a efi ciência energética na gestão do...

68
Ecos l 30 1 Ec c Ec Ec c c cos os os os s os s os s s os s s os os os o o l l l l l l l l l l l l l l l l l l 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 30 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Entrevista Edison Lobão Ministro de Minas e Energia Opinião Airton Sampaio Gomes Consultor do Cepel A eficiência energética na gestão do saneamento

Upload: others

Post on 09-Jul-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

1

EccEcEcccco

so

so

so

sso

sso

ssso

ssso

so

so

soo

llllllllllllllllll33333333333 33 333333 3333300000000000000000000000000000000

11111111111111111111111111111111111111111

EntrevistaEdison LobãoMinistro de Minas e Energia

OpiniãoAirton Sampaio GomesConsultor do Cepel

A efi ciência energética na gestão do saneamento

Revista Ecos 30 - março.indd 1 06/04/10 14:49:08

Page 2: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

2

Revista Ecos 30 - março.indd 2 06/04/10 14:49:11

Page 3: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

3

EcEcEccEco

so

so

so

ss llll 3 3 3 33

000000

3333333333333

Eficiência energética melhora a gestão do saneamento

O setor de energia elétrica já ocupa o se-gundo lugar em termos de investimentos e custos dos projetos em saneamento ambien-tal no Brasil. Na reportagem “Eficiência ener-gética combina com saneamento ambiental”, Ecos destaca a importância do trabalho em conjunto para a eficiência da gestão dessas áreas. Em entrevista exclusiva, o Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, garante que o Brasil caminha de forma segura para o ple-no abastecimento de energia elétrica.

Nesta edição, abordamos também a ne-cessidade de racionalizar e modernizar o setor de produção e distribuição de água pa-ra reduzir os desperdícios. Estudos revelam que, para atingir a universalização dos ser-viços de abastecimento de água e esgota-mento sanitário até 2020, o Brasil precisaria investir cerca R$ 178 bilhões.

Na seção Ambiente, técnicos do DMLU destacam a importância da educação am-biental e dizem que a falta de conscientiza-ção e de comprometimento das pessoas com a vida em comunidade é o maior obstáculo no caminho da eficácia nos serviços de limpeza urbana em Porto Alegre.

Prevenindo-se contra os efeitos das chuva-radas históricas que vêm ocorrendo, a Prefei-

tura de Porto Alegre está investindo na con-servação, melhoria e ampliação do sistema de drenagem da cidade com obras para con-trolar alagamentos.

Na seção Preservação destacamos o Centro de Referência em Energias Renová-veis (Crer), inaugurado em setembro de 2009 para promover e incentivar ações e projetos que usem tecnologias em energia renováveis. O objetivo é buscar a eficiência energética no âmbito das comunidades lo-cais e regionais.

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) está desenvolvendo o projeto Árvo-re é Vida, que já supera a expectativa ini-cial de plantar um milhão de mudas no Es-tado para recompor matas ciliares e áreas degradadas.

O artigo de Opinião, intitulado “Eficiência energética no saneamento: um desafio a ser vencido”, foi escrito pelo consultor Airton Sampaio Gomes, do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), vinculado à holding Eletrobrás.

Boa leitura!

Revista Ecos 30 - abril.indd 3 19/04/10 14:29:53

Page 4: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

4

Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Departamento Municipal de Água e Esgotos

Supervisão de Comunicação Social

CONSELHO EDITORIAL: Adriana Nascimento Machado (DEP),Antônio Goulart (ARI), Belkys Gonçalves Bittencourt (Pucrs), Deisy Maria Andrade Batista (Abes-RS), Geraldo Antônio Reichert (Smam), Iara Conceição Morandi (Dmae), Flávio Ferreira Presser (Dmae), Maria Cláudia Vasconcellos (Sema),Luiz Fernando Cybis (Ufrgs), Roberto Azevedo (DMLU), Marcio Suminski (Dmae), Sandra Mara Moura Pereira (Unidmae). COORDENADORA DA UNIDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIALAngélica Ritter, Mtb 11.010

EDIÇÃOMaria de Lourdes da Cunha Wolff, Mtb 6.535

ARTE DA CAPA Douglas Carvalho

DIAGRAMAÇÃO e REVISÃOImagine Design

COLABORADORESRaphael Ignácio Mesquita RodriguesIsadora Escobar Kolecza

IMPRESSÃOOfi cinas Litográfi cas do Dmae TIRAGEM5.000 exemplares Notas da RedaçãoEnvie sua colaboração para a redação. Unidade Técnica do Dmae, Rua 24 de Outubro, 200, CEP 90510-000 - Porto Alegre (RS), Fone: (51) 3289-9724, Fax: (51) 3289-9286

A Revista Ecos é uma publicação quadrimestral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), com circulação nacional e distribuição gratuita, registrada sob o no 775.831 no Cartório de Registro Especial, Comarca de Porto Alegre (RS) - ISSN 0104-5261.

Os artigos e textos publicados são de responsabilidade de seus autores. A reprodução destes, bem como das fotos e ilustrações, é permitida desde que sejam citadas a autoria e a fonte. A redação solicita que seja comunicada a transcrição, referência ou apreciação dos artigos e reportagens publicados na revista.

6 ENTREVISTAEdison Lobão, ex-ministro de Minas e Energia:“Brasil caminha de forma segura para o pleno abastecimento de energia elétrica”.

16 REPORTAGEMEficiência energética combina com saneamento ambientalA reportagem destaca a importância do trabalho em conjunto para a eficiência da gestão dessas áreas.

Mar

ço d

e 2010

4

Revista Ecos 30 - abril.indd 4 19/04/10 14:29:55

Page 5: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Rua 24 de Outubro, 200CEP 90510-000 Porto Alegree-mail: [email protected]

10 AMBIENTEProblemas ambientais começam no desperdício do lixoTécnicos do DMLU destacam a importância da educação ambiental e apontam a falta de conscientização e de comprometimento com a vida em comunidade como obstáculos na busca de eficácia nos serviços de limpeza urbana.

DEP investe em novas obras de drenagemA Prefeitura de Porto Alegre investe na conservação, melhoria e ampliação do sistema de drenagem da cidade, e promove obras para o controle de alagamentos, prioritárias em tempo de El Niño e de chuvaradas históricas.

34 PRESERVAÇÃOPorto Alegre já tem um centro de energias renováveisO Centro de Referência em Energias Renováveis (Crer) foi inaugurado em setembro de 2009 para promover e incentivar ações e projetos que usem tecnologias em energia renováveis, visando à eficiência energética no âmbito das comunidades locais e regionais.

Dmae estuda aproveitamento do gás metano para a geração de energiaO Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre e o secretariado latino-americano da organização Governos Locais para a Sustentabilidade (ICLEI) firmaram parceria para desenvolver o projeto “Promovendo o uso do biogás local para o desenvolvimento sustentável no Brasil” (REEEP – Renewable Energy and Energy Efficiency Partnership). A iniciativa está em fase de implementação e os primeiros resultados do diagnóstico estão previstos para 31 de julho deste ano.

40 OPINIÃOEficiência energética no saneamento: um desafio a ser vencido Com a palavra, o consultor Airton Sampaio Gomes, do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), vinculado à holding Eletrobrás.

Eco

s l 3

0

5

Foto

: Ric

ardo

Str

iche

r/PM

PA

Revista Ecos 30 - abril.indd 5 19/04/10 14:29:56

Page 6: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Edison LobãoMinistro de Minas e Energia

Foto

: Oto

Roo

sew

elt

Pinh

eiro

/Agê

ncia

Bra

sil

Revista Ecos 30 - abril.indd 6 19/04/10 14:29:57

Page 7: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

EDiSON LOBÃO:

"Brasil caminha de forma segura para o pleno abastecimento de energia elétrica”

Ex-governador do Maranhão (1991-1994) e ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão construiu carreira política em Brasília, onde atuou como senador já em 1986 e cumpriu dois mandatos representando seu estado. Político experiente, Lobão foi encarregado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva de comandar uma das áreas estratégicas mais cobiçadas do Governo Federal, o setor energético.

Pressionado pela sociedade em decorrência das crises energéticas que afetaram o crescimento econômico do país no final do governo Fernando Henrique Cardoso, o ministro Lobão passou a contar, a partir de 2004, com uma estrutura de planejamento energético inexistente nas administrações anteriores: a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que desde então vem traçando os perfis e modelos do desenvolvimento brasileiro no setor de energia.

Atualmente o Brasil tem um planejamento estratégico para o setor energético com objetivos e metas delimitadas até 2030. No momento, a EPE faz uma revisão das metas projetadas para o período 2014-2018 no plano decenal. Até lá, segundo o ministro, o Brasil caminha de forma segura para o pleno abastecimento de todos os setores da economia nacional, apesar da crescente demanda. Nos próximos oito anos o Brasil vai consumir mais 40% de energia, se comparado com os níveis atuais, e este acréscimo vai ser suplantado com a conclusão das obras e usinas já autorizadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O ministro projeta um aumento no consumo residencial na ordem de 49%, passando dos atuais 98.883 gigawatts por ano para mais de 147 mil gigawatts/ano em 2017. Nesse período, o setor industrial também vai consumir mais 37,2%, saltando dos atuais 189.089 gigawatts para 259.468 gigawatts. Tudo isso, segundo ele, é resultado de uma economia que não para de crescer, apesar da crise internacional de 2009.

Edison Lobão considera a energia mais do que um fator estratégico. Para ele, somente as nações que conseguirem acompanhar o crescimento da demanda energética terão condições de enfrentar o mercado mundial. Ele lembra que o Brasil – cuja matriz energética se baseia em energia renovável, que são as hidrelétricas – tem uma oportunidade única de alcançar grande destaque e liderança no cenário internacional, sobretudo com a descoberta das reservas de petróleo da camada pré-sal, que devem colocar o país na condição de grande exportador do produto e promover um desenvolvimento econômico de grande envergadura para a próxima década.

Eliana Freitas Mainierijornalista

Revista Ecos 30 - abril.indd 7 19/04/10 14:29:58

Page 8: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

8

Ecos – Ministro, o Governo Federal já identificou a infra-estrutura como sendo uma das prioridades do país. As obras de saneamento, incluídas nes-te contexto, por sua natureza, exigirão também investimen-tos na ampliação de redes? Co-mo a sua pasta está preparada para este desafio? A energia elétrica vai acompanhar o elenco de obras de infraestru-tura previstas no PAC?

Edison Lobão – O planeja-mento da expansão do setor elétrico brasileiro, realizado pe-la Empresa de Planejamento Energético, vinculada a este mi-nistério, é feito a partir de da-dos dos diversos setores da eco-nomia, bem como de índices macroeconômicos, que geram, por meio de análises de sensibi-lidade, diversos cenários para os quais o governo deve estar preparado. Em função das de-mandas, o governo está avalian-do como acelerar o ritmo das obras necessárias.

Ecos – Ministro, o senhor co-mo gestor de um setor estraté-gico, sabe que a expectativa por novos investimentos tem gerado pressões da sociedade em di-versos pontos do Brasil, princi-palmente por parte dos investi-dores. As empresas prestado-ras de serviços de saneamento alegam que a energia elétrica, sem a qual não funciona uma estação de tratamento, por exemplo, é um componente de alto custo. Existe a possibilida-de de se oferecer mais energia e por valores mais baixos para estes empreendimentos essen-ciais à sociedade?

Edison Lobão – Em primeiro lugar, é importante salientar que energia cara é aquela que é desperdiçada. O setor já é con-templado com um subsídio de

15 % de desconto sobre as tari-fas nominais. Estudos recentes realizados pelo Procel Sanear, em parceria com o Ministério das Cidades e Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica) demonstram que o desperdício, incluindo a energia desviada com as perdas de água nos sis-temas, chega ao montante de R$ 800 milhões por ano, dos cerca de 2,6 bilhões pagos pelo setor de saneamento por seu consu-mo de energia elétrica. Nesse contexto, para a sociedade, cer-tamente seria conveniente que parte do valor pago pela energia desperdiçada fosse investido em programas de melhoria da efici-ência, contribuindo para acele-rar a universalização dos servi-ços. Por outro lado, o aumento do subsídio poderia ser um in-centivo adicional para o uso ine-ficiente da energia.

Ecos – Gerar e distribuir energia para acompanhar as demandas tem sido um grande desafio. Mas uma questão que tem pesado muito nas decisões de novos empreendimentos é a questão ambiental. Como o se-nhor vê o crescimento combina-do com meio ambiente, isto é, com sustentabilidade?

Edison Lobão – Este é um dilema que não é só do Brasil, mas de todos os países em de-senvolvimento e desenvolvidos. Os EIA/Rima (Estudo de Impac-

to Ambiental/Relatório de Im-pacto Ambiental) visam a rela-cionar os impactos dos empre-endimentos no meio ambiente. Mas não devemos esquecer que os empreendimentos trazem também impactos positivos, co-mo, por exemplo, o aproveita-mento múltiplo dos reservató-rios das hidrelétricas e o desen-volvimento econômico e social trazido por estes empreendi-mentos para as regiões onde se instalam. Portanto, para se pro-mover a sustentabilidade, é preciso buscar permanente-mente um equilíbrio.

Ecos – Existe, Ministro, um trabalho em conjunto entre a sua pasta e a pasta do Meio Ambiente e o Ministério das Cidades, a quem cabe tocar as obras de saneamento? Como o senhor analisa este relaciona-mento na atualidade?

Edison Lobão – O Ministério de Minas e Energia, por meio do Procel Sanear, intensificou sua atuação a partir de 2002, em parceria com esses dois Mi-nistérios e o Ministério da Saú-de, a qual também compete de-senvolver ações de promoção do saneamento em municípios de até 50 mil habitantes, visan-do principalmente à promoção de medidas de eficiência. Neste sentido, formalizamos protoco-los de cooperação, de modo a facilitar as ações articuladas.

Ecos – Ministro, na sua opi-nião, o Brasil aumentou a efici-ência energética? Reduziu des-perdícios? Qual é o maior desa-fio que tem pela frente?

Edison Lobão – De modo ge-ral, sob o ponto de vista da ener-gia elétrica, com certeza. O maior exemplo disso são os re-sultados do Procel, o Programa de Conservação de Energia Elé-

“Em primeiro lugar, é importante salientar que energia cara é aquela que é desperdiçada. O setor já é contemplado com um subsídio de 15 % de desconto sobre as tarifas nominais.”

Revista Ecos 30 - abril.indd 8 19/04/10 14:29:58

Page 9: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

9

zar investimentos para reduzir as barreiras à transformação do mercado, prover informa-ção adequada, assim como atuar para aumentar o crédito destinado à eficiência. Se, por um lado, o governo tem este papel, a sociedade deve empe-nhar-se para realizar os poten-ciais de aumento da eficiência.

Ecos – O Brasil, Ministro, tem sua matriz energética soli-dificada nos recursos hídricos. Como o senhor avalia a possibi-lidade de participação de ou-tras fontes no sistema, como energia eólica e energia solar, por exemplo. Estas tecnologias poderiam ser aplicadas no

abastecimento de novos empre-endimentos? As barreiras para a expansão destas energias al-ternativas ainda é a questão do custo de geração?

Edison Lobão – Salvo a que-bra de um paradigma tecnoló-gico, ou seja, o surgimento de uma nova fonte de energia ou de um processo de rendimento maior que os atualmente em uso, o próximo montante de energia nova produzida terá custos sociais maiores, por um princípio lógico da economia. As energias eólica e solar – que são posteriores à geração

trica, coordenado pelo MME e executado pela Eletrobrás. Para um investimento de cerca de 1 bilhão de reais em estudos e projetos relacionados à eficiên-cia energética, postergou a ne-cessidade de investimentos, pe-lo lado da oferta, de 23 bilhões de reais no período de 1986 a 2008, configurando um retorno de investimento próximo de 20 para 1. Isto significou o adia-mento de investimento na ex-pansão do sistema elétrico em 7.890 megawatts, o que é mais da metade da potência instalada de Itaipu. Grande parte deste resultado aconteceu em função das ações desenvolvidas visan-do à melhoria dos índices de efi-ciência energética dos equipa-mentos em uso no país, bem co-mo de ações destinadas à pro-moção da eficiência nos diver-sos segmentos de consumo.

Esforço similar tem ocorrido no setor de petróleo e gás por meio do Conpet, que atua de for-ma análoga ao Procel naquele setor. Não obstante as ações re-alizadas no viés tecnológico, o grande desafio é induzir o con-sumo de energia de maneira efi-ciente pelo usuário final. Apesar do excelente retorno financeiro, o desafio é conseguir mais re-cursos para investir em melho-ria da eficiência, em especial no setor de saneamento, que é in-tensivo na aplicação de capital.

Ecos – A tarefa de reduzir o desperdício energético não é só do Governo. Que conselho ou recomendação o senhor dá aos empreendedores e mesmo para a população em geral sob este aspecto?

Edison Lobão – Em minha opinião, cabe ao governo reali-

“O Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf), que estabelecerá estratégias e metas intermediárias para o alcance dos objetivos estabelecidos no PNE."

* Concedida pelo então Ministro de Minas e Energia Edison Lobão, realizada no final de março de 2010, antes da troca ministerial.

por hidreletricidade e ainda não representaram a quebra do paradigma tecnológico – surgem como alternativas complementares em nossa ma-triz energética.

Ecos – O saneamento bási-co, a distribuição de água pa-ra consumo humano e o reco-lhimento de esgoto para trata-mento são indicadores de qua-lidade de vida e de desenvolvi-mento social. Qual a sua opi-nião sobre o tema?

Edison Lobão – Sem dúvi-da. Neste sentido, o MME tem procurado fazer a sua parte por meios de seus programas Luz para Todos, Procel , Conpet, Proinfa etc., que con-tribuem para que esses indica-dores apresentem níveis cada vez mais elevados.

Ecos – No que se refere ao Plano Nacional de Energia, qual a avaliação que o senhor faz sobre objetivos. Estamos dentro do previsto ou nossas metas ainda estão distantes?

Edison Lobão – No caso da eficiência energética em sanea-mento e outros segmentos de consumo, está em fase final de elaboração o Plano Nacional de Eficiência Energética (PNEf), que estabelecerá estratégias e metas intermediárias para o al-cance dos objetivos estabeleci-dos no PNE. Em relação ao PNE, estamos caminhando a passos largos para conseguir desenvolver cada vez mais a eficiência energética no Brasil. O MME e a Empresa de Pesqui-sa Energética (EPE) estão atu-alizando o plano com novas me-tas que, não tenho dúvidas, se-rão atingidas.*

Revista Ecos 30 - abril.indd 9 19/04/10 14:29:58

Page 10: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

10

2010 chegou entre lamen-tações pelo resultado pífio que os grandes líderes mun-diais obtiveram em Copenha-gue, Dinamarca, na 15ª- Conferência da Organiza-ção das Nações Unidas

“Infelizmente pouca gente tem consciência de que pode ‘fazer a sua parte’ e ajudar a solucionar grandes proble-mas, apenas corrigindo algu-mas atitudes simples no dia a dia”, lamenta Mário Moncks, diretor-geral do Departamen-to Municipal de Limpeza Ur-bana (DMLU) de Porto Ale-gre. A gestão do lixo é um bom exemplo.

(ONU) sobre Mudanças Cli-máticas e as notícias de que as forças da natureza, que inundam cidades, fazem mor-ros deslizar, soterram pesso-as, transbordam rios e levam de roldão plantações, ani-mais e vidas humanas são ameaças cada vez mais pró-

ximas para cada habitante do planeta. Onde está a

solução? O que é pos-sível fazer?

gue, Dinamarca, na 15Conferência da Organiza-ção das Nações Unidas

ameaças cximas pado plan

solu

Problemas ambientais começam no desperdício do lixo nosso de cada diaRoberto AzevedoJornalista

Foto

: Div

ulga

ção/

DM

LU/P

MPA

Coleta seletiva é mais limpa e feita com maior cuidado

Revista Ecos 30 - abril.indd 10 19/04/10 14:29:58

Page 11: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

11

A cidade de São Paulo concluiu recentemente seu inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e constatou – segundo infor-mação do secretário de Meio Ambiente Eduardo Jorge à revista Veja em janeiro – que 75 % das emissões vêm da forma como é util izada a energia, mas 25 % do proble-ma está diretamente ligado à manipulação do lixo.

Manipulação do lixo que, se fosse mais eficiente em Porto Alegre, também poderia fazer com que os quase 1,5 milhão de porto-alegrenses deixassem mais de R$ 9 mi-lhões por ano nos cofres do DMLU e destinassem pelo me-nos outros R$ 6 milhões para as pessoas que sustentam su-as famílias separando e ven-dendo resíduos sólidos rea-proveitáveis ou recicláveis.

Para isso nem precisariam fazer muito esforço. Bastaria separar o lixo orgânico do lixo seco em casa e dispor na cal-çada, tanto um quanto outro, nos dias e turnos corretos da coleta domiciliar (orgânico) e da coleta seletiva (seco).

Parece simples, mas na verdade a educação ambien-tal, a conscientização e o com-prometimento de cada um com a vida em comunidade ainda são obstáculos signifi-cativos na árdua tarefa de buscar a eficácia nos serviços cotidianos de limpeza urbana.

Ao menos 25 %de desperdício

A primeira fase de uma pesquisa realizada por técni-cos da Divisão de Destino Fi-nal (DDF) do DMLU, que tra-balhou manualmente duran-te a primavera com 17 tone-

ladas de lixo da coleta domi-ciliar destinadas normalmen-te ao aterro sanitário, consta-tou que pelo menos 25 % des-se material são compostos por resíduos reaproveitáveis ou recicláveis (plástico, pa-pel, papelão, metal, vidro). “Nosso trabalho será conclu-ído no final do inverno de 2010, para que a sazonalida-de não distorça o perfil da pesquisa, mas os números atuais já mostram uma ten-dência real do que ainda é o

desperdício em Porto Alegre por falta de maior segrega-ção do lixo doméstico”, afir-ma o engenheiro Eduardo Fleck, coordenador do tra-balho.

Porém, ao contrário do que pode parecer, apesar des-sa realidade de desperdício, Porto Alegre tem a coleta se-letiva pioneira no país (feste-ja 20 anos em julho próximo) e é reconhecida pelas mais respeitadas entidades nacio-nais do setor como a cidade

DMLU retira grande quantidade de lixo do leito do arroio Dilúvio diariamente

Foto

: Ric

ardo

Str

iche

r/PM

PA

Revista Ecos 30 - abril.indd 11 19/04/10 14:30:00

Page 12: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

12

brasileira que reaproveita ou recicla o maior percentual de seus resíduos sólidos. “For-malmente são cem toneladas diárias de coleta seletiva dis-tribuídas por 16 unidades de triagem (UT) conveniadas com o DMLU, onde trabalham cerca de 700 pessoas, que têm renda média mensal de um salário mínimo”, explica Jairo Armando dos Santos, diretor da Divisão de Projetos Sociais do DMLU.

A conta formal do desper-dício é simples. O DMLU co-leta em média mil toneladas de lixo doméstico diariamen-te e trabalha seis dias por semana. Ou seja, 26 dias por mês; pouco mais de 300 dias por ano. Esse serviço de co-leta, que leva os resíduos “orgânicos” (misturados com

o que poderia ser reaprovei-tado) para a estação de transbordo na Lomba do Pi-nheiro, somado ao serviço de transporte que leva depois o lixo para o aterro sanitário em Minas do Leão, a 113 km

de Porto Alegre, tem um cus-to de pouco mais de R$ 115,00 por tonelada. Então, o gasto com a quarta parte (25 %) dessas mil toneladas diá-rias, que é fatia do desperdí-cio constatada na pesquisa,

Assessoria Comunitária identifica os donos do lixo mal descartado

Foto

: Tar

sila

Per

eira

/PM

PA

Sem desperdício, unidades de triagem poderiam produzir mais do que o dobro

DIV

ULG

AÇÃO

DM

LU/P

MPA

Revista Ecos 30 - abril.indd 12 19/04/10 14:30:00

Page 13: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

13

AÇÕES FREQUENTES

• misturar lixo orgânico e lixo seco – é isso que, in-

clusive, leva os catadores informais a violar seu lixo

que, além de sujar sua rua, entope bueiros e termina

nos rios;

• colocar seu lixo nas caçambas que estão próximas

de casa – um saquinho de lixo orgânico contamina

dezenas de toneladas de material que não precisaria

ir para o aterro sanitário;

• descartar óleo de fritura na pia ou no vaso sanitá-

rio – um litro de óleo de fritura contamina um milhão

de litros de água;

• dispor seu lixo na calçada fora de dia ou horário

da coleta – além desse lixo ficar mais tempo à dispo-

sição de catadores informais, também ficará mais

exposto a animais e à chuva;

• entregar seu lixo para catadores informais ou

carroceiros – por mais corretos que forem com você,

pode ter certeza de que sujarão a calçada do vizinho

ou a praça mais próxima.

significa cerca de R$ 30 mil por dia, R$ 750 mil a cada mês e um total de R$ 9 mi-lhões ao ano.

Além disso, se perdem vantagens ambientais: se es-tas 250 toneladas diárias de resíduos reaproveitáveis ou recicláveis chegassem às UT que recebem hoje 100 tonela-das, permitiriam a criação de aproximadamente mil no-vos postos de trabalho, inje-tando R$ 500 mil mensais (R$ 6 milhões a cada ano) no mercado de quem vive e sus-tenta a família separando e negociando os resíduos sóli-dos descartados nas ruas de Porto Alegre.

55 milhões detoneladas/ano

Para se ter noção do ta-manho desse problema no país, basta dizer que Porto Alegre é líder entre 5.564 municípios. Segundo o Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somos cerca de 190 milhões de bra-sileiros. Produzimos aproxi-madamente 160 mil tonela-das de lixo todos os dias (média de 0,8 kg por pes-soa). Isso significa 4,6 mi-lhões de toneladas por mês e mais de 55 milhões de tone-ladas de lixo a cada ano. Uma visão impressionante, tanto pela ótica dos proble-mas ambientais, que não ti-veram o avanço esperado na 15ª- COP; quanto pela ótica econômica, a partir do cálcu-lo de desperdício de dinheiro público que poderia estar sendo investido em tantos setores carentes que desqua-lificam, de forma crescente e continuada, a qualidade de vida no planeta.

Assessoria Comunitária do DMLU trabalha para informar os cidadãos sobre a importância da gestão do lixo

Foto

: Div

ulga

ção/

DM

LU/P

MPA

Revista Ecos 30 - abril.indd 13 19/04/10 14:30:01

Page 14: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

14

DEP investe em novas obras de drenagem

Por Adriana Machado Jornalista, assessora de imprensa do DEP

A Prefeitura de Porto Alegre está investindo muito na con-servação, melhoria e ampliação do sistema de drenagem da ci-dade. Novas obras para o con-trole dos alagamentos tornam-se prioridade em tempos de El Niño e de chuvas históricas.

Obras em execução

Durante o ano de 2009 o De-partamento de Esgotos Pluviais (DEP) iniciou várias obras con-tra alagamentos em diversas regiões da cidade. O DEP está

executando a casa de bombas e a obra de drenagem Santa Te-resinha, no bairro Santana, que alcança um investimento de R$ 5,1 milhões.

A bacia de amortecimento de cheias da praça Celso Luft está sendo executada na aveni-da Teixeira Mendes, bairro Três Figueiras, com o custo de R$ 1,4 milhão. Esta bacia terá capaci-dade de reter 5 milhões de litros de água da chuva.

Também na Zona Norte, o DEP executa a obra de drena-gem da avenida São Pedro, bair-ro São Geraldo. O investimento da Prefeitura na obra de contro-le dos alagamentos da avenida São Pedro é de 6,3 milhões.

No Jardim Lindoia, o DEP está executando a obra de

drenagem da avenida Pana-mericana. No local, o DEP constroi galerias que se es-tenderão pela avenida Pana-mericana, desde a avenida Sertório até a avenida Assis Brasil. O investimento da pre-feitura nesta obra alcança R$ 5,6 milhões.

Ainda em 2009, o DEP ini-ciou o estudo de planejamento do Plano Diretor de Drenagem Urbana, com um investimento de R$ 7 milhões e um prazo de dois anos para a conclusão. Com o plano de drenagem serão estudadas as 27 bacias hidro-gráficas da cidade e apontadas diretrizes técnicas e ambientais para a solução dos problemas de drenagem urbana e controle dos alagamentos.

Foto

s: G

abrie

la A

zeve

do /

DEP

DEP constroi bacia de amortecimento de cheias na praça Celso Luft, avenida Teixeira Mendes, bairro Três Figueiras

Revista Ecos 30 - abril.indd 14 19/04/10 14:30:02

Page 15: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

15

Eco

s l 3

0

15

Outras importantes obras serão iniciadas nos próximos meses. Destacamos a reforma e ampliação das casas de bombas nº- 5 na BR 290 e da casa de bombas Vila Farrapos, no bair-ro Humaitá. Na reforma destas duas casas de bombas o DEP investirá R$ 1,1 milhão.

Também será executada a obra da vila Minuano que con-siste na construção de diques do arroio Passo da Mangueira, coletor geral e casa de bombas com capacidade de vazão de 8 mil litros por segundo. Nesta grande obra o DEP investirá R$ 9,98 milhões.

No bairro Sarandi será executada a obra de drena-gem da rua João Paris, em que o DEP investe R$ 900 mil na construção de 675 metros de redes pluviais.

Na Zona Leste, o DEP execu-tará a obra de drenagem do Jardim do Salso. Com um in-vestimento de R$ 2,34 milhões na primeira etapa, os trabalhos serão executados na avenida Cristiano Fischer, trecho entre a avenida Ipiranga até a rua Professor Pedro Santa Helena.

O maior arroio de Proto Ale-gre, o arroio Dilúvio, também receberá melhorias. O DEP in-

vestirá R$ 8,5 milhões na recu-peração dos taludes e dos cole-tores das redes pluviais que chegam no Dilúvio. Nesta obra as lajes de grês serão substituí-das por lajes de concreto, mate-rial com maior resistência a im-pactos, e serão substituídas as redes coletoras danificadas.

Na Zona Sul da cidade, bair-ro Ipanema, o DEP executará a obra de drenagem da rua João Mendes Ouriques, com um in-vestimento de R$ 6,11 milhões. Todas estas obras para o con-trole de alagamentos trarão maior qualidade de vida aos moradores de Porto Alegre.

Próximas obras a serem iniciadas

Casa de bombas Santa Teresinha está sendo construída na avenida Ipiranga com rua Jacinto Gomes, bairro Santana

Obra de drenagem da avenida São Pedro sendo executada próximo à rua Santos Dumont, São Geraldo

Lote III da obra de drenagem Santa Teresinha em execução na rua Luiz Carlos de Moraes, bairro Santana

Obra de drenagem da avenida Panamericana sendo executada próximo à rua Guadalupe, Jardim Lindoia

Fotos: Gabriela Azevedo / DEP

Revista Ecos 30 - abril.indd 15 19/04/10 14:30:03

Page 16: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

16

Pressionadas pela socieda-de e pelo mercado competitivo, as empresas de saneamento do Brasil buscam, cada vez mais, aplicar uma fórmula complexa que leve a melhores resultados com menores custos e menor impacto ambiental. É na combi-nação desses três fatores que surge a eficiência energética como um diferencial na gestão e um desafio para as empresas

de saneamento que em suas es-truturas precisam de novas tec-nologias, de aparatos elétricos modernos e de obras de infra-estrutura que melhorem o pro-cesso de coleta, tratamento e distribuição de água e esgoto sanitário.

Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), publicado anualmente pela Secretaria Na-

cional de Sane-amento Am-biental (SNSA)

p p p

Eficiência energética combina com saneamentoambiental

Por Charles SoveralJornalista

do Ministério das Cidades, o se-tor de saneamento responde por 2,5 % do consumo total de energia elétrica no Brasil, o equivalente a aproximadamen-te 10,4 bilhões de kWh/ano. Este mesmo levantamento mostra que, em média, o país perde 40 % da água distribuí-da pelos prestadores de servi-ço em relação à água produzi-da (referência 2007).

Para atingir a universaliza-ção dos serviços de abasteci-mento de água e esgotamento

Foto

: DIv

ulga

ção/

Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 16 19/04/10 14:30:07

Page 17: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

17

sanitário no país – atendendo toda a população que hoje não tem acesso aos serviços e ab-sorvendo o crescimento da po-pulação até o ano de 2020 – se-ria necessário investir cerca de R$ 178 bilhões. Na composição desses custos estão os gastos e investimentos em energia elétri-ca, que já ocupam a segunda colocação em termos de investi-mentos e custos dos projetos em saneamento. “Daí a impor-tância de racionalizar, moderni-zar e reduzir os desperdícios e perdas”, explica Ernani Miran-da, coordenador do setor de sa-neamento do MCidades.

Miranda lembra que o Pro-grama Nacional de Conserva-ção de Energia Elétrica (Pro-cel), coordenado pelo Ministé-rio de Minas e Energia (MME) em parceria com o MCidades, desenvolve o Procel-Sanear, que tem como principal objeti-vo promover ações que visem ao uso eficiente de energia elétrica e água em sistemas de saneamento ambiental, in-cluindo os consumidores, se-gundo uma visão integrada de utilização desses recursos. “Além disso, é nossa meta in-centivar o uso eficiente dos recursos hídricos como estra-tégia de prevenção à escassez de água destinada à geração hidroelétrica e buscar a uni-versalização dos serviços de saneamento com menores custos para a sociedade e be-nefícios adicionais nas áreas de saúde e de meio ambiente.”

“Nossa meta é incentivar o uso eficiente dos recursos hídricos como estratégia de prevenção à escassez de água destinada à geração hidroelétrica e buscar a universalização dos serviços de saneamento”

Como auxiliar ao Procel-Sanear, o MCidades criou em 2008 o Com+Água, projeto- piloto que está implantado em 12 localidades do território nacional. “Neste projeto-piloto nós obtivemos excelentes re-

sultados e comprovamos que com ações de baixo custo po-demos alcançar índices satis-fatórios de eficiência energéti-ca, promovendo significativa economia aos prestadores de serviço de saneamento.”

Miranda aponta, entre es-tas ações de baixo custo, me-didas simples que começam com a gestão moderna do processo de saneamento. “Gestão combinada com tra-balhos de ação técnica e ope-racional, como substituição

Foto

: DIv

ulga

ção/

Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 17 19/04/10 14:30:08

Page 18: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

18

de adutoras para a redução de bombeamento, construção de reservatórios de água que garantam o abastecimento sem necessidade de uso de equipamentos elétricos em horários de pico energético, que têm custo mais elevado, e a troca de equipamentos anti-gos por novos, de alta eficiên-cia, principalmente bombas e motores que desenvolvem a mesma potência, consumindo menos energia.” A soma des-tas ações já representa em al-guns casos queda em até 20 % nos custos operacionais. “É

certo que a universalização dos serviços de saneamento implicará a utilização de no-vos recursos. Dentre esses, a energia elétrica para os pro-cessos é observada pelo setor com preocupação, uma vez que atualmente ocupa a se-gunda posição na pauta de custos operacionais da maio-

ria dos prestadores de servi-ços de saneamento, sendo que para alguns já é o primei-ro”, completa Miranda.

Para Marco Aurélio Ribei-ro Gonçalves Moreira, geren-te da Divisão de Projetos de Eficiência Energética na In-dústria e no Comércio das Centrais Elétricas Brasilei-ras (Eletrobrás), o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), que existe desde 1985, já al-cança vários setores da eco-nomia nacional com resulta-dos positivos. “O Procel vem

se aprimorando, e agora nós teremos também, como uma importante ferramenta, o Programa Nacional de Efici-ência Energética (PNEf), que vai detalhar até 2030 o quan-to o Brasil precisa reduzir em perdas, em desperdícios e no mau uso da energia elé-trica”, revela ele. Estimati-

“Estimativas do MME dão conta de que com a aplicação do PNEf o Brasil poderá economizar até 10 % de energia de sua planta nacional”

vas do MME dão conta de que, com a apl icação do PNEf, o Brasil poderá econo-mizar até 10 % de energia de sua planta nacional, o que em termos de números deve-rá representar 106 TWh (te-rawatts-hora) ou R$ 850 mi-lhões por ano para o país.

Gonçalves Moreira explica que a Eletrobrás, no âmbito do Procel-Sanear, promove ações de capacitação dos profissio-nais técnicos das empresas de saneamento estaduais e muni-cipais, incentiva o desenvolvi-mento de projetos que promo-vam a eficiência energética e o combate ao desperdício de água e energia no âmbito dos sistemas de abastecimento de água, além de promover a im-plantação de Laboratórios de Eficiência Energética e Hi-dráulica em Saneamento (Lenhs) em universidades fe-derais. “O objetivo desta par-ceria com as universidades é incentivar a elaboração de tra-balhos de iniciação científica, dissertações e teses relaciona-dos ao uso eficiente da energia e da água no saneamento, in-cluindo bolsas de estudo; apoio a pesquisa e desenvolvimento no país, com a revisão e edição de publicações técnicas volta-das à eficiência energética, controle e redução de perdas de água”, afirma.

A partir dos estudos nos Lenhs é possível, segundo Gon-çalves Moreira, fazer uma pon-te de desenvolvimento tecnoló-gico para rápida aplicação nas empresas de saneamento. “Ca-da laboratório pode prestar apoio técnico às empresas de saneamento de sua região e com isto ajudar na construção de soluções mais eficazes e rá-pidas para os prestadores de serviço”, completa.Fo

to: A

nton

io C

ruz

- AB

R

Revista Ecos 30 - abril.indd 18 19/04/10 14:30:08

Page 19: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

19

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), in-centivada pelo Programa Na-cional de Conservação de Energia Elétrica (Procel-Sane-ar) dos ministérios de Minas e Energia e do Ministério das Ci-dades, está inaugurando junto ao Instituto de Pesquisa Hi-dráulicas (IPH) o seu Labora-tório de Eficiência Energética e Hidráulica em Saneamento (Lenhs). Coordenado pelo pro-fessor Marcelo Marques, o la-boratório da Ufrgs tem com o objetivo estudar processos que aperfeiçoem a geração de eco-nomia energética e a gestão de perdas de água no setor de sa-neamento.

De acordo com o professor, os estudos compreendem tam-bém o combate aos desperdí-cios e o incremento à eficiên-cia energética de processos e sistemas que proporcionem a redução de custos e a acelera-ção da universalização dos serviços para a sociedade.

O Lenhs foi criado devido a uma parceria entre a Ele-trobrás e a Ufrgs/IPH a par-tir de um convênio firmado em dezembro de 2006. O no-vo laboratório ocupa uma área de mais de 150 m², onde estão instalados os mais mo-dernos equipamentos utiliza-dos no setor de saneamento, com uma bancada de ensaios automatizada e uma linha completa de equipamentos para medição de campo.

No Brasil existem apenas cinco laboratórios semelhan-tes, todos ligados a universi-dades federais – Universida-de Federal de Santa Maria, Universidade Federal da Pa-raíba, Universidade Federal de Minas Gerais, Universida-de Federal do Paraná e Uni-versidade Federal do Pará – cobrindo praticamente todas as regiões brasileiras.

Marcelo Marques destaca que coube ao Lenhs da Ufrgs tornar-se um centro de refe-

Ufrgs está inaugurando laboratóriode estudos de eficiência energética

rência para a Região Sul em atividades relacionadas à eficiência energética e hi-dráulica em saneamento. O laboratório ministrará cur-sos para empresas de sanea-mento, visando o aperfeiçoa-mento e a especialização dos funcionários desse setor.

EPE assegura abastecimento energético para as obras de saneamento

Criada em 2004 pelo Gover-no Federal para traçar o pla-nejamento do setor energético em médio e longo prazo, a Empresa de Pesquisa Energé-tica (EPE) já trabalha com o cenário nacional de geração de energia a partir do ano de

2015. Isso porque, até 2014, segundo o presidente da EPE, o engenheiro carioca Maurício Tolmasquim, o país vai gerar mais energia do que está pre-visto consumir. “Não há moti-vos para preocupação. O Bra-sil pode crescer à vontade,

sem medo de falta de energia elétrica”, afirma ele.

Tolmasquim garante que o setor de saneamento, que atu-almente responde por 2,5 % do consumo de energia elétri-ca do país, recebe tratamento prioritário por parte das auto-

Fotos: Divulgação/Ufrgs

Revista Ecos 30 - abril.indd 19 19/04/10 14:30:08

Page 20: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

20

ridades governamentais. “É preciso vencer um atraso his-tórico que o Brasil tem em re-lação ao saneamento, distri-buição de água e coleta e tra-tamento de esgotos. Por isso a EPE e as diversas pastas mi-nisteriais que tratam do tema estão empenhadas em assegu-rar que todos os empreendi-mentos autorizados pelo PAC e aqueles que têm grande re-levância social não ficarão sem de energia nem alterarão suas propostas de atendimen-to à população”.

Conforme as pesquisas de-senvolvidas pela empresa, é provável que até 2014 o Brasil amplie o consumo de energia elétrica em quase 50 % no con-sumo residencial e em mais de 37 % no setor industrial. “Nos próximos quatro anos estamos seguros de que não haverá gar-galo elétrico no Brasil e tere-mos um excedente de energia. Nós estamos trabalhando ago-ra com leilões de usinas e li-nhas de transmissão para ope-rar a partir de 2015. Nosso país passou por momentos difíceis

que forçaram a definição de po-líticas públicas a partir de um planejamento e de uma organi-zação”, confirma Tolmasquim.

O presidente da EPE explica que a empresa que comanda foi criada para pensar e estrutu-rar as demandas energéticas. Não apenas a energia elétrica, mas também as demais fontes de energia, como bicombustível e petróleo, que, com a desco-berta das reservas do pré-sal, vai colocar o Brasil em condi-ção de grande exportador no cenário internacional.

Foto

: Agê

ncia

Bra

sil

Engenheiro Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Revista Ecos 30 - abril.indd 20 19/04/10 14:30:14

Page 21: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

21

mento e Meio Ambiente, da As-sociação Brasileira de Enge-nharia Sanitária e Ambiental (Abes) e disponível no saite do Procel-Sanear, revela que, em 2006, em quatro mil municípios brasileiros selecionados com base em dados do SNIS o custo

da energia elétrica foi superior a R$ 2,3 bilhões por ano.

Ainda conforme a pesquisa do consultor, em 626 municípios o custo da energia elétrica re-

Apesar da importância das obras de saneamento para o Brasil, Maurício Tolmasquim não crê em criação de tarifas especiais para o setor. “Antes de pensarmos em subsídios ou tarifas diferenciadas para o se-tor de saneamento, seria im-portante trabalhar a redução das perdas, que ainda são enor-mes. Uma maneira de abaixar esses custos é trabalhar com a eficiência energética, com ges-tão, com controle de gastos e com educação, tanto da cultura empresarial quanto da popula-ção e consumidores finais, que podem ajudar, consumindo de forma racional.”

O Brasil, com sua matriz energética baseada em hidrelé-tricas, vê aumentar a discussão

técnica pela utilização de fon-tes alternativas de energia no setor de saneamento como for-ma de reduzir custos e promo-ver a sustentabilidade. Para o presidente da EPE, o que im-porta não é se a fonte de ener-gia é alternativa ou não. Segun-do ele, o que realmente importa em termos de meio ambiente é se a energia é renovável ou não. Se é renovável e se não emite, por exemplo, gás carbônico (CO2). “No Brasil, a hidrelétrica atende a este critério. Além dis-so, em nossa matriz elétrica, nós contamos ainda com o ba-gaço de cana e com a energia eólica. Se observarmos bem, a nossa matriz elétrica é consti-tuída em mais de 90 % por fon-tes renováveis.”

A EPE já está ampliando a oferta de energia não hidrelétri-ca nos leilões que agencia. “Nós, por exemplo, já estamos contra-tando energia eólica para o ano de 2012. Esta é uma fonte de energia mais cara que a conven-cional, mas os valores vêm cain-do. No leilão de energia eólica ocorrido em final de 2009 tínha-mos como parâmetro o valor de R$ 250,00 o megawatt/hora. A energia de hidrelétrica custa menos de R$ 100,00 o megawatt/hora. Nas usinas do rio Madeira, fica na faixa de R$ 70,00 a R$ 80,00. E no último leilão a ener-gia eólica acabou sendo comer-cializada por R$ 148,00 o mega-watt/hora. Muito abaixo do valor anterior, o que já é um indicativo importante.”

O custo da energia elétricaNo setor saneamento, os

gastos com energia elétrica re-presentam em média 12 % das despesas dos prestadores de serviço de sistemas de abaste-cimento de água, podendo va-riar de 9 % a 24 %, dependendo da região do país. Os dados do Sistema Nacional de Informa-ções sobre Saneamento (SNIS) são confirmados quando, em al-guns prestadores de serviços, essa despesa chega a ser a se-gunda maior, ficando atrás so-mente da folha de pagamento.

No entanto, uma pesquisa realizada pelo engenheiro civil Airton Sampaio Gomes, consul-tor do Programa de Moderniza-ção do Setor de Saneamento (PMSS) e da Eletrobrás, publi-cadas na Revista Bio - Sanea-

presentou a maior despesa, in-fluindo no custo de exploração do serviço. Em alguns casos, em até 90 %, como ocorreu em Ma-naus (AM), Londrina (PR) e São José do Rio Preto (SP).

Nos dados levantados por Sampaio Gomes, pode ser veri-

ficado que, entre as 1.463 pres-tadoras de serviço que têm a energia elétrica como segundo custo operacional, este valor re-presentava entre 10 % e 45 %.

Despesas com energia elétrica 1o lugar 2o lugar 3o lugar 4o lugar TotalQuantidade de municípios 626 1.463 1.348 563 4.000% do Total 15,7 % 36,6 % 33,7 % 14,1 % 100 %Despesas totais em R$/ano 346.078,54 791.187,21 595.846,51 568.044,37 2.301.156,63

Fonte: Dados SNIS 2006

“No ano de 2006, em quatro mil municípios brasileiros selecionados com base em dados do SNIS, o custo da energia elétrica foi superior a R$ 2,3 bilhões por ano”

Revista Ecos 30 - abril.indd 21 19/04/10 14:30:14

Page 22: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

22

rem um aparelho elétrico ou eletrônico já se informam so-bre a classificação. Isto faz parte, dos critérios de com-pra principalmente nos cen-tros urbanos mais desenvol-vidos”, observa ele.

O PBE também surgiu em 1984, numa iniciativa do Mi-nistério da Indústria e Comér-cio e do MME em parceria com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrô-nica (Abinee) que firmaram um protocolo com o objetivo de informar os consumidores finais, no momento da com-pra, sobre o consumo de ener-gia de cada aparelho. “O pro-grama funciona com base em etiquetas afixadas nos produ-tos, indicando o consumo e a eficiência energética do apa-

relho, segundo critérios técni-cos, numa classificação que vai do mais eficiente ao me-nos eficiente, da letra A até a letra E”, explica Borges.

Desenvolvido com a adesão voluntária dos fabricantes, o PBE ganhou dois importantes parceiros: a Eletrobrás, atra-vés do Programa Nacional de Conservação de Energia Elé-trica (Procel), e a Petrobras, através do Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet). Atual-mente o PBE já tem desenvol-vidos 26 programas de etique-tagem, prevendo o desenvolvi-mento de mais 20 programas para os próximos anos.

Quando ocorreu a crise energética brasileira, em 2001,

Inmetro incentiva mudanças na indústriaNovos equipamentos, mais

eficientes e muito mais econô-micos: este é o objetivo do Ins-tituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade In-dustrial (Inmetro), que, em parceria com o Programa Na-cional de Conservação de Energia (Procel) do Ministério de Minas e Energia (MME), através do Programa Brasilei-ro de Etiquetagem (PBE), de-senvolve os projetos nacionais de eficiência energética.

Para o coordenador nacio-nal do PBE, o engenheiro ca-rioca Marcos Borges, a redu-ção do gasto energético a partir da classificação dos aparelhos já é uma realidade que faz parte dos critérios de consumo da população. “As pessoas, quando adqui-

Foto

: DIv

ulga

ção/

Inm

etro

Engenheiro Marcos Borges, coordenador do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE)

Revista Ecos 30 - abril.indd 22 19/04/10 14:30:14

Page 23: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

23

o Governo Federal decidiu res-gatar o projeto de lei que tra-mitava no Senado Federal e que tratava de estabelecer uma política nacional de efici-ência energética para máqui-

nas e aparelhos consumidores de energia comercializados no Brasil. Um decreto presiden-cial criou a Lei 10.295, em que o Poder Executivo determina os níveis máximos ou mínimos de eficiência energética de má-quinas e aparelhos a partir de análise técnica e padrões acei-tos internacionalmente. Em decreto posterior, foi estabele-cido que caberia ao Inmetro a fiscalização e a avaliação des-ses equipamentos.

A exemplo dos melhores programas internacionais de etiquetagem de eficiência energética, o PBE é conside-rado um dos mais rigorosos existentes no mundo. Sem a classificação mínima neces-sária, o produto não poderá ser comercializado em terri-tório brasileiro. “Por exem-plo, tem produtos fabricados na China e importados com a classificação máxima de efi-ciência e que, aqui, se enqua-dram em uma categoria infe-rior. Isso porque somos rigo-rosos neste controle.”

Na área de saneamento, o equipamento mais visado

são as bombas, que começa-ram a ser etiquetadas em 2005. O selo de eficiência energética passou a integrar as bombas centrífugas acio-nadas por motores elétricos trifásicos 1 cv a 25 cv. O In-metro criou um grupo de tra-balho denominado GT-Bom, em 2004, para avaliar os equipamentos da área e está em estudo a criação de um selo específico comparativo de rendimento.

Esse rigor já produz resul-tados interessantes. Marcos Borges revela, por exemplo, que os refrigeradores fabri-cados e comercializados no Brasil atualmente são 50 % mais eficientes em termos de energia do que os produzidos 10 anos atrás. “Portanto, mui-to mais econômicos, estimu-lando a indústria a investir em tecnologia para não ser eliminada do mercado”, com-pleta o engenheiro. O resulta-do do PBE pode ser dimensio-nado com um dado revelado

por Borges: desde o início do programa para refrigerado-res, o Brasil economizou o equivalente a 40 meses de energia produzida na usina nuclear de Angra I, no Rio de Janeiro, em seu horário de pico. “Se considerarmos to-dos os 26 programas em an-damento, incluindo estes, das máquinas para o setor de sa-neamento, podemos ter uma noção da importância estra-tégica e econômica do PBE para o Brasil”, conclui o coor-denador do Inmetro.

COMITÊ GESTOR

O Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiên-cia Energética (CGIEE), que tem, entre outras, a função de elaborar regulamentação específica para cada tipo de aparelho e máquina consumidora de energia, é for-mado por representantes dos seguintes ministérios e agências reguladoras:

Ministério de Minas e Energia (presidência)

Ministério da Ciência e Tecnologia

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Agência Nacional de Energia Elétrica

Agência Nacional do Petróleo

Um representante de universidade brasileira, especialista em matéria de energia

Um cidadão brasileiro, especialista em matéria de energia

“A exemplo dos melhores programas internacionais de etiquetagem de eficiência energética, o PBE é considerado um dos mais rigorosos existentes no mundo”

Revista Ecos 30 - abril.indd 23 19/04/10 14:30:15

Page 24: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

24

Lagoa Santa (MG) quer ser modelo para o Brasil

água no sistema em 20 % e o consumo de energia em 440 MWh/ano, mas os resultados já superam as expectativas. O projeto de Lagoa Santa foi selecionado por meio do pro-cesso de “Chamada Pública de Projetos de Conservação e Uso Racional de Energia Elétrica e Água no Setor de Saneamento Ambiental”, ela-borado pela Eletrobrás, no âmbito do Programa de Efici-ência Energética no Sanea-

mento Ambiental (Procel-Sa-near), em parceria com o Mi-nistério das Cidades e com o Centro de Pesquisas de Ener-gia Elétrica (Eletrobrás/Ce-pel). O objetivo foi escolher projetos de conservação e uso racional de energia elé-trica e de água em sistemas de abastecimento.

Para chegar a estes resul-tados, a Copasa também foi

econômica no investimento, o que surpreende técnicos em todo o Brasil. O custo to-tal inicial do projeto foi de cerca de R$ 196 mil, sendo R$ 148 mil com recursos da Eletrobrás e R$ 48 mil em in-vestimento da própria com-panhia. Em função dos pri-meiros resultados, a Copasa já ampliou seus investimen-tos em torno de R$ 15 mil.

O engenheiro Paulo Rober-to Cherem explica que o pro-jeto de Lagoa Santa consiste no controle operacional das vazões e pressões de bombe-amento, de modo que os con-juntos motobombas possam ser desligados no horário sa-zonal – entre 17 h e 22 h – quando o preço da energia elétrica é mais alto. De acor-do com o engenheiro Vanir de Oliveira, “a partir desse processo será possível redu-zir as cargas nos horários mais caros”. Ele assinala ainda que a principal con-quista foi o desenvolvimento de uma metodologia de ges-tão integrada de perdas de água e eficiência energética, que será absorvida pela em-presa e aplicada em diversos outros sistemas, resultando,

O munic ípio de Lagoa Santa está localizado a 35 quilômetros da capital mi-neira, na região metropolita-na de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Ali a Com-panhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) de-senvolveu um projeto de efi-ciência energética dentro do Procel-Sanear que obteve re-sultados bem significativos. De acordo com o engenheiro Paulo Roberto Cherem, coor-

denador do Programa de Re-dução de Perdas da Copasa, o esforço desenvolvido em busca de mais eficiência ob-teve resultados acima do es-perado na redução dos con-sumos de energia e água.

Iniciado em dezembro de 2004, o projeto de Lagoa Santa conseguiu, em dois anos, uma redução de 20 % do índice de perdas de água do sistema; a diminuição do consumo específico de ener-gia elétrica de 1,0 kWh/m³ de água consumida para 0,9 kWh/m³; além da redução de cerca de 30 % no consumo de energia elétrica no horário de pico, sem prejuízo ao abastecimento da cidade.

A meta inicial da Copasa no projeto de Lagoa Santa era reduzir, no prazo de 24 meses, o índice de perdas de

“O projeto de Lagoa Santa consiste no controle operacional das vazões e pressões de bombeamento, de modo que os conjuntos motobombas possam ser desligados no horário sazonal”

METAS ESTABELECIDAS PARA O PROJETO

Energia economizada (MWh/ano) 440

Redução de perdas reais de água (m³/ano.ligação) 32,4

Energia economizada (R$) 148.605,00

Recursos Copasa (R$) 47.823,04

Investimento total (R$) 196.428,04

Revista Ecos 30 - abril.indd 24 19/04/10 14:30:15

Page 25: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

25

energia elétrica utilizada pe-la Comusa está concentrada nessas duas unidades.

Aproximadamente 40 % do volume produzido são distribu-ídos por gravidade a partir da ETA, e 60 % são bombeados pelas EAT, abastecendo outros reservatórios espalhados pela cidade. A redução de perdas

certamente, em melhores de-sempenhos operacionais e redução dos custos.

Cherem lembra que a Co-pasa pretende expandir a me-

Selecionada no processo de chamadas públicas de projetos de conservação e uso racional de energia elé-trica e água no setor de sa-neamento pelo Programa Na-cional de Conservação de Energia Elétrica e pela Ele-trobrás, a Companhia Muni-cipal de Serviços de Água e Esgoto de Novo Hamburgo (Comusa) foi uma das 12 em-presas da Região Sul que re-ceberam o reconhecimento pelo uso eficiente da energia. De acordo com o diretor téc-nico da companhia, Júlio Ma-cedo, as soluções encontra-das pela Comusa na econo-mia dos custos de energia começaram com a redução das perdas no sistema de

abastecimento de água por meio da otimização opera-cional e da automação do sistema pelo controle de pressão e vazão através de variadores de velocidade e automação.

Macedo conta que o siste-ma caracteriza-se por uma grande estação elevatória de água bruta (EAB) junto ao rio dos Sinos, uma estação d e t r a t a m e n t o d e á g u a (ETA), onde se situam três reservatórios e duas elevató-rias de água tratada: EAT 1 e EAT 4. Cerca de 90 % da

“Em termos de ganhos financeiros, as medidas adotadas pela Comusa representam uma economia anual superior a R$ 42 mil”

Foto

: Ass

esso

ria d

e Im

pren

sa C

omus

a

todologia adotada no projeto de Lagoa Santa para diversos outros sistemas de abasteci-mento de água sob sua con-cessão. A Copasa, criada em

1974, opera os sistemas de abastecimento de água trata-da de 610 municípios minei-ros, atendendo mais de 12 mi-lhões de habitantes.

Comusa iniciou programa de controle em 2004

Revista Ecos 30 - abril.indd 25 19/04/10 14:30:15

Page 26: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

26

reais de 313.116 m³/ano foi al-cançada graças à redução de pressão proporcionada pelos conversores de frequência ins-talados na rede. Além da redu-ção do volume de vazamentos, houve uma redução significati-va no número de novas ruptu-ras de tubulações, o que signi-ficou economia em gastos com manutenção. “Nós implanta-mos uma central de controle operacional em que o operador ou a equipe de operação con-segue verificar os principais reservatórios da cidade com informações de nível, de vazão, de pressão e ver se o sistema está plenamente abastecido e com sobra de reservação. Des-ta forma podemos reduzir a velocidade das bombas e as-sim, nos horários de ponta, quando a energia elétrica é mais cara, otimizar o consumo de energia e ter naturalmente um ganho financeiro”, explica Macedo.

Em termos de ganhos finan-ceiros, as medidas adotadas pela Comusa representam uma economia anual superior a R$ 42 mil. “Os benefícios obtidos pela metodologia do projeto, fa-voreceu, dentre outros, a assi-milação das novas práticas e procedimentos pelos funcioná-rios direta ou indiretamente en-volvidos na operação do siste-ma. Tudo isso propiciou uma melhoria no abastecimento, e a redução do índice de rompi-mento de redes e ramais se re-fletiram em maior satisfação dos usuários da empresa”, afir-ma o diretor técnico.

O uso eficiente da energia no sistema de saneamento tem sido reconhecido nacio-nalmente desde 2007, quando a Comusa conquistou pela pri-meira vez o Prêmio Nacional

Foto

: Ass

esso

ria d

e Im

pren

sa C

omus

a

METAS ESTABELECIDAS PARA O PROJETO

Energia economizada (R$/ano) 42.000,00

Recursos Comusa (R$) R$ 187.000,00

Recursos Eletrobrás (R$) 700.000,00

Investimento total (R$) 887.000,00

Foto

: Ass

esso

ria d

e Im

pren

sa C

omus

a

bra-cimento, muito suscetível a rupturas. “Nossa meta é substituir 100 quilômetros da rede de fibra-cimento por PAD (tipo de plástico altamente re-sistente), que é um material mais moderno, deslocando-a de sob as vias de trânsito pa-ra debaixo das calçadas. Com isto, no médio e no longo pra-zo, vamos reduzir os custo de manutenção”, conclui Macedo.

de Conservação de Energia e Uso Racional de Abastecimen-to de Energia, uma distinção pioneira no Rio Grande do Sul. A Comusa abastece mais de 252 mil habitantes na Re-gião Metropolitana de Porto Alegre, e hoje a Companhia tem centrado ações na substi-tuição das tubulações da cida-de, tendo em vista que cerca de 40 % da rede é do tipo fi-

Revista Ecos 30 - abril.indd 26 19/04/10 14:30:17

Page 27: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

27

Publicações que ajudam a entendera eficiência energética

Nome Conteúdo

Abastecimento de Água – O estado da arte e técnicas avançadas

Organizadores: Heber Pimentel Gomes; Rafael Pérez García e Pedro L. Iglesias Rey.Sinopse: O livro é o primeiro volume publicado sobre o tema abastecimento de água, enfatizando o estado da arte e as técnicas avançadas já desenvolvidas e disponibilizadas atualmente no mundo. O propósito do livro é reunir trabalhos técnicos e pesquisas em um único compêndio, agrupados por temas, que abordam o desenvolvimento de avançadas tecnologias, atualmente disponíveis à engenharia de sistemas de abastecimento urbano de água. Essa publicação poderá ser adquirida através da Abes www.abes-dn.org.br, da ABRH www.abrh.org.br e do Lenhs/UFPB.

Eficiência Hidráulica e Energética em Saneamento

Autor: Heber Pimentel Gomes. Este livro tem como objetivo servir de base a estudos de viabilidade econômica de projetos de saneamento, buscando mostrar as metodologias de avaliação econômica, aplicadas a estudos de caso de ações de combate ao desperdício de água e energia.Essa publicação foi elaborada com o apoio da Eletrobrás por intermédio do convênio firmado entre a Eletrobrás, no âmbito do Procel, e a Universidade Federal da Paraíba-UFPB (ECV 230/06).

Sistemas de Bombeamento – Eficiência Energética

Organizador: Heber Pimentel Gomes. Autores: Airton Sampaio Gomes, Heber Pimentel Gomes, Luiz Simão de Andrade Filho, Osvaldo Luiz Cramer de Otero, Ronildo Inácio Soares de Alencar, Saulo de Tarso Bezerra, Sebastião de Paula Coura, Simplício Arnaud da Silva. O objetivo deste livro é proporcionar aos profissionais da área de saneamento e afins as diversas matérias concernentes à engenharia de sistemas de bombeamento, com vistas à adoção de medidas necessárias ao aumento da eficiência energética dos sistemas de abastecimento e de esgotamento sanitário.

Abastecimentode Água

Autor: Milton Tomoyuki Tsutiya. Trata de planejamento e projeto de sistemas de abastecimento de água, envolvendo concepções, consumos, captação, adutoras, elevatórias, redes, perdas, ligações e automações, tem como objetivo, atender a universitários e engenheiros envolvidos com projetos de obras de abastecimento. Contém software para projeto de redes de abastecimento.

Água e Energia

Autor: Alliance – Aliança para Conservação de Energia. As recomendações contidas neste trabalho oferecem uma nova perspectiva com relação à água e à energia. É baseado nas experiências inovadoras das companhias de água dos municípios com relação à redução do uso da energia e à melhora de seus serviços. No site www.abae.org é possível fazer o download gratuito da publicação.

Eficiência Energética nos Sistemas de Saneamento

Autor: Procel/Ibam. O manual se insere numa estratégia de atuação do Procel que a contribuição ao esforço na melhoria da eficiência nos sistemas de saneamento básico. Dirigido ao administrador municipal, oferece uma visão prática dos processos e operação dos sistemas, permitindo identificar os possíveis pontos de desperdício. Esta publicação poderá ser adquirida através do Ibam (saite: http://www.ibam.org.br)

Redução do Custo de Energia Elétrica em Sistemas de Abastecimento de Água

Autor: Milton Tomoyuki Tsutiva. Esta obra representa um valioso subsídio para os profissionais e uma excelente contribuição à bibliografia técnica no campo da engenharia sanitária nacional. Abrange desde soluções simples e de fácil implantação até as mais complexas, que levam à diminuição de custos através da redução de consumo de energia.

Sistemas de Abastecimento de Água: Dimensionamento Econômico e Operação de Redes e Elevatórias

Autor: Heber Pimentel Gomes. Este livro foi elaborado com o propósito de tornar acessíveis as técnicas de dimensionamento econômico e de simulação da operação de sistemas de abastecimento de água, de forma aplicada, para profissionais da área de saneamento e afins. Os métodos apresentados são acompanhados de exemplos práticos e detalhados, cujos programas e soluções estão disponíveis na internet através do endereço http://lenhs.ct.ufpb.br.

Revista Ecos 30 - abril.indd 27 19/04/10 14:30:17

Page 28: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

28

DMAE promove redução de custose ganhos de eficiência

O Departamento Municipal de Águas e Esgoto de Porto Alegre (Dmae) vem desde 2004 obtendo um ótimo desempenho no combate ao desperdício e na melhora da eficiência ener-gética do sistema de abasteci-mento de água, coleta e trata-mento de esgoto na capital gaúcha. Entre os anos de 2008 e 2009, o Dmae conseguiu re-duzir em cerca de R$ 2,5 mi-lhões o gasto com energia elé-trica, representando um ganho superior a 5 % no orçamento previsto para o período.

Flávio da Cunha Machado, diretor da Divisão de Água, ex-plica que, ao constituir uma co-missão interna de controle da energia elétrica (CICEE), o Dmae passou a avaliar os cus-tos e a desenvolver indicadores

que pudessem nortear o traba-lho de monitoramento das per-das com energia elétrica. “A partir dos primeiros estudos re-alizados, verificamos que era necessário desenvolver proje-tos que reduzissem nossos ele-vados gastos com este item fun-damental para o funcionamen-to do sistema”, afirma ele.

Cunha Machado explica que foi necessário envolver vários setores do Dmae para criar os indicadores de refe-rência para trabalhar a redu-ção de custos e perdas. “Pas-saram a atuar no nosso pro-cesso desde áreas de ponta como as equipes da manuten-ção mecânica, operação nas casas de bombas e os grupos de engenharia para, a partir daí, organizamos planos anu-

ais. Um dos primeiros pontos a serem observados foram as faixas de tarifação da energia elétrica que nos cobra a Com-panhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE).”

A tarifação de energia elétri-ca obedece a critérios de de-manda. Entre 19 h e 21 h a ener-gia elétrica tem custo maior em decorrência do alto consumo neste horário. “É a chamada ta-rifa azul, que a gente contratava e pagava um valor determinado em contrato, mesmo que eventu-almente não a usasse. Ao ava-liar esta situação, a CICEE deci-diu formatar um outro tipo de contrato, o da tarifa verde, em que o preço por hora de uso é maior, mas que o Dmae só paga-va pelo que efetivamente consu-mia”, explica Flávio Machado.

Foto

: Mar

ia d

e Lo

urde

s W

olff

/Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 28 19/04/10 14:30:17

Page 29: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

29

Sobre os novos custos de tarifação e aplicando con-trole de gestão que evitavam o consumo além dos limites i m p o s t o s p e l a C E E E , o Dmae passou a ter redução de custos efetivos, chegando hoje à faixa de R$ 22,7 mi-lhões contra mais de 24 mi-lhões projetados para o ano de 2009. “Isto sem conside-rar que em 2009 houve au-mento de tarifa de energia, o que significaria normal-mente até um acréscimo de valores sobre o que foi pro-jetado inicialmente.”

Álvaro Silveira Neto, en-genheiro de manutenção do Dmae, revela que a economia acumulada nos anos de 2008 e 2009 representou para o Departamento uma redução de gastos na ordem de R$ 2,5 milhões. “Manejando as ca-sas de bombas e com medi-das auxiliares junto aos re-servatórios, onde estudamos os horários de pico e conse-guimos aplicar mecanismos que nos permitem trabalhar com o mínimo de energia, com os reservatórios cheios e isso nos permitir em al-guns casos até desligar os equipamentos para garantir a economia, sem afetar o abastecimento”, completa o engenheiro.

Silveira Neto revela que, paralelamente ao controle dos gastos, foram implantadas medidas de treinamento de pessoal de vários setores, in-formatização e monitoramen-to do sistema a partir de uma central, controle dos pontos de fuga de água e troca de bombas de modelos mais an-tigos por modelos mais efi-cientes que fazem o mesmo trabalho gastando 50 % me-nos energia. Fo

to: I

eda

Pezz

i/D

mae

Foto

: Ied

a Pe

zzi/

Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 29 19/04/10 14:30:18

Page 30: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

30

Embora o Brasil possua uma geração de energia con-siderada limpa, em função da predominância da base hidre-létrica, o país, por questões ambientais e de diversifica-ção, tem firmado a necessida-de de se buscar novas fontes de energia. Com isso, a gera-ção de energia renovável vem ganhando espaço tanto no planejamento das políticas públicas energéticas como por meio de novos empreen-dimentos e da comercializa-

ção em leilões regulados. Aproveitamento do gás gera-do em aterros sanitários, grande incidência de raios solares sobre todas as regi-ões do país e uma região lito-rânea com pontos de vento constantes têm inspirado os pesquisadores a criar proje-tos de geração de energia com novas fontes (biomassa, solar e eólica) ou mesmo pe-quenas Centrais Hidrelétri-cas (PCH) na geração de energia elétrica.

No estado de São Paulo, a Companhia de Saneamento (Sabesp) já está investindo no desenvolvimento de uma ma-triz energética diversificada para a região, estudando tam-bém o potencial eólico no ter-ritório paulista, assim como as possibilidades remanes-centes do aproveitamento hí-drico por meio de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH). De acordo com o Adriano Anaia Pereira, gerente de ges-tão de energia da Companhia

Sabesp analisa fontes alternativascomo novas soluções energéticas

Revista Ecos 30 - abril.indd 30 19/04/10 14:30:21

Page 31: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

31

de Saneamento Básico do Es-tado de São Paulo (Sabesp), estão em curso pesquisas pa-ra o aproveitamento do baga-ço de cana-de-açúcar para a geração de energia e estudos de viabilidade técnico-econô-mica da implantação de usina de geração de energia a partir de resíduos sólidos. “Há um esforço conjunto do Estado, no âmbito da Secretaria de Saneamento e Energia e de outras pastas, para a promo-ção do desenvolvimento sus-tentável, que acontece quando há desenvolvimento econômi-co e social também. No entan-to, é muito comum que se po-larizem as posições entre de-senvolvimento e sustentabili-dade”, afirma Anaia Pereira.

Segundo ele, em 2008*, a Sabesp respondeu por cerca de 1,84 % de toda a energia elétrica consumida no Esta-do de São Paulo. Já em 2009, os gastos da Sabesp com energia elétrica foram de aproximadamente R$ 482,2 milhões, constituindo a ter-ceira maior despesa (atrás de pessoal e serviços). Nesse contexto, diversas áreas da Sabesp vêm desenvolvendo

projetos com o objetivo de identificar oportunidades de melhoria nos equipamentos e nos processos. O resultado, explica o gerente de gestão de energia da Sabesp, o es-perado é uma maior eficiên-cia, com diminuição do con-

quando se transporta água de outras bacias (transposição de bacias) por intermédio de túneis e canais, como também a energia dos efluentes das ETE nos pontos de lançamen-tos, ou mesmo no ponto de chegada na estação de trata-mento.

A construção de PCH em re-servatórios e barragens já exis-tentes e necessários à produ-ção de água potável representa medida ambientalmente sus-tentável, pois não gera qual-quer dano ambiental adicional.

No sistema Cantareira, que é um complexo composto por cinco bacias hidrográfi-cas e seis reservatórios inter-ligados por túneis, canais e sistemas de bombeamento, que fornecem cerca de 33 m³/s, sendo responsável pelo abastecimento de água para metade da população da Re-gião Metropolitana de São Paulo, a Sabesp está anali-sando esse sistema de várias represas em desníveis, inter-ligadas por túneis com dissi-pação de energia por inter-médio de válvulas e estrutu-ras de concreto, foram identi-ficados sítios com potencial de aproveitamento energéti-co. Ali o investimento estima-do para a construção das PCHs é de aproximadamente R$ 21 milhões. Todo esse va-lor será investido pelo vence-dor da licitação realizada em 2009. A operação comercial tem início previsto para no-vembro de 2012. Ele comple-menta informando que a energia assegurada é de 58,7 GWh/ano (2,8 % do consumo Sabesp).

sumo de energia e conse-quente redução dos custos de operação, contribuindo para aumentar a competitivi-dade da empresa.

Anaia Pereira revela que no Projeto de Eficiência Energéti-ca da Sabesp, implementado em duas Estações de Trata-mento de Esgotos (ETE) da Sa-besp, ABC e Parque Novo Mun-do, está em andamento, uma ETE que utiliza o processo de lodos ativados e é constituída por duas fases: líquido e sólido. Nas unidades de digestão, os lodos adensados primários e secundários são transferidos para os digestores anaeróbicos. No processo de digestão reali-zado pelas bactérias metanogê-nicas, ocorre à liberação do gás, com predominância de me-tano (CH4) que é utilizado para a homogeneização do lodo, no tempo em que ele permanece

digerindo. O excesso desse gás deverá ser aproveitado para geração de energia elétrica.

Nos sistemas de abasteci-mento de água existem poten-ciais quando se desloca água, principalmente na fase de adução de água bruta, ou

"O investimento estimado para a construção das PCH é de aproximadamente R$ 21 milhões. Todo esse valor será investido pelo vencedor da licitação realizada em 2009. A operação comercial tem início previsto para novembro de 2012."

Foto

: Div

ulga

ção/

Sabe

sp

Revista Ecos 30 - abril.indd 31 19/04/10 14:30:21

Page 32: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2010

32

iluminação dos ambientes e também pelo treinamento e qua-lificação do pessoal envolvido.

Belkys Gonçalves Bitten-court lembra que cada tipo de atividade e de ambiente exige um tipo de iluminação. Existem estudos e normas que orientam os projetistas a aproveitarem da melhor maneira os recursos, equipamentos e lâmpadas exis-tentes no mercado. “A iluminação

Apesar de as áreas adminis-trativas das empresas de sane-amento responderem por per-centuais pequenos de consumo de energia em relação ao consu-mo geral (normalmente inferio-res a 6 % do total) a preocupa-ção em formar a cultura do uso racional é um aspecto impor-tante que não pode ser esqueci-do. Esta é a opinião da profes-sora e pesquisadora Belkys

Gonçalves Bittencourt, do Insti-tuto do Meio Ambiente e Facul-dade de Engenharia da Pontifí-cia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) que se dedica ao estudo do tema.

A professora explica que pa-ra o uso eficiente da energia elé-trica é necessário um somatório de ações que vão desde a gestão dos equipamentos e pessoas, passando pelo uso adequado da

Foto: Luciano Lanes/PMPA

Eficiência deve ser buscada no consumo,e também na cultura de uso racional

Revista Ecos 30 - abril.indd 32 19/04/10 14:30:22

Page 33: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

33

é o chuveiro, a geladeira e ou-tro aparelho mais potente o principal responsável pelo cus-to da conta de energia e nem sempre estes são os aparelhos responsáveis por este excesso de consumo.”

A eficiência luminosa é outro aspecto (lúmen/watt) que preci-sa ser observado no caso de lâmpadas esclarece a professo-ra. Segundo a professora Belkys, as lâmpadas incandes-centes comuns têm, em geral, de 10 a 14 lúmens por watt, en-quanto as lâmpadas florescen-tes chegam a 104 lúmens por watt. “A gente consegue gerar muito mais luz visível, consu-mindo menos energia. Então, é preciso pensar em todos estes aspectos para que o consumo de energia seja sempre racional e sem desperdícios”, conclui ela.

adequada ajuda no ânimo, no desempenho e capacidade pro-dutiva das pessoas. Isto também tem a ver com a qualidade de trabalho dos profissionais e tu-do isso dever ser considerado quando se faz uma análise do uso adequado da energia. Cabe aos engenheiros eletricistas fa-zerem o que se chama de estudo luminotécnico”, observa ela.

Além de ambientes que po-dem ser iluminados de forma natural a partir de projetos ar-quitetônicos que se propo-nham a aproveitar a luz solar, um aspecto importante desta-cado pela professora da Pucrs são as cores das paredes. Ela lembra que as cores com que são pintadas as paredes po-dem ajudar a clarear ou escu-recer ambientes, repercutindo no maior ou menor consumo de energia. “O nível de ilumi-nância é um importante fator para aproveitar ao máximo a luminosidade dos ambientes e reduzir o uso de iluminação artificial, que em excesso pode prejudicar a visibilidade e por consequência o conforto das pessoas que habitam ou usam aquele espaço.”

A professora Belkys obser-va que ambientes mal projeta-dos podem muitas vezes até dispor de luminosidade natu-ral, mas de forma inadequada, que obriga, por exemplo, no período de verão a utilização de ar condicionado para redu-zir o calor interno. “Aí também não adianta de um lado econo-mizar com lâmpadas e gastar com condicionadores de ar. Por isso é fundamental ter um estudo de cada projeto e en-contrar soluções que promova equilíbrio entre a iluminação e a temperatura dos ambientes.”

A professora da diz que a iluminação em residências, por exemplo, responde por cer-ca de 25 % da conta de energia e que, assim como a refrigera-ção, é um item de grande con-sumo. “Às vezes pensamos que

“O nível de iluminância é um importante fator para aproveitar ao máximo a luminosidade dos ambientes e reduzir o uso de iluminação artificial, que em excesso pode prejudicar a visibilidade e por consequência o conforto das pessoas que habitam ou usam aquele espaço.”

Foto

: Sto

ck P

hoto

Revista Ecos 30 - abril.indd 33 19/04/10 14:30:22

Page 34: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2

010

34

vernos locais ao redor do mun-do na formulação e implemen-tação de políticas de energia, além de aumentar a demanda

por tecnologias de energias reno-

váveis. Segun-do o secretá-

Porto Alegre játem um centro deenergias renováveisSandra GoulartJornalista, assessora de imprensa da Smam

O Centro de Referência em Energias Renováveis (Crer) de Porto Alegre foi inaugurado em setembro de 2009 e visa a pro-mover e incentivar, com ações e projetos, o uso de tecnologias em energias renováveis e em eficiência energética no âmbito das comunidades locais e regio-nais. Também vai possibilitar à comunidade o acesso a exem-plos de projetos já existentes, a criação de parcerias voltadas a ações de promoção de energias renováveis e a eficiência ener-gética, além de utilizar e promo-ver o uso de fontes renováveis e sustentáveis de energia e gerar empregos. O Crer de Porto Ale-gre funciona na sede da Biblio-teca Roberto Xavier (avenida Carlos Gomes 2.120), onde es-tão à disposição informações, conceitos, projetos, linhas de pesquisa e uma série de ativida-des pertinentes a esta nova vi-são mundial, que prioriza o uso de energias renováveis.

Os impactos dos centros de referência em energias reno-váveis no âmbito nacional e in-ternacional incluem o estabe-lecimento de uma referência (benchmark) para outros go-

rio municipal do Meio Ambien-te, Professor Garcia, incentiva-dor do projeto, dentre as me-tas e atividades a serem de-senvolvidas pelo Crer, desta-cam-se a integração entre a Prefeitura de Porto Alegre e as cidades da Rede Elo, além da

Foto

s: S

ergi

o Lo

uruz

por tecnologenergias

váveis. Sdo o se

lecimento de uma referência(benchmark) para outros go-

Revista Ecos 30 - abril.indd 34 19/04/10 14:30:23

Page 35: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

35

interação e da articulação com outros centros de referência.

O projeto Rede Elo (Comuni-dades Modelo em Energias Reno-váveis Locais) foi iniciado em 2005 pelo Iclei (Governos Locais pela Sustentabilidade) para criar um elo entre governos locais do mundo que agem como líderes na promoção de energias renováveis e eficiência energética em centros urbanos. O projeto faz parte da Campanha Cidades para a Prote-ção do Clima (CCP) e recebe apoio financeiro da Agência Ale-mã de Cooperação Internacional (GTZ). As cidades de Belo Hori-zonte, Betim, Porto Alegre, Salva-dor, São Paulo e Volta Redonda compõem a Rede Elo. O Secreta-riado Mundial do Iclei está em To-ronto, no Canadá, e é representa-do na região pelo seu Secretaria-do da América Latina e Caribe (Lacs), em Buenos Aires, com es-critório de projetos em São Paulo. Desde 1997, Porto Alegre integra o Iclei e, em 2008, foi escolhida para ser a Segunda Cidade Mode-

Estão disponíveis informações, conceitos, projetos, linhas de pesquisa e atividades relativas ao uso de energias renováveis.

prestar serviços técnicos e de consultoria.

As atividades da Rede Elo criam centros de referência e capacitação, implementam programas de conscientização, estabelecem parcerias público-privadas e outras parcerias voltadas à promoção de ener-gias renováveis e eficiência energética, principalmente no âmbito local; desenvolvem polí-ticas locais para eficiência energética e promoção de ener-gias renováveis e também pro-movem e divulgam o envolvi-mento de governos locais no uso e na expansão de fontes de energia renováveis, apoiando a busca de recursos para o esta-belecimento de elos da rede em outros países.

Proteção do clima

A Campanha das Cidades pa-ra a Proteção do Clima (CCP) é uma das ações promovidas pelo Iclei em âmbito mundial visando a reverter a tendência de aqueci-mento do planeta, melhorar a qualidade do ar e a qualidade da vida urbana. Ela reúne cidades interessadas em preparar e exe-cutar planos de ações que redu-zam a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e já inclui mais de 650 municípios. A CCP executa di-versos projetos de assistência téc-nica com enfoques inovadores pa-ra promover e colocar em prática medidas de eficiência energética, gestão integrada de resíduos sóli-dos, transporte sustentável.

lo da Rede Elo no Brasil. Em maio de 2009 foi assinado o termo de convênio para participação de Porto Alegre como Cidade Modelo da Rede Elo.

Como agência ambiental e de desenvolvimento sustentável in-ternacional para governos lo-cais, o Iclei fornece informações, providencia treinamento, organi-za conferências, facilita o inter-câmbio entre cidades e a consti-tuição de redes, executa pesqui-sas e projetos-piloto, além de

Revista Ecos 30 - abril.indd 35 19/04/10 14:30:25

Page 36: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2

010

36

Dmae estuda aproveitamento do gás metano para a geração de energiaAdemar Vargas de Freitasjornalista

Uma parceria entre o De-partamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Ale-gre e o projeto "Promovendo o Uso do Biogás Local para o Desenvolvimento Sustentável no Brasil" (REEEP " Renewa-ble Energy and Energy Effi-ciency Partnership), iniciativa do secretariado latino-ameri-cano da organização Governos Locais para a Sustentabilidade (ICLEI), está em andamento e deverá apresentar os primei-ros resultados do diagnóstico no próximo dia 31 de julho.

A iniciativa, que será acom-panhada nacionalmente pelos municípios de Manaus (AM) e Betim (MG), promete ser um grande achado ambiental e econômico para o município de Porto Alegre. A proposta bási-ca do projeto, iniciada em feve-reiro deste ano, consiste em dar aproveitamento ao gás me-tano que é produzido e desper-diçado atualmente nas esta-ções de tratamento de esgotos da capital gaúcha.

De acordo com o biólogo da Divisão de Pesquisa do Dmae, Evandro Colares, a isso se torna muito importante na medida em que Porto Alegre

Arqu

ivo/

Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 36 19/04/10 14:30:26

Page 37: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

37

deve ampliar para a faixa de 80% o índice de tratamento de esgotos da cidade nos próxi-mos meses. “Certamente com a entrada em operação das novas estações de tratamento que estão em obras, as ETE Serraria e Sarandi, a geração de gás metano vai pratica-mente triplicar em Porto Ale-gre”, confirma ele.

O gás metano é um dos principais agentes no fenôme-no ambiental conhecido como efeito estufa. A liberação deste gás no ambiente natural ajuda a acelerar o aquecimento glo-bal que tem sido objeto de pre-ocupação de pesquisadores, cientistas e ambientalistas em todo mundo.

Ainda não existe uma quan-tificação do que é produzido de gás atualmente, e esta será a primeira tarfefa do estudo que está em andamento pelo ICLEI, que deve concentrar a pesqui-sa nos digestores de lodo da ETE Navegantes e nos peque-nos reatores UASB operados pelo Dmae (Esmeralda e Bos-que dos Maias). A partir deste

estudo, de acordo com o asses-sor técnico do ICLEI no Brasil, Guilherme Johnston, a cidade terá condições técnicas para pleitear recursos internacio-nais para a implementação dos sistemas de aproveitamen-to do gás gerado espontanea-mente nas estações de trata-mento. "Porto Alegre foi esco-lhida para participar do proje-to pela importância que tem, do ponto de vista social, geo-gráfico, econômico e popula-cional", afirma Johnston.

De acordo com o assessor do ICLEI, o desafio de encontrar uma solução para o problema, tendo em vista que a decompo-sição e o tratamento dos esgo-tos geram inevitavelmente o gás metano, pode transformar o que é negativo em algo positivo. “É possivel, e o estudo deve confir-mar isto, que Porto Alegre não só vá evitar o lançamento ina-dequado do gás na atmosfera como também contribuir para maior eficiência energética, ge-rando energia elétrica a partir do gás coletado nas estações de tratamento”, observa.

A energia elétrica produzi-da a partir do biogás terá um papel importante na composi-ção dos custos de tratamento de água da capital gaúcha. Evandro Colares acredita que talvez o Dmae possa até ven-der ou repassar para o siste-ma elétrico de Porto Alegre a energia elétrica excedente. “Com isso, estaremos configu-rando um ganho, tanto do pon-to de vista ambiental quanto econômico e de eficiência ener-gética”, completa o biólogo, lembrando que o Dmae tem na energia elétrica o segundo mais importante componente de custo para a operação de seu sistema de tratamento e distribuição de água.

Já o assesor de projetos do ICLEI destaca que a proposta não deve representar custos pa-ra o Dmae nem para a cidade. “Por ser uma de nossas mais antigas parceiras (Porto Alegre participa desde 1997 das ações ambientais do ICLEI), fizemos a escolha da cidade para o desen-volvimento deste trabalho técni-co”, complementa.

ETE São João/Navegantes

Arq

uivo

/Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 37 19/04/10 14:30:27

Page 38: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2

010

38

Johnston ressalta que o ICLEI é uma associação de-mocrática e internacional de governos locais e organiza-ções governamentais nacio-nais e regionais que assumi-ram um compromisso com o desenvolvimento sustentável. Ele explica que hoje são mais de 1.100 cidades, municípios e associações no mundo todo que fazem parte da comunida-de de membros da instituição. “De certa forma, ao colocar as cidades no primeiro plano de ações, estamos delegando aos gestores municipais, que têm contato mais próximo com a população, a posibilidade de rapidamente desenvolver pro-jetos ambientais com resulta-dos mais efetivos.”

Apostando na possibilidade do projeto de Porto Alegre vir a ser implementado com su-cesso, Johnston garante que a iniciativa deverá nortear pro-jetos semelhantes em todo o Brasil e na América Latina. "Pelo caráter inovador deste projeto, tenho plena convicção de que a cidade de Porto Ale-gre será referência mundial para o tema. A partir do estu-do a cidade conseguirá pleite-ar recursos internacionais e servir de exemplo nacional e internacional.”

Ao final do estudo, que será apresentado sob a forma de um relatório técnico, também será editado um manual e apresentado um seminário que servirá de orientação para ou-tras localidades. "O espírito da proposta é justamente o de co-locar as cidades de Porto Ale-gre, Manaus e Betim, onde os estudos estão sendo feitos, no foco dos projetos deste tipo, que são preconizados pelo Pro-tocolo de Kyoto", finaliza.

Os projetos do ICLEI

Lançado como o conselho internacional para iniciativas ambientais locais, em 1990, na sede das Nações Unidas, em Nova York, o ICLEI, enquanto movimento, desenvolve e ge-rencia diversas campanhas e programas que abordam ques-tões de sustentabilidade local e protegem bens comuns glo-bais (como qualidade do ar, clima e água), fazendo a liga-ção entre a ação local e as metas e objetivos de acordos internacionais.

Entre as principais atribui-ções do ICLEI está a ajuda aos governos locais para a promo-ção da conscientização política sobre questões-chave, além de estabelecer planos de ação para atingir objetivos concretos e mensuráveis. Como agência ambiental e de desenvolvimento sustentável internacional para governos locais, o ICLEI fornece informações, providencia trei-namento, organiza conferên-cias, facilita o intercâmbio entre cidades e a constituição de re-des, executa pesquisas e proje-tos-piloto, além de prestar ser-viços técnicos e de consultoria.

O ICLEI tem apoio de finan-ciadores de projetos e das cida-des anfitriãs, e conta com o res-paldo de muitas agências de co-operação, como o Escritório Australiano do Efeito Estufa, a Agência Canadense de Desen-volvimento Internacional (CI-DA), a Agência Alemã de Coo-peração Técnica (GTZ), a Co-missão Européia, a Fundação Ambiental Alemã e a Agência Norte-americana de Proteção Ambiental (EPA).

O ProjetoREEEP e o gásmetano

A parceria entre a Prefeitura Municipal de Porto Alegre dá continuidade às atividades de-senvolvidas no Projeto M2M-Brasil que recebe auxílio finan-ceiro do REEEP (Renewable Energy and Energy Efficiency Partnership) e buscará auxiliar a implantação de atividades de recuperação de metano. A pro-posta é desenvolver políticas para regular sistemas de despe-jo de resíduos sólidos (incluindo aterros sanitários) e estações de tratamento de esgoto com o objetivo de gerar energia a par-tir da recuperação do biogás.

Dentre as ações do projeto estão: a produção de um Guia para Autoridades Locais que mostre como implementar a re-cuperação de metano para pro-duzir energia a partir do biogás gerado em estações de trata-mento de efluentes; e a organi-zação de um workshop sobre como utilizar o guia, desenvol-vendo estratégias energéticas municipais que promovam ener-gias renováveis.

De acordo com Guilherme Johnston, a ICLEI vai auxiliar as cidades modelos a partici-

ETE Bosque dos Maias

Arqu

ivo/

Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 38 19/04/10 14:30:28

Page 39: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

39

par em um workshop interna-cional que tem como objetivo principal disseminar as ativi-dades do projeto.

Johnston explica que uma das principais preocupações do ICLEI é o estabelecimento de uma referência para outros governos locais na formulação e implantação de políticas energéticas, tendo em vista que esta já é uma questão de

grande preocupação no Brasil e no mundo.

S e g u n d o o a s e s o r d o ICLEI no Brasil, é preciso ga-rantir que cidades brasilei-ras avaliem opções para ge-rar energia a partir resíduos e efluentes em suas opera-ções municipais e comunida-des servidas por elas, redu-zindo custos, ao mesmo tem-po em que se produz efeitos

positivos no ambiente natu-ral. Ele lembra que Porto Ale-gre também poderá, a partir da implementação do sistema de aproveitamento do gás, requerer créditos de carbo-no, que é um mecanismo in-ternacional de compensação para a redução dos efeitos do aquecimento global. Isto po-derá significar o ingresso de receita para a cidade.

Saiba mais sobre o efeito estufa e o

Protocolo de Kyoto

O Protocolo de Kyoto é um instrumento internacional, ratificado em 15 de março de 1998,

que visa a reduzir as emissões de gases poluentes. Estes são responsáveis pelo efeito estufa

e pelo aquecimento global. O Protocolo de Kyoto entrou oficialmente em vigor no dia 16 de fe-

vereiro de 2005, após ter sido discutido e negociado em 1997, na cidade de Kyoto (Japão).

No documento gerado a partir deste encontro há um cronograma pelo qual os países

devem reduzir, em 5,2 %, a emissão de gases poluentes entre os anos de 2008 e 2012

(primeira fase do acordo). Os gases citados no acordo são: dióxido de carbono, metano,

óxido nitroso, hidrocarbonetos fluorados, hidrocarbonetos perfluorados e hexafluoreto

de enxofre. Os últimos três são emitidos principalmente por indústrias.

A emissão destes poluentes deve ocorrer em vários setores econômicos e ambien-

tais. Os países devem colaborar entre si para atingirem as metas. O protocolo sugere

ações comuns, como: o aumento do uso de fontes de energias limpas (biocombustíveis,

energia eólica, biomassa e solar); a proteção de florestas e de outras áreas verdes; a

otimização de sistemas de energia e transporte, visando ao consumo racional e à dimi-

nuição das emissões de metano, presentes em sistemas de depósito de lixo orgânico.

Revista Ecos 30 - abril.indd 39 19/04/10 14:30:29

Page 40: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2

010

40

Eficiência energéticano saneamento: um desafio a ser vencidoAirton Sampaio GomesConsultor do Cepel – Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, vinculado à holding Eletrobrás

Segundo dados do Sistema Nacional de In-formações sobre Saneamento (SNIS), as des-pesas com energia elétrica das operadoras do setor atingiram o montante de R$ 2,58 bilhões em 2007, constituindo, para a maioria delas, a segunda despesa da pauta de custos opera-cionais, sendo que em 626 sistemas já repre-sentam o primeiro item de custo, como se vê no Quadro 1.

Quadro 1 – Representatividade do custo de energia elétrica na pauta de despesas de exploração

MUNICÍPIOS ITEM DE CUSTO626 Primeiro

1463 Segundo1348 Terceiro563 Quarto

O consumo de energia elétrica do setor sanea-mento está resumido no Quadro 2.

Quadro 2 – Consumo anual de energia elétrica por tipo de sistema

Sistemas de AGUA - MWh/ano 9.812.457Sistemas de ESGOTOS - MWh/ano 598.209

TOTAL - MWh/ano 10.410.666Fonte: SNIS, 2007, adaptado

A literatura técnica aponta que 90 % a 95 % do consumo de energia elétrica nos sistemas de abastecimento são atribuíveis aos sistemas de bombeamento. A menor parcela é destinada a sistemas auxiliares e à iluminação (Tsutiya, 2001). Os dados do SNIS apontam que pelo me-nos 70 % deste consumo se dão em sistemas de abastecimento com potência instalada acima de 500 kW.

O consumo do setor equivale a cerca de 2,6 % do consumo total do país (412 TWh em 2007, BEN 2008).

O SNIS 2007, no documento chamado Diagnós-tico dos Serviços de Água e Esgotos 2007 - Visão Geral da Prestação de Serviços (MCidades, 2009), apresenta a matriz de Balanço Hídrico Brasil, rea-lizada a partir dos dados coletados de 2007.

Este balanço evidencia que as perdas reais de água (perdas técnicas, na linguagem dos siste-mas de energia), basicamente constituídas por vazamentos nas redes e ramais prediais, chegam a 28 % do volume que é disponibilizado na entra-da dos sistemas distribuidores. Além das perdas

Combater as perdas de água nos sistemas operacionais é fundamental

Foto

: DIv

ulga

ção/

Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 40 19/04/10 14:30:29

Page 41: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Eco

s l 3

0

41

reais (técnicas) há ainda as perdas aparentes (comerciais), não levadas em conta neste estudo. Considerando-se que o consumo de energia elétri-ca nos sistemas de abastecimento de água é tam-bém um dado levantado pelo SNIS, temos então a situação mostrada no Quadro 3.

Outro dado a ser apreciado é o “volume de per-das reais anuais inevitáveis”. Este volume é deter-minado segundo uma fórmula empírica determina-da por Lambert, pesquisador da IWA (Internatio-nal Water Association). Leva em conta a extensão de redes e ramais e supõe um sistema com boa in-fraestrutura e bem gerenciado. O cálculo das per-das reais anuais inevitáveis aplicado ao Balanço Hídrico Brasil leva a um número substancialmente menor que 10 % das perdas reais anuais totais. No estudo que fizemos, por conservadorismo e arbi-trariamente, considerou-se que as perdas inevitá-veis sejam 10 % das perdas reais totais.

Ou seja, para a produção e distribuição de 1.430 m³ de água se gasta 1 MWh, ou, de outra forma, 0,70 kWh/m³.

Só com a redução das perdas reais para um patamar próximo ao limite das perdas inevitá-veis, poderia se conseguir uma redução de 2,62

TWh por ano no consumo de energia do setor sa-neamento. Estimou-se que com a implementação de outras medidas de eficientização de sistemas de bombeamento possa se chegar a uma econo-mia de 2,08 TWh por ano. Ou seja, o potencial téc-nico de redução do consumo de energia elétrica, chega a 45 % do consumo atual.

O potencial de economia de energia elétrica é elevado, tendo em vista a existência de:

• grandes perdas de água por vazamentos nas redes e ramais prediais;

• dimensionamento inadequado dos equipa-mentos elétricos e eletromecânicos, que ope-ram fora do ponto de rendimento ideal;

• má utilização da capacidade de reservação, impedindo a racionalização do despacho das unidades e em consequência a redução da demanda no horário da ponta;

• precariedade do controle operacional, ex-pressa na ausência de equipamentos para medição de parâmetros elétricos e hidráuli-cos, telemetria e sistemas supervisórios, es-pecialmente nos sistemas distribuidores;

• deficiências de setorização dos sistemas e falta de controle de pressão adequados;

Volume anual de entrada no sistema

14.028.887.000 m3/ano

Margem de erro [*/-] 20,0 %

Consumo autorizado8.469.085.000 m3/ano

Margem de erro [+/-] 2,6 %

Consumo autorizado faturado

8.035.748.000 m3/ano

Consumo medido faturado 6.530.893.000 m3/ano Água faturada

8.035.748.000 m3/anoConsumo não medido faturado 1.504.855.000 m3/ano

Consumo autorizado não faturado 433.337.000

m3/anoMargen de erro

[+/-] 50,0 %

Consumo medido não faturado 0 m3/ano

Água não faturada 5.993.139.000 m3/ano

Margem de erro [+/-] 46,8 %

Consumo não medido não faturado 433.337.000 m3/ano Margem de erro [+/-] 50,0 %

Perdas Aparentes 1.632.493.282 m3/ano

Margen de erro [+/-] 20,0 %

Consumo não autorizado 522.241.472 m3/ano

Margem de erro [+/-] 46,0 %

Perdas de água5.559.802.000 m3/ano

Margem de erro [+/-] 50,6%

Imprecisões dos medidores e erros de manipulação dos dados

1.110.251.810 m3/anoMargem de erro [+/-] 20,0 %

Perdas reais3.927.308.718 m3/ano

Margem de erro [+/-] 72,1 %

OBS: este balanço foi feito utilizando-se o software freeware WB Easy Calc, desenvolvido por Roland Lienberger, para o Banco Mundial

Figura 1 – Matriz do balanço hídrico para o Brasil, com dados dos sistemas de abastecimento de água (SNIS 2007)

Parâmetros Valor Unid FonteConsumo total de energia elétrica em sistemas de água em 2007 9.812.457 MWh/ano SNIS 2007

Volume total produzido e distribuído em 2007 14.028.887.000 m³/ano Balanço Hídrico Brasil - 2007

Produção e distribuição unitária de água por MWh 1.429,70 m³/MWh parâmetro médio calculado

Consumo específico médio de energia elétrica por m³ 0,70 kWh/m³ parâmetro médio calculado

Quadro 3 – Cálculo de parâmetros de consumo, com dados do SNIS.

Revista Ecos 30 - abril.indd 41 19/04/10 14:30:31

Page 42: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Mar

ço d

e 2

010

42

• deficiências no controle de vazamentos;• deficiências na gestão da infraestrutura;• escassez de mão de obra qualificada;• prevalência da manutenção corretiva em

detrimento da preditiva e preventiva.

No que toca a projetos de eficiência energéti-ca nos sistemas de bombeamento, a simples substituição de equipamentos por outros teori-camente mais eficientes não garante o sucesso do projeto, visto que o dimensionamento deve levar em conta as reais condições operacionais das instalações, que só podem ser determina-das por registros confiáveis das grandezas elé-tricas e hidráulicas.

Outra recomendação dos especialistas é que as medidas de promoção da eficiência energética das instalações sejam acompanhadas de medidas para redução das perdas de água por vazamen-tos, sob pena de comprometimento do resultado das primeiras.

Também é importante que ocorra a continui-dade de ações de capacitação do setor de sanea-mento em relação à eficiência energética, tanto no que diz respeito à gestão quanto ao projeto e à operação. Em particular, há necessidade de refor-ço do parque de projetistas especializados no se-tor, para atendimento às prestadoras de serviço, inclusive no tocante à elaboração de projetos pa-ra apresentação aos agentes financiadores.

Potencial técnico de economia decorrente de intervenções nos processos de bombeamento e de reservação

Estas medidas incluem ações como adequação de válvulas, barriletes e adutoras em sistemas de bombeamento no sentido de reduzir perdas de carga; redução de perda de carga por limpeza e revestimento ou ampliação de diâmetro das tubu-lações (ou tubulação adicional), eliminação de ar e modulação de carga nos sistemas com ou sem o uso de conversores de frequência, mas principal-mente por intermédio destes últimos. Este grupo de medidas apresenta um potencial significativo, pois muitos dos sistemas hoje em operação foram projetados em uma época em que os gastos com energia eram pouco relevantes no saneamento. Desta forma, o impacto das perdas de carga não foi devidamente considerado nos sistemas de bombeamento, com o complicador de que siste-mas com tubulação de maior diâmetro oneram o investimento inicial. Outra situação comum nos sistemas em operação é o bombeamento direto na rede distribuidora sem considerar as varia-ções de demanda. Também se encontra situações em que o bombeamento foi dimensionado para fi-nal de plano, mas opera hoje com uma demanda muito menor. Isto ocorre principalmente em ele-vatórias de esgotos, mas também nos sistemas de abastecimento.

Também são importantes ações como o di-mensionamento adequado dos conjuntos moto- bomba, a utilização de bombas mais eficientes, o uso adequado dos sistemas de reservação e o em-

prego de sistemas de automação e regras opera-cionais otimizadas.

Por último, a utilização de motores mais efi-cientes ou de alto rendimento, também apresen-tam algum potencial de economia.

É possível concluir que o custo, a preços de mercado, das perdas de energia elétrica no sa-neamento chega ao montante de R$ 800 milhões por ano.

Macromedidores: um auxílio no combate às perdas

Foto

: Mar

ia d

e Lo

uder

s W

olff

/Dm

ae

Revista Ecos 30 - abril.indd 42 19/04/10 14:30:31

Page 43: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Revista Ecos 30 - março.indd 43 06/04/10 14:49:50

Page 44: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Revista Ecos 30 - março.indd 44 06/04/10 14:49:50

Page 45: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro
Page 46: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Supervisão de Comunicação da PMPA

Coordenação da Assessoria de Comunicação do DmaeAngélica Ritter - Mtb 11.010

EdiçãoMaria de Lourdes da Cunha Wolff - Mtb 6.535

Fotos da capaMarcelino Heck - Jardins da Hidráulica Moinhos de Vento

Planejamento gráfico e diagramaçãoVinícius Kraskin e Rafael Cividini - Nova Pauta

RevisãoCom Mais Comunicação

ImpressãoOficina Litográfica do Dmae

Tiragem5.000 exemplares

ECOS Técnica é uma publicação quadrimestral, encarta-da na Revista ECOS, no 30, ano 16, março de 2010, doDepartamento Municipal de Água e Esgotos, dedicada àdivulgação de trabalhos técnicos realizados pelos fun-cionários do Dmae, na área de saneamento ambiental erecursos hídricos.

Comissão Editorial da ECOS TécnicaAirana Ramalho do CantoAline Fronckowiak SalisAngélica RitterFlávia Helena Righi de OliveiraIara Conceição MorandiJosé Giovani da Costa Nunes Luiz Fernando Alves da SilvaMárcio SuminskiMaria de Lourdes da Cunha WolffMelissa Vieira da SilvaSandra Mara Moura Pereira (coordenação)

Correspondência Encarte ECOS TécnicaUnidmae - Universidade Corporativa do DmaeRua 24 de Outubro, 200CEP 90510-000 - Porto Alegre - RSe-mail: [email protected]

Page 47: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Racionalização Energética:alternativa para evitardesabastecimento de águaA busca de alternativas para redução do consumo de energia é um dosfatores que motivam os técnicos do DMAE a inovar a metodologia daoperação dos grupos motor-bomba a partir do Centro de Comando Opera-cional em Porto Alegre. Neste contexto, além de baixar o consumoenergético, contribui para a sustentabilidade dos mananciais, evitandodesperdício de água, uma vez que esta fica reservada, garantindo assimque não ocorra desabastecimento para os porto-alegrenses. A ousadiadesses técnicos tangencia outras mudanças corporativas, quais sejam,mudanças culturais na supressão de práticas laborais bastantearraigadas e, consequentemente, a adoção de atitudes de compartil-hamento de conhecimentos, monitoramento de indicadores de resultadose espírito de trabalho em equipe, exigindo, portanto capacitação e desen-volvimentos focados para operadores de estações elevatórias. As práticasde monitoramentos são recorrentes também entre os técnicos da Divisãode Pesquisas que procedem o acompanhamento das variações sazonais eos fatores que implicam na proliferação de cianobactérias no lago Guaíba.

Apresentação

Page 48: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

Índice

3Apresentação

5Considerações sobre a variação

temporal do fitoplâncton em um

ponto amostral do lago Guaíba:

estudo de longa duração

14Utilização Racional de Energia

Elétrica na Operação de Estações

Elevatórias de Água Tratada do Dmae de

Porto Alegre em Horário Sazonal

22Normas para apresentação de

artigos técnicos e destaque

fotográfico na ECOS Técnica

Foto

: Rog

ério

Rib

eiro

/ A

rqui

vo D

MA

E

Page 49: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

5

Rodrigo da Rocha Andrade1

Danilo Giroldo2

ResumoVariação quali-quantitativa do fitoplâncton ocorre em diferentes escalas temporais.

Variação sazonal é associada às recorrências climático-hidrológicas, enquanto que ciclosinteranuais são influenciados por perturbações climáticas e antrópicas. Estudos de longaduração são importantes, pois fornecem informação continuamente atualizada e permi-tem distinção entre ciclos típicos e atípicos. Os monitoramentos efetuados pelo Dmae nolago Guaíba apresentam potencialidade em estudos de longa duração. Este trabalhoobjetivou apresentar as forças que regem a variação temporal do fitoplâncton em umponto amostral do lago (julho de 1996 a junho de 2006). Foram analisados fitoplânctontotal, temperaturas do ar e da água, chuva acumulada, nível da água, disco de Secchi,profundidade, sólidos suspensos totais e clorofila-a. Fitoplâncton total e clorofila-a apre-sentaram o mesmo comportamento na correlação com demais variáveis e foram relacio-nadas às temperaturas e ao disco de Secchi. A análise de componentes principais, compoder de explicação de 86,5%, mostrou que as forças que direcionaram a variação sazo-nal e interanual do fitoplâncton foram de natureza climática e hidrológica. Ao longo dosanos, a diminuição da profundidade confirmou a natureza deposicional do ponto e oaumento da transparência, acompanhada da redução de chuvas correspondeu ao desen-volvimento de cianobactérias. Os resultados confirmaram o potencial dos monitoramen-tos em modelagem e produção de informação para a população.

Palavras-chave: clima subtropical, microalgas continentais, variação interanual.

1Graduação em Ciências Biológicas (Ufrgs), especialização em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), especialização emVigilância Ambiental em Saúde (ESP/UFPel), Mestre em Biologia de Ambientes Aquáticos Continentais - ênfase emMicroalgas Continentais (Furg), orientado. 2Graduação em Ciências Biológicas, mestrado, doutorado e pós-doutorado em Ecologia de Recursos Naturais (UFS-Car), vice-diretor do Instituto de Ciências Biológicas da Furg, orientador.

Considerações sobre a variaçãotemporal do fitoplâncton em umponto amostral do lago Guaíba:estudo de longa duração

Introdução

Fitoplâncton é definido como acomunidade de microorganismosfotossintéticos, principalmente algas ecianobactérias, adaptados a permane-cer toda a vida, ou parte dela, em apa-rente suspensão nas águas abertas deecossistemas aquáticos marinhos,estuarinos e continentais (Reynolds,2006). Ele representa importante fonte

de alimento para os consumidores,sendo o principal grupo de produtoresda zona pelágica (Reynolds, 1984;Sommer, 1989).

A variação quali-quantitativa do fito-plâncton ocorre em diferentes escalas aolongo do tempo e envolve aspectos rela-cionados ao seu tempo de geração, àsintensidade e durabilidade das condiçõesambientais e aos distúrbios associados.Sendo assim, podem ser reconhecidas,

Page 50: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

6

desde variações horárias a diárias (varia-ção nictemeral), até variações dentro e aolongo dos anos (variações sazonais einteranuais) (Barbosa e Padisák, 2004).

As variações sazonais do fitoplânctonsão associadas às recorrências cíclicas doclima e da hidrologia, enquanto que ci-clos interanuais podem ser influenciadospor perturbações climáticas e antrópicas.Perturbações dessa natureza são difíceisde ser discriminadas em análises de ci-clos anuais isoladamente (Valdes-Weaveret al., 2006). Estudos de longa duraçãopodem indicar mudanças relacionadas àsperturbações climáticas, hidrológicas ouantropogênicas em rios, lagos, reservató-rios e estuários (Richardson, 1997). Elessão muito importantes porque, ao forne-cerem informação continuamente atuali-zada, permitem a distinção entre ciclostípicos e atípicos ao longo dos anos(Zohary et al. 1996).

Estudos de longa duração têm sidoamplamente produzidos em todo o mun-do para avaliar os efeitos de eutrofização,oligotrofização e perturbações climáticassobre o fitoplâncton (p.e., Tolotti e Thies,2002; Anneville et al., 2004; Jeppesen etal., 2007). Apesar de sua importância,estudos de longa duração são escassospara o Brasil (Bicudo et al., 2006).Alguns deles estão inseridos no Progra-ma Brasileiro de Pesquisas Ecológicasde Longa Duração (PELD), que estávinculado à International Long TermEcological Research (ILTER) (Seeli-ger et al., 2002).

Para o Rio Grande do Sul, estadolocalizado na zona subtropical do Brasil,consta um único estudo de longa duraçãorealizado por Abreu et al. (2009) queavaliou a variação da clorofila-a de curtae longa escalas entre os anos de 1984 e2007 na laguna dos Patos. Nesse estudoobservou-se correlação positiva significa-tiva entre a variação anual da chuva evalores médios anuais de clorofila-a, queforam relacionados às perturbações cau-sadas pelo fenômeno El Niño OscilaçãoSul (ENOS) (Berlato e Fontana, 2003).

Os monitoramentos efetuados peloDepartamento Municipal de Água eEsgotos (Dmae) no lago Guaíba, prin-cipal manancial de abastecimento dePorto Alegre (RS), apresentam poten-cialidade em estudos de longaduração. O caráter sistemático ao con-junto de análises realizadas permite aassociação com dados quali-quantita-tivos de comunidades bioindicadoras,tais como diatomoflórula epilítica,macroinvertebrados bentônicos e fito-plâncton. Essas associações podem serutilizadas em modelagem matemática(Markensten e Pierson, 2007), emdiagnósticos e planos de contingencia-mento ambiental, em avaliação dosimpactos dos investimentos em sanea-mento, em análises de perturbaçõesclimáticas e na produção de informa-ção para a população.

Este estudo de longa duração objeti-vou apresentar as principais forças queregem a variação temporal do fitoplânc-ton em um ponto amostral do lago Guaí-ba, Rio Grande do Sul, Brasil.

Metodologia

O ponto de coleta considerado foi acaptação de água Menino Deus(30º03'31"S - 51º14'09"W), a 500 m damargem esquerda do lago Guaíba, emfrente ao parque Marinha do Brasil,município de Porto Alegre. Estão previs-tos investimentos em tratamento para osesgotos sanitários (Programa IntegradoSocioambiental, Pisa) da bacia do arroioDilúvio, com foz à montante do ponto deestudo, tornando relevante a memóriadas condições anteriores à implantaçãodessas melhorias para avaliações futuras.

As coletas foram realizadas entre jul-ho de 1996 e junho de 2006 (n = 118),com auxílio da embarcação Salminus(Dmae). As amostras do fitoplânctonforam acondicionadas em frascos opacosde polietileno, e alíquotas foram preser-vadas em lugol acético (0,25%). A conta-gem foi realizada em câmara de Sedg-

Page 51: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

7

wick-Rafter (APHA, 1995), em micros-cópio binocular, aumento médio de300x. Foram considerados como indiví-duos as células, colônias, filamentos ecenóbios contados.

As variáveis analisadas para este tra-balho foram temperatura do ar - Tar e daágua - Tag, chuva acumulada nos trintadias anteriores à coleta - CH (8o Distritode Meteorologia), nível da água - Hnm(Superintendência de Portos e Hidro-vias), disco de Secchi - Zs, profundida-de - Zmax, sólidos suspensos totais -SST, e clorofila-a - Cla.

As metodologias analíticas, crítica epadronização dos dados, organização dasséries temporais e inferências estatísticasencontram-se em Andrade (2009). Asanálises de componentes principais - ACPpara o resumo das informações foramrealizadas com o auxílio do pacote esta-tístico livre Past (Hammer et al., 2001).

Resultados

As estatísticas para os descritoresconsiderados neste trabalho são apre-sentadas na Tabela 1, e os perfis tempo-rais dos escores padronizados das variá-veis ambientais podem ser visualizadosna Figura 1. As variações dos valoresmínimos e máximos das temperaturas

do ar (12,0 a 31,0 ºC) e da água (12,8 a29,0 ºC) demonstraram recorrênciacíclica sazonal ao longo dos anos eapresentaram, em geral, correspondên-cia direta com a variação de clorofila-a(0,0 a 19,9 mg.l-1) e fitoplâncton total(26 a 12.342 ind.ml-1). As variações dosvolumes de chuva (0,6 a 252,3 mm)corresponderam às variações do nívelda água (0,27 a 2,34 m). Normalmente,os mais baixos valores desses descrito-res corresponderam aos picos de tempe-ratura e clorofila-a nos meses de verão,entre dezembro e março. Os mesesentre o final do outono e o início da pri-mavera, de junho a outubro apresenta-ram os maiores valores de chuva acu-mulada, nível da água, profundidade esólidos suspensos totais.

Os perfis temporais permitiram veri-ficar o aumento considerável nos valo-res do disco de Secchi, bem como aredução da profundidade e dos teoresdos sólidos suspensos totais em direçãoaos anos finais da série. As variaçõesmínimas de chuva acumulada forammais elevadas entre 1997 e 1998 e tam-bém tenderam a valores mais reduzidosem direção aos anos finais, com exce-ção do inverno de 2005, que registrou omaior valor acumulado para a série(253,2 mm) (Figura 1).

Tabela 1. Estatísticas descritivas das variáveis ambientais e do fito-plâncton total. Lago Guaíba, RS, julho/1996 a junho/2006. Mín. - míni-mo; Máx. - máximo; s - desvio padrão; (*) Média e desvio para dadoslog-transformados (logx+1).

Temperatura do ar

Temperatura da água

Chuva acumulada

Nível da água

Disco de Secchi

Profundidade

Sólidos suspensos totais

Clorofila-a

Fitoplâncton total

Unidade

ºC

ºC

mm

m

m

m

�g.l-1

Código

Tar

Tag

CH

Hnm

Zs

Zmax

SST

Cla

FITOT

Mín.

12,0

12,8

0,6

0,27

0,15

8,5

<10

0,0

26

Máx.

31,0

29,0

252,3

2,34

0,70

12,0

46

19,9

12.342

Média

21,8

21,3

118,0

1,22

0,36

10,4

22,8

3,0

278*

s

4,7

4,5

62,0

0,43

0,11

0,7

8,4

3,6

2,1*

g.l -1

ind.ml -1

Page 52: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

8

Figura 1. Perfis temporal dos escores padronizados (z) da temperatura do ar -Tar (ºC) e disco de Secchi - Zs (m), temperatura da água - Tag (ºC) e clorofila-a -Cla ( g.l-1), chuva acumulada - CH (mm) e nível da água - Hnm (m), profundidade- Zmax (m) e sólidos suspensos totais - SST (μμg.l-1). Lago Guaíba, RS, julho/1996a junho/2006.

As relações entre as correlações linearesdo fitoplâncton total e da clorofila-a com asvariáveis ambientais são apresentadas naFigura 2. Em geral, o maior desenvolvimen-to do fitoplâncton total e da clorofila-aforam significativamente (r > ± 0,180, α <0,05) e positivamente relacionados às tem-peraturas do ar, da água e disco de Secchi, e

negativamente relacionados aos sólidos sus-pensos totais, chuva acumulada, profundi-dade e nível da água. A correlação da cloro-fila-a com as variáveis ambientais foi maisforte que a correlação do fitoplâncton total.O coeficiente de correlação linear entre clo-rofila-a e fitoplâncton total foi robusta e sig-nificativa (r = 0,498, p < 0,05).

-0,600

-0,400

-0,200

0,000

0,200

0,400

0,600

Tag Tar Zs SST CH Zmax Hnm

r

Cla FITOT r crítico (+) r crítico (-)

Figura 2. Relação entre correlações do fitoplâncton total e da clorofila-a -Cla com as variáveis ambientais. O significado dos códigos das variáveisencontra-se na Tabela 1. Valores críticos: r = ± 0,180 (? =0,05). LagoGuaíba, RS, julho/1996 a junho/2006.

Page 53: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

9

O diagrama (biplot) da análise decomponentes principais - ACP com adisposição dos autovetores das variáveisambientais e dos escores das unidadestemporais mensais e interanuais podeser visualizado na Figura 3. As variáveisTar, Tag, Cla e Zs posicionaram-se nolado positivo do eixo I (CP I) e foramassociadas ao verão e aos meses dedezembro (final da primavera) e abril(início do outono). As séries interanuaisnesse lado do eixo corresponderam aosperíodos de 1996-1997, quando ocorre-ram picos de clorofila-a associados aflorações de Bacillariophyceae (Asterio-

nella formosa), e aos períodos de 2003a 2006, quando ocorreram picos de clo-rofila-a associados a florações de Cya-nophyceae/ Cyanobacteria (Planktothrixisothrix). O lado negativo do eixo I cor-respondeu a todos os meses de inverno,maio e junho (meio e final de outono),estando principalmente relacionados àságuas altas. Assim como os meses deoutono, os meses de primavera apresen-taram amplo gradiente de temperaturas.As séries interanuais de 1996 a 2000posicionaram-se junto ao maior gra-diente de chuvas, profundidade e sóli-dos suspensos totais.

Figura 3. Biplot da análise de componentes principais - ACP com a disposiçãodos autovetores das variáveis temperatura do ar - Tar, temperatura da água -Tag, chuva acumulada - CH, nível da água - Hnm, disco de Secchi - Zs, profun-didade - Zmax, sólidos suspensos totais - SST, clorofila-a - Cla e das unidadestemporais mensais (jan - dez) e interanuais (96_97 - 05_06). Lago Guaíba, RS,julho/1996 a junho/2006.

TarTag

CHHnm

Zs

ZmaxSST

Cla

Jul

Ago

Set

Out

Nov

DezJanFevMar

Abr

Mai

Jun

96_97

97_98

98_99

99_00

00_01

01_0202_03

03_04

04_05

05_06

-2 -1,6 -1,2 -0,8 -0,4 0,4 0,8 1,2 1,6

-2

-1,6

-1,2

-0,8

-0,4

0,4

0,8

1,2

1,6

CP I 65,9 %

CP

II 2

0,6

%

Inverno

Primavera

Verão

Outono

Interanuais

As percentagens de explicação e cor-relações das variáveis com os dois pri-meiros eixos (CP I e II) da ACP são apre-sentadas na Tabela 2. O eixo I (CP I) foiprincipalmente representado em seu ladopositivo pelas variáveis Cla (r = 0,894),Tar (r = 0,868), Tag (r = 0,861) e pelas

unidades temporais (e escores) janeiro(1,720), fevereiro (1,675), março (1,314),2004-2005 (1,043) e dezembro (1,020).O lado negativo do eixo I foi principal-mente representado pelas variáveis Hnm(r = -0, 851) e CH (r = -0,809) e pelasunidades temporais julho (-1,614), outu-

Page 54: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

10

CP I II

% de explicação 65,9 20,6

Variáveis ambientais

0,868 -0,469

0,862 -0,485

-0,809 -0,363

-0,851 -0,119

0,688 0,635

-0,745 -0,428

-0,661 -0,652

Tar

Tag

CH

Hnm

Zs

Zmax

SST

Cla 0,894 -0,036

Unidades temporais

Jul -1,614 0,577

Ago -1,211 0,882

Set -1,156 0,445

Out -1,228 -1,594

Nov -0,004 -0,760

Dez 1,020 -0,611

Jan 1,720 -0,713

Fev 1,675 -0,701

Mar 1,314 -0,748

Abr 0,788 0,746

Mai -0,504 1,075

Jun -0,945 1,422

96_97 0,439 0,439

97_98 -1,106 -1,073

98_99 -1,121 -0,851

99_00 -0,043 -0,573

00_01 -0,543 -1,207

01_02 -0,303 -0,518

02_03 -0,389 -0,595

03_04 0,467 1,122

04_05 1,043 1,520

05_06 0,702 1,679

Correlações

Escores

Tabela 2. Percentagem de explicação, correlações das variáveis e escores dasunidades temporais com os dois primeiros eixos (CP I e II) da ACP. O significa-do dos códigos das variáveis encontra-se na Tabela 1.

bro (-1,228), setembro (-1,156), 1998-1999 (-1,121) e 1997-1998 (-1, 106). Oeixo II (CP II) foi principalmente repre-sentado em seu lado positivo pela Zs (r =0,635) e pelas unidades temporais 2005-2006 (1,679), 2004-2005 (1,520), 2003-2004 (1,222). O lado negativo do eixo IIfoi principalmente representado por SST(r = -0,651) e pelas unidades temporaisoutubro (-1,594), 2000-2001 (-1,207) e1997-1998 (-1,073).

Discussão

As correlações entre as variáveis e aanálise de componentes principais - ACPapresentadas neste trabalho permitiramverificar que as principais forças quedirecionaram a variação quantitativasazonal e interanual do fitoplâncton nasérie de longa duração foram de nature-za climática (Tar, Tag, CH) e hidrológica(Hnm, Zmax).

Page 55: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

11

Temperatura é chave determinante naabundância sazonal e na distribuição evariações geográficas do fitoplâncton.Baixas temperaturas reduzem atividadeenzimática, fluidez de membrana ecadeia de transferência de elétrons e,consequentemente, reduzem as taxas defotossíntese, respiração e absorção denutrientes pelo fitoplâncton (Harris,1986). Para esse estudo, a distribuiçãoantagônica entre meses de inverno everão corresponderam à sazonalidadetérmica e, concomitantemente, ao desen-volvimento do fitoplâncton.

A diminuição da profundidade doponto estudado ao longo dos anos confir-mou a natureza deposicional da área deestudo. O lago Guaíba é considerado umabacia sedimentar, localizado na planíciede inundação da foz dos rios Jacuí, Caí,dos Sinos e Gravataí (Nicolodi, 2007). Oconceito de pulso de inundação é aplicá-vel à compreensão da hidrodinâmica dosistema (Rodrigues et al., 2007). As corre-lações negativas significativas de Tar e Tagcom Hnm, CH e Zmax e a distribuiçãodessas variáveis na ACP, permitiram afir-mar que sazonalidade térmica foi acompa-nhada de sazonalidade hidrológica.

A análise de componentes principaispermitiu afirmar que, ao longo dos anos,a combinação entre menores valores acu-mulados de chuva e SST e maiores trans-parências (disco de Secchi), provavel-mente associados a anomalias provoca-das pelo fenômeno El Niño, propiciarammaior desenvolvimento do fitoplâncton(maiores picos de clorofila). A associa-ção das unidades temporais interanuaisentre 2003 e 2006 com Zs e os baixosvalores acumulados de chuva ilustraramo efeito de perturbação climática nasalterações da comunidade fitoplanctônicado lago Guaíba (desenvolvimento dePlanktothrix isothrix,Planktothrix agard-hii e de Planktothricoides raciborskii).

Os resultados deste trabalho mostra-ram que em períodos de seca (La Niña)ocorre aumento da produção fitoplanctô-nica no lago Guaíba (clorofila-a), como

ocorreu entre 2003-2006. Ao contrário,na Lagoa dos Patos a produção fitoplanc-tônica é potencializada em períodos dechuvas acima da média (El Niño) (Abreuet al., 2009). Os resultados sugerem quea competência no arraste de nutrientes dolago Guaíba para a Lagoa dos Patos emperíodos de muita chuva contribuem parao aumento da produção na Lagoa. Aocontrário, em períodos de seca, o tempode detenção hidráulica do lago Guaíba éaumentado, potencializando o desenvol-vimento de cianobactérias, que conso-mem os nutrientes, reduzindo essa con-tribuição para a Lagoa dos Patos.

A correlação menos robusta entre tem-peraturas e densidade em relação à cloro-fila-a foi associada às imprecisões atribuí-das à contagem de indivíduos, que supe-restima as formas unicelulares nanoplanc-tônicas e subestima a quantificação dasformas unicelulares e multicelulares microa mesoplanctônicas (Maizonave et al.,2009). Assim, o uso de técnicas mais pre-cisas de quantificação, tais como o biovo-lume (Torgan et al., 1998), poderiam serbuscadas em estudos futuros para o lago.De qualquer maneira, o efeito estocásticoatribuído ao considerável número deamostras (n = 118) permitiu correlaçõessignificativas da densidade do fitoplânctontotal com as variáveis consideradas.

Conclusões

Este trabalho analisou alguns resulta-dos de dissertação de mestrado apresen-tada ao Programa de Pós-graduação emBiologia de Ambientes Aquáticos Conti-nentais da Furg. Os dados de monitora-mento efetuado pelo Dmae e analisadosdemonstraram a sua qualidade na avalia-ção de processos e alterações ao longodos anos para o lago Guaíba. Com isso,ratifica-se a importância do monitora-mento do lago Guaíba em estudos delonga duração, de modelagem matemáti-ca, de diagnóstico e contingenciamentoambiental, avaliação dos impactos dosinvestimentos em saneamento, análises

Page 56: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

12

de perturbações climáticas e produção deinformação para a população.

Os autores agradecem ao Departa-mento Municipal de Água e Esgotos, ao8o Distrito de Meteorologia e à Superin-tendência de Portos e Hidrovias pela dis-ponibilidade dos dados. Os autores tam-bém agradecem à química Iara Concei-ção Morandi e à bióloga Carmem RosáliaM. Maizonave pela revisão crítica e pelassugestões apresentadas a este trabalho.

Referências bibliográficas

ABREU, P. C., BERGESCH, M.,PROENÇA, L. A. E ODEBRECHT, C.2008. Short- and long-term chloro-phyll-a variability in the shallowmicrotidal Patos Lagoon Estuary, Sou-thern Brasil. Estuaries and Coasts.

AMERICAN PUBLIC HEALTHASSOCIATION. 1995. Standard meth-ods for the examination of water andwastewater. APHA, 19th ed.

ANDRADE, R. DA R. 2009. Varia-ção temporal do fitoplâncton em umponto amostral do Lago Guaíba, RioGrande do Sul, Brasil. UniversidadeFederal do Rio Grande, Dissertação deMestrado, 155p.

ANNEVILLE, O., SOUISSI, S., GAM-METER, S. E STRAILE, D. 2004. Seaso-nal and interannual scales of variabilityin phytoplankton dynamics in three peri-alpine lakes over a period of 28 years.Freshwater Biology, n.49, v.1, p. 98-115.

BARBOSA, F. A. R. E PADISÁK, J.2004. Algumas considerações sobredesenho amostral para estudos de longaduração. In: Bicudo, C. E. M. e Bicudo,D. C. (org.). Amostragem em Limnologia.Ed. RiMa, p. 343-351.

BERLATO, M. A. E FONTANA, D.2003. El niño e la niña. Porto Alegre,Editora da Ufrgs, 110 p.

BICUDO, D. C., FONSECA, B. M.,BICUDO, C. E. M, BINI, L. M. EJESUS, T. A. 2006. Remoção de Eich-hornia crassipes em um reservatóriotropical raso e suas implicações naclassificação trófica do sistema: estu-do de longa duração no Lago dasGarças, São Paulo, Brasil. In: Tundisi,T. M. e Galli, C.S. (ed.). Eutrofização naAmérica do Sul: causas, consequênciase tecnologias de gerenciamento e cont-role. Instituto Internacional de Ecologia,p. 413-438.

HAMMER, Ø., HARPER, D. A. T. ERYAN,P. D. PAST:Paleontological statisticssoftware package for education and dataanalysis. Paleont. Electron., v.4, n.1, 9pp.

HARRIS, G. P. 1986. Phytoplank-ton Ecology. Structure, Function andFlutuation. Chapman and Hall.

JEPPESEN, E., SØNDERGAARD,M., MEERHOFF, M., LAURIDSEN, T.L. E JENSEN, J. P. 2007. Shallow lakesrestoration by nutrient loading reduc-tion - some recent findings and chal-lenges ahead. Hydrobiologia, v. 584,n.1, p. 239-252.

MAIZONAVE, C. R. M., ANDRADE,R. R., THEWES, M. R. E SCHERER, K.D. 2009. Florações de algas e cianobacté-rias no Lago Guaíba: série histórica doDmae de Porto Alegre, RS. Ecos Técnica,Encarte, n. 2 (submetido).

MARKENSTEN, H. E PIERSON,D. C. 2007. Weather driven influenceson phytoplankton succession in a shal-low lake during contrasting years:Application of PROTBAS. Ecol.Modelling, v. 207, n. 2-4, p. 128-136.

NICOLODI, J. L. 2007. O padrãode ondas no Lago Guaíba e suainfluência nos processos de sedimen-tação. Universidade Federal do RioGrande do Sul, Tese de Doutorado, 195 p.

Page 57: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

13

REYNOLDS, C. S. 1984. The eco-logy of Freshwater Phytoplankton.Cambridge University Press, 384 p.

REYNOLDS, C. S. 2006. Ecology ofphytoplankton. Cambrigde UniversityPress, 534 p.

RODRIGUES, S. C., TORGAN, L. C.E SCHWARZBOLD, A. 2007. Composi-ção e variação sazonal do fitoplânctonna foz dos rios do Delta do Jacuí, RS,Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 21, n.3,707-721.

SEELIGER, U., CORDAZZO, C. EBARBOSA, F. A. R. 2002. Os Sites e oPrograma Brasileiro de Pesquisas Eco-lógicas de Longa Duração. Belo Hori-zonte, Gráfica e Editora o Lutador, 184p.

SOMMER, U. (ED.). 1989. PlanktonEcology. Sucession in Plankton Com-munities. Springer-Verlag, 369 p.

TOLOTTI, M. E THIES, H. 2002.Phytoplankton community and limno-chemistry of Piburger See (Tyrol, Aus-tria) 28 years after lake restoration. J.Limnol., n. 61, p. 77-88.

TORGAN, L. C., BECKER, V. ERODRIGUES, S. C. 1998. Volume celu-lar de espécies fitoplanctônicas naLaguna dos Patos, Rio Grande do Sul,RS. Biociências, Porto Alegre, v. 6, n. 1,p. 183-186.

VALDES-WEAVER, L.M., PIEH-LER, M.F., PINCKNEY, J.L., HOWE,K.E. ROSIGNOL, K. ET AL. 2006.Long-term temporal and spatialtrends in phytoplankton biomass andclass-level taxonomic composition inthe hydrologically variable Neuse-Pamlico estuarine continuum, NC,USA. Limnology and Oceanography, n51, p.1410-1420.

ZOHARY, T. A. M., PAIS-MADEIRA, R. R. E HAMBRIGHT, K.D. 1996. Interannual phytoplanktondynamics of a hypereutrophic Africanlake. Archiv für Hydrobiologie, n. 136,p. 105-126.

Page 58: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

14

Roberto Rivelino Gomes Lopes¹ Flávio da Cunha Machado²Carlos Oliveira Cardoso³

Resumo

O objetivo deste trabalho é demonstrar que é possível realizar ações de grande reper-cussão financeira escolhendo o tipo de tarifa de energia elétrica adequada e adaptando aoperação dos sistemas de distribuição de água tratada de forma racional. A experiênciado Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre traz nesta publicação,como na prática, ajustes no modo de operar o sistema que resultaram em redução noscustos com consumo de energia elétrica. Estas ações se mostram vantajosas para a con-cessionária distribuidora de energia elétrica, pois o consumo requerido pelas empresasde saneamento através das estações elevatórias e de tratamento representa um percentualsignificativo do consumo total de energia elétrica. Neste trabalho demonstra-se como éfeito o deslocamento da operação dos grupos motor-bomba para fora do horário demaior consumo de energia, conhecido como horário fora de ponta. Com essa práticaocorre uma redução nos custos com energia elétrica para as companhias de fornecimen-to de água tratada e coleta de esgotos.

Palavras chave: eficiência energética, saneamento, horário sazonal e economia.

1 Graduação em Economia pela PUC RS 2 Graduado em Engenharia Civil pela UFRGS, diretor da Divisão de Água, responsável pela Gestão de Ações Operacionais da Comissão Interna de Controles deEnergia Elétrica do DMAE e responsável pela ação de Setorização do Programa de Combate Orientado a Perdas de Água do DMAE3 Graduado em Engenharia Civil pela PUC RS, chefe da Seção de Distribuição do DMAE e membro da Comissão Interna de Controles de Energia Elétrica do DMAE

Utilização Racional de EnergiaElétrica na Operação de EstaçõesElevatórias de Água Tratada do Dmaede Porto Alegre em Horário Sazonal

Introdução

No Brasil, estima-se que as empresasde saneamento representam aproximada-mente 3% do consumo de energia elétrica,assim, gastos com energia elétrica nestesetor ocupam a segunda posição no orça-mento, perdendo somente para despesascom pessoal. Segundo estudos especiali-zados, a perda de energia elétrica no setorcorresponde a um valor significativo,devido a alguns fatores, entre os principaisestão o uso ineficiente de equipamentos, afalta de capacitação de pessoal, os projetosmal dimensionados e as perdas de água nosistema de abastecimento.

Porto Alegre tem uma população de

aproximadamente 1,45 milhão de habi-tantes. A autarquia responsável pela produ-ção e distribuição de água tratada, coleta etratamento de esgoto cloacal é o Departa-mento Municipal de Água e Esgotos(Dmae). O Dmae tem sete sistemas de tra-tamento de água e produz anualmente175,42 milhões de metros cúbicos de águatratada, distribuída à população através desuas 87 estações de bombeamento de águatratada (EBAT). Aproximadamente 90%do custo de energia elétrica do Dmae sãogastos com as estações elevatórias.

Visando o controle e à redução dos cus-tos com energia elétrica, em 2006 o Dmaeimplantou a Comissão Interna de Controlesde Energia Elétrica (CICEE - Dmae). Esta

Page 59: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

15

comissão multidisciplinar de ação transver-sal no Departamento desenvolveu indica-dores de controle, bem como definiu con-ceitos a serem implantados visando a redu-ção dos custos. No final de 2007 optou-sepela troca da tarifa azul pela tarifa verde nasestações com horário sazonal.

A tarifa do horário sazonal verde apre-senta um custo aproximado oito vezesmaior no horário de ponta se comparadoao custo da energia elétrica no horário forada ponta na concessionária que atende aregião de Porto Alegre. Desta forma é pos-sível uma considerável economia de custode energia elétrica se racionalmente o sis-tema for operado de forma a desligar osconjuntos motor-bomba das estações ele-vatórias nos horários de ponta.

O Dmae tem um sistema de monitora-mento operacional por telemetria, chama-do Supervisório, que na versão atual estáem operação desde fevereiro de 2007 paraas estações de bombeamento de água trata-da. Este Supervisório está disponibilizadona Central de Controle Operacional(CCO), possibilitando a visualização emtempo real dos parâmetros operacionaisdas estações elevatórias e reservatórios, otelecomando e proporciona o acesso a umbanco de dados com informações históri-cas da operação dos sistemas de distribui-ção de água tratada. Os trabalhos aquiapresentados foram realizados com baseno banco de dados operacionais que oSupervisório fornece, somados a levanta-mentos realizados em campo, além daunião do conhecimento técnico de enge-nharia e de fundamentação econômica.

Metodologia

Em sistemas de abastecimento de águatratada já instalados e em pleno funciona-mento, a lógica do modo de operação a seradotado deve considerar, inicialmente,uma análise criteriosa das características edos equipamentos que se tem à disposiçãopara operar tal sistema, objetivando alcan-çar maior eficiência operacional. Para isso,é necessária uma reestruturação do modelo

que considere as características de cadasubsistema, como o aumento da popula-ção, instalação de programas de controle, aampliação e construção de novas elevató-rias e reservatórios. E, o mais importanteatualmente, o valor das tarifas dos contra-tos disponíveis com a concessionária deenergia elétrica.

Visando a reduzir os custos operacio-nais do Departamento, nos últimos anoshavia a seguinte questão a ser resolvida:como reduzir o consumo de energia elétri-ca nas EBAT durante o horário sazonal, ouaté mesmo cessar as operações nestas uni-dades operacionais, utilizando a reservaçãode água disponível no sistema sem ocasio-nar riscos de desabastecimento à popu-lação. Desta forma seria possível reduziros custos operacionais com investimentospraticamente nulos no curto prazo.

A opção no Dmae de Porto Alegre foianalisar inicialmente os subsistemas commaior reservação e aqueles que haviamsido recentemente implantados, pois teori-camente haveria a possibilidade de existiruma capacidade de reservação de água tra-tada maior que a exigida pela demanda atu-al, dada a previsão futura de aumento deconsumo, já que na ampliação ou na cons-trução dos novos sistemas há previsão doaumento da taxa de ocupação populacionalda área a ser atendida por tal unidade.

Com as informações contidas na basede dados foram feitos levantamentos expe-ditos visando a identificar os subsistemascom maior potencialidade de redução decustos operacionais através do plano deoperação a ser desenvolvido. Ao serimplantado um controle operacional visan-do a redução da operação no horário sazo-nal nas primeiras elevatórias do sistema, foinecessário estender esta lógica operacionalao restante das estações que fazem partedesta rede de distribuição de água tratada.

Durante o desenvolvimento da lógicaoperacional para a operação das estaçõeselevatórias é imprescindível que ocorra aadesão ao plano de trabalho de todos osfuncionários envolvidos com a operação.Neste sentido foram realizadas reuniões

Page 60: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

16

de treinamento e conscientização danecessidade de implantação de novos pro-cedimentos operacionais. A tarefa maisimportante que a própria implantação, é amanutenção da forma de operar, segundoa lógica previamente estabelecida, o quesó ocorre se todos tiverem conhecimentodos objetivos a serem atingidos e estive-rem envolvidos no processo.

As reuniões foram realizadas com osgrupos de funcionários envolvidos, opera-dores de estações elevatórias, revisores eoperadores do CCO, ora de forma fracio-nada, focando os pontos de maior relevân-cia para cada grupo de trabalho, ora de for-ma conjunta com assuntos de caráter geral.

É importante observar que uma dascaracterísticas das ações voltadas paramudanças em processos operacionais emempresas de saneamento é o caráter iterati-vo dos procedimentos adotados nos subsis-temas já implantados e a renovação dopacto de esforço conjunto de avançar nodesenvolvimento da operação.

Desenvolvimento dos trabalhos

Inicialmente foram estudadas as esta-ções elevatórias que já possuíam contrata-ção de tarifa na modalidade horário sazo-nal, naquele momento eram sete EBAT.Estas estações trabalhavam controladaspor sistemas automáticos, chave-bóia ousensor de nível comandado por telemetria,não distinguindo os horários de operação,mas apenas as condições de nível dosreservatórios, conforme os parâmetrosoperacionais pré-estabelecidos.

Com a análise das taxas de consumodos subsistemas, das vazões disponibiliza-das pelos grupos motor-bomba das esta-ções elevatórias e da capacidade de reser-vação foram desenvolvidos procedimen-tos operacionais visando a eliminar ourestringir a operação das EBAT durante ohorário sazonal.

Foram testados novos parâmetros ope-racionais de forma manual, sem a utiliza-ção dos controles existentes com o objeti-vo de alcançar um nível médio mais eleva-

do dos reservatórios. Após a análise dosresultados foram implantados estes parâ-metros nos controladores visando a operaro sistema de forma automática.

É imprescindível o controle diário daoperação, pois problemas em estações ele-vatórias podem causar alterações nosníveis de reservação, tais como: paradasoperacionais, problemas no fornecimentode energia ou dias de consumos atípicos,causam desequilíbrio no sistema. Destaforma o controlador deve tentar aproximara operação planejada de forma manual.

Paralelamente às ações realizadas nasEBAT com horário sazonal, foram realiza-dos estudos visando à contratação de tarifana modalidade horário sazonal verde paraestações que operavam em tarifa conven-cional de alta tensão, passando de sete paradez EBAT. Os efeitos no sistema de distri-buição de água tratada ocasionaram a ade-são das estações de tratamento de água(ETA) e, consequentemente, das suas res-pectivas estações de bombeamento deágua bruta (EBAB), algumas das quais jáoperavam com tarifas na modalidade dehorário sazonal.

Estudo de caso 1: EstaçãoElevatória São Luiz, açõesiniciadas em junho de 2008

A análise refere-se a um subsistema emque os ajustes no modo de operação de umaestação elevatória, sem novos investimentosnos últimos anos resultaram em reduçãodos custos de consumo de energia elétrica,entre outros benefícios, sem, no entantocausar desabastecimento para a população.A EBAT em questão possui três motoresinstalados de 250cv, e bombas com vazãode aproximadamente 270 litros por segun-do, atingindo uma altura manométrica de49 m.c.a. (metros de coluna de água). Men-salmente esta elevatória opera em média440 horas com um conjunto motor-bomba,sendo outros dois reservas. Para esta EBATo contrato com a concessionária de energiaelétrica é de 180kw, na modalidade tarifaHSV (horário sazonal verde).

Page 61: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

17

Esta EBAT opera em conjunto com umreservatório com capacidade nominal deseis mil metros cúbicos (6.000m³), poden-do atingir 4,90 metros de altura e um nívelmédio de operação de 2,90 metros, com osistema operando em modo remoto auto-mático, ou seja, o sistema operando portelemetria obedecendo a parâmetros pré-estabelecidos.

Analisando o ciclo de funcionamentodesta EBAT e a variação do nível do reser-vatório, foi verificado em quais horários defuncionamento do conjunto motor-bombapoderiam ser ajustados para se obter umaotimização neste subsistema, não só consi-derando o funcionamento desta EBAT,mas, como esta poderia interferir no fun-cionamento das demais EBAT e reservató-rios que compõem o sistema de distribui-ção de água da região. Em princípio, comoperação aproximada de 15 horas por dia,restavam 9 horas para ajustar o ciclo defuncionamento do GMB para alcançar oponto de operação que seria neste casoconsiderado o ideal.

Para o funcionamento desta elevatóriaeram consumidos em média 80.000 kWhpor mês, sendo que destes, em média,7.254 4 kWh correspondiam ao consumoem horário de ponta 5. A partir de junho de2008, com estudos realizados, foi constata-do que deveria ser alterado o ciclo de ope-ração desta EBAT, não deixando sua opera-ção apenas sob controle do nível do reser-vatório que é abastecido por esta, mas, simem função do horário em que o custo daenergia elétrica é consideravelmente maisbaixo. O acionamento do conjunto motor-bomba deveria ocorrer preferencialmenteno horário das 22h até as 19h do diaseguinte, período em que a tarifa assumeem média o valor de R$ 0,15 por kwh, sen-do que, das 19h às 22h, este valor passa aser em média R$ 1,28 por kWh, de acordocom as contas de energia elétrica destaEBAT no ano de 2009. Assim, dependendoda variação do nível e do horário, o motor

deveria ser acionado manualmente por tele-metria com o objetivo de chegar ao iníciodo horário sazonal com o reservatóriocheio, pois o consumo médio durante ohorário de ponta é de aproximadamente950m³ de água tratada por hora, correspon-dendo a cerca de 0,80m de altura do reser-vatório. O objetivo era evitar o funciona-mento do motor em horário de ponta, oqual foi diminuindo gradativamente, sendoreduzido simultaneamente o consumo deenergia no horário de ponta, passando damédia mensal de 7.254kWh em 2007 parauma média mensal de 439kWh em 2009,portanto, uma redução superior a 16 vezesem horário sazonal.

Na figura 1 observa-se o consumo deenergia elétrica da EBAT São Luis, dejaneiro de 2007 a novembro de 2009. Apartir de junho de 2008, mês que marcou oinício dos trabalhos de análise dos subsis-temas, as curvas superiores que indicam oconsumo de energia elétrica em horáriofora de ponta e consumo total da elevatóriavão se unificando à medida que o tempovai passando, indicando a redução do con-sumo de energia elétrica no horário deponta, a qual segue decrescente com ten-dência a zerar. Outra questão a considerar,é o fato de o consumo total de energia emkWh da EBAT aumentar, porém, quandocontabilizado em valores monetários hou-ve significativa redução, tendo em vistaque o valor do kWh em horário fora deponta é muito mais baixo.

Na figura 2 pode ser visualizada a cur-va ampliada referente ao consumo de ener-gia elétrica no horário de ponta, assim,durante as três horas que a tarifa assumevalores mais elevados o consumo foi res-tringido ao mínimo necessário. Pode-seconstatar que se fosse mantido o perfil deconsumo de energia elétrica em horário deponta do ano de 2007, que correspondia a7.254kWh, por mês, a conta de consumode energia elétrica desta EBAT estariaaproximadamente R$ 7.833,00 mais cara,

4 Média com base na operação do ano de 2007, considerando somente o consumo em horário de ponta.5 Horário em que o valor da tarifa de energia elétrica assume valores que chegam a ser até a nove vezes maiores em relação ao horário fora de ponta, dependendo dotipo de contrato com a concessionária de energia elétrica em contratos com tarifas na modalidade de horário sazonal. Compreende três horas diárias consecutivas nohorário de maior consumo, no caso de janeiro das 19h às 22h em Porto Alegre (RS).

Page 62: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

18

com base no consumo no horário de pontade 2009, que totalizou 4.057kWh aténovembro, sendo que o consumo médiofoi de 368kWh por mês.

Em setembro de 2008, outra ação coor-denada pela CICEE-Dmae, foi a alteraçãoda modalidade de contratação de tarifacom a concessionária de energia elétrica,passando do contrato de tarifa azul para ode tarifa verde. O resultado foi uma redu-ção no valor do contrato de demanda quepara esta modalidade de tarifa tem um cus-to menor.

Neste estudo de caso, as seguintesquestões foram consideradas:

■ havia reserva suficiente para mantero abastecimento durante o desligamentodo conjunto motor-bomba;

■ o número de horas de funcionamentocorrespondia a aproximadamente 15 pordia, portanto, havia 9 horas para realizaralterações no ciclo de funcionamento doconjunto motor-bomba;

■ o consumo de água é aproximada-mente 2.850m³, o que corresponde a 2,40mdo reservatório durante as três horas dohorário de ponta, restando aproximadamen-te mais 3.000m³ de água para reserva técni-ca; sempre que for atingido 4.200m³ dereserva no início do horário de ponta, torna-se possível parar o bombeamento, segundocritérios técnicos do Departamento;

■ o valor do kwh de consumo para atarifa na modalidade horário sazonal verdeem horário de ponta custa em média R$1,28, e, em média R$ 0,15, em horário fora

Figura 1. Consumo de energia elétrica em kwh da EBAT São Luis -jan/2007 a nov/2009.

Figura 2. Consumo de energia elétrica em horário de ponta na EBAT SãoLuis - jan/2007 a nov/2009.

Page 63: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

19

de ponta; o consumo em horário de pontapara a EBAT São Luis era de 87.000kwhnos 12 meses em 2007, passando para5.000kwh nos 12 meses de 2009.

Estudo de caso 2: Consumo deenergia elétrica com contratação detarifa horário sazonal verde, tarifaconvencional de alta tensão e debaixa tensão no Dmae

No Dmae, o consumo de energia elétri-ca de janeiro a novembro 2009 em R$ namodalidade tarifa horário sazonal verdecorrespondeu a aproximadamente 65% dototal, sendo que o consumo em termos dekWh foi de 68%. A participação dos con-tratos com tarifa convencional alta tensão ebaixa tensão responderam pelos 35% emR$ e 32% em termos de kWh restantes,respectivamente, conforme pode ser visua-lizado na figura 3.

Na figura 4 é possível visualizar o con-sumo total de energia elétrica nas EBAT,ETA e EBAB em horário de ponta e forade ponta. Foi a partir de junho de 2008 queos trabalhos começaram a tomar forma, éexatamente a partir deste momento que asduas curvas superiores seguem com a ten-dência de convergência. A curva mais abai-xo, que indica o consumo dentro do horáriode ponta, segue com tendência a origem,

caindo gradativamente, ou seja, o funciona-mento dos grupos motor-bomba está dimi-nuindo neste horário e o consumo está sen-do acrescido no horário fora de ponta.

Outra constatação importante a consi-derar neste gráfico é que o consumo que éreduzido em horário de ponta não é total-mente adicionado ao horário fora de ponta;nitidamente se percebe que o consumototal em kWh nestas unidades operacionaistambém segue uma tendência à redução.

O consumo total fora de ponta e dentrodo horário de ponta segue com uma curvadecrescente. Pode-se atribuir esse fato avários fatores, entre os quais, substituiçõesde redes, substituições de motores de maiorrendimento, substituições de bombas. Mas,sobretudo, o fator mais importante a consi-derar neste caso sem dúvida foi uma rees-truturação no modo de operação, em queforam estudadas estratégias de operaçãoque pudessem responder às necessidades apartir das características, equipamentos, dacapacidade de bombeamento e reservaçãodisponíveis em cada um dos sistemas.

Foram feitas novas contratações detarifa sazonal, uma EBAB a partir de maioe logo após três EBAT a partir de novem-bro de 2008. Com isso, esperava-se que oconsumo total de kWh no horário de pontaaumentasse, porém, não foi essa a tendên-cia. Com os estudos realizados para desli-

Figura 3. Consumo de energia elétrica no Dmae de Porto Alegre de janeiroa novembro de 2009, em percentuais em R$ e kWh nas modalidades horá-rio sazonal, convencional alta tensão e baixa tensão.

HS = tarifa horário sazonal verde; AT = tarifa convencional de alta tensão; BT = tarifa convencional de baixa tensão.

HS

AT

BT

3%

29%

68%

4%

31%

65%

HS

AT

BT

Custo em R$ de 2009 Consumo em kWh de 2009

Page 64: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

20

gamento dos conjuntos motor-bomba, acurva de consumo continuou caindo con-forme pode ser visualizado na figura 5.

Na medida em que o tempo foi passan-do, mesmo com o acréscimo de novas uni-dades operacionais, o desenvolvimentodos trabalhos foi se tornando tecnicamentedominado por toda a equipe de trabalho.

Na figura 5 pode ser visualizada a sín-tese das ações realizadas através deste tra-balho que possibilitou a redução do con-sumo de energia elétrica em horário sazo-nal nas unidades operacionais com con-tratos regidos por esta modalidade supe-rior a 1.070.000kWh, o que representauma redução de custo de aproximada-

mente R$ 1.220.000,00, já contabilizadoo valor que fo i acrescido no horário forade ponta, em virtude do efeito desloca-mento da operação.

Informações importantes a seremconsideradas na construção de umtrabalho como este nas empresasde saneamento:

■ o pessoal que opera o sistema deveconhecer exatamente o que está fazendo:tem noção de vazão dos grupos motor-bomba, que região é abastecida por cadasubsistema, qual o ciclo de funcionamentode cada unidade operacional, quantas

Figura 4. Consumo com contrato de tarifa horário sazonal verde nasEBATs, ETAs e EBABs - jan/2007 a dez/2009

Figura 5. Consumo em kwh no horário de ponta nas EBATs, ETAs e EBABsque operam com tarifa horosazonal - jan/2007 a dez/2009.

Page 65: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lM

arço

de

2010

21

horas operam durante o dia e em quaishorários, qual a capacidade de reservaçãodisponível e o tempo que esta reserva com-porta. Estas informações são impre-scindíveis.

■ no setor público muitas vezes as infor-mações são fracionadas, cada um com suacompetência e responsabilidade na área emque atua, assim informações importantespodem não estar sob domínio de pessoasque poderiam utilizá-las de forma útil. Paraexemplificar, os responsáveis pela contabili-dade e processamento de valores de contasde energia elétrica têm conhecimento doscustos que estas contas representam para oDepartamento, porém, se os responsáveispela operação não têm esse conhecimento,podem estar jogando fora a oportunidade deoperar o sistema com menores custos, mes-mo tendo disponível capacidade de reestru-turação no modo de operação;

■ a avaliação de contratos de energiaelétrica é fundamental, dependendo dacapacidade instalada, automaticamenteserão regidos a modalidade com horáriosazonal, porém, em unidades com menorcapacidade instalada também poderão serincluídas nos contratos, para isso deve-seter o conhecimento bem claro das condi-ções de operação de cada unidade opera-cional e também fazer uma previsão deviabilidade econômica;

■ no setor de saneamento em muitoscasos é mais vantajoso um contrato dehorário sazonal verde em unidades quepodem parar parcialmente ou totalmentesua operação dentro do horário de ponta,pois o valor do contrato de demanda émuito menor, assim como o valor do con-sumo em kWh no horário fora de ponta.

Considerações finais

Conclui-se com este trabalho que épossível reduzir o custo do consumo deenergia elétrica com a escolha correta dotipo de tarifa em conjunto com o planeja-mento operacional das estações elevatóriase reservatórios.

Estas ações são uma maneira de as

companhias de saneamento reduziremseus custos operacionais sem maioresinvestimentos iniciais. Os benefícios queadvirem destas ações poderão ser investi-dos em outras melhorias que necessitem oaporte de capital, aperfeiçoando cada vezmais os sistemas.

O trabalho apresentado faz parte de umciclo que promove a melhoria dos sistemasde abastecimento de água tratada em umprocesso que se renova constantemente.Uma vez iniciado não há como deixar deavançar, pois é uma tendência para setor desaneamento, ser cada vez mais exigidocom a prestação de serviços de qualidadepara a população a um custo adequado. Osinvestimentos em tecnologia necessaria-mente devem ser acompanhados pelosinvestimentos em treinamento de pessoal eplanejamentos de médio e longo prazo.

Referências bibliográficas

TSUTIYA, MILTON TOMOYUKI -1A EDIÇÃO - 2001 - Redução do custode energia elétrica em sistemas de abas-tecimento de água

TSUTIYA, MILTON TOMOYUKI -1A EDIÇÃO - 2004 - Abastecimento deágua

AIRTON SAMPAIO GOMES, 2007 -ORGANIZAÇÃO - Guias Práticos: téc-nicas de operação em sistemas de abas-tecimento de água - A conta de energiaelétrica no saneamento - Brasília: Minis-tério das Cidades, SNSA.

Page 66: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

lD

mae

EC

OS

Téc

nica

22

1. Normas de apresentação de Artigo Técnico:

1.1 O estilo de redação deverá ser claro ecoerente na exposição das idéias, observan-do-se o uso adequado da linguagem. Sugere-se ao autor que o trabalho passe por umarevisão gramatical antes de seu encaminha-mento à Comissão Editorial.

1.2 Os trabalhos deverão ser digitados como editor de texto Microsoft Word versão 6.0ou superior.

1.2.1 O texto deverá ser escrito em portu-guês, utilizando-se a fonte Times NewRoman, tamanho 12, espaço 1,5 entre linhase parágrafos, alinhamento justificado, papelA4, páginas não numeradas, margens supe-rior e inferior com 2,5 cm e margens esquer-da e direita com 3,0 cm.

1.2.2 Palavras estrangeiras deverão sercitadas em itálico. Nomes científicos deespécies e substâncias químicas, bem comounidades de pesos e medidas, deverão obe-decer as regras e padrões internacionais.

1.3 Extensão dos textos: deverão ter no mínimo5 laudas e no máximo 12 laudas (tamanho A4).

1.4 O Artigo deverá ter a seguinte estrutura:Título, Autor(es), Resumo, Palavras-chave,Introdução, Metodologia, Resultados e Discus-são, Conclusões, Referências Bibliográficas.

1.4.1 Os títulos e subtítulos deverão estarem negrito e ter apenas a primeira letra daprimeira palavra em maiúscula.

1.5 Título do artigo: em português, deveráser conciso, claro e expressar o conteúdogeral do artigo.

1.6 O(s) autor(es) será(ão) especificado(s)logo abaixo do título. Serão aceitos artigos

com no máximo 4 (quatro) autores, sendoum destes, obrigatoriamente, funcionário doDmae. É necessário indicar o autor principaldo artigo. Demais colaboradores poderãoconstar, mas serão relacionados ao pé daprimeira página.

1.6.1 Quanto ao(s) autor(es), deve constarnome completo, bem como sua respectivatitulação detalhada.

1.7 Resumo: cada artigo deverá ser acom-panhado de resumo em português, comextensão máxima de 200 palavras cada.

1.8 Palavras-chave: deverão ser fornecidasno mínimo três e no máximo cinco palavras-chave em português, visando à confecçãode instrumentos de busca. A Comissão Edi-torial poderá, a seu critério, substituir ouacrescentar palavras-chave, as quais enten-da pertinentes ao conteúdo apresentado epossam melhor auxiliar na indexação e recu-peração dos trabalhos.

1.9 Corpo do texto (Introdução, Metodolo-gia, Resultados e Discussão, Conclusões,Referências Bibliográficas): deverá ter umaestrutura lógica e sequencial de apresenta-ção, sendo dividido em subtítulos indicativosdos tópicos abordados.

1.9.1 Citações de até 3 (três) linhas deve-rão ser incluídas no texto entre aspasduplas. Citações com mais de 3 linhas deve-rão ser recuadas 4 cm a partir da margem,com recuo tamanho de fonte 10, espaça-mento simples.

1.9.2 A inclusão de ilustrações, gráficos,desenhos, quadros, tabelas, fotografias etc,deverá se restringir ao necessário para oentendimento do texto. Esses elementosdeverão estar localizados o mais próximopossível do trecho onde são mencionados eestar acompanhados de suas respectivas

Normas para apresentação de artigos técnicos e destaque fotográfico na ECOS Técnica

Page 67: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro

legendas ou títulos. Fotografias e demaisimagens digitalizadas deverão ter resoluçãomínima de 300dpi e, preferencialmenteestar em formato jpeg ou bmp ou tif, poden-do ser apresentadas em arquivos separa-dos, com a indicação de sua localização notrabalho. A dimensão máxima deverá ser de14 cm x 23 cm.

1.9.3 As referências bibliográficas deverãoestar de acordo com a NBR-6023 da ABNT.

2. Critérios para seleção dos Artigos Técnicos:

A seleção dos artigos será realizada pelosmembros da Comissão Editorial da ECOSTécnica que decidirão sobre sua aceitaçãoou recusa. Essa Comissão contará com oapoio de consultoria técnica especializada,conforme assunto do artigo, sempre quenecessário, para contribuir na validação dosartigos. Tal prática assegura isenção, agilida-de e objetividade do processo de seleçãodos trabalhos.

2.1 O artigo deve tratar, obrigatoriamente,de assunto de interesse e com aplicabilidadeno Dmae.

2.2 Artigo com participação de outras enti-dades serão aceitos, desde que, no mínimo,um dos autores seja servidor do Dmae.

2.3 Todas as normas para apresentação deArtigo Técnico, constantes no item 1, devemser rigorosamente seguidas.

2.4 Declaração assinada por todos os auto-res com o número de CPF indicando a res-ponsabilidade do(s) autor(es) pelo conteúdodo artigo e transferência de direitos autorais(copyright) para a ECOS Técnica, caso oartigo venha a ser aceito e/ou escolhidopela Comissão Editorial.

3. Normas de apresentação de Destaque Fotográfico (para capa da ECOS Técnica):

3.1 Os registros fotográficos deverão retra-tar os mais diversos ambientes do Dmae(não envolvendo pessoas).

3.2 O autor deve ser identificado com seunome completo, bem como sua titulaçãodetalhada.

3.3 As fotografias deverão ter resoluçãomínima de 300dpi e, preferencialmente estarem formato jpeg ou bmp ou tif. A dimensãomáxima deverá ser de 14 cm x 23 cm.

3.4 Cada autor deverá enviar um mínimo de40 (quarenta) fotos para que a ComissãoEditorial possa escolher 21 (vinte e uma)fotos para o encarte técnico.

4. Critérios para seleção das Fotografias:

4.1 A seleção das fotografias será realizadapelos membros da Comissão Editorial daECOS Técnica que decidirão sobre sua aceita-ção ou recusa, preferencialmente vinculandoaos assuntos dos artigos técnicos escolhidos.

4.2 Não serão aceitas fotografias de pes-soas que não pertençam ao quadro de fun-cionários do Dmae.

4.2 O autor do registro fotográfico deveráenviar declaração assinada contendo o númerode CPF indicando a autoria do trabalho e trans-ferência de direitos autorais (copyright) para aECOS Técnica, caso a fotografia venha a seraceita e/ou escolhida pela Comissão Editorial.

5. Para envio de Artigo Técnico e Destaque Fotográfico:

5.1 Os artigos técnicos deverão ser encami-nhados em 2 (duas) vias impressas empapel não timbrado e em meio digital, isto é,por CD-ROM, para o endereço abaixo.

5.2 As fotografias deverão ser encaminha-das em CD-ROM, para o endereço abaixo.

Comissão Editorial - ECOS TécnicaRua 24 de Outubro, 200, sala 114 (Prédio Unidmae)CEP 90510-000 - Porto Alegre (RS)[email protected] l

Mar

ço d

e 20

10

23

Page 68: A efi ciência energética na gestão do saneamentolproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dmae/usu_doc/revista_eco… · Ecos l 30 1 EccEc ossoso 3 33 0 Entrevista Edison Lobão Ministro