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Capítulo Seis da Web-Serie (A Escolha) Segunda Temporada

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Page 1: A Escola - 6. A Festa de Inauguração

A EscolhaA EscolhaA EscolhaA Escolha

Por Marcos Sá

Page 2: A Escola - 6. A Festa de Inauguração

6. A Festa de Inauguração

Duas semanas depois.

Renan sabia que não podia deixar tudo como estava. O clima entre ele e o

pai já não era dos melhores; não demoraria muito pra sua mãe perceber que

alguma coisa estava errada. Henrique havia ligado e pedido para que o garoto

fosse lhe encontrar em sua casa; lhe disse que tinha umas coisas para mostrar e

que poderiam interessar. Renan não havia contado nada sobre o exame de

paternidade, não precisava que ficassem especulando.

A cabeça do garoto estava repleta de informações. Desde o seu encontro

com aquele homem misterioso, estava tentando entender as suas quedas e

esquecimentos, mas tudo estava sendo em vão. O homem lhe havia dito que

sabia como curar tudo o que ele estava passando e pediu, simplesmente, que ele

dissesse que queria. Renan, por sua vez, disse ao homem que faria qualquer coisa

para que tudo fosse embora; o mais velho, então, sorriu e saiu de perto do garoto

cantarolando.

Renan chegou, na casa do Henrique, e percebeu que a porta estava aberta.

Ele colocou a cabeça pro lado de dentro e pediu licença. Ninguém apareceu para

recebê-lo. Como já se sentia de casa, entrou e foi para a cozinha. Queria saber se

havia alguém no cômodo, mas não encontrou uma pessoa sequer. Aproximou-se

da escada e olhou pro andar de cima. Não parecia haver nenhum movimento. O

garoto subiu as escadas, devagar, e foi em direção ao quarto do amigo.

Aproximando-se da porta, ele começou a ouvir o amigo falando com alguém.

- O que você quer dizer com isso? – Henrique falou, mas como o Renan

não ouviu outra voz, deduziu que ele falava ao telefone. – Como conseguiu o meu

número? – o garoto parou mais uma vez. – Olha, você não vai ficar me

ameaçando... Pode fazer o que quiser, mas se eu te pego, você tá fodido.

Henrique desligou a ligação e saiu do quarto, assustando-se com a

presença do Renan.

- Renan? O que cê tá fazendo aqui em cima? – ele parecia bem surpreso.

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- Você pediu que eu viesse.

- Eu sei, mas... Quem abriu pra você? – o garoto parecia assustado.

- Ninguém. Eu cheguei e a porta estava aberta.

- A porta estava aberta? – Henrique ficou, descaradamente, assustado. –

Como assim?

- Ow, como assim? A porta estava aberta... não estava fechada.

- Meu Deus. – Henrique se abaixou e puxou o seu amigo.

- O que cê tá fazendo? – Renan não estava entendendo nada.

- Alguém está aqui em casa. Alguém invadiu a casa.

Renan ficou assustado também depois de ouvir o que o amigo acabara de

falar. Os dois foram saindo do quarto bem devagar e estavam tentando escutar

algum movimento.

- Como você sabe... – Renan fora impedido de terminar a sua frase porque

o Henrique fizera um barulho e o mandara falar baixo. – Tem alguma coisa a ver

com a ligação que você recebeu? – agora, Renan falara quase sussurrando. – O

que está acontecendo?

- Nada demais. Não se preocupe.

Os dois garotos continuaram olhando pelos cômodos da casa tentando

identificar quem havia entrado sem permissão. Depois de vasculhar todos os

cantos, perceberam que ninguém estava do lado de dentro. Alguém poderia até

ter entrado, mas não ficara.

- Onde está a Rita? – Renan perguntou.

- Ela saiu com a minha mãe. Foram resolver uns problemas de

documentação da empresa.

- Tem certeza que não deixaram a porta aberta? – Renan ficou olhando

para a rua.

- Não... Eu as vi sair e desci para saber se haviam trancado a porta.

- Temos que avisar a polícia.

- Vamos... vamos fazer isso.

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A delegacia só não estava vazia porque havia uma recepcionista utilizando

o computador. Os garotos contaram o que acontecera, e ela havia perguntado

todos os detalhes importantes. Ela disse a eles que mandaria um carro da polícia

vasculhar o local pra ter certeza de que ninguém entrasse.

- Esse condomínio já foi mais seguro. – Renan disse.

- Pois é... Agora, qualquer um entra aqui.

...

Nicole esperava pelo seu príncipe encantado como todas as noites estavam

acontecendo. Ao sinal da meia-noite, a sua porta se abria e o homem misterioso

entrava para fazê-la se sentir a mulher mais desejada do mundo. Era incrível

como, com ele, ela não parecia tão usada, tão dada.

- Pensei que não ia chegar nunca. – ela sorriu e mostrou o seu corpo nu

para o seu amante.

- Não sei o que se passa em minha cabeça, mas só lhe digo que você me

deixa louco.

Transaram por muito tempo.

Quando estava perto de amanhecer, o homem despertou, pegou as suas

coisas e foi embora. Como todos os dias, Nicole nem percebeu que ele saíra. Era

como se fosse um conto de fadas. Todos os dias, à meia-noite, o príncipe lhe

aparecia, lhe fazia feliz e desaparecia ao amanhecer. Era algo que a fazia sentir

como Julieta... A questão era esperar que o seu final não fosse tão trágico.

...

Estavam se aproximando do último dia de aula. A euforia começava a se

mostrar. A escola já estava toda enfeitada para o Natal, e todos já começavam a

planejar as suas viagens de verão. Renan, Henrique e Rita continuavam juntos

como se o ano tivesse acabado de começar. Não havia nada para ser

comemorado. As famílias das vítimas ainda estavam sofrendo com tudo que

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acontecera e, querendo ou não, o Renan ainda era um suspeito das duas mortes

misteriosas.

- Então, alguma pista de quem possa ter entrado lá em casa? – perguntou a

Rita.

- Nenhuma. Os policiais disseram que, nesta madrugada, ninguém se

aproximou da casa. – Henrique respondeu.

- Tudo muito estranho. A gente tem que averiguar isso. Pode ser a salvação

para o Renan... Se a gente descobrir quem é, com certeza, poderemos pedir que

averigúem a sua situação em relação às mortes.

- É verdade. – Henrique confirmou.

Os três ficaram juntos por um bom tempo, até que Henrique olhou pro

lado e percebeu alguma coisa. Soltou um sorriso, que chamou a atenção dos

outros dois, e se levantou. Despediu-se do casal e disse que os encontrava em

outra hora. Renan achou estranho, tentou entender o que tinha feito o seu amigo

se levantar tão repentinamente. Olhou para o lado em que o outro estava

olhando, mas não conseguiu ver nada demais. Apenas estavam sentados

conversando grupos de outras séries... Ninguém que pudesse fazer com que ele se

interessasse.

- O Renan tem andado estranho ultimamente. – disse a irmã.

- É. Eu peguei ele conversando com alguém, no celular, e parecia estar

sendo ameaçado. Ele parece estar guardando algum segredo e não quer que

alguém, em especial, descubra.

- O que será? – Rita ficou olhando o caminho que o irmão tinha traçado.

- Não sei... Mas o Henrique sabe que se precisar de mim estarei aqui. Estou

muito preocupado, mas se ele não me pediu ajuda é porque já está lidando com a

situação da melhor forma possível.

Renan aproveitou o tempo a sós com o pai em casa para poder conversar.

- Filho, você não vai pra inauguração da praça? – Antônio perguntou sem

querer dar força ao gelo que havia se estabelecido.

- Vou. Só queria aproveitar que todos já saíram pra ficar a sós com você.

Page 6: A Escola - 6. A Festa de Inauguração

- O que houve? – o pai havia perguntando, mas não parara de ajeitar a sua

roupa.

- Não seja cínico.

- Não vou deixar que você fale assim comigo, rapaz. – o pai havia fechado a

cara, e o garoto percebera que teria ido longe demais.

- Desculpa. – ele falou, mas não quis baixar a guarda. – Então, o que vai

fazer em relação a minha mãe? – Antônio fechou os olhos como se estivesse

chateado com toda essa história.

- Olha, meu filho, eu peço que você vá viver a sua vida como um

adolescente normal. É o seu último ano na esc0la. Você já estudou tudo que tinha

que estudar pro vestibular; agora, você deve sair um pouco... Se divertir com os

seus amigos. Sei que foi um ano difícil... Mas você é um adolescente... Aproveite

isso. – o pai ajeitou a gravata. – Agora, vamos que estamos atrasados.

Antônio saiu sem dar a chance de o seu filho retrucar. Renan foi atrás do

pai.

- Você não vai dizer nada a ela? – o pai parou, no meio da rua, para olhar

para ele.

- Você tem certeza que quer continuar conversando isso aqui no meio da

rua? – Como Renan não disse nada, ele continuou. – Muito bem. Vamos andando

que a sua mãe já está esperando a gente lá.

O garoto havia percebido que não daria pra manter aquela discussão. O

seu pai estava cerrado com a ideia de que não iria contar para a sua mãe

enquanto as coisas ainda estivessem tão suspensas assim. Por um lado, Renan

começara a entender, pois aquilo poderia ser uma arma contra a sua inocência e,

ainda, havia a possibilidade de novos interrogatórios, pois o suspeito número um

ainda era ele.

As coisas ficaram mais limpas pela influência do seu pai. Um grande

advogado sempre conhece os homens de poder a ponto de conseguir livrar a cara

dos seus filhos. Porém, o delegado estava no encalço... Não deixaria aquela

história desparecer com muita facilidade.

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Eles chegaram ao local da festa. As pessoas estavam animadas. Um rapaz

com um violão tocava músicas interessantes, e todos os convidados estavam

bebendo e comendo enquanto conversavam sobre diversas coisas. Renan, assim

que chegou, percebeu que a mãe da última vítima estava lá. Ela olhava pra ele

como se o estivesse vigiando. Até aquele dia, ela ainda acreditava que o assassino

da sua filha havia sido ele.

Renan não se sentia à vontade percebendo que os olhos da mulher o

seguiam por todas as partes. Era incrível como aquilo o incomodava. Ele começou

a tentar se envolver no público para que não fosse visto pela mulher; por outro

lado, ela não percebia que ele estava se sentindo incomodado e continuava

encarando-o a vigiar.

Henrique percebeu que o seu amigo estava assim e foi para perto dele.

- Tá fugindo de quem? – Renan se assustou ao ouvir a voz do amigo.

- Rapaz, a mãe da Mariana está me encarando e me seguindo.

- Que estranho... Você acha que ela quer fazer alguma coisa? – Henrique

perguntou abismado.

- Não... Acho que ela está, simplesmente, me vigiando.

- E você está fugindo dela? – ele perguntou.

- Claro... Me incomoda.

- Tá louco? Cê tem que ficar na visão dela. Se caso aconteça alguma coisa,

você vai estar a salvo, porque ela vai dizer que sabe onde você estava.

No momento em que o Henrique disse isso, Renan avistou o homem

misterioso que havia conversado com ele no dia em que descobrira sobre a

paternidade do seu pai.

- Espera, eu já volto.

Renan saiu correndo para encontrar o homem. Ele ficou, no meio das

pessoas, tentando localizá-lo, quando olhou para a sua direita, percebeu que ele

estava saindo da festa. Renan começou a pensar, consigo mesmo, em qual era a

possibilidade de aquele homem entrar no condomínio. “Será que ele tem uma

casa por aqui?”.

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O garoto continuou correndo atrás do homem. O misterioso homem de

preto foi andando e se distanciando cada vez mais da festa. Renan parou, na

frente de uma casa, e ficou olhando para todos os lados tentando identificar o

paradeiro dele.

- Tá me procurando? – perguntou o homem de preto.

- Sim... – Renan havia se assustado com a chegada dele. – O que está

fazendo aqui?

- Apenas observando. – o homem estava fumando um cigarro.

- Como entrou aqui no condomínio? – Renan percebeu que eles estavam

sozinhos.

- Conheço pessoas daqui. – o homem se sentou na entrada de uma das

casas.

- De onde você é? E como você disse que poderia me ajudar?

- Tenha calma... Eu vou lhe ajudar.

- Quem é você?

- Eu sou aquele que vai lhe salvar... Que vai ajudar a tudo chegar ao fim.

- Tudo o que?

- Sua insônia, a forma como esquece de tudo...

- Você é um médico?

- Ah, quase isso... – o homem sorriu para o garoto. – Eu costumava salvar

as pessoas também... mas isso me foi tirado.

- Como assim?

- Olha, Renan, quanto menos você souber, melhor...

- Você está relacionado às mortes?

- Não. – o homem se levantou.

- E então, o que vai fazer pra me ajudar?

- Você quer se livrar dessa loucura toda, não quer?

- Claro que sim. Minha mãe já marcou uma consulta com o médico pra

saber o que está acontecendo com a minha cabeça.

- Tá... Tudo bem. Agora, eu tenho que ir. E, se fosse você, não ficaria muito

longe dos seus amigos. Corra.

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O homem de preto empurrou o garoto que acabou pisando em falso e

tomando uma queda. A casa ficava em uma pequena subida, o que fez com que o

Renan caísse embolando pela pequena descida. O garoto não conseguiu

encontrar mais o homem de preto que já havia saído de perto. Renan percebeu

que a sua cabeça estava quente. Passou a mão na testa e percebeu que estava

sangrando. Ele sentiu a cabeça doer de uma forma intensa. Não podia acreditar

que não tinha ninguém por perto para salvá-lo.

Ele tentou subir para chegar até a casa onde estava, à porta, conversando

com o misterioso homem. Tentaria chamar a atenção para que alguém saísse para

ajudá-lo. Quando terminou de subir, sentiu uma forte pontada em sua testa e

caiu de joelhos no chão. Ao tocar o peito no chão, fechou os olhos e ficou

desacordado.

...

- MEU DEUS... MEU DEUS...

Todas as pessoas, na festa, pararam pra olhar a mulher que viera gritando.

Todos ficaram perplexos com o que estavam vendo. Helena olhou para a cara do

marido e procurou pelo seu filho mais novo. Ele não estava mais ao seu lado.

- Antônio... É a Julia...? – a mulher parecia aterrorizada por ver aquilo

- É sim... É a Julia.

- Corre lá, vê o que houve.

Julia era a mãe da Nicole. Desde que o seu irmão morrera, ela se afundara

em uma gigantesca depressão e vivia, o dia inteiro, bebendo pelos cantos da casa.

A última vez que fora vista do lado de fora da casa, havia sido no enterro. O seu

irmão morrera de câncer, e ela não aceitava porque ele era bem mais novo do que

ela. Desde que os seus pais morreram, ela cuidou dele como um filho... Não era a

toa que a Nicole o tratava como irmão e não como tio. Quando ele morreu, ela

ficou muito abatida, e, depois de um tempo, voltou pra escola com uma outra

Page 10: A Escola - 6. A Festa de Inauguração

personalidade... Começara a se entregar para todos os garotos como se a sua vida

não tivesse mais valor.

Antônio correu para perto da antiga amiga e pegou-a pelo braço.

- Julia, o que houve? – todos estavam bem assustados. A música ao vivo

havia parado.

- É a minha filha... a minha filha. – ela chorava muito.

- O que houve com a Nicole?

- A minha filhinha... Ela tava lá... Tava lá... Eu... Eu...

- Tenha calma, Julia... Pelo amor de Deus... Diga o que houve. – Antônio

segurou o braço da mulher.

Julia olhou nos olhos do antigo amigo e tentou expressar mais algumas

palavras, mas saíram baixas demais... Ninguém conseguiu entender o que ela

estava dizendo. O pai do Renan aproximou o seu ouvido na boca da mulher para

tentar ouvir.

- Pelo amor de Deus, ela nunca fez nada a ninguém.

Ao ouvir isso, Antônio sentiu, em seus braços, todo o peso do corpo da

mulher. Ela havia desmaiado.

- Ricardo... Ricardo... – Antônio estava chamando um dos seus amigos. –

Corre lá, vamos na casa da Nicole... Aconteceu alguma coisa. – depois, ele se virou

para a esposa. – Meu amor, chama um médico, rápido...

Os dois homens saíram correndo em direção à casa da menina. Antônio

chegou à porta e nem se incomodou de haver alguém do lado de dentro. Abriu a

porta com tudo e adentrou a casa. Pediu que o seu amigo fosse verificar a parte

de baixo da casa e correu para a parte de cima. Precisava saber onde estava a

menina.

Olhou no primeiro quarto e percebeu que ninguém estava lá, olhou pro

corredor – todas as casas eram iguais no condomínio – e foi até o quarto que,

supostamente, era o da garota.

- Nicole, você está aí? – ele bateu na porta, mas ninguém atendeu.

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Antônio decidiu abri-la. Aos poucos, foi olhando pra dentro do quarto.

Percebeu que aquele era o quarto dos pais da garota. Então, só restava um quarto

na casa. Foi, exatamente, quando ouviu o grito do seu amigo.

- Antônio, desce aqui... Rápido.

O pai dos meninos desceu numa velocidade inacreditável. Chegou ao local

onde o seu amigo estava e o enxergou com as mãos no rosto. Havia uma cara de

desespero. Antônio se aproximou e entrou no quarto.

- Meu Deus.

A polícia chegou. Antônio abriu espaço para que o policial pudesse entrar.

Sem dúvidas. A Nicole estava morta.