a era elisabetana

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A Era Elisabetana Elisabete I (1533-1603), filha de Henrique VIII e Ana Bolena, foi coroada em 1558, aos 25 anos, após as mortes de Eduardo VI, em 1553, e Maria I, em 1558. Morreu em 1603 e não deixou herdeiros diretos. “Diz-se que, durante o seu reinado, o conflito entre monarquia e o parlamento foi suspenso”. (WOODWARD, 1964, p.103) Isso porque a falta de uma delimitação transparente de quais seriam os direitos da coroa era o motivo principal de uma possível contenda. Tal fato foi vantajoso para a rainha. De acordo com Woodward, “os Tudor colaboraram com o parlamento, em parte porque sempre se preocuparam com a legalidade, mesmo quando a lei lhes servia para cometer injustiças”. (WOODWARD, 1964, p.103) Durante o reinado de Elisabete, o parlamento esteve em sessão em 35 meses. Deste modo, não houve condições para críticas contínuas ao executivo, por parte da oposição. A organização administrativa se dava assim: os conselheiros privados, com assentos no parlamento, defendiam o executivo; não havia necessidade de qualquer outra defesa, pois em todas as questões de comércio, de diplomacia ou de guerra, o monarca era, por tradição, supremo. A atividade executiva central estava nas mãos do Conselho; a administração local de todas as espécies – tanto o licenciamento de cervejarias como a reparação de pontes e a fixação de salários – era conduzida pelos juízes de paz. (WOODWARD, 1964, p.103/104) Até a primeira metade do século XVI, a Inglaterra demonstrava pouco interesse nas navegações. Não houve

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A Era elisabetana

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Page 1: A Era Elisabetana

A Era Elisabetana

Elisabete I (1533-1603), filha de Henrique VIII e Ana Bolena, foi coroada em

1558, aos 25 anos, após as mortes de Eduardo VI, em 1553, e Maria I, em 1558. Morreu

em 1603 e não deixou herdeiros diretos.

“Diz-se que, durante o seu reinado, o conflito entre monarquia e o parlamento

foi suspenso”. (WOODWARD, 1964, p.103) Isso porque a falta de uma delimitação

transparente de quais seriam os direitos da coroa era o motivo principal de uma possível

contenda. Tal fato foi vantajoso para a rainha. De acordo com Woodward, “os Tudor

colaboraram com o parlamento, em parte porque sempre se preocuparam com a

legalidade, mesmo quando a lei lhes servia para cometer injustiças”. (WOODWARD,

1964, p.103)

Durante o reinado de Elisabete, o parlamento esteve em sessão em 35 meses.

Deste modo, não houve condições para críticas contínuas ao executivo, por parte da

oposição. A organização administrativa se dava assim:

os conselheiros privados, com assentos no parlamento, defendiam o executivo; não havia necessidade de qualquer outra defesa, pois em todas as questões de comércio, de diplomacia ou de guerra, o monarca era, por tradição, supremo. A atividade executiva central estava nas mãos do Conselho; a administração local de todas as espécies – tanto o licenciamento de cervejarias como a reparação de pontes e a fixação de salários – era conduzida pelos juízes de paz. (WOODWARD, 1964, p.103/104)

Até a primeira metade do século XVI, a Inglaterra demonstrava pouco interesse

nas navegações. Não houve investimentos para novas aventuras. O comércio de tecido

nas regiões mais próximas era suficientemente lucrativo.

Elisabete não era uma idealista; não se preocupava com aventuras. Estava sempre disposta a sacrificar a boa fé ao oportunismo e, na sua opinião, um expediente significava qualquer meio adequado de preservar a paz. A rainha queria paz, porque não tinha meios para a guerra, mas não estava disposta a ser assustada ou empurrada a ponto de aceitar condições de paz que não fossem consentâneas com os interesses ingleses. (WOODWARD, 1964, p.104)

Já que os espanhóis estavam muito bem estabelecidos no Novo Mundo, os

ingleses foram procurar outros mercados fora do controle da Espanha. Foram abertas

frentes de comércio com a Turquia e com a Rússia. Na América, a Espanha ainda não

tinha ocupado costa atlântica no norte. “A passagem marítima para essa costa, a partir

da Inglaterra, não oferecia o perigo de inimigos e corsários; o país, propriamente dito,

Page 2: A Era Elisabetana

parecia oferecer possibilidades infinitas para o comércio de tecidos”. (WOODWARD,

1964, p.105)

Porém, as primeiras tentativas de colonização na Virginia - nome da em

homenagem à Elisabete, que era conhecida como a “rainha virgem” - se mostraram

fracassadas. Os ingleses simplesmente não sabiam como colonizar uma nova terra. Foi

daí que surgiu a necessidade de ataque ao monopólio espanhol.

Alguns dos primeiros a realizar as viagens inglesas foram John Hawkins, que, à

princípio não encontrou resistência, já que outrora havia transportado escravos para os

espanhóis. Mas Filipe, rei da Espanha, não podia ficar de braços cruzados e ver seu

monopólio ser violado impunemente.

Em 1568, o vice-rei do México, a mando de Filipe, avançou contra Hawkins no

forte (ou castelo) de San Juan de Ulloa. “A partir desse momento, o estado de guerra no

Novo Mundo era inevitável; uma guerra privada, com saques do lado inglês e

contramedidas dos prisioneiros ingleses que caíam em mãos espanholas”.

(WOODWARD, 1964, p.106)

Hawkins não participou de expedições pelos dez anos seguintes. Ele ficou na

Inglaterra com a incumbência de reorganizar a marinha. Coube a Francis Drake, primo

de segundo grau de Hawkins, o papel de principal articulador dos ataques à Espanha.

Ele “compreendia que a riqueza espanhola era usada para ameaçar a independência

inglesa e que a única forma eficaz de fazer face a esse perigo seria tentar a eliminação

dessas riquezas em suas fontes de origem ultramarina”. (WOODWARD, 1964, p.106)

Entre os anos de 1572 e 1580, a Inglaterra promoveu vários saques a navios

espanhóis. Somente em 1585, a Espanha resolveu contra-atacar ao lançar um grande

ataque sobre a Inglaterra. “O plano de Filipe, como foi finalmente estabelecido, era

desembarcar na Inglaterra o exército espanhol da Holanda, sob a proteção de uma

armada que viria da Espanha com reforços”. (WOODWARD, 1964, p.107)

Só que o plano não deu certo porque Drake se antecipou, invadiu o porto de

Cádiz e destruiu vários navios e mantimentos no mês de abril de 1587. Em junho, ele já

havia atacado todas as naus que trafegavam nas costas da península.

Os espanhóis tiveram que reorganizar a Armada. Os preparativos finais se deram

em maio de 1588. “A Armada oferecia um espetáculo imponente, mas metade dela era

composta de pesados transportes e de navios de abastecimento”. (WOODWARD, 1964,

p.108) Ainda assim, não conseguiram invadir a Inglaterra e tiveram que voltar com

metade da Armada perdida.

Page 3: A Era Elisabetana

Nos últimos anos do período elisabetano, houve um período de crise. Foram

tempos de colheitas ruins e ocorreram duas epidemias (1592 e 1602/03). Somam-se a

isso, gastos militares pesados na Holanda, na Irlanda e na França - aliança

imprescindível para conter a ameaça espanhola na Bretanha. Além disso, o Parlamento

cuidou dos encargos cujo valor foi triplicado em relação aos primeiros do reinado de

Elisabete I. “Através de toda a época elisabetana, verificou-se certa intranqüilidade

agrária, assim como o aumento de uma vasta população flutuante de vagabundos e

homens sem emprego”. (WOODWARD, 1964, p.109)

A partir de 1597, a coroa- juntamente com o Parlamento – começaram a pensar

em medidas de bem estar social para diminuir a pobreza que atingia níveis elevados. Foi

criado, então um fundo monetário de auxílio a esses desvalidos.

O governo elisabetano foi o primeiro a reconhecer que a sociedade, como um todo, e não apenas certas instituições religiosas especializadas, deveria providenciar a favor daqueles cuja indigência era devida à idade, à doença ou a circunstâncias alheias à sua própria vontade”. (WOODWARD, 1964, p.110)

Porém, isso trouxe um aumento significativo da população, o que gerou um

desequilíbrio econômico. Então, em 1601, essas medidas foram aperfeiçoadas. Assim, o

novo regulamento acrescentou algumas obrigações: ofícios manuais geradores de renda

- ainda que mínima - ao homem inativo como forma de penalização ao desocupado e ao

pobre capaz, além do pagamento em dinheiro, como se fosse uma pensão, àqueles

impedidos trabalhar.

A Inglaterra do fim do século XVI – principalmente após a vitória marinha sobre

a Espanha, que dominava os mares – abriu caminho para se tornar a maior potência

econômica do mundo a partir do século XVII.

O típico homem rico do período elisabetano não era o comandante que retirara a sua fortuna do porão de um navio espanhol, mas sim o industrial que comprara terras, depois de ter ganho dinheiro no fabrico e comércio de tecidos, nos fornecimentos de armas, nos estaleiros navais ou numa das novas indústrias, introduzidas pelos refugiados, como, por exemplo, a fiação da seda. (WOODWARD, 1964, p.110)

Disse Woodward sobre o legado da “rainha virgem”: “Elisabete, ainda mais do

que Henrique VIII, foi o símbolo de um país favorecido pela fortuna e capaz de se

defender pelas suas ações”. (WOODWARD, 1964, p.110)