a efetividade dos direitos humanos pelo...

200
FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM GESTÃO DE POLÍTICAS PREVENTIVAS DA VIOLÊNCIA, DIREITOS HUMANOS E SEGURANÇA PÚBLICA. Márcio SILVA GONÇALVES A EFETIVIDADE DOS DIREITOS HUMANOS PELO A EFETIVIDADE DOS DIREITOS HUMANOS PELO ATENDIMENTO POLICIAL - EDUCAÇÃO COMO FORMA DE ATENDIMENTO POLICIAL - EDUCAÇÃO COMO FORMA DE HARMONIZAÇÃO. HARMONIZAÇÃO. 

Upload: truongkien

Post on 30-Aug-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • FUNDAOESCOLADESOCIOLOGIAEPOLTICADESOPAULO

    CURSODEPSGRADUAOLATOSENSUEMGESTODEPOLTICAS

    PREVENTIVASDAVIOLNCIA,DIREITOSHUMANOSESEGURANA

    PBLICA.

    MrcioSILVAGONALVES

    AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOAEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELO

    ATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADEATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADE

    HARMONIZAO.HARMONIZAO.

  • Introduo

    SoPaulo

    2008

    2

  • MrcioSILVAGONALVES

    AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOAEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELO

    ATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADEATENDIMENTOPOLICIALEDUCAOCOMOFORMADE

    HARMONIZAO.HARMONIZAO.

    Monografia de concluso de Curso de Ps

    Graduao, sob orientao do Coronel PM

    LuizdeCastroJunior.

  • SoPaulo

    2008

  • FolhadeAprovaoFolhadeAprovao

    MrcioSILVAGONALVESMrcioSILVAGONALVES

    AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTOAEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTO

    POLICIALEDUCAOCOMOFORMADEHARMONIZAO.POLICIALEDUCAOCOMOFORMADEHARMONIZAO.

    Conceito:Conceito:

    BancaExaminadoraBancaExaminadora

    Professor(a)_____________________________________Professor(a)_____________________________________

    Assinatura:__________________________________Assinatura:__________________________________

    Professor(a)_____________________________________Professor(a)_____________________________________

    Assinatura:__________________________________Assinatura:__________________________________

    Professor(a)_____________________________________Professor(a)_____________________________________

    Assinatura:__________________________________Assinatura:__________________________________

    DatadaAprovao:DatadaAprovao:

  • Dedicatria

    A minha Famlia, pelo apoio, pacincia,

    dedicao, esperana, compartilhamento e

    estmuloparaseguiradiante,mesmocomas

    vicissitudesdavida.

    ATodosquedealgumaformacontriburam

    com incentivo e fora, sem qual se tornaria

    maisdifciltransposiodosobstculosnos

    momentosdifceis.

  • Agradecimentos

    Ao Deus, fora criadora de todos os

    homens, que nos concedeu o dom do livre

    arbtrio para as escolhas que fazemos

    diariamenteemnossasvidas.

  • HISTRIAESOCIEDADE

    A histria vital para a formao da

    cidadania porque nos mostra que para

    compreender o que est acontecendo no

    presente preciso entender, quais foramos

    caminhos percorridos pela sociedade

    brasileira; seno parece que tudo comeou

  • quando tomamos conscincia das nossas

    vidas.

    HistoriadoBrasilporBorisFausto2002.

    9

  • PREFCIOPREFCIO

    OpresentetemadesenvolvidopeloalunoMrcioSilvaGonalves,A

    efetividadedosDireitosHumanospeloatendimentopolicialEducaocomoforma

    de harmonizao atende plenamente os princpios tratados no Curso de Ps

    GraduaoLatoSensuemGestodePolticasPreventivasdaViolncia,Direitos

    Humanos e Segurana Pblica, pois a pesquisas realizadas forampautadas na

    verificao dos aspectos positivos e negativos que envolvem os atendimentos

    voltadosaopblicoemgeral,realizadospelasDelegaciasdePolcia.OAutortraa

    umparaleloentreosfundamentosqueregemosDireitosHumanoseacondutados

    agentesdareadeseguranapblica,baseadasnospreceitosdaboaeducao,

    poisnaverdadeapreservaodaintegridadefsicaedignidadedaspessoas,so

    conceitosquedevemsersedimentadosduranteainfnciaeadolescncia,assim,se

    acreditaqueopapeldafamliadesumaimportnciaparaaconstruodeuma

    sociedadepromissora.Oatendimentodosanseiosdoscidados,noestsomente

    focadoemnormas legaiseregrasestabelecidaspelas instituiespoliciais, mas

    tambmdeveexistir sensibilidadeporpartedeseusprofissionais, nosentidode

    entender que as pessoas que buscam os servios na rea de segurana, no

    momento emque figuramcomovtimasdeumdelito, seencontram fragilizadas

    pelostraumasdecorrentesdaviolnciaaqualforamexpostas,momentoemque

    alimentamexpectativadequeoEstado, representadopelospoliciais, recepcione

    suassolicitaeseadotemasprovidnciasquepermitamemumprimeiroinstante,

    satisfazer os interesses da vtima e seus familiares. Diante dessa premissa,

    parabenizo o Autor, pela dedicao ao desenvolver uma Obra que contemple

    aspectosquedevemserestudadoseaplicadospelasinstituiespoliciais.

    LUIZDECASTROJUNIOR

  • Orientador

    11

  • RESUMORESUMO

    AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTOPOLICIALatualmenteumadasmaioresnecessidadesparaosagentespoliciaisnoexercciodosDireitosHumanos todifundidosnosculoXX. Partindo dapremissaqueoagentedeseguranapblica tempapel fundamentalnagarantiadessesdireitos,principalmenteparaaSociedade,ondesepercebeumsensocomumdequeaspolciaseseusagentessoaquelesquemaisferemosdireitosfundamentais,umadasvriasrazespelaqualapopulaoadquirepreconceitos,gerareclamaes,dennciaseatmesmoantipatiaportonobreprofisso.OobjetivodestetrabalhoverificarsenaprticadiriadospoliciaisquetrabalhamnasDelegaciasdePolciasoutilizadasasteoriasministradasnoscursosdeformaoeadquiridasaolongoda sua vida acadmica. A EDUCAO COMO FORMA DE HARMONIZAOpoder ser um instrumento efetivo para o exerccio e gozo pleno dos DireitosHumanospor parte dosagentesdeseguranapblica. Nossomtodoser pelaanlisehistricadaformaodopovobrasileiro,dainstituiodaPolciaJudicirianoBrasil, complementandocomestudosqueenvolvemaquestodaseguranapblica, mdia, violncia e criminalidade. O resultado esperado ser verificar seexistecorrelaorealdaaplicaodosconceitosedoutrinasdeDireitosHumanosno exerccio do trabalho policial, mediante o servio prestado nos plantes dasDelegacias de Polcia na capital do Estadode So Paulo. Tendoemvista queanualmente as reclamaes sobre mauatendimento e desrespeito aos DireitosHumanosgeramaltosndicesnegativos,querefletemnaaltaestimaenotrabalhopolicial.Paraissoserutilizadodadosempricos,entrevistas,pesquisasdecampo,materiaisimpressosdediversosautores,organizaescivisepblicasalmdeumavisodosprpriospoliciaissobreDireitosHumanoseatendimentopolicial.

    Palavraschave:DireitosHumanos,atendimentopolicial,educao.

  • ABSTRACTABSTRACT

    TheeffectivenessofthehumanrightsthroughpoliceattendanceisintheactualityoneofthemostneedsforthepoliceofficersinHumanRightsexercisesodefundedin20thCentury.Onfromtheideathattheagentofpublicsafetyhasfundamentalrolein order to guarantee these rights, mainly for thesociety where canbenotedacommon sense that police forces and officers are those who ignore more thefundamentalrights, which isoneofseveralreasonsthat leadstopreconceptions,generatecomplains, accusationsandevenantipathy tosonobleprofession. Theobjectiveofthepresentresearchworkistoverifyifthetheorylearnedinformationcoursesandthoseacquiredduringtheacademiclifeareusedinthedailypracticebythe officers that work in Police Stations. That EDUCATION AS ANHARMONIZATIONFORMcouldbeaneffectiveinstrumenttothefullexercitationandjoy of theHumanRights by theagents of Public Safety. Our methodwill bebyhistorical analysis of the formation of the Brazilian people, the establishment ofJudicialPoliceinBrasil,complementingwithresearchesthatinvolvethematterofpublicsafety,media,violenceandcriminality.ExpectedresultwillbeifthereisrealcorrelationbetweentheapplicationoftheHumanRightsconceptsanddoctrinesinlawenforcement, trough the service offered in Police Stations work shifts in thecapital of So Paulo State. Considering that annually complains about badattendance and disrespect of Human Rights generate high negative levels, thatreflectinselfesteemandpolicework.Inordertoachievethatitwillbeusedempiricdata,interviews,fieldresearch,publishedmaterialsfromseveralauthors,civilianandpublicorganizationsbesidesthepointofviewof thepoliceofficersaboutHumanRightsandsocialattendance.

    Keywords:HumanRights;policeattendance;education

  • LISTADELISTADEILUSTRAESILUSTRAES

    FIGURA1VOTODECABRESTO.......................................................32

    FIGURA2ERNESTBURGESS...........................................................41

    FIGURA3TEORIADASZONASCONCNTRICAS...........................41

    FIGURA4OCORRNCIASNOMUNICPIODESOPAULO...........44

    FIGURA5ORGANOGRAMADAPOLCIACIVILDESOPAULO...69

    FIGURA6VISTAFRONTALDOPLANTOPOLICIALDO9DP.....91

    FIGURA7ORGANOGRAMADASEGURANAPBLICA..............145

    FIGURA8CURSOESPECIALDEATENDIMENTOAOCIDADO

    GAP......................................................................................................146

    FIGURA9CARTILHASPRODUZIDASPELOSEDHPR................147

    GRFICO1CARREIRASPOLICIAIS...............................................195

    GRFICO2TEMPONACARREIRA................................................195

    GRFICO3LOCALQUETRABALHA.............................................195

    GRFICO4EXERCEAATIVIDADE................................................195

    GRFICO5FAIXASALARIAL.........................................................195

    GRFICO6FORMAO..................................................................195

    GRFICO7SALRIOJUSTO?....................................................196

    GRFICO8COMPLEMENTODOSALRIO...................................196

    GRFICO9SALUBRIDADE.............................................................196

    GRFICO10DEIXARIAAPOLCIA?..............................................196

  • GRFICO11MOTIVOSDAQUESTO10......................................196

    GRFICO12SABED.HUMANOS?.................................................196

    GRFICO13D.HPARAASPOLCIAS?.........................................197

    GRFICO14ATENDIMENTO...........................................................197

    GRFICO15SUGESTES...............................................................197

    GRFICO16SUGESTESSOOUVIDAS?..................................197

    GRFICO17REALIZAOPROFISSIONAL..................................197

    GRFICO18TREINAMENTO...........................................................197

    GRFICO19RELACIONAMENTOC/SUP......................................198

    GRFICO20RAZESPARAFICARNAPC...................................198

    TABELA1RELATRIODOANODE2007DAOUVIDORIADESO

    PAULO...................................................................................................87

    15

  • LISTADEABREVIATURASESIGLASLISTADEABREVIATURASESIGLAS

    SIGLA SIGNIFICADO

    ACADEPOL AcademiadaPolciaCivildeSoPaulo

    CDHU CompanhiaHabitacionaldeDesenvolvimentoUrbano

    CEP CaixaEletrnicoPolicial

    CF ConstituioFederal

    CIC CentroIntegradodaCidadania

    CMDH ComissoMunicipaldeDireitosHumanos

    CONDEPE ConselhoEstadualdeDefesadosDireitosdaPessoaHumana

    CONSEG ConselhodeSeguranadaComunidade

    CP CdigoPenal

    CPP CdigodeProcessoPenal

    DECAP DepartamentodaCapital

    DOP DivisodeOperaesEspeciais

    DP DistritoPolicialouDelegaciadePolcia

    FESPSP FundaoEscoladeSociologiaePoltica

    FUNDAP FundaodoDesenvolvimentoAdministrativo

    GAP GestodeAtendimentoaoPblico

    GCM GuardaCivilMetropolitanadeSoPaulo

    ILB InstitutoLegislativoBrasileiro

    IPP InstitutoPrPolcia

    LICC LeideIntroduodoCdigoCivil

    LOPC LeiOrgnicadaPolciaCivil

    MJ MinistriodaJustia

    NAQP NcleodeAvaliaodeQualidadedeAtendimento

    OAB OrdemdosAdvogadosdoBrasil

    OEA OrganizaodosEstadosAmericanos

    ONG OrganizaoNoGovernamental

    ONU OrganizaodasNaesUnidas

  • PAT ProgramadeAtendimentoaoTrabalhador

    PMESP PolciaMilitardoEstadodeSoPaulo

    PMSP PrefeituraMunicipaldeSoPaulo

    PROCON FundaodeDefesadoConsumidor

    PRONASCI ProgramaNacionaldeSeguranaPblicacomCidadania

    PSIU ProgramadeSilncioUrbano

    RCI RegistroCivildeIdentidade

    SAFI ServiodeAvaliaoFuncionaleInstitucional

    SAP SecretariadeAdministraoPenitenciria

    SAR ServiodeAtendimentoaoReclamante

    SEDHPR SecretariaEspecialdeDireitosHumanosdaPresidnciadaRepblica.

    SENASP SecretariaNacionaldeSeguranaPblica

    SSP SecretariadaSeguranaPblica

    SUSP SistemanicodeSeguranaPblica

  • SUMRIOSUMRIO

    FOLHADEAPROVAO......................................................................5

    MRCIOSILVAGONALVES...............................................................5

    AEFETIVIDADEDOSDIREITOSHUMANOSPELOATENDIMENTO

    POLICIALEDUCAOCOMOFORMADEHARMONIZAO..........5

    CONCEITO:.............................................................................................5

    BANCAEXAMINADORA........................................................................5

    PROFESSOR(A)_____________________________________.........5

    ASSINATURA:__________________________________...................5

    PROFESSOR(A)_____________________________________.........5

    ASSINATURA:__________________________________...................5

    PROFESSOR(A)_____________________________________.........5

    ASSINATURA:__________________________________...................5

    DATADAAPROVAO:.......................................................................5

    PREFCIO............................................................................................10

    RESUMO...............................................................................................12

    ABSTRACT...........................................................................................13

    LISTADEILUSTRAES....................................................................14

    LISTADEABREVIATURASESIGLAS...............................................16

  • SUMRIO..............................................................................................20

    INTRODUO......................................................................................23

    INTRODUO......................................................................................23

    1HISTRIADAFORMAODOBRASILEDASOCIEDADE ........... 31

    2ASPOLCIAS ..................................................................................... 61

    3EDUCAOEFORMAOPOLICIAL ............................................. 75

    4CIFRASNEGRASEOATENDIMENTOPOLICIAL ........................... 84

    5COMOFUNCIONAUMADELEGACIADEPOLICIAEMSP ............. 90

    6APOLCIAEASLEIS ...................................................................... 100

    7DIREITOSHUMANOSPARAASPOLCIAS ................................... 117

    8SOLUESPOSSVEISEMCURTOPRAZO ................................. 126

    CONCLUSO......................................................................................148

    CONCLUSO......................................................................................148

    REFERNCIAS...................................................................................164

    REFERNCIAS...................................................................................164

    APNDICEAENTREVISTACOMCOORDENADORDOCENTRO

    DEANLISESEPLANEJAMENTODASECRETARIADE

    SEGURANAPBLICADOESTADODESOPAULOTLIO

    KHAN...................................................................................................173

    APNDICEAENTREVISTACOMCOORDENADORDOCENTRO

    DEANLISESEPLANEJAMENTODASECRETARIADE

    21

  • SEGURANAPBLICADOESTADODESOPAULOTLIO

    KHAN...................................................................................................173

    APNDICEBENTREVISTACOMOOUVIDORDASPOLCIASDA

    SECRETARIADESEGURANAPBLICADOESTADODESO

    PAULOANTNIOFUNARIFILHO.................................................184

    APNDICEBENTREVISTACOMOOUVIDORDASPOLCIASDA

    SECRETARIADESEGURANAPBLICADOESTADODESO

    PAULOANTNIOFUNARIFILHO.................................................184

    APNDICECQUESTIONRIOAPLICADOSOBREATENDIMENTO

    POLICIALEGRFICO........................................................................193

    APNDICECQUESTIONRIOAPLICADOSOBREATENDIMENTO

    POLICIALEGRFICO........................................................................193

    22

  • Sumrio

    INTRODUOINTRODUO

    No sculo XX, aps duas grandes Guerras Mundiais, a civilizao

    Ocidental percebeu que havia a necessidade de controlar o instinto natural do

    homemdepossuiredesesobreporsobreosdemaisseresdoplaneta,inclusiveaos

    seussemelhantes.

    No perodo antecessor dessas Guerras, monarcas e governantes

    impunhasuavontadenicasobreosdemais,sujeitandoosaosmartriosdeuma

    vidasemqualquertipodedireito.

    Documentos antigos prmedievais como a Carta ao Rei Joo Sem

    Terra1,jtentavamlimitarospoderesdosoberano,queporsuavontadeditavaos

    conceitosdojustoedoinjusto.

    NaevoluodedireitosautorescomoBeccariaeFoucault2entreoutros,

    denunciavamosabusosdessesgovernantescontraumapopulaoindefesaesem

    instruo,ansiosaspormudanasemsuasvidasresumidasapenasnotrabalhoe

    naservido.

    ComadecadnciadoAbsolutismoeaexpansodoMercantilismoedo

    mundoconhecido,novosconceitosedoutrinasretiraramdasmosdosimperadores

    esoberanosadefiniodosensodejustia,surgianovasigualdadesedireitos.

    1MagnaCarta(MagnaChartaLibertatum)Redigidaemlatimbrbaro,aMagdaCartaLibertatumseuConcordiaminterregemJohannenatbaronesproconcessionelibertatumecclesiaeetregniangliae(Cartamagnadasliberdades,ouConcrdiaentreoRetiJooeosBaresparaaoutorgadasliberdadesdaIgrejaedorei ingls)foiadeclaraosolenequeoreiJoodaInglaterra,ditoJooSemTerra,assinou,em15dejunhode1215,peranteoaltocleroeosbaresdoreino.2CesareBonesana,marqusdeBeccaria(Juristaeeconomistaitaliano),(17381794).JuristaeeconomistaitalianonascidoemMilo,cujasidiasinfluenciaramodireitopenalmoderno.PaulMichelFoucault,(Filsofo).(19261984).AutordaobraSurveilleretpunir(1975;VigiarePunir)amploestudosobreadisciplinanasociedademoderna,paraele,"umatcnicadeproduodecorposdceis".Oinstintodaprisoteriaporobjetivoomarginaldoproletariadoeassimreduzirasolidariedadeeoprocessodaclasseinferior;confinandoasilegalidadesdaclassedominada,sobreviveriammaisfacilmentesilegalidadesdaclassedominante.

  • Introduo

    ORenascimentofoifenmenotransformadordepensamentosementes,

    seexpandindopor todoomundoOcidental, inclusivenoNovoMundode terras

    recmdescobertaspeloNovoHomem3.

    AascensodoSistemaMercantilista criouummundonovoondeno

    somente o sangue azul predominava, havia influncias de indivduos que

    sobrepujavamosinteressesdasNaes,grandesCompanhiasdeComrcio4foram

    criadas, a nova burguesia fomentava o comrcio mundial trazendo uma nova

    reflexosobredireitossclassesdiferentesdosnobresereligiosos.

    Paraatendersexpectativasdessenovopoderqueevoluarapidamente,

    o Capitalismo foi a soluo que mais se amoldou aos interesses dos novos

    poderosos,umsistemavoltadoaoacmuloderiquezas,valorizandoohomempela

    suafortunaenopeloseutrabalho,umambienteondeoindividualismoeraaregra

    eacoletividadeesolidariedadeexcees.

    Novamente o simples homemse viu frente no mais ao Absolutismo

    Monrquico, mas sim de um Individualismo Capitalista representados pelos

    senhoresdo comrcio, ondeas nicassemelhanasentre os sistemaseramas

    negaesdosdireitosbsicos,descartavamsevidaseliberdadesparaseconseguir

    maislucroseprestgio.

    Nesseesteio,apssculosdelutasparaseconseguirosexercciosdos

    direitos bsicos, como vida e liberdade e, aps a deflagrao de duas guerras

    mundiais, representantes das naes de diversos pases reuniramseem24de

    outubrode1945,paraformularregrasmnimasdecondutahumana.

    Essas regras serviriamnomais para umacoletividade localizadaem

    determinadanao,massimparatodososhabitantesdoglobo,ondeasgarantias

    3ONovoHomemeramoldadonafilosofiadarazosobreaf,profundamenteimpregnadopelaidiadequearazohumanadeveiluminar,darvidaaosindivduosesociedadessobreafacedaTerra.4SocompanhiasdecapitalprivadosurgiramnaInglaterra,nosculoXVI,entreelasadosComerciantesAventureiros,quefoitransformadanaCia.daMoscviaouCia.Russa,em1555.OutrafoiaCia.deVeneza,em1583,eaCia.dasndiasOrientais,constitudapelosinglesesem1600.Essacompanhiapossuaomonoplio,noReinoUnido,docomrciocomasndiasOrientaisesetornoumaispoderosaem1763(TratadodeParis),quandoasvitriasdeClivefizeramosfrancesesabandonaremandia.NaHolanda,destacouseaCia.HolandesasdasndiasOrientais,formadaem1602pelauniodeseisgruposquevinham,isoladamente,realizandoocomrciocomoOriente.Passouateromonopliodenavegao,comercioeadministraodasregiesdoOriente, cabendoaoEstadosupervisionla. PossuatodosospodereseprivilgiosdeumEstadoSoberano,masemnomedaRepblicadasSeteProvnciasUnidas.Em1621foifundadaaCia.HolandesasdasndiasOcidentais,comomonopliodocomrciodaAmrica,costaocidentaldafricaeOceanoPacficoalestedasMolucas.

    24

  • Introduo

    mnimasvaleriamemqualquerlugareemqualquertempo,portanto,nascemnesse

    momentoosprincpiosmodernosdosDireitosHumanosformuladopelaOrganizao

    dasNaesUnidas5.

    NosculoXXI,apsmaisdecincodcadasdapromulgaodaCartados

    DireitosdoHomempelasNaesUnidas,asmaioriasdosseusprincpiosesto

    explcitosemquasetodasasConstituiesdomundoocidental.

    Paraefeitodeestudo,essesdireitossedesdobramesoclassificados

    por geraes6, evoluindo conforme as necessidades da Sociedade Universal e

    garantemomnimodedireitosnecessrios,paraqueohomemnopercaasua

    naturezahumana.

    Piovesan(2007:4142)destacaquesteshistricassobreaaplicaoe

    exercciorealdessesdireitosentreuniversalistaserelativistas,osprimeirosdiziam

    queummesmodireitodeveriavalercommesmopesoemqualquerpartedomundo,

    j ossegundosdefinemqueasquestesculturaisdaformaodeumpovoso

    influenciadorasdepercepesdiferentessobreoqueseconsideradireito.

    Paraqueumdireitosejarealmenteexercitadoemsuaplenitude,devese

    definir quais deles realmente tm importncia para esta ou aquela sociedade,

    garantindosequecadaculturaeseupovopossuamseuprprio discursosobre

    quaisdireitosfundamentaismaisseamoldamaosseusanseiosedesejos.

    Essas discusses trouxeram divergncias sobre o reconhecimento da

    existnciadevriostiposdeDireitosHumanosequaisdelesserviriamemtodasas

    partesdoglobo.

    5Fundadaem24deoutubrode1945,nacidadedeSoFrancisco(CalifrniaEstadosUnidos),aONU(OrganizaodasNaes Unidas) uma organizao constituda por governos damaioria dos pases domundo. a maior organizaointernacional, cujoobjetivo principal criar ecolocar emprtica mecanismos quepossibilitemasegurana internacional,desenvolvimentoeconmico,definiodeleisinternacionais,respeitoaosdireitoshumanoseoprogressosocial.6DireitosHumanosdePrimeiragerao:direitoscivisepolticoscompreendemasliberdadesclssicas,realamoprincpiodaliberdade.DireitosHumanosdeSegundaGerao:direitoseconmicos,sociaiseculturais,identificamsecomasliberdadespositivas, reais ou concretas e acentuam o princpio da igualdade. Direitos Humanos de Terceira Gerao: titularidadescoletivasconsagramoprincpiodafraternidade,englobaodireitoaomeioambienteequilibrado,umasaudvelqualidadedevida,progresso,paz,autodeterminaodospovoseoutrosdireitosdifusos.DireitosHumanosdeQuartagerao:referesebiogentica,etc.(Fonte:http://www.dhnet.org.br/direitos/militantes/tertuliano/dhnaidademoderna.html)

    25

  • Introduo

    Superadaestafase,entendeseatualmentequeosprincpiosuniversais

    soaquelesvoltadosparaumanecessidademnimadevida,liberdade,cidadania

    entreoutros,quepossamtrazerpazaohomem.

    Uma anlise da abrangncia universal, decorrente de um ambiente

    multiculturalaplicadoemcadapastornasenecessriaparaexplicitarquestesde

    como efetivlos e garantir o exerccio de todos os direitos nas diversas e

    heterogneaspopulaesemqualquerpartedoglobo.

    ComoadventonosculoXXda1e2GuerrasMundiais,omundofoi

    dividido em potncias militares e, aps o trmino dos conflitos os vencedores

    tornaramsefinanceiramenteemilitarmentehegemnicos.

    NasceuumperodoconhecidocomoGuerraFria,poisasnovaspotncias

    tinham capacidade de destruir o mundo com suas armas, mas agia de forma

    dissimuladaeclandestina.

    Noerainteressante,economicamente,exterminararaahumanacom

    bombas atmicas, sobrepujavam outros pases fomentando golpes, derrubando

    governos,criandoembargoseconmicos,dividiramomundoporseus interesses

    individualistasefinanceiros,atrocidadescometidastornaramsebanais,ohomemfoi

    reduzidocoisa,aanimaldeproduo.

    Diversos governos, militarmente e economicamente poderosos

    imaginavamquetinhamopodereinflunciadeDeuses,sentiramselivres,bbados

    depodereseusinstintosdedominaoeimperialismoafloraram.

    Acoisamaisterrvelqueocoraodohomempodeagentarumavida

    semliberdadeoudireitoseapsamortedemilhesdepessoaspelaxenofobiadas

    GuerrasMundiaisedasguerrasregionaisfomentadasporpotncias,osfatosea

    histria humanademonstraramquecertos desejos de onipresenadeveriamser

    barrados.

    UmadasrespostaspsCartadasNaesfoiregionalizarasaesde

    proteoedefesadosDireitosHumanos,fomentarorganizaescomalcancelocais

    26

  • Introduo

    comoaOEA(OrganizaodosEstadosAmericanos)agindoemumauniversalidade

    dedireitosatuandoespecificamenteeefetivamenteempasesondelaosculturaise

    histricossemelhantesfacilitariamarealizaodosobjetivosdasNaesUnidas.

    EmdiversospasesademocratizaopolticaemodernizaodoEstado

    administrao so fatores que, somados aos objetivos das Naes Unidas,

    verificamseessenciaisparagarantirqueosdireitosmnimossejamefetivadosna

    prtica.

    Princpios advindos da Carta das Naes integram as Constituies

    Ocidentais, inclusive na brasileira observamos o princpio da Legalidade onde

    ningumdever fazerouabstersedeaoouomissosenoemvirtudedalei,

    comovabaixo:

    Art.5 Todossoiguaisperantealei, semdistinodequalquernatureza,garantindoseaosbrasileiroseaosestrangeirosresidentesnoPasainviolabilidadedodireitovida,liberdade,igualdade,seguranaepropriedade,nostermosseguintes:II ningumserobrigadoafazeroudeixardefazeralgumacoisasenoemvirtudedelei;(ConstituioFederal(1988),grifosnossos).

    Mas,nobastaestardescritaexplicitamenteemConstituiesouLeis,tem

    queserrealizadasnaprticaouseroletrasmortas,semsentido.

    Naatualidadebrasileira quempode realizar a efetividadedosdireitosque

    estas leis prevem? A sociedade? Com certeza, mas no s ela, os prprios

    Estados por intermdio de seus rgos estatais tmo dever de garantir esses

    direitos,ecomofazerisso,modernizandosuaestruturaeseusrepresentantes,ou

    seja, seus agentes que os representam nas mais diversas reas de atuao

    governamental.

    Nesse contexto, com a promulgao da Constituio Brasileira de 1988,

    vriasInstituiesgovernamentaisforammodernizadaseelevadasarepresentantes

    dademocracia,algumasparaagarantiaconstitucionalcomooMinistrioPblico,

    outrascomoasDefensoriasPblicas,foramcriadasparaseremacessojustiados

    hiposuficientes,etc.

    27

  • Introduo

    Pormalgumasinstituiescomsculosdeexistnciaforamapenascitadas

    nobojoconstitucional,comodefensorasdeumEstadoDemocrticoefunode

    garantiraordempblica,ouseja,fazerobviofundamental,garantiraexistnciado

    EstadoparaseuPovo.

    Oartigo 144, danossaatual ConstituioFederal, define as funesdas

    Polciaseemseupargrafo4definetambmafunodaPolciaJudiciriaem

    mbitoestadual,ouseja,aPolciaCivilrgosubordinadoaoestadodafederaoe

    aorepresentantedoexecutivoestadual,oGovernador.

    Comopodemosperceber,diferentedeinstituiescomooMinistrioPblico,

    no foi definido uma estrutura uniforme e como deveriam pautarse, apenas

    deveriam obedecer aos princpios legais e no ser contrria aos ditames

    constitucionais. No houve sequer previso de uma Lei Orgnica Nacional que

    padronizasseosprocedimentos, investigaese ingressonascarreirasdosseus

    quadros,nomximoamenodedirigentes,delegadosdecarreira.

    LembrandoosensinamentosdeNestorSampaioPenteadoFilho(2008:710),

    anossaConstituioformal,poisnotrataapenasdeassuntostpicosdoestado,

    tambmanaltica,ouseja,descreveminciasepormenoresqueosconstituintes

    originriosconsideraramfundamentais,mesmoassim,detalhescomoosexplanados

    acimaforamesquecidos.

    Outro exemplo, dessa mincia esta no artigo 242, pargrafo 2 da

    ConstituioFederal,adefiniodequeoColgioDomPedroIIsersubordinadoa

    Unio,deverasserimportanteparaahistoricidadedopas,masqualosentidode

    inserilootextoconstitucional,poderiabemserreguladoporleiordinria.

    JsobreaSeguranaPblica,algoimportanteemumpasquepormaisde

    duas dcadas viveu sob o regime autoritrio foi relevada, os rgos policiais

    mereceram lembranaapenasno artigo 144, caput, para uma: preservao da

    ordempblicaedaincolumidadedaspessoasedopatrimnio.

    Paraumaefetivagarantiadoexercciodosdireitosfundamentaisnobastam

    Leis,temoEstadodeefetivlosmedianteseusrgoseagentes,devendo

    28

  • Introduo

    modernizareaparelhartodasasInstituiesquegarantamademocraciaeo

    exercciodosDireitosHumanos.

    Nosoapenascomtecnologia,armas,coletesaprovadebalas,queas

    polciaspodemefetivaralutacontraaopressoeinjustiacotidiana,masincluindo

    filosofias,doutrinaserespeitoaosDireitosHumanostantoaocidadocomum,como

    paraoagentedeseguranapblicaquenaexecuodeseusatosdeverespeitar

    essesdireitoseterconscinciadesuautilidadeebeneficio.

    Naspolciasestaduaisapercepogeralqueissonoacontece,podese

    tecerdiversassuposies,comoporexemplo, ofatodenossopasserdeuma

    extenso continental, ou talvez os constituintes originrios preferissem atingir a

    pacificao social e efetivar os Direitos Humanos, pela especificidade e

    peculiaridadeterritorialpermitindoquecadaentepolticodafederaoorganizasse

    suaseguranapblica.

    Mas,passados20anosdapromulgaodaConstituioBrasileira,equase

    setedcadasdapromulgaodaCartadasNaes,osdesejosdeumapolciaque

    respeiteosDireitosHumanosaindanoserealizaramtotalmente.Encontrasenos

    noticiriosnacionaiseinternacionaisdennciasdesuaviolnciaequemaisferem

    direitosfundamentais.

    Ser queaquelescongressistasrepresentantesdopovode1988estavam

    errados em regionalizar as polcias? Ser que fenmenos mundiais como a

    globalizao,novosvaloresfamiliaresouculturasestrangeirasinterferiramparaque

    noseefetivasseessesdireitos,ouasInstituiesPoliciaiseseusagentesnotm

    educaoeformaoadequadanemmesmoparaatenderosusuriosbsicosdo

    serviopolicialquediariamenteprocuramosplantespoliciais.

    Soasquestesdiscutidasnestetrabalho,nocomapretensodeesgotaro

    tema,masdelevarasmentesecoraesreflexesdequaltipodepolciaede

    agentesdeseguranapublicasedesejaparaopas.

    Homens e mulheres agentes de segurana esto desejosos de serem

    reconhecidos como cidados e efetivar com seu trabalho e esforo os Direitos

    29

  • Introduo

    Humanos constantes na Constituio Brasileira, no como meros instrumentos

    polticosedepoder, queseguemosditamesdeumouvriosgovernantessem

    discutiresemtercapacidadededizer:algoestaerrado,devemosmudarens

    policiais,podemosfazerisso.

    30

  • 11 HISTRIADAFORMAODOBRASILEDAHISTRIADAFORMAODOBRASILEDA

    SOCIEDADESOCIEDADE

    A cultura colonial, senhor versus escravo a vigente na Sociedade

    Brasileira,encontraseessasensaoerealidadeemdiversasobrasqueexploram

    o binmio opressor e oprimido, como exemplo, a de Gilberto Freyre (CASA

    GRANDE&Senzala7).

    Aviolnciarealdodiaadiaatualmenteestainstitucionalizadacomomodelo

    deumEstadoocidentalqueprobeaautotutela.

    NapocaColonial e Imperial8 eraaviolnciaescravocrataquevigoravae

    ainda hoje vemos resqucios desse perodo, razes culturais dessas pocas se

    refletemna memria da coletividade como o preconceito enrustido contra afros

    descendentes,pobreseapolcia.

    Comoexemploinicialpodemoscitarasprpriasinstituiespoliciaisestatais

    nos primrdios da Repblica brasileira, formadas e escolhidas por coronis9,

    personalidadesqueperduraramoficialmenteat1930,masqueaindahoje,pode

    ser encontradasno interior do Brasil onde os lavradores tratamseus patres e

    donosdeterrasdesenhoresoucoronis.

    Asprincipaiscaractersticaseram:

    Voto de Cabresto: na Repblica Velha, o sistema eleitoral era

    consideradomuitofrgil efcil desermanipulado,oscoroniscompravamvotos

    paraseuscandidatosouostrocavamporbensmateriais(paresdesapatos,culos,

    alimentos,etc.).Comoovotoeraaberto,oscoronismandavamcapangasparaos

    7CASAGRANDE&senzala:formaodafamliabrasileirasoboregimedeeconomiapatriarcal.51ed.EditoraGlobal:SoPauloSP:2006.8ConsideradooperodododescobrimentoataProclamaodaRepblica(15001889).9NoiniciodoperodorepublicanonoBrasil(finaldosculoXIXecomeodoXX),vigorouumsistemaconhecidopopularmentecomocoronelismo.Estenomefoidado,poisapolticaeracontroladaecomandadapeloscoronis(ricosfazendeiros).

    Captulo

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    locais de votaocomoobjetivoera

    intimidar os eleitores e ganhar votos,

    assim, aquelasregiescontroladas

    poltica e militarmente pelos coronis

    eramconhecidascomocurraiseleitorais, conformepodemosobservarnafigura

    abaixo10.

    Figura1VotodeCabrestoFonte:RevistaCaretaRiodeJaneiro,1927

    Fraude eleitoral: Outra caracterstica do poder dos coronis que eles

    alteravamvotos,sumiamcomurnaseatmesmopatrocinavamaprticadovoto

    fantasma,esteltimoconsistia na falsificaodedocumentosparaquepessoas

    pudessemvotarvriasvezesouatmesmoutilizaronomedeparentesfalecidos

    nasvotaes.

    Poltica dos Governadores: Os primeiros governadores dos estados e os

    presidentesdaRepblicafaziamacordospolticos,nabasedatrocadefavorespara

    governaremdeformatranqilaesemanteremnopoder.

    Osgovernadoresapoiadospeloscoronis,nofaziamoposioaogoverno

    central e ganhavamem troca do apoio, liberao de verbas federais que eram

    desviadaseusadasparafortaleceraindamaisospoderesdoschefeslocais,esta

    10Dennciaaovotodecabresto(chargedeStorni,revistaCaretaRiodeJaneiro,1927).

    32

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    prtica foi criada pelo presidente da Repblica Campos Sales (18981902) e

    fortaleceuopoderdoscoronisemseusestados.

    Polticadocafcomleite:NofimdosculoXIXecomeodosculoXX,os

    estadosdeSoPauloeMinasGeraiseramosmaisricosdanao,enquantoo

    primeirolucravacomaproduoeexportaodecaf,osegundogeravariqueza

    comaproduodeleiteederivados,porissoeraconhecidapolticadealternncia

    nopodercentraldaRepblicadessesdoisestadoscomo,caf(SoPaulo)eleite

    (MinasGerais).

    Os polticos destes Estados faziam acordos para perpetuaremse na

    presidnciadaRepblicae,entre1890at1930,muitospresidentesforampaulistas

    oumineiros.

    OfimoficialdessefenmenoocorreucomaRevoluode1930eachegada

    de Getlio Vargas ao poder, o coronelismo perdeu fora e deixou de existir

    oficialmenteemvriasregiesdoBrasil,apesardeprticascomocompradevotose

    fraudeseleitoraiscontinuarexistindoaindaporumlongoperodo.

    Nahistriadaformaodeumestadoconsideradobrasileiro,percebemos

    que as noes de legalidade e garantia dos direitos, inclusive humanos, foram

    adaptadosdemodelosexternos.

    Os exemplos que inspiraram as Cartas Polticas nacionais desde 182411,

    tiveramcunhotipicamenteeuropeuouamericano,parmetrossobreclasse,raa,

    direitos fundamentais utilizados no Brasil colonizado para definir aquilo que era

    consideradocertoouerradopocadaspromulgaesououtorgasconstitucionais,

    no refletia verdadeiramente a realidade da sociedade brasileira,

    predominantementenegra,miscigenadaepobre.

    NoBrasil algunssetoresdasociedadeColonial, Imperial eprrepublicana

    ligadasIgrejaCatlicainfluenciarameaindainfluenciamnosdiasdeamoralda

    famlia e reflexosdoqueseconsideramdireitoshumanosesua importnciana

    111ConstituioBrasileiraConstituioImperial.

    33

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Sociedade,inclusivenaformaodaculturadeoutrospovosamericanosdeorigem

    Ibrica12.

    A Igreja, pocadodescobrimento do nossopas, j contavacommais

    quinzesculosdeexistnciae,naEuropa,porquatrocentosanosdominoucommo

    de ferro o desenvolvimento cultural dos pases daquele continente e dos

    colonizados;estevefrentedeumperodoquehistoriadoreseestudiososchamam

    deaIdadedasTrevas13.

    Contraposto a essa filosofia de cerceamento de conscincia, os novos

    homenseuropeus impulsionadospelo Renascimento, lanaramsea descobertas

    nasterrasalmmares,acobertadosaindadediversostabusreligiososenraizados

    naculturacatlicasecular.

    SobreacolonizaonoBrasil,nofomoscolonizadosporsantosesimpor

    homens comuns, que presos durante anos por tabus e dogmas religiosos,

    encontraramnoNovoMundoumaliberdadeplenaparaosseusvciosedesejos

    carnais,misturandoseusgenescomosnativosecomosescravos.

    Aformaodopovoedaculturabrasileiradeveseaessefatorpredominante

    demisturaderaas,formandooquehistoriadorescomoDarcyRibeiro14chamadeo

    PovoBrasileiro.

    Ao se analisar etimologicamente, o sufixo eiro na definio do povo

    brasileiroencontrar umofcioouprofisso,isso,poisenquantooutrospasesse

    determinamasi ouaseuscidadoscomsufixoano,ouseja, nascidodaquela

    terra, comoColombiano,Americano, etc. NoBrasil, tornouseeiro oubrasileiro

    quelesdesignadosenascidosnesseterritriodoBrasil.

    Ora,sepoderiapensarqualaimportnciadesermosanooueiro,masao

    refletirsobreosentimentocultural,verificaseumaquestodecidadania.

    12PasesdesdeoMxicoataArgentinaforamcolonizadosporpasesibricos,PortugaleEspanha,entreosXVIeXVII.13 Perodocompreendido entreosanos de1200e1600, ondeasforaspolticaseespirituais daIgrejadesenhavamoscaminhosdahumanidadeOcidental.14DarcyRibeiro,etnlogo,antroplogo,professor,educador,ensastaeromancista,nasceuemMontesClaros(MG),em26deoutubrode1922,efaleceuemBraslia,DF,em17defevereirode1997.EntreoutrasobrasescreveuOPovoBrasileiroondeexplicaaformaodopovobrasileiroesuaculturadesdeodescobrimento.

    34

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Poisosufixoeirosignificacomojfalamos,deofciosouprofissescomo

    marceneiro que trabalha com madeiras, pedreiro que tem como seu ofcio o

    manuseiodeconstruo,padeiroeoutrosquetmomesmosignificadoetimolgico,

    aquelesquetrabalhamparaalgum.

    Assim, no eram considerados cidados aqueles que trabalhavam para

    algum,quesepodeverificarserumaspectonahistriadamaioriadapopulao

    brasileiranos322anosdoperodocolonial(15001822)quevivemossobodomnio

    dePortugaleat mesmonoperodoImperial ondeaSociedadeerapatriarcale

    escravocrata.

    SomenteosdescendentesdosBragana,dascasasnobresportuguesas,dos

    Condes,Marqueseseoutrosttuloscomprados,almdoscoronisbarganhados,

    tinhamprivilgiossobopontodevistadosdireitoshumanos,liberdade,igualdade,

    processolegaleoutros.

    NoBrasil Colnia,seumescravocometiacrime,umhomemlivreepobre

    assumia,poisosenhorfeudalquemaistardesetornariacoronel,nopoderiaperder

    o seu lucro, sua propriedade pois para ele comopara Portugal, o Brasil servia

    apenascomoempresaecomotal,quandoconseguissemuitodinheiroiriaviverna

    Europacivilizada.

    Ohomembrancoelivrequeassumiaocrime,seriaumfugitivoeprotegido

    poralgumsenhordeterrasouescravospelofavorqueassumira,tornavasejaguno

    oucapangaparaservirdetestadeferrooujusticeirocontraoutroscoronis,essas

    nuancessolembradasemqualquerliteraturaounoveladepocarepresentativa

    dessesperodos.

    Em1889,proclamouseaRepblicahouveintensointeressenamanuteno

    dopoderporpartedoexrcitoeseusMarechaisfortalecidosporterematuadoem

    diversasbatalhas15dentroeforadoBrasil.Paraaefetividadedessamanutenode

    poder deveriameliminar os monarquistas e aqueles que os apoiavamcomo os

    15GuerradoParaguaiediversasbatalhasinternascomoadosFarrapos,CabanagementreoutrasnosestadosparamanteraunidadedoBrasil,fortaleceramoexrcitoeseuscomandantes.

    35

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    bares,marqueses,osantigossenhoresdeescravoseterras,assim,criminalizaram

    quaisqueraesvoltadasrestituiodoantigoregime.

    ComainstituiodoCdigoPenaldaRepblicaem189016,surgiuafigurada

    vadiagem,tipificadaatualmentecomoContraveno,comovemosabaixoemtexto

    antigocolonial:

    Art.399.Deixardeexercitarprofisso,officio,ouqualquermisteremqueganheavida,nopossuindomeiosdesubsistenciaedomiciliocertoemquehabite;proverasubsistenciapormeiodeoccupaoprohibidaporlei,oumanifestamenteoffensivadamoraledosbonscostumes:Penadeprisocellularporquinzeatrintadias.1Pelamesmasentenaquecondemnaroinfractorcomovadio,ou vagabundo, ser elle obrigado a assignar termo de tomaroccupaodentrode15dias, contadosdocumprimentodapena.(CdigoPenal(1890).

    Naspesquisasparaacomposiodestetrabalho,destacaseumtrechoda

    entrevista queo dignssimoOuvidor dasPolcias de SoPaulo, senhor Antnio

    FunariFilhonosconcedeu,ondenodecorrerdodilogo,relataumfatohistricopor

    qualpassounasuavida,querefleteperfeitamenteopreconceitoediscriminao

    daspessoaspobresemplenosculoXX.Aomesmotempoumpoucodarazoda

    antipatiadapopulaoparacomosrgospoliciais,vejamos:

    M H umaquestosociolgica, nosei seosenhorpoderia ajudar aesclarecer...Poisnomeiopolicialumjargo,eumesmocomopolicialjfizisso,naabordagemdeumcidado,pedirosseusdocumentos,maspensando o porqu de pedir os documentos para ele...? Ser que odocumentocomprovaalgumacoisaquemeleouno,fiqueiimaginandoqueo vciopolicial mefez fazerestapergunta, depoisde formadoemdireito percebi, que aquilo que fazia no deveria ser daquele jeito, aabordagempolicialnoscentrosurbanosmodificou,masnaperiferiaaindaassim,estacomodocumento?, ondeestaasuacarteiraprofissional,coisasdessetipoquedevemterorigememalgumlugar,atcoloqueinasquestesecomasuaexperincia devidaeprofissional, j percebeuarazodisso?OIssoaveio...Issohistrico,etemcomofundamentoaquestodavadiagem.MAvadiagemdaLeideContravenoPenal?OSim,daContravenoPenal, vadiagemcomo infraopenal, eafunodapolciahistoricamenteeratambmdisso,recolhiaseaspessoas

    16Decreton.847de11deoutubrode1890.

    36

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    presasporvadiagemeeramtransferidasparaoPresdioTiradentes,nemexistemais,stemumportall.

    MFicavaemquelocal?OPrximoaoJardimdaLuz,estaoTiradentes(metr),justamentefoifeital,ondeeraum...Praticamenteumdepsito,eraumaantigacasadosculo19,meparecequefoiummercadodeescravosedepoisadaptadaparacadeia,eraumdepsito...Tinhaachamadaprisocorrecional.MEraparaestaspessoas?OSim...Chegaval,enarealidadepodiaseprenderquemquisesseedepositava l, issoai euchegueiaconhecer, poisopresdioTiradentestinhaumaaladepresospolticos,criadanapocadaditaduradeGetlioedepoiscontinuoul,mas...estoufugindodoassunto....MNo,no,issoimportanteparaahistria.OOqueinteressaisso,quehojenoseprendemaisporvadiagem,seprendeapenaspormandadoouflagrante,massecriouessanorma,tanto queaspessoasnessaocasio... Acarteiradetrabalhoeraumacoisamuitoimportante,principalmenteparaopovoapresentarissoparasairdopreconceito, eraumadascoisas importanteseainda, maseraamaisimportante, pois significava que voc era empregadoou foi empregado,tinhabonsantecedentesedadecorreessestiposdeabordagens,queuma coisa que j vem do comportamento em relao vadiagem.(Entrevistapessoal.2008).

    ComamiscigenaodopovobrasileiroeopreconceitonoBrasilcolonial,da

    igualdadesomenteformalanteriormenteexplicitadaaplicadaaossenhoresdeterras,

    escravosouaquelesdesanguenobre.Comooseminstruo,ofcio,cultura,bero

    e sendo vadio branco, negro ou pobre, poderia ter direito a ter direitos, se a

    simplesaodenadafazer,eracrime?

    A IgrejaCatlica tambmtemumaparcela deculpanessadiscriminao,

    naturalmente pela predominncia da miscigenao nativa e africana surgiram

    diversoscultosereligiosidadescomoformadosescravosendiosmanteremsuas

    origens.

    Essaliberdadedeexpressotambmforaproibidaetodasasformasdeculto

    diferentes do catolicismo, poca do1 Reinado ramos umpas com religio

    oficial, a Catlica17 e isso, por fora da Igreja permaneceu por muito tempo,

    atualmente somosumadas naes que mais temcatlicos no mundo, herana

    familiareculturaldeumpasformalmentemonotestadentrodeoutromaterialmente

    multireligiosoporformao.

    17NaConstituioImperial,outorgadaem1824porDomPedroI,determinavasequeareligiooficialdoBrasileraaCatlica.

    37

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    NestaConstituioImperial,editadanosmoldesdaConstituiodosEstados

    UnidosdaAmricaeEuropa,odireitoapropriedadeeraprivilegiadoecomotal,

    amoldouseperfeitamenteaosinteressesdossenhoresdeterras,antigossesmeiros

    coloniais.

    Tanto que o requisito para ser cidado e ter direitos polticos era ser

    proprietriodeterras,sendoassim,aquelesnopossuampropriedadeestavama

    margensdaSociedadecolonial, sempreosprimeiros(senhores) impondoseaos

    segundos(brancosounegros)pobressuasvontades.

    Essaimposioforadaentreaquelequepodeeaquelequenopode,criou

    ofenmenovistoaindanosdiasatuaisdopessoalismooudofavoritismo,poiso

    direitodemocracia,liberdadetolouvadoseanunciados,sovaloresqueno

    eramenosovivenciadosnaprticadeumapessoamulata,pobreelivre,ouseja,

    amaioriadopovobrasileiro.

    Atualmenteasquestesrelativasexistnciadedireitosinerenteatodosos

    homens, os direitos humanos, esto voltadas na sua efetividade, dever haver

    igualdademnimadedireitosemqualquerpartedoglobo,comotambmoseupleno

    exerccioquetambmdeveseranalisadosobumprismasociolgico.

    Existem diversos povos no planeta vivendo momentos sociolgicos no

    uniformes,cadahumanoemdeterminadolocalnafacedaTerraviveaficodo

    tempoemumaigualdade.

    Para determinadas naes, como as ocidentais que tem o calendrio

    gregoriano como referncia de sua Sociedade se encontra no sculo 21, mas

    mesmoentrepasesqueadotamessesistematemporalasuamatrizculturalpode

    noseequiparar.

    Podem vrias naes viver no sculo 21, mas com dificuldades e

    pensamentosculturaisdosculo11oumenos.

    Comoexemplo,pasesafricanosdeorigemcolonizadoraibrica,seguemo

    citado calendrio, tem Constituies nos moldes ocidentais, de fraternidade,

    38

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    liberdade,massobrevivemcomoseestivessemacentenasdeanosatrasadosse

    comparadosapasesdesenvolvidosquesegueamesmalinhatemporal,assimo

    direito preconizado emumpas no pode literalmente servir de referncia para

    outros.

    Considerandoumavisocapitalistadedesenvolvimentocomoparmetrona

    sociedadeocidental,severificaaexistnciadepasesconsideradosdesenvolvidos,

    emdesenvolvimentoousubdesenvolvidoseaquelesnodesenvolvidos.

    Pases como frica, Estados Unidos, Brasil vivem e temvalores sociais,

    culturais e caractersticas territoriais diferentes, que afetam e influenciam na

    formao das gentes e no sentido daquilo que poderamos considerar certo ou

    errado,justoouinjusto.

    Pessoas dentro de um territrio formamas gentes, que ligadas por uma

    identidadecomumcaracterizamsecomonacionais,formandoculturasdestinadasa

    seremmecanismossociaisdesanopsicolgica,criandoaficodoenteEstado

    comgarantidordeumaharmoniaparaaexistnciadeumavida,nomnimoempaz.

    Manifestaes culturais da nossa psmodernidade criaram indivduos

    diferentesdentrodeumamesmasociedade,compartilhamsentimentosfamiliares,

    universos e culturas heterogneas e segundo Cunha (2007: 295) a percepo

    geogrficaesocial quetemosmoradoresdosguetosounoBrasil periferias,

    refletemaquiloqueconsideramcertoouerradoeinfluenciamsuasaes.

    Analisandooperfil,desejoeasaspiraesconfrontadasdessapopulao

    marginalizada que moram nas periferias, favelas, ou como dizem atualmente

    comunidades,queapesardonomenotemnadadisso,comarealidadedeuma

    vidadesigual,visualizaseumdesejodestatussocialqueamacroSociedadeimpe

    comopadroeosrotulacomodesiguais,sobreissoexplicaCunha:

    Fenmenomundial,essesbairrosantesconsideradospopulares,vopaulatinamentesendodesignadoscomoespaoderejeiosocialouaindadedegradaosocial.Anteshabitadosporoperriosdegrandesindstrias,cedemlugaraodesemprego,aotrabalhoinformal

    39

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    e, sobretudo, aotrfico de drogas.Umdosmaissriosproblemascomque

    soconfrontadosessesmoradoresparece perdadeumethos18

    profissionaleidentitrioqueantesosuniapositivamentecomo,porexemplo,operrios,trabalhadoresetc.(Cunha,2007:298).

    SegundoCalhau(2007:59)osfenmenosdeexpansodametrpoleparaas

    periferiassomundiais,nasdcadasde20e30nosEstadosUnidossoboprisma

    dacriminologiamodernanasceupelasmosdaEscoladeChicago,umateoriade

    consensodenominadaTeoriaEcolgica.

    Essateoriavisavaprovarqueofenmenocriminalestavaligadoaumarea

    natural,advindadasgrandesmigraesdentrodeumpas,algomuitosemelhante

    aos xodos migratrios das dcadas de 60 a 80 no Brasil incentivado pela

    industrializao e planos de metas da era JK19, dos governos militares

    principalmentedeMdice20.

    Caracterizouseessateoriaporpragmatismo,dadosempricos,eestudosdas

    relaesentreaorganizaodoespaourbanoeacriminalidadenessasreasao

    analisar se a prpria metrpole e seus sistemas de incluso e excluso social

    produziriamacriminalidadedasperiferiasporumadesorganizaofamiliarefaltade

    controleestatalnesseslocais.

    18 Ethosumtermogenricoquedesignaocarterculturalesocialdeumgrupoousociedade,designamumaespciedesntesedoscostumesdeumpovo,ostraoscaractersticospelosqualumgruposeindividualizaesediferenciadosoutros.

    19GovernoJuscelinoKubitschek(19561961).

    20EmlioGarrastazuMdici,governouoBrasilentre19691974.

    40

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Figura2ErnestBurgessFonte:AmericanSociologicalAssociation.

    Comaanlisedosdadoscoletados,ErnestBurgess21umdosexpoentesda

    EscoladeCriminologiadeChicago,criouaTeoriadasZonasConcntricas,onde

    tentavaexplicarcomoaviolnciaecriminalidadesealastravamdametrpolepara

    asperiferias,dividiuporzonas,comoocorrenosatuaisguiasderuas.

    Simplificando o conceito e observando a figura

    abaixo, podemos observar que na teoria desse

    pesquisador h trs zonas: principal, de transio e

    perifrica22, se observaria que onde ocorreria maior

    numero de violncia e crimes eram nas zonas de

    transio, pois nesses locais existiam moradias de

    trabalhadores queascenderamdaszonasmenosabastadaspara as perifricas,

    pequenoscomrcioslocais,ealgumaestruturagovernamental.

    Figura3TeoriadasZonasConcntricasFonte:AmericanSociologicalAssociation.

    21ErnestWatsonBurgess,nasceuem16deMaio1886nacidadedeTilbury,Ontario,Canada,filhodeEdmundJ.BurgesseMaryAnnJaneWilsonBurgess.Seupai foi MinistroreligiosodaCongregational Church. BurgessestudounoKingfisherCollegeemOklahomaseformandoem1908,entrounaUniversidadedeChicagoesegraduounoDepartamentodeSociologiaerecebendootitulodePh.D.em1913,faleceuem27dedezembrode1966.

    22CalhaulembraqueanoodeperiferianosEstadosUnidos,diferentedospasesdaAmricaLatina,loconceitodeumlugardepadrosocioeconmicoalto.

    41

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    NoBrasil,utilizandoosistemadeZonasConcntricasidealizadoporBurgess,

    podeserverificadoqueasmaioresincidnciasdecriminalidadeeviolnciaesto

    localizadasnasperiferiasenaszonasintermediriasdecomrcioemoradiacomo

    osbairrosMoema,BrooklineSantoAmaroalmdeoutrosdomesmonvel,algo

    muitosimilarteoriadesseestudiosodosculoXX.

    Atualmente, a Imprensa no Brasil registra fatos dirios de violncia e

    criminalidadequereforamateoriadeBurgess.

    NareportagemdeAndrCaramanteeEvandroSpinelli,sobreaviolnciana

    cidadedeSoPaulointituladaInformaesinditasdapolciadeSPmostramque

    periferia tem mais crimes contra a vida e reas ricas mais crimes contra o

    patrimnio,aoseanalisarasexplicaesdeCunhaeateoriadeBurgess,cabem

    muitobemparaasituaodopas,abaixoumasntesedareportagemeummapa

    daviolncianomunicpiodeSoPaulo:

    [...].Osnmeros,dosegundotrimestredesteano,mostramqueaviolnciaseespalhapelacidade,masseguelgicaprpria.Os crimes contra vida (homicdios e estupro) atingem,principalmente,asregiesmaispobres.Oscrimescontraopatrimnio (roubos, furtoselatrocnio)seconcentramnaregiocentraleembairrosmaisricos.Noprimeiro caso, destacaseo chamado "tringulo damorte", formadopelas regiesdosdistritospoliciais deJardim Herculano, Capo Redondo e Parque SantoAntnio,onde31,5%dosdomicliostmrendadeattrssalriosmnimos.Narea formadapor essas trs delegacias, que incluibairros como Jardim ngela e Jardim So Luis,ocorreram 44 homicdios nos meses de abril, maio ejunho 14,7 por ms em mdia, ou seja, 14,5% doscasosdacidadenoperodo(303).CrimespatrimoniaisDos chamados crimes contra o patrimnio, o furto deveculosumadasprincipaisrefernciasparaalgicadaviolncianacidade.Aanlisedosnmerosdapolciapermitedizerqueessetipo de crime mais freqente na rea formada porbairroscomoPerdizes,LapaePinheiros,todosnazona

    42

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    oeste,onde52,3%dasresidnciastmrendasuperiora20salriosmnimos.Essamesmareadazonaoeste,aliadaaocentroeaosJardins,responsveisaindapelosmaisaltosndicesdeoutros furtos (celulares, carteiras, arrombamentos emresidnciasetc.)eroubos(praticadossobgraveameaa,comautilizaodearma,porexemplo).Naclassificaodapolcia,osJardinsestonareacentral.OsnmerosdoMapadaViolnciafazempartedabasede dados da CAP (Coordenadoria de Anlise ePlanejamento), rgo da Secretaria da SeguranaPblicaqueestudaacriminalidadeafimdeadequarautilizao das forasde segurana nopoliciamento dacidade.[...]OutroscrimesOs nmeros apontam ainda as regies com maiorincidnciaderouboabanco,roubodecarga,estuproetrficodedrogas. Roubosabancoestoconcentradosemumareadazonasul(SantoAmaro,Ibirapuera,VilaClementino,CampoLimpoeCidadeAdemar)eemumtrechodazonaoeste(Perdizes,PinheiroseItaimBibi).Juntos, osbairros tm50%dos roubosabancoentreabrilejunho.Osdecargaacontecempredominantemente nas reasprximassrodoviasRgisBittencourt,PresidenteDutraeFernoDias,almdareacentral,queincluiasregiesdecomrciopopulardoBrseruas25deMaroeSantaIfignia.Os estupros ocorrem principalmente nos extremos dacidade.Otrfico,nazonanorte.(Grifosnossos).

    43

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Figura4OcorrnciasnomunicpiodeSoPauloFonte:http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/959

    Podemosnotarquepolticaspblicasvoltadasemaespoliciaisousociais

    deveriamserdirecionadasondeosfenmenoscriminaisacontecemmais.

    Nosguetosamericanosh apredominnciadaviolnciadasgangues,no

    casodoBrasil as periferias e os entornosdasMetrpoles estonumaanomia

    legislativaesocial,ouseja,universossociaisdiferentes,desagregaofamiliare

    leis em excesso ou ambguas dentro de um mesmo territrio, possibilitam o

    descontroleearevoltasocialpornoatenderemaosanseiosbsicosdapopulao.

    44

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    No se aventurando na seara da Psicologia, mas quando h falta ou

    ineficciadassanespsicolgicasdedeterminadogruposocial,aqueleindivduo

    nomeiocomunitrioquevivesevmoralmentelibertoparafazeraquiloqueacha

    correto, inclusiveusarviolnciaparaatingirasuasatisfaopessoal,oucomo

    conhecidopsicologicamenteoseugozoemummundoondeseprivilegiaocapital.

    No mundoocidental, o Capitalismoe seu fenmeno, a Globalizao, que

    segundooprofessoreDoutoremCinciaPolticaAldoFornazieriumaordem

    econmica global com interdependncia entre Estados Nacionais afetando cada

    Estadoapsumatomadadedecisocomreflexosemoutros.

    Explicaaindaque:

    A Globalizao trs um paradigmatismo uma substituio daformadeproduocapitalista,desenvolvidanaatualeramodernaetambmproduzsubparadigmatismo,ondeparaunsaSalvao:globalizao cria empregos, liberdades, sade, etc. (enormesbenefcios)eparaoutrosApocalptica:Arrastaomundoparaumpenhasco(produzpobrezas,crisesedanosnaproduoeeconomiairrecuperveis).(Informaoverbal,2008)

    EssaGlobalizaotransformouoCapitalismoemreferenciamundial,secriou

    novosvaloresenovosparadigmas,ohomemidealnessesistemaaquelequevisa

    lucro e acumulao de capital, pases como os Estados Unidos por sua

    ancestralidade de colonizao, amoldaramse perfeitamente nesse modelo de

    sociedadeindividualista.

    Os Estados Unidos, filhos da Europa como todos os pases americanos,

    diferenciampelocomportamentoreligiosodeseuscolonizadores(FiisCalvinistas

    Puritanos);devotosdateologiacalvinista,nessareligioafdofielseconsagra

    diretamente,nonecessitandodeintermediriose interpretaseaBbliadiferente

    dosCatlicos.

    45

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Richard Baxter23 interpretou a Bblia com a finalidade diferente dos

    intermediriosdoDeuscatlicoemisericordioso,quesalvaatodosindistintamente

    semprecisarfazerquasenenhumsacrifcio,bastandoarrependerse.

    SegundoBaxter,oseuDeusafirmavaquesalvariapoucosindivduosepor

    issodistribuiriasinaisdesalvaoparaaquelesqueacreditassememsuaspalavras,

    eparaosfiisseguidoresaoviverumavidapuritanaeregrada,essessinaisseriam

    facilmentevisualizveis.

    MaxWeber24emseulivroAticaprotestanteeoEspritodoCapitalismo,

    comentaqueparadoutrinacalvinista,seragradvelaDeustervocao,ohomem

    devepadecerpeloseutrabalho,assimobterossinaisdeeleio.

    O que ser agradvel a Deus? a prosperidade, pois se trabalhar e

    prosperarsosinaisdeDeus,estafazendoacoisacertaporissoosucessoocorreu,

    pelassuasgraasnuncadever deixar de trabalhar e dever ter umavidareta

    senoosfiisincorreroempecadoeossinaisdivinossumiro.

    Oexcedentedotrabalhodeverserdistribudoparaaquelesquenecessitam,

    poisapreguiaconsideradatentaosedescansareviversomentedoslucros,

    deveoverdadeirofielmortificarasuavontade,seucomportamentoficandoimune

    aospecadosetentaes.

    Nesse pensamento o modelo Capitalista encontrou terreno frtil para se

    desenvolver, pois eram necessrias pessoas com capacidade quase infinita de

    trabalhoeaomesmotempoincentivaroutrosatrabalhar,poisseoutrosofazemou

    soinfluenciadoseefetivamentetrabalham,esteserumdossinaisdeDeus,quem

    influencioutermaischancedesersalvo,poisagradouoTodoPoderoso.

    Oexcessodelucrosparanosetornartentaooupecado,transformarse

    emmigraodevocao,ouseja, umadivisosocial do trabalhoexistiromais

    trabalhadoresincansveisvisandoagregartrabalhosparatodos.

    23 ORev.RichardBaxterfoi umconhecidopastorreformadorCalvinista,viveunaInglaterraduranteosculoXVII (16151691).24MaxWeber,socilogoalemofalecidoem1918,paraeleomodernosistemaeconmicoteriasidoimpulsionadoporumamudana comportamental provocada pela Reforma Luterana do sculo 16. Ocasio quando dela emergiu a seita doscalvinistascomseufortesensodepredestinaoevocaoparaotrabalho.

    46

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    AssimfloresceuoCapitalismonaAmrica,lembramosexpressocunhadade

    queTempodinheirotoexplanadopeloscapitalistas.

    Oscomportamentosreligiososdosfiisprotestantesproliferaramnascolnias

    inglesasnaAmricaesentindoseunoscomonao,lutarampelaindependncia

    formandoosEstadosUnidosdaAmrica.

    Esse comportamento americano do capitalismo individualista virou

    predominnciacomopassardahistria,antesapenasreligiosoracional,agorase

    tornousocial racional,aSociedadevoltouseparaumadivisoracionaldosseus

    interesses, isto , a racionalidade econmica do trabalho, um dos pilares do

    Capitalismo.

    Pelahistriadecolonizaoibrica,influnciacatlicaecrescendosemuma

    identidadeculturaldefinida,aorientaocoletivadaSociedadebrasileirasolidificou

    se na submisso, onde autoridades na figura de poucas pessoas privilegiadas

    dominaramosinteressesdanaodurantesculos,soexemplosjcomentados

    anteriormenteaescravaturaeocoronelismo.

    Aviolnciasurgequandoexisteconflitodosconjuntosresiduaisdassanes

    psicolgicas,comoafamliaecultura,poisohomemrazo+sentimento,seo

    segundosesobrepe,ocorrerrevolta,poisarazonaspioresadversidadesno

    perdeocontrole,aumentaseaviolnciaexponencialmentediminuiodarazo.

    SegundoHegel25,ohomemnasuaevoluo,buscaaverdadedascoisase

    somenteaalcanaquandopassapor experinciasdeerroseacertos, assim, a

    verdadespoderaserconhecidasomenteseumerroforexperimentado,sendo

    necessriooerroparaexistiraverdade.

    Quandoexistemcontradies,queoembateentreocertoeoerrado,as

    pessoastambmpodemseridentificadasemsuasaescomocertasouerradas,a

    25GeorgWilhelmFriedrichHegel,filsofo,autordeumesquemadialticonoqualoqueexistedelgico,natural,humano,edivino,oscilaperpetuamentedeumateseparaumaanttese,edevoltaparaumasntesemaisrica.

    47

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    histriadohomembaseiasenoseuinteressedesaberemdadomomentohistrico

    seaquiloquefezreconhecidocomosimplesoucomplexoserroseacertos.

    Quando indivduos de uma sociedade reciprocamente reconhecem uma

    verdadepredominante,queaindanofoiprovadosererradaououtraverdademaior

    asobreps,inexisteviolnciaoueladiminudapelaunanimidade.

    Devesenessaanlisedocertooudoerradoconsideraromedocomofator

    desobrevivncia,aquelequeosenhor(quemanda)estarsemprecertoeooutro

    queoescravo(medo),estaerrado,mesmoquenoesteja.

    Estemedoexistentedosenhorversusescravoumdostraosdacultura

    brasileiraesuaevoluonesses509anos,ondequempodemaiscerto,equem

    podemenosounadapodeestar errado, lembremseda frasevoc sabecom

    quem esta falando? muito utilizado ainda hoje quando agentes de segurana

    pblicaabordampessoaspseudoinfluentes.

    Nos dias atuais, reconhecese predominncia das democracias e da

    autotutelaestatalsobreaviolncia,inclusivenoBrasilondeaConstituiode1988

    quesubmeteosindivduosaumacategoriajurdica,impessoal,classificandotodos

    comosujeitosdedireitosiguaisperantealei,asntesedoEstadoDemocrticode

    Direito.

    nessasociedadedomedoedademocraciaemtransformaodesdea

    Constituio de 1988 que vivemos, vigora uma inrcia social contrapondose

    diretamenteaosdireitosegarantiasdaCarta Magnaquenosoefetivadosna

    prtica.

    O indivduo nesse tipo de sociedade no tem perspectivas de ascenso

    social,dizemqueopovomanso,pacfico,queaquelequenascepobremorrer

    pobreesegundoasuaf(catlica)senoserevoltarecumprircordialmenteos

    mandosdossuperiores,serrecompensadoemnovavida,poderrenascerricoou

    emmelhorescondies.

    48

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    A Constituio Imperial de 1824, com fortes tendncias democrticas e

    liberaisoriundadaCartaFrancesadosdireitosdohomem,foiadaptada,outorgadae

    aplicada em uma sociedade brasileira eminentemente escravocrata, onde se

    privilegiavaossenhoresdeterras,nobreza,burguesiaeaquelesquepodiammais.

    Podese imaginar que a violncia existente nos dias atuais fruto de

    concepes democrticas deturpadas ou que suas razes na cultura brasileira

    advmdomodelocapitalistaquesesustentanaescravidodotrabalhadorurbano.

    CitadoporGalvoJunior(2005:3637)temseasidiasde RobertoLyra26,

    estudiosodeMarx e Engels quecunharama Criminologia Socialista (conhecida

    tambmcomoRadical)ondeafirmaqueaslutasdasclassesoperriaspoderiam

    servircomoreformadoresdaigualdadededireitosepacificaosocial,masno

    absolutatalafirmativa.

    Aslutasdasclassesnosohomogneas,poismesmoondepredominamos

    pensamentos marxistas como nos pases socialistas, no conseguiram efetivar

    garantiasedireitosouexpurgaraviolncia,hvciosemsuasposiespolticas,

    poisconsiderandoqueaigualdadeseriaapacificaodasclassestrabalhadoras,

    decorreria naturalmenteondeoEstadoadotouessa teoria, nohouveautpica

    igualdadedeclasses.

    NacriaodoEstadobrasileiro,vemosoresquciodoEstadoabsolutistade

    Avis27, se criou umaestrutura social do topopara baixo, demonstrandoo ntido

    interesseapenascomoempreendimentocomercialdopasmeemsuascolnias.

    OconceitodeEstadosegundoDallari(1987:4951)seriaumaordemjurdica

    soberana com a finalidade do bem comum ao povo que se encontra em seu

    territrio, sendoassim, teramoscomoseuselementos: o povo, o territrio, e o

    governo.

    26RobertoTavaresdeLyra(nasceuemRecife,19demaiode1902faleceunoRiodeJaneiro,28deoutubrode1982)foijornalista, jurista, expoente da Criminologia brasileira, pertenceu ao Ministrio Pblico do Rio de Janeiro. Fez parte dacomissorevisoradoProjetodeCdigoPenaldeautoriadoprofessorAlcntaraMachadojuntamentecomNelsonHungria,NarcliodeQueirozeoutros,resultandooCdigoPenalBrasileiroem1940,entrandoemvigorem1942.27ADinastiadeAvis(JoaninaouSegundadinastia)foiumadinastiadeReisdePortugal,quereinounopasentre1385e 1580.

    49

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Comoexplanadoanteriormente,oestadoportugustinhainteresseapenas

    emfixarnassuasnovas terrasamericanas,empreendimentoscomerciaisepara

    designar e diferenciar aquele que trabalharia para a sua empresa definiuos

    brasileirosdeprofissocomopedreiro,marceneiro,carpinteiro,etc.

    OBrasil Colnia tinhaosseguinteselementosdoconceitoestatal, Estado

    (governoportugus),tinhaoTerritrio(reageogrfica),masnotinhaPovo,aquele

    conjunto de pessoas que mantmumvnculo, umpacto jurdicopoltico como

    Estado,peloqualsetornamparteintegrantedeste.

    No havia uma identidade entre aqueles indivduos, inclusive a lngua

    adotadafoiportuguesa,aoinvsdobrasiliano.

    NoBrasilcolonial,segundoRibeiro(1995:122)haviaumalnguaformadapor

    diversasetnias,eraonheengatu28,lnguaabolidaeextirpadadaculturabrasileira,

    qualquerpessoaqueausassepoderiaserexecutadapelasautoridadescoloniais.

    Nesta falta de identidadenacional, somente poderamosser considerados

    cidados por um Estado que define a cidadania pelo exerccio dos direitos e

    garantiasesculpidasnaConstituio.

    Viver no atual mundo globalizado trs dificuldades para o exerccio da

    cidadania.Naprtica,oEstadobrasileironoconsegueatenderasexpectativasda

    populao em criar uma identidade nacional, ocorrem fenmenos como o

    estrangeirismoenovosvaloressoimportadosdiariamente.

    Essavalorizaodepossesesegregaodoshiposuficientesoriundasde

    uma cultura de modelo capitalista cria marginais nacionais e internacionais que

    inspiramprincipalmenteos jovenseascrianas, desdeasclassesmaispobres,

    filhosdetrabalhadores,atosfilhosdasclassesmaisricas,muitosdelesingressam

    em gangues que se denominam famlia, ficando a margem da sociedade

    tradicional.

    Adorno(1999)citaKleinnadefiniodoqueseriamasgangues:28Comefeito, alnguageral,onheengatu,quesurgenosculoXVIdoesforodefalarotupicombocadeportugus,sedifunderapidamentecomoafalaprincipaltantodosncleosneobrasileiroscomodosncleosmissionrios.(OPovoBrasileiroDarcyRibeiropag.122)

    50

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Podese considerar gangue qualquer grupo de jovens que rena as seguintescaractersticas: seja percebido comoumagregadobemdistinto pelos habitantes deumbairroouregio; seautoidentifiquecomotaldevidoaoempregodeumnomeprprioepeculiar;tenhacometidoumaprecivelnumerodeinfraespenaisapontodoshabitanteslocais e das autoridades encarregadas de preservao da ordem pblica teremdesenvolvidoatitudesnegativasedereprovaocontraogrupo.(ADORNO,1999:41,grifosnossos).

    Nesta sociedade multifacetria, trocase o nome de Favela por

    Comunidade apenas para amenizar o impacto do estigma daqueles oriundos

    desses locais. Naessncia o queexiste de similar nas duasdesignaes a

    desagregao familiar tradicional e a falta de assistncia estatal em mundos

    culturais diversos, dois plos da sociedade: pobres e ricos almejando mesmo

    objetivoemummundocapitalista,ascensosocialesuamanuteno.

    Essa ascenso para aquele que nasceu rico facilitada quando tem

    condiesdeexigir egarantir osexercciosdosdireitosgarantidosnasdiversas

    Leis.

    Paraaquelepobre, brancoounegro, o trabalhoeorespeito sLeis no

    dignificam,almdesersuperexplorado,recebervaloresinsuficientesparacomprar

    alimentosenousufruirosbenefciosqueasociedadedeconsumooferececomo

    seusalriodiariamentesegregadopornoseinserirnopadroquesociedadede

    consumodeseja.

    Nessaconjunturasocialaoporevoltarse,poisnoseidentificanessa

    sociedade como igual, nas palavras ministradas emaula pelo mestre Braghini29

    sobre a realidade juvenil naperiferia e perdade refernciasimblica, h noo

    dessarevolta: Noh dinheiro sujo, a sociedadeensinouquenoexiste outro

    poderqueodinheiro,venhadeondevier.Hojeamoedacaucionadaemnada,

    simbolizanada.

    29 BRAGHINI,Srgio. AulasExpositivassobrePsicologiaeDinmicasdeGruposSociais. FESPSPFundaoEscoladeSociologiadeSoPaulo:SoPaulo,2008.

    51

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Essaafirmaoreforadapelaspalavrasdeoutroestudiosodasociedade

    brasileira,oMestreemeducaoeSocilogoXavier30,segueseusensinamentos:

    ParaosmembrosdaSociedade,fazcomqueaperspectivadeumfuturomelhorinexista,sendooindivduoimediatista,oqueimportaopresente,usufruirtudoagoraqueconseguir,poisnohprevisodepoderuslos(bensmateriais,morais,etc.)emumfuturoprximo,resultado da Globalizao e a mudana de comportamento.(Informaesverbais,2008).

    Paraaproledefamliaricameiodeascensoculturalmanternopodereser

    reconhecida como diferente e como na atual sociedade capitalista brasileira os

    meiosjustificamosfins,seuspaisfizeramaculturasenhorversusescravovigorar

    eessecomportamentoserepeteparaosfilhosdestesquenotemespritosolidrio

    queuneaverdadeiracomunidade.

    OBrasilumaexpansoeuropia,dassuasvisessobreomundoevalores,

    somoscriaodaEuropa,masno idnticos,as idiasepensamentosqueso

    consideradosnacionaisparecemseencontrar forado lugarquandoconfrontados

    comarealidade.

    Essafalsanoodecidadaniaadvmdeexperinciasestrangeirasaplicadas

    emsolonacional,pensasecomacabeadomundoditocivilizado,masaplicase

    asregrasdecondutadoperodocolonialeimperialnodiaadia..

    Leal31,emseulivro (1949:29) Coronelismo,enxadaevoto,explanasobre

    os70%daquelesquepodiamvotarnaRepublicaVelha,votavamnaquelesmesmos

    7%,quenasuamaioriaeramosdonosdasterras,considerandoqueoshomens

    estavamemumadependnciasocialecultural,corrompendoseosistemapoltico

    parabeneficiarumaminoria.

    30XAVIER,CesarAugustoCndido.AulasExpositivassobreSeguranaPblicaeosGruposSociaisEspecficos:ViolnciadeGnero, HomofobiaeRacismo,TrficodeSeresHumanos. FESPSPFundaoEscoladeSociologiaePolticadeSoPaulo:SoPaulo,2008.31VitorNunesLeal,Jurista,Jornalista,ProfessordeCinciaPolticaeEscritor,foitambmMinistrodoSTF.

    52

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Nessecontextopodeseconsiderarocoronelismocomoumamutaoentreo

    regimedeEstadoEuropeuLiberalimplantadoapartirdaConstituioImperialde

    1824 e repetido nas posteriores, somada a uma estrutura social baseada em

    economiaagrriaefeudalaindacomfortestraosescravocratasdesenvolvidapara

    osucessodasoligarquiasagrriasedepoucosindivduos.

    Iniciousenesseperodoainstitucionalizaodocurraleleitoral,orientandoa

    vontadedaqueleindivduonomaisescravo,masaindadependentedosenhorde

    terrasquesomadoaosoutrosiguaisqueles,formavamamassasemidentidade.

    A esse sistema de continuidade de poder e imposio do medo que

    subjugavaosmais fracossubmetendoosaos interessesdospoderosos,dseo

    nomedeCoronelismo,ouseja,trocadefavoresentreoindivduoquevivedefavor

    (brancos ou negros, pobres e livres), o poder pblico (Estado) e a influncia

    daquelesconsideradoschefeslocais(coronis).

    Percebesequenessesistemadecontrole,aestruturaagrriaabasede

    sustentao,conseguindoforasparaqueopoderprivadofosseautenticadopelo

    poderpblicopormeiodesufrgioserepresentaesviciados,sepodevivenciar

    nosdiasatuaisalgumascaractersticasdesseperodoaindalatentesnointeriordo

    Brasil.

    Dentre as caractersticas polticasdesseperodoqueaindaperduramnas

    razessociaisdenossopasest omandonismoeofilhotismo,oprimeiroeraa

    perseguiopolticaparaacessoaopoder,ondeparaosadversriosaforadaleie

    aosamigos,privilgiosondetudopodiaserfeito.

    O filhotismo, outro fenmeno do coronelismo, semelhante ao atual

    despotismopoltico,beneficiavaosfilhosdoschefeslocaiseseusasseclas.

    AtaascensodoregimedeVargas32oscargospblicoseramdeindicao

    dos chefes locais, que para manteremse no poder, colocavam seus filhos e

    parentes,criandoumpoderpblicoparalelo,umarededeproteoentreiguais.

    32GetlioVargasgovernouentreosanosde1930a1945,adotandoreformaspolticasquealteraramasforaseospoderesdoscoronis.

    53

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Ficavamaquelesqueindicaramaoscargospblicos,impunessepraticassem

    delitosouimprobidades,poisoSistemadeJustiainclusivecriminalestavaemsuas

    mos.

    NahistriadoBrasil,ainstituiodaRepblicapelosMarechaisdoexrcito

    fortaleceuoPoderPblico,comadecadnciadopoderprivadodomonarcaque

    anteserarepresentadopelanobrezaesenhoresdeterras,aquedadamonarquia

    fezcomosltimosparamanteremsenopodersejuntassemaosrepublicanos.

    Opoder pblico central quenascapitais por foradosquartis generais,

    aindatinhamcertaautonomianecessitavadessaspessoas(coronis)paratambm

    mantersenogovernoeevitarasrevoltasdosmonarquistas.

    Faziasevistasgrossasaosdesmandosdessespolticosnosseuscurrais

    eleitorais,dasconseqnciasdessedescontroleinstitucionalizouseaviolncianos

    municpiosmaisafastados.

    NoBrasil, a aboliodo regimeservil deescravidoeaproclamaoda

    RepblicanofinalsculoXIX,deramumaimportnciafundamentalparaosvotos

    ruraiseinflunciaspolticas,poisadependnciadoeleitoradoaoscoronis(donos

    deterras)mostravaseemcompletasimbiosecomointeresseestatal.

    Adeturpaodoregimerepresentativopelasituaodependentistadopovo

    rural,possibilitouaexistnciadovotodecabresto,outracaractersticasecundriado

    coronelismo.

    Os compromissos entre o poder pblico e os donos de terras criarama

    mquinaeleitoral quemantinhaaforadogovernocentral republicanocontraos

    monarquistaseafunoeleitoralgovernistamantinhaosprivilgiosdocoronelismo,

    eramforasquealimentavamosistemadetrocadefavores.

    O coronelismoconsiderase fenmeno da Repblica, mas ainda nos dias

    atuaisnosdepararmoscomtraosdessascaractersticasdemanutenodepoder

    emregiesondeodesenvolvimento,urbanizaoecontroleestatalaindanoesto

    acentuados.

    54

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Interessantecomentarsucintamentesobrealgunseventoshistricosqueso

    referncias para o entendimento da atual estrutura do sistema social brasileiro,

    AboliodaEscravatura,ProclamaodaRepblica,xodorural, industrializao

    doBrasilnasdcadasde60e70eaDitaduraMilitar.

    Abolio transformou os negros (mercadorias) em indivduos com alguns

    direitos, diferentes daqueles senhores proprietrios de terras, que pelo sistema

    censitrio podiamescolher os lderes, essesescravosno tinham funosocial,

    eramlivres,maspobresesemterras.

    Com proclamao da Repblica, os senhores de terras, aumentaram a

    influncianapolticanacional,osvotosruraistornaramsefontesdepodercoma

    dependnciadohomemantesescravo,agorasesubmetendoaviverdefavornas

    terras, criouse o pessoalismo e como o sistema poltico representativo estava

    corrompido,possibilitouafiguradovotodecabresto.

    AselitesdaRepblicasecompromissaramcomosistemadocoronelismo,

    trocavamseapoiosemantinhaseopoderdosdonosdeterradecadentesdoantigo

    patriarcalismo33 sendo uma estrutura governista que vigorou e se fortaleceu no

    perododoRegimeRepublicano.

    OxodoRuralmotivadopela industrializaofoi outrofatorquecontribuiu

    paraaofortalecimentodopessoalismodoscoronisexistentesatosdiasdehoje,

    poisseantesparapermanecernasterrasdossenhoresdeveriaopobre,brancoou

    negrotrocarfavoresagoraossistemadetrocaseraoutro.

    Comapassagemdosculo XIXparaoXX, secriaramnovosambientes

    urbanos industrializados, possibilitando liberdade de expresso e trabalho para

    aqueles antigos vassalos na aquisio e fabricao de manufaturas e bens de

    consumo,necessidadesdessanovapocaqueagoraestavamconcentradasnas

    cidades.

    As modernizao dos centros culturais com a implantao de colgios,

    faculdadesehospitaisfizeramcomqueosantigossenhoresdeterraspatriarcais

    33Concentraodopodereconmico,socialepolticonogrupoparental.

    55

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    transformadospela Repblica emcoronis, percebessemque nohavia mais a

    necessidadedemandarseusfilhosestudarnoexterioreaomesmotempo,podiam

    ternasmetrpoles,umavidacommaisconfortodasociedadecivilizada.

    Houveamudanapaulatinadaeliteagrriaparaascidadesecomissoseus

    dependentes,antesescravosagoracabrestos,tambmsemudavamalojandoseos

    ltimosnasperiferiasdascidades,masaindacomfortesvnculoscomosantigos

    patres.

    EnquantooantigossenhoresdeterraselevadosaBareseagoracoronis

    seconcentravamnomelhoremaissegurolocal,comexemploemSoPaulotemos

    aAvenidaPaulista,lugaralto,longedasinundaesquesofriaacidadepeloseu

    relevogeogrfico,ondeosmaisabastadosconstruamsuasmansesenquantoos

    pobresconcentravamsenasperiferias.

    OsBaresforamgrandesconcentradoresdepoder,principalmentenaqueles

    estadosondeaeconomiaagrriapelaproduodeleiteedecafmovimentavao

    pas.

    Comtantopoderdebarganhaelegitimadosoficialmentepeloscabrestose

    poderfinanceiro,comandaramosrumosdopaspormuitosanos,elegendodiversos

    presidentes republicanos, uma alternncia no poder que ficou conhecida como

    PolticadoCafcomLeite34.

    Segundo Mendes (2005) Vargas ao assumir, quebrou o ciclo vicioso do

    coronelismo, tentou acabar com a corrupo civil que se alternava no poder

    republicanoimpedindoopasdecrescereevoluirdemocraticamentevejatrechode

    umartigodesseautor:

    Depois de novembro de 1930 configurase um novo cenrio naevoluodasociedadebrasileira: novasclassessociais burguesiaindustrial e proletariado urbano requerem ateno na tomada dedecisespolticas,marcandoodesenvolvimentoulteriordopas.Asantigas oligarquias ligadas ao setor exportador progressivamente

    34A"PolticadoCafcomLeite"consistianumaalianaentreosdoisEstadosmaispoderososdafederao:SoPaulo(centrodaeconomiacafeeira)eMinasGeraisprodutordeleite(detinhaomaiorcontingenteeleitoraldopas).EssaalianapreviaumrodzionaindicaodocandidatoaserapoiadopelosdoisEstadosnaseleiesperidicasparaaPresidnciadaRepblica.

    56

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    decaem em prestgio e influncia. O Estado passa a ser umimportante indutor do desenvolvimento, coordenando esforos,planejando,intervindodiretamentenaproduo,controlandoaordemsocial.(Mendes,2005:9)

    Nessapocaosprincpiosdosdireitoshumanosondeprevaleciaideologiade

    igualdadeentreospovoseprosperidade,eramlargamentedivulgadoscomomeio

    deimpedirasatrocidadesda1GuerraMundial.

    Aindustrializaodopasearetiradadohomemdocampoparaasgrandes

    cidadesforamosmeiosencontradosparaminoraropoderpolticodoscoronis,

    fomentando tais atitudes buscavase modernizar o pas e coloclo em p de

    igualdadecomoutrosdetrajetriacolonialparecida,masdesenvolvidos.

    Mesmofomentandoidiasondeseprivilegiavaumpasemdetrimentodas

    elites agrrias, houveoutra vez a corrupodas idias humanistas europias e

    americanas,pelovrussociolgicodocoronelismoqueseadaptouaonovosistema

    parapermanecernopoder.

    Acidadaniacivilepoltica,toalardeadasnospaseseuropeuseamericanos

    no se apresentam em sua plenitude em nosso pas, o patriarcalismo e o

    coronelismo consistentes na hipertrofia do poder privado, assumindo todas as

    funespblicassogenesmutantesnarvoregenealgicabrasileiraqueperduram

    atosdiasatuais.

    Cronologicamente,aoassumiremaautotutelaparapunircomaproclamao

    da Repblica, os militares institucionalizam o exrcito, com estrutura e fora

    necessriaparamanteraordemeamanutenodopoderrecmassumido.

    Como os coronis representavam grande poder de influncia poltica e

    pessoalemseuscurraiseleitoraiseocontingentedoexrcitoaindaeramincipientes

    parasefixarememtodasaspartesdoterritrio,osacordosantescomentadosde

    trocadefavoresentreopblicoeoprivadoaindaprevaleciam.

    AJustiaCriminal,antesnasmosdoscoronisnoospunia,nasmosdo

    exrcitopoderiafazersejustiadeverdademasnofoioqueaconteceu.

    57

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    Comoa tradiodenoprender oscoronis estavaenraizadanoseio a

    sociedade, houve conluio para manter este status, e assim os coronis no

    ficavampresos,comoosistemapatriarcal aindavigoravaculturalmente, tinhaos

    coronisdeprotegerasuaproleparaagarantiaemanutenodopoder.

    Namanutenodopoderaquelescomrelevnciasocialeimportnciaparao

    Estado Republicanonodeveriam ter priso comose fossempessoascomuns,

    nascefiguradanoprisodaqueleschamadosdoutores,ouseja,queportassem

    ttulo de bacharel, podese ter uma noo desse perodo ao assistir o vdeo

    educacional Republica dos Bacharis, produzido pelo ILB (Instituto Legislativo

    Brasileiro)doSenadoFederal.

    Arealidadeeducacionaldopasdemonstrouquesomenteosfilhosdosdonos

    de terras, naquela sociedade agrria psimperial tinham condies de cursar

    faculdadeeobtertalgraduao.

    Mantinhamsetudocomoantes,quempodiamaismandavaenoiapreso,

    aquelequenopodiaobedeciaeaindapoderiaserpresoeparanoslodependia

    dosfavoresdosantigoscoronisedeseusfilhosbacharis.

    O governo de Vargas instalado no Brasil em 1930 foi uma tentativa de

    diminuir ospoderesdoscoronis quevigoravamnoBrasil Imperial enoperodo

    Republicano,aoindustrializaremodernizarascidadespensavaseemdiminuiro

    poderenraizadonaestruturasocialbrasileiradossenhoresdeterras.

    Osgovernosposteriores,principalmenteodeJKcomolema50anosem5,

    incentivaramaindustrializaodoBrasil,eapsgolpede1964oRegimefomentou

    grandes obras, que em conseqncia reforaram o fluxo migratrio no pas,

    incentivandoumadesordemsocialeurbana.

    Considerando as relaes entre indivduos e sua sociedade como uma

    cinciasocial,sepodeobservarocorrnciasdefenmenosnasrelaescotidianas

    quando idiase teoriasmuitasvezesboastmdificuldadedeseconcretizarem,

    transformandoarealidadediriaemdesarmoniaeinjustiasocial,assimpodemos

    dizerque

    58

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    seguranae injustiasoconceitoshistricos,RizzatoNunes(2002:278),

    sintetizadaseguinteforma:

    Dadaanaturezasocialdoserhumano,suavivnciaemgrupos fez com que certos conflitos nascessem danaturalrelaosurgidanoagrupamentosocial.....Em funo da complexidade das relaes nascentes,tornouse necessrio, ento, que se estabelecessemnormas para que, atendendoas, os indivduos, e aprpriasociedadepudessemcaminharrumoquiloaquese haviam proposto: busca de harmonia e paz social(Grifosnossos).

    Desdeosprimrdioshumanosohomemsejuntaaoutrosparatersegurana,

    formarumasociedadeeestabilizarasrelaesquenaturalmentedivergementreos

    sereshumanosprximosunsdosoutros.

    Hemsociedadesbemconstitudasnormalizaodecomportamentos,cria

    seregrasabstratasqueregulamasvontadesdosindivduos,podemsernormas,

    rotinas,idiomas,palavras,ritos,entreoutros,todassocarregadasdesentidodo

    justoeinjusto,quepodemvariardependendodograudeinclusoculturalefamiliar

    ondeoindivduoseencontra.

    Acultura lateralizaos instintoshumanoseaagnciasocializadora famlia

    fomentaacultura,ouseja, minimizaosdesejos individuaisemprol deumtodo,

    necessrioparamanterosentidodesociedadeouuniodeumgrupo,criaseuma

    unidadevalorativa lingsticaoudeaes,ondesereconhecemporpalavrasou

    gestosquetemseusignificadoevalor.

    Oarbtriodoindivduoaculturadoseregepelasuamoral,ouaquiloquepara

    elejustoouinjusto,confrontasecomotodoculturaldasociedadeemquevivee

    separaeleaquiloquefazcomparandocomotodo aceitvel, entoparaeste

    indivduojusto,seinaceitvelinjusto.

    59

  • HistriadaFormaodoBrasiledaSociedade

    APolcia, podeser consideradaoutra agnciasocializadorada Instituio

    chamadasociedaderepresentadapeloEstado,temaresponsabilidadedemantera

    segurana,prevenirerepeliranomaliasquedesfiguramavontadedotodo.

    Comparandoaaodaspolciasparamanter a segurananosentidodo

    pensamentofilosficoqueconsideraqueaverdadeestaemcadahomem,elano

    necessria,poistodosnstemosmecanismosprpriosparareconheceraverdadee

    noseportardemododanosoasociedade.

    Sabendoqueosdesejosnaturaisdohomemsoindissociveisdoseuser,

    querendogozaravidaemsuaplenitude, impor regrasseriaumaameaaasua

    liberdadedemanifestao.

    Mas quando o indivduo livremente agregase a qualquer Sociedade, doa

    parceladesualiberdadeerecebecomogarantiaolivreexercciodetodasasoutras,

    desdequeobedecidacertasregrasdeconvivncia.

    Quandorompeasregrasquesecomprometeuarespeitar,eoncleofamiliar

    jnorefernciaparalateralizarinstintos,deveexistirmecanismoseinstituies

    decontroleemanutenodaordemeseguranaparaorestodasociedade,dentre

    elesestaaPolcia,queserabordadanoprximotpico.

    60

  • 22 ASPOLCIASASPOLCIAS

    Partindodapremissaquenoexiste ummodelopolicial queseadaptea

    todasas condiesdeviolncia e criminalidadeem todasas partes do mundo,

    sendonecessrioconheceraestruturasocialdopasondeestsituadoapessoado

    sujeitoofensoreofendido,devemseparticularizaroscomportamentosculturaisde

    umasociedadeparadiagnosticarascausasdofenmenocriminal.

    Os sistemas policiais mais conhecidos para a manuteno da ordem e

    seguranasoaquelesdepasesondeacriminalidadechegouapontoderefletirse

    mundialmente,sendonecessrioadotarmedidascomgrandesimpactosacurtoe

    longoprazo.

    OBrasillocalizadonoocidentesofreufortesinflunciasdemodelosreativos

    americanos e preventivos europeus, tentouse uma sntese dos sistemas nas

    polticascriminaisaplicadasemnossoterritrio, mas raroqualquersistemade

    seguranasermundialmenteuniversal,podendoteraplicabilidadetotalemumpas

    eemoutronosurtirosefeitosdesejados.

    Aspeculiaridades dacultura brasileira soaspectos importantssimosque

    influenciam nesses resultados, estruturas sociais e relaes criadas pela

    colonizaodurantesculostmaspectosrelevantes.

    A gnese do povo brasileiro a somatria de vrias descendncias

    europias,principalmentedePortugalesuacultura,umpasquesituadoemponto

    estratgicoparaasnavegaesdeucapacidadedecolonizaremvriosterritriosem

    diversaspartesdomundo.

    Com predominncia de uma cultura imposta ao pas de rito

    racionalista/comercial, advindo dos interesses econmicos e polticos da Europa

    explicitados no captulo anterior, auferemsignificativa importncia na anlise da

    violnciaecriminalidadenosdiasatuais.

    Captulo

  • AsPolcias

    NaprimeiraConstituiodoBrasil, a Imperial de1824,as idiasdeJohn

    Locke35,deliberdadespolticasecivisestavamrepresentadas,aparentementeessa

    Carta de Direitos poderia revolucionar os sistemas e estruturas impostas na

    colonizaodopovobrasileiro,masissonoocorreu.

    AplicousenoBrasilapsaindependnciaumaMonarquiaAbsolutista,com

    parlamentoscopiadosdemodelosingleses,comdireitoseliberdadesapenasaos

    nobres,clrigoseproprietriosdeterras,comvotocensitrioeparticipaopoltica

    limitada.

    As estruturas sociais, polticas e territoriais do Estado refletemse na

    heterogeniadossistemaspoliciaisaplicados,reafirmandoapremissaquenopode

    haverummodelouniversaldepolcia.

    Nahistoria