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    3. COMENTRIOS JURISPRUDNCIA

    3.1 A EFETIVIDADE DO PROCESSO DE EXECUO POR QUANTIACERTA CONTRA A FAZENDA PBLICA E O DEVER DO PRESIDENTE

    DO TRIBUNAL EM EXPEDIR ORDENS DE PAGAMENTO DEPRECATRIOS ANLISE CRTICA DA SMULA 311 DO STJ

    MARA CARVALHO LUZAdvogada

    Integrante da Rede Nacional dos Advogados e Advogadas Populares RENAP

    1. Smula

    Smula 311 do STJ (DJ de 23/05/2005). Os atos do presidente do tribunal quedisponham sobre o processamento e pagamento de precatrio no tm carter

    jurisdicional.

    2. Razes

    A interferncia judicial na Administrao muda e condiciona a ao administrativa de

    modo que a partir do momento no qual o Presidente do Tribunal emana a ordem paraa Fazenda Pblica para que pague os precatrios devidos estar determinando umaao administrativa. Assim, h que se compreenderem os limites do Poder Judiciriono controle da administrao pblica.

    3. Justicativa

    fundamental discutir em que intensidade o controle judicial, por meio doinstrumento da ordem de pagamento de precatrios pela Fazenda Pblica, transformao direito material que regula a administrao pblica, pois a efetividade da Justia,nessa hiptese, somente ocorre a partir do direito material contido na referida ordem

    judicial.

    4. Comentrios

    4.1. Aspectos introdutrios

    As decises de cunho decisrio do Poder Judicirio nem sempre possuem naturezajurisdicional, a exemplo dos atos do Presidente do Tribunal que disponham sobre oprocessamento e o pagamento dos precatrios. H que se considerar, para isso, que

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    Belo Horizonte, n. 10, jan./jun. 2008.

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    a estrutura judiciria baseia-se na execuo de duas espcies de atos jurdicos: osjurisdicionais e os no-jurisdicionais. Todavia o papel exercido pelo Presidente doTribunal na execuo contra a Fazenda Pblica costuma ser objeto de interpretaesdiferenciadas quanto sua natureza jurdica, o que levou o Superior Tribunal de

    Justia a editar a Smula 311, a qual dispe que os atos do Presidente do Tribunalsobre o processamento e o pagamento de precatrio no tm carter jurisdicional.

    O precatrio mencionado pela Smula 311 do STJ representa uma carta de sentena,nos termos dos artigos 484 e 521 do CPC, sendo processado pelo respectivo Tribunal,de acordo com suas normas regimentais. O art. 100, 2, da CF/1988 estabelece queao Presidente do Tribunal caber determinar o pagamento do precatrio, mediantemandado de levantamento das importncias resultantes das dotaes oramentriase dos crditos adicionais abertos para tal nalidade, observadas as possibilidades dedepsito. Haver uma distribuio proporcional dos valores, na hiptese de gurarno precatrio vrios credores e no abranger na verba oramentria a totalidade doscrditos.

    O art. 100 da CF/88 dispe que o pagamento dos precatrios obedecer ordemcronolgica de suas apresentaes, vedando a abertura de crditos adicionaissuplementares para esse m. Tambm assegura a isonomia entre os credores,impedindo qualquer espcie de favorecimento, seja por razes polticas ou pessoais,consagrando, com isso, o princpio da impessoalidade, previsto no art. 37 da CF/88.

    H uma ressalva constitucional que se refere, apenas, aos casos de crditos de naturezaalimentcia, os quais devem ser pagos imediatamente, respeitando-se as possibilidadesoramentrias da Fazenda Pblica. Moraes (2007) esclarece que a ConstituioFederal, em seu art. 100, adota a regra da ordem dupla de precatrios, que consistena el observncia cronolgica das requisies judiciais de pagamento de crditosde natureza alimentcia e de crditos de outras naturezas, de forma paralela. Assim,haver uma ordem cronolgica de precatrios para os crditos alimentares e outra de

    ordem cronolgica para crditos no alimentares.

    No importa se o ttulo apresentado na execuo por quantia certa contra a FazendaPblica seja judicial ou extrajudicial, pois em ambos os casos o que prevalece o

    procedimento especial previsto nos artigos 730 e 731 do CPC e na regra geral contidano art. 100 da CF/88, em que pese esse ltimo artigo fazer aluso expressa apenasa pagamentos devidos em virtude de sentena judiciria. Esse o entendimentomajoritrio da doutrina, como o de Cmara (2007), o de Dinamarco (1997) e o deTheodoro Jnior (2007), alm do enunciado na Smula 279 do STJ. A causa desse

    procedimento diferenciado se d em razo do regime especial dos bens do domnionacional e do patrimnio administrativo, de forma que a constrio imediata e

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    incondicionada dos bens pblicos se revela inadmissvel, face inalienabilidade eimpenhorabilidade de tais bens.

    A Fazenda Pblica no est obrigada a submeter seus bens satisfao imediata da

    deciso exeqenda em face da condenao do Estado. Com isso, a execuo foradacontra o Poder Pblico no seria razovel, tendo em vista os princpios da supremaciae indisponibilidade do interesse pblico, a moralidade, os princpios oramentriose de responsabilidade scal. O mecanismo procedimental dos precatrios exclui ahiptese de contingncia judicial executiva de maneira inopinada em face da FazendaPblica. A inexistncia desse instituto, certamente, implicaria um ambiente instvelque prejudicaria o planejamento scal e nanceiro do Estado.

    Diante disso, para o cumprimento da execuo por quantia certa contra a FazendaPblica obrigatria a expedio de precatrio, salvo para as dvidas de pequeno valorde responsabilidade da Fazenda Pblica Federal, sejam alimentares ou no (a forma derecebimento das quantias de pequeno valor est disciplinada na Lei n 10.259/2001,relativamente Fazenda Pblica Federal, e de outras disposies extravagantes,a exemplo do art. 128 da Lei n 8.213/1991, reformadas pela Lei n 10.099/2000,cando em aberto o procedimento aplicvel aos Estados e aos Municpios).

    Prosseguindo a execuo, se a Fazenda Pblica no ajuizar os embargos, ou se elesforem recebidos sem efeito suspensivo, ou se a sentena tiver sido favorvel aoembargado, dever o juiz da execuo requisitar o pagamento para o Presidente doTribunal competente, pois a ele cabe a determinao da expedio do precatrio, que uma requisio de pagamento dirigida Fazenda Pblica. Sero estabelecidas dotaesoramentrias para o pagamento de tais crditos, devendo ser o dinheiro consignado disposio do tribunal, para que o respectivo presidente possa determinar que sejamefetuados os pagamentos na ordem de apresentao dos precatrios.

    4.2. Dos atos praticados pelo Presidente do Tribunal no processo de execuo por

    quantia certa contra a Fazenda Pblica

    Ao contrrio da natureza jurisdicional dos atos praticados pelo juiz da execuo, anatureza dos atos praticados pelo Presidente do Tribunal na execuo por quantiacerta contra a Fazenda Pblica administrativa, conforme entendimento majoritriodos tribunais superiores e da doutrina, tendo o Superior Tribunal de Justia, inclusive,

    para dirimir essa controvrsia, editado a Smula 311. Essa competncia conferidaao Presidente do Tribunal para determinar Fazenda Pblica a pagar suas dvidas naordem de apresentao dos precatrios ocorre em ateno ao princpio federativo.

    Segundo Assis (2007), a origem de tal competncia vem desde os trabalhos

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    preparatrios CF/1934, para que houvesse uma soluo de equilbrio noprocessamento do pagamento dos precatrios, para que a responsabilidade em pag-los no se concentrasse no Poder Executivo. Cmara (2007) assevera que o atualsistema diferenciado para a execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica,

    com sede constitucional, existe em virtude da necessidade de evitar os males entre osPoderes do Estado, no caso em tela, entre o Executivo e o Judicirio.

    Marinoni e Arenhart (2007) esclarecem que a atividade realizada pelo Presidente doTribunal meramente administrativa, limitada ao exame dos aspectos formais do

    precatrio, expedio dos mandados de levantamento das quantias depositadas e aocontrole da sua ordem cronolgica com a aplicao de eventuais sanes decorrentesde sua violao, como na hiptese da ocorrncia de seqestro. Em decorrncia disso,a qualquer tempo, tais atos podero ser controlados por mandado de segurana, tendoem vista que no fazem coisa julgada.

    A supracitada atividade administrativa desempenhada pelo Presidente do Tribunal atividade administrativa vinculada, haja vista que a Constituio Federal de 1988,em seu art. 100, dene os exatos termos de tudo aquilo que o Presidente do Tribunaldever fazer. Em razo disso, o Presidente do Tribunal no poder analisar o mritodo processo de execuo por quantia certa contra a Fazenda Pblica, o que nosignica que ele deixar de motivar suas decises. Medauar (2007) recorda que todasas decises administrativas dos tribunais sero motivadas, a teor do previsto no art.93, X, da CF/88, em que o m dever ser sempre o interesse pblico, sendo tais atos

    passveis de controle por meio de mandado de segurana.

    Alvim (2003) registra que o referido ato do Presidente do Tribunal no pode serdiscricionrio, tendo em vista que ele no admite a possibilidade de mais de uma opolegtima. Para Mello (2006), a discricionariedade ocorre quando cabe a interfernciade um juzo subjetivo do administrador, o que no ocorre no caso da competnciaadministrativa do Presidente do Tribunal para o pagamento dos precatrios.

    Cretella Jnior (2002) ressalta que a referida atividade administrativa uma espciede ato jurdico, o qual caracteriza uma manifestao do Estado, dentro do exerccioregular de suas funes, que tem por nalidade imediata criar, reconhecer, modicar,resguardar ou extinguir determinadas situaes subjetivas. Um dos atos administrativos

    praticados pelo Presidente do Tribunal que, na verdade, uma ordem judicial dirigidaao poder pblico para que se efetue o pagamento dos precatrios, vericar, porexemplo, se o montante devido pela Fazenda Pblica est previamente includo nooramento do respectivo rgo pblico, nos termos do art. 167, II, da CF/88. Outro

    exemplo seria a vericao de que no h controvrsia quanto parcela do crdito aser executada na hiptese de execuo provisria contra a Fazenda Pblica. Possuem

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    o mesmo entendimento Marinoni e Arenhart (2007) e a jurisprudncia do STJ (REsp806132/PE, Rel. Min. Jos Delgado; AgRg no Resp 843383, Rel. Min. Laurita Vaz).

    Na hiptese de descumprimento da ordem cronolgica dos credores, o art. 100,

    2, da CF/88 autoriza o Presidente do Tribunal a decidir o seqestro da quantianecessria satisfao da dvida, mediante prvia audincia do Ministrio Pblico,sendo inadmissvel a interveno federal, prevista no art. 34, VI, da CF/1988. NeryJunior e Nery (2006) ressaltam que esse seqestro um incidente ao processo deexecuo contra a Fazenda Pblica, que possuir natureza jurdica satisfativa se visar entrega da quantia seqestrada para a satisfao do crdito do credor preterido,caso ele tenha sido o primeiro na la (CF, art. 100, 2). Todavia, se o preteridofor qualquer outro credor, a medida ser cautelar (CPC, art. 822, IV), pois visa recomposio da ordem cronolgica e de preferncia dos precatrios. De todo modo,a competncia para decidir sobre o seqestro originria do Tribunal, tendo em vistaque o ofcio requisitrio expedido pelo seu respectivo Presidente (CPC, art. 730, I).

    Caso o Presidente do Tribunal retarde ou tente frustrar a liquidao por ato comissivoou omissivo, incorrer em crime de responsabilidade, contido no art. 100, 6, daCF/88. Na prtica, o engano feito na ordem do pagamento dos precatrios, dicilmente, atribudo ao Presidente do Tribunal, pois a referida preterio deriva, na maioria dasvezes, de transaes extrajudiciais feitas entre particulares e a Fazenda Pblica. Porisso, como bem aduz Assis (2007), os verdadeiros viles dessa conduta tpica, soaquelas pessoas competentes pela liberao das dotaes oramentrias, que acabamcando isentos dessa severa cominao.

    4.3. Entendimento jurisprudencial acerca da Smula 311 do STJ

    pacco o entendimento na jurisprudncia de que os atos praticados pelo Presidentedo Tribunal para o cumprimento do pagamento dos precatrios possuem naturezaadministrativa, conforme demonstram as jurisprudncias do STF e do STJ, a seguir

    transcritas. No julgamento da ADI n 1.098-1-SP, em que foi relator o eminenteMinistro Marco Aurlio de Mello, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a ordemjudicial de pagamento de precatrio feita pelo Presidente do Tribunal, nos termosdo art. 100, 2, da CF/88, bem como os demais atos necessrios a tal nalidadeconcernem ao campo administrativo e no jurisdicional, de modo que, a respald-la,tem-se sempre uma sentena exeqenda (ADI n 1.098-1-SP, Rel. Min. Marco Aurliode Mello).

    O Supremo Tribunal Federal posicionou-se no mesmo sentido, no RE -AgR n

    213696 - SP, em que foi relator o Min. Carlos Velloso, tendo decidido, por maioria devotos, que a atividade desenvolvida pelo Presidente do Tribunal, no processamento do

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    precatrio, no jurisdicional, mas administrativa. Tambm administrativa a decisodo Tribunal tomada em agravo regimental interposto contra despacho do Presidentena mencionada atividade. O recurso extraordinrio pressupe a existncia de causadecidida em nica ou ltima instncia por rgo do Poder Judicirio no exerccio de

    funo jurisdicional. Proferida a deciso em sede administrativa, no h de se falarem causa, no sendo cabvel a interposio de recurso extraordinrio. (RE -AgR n213696/SP, Rel. Min. Carlos Velloso).

    Em outra ocasio, o Supremo Tribunal Federal resolveu que a deciso do Presidentedo Tribunal relativa ao cumprimento de precatrio uma deciso administrativa. Nose tratando, pois, de causa decidida pelo Tribunal, no exerccio de jurisdio, quecomporte a interposio de Recurso para aquela Corte, nos termos do art. 102, III, daCF/88 (AI AgR 308917 - PE, Rel. Min. Sydney Sanches).

    H que se registrar que, nesses casos, apesar de as decises do Presidente do Tribunalpossurem natureza administrativa, isso no exclui o poder geral de cautela do referidoPresidente. Nesse sentido, entendimento do eminente Ministro Eros Grau ao decidirque o poder geral de cautela alcana as decises administrativas (RMS 25104/DF,Rel. Min. Eros Grau).

    Assim tambm decidiu o Superior Tribunal de Justia ao assentar a tese de que oPresidente do Tribunal pode utilizar-se do poder geral de cautela (poder esse dendole jurisdicional) para sustar pagamento de precatrio. Entendimento esse quevai de encontro com a Smula n 311 elaborada por esse Tribunal, de que os atos

    presidenciais, nessa hiptese, tm carter meramente administrativo. Assim, cabeao juzo da execuo solucionar incidentes ou questes surgidas no cumprimento de

    precatrios, j que a funo do Presidente do Tribunal no processamento do requisitriode pagamento de ndole essencialmente administrativa, no abrangendo as decisesou recursos de natureza jurisdicional (REsp 730333/SP, Rel. Min. Eliana Calmon).

    O Superior Tribunal de Justia decidiu que pacco o entendimento de que cabe aoJuzo da Execuo solucionar incidentes ou questes surgidas no cumprimento dosprecatrios, pois a funo do Presidente do Tribunal no processamento do requisitriode pagamento de ndole essencialmente administrativa, no abrangendo as decisesou recursos de natureza jurisdicional. Logo, interfere na atividade jurisdicionaldo Juzo da Execuo o ato da Presidncia do Tribunal que determina o depsitoda quantia na conta do Juzo, com bloqueio da verba, at que se resolva sobre oincidente levantado nos autos do procedimento administrativo relativo ao precatrio,especialmente quando as questes levantadas no incidente j haviam sido resolvidas,

    com trnsito em julgado, nos embargos execuo (RMS 23480 SP, Rel. Min.Humberto Martins; REsp 493.612- MS, Rel. Min. Eliana Calmon).

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    5. Concluso

    O Presidente do Tribunal de Justia, ao receber a requisio do juiz da execuo para o

    pagamento dos precatrios, deve respeitar o direito fundamental boa administraopblica dialgica, de modo a observar o devido processo legal, com a durao razoveldo processo, o que implica o dever de motivao consistente e proporcional. ConformeFreitas (2007), dever observar tambm o direito administrao pblica ecientee ecaz, de forma a reduzir os conitos intertemporais, que s fazem aumentar oschamados custos de transao.

    Embora o Poder Judicirio tenha como atividade caracterstica a funo jurisdicional,exerce, em larga medida, a funo administrativa, praticando atos materialmentedenidos, como atos administrativos, tais qual a hiptese do processamento e

    pagamento dos precatrios pelo Presidente do Tribunal. Em tais circunstncias, oPoder Judicirio submete-se aos preceitos do Direito Administrativo. Nesse contexto,interessante o entendimento de Lima (2005) ao armar que necessria a armaodo direito administrativo no mbito do Poder Judicirio, pois, em sentido material,esse Poder pratica atos administrativos em abundncia. Esses atos no jurisdicionaisso editados pelo juiz na forma de administrador do processo, uma vez que nada

    julga. Assim a atividade do Presidente do Tribunal, ao emanar atos de naturezaadministrativa para o processamento e pagamento dos precatrios, nos termos daSmula 311 do Superior Tribunal de Justia, perfeitamente assimilvel de umagente administrativo, a quem se pede uma manifestao, e no um pronunciamentosobre determinado litgio.

    Portanto, quando o Presidente do Tribunal emite uma ordem para a Fazenda Pblica,para que ela pague os precatrios devidos, no poder se eximir de scalizaro cumprimento da ordem que emitiu. H que se considerar que o pagamento dos

    precatrios, a ser feito pela Fazenda Pblica, uma ao administrativa, a ser scalizada

    pelo Presidente do Tribunal, sob o ngulo estrito da legalidade, haja vista que a ordemjudicial por ele expedida possui natureza administrativa vinculada. justamente ocontrole exercido pelo Presidente do Tribunal que proporciona a efetividade na Justiano caso aqui analisado.

    6. Referncias bibliogrcas

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