a eficiência energética na indústria brasileira

48
ANO XXXIII - Nº 234 - SETEMBRO/OUTUBRO - 2010 A revista da Eletrobras Eletronorte A eficiência energética na indústria brasileira correntecontínua

Upload: euclides-quandt-de-oliveira

Post on 30-Sep-2015

11 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Mostra aspectos da eficiência energética na indústria brasileira

TRANSCRIPT

  • Ano XXXIII - n 234 - Setembro/outubro - 2010 A revista da eletrobras eletronorte

    A eficincia energticana indstria brasileira

    correntecontnua

  • SCN - Quadra 6 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

    CEP: 70.716-901Asa Norte - Braslia - DF.

    Fones: (61) 3429 6146 / 6164e-mail: [email protected]

    site: www.eletronorte.gov.br

    Prmios 1998/2001/2003

    Diretoria Executiva: Diretor-Presidente Josias Matos de Araujo - Diretor de Planejamento e En-genharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produo e Comercializao - Wady Charone - Diretor Econmico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gesto Corporativa - Tito Cardoso - Coor-denao de Comunicao Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerncia de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Byron de Que-vedo (DRT 7566-DF) - Csar Fechine (DRT 9838-DF) - rica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298- RS) - Assessorias de Comunicao das unidades regionais - Estagirios: Camila Maia e Higor Sousa Silva - Fotografia: Alexandre Mouro - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias de Comunicao das unidades regionais - Reviso: Agncia Dimenso - Arte grfica: Jorge Ribeiro - Foto da capa: Vista geral de unidade da Alunorte Paulo Santos - Impresso: Braslia Arte Grficas - Tiragem: cinco mil exemplares - Periodicidade: bimestral

    AMAZNIA E NSPgina 41

    CORREIO CONTNUOPgina 46

    FOTOLEGENDAPgina 47

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    2 correntecontnua

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    3correntecontnua

    Sum

    rio RESPONSABILIDADE SOCIAL

    Eficincia energtica traz ganhos ambientais, financeiros e sociais para a indstria brasileiraPgina 3

    CIRCUITO INTERNOUma homenagem a Jorge PalmeiraPgina 24

    ENTREvISTAArmando Casado de ArajoPgina 29

    ENERGIA ATIvAAs energias superalternativasPgina 10

    hISTRIASFragmentos histricos do BrasilPgina 18

    TECNOLOGIAA energia da inovaoPgina 32

    correntecontnua

  • Foto

    : Cris

    tiano

    Ber

    nard

    o

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    2 correntecontnua

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    3correntecontnua

    resp

    onsa

    bilid

    ade

    Soci

    al

    rica Neiva

    O Programa Nacional de Conservao de Energia - Procel Indstria est estruturado para atingir todo o segmento industrial por meio da insero da eficincia energtica em seus pro-cessos. O trabalho feito em parceria com a Confederao Nacional da Indstria CNI e as federaes estaduais de indstria. A Eletrobras funciona como agente articulador e divulgador do conhecimento entre as federaes estadu-ais, e tambm faz diagnsticos em empresas como a TBM (foto acima). (ver box).

    H 32 anos na Eletrobras, e frente do Pro-cel desde 1999, o chefe do Departamento de Projetos de Eficincia Energtica, Fernando Dias Perrone, declara: O nosso trabalho no tem nenhuma contraindicao, traz somente benefcios. um programa onde todos ganham, a sociedade, o consumidor, o governo e os fa-bricantes. Temos o papel de incutir a cultura da conservao de energia e eficincia energtica. Digo para minha equipe que um trabalho de formiguinha e, ao mesmo tempo, de mission-

    rio, pois temos que trabalhar convencendo as pessoas, demonstrando por meio da boa prti-ca que isso um bom negcio.

    O primeiro convnio foi firmado com a Fede-rao das Indstrias do Estado do Cear Fiec e o Instituto Euvaldo Lodi - IEL/CE. A atuao do Programa comea pela Regio Nordeste, e segue pela Regio Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Sempre foi alega-do que, em termos de poltica p-blica, se comea pelas reas mais desenvolvidas economicamente, a exemplo das regies Sul e Sudes-te. Resolvemos, ento, comear pelas regies menos industrializa-das, esclarece Perrone (ao lado).

    Ao longo de seis anos de atua-o, foram firmados convnios de cooperao tcnica com 14 federaes indus-triais. H dois anos, a CNI e Eletrobras estabe-leceram dois convnios de cooperao tcnica, visando a expandir para outros estados e desen-volver novas aes setoriais, em indstrias de

    Eficincia energtica traz ganhos ambientais, financeiros e sociais para a indstria brasileira

    Foto: Jorge Coelho

  • grande e mdio porte. O papel da Eletrobras foi treinar os multiplicadores que so profissionais das universidades, ou mesmo consultores ca-pacitados com curso de especializao que no existe no mercado. um curso inovador e nico, para formar multiplicadores que tm como mis-so a transferncia do conhecimento adquirido de eficincia energtica aplicada aos processos industriais, com o foco de reduo de perdas nos sistemas motrizes, esclarece Perrone.

    O foco de reduo de perdas verificado nos sistemas motrizes - ventiladores, exausto-

    res industriais, compressores, correias trans-portadoras presentes no setor metalrgico e de minerao, pois esses sistemas representam mais de 64% do consumo industrial, que por sua vez representa 46% do consumo nacio-nal de energia eltrica. As indstrias aderem voluntariamente ao programa. A partir da, li-beram os seus tcnicos para receberem capa-citao e treinamento que ajudem a levantar na sua rea de trabalho as oportunidades de economia de energia na planta industrial. Fo-ram envolvidas mais de 500 indstrias nesse

    No dia 13 de setembro de 2010, na Sede da Eletrobras, a Txtil Bezerra de Menezes - TBM recebeu certificao de caso de sucesso na implantao do Procel Indstria, onde foi feita uma medio fsica dos ganhos auferidos com a imple-mentao de medidas de eficincia energtica em sua planta. um trabalho pioneiro, baseado num diagnstico feito em conjunto com Eletrobras, a Federao das Indstrias do Es-tado do Cear - Fiec e a TBM, para verificar o potencial ener-gtico de conservao de economia de energia em todo setor produtivo da fbrica txtil.

    Segundo o engenheiro eletricista e coordenador de Ma-nuteno Eltrica na TBM, Kleber Anastcio, o certificado representa o reconhecimento e um grande incentivo para os membros da empresa que trabalham direta e indireta-mente no projeto. A TBM tem alguns objetivos muito im-portantes quanto eficincia energtica, entre eles esten-der o Procel para outros sistemas ainda no contemplados e contribuir para a disseminao do conhecimento e das experincias obtidas.

    A parceria entre a TBM e o Procel Indstria ocorre h trs anos. Desde ento, a indstria assumiu a postura de investir no combate ao desperdcio de energia, bem como numa nova poltica de aquisio de sistemas, sempre bus-cando o menor custo de aquisio e operacional. O trabalho de eficincia teve incio com a criao de um grupo dedicado a validar os ganhos indicados pelo relatrio da Eletrobras, e tambm estender o projeto para outras unidades, explica Kleber Anastcio.

    Os recursos necessrios para o investimento foram prove-nientes da prpria TBM que, em menos de dois anos, teve o retorno financeiro e o aumento da produo. Para a imple-mentao das aes necessrias foi orada uma verba es-pecfica, priorizando as iniciativas que apresentavam melhor pay back. As aes de combate ao desperdcio no ficaram limitadas apenas s unidades fabris onde foi feita a auditoria

    da Eletrobras, mas tambm s outras plantas do grupo. Os dados do relatrio de medio e verificao apontam uma reduo de 14% e 28% no consumo de energia eltrica, entre 2007 e 2010.

    Segundo Kleber, alm dos ganhos financeiros, obtive-mos outro ganho importante que foi a melhoria da esta-bilidade dos sistemas associados, o que contribuiu dire-tamente para a melhoria da produtividade. Vale ressaltar que a qualidade do sistema de climatizao e do sistema de ar comprimido interfere diretamente na eficincia do processo produtivo de uma indstria txtil como a TBM. Podemos enumerar a utilizao do conceito de eficincia energtica em todas as reas do projeto da nossa nova planta fabril, que est sendo construda em Rondonpolis, no Estado de Mato Grosso.

    Ainda existem vrios sistemas que podem ser melho-rados como o de iluminao, que dever passar por um processo de substituio das lmpadas e luminrias por outras mais eficientes; sistemas motrizes em que sero trocados motores por outros de maior rendimento; e cen-trais de ar que precisam ser reformadas.

    Federao A TBM membro da Federao das Indstrias do Estado do Cear Fiec, entidade que tam-bm trabalha as questes ligadas energia por meio de comits especficos. Tivemos a oportunidade de fechar o convnio com a Eletrobras num momento em que a preocupao com a questo energtica muito grande. A importncia do programa trabalhar a questo da eficincia por meio da reduo de desperdcio, identi-ficando como as indstrias podem atuar de uma forma mais eficiente, no sentido de diminuir custos, e tambm com um ganho para a sociedade, afirma a superinten-dente do Instituto Euvaldo Lodi - IEL/CE, Vera Ilka Meire-les Sales.

    Indicadores qualitativos e quantitativos da indstria txtil so beneficiados com o Procel Indstria

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    4 correntecontnua

  • KleberAnastcio:alm dos ganhos financeiros, obtivemos outro ganho importante que foi a melhoria da estabilidade dos sistemas associados, o que contribuiu diretamente para a melhoria da produtividade

    processo e capacitados quase 2,5 mil agentes da indstria. Em mais de 200 casos as aes tiveram resultados efetivos.

    Para Perrone, do ponto de vista qualitativo h a incorporao da questo da eficincia energtica no somente em relao diminui-o da conta de energia eltrica pela indstria, mas, a partir dessa avaliao, pode-se ter uma viso sistmica. At na questo da aquisio de equipamentos e projeto de sistema, passa-se a trabalhar com outras concepes, alm de impactar diretamente na poltica de opera-

    o e manuteno da planta. Passa-se a ter um processo mais eficiente, maior produtivi-dade, com reduo de custos no apenas de energia. Em relao aos dados quantitativos, no temos uma mensurao dessa reduo do consumo atestada e certificada. A razo da demora decorre do fato do Brasil, ao contrrio de vrios pases, no ter uma cultura de dados e informaes. Estamos em fase de elaborao para divulgar para a sociedade os indicadores quantitativos de economia de energia em kWh daqui a um ano.

    O trabalho comea com o Procel capacitando consul-tores, profissionais com um perfil estabelecido pela Ele-trobras, que acompanham os diagnsticos nas empre-sas e treinam os agentes de eficincia energtica de sis-temas motrizes industriais. O primeiro passo definir os setores da indstria que im-

    plementaro as aes. No Estado do Cear, formou-se um grupo de 20 consultores que, posteriormente, for-maram 120 agentes. Alm de se treinar pessoal para as empresas, para que possam avaliar todo o seu pro-

    cesso e venham a produzir de uma forma competitiva, h tambm o impacto da modernizao da planta, explica Vera Ilka ( esquerda).

    Aps a fase de capacitao de pessoal feito o autodiag-nstico, que verifica os ganhos em termos de reduo de energia, de desperdcio e o lucro financeiro para a inds-tria, implicando diretamente na sua competitividade. comprovado que todas as indstrias passam a ter o retorno do investimento feito em correes e, em pouco tempo, passam a obter lucro. As empresas tm muito interesse, pois sabem do ganho que vo ter. No caso de uma inds-tria txtil, ocorre uma reduo imediata de 8,2% de energia em relao ao consumo anual da fbrica. Em 16 meses eles tm o retorno dos investimentos feitos na eficincia energtica, afirma Vera Ilka.

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    5correntecontnua

    Foto

    : Cris

    tiane

    Ber

    nard

    o

  • Antes do Procel no existia o conceito de eficincia energtica na grande indstria brasi-leira. A eficincia energtica no o principal negcio de nenhum setor da economia. um meio, no um fim, pois esto voltados para a produo. A questo mais difcil a cultural ligada aos hbitos do brasileiro. O Pas sempre foi, desde a dcada de 1970, um abundante produtor de energia para vrios setores. Apesar de, por pessoa, o brasileiro consumir muito me-nos que o europeu e o americano, ele ainda perdulrio no seu consumo de energia e gua, recursos presentes em abundncia no Pas, diz Perrone.

    Parceiros - A Confederao Nacional de Indstria CNI tem programas de eficincia energtica e projetos em parceria com o Pro-cel. Segundo o coordenador do Programa de Eficincia Energtica da CNI, Rodrigo Sarmento

    Garcia (abaixo), o Procel Inds-tria um aliado fundamental para comearmos a desenvolver o pro-grama de eficincia energtica na CNI. Antes da nossa experincia com o Procel vamos que esse assunto era pouco discutido na indstria. Depois que divulgamos nossos estudos e resultados esse assunto ganhou uma evidncia que ainda no existia.

    A CNI tem discutido com o Go-verno Federal, os rgos de finan-ciamento e as indstrias as opor-

    tunidades das aes de eficincia energtica. Dialogamos com a indstria para comear a se preparar melhor por meio da qualificao de pessoal; o governo para que tenha uma poltica agressiva, com metas definidas, para o desen-volvimento de aes de eficincia na indstria, pois os nossos estudos mostram que o setor industrial vem sendo preterido em funo do setor pblico ou residencial. Em relao ao fi-nanciamento, chamamos ateno para o fato de que economizar energia bem mais barato do que gerar uma energia nova, fala Rodrigo Sarmento.

    A Associao Brasileira de Grandes Con-sumidores Industriais de Energia e de Consu-midores Livres Abrace, constituda por 47 grupos industriais de 15 diferentes segmentos, criou uma fora de trabalho que est discutin-do mecanismos que viabilizem recursos e con-dies para o desenvolvimento da eficincia energtica na indstria. Tambm existe uma parceria com a CNI para contribuies ela-

    borao do Plano Nacional de Eficincia Ener-gtica - PNEf, que dever ser publicado pelo governo em breve.

    Segundo o assessor de Energia Eltrica da Abrace, Fernando Umbria (abaixo), embora no exista nenhum convnio entre a Eletrobras e a Associao, os associados veem com muito otimis-mo os esforos do Procel Indstria em favor do au-mento da eficincia ener-gtica. A Abrace tem co-nhecimento de trabalhos feitos em parceria com a CNI, cujos resultados tm servido como base para diversos pleitos quanto aos potenciais de reduo de consumo por meio da eficincia energtica.

    Para Umbria, o maior problema das in-dstrias quanto eficincia energtica se refere captao de recursos para financiar os projetos. Na maioria das vezes, como os projetos internos competem com outros proje-tos do core business das empresas, voltados ao aumento de produtividade, eles acabam nem saindo do papel. Alm disso, as linhas de financiamento disponveis so um grande problema, pois os bancos tm dificuldades em avaliar o risco de crdito por motivos tc-nicos. Algumas linhas de financiamento, por exemplo, cobrem apenas equipamentos pro-duzidos no Brasil. Para que esse quadro seja revertido, o governo precisa dar incentivos, como iseno de impostos e encargos para que os projetos se tornem economicamente viveis. Tambm necessrio que as linhas de crdito sejam mais aderentes s reais ne-cessidades da indstria.

    A avaliao do crescimento do consumo de energia eltrica na indstria, observada em 2010, segundo Fernando Umbria, tem que ser feita luz dos efeitos da crise eco-nmica mundial, que teve incio ao final de 2008 e se estendeu por 2009 com alguns reflexos ainda em 2010. Se observarmos o consumo de energia eltrica no segmento in-dustrial entre os meses de janeiro e julho dos anos de 2008 (104.039 GWh), 2009 (92.413 GWh) e 2010 (105.573 GWh), possvel ve-rificar que o consumo no referido perodo de 2009 em relao a 2008 representou uma queda de 11,2%. O significativo crescimento do consumo verificado entre 2010 e 2009 decorrente, em grande parte, da retomada da

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    6 correntecontnua

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    7correntecontnua

    Foto: Gustavo Gracindo

  • produo industrial ps-crise. Nesse sentido, importante compararmos o consumo de 2010 em relao a 2008, o que representa um aumento de apenas 1,5%. Assim, em ter-mos de consumo energtico, houve um forte aumento entre 2009 e 2010, porm esse au-mento no representa um crescimento signi-ficativo da indstria no perodo, mas uma re-tomada da produo fortemente afetada pela crise econmica.

    Indstria paraense - No Estado do Par est sendo feito o diagnstico e gesto de efi-cincia energtica em 41 indstrias. O proje-to uma parceria da Eletrobras Eletronorte, Fundao de Cincia e Tecnologia do Par - Fapespa, e mediao da Secretaria de Esta-do de Desenvolvimento, Cincia e Tecnologia - Sedect. A fase de diagnstico compreende 22 indstrias (oito em Ananindeua, cinco em Barcarena, seis em Icoaraci e trs em Mara-b). Todo o processo deve ser concludo em 24 meses.

    Inicialmente ser feito o levantamento das instituies do segmento industrial pela Fun-dao Guam. Em seguida, a Eletrobras Ele-tronorte promove a capacitao das Comisses Internas de Conservao de Energia - Cices e o desenvolvimento de software para a Gesto do Consumo de Energia das Indstrias, subsidian-do os profissionais com informaes que sero necessrias para uma avaliao do consumo de energia. As comisses sero compostas por empregados de turnos, gerente da manuten-o, de compras, administrativo, de produo, lderes de processos, presidente da empresa ou gerente geral.

    A capacitao leva em conta a gesto do con-sumo de energia, o treinamento do software de acompanhamento por caracterstica de inds-tria, a orientao sobre a manuteno voltada reduo do desperdcio de energia, a sensibili-zao sobre o uso final de equipamento para as indstrias - iluminao, condicionadores de ar, motores eltricos, ar comprimido e grupo gera-dor -, e a elaborao do masterplan de combate ao desperdcio de energia.

    No diagnstico das instalaes industriais sero verificados todos os circuitos eltricos - anlise de bitolas de condutores eltricos, eletrodutos, quadro de distribuio, quadro geral de baixa tenso, subestaes, sistema de aterramento eltrico e sistema de proteo contra descarga atmosfrica. Tambm ser fei-ta a anlise do dimensionamento de mquinas motrizes e o diagnstico sobre a qualidade da

    energia e gesto energtica (como modalida-de de contratos de fornecimento de energia). A fase final das aes ser contemplada com campanhas educativas promovidas pela Ele-trobras Eletronorte no sentido de sensibilizar a fora de trabalho.

    Entre as vantagens da eficincia energti-ca nas indstrias paraenses esto a reduo do desperdcio de energia eltrica, promoo de equipamentos mais eficientes, aumento da competitividade, benefcio ao meio ambiente e melhoria nos processos industriais e no relacio-namento com a comunidade. A expectativa de que o potencial de reduo do consumo no setor industrial atinja 38%.

    A ideia de se trabalhar com eficincia ener-gtica nas indstrias do Par teve incio com o Frum Paraense de Competitividade. No encontro foram identificadas necessidades es-pecficas de aumento da competitividade do nosso parque industrial. Uma delas diz respei-to existncia de uso ineficiente de energia devido a problemas variados como instalaes eltricas super ou subutilizadas, hbitos de ineficincia, contrato de fornecimento inadequado com a concessionria, enfim, desper-dcios que se refletem em custo de produo e acabam incorpo-rados nos preos dos produtos, reduzindo a competitividade da indstria. As aes de eficincia energtica vo aumentar a com-petitividade da indstria paraen-se, com aumento e consolidao do mercado, e crescimento no nmero de empregos. Existe, tambm, um ganho cultural. Ou seja, do executivo ao operrio da fbrica, todos devem pensar e vi-ver diariamente o uso eficiente da energia, afirma o secretrio de Desenvolvimento, Cincia e Tec-nologia do Par, Maurlio Montei-ro (acima).

    Para a superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tec-nolgico e Eficincia Energtica da Eletrobras Eletronorte, Neusa Lobato (ao lado), todos ganham com aes como esta. Ganha o Pas, com a questo do meio ambiente, evitando o des-perdcio de energia. Ganha a Eletrobras Ele-tronorte, pois, quanto mais ela fizer as pesso-as economizarem, posterga os investimentos em gerar e transmitir, incentivando a respon-

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    6 correntecontnua

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    7correntecontnua

    Foto: Eunice Pinto

  • sabilidade social em relao ao seu produto, para que seja gasto com conscincia. Essa responsabilidade social ocorre na medida em que as indstrias, por meio da oportunidade do aumento de produo, podem gerar mais empregos. Ganham os municpios e o Estado do Par por meio dos impostos que podem ser aumentados proporcionalmente produ-o dessas indstrias, que por sua vez po-dero vender mais e com melhor qualidade. Ganham as pessoas da fbrica porque po-dero replicar esses conceitos de eficincia energtica em suas casas.

    Ceamazon O diagnstico e gesto de efi-cincia energtica nas 41 indstrias do Par conta com a participao do Centro de Exce-lncia em Eficincia Energtica da Amaznia Ceamazon, localizada no Parque de Cincia e Tecnologia Guam, em Belm. O Centro ir verificar as oportunidades de eficincia energ-

    tica que cada indstria possui em termos de instalaes eltricas, contrato de energia, em suas cargas mecnicas, no uso primrio de energia e a possibilidade de aproveitamento al-ternativo de energia.

    A implantao do Ceamazon, em 2006, fruto da parceria entre a Eletrobras, a Univer-sidade Federal do Par e Governo do Estado. A instituio prope o uso racional de energia e conta com pesquisadores das reas de enge-nharia eltrica, mecnica, qumica, arquitetura e urbanismo. Sua misso contribuir para o desenvolvimento regional, buscando a eficin-cia energtica por meio de desenvolvimento tecnolgico e colaborando com subsdios para a regulamentao do mercado de eficincia energtica na regio.

    A coordenadora do Ceamazon, Maria Emlia Tostes, diz que o Centro atua visan-do eficincia energtica na Amaznia, por meio da execuo de projetos de Pesquisa

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    8 correntecontnua

    Foto: Alexandre Moraes

  • e Desenvolvimento (P&D), consultorias, au-las, palestras e demonstraes. Os principais programas ou projetos implementados so o Procel-Eletrobras e o Compet, da Petrobras. As aes desenvolvidas provocam a eficin-cia nas indstrias, e, alm da ao direta nas empresas, existe a divulgao para sociedade como um todo.

    O Ceamazon possui dois projetos voltados eficincia energtica industrial. Um deles refere-se participao na Rede de Pesquisa em Energias Renovveis e Eficincia Energ-tica, responsvel por um inventrio energtico de alguns segmentos da indstria paraense,

    financiado pela Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado do Par - Fapespa. Outro projeto consiste na realizao de diagnsticos energticos do setor oleiro e de panificao.

    Para Maria Emlia (ao lado), os maiores problemas encon-trados nas indstrias esto relacionados falta de infor-mao, uma vez que muitas oportunidades de reduo do consumo de energia eltrica podem ser solucionadas com pequenos ajustes, sem neces-

    sidade de investimentos em equipamentos. A falta de informao leva aquisio de equi-pamentos ineficientes com alto consumo de energia, ou at mesmo com elevado nmero de reparos, o que os torna ineficientes. Como a energia eltrica considerado como mais um insumo de um processo produtivo, com a re-duo do seu desperdcio, pode-se reduzir o custo do produto final, aumentar o poder com-petitivo da empresa e o nmero de empregos. Fora os ganhos econmicos, existe a reduo de carbono enviado atmosfera.

    Premiao - A Eletrobras Eletronorte pos-sui como clientes grandes consumidores in-dustriais, a exemplo da Alumar, Albras, Vale e Alunorte, entre outros. Situada em Barca-rena, no Par, a refinaria Alunorte foi uma das quatro empresas premiadas no Energy Efficiency Award 2010. O evento, patrocina-do pelo governo alemo, ocorreu em abril de 2010, na cidade de Hannover, e reconhece o desempenho das empresas na reduo do consumo de energia em suas instalaes.

    Mais de 90 empresas foram inscritas e um jri independente, que incluiu lderes da polti-

    ca, negcios, cincia e meios de comunicao, determinou os finalistas e os quatro vencedores. Alunorte foi oferecido o prmio de reconhe-cimento especial (meno honrosa) pelo pro-cesso de melhoria em seus calcinadores, que melhorou a transferncia de calor e reduziu a perda de presso, resultando em uma econo-mia significativa de energia e em uma operao mais estvel.

    A iniciativa premiou uma nova ao desen-volvida em parceria com a empresa Outotec na rea de calcinao de alumina. O processo otimizou a separao entre partculas e gs usando ciclones, resultando em uma econo-mia de energia de 6%. Melhorias como essa tm ajudado a Alunorte a reduzir o consumo de energia durante o processo de calcinao de alumina, de 3.000 kJ/kg para 2.790 kJ/kg. Em termos de produo anual, traduz-se numa economia de energia de cerca de 56 milhes de kWh.

    Segundo o diretor Industrial da Alunorte, Daryush Khoshneviss (abaixo), a Empresa mostrou preocupao com sua eficincia energtica por meio da correta utilizao de fontes de energia de forma sustentvel, que tem impactos significativos na reduo de emisses para o meio ambiente. Alm dos benefcios ambientais, o projeto gerou tam-bm ganhos financeiros, por meio da redu-o do uso de combustvel e do aumento da produtividade.

    De acordo com a Agncia Alem de Energia - Dena, a seleo dos vencedores baseada em um conjunto de critrios bastante rigoro-sos. No apenas a economia real de energia que importante, mas tambm a relevncia geral da soluo aplicada no que diz respei-to s alteraes climticas, capacidade de aplicar a soluo para outros clientes, viabi-lidade econmica e inovao do projeto.

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    9correntecontnua

    Foto

    : Ale

    xand

    re M

    orae

    s

    Foto: Paulo Santos

  • ener

    gia

    Ati

    va

    Byron de Quevedo

    Aquele no era o caminho usual de Vilma vir da escola, era um atalho! E ele a levou at uma praa onde viu um rapaz falante e muita gen-te sua volta. O que se passa? perguntou. Aquele moo ali est fazendo gasolina de pls-tico! disseram uns descrentes. E l estava ele como se fosse um Mister M, a desvendar os sortilgios energticos: Hanran... O que temos aqui? leo diesel feito de pneu velho!!!. Inclua ainda nas suas demonstraes acender uma lmpada com a energia extrada de um pedao de carne podre. Truques? Que nada, tratava-se de fato de tecnologia de ponta sendo lanada precocemente. O jovem era o cientista pionei-ro em energias alternativas, Camilo Machado. Vilma, ao fazer aquele novo caminho, encon-trou o seu futuro marido, e o Brasil achou em inventores como ele o atalho para chegar a so-lues superalternativas 60 anos antes do resto do mundo. E o resultado est a: hoje somos o Pas que explora a maior diversidade de opes energticas renovveis.

    A histria de Camilo Machado j foi descri-ta na edio 219 desta revista (maro/abril de 2008). Ela ilustra bem como as fontes superal-ternativas so percebidas por mentes que acre-ditam ser possvel extrair energia at do ltimo gro de areia da terra. E elas esto certas: esta-mos cercados de boas energias, s perceb-las para t-las. Como por exemplo, a tal bateria de micro-organismos: a partir da observao daquele pedacinho de carne mal cheiroso, a investigao virou descoberta e ultrapassou as expectativas do prprio autor, e, hoje, propos-ta por centros de pesquisas como uma das so-lues para os lixes das cidades.

    O artefato mostrou que o suco de carnes apodrecidas, alm da intensa atividade bacte-riolgica, gerava uma diferena de potencial de 1,8 Volt e, assim, acendia uma lmpada. Trata-

    As energias superalternativas

    10

    Camilo Machado:gasolina de plstico

    e diesel de pneu

  • se de uma reao qumica de xido-reduo, na qual eltrons so extrados de um dado meio orgnico. E agora, com as novas tecnologias, extraem-se muita energia em campos putre-fatos. O mundo gera mil toneladas de lixo por segundo. Algo tem que ser feito com urgncia.

    A Eletrobras Eletronorte investe em fon-tes superalternativas, que tambm chama de desrruptivas, pois, para pesquis-las, deve-se romper com os parmetros cientficos usuais. O Plano Diretor de Inovaes Tecnolgicas da Empresa tem como um dos temas a energia al-ternativa, e como subtemas a energia elica, a fotosolar, a biomassa e outras fontes possveis. Paralelamente, a Diretoria de Tecnologia da Eletrobras analisa tambm os gargalos tecnol-gicos, ou seja, lacunas de conhecimento cien-tfico. Na biomassa, por exemplo, os gargalos esto no aproveitamento da palha, na gaseifi-cao, na pirlise (gaseificao a calor). J nos painis solares fotovoltaicos, os gargalos esto no processo de purificao do silcio, na solda-gem das clulas fotovoltaicas, nas baterias.

    A energia solar - A gerao por meio de clu-las fotovoltaicas um processo que vem sendo usado em comunidades rurais distantes para o abastecimento domstico, irrigaes, piscicul-tura, iluminao de escolas, postos de sade e telefnicos, centros comunitrios, sem impac-tos ambientais. A meno da energia elica so-lar entre as fontes superalternativas deve-se ao fato de ela ainda ser uma tecnologia carente de pesquisas, at que as clulas fotovoltaicas este-jam inseridas nas vidraas dos edifcios, em pa-redes, em tijolos, em telhas e at objetos do dia a dia das pessoas. At o momento, essa fonte

    energtica ainda tem suas limitaes: precisa de reas livres para instalao de painis, as placas de slica so caras, e as baterias armaze-nam pouca eletricidade para suprir o consumo nos perodos em que as nuvens e as noites in-terrompem a gerao.

    A Eletrobras Eletronorte dedica ateno, tambm, ao processo pelo qual os raios solares so convergidos para um s ponto e deles se extrai o calor. Trata-se de um conjunto de es-pelhos, que acompanham as posies do sol, canalizando a luz para a gerao de vapor, que, por sua vez, move turbinas e estas acionam os geradores de eletricidade. Mas essa fonte tam-bm tem seus gargalos: nos concentradores, nas metodologias, nos tanques trmicos de armazenagem. H outras tecnologias classifi-cadas como temas estratgicos de P&D+I (pes-quisa e desenvolvimento mais inovao), cujo desenvolvimento conta com o apoio da Univer-sidade Federal de Campinas - Unicamp, como o uso da vinhaa, um substrato da produo do lcool e acar tido como altamente poluidor. A Empresa est apoiando um projeto em Presi-dente Prudente (SP), cujo processo extrai o gs metano da vinhaa. Uma vez purificado o gs ir alimentar motores a combusto, que geram eletricidade. Depois que a vinhaa passa pelo biodigestor, perde a sua nocividade e torna-se um insumo rico para se fazer adubo.

    Hidrognio Por meio da eletrlise separa-se a gua em duas molculas de hidrognio e uma de oxignio. Ao introduzir hidrognio com reagentes qumicos nas clulas de combust-veis se obtm a eletricidade. Essa tecnologia ainda muito cara, embora o hidrognio seja

    11

  • abundante na natureza. Segundo o gerente dos Programas de Pesquisa e Desenvolvimento e Inovaes da Eletrobras Eletronorte, lvaro Rai-neri Lima (abaixo), a Empresa apia trs pro-jetos nessa rea, sendo que o mais avanado

    est sendo desenvolvido na locali-dade de Pico do Amor, a 50 quil-metros de Cuiab (MT).

    Por meio de um aparelho de-nominado reformador de etanol, o lcool transformado em hidro-gnio, com pureza de 98%. Mas para uso em grande escala seria indicado se construir um sistema novo de transmisso, o hidroge-duto. Nesse sistema, numa pon-ta se alimenta com eletricidade a clula combustvel e se obtm o hidrognio, e ele segue at a outra

    ponta, onde convertido em eletricidade no-vamente por outra clula combustvel. O siste-ma de bombeamento do hidrognio parecido com o do gs GLP.

    A Empresa j produz hidrognio e oxignio numa unidade em Belm, mas o hidrognio usado para abastecer os sistemas de refrigera-o dos compensadores sncronos de subes-taes. A Eletronorte avanou muito tecnolo-gicamente e extrapolou o seu perfil industrial. Precisamos mapear todas as nossas potencia-lidades. O oxignio purificado e com controle de qualidade, por exemplo, ao invs de ser li-berado no ar poderia ser doado aos hospitais. Os nossos estatutos j nos permitem vender

    as sobras de capacidade de transmisso de telecomunicaes, via cabo para-raios com fi-bra ptica, e arrecadaremos R$ 20 milhes s neste ano. Para comercializar o hidrognio e o oxignio seria necessrio fazer uma modifica-o semelhante, observa lvaro.

    Higroenergia - O gerente de Controle de Qualidade de Obras, da Eletrobras Furnas, um especialista em gesto estratgica da inovao tecnolgica, Ricardo Andr Marques, diz que o desafio das alternativas energticas viabiliz-las economicamente. Como exemplo cita o fato de que no ltimo leilo de hidroenergia o me-gawatt.hora foi negociado a R$ 103,00, para Colider, em Mato Grosso. Os leiles de elicas tambm esto baixando as tarifas, j h contra-taes de at R$ 140,00 o megawatt.hora, mas ainda so preos altos. Outras fontes como o hidrognio chegam at R$ 300,00 o megawatt.hora, o que torna a sua explorao economi-camente invivel agora, pois o valor da energia afeta os custos industriais. Nos Estados Unidos, Alemanha, Dinamarca e Espanha a energia e-lica j est sendo usada em larga escala. Aqui a deficincia da indstria elica leva-nos a impor-tar equipamentos. Algumas fontes s se tornam realidade em 20 anos, quando as tecnologias minimizam os custos de fabricao de equipa-mentos e de sua aplicao, ensina.

    12

  • Segundo Ricardo, o Brasil tem diversas fon-tes de energia de baixo custo em explorao e ainda por explorar. S usamos 50% do nosso potencial hidreltrico. Milhes de toneladas de biomassa oriunda dos canaviais esto dis-posio h anos e s agora vieram os leiles desse insumo para fins de gerao eltrica. Temos tambm um enorme potencial de raios, demonstrando que h muita energia na nos-sa atmosfera. a chamada higroenergia (ver box). So alternativas que nos deixam esperan-osos quanto ao futuro da energia no Brasil. Tomamos a direo correta ambientalmente. Muitos pases, como ndia, China e Rssia es-to se desenvolvendo com a queima de carvo e leo diesel e de outros insumos poluidores, em matrizes trmicas sujas, enfatiza.

    A luz no fim do tnel - J que pintou sujeira, falemos do esgoto das cidades, pois, se limpar-mos os milhares de tneis subterrneos encon-traremos boas reservas energticas. A Compa-nhia de Saneamento de Minas Gerais Copasa se prepara para tornar a Estao de Tratamen-to de Esgotos Arrudas, em Caetano Furquim, em Belo Horizonte, apta para a produo de eletricidade. Ela economizar R$ 2,7 milhes por ano tornando o tratamento de esgoto da cidade autossuficiente em eletricidade, o bas-tante para abastecer as casas de pelo menos 15 mil habitantes. Segundo o superintendente de Gesto de Energia da Copasa, Marcelo Mo-nachesi Gaio, no tratamento do esgoto pode-se extrair o biogs, composto de 68% de metano, nocivo camada de oznio. Antes queimva-mos o metano, que gerava gs carbnico, me-nos prejudicial que o metano, mas ainda assim nocivo at mosfera. Com a cogerao, os gases so limpos, depois alimentam as microturbinas, que geram energia. O projeto custou R$ 65 mi-lhes, portanto, uma energia ainda cara.

    At nas fossas tenebrosas, depsitos de imensas quantidades de excrementos huma-

    nos, h potencial energtico a ser explorado. A energia do coc como os cientistas gostam de cham-la, tambm ser realidade. A Com-panhia Estadual de guas e Esgotos - Cedae, do Rio de Janeiro, em parceria com a Coppe, esta montando a primeira fbrica de biodiesel de fezes humanas, no Caju, na Estao de Tra-tamento de Esgoto Alegria. Esta ser a primeira usina de biodiesel movida a fezes. Ela foi de-senvolvida pela Coppe/UFRJ em 2003, custar R$ 5 milhes e ser feita em parceria com a Usina Termeltrica Termrio.

    Segundo o presidente da Cedae, Wagner Vic-ter, ela dever fornecer biodiesel a preos prxi-mos ao dos postos de combustveis. Buscare-mos apoio da iniciativa privada para a produo em escala industrial. As fezes so coletadas no decantador primrio, formado pelos sobrenadan-tes, que contm 10% de gordura. A unidade-piloto produzir seis mil litros de biodiesel/ms, quantidade que servir como aditivo de 120 mil litros de diesel/ms. A mistura do insumo com a urina no compromete a qualidade do produ-to. Se ela fosse segregada na fonte teramos um aproveitamento maior quantitativamente. J foi instalado um sistema para aproveitamento ener-gtico do biogs e do lodo, com usina de filtra-o do gs e dois geradores eltricos, alm de uma planta de pirlise de lodo, que gera bio-leo e biocarvo, a serem queimados numa caldeira associada turbina a vapor.

    Biomassa - Matrias orgnicas vegetais ou animais podem se transformar em energia atra-vs da combusto em fornos e caldeiras. O bio-diesel, por sua vez, pode ser obtido tambm a partir de leos vegetais e tem sido usado em projetos experimentais na Amaznia. H olea-ginosas muito boas para se fazer o biodiesel, como a andiroba, o murumuru, a carnaba, o jaci, o amendoim-cavalo, dend, buriti, copa-ba, babau, andiroba, a ucubae e tambm os resduos de madeiras e o bagao de cana, que tm ganhado espao no Brasil.

    A Usina Termeltrica Barra Bioenergia, em Barra Bonita (SP), recentemente inaugurada pelo presidente Luiz Incio Lula da Silva, inte-grante do Grupo Cosan, do setor sucroenergti-co, e sua unidade termeltrica de biomassa de-ver produzir energia eltrica a partir do bagao da cana-de-acar para 1,2 um milho de ha-bitantes quando concluda. A Agncia Nacional de Energia Eltrica Aneel autorizou, em julho de 2010, o incio das operaes comerciais da termeltrica, que instalou, numa primeira fase, dois turbogeradores de 33 MW cada um.

    13

  • Raspas e restos nos interessam Fora do Brasil outras boas experincias so destaques. A Empresa de Bioenergia inglesa GENeco gera gs para automveis a partir do aproveitamento dos fluidos dos esgotos de residncias e j estu-da um processo parecido para extrair combus-tvel a partir de restos de comida. A companhia captou resduos em 70 casas e gerou gs sufi-ciente para abastecer um carro para rodar 17 mil quilmetros. Segundo Mohammed Saddiq, diretor da GENeco, o carro tem bom desem-penho. Quem o dirige nem percebe que ele abastecido com biogs. Na Sucia 11.500 veculos j rodam com biogs de restos de co-mida. A ideia unir a produo de biogs com o sistema de tratamento de esgoto tornando o produto comercial no Reino Unido.

    O tratamento anaerbico de esgoto gera gs, sem a presena de oxignio livre, como o me-tano, o gs sulfdrico e outros. A GENeco, de fato, no inventou o processo de tratamento de esgoto, apenas adaptou o veculo para usar esse tipo de gs. Um projeto semelhante foi desenvolvido, h 20 anos, pela Universidade de Braslia e Caesb, atravs de um pressurizador dos gases (principalmente o CFC), que quando lanado sem tratamento na natureza prejudica a camada de oznio. Mas, infelizmente, o pro-jeto brasileiro de se extrair gs do esgoto no foi adiante.

    Mars e usque - A maior turbina movida a energia de mars do mundo ser testada na Es-ccia. Criada pela Atlantis Resources, a turbina AK-1000 ser instalada no Centro Europeu de

    Energia Marinha em Orkney. Segundo a empre-sa, a turbina subaqutica suportar a presso das fortes correntes marinhas. Com hlices de 18 m de dimetro, mais de 22 m de altura e 1,3 mil toneladas, ela pode gerar at um MW de ele-tricidade, o suficiente para abastecer mil casas. A empresa afirma que, por causa de sua baixa velocidade, a turbina no causar danos vida marinha, mas essa energia superalternativa ain-da est em fase de testes. O oceano sempre surpreendente, ento no vamos fazer muita onda por enquanto, veremos se a ideia vinga.

    E esta agora vai ser sem gelo. Feito de sub-produtos da destilao de usque, ele desen-volvido por cientistas da Universidade Napier, em Edimburgo, usa sobras de um setor que movimenta R$ 11 bilhes/ano. Os pesquisa-dores dizem que o biobutanol gera 30% mais energia que o etanol. Eles receberam amostras de subprodutos da destilao de usque na destilaria Glenkinchie, que faz o usque Edin-burgh Malt, em East Lothian. O projeto custou U$ 260 mil. O sistema utiliza os subprodutos da destilao de usque - pot ale -, o lquido que resta nos alambiques de cobre; e os gros esgotados draff -, como base para produzir o butanol combustvel. Com 1,6 bilho de litros de pot ale e 187 mil toneladas de draff produ-zidos anualmente pelas destilarias de usque de malte, os cientistas preconizam a venda desse biocombustvel em postos de gasolina, que, ao contrrio do etanol, substitui a gasolina tradicio-nal, sem precisar fazer adequao nos carros.

    Avio e capim Quem poderia imaginar que o poste de luz gerasse a prpria energia. Pois verdade. O pesquisador Fernando Xime-nes criou um aviozinho hbrido, que gera, ao mesmo tempo, energia elica e solar. Quando posicionado no poste, o aviozinho, por meio de um bloco de clulas solares instaladas nas asas, gera energia solar; e atravs da hlice frontal, gera energia elica. As energias so armazenadas numa bateria capaz de manter acesa uma lmpada do tipo LED por 70 horas ou seis noites. O invento est sendo adquirido, principalmente, para a iluminao de rodovias e praas. O kit completo: um poste galvanizado de 24 metros, o aviozinho, o gerador e a ba-teria podem fornecer energia para outros seis postes de iluminao. Ns fabricamos, instala-mos e colocamos para funcionar todo o siste-ma, comentou Ximenes.

    Pioneira no Brasil e a maior do mundo no ramo, a usina Syku Bioenergya, instalada na zona rural de So Desidrio, a 860 km de Salva-

    14

  • dor (BA), produzir energia com a incinerao de capim-elefante triturado, gerando 30 MW, o suficiente para abastecer uma cidade de 200 mil habitantes. A usina a primeira das quatro projetadas pelo grupo para o municpio, que foi escolhido pela disponibilidade e fertilidade das terras, clima, e pela facilidade de conexo com a linha receptora da Coelba, que distribuir a energia vendida no mercado livre.

    A produo anual para a primeira etapa do projeto, iniciado h trs anos, para os quais foram plantados 4.600 hectares de capim-elefante, irrigado com a gua do Rio Grande, ser suficiente para movimentar a primeira usi-na durante todo o ano. Usinas iguais a essa s existem duas de pequeno porte na Inglaterra e nos Estados Unidos. O capim-elefante produz at 20 anos com cortes anuais. O projeto custou R$ 100 milhes e foi desenvolvido pelo socilo-go Paulo Puterman, em parceria com os scios Ana Maria Diniz e Luiz Felipe Dvila. Segundo o diretor-geral da Syku, Norbertino Morais, o projeto foi implantado numa rea de 11 mil ha, com mais de cinco mil ha de pastagens aban-donadas. No precisamos derrubar o cerrado, apenas recuperamos o j degradado, afirmam os idealizadores do projeto.

    Serragem e dana - A Celpa, do grupo Rede Energia, inaugurou um projeto-piloto de energia alternativa no mbito do Luz para Todos, cuja primeira unidade ser implantada em Santo Antonio, no municpio de Breves, na Ilha de Maraj (PA), com a utilizao de uma trmica a biomassa e sistemas fotovoltaicos individu-ais. O sistema atender a 43 consumidores de uma das margens do Rio Amazonas. A planta produzir energia a partir da queima direta de resduos produzidos pela serraria da comuni-dade. O sistema tem 50 kW de potncia insta-lada e funciona 24 horas por dia. Os sistemas fotovoltaicos atendero a seis famlias da outra margem do rio.

    Segundo a coordenadora da rea de Pes-quisa e Desenvolvimento e de Eficincia Ener-gtica da Celpa, Giorgiana Pinheiro, os proje-tos de energia alternativa, em parceria com a UFPA, foram uma sada para levar o servio s comunidades onde a extenso da rede invi-vel, pelas necessidades de travessias de rios, e pela disperso dos consumidores.

    Longe dos rios, casas noturnas gastam mui-ta eletricidade com iluminao, aparelhagens de som e luz, e ar condicionado. Pensando nisso, Andrew Charalambous, dono do Bar Surya, em Londres, revestiu a pista de dana

    de seu estabelecimento com placas que, ao se-rem pressionadas pelos passos de uma dana, produzem uma corrente eltrica que usada para atender a 60% do consumo de energia da casa. A atitude revela uma tendncia: em breve iremos vender a nossa energia gasta em exerc-cios repetitivos.

    Alis, isto j comeou a acontecer. No Crow Plaza Hotel, em Copenhague, Dinamarca, o hspede pode economizar nas suas despesas ao vender a sua energia corporal, exercitando-se em bicicletas ligadas a um gerador de ele-tricidade. Os voluntrios devem produzir pelo menos dez watts.hora ou 15 minutos de peda-ladas normais. Aps o exerccio eles recebem um vale-refeio de 26 euros, ou R$ 60,00. H quem considere o preo baixo pelas gor-durinhas fritadas em exerccios repetitivos. As clnicas de lipoaspirao, por exemplo, no nos do um centavo de desconto nas cirurgias de retirada de gordura de corpos humanos.

    Nossas gorduras podem se transformar em biodiesel, glicerina, leos, sabo para lavar ca-chorros, cosmticos, insumos industriais, lu-brificantes, dinamites; enfim, so pneuzinhos que no devem ser queimados em vo. Um dia eles valero muito dinheiro e os gordinhos sero mais respeitados, pois sero vistos como importantes reservas de energias superalterna-tivas. Quem viver ver!

    15

  • Como veio a concluso que se poderia captar a energia do ar?Os nossos experimentos mostravam que metais isolados ad-

    quirem cargas eltricas quando expostos a uma atmosfera mi-da. H anos estudo superfcies dos materiais, principalmente os plsticos, usando novas tcnicas de microscopia e outras novi-dades. Percebi que as superfcies tinham gradientes de poten-cial eltrico; ou seja, quando se olha um ponto da superfcie, medindo-se o potencial eltrico, se obtm um valor; medem-se mais outros e veremos outros valores, o que evidencia variaes de potencial nas superfcies, algo para mim inesperado. Passei a trabalhar com propriedades eletrostticas em isolantes, testando resultados. Fiz o experimento chamado de Copo de Faraday, que mede cargas eltricas em slidos, verificando as cargas el-tricas dos metais quando expostos a umidade.

    E o que o senhor verificou?Por exemplo, o alumnio fica negativo, o ao inox fica positivo

    e o cobre fica pouco negativo. A superfcie dos metais coberta por uma camada fina de xidos. Sobre o alumnio h uma pelcu-la fina de xido de alumnio; por cima do ao inox h a camada fina de xido de cromo e assim por diante. Estes xidos tm o ca-rter de cido e o carter de bsico. Isso mostra que a molcula de gua se divide uma parte num on H+ e a outra parte em on OH-. Quando a molcula de gua encontra a superfcie do alu-mnio ela pode se separar, o on OH- liga-se no xido de alumnio e o on H+ fica prximo ao centro. Como on H- carga negativa, ele torna o alumnio negativo. No caso do ao inox acontece o contrrio. Isso mostra que a energia, mesmo vinda da atmosfera, pode ser captada pelos metais.

    Como o seu prottipo e qual a semelhana com os painis fotovoltaicos?As clulas fotovoltaicas dos painis solares captam ftons

    de luz, ou seja, um pulso de luz. O meu prottipo diferen-te: coleta a eletricidade do ar. Ele parecido com um san-duche de cinco camadas: uma externa de papel; a outra, uma folha de alumnio; a outra um filme de papel; mais uma folha de ao inox sensvel; e a ltima camada outra folha de papel. um capacitor que permite que o alumnio e o inox sejam expostos a uma atmosfera rica em umidade e gera cerca de 0,7 Volts. Se colocarmos vrios desses artefa-tos em srie, teremos voltagens considerveis.

    A energia est no arO qumico Fernando Galembeck (foto) e sua equipe surpreenderam os cientistas durante

    a reunio da American Chemical Society, em Boston, Estados Unidos, em 25 de agosto de 2010, ao relatar a sua experincia com a hidroenergia, uma vertente das energias supe-ralternativas que permite coletar a eletricidade da umidade do ar. A tese responde a uma

    questo que tem intrigado os estudiosos do assunto: como a eletricidade se forma e descarregada abruptamente na atmosfera, no obstante ela tambm esteja em am-

    bientes serenos, quando o vapor se junta a partculas microscpicas no ar? O processo idntico ao da formao das nuvens, que na sequncia

    do incio aos relmpagos. Esse novo avano sobre a questo s foi possvel depois que estes cientistas brasileiros

    descobriram o pulo do gato: como a atmosfe-ra ficava carregada e como captar a sua

    energia. Confira a entrevista com Fernando Galembeck.

    16

  • Aqui e abaixo, peas aparentemente simples do invento de Galembeck

    Como se forma a eletricidade na atmosfera?Supem-se que a eletricidade da atmosfera se forme

    devido a dois fatores principais. O primeiro, o fato de que quando os vapores dgua se condensam, formando go-tculas, eles o fazem de uma forma em que as gotas no ficam neutras, todas tm uma carga. O segundo fator que estando na terra ou na atmosfera ns sempre esta-mos sujeitos ao campo eltrico. E um campo esttico que no desprezvel, tem 100 Volts por metro. Os cam-pos eltricos afetam o que est na atmosfera, inclusive as gotinhas d gua.

    Como coletar a energia do ar sem transformar o experimento num para-raios?Os experimentos feitos com os metais mostram que

    possvel recolher ons da gua da atmosfera, portanto re-colher eletricidade, mas no no momento em que o raio acontece, esta uma situao de descarga extrema e da-nosa. A captao feita num momento suave, que aconte-ce antes das precipitaes dos raios. evidente que onde h raios existe muita energia. A eletricidade dos raios deve ser jogada para a terra. E j ficamos muito satisfeitos que ela chegue aqui embaixo sem causar desastres. A energia da descarga eltrica dos raios no muito alta, a corrente eltrica que muito intensa. Porm, a durao do raio bastante curta. Ento, embora a corrente seja intensa e como a durao curta, a quantidade de energia no grande, mas a potncia muito alta.

    Um dia ser possvel captar a energia dos raios? No futuro ser possvel, mas at o momento no consegui-

    mos captar a energia dos raios. Eu preconizo uma captao, mas antes que as descargas dos raios aconteam. Muitos j se aci-dentaram ao tentar coletar a eletricidade deles. O famoso Ben-jamin Franklin, por exemplo, sobreviveu a um acidente eltrico, quando iava uma pipa num dia com incidncia de descargas eltricas, porm outros no tiveram a mesma sorte. O raio uma corrente muito grande em tempo muito curto, que descarrega uma potncia enorme de uma forma muito destrutiva. Se eu te-nho uma corrente menor por um tempo maior, eu consigo usar essa energia sem destruir nada. Por isso fizemos os painis de drenagem de energia do ar, como uma forma, inclusive, de usar parte da energia que na sequncia iria formar os raios e assim evitar os seus efeitos danosos.

    Quais os melhores lugares para se instalar o que o senhor chama de painis de drenagem?Em lugares altos: topo dos edifcios, montanhas, torres. Um

    dia eu estava no restaurante do terrao do Edifcio Itlia, em So Paulo, e havia formao de nuvens carregadas. No cho-via ainda, e vi que quando as pessoas saiam da parte coberta para a rea descoberta, o cabelo delas se espetava para cima, como se tivessem numa mquina eletrosttica, evidenciando que elas estavam expostas eletricidade. Ou seja, elas esta-vam sendo eletrizadas e ao interagir com as nuvens, a energia flua da atmosfera para as pessoas. Se tivssemos ali as placas, captaramos a eletricidade no momento anterior precipitao dos raios. Alis, eles ocorrem porque h o acmulo de cargas nas nuvens. Hoje tem vidros condutores, que podem ser co-bertos por camadas de material condutor. possvel se instalar neles mecanismos de captao. O desafio dessa tecnologia desenvolv-la com segurana para as pessoas. Creio que no futuro os prdios sero construdos j aptos a captaes de ele-tricidade atmosfrica.

    Como o seu invento se integraria ao atual sistema de gerao de energia?As hidreltricas so feitas prximas das quedas da gua onde

    h muitos vapores e seus vertedouros tambm geram muito vapor. Seriam excelentes locais para instalar os nossos painis. Assim teramos uma energia complementar, com estoques ener-gticos talvez superiores as das reservas hdricas.

    Como a comunidade cientfica mundial recebeu o seu invento?Uns dizem que sou louco, outros ficaram muito entusiasma-

    dos. Tenho recebido mensagens de pesquisadores de vrios pases, alguns, inclusive, querem vir ao Brasil para interagir com a nossa equipe, pois eles tambm esto pesquisando no-vas fontes de energia.

    17

  • His

    tri

    a Fragmentos histricos do Brasil

    18

  • Um pas constitudo por histrias, mitos, crenas, passados de gerao em gerao. Antes de o navegador portugus Pedro lvares Cabral desembarcar na Ilha de Vera Cruz, hoje o Brasil, povos antigos j habitavam em terras tupiniquins. Prova disso so os materiais ar-queolgicos encontrados por pesquisadores da Eletrobras Eletronorte, antes e durante as cons-trues das usinas e as linhas de transmisso. Nos estados do Par, Tocantins e Rondnia, por exemplo, foram encontrados materiais ar-queolgicos de grande valia nacional e interna-cional. So artefatos cermicos (vasilhames), artes rupestres, lticos (machados e outros utenslios), que ilustram o contexto histrico de outras pocas.

    A Empresa financia e apia esses estudos com a colaborao e participao de institui-es cientficas renomadas, como o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional Iphan; o Ncleo Tocantinense de Arqueologia da Universidade Federal do Tocantins; o Institu-to Nacional de Pesquisas da Amaznia Inpa; e o Museu Paraense Emilio Goeldi, que h anos preservam e estudam a histria dos nossos an-tepassados.

    Pedra das Arraias (PA) - A rocha foi encon-trada em 1998 pelo empregado Paulo Edgar Dias Almeida, que exercia uma rotineira ope-rao na linha de transmisso conhecida como Tramo-Oeste, no trecho compreendido entre Tucuru e Altamira. Do alto da torre de transmis-so ele avistou algo que chamou a sua ateno: uma pedra com alguns detalhes diferentes, coisa que nunca havia visto antes. O que Pau-lo no imaginava que tinha encontrado um importante material arqueolgico, a Pedra das Arraias (foto maior).

    Atualmente, o Museu Emlio Goeldi um dos responsveis pela preservao da Pedra. Segundo pesquisa realizada pela arqueloga do Museu, Edithe Pereira, a pedra possui ca-ractersticas estilsticas das gravuras rupestres. Alm da Pedra, mais trs stios com gravuras foram encontrados na mesma regio. Entre

    os animais representados destacam-se as re-presentaes de arraias, o que raro na arte rupestre da Amaznia. Cada um dos painis se encontra em um bloco rochoso, com idade de no mnimo quatro mil anos. Desde a descober-ta, as pesquisas sobre o artefato no pararam, ressalta Edithe Pereira (acima).

    Com aproximadamente 48 m de rea e cin-co metros de altura, em forma de paralelep-pedo, a Pedra das Arraias pesa cerca de mil toneladas. A rocha era utilizada pelos povos pri-mitivos daquela regio como um templo, onde se reuniam e, pelos simbolismos das imagens gravadas, oravam pela fartura da caa e pela prpria subsistncia.

    A partir das pesquisas j realizadas, Edithe Pereira enumera algumas recomendaes para a preservao e divulgao da Pedra das Ar-raias, para que geraes futuras possam conhe-cer o artefato, como a proteo fsica do stio, para que no futuro possa ser aberto visitao pblica sem colocar em risco a sua integridade; a limpeza e consolidao do suporte onde es-to as gravuras; a divulgao dos resultados da pesquisa para o pblico especializado e leigo; a reproduo fiel das gravuras rupestres e um projeto de educao patrimonial para estudan-tes e turistas.

    Prlogo Continuando as comemoraes dos 33 anos da revista Corrente Contnua, abordamos nesta edio o salvamento arqueolgico feito nas reas de construo de empreendimentos de gerao e transmisso de energia eltrica. Atuando na Amaznia brasileira, a Eletrobras Eletronorte j descobriu vasto acervo histrico no Par, Amazonas, Tocantins, Mato Grosso, Rondnia e Acre, principalmente. A histria demonstra a ocupao das terras no norte brasileiro pelo homem h mi-lhares de anos, e entre descobertas e anlises, vem tona um captulo a parte da histria do Brasil, recheado de boas notcias e tambm de polmicas. como diz o arquelogo da Empresa, Eurico Miller: Nenhuma cincia vem pronta, ela vai sendo aprimorada...

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    19correntecontnua

  • Artefatos culturais (TO) - O territrio do Es-tado do Tocantins rico em stios arqueolgicos de diversas naturezas, que esto relacionados a grupos caadores e coletores, e grupos cera-mistas, com cerca de 25 mil anos a.C.. Quando a Eletronorte Eletrobras construiu o primeiro trecho da linha de transmisso Norte-Sul, de Imperatriz, no Maranho, at Colinas e Mira-cema, no Tocantins, realizou-se um convnio entre a Unitins Eletronorte e, desde ento, as pesquisas no pararam.

    O Nuta Ncleo Tocantinense de Arqueo-logia da Unitins Fundao Universidade do Tocantins, o responsvel pelos estudos arque-olgicos na regio desde 1998. As pesquisas realizadas de forma sistemtica tm contribu-do para o aprofundamento sobre as ocupaes pr-coloniais nas margens do baixo ao mdio curso do Rio Tocantins, de norte a sul e de leste a oeste do estado.

    A coordenadora-geral do Nuta, Antnia Custdia Pedreira, afirma que as pesquisas permitem esboar o panorama de 380 stios arqueolgicos registrados, de onde uma infini-dade de evidncias materiais coletadas revelam modos e processos culturais vivenciados pelos grupos pr-histricos no processo de ocupao regional e na utilizao dos recursos naturais. Ainda hoje, h a identifi-cao de vrios e diferen-tes tipos de stios arqueo-lgicos que tm resultado na coleta de centenas de artefatos culturais, (fotos abaixo), produzidos e dei-xados pelas populaes humanas que habitaram essa regio em tempos pretritos, explica.

    Ainda segundo a Co-ordenadora, o pouco co-nhecimento levou os pesquisadores a se dedi-carem aos trabalhos de prospeces e resgates arqueolgicos intensos, e os empreendimentos da Eletrobras Eletronorte possibilitaram condi-es e visibilidade aos estudos no Tocantins. Mas, essencialmente, promoveram a memria dos stios arqueolgicos e, consequentemente, dos grupos pr-coloniais, motivados tambm pelo interesse em reforar a prpria identidade atual do povo tocantinense, ressalta Antonia Custdia (acima).

    Hidreltricas Nas reas de influncia de trs usinas hidreltricas construdas pela Eletrobras Eletronorte Balbina, Samuel e Tucuru tam-bm foram desenvolvidos estudos e pesquisas arqueolgicas noticiadas em nossas pginas.

    Em, Balbina (AM), os trabalhos de campo foram realizados nos anos de 1987 e 1988, antes e durante a formao do lago formado pelo Rio Uatum. Do potencial de stios exis-tentes, 150 foram registrados in loco. A quase totalidade das colees de cermica oriunda principalmente de superfcie, no sendo sufi-cientemente representativas as colees de cortes estratigrficos. As colees cermicas

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    20 correntecontnua

  • Descries, colees de superfcies, cortes estratigrficos e extensas trincheiras foram obtidas de vrios stios

    somaram acima de 500 mil fragmentos e vrias peas completas. Segundo as anlises feitas poca, esto representadas trs tradies. Os lticos somam vrios milhares. Algumas amos-tras de carvo e dezenas de amostras de solo tambm coletadas.

    Em Samuel (RO), os trabalhos de campo fo-ram realizados tambm em 1987 e 88. O Rio Jamari foi pesquisado ao longo de 260 km a montante e 70 km a jusante, em barcos a mo-tor e, pelas poucas trilhas e estradas existentes. Muitos stios foram facilmente detectados de-vido presena de terra preta, vrias espcies de plantas teis e outros indicadores arqueo-lgicos. Alguns desses stios j eram conheci-dos, mas o tempo no permitiu verificar todos os indicados pelos habitantes do local. Embora 121 stios fossem registrados, in loco, apenas um nmero reduzido de stios foi escavado para amostragem.

    Descries, colees de superfcies, cortes estratigrficos e extensas trincheiras foram obti-das de 101 stios. Vrias trincheiras foram aber-tas em alguns stios, para o estudo da composi-o arqueolgica, como habitao e cemitrio, e da formao de terra preta arqueolgica e sua antropognese, atravs da sucesso cultural das ocupaes de pr-ceramistas e caadores-coletores aos pr-ceramistas agricultores inci-pientes, aos ceramistas agrcolas, aos neobrasi-leiros e aos histricos.

    Em Tucuru (PA), os trabalhos de campo pa-trocinados pela Eletronorte foram executados por uma equipe do Museu Paraense Emlio Go-ledi, entre 1977 e 1978. As pesquisas se con-centraram no setor acima da cidade de Tucuru a se represado pela barragem. Foram encontra-dos 28 stios na regio, um pouco jusante e a montante da cidade de Tucuru at a corredeira de Itaboca, inclusive junto da antiga ferrovia Tucuru-Jatobal e da estrada Tucuru-Camet.

    O total de amostragem cermica de cerca de 46 mil fragmentos, e os espcimes lticos ultra-passam 4,4 mil. As amostras de seis stios foram

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    21correntecontnua

  • muito pequenas ou muito erodidas para fornece-rem identificao confivel. Um stio corresponde a uma aldeia Parakan ocupada at 1920.

    Arqueologia como ecologia - Cada regio nica e singular, podem se assemelhar, mas no se repetem: sucedem-se em ectonos, ectipos dos ecossistemas. E isso vlido do ponto de vista principalmente climtico, que influencia o ambiente e por conseguinte o modo de ser de cada cultura humanaexplica Eurico Miller.

    Ele detalha o trabalho realizado nas hidrel-tricas: Em Tucuru, conduzamos a arqueologia como ecologia humana. Avaliando o resultado nos stios pesquisados, sob esse ponto de vista, o dado mais significativo observado o de que tanto os recursos aquticos, quanto os de solo agricultvel, estavam disponveis e suficientes para a subsistncia das aldeias. Esse fato corro-

    bora para explicar a no-invaso territorial entre a cultura Tau ao norte e a cultura Tucuru ao sul, ao longo das corredeiras, durante toda a sua coexistncia.

    Em Balbina, dez anos depois, a arqueologia como ecologia humana, linha que praticamos, perscrutando a regio, os acervos resgatados pelos arquelogos, revelou que, apesar do solo cido, com pouca produtividade agrcola, e das guas cidas do Uatum, foi justo a que ocor-reu uma das maiores diversidades culturais de tradies ceramistas na Amaznia. Causa: os habitantes indgenas foram atrados pelos in-meros recursos aquticos para a sua subsistn-cia, providos principalmente pela tartaruga, o pirarucu e o peixe-boi. A agricultura foi apenas complementar, contrariando o paradigma ento vigente de que o ambiente da tradio polcro-ma estaria restrito vrzea amaznica, mais propcia para a agricultura.

    J em Samuel, ao tempo de Balbina, sob nossa coordenao, como ecologia humana, em campo e laboratrio, os resultados revela-ram que tambm essa regio guarda inmeras surpresas sobre o modo de vida do homem

    Eurico Miller, uma histria de

    dois mil stios arqueolgicos

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    22 correntecontnua

  • Em Balbina, Samuel e Tucuru, a arqueologia como ecologia humana

    Desde 1985, Eurico Miller (foto), arquelogo da Eletro-bras Eletronorte participa das pesquisas e descobertas de stios arqueolgicos em reas de construo de usinas hi-dreltricas e linhas de transmisso. Comecei a fazer as pesquisas na Usina Hidreltrica Samuel e, desde ento, nunca mais parei. Durante esse perodo mais de dois mil stios arqueolgicos foram encontrados durante as minhas pesquisas, das mais diversas culturas. E toda essa histria pode ser explicada nos fragmentos encontrados, onde est boa parte da cultura do nosso Pas, conta.

    Segundo Miller, os stios arqueolgicos so, muitas ve-zes, as nicas fontes de acesso e pesquisa ao passado re-moto ou at mesmo o passado prximo. Infelizmente, com o passar dos anos, muitos dos fragmentos encontrados

    foram perdidos, mas a maioria est guardada nos museus, universidades e institutos, que trabalham com a Empresa.

    Para Miller, o Brasil um grande stio arqueolgico de di-ferentes perodos e com uma enorme variedade de vestgios materiais. Preservar os stios arqueolgicos a nica forma de conhecer a pr-histria do Pas, a formao da identidade do povo brasileiro.

    Todas as peas arqueolgicas tm a mesma importncia, porque um fragmento pode dar uma srie de informaes. A cultura uma colcha de retalhos. Um caco, por mais insig-nificante que seja, tem a sua importncia. Nem uma cincia vem pronta, ela vai sendo aprimorada, e as informaes obti-das com os salvamentos arqueolgicos so essenciais para que conheamos a ns mesmos, conclui o arquelogo.

    autctone. Segundo as evidncias de pedra lascada desde seis metros de profundidade, os caadores-coletores da cultura Itapipoca, nove mil anos atrs, j eram comuns. Os caadores-coletores da cultura Massangana, na virada dos 5.200 anos atrs, surgem com a agricultura da mandioca, das terras pretas e das aldeias mais

    antigas, at o presente, passando a ser caa-dores-agricultores, mas ainda sem cermica, a qual surge aos 2,6 mil anos atrs, com o nome de cultura Jamari.

    A histria no terminar a, e ficar muito mais intrigante se nos reportarmos ao levanta-mento arqueolgico do aproveitamento hidrel-trico Ji-Paran. L, em 1986, a Eletronorte aju-dou a descobrir uma nova cultura, batizada em 2009 de Proto-Tupiguarani. Detalhe: a cermica pintada e corrugada Proto-Tupiguarani foi data-da pelo carbono-14 em 5.100 anos. Por essa poca as pirmides do Egito e do Per (Caral) estavam sendo construdas, mas ainda no ti-nham cermica pintada.

    , o tempo no para, ele corre atrs da gente e a gente corre atrs dele. Sempre.

    Colaborou Higor Sousa Silva

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    23correntecontnua

  • Csar Fechine

    A frase era dita num tom de brincadeira com o sotaque dos ascendentes libaneses, trocando o gnero do artigo: a gente tem que fazer o lojinha dar lucro. Era assim, brincando, que Jorge Nassar Palmeira prevenia os colegas so-bre a necessidade de melhorar os processos produtivos, operacionais e financeiros da Ele-trobras Eletronorte para que a Empresa alcan-

    asse resultados positivos.A Eletrobras Eletronorte j foi

    considerada uma Empresa de desenvolvimento regional, de fo-mento governamental, mas nos ltimos anos a busca pelo resul-tado econmico-financeiro po-sitivo passou a ser fundamental no mapa estratgico empresarial. Quando assumiu a presidncia da Empresa, em maio de 2008, Jorge Palmeira estabeleceu como uma das metas principais a busca do azul contbil.

    Os resultados apareceriam dois anos depois. Ns estvamos sempre no vermelho. A Eletro-norte, desde que foi criada, nunca deu lucro. S no ano passado, pela primeira vez, a Em-

    Cir

    cuit

    o In

    tern

    o

    presa apresentou lucro, sob a batuta de Jorge Palmeira, declara o engenheiro Eduardo Celso Carramaschi ( esquerda), que conheceu Pal-meira no fim dos anos 1980, quando se co-meou a difundir na Empresa os conceitos de produtividade e qualidade total.

    Para alcanar o lucro, vrias aes foram implantadas para resolver os problemas estru-turais da Eletrobras Eletronorte, tais como a ca-pitalizao para o pagamento da dvida junto Eletrobras; a transferncia de ativos de transmisso abaixo de 230 kV, conforme prev a legislao; a renegociao de contratos deficitrios; a busca de novas fontes de financia-mentos e a diminuio dos custos operacionais.

    Foi devido s gestes de Jorge Palmeira junto Eletro-bras que a Empresa pde al-canar o lucro que ainda no se registrara na sua histria, confirma Francisco Antnio Al-mendra (ao lado), que foi chefe do gabinete da Presidncia na gesto de Palmeira. Nos meus despachos dirios, eu levava uma pasta com documentos para que ele assinasse. Quando a

    Jorge Nassar Palmeira

    Uma homenagem a

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    24 correntecontnua

    Cir

    cuit

    o In

    tern

    o

  • Amigos e famlia:com eles Jorge cozinhava e cantava

    pasta estava com poucos documentos, eu di-zia: o lojinha hoje no faturou quase nada. E ele respondia: ento se esforce para o lojinha faturar algo mais, recorda.

    Engenharia - Nascido em Belm (PA), em 23 de maro de 1957, Jorge Palmeira buscava desde criana entender a engenharia das coi-sas, ora desmontando os brinquedos da irm, Nadgela, para saber como funcionavam, ora montando e soltando foguetes com os amigos do chamado Clube de Cincias. Os brinquedos da irm nem sempre eram remontados correta-mente, o que a deixava brava, mas os foguetes subiam e desciam intactos.

    Precoce, ingressou aos 16 anos na Uni-versidade Federal do Par no curso de enge-nharia eltrica, poca em que tambm aju-dava os pais, Geraldo e Ivanir, nos negcios familiares. Logo depois, montou sua prpria empresa de projetos de sistemas eletrnicos e de telecomunicaes. A colao de grau como engenheiro ocorreu em 1978, quando, numa comemorao familiar, conheceu Shir-ley, com quem viria a se casar no dia 23 de dezembro de 1980.

    Trs meses depois, comearia tambm o ca-samento, digamos, profissional. Ele comeou a trabalhar na Eletronorte no dia 10 de maro de 1981, que o dia do meu aniversrio. Eu costumo dizer que foram quase 30 anos de ca-samento com o Jorge e de casamento com a Empresa, declara a mdica Shirley Josefa da Silva Palmeira.

    Os frutos do casamento de Jorge e Shirley so Geraldo Manso Palmeira Neto, 24 anos, es-tudante de engenharia mecatrnica, e Mnica da Silva Nassar Palmeira, 21 anos, estudante de arquitetura.

    Metodologias e melhorias - Jorge Palmeira

    comeou trabalhando na manuteno dos sis-temas de proteo e controle eltricos, tendo participado de todos os comissionamentos dos sistemas de transmisso da Usina Hidreltri-ca Tucuru. Apenas seis meses depois de ser contratado, assumiu a gerncia do laboratrio eletroeletrnico.

    Entre os novos colegas de Empresa, fez ami-zades que se perpetuariam por toda a vida, como Joaquim Alves dos Santos e Waldomiro Machado. Ele sempre se destacou na rea operacional, nos treinamentos e no comando das equipes de campo, lembra Joaquim.

    Em 1988, Palmeira foi indicado para a coor-denao da Diviso Tcnica e, no mesmo ano,

    promovido gerncia da Regional do Par. Al-gum tempo depois, em 1991, concluiria o mes-trado em engenharia eltrica.

    O grande salto na carreira viria em 1995, com a indicao para o cargo de diretor de Produo e Comercializao. Em pouco tempo, Jorge Palmeira detectou a necessi-dade de diminuir os ndices de falhas nos equipamentos, desligamentos e custos de manuteno e instituiu um grupo de traba-lho composto por engenheiros especialistas de todas as unidades da Empresa para estu-dar os problemas.

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    25correntecontnua

  • Em 1997, aps a realizao de uma srie de pesquisas, reunies de trabalho, visitas tc-nicas a diversas empresas e participaes em simpsios e seminrios, decidiu-se pela ado-o da metodologia de Manuteno Produtiva Total TPM, efetivada pela Diretoria da Em-presa em 1998. na gesto de Jorge Palmeira que a Empresa obtm a primeira premiao do Instituto Japons de Manuteno da Planta

    JIPM (sigla em ingls). O Insti-tuto a organizao detentora da marca e quem faz as auditorias relativas metodologia nas em-presas em todo o mundo.

    De l para c, os resultados no param de aparecer, com a Empresa tendo obtido sete pre-miaes, alm da identificao e implementao de milhares de melhorias. Todo esse trabalho comeou sob a liderana dele que, como gerente da Regional do Par, ficou responsvel pela

    Secretaria de Controle da Qualidade Total, quando comeou a formao dos multiplica-dores, relembra o assistente da Presidncia, Antnio Carlos Faria de Paiva (acima). Ele co-menta que, por ter comeado a trabalhar na produo, no cho de fbrica, Jorge Palmei-ra evoluiu conhecendo todas as instalaes da Empresa.

    Quando chegava noite em casa, Jorge pe-gava livros para estudar ou ia fazer pesquisas no computador. Ele era muito preocupado com o saber, buscava o conhecimento da cau-sa, relata Shirley.

    O Jorge sempre teve uma competncia extraordinria, era um homem extremamente motivado e motivador. E tinha determinao para melhorar os processos e as condies

    de trabalho. Ele prestou excelentes servios Empresa, principalmente com relao ao TPM, e fez com que a Eletronorte fosse a primeira empresa no mundo a ter uma plan-ta de gerao de energia eltrica a ganhar o Prmio Excelncia do JIPM, acrescenta Almendra.

    A competncia administrativa de Jorge Palmeira trouxe uma contribuio significativa para o crescimento da Eletronorte e estou cer-to de que a sua filosofia ser transmitida para todos os empregados. Jorge Palmeira trouxe uma grande contribuio no s para a Eletro-norte, mas para todo o Setor Eltrico brasileiro. Eu penso que os seus esforos sero reconhe-cidos para sempre, diz o professor Suzuki, au-ditor do JIPM ( esquer-da, com Jorge).

    A aplicao da meto-dologia do TPM foi reto-mada em todas as uni-dades da Empresa aps a posse, em 2008, de Palmeira como diretor-presidente. Ele tambm coautor do livro Flexi-bilizao Organizacional: aplicao de um modelo de produtividade total. At o fim de 2010, a Usina Hidreltrica Tucuru deve participar de auditoria do JIPM e pode ser aprovada como a primeira unidade do setor eltrico mundial a conquistar o Prmio Especial em TPM.

    Honestidade - Zenon Pereira Leito (acima) foi assistente de Jorge Palmeira na Diretoria de Produo e Comercializao. Ele revela que a determinao, competncia e honestidade eram as principais caractersticas do ento di-retor, que no recebia nenhum fornecedor ou interlocutor externo em audincia, visita ou al-moo sem contar com a presena de um dos seus assistentes. Com isso, ele demonstrava que no basta ser honesto, preciso mostrar que honesto. E no dava margem para qual-quer tipo de assdio ou ilao. Um ponto mar-cante do Jorge foi sempre o cuidado e o zelo com o bem pblico, afirma.

    Palmeira era obstinado em evitar perdas, desperdcio, e isso fazia parte do seu dia a dia. Ele trouxe isso de famlia, das suas ori-gens. Quando amos a um restaurante, por exemplo, ele no achava adequado desperdi-ar comida. E na Empresa, da mesma forma, combatia a sobra de material, a sujeira, era

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    26 correntecontnua

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    27correntecontnua

  • fascinado por instalaes limpas, sinalizadas, com as mquinas funcionando direito, re-memora Zenon.

    Com o tempo, os empregados tambm sairiam ganhando ao trabalhar nestas condies. Prova disso foram os ganhos obtidos com a implanta-o do TPM, que tanto bem fez Empresa e aos trabalhadores, que tiveram as suas habilidades e competncias ampliadas, opina Zenon.

    Apesar de parecer duro, Palmeira era sensvel no ntimo, quando as decises en-volviam pessoas. Ele dizia: Zenon, eu estou sofrendo e tenho que tomar esta deciso logo, seno o corao vai falar mais alto. Entre as decises difceis, houve a demisso de em-pregado de uma Regional, que havia levado um poste da Empresa para a sua chcara particular. Aps rigorosa apurao, o colega foi demitido por justa causa. O Jorge no fazia concesses quanto honestidade. S quem o conhecia sabia o quanto lhe doa tomar este tipo de deciso. Eram princpios que ele trazia de bero, dos quais no abria mo. Eu apren-di muito com o Jorge, de quem me tornei um grande amigo.

    Para a secretria-executiva da Presidncia da Eletrobras Eletronorte, Lucimar Viscovini (abaixo), Jorge Palmeira era um exemplo, tanto profissional, quanto pessoal, e uma de suas ca-ractersticas mais marcantes era o entusiasmo pela vida, pelo trabalho, pela famlia, pelos ami-gos e colegas. Ele me ensinou que o significa-do da palavra entusiasmo ter o divino dentro de si. E aprendi isso na prtica, vendo o seu entusiasmo, persistncia, obstinao.

    Numa viagem com a famlia, Jorge aca-bou pregando uma pea num guarda ro-dovirio, mal-intencionado, ao parar numa blitz. Ele dirigia um veculo Besta (acima, direita), mas no sabia que precisava de ha-bilitao especial. Depois de muita conversa, o guarda disse: o senhor vai ali ao banhei-

    ro, deixa alguma coisa para gente. E ele, honesto, achava um horror corromper, foi ao banheiro, pegou uma nota de um real, enro-lou e deixou, dizendo que era para o guarda aprender. E fomos embora. Quando chegou a Braslia, ele tirou a habilitao para dirigir aquele tipo de veculo, conta Shirley.

    Outro aspecto essencial da personalidade de Jorge Palmeira citado por quem o conhecia no ntimo era a f que possua em Nossa Senhora das Graas, tambm conhecida como Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Ele era uma pessoa espiritualizada, tinha muita f em Nos-sa Senhora e nunca faltou ao Crio de Nazar, comenta Shirley (abaixo, com Jorge).

    Famlia - Por fora de suas obrigaes, Jorge Palmeira viajava constantemente, mas dedicava especial ateno e carinho para com a famlia. No importava se ele passa-

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    26 correntecontnua

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    27correntecontnua

  • va a semana inteira trabalhando ou viajando, no sbado ele tinha que estar em casa com a famlia. Mesmo que no domingo precisasse viajar, recorda Shirley.

    Em casa, brincava com os filhos e os au-xiliava nas tarefas escolares. claro que os brinquedos favoritos eram os eltricos e de circuitos eletrnicos. Ele me dava aulas de fsica e matemtica, era muito bom nisso. E dominava o ingls, francs e espanhol, conta o filho Geraldo.

    Meu pai sempre foi meio menino, gostava de jogar com a gente, de tocar violo e cantar. Quando ramos criana, amos para a Disney

    e esse era um dos seus programas favoritos, lembra Mnica.

    Cozinheiro de mo cheia, Jorge Palmeira preparava receitas de comida rabe, como quibe, charuto, homus, terrine. Fazia churras-co, bacalhau ao forno e uma receita especial que a filha adorava: pernil de porco ao molho de amoras.

    Foi o pai quem ensinou os primeiros acordes de violo aos filhos, depois que eles compraram as cordas para o instrumento que vivia encosta-do num canto da casa. E depois que aprende-ram, no pararam mais, tocavam horas juntos.

    O inseparvel amigo Joaquim ( esquerda, com Jorge ao violo) sempre participava da cantoria. Fale um autor, um cantor, ou uma cano, no importa, o que vier a gente canta, lembra Joaquim, completando que Palmeira gostava de samba, MPB e entre os composito-res favoritos estava Ataulfo Alves.

    Os prazeres dele eram trabalhar, comer e cantar. Ele gostava muito de cozinhar, de reu-nir a famlia, os amigos, enfim, de animao. E isso fazia com que ficssemos juntos, era muito prazeroso, lembra Shirley.

    Doente de cncer, Jorge Palmeira trabalhou at o ltimo dia. Faleceu em 10 de agosto de 2010, em Braslia. Ocupou mltiplas funes e teve uma vida intensa, assim como as canes de que tanto gostava, como a indefectvel com-posio de Ataulfo: leva meu samba... meu mensageiro... este recado... para o meu amor primeiro...

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    28 correntecontnua

    Na galeria dos Presidentes da Eletrobras Eletronorte

  • entr

    evis

    ta

    A Eletrobras est estudando a entrada em novos negcios de gerao e transmisso em parceria com os pases vizinhos da Amrica do Sul e buscando oportunidades de cresci-mento no mercado energtico nacional, ao mesmo tempo em que trabalha a sustentabi-lidade empresarial. Uma dessas aes prev a capitalizao da Eletrobras Eletronorte em R$ 1,2 bilho para investimentos em novos empreendimentos, informa Armando Casado de Arajo (acima, em apresentao na Api-mec), diretor Financeiro e de Relaes com Investidores da Eletrobras, que participou re-centemente de uma srie de apresentaes para entidades representativas do mercado de capitais. Confira este e outros assuntos nesta entrevista de Armando Casado, que empre-gado de carreira da Empresa desde 1977.

    Quanto a Eletrobras est investindo hoje na expanso dos sistemas eltricos?Na gerao, os investimentos feitos hoje

    pelas companhias controladas somam R$ 13 bilhes, que vo possibilitar a agregao ao sis-tema de 2.385 MW. Em parcerias, os investi-mentos em novos negcios passam de R$ 30,4 bilhes, que vo representar um aumento de 8.409 MW na capacidade instalada. Na trans-misso, os investimentos passam de R$ 10 bi-lhes e vo possibilitar a expanso de linhas em mais de oito mil quilmetros.

    A empresa est satisfeita com os resultados da sua participao nos leiles de gerao e transmisso? A Eletrobras est no mercado em igualda-

    de de condies de disputar, ganhar, montar e operar novos negcios, quer seja corporati-vamente, quer seja em parceria. Ns temos a obrigao de cobrir o custo de capital prprio, que vai dar aos acionistas os dividendos reque-ridos. Na parte de governana, estamos pro-curando adotar um padro de excelncia para melhorar as questes estratgicas e operacio-nais da companhia. Ns estamos trabalhando para que sejamos a maior empresa produtora de energia eltrica limpa do Brasil at 2020.

    Armando Casado de Arajo

    Diretor Financeiro e de Relaescom Investidores da Eletrobras

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    29correntecontnua

  • Recentemente, o governo criou novas regras para dar maior mobilidade e possibilitar a expanso da Eletrobras. Que resultados a empresa j alcanou?O processo de mudana do mercado foi fun-

    damentado em quatro pressupostos bsicos: instalao de um ambiente de competio, desverticalizao das empresas eltricas, livre acesso s linhas de transmisso e a entrada da iniciativa privada nas atividades de gerao, transmisso e distribuio, tendo como um dos principais objetivos obter recursos financeiros necessrios para o aumento da produo. nesse contexto que ns, do Sistema Eletrobras, nos inserimos, buscando em p de igualdade ganhar em leiles negcios de gerao e trans-misso. Temos tido xito na busca de novos empreendimentos.

    Como est o processo de capitalizao da Eletrobrs? Quando, como e por que a capitalizao ser feita?Na prtica, o processo de capitalizao

    j produziu os seus efeitos nas empresas, na medida em que converteu dvidas das compa-nhias em adiantamento para o futuro aumento de capital. Isto fez com que a Eletrobras Eletro-norte, por exemplo, que foi capitalizada em R$ 4,1 bilhes, passasse a dar lucro, uma vez que reduziu drasticamente as despesas financeiras de emprstimos e financiamentos. Outro im-pacto positivo para a Empresa decorrente des-sa capitalizao, e, consequentemente, para a Eletrobras, foi o aproveitamento dos crditos tributrios constitudos durante todo o perodo de prejuzos acumulados.

    Que outros fatores possibilitam o lucro da Eletrobras pela primeira vez? Um conjunto de fatores possibilitou esse

    resultado. Podemos citar, por exemplo, a re-pactuao de toda a dvida remanescente com a Eletrobras; o saneamento dos dficits sistemticos que a Empresa vinha sofrendo com os sistemas isolados; a Lei 12.111, que corrigiu um dficit estrutural pelo qual a Em-presa no tinha gesto; a transferncia dos ativos abaixo de 230 kV para as distribuidoras e a prpria capitalizao.

    A participao em SPEs ajuda nesse resultado positivo? Quais os prximos passos?Quando os projetos das SPEs entrarem em

    operao comercial iro aumentar os lucros da Eletrobras Eletronorte, fazendo com que os

    dividendos pagos cheguem aos acionistas da Eletrobras. Da emerge um crculo vicioso de re-sultados positivos, fazendo com que a holding possa alavancar recursos, tanto no mercado de dvidas, quanto no mercado de capitais, visan-do dar condies a novas expanses e contri-buindo de forma significativa para a agregao fsica do sistema eltrico brasileiro. Ainda resta resolver o problema do Amap e a transferncia da Eletrobras Distribuio Roraima, mas os pr-ximos passos agora vo ao caminho da melhoria da gesto. Para tanto, a Eletrobras concluiu em conjunto com suas empresas o Planejamento Estratgico do Sistema Eletrobras, para que possamos atuar de forma competitiva, rentvel e integrada.

    Explique um pouco mais as melhorias de gesto.Est em curso a elaborao do Plano de Ne-

    gcio de cada empresa, focando a gesto de seus negcios de gerao, transmisso e distri-buio, permeando os aspectos administrativo, econmico-financeiro, tcnico e operacional. Outro instrumento de gesto relevante o Contrato de Metas de Desem-penho Empresa-rial, que contm um conjunto de indicadores econmico-f i-nanceiros, ope-racionais e de sustentabilidade empresarial, com viso de cinco anos. Por fim, o or-amento empresarial to importante para o controle gerencial das contas da empresa.

    elet

    robr

    asel

    etro

    nort

    e

    30 correntecontnua

  • Em relao ao processo de internacionalizao da Eletrobras, quanto a Empresa pretende investir fora do Pas? Como rebate as crticas de que o Brasil necessita de investimentos antes de a Eletrobras investir l fora? A Eletrobras tem acompanhado o panorama

    mundial da internacionalizao das empre-sas do setor eltrico e seus reflexos no Brasil. Muitas outras empresas de outros pases esto investindo no Brasil e em outras partes do mun-do, como AES, ISA, Iberdrola, E-ON, EDP, GDF Suez, Endesa, EDF. Nosso objetivo entrar em negcios de gerao e transmisso, prefe-rencialmente na Amrica do Sul, Central e do Norte, com rentabilidade compatvel com com-petidores internacionais versus oportunidade no mercado nacional, bem como construir no exterior uma plataforma sustentvel de cresci-mento, com agregao de conhecimento e de-senvolvimento de competncias. Dessa forma, os investimentos no exterior, quando vierem a ocorrer, no sero competitivos com os investi-mentos no Brasil. So operaes complemen-tares que visam ao crescimento do Sistema Ele-trobras com o aumento da sua rentabilidade.

    As distribuidoras de energia eltrica ainda so muito deficitrias. Quais os planos para recuperar estas empresas?Aqui tambm algumas medidas estruturais

    esto em curso, como as interligaes do Acre-Rondnia e Tucuru- Macap-Manaus, interli-gando as distribuidoras desses estados ao Sis-tema Interligado Nacional SIN. Alm disso, a Lei 12.111 ir reparar os mesmos problemas que a Eletrobras Eletronorte vinha sofrendo. No campo da gesto, medidas esto sendo imple-mentadas para melhorar o desempenho eco-nmico financeiro, visando alcanar os nveis

    regulatrios exigidos pela Aneel. E estamos finalizando uma cap-

    tao de US$ 500 milhes de dlares para implementao de tecnologias para melhoria da eficincia operacional e qualidade dos servios.

    O senhor empregado de carreira da Eletrobras Eletronorte e hoje est frente de uma das diretorias da Eletrobras. Que mensagem deixa aos nossos empregados? O Sistema Eletrobras conta com 27 mil em-

    pregados. uma fora de trabalho e tanto. Se cada um fizer a sua parte, ou at mesmo algo mais, podemos pensar grande. Nessa entrevis-ta tive a oportunidade de deixar algumas men-sagens nas quais acredito. A Eletrobras uma empresa que tem suas aes negociadas em todo o mundo via Bolsa de Valores de So Pau-lo, de Nova York e de Madrid. Alm disso, tem investidores de ttulos de dvidas em todas as praas de negociao do mundo. Todos estes acionistas e investidores conhecem nossas em-presas e cobram resultados. A transparncia de nossas informaes, a clareza dos nossos negcios, a rentabilidade de nossos investi-mentos, enfim, a governana corporativa e a sustentabilidade empresarial so fundamentais para a perpetuidade de nossas empresas, per-petuidade esta somente possvel com a partici-pao de todos os colaboradores que compe o Sistema Eletrobras.

    E para os colegas da Eletrobras Eletronorte? No posso perder a oportunidade de falar um

    pouco da nossa Empresa, da qual sou emprega-do desde 1977. Durante muitos anos operamos no prejuzo em prol do desenvolvimento do Nor-te do Pas. Fomos gigantes diante dos desafios que nos deram. Assumimos parques trmicos em condies precrias, construmos Tucuru e renegociamos os contratos com os consumido-res eletrointensivos. Contribumos tambm para diminuir o racionamento de energia de 2001, bem como para o equacionamento dos proble-mas estruturais existentes nos sistemas isola-dos. Estudamos Belo Monte, que hoje uma realidade. So apenas algumas lembranas. Na Eletrobras Eletronorte tenho muitos amigos dos quais partilho minha vida social. Digo tudo isto porque sei da capacidade da Empresa de enfrentar desafios. E temos um novo caminho pela frente, que estar presente no mercado de energia em igualdade de condies com o