a escrita japonesa: além da fala - namakajiri.net · bal do fenômeno kanji precisa relacionar...

54
Leonardo F.S. Boiko A escrita japonesa: Além da fala Relatório de atividades para exame de qua- lificação de mestrado Orientadora: Leiko Matsubara Morales Universidade de São Paulo São Paulo 2015–1

Upload: doandan

Post on 30-Nov-2018

228 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Leonardo F.S. Boiko

A escrita japonesa: Além da fala

Relatório de atividades para exame de qua-lificação de mestrado

Orientadora: Leiko Matsubara Morales

Universidade de São Paulo

São Paulo

2015–1

Sumário

I Relatório de Atividades

1 Introdução, motivação e metodologia p. 6

2 Disciplinas cursadas p. 10

2.1 2013–1: Evolução da Fala e da Linguagem, prof. Didier Demolin . . . . . . p. 10

2.2 2013–2: Palavra e Imagem, prof. Geraldo de Souza Dias Filho . . . . . . . p. 10

2.3 2014–1: Morfologia e Estruturas Sintáticas da Língua Japonesa, prof.ª JunkoOta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 11

2.4 2014-2: Yukio Mishima: ficção e drama, prof.as Madalena Cordaro e DarcyKusano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 11

2.5 2015-1: Tópicos de Análise Quantitativa de Variáveis Linguísticas, profs. Ro-nald Beline e Livia Oushiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 12

3 Bolsa de intercâmbio internacional p. 14

4 Participações em congressos p. 15

4.1 2013: II Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Japoneses . . . . . . p. 15

4.2 2014: XXIII Encontro Nacional de Professores Universitários de Lín-gua, Literatura e Cultura Japonesa / X Congresso Internacional de Es-tudos Japoneses no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 15

5 Outros trabalhos p. 16

5.1 Trabalho de Graduação Individual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 16

5.2 Análise de componentes fonéticos de kanji . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 16

5.3 Dicionário japonês/inglês para Linux . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 17

5.4 Sítio de busca de análises históricas de kanji . . . . . . . . . . . . . . . . p. 17

5.5 Colaborações com projetos públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 17

II Projeto de Pesquisa 18

6 Justificativa p. 19

7 Fundamentos Teóricos, Hipóteses e Bibliografia p. 21

8 Metodologia p. 24

9 Plano da dissertação p. 25

9.1 Capítulo 1: Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 25

9.2 Capítulo 2: Escrita, som e sentido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 25

9.3 Capítulo 3: Medindo a foneticidade da escrita japonesa . . . . . . . . . p. 26

9.4 Capítulo 4: Técnicas expressivas com kanjis . . . . . . . . . . . . . . . . p. 26

9.5 Capítulo 5: Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 27

Anexo A -- Texto atual da dissertação p. 28

A.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 28

A.1.1 Escrita japonesa: A pior do mundo? . . . . . . . . . . . . . . . . p. 28

A.1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 34

A.1.3 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 35

A.1.4 Convenções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 36

A.2 Escrita, som e sentido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 37

A.2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 37

A.2.2 Representando a língua pelo som: A fonografia . . . . . . . . . p. 37

A.2.3 Representando a língua pelo sentido: A morfografia . . . . . . . p. 38

A.2.4 O mito do ideograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 39

A.2.5 Neurologia da leitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 39

A.3 Medindo a foneticidade da escrita japonesa . . . . . . . . . . . . . . . . p. 40

A.4 Técnicas expressivas com kanjis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 40

A.4.1 Modelos teóricos da escrita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 40

A.4.2 Reanálise morfológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 43

A.4.3 Paralelismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 45

A.4.4 Técnicas visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 48

A.4.5 Outras técnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 48

A.5 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 48

Referências Bibliográficas p. 49

Parte I

Relatório de Atividades

6

1 Introdução, motivação emetodologia

A motivação para esta pesquisa partiu de um estranhamento sobre retórica—sobreestilo de escrita acadêmica. Muitos trabalhos contemporâneos sobre a escrita japonesa(e também sobre a escrita chinesa, sua progenitora) incluem julgamentos de valor emuma linguagem algo exaltada, destoando do tom neutro normalmente usado no meiocientífico (1, 2). O ponto polêmico está no uso de caracteres chineses, os kanjis. Por umlado, esses símbolos causam deslumbramento e fascínio, inspirando discursos elegía-cos e exoticistas—como nos trabalhos de Erza Pound, Jacques Derrida, ou Haroldo deCampos (3, 4, 5). Por outro lado, estudos linguísticos sobre sistemas de escrita tendema descrever os caracteres chineses (e especialmente seu uso no japonês) em tom ácido,crítico, ou mesmo sarcástico—diferentemente do restante das mesmas obras, que, aoanalisar outros sistemas de escrita, tende a ater-se à descrição técnica (para exemplos,ver seção A.1.1 à página 28). Um colega pesquisador da usp conta que, enquanto lia umagramática da língua japonesa, deparou-se com comentários inesperadamente cáusticossobre a escrita em kanji; a surpresa foi tamanha que ele perdeu a confiança na análisedo autor.

A pesquisa que decidimos fazer, porém, não é sobre esta retórica em si, mas so-bre aquilo que a motiva: As complexidades da escrita em kanji.1 Segundo o Regimentode Pós-Graduação da Universidade de São Paulo, a pesquisa de mestrado tenciona de-monstrar “capacidade de sistematização crítica do conhecimento acumulado sobre otema”, enquanto que contribuições originais reservam-se ao doutorado (6, art. 6º, §s 1ºe 2º). Respeitando essa orientação, decidimos que seria interessante pesquisar como oskanjis funcionam linguisticamente, em uma abordagem sobretudo bibliográfica: Umavez que os debates que os cercam envolvem áreas diversas (linguística, neurologia, crí-

1Sobre os debates retóricos em si, ver Lurie (1). Um ponto importante que o autor nota é a questãoda disciplinariedade: Muitos dos debates sobre kanji foram conflitos entre, no lado favorável, críticosliterários, filósofos, orientalistas; e, no lado crítico, linguistas.

7

tica literária, filosofia da linguagem, caligrafia, etc.), uma compreensão realmente glo-bal do fenômeno kanji precisa relacionar teorias categoricamente distintas, com objeti-vos e métodos bem diferentes. Apenas depois de ouvidos todos os lados é que podemoscomparar os diferentes modelos, analisar seus vários enfoques, e talvez entender o quemotiva opiniões tão emocionalmente carregadas e tão opostas.

A metodologia fundamental é portanto a análise, comparação e síntese de modelosteóricos, obtidos através da pesquisa bibliográfica. O trabalho em andamento, porém,não se limita a isto. Mostrou-se interessante testar, na medida do razoável, até que pontoos modelos refletem os fatos. Para isto, estou desenvolvendo dois testes: um quantita-tivo, e outro qualitativo.

O teste quantitativo refere-se à proposta de DeFrancis de que os caracteres chi-neses seriam, no fundo, baseados no som, assim como a escrita alfabética ou o kanajaponês (7, 8, pp. 105–110, 111–112). Essa proposta pode parecer estranha para leitoresacostumados com o japonês, mas considere alguns argumentos do autor:

• A maioria dos kanji são símbolos compostos, construídos a partir de elementosbásicos recorrentes. Em muitos caracteres, um desses elementos indica sua pro-núncia. Por exemplo, em japonês, o caractere 包 representa o morfema (unidadede sentido) hō, “envolver”. Os caracteres 抱,泡,胞,砲,飽 também são lidos como hō.Observe que todos eles incluem o elemento 包, e todos têm a mesma pronúncia;ou seja, 包 é um componente cuja presença informa qual a leitura daquele carac-tere. DeFrancis analisou um conjunto de 4719 caracteres frequentes,2 e contou66% como incluindo componentes fonéticos tais como 包 hō.

• Em chinês, cada caractere corresponde a exatamente uma sílaba, que geralmenterepresenta um morfema (ou seja, tem um sentido próprio). Porém, alguns carac-teres representam sílabas que não são morfemas. Mas todo caractere sempre re-presenta uma sílaba. Por exemplo, a palavra para “borboleta”, húdié, tem duassílabas mas um só morfema (não aparecem *hú- ou *-dié em outros contextos).Esta palavra é escrita com dois caracteres, 蝴蝶—quando o número de sílabas di-fere do número de morfemas, o número de caracteres corresponde sempre ao desílabas (Kennedy(9), 1964 apud DeFrancis(7), 1984, p. 180). Ou seja, a relação comsílabas é mais estável do que a com morfemas, o que o autor toma como indicaçãoque os caracteres chineses seriam primariamente um “silabário”, e apenas secun-dariamente um registro do sentido.

2Originalmente contabilizados por Chen Heqin (7, pp. 108–109).

8

• Quando os falantes nativos cometem erros ao escrever kanji, esses erros podemser de base fonológica (escrever outro caractere de mesmo som, mas sentido dife-rente) ou semântica (escrever outro caractere de mesmo sentido, mas com outrosom). Os erros com base fonológica ocorrem com mais frequência, o que sugereque os falantes processam os caracteres fonologicamente (cf. Matsunaga, (10)).

Contudo, ao contrário da prática chinesa, na escrita japonesa os caracteres podemrepresentar vários morfemas diferentes, com leituras radicalmente distintas – por exem-plo, 抱, além de hō, também pode ser lido daku, idaku e kakaeru, sendo que nenhumadessas leituras é sugerida por algum componente interno. Além disso, como o exemplomostra, as leituras podem ter mais de uma sílaba (e, inclusive, mais de um morfema—ou menos). Outro fator a ser considerado é que o número levantado, 66%, é uma propor-ção simples do total; ele não leva em conta a frequência relativa de cada caractere—ouseja, quantas dessas sugestões de leitura o leitor realmente encontraria em um texto tí-pico. Finalmente, não está claro o quanto os componentes fonéticos ainda funcionamno japonês, que sofreu diversas mudanças fonológicas desde quando ocorreram os em-préstimos do chinês antigo.

Usando ferramentas computacionais e estatísticas em corpora de grande escala, po-demos estimar melhor a “foneticidade” da escrita em kanji, refletindo a frequência deuso de cada caractere em textos reais do japonês moderno. Estou trabalhando em umaanálise nesta linha, analisando a previsibilidade das leituras dos kanjis usados na ediçãojaponesa da Wikipedia—um corpus de mais de 2 bilhões de palavras.

Outra forma de avaliar os modelos teóricos é um teste qualitativo. Na escrita japo-nesa, aparecem formas de expressão que usam os kanjis para comunicar informações nonível do sentido (isto é, no nível morfológico). Essas técnicas expressivas são própriasda escrita, sem equivalente direto na fala (comparáveis, por exemplo, à diferença entre“por que” e “porque” na escrita portuguesa). A existência de tais formas de expressãoserve, por si só, como contra-exemplo para teorias que modelam a escrita como “repre-sentação visual da fala” (como Bloomfield em 11 e DeFrancis em 8); e, da mesma forma,serve como evidência positiva para teorias que consideram a escrita como um sistemalinguístico autônomo (como Vachek em 12 e Nunberg em 13). Durante congresso em2014 (ver 4.2), apresentei prolegômenos a uma classificação qualitativa dessas técni-cas expressivas com kanji—classificação que será desenvolvida com mais exemplos nadissertação.

Reiterando, os métodos empregados na pesquisa são:

9

1. Análise e síntese de modelos teóricos sobre kanji, partindo de pesquisa bibliográ-fica interdisciplinar;

2. Estudo de corpus escrito, usando técnicas computacionais e estatísticas, para com-parar os modelos;

3. E levantamento de contra-exemplos a alguns deles.

O restante desta parte descreve as atividades desenvolvidas até agora no mestrado.A parte II, a seguir, consiste no projeto de pesquisa. O anexo A consiste no texto emandamento da dissertação, ainda em estado preliminar.

10

2 Disciplinas cursadas

2.1 2013–1: Evolução da Fala e da Linguagem, prof. DidierDemolin

Durante esta disciplina, estudei com o prof. Didier sobre o conhecimento mais re-cente que temos sobre o surgimento da linguagem nos seres humanos. Vimos sobresua relação com a evolução da nossa anatomia, e contrastamos a linguagem com outrasformas de comunicação animal.

Relacionando o assunto à questão da escrita, o professor recomendou-me a obrado neurologista Stanislas Dehaene, que veio a ser o fundamento da discussão sobreneurologia da leitura em minha dissertação (14). Dehaene discute inclusive as possíveisdiferenças entre o processamento neural de kanji e de escritas fonológicas, dados quetem relevância direta ao nosso assunto (15).

Infelizmente, complicações decorrentes das datas da matéria e do período de umabolsa de pesquisa no Japão (ver seção 3) fizeram com que eu perdesse a avaliação, re-sultando em reprovação.

Conceito: R

2.2 2013–2: Palavra e Imagem, prof. Geraldo de Souza DiasFilho

Matéria interdisciplinar ministrada na Escola de Comunicações e Artes (eca), traba-lhando a palavra escrita do ponto de vista da arte visual. O objetivo foi entender melhoro papel da estética nos caracteres kanji, haja vista a grande importância da caligrafia nacultura sino-japonesa. Estudei as teorias de Focault e Roland Barthes a respeito. Sobrecomendação da prof. Madalena Cordaro (da área de japonês na Faculdade de Le-

11

tras, e também com passagem pelas artes visuais na eca), estudei o trabalho de ThomasLamarre sobre a materialidade da escrita na cultura Heian, e as teorias do calígrafoIshikawa Kyūyō (16, 17)

Para a monografia desta matéria, e aprofundando a pesquisa anterior sobre neu-rologia da escrita, investiguei a proposta da linguística cognitiva sobre “corporização”(embodiment) e metáforas conceituais, de Lakoff e Johnson (18, 19). Relacionei isso a al-guns trabalhos recentes sobre a interação entre os sistemas neurais visuais, sensoriaise linguísticos (20, 21); e também tracei uma comparação com os usos da metáfora napoética tradicional, e na antropologia da magia. A apresentação em slides e monografia(29 páginas) estão disponíveis no seguinte endereço:

http://namakajiri.net/letras/palavra_imagem/

Conceito: A

2.3 2014–1: Morfologia e Estruturas Sintáticas da LínguaJaponesa, prof.ª Junko Ota

Com esta matéria, praticamos a leitura de textos em japonês sobre teoria linguís-tica. Como monografia para avaliação, investiguei uma questão polêmica da área—arelação dos chamados “adjetivos-na” com outros adjetivos e substantivos. Compareiduas propostas modernas, a gerativista de Baker (22) e a cognitivista de Uehara (23),usando ferramentas computacionais de análise de corpus. Esta experiência foi impor-tante para as análises estatísticas de uso de kanji da dissertação—análise que trabalhacom o mesmo corpus, isto é, o texto completo da Wikipedia japonesa.

A monografia (22 páginas) está disponível no endereço:

http://namakajiri.net/letras/2014/morfo/nakeiyosi.pdf

Conceito: A

2.4 2014-2: Yukio Mishima: ficção e drama, prof.as Mada-lena Cordaro e Darcy Kusano

Esta foi uma matéria de crítica literária (dramatúrgica), não de linguística. Para amonografia, analisei o texto Mulheres Insatisfeitas, de Yukio Mishima (ainda inédito em

12

português), que inclui material autobiográfico sobre a visita do autor à São Paulo.

A análise literária emprega na prática alguns conceitos sobre expressão em kanjique vêm da pesquisa principal. Os exemplos empregados no conto serão elencados nadissertação.

A monografia do curso será publicada como artigo na revista Estudos Japoneses. Aversão pré-publicação (19 páginas, ainda sem revisão) está disponível no endereço:

http://namakajiri.net/letras/2014/mishima/fuman_na_onnatachi.pdf

Conceito: A

2.5 2015-1: Tópicos de Análise Quantitativa de VariáveisLinguísticas, profs. Ronald Beline e Livia Oushiro

Esta matéria, ainda em andamento, dedica-se ao aprofundamento das bases teóricasda estatística, com o objetivo de enriquecer pesquisas linguísticas. Naturalmente, elatem impacto direto em minha análise de corpus de kanji.

Embora ainda esteja em andamento, a disciplina já resultou em alguns frutos:

• Criei ferramentas de programação auxiliaries para trabalhos com escrita japonesa:

– Uma ferramenta para identificar categorias de escritas (scripts) em textos ele-trônicos(http://github.com/leoboiko/uniscripts );

– Uma ferramenta para separar as leituras de kanjis individuais em palavrascompostas(https://github.com/leoboiko/yomisplit ).

• Enquanto preparava contagens de frequência de componentes de kanji, aprovei-tei para criar uma nova lista de frequência de palavras japonesas, atualizada como corpus deste ano. Tais listas são úteis não apenas para ferramentas computa-cionais, mas também para aprendizes de língua, já que uma pequena proporçãode palavras muito frequentes cobre a maior parte dos textos, seguindo a lei deZipf (24). A lista foi contribuída para a comunidade global no sítio do Wikcioná-rio, no endereço:

13

https://en.wiktionary.org/wiki/Wiktionary:Frequency_lists/Japanese2015_10000

A monografia para esta matéria será uma análise da força da correlação entre com-ponentes de kanji e suas leituras, tal como aparecem no corpus real—uma resposta aosnúmeros de DeFrancis sobre a foneticidade dos caracteres chineses. Esta análise corres-ponderá a um capítulo da dissertação.

14

3 Bolsa de intercâmbio internacional

Fui selecionado para a bolsa que a Fundação Japão oferece para especialistas em lín-gua e cultura japonesa, cujo objetivo é o treinamento linguístico com imersão, sediadana área de Osaka, Japão. Foram 60 dias de prática de língua japonesa, personalizadapara a pesquisa em minha área.

Durante o período, visitei Terry Joyce, psicolinguista da universidade de Tama, queestá trabalhando com o mesmo tema (2). O programa da Fundação Japão também in-clui orientações para pesquisa bibliográfica. Seguindo este programa, viajei para Tó-quio a fim de visitar a biblioteca do Instituto Nacional de Linguística e Língua Japonesa(国立国語研究所 Kokuritsu Kokugo Kenkyūjo), onde coletei mais de 15 livros e artigos po-tencialmente relevantes para a dissertação. Notoriamente, encontrei um estudo sobreos componentes do léxico japonês (goshuron), que quantifica a proporção de palavrassiníticas (kango) na escrita versus fala (25). Isso nos dá uma medida do grau de diglos-sia do japonês—isto é, do quanto a língua escrita é distinta da falada. Tal dado é crucialpara nossos argumentos, e eu havia procurado essa proporção há meses na literaturaem língua inglesa, sem sucesso. Isso mostra a importância da bibliografia acadêmicanativa, produzida na língua que é objeto de estudo.

Para conclusão do programa, fiz apresentação de pôster em japonês sobre minhapesquisa. O treinamento durou de 12 de junho a 7 de agosto de 2013, e foi completadocom sucesso.

15

4 Participações em congressos

4.1 2013: II Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Ja-poneses

Apresentei palestra sobre minha pesquisa, ilustrando com exemplos extraídos dehistórias em quadrinhos (mangá). Publiquei resumo nos anais do evento (26). O texto(15 páginas) está disponível no endereço:

http://namakajiri.net/letras/mestrado/anais_2013.pdf

4.2 2014: XXIII Encontro Nacional de Professores Univer-sitários de Língua, Literatura e Cultura Japonesa / XCongresso Internacional de Estudos Japoneses no Bra-sil

No xxiii enpullcj / x ciejb, fiz apresentação do andamento da pesquisa, desta vezmostrando a classificação das técnicas expressivas usando kanji. Enviei os prolegôme-nos desta classificação como artigo autônomo para os anais, que ainda estão em vias depublicação. O texto (8 páginas) está disponível no endereço:

http://namakajiri.net/letras/mestrado/anais_2014.pdf

16

5 Outros trabalhos

5.1 Trabalho de Graduação Individual

Como Trabalho de Graduação Individual (tgi) do curso de Bacharelado em Letras,sob a orientação do prof. Sylvio Horta, pesquisei sobre a natureza do chinês literário(ou “clássico”: wényán, japonês kanbun).

A rigor, o tgi não é uma atividade do mestrado. Porém, por já ter formação anterior(como bacharel em Ciência da Computação), eu iniciei meu mestrado em Letras antesde concluir a graduação nesta área; de forma que o tgi foi desenvolvido já enquantomestrando (2013). Além disso, o tema foi escolhido de forma a ser relevante para apesquisa da pós-graduação (mas tomando o cuidado de ser um trabalho independentee distinto).

Investiguei a proposta de Victor Mair, que argumenta que o chinês literário sem-pre foi uma variação linguística distinta da fala, e nunca uma língua de berço (uma“língua natural” no sentido mais estrito, isto é, adquirida como fala por bebês). Isso éimportante para a dissertação, porque a fonte da escrita japonesa foi o chinês literário,especificamente; e se é verdade que este não necessariamente funciona como língua fa-lada, tal fato pode ter impacto no componente sinítico do léxico japonês (as palavraskango), e nas chamadas “leituras sonoras” ou “chinesas” dos kanji (on’yomi).

O tgi ainda não foi publicado. O texto (25 páginas) está disponível no endereço:http://namakajiri.net/letras/tgi/tgi_leoboiko.pdf

5.2 Análise de componentes fonéticos de kanji

Desenvolvi alguns estudos preliminares sobre a foneticidade da escrita japonesa,que disponibilizei na Internet no endereço:

17

http://namakajiri.net/nikki/testing-the-power-of-phonetic-components-in-japanese-kanji/

A análise apresentada é baseada em simples proporção, sem considerar a frequên-cia de uso em textos reais. Uma análise estatística mais sofisticada está reservada paraa dissertação (ver seções 1 e 2.5, acima). Porém, os dados relacionados à análise maissimples já podem ser úteis para programadores e linguistas, por isso foram disponibi-lizados ao público.

5.3 Dicionário japonês/inglês para Linux

No decorrer do mestrado, desenvolvi uma interface Linux para o dicionário Edictde japonês/inglês (27). O programa, chamado myougiden, está disponível no endereço:

https://github.com/leoboiko/myougiden

5.4 Sítio de busca de análises históricas de kanji

No decorrer do mestrado, desenvolvi um sítio que ajuda a comparar diversas análi-ses históricas de caracteres chineses. Um objetivo da ferramenta é ilustrar a diversidadede teorias existentes. O sítio, chamado Kanjigen, está disponível no endereço:

http://namakajiri.net/kanjigen

5.5 Colaborações com projetos públicos

No decorrer do mestrado, foram feitas colaborações menores aos dicionário Edict(na forma de novas entradas, e correções a classificações lexicais) e à base de dadossobre formatos de kanji, KanjiVG. As duas bases estão sendo usadas na pesquisa, enovas descobertas continuarão a ser contribuídas.

18

Parte II

Projeto de Pesquisa

19

6 Justificativa

O sistema de escrita japonês tem sido duramente criticado por linguistas como “opior do mundo”, devido ao uso complexo que faz dos caracteres chineses, os (kanji) (veranexo A à página 28 para exemplos do que é essa complexidade, e por que ela é criti-cada). Ao mesmo tempo, vários outros estudiosos fascinam-se por suas possibilidadesexpressivas ou teóricas (ver seção 1 acima e também, e.g., 1, 3, 28, 29, 30, 31, e o cap.8 de 7). Por mais “complexa” que possa ser considerada sua escrita, o Japão é parado-xalmente uma das sociedades de mais alto índice de letramento do mundo (32), e nãoparece disposto a abolir o uso dos caracteres chineses (como fizeram a Coréia e Vietnã):em uma pesquisa de opinião realizada em 2010, 72,4% dos japoneses consideraram oskanjis “indispensáveis”, e 91,3% afirmaram que eles não causam dificuldade (33).

Precisamente porque a escrita japonesa tem características incomuns, ela é um es-tudo de caso valioso para a linguística. Qualquer modelo teórico que se proponha a ex-plicar o fenômeno da escrita precisa dar conta do japonês, inclusive suas característicasmais extremas, ou seria uma teoria incompleta. Trata-se, portanto, de um laboratórioideal para avaliar teorias.

Além disso, a polêmica que cerca os kanjis é importante para áreas como ensino delíngua japonesa, políticas de linguagem, reforma da escrita, crítica literária e estudosculturais. Uma revisão sintética da literatura teórica tem, portanto, o potencial de serum documento útil para informar inúmeras decisões práticas.

A influente teoria de DeFrancis propõe que os caracteres chineses são, no fundo,fonológicos (baseados no som), assim como as demais escritas do mundo (7, cap. 6).Para testar este modelo em um texto real, o autor tomou como corpus um trecho de100 caracteres—amostra analisada manualmente (op. cit., p. 110). Hoje em dia, é fácilfazer testes em corpora muito maiores—o de nossa pesquisa inclui 781.792.840 kanjisespalhados por mais de 2 bilhões de palavras—o que, esperamos, permitirá melhor re-presentatividade. Além disso, o desenvolvimento das técnicas computacionais permite

20

análises estatísticas mais sofisticadas, capazes de dar conta do uso japonês dos kanjis,que é mais complexo que o chinês. Com isso, poderemos ter uma compreensão maisprecisa dos fatos relacionados à escrita japonesa, sustentada com dados empíricos.

Por fim, um catálogo de formas de expressão particulares ao kanji pode servir comobase para futuras análises, tanto linguísticas quanto literárias.

21

7 Fundamentos Teóricos, Hipóteses eBibliografia

A base teórica do trabalho é a linguística dos sistemas de escrita. Nós usamos as no-ções propostas por Rogers (34) de fonografia e morfografia: a escrita baseada nos sonsda língua, isto é, nos fonemas, versus aquela baseada nas unidades de sentido, os morfe-mas. Estudaremos a proposta de DeFrancis e Unger que toda escrita seria, no fundo, fo-nográfica; nós trabalharemos a hipótese contrária, isto é, que existe uma diferença qua-litativa entre sistemas fonográficos e morfográficos. Ambos os tipos de escrita possuemexceções e complicações consideráveis; estas serão investigadas apoiando-se em Rogers(op. cit.) e também nas discussões de DeFrancis (7, 8), Unger (35), e Sampson (36, 37).Usaremos também o modelo de Hansell (38), que diferencia a estrutura dos sistemas deseu uso (e.g. um sistema morfográfico pode ser usado fonograficamente, e vice-versa).De Joyce (39), adotaremos a teoria que, a despeito de exceções, o princípio básico daescrita kanji é a morfografia, assim como o princípio básico do alfabeto é a fonografia.

Para análise dos componentes internos dos kanjis, além dos trabalhos supracitadosde DeFrancis, usaremos a classificação tradicional do Shuōwén Jiězì 說文解字, do século ii(uma boa descrição é dada em Boltz (40)). O Shuōwén propõe a categoria dos caracteresfono-semânticos (japonês: keisei moji形声文字), que combinam um componente fonográ-fico a um indicador semântico. Essa classe de kanjis, que perfaz a maioria dos caracte-res, é crítica para nossa discussão. Tōdō (41) atualiza o modelo com a proposta queos componentes fonográficos também podem ter, ao mesmo tempo, valor semântico(o que chama de caracteres fono-semânticos ideográficos, kai’i keisei会意形声). Adotare-mos o modelo de Tōdō como o que melhor explica os usos dos kanjis no japonês. ComHansen (42, 43), estudaremos um ponto de vista filosófico sobre os caracteres chine-ses; um argumento importante deste autor é que as teorias populares sobre a escritatêm importância para a compreensão das culturas, mesmo que não sejam verdadeirasdo ponto de vista histórico ou científico.

22

Os kanji foram usados na escrita de várias línguas—e também de várias etapas his-tóricas de cada uma. Isso se torna importante na análise dos componentes fonéticos,uma vez que os sons das línguas mudam sem que a escrita seja atualizada. A linguís-tica histórica é capaz de reconstruir, com razoável precisão, como eram os sons de cadalíngua em diferentes épocas. Escolhemos como confiáveis as reconstruções de Schues-sler(44) (44) (que deliberadamente se atém às reconstruções de maior consenso), parao chinês; e de Frellesvig(45) (45), para o japonês. Outro fato importante é que o japo-nês muitas vezes acumulou em cada kanji vários estratos da mesma palavra chinesa, naforma de diferentes leituras. Quando necessário, usaremos a análise sobre essas leiturasfeita por Miyake(46) (46).

É comum entre os japoneses a crença que os kanjis são necessários para represen-tar a língua (33). Mas, além da evidência histórica em contrário (a literatura em kana,fonográfica, do período Heian), Matsunaga (10) demonstrou que é simples representarfonograficamente a língua japonesa, desde que se façam certas escolhas lexicais. Investi-gando este último ponto, levantamos a hipótese que isso acontece porque o japonês temalgum nível de diglossia: ou seja, que o japonês escrito usa um vocabulário bastante dis-tinto do falado, e não necessariamente é inteligível enquanto tal. O conceito de diglos-sia baseia-se em Ferguson (47), e para sua aplicação aos caracteres chineses seguiremosSnow (48) e Mair (49). Este ponto foi investigado em meu trabalho de graduação (50),e aqui será aplicado através da análise estatística de Miyaji e Kai (25), além de nossaprópria.

A análise de DeFrancis defende que toda escrita precisa ser uma representaçãoda língua falada—um sistema indireto, de segunda ordem. Vachek (12), proponenteda linguística funcional, argumenta que, ao contrário, os fenômenos da escrita só po-dem ser abarcados por um modelo que a trate como sistema linguístico autônomo.Nunberg (13) ilustra esta idéia, descrevendo as estruturas subjacentes do sistema depontuação do inglês—muitas sem correspondentes na fala. É nossa hipótese que estesmodelos explicam melhor os fatos da escrita japonesa. Investigaremos as justificativasfuncionalistas de Vachek sobre a autonomia da escrita, e a proposta de Nunberg quea escrita, embora não seja primária e espontânea como a fala, é uma “aplicação” dosprincípios da linguagem. Usaremos também, com algumas reservas, a discussão deAaron e Joshi (51) sobre até que ponto é apropriado distinguir a escrita da fala comosendo “não natural”.

Uma das maneiras de investigar as hipóteses é através da neurolinguística. Natural-

23

mente, investigações biológicas fogem ao escopo deste estudo, mas faremos uma breverevisão da área. A teoria adotada será a de Dehaene (14, 15), cujos experimentos mos-tram a existência de duas rotas neurais distintas para a leitura: uma fonológica, e umalexical. Todas as escritas usam ambas as rotas, mas Dehaene mostra indícios que o japo-nês especializa os kanjis para a segunda, quando comparados com a escrita fonográficakana. Consideraremos a hipótese que isso influencie certas técnicas de uso das glosasjaponesas, os furigana: mostraremos evidência que as posições de “base” e “glosa” sãoentendidas regularmente como indicadores nos níveis semântico e fonológico, respec-tivamente. Partindo da análise literária de Ariga (30), que trata das glosas na literaturaclássica, estudaremos como são empregadas em exemplos da cultura moderna, tantoerudita quanto popular. Alguns exemplos serão extraídos de Lewis (52), Seeley (53), eRobin D Gill (54); outros foram coletados no decorrer da pesquisa.

24

8 Metodologia

A metodologia principal é a pesquisa bibliográfica. Modelos teóricos são coletados,analisados e comparados, em uma tentativa de síntese do estado da arte das diversasáreas. A argumentação teórica faz uso de exemplos concretos, partindo do princípioque uma teoria precisa explicar todos os fatos, e não apenas os mais comuns; assim,quando um fato serve de contra-exemplo para um modelo, procuramos algum outromodelo capaz de explicá-lo.

Como argumentação auxiliar, usamos a análise estatística de corpus. O corpus es-colhido foi a Wikipedia japonesa, por sua acessibilidade, diversidade de tópicos, e mag-nitude (mais de 2 bilhões de palavras, na edição coletada). As leituras dos kanjis dessecorpus, porém, precisam ser inferidas automaticamente. Usamos para isso a ferramentaMecab (55), cuja taxa de acertos é estimada como superior a 96% (56), e que teve osmelhores resultados em nossos testes. A análise em si está sendo feita com as ferra-mentas Python (57) e R (58). Usamos também informações sobre kanji dos projetosKanjidic (59) e KanjiVG (60). O objetivo da análise é quantificar a força da correlaçãoentre componentes dos kanjis e suas leituras, como estimativa de quanta informaçãofonográfica está disponível para o leitor ou leitora de kanji.

25

9 Plano da dissertação

9.1 Capítulo 1: Introdução

Introduzimos o tema a partir da polêmica sobre a escrita japonesa como “a pior”.Mostramos alguns exemplos de como funcionam os kanjis e por que são consideradoscomplexos.

9.2 Capítulo 2: Escrita, som e sentido

Este capítulo, o mais longo da dissertação, consiste em revisão crítica sobre as teo-rias do kanji, com objetivo de síntese. Ele incluirá seções sobre:

• Os modelos de sistema de escrita fonográficos e morfográficos, usando como exem-plos o alfabeto romano, tal como usado no português e inglês; e o kanji, tal comousado no japonês. Será dada atenção especial aos casos excepcionais, como o usopouco fonético das letras romanas pelo inglês, e os casos nos quais o kanji japonêsviola o princípio morfográfico.

• Outros componentes da escrita japonesa, incluindo: as glosas (furigana), a origeme funcionamento das leituras traduzidas (kun’yomi), as “leituras traduzidas emmúltiplos caracteres” (jukujikun), as leituras fonográficas de kanjis (ateji e man’yō-gana), e a escrita fonográfica kana.

• A composição interna dos kanjis, introduzindo o conceito de “componente”, eilustrando o que são componentes semânticos (pistas de sentido) e componentesfonéticos (pistas de leitura).

• Breve apresentação da neurolinguística da leitura, no que tange à distinção entremorfografia e fonografia.

26

• O histórico do “mito do ideograma”, e por que a idéia tradicional de “ideograma”não corresponde aos fatos.

Cronograma previsto: Setembro de 2015.

9.3 Capítulo 3: Medindo a foneticidade da escrita japo-nesa

Este capítulo consistirá em uma análise sobre o quão foneticamente previsíveis sãoos kanjis usados em um corpus real: O texto completo da Wikipedia japonesa. Apresen-taremos as estimativas de DeFrancis sobre foneticidade do chinês, propondo análisesmais adequadas à escrita japonesa. Dentre as especifidades do japonês, levamos emconta as diferenças entre leituras siníticas (on’yomi) e nativas/traduzidas (kun’yomi), apossibilidade de múltiplas leituras para cada caractere, os processos de transformaçãomorfo-fonológicos (que são previsíveis para falantes nativos), a forma visual dos ca-racters modernos japoneses (shinjitai), e o conjunto de caracteres considerados de usogeral (Jōyō Kanji/Jinmeiyō Kanji). Esses caracteres serão decompostos automaticamente,e seus componentes correlacionados estatisticamente com as leituras que ocorrem naprática, no texto real.

Todos os programas desenvolvidos e todos os dados utilizados estarão acessíveispara o público geral, permitindo reprodução dos resultados e também análises futuras.O texto da dissertação incluirá os resultados dos cálculos e discussão, incluindo nosanexos listagens de alguns dados interessantes.

Cronograma previsto: Julho de 2015, acompanhando a conclusão da disciplina Tó-picos de Análise Quantitativa de Variáveis Linguísticas (ver seção 2.5 à página 12 acima).

9.4 Capítulo 4: Técnicas expressivas com kanjis

Neste capítulo, apresentaremos uma classificação de técnicas expressivas que só sãopossíveis com kanjis (ou outras escritas morfográficas). Estas técnicas serão ilustradascom exemplos extraídos de diferentes mídias, estilos e registros. Uma segunda seçãodiscutirá, à luz destes exemplos, as duas abordagens teóricas sobre a escrita, a saber:Como representação da fala e como sistema linguístico autônomo.

Cronograma previsto: Outubro de 2015.

27

9.5 Capítulo 5: Conclusão

Discussão sumarizando os resultados obtidos e sintetizando os conhecimentos so-bre kanji.

Cronograma previsto: Novembro de 2015.

28

ANEXO A -- Texto atual da dissertação

O texto abaixo está em processo de desenvolvimento, com algumas referências in-completas. Seções em estado de rascunho estão aqui apresentadas em itálico.

A.1 Introdução

A.1.1 Escrita japonesa: A pior do mundo?

O sistema de escrita japonês personifica, quiçá, a mais complicada maneirade escrever jamais imaginada. (61, p. 167)

[…] Geralmente considerado o sistema de escrita mais complicado do mundo…(62, p. 205)

[…] É necessário que eu diga algo sobre a escrita japonesa, amplamente con-siderada a mais complexa atualmente em uso. (63, p. 132)

[…] Em mãos japonesas, os caracteres chineses transformaram-se naquiloque é com frequência chamado de o sistema de escrita mais intricado, o maiscomplicado já usado por uma população de tamanho razoável. […] Nemmesmo o sistema original chinês se compara à adaptação japonesa, no quediz respeito à complexidade e aparente impraticabilidade. (64, p. 122)

Foi apenas a partir de 1950 que todas as crianças japonesas em idade es-colar passaram a ter que suportar a plena carga do que é considerado, porconsenso geral, o sistema de escrita mais oneroso atualmente em uso. (35,p. 11)

29

[…] Os japoneses terminaram por ficar com um dos piores sistemas de es-crita jamais criados. (8, p. 138)

Isto pode já estar parecendo complexo, mas eu mal comecei a descrever osistema. […] A ortografia japonesa partilha com a inglesa a distinção de sera pior da sua categoria, exceto que ao invés de ser a pior da categoria boa, elaé a pior da categoria ruim. […] Como os fabricantes da Lexus LS-400,1 dosmelhores microeletrônicos do mundo conseguem viver com um sistema deescrita como esse—eis um fato além da compreensão. (29, p. 26–28)

Temos de hesitar ao buscar imaginar um epíteto que descreva um sistemade escrita tão complexo que precisa do apoio de um outro sistema de escritaapenas para explicá-lo.2 A escrita japonesa, sem dúvida, prova ser uma áreade estudos deveras fascinante; mas enquanto ferramenta prática, ela é umaescrita certamente sem inferiores. (65, p. 44)

As citações acima talvez soem como julgamentos arbitrários de colonizadores doséculo dezesseis, mas não são. Elas provêm de trabalhos tecnicamente precisos, de au-toria de renomados especialistas modernos—autores que são profundos conhecedoresdas escritas do mundo, e da japonesa em particular. O tom ácido, indisfarçado, destoado restante de suas obras, quase todo composto de análises objetivas e impassionais.Por que a escrita japonesa provoca opiniões tão fortes?3

O ponto polêmico na escrita japonesa é o uso dos caracteres chineses (em japonês,kanji—literalmente, “caracteres chineses”). Criados para representar o chinês literário (49,50), esses caracteres foram adaptados para o japonês a partir do século viii (66). Seu usoimplica nas seguintes desvantagens (67, p. 214):

• Existem milhares de caracteres que precisam ser memorizados;

• Além disso, cada caractere pode possuir várias leituras, multiplicando ainda maisa carga na memória;

• E como há várias leituras possíveis, é difícil prever qual a correta em cada caso.1Modelo de luxo da fabricante de automóveis Toyota.2Sansom se refere às glosas, rubi ou furigana; ver seção A.2.3.3Esta amostra de citações foi baseada na lista de 2.

30

Ilustremos o argumento com o caractere ‹雨›. Originalmente, ele foi criado pararepresentar a palavra chinesa “chuva” (em mandarim moderno, yù). No Japão, o ca-ractere foi empregado para representar esta palavra chinesa, tomada de empréstimocomo u. Posteriormente, ele foi também empregado para a palavra nativa que significa“chuva”, ame (ver sobre a técnica de tradução kanbun kundoku, na seção A.2.3). Percebaque o mesmo caractere é usado para representar palavras diferentes, com pronúnciascompletamente distintas. Dizemos que o caractere tem várias “leituras”:

Caractere Leitura Tipo de leitura雨 u Chinesa, ou “pelo som” (on’yomi)雨 ame Nativa japonesa, ou “tradução” (kun’yomi)

Tabela A.1: Leituras regulares do caractere ‹雨›

Não bastasse isso, o mesmo caractere também foi usado de outras formas:

Palavra Grafia japonesa Leitura de ‹雨› TraduçãoAme 雨 ame “chuva”Ama-dare 雨だれ ama “gotas de chuva”Haru-same 春雨 same “chuva de primavera”Bai-u 梅雨 u “estação das chuvas”Tsuyu 梅雨 não se aplica (ver abaixo) “estação das chuvas”

Tabela A.2: Algumas leituras do caractere ‹雨›

Nos três primeiros exemplos, a palavra japonesa ame se altera para ama- ou -same,mas essa variação não aparece na escrita. Para saber como ler as formas雨 ame,雨だれ a-madare e春雨 harusame, é necessário memorizá-las uma por uma.

O quarto exemplo, baiu, é um empréstimo do chinês.4 A palavra significa literal-mente a “chuva” (u) das “ameixeiras” (bai), e se refere a um período chuvoso no meiodo verão, quando as ameixeiras vicejam exuberantes com a água. Note que o emprés-timo chinês u, “chuva”, é escrito de forma idêntica às palavras nativas japonesas ame,ama-, e -same. Ou seja, todos estes quatro sons são leituras possíveis do caractere雨.

O quinto exemplo, tsuyu, é o mais complexo. A palavra tsuyu (etimologicamente,“orvalho”) é o termo japonês para a mesma estação descrita por baiu. Observe, em pri-meiro lugar, que a escrita das palavras baiu e tsuyu é idêntica:梅雨. Apenas o contexto e

4A pronúncia em chinês medieval era *muậi-yuB (68, pp. 377; 587).

31

experiência permitem adivinhar qual das duas leituras o escritor tinha em mente. Essaspalavras formam um par de quase-sinônimos: baiu, de origem chinesa, é mais literária,enquanto que o equivalente nativo, tsuyu, soa mais natural.5

Ainda sobre o quinto exemplo: na palavra tsuyu, o caractere 雨 não tem leitura in-dividual. Não é o caso que um caractere represente tsu e outro yu; mas sim que o parde caracteres 梅雨, tomado como um todo, representa a palavra indivisível tsuyu. Istoacontece porque a grafia chinesa 梅雨, de dois caracteres, foi adotada na íntegra pararepresentar sua tradução em japonês, tsuyu. O nome deste método de escrita é “expli-cação em japonês de uma combinação de caracteres” (jukujikun; para mais informações,ver seção A.2.3).

As seguintes palavras ou expressões incluem o caractere 雨 na grafia, e estão mar-cadas no dicionário Edict como “frequentes” (27):

Leitura Expressões Númerou u-ten, u-ryō, kō-u, gō-u, ji-u, fū-u, rai-u, bai-u, u-ki 9ama- ama-gumo, ama-gu, ama-do, ama-yadori, ama-mori, ama-mizu, ama-

dare7

ame ame, ko-ame, oo-ame, ame-furi, naga-ame, niwaka-ame 6-same kiri-same, ko-same 2Outras tsuyu, shigure 2

Tabela A.3: Palavras frequentes cuja grafia inclui o caractere雨

Todas as 26 leituras precisam ser aprendidas caso a caso—e não estamos contandopalavras menos frequentes, como 五月雨 samidare “chuvas do quinto mês, chuvas nocomeço do verão”.

Note que tudo o que vimos até agora foram as leituras de um único caractere. Parafuncionar como cidadão letrado na sociedade japonesa, todo estudante precisa apren-der na escola 4505 6 leituras de 2136 caracteres—processo que leva anos, só terminandono equivalente do ensino médio (69).

5Isso é comparável à forma que o português distingue empréstimos gregos eruditos, e.g. geológico ouheliocêntrico, de palavras nativas latinas, como terrestre e solar.

6Distribuídas da seguinte forma: 2352 leituras chinesas (on’yomi); 2036 leituras nativas (kun’yomi); e117 leituras de combinação de caracteres (jukujikun). Algumas destas leituras são muito comuns, e outrasraramente usadas; mas todas estão inscritas no currículo escolar, ou seja, espera-se que um adulto asconheça de cor.

32

Começamos a entender o porquê das opiniões negativas sobre a escrita japonesa.

Há ainda mais uma crítica ao uso do kanji: A de que todo esse esforço de memori-zação é desnecessário, por ser perfeitamente evitável (10, pp. 122–123). A escrita portu-guesa, por exemplo, usa apenas 26 caracteres, e consegue representar qualquer palavracom eles. Isso é possível porque as letras representam os sons desta língua, que sãopoucos—menos de 40. Não seria mais racional representar o japonês também por estemétodo? E mais, o japonês já possui uma baseada no som: O kana, que com 46 símbolosconsegue representar qualquer palavra japonesa de forma simples e não-ambígua. Mas,na grafia atualmente em uso, os kana intercalam-se com kanji no mesmo texto. Eles sãousados até mesmo em paralelo: Quando um escritor estima que um kanji será muito di-fícil, ele mostra sua leitura através de glosas (anotações) em kana. Mas por que se dar aotrabalho de usar kanji em primeiro lugar? Se já estamos usando kana, que é mais simplese pode representar tudo, por que não simplesmente escrever tudo em kana? Sabemosque isto é possível porque 1) historicamente já aconteceu, na chamada “literatura emkana” do período Heian, e 2) é possível ouvir a língua japonesa e compreendê-la atra-vés do som (como toda língua natural, adquirida por bebês); então tem que ser possívelrepresentá-la a partir do som (16, 10).

Historicamente, a Coréia e o Vietnã usavam sistemas mistos semelhantes ao japo-nês. Ambos os países abandonaram os caracteres chineses com sucesso (64, cap. 7). Oscríticos que vimos acima defendem que o Japão deveria fazer o mesmo, propondo queisso traria benefícios sociais diversos. Por exemplo, Unger e Matsunaga acreditam queo sucesso na aquisição de kanji depende da oportunidade de boa educação, ou seja, queo uso de uma escrita complexa implicaria em desvantagens sistêmicas para as criançasmais pobres (10, p. 139; 70). Unger argumenta ainda que essa desvantagem na escolaseria uma das causas de suicídio estudantil (71, p. 94–95). Unger e DeFrancis afirmamque a escrita japonesa seria difícil de processar digitalmente, o que diminuiria a compe-titividade do Japão no mercado informatizado (8, pp. 266–268; 71). Hannas afirma quea didática do kanji, baseada na memorização, reforçaria uma cultura de conformismo,atrasando a inovação científica (29). Tudo isso, dizem os críticos, poderia ser melhoradoabandonando o uso dos caracteres chineses.

No Japão, já no período Meiji (1868–1912) apareceram propostas para simplificar aescrita—seja com a grafia kana, seja com o alfabeto romano que usamos no português.Ainda hoje existem grupos que defendem a abolição dos kanji, como o Nippon-no-

33

Rômazi-Sya7 e o Kanamojikai.8 Porém, tais grupos sempre foram minoria; o público emgeral não parece interessado em simplificar a escrita (70, p. 127). Em uma pesquisa deopinião do governo japonês em 2010, 72,4% dos entrevistados julgaram indispensáveisos caracteres kanji, e 91,3% afirmaram não ter dificuldades em decodificá-los para lerjornais, revistas e páginas da Internet (33). Se por um lado o Japão usa “a pior escritado mundo“, por outro o país tem uma taxa de letramento altíssima, chegando a 99%da população (32).

Como vimos, a escrita japonesa desperta em alguns especialistas uma retórica es-pecialmente cáusticas. Porém, em outros casos a reação é o inverso: Igualmente emoci-onal, porém exaltada, exoticista, elegíaca. Considere o trecho de Lafcadio Hearn citadona epígrafe deste trabalho (72, p. 4):

…Tal qual uma epifania, descerá então sobre ti a certeza de que a singulari-dade fantástica dessas ruas deve-se quase toda a essa profusão de caracte-res chineses e japoneses, pintados em branco, preto, azul, ouro, que a tudoornamentam—até os umbrais, os painéis de papel… Talvez então, por umbreve instante, imagines o efeito que faria substituir tais caracteres mági-cos por letreiros à inglesa; e a simples idéia causar-te-á um choque brutal(seja qual forem as tuas sensibilidades estéticas); e tornar-te-ás então, assimcomo eu me tornei, um inimigo da Rômaji-Kwai—aquela sociedade fundadacom o propósito feio e utilitário de introduzir o uso das letras inglesas paraescrever o japonês.

Na citação da página 29, Samson se mostra chocado com a combinação de kanji ekana do japonês: Um sistema tão complicado que precisa de outro subsistema internoapenas para explicar-se. Ariga, porém, valoriza a riqueza expressiva que só é possívelatravés dessa combinação (30, p. 335):

Esta marginalia pode ter sido originalmente acessória; porém, escritas de di-versos estilos empregaram-na para criar os mais variados efeitos literários.Nos três exemplos de textos gesaku examinados acima, as glosas rubi sãovitais na criação de imagens compostas e de espaço semântico […] Exami-nando sua função, entendemos o intrincado jogo polifônico e polissêmicoque se encontra na literatura japonesa.

7http://www.age.ne.jp/x/nrs/8http://www9.ocn.ne.jp/~kanamozi/

34

Os caracteres chineses exercem fascínio, atração, deleite estético. Os japoneses de-monstram certo orgulho nacionalista sobre eles, mesmo sabendo que o sistema não énativo (10, p. 122). Estrangeiros que sequer entendem os caracteres investem dinheiropara tê-los decorando as casas, as roupas, até mesmo o próprio corpo (73). Unger, crí-tico, comentou sobre essa tendência com indisfarçado desdém (35):

[…] A sedução do kanji tem também um aspecto estético que muitas vezesleva a uma paixão pelos gostos da caligrafia do Extremo Oriente. […] Emcasos extremos, o aficcionado começa a perceber um grandioso padrão sub-jacente a todos os caracteres, ignorado até pelos próprios asiáticos. Comoum jogador de xadrez memorizando aberturas, ele grava cada novo carac-tere na memória como se estivesse tomando um esteróide para o cérebro,ou armazenando uma nova pérola de sabedoria em algum caixinha de jóiasmentais. Cedo ou tarde, quase todo estudante de uma língua do ExtremoOriente cai presa de tais sentimentos, ou conhece um colega que caiu. [… olivro de Unger se dirige] especialmente àquele que está contemplando gastaralguns meses, ou quiçá toda uma vida, em devoção monástica a um rosáriode caracteres chineses.

Mas Unger não se detém no porquê dessa estranha atração. O que há na escritakanji que motiva opiniões tão fortes e tão contrárias? Por que os japoneses insistemem continuar usando um sistema tão complicado? As desvantagens dessa escrita estãoclaras, mas haveria alguma vantagem—algo que só um sistema complexo possa fazer?

A.1.2 Objetivos

Este trabalho tem os seguintes objetivos:

• Sintetizar uma descrição abrangente do sistema de escrita japonês.

Dada a polêmica que cerca a escrita japonesa, julgamos frutífero fazer uma revi-são crítica da literatura até hoje, buscando integrar, em um modelo abrangente, ospontos levantados por vários disciplinas. Lurie(1) observou que crítica desta es-crita está associada a um discurso que contrapõe a linguística a outras áreas. Istoé, muitos dos debates têm um caráter disciplinar, sendo travados por “aliados”linguistas contra estudiosos percebidos como “de fora”: Filósofos, críticos literá-rios, psicólogos e assim por diante. Por isso, embora o foco desta dissertação seja a

35

teoria linguística, buscamos considerar também trabalhos da teoria literária, dosestudos culturais, da filosofia da linguagem, etc. Mais do que apenas descreveras teorias existentes, temos a ambição de integrá-las em um todo coerente. Busca-mos com isto i) enriquecer a compreensão de como funciona a escrita japonesa, eii) oferecer uma modesta contribuição ao diálogo interdisciplinar.

• Entender as consequências da escrita japonesa para a teoria linguística.

Precisamente por ser incomumente complexa, a escrita japonesa é de grande in-teresse teórico. Um modelo científico precisa tentar descrever todos os dados, in-clusive os casos extremos e atípicos. Se determinada teoria sobre a escrita não dáconta de explicar os fatos próprios da escrita japonesa (ou de qualquer outra), issosignifica que esta teoria é demasiado limitada.

Nesta dissertação, comparamos duas abordagens teóricas opostas: a de que a es-crita seria essencialmente uma transcrição da linguagem falada; e a de que a es-crita seria um sistema autônomo, isto é, uma aplicação independente dos prin-cípios da linguagem (ver capítulo A.4.1). Argumentamos que os fatos da escritajaponesa são melhor explicados pela teoria do sistema autônomo.

• Investigar as possibilidades da escrita japonesa.

Segundo o argumento de Unger(70), a escrita japonesa continua em uso sobre-tudo por inércia, somada ao conservadorismo político. No entanto, como discu-tido na seção A.1.1, a opinião pública japonesa é bastante favorável ao sistema,e há estudiosos que admiram-se por seus desdobramentos. Será que o uso destaescrita seria mesmo puramente ideológico, ou haveriam vantagens concretas? Seela fosse substituída por uma mais simples, algo se perderia perderia? Esclarecerestas questões é outro de nossos objetivos.

A.1.3 Metodologia

A metodologia principal é a síntese teórica a partir de pesquisa bibliográfica. Inves-tigamos modelos abstratos e estudos concretos sobre a escrita japonesa, analisamo-loscriticamente, e criamos uma descrição linguística da escrita japonesa, que sintetize oestado da arte das diversas áreas. Esta síntese compõe o capítulo A.2.

Para análise e crítica de certas propostas teóricas, usamos a análise estatística decorpus. O corpus escolhido foi a Wikipedia japonesa, por sua acessibilidade, diversi-dade de tópicos, e magnitude (mais de 2 bilhões de palavras, na edição coletada). As

36

leituras dos kanjis desse corpus, porém, precisaram ser inferidas automaticamente. Usa-mos para isso a ferramenta Mecab (55), cuja taxa de acertos é estimada como superiora 96% (56), e que teve os melhores resultados em nossos testes. A análise em si foi feitacom as ferramentas Python (57) e R (58). Usamos também informações sobre kanji dosprojetos Kanjidic (59) e KanjiVG (60).

Especificamente, o objetivo da análise de corpus foi quantificar a força da correla-ção entre componentes dos kanjis e suas leituras; ou seja, tentar estimar objetivamentequanta informação fonográfica está disponível para o leitor ou leitora de kanji. Os re-sultados são discutidos no capítulo A.3.

Outro método empregado para argumentação teórica foi o levantamento de contra-exemplos. Buscamos técnicas da escrita japonesa que são específicas ao seu sistema deescrita, e que iluminam vantagens e problemas com os diferentes modelos. Para de-monstrar que tais técnicas são inerentes ao sistema, e não apenas exceções ou anomalias,buscamos apresentar uma amostra eclética, abrangendo diversos períodos e registroslinguísticos (literatura, cultura popular, propaganda etc.). No capítulo A.4, propomosuma classificação e terminologia para as técnicas de expressão usando kanji.

A.1.4 Convenções

Por se tratar de um trabalho sintético sobre teoria linguística, empregamos grandenúmero de convenções. Esta seção lista todas elas, como referência. Além disso, quandouma notação técnica é empregada pela primeira vez, ela é acompanhada de uma notade rodapé introduzindo-a brevemente.

Ao introduzir e definir um termo técnico, marcamo-lo em negrito. Estas definiçõesestão reunidas no Glossário de Termos Técnicos.

Termos estrangeiros estão grafados em itálico. Exceto quando notado, os termos sãodo japonês. Quando do primeiro uso de cada expressão, uma tradução é oferecida entreaspas. Estas traduções estão reunidas no Glossário de Termos Estrangeiros.

Sons linguísticos estão representados no Alfabeto Fonético Internacional (ipa). Parauma descrição completa desta notacão ver 74, ou manuais de introdução à linguística(e.g. 75). O Apêndice ?? traz uma breve descrição dos símbolos empregados nesta dis-sertação. Seguindo o padrão ipa, transcrições fonéticas estão representadas entre col-chetes , e transcrições fonológicas entre barras (ver seção A.2.2 para uma explicação doque são transcrições “fonéticas” e “fonológicas”).

37

Quando queremos discutir uma letra ou caractere enquanto tal (e não seu som ousignificado), citaremo-lo com ‹aspas angulares›, seguindo o padrão de Rogers (34) eoutros.

Para representar o japonês moderno no alfabeto romano, usaremos o padrão Hep-burn. Uma tabela completa desta notação, acompanhada de transcrição fonológica, estádisponível no Apêndice ??. Estágios anteriores da língua seguem a reconstrução e no-tação de Frellesvig (45).

O mandarim está representado no sistema pīnyīn, descrito no Apêndice ??. O chinêsantigo segue a reconstrução e notação de Schuessler (44).

Traduções morfológicas (glosas morfológicas) seguem o padrão Leipzig (76, 27–29). Nesse sistema, as palavras do original e da tradução ficam alinhadas à esquerda,e os morfemas, separados por hífens, são traduzidos um a um. Morfemas funcionais(gramaticais) são representados na tradução por sua função, grafada em maiúsculas.(Para mais explicações sobre estes termos, ver o capítulo A.2.3.)

A.2 Escrita, som e sentido

A.2.1 Introdução

A.2.2 Representando a língua pelo som: A fonografia

Unidades sonoras da língua: Fonemas

Distinção fone/fonema. Representação ipa.

O alfabeto latino na escrita portuguesa

Caracteres ou grafemas. Exemplos de equivalência regular caractere/fonema 1:1. Variaçãofonética condicionada. Exemplos de quebra da equivalência:

• Mais caracteres que fonemas: letras mudas, dígrafos

• Mais fonemas que caracteres: ‹x› /ks/

• Escrita ambígua (N:1 caracteres:fonemas)

• Leitura ambígua (1:N caracteres:fonemas)

38

Exemplos de notação não-fonológica:

• Distinções gráficas (‹tem/têm›, ‹por que/porque›, ‹seção/sessão›)

• Pontuação

• Algarismos arábicos

• Negrito, etc.

A escrita japonesa kana

Sílabas versus moras. Equivalência regular kana:mora. Exemplos não regulares: processosfonéticos, nasalização, semivogais. /Q/ e /N/. Hiragana e katakana.

A.2.3 Representando a língua pelo sentido: A morfografia

Unidades de sentido da língua: Morfemas

Definição como sequências fonológicas mínimas que carregam sentido. Exemplos do portu-guês, japonês.

Os caracteres chineses em seu uso original

Natureza “telescópica” ou “elástica” das línguas chinesas, diglossia e monossilabismo. Equi-valência regular 1:1:1 entre morfemas:sílabas:caracteres. Exemplos de homófonos. Exemplo depalavras como húdié e tendência a privilegiar equivalência de sílabas. Tendência resultante deatribuir significados às sílabas, a posteriori.

Componentes: Pistas de som e sentido

Exemplos de pistas fonológicas, e de pistas semânticas. Juxtaposição das duas. Classificaçãodo Shuowen dos 6 tipos de caracteres, com exemplos. Indecibilidade da natureza dos componen-tes (fonético ou semântico), debate Boodberg/Creel, e proposta de Tōdō sobre componentes quedesempenham ambos os papéis.

39

Os caracteres chineses na escrita japonesa

Abordagem histórica: Por que é útil para a explicação.

Chinês clássico, kanbun ondoku, diglossia no Japão, e magnitude da leva de empréstimos.On’yomi: camadas Go’on, kan’on, tōsō’on e suas origens (46). Kango. Pervasividade e longevi-dade desses processos: exemplo do empréstimo de 的 em Meiji.

Uso fonográfico dos kanji: Origem na China e evidência da transmissão via Coréia (77). Otermo “Man’yōgana” e por que ele é inapropriado. Origem dos kana e sua natureza originalmentecaligráfica (alógrafos, não ainda grafemas). Hentaigana e sua longevidade. Uso fonográfico dokanji ainda hoje: o ateji.

Tradição de glosas e kanbun kundoku. Exemplo: Leitura improvisada de rolo caligráfico porjaponês moderno. Comparar com glosas emilianenses do latim. Kun’yomi e sua origem no kun-doku. Traduções de múltiplos caracteres: O jukujikun. Notar que nenhuam dessas leituras éapoiada pelos componentes fonológicos.

Consequências: quebra das relações 1:1 caractere:sílaba, 1:1 caractere:morfema. Diminuiçãodo grau de foneticidade. Exemplos nas duas direções (mais caracteres do que morfemas/sílabas,ou o contrário). Casos extremos: gisho.

Normalização: Tōyō/Jōyō kanji, Jinmeiyō kanji, shinjitai. Fim do hentaigana e assentamentodos papéis: kanji para morfografia, kana para fonografia.

A.2.4 O mito do ideograma

Fenollosa e por que está errado. Natureza linguística dos textos em chinês, japonês. Impor-tância da parte fonológica: estudos de psico- e neurolinguística. DeFrancis e a retórica da crí-tica ao mito. Casos particulares em que efetivamente são usados ideograficamente: superstição,Man’yōshū. Hansen, diglossia, fonologia parasítica e “primazia do caractere”.

A.2.5 Neurologia da leitura

Dehaene: localização cerebral da capacidade de leitura (letterbox area), exaptação, e relaçãoespacial com outros módulos cerebrais—especialmente som, léxico. Diferença entre as rotas le-xical e fonológica. Agrafia rasa e agrafia profunda. Enfatizar que toda escrita utiliza ambas asrotas, inclusive as fonográficas. Indícios de especialização de rotas no caso japonês, kana/kanji.

40

A.3 Medindo a foneticidade da escrita japonesa

Apresentação dos argumento de DeFrancis. Inadequações: Representatividade, e especifici-dades do japonês.

Apresentação do corpus e ferramenta de análise automática. Limitações: erros, leituras es-peciais/nomes. KanjiVG, Kanjidic, e ferramentas geradas para esta análise. Estudo anterior deproporção.

Conjuntos de caracteres: Jōyō e Kanken. Estatísticas interessantes para cada grupo:

• Listagem por frequência (discutir lei de Zipf)

• Distribuição do número de leituras por caractere

• Proporção de leituras on/kun/outras

• Listagem completa dos componentes

Definindo “componente fonológico” sincronicamente. Transformações fonológicas previsí-veis: rendaku, sokuon. Leituras aproximadas e parciais. Índices: cobertura de kanjis, coberturade leituras.

Resultados finais da correlação entre componentes e leituras, tal como ocorrem no corpus.Listagem dos componentes potencialmente fonológicos do Jōyō. Discussão.

A.4 Técnicas expressivas com kanjis

A.4.1 Modelos teóricos da escrita

Qual a relação entre a escrita e a fala? Este capítulo introduz duas abordagens teó-ricas opostas, para depois experimentá-las em certos fatos da escrita japonesa.

A primazia da fala e o modelo transcricional

Segundo Kuhn(78), o progresso da ciência se dá por uma sucessão de exemplares detrabalho, chamados paradigmas. Os paradigmas são estudos influentes, cujo método eobjetivo vêm a ser imitados por mais pesquisadores. Cada paradigma pressupõe umateoria que explica determinados fatos, e propõe também um programa de pesquisapara investigar os fatos ainda não explicados.

41

No paradigma atualmente dominante na linguística, associado a Chomsky e à es-cola gerativista, a linguagem é considerada uma capacidade inata da espécie humana,biologicamente pré-configurada na estrutura do cérebro (79, 80). Uma evidência im-portante para essa teoria é a aquisição linguística: Todos os bebês adquirem espontane-amente qualquer língua a que sejam expostos, independente da inteligência individual,e mesmo sem receber nenhuma explicação sobre a gramática (81). Esse processo dito“natural” de aquisição, porém, só se dá através da fala sonora ou (no caso das línguas desinais) de gestos manuais; nunca pela escrita. A escrita precisa ser aprendida mais tarde,após a aquisição da fala, com instrução explícita e esforço consciente. Por isso, linguis-tas desta orientação rejeitam expressões como “linguagem escrita”; a escrita não fariaparte desta capacidade biológica chamada “linguagem”. A linguagem propriamentedita seria apenas a fala, definida como língua em voz ou gesto, enquanto a escrita seriameramente um artefato cultural (Aronoff(82) , p. 28; Pinker(80) , p. 2).9 Este princípioé chamado de primazia da fala (Lyons(83) ; DeFrancis(8) , pp. 217–218).

O princípio da primazia da fala atende bem ao pressuposto biológico do paradigmagerativista, mas não se limita a isto. Vários argumentos já foram levantados para definira fala como “primária”; Lyons(83) reúne os principais:

• Todo ser humano precisa aprender a fala antes da escrita (primazia ontogenética);

• Toda cultura conhecida desenvolveu fala antes da escrita (primazia filogenética);

• A escrita serviria para—ou, no mínimo, teria origem na—representação da fala(primazia estrutural);

• E a fala serviria a propósitos mais amplos que a escrita (primazia funcional).

A idéia remonta a Aristóteles, para quem “palavras faladas são símbolos da ex-periência mental, e palavras escritas são símbolos das palavras faladas” (84, parte 1).No estabelecimento da linguística moderna, no começo do século xx, Saussure definiucomo objeto linguístico a palavra falada, e afirmou ainda que a única razão de ser dapalavra escrita é representar aquela (85, p. 34). Este pressuposto se manteve entre osestruturalistas americanos; Bloomfield famosamente definiu que: (11, p. 21)

A escrita não é linguagem, mas meramente uma forma de gravar a lingua-gem por meio de sinais visíveis.

9Para uma opinião contrária dentro da linguística gerativa, ver 51.

42

Ou seja, a escrita seria, nas palavras do livro de DeFrancis sobre o tema, a fala tor-nada visível (8). E, uma vez que a fala é composta por uma sequência linear de fonemas,a escrita seria fundamentalmente uma forma de representar esses fonemas.

Chamaremos o modelo da escrita como transcrição da fala de modelo transcricio-nal.

A escrita como sistema linguístico autônomo

A postura teórica oposta à primazia da fala é a da autonomia da escrita, associadasobretudo à escola funcionalista de Praga. Para os linguistas funcionalistas, a estru-tura da linguagem está interligada às suas funções; e, para Vachek, a função da escritaé radicalmente distinta da fala. A fala, em seu uso natural, serve para interação con-versacional e efêmera. Já a escrita foi construída para comunicação durável com umaaudiência ampla e indeterminada; explorando o meio não-linear (bidimensional), elabusca a clareza de sentido, a visão panorâmica (surveyability), a busca espacial de infor-mação. Seria por esse motivo, por exemplo, que preferimos estudar linguística atravésde livros-texto do que transcrições de áudio, ainda que estas hoje sejam tecnologica-mente possíveis: O meio escrito é mais claro para a visão geral, para a releitura, a buscade informações específicas. Esta distinção funcional faria com que, em sociedades le-tradas, a escrita evoluísse para além da simples representação da fala, tornando-se umsistema autônomo com características formais próprias (12, p. 1–8; 56–60).

Nunberg descreve algumas dessas estruturas abstratas próprias da escrita (13). Oautor observa que, mesmo que a escrita não seja parte da capacidade natural da lingua-gem, suas estruturas podem ser analisadas com as ferramentas teóricas da linguística.Isso é possível porque, ainda que seja uma invenção, a escrita é uma “aplicação” dacapacidade de linguagem: (13, p. 1–7)

Quero dizer com isto que o sistema [de categorias textuais abstratas] sur-giu como uma espécie de aplicação dos princípios de design da linguagemnatural, tomados como ferramenta para impor alguma ordem no conteúdolexical dos textos escritos. Visto como um todo, o sistema não tem análogosna língua falada (embora algumas de suas funções se assemelhem a váriosmecanismos da fala). Ao invés disso, o sistema surgiu, no decorrer da padro-nização da escrita, em resposta às necessidades comunicativas específicas daescrita, e aproveitando-se dos recursos que apenas a notação gráfica oferece.

43

A escrita é o que se segue, grosso modo, do ato de assentar a língua (settinglanguage down).

Os defensores da primazia da fala estão, é claro, cientes que existem elementos naescrita que não correspondem a nada na fala (tais como a pontuação, a tipografia, oua organização bidimensional em tabelas). A diferença está na centralidade teórica: nomodelo transcricional (primazia da fala), os elementos autônomos são considerados pe-riféricos ou excepcionais, e não mudariam o fato que a escrita seria fundamentalmenteum registro indireto da fala. Já para o modelo da escrita autônoma, a presença desseselementos é uma demonstração que a escrita trabalha com princípios de linguagem, nãoda fala.

Mais argumentos: Relação entre modelo transcricional e prospota de DeFrancis, que todaescrita representa fonemas. Relação entre modelo transcricional e crítica da escrita japonesa: Sea sua teoria é que toda escrita representa sons, você pode tender a minimizar formas de expressãoescrita que claramente não representam sons.

A.4.2 Reanálise morfológica

Mudar o sentido sem mudar o som. Comparar com etimologias populares e brincadeiras dereanálise; cf. (86).

Semântica

Quando o sentido alterado é apropriado para aquele contexto.

Em uma escrita fonográfica, a reanálise é invisível: não há como distinguir na ortografiaportuguesa o “comemorar” = “com memória” do “comemorar” = “comer”. Mas a morfografiarepresenta a língua no nível dos morfemas, o que abre a possibilidade de tornar as reanálisesexplícitas – e de usá-las para fins expressivos. Considere o romance Hotaru no Haka, “Cemitériodos Vagalumes”.

44

A história (trágica) gira em torno dos bombardeios incendiários de Tóquio na SegundaGuerra, e os “vaga-lumes” do título aludem à crença de que vaga-lumes são as almas dos mortospelo fogo. “Vaga-lume” em japonês é hotaru, palavra normalmente grafada com um único kanji,蛍—o que implica uma análise como morfema indivisível. O livro em questão, porém, grafa-acomo 火垂る ho-taru, com os morfemas “fogo” e “gota”; sem mudar o som, o autor faz com que“vaga-lume” seja lido como “pingos de fogo”, remetendo à violência das bombas.

Esse tipo de operação não é exclusiva da literatura. Considere o videogame Shin MegamiTensei, de público-alvo adolescente e temática de fantasia e terror. Neste jogo, os jogadores lutamcontra monstros, mas podem também negociar com as criaturas e formar alianças.

A palavra japonesa para “companheiro” é nakama, normalmente escrita仲間; os kanji repre-sentam os morfemas naka “relacionamento” e ma “intervalo, espaço”. Isto é, a própria ortografiajá impõe a análise de nakama como “dentro do espaço pessoal”. Porém, no videogame em questãoa palavra é grafada como 仲魔. O caractere 魔 representa o morfema ma, “demônio”; nakama éentão reanalisada como “relacionamento-demoníaco, monstro compactuado”—tudo sem alteraro som.

A presença abundante destas técnicas no entretenimento infanto-juvenil—jogos, quadri-nhos, light novels—é um dado importante, pois indica que tais formas de expressão não se res-tringem à sofisticadas manobras poéticas. A ilustração acima, por exemplo, é de um anúncio derevista do jogo Shin Megami Tensei; isso implica que os publicitários confiam que seu públicoadolescente (ainda em processo de letramento de kanji) entenderá os jogos de sentido sem maioresdificuldade.

45

Lúdica

Quanto a reanálise não faz sentido; como um jogo entre autor e leitor. 兎に角 e outros Sōse-kismos.

A.4.3 Paralelismo

Como vimos, glosas fonêmicas em furigana tipicamente são usadas para fins como: auxiliarpúblico-alvo em processo de letramento; ajudar a ler kanjis raros e pouco conhecidos; ou selecionarexplicitamente uma de várias leituras (morfemas) possíveis naquele contexto. Em tais usos, osfurigana se restringem às leituras dicionarizadas dos kanjis que acompanham. Porém, o sistemade furigana abre a possibilidade de inovar nas leituras atribuídas.

Com palavras japonesas

Na obra de ficção Nansō Satomi Hakkenden, de Bakin (período Edo), aparece a frase:

「そは又えう

要なきおくりもの

人情」

[glosa morfológica]

O sentido superficial é “Trata-se de uma recompensa desnecessária”. Um guerreiro samuraiestá agradecendo ao senhor pela recompensa que recebeu no cumprimento do dever. Porém, apalavra okurimono “recompensa” aparece como leitura furigana para os kanjis 人情—que nãorepresentam os morfemas de okurimono, como seria esperado, mas sim a palavra ninjō “Bene-volência” (uma das Cinco Virtudes confucianas). Lembre-se da divisão de trabalho da escritajaponesa: kana para som e kanji para sentido. Como a posição furigana é especializada para aleitura, entendemos que o samurai pronunciou a palavra okurimono. Mas como os kanji abaixode um furigana nos dizem quais são os morfemas—o sentido—que correspondem àqueles fone-mas, o leitor entende que o sentido subjacente, implícito, não-pronunciado da “recompensa” é“benevolência”: O samurai não está emocionado apenas com o presente material em si, mas simcom a demonstração de generosidade do senhor.

Esta técnica também é usada na cultura popular moderna. Por exemplo, no volume 6 domangá infanto-juvenil Rurōni Kenshin, aparece a seguinte fala:

46

A tradução é “Comporte-se e permaneça aqui”. Porém, a palavra koko, “aqui”, está grafadacomo leitura furigana dos kanjis 東京, “Tóquio”. O contexto é que uma guerra está explodindoem Kyoto, e a personagem está ordenando rudemente a outra que não vá ao campo de batalha,pois é fraca demais para ser útil. O que sai da boca da personagem é “aqui”, mas os kanji nos dãoo sentido subjacente ao dêitico: fique “aqui” = em Tóquio, longe da luta.

O aparelho vocal humano só pode produzir um som de cada vez, e portanto a língua faladaé necessariamente linear: Cada fonema se segue a outro, e cada posição sintática é ocupada poruma só palavra. Na técnica do paralelismo, a escrita japonesa combina duas palavras na mesmaposição. [cf. Jakobson: eixos sintagmático, paradigmático.] Isso causa um efeito diferente de ex-plicações em parênteses ou notas de rodapé; e este efeito se deve ao fato do leitor ser treinado paraencontrar fonemas nas glosas, e morfemas correspondentes nos kanjis. Dehaene: Pode-se especu-lar que o efeito expressivo especial do paralelismo talvez seja causado pela combinação das duasrotas neurais de leitura.

Com palavras estrangeiras

Uma outra maneira de usar paralelismo com fins expressivos é combinar kanjis com termosestrangeiros. Por exemplo, o conto de Haruki Murakami, Sidney no Green Street (2006) começada seguinte forma:

Sidney no Green Street wa…シドニーのグリーン・ストリートは[…]

“A Green Street de Sidney […]”

Todas as palavras estão grafadas fonemicamente em kana. O narrador descreve a rua comoimunda e decrépita e, alguns parágrafos depois, comenta:

47

Nanoni dōshite ‘Green Street’ nado to iu…「なのにどうして『

グリーン・ストリート

緑通り』などという[…]」

Porém [não sei] por que ela se chama Green Street…”

Desta vez, o nome estrangeiro Green Street aparece como furigana para a palavra japonesaem kanji緑通り midori-doori “rua verde”. Sabemos que o narrador enunciou Green Street porqueo furigana marca a pronúncia, mas neste ponto o texto quer enfatizar o significado das palavrasem inglês, e para isso ilustra-o com kanji. Normalmente o furigana serve para ajudar a ler umkanji difícil, mas na técnica do paralelismo com termo estrangeiro, as funções se invertem: é okanji que ajuda a entender o sentido de uma palavra desconhecida.

Note que, como discutido acima, o efeito estético subjetivo é diferente de inserir uma traduçãosequencialmente, em parênteses ou notas.

“Deep Submerge!”

Tampouco se restringem tais técnicas à linguagem criativa; este recurso também é útil emtextos técnicos ou acadêmicos. Por exemplo, no livro de crítica literária Koten Nihongo no Sekai(Okamoto 2007), são discutidos os termos em inglês National Literature e National History. Am-bos estão escritos na forma de glosas furigana, sobre as palavras japonesas correspondentes, emkanji:国文学 (kokubunka) e国史 (kokushi). A combinação de fonogramas com morfogramas per-mite introduzir os termos técnicos estrangeiros (referentes ao estudo do nacionalismo do séculoxix) e simultaneamente equipará-los às suas glosas.

想像が〈国民の言葉〉に及ぶのは半ば必然であり、同じことは「ナショナル・リテラチュア

国文学」

や「ナショナル・ヒストリー

国史」にも当てはまります。

48

A.4.4 Técnicas visuais

Harmonia visual

Exemplos do Man’yōshū. Fenollosa.

Uso simbólico do sistema de escrita

Hiragana para crianças, katakana para gaijin. Kana para indicar palavras não compreendi-das. Uso coloquial de palavras como “kanji”, “henkan”.

Peso

Ideograma

A.4.5 Outras técnicas

Referências culturais

Argumentum ad sinogramma

Trocadilhos matemáticos

A.5 Conclusões

49

Referências Bibliográficas

1 LURIE, D. B. Language, writing, and disciplinarity in the critique of the‘‘Ideographic Myth’’: Some proleptical remarks. Language & Communication, Elsevier,n. 26, p. 250–269, 2006. Disponível em: <http://www.columbia.edu/˜dbl11/Lurie-LangWritingDisc.pdf>.

2 JOYCE, T. Japanese writing system (JWS). 2012. Disponível em: <http://faculty.tama-.ac.jp/joyce/jws.html>.

3 FENOLLOSA, E. et al. [S.l.]: Fordham University Press. ISBN 9780823228683.

4 BOHM, A.; STATEN, H.; CHOW, R. Derrida and Chinese writing. PMLA, ModernLanguage Association, v. 116, n. 3, p. pp. 657–660, 2001. ISSN 00308129. Disponívelem: <http://www.jstor.org/stable/463507>.

5 CAMPOS, H. de; DANTAS, H. de L. Ideograma: lógica, poesia, linguagem. São Paulo:EDUSP, 1994. ISBN 9788531401701.

6 UNIVERSIDADE DE SãO PAULO. Resolução Nº 6542: Baixa o Regimento dePós-Graduação da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2013. Disponível em: <http:/-/www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-no-6542-de-18-de-abril-de-2013-2>.

7 DEFRANCIS, J. The Chinese Language: Fact and Fantasy. Honolulu: University ofHawai’i Press, 1984. ISBN 9780824810689.

8 DEFRANCIS, J. Visible Speech: The Diverse Oneness of Writing Systems. Honolulu:University of Hawai’i Press, 1989. ISBN 9780824812072.

9 KENNEDY, G. A. The butterfly case. In: Selected Works of George A. Kennedy. [S.l.]:Tien-yi Li, 1964. p. 274–322.

10 MATSUNAGA, S. The Linguistic and Psycholinguistic Nature of Kanji: Do KanjiRepresent and Trigger only Meanings? Tese (Doutorado) — University of Hawai’i,Honolulu, August 1994.

11 BLOOMFIELD, L. Language. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1933.

12 VACHEK, J.; LUELSDORFF, P. Written language revisited. Philadelphia: J. Benjamins,1989. ISBN 9789027220646.

13 NUNBERG, G. The Linguistics of Punctuation. Stanford: Center for the Study ofLanguage and Information, 1990. (CSLI Lecture Notes). ISBN 9780937073469.

14 DEHAENE, S. Reading in the brain: The new science of how we read. New York:Penguin, 2009.

50

15 NAKAMURA, K. et al. Subliminal convergence of kanji and kana words: Furtherevidence for functional parcellation of the posterior temporal cortex in visual wordperception. Journal of Cognitive Neuroscience, Massachusetts Institute of Technology,v. 17, n. 6, p. 954–968, 2005.

16 LAMARRE, T. Uncovering Heian Japan: an archaeology of sensation and inscription.Durham: Duke University Press, 2000. ISBN 9780822325185.

17 KYŪYŌ, I. Taction: The Drama of the Stylus in Oriental Calligraphy. [S.l.]: InternationalHouse of JApan, 2011. (LTCB International library selection). ISBN 9784924971318.

18 LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: University of Chicagopress, 1980.

19 COWART, M. Embodied Cognition. Internet Encyclopedia of Philosophy, 2005.Disponível em: <http://www.iep.utm.edu/embodcog/>.

20 NOORDZIJ, M. L.; POSTMA, A. Language of space: A comparison between blindand sighted individuals. In: GYSELINCK, V.; PAZZAGLIA, F. (Ed.). From MentalImagery to Spatial Cognition and Language. New York: Psychology Press, 2012. cap. 7.ISBN 9781848720497.

21 VEGA, M. de. Language and action. In: GYSELINCK, V.; PAZZAGLIA, F. (Ed.).From Mental Imagery to Spatial Cognition and Language. New York: Psychology Press,2012. cap. 8. ISBN 9781848720497.

22 BAKER, M. C. Lexical categories: Verbs, nouns and adjectives. Cambridge: CambridgeUniversity Press, 2003.

23 UEHARA, S. Syntactic categories in JApanese: A typological and cognitive introduction.Tese (Doutorado) — University of Michigan, Tokyo, 1995.

24 SORELL, C. J. Zipf’s law and vocabulary. In: . The Encyclopedia of AppliedLinguistics. Hoboken: Blackwell, 2012. ISBN 9781405198431. Disponível em:<http://dx.doi.org/10.1002/9781405198431.wbeal1302>.

25 MIYAJI, Y.; KAI, M. “Nihongogaku” Tokushū Tēma Betsu Fairu: Goi 3: Goshuron /Wago. [S.l.]: Meiji Shoin, 2008. ISBN 987-4-625-43410-5.

26 BOIKO, L. O sistema de escrita japonês: Além da fala. In: . II Encontro dePós-Graduandos em Estudos Japoneses. São Paulo: Humanitas, 2013. p. 89–112.

27 BREEN, J. et al. The EDICT Dictionary File. 2015. Disponível em: <http://www-.edrdg.org/jmdict/edict.html>.

28 CREEL, H. On the nature of Chinese ideography. T’oung Pao, n. 32, p. 85–161, 1936.

29 HANNAS, W. C. Asia’s Orthographic Dilemma. Honolulu: University of Hawai’iPress, 1997. ISBN 9780824818920.

30 ARIGA, C. The playful gloss. rubi in Japanese literature. Monumenta Nipponica,Sophia University, v. 44, n. 3, p. pp. 309–335, 1989. ISSN 00270741. Disponível em:<http://www.jstor.org/stable/2384611>.

51

31 LURIE, D. B. Realms of Literacy: Early Japan and the History of Writing. Cambridge:Harvard University Asia Center, 2011.

32 CIA. CIA World Factbook: Literacy. 2015. Disponível em: <https://www.cia-.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2103.html>. Acesso em:2015.

33 BUNKACHŌ. Heisei 21 Nendo “Kokugo ni kan-suru Seron Chōsa” no Kekka nitsuite [Sobre os resultados da pesquisa “A opinião popular sobre a língua nacional” noano fiscal de 2010]. Tokyo: Bunkachō [Agência para Assuntos Culturais], 2010.Disponível em: <http://www.bunka.go.jp/kokugo nihongo/yoronchousa/h21/pdf-/h21 chosa kekka.pdf>.

34 ROGERS, H. Writing Systems: A Linguistic Approach. Hoboken: John Wiley & Sons,2004. (Blackwell Textbooks in Linguistics). ISBN 9780631234647.

35 UNGER, J. M. Ideogram: Chinese Characters and the Myth of Disembodied Meaning.Honolulu: University of Hawai’i Press, 2004. ISBN 9780824827601.

36 SAMPSON, G. Writing Systems: A Linguistic Introduction. Stanford: StanfordUniversity Press, 1985. ISBN 9780804717564.

37 SAMPSON, G. Chinese script and the diversity of writing systems. Linguistics,n. 32, p. 117–132. Disponível em: <http://www.grsampson.net/ACsa.html>.

38 HANSELL, M. Functional answers to structural problems in thinking aboutwriting. In: ERBAUGH, M. (Ed.). Difficult Characters: Interdisciplinary Studies of Chineseand Japanese Writing. Columbus: Ohio State University, 2002. ISBN 9780874153446.

39 JOYCE, T. The significance of the morphographic principle for the classification ofwriting systems. Written Language & Literacy, John Benjamins Publishing Company,v. 14, n. 1, p. 58–81, 2011.

40 BOLTZ, W. The origin and early development of the Chinese writing system. Michigan:American Oriental Society, 1994. (American oriental series). ISBN 9780940490789.

41 TŌDŌ, A. Kanji Gogen Jiten. Tokyo: Gakuto, 1965.

42 HANSEN, C. Chinese ideographs and Western ideas. The Journal of Asian Studies,Association for Asian Studies, v. 52, n. 2, p. 373–399, 1993. ISSN 00219118. Disponívelem: <http://www.jstor.org/stable/2059652>.

43 HANSEN, C.; UNGER, J. M. Communications to the editor. Association forAsian Studies, v. 52, n. 4, p. pp. 949–957, 1993. ISSN 00219118. Disponível em:<http://www.jstor.org/stable/2059346>.

44 SCHUESSLER, A. ABC etymological dictionary of Old Chinese. Honolulu: Universityof Hawai’i Press, 2007.

45 FRELLESVIG, B. A History of the Japanese Language. Cambridge: CambridgeUniversity Press, 2010. ISBN 9780521653206.

52

46 MIYAKE, M. H. Old JApanese: a phonetic reconstruction. New York: Routledge, 2003.ISBN 0415305756.

47 FERGUSON, C. A. Diglossia. In: HYMES, D. (Ed.). Language in culture and society.New York: Harper and Row, 1966. p. 429–439.

48 SNOW, D. Diglossia in east asia. Journal of Asian Pacific Communication, JohnBenjamins, Amsterdam, v. 20, n. 1, p. 124–151, 2010.

49 MAIR, V. H. Buddhism and the rise of the written vernacular in East Asia: themaking of national languages. The Journal of Asian Studies, Association for AsianStudies, Ann Arbor, v. 53, n. 3, p. 707–751, 1994. ISSN 00219118. Disponível em:<http://www.jstor.org/stable/2059728>.

50 BOIKO, L. Chinês literário: Uma língua escrita. 2013. Disponível em: <http:/-/namakajiri.net/letras/tgi/tgi leoboiko.pdf>.

51 AARON, P. G.; JOSHI, R. M. Written language is as natural as spokenlanguage: A biolinguistic perspective. Reading Psychology, London, v. 27, n. 4, p.263–311, 2006. Disponível em: <http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080-/02702710600846803>.

52 LEWIS, M. Painting worlds and words. Columbia East Asia Review, New York,v. 3, p. 28–45, 2010. Disponível em: <http://www.eastasiareview.org/issues/2010-/articles/Lewis Mia.pdf>.

53 SEELEY, C. A history of writing in Japan. Leiden: E.J. Brill, 1991. (Brill’s JApanesestudies library). ISBN 9789004090811.

54 GILL, R. D. Orientalism & Occidentalism: Is Mistranslating Culture Inevitable?Miami-Dade: Paraverse Press, 2004.

55 KUDŌ, T. MeCab: Yet Another Part-of-Speech and Morphological Analyzer. 2013.Disponível em: <http://taku910.github.io/mecab/>.

56 MORI, S. Keitaisokaiseki (Hinshi Suitei). 2011. Disponível em: <http://plata.ar-.media.kyoto-u.ac.jp/mori/research/topics/PST/>.

57 PYTHON SOFTWARE FOUNDATION. Python. Disponível em: <https://www-.python.org/>.

58 GENTLEMAN, R.; IHAKA, R. et al. The R Project for Statistical Computing.Disponível em: <http://www.r-project.org>.

59 BREEN, J. et al. The Kanjidic/Kanjd212 Project. Disponível em: <http://www.csse-.monash.edu.au/˜jwb/kanjidic.html>.

60 APEL, U. et al. KanjiVG. 2013. Disponível em: <http://kanjivg.tagaini.net/>.

61 FISCHER, S. R. History of Writing. London: Reaktion Books, 2004.

62 ROBINSON, A. The story of writing: Alphabets, hieroglyphs & pictograms. London:Thames & Hudson, 2007.

53

63 SPROAT, R. W. A computational theory of writing systems. Cambridge, Massachusetts:MIT Press, 2000.

64 COULMAS, F. The writing systems of the world. Hoboken: Wiley, 1989. ISBN9780631180289.

65 SANSOM, G. B. An historical grammar of Japanese. Oxford: The Clarendon Press,1928. Disponível em: <http://archive.org/details/historicalgramma00sansuoft>.

66 SEELEY, C. A history of writing in Japan. Leiden: E.J. Brill, 1991. (Brill’s Japanesestudies library). ISBN 9789004090811.

67 SMITH, J. S. Japanese writing. In: BRIGHT, W.; DANIELS, P. T. (Ed.). The world’swriting systems. Oxford: Oxford University Press, 1996.

68 SCHUESSLER, A. Minimal Old Chinese and later Han Chinese: a companion toGrammata Serica Recensa. Honolulu: University of Hawaii Press, 2009.

69 MEXT. 常用漢字表 Jōyō Kanji–hyō. 2010. Disponível em: <http://www.mext-.go.jp/b menu/hakusho/nc/k19811001001/k19811001001.html>. Acesso em:2015.

70 UNGER, J. M. Literacy and script reform in occupation Japan: Reading between the lines.New York: Oxford University Press, 1996. ISBN 9780195356380.

71 UNGER, J. M. The fifth generation fallacy: Why Japan is betting its future on artificialintelligence. New York: Oxford University Press, 1987.

72 HEARN, L. Glimpses of Unfamiliar Japan. New York: Houghton, Mifflin, 1895.Disponível em: <https://archive.org/details/glimpsesunfamil09heargoog>. Acessoem: 2015.

73 TANG, T. Hanzi Smatter. 2015. Disponível em: <http://hanzismatter.blogspot-.com>. Acesso em: 2015.

74 IPA. Handbook of the International Phonetic Association. Cambridge: CambridgeUniversity Press, 1999.

75 TSUJIMURA, N. An Introduction to Japanese Linguistics. 2. ed. Oxford: BlackwellOxford, 2006. ISBN 1405110651.

76 HASPELMATH, M.; SIMS, A. D. Understanding morphology. London: Arnold, 2002.

77 BENTLEY, J. R. A descriptive grammar of early old Japanese prose. Leiden; Boston;Köln: Brill, 2001. ISBN 9004123083.

78 KUHN, T. The structure of scientific revolutions. Chicago: University of ChicagoPress, 1996. ISBN 9780226458083.

79 CHOMSKY, N. Biolinguistics and the Human Capacity. 2004. Disponível em:<http://www.chomsky.info/talks/20040517.htm>.

80 PINKER, S. The language instinct: How the mind creates language. [S.l.]: HarperCollins,2010.

54

81 GLEITMAN, L. R.; NEWPORT, E. L. The invention of language by children:Environmental and biological influences on the acquisition of language. An invitationto cognitive science, MIT Press, Cambridge, MA, v. 1, p. 1–24, 1995.

82 ARONOFF, M. Orthography and linguistic theory: The syntactic basis of MasoreticHebrew punctuation. Language, Linguistic Society of America, Washington, v. 61, n. 1,p. pp. 28–72, 1985. ISSN 00978507. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable-/413420>.

83 LYONS, J. Human language. Non-verbal communication, p. 49–85, 1972.

84 ARISTÓTELES. On Interpretation. Tradução: E. M. Edghill. 2009. Disponível em:<http://classics.mit.edu/Aristotle/interpretation.html>.

85 SAUSSURE, F. D. Curso de Linguística geral. São Paulo: Editora Cultrix, 2008.

86 GONÇALVES, C. A.; ANDRADE, K. E.; ALMEIDA, M. L. L. de. Se a macumbaé para o bem, então é boacumba: análise morfoprosódica e semântico-cognitiva dassubstituições sublexicais em português. Linguística, v. 6, n. 2, 2010. Disponível em:<http://www.letras.ufrj.br/poslinguistica/revistalinguistica/index.php/linguistica-cognitiva/se-a-macumba-e-para-o-bem-entao-e-boacumba-analise-morfoprosodica-e-semantico-cognitiva-das-substituicoes-sublexicais-em-portugues/>.