a encarnacao e o filho do homem

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Descricao encontrada no livro Questoes sobre Doutrina da Igreja Adventista do Sétimo Dia

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  • A encArnAo e o Filho do homemTexto extrado da obra Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine1

    resumo: Este artigo trata do tema da en-carnao de Jesus Cristo. O autor investi-ga inicialmente o significado da expresso Filho do Homem usada por Jesus em referncia a si mesmo, considerando, em seguida, a natureza e o propsito da unio divino-humana em sua pessoa. Baseando-se em diversas citaes de Ellen G. White e de outros escritores, o artigo procura elu-cidar questes importantes tais como a da natureza da expiao, se a humanidade de Cristo tinha ou no tendncia pecaminosa, e se Ele podia ou no cair em pecado.

    AbstrAct: This article deals with the to-pic of Jesus Christs incarnation. First, the author investigates the meaning of the ex-pression Son of man used by Jesus in reference to himself, considering, next, the nature and the purpose of the divi-ne-human union in his person. Based on many references of Ellen G. White and other writers, the article aims to elucida-te important issues such as the nature of expiation, whether or not the humanity of Christ had a sinful tendency and if he could or not fall into sin.

    introduo

    A Palavra Inspirada e a Palavra Encar-nada, ou a Palavra que se fez carne, so colunas gmeas na f dos adventistas do stimo dia, em comum com todos os ver-dadeiros cristos. Toda a nossa esperan-a de salvao repousa sobre estas duas imutveis provises de Deus. Realmen-te, consideramos a encarnao de Cristo

    como o fato mais estupendo, em si mesmo e em suas conseqncias, na histria do homem, e a chave para todas as provises redentoras de Deus. Tudo antes da encar-nao conduzia a ela; e tudo o que segue depois resulta disto. Ela refora a totali-dade do evangelho, e absolutamente es-sencial f crist. Esta unio da Divinda-de com a humanidade do Infinito com o finito, do Criador com a criatura, a fim de que a Divindade pudesse ser revelada humanidade supera nossa compreenso humana. Cristo uniu o Cu e a Terra, Deus e o homem, e sua prpria Pessoa por meio desta proviso.

    Alm disso, em sua encarnao Cristo se tornou o que Ele no era antes. Ele to-mou sobre si uma forma humana corporal e aceitou as limitaes da vida humana corporal como o modo de existncia en-quanto esteve na Terra entre os homens. Desse modo, a Divindade se uniu huma-nidade em uma pessoa ao tornar-se Ele o nico Deus-homem. Isto bsico em nos-sa f. A vicria morte expiatria de Cris-to na cruz foi o inevitvel resultado desta proviso primria.

    Ademais, quando Cristo se identificou com a raa humana atravs da encarnao, a eterna Palavra de Deus entrou nas rela-es terrestres de tempo. Mas desde en-to, desde que o Filho de Deus se tornou homem, Ele no deixou de ser homem. Adotou a natureza humana, e quando re-tornou para seu Pai, no somente levou consigo a humanidade que havia assumi-do na encarnao, mas reteve sua perfei-

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    ta natureza humana para sempre desde ento identificando-se eternamente com a raa que Ele havia redimido. Isto tem sido bem expresso por um dos nossos mais preeminentes escritores, Ellen G. White: Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-se humanidade por um lao que jamais se partir. Ele nos estar ligado por toda a eternidade.2

    o Filho de deus tornA-se o Filho do homem

    Por meio da encarnao, a majestade e glria da Palavra Eterna, o Criador e Se-nhor do Universo (Jo 1:1-3), foi velado. E foi ento que o Filho de Deus tornou-se o Filho do Homem termo usado mais de oitenta vezes no Novo Testamento. Tomando consigo a humanidade, Ele se tornou um com a raa humana para que pudesse revelar a paternidade de Deus ao homem pecador e para que pudesse redi-mir a humanidade perdida. Em sua encar-nao Ele se tornou carne. Tinha fome, sede e cansao. Necessitava de alimen-to e repouso e era revigorado pelo sono. Participou da sorte do homem, anelando por simpatia humana e precisando de assistncia divina. Contudo, Ele sempre permaneceu o inocente Filho de Deus.

    Peregrinou na Terra, foi tentado e provado, e foi tocado pelos sentimentos de nossas fraquezas humanas, todavia Ele viveu uma vida inteiramente livre de pecado. Possua uma real e genuna na-tureza humana, uma que deve passar pe-los vrios estgios de crescimento, como qualquer outro membro da raa. Estava sujeito a Jos e Maria, e foi um adorador na sinagoga e no Templo. Chorou sobre a culpada cidade de Jerusalm e junto sepultura de um ente querido. Expressou sua dependncia de Deus pela orao. Contudo, ao mesmo tempo reteve sua divindade o nico exclusivo Deus-ho-mem. Ele era o segundo Ado, vindo na

    semelhana da carne pecaminosa (Rm 8:3), mas no tendo uma s mancha de suas depravadas propenses e paixes.

    A primeira vez que o ttulo Filho do Homem aparece no Novo Testamento aplicado a Jesus como um errante sem lar, sem um lugar onde reclinar a cabe-a (Mt 8:20); a ltima vez como um rei glorificado que retorna (Ap 14:14). Foi como o Filho do Homem que veio para salvar o perdido (Lc 19:10). Como Filho do Homem Ele reivindicou a autoridade de perdoar pecados (Mt 9:1-8). Como Fi-lho do Homem Ele semeou a semente da verdade (Mt 13:37), foi trado (Mt 17:22; Lc 22:48), foi crucificado (Mt 26:2), res-suscitou dos mortos (Mc 9:9), e subiu ao Cu (Jo 6:62).

    igualmente como Filho do Homem que Ele est agora no Cu (At 7:56) e vigia sua igreja na Terra (Ap 1:12, 13, 20). Alm disso, como o Filho do Homem que Ele voltar nas nuvens do cu (Mt 24:30; 25:3). E como Filho do Homem Ele executar juzo (Jo 5:27) e receber o seu reino (Dn 7:13, 14). Este o registro inspirado de seu papel como Filho do Homem.

    mirAculosA unio do divino e o humAno

    Cristo Jesus nosso Senhor foi uma miraculosa unio da natureza divina com a nossa natureza humana. Ele era o Filho do homem enquanto esteve aqui na carne, mas era tambm o Filho de Deus. O mistrio da Encarnao ex-presso clara e definitivamente nas Sa-gradas Escrituras.

    Grande o mistrio da piedade: Deus foi manifestado na carne (1Tm 3:16). Deus estava em Cristo (2Co 5:19). A Palavra se fez carne, e habitou entre ns (Jo 1:14).

    Que maravilhosa verdade! Isto foi men-cionado por Ellen G. White como segue:

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    Ele revestiu sua divindade com a humani-dade. Era todo o tempo como Deus, mas no aparecia como Deus. Velou as demons-traes da divindade que haviam ordenado a homenagem e provocado a admirao do Universo de Deus. Ele era Deus enquanto esteve sobre a Terra, mas despojou-se da forma de Deus, e em seu lugar tomou a forma e o aspecto de um homem. Andou na Terra como um homem. Por amor a ns tornou-se pobre, para que por meio da sua pobreza ns pudssemos enriquecer. Ps de lado sua glria e majestade. Ele era Deus, mas das glrias da forma de Deus por algum tempo abdicou.3

    Quanto mais refletimos sobre Cristo se tornando um beb aqui na Terra, mas ma-ravilhoso isto parece. Como pode ser que o desajudado beb na manjedoura de Belm ainda o divino Filho de Deus? Embora no possamos compreender, podemos crer que aquele que criou os mundos, por amor a ns tornou-se um indefeso beb. Apesar de mais elevado do que qualquer um dos anjos, embora to grande como o Pai no trono do Cu, Ele se tornou um conosco. Nele Deus e o homem se tornaram um, e neste fato que encontramos a esperana de nossa raa cada. Olhando para Cristo na carne, contemplamos a Deus na hu-manidade, e vemos nele o resplendor da glria divina, a expressa imagem de Deus o Pai.4

    O criador dos mundos, em quem habitava corporalmente toda a plenitude da divinda-de, se manifestou no desajudado beb na manjedoura. Muito mais elevado do que qualquer um dos anjos, igual ao Pai em dignidade e glria, e todavia usando a ves-te da humanidade! A divindade e a huma-nidade estavam misteriosamente combina-das, e o homem e Deus se tornaram um. nesta unio que encontramos a esperana de nossa raa cada. Olhando para Cristo na humanidade, contemplamos a Deus, e vemos nele o resplendor de sua glria, a expressa imagem de sua pessoa.5

    Em ambas as suas naturezas, a divina e a humana, Ele era perfeito; era impec-vel. Que isto era verdade de sua natureza

    divina no pode haver dvida. Que era assim de sua natureza humana tambm verdade. Em seu desafio aos fariseus de seus dias, Ele disse: Quem dentre vs me convence de pecado? (Jo 8:46). O apstolo aos gentios declarou que Ele no conheceu pecado (2Co 5:21); que Ele era santo, inculpvel, sem mancha, separado dos pecadores (Hb 7:26). Pe-dro pde testificar que Ele no cometeu pecado (1Pe 2:22); e o amado Joo nos assegura que nele no existe pecado (1Jo 3:5). Mas no somente seus amigos enfatizaram a impecabilidade de sua na-tureza; seus inimigos tambm a declara-ram. Pilatos foi forado a confessar que no encontrou nele nenhuma culpa (Lc 23:14). A mulher de Pilatos advertiu seu esposo a no se envolver com esse jus-to (Mt 27:19). At mesmo os demnios foram compelidos a reconhecer sua filia-o e portanto sua divindade. Quando fo-ram ordenados a sair do homem a quem haviam possudo, eles retorquiram: Que temos ns contigo, Filho de Deus! O evangelho de Marcos diz o Santo de Deus! (Mc 1:24).

    Ellen G. White escreveu que Ele assu-miu a natureza, mas no a pecaminosida-de do homem6. No devemos ter nenhu-ma dvida em relao perfeita impecabi-lidade da natureza humana de Cristo.7

    Por que tomou Cristo a natureza huma-na? Isto tem sido bem expresso a seguir:

    Pondo de lado sua veste e coroa reais, Cris-to revestiu sua divindade com a humanida-de, para que os seres humanos pudessem ser erguidos de sua degradao e coloca-dos em posio vantajosa. Cristo no po-deria ter vindo a este mundo com a glria que Ele tinha nas cortes celestiais. Seres humanos pecaminosos no poderiam ter suportado a viso. Ele velou sua divindade com a veste da humanidade, mas no abriu mo de sua divindade. Como um Salvador divino-humano, Ele veio para estar fren-te da raa cada, para partilhar de sua ex-perincia desde a infncia idade adulta.

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    Para que os seres humanos pudessem ser participantes da natureza divina, Ele veio a este mundo e viveu uma vida de perfeita obedincia.8

    Cristo tomou sobre si a humanidade, a fim de chegar humanidade... era necessrio tanto o divino como o humano para trazer salvao ao mundo.9

    Tomando sobre si a humanidade, Cristo veio para ser um com a humanidade e ao mesmo tempo revelar nosso Pai celestial a seres humanos pecaminosos. Ele foi em todas as coisas feito semelhante aos seus ir-mos. Tornou-se carne, assim como somos. Sentia fome e sede e cansao. Era sustido pelo alimento e revigorado pelo sono. Parti-lhou a sorte do homem, e contudo Ele era o inocente Filho de Deus. Foi um estrangeiro e peregrino na Terra no mundo, mas no do mundo; tentado e provado como homens e mulheres so hoje tentados e provados, to-davia vivendo uma vida isenta de pecado.10

    Outra vez enfatizamos que em sua na-tureza humana Cristo era perfeito e im-pecvel.

    Neste sentido, algo de vital importncia deve ser considerado. O Impecvel, nosso bendito Senhor, voluntariamente tomou sobre si mesmo o fardo e a penalidade de nossos pecados. Este foi um ato em pleno conselho e cooperao com Deus o Pai.

    Deus fez cair sobre ele a iniqidade de ns todos (Is 53:6).

    Quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado... (v. 10).

    E contudo, este foi um ato voluntrio de nosso bendito Salvador, porque lemos:

    As iniqidades deles levar sobre si (v. 11).

    Ele derramou a sua alma na morte (v. 12).

    Carregando ele mesmo em seu cor-po, sobre o madeiro, os nossos pecados (1Pe 2:24).

    Como membro da famlia humana Ele era mortal, mas como Deus Ele era a fonte de vida para o mundo. Ele poderia, em sua pessoa divina, continuamente ter resisti-do aos avanos da morte, e recusado cair sob seu domnio; mas Ele voluntariamen-te deps a sua vida, para que fazendo isto pudesse dar vida e trazer luz a imorta-lidade... Que humildade foi esta! Isto ma-ravilhou os anjos. A lngua jamais pode descrev-la; a imaginao no pode com-preend-la. A Palavra eterna consentiu em fazer-se carne! Deus se tornou homem! Foi uma maravilhosa humildade.11

    Somente o impecvel Filho de Deus poderia ser nosso substituto. Isto fez o nosso imaculado Redentor; Ele tomou so-bre si mesmo os pecados de todo o mundo, mas, fazendo isto, no houve sobre Ele a mais leve mancha de corrupo. A Santa Bblia, porm, diz que Deus o fez peca-do por ns (2Co 5:21). Esta expresso paulina tem confundido os telogos por sculos, mas seja o que for que ela signi-fique, certamente no significa que nosso imaculado Senhor se tornou um pecador. O texto declara que Ele foi feito para ser pecado. Portanto deve significar que Ele tomou o nosso lugar, que Ele morreu em nosso lugar, que Ele foi contado com os transgressores (Is 53:12), e que Ele to-mou o fardo e a penalidade que era nossa.

    Todos os verdadeiros cristos reconhe-cem este ato redentor de Jesus na cruz do Calvrio. H uma abundncia de testemu-nho escriturstico quanto a este fato.

    Os escritos de Ellen G. White esto in-teiramente em harmonia com as Escritu-ras sobre este ponto:

    O Filho de Deus suportou a ira divina con-tra o pecado. Todo o pecado acumulado do mundo foi posto sobre o portador de peca-dos, aquele que era inocente, Aquele que unicamente poderia ser a propiciao para o pecado, porque Ele mesmo era obedien-te. Ele era um com Deus. Nenhuma man-cha de corrupo estava sobre Ele.12

  • a encarnao e o Filho do homem / 13

    Como um conosco, cumpria-lhe suportar o fardo de nossa culpa e aflio. O Ino-cente devia sentir a vergonha do pecado. O amigo da paz tinha que habitar entre a luta, a verdade com a mentira, a pureza com a vileza. Todo pecado, toda discr-dia, toda contaminadora concupiscncia trazida pela transgresso, lhe era uma tortura para o esprito... Sobre aquele que abrira mo de sua glria, e aceitara a fra-queza da humanidade, devia repousar a redeno do mundo.13

    O peso dos pecados do mundo estava exer-cendo presso sobre sua alma, e o seu semblante expressava inexprimvel tris-teza, uma profundidade de angstia que o homem cado jamais havia percebido. Ele sentiu a opressiva mar de aflio que inundava o mundo. Percebeu a fora do apetite condescendido e da paixo profana que controlavam o mundo.14

    Inteira justia foi feita na expiao. Em lu-gar do pecador, o imaculado Filho de Deus recebeu a penalidade, e o pecador sai livre enquanto recebe e retm a Cristo como seu salvador pessoal. Embora culpado, ele considerado inocente. Cristo cumpriu cada requisito exigido pela justia.15

    Inculpvel, Ele suportou a punio do culpado. Inocente, contudo oferecendo-se como um substituto para o transgres-sor. A culpa de cada pecado exercia seu peso sobre a divina alma do Redentor do mundo.16

    Tudo isto Ele suportou vicariamente. Tomou-o sobre sua alma impecvel e o suportou na cruel cruz.

    H outro aspecto deste assunto que precisa ser enfatizado: Jesus no apenas assumiu e suportou as iniqidades de ns todos, Ele assumiu e suportou algo mais; algo, porm, que estava intimamente asso-ciado com nossos pecados.

    Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores le-vou sobre si (Is 53:4). Homem de dores e que sabe o que padecer (v. 3).

    Mateus se refere a esta passagem:

    Ele mesmo tomou as nossas enfermi-dades e carregou com as nossas doenas (Mt 8:17).

    Diz a traduo Weymouth:

    Ele tomou sobre si nossas fraquezas, e suportou o fardo de nossas enfermida-des.

    E a Twentieth Century apresenta:

    Ele tomou nossas debilidades sobre si mesmo, e suportou o fardo de nossas do-enas.

    Como Ele suportou (gr. pher LXX) nossas iniqidades (Is 53:11) assim Ele suportou (gr. anapher) nossas fraquezas (Mt 8:17, Weymouth).

    Mas observemos tambm o que est subentendido nisto. Note as palavras usadas para expressar o pensamento, tanto em Isaas 53 como em Mateus 8. Ele suportou nossas aflies, nossas tristezas, nossas debilidades, nossas en-fermidades. As palavras originais so tambm traduzidas por dores, enfermi-dades, e fraquezas.

    Sobre isto note o seguinte nos escritos de Ellen G. White:

    Ele estava sujeito s debilidades e fra-quezas pelas quais o homem assaltado, para que pudesse ser cumprido o que foi proferido pelo profeta Isaas, dizendo: Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenas. Ele foi toca-do pelo sentimento de nossas debilidades, e foi em todas as coisas tentado como ns somos. E, todavia, Ele no conheceu pe-cado. Ele era o Cordeiro sem mcula e sem mancha... No devemos ter nenhuma dvida com respeito perfeita impecabili-dade da natureza humana de Cristo.17

    Ele era sem mancha de corrupo, um es-tranho ao pecado; contudo orava, e isto freqentemente com fortes clamores e l-grimas. Orava por Seus discpulos e por Si mesmo, deste modo identificando-se com

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    nossas necessidades, nossas fraquezas, e nossas falhas, que so to comuns hu-manidade. Ele era um poderoso suplicante, no possuindo as paixes de nossa nature-za humana cada, mas assaltado por idn-ticas fraquezas, tentado em todas as coisas como ns somos, Jesus suportou a agonia que exigia auxlio e apoio de Seu Pai.18

    Ele um irmo em nossas debilidades, mas no em possuir idnticas paixes. Como o impecvel, sua natureza recua-va do mal. Ele suportou lutas e tortura de alma em um mundo de pecado. Sua hu-manidade tornou a orao uma necessida-de e privilgio. Ele reclamava todo o mais forte apoio divino e conforto que seu Pai estava pronto a comunicar-lhe, a Ele que havia, em benefcio do homem, deixado as alegrias do Cu e escolhido seu lar em um mundo frio e ingrato.19

    Dificilmente poderia ser interpretado, porm, do relato tanto de Isaas como de Mateus, que Jesus era enfermo ou que Ele experimentou as fragilidades que so herana da nossa natureza humana peca-minosa. Mas Ele suportou tudo isso. No poderia ser que Ele suportasse isto tam-bm vicariamente, assim como suportou os pecados do mundo inteiro?

    Essas fraquezas, fragilidades, debilida-des, falhas so coisas que ns, com nossa natureza cada e pecaminosa, temos de suportar. Para ns elas so naturais, ine-rentes, mas quando Ele as suportou, Ele as tomou no como algo inerentemente seu, mas Ele as suportou como nosso substitu-to. Ele as suportou em Sua natureza per-feita e impecvel. Outra vez observamos: Cristo suportou tudo isto vicariamente, da mesma forma que vicariamente Ele su-portou as iniqidades de todos ns.

    neste sentido que devemos compre-ender os escritos de Ellen G. White quan-do ela se refere ocasionalmente natureza humana pecaminosa, cada e deteriorada. Lemos que Jesus tomou a nossa nature-za20; Ele tomou sobre si mesmo a na-

    tureza humana21; Ele tomou a natureza do homem22; Ele tomou nossa natureza pecaminosa23; Ele tomou nossa nature-za cada24; Ele tomou a natureza do ho-mem em sua condio cada25.

    Todas estas so declaraes fortes e convincentes, mas certamente ningum de propsito anexaria a elas um significado que contrariasse o que a mesma escritora tem dado em outros lugares em suas obras. Note o ambiente em que estas expresses so usadas:

    Ele tomou a natureza mas no a pecami-nosidade do homem.26

    Ele tomou a natureza do homem em sua condio cada, mas Cristo no partici-pou no mnimo em seu pecado.27

    Ele um irmo em nossas debilidades, mas no em possuir idnticas paixes.28

    Identificando-se com nossas necessida-des, nossas fraquezas, e nossos sentimen-tos... Ele era um poderoso suplicante, no possuindo as paixes de nossa natureza humana cada.29

    No devemos ter nenhuma dvida com respeito perfeita impecabilidade da na-tureza humana de Cristo.30

    O Filho de Deus tornou-se como um de ns, exceto no pecado.31

    Nem uma mancha de corrupo estava sobre Ele.32

    Deve ser notado nas declaraes j citadas que embora a escritora mencione que Jesus assumiu a nossa natureza, Ele mesmo no era pecaminoso, mas impec-vel.

    Seja o que for que Jesus tomou no era seu intrinsecamente ou inerentemente. As-sumindo o fardo de nossas fraquezas e de-ficincias herdadas, mesmo depois de qua-tro mil anos de acumuladas debilidades e degenerescncia33, nem no mais leve grau mancharam sua natureza humana. Ele to-mou sobre sua natureza impecvel nossa pecaminosa natureza34. No devemos

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    ter nenhuma dvida com respeito perfei-ta impecabilidade da natureza humana de Cristo35. Ele assumiu voluntariamente a natureza humana. Foi seu prprio ato, e por seu prprio consentimento.36

    Ele sujeitou-se voluntariamente. a to-das as humilhantes condies da natureza do homem37, e assumindo a forma de servo (Fp 2:7); Ele tomou a descendn-cia de Abrao (Hb 2:16, Almeida Revista e Corrigida), para que fosse feito pecado por ns (2Co 5:21), e para que em todas as coisas se tornasse semelhante aos ir-mos (Hb 2:17).

    Tudo o que Jesus tomou, tudo o que Ele suportou, quer seja o fardo e a pena-lidade de nossas iniqidades, ou as enfer-midades e fraquezas de nossa natureza humana tudo foi assumido e suportado vicariamente. Assim como suportar vica-riamente os pecados de todo o mundo no manchou sua alma perfeita e impecvel, nem levar as enfermidades e fraquezas de nossa natureza cada o manchou no mais leve grau com as influncias corruptoras do pecado.

    Sempre nos lembremos de que nosso bendito Senhor foi impecvel.

    No devemos ter nenhuma dvida com respeito perfeita impecabilidade da natu-reza humana de Cristo.38

    Em se tratando da humanidade de Cristo, precisais guardar vigorosamente cada as-sero, para que vossas palavras no se-jam tomadas como significando mais do que elas indicam, e deste modo percais ou obscureais as claras percepes de sua humanidade conforme combinadas com a divindade. Seu nascimento foi um milagre divino... O ente santo que h de nascer [de ti, Maria] ser chamado Filho de Deus... Nunca, de qualquer forma, deixeis a mais leve impresso sobre a mente humana de que uma s mancha de pecado ou inclina-o para a corrupo repousou sobre Cris-to, ou que Ele de algum modo se rendeu corrupo. Ele foi tentado em todas as

    coisas como o homem tentado, contudo chamado o ente santo. um mistrio que deixado inexplicado aos mortais que Cristo pudesse ser tentado em todas as coi-sas como ns somos e, contudo, estar sem pecado. A encarnao de Cristo sempre tem sido, e sempre permanecer, um mis-trio. O que est revelado para ns e para nossos filhos, mas que cada ser humano seja advertido do terreno de tornar a Cristo completamente humano, tal como um de ns mesmos; porque isto no pode ser.39

    Que maravilhoso Salvador Jesus nos-so Senhor!

    PoderiA cristo ter PecAdo?

    Sobre este aspecto desta pergunta vital h diversidade de opinio na igreja crist em geral. Alguns acham que era impossv-el que Jesus pecasse; outros que era pos-svel. Concordamos com os ltimos em nossa compreenso deste assunto e, como em muitas outras fases da doutrina crist, eminentes eruditos da igreja ao longo dos sculos tm se expressado muito como ns. Nossa posio sobre isto bem ex-pressa por Ellen G. White:

    Pretendem muitos que era impossvel Cris-to ser vencido pela tentao. Neste caso, no teria sido colocado na posio de Ado; no poderia haver obtido a vitria que aquele deixara de ganhar. Se tivsse-mos, em certo sentido, um mais probante conflito do que teve Cristo, ento Ele no estaria habilitado para nos socorrer. Mas nosso Salvador Se revestiu da humanida-de com todas as contingncias da mesma. Tomou a natureza do homem com a possi-bilidade de ceder tentao. No temos que suportar coisa nenhuma que Ele no tenha sofrido... Cristo venceu em favor do homem, pela resistncia severssima pro-va.40

    evidente que reverenciados e hon-rados telogos do passado tm mantido a mesma opinio. Note o seguinte:

  • 16 / Parousia - 1 semestre de 2008

    Tivesse Ele sido dotado desde o incio de absoluta impecabilidade, ou com a im-possibilidade de pecar, Ele no poderia ser um verdadeiro homem, nem nosso modelo ara imitao: sua santidade, em vez de ser seu prprio ato adquirido por si mesmo e mrito inerente, seria um dom acidental ou exterior, e sua tentao uma exibio irreal. Como um verdadei-ro homem, Cristo deve ter sido um agen-te moral livre e responsvel: a liberdade subentende a faculdade da escolha entre o bem e o mal, e a capacidade da deso-bedincia bem como da obedincia lei de Deus.41

    Se a verdade a saber, que a fora da tentao era forte o suficiente para criar a conscincia de uma luta for descon-siderada, ento todo o currculo da prova moral pela qual Jesus passou na Terra degenera imediatamente em uma mera representao teatral... Nos tempos mod-ernos, esta opinio docetista no encontra nenhuma aceitao; estando os telogos de todas as escolas de acordo em que a foras do mal, com as quais o Filho do Homem combateu to nobre combate, no eram sombras, mas inimigos substanciais e formidveis.42

    Sempre que atribumos, de uma maneira adequada e no sentido das Escrituras, todos os elementos morais do homem a Jesus, no devemos separar deles a liber-dade que a faculdade da escolha entre o bem e o mal; e por este mesmo motivo devemos admiti-la como concebvel, que ele poderia, ao mesmo tempo, ter sido in-fluenciado a se afastar da vontade de Deus. A menos que isto seja admitido, a histria da tentao, embora possa ser explicada, no teria nenhum significado; e a expresso da epstola aos Hebreus ele foi tentado em todas as cousas, nossa semelhana no teria significado.

    Como Jesus era um homem completo, esta suscetibilidade e esta possibilidade devem ser admitidas como coexistindo nele. Se elas desta forma no coexistissem, ele dei-xaria de ser um exemplo de perfeita mora-lidade humana.43

    No devemos compreender pelo termo [impecabilidade de Jesus] uma absoluta impossibilidade de pecar mas somente o

    verdadeiro fato de no pecar, e, o que in-separvel deste fato, em uma natureza livre e racional, a mais elevada perfeio moral e santidade.44

    o ProPsito dA encArnAo

    Quanto ao propsito da encarnao, a resposta aparece nos textos que apiam os seis pontos seguintes, que resumem os motivos para sua vinda Terra em forma humana.

    1. Ele veio para revelar Deus ao mun-do. Veja Joo 1:14, 18; 3:1-36; 17:6, 26; 1 Joo 1:2; 4:9.

    2. Ele veio para unir Deus e o homem. Veja Joo 1:51 (compare com Gnesis 28:12); Mateus 1:23; 1 Pedro 3:18.

    3. Ele veio para identificar-se com o homem por nome. Ele chamado Filho do Homem umas setenta e sete vezes nos evangelhos, tal como em Lucas 19:10.

    4. Ele veio para levar os pecados da raa humana. Veja Isaas 53:6, 11; Joo 1:29; 1 Pedro 2:24; 1 Joo 3:5.

    5. Ele veio para morrer em nosso lu-gar. Veja Isaas 53:5-10; Mateus 26:28; Atos 20:28; Romanos 4:25; 5:6-10; 1 Corntios 15:3; Glatas 1:4; 1 Tim-teo 2:6; Hebreus 2:9; 1 Pedro 1:18, 19; 2:24; 3:18.

    6. Ele veio para destruir o diabo e suas obras. Veja Joo 12:31; 16:33; Hebreus 2:14; 1 Joo 3:8.

    um mistrio insondvel

    Considerando um assunto de to trans-cendente e vital importncia como a en-carnao de Cristo, devemos sempre nos lembrar de que h muitos aspectos disto que jamais poderemos compreender.

    Mesmo quando captamos um vis-lumbre da verdade, a linguagem humana

  • a encarnao e o Filho do homem / 17

    reFernciAs 1 Preparado por um grupo representativo de

    lderes e acadmicos adventistas do stimo dia, Seventh-day Adventists Answer Questions on Doc-trine (Washington, DC: Review and Herald Asso-ciation, 1957). Traduzido do original em ingls por Francisco Alves de Pontes.

    2 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Naes (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), 25.

    3 Idem, Review and Herald, 5 de julho de 1887.4 Idem, Youths Instructor, 21 de novembro

    de 1895.

    5 Idem, Signs of the Times, 30 de julho de 1896.

    6 Ibid., 29 de maio de 1901.

    7 Don F. Neufeld, ed., Seventh-day Adventist Bible Commentary (Jagerstown, MD: Review and Herald, 1979), 5:1131.

    8 Ellen G. White, Review and Herald, 15 de ju-nho de 1905 (grifos supridos).

    9 Idem, O Desejado de Todas as Naes, 296.10 Idem, Testemunhos para a Igreja (Tatu, SP:

    Casa Publicadora Brasileira, 2006), 8:286.

    11 Idem, Review and Herald, 5 de julho de 1887 (grifos supridos).

    12 Idem, Signs of the Times, 9 de dezembro de 1897 (grifos supridos).

    13 Idem, O Desejado de Todas as Naes, 111 (grifos supridos).

    14 Idem, Review and Herald, 4 de agosto de 1874 (grifos supridos).

    15 Idem, Youths Instructor, 25 de abril de 1901 (grifos supridos).

    16 Idem, Signs of the Times, 5 de dezembro de 1892 (grifos supridos).

    17 Ibid., 9 de junho de 1898 (grifos supridos).

    18 Idem, Testemunhos para a Igreja (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 2:508.

    19 Ibid., 202.

    20 Idem, O Desejado de Todas as Naes, 25.21 Idem, em Don F. Neufeld, ed., SDA Bible

    Commentary, 5:1128.22 Idem, O Desejado de Todas as Naes, 117.23 Idem, Medical Ministry (Mountain View, CA:

    Pacific Press, 1963), 181.

    24 Idem, Special Instruction Relating to the Re-view and Herald Office, 16 de maio de 1896, 13.

    25 Idem, Signs of the Times, 9 de junho de 1898.26 Ibid., 9 de junho de 1898.

    27 Idem, em Don F. Neufeld, ed., SDA Bible Commentary, 5:1131.

    28 Idem, Testemunhos para a Igreja (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), 2:202 (grifos supridos).

    29 Ibid., 508-509 (grifos supridos).

    30 Idem, em Don F. Neufeld, ed., SDA Bible Commentary, 5:1131 (grifos supridos).

    31 Idem, Youths Instructor, 20 de outubro de 1886 (grifos supridos).

    32 Idem, Signs of the Times, 9 de dezembro de 1897.

    parece completamente inadequada para expressar as maravilhas e as belezas do incomparvel e inimitvel mistrio da encarnao de Jesus Cristo. Escreveu El-len G. White:

    Contemplando a encarnao de Cristo na humanidade, ficamos perplexos diante de um insondvel mistrio, que a mente hu-mana no pode compreender. Quanto mais refletimos sobre isto, mais impressionante ele parece.45

    Embora isto seja verdadeiro, existem, graas a Deus, algumas fases da verdade que tem sido reveladas. E o que se tem feito conhecer na Palavra de Deus para o nosso estudo.

    A mesma autora escreveu o seguinte sobre este ponto: Quando quisermos um problema profundo para estudar, que fi-xemos a mente no fato mais maravilhoso que j ocorreu na Terra ou no Cu a encarnao do Filho de Deus.46

  • 18 / Parousia - 1 semestre de 2007

    33 Idem, O Desejado de Todas as Naes, 49 e 117.

    34 Idem, Medical Ministry, 181.35 Idem, em Don F. Neufeld, ed., SDA Bible

    Commentary, 5:1131.36 Idem, Review and Herald, 5 de julho de

    1887.

    37 Idem, Testemunhos para a Igreja (Tatu, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), 4:458.

    38 Idem, em Don F. Neufeld, ed., SDA Bible Commentary, 5:1131.

    39 Ibid., 1128 e 1129.

    40 Idem, O Desejado de Todas as Naes, 117.41 Philip Schaff, The Person of Christ (London:

    Nisbet, 1880), 35 e 36.

    42 Alexander B. Bruce, The Humiliation of Christ (Whitefish, MT: Kessinger Publishing, 2006), 268.

    43 Karl Ullmann, An Apologetic View of the Sin-less Character of Jesus (Edimburgo: Thomas Cla-rk, 1841), 11.

    44 Ibid., 13.