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A Epidemiologia da AIDS no Brasil

C, ':) ,,"n'eque~ I L.

Struchi~e~, C. J.*

* Fundaçào Oswaldo CruzFundaçào Nacional de Sa~de

Aqo s t.o , 1992

A taxa de incid~ncia acumulada de casos de AIOS, no

Brasil, aumentou de O, ')05 por 100000 habitantes, er. 1982,

para 21,4, em junho de junho de 1992, quando uiu total de

28455 casos fora~ notificados ao Ministério da Saúde (1). Em

1990, o número absoluto acumulado de casos de AIOS era o

ma i o r na Amé r í ca Latina 'e ocupava o terceiro posto no rank

mundial, enquanto a taxa de incidência ocupava o sexto e o

49° postos, r espec t ivaxen t e (2,3).

Em 1982, os casos de AIDS estavam confinados na

região s ude st e . Prese:l:'::e:Tcente,t ê r.+se c aso s notificados e:,:,c

todas as u:1ida.des ::ederadas, po r ern , eles não são

uniformene~te distribuidos: 76~ dos cases estão co~ce~:'::=ados

nos estados de São ?a~lo e Rio de Ja~ei=o (lI

Entre os. homens,' a moda de idade é 30~40 anos,

enquanto para as mulheres a moda correspónde ao grupo etário

de 15-20 anos (1) o gráfico n° 1 apresenta a distribuição

da totalidade dos casos de AIOS, notificados de 1930 a 1991,

5egundo grupo etário.

Gráfico 1. AIOS - Distribuição dos casos por idade. Brasil,1980-1991.

4o,CO'~135,OOOÁ(i-----------{ if-----------

30,OOO'k.i-------+::::~--i ~----------

25,OO~"q.'------

O,OOO~""-"'--~ ..:..L.-~'""'--'-""'".iiC----'w..:..L---'~~--J.~"---'0-14 15-19 20-29 30-39 4049 50-59 >60

20,OO°;,i:l-------{:::::~I__~ r----------

10,OO°!t:t------i:::'

Fonte: FN-DST/AIDS-MSDados p~el~~inares atê 28/12/91

1'. distribuição dos casos de .:;-:::::3 s e qundo idade e

categoria de e xpo s i c ào é ap r e s en t ada r.a tabela 1. Entre

adultos e adolescentes, a distribuição é, grosso modo, a

mesma que aquelas observadas nos Sstacios Un ido s da Arne r i ca e

na Europa. Entretanto, em menores de 15 anos de idade a

proporção (52,2%) de casos de t r an sm í ss ão vertical é me no r

que os 84,6% observados nos Estados Ur. ido s . A proporção

entre crianças infectaeias ........(irt-'-- transfusão ie sa~gue/derivados

e maior que a encontr-ada nos 2stados Unidos (8, 3~) (4,5)

Tabela 1. Distribuição do total acumulado de casos de AIOSsegundo categoria de exocsicão :; idade. Brasil, 1980-1992.

Catego:::i'a de. . .exposlçao

lescentes

,.- -, ~

ano s de ic:!ade

. - ,-;

70tál

c r í.anç a s

.adu ; tos/ ado- me~ores::!e 15

.~ ': I -

z : :' ':'. -,' ,

~ " "I'" . l'-:::'-. - ..- ~.- - .. ". .. --ir .;

l-l ~ -:: :: ;..,: '=~. r ; .3 :: : .=; -, -:

*Disposição hie=ã=~~~caFonte: Adaptad::J de r:efe.::ência nO 1

Pela análise do gráfico 2, depr eende+s e o declínio,

através do tempo, da proporção casos pediátr-icos de

transmissão parenteral e o acentuado aumento dos casos de

transmissão perinatal.

Gráfico 2. AIOS - Tendência de transmissão em casospediátricos. Brasil, 1984-1991.

• Ignorado

~ San gü inea

m Sexual

o Per in atal

No Brasil, 48,0% de todos os casos de AIDS são

homens homo/bissexuais que não reportam. uso de drogas (1).

Contudo, a proporção de casos em homossexuais mas cu.l i no s

decresceu de õ3,2% do total de casos de transillissão sex~al,

antes de 198 s. para 42, 1 % eIn 1991-1992 (tabela . ') \L / •

porcentagem de usuários de drogas entre os casos de

transmissão parenteral aumentou de 24,7%, em 1930-86, para

85,9% em 1991 (gráfico 3).

3

Gráfico 3. Tendência de Transmissão Sangüínea. Brasil,1983-1991.

Cl Hemofilicos

m Recep. SangueíComp.

til Usu. Drogas E. V.

fonte: PN-DST/A!DS-~SDados Preli~inare5 até 28/12/91

Tabela 2. Porcentaqem de subgrupos de transmissãosexual sequndo período de diaqnóstico.

Subcategcria de trar.s~ssãosexual

Ano

Hcrno s s e xu a 1 (h':):C'2ns) 63,::' . 52,a

25,3

') .'t~, .1..

23, ,.5

6,O J~, 3

Fonte: Referência nO 1

A razão home~:rnulher, cor::o mcstL"a a tabela 3,

decresceu de 122:1, em 1984, para 5:1, em 1991 (1). Esta

dj.minuição tem sido considerada como um indicador de

trans~issão heterossexual entre mulheres que se infectarn a

partir de seus companheiros sexuais que são bissexuais ou

usuários de drogas (6). Esta conclusão, todav i a , deve ser

tomada com precaução desde que 33,4% dos casos de AIDS entre

mulheres adultas, diagnosticados em 1988-1992, elas próprias

eram usuárias de drogas.

Tabela 3. Número de casos de AIOS, segundo sexo, porano de diagnóstico e razão M/F. Brasil, 1980-1991.

Ano ded.1agnós-. ti.co

~~asc~lir:o Fe~ini~o

Número de casos Razão M/F

1980 1 1/-198119<321933198419:35

. 198719381989199019?1

7/-31/1

122/1

731 1

122 1

4:'Ô 17930 S7

2Ó70 2U

332: 4854..t:3 5815752 783-:333-' 1 ~.SS

23';== 32:;.4

16/110/1

7/18/1

7/1S/l

Total 7/lFonte: Inform~çõe5 fornecidas pelo ProgramaNacional de DST/AIDS

Em relação ao aumento da proporção de casos devidos

à transmissão heterossexual, de 4,9% no. período 1980-1986

para 23,3% em 1992 (1), algumas considerações merecem ser

fei tas: a) por se tratar de proporção e não de taxas de

incidência, não se pode afirmar categoricamente se há um

aumento real da transmissão heterossexual ou se é o caso de

um alli~ento relativo devido a uma diminuição da taxa de

incidência entre

possibilidade de

transmissão

homo/bissexuais; ab) sem negar

verdadeiro de casos deaumento

heterossexual, anão pode afastarse

poss ibi 1idade de "erros de classi f icação If de ca tegor ia de

exposição. Dois aspectos dão suporte para tal consideração.

5

Um deles é o maior número de homens nestq categoria (tabela

4). Isto contradiz tanto o chamado'padrâo I de AIDS c~de é..

maior a proporção de casos entre mulheres -e o padrão lI,

onde a razão homem:mulher é 1:1. Um outro fato é ura certa

simetria entre os casos de homo/bissexuais e heterossexuais

como mostra' a tabela 5 (7). Vale mostrar que o Sa rcor.a de

Kaposi, sabidamente' mais freqüente entre homo/bjssex~ais, ne

caso brasileiro, este tumor ocorre nos casos di':os

transmissão h~terossexual com freqüência pr6xi2a ãq~ela

observada e~tre os hcmo/bissexuais.

Tabeia 4. Distribuição porcentual dos casos de AIDSseç undo sexo e ano de diagnóstico. Brasil, -1980-.

1935 l?r- 1933

(57) (! ê';) t «: ))7/,2 71, 7 ;;7,0

!. 1:;8"(633) (iJ93)

Sexo

ê';,·3 .

Fonte: Informações f o rne ci de s pelo Pzoq zarr.ade AIDS do Ministério da SaGde.

Tabela 5. Características de pacientes com ,A.IOS segundogrupos de exposi ão ao HIV e variáveis selecionadas.

Variável

34

HOIl'.o/bis sexu aL Heteros sexual t::)!"/

35,3 ± 3,1

36,635,;-3 ± ~,:

21,1

2:/~ ± -,':"'1:, ::

~3,3 7,3~Tu_b_~_=_C_t~_L~__3_=_~(_~~) ~ __ ~15,4

Fonce: ~eferência nO 714, 9

É bem sabido que dados referentes ao nÚ!a9ro ,a.e casos

de AIDS sub-representarn a magnitude do problema, ~isto que

eles não levam em consideração o núrae ro total de pessoas

6

infectadas. No Brasil, estimati~as dá prevalência da

infecçâo sâo oriundas de estudos sorológicos conduzidos em..grupos selecionados tais como: homossexuais, prostitutas,usuários de drogas, hemofílicos, meninos de rua, doadores desangue, entre outros. Não existe qualquer estudo brasileirorealizado com base populacional. Inferências a partir dosresultados destes estudos devem ser feitas com' reservas, emvirtude de problemas metodo~ógicos e vieses de seleçâo. Emrevisão feita pelo U. S. Bureau of the Census dos EUA, foramidentificados mais de 250 estudos desta natureza (8,) Atabela n° 6 destaca alguns dos estudes mais recentes 'e querealizaram testes confirmatórios para o diagnóstico dainfecçâo pelo HIV.

7

Tabela 6. Porcentagem de infecção pelo HIV no Brasil.Local A.-IO Tipo de Sexo Grupo de W de Tamanho Tipo de

população idade infecção da teste

amostraN 3,:i()031 198? do aco r e s a t.OCJS O, ;) 754 ')01) ::::13 s ,

de S3n.''';lj~ ~:, ~';3

Rio d~ 199:) pac i e n t e s a todos 4 5 602 E: 1:31. f Í'l3,J3.o"iro com ToS'lo ?3ulo 1990 g~3t:..3.i'i:''=5 f 15-~9 1, 3 3047 Slis3, ~'j3

S30 Pat.:lo 1937 presid':"3.- f todos 18, 3 2.84 =:li33, ~\j3

riasRio de 1991 par-c-:i::-as f ia e + 45, 9 109 t:l í s 3., '(13

...T.3.n~i:-o c.e HI'/';-

S~o ?3~lo 198·5 heffiofíli- m todos 74, 6 63 S1i303, ~,j3

cost·!~n3.3 1937 p ro s t í ci;- f co.:!os O, I) 64 ::1::3 ~, ~.:::Ger3is tasPará 192·3 i nc i ::3 f t odo s 3, 8 157 ::.!..:.:= 3, ~'i:?='=::3- 1?3-5 i nc í c s rn 'C.:-::,:.s 2, 0 153 ;::.~-=a , i:~

=~-,:) 1?·:,j-37 ~'::7\':.5 3--=:- rn tc,: .': ..5 .~" 1:)7 :: l.:3:=, :'i=- ,

~~:-iz)n~e ;''...l3.1.2

8-:10 192'1-90 j Ç'/-=:-.':: rn \":, J 325 C:::. í s s I í-;::,

Ho r i zo n t e

R:'o .j-= 13.3, r:-,e:1d':"";::,3 a t cdo s 7,1 70 S2..:'3 a , i"; 3

'J==:-.~':'.:ç

R.io de 1~a6 tC:lV23:':S m tOdo3 3:, 5 16 :::::.3:1 ,J an e í ro ::, ~';3

Rio de 1988-?O '='~3'::");:~3 3 tcdos I), 1 1438: ::~i s ~I ~';3

Janeiro j" s3.~;·..;e

São Pa u Lo 198~-89 usuá~i)3 f t.ocos 72, 7 121- =: 1':"3 3, :':3C~ d=':;'Ç3S

São ?aulo 1985-Q,j ç,a,:ie:-i:'=s a tO.:!'~3 3, 1 22'1 E:l í s 3, :~I3

ce r:.=:::-:)-

A = a~bOsi F = fe~~r.ino;MFonte: Referência n°.8

masculino

Utilizando o software Epimodel do Programa Global deAIVS da Organização, estimou-se o número de infectados peloHIV, em janeiro de 1992, entre a população de 15-45 anos,como sendo de cerca de 280000 a 420000 indiv~duos.

O espectro das infecções oportunistas e cãnceresassociados com a AIDSé bem diversificado, no Brasil. EGtreos casos brasileiros de AIDS, candidíase, pneumonia por

8

,,

Pneumocystis car.i nzr e tuberculose são as infecções maisfreqüentes: 55,8%, 30,1~ e 13,5%, respectivamente (1). Estaalta freqüência de tuberculose constitue uma daspeculiaridades do perfil epidemiológico da AIDS no Brasil.

Em estudo recente (9), encontrou-se uma mediana desobrevida após Q diagnóstico igual a 5,1 meses. Os pacientesmai$ jovens e aquelei usuários de drogas intravenosasapresentam uma sobrevida maior que o total de pacientes(7,3, 8, 9 e 5, 1 meses respectivamente). A sobrevida foi

maior em pacientes que tiveram Sarcoma de Kaposi, candidiaseesofágica e tuberculose quando comparados com aqueles quetiveram toxoplasmose como primeira doença indicativa de

AIDS. Vale insistir que nos paises centrais a sobrevidamediana é supériqr a 12 meses (9) Em terrno s : de &lOS

Potenciais de Vida Perdidos (APVP), para a cidade de SãoPaulo, em 1983-1986, entre homens de 25 a 44 anos de idade,encontraram-se 12,7% de APVP devidos à AIDS, inferior aos24,3% devidos a homicidios/suicidios, porém superior aosanos perdidos por mortes por acidentes ou cáric eres. comopode ser apreendido pela análise da tabela 7 (10).

9

<.!i

Tabela 7. Anos potenciais de vida perdidos segundo regiãoe causas de morte selecionadas.

Causas de mo~te· Todas ascausas

.!;.cic!-2t:.:e .::o~i-::idlOI Ci:-:-:-:?: ..;rcs51.:i -::id':"()

~l.3nh.3::::.,:1 l~CO 4601) 8elO 7000Estados 183000 174600 3'?SI~;) 32300

UnidosCidade de São i szcc 4130'; E3:0 217CO

*Dados p<;ira AIDS em Manhattan e EU.'; são de 1984;outras causas são de 1980.Fonte: Referência n~ 10

10

( .

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