a emersão do corpo vivo através da consciência
DESCRIPTION
O corpo vivo se imerge nos espaços. Meio e corpo inserindo-se inteiramente nos espaços no curso da imersão sem que uma personalidade dirija conscientemente esses movimentos. Convém evitar aqui um vitalismo finalista que atribuiria uma intencionalidade representacional do corpo vivo. Uma ecologia pré-motriz é sentida imediatamente pelo corpo na relação com o mundo. O corpo vivo age em pessoa e não como uma pessoa, sem intermediário, menos por uma reflexividade consciente que por um despertar e uma ativação. Na imersão, o corpo vivo invade inteiramente a sensibilidade sem que o sujeito consiga ser extraído pela reflexão: a intensidade é tão forte que ela transborda os quadros estesiológicos habituais, emergindo na consciência do corpo vivido.TRANSCRIPT
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 3
A EMERSO DO CORPO VIVO ATRAVS DA CONSCINCIA: UMA ECOLOGIZAO DO CORPO
B. ANDRIEU Universidade de Rouen - Frana [email protected]
Traduo: Petrucia Nbrega, UFRN
Artigo submetido em novembro/2014 e aceito em dezembro/2014
DOI: 10.15628/holos.2014.2582
RESUMO O corpo vivo se imerge nos espaos. Meio e corpo inserindo-se inteiramente nos espaos no curso da imerso sem que uma personalidade dirija conscientemente esses movimentos. Convm evitar aqui um vitalismo finalista que atribuiria uma intencionalidade representacional do corpo vivo. Uma ecologia pr-motriz sentida imediatamente pelo corpo na relao com o mundo. O corpo vivo age em pessoa e no como uma
pessoa, sem intermedirio, menos por uma reflexividade consciente que por um despertar e uma ativao. Na imerso, o corpo vivo invade inteiramente a sensibilidade sem que o sujeito consiga ser extrado pela reflexo: a intensidade to forte que ela transborda os quadros estesiolgicos habituais, emergindo na conscincia do corpo vivido.
PALAVRAS-CHAVE: corpo, emerso, sensao.
THE EMERSION OF THE LIVING BODY THROUGH THE CONSCIENCE: AN ECOLOGIZATION OF THE BODY
ABSTRACT The alive body dives into spaces, circles and up to the imsertion ( by fitting completely in the process of the dumping) without that a personality steers consciously theses movements. It is advisable to avoid here a finalist vitalism which would attribuate a reprentationnal intentionality to the alive body. A pre-diving ecology is however smelt at once by the body in its relation to the world. The alive body acs personallu, and not as a person,
without intermediary, less by an conscious reflexivity than by an awakening and an activation. In the imsertion, the alive body invades completely the sensibility without that the subject succeeds in extracting by the reflection : the intensity is so strong as it extends beyond the estehsiologic executivesusual and the emersion in the live consciouness.
KEYWORDS: body, emersion, sensation.
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 4
1 INTRODUO
Traduzindo com Christine Lafon e Franois Flix, publicando Lautocrbroscopie de
Herbert Feigl (Feigl, 2002; Andrieu, 2006), os inditos sobre Quel physicalisme? de Rudolf Carnap
(2011) (Andrieu; Felix, 2013), a tese de Karl Popper (2012) e nossos trabalhos sobre o crebro
psicolgico (Andrieu, 1999), descobrimos o atraso da conscincia sobre a atividade do crebro
vivo. As neurocincias in vivo demonstraram que a partir de 40 milsimos de segundo o corpo vivo
poderia ativar em seu crebro uma assinatura da presena do mundo. A ativao est na atividade
do crebro vivo que produz respostas ecologizao do corpo que pode ser registrada pela
imagem in vivo (Dehaene, 2014) e por outros captores de medida. O tratamento das informaes
pelo crebro vivo mais vasto que a seleo atentiva da conscincia. A atividade de ecologizao
do corpo vivo aporta uma regulao pelo crebro dessas informaes em funo das necessidades
de ao: nosso crebro reconhece e categoriza inconscientemente (Dehaene, 2014, 75).
Figura 1: Continuidade emersiva e descontinuidade dos nveis de conhecimento (Andrieu & Burel, 2013)
O obstculo de um conhecimento do nosso corpo vivo, j estabelecido pela fenomenologia
do corpo (Nbrega, 2010), principalmente a conscincia do corpo vivido que coloca um vu
perceptivo sobre as informaes sensoriais e emocionais. O que ns tomamos por corpo vivo
uma percepo do corpo vivido. Como ento distinguir o que provm diretamente do corpo vivo
de sua percepo pelo corpo vivido:
- O tempo da informao se efetua acima de 450 ms enquanto no crebro a ressonncia se
desencadeia de maneira mais rpida a partir de 40 ms.
- O surgimento de uma informao que nos toma como a sncope (Clment, 1989), o
orgasmo (Andrieu, 2013), o medo, a vertigem (Andrieu, 2014), a dor modificando o estado da
conscincia sob a influncia do corpo vivo.
- O atraso com o qual a conscincia do corpo vivido reconstitui uma narrativa e torna
imperceptvel o que faz o corpo vivo: sem nos darmos conta o corpo vivo realiza gestos e decises
que o adaptam as modificaes do ambiente.
Ativao
pr-motriz inconsciente
Conscincia pr-rflexiva
Impresso consciente
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 5
- O desmaio, a inconscincia, a cegueira psquica que manifestam a perda de controle pela
fria fisiolgica.
- A dificuldade a retomar seus espritos (sua calma, tranquilidade, equilbrio) o vivido do
corpo prrio em razo das perturbaes sensoriais e das iluses corporais de sai de si ou da invaso
de si .
Assim se apresenta a fenomenologia da percepo consciente. O problema vem do fato de
que no estamos em direto com nossas sensaes. Essas so ativadas em nosso corpo sem que
nos demos conta. H um atraso antes advenha a nossa conscincia sensorial, um atraso varivel
entre 350 e 500 mil segundos (Libet, 2012; Andrieu, 1998). A sensao nos surpreende do interior
sem que possamos alcanar nem sua intensidade, nem sua direo. O que ns percebemos em 1
pessoa, na narrativa fenomenolgica, j uma deformao perceptiva do contedo que emerge
inconscientemente desde o nosso crebro e sistema nervoso. Essa deformao subjetiva na
narrativa consciente provm do atraso de transmisso da informao produzida em nosso corpo
at conscincia. Esse filtro da conscincia muda a qualidade e intensidade da sensao primeira
que surgiu no corpo.
Assim, quando a sensao de prazer ou de dor chega conscincia, eu consigo senti-la
apenas em atraso ao xtase vivo (espasmo, orgasmo) desencadeado em mim. A percepo
consciente efetiva para mim ocorre 500ms aps o que foi ativado em mim. Eu estou em atraso
sobre o que se passa em meu corpo vivo. Eu devo compor minha motricidade a partir de um filtro
perceptivo. Esse atraso nos tentamos diminuir por tcnicas e prticas corporais, diminuindo-se a
ateno e a vigilncia usando drogas, corpos, lcool. Assim, acreditamos poder comunicar
diretamente pela linguagem corporal o que ativo em ns.
O sujeito pode, no momento da conscincia do seu xtase, antedatar a origem da sensao
que o atravessa? Ele pode encontrar o momento do desencadeamento sensorial desde que sua
efetivao se efetua antes mesmo que ele seja consciente? Se necessrio 500ms de atividade
cerebral para que a sensao alcance a conscincia, eu gozo ou eu sofro aps um tempo mais longo
e que desconheo. Meu corpo goza e sofre antes mesmo de mim e sem mim.
2 UM CORPO VIVO IMERSO
O corpo vivo se imerge nos espaos, inserindo-se inteiramente nos espaos no curso da
imerso sem que uma personalidade dirija conscientemente esses movimentos. Convm evitar
aqui um vitalismo finalista que atribuiria uma intencionalidade representacional do corpo vivo.
Uma ecologia pr-motriz sentida imediatamente pelo corpo na relao com o mundo. O corpo
vivo age em pessoa e no como uma pessoa, sem intermedirio, menos por uma reflexividade
consciente que por um despertar e uma ativao. Na imerso, o corpo vivo invade inteiramente a
sensibilidade sem que o sujeito consiga ser extrado pela reflexo: a intensidade to forte que
ela transborda os quadros estesiolgicos habituais, emergindo na conscincia do corpo vivido.
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 6
Quadro 1: O espao global da conscincia
O corpo objetivado por uma 3 pessoa (Corpo objetivo)
(Meta)CONSCINCIA--------------REFLEXO Cogito Autoconscincia
O corpo vivido em 1 pessoa (Imagem do corpo subjetivo)
SUB-CONSCINCIA -----------EMERSO por ATIVAO
O corpo vivo em pessoa (Esquema corporal in vivo)
IN-CONSCINCIA ----------- INSERO nas experincias
Ecologia do corpo inteiro/todo
Para sentir nossas sensaes em sua vida e a possibilidade de se imergir mais diretamente
na vida por um contato imediato engaja nosso corpo no mundo. Esse contato imediato torna-se
possvel, ns sabemos a partir dos recentes trabalhos sobre as neurocincias in vivo, definindo
assim uma nova compreenso da sensibilidade corporal, uma osmose sentida desde o interior
sensitivo de nosso corpo at as coisas do mundo exterior. Essa fuso intuitiva uma osmose
somtica pela produo em si de sensaes internas: nosso corpo vivo sente o mundo, antes que
tenhamos conscincia do que nomeamos at aqui com a fenomenologia do corpo vivido.
Mas, essa osmose somtica repousa sobre dois princpios que aqui descrevemos: de uma
parte a emerso por ativao em si de potenciais evocados pela interao de nossa sensibilidade
com o mundo exterior; de outra parte a ecologizao espontnea das sensaes desde o nosso
corpo vivo pelo efeito dessa ecologizao abaixo do nosso limiar de conscincia: A conscincia
desempenha um papel preeminente na resoluo das ambiguidades perceptivas (Dehaene,
2014, 138).
Assim, avivada pelo embarque e incorporao (embodiment) em um novo imersante, o vivo
ativa em nosso corpo uma sensao da qual temos apenas uma conscincia com um atraso. Com
efeito, a ativao, entre 40ms e 450 ms antes do limiar da conscincia, antecipa por sua
ecologizao imediata a resposta adaptativa do corpo: um tempo mais imediato alimenta essa
percepo direta, fornecendo uma sensao de osmose de nosso corpo no mundo. Assim a
vertigem precipita em ns uma sensao irredutvel contra a qual nossa conscincia nada pode.
A corporeidade motriz encontraria com o sentido do esforo desde Maine de Biran, uma
experincia para descobrir esse corpo prprio (proprit). O corpo vivo conhecido pelo sujeito
somente pelo que depassa as informaes sensoriais que alcanam a conscincia: o corpo no
conhecido pelo sujeito, mas compreende-o sem se identificar com ele. Nada mais que o que se
manifesta no interior do sujeito existente como pulso ou esforo, como o que resiste a esse
esforo (Barbaras, 2011, 139).
Haveria na experincia corporal uma verdade que no mente. O corpo no mentiria. Ele
falaria dele sem que tivessemos conscincia. O que escapa de meu corpo so esses signos que
observamos do exterior, mas que so gestos, posturas e tcnicas que animam a vida do nosso
corpo. O corpo vivo j se encontra em ato (Berthoz; Andrieu, 2011).
A estratgia do corpo vivo a de adaptar o corpo vivido o mais imediatamente ao. Essa
estratgia no intencional para a conscincia que no a possui. A sensibilidade intuitiva
subconsciente, resultado da ecologia premotriz incorpora-se no habitus. Essa sensibilidade
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 7
orientada por esquemas sensoriais elaborados no curso da experincia e que fornece esse carter
intuitivo e espontneo ao gesto da ao. Em mutao por adaptao informacional, o corpo vivo
planeja, nossa revelia, uma sade precria e uma homeostase em desequlibrio que nos fora a
nos reorganizar.
Colocar-se na escola do corpo vivo aceitar ser ensinado por ele e no control-lo
absolutamente. O corpo vivo nos leva escola de sua mutao, de sua ecologizao e seu
dinamismo. Ele encontra solues afetivas e motrizes independente de nossa deciso consciente.
Nossa capacidade de adaptao nos desconhecida, pois a conscincia de nosso corpo vivido
mantem uma imagem cuja representao de si suficiente para nos conter.
Ora a modificao das condies biolgicas do corpo vivo imperceptvel at que a
conscincia perceba os signos emersivos por meio da sensibilidade. O corpo vivo, como organismo
conectado ao mundo por seu sistema neurosensorial, o que chamamos o mundo
corporal(Andrieu, 2010) cuja usabilidade affordances (Gibson, 2014), produz uma informao
autoregulada e permanente que produzida mesmo quando a conscincia do corpo vivido est
adormecida, em viglia, quando do sono ou dos gestos habituais automticos que realizamos sem
nos darmos conta.
Esse saber sem conhecimento e vivo em meu corpo aquele de meu corpo ou aquele de
minha cultura? Estabelecer uma continuidade entre os diferentes nveis suporia uma
homogeneidade dos trs niveis do corpo em uma s unidade corpo-esprito.
Figura 2: Emerso cognitiva em 1 pessoa do corpo vivo (Andrieu & Burel, 2013)
A emersiologia uma cincia reflexiva nascida da emerso dos sensveis provindos de nosso
corpo vivo na conscincia do corpo vivido. Essa percepo fenomenolgica que define o corpo
vivido como uma imagem do corpo qualitativamente menos intensa que o vivo do esquema
corporal imerso no corpo dessas experincias sensveis. A emerso, diferentemente da enao
(naction) de Francisco Varela que visa a ser apreendida pela conscincia, o movimento
involuntrio em nosso corpo de redes, humores e imagens as quais nossa conscincia conhece
apenas a parte emergida. O corpo vivo produz sensveis pela sua ecologizao com o mundo e com
CREBRO
Corpo no mundo
ORGANISMO VIVO Aparelho Somaestsico
SOMA Soma-estesia
ORGANISME VIVANT Appareil somesthsique
CONSCINCIA EMOCIONAL
Appareil somesthsique
Menos de 40 ms Menos de 450 ms
Tratamento do sinal
emitido
Via direta da emoo
Via cortical da lngua
Resposta Incontrolvel
Cdigo Social GESTO VOLUNTRIO
Insero
Resposta Controlada
GESTO AUTOMTICO
GESTO EMERSIVO Affordance Usabilidade
Reorganizao Pr-motriz Efetividade
Imerso
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 8
os outros. Mas, em razo do tempo da transmisso nervosa, 450ms at conscincia do corpo
vivido, o corpo vivo conhecido - Herbert Feigl o descreve em limpossible autocrbroscopie,
desde 1958 - somente em atraso pela conscincia do corpo vivido
Prestar ateno ao vivo em ns aguardar um sinal, uma informao suficientemente
inabitual e indita para nos surpreender. A porosidade do corpo vivo, conforme o filme Plante
corps (planeta Corpo)1, aquela de um ecossistema em equilbrio dinmico no qual o todo deve
sua forma ao movimento das partes que o compem. O vivo do corpo se exprime
espontaneamente sem o controle do sujeito consciente: essa ecologizao uma regulao. Para
Nathalie Depraz, na terceira fase da ateno, passamos a uma disposio ao acolhimento que
um deixar vir (...) [que mantm] uma tenso entre um ato de ateno sustentado e um no
preenchimento imediato...h uma espera sem conscincia do contedo que vai se revelar
(Depraz, 2014, 43).
Essa espera um acolhimento que despertado a partir do interior do corpo vivo. Essa
sensao interna e involuntria mas vem preencher um contedo de conscincia to distante
que uma representao no vem antecip-la: Sentimos a forma emergir at o ponto da mudana
brutal da percepo (Depraz, 2014, 43). Esse ajustamento da estrutura se distingue de um
ajustamento ao contedo deixando recesso nossa capacidade a preencher nossa conscincia do
que vem do corpo vivo. O vivo surge em que faamos ateno, ele se impe a ns pela informao
que ele mesmo produz pois no temos o controle da intensidade sensorial: a conscincia reflexiva
no pode controlar as condies da dinmica atentiva por sua efetuao nem o contedo
(Depraz, 2014, 44).
O acesso ao corpo vivo duplo. A emersiologia tem um duplo movimento. Ela reconhece
na conscincia do corpo vivido as informaes afetivas e pr-motrizes que foram ativadas pelo
corpo vivo quando de sua ecologizao. A emerso aqui um despertar da conscincia pelos
movimentos involuntrios, os impulsos reflevivos e as emoes diretas.
- Seja a partir do aprofundamento da conscincia que favorece a ateno (Depraz 2014, PetitMengin, 2001) aos estados interiorse e ntimos por tcnicas de meditao, de concentrao como a yoga.
- Seja a partir do despertar (Sacks, 1973) ou ativao no corpo vivo das informaes neuro-inconscientes (Dehaene 2014) que remontam a superfcie da clara conscincia involuntria.
3 CONCLUSO
Os traos da atividade do vivo vem ultrapassar o controle consciente de seu corpo vivido, como Freud colocou o modelo emersivo do involuntrio no intencional na Pychopathologie de la vie quotidienne atravs do conceito de ato falho. Como mostramos para o orgasmo (Andrieu, 2013) e a vertigem (Andrieu 2014), o medo da perda do controle; abandonando-se a uma informao surpreendente ao mesmo tempo psicolgica e fsica.
Esse transbordamento fundado sobre:
1 http://www.monalisa-prod.com/vf/production.php?id=66
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 9
- A atividade biolgica e qumica do organismo que produz os humores, da vertigem ou da dor.
- O quadro insuficiente da sensibilidade consciente que culturalmente constrangedora conforme os ritos de interao (Goffman, 1974).
- A pesquisa do dispositivo de invaso das sensaes do vivo no corpo vivido, colocando-se em estados de xtase com o LSD como Timothy Leary (Penner, 2014) ou em rituais de iniciao (Flahutez; Egana, 2014) como Marion Laval-Jeantet relata.
- A sensibilidade nova percepo de seu prprio corpo (Vigarello, 2014) uma experincia de sensaes internas que convm circunscrever e conhecer para descobrir a profundidade de seu corpo.
O trao desse transbordamento est inscrito no corpo vivo sem que para tanto o corpo vivido tenha dele uma conscincia clara:
- O trao pode ser crnico como na ferida ou na doena que mantm uma sensao que emerge de maneira lancinante na conscincia do corpo vivido.
- O trao pode ser traumatizante (Scarry, 1988) no caso de um estrupo, de uma tortura, de uma violncia psicolgica, de sequelas de uma doena que vem alterar a sade fsica do corpo vivo em uma manifestao psicossomtica (Winnicott, 2014) ou um estado psquico degradado em razo da regulao dos afetos.
- O trao pode ser retentivo o qual perdura apesar da perda da sensao real atravs da imagem que se destaca e volta na via imaginria e psquica.
O trao pois emersivo de trs maneiras:
- Seja revivendo a sensao incorporada no vivo como um engrama que ressurge por uma emerso, como uma cpsula que se libertaria atravs de todo o corpo.
- Seja despertando por um estmulo exgeno forte que sai de seu sono ou de sua no especializao, como nas clulas-tronco, um trao fsico ou psquico que ainda no teria sido atualizado.
- Seja despertando-no pela criao na profundidade do corpo novas redes neuronais e novas sensibilidades imergindo-se em experincias inditas.
O acesso a seu corpo vivo e a seu crebro in-vivo renova assim a percepo de si em uma interao ecolgica (Sirost; Andrieu, 2014) com o mundo e com os outros. O corpo vivo nos fornece as informaes objetivas sobre o mundo no qual nossa percepo nos d um conhecimento parcial, mas subjetivamente intenso.
4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
1. ANDRIEU, Bernard. Le corps dispers. Une histoire du corps au XXe sicle. Paris, Lharmattan, Reed, 1996 et 2000.
2. ______. 1998, La neurophilosophie. Paris: PUF, Reed 2007.
3. ______. A Nova Filosofia do Corpo. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.
4. ______. H. Feigl, de la physique au mental. Paris: Vrin. Prf Pr. G. Heinzmann, Dir Archives Poincar. Avec M. Heidelberger, S. Laugier, A. Metraux, L. Soler, J.C. Dupont, J.N. Missa. 2006
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 10
5. ______. Le monde corporel. Sur la constitution interactive du soi. Lausanne: Ed Lge dHomme: 2011.
6. ______ (ed.). Le corps du chercheur. Une mthodologie immersive. Nancy: Presses Universitaires de Nancy, 2011. (Collection Epistmologie du corps.)
7. ______. Sentir son corps en premire personne : une cologie pr-motrice, Mouvement & Sports Sciences Sciences & Motricit, 2013, 81 : 91-99, 2013.
8. ______. La peur de lorgasme. Dijon: Ed Le murmure, 2013.
9. ______. Donner le vertige. Les arts immersifs, Montral: Liber, 2014.
10. ______. Sentir son cerveau. Une mthode mersive. Tome 1 de LEmersiologie. Paris: Lharmattan, 2015.
11. ______; BUREL, N.. La communication directe du corps vivant: une mersiologie en premire personne, Hermes, n68/1, p.46-52, 2014.
12. ______; FELIX, F. (Orgs.). Quel Physicalisme? Carnap, Schlick, Popper, Feigl. Lausanne: Ed lAge dHomme, 2013.
13. ______; RICHARD, G. (Orgs.). Lexprience corporelle en Staps, Staps, n98, 2012.
14. ______; BUREL, N.; PAINTENDRE, A. (Orgs.). Un corps pour enseigner, Paris: Lharmattan, 2015.
15. BARBARAS, Renaud. L'ouverture du monde: Lecture de Jan Patoka. Editions de la Transparence: 2011.
16. BERTHOZ, A.. La vicariance. Paris: O. Jacob, 2013.
17. ______; ANDRIEU, Bernard (Orgs.). Le corps en acte: Centenaire Maurice Merleau-Ponty. Lorraine : P.U. de Lorraine, 2008. Coll. Epistmologie du Corps.
18. CARNAP, R. Logique et Physicalisme. Essais 1934-1952. Lausanne: Ed Lge dHomme, 2011.
19. CLMENT, C. La syncope; philosophie du ravissement. Paris: Grasset, 1994.
20. DEHAENE, S. Le code de la conscience. Paris: O. Jacob, 2014.
21. DEPRAZ, Natalie. Attention et vigilance. A la croise de la phnomnologie et des sciences cognitive. Paris: P.U.F., 2014.
22. FEIGL, H. Le mental et le physique [1958. 1967]. Paris: LHarmattan, Universit de Minneapolis avec Christine Lafon. 2002.
23. FLAHUTEZ, Egana (Org.). Arts drogus: Expriences psychotropiques et cration artistique. Paris: Presses Universitaires de Paris X, 2014.
24. GIBSON J.J. L'approche cologique de la perception visuelle. ditions Dehors, 2014.
25. GOFFMAN, E. Les rites d'interaction. Paris: Minuit, 1974.
26. JEANNEROD, M. Le cerveau volontaire. Paris: O. Jacob, 2009.
27. LIBET, B. Lesprit au-del des neurones. Paris: Dervy, 2012.
28. NACCACHE, L. De quoi prenons-nous conscience. Paris: Editions Manucius, 2013.
29. NBREGA, Terezinha Petrucia. Uma Fenomenologia do Corpo. So Paulo: Editora Livraria da Fsica, 2010.
-
ANDRIEU (2014)
HOLOS, Ano 30, Vol. 5 11
30. PENNER, J.; TIMOTHY, Leary. The Harvard Years: Early Writings on LSD and Psilocybin. Park Street Press, 2014.
31. PETITMENGIN, C. L'exprience intuitive. Paris: L'Harmattan, 2001.
32. QUIDU, M. (Org.). Lpistmologie du corps du savant. 2 tomes. Paris : LHarmattan, 2014.
33. SACKS, O. Lveil. Cinquante ans de sommeil. Paris: Le Seuil, 1973.
34. SCARRY, E. The Body in Pain: The Making and Unmaking of the World. Oxford Paperbacks, 1988.
35. SIROST, O.; ANDRIEU, B. (Orgs). Lcologie corporelle, Socits, N spcial, 2014.
36. VANPOULLE, Y. Epistmologie du corps en Staps. Vers un nouveau paradigme. Paris: L'Harmattan, 2011. Coleo Mouvements des Savoirs .