele espírito que só podem sentir os que já uma vez ouviram o gemer dos cabos e o cantar do vento nas enxárcias.

É o reconhecimento da necessidade da Vela como meio seguro de formação profissional que tem levado o mundo atlântico à conserva-ção dos grandes veleiros, à sua reconstrução, à sua substituição ou à sua adaptação.

Passado quase meio século sobre a data em que estas palavras foram escritas, só posso co-mentar que as julgo perfeitamente actualiza-

das. E felizmente para Portugal que tais pontos de vista não venceram junto das autoridades brasileiras que, na mesma altura, tiveram de de-cidir sobre idêntica controvérsia gerada em tor-no do seu navio-escola “Guanabara”. Para essa decisão sabe-se no entanto que pesou bastante o facto de a frequência de cada curso da Esco-la Naval brasileira ser de cerca de 200 aspiran-

tes, o que obrigava a que o seu embarque no navio tivesse de ser desdobrado em duas viagens, por falta da necessária capacidade de alojamento.

Relacionado com este momento crucial da vida do navio, vem-me sem-pre à memória um episó-dio passado na viagem ao Brasil de 1988, quando o navio estava sob o meu comando, durante a es-cala que fizemos em Sal-vador. Era então Chefe do respectivo Distrito Naval o Vice-Almirante Ivan da Silveira Serpa, que, como era habitual, aceitou o convite protocolar para

o almoço oficial a bordo oferecido às autori-dades do porto visitado. Durante o almoço, o Almirante fez rasgados e entusiásticos elogios ao navio e relatou, com visível emoção, memó-rias muito vivas de uma viagem que efectuou no “Guanabara” quando era aspirante. Na sua opinião considerou que tinha sido um erro o Brasil ter perdido o navio.

Cerca de três anos mais tarde, quis o desti-no que eu viesse a ser nomeado Adido de De-fesa em Brasília, sendo nessa altura Chefe do

Estado-Maior da Armada brasileira o atrás citado Almirante Ivan da Silveira Serpa, o qual ainda du-rante a minha comissão no Brasil ascendeu a Mi-nistro da Marinha. Quis assim a minha boa estre-la que tivesse tido, graças à “Sagres”, o privilégio de um tratamento algo dife-renciado, por parte da-quele distintíssimo Almi-rante, relativamente aos meus pares das outras nacionalidades, o que não deixou de causar algumas veladas invejas, embora quase sempre esbatidas pelos laços de camarada-gem criados ao longo do

nosso frequente convívio.Aliás, sobre a controvérsia que envolveu a

substituição da antiga “Sagres”, o autor da obra em apreço refere-se a esta conturbada encruzi-lhada da vida do navio, com bastante detalhe, no capítulo intitulado “A venda do Guanaba-ra”. Da descrição dos factos feita pelo autor, ressalta bem o empenhamento do Dr. Teotó-

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O Almirante Castanho Paes.

O Presidente da Comissão Cultural, CALM Rui de Abreu.

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nio Pereira, então embaixador de Portugal no Reino Unido, cujo reconhecido gosto e entu-siasmo pela prática da vela e pelos grandes ve-leiros, a par da sua conhecida influência junto do poder político português da altura, levaram a que o Governo português, de que ele veio entretanto a fazer parte como Ministro da Pre-sidência, também se viesse a empenhar forte-mente junto do Governo brasileiro no sentido de se conseguir a decisão da venda do “Guanabara” a Portugal.

Há contudo um por-menor do curriculum do Dr. Teotónio Pereira, bem demonstrativo do seu grande prestígio, que é o facto, não expressamente referido pelo autor, de ele ter sido co-fundador da Sail Trainning Association, juntamente com o solici-tador inglês Bernard Mor-gan, tal como ele também grande amante da vela e dos veleiros. Só realmen-te um cidadão estrangeiro de elevadíssimo prestígio poderia ter obtido tão grande honra no Reino de Sua Majestade.

Parece-me evidente poder concluir-se que a interferência do Dr. Teotónio Pereira foi re-almente decisiva para o feliz desfecho que o caso teve para a nossa Marinha.

A partir daí, ou seja, desde que foi aumen-tado ao efectivo da Armada portuguesa em 8 de Fevereiro de 1962, tanto no seu contributo para a formação de futuros oficiais e de outros militares da Armada, como nas importantes missões de representação nacional em apoio da po-lítica externa do Estado, o navio tem de facto um enorme manancial históri-co de relevantes serviços prestados à Marinha e ao País. E se a isso juntarmos as inéditas experiências, peripécias e sentimentos vividos, quer pelos mui-tos milhares de oficiais, cadetes, sargentos e pra-ças que o guarneceram, quer pelas destacadas au-toridades (incluindo Pre-sidentes da República) e tantos cidadãos comuns e jovens que nele embar-caram, quer ainda pelos milhões de visitantes re-cebidos a bordo nos portos escalados, seria inimaginável a dimensão de um livro que pu-desse registar tão vastas e, por vezes, tão mar-cantes memórias e recordações.

Contudo, o Comandante António Manuel Gonçalves, ao lançar-se na aventura de criar esta obra, tentou de certo modo fazê-lo. Des-de os antecedentes que levaram o Governo

alemão de Hitler a fomentar a construção de grandes veleiros antes da 2ª Guerra Mundial, passando pela sua genuína utilização como navios-escolas, mas também como transportes de tropas no Báltico durante aquele conflito, descrevendo com pormenor os processos de partilha desses navios pelos Países Aliados no pós-guerra, continuando seguidamente com

a história, viagens de instrução, missões de re-presentação e outras navegações do ex-Albert Leo Schlageter, primeiro como Guanabara e depois como Sagres, ao longo destes seus su-cessivos destinos, e incluindo, por fim, interes-santes excertos do seu conjunto de Livros de Honra, cópias dos seus principais documentos históricos, efemérides respeitantes à sua vida e diversos elementos sobre as suas característi-cas e manobra, o autor conseguiu, através de uma utilização equilibrada e harmoniosa das

descrições, dos textos e documentos repro-duzidos, das imagens apresentadas e dos da-dos estatísticos, produzir uma excelente obra não só para regalo de todos os que de algum modo estiveram ligados à vida deste lendário navio, mas também para uma agradável sa-tisfação da curiosidade daqueles que, através do seu manuseamento e leitura, venham pela

primeira vez a tomar contacto com a história do navio.

O Comandante António Manuel Gonçal-ves tem dois pontos do seu curriculum naval relacionados com a “Sagres” que eu gostaria de realçar:

O primeiro, é o facto de ele ter embarcado no navio, como cadete, na viagem de instru-

ção ao Brasil de 1988, com a coincidência de ter estado por isso sob o meu comando; esta via-gem teve a particularida-de de nela se ter atingido a segunda maior percen-tagem de navegação ex-clusivamente à vela em grandes viagens – 75%, ex-aequo, aliás, com a da viagem de1984; a percen-tagem recorde tinha sido alcançada na viagem de 1982, sob o comando do então Comandante Lopes Cavalheiro, que incluiu a célebre regata Newport/Lisboa em que a Sagres obteve o honroso 1º lugar dos navios da classe A.

O segundo, reporta-se ao facto de, como oficial da guarnição do navio, ter obtido duas “flâmulas azuis”, das quais se destaca a corres-pondente ao quarto das 1600 às 2000 do dia 5 de Dezembro de 1992, no trajecto entre as Bermudas e Lisboa, realizado debaixo de forte temporal, em que o navio alcançou a espanto-sa média de 13,98 nós, o record das “flâmulas azuis”. Nesta viagem o navio estava sob o co-mando do Comandante Malhão Pereira.

No campo das curiosidades estatísticas con-tidas neste magnífico livro, julgo também interessante evidenciar o total das dis-tâncias percorridas pelo navio até 2007: 594.532 milhas (neste momento já ultrapassou até a barreira das 600.000 milhas), o que, para dar uma ideia da sua extensão, equiva-leria a dar cerca de 28 voltas ao mundo, seguin-do sobre um círculo má-ximo, como por exemplo o Equador. Desta distân-cia total:

- 21.278 milhas (o equivalente a 1 volta ao mundo) foram percor-ridas, enquanto o navio foi alemão, nas suas 3

maiores viagens, em que numa delas foram escalados portos das Caraíbas e noutra o por-to do Recife;

- 64.162 milhas (o equivalente a 3 voltas ao mundo) enquanto o navio foi brasileiro, reali-zando 79 viagens em que escalou exclusiva-mente portos e fundeadouros brasileiros, à ex-cepção de Montevideu;

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A jornalista Alexandra Borges recebendo o donativo para a Fundação “Filhos do Coração”.

O autor do livro, CTEN António Manuel Gonçalves.

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- 509.092 milhas (o equivalente a quase 24 voltas ao mundo) desde que o navio é portu-guês, percorridas em 144 viagens, em que es-calou 29 portos e fundeadouros nacionais dife-rentes e 141 portos e fundeadouros estrangeiros também diferentes (muitos deles visitados mais do que uma vez), e incluindo ainda a sua parti-cipação em 19 regatas internacionais.

Voltas ao mundo r eais, o navio fez efectiva-mente duas: a de 1978/79, sob o comando do Comandante Martins e Silva, e a de 1983/84, sob o comando do Comandante Homem de Gouveia.

A terminar, resta-me felicitar o autor pelo ex-celente trabalho produzido, quer no que respei-ta à alta qualidade da sua apresentação e da organização e escolha do material e assuntos incluídos, quer pelo riquíssimo conteúdo e tra-tamento da informação recolhida, e desejar-lhe que a Marinha faça a justiça de lhe proporcio-nar a mesma oportunidade, que todos os co-mandantes desta bela barca já tiveram, de sen-tir o prazer de dar, de ETO na mão e depois de larga-do o pano e braceadas as vergas, as suas primeiras ordens de manobra para início de qualquer normal navegação à vela:

Escotas das gáveas bai-xas; amuras e escotas do traquete; adriças e escotas da vela de estai, dos entre-mastros baixos e da meze-na baixa … Caça,amura e caça, iça e caça.

Perdoem-me o saudo-sismo, mas a recordação destas vozes, ao fim de tantos anos, ainda me soa hoje no ouvido tão bem como a melhor música.

Faço votos para que estas e as demais vozes de comando para a manobra do aparelho e velame da “Sagres”, dadas na nossa língua materna, possam conti-nuar a ressoar pelos mares e portos do mundo inteiro, ao longo dos tempos. Seria um modes-to mas bem simbólico sinal de que Portugal se mantinha vivo!

Bons ventos a acompanhem nas muitas sin-graduras que ainda terá pela proa!

O orador que se seguiu foi o autor do livro que começou por agradecer a presença do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, do Almirante CEMA, do Dr. António Carrapatoso como também de todos os presentes.

Referiu algumas considerações de carácter pessoal agradecendo o apoio dado pela sua família para concretizar este projecto. Das suas palavras destacamos:

Num país muitas vezes considerado qua-se litoral, os Portugueses que neste rectângulo e ilhas habitam, vivem há séculos em estreita e permanente comunhão com o mar, para o melhor e para o pior. Como se fora um pacto, o primeiro tem garantido o regular sustento, enquanto que o segundo cobra, a termo e em

vidas, as contrapartidas que concede aos que dele dependem.

Mas foi também a gesta de Marinheiros, cuja origem se perde no tempo, que no passa-do tornou possível a reconquista de uma parte do território que é hoje Portugal. No entanto, pouco mais de um século volvido sobre a de-finição das respectivas fronteiras, a ambição colectiva extravasava já os limites do pequeno reino. Cientes da sua responsabilidade perante o devir de todo um Povo, os Marinheiros Portu-gueses não hesitaram em arrostar os seus mais íntimos receios, e, durante cerca de dois sécu-los, foram sucessivamente dando novos mun-dos ao Mundo, conferindo corpo a esse marco civilizacional em que se transformou a Era dos Descobrimentos. Deste assombroso esforço, já por tantos considerado desmesurado face à escassez de recursos e dimensão do país, re-sultou, nos primeiros alvores do século XVI, a afirmação de Portugal como primeira potência marítima à escala global.

Estou igualmente certo de que não passará despercebido a nenhum dos presentes, o fac-to do ex-libris da Marinha Portuguesa ser actu-almente uma das mais fortes e bem cuidadas imagens associadas a Portugal. No entanto, este estatuto, bem como o reconhecimento de que é alvo além fronteiras, não constituem obra do acaso, resultando tão-somente da dedicação de todos quantos ao longo do tempo têm tido o privilégio de servir a bordo do navio-escola “Sa-gres”. Pelo nome que ostenta – uma clara home-nagem à perseverança e ao ideal de além-mar –, pela figura-de-proa – o infante D. Henrique, mentor das extraordinárias viagens de desco-brimento – e ainda pelo símbolo que orgulho-samente exibe nas velas – a Cruz de Cristo que identificava os navios portugueses de antanho –, é no navio-escola “Sagres” que se encontra consubstanciada boa parte dos insignes valores que nos foram confiados, os quais, no essencial, nos identificam como Nação.

Talvez muitos não tenham ainda meditado sobre o que vou referir, mas dentro em breve, o nome “Sagres”, desde que associado aos navios-escolas da Marinha Portuguesa, ultrapassará em tempo o período durante o qual o escudo se

constituiu como a nossa moeda. Num certo sentido, e socorrendo-me de um

conceito que é tão caro ao Senhor Dr. António Carrapatoso, creio que também o navio-esco-la “Sagres” se tem constituído para a Marinha como uma forte componente do seu Compro-misso Portugal.

Dito isto, e retomando o raciocínio, consi-dero que só se tornou possível estarmos hoje aqui reunidos, o facto da Marinha Portuguesa, há mais de 80 anos, ter vindo a construir, em torno do mítico nome “Sagres”, aquele que é porventura um dos símbolos de maior prestígio do nosso país. Como por ocasião dos 70 anos deste nosso navio escrevi, reflectida pelo Mar, a silhueta da “Sagres” constitui a imagem em que todo um País e um Povo se reconhecem, como se fora um espelho, nela identificando os ilustres momentos que ao longo de séculos marcaram a existência de Portugal.

No processo de pesquisa iniciado há mais de uma década, cujo culminar é a apresentação

pública deste livro dedi-cado à história do navio-escola “Sagres”, mais não fiz do que identificar e perseguir as múltiplas es-teiras que a forte presença do navio, sob as bandeiras alemã, brasileira e portu-guesa, foi indelevelmente deixando gravadas pelos mares por onde navegou, muitas das quais ficaram registadas em livros, jor-nais, revistas, filmes, do-cumentários, fotografias, medalhas e mesmo mú-sicas, um pouco por todo o mundo. No entanto, depois de percorrer esta longa singradura, estou hoje profundamente con-

vencido de que a parte mais relevante deste imenso espólio foi confiada às pessoas que nele navegaram. Trata-se de um repositório de valor inestimável, do qual apenas uma ínfima parte este livro ajudará a preservar. Tudo o mais são memórias, escritas com o mais fino sal sobre folhas de vento…

A terminar o Comandante Gonçalves agrade-ceu a todos que tiveram especial intervenção na edição do livro designadamente ao Secretário de Estado de Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, ao Almirante CEMA, ao Presidente da Vodafone Portugal que presidiu a esta sessão.

Tendo em conta que durante a sua última viagem o navio-escola “Sagres” navegou por mares de África e visitou vários portos naquele continente, a Marinha e a Fundação Vodafo-ne Portugal decidiram entregar uma parte da receita da venda deste livro ao projecto Filhos do Coração, que tem como objectivo libertar crianças africanas da escravatura. Assim, no fi-nal da cerimónia, o Almirante Melo Gomes e o Dr. António Carrapatoso entregaram à Dra. Ale-xandra Borges um donativo no valor de 3.000 euros, associando o navio-escola “Sagres” a esta sua nobre causa.

O Comandante António Manuel Gonçalves entrega o primeiro exemplar do seu livro ao Almirante CEMA.

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VIGIA DA HISTÓRIA 9

Os Cartazes Os Cartazes

Logo no início do seu estabelecimento na Índia os portugue-ses passaram a exercer um controlo apertado da navegação naqueles mares, só sendo permitida a navegação aos navios

portadores de uma autorização, passada pelas autoridades por-tuguesas, autorização essa designada por “cartaz”.

Funcionando como um salvo conduto, nem sempre o cartaz impedia que a embarcação que o detinha fosse objecto de sa-que, apresamento e, por vezes até, de destruição por parte dos navios portugueses que, frequentemente, andavam “às presas”, actividade essa que, quando praticada pelos nossos opositores, era designada por pirataria.

A prática de utilização de cartazes, que se prolongou por mais de 250 anos foi forçosamente objecto de acções que a pretendiam anular isto quando, como por vezes sucedia, não se conseguiam obter os “cartazes” pelo suborno de um qualquer funcionário.

Uma das maneiras pela qual se procurou evitar a necessidade de obtenção de cartaz consistiu no embarque, nas embarcações das nações asiáticas, de um capitão ou piloto europeu quando, por vezes e até cumulativamente, não arvoraram bandeira de país europeu, quase sempre a bandeira inglesa.

O estratagema não deixou de ser percebido pelos portugue-ses, isso mesmo ressalta da ordem do Rei, de Março de 1697, para o Vice-Rei ordenando-lhe que deveria mandar apresar to-dos os navios que, devendo ser obrigados a ter cartaz, o não ti-

vessem, mesmo quando tivessem capitão inglês ou arvorassem bandeira inglesa.

Anos mais tarde a prática deveria continuar a ser usada já que o Vice Rei Marquês de Távora, nas ordens dadas ao Capitão de Mar e Guerra Bernardo Carneiro de Alcáçova, estabelecia, em Novembro de 1751, o seguinte:

“E porque muitas vezes as embarcações, que não podem na-vegar sem o nosso cartaz, se valem da bandeira de alguma das Nações da Europa, trazendo também Capitão, ou Piloto da mes-ma Nação para inculcarem ser o navio seu, e carregando por sua conta, se suceder encontrar alguma embarcação sem cartaz nos-so fareis que se vos apresente o livro da carga, e se for escrito em língua Mourisca, ou Gentílica, entendereis não ser de Europeus ... (e o apresareis).

É bem possível que, tal como acontecia com os navios negrei-ros portugueses que navegavam com passaportes falseados, também nalgum país asiático, em que era público e notório que o embarque de capitão e o arvorar da bandeira europeus se des-tinava à não obrigatoriedade do uso do cartaz, existia o ditado “Para português ver”.

Com. E. GomesFontes:

Livro das Monções 61 – Viagem para a Índia dos Marqueses de Távora por Francisco Raymundo de Moraes Pereira, LISBOA 1753

NOTÍCIA

l Para além do manifesto suces-so que o espectáculo “Saga – Ópe-ra Extravagante” obteve junto do público em geral, aquando da sua apresentação em 2008, o reconhe-cimento é agora expresso na atri-buição do Prémio da Crítica 2008 da Associação Portuguesa de Crí-ticos de Teatro ao encenador João Brites, director artístico d’O Bando, companhia de teatro à qual a Ban-da da Armada se uniu para rea lizar esta “produção ousada que irrompeu no claustro interior do Museu de Ma-rinha (em Belém) e que se revelou ori-ginal na concepção, arrojada na rea-lização cenográfica, bem como festiva na componente musical e na voz de cantores líricos, populares e de heavy/rock”, como refere a nota de imprensa da APCT.

Na justificação crítica do prémio pode ainda ler-se que “a din-tinção atribuída pelo júri da APCT a João Brites sublinha o que, no seu trabalho criativo realizado em 2008 com O Bando, se revelou consisten-

te com uma opção estética que vem construindo inventivamente há mais de 30 anos, mas que não exclui a surpresa e, por vezes mesmo, o assom-bro”. Para a qualidade e mérito deste espec-táculo o júri destacou ainda a “vibrante e co-movente partitura operática de Jorge Salgueiro, a que se acrescentava uma impressiva presença de 60 músicos da Banda da Armada”.

O reconhecimento público da excelência deste trabalho apenas vem reforçar a convicção, de to-dos quantos nele se empenharam, acerca do valor da cultura portu-guesa, da literatura, do teatro e da música, reunidos neste espectá-culo de forma ímpar, valores es-ses intrínsecos à actividade pro-fissional da Banda da Armada e que, uma vez mais, contribuíram para o enaltecimento do prestígio da nossa Marinha.

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“Saga - Ópera extravagante” recebe prémio da apct

LANÇAMENTO DO LIVRO “A LARANJA MACULADA”

Realiza-se no dia 16 de Abril no Clube Militar Naval, o lançamento do livro “A Laranja Maculada”da autoria do CALM João Nobre de Carvalho. O prefácio é do Almirante Castanho Paes e a apresentação será feita pelo VALM Silva da Fonseca.

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l Um busto erigido em S. João do Estoril, no ano de 2000, homenage-ando o VALM Manuel Pereira Crespo, último Ministro da Marinha, encontrava-se, já há algum tempo, danificado por acção de vandalismo, facilitado devido à sua localização então um pouco isolada.

Face ao sucedido, um grupo de oficiais residente no concelho de Cas-cais, a que se associou a Marinha e a Câmara local, tomou a iniciativa de recuperar a dita obra escultórica.

Assim, em 19 de Fevereiro último, junto ao monumento restituí-do à sua traça inicial, numa acção conjunta do Arsenal do Alfeite e da Câmara Municipal, realizou-se uma cerimónia que contou com a presença do CEMA, Almirante Melo Gomes, do Presidente do Muni-

cípio, Dr. António Capucho e de um antigo CEMA, Almirante Fuzeta da Ponte em nome de um conjunto de oficiais moradores no concelho, estes com uma presença superior a meia centena.

Estas três individualidades discursaram enaltecendo a invulgar inte-ligência e seriedade do Almirante Crespo, assim como o seu extraordi-nário senso comum e espírito conciliador que, a par de uma incompa-rável capacidade de organização e de realização, originaram profundas intervenções em todas as áreas da Marinha. Na ocasião foram ainda exaltadas as excelentes relações existentes entre a Marinha e a Câmara Municipal de Cascais. O evento terminou com almoço de confraterni-zação, oferecido pelo CEMA, na Messe de Cascais.

l No passado dia 7 de Feverei-ro, realizou-se no Salão Nobre da sua Sede Social em Lisboa, a ce-rimónia de tomada de posse dos Órgãos Sociais do Clube para o biénio 2009/2010. Presidiu à ceri-mónia a convite do Clube, o Co-mandante Sousa Costa em repre-sentação do Almirante CEMA.

No dia 19 de Fevereiro, reali-zou-se no Salão de Festas da Delegação do CSA no Feijó, a cerimónia da tomada de posse da Comissão Administrativa. Para além de muitos associados e familiares, estiveram presentes representantes dos clubes e associações sócios profissionais de militares, dos clubes e associações sócio recreativas das zonas onde estamos inseridos. Associaram-se igualmente ao evento representantes do poder autárquico local.

Nas suas alocuções o Presidente da Direcção, Albano Ginja, agrade-ceu à Marinha a colaboração, a cooperação e ajuda que vem prestando ao Clube e a vontade em aprofundar e reforçar as excelentes relações institucionais existentes entre ambos. No final da cerimónia foi servido aos convidados, associados e famílias um Porto de Honra.

34º ANIVERSÁRIO DO CSAl No dia 22 de Fevereiro no Salão Nobre da Sede Social do CSA, teve lugar uma Sessão Solene a fim de comemorar o seu 34º aniversário. Num salão repleto de as-sociados e convidados, foram atribuídos

diplomas e o emblema de prata do Clube aos sócios que no último ano perfizeram 25 anos de filiação. No final em ambiente de grande confraternização, cantaram-se os parabéns, e o sócio mais antigo pre-sente no evento apagou as velas dos 34 anos.

(Colaboração da Direcção do CSA)

l No passado dia 22 de Novembro, o Clube de Pra-ças da Armada comemorou o seu 25º Aniversário e pro-cedeu à entrega dos emble-mas de prata aos sócios fun-dadores, numa cerimónia realizada para o efeito, na Cooperativa de Consumo Piedense, na Cova da Piedade.

Na sequência da referida cerimónia, no dia 8 de Janeiro, numa ceri-mónia de apresentação de cumprimentos, o Clube de Praças da Armada recebeu das mãos do CEMA, Almirante Melo Gomes, uma lembrança felicitando o CPA pela passagem do seu 25º Aniversário, que decorreu no Gabinete do CEMA, tendo o CPA sido representado por vários ele-mentos: o Presidente da Direcção, Carlos Cardoso, o Vice-Presidente da Direcção, João Madeira, o Tesoureiro, Joaquim Maltinha, e o Presi-dente da Mesa da Assembleia-Geral, Francisco Leal.

A cerimónia foi antecedida por uma conversa informal onde o CPA teve a oportunidade de expor/apresentar as actividades e o trabalho que o Clube desenvolveu nestes 25 anos de existência e o que preten-de desenvolver no futuro. Os membros dos corpos gerentes presentes aproveitaram também a oportunidade para expor algumas preocu-pações que de momento preocupam o CPA, tanto de âmbito interno como externo, e os objectivos previstos para um futuro próximo, como também de agradecer todo o apoio que a Marinha tem proporcionado, pelas diversas Unidades e em diversos momentos.

O Almirante CEMA, reconheceu o trabalho que o CPA tem desen-volvido em prol dos seus associados (militares da Armada) e familia-res, e admira as pessoas que, nas suas horas livres, se disponibilizam/dispõe a trabalhar em prol dos outros, e em tudo que lhe for possível e depender de si continuará a conceder apoio ao CPA, como aconte-ceu até a data. Ao finalizar a cerimónia desejou as maiores felicidades e êxitos para o nosso Clube.

(Colaboração da Direcção do CPA)

Revista da aRmada • ABRIL 2009 29

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NOTÍCIAS

HOMENAGEM AO ALMIRANTE PEREIRA CRESPO

TOMADA DE POSSE DOS ÓRGÃOS SOCIAIS DO CLUBE DO SARGENTO DA ARMADA

CLUBE DE PRAÇAS DA ARMADACUMPRIMENTA O ALMIRANTE CEMA

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Há medida que os anos vão passando e a experiência vai crescendo, impressiona-mo-nos menos. Como médicos vamos

conhecendo toda a espécie de sofrimentos e muitas das atitudes, boas e más que acompa-nham o sofrimento. Neste sentido, já observei muitas atitudes genuinamente generosas em relação a quem sofre. Vi mães que não aban-donaram a cabeceira dos seus filhos doentes durante dias a fio. Vi filhos que choraram co-piosamente a morte de um dos pais. Vi velhos marinheiros, conhecidos de toda uma vida, que evidenciaram mais carinho no leito de morte de um camarada, do que a própria família di-recta do paciente... Contudo, poucas situações da vida actual me parecem tão nobres, como aquela que vos proponho contar, assim tenha arte para tanto....

Cruzo-me frequentemente com determinado oficial marinheiro, com o qual mantenho uma relação de amizade, desde que ambos partilha-mos os balanços de uma velha corveta. Soube, já há algum tempo, que a saúde lhe faltava. Sou-be também que tinha problemas renais e que a situação não estava a evoluir bem. Finalmente, recentemente, informou-me que estava em fran-

ca insuficiência renal. Trata-se de uma situação em que os rins, os principais orgãos reponsáveis pela eliminação de resíduos, que podem agredir o organismo entram em falência. Os rins asse-guram a homeostase (o equílibrio) do corpo hu-mano e não podemos viver sem o seu funciona-mento adequado. Sendo assim, para sobreviver é necesssário recorrer a técnicas substitutivas do rim (ditas de diálise), muitas vezes com recurso a máquinas externas ao paciente.

A única solução definitiva (aquela que resta-belece a função renal) é o transplante renal, do qual muitos leitores anónimos já terão ouvido falar. Esse desejável tratamento, que implica apesar de tudo tratamentos crónicos, tem logo à partida um grande óbice. - A necessidade de conseguir um rim compatível, já que cada um de nós é geneticamente distinto dos outros.

Por outro lado não existem muitos rins livres para transplante. A razão é simples, até há bem pouco tempo a doação era um acto que de-pendia da família e estas são, entre nós, mui-to pouco generosas com os orgãos dos seus falecidos. Compreende-se então a lista de es-pera (às vezes de muitos anos), que esperam estes pacientes...Sabe-se ainda do roubo ou

compra de rins, em paises empobrecidos do mundo pobre...

Ora o marinheiro desta história terá sido, aos poucos, confrontado com as soluções, que – de forma simples – atrás explícitei. Imaginará facil-mente, neste contexto, o leitor o sofrimento a que terá sido sujeito. Fiquei, contudo, surpreso com a solução que me apresentou, quando lhe perguntei como iam as coisas:

− Olha, decidi ir para o transplante – afirmou decidido.

− Falei com os meus médicos e a minha mu-lher está decidida a oferecer-me um dos seus rins, assim a saúde dela o permita, e os rins sejam compatíveis. - Concluiu esperançado.

A informação calou fundo no meu íntimo. Ainda que cada ser humano tenha, por regra, dois rins funcionantes, a doação não é um acto a tomar de ânimo leve para o doador. Trata-se, disso estou certo, de uma acto da maior ge-nerosidade que, ao presente, um ser humano pode fazer por outro. É também um acto de grande coragem...

O nosso marinheiro queria saber a minha opinião, sobre o assunto. Fiquei sem saber bem o que lhe dizer, pois tenho pouca experiência com esta patologia. Aconselhei-o a procurar opinião junto dos nefrologistas (os médicos dos rins). Ele já o havia feito e tinha opiniões dís-pares. Meditei nos dias seguintes, em silêncio, sobre este assunto. Parecia-me que de todos os pontos de vista seria uma decisão díficil, que depende muito da relação do casal e do senti-mento de cada um, em relação a uma situação ao mesmo tempo tão importante e delicada.

Soube depois, por outros médicos, que a so-lução proposta pelo camarada de navegações não é inédita, nem especialmente rara. Acon-tece, muitas vezes, entre pais e filhos. - O que também não deixa de impressionar. Impressio-nou-me particularmente nesta época em que o egoísmo parece vencer, que ainda existam ges-tos destes, de pura doação...de extrema gene-rosidade e amor...Não sei, nesta data, qual será o desfecho final da situação. Sei contudo que este marinheiro já é um homem com sorte. Pois tem amor à sua volta.

A doação em Portugal deixou de ser, por de-creto lei, um acto voluntário. Isto é, a menos que o doador, em vida e de forma consciente, tenha afirmado que não quer doar nenhum dos seus orgãos, estes podem ser usados após a sua mor-te. Dito assim, parece um aviltar da pessoa após o seu falecimento. Parece-me, no entanto, que para quem parte, é uma forma de prolongar a sua vida, a sua memória, ajudando outros...De-cida, também, o leitor da justeza desta lei...que impede os mortos de levarem os seus orgãos para o Céu. Será prepotência, ou necessidade extrema, para que a vida continue...

Doc

30 ABRIL 2009 • Revista da aRmada

HISTÓRIAS DA BOTICA (62)

A verdadeira generosidadeA verdadeira generosidade

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CONVÍVIOS

Revista da aRmada • ABRIL 2009 31

Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da Marinha (CCM)“Uma realidade com três anos”

No passado dia 26 de Outubro co-memorou-se o terceiro aniversário da entrada ao serviço do Centro de

Comunicações, de Dados e de Cifra da Ma-rinha (CCM). Este centro foi activado a 19 de Setembro de 2005, tendo sido formalmente inaugurado, com a presença do Presidente da República, a 26 de Outubro desse ano.

A comemoração do terceiro aniversário, iniciou-se no edifício sede, na Base Naval de Lisboa (BNL), com uma cerimónia de imposição de condecorações, distintivos e medalhas alusivas às actividades desportivas efectua das neste âmbito. Seguiu-se um almoço volante no pólo de Monsanto, para toda a guar-nição e seus familiares.

Integrado no Projecto de Modernização das Estações Radionavais (ERN), com a activação do CCM, foi extinto o Centro de Comunicações e Cifra da Armada (CCCA), o Centro de Comuni-cações do Alfeite e após a activação do CCM, a desactivação da Estação Radionaval Coman-dante Nunes Ribeiro.

O CCM é um órgão de execução de serviços na dependência directa do Comandante Naval, ao qual incumbe a gestão, exploração e moni-torização dos sistemas de comunicações e de cifra, tendo por finalidade a disponibilização de serviços de dados e voz para a Marinha, consti-tuindo-se como o interface entre as diversas en-tidades em terra e as estações móveis.

O CCM compreende, além do Director, o Departamento de Exploração, o Departamento de Manutenção, o Posto de Controlo da Base Naval de Lisboa e o Serviço de Apoio.

Algumas das suas competências são assegurar a administração, gestão, exploração e monitori-zação dos sistemas de processamento de men-sagens militares formais originadas ou destina-das à Marinha, dos sistemas criptográficos que lhe estão associados, dos sistemas de comuni-cações e de informação adstritos ao segmento especial da Rede de Comunicação de Marinha (RCM); assegurar a operação, a manutenção e a segurança dos locais de transmissão (Penalva) e de recepção (Fonte da Telha), nos termos do Me-morandum of Understanding (MOU) assinado para o efeito entre a NATO e Portugal. Enquanto

Órgão de Direcção Técnica (ODT) para a área da cifra na Marinha, ao CCM compete assegurar todos os serviços e tarefas relativos ao planeamento e proposta de aquisição de todo o material associado a siste-mas criptográficos; assegurar a obtenção, produ-ção, distribuição e controlo de todo o material-chave e publicações criptográficas, assegurar a logística dos equipamentos associados aos diversos sistemas criptográficos, assegurando a sua manutenção, controlo e estado funciona-mento. No âmbito da segurança criptográfica o CCM, enquanto sub-entidade inspectora do Comando Naval, é responsável pela condução das inspecções não técnicas.

A edificação do CCM visualiza-se no pre-sente como a âncora de coordenação de toda a arquitectura tecnológica de serviços de co-municações navais, identificando-se como o nó principal de gestão num futuro próximo. No futuro haverá uma integração das partes, sendo o CCM constituído por três pólos: um Centro de Comunicações onde será efectuada toda a supervisão e controlo do processo, um local de Transmissão1 e um local de Recepção2, onde se encontrarão apenas os transmissores e os recep-tores, com uma pequena equipa de apoio pró-ximo para manutenção.

Localizado na área da Base Naval de Lisboa, com um novo edifício, moderno, possuidor de todas as características e capacidades que se parametrizaram como adequadas ao bom

funcionamento do Centro como órgão de prestação de serviços, quer ao nível técnico de infra-estrutura tecnológica, quer ao das condições de trabalho para aqueles que lá prestam serviço. Em termos de segurança, o CCM é dotado de segurança física e militar adequadas, reforçada por sistemas de vigi-lância e alarme.

Este novo Centro, também assumiu as funcionalidades ante-riormente atribuídas às ERN’s, para além das suas funções pró-prias, de operar os lo-cais TX/RX com efici-ência e eficácia, facto que estará ligado ao grau de capacidade

da Marinha, em conjunto com a NATO.Após a implementação da componente na-

cional do BRASS, o CCM assumir-se-á como entidade controladora de todo o sistema de transmissão e recepção do serviço entre terra e os navios no mar, operando a partir das suas instalações toda a arquitectura de comunica-ções automatizadas, podendo inclusive operar remotamente os equipamentos e sistema de controlo do futuro Centro de Comunicações dos Açores, afirmando-se paralelamente como redundância ao sistema de controlo implemen-tado no Centro de Comunicações do Comando Nato de Oeiras4.

O futuro do CCM continuará a ser cumprido diariamente, afirmando-se no seio da Marinha no apoio directo a todas as unidades e forças que dos seus serviços necessitarem. A sua es-trutura tenderá a firmar-se de modo definitivo, incorporando os desenvolvimentos e alterações que estruturas internacionais (NATO) semelhan-tes forem adoptando e as que resultem da adop-ção/implementação dos novos sistemas.

(Colaboração do CCM)Notas

1 Situado na Penalva2 Situado na Fonte da Telha3 Broadcast, Ship Shore and Maritime Rear Link4 Joint Headquarters Lisbon

Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da Marinha (CCM)

“FILHOS DA ESCOLA” – RECRUTAMENTO ABRIL 1971l Realiza-se no dia 25 de Abril, em Aveiro, o almoço-convívio do 38º aniversário, dos “Filhos da Escola” Recrutamento Abril 71. Para mais informações contactar: Carlos Leal – 962644800/914228471/938833186 ou [email protected] / [email protected] /Morais – 933463876 ou [email protected].

“FILHOS DA ESCOLA” JAN71l No dia 25 de Abril os “Filhos da Escola” de Janeiro de 1971 vão celebrar o seu 38º aniversário de ingresso na Armada. A comemoração terá lugar na ETNA - Pólo de Vila Franca de Xira, (ex - Gº Nº1 de Escolas da Armada). Os interessa-dos em participar no evento podem contactar, até 10 de Abril, a Organização através dos seguintes contactos: - SMOR A ROCHA, das 09.00 às 17.00 horas, 326720 (int.)/ 213945420 ou tlm 964303823 - CFR Mantas 968835999.

NRP ”JOÃO COUTINHO”l No próximo dia 9 de Maio a 3ª Guarnição (1974/1976) da CORTINHO vai comemorar o 34º aniversário do Adeus a Moçambique em 1975. Para mais in-formações contactar até 4 de Maio: Manuel Camões 917349262 / 212128096, João Códices 964764752 / 211808164 ou Jorge Gonçalves 917810546.

13º ALMOÇO-CONVÍVIO DE FUZILEIROS DOS TEMPLÁRIOS

l Vai realizar-se no próximo dia 10 de Maio, pelas 12h 30m um almoço-convívio que terá lugar na Quinta de Azinhais – Casal da Azinheira em Tomar. Concen-tração nos Bombeiros às 11h. Contactar: Corte Real 917 879 765; Narciso 917 481 484; Manuel Marques 964 175 325; Aurélio Oliveira 962 513 452.

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Revista da aRmada • ABRIL 2009 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 117

W - E vuln. Analise as 4 mãos e será que S conseguirá cumprir o seu contrato de 4♠, com a saída a ♥D, eliminando portanto uma das 4 perdentes (2♥+1♦+1♣), já que o R de trunfo está bem colocado. Esta situação aconteceu num torneio de pares e a linha W - E, estando vulnerável, teve de ser cautelosa na hipótese de de-fender o contrato em 5♥ ou 5♣, para além de não ter a certeza de que ele seria cumprido, tanto mais que W fez uma intervenção directa agressiva em 3♣ sobre a abertura de S em 1♠, mostrando naipe comprido e algum jogo.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 117

Na verdade, quaisquer das defesas é má, pois 5♥ serão 2 cabides=500 (1♥+2♦+1♣), e 5♣ com uma saída a trunfo 5 (3♠+1♥+2♦+1♣=1300). Vejamos então a linha de jogo seguida por S, sabendo pela intervenção de W que ele terá umas 7 cartas de ♣:E cobre a D da saída com o R e S faz de A; joga V de trunfo para a passagem, cobrin-do com a D no morto, e constata que estão 3-0; ♣ e cobre a D ou deixa seguir para W, sendo esta a jogada chave, (se E cobrir faz o A e joga outro ♣); qualquer que seja o ataque faz, mas vamos supor que é ♦V; S faz AR♦, trunfo para o A seguido do 2 colocando a mão em W; este será obrigado a jogar ♣ e S balda ♥ do morto e ♦ da mão, e no outro ♣ balda a última ♥ do morto e corta na mão, eliminando assim uma das perdentes a ♥ e cumprindo o seu contrato.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):

R64

D

V6

RV109876

Este (E):

-

RV10987

D10987

D4

Norte (N):

AD872

632

543

32

V10953

Sul (S):

A54

AR2

A5

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 400

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

HORiZONtais: 1 – Que, ou aquele que vive em celibato. 2 – Lavrar; atingir com bala. 3 – Ventania forte e rápida; noto, na confusão. 4 – Nome vulgar de um roedor do Brasil; prende com ataca. 5 – Dois em romano; cidade da Bulgária Oriental. 6 – Causa pena; terreno hú-mido, adjacente às montanhas e por onde corre a água que delas deriva; falta uma, para ser moer. 7 – Antigo reino no país dos Belos, em Timor Lorossae; símb. quím. do cobalto. 8 – Re-pete; moiro na confusão. 9 – Suplica; reatai na barafunda. 10- Género de plantas, que serve de tipo às araliáceas; ourela. 11 – Género de batráquios urodelos da Europa.

veRtiCais: 1 – Mulheres a quem se paga, para ir prantear os mortos. 2 – Tesouro público; carne de rancho correspondente a cada marmita. 3 – Pedra de superfície plana, quadrada ou rectangular, de pequena espessura, que serve para cobrir pavimentos de ruas, de casas, etc.; que é contrário à lei 4 – Irritais; formara em alas (inv). 5 – Cortesã que entregou Sansão aos Filisteus, depois de lhe ter cortado os cabelos; prefixo de negação. 6 – Sopé; planta big-noniácea do Brasil e da África; rio da Suíça (inv). 7 – Basta; uivara na confusão. 8 – Pequeno cabo para alar (Náut.); dieta, na confusão. 9 – Relativo ao rio Reno, às margens do Reno ou da Renânia; ordem prescrita das cerimónias que se praticam numa religião (inv.) 10 – Passai por coador; soara. 11 – Rotas de um navio que seguem a linha ortodrómica.

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 400HORiZONtais: 1 – Celibatario. 2 – Arar; Balear. 3 – Rajada; Onot. 4 – Preia; Ata-co. 5 – II; Sliven. 6 – Doi; Ipu; Oer. 7 – Laleia; Co. 8 – Itera; Rioom. 9 – Roga; Ra-etai. 10 – Aralia; Tira. 11 – Salamandras

veRtiCais: 1- Carpideiras. 2 – Erario; Tora. 3 – Laje; Ilegal. 4 – Irais; Arala. 5 – Da-lila; Im. 6 – Aba; Ipe; Raa. 7 – Ta; Avuira. 8 – Alote; Aietd. 9 – Renano; Otir. 10 – Iaoc ; Ecoara. 11 – Ortodromias.

Carmo Pinto1TEN REF

NOTÍCIA

l Um Grupo de Amigos da Ma-rinha de Benavente visitou no dia 24 de Janeiro a Base Naval de Lisboa. Guiados pelo Coman-dante da Base conheceram as suas infra-estruturas e o apoio que prestam à Esquadra. Alguns dos visitantes, tendo sido antigos marinheiros, constataram a evo-lução tecnológica e as inerentes capacidades que a Marinha de-tém no presente. Num salto entre o antigo e o que de mais moder-no a Marinha possui visitaram o Submarino Barracuda e a fragata Corte Real tendo ficado des-lumbrados com as capacidades operacionais dos meios navais.

Numa empatia muito própria da comunidade naval, convive-ram com as guarnições das duas unidades navais visitadas, tendo avidamente escutado as apresen-tações efectuadas e questionado os membros das duas guarnições que os receberam com grande elevação e sentido de divulga-ção da Marinha de grande pro-fissionalismo.

A visita terminou com o arriar da Bandeira, contribuindo para o reacender em todos os partici-

pantes do apego e orgulho que sentem na “Briosa” e no servi-ço que presta a Portugal

GRUPO DE AMIGOS DE BENAVENTE VISITA BNL

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34 MARÇo 2009 • Revista da aRmada

NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVA CALM EMQ Ilídio Cardoso Pais Loureiro CALM AN António José Ravasco Bossa Dionisio CALM AN Nelson dos Santos Mateus CMG AN João Car-los Colaço Alegre Branco CMG FZ Mário Augusto Marreiros das Chagas CFR OT Alberto Pereira de Carvalho SCH L António Ferreira da Silva SAJ A Pedro José Albano Soares Botas.

REFORMA CMG EM RES Carlos Eduardo Vigoço Saldanha Carreira CFR SEM Eucli-des dos Anjos Pio CTEN OT Manuel Francisco da Conceição CTEN SEM Mateus Cirilo de Brito Sousa SMOR M António Manuel dos Santos Martins SMOR L Manuel Gomes Loureiro SMOR CM Manuel Mateus Portugal Gomes de Almeida SCH FZ Francisco Lopes Dias Lebre SCH B Francisco Trindade André SCH E Manuel Maria Valente Pais SAJ L António Manuel Marcelino dos Santos SAJ MQ Mário Pedro Miranda dos Reis SAJ CE António Pinhei-ro Rodrigues SAJ A Sidónio António SAJ A António Manuel da Conceição Afonso SAJ FZ José Fernandes da Fonseca SAJ T Baltazar Rodrigo de Al-meida SAJ M Francisco Freire Lopes 1SAR L Arménio dos Anjos Simões 1SAR E Joaquim Luís Andrade dos Santos 1SAR M Carlos Alberto de Sousa Vilarinho 1SAR T António Jerónimo Carvalho Ligeiro 2SAR L Manuel da Silva Cabecinhas CAB R João Manuel Pires Filipe CAB CM Jorge Alexandre Gonçalves dos Santos CAB L José Manuel Latas Guerreiro CAB FZ António Jorge Ferreira Coelho Salmim.

FALECIMENTOS CMG ECN REF Bernardino Faria Rodrigues Cadete CMG FN REF António Perquilhas Teixeira CMG AN REF Mário José de Aguiar CMG REF Artur Duarte de Carvalho Baptista dos Santos CFR REF João Alexandre Neves Mon-teiro de Macedo SCH A Francisco José Germano Ramos SAJ CM REF Afonso Henriques Cabrita Paixão SAJ A REF Guilherme Domingues SAJ V REF An-gelino Henriques Loureiro SAJ CM REF Fernando Ferreira 1SAR CM REF José Correia Rosado 1SAR SE REF Victor Manuel Gomes Marques 1SAR FZ REF José da Conceição Martins CAB US RES Alberto Luís Garçoa Rodrigues Ascenso: CAB CM REF Diamantino José dos Santos CAB CM REF Domingos Peixoto CAB L REF Francisco Maria Gaspar CAB CM REF Eduardo Barbosa Leal CAB CM REF António Evangelista Correia 1MAR E Maria Elisa Bernar-do Galvanito 1MAR TFH REF Leonel do Nascimento Afonso MAQ 1ªCLAS APOS Carlos Manuel da Silva Salvador FAROL CHEF APOS Carlos Peixoto da Silva Sameiro 1GRT DFA REF António Augusto de Oliveira Dias.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

CALM AN José Carlos da Palma Mendonça nomeado Superintendente dos Serviços Financeiros CMG MN João Pedro Antunes Fernandes nomeado Sub-director do Hospital da Marinha CFR MN Nuno de Freitas Lomelino Gomes Machado nomeado Presidente suplente e vogal Efectivo da Junta de Recruta-mento e Selecção.

CONVÍVIO

“FILHOS DA ESCOLA” JANEIRO DE 1973

No passado dia 17 de Janeiro os “Filhos da Escola de Janeiro de 1973” levaram a efeito o seu 7 º almoço-convívio em Man-gualde, na Nossa Senhora do Castelo que reuniu cerca de 120 pessoas, entre mancebos e suas famílias, a fim de comemorar o 36º aniversário da entrada na “Briosa”.

Foi celebrada missa em memória dos “Filhos da Escola” já falecidos na igreja de Nossa Senhora do Castelo.

Foram convidados pela comissão organizadora o Presidente da Câmara Municipal, que se fez representar pelo Vereador do Turismo e o Presidente da Junta de Freguesia de Mangualde, as-sim como o Grupo Musical da Região. Foram trocados presentes alusivos a Marinha assim como da Autarquia local.

Apitou à faina, momento este que os olhos de alguns mance-bos luziram com lágrimas pelo momento emocional em que a todos marcou os seus tempos de embarque; todos permaneceram em sentido, para que fosse lida a ordem OP2/21/30JAN73/G no seu texto geral e no qual foi mencionado a presença do “Filhos da Escola” presentes no referido evento, a fim de refazerem o seu novo alistamento na Armada. O almoço decorreu numa enor-me e sólida camaradagem recordando todos os bons momentos passados na saudosa Marinha e dos que após o seu cumprimen-to do dever a deixaram para a vida civil. No final levantou-se ferro, máquinas a Vante. Para trás, ficou uma esteira de sauda-de com a promessa de no próximo ano todos encontrarmos um novo porto ainda por definir pela nova comissão.

A comissão organizadora agradece à Marinha a gentileza de disponibilizar um autocarro que foi concedido para o evento.

(Colaboração do SCH E. Armada)

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14. A Direcção de Faróis

Instalações da MarinhaInstalações da Marinha

Situada junto à Estrada Marginal, em Paço de Arcos, nas antigas instalações do Grupo de Defesa Submarina da Costa, a Direcção de Faróis posiciona-se como sentinela vigilante da navegação que demanda as Barras do Porto de Lisboa, na confluência das águas do Tejo com as do Atlântico, tendo o Forte e Farol de S. Lourenço da Cabeça Seca (Bugio) no horizonte.

Enquadramento histórico: As primeiras referências ao uso de fo-gueiras mantidas em pontos conspícuos ou em torres pelas comu-nidades piscatórias para referência dos navegantes e, mais tarde, pelas irmandades religiosas, remontam ao início do século XVI. A primeira estrutura classificável como farol, terá sido mandado eri-gir em 1528 na foz do Rio Douro pelo Bispo D. Miguel da Silva, em S. Miguel o Anjo, junto ao local onde hoje se ergue o farolim da Cantareira. Existem também referências a um farol mandado erguer pelo Bispo do Algarve, D. Fernando Coutinho, no conven-to de S. Vicente, entre 1515 e 1520, e que em 1537, os frades da Irmandade de Nossa Senhora da Guia terão construído uma torre para servir de farol. Contudo, só em 1 de Fevereiro de 1758 por alvará do Marquês de Pombal, passou o serviço de farolagem a ser uma organização oficial, cometida à Junta do Comércio, na sequência da qual foi ordenada a construção de faróis, dos quais o primeiro foi o de Nossa Senhora da Guia em 1761.

A responsabilidade pelo funcionamento e manutenção dos fa-róis de Portugal, foi posterior e sucessivamente atribuída ao Ser-viço das Alfândegas do Ministério da Fazenda, ao Ministério das Obras Públicas, à Direcção-Geral de Telégrafos e Faróis do Reino, à Direcção-Geral dos Correios e Postas do Reino, à Direcção-Geral dos Correios, Telégrafos e Faróis. Só em 1892, por decreto com for-ça de lei de 14 de Agosto, é que a responsabilidade sobre os faróis foi atribuída ao Ministério da Marinha e Ultramar.

Origem: O Serviço de Faróis constituiu inicialmente a 3ª Secção da 6ª Repartição do Conselho do Almirantado, competindo-lhe o serviço de iluminação e respectivo material, e o de marcas, balizas e sinais sonoros na costa do continente e ilhas adjacentes. Em 1907 o Serviço de Faróis passou a constituir uma Repartição própria, di-rectamente dependente da Direcção-Geral da Marinha.

Com o aumento significativo do número de faróis e dispositivos de assinalamento implantados foi então criada a Direcção de Fa-róis, por decreto datado de 23 de Maio de 1924, com o objectivo de concentrar numa única entidade a responsabilidade por todas as Ajudas à Navegação em Portugal Continental e Ilhas, assim como pela gestão do pessoal faroleiro.

Em 1926 foram construídos em Caxias, uma oficina, um depó-sito de material e um edifício para receber a estrutura organiza-cional da Direcção, mas só vinte anos mais tarde, em 8 de Julho de 1946, é que a Direcção de Faróis foi transferida para as ins-talações do extinto Grupo de Defesa Submarina da Costa, local onde permanece até aos dias de hoje, complementadas em 25 de Agosto de 1961, com a inauguração do Edifício do Comando e da Escola de Faroleiros.

Infra-estruturas: As instalações da Direcção de Faróis estão divi-didas em vários blocos. O Bloco situado no extremo Oeste com-preende as áreas de apoio ao pessoal (alojamentos, refeitório e sa-las de estar), o edifício da Direcção albergando os vários serviços e, nas suas traseiras, o Serviço de Transportes. O Bloco Central, corresponde à área atribuída à vertente oficinal e de reparação de equipamentos e estruturas, compreendendo, o Pólo Museulógico,

dotado de diversos equipamentos e sistemas retratando o passado e o presente da sinalização, uma oficina de apoio à reparação e manutenção das peças expostas e um auditório. No piso superior encontra-se instalada a Central de Faróis, onde são controlados e monitorizados os faróis da entrada da Barra do Porto de Lisboa (Raso, Guia, Sta. Marta, S. Julião da Barra, Gibalta e Esteiro) e as estações da rede DGPS nacional (Cabo Carvoeiro, Sagres, Porto Santo e Faial). No mesmo piso existem ainda as instalações afectas ao Núcleo de Formação de Faroleiros da Escola de Autoridade Ma-rítima. Em direcção a Este, encontram-se implantados um depósito de material diverso, um hangar para recolha de embarcações e as oficinas de electrotecnia, motores, decapagem, balizagem, serra-lharia, carpintaria e mecânica. Na frente ribeirinha existe um par-que para bóias e equipamentos em manutenção ou beneficiação e a rampa de acesso ao hangar. O Bloco Noroeste congrega ins-talações de apoio às infra-estruturas e às aulas práticas dos cursos ministrados na Direcção de Faróis.

Missão, atribuições e meios logísticos: A Direcção de Faróis, membro fundador da IALA ( International Association of Lighthouse Authorities), é o órgão da Direcção-Geral da Autoridade Marítima que tem por principais atribuições:

- a direcção técnica de todo o assinalamento marítimo nacio-nal; o exercício das funções inspectivas a todos os dispositivos de assinalamento; a emissão de pareceres técnicos sobre projectos de assinalamento ou projectos em zonas de servidão; a formação e condução técnico-profissional do pessoal faroleiro; a instalação, manutenção e conservação do assinalamento marítimo, com ex-cepção do portuário; o controlo e monitorização dos faróis da en-trada da barra do porto de Lisboa; a elaboração de estudos tenden-tes à adopção de novos materiais e equipamentos; o garante da uniformidade das Ajudas à Navegação, em conformidade com as recomendações internacionais; o estudo e criação de zonas de ser-vidão de sinalização; o planeamento, programação e execução das acções de manutenção, conservação e reparação de todas as infra--estruturas afectas aos faróis; o planeamento das “grandes obras” nos faróis, em coordenação com a Direcção de Infra-estruturas; o exercício das funções inerentes ao Núcleo de Formação de Faro-leiros, sob coordenação da Escola de Autoridade Marítima; a as-sessoria à Repartição de Militarizados e Civis na gestão do pessoal faroleiro; a realização de acções de cooperação técnico-militar e de formação com os PALOP’s e países do Norte de África.

A Direcção de Faróis tem uma guarnição de 93 elementos, cons-tituída por 36 militares (5 oficiais, 8 sargentos e 23 praças), 42 mi-litarizados (10 faroleiros técnicos, 25 faroleiros, 4 troço de mar e 3 PEM) e 15 civis (6 administrativos, 10 operários especializados e 3 auxiliares), estando os 30 faróis do Continente guarnecidos por 66 faroleiros, os 16 dos Açores por 37 faroleiros e os 7 da Madeira por 9 faroleiros, num total de 110 homens.

Para além de diversas viaturas, a Direcção de Faróis tem atri-buídas as UAM “Guia” e UAM “Sável” e uma semi-rígida, desti-nadas às acções de inspecção e de substituição de bóias, amar-ras e poitas.

A Direcção de Faróis continua a cumprir a honrosa missão de manter acesa a luz que guia o navegante e o encaminha em segu-rança ao porto de abrigo.

(Colaboração da DIRECÇÃO DE FARÓIS)

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