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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações 289 A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações MARQUÊS, Elbia Barreto 45 SCHMIDT, Carmen Elizabeth Finkler 46 RESUMO O objetivo deste artigo é analisar o papel da educação cooperativista na gestão e no fortalecimento da Cooperativa Bageense de Artesanato, por meio de um estudo de caso. Com este estudo, pretende-se analisar as possibilidades e limitações da educação cooperativista na gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato (COOBART), situada em Bagé, Rio Grande do Sul, e fundada na década de 80. Os dados para o estudo foram coletados por meio de visitas e conversas informais e de um questionário aplicado a gestores e associados. Assim foi possível compilar informações acerca da história, doutrina e nível de educação cooperativista. O questionário constou de perguntas abertas, perguntas fechadas e questões de múltipla escolha e foi enviado, por correspondência, aos 26 cooperados ativos. Entre os resultados, ficou evidenciado, tanto na teoria quanto na prática, que a gestão social é o principal gargalo encontrado na gestão da COOBART, mas que a gestão econômica também não prescinde da educação cooperativista e da capacitação específica para os dirigentes, tendo em vista que as atividades são complementares e correlacionadas. Foi possível constatar que a maioria dos cooperados não conhece os princípios do cooperativismo e pouco participa das assembleias e demais atividades oferecidas pela cooperativa, demonstrando baixo índice de interesse e acentuado grau de desconhecimento sobre cooperativismo e sobre as atividades da cooperativa. Diante dos resultados obtidos, sugerem-se investimentos na realização de um bom e continuado trabalho de educação cooperativista, com associados e gestores, para conduzir à solução dos problemas que permeiam a gestão da cooperativa em estudo. Palavras-chave: Educação cooperativista. Princípios e valores. Capacitação. Desenvolvimento. ABSTRACT The objective of this paper is to examine the role of cooperative education in the management and strengthening of Cooperativa Bageense de Artesanato, through a case study. This study aims at analyzing the possibilities and limitations of cooperative education in the management of Cooperativa Bageense de Artesanato (COOBART), a handicraft cooperative located in Bagé, Rio Grande do Sul, and founded in the decade of 1980. Data for the study was collected through visits, 45 Assistente Técnica Regional da Emater/RS-Ascar, professora, especialista em psicopedagogia pela URCAMP Universidade da Região da Campanha. E-mail: [email protected]. 46 Carmen Elizabeth Finkler Schmidt, professora orientadora, especialista em Educação e Ciências Sociais pela UNISINOS Universidade do Vale dos Sinos. E-mail: [email protected].

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

289

A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa

Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

MARQUÊS, Elbia Barreto45

SCHMIDT, Carmen Elizabeth Finkler 46

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar o papel da educação cooperativista na gestão e no fortalecimento da Cooperativa Bageense de Artesanato, por meio de um estudo de caso. Com este estudo, pretende-se analisar as possibilidades e limitações da educação cooperativista na gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato (COOBART), situada em Bagé, Rio Grande do Sul, e fundada na década de 80. Os dados para o estudo foram coletados por meio de visitas e conversas informais e de um questionário aplicado a gestores e associados. Assim foi possível compilar informações acerca da história, doutrina e nível de educação cooperativista. O questionário constou de perguntas abertas, perguntas fechadas e questões de múltipla escolha e foi enviado, por correspondência, aos 26 cooperados ativos. Entre os resultados, ficou evidenciado, tanto na teoria quanto na prática, que a gestão social é o principal gargalo encontrado na gestão da COOBART, mas que a gestão econômica também não prescinde da educação cooperativista e da capacitação específica para os dirigentes, tendo em vista que as atividades são complementares e correlacionadas. Foi possível constatar que a maioria dos cooperados não conhece os princípios do cooperativismo e pouco participa das assembleias e demais atividades oferecidas pela cooperativa, demonstrando baixo índice de interesse e acentuado grau de desconhecimento sobre cooperativismo e sobre as atividades da cooperativa. Diante dos resultados obtidos, sugerem-se investimentos na realização de um bom e continuado trabalho de educação cooperativista, com associados e gestores, para conduzir à solução dos problemas que permeiam a gestão da cooperativa em estudo.

Palavras-chave: Educação cooperativista. Princípios e valores. Capacitação. Desenvolvimento. ABSTRACT

The objective of this paper is to examine the role of cooperative education in the management and strengthening of Cooperativa Bageense de Artesanato, through a case study. This study aims at analyzing the possibilities and limitations of cooperative education in the management of Cooperativa Bageense de Artesanato (COOBART), a handicraft cooperative located in Bagé, Rio Grande do Sul, and founded in the decade of 1980. Data for the study was collected through visits, 45 Assistente Técnica Regional da Emater/RS-Ascar, professora, especialista em psicopedagogia pela

URCAMP – Universidade da Região da Campanha. E-mail: [email protected]. 46 Carmen Elizabeth Finkler Schmidt, professora orientadora, especialista em Educação e Ciências

Sociais pela UNISINOS – Universidade do Vale dos Sinos. E-mail: [email protected].

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informal discussions and aquestionnaire administered to managers and associates. Thus it was possible to gather information about their history, doctrine and their level of cooperative education. The questionnaire consisted of open questions, closed questions and multiple choice questions and was sent by mail to 26 active coop members, of which nine were returned duly completed. Analyzing the results, it was evident, both in theory and in practice, that social management is the main bottleneck found at COOBART. However, the economic management does not ignore the cooperative education and specific training for managers, since these activities are complementary and correlated. It was found that the majority of coop members does not know the principles of cooperativism and barely participates in meetings and other activities offered by the cooperative, demonstrating little interest and a high degree of unfamiliarity with cooperatives and its activities. Based on these results, one might suggest investing in good and continued cooperative education training with associates and managers, in order to lead to the solution of problems that permeate the management of the cooperative study.

Keywords: Cooperative education. Principles and values. Training. Development.

1. INTRODUÇÃO

A cooperativa estudada caracteriza-se por ser uma sociedade de pessoas

ligadas ao artesanato típico da região da campanha do Rio Grande do Sul, centrada

nas necessidades do grupo, que une esforços em torno de objetivos comuns e está

no mercado há mais de vinte anos. Os cooperativados produzem peças artesanais

típicas da região, em couro, madeira e chifre, dando uma ênfase maior ao uso da lã

de ovelhas. A cooperativa conta com trinta e dois (32) associados, dos quais vinte e

seis (26) são considerados ativos. Não possui sede própria, funcionando sempre em

locais cedidos pela prefeitura ou por algum sócio. A cooperativa enfrenta sérios

problemas de gestão, tanto no setor econômico-financeiro, quanto no social.

O maior desafio enfrentado pela cooperativa, objeto deste estudo, é realizar

uma administração equilibrada, pautada entre o social e o empresarial. Para que

isso seja possível, a cooperativa necessita estar bem organizada e ser

eficientemente gerida sob a lógica do cooperativismo, de modo que os dois tipos de

gestão estejam interligados e sejam igualmente trabalhados para cumprir seus

objetivos.

Segundo a Aliança Cooperativista Internacional (ACI), os princípios do

cooperativismo são norteados por valores que podem ser colocados em prática,

refletindo, dessa forma, as ideias básicas de ajuda mútua, responsabilidade,

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democracia, equidade, igualdade e solidariedade. As cooperativas, em geral,

incluindo a COOBART, não investem adequada e suficientemente na educação de

seus colaboradores e na capacitação dos gestores para promoverem a

disseminação de informações e de conhecimentos básicos essenciais, o que as

torna frágeis e vulneráveis a problemas de toda ordem.

Amodeo (2006) explica que os princípios seriam os delineamentos por meio

dos quais as cooperativas praticariam seus valores. Assim, tanto os valores quanto

os princípios formariam a identidade das cooperativas e marcariam, sobretudo, a

formação de um estilo próprio de estratégia e de ação, que deve guiar esse tipo de

organização.

Ainda segundo Amodeo (2006), o corpo de associados deve estar organizado

para gerar valor para a empresa, caso contrário, acarretará em ônus que

comprometerá o resultado desta. Assim, gestão social e gestão empresarial são

complementares e imprescindíveis para uma gestão cooperativa de êxito.

Entende-se que a cooperação precisa ser praticada e que os cooperados e

dirigentes precisam aprender o que significa cooperar. Mais que isso, produzir

cooperativamente exige conhecimento sobre o fazer cooperativo e discernimento

sobre si e sobre o que se quer fazer. O cooperado deve conhecer todo o ambiente

produtivo e precisa estar capacitado para suas práticas. Ele é, ao mesmo tempo,

dono, consumidor, fornecedor e, em alguns casos, gestor, isto é, também faz parte

da administração da cooperativa.

Sabe-se que, nas cooperativas, a participação ativa e qualificada dos

cooperados é fator decisivo para o sucesso do empreendimento. Nesse contexto, a

educação cooperativista faz-se imprescindível para promover a reflexão crítica em

todas as dimensões, a fim de que a cooperativa produza cada vez mais e melhor e

esteja voltada para o desenvolvimento da comunidade onde está inserida e para o

crescimento pessoal dos cooperados.

Nos dias atuais, as cooperativas são cada vez mais desafiadas a atingir, ao

mesmo tempo, objetivos de ordem econômica e social, o que as torna, a princípio,

sociedades mais complexas e distintas de outras formas de organização

empresarial. Portanto, a educação cooperativista tem o papel de atuar,

simultaneamente, na gestão social e na gestão empresarial das cooperativas, com o

objetivo de proporcionar melhorias, tanto no que se refere à participação dos

cooperados nas atividades da cooperativa, quanto na profissionalização da gestão.

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Pois também é papel do gestor disseminar conhecimentos e informações que têm

como objetivo atender à singular estrutura organizacional das cooperativas.

Este estudo propõe-se a evidenciar a influência e as limitações da educação

cooperativista na gestão da COOBART. Como estratégia para sanar os problemas

de gestão identificados no decorrer da pesquisa, sugerem-se investimentos na

formação dos gestores e a implantação de um programa de educação

cooperativista, com vistas a minimizar ou mesmo sanar os problemas identificados

neste estudo.

Sabe-se que para implantar qualquer programa educativo, seja de curto ou de

longo prazo, são necessários altos investimentos. Porém, existem alternativas que

podem minimizar esses custos, por exemplo, a formação de parcerias com as

Prefeituras, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC), o Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), as Universidades, entre outros.

Faz-se necessário, porém, que a cooperativa busque informações, se

organize e tenha um plano de educação cooperativa, para que possa buscar auxílio

junto aos órgãos acima citados.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o processo de construção do programa de educação cooperativista

no fortalecimento da Cooperativa Bageense de Artesanato (COOBART),

identificando sua influência e possíveis limitações na gestão da cooperativa.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Entre os objetivos específicos deste estudo, pode-se citar os seguintes:

a) explicitar conceitualmente a educação cooperativista, para dar base de

compreensão ao estudo em pauta;

b) conceituar e identificar a educação cooperativista na sua dimensão

filosófico-doutrinária;

c) investigar como ocorre a construção do processo de educação

cooperativista na cooperativa considerada;

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d) identificar os interesses e os gargalos incidentes na condução do processo

de educação cooperativista na cooperativa em estudo;

e) sugerir ações educativas aos gestores da cooperativa com vistas a sanar

as lacunas identificadas na gestão da cooperativa, com relação à

educação cooperativista.

3 METODOLOGIA

Como o presente estudo de caso objetiva explicitar a visão dos cooperados e

dos gestores da Cooperativa Bageense de Artesanato (COOBART) sobre a

influência da educação cooperativista na própria instituição, o método

qualiquantitativo se mostra, por ora, adequado.

As conversas informais durante as visitas dar-se-ão de forma

semiestruturada, ou seja, com uma relação de tópicos visando a manter uma linha

de controle sobre os temas abordados, prevenindo distanciamentos da pauta. Os

questionários, além das questões fechadas e de múltipla escolha, terão questões

abertas, com vistas ao entendimento dos fatos e das coisas sob a perspectiva dos

respondentes.

Ainda, considerando as possibilidades práticas de acesso a documentos da

cooperativa para análise, outra técnica possível de ser utilizada é a coleta e análise

de documentos, a fim de se comparar as práticas da gestão educacional com os

discursos dos cooperados e gestores. Evidentemente, esta técnica dependerá da

disponibilidade desses documentos por parte dos dirigentes.

Assim, pretende-se, por meio de agrupamento e análise dos dados coletados,

compreender os interesses dos cooperados e dirigentes no processo de gestão da

educação na cooperativa apreciada. O foco é a produção de uma análise

interpretativa, com base nos dados coletados, de como são conduzidas as iniciativas

educacionais na cooperativa, se houver, e compreender a interferência dessa

educação no fazer diário da cooperativa.

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4 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 A GESTÃO COOPERATIVA E SUAS ESPECIFICIDADES

A sustentabilidade institucional de qualquer organização deve estar amparada

por sua missão, pelos princípios e pelos valores que, de alguma forma, norteiam

estrategicamente suas ações, demonstrando, dessa maneira, a sua verdadeira

razão de ser. Rego (1986) salienta que uma organização não deve apenas ter o

objetivo de gerar bens econômicos, mas também deve procurar desempenhar um

papel significativo no tecido social. Como consequência, as cooperativas criam

identidade e visibilidade peculiares, que as distinguirão das demais formas

organizativas, ou seja, “conciliando aspectos sociais e econômicos, a organização

ajusta-se ao escopo para o qual foi idealizada”. (REGO, 1986, p. 13).

Entende-se a gestão social como a que viabiliza o relacionamento da

cooperativa com o associado, promovendo e qualificando sua participação. Não se

discorda da importância de focar a gestão no empresarial, pelo contrário, ela é

fundamental para atingir os objetivos econômicos dos seus sócios. No entanto,

também é de vital importância sua complementaridade com a gestão social, a fim de

promover uma participação efetiva e eficaz dos associados na cooperativa e para

programar os princípios e valores nas rotinas e ações da organização, contemplando

o interesse dos associados e da sociedade como um todo, o que demonstra o

interesse da cooperativa pela comunidade em que está inserida.

Dessa forma, a gestão cooperativa necessita utilizar alguns instrumentos

específicos de gestão que não estão somente, ou diretamente, voltados para o

empresarial, mas que são instrumentos que reforçam a gestão social, seja por meio

da educação cooperativista, de eficientes sistemas de comunicação interna e com

os cooperados, seja por meio de uma gestão interna do poder que conduza a uma

aprendizagem conjunta e a um funcionamento democrático, como afirma Amodeo

(2006).

Inseridas em um ambiente dinâmico, em constante mudança, exige-se que as

cooperativas sejam geridas em contextos de mercado cada vez mais acirrados, mas

não necessariamente utilizando as mesmas estratégias e parâmetros das demais

formas de organização empresarial. Exige-se das cooperativas que desenvolvam

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suas próprias estratégias competitivas, priorizando as características e

necessidades do seu quadro social, além de seus princípios e missão.

Na cooperativa, por tratar-se de uma organização coletiva, a administração

deve elaborar ações para que as decisões a serem tomadas contemplem a

realidade, as opiniões e os objetivos individuais daqueles que compõem seu quadro

social, e não somente de quem a administra. Reside aqui a importância da

participação ativa e qualificada dos cooperados. As cooperativas devem oferecer

alternativas econômicas para seus cooperados, levando em conta as características

socioeconômicas destes, e, se necessário, promover mudanças produtivas ou de

gestão que viabilizem economicamente tanto a própria cooperativa quanto os

integrantes do seu quadro social.

O cooperativismo surgiu como contraponto à lógica capitalista, pois o homem

percebeu a necessidade de trabalhar cooperativamente para obter resultados mais

expressivos na produção de bens e serviços. Além disso, entendeu que somente

organizados dentro da lógica da união, da cooperação e da solidariedade poderiam

avançar nas conquistas de seus sonhos, onde os frutos do trabalho conjunto seriam

distribuídos de forma justa entre os participantes. (CAMPOS, 2011).

Os primeiros fundadores das cooperativas acreditavam que os valores éticos

da transparência, da justiça, da equidade e do compromisso social para com os

semelhantes deveriam nortear os rumos do cooperativismo. Foram esses valores

que deram origem aos princípios do cooperativismo e que devem estar presentes,

hoje, em toda a atividade cooperativa.

4.2 AS COOPERATIVAS E O MERCADO DE TRABALHO

A produção e o trabalho, no mundo, se desenvolvem sob uma avalanche de mudanças permanentes e constantes, que, por sua vez, compõem um sistema aparentemente irrefreável e que, de certa forma, tem consequências difíceis de serem calculadas. Neste contexto, em face da globalização, tudo se reconfigura o tempo todo, pela complexidade. Está se falando de reestruturação produtiva, estruturada pela competição globalizada, requerendo para si investimentos para mudanças tecnológicas, para a requalificação de pessoas e para mudanças institucionais. (BASTOS; LIMA apud BORGES-ANDRADE, 2006, p. 24).

O trabalho, hoje, apresenta grandes transformações em sua forma

organizativa, focando nos avanços tecnológicos e na reformulação das estruturas

que sustentam a produção e os processos sociais que surgem desse contexto.

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Para Nakano (1998, p. 9):

O sonho da empresa autogestionária, e nela a destinação do lucro, começa a se tornar realidade pelas mãos dos trabalhadores que se mostram capazes de pensar, criar e ousar. Enfrentam o desemprego por meio de ações que ultrapassam o campo da denúncia e da resistência, materializando empresas que têm como figura central o próprio trabalhador. Empresas cuja estrutura e gestão são pensadas a partir de uma preocupação com o social; sem, no entanto, deixar de lado as questões de viabilidade econômica e de inserção num mercado cada vez mais globalizado.

Assim, o trabalho passa a apresentar significativas transformações em suas

formas de organização e nas estruturas de sustentação, tanto econômicas quanto

sociais. As cooperativas despontam como alternativa de organização e articulação

dos trabalhadores, promovendo novos postos de trabalho e renda, dentro de uma

dinâmica mais justa e mais humana que promove a divisão dos ganhos e a

valorização das pessoas.

Neste contexto, o sistema cooperativista, para manter-se forte e ainda ampliar

sua participação na economia mundial, terá que vencer grandes desafios internos e

externos para ajusta-se às novas regras do mercado e do relacionamento com seus

agentes. (SANTOS, 2001).

A tendência é o crescimento do cooperativismo, pois este se apresenta como

alternativa ao atual modelo econômico alicerçado em políticas neoliberais, que

promovem a exclusão dos mais fracos do mercado e que não respeitam seus

sonhos. Assim, os pequenos produtores buscam nas cooperativas uma forma de se

manterem ocupados, no exercício da democracia e da solidariedade.

Ferreira (2000), ao apresentar um histórico recente sobre a economia

solidária no Brasil, afirma que com as crises de 1980 e 1990, nas quais o país se

desindustrializou, milhões de trabalhadores perderam seus empregos, aprofundando

as mazelas sociais e a acentuada exclusão social. Verificou-se que o fenômeno fez

ressurgir a economia solidária, principalmente, das cooperativas.

Nesse contexto,

Constata-se que o movimento cooperativo traz, em sua origem, a intenção de modificar a economia de livre mercado e alguns pensadores econômicos o consideram como complemento ao sistema econômico mencionado. Portanto, as cooperativas devem se posicionar no mercado como instituições que provocarão efeitos favoráveis na economia e procurarão amenizar os conflitos existentes entre fatores de produção, capital e trabalho. Além disso, as cooperativas acabam por diminuir os custos sociais

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que são oriundos dos monopólios reinantes na economia, disponibilizando sua estrutura a uma ampla faixa da população que, individualmente, provavelmente, não teria acesso, em situações de livre mercado. (SOARES; MOREIRA NETO; BERNARDO-ROCHA, 2005, p. 489).

4.3 A EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL E

AMBIENTAL

A necessidade de se estabelecer uma relação harmônica entre homem e

natureza impulsionou a consolidação de uma nova visão de desenvolvimento que

envolve o meio ambiente natural e os aspectos socioculturais, passando a

considerar que a qualidade de vida dos seres humanos passa a ser condição para o

progresso. (DIAS, 2006). Nesse escopo, a Comissão Mundial das Nações Unidas

para o Meio Ambiente e Desenvolvimento cunhou, em 1987, o conceito de

desenvolvimento sustentável, como aquele que responde às necessidades do

presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer

suas próprias necessidades. (BARRAL; PIMENTEL, 2006).

Embora o conceito de responsabilidade social seja relativamente novo para a

maioria das empresas, surgindo apenas na década de 80 com a introdução da

globalização, para as cooperativas, esse conceito advém dos próprios princípios e

valores do cooperativismo, que fazem parte da filosofia de atuação das cooperativas

desde o ano de 1844. A cooperativa que toma decisões envolvendo questões de

longo prazo, como por exemplo, evitar problemas ambientais, tem uma participação

social muito maior em comparação à empresa que tem um comportamento reativo,

isto é, reage depois do fato consumado, pagando multas por desastres ambientais

ou indenizações aos funcionários pelo descumprimento da legislação ambiental.

O comportamento proativo é aquele que busca prevenir e envolve ações que

buscam soluções aos problemas que afligem a sociedade, como ações voluntárias,

programas educativos, ajuda emergencial após desastres e, principalmente,

participação em campanhas educativas especiais. As cooperativas têm maior

facilidade para adequar-se às normas ambientais, visto que estas já estão implícitas

no bojo dos princípios cooperativistas.

É no papel de promotora da inclusão social e do desenvolvimento econômico e cultural de seus cooperados e dirigentes, que as cooperativas mantêm sua legitimidade, exigindo deles uma postura voltada às questões ambientais às quais todos estão expostos. A cooperativa deve adotar posicionamento consoante às mudanças e exigências ambientais, pois se

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ficar omissa a essas questões poderá perder competitividade no mercado, com sérias ameaças à sua sobrevivência. (INOCÊNCIO; SILVA, 2001).

Além de observarem essas exigências sociais e ambientais, as cooperativas

enfrentam outro grande desafio, que é colocar em prática os seus princípios e

valores, em uma sociedade onde o capitalismo é extremamente voraz e competitivo.

Nesse contexto, vale ressaltar a importância da educação cooperativa, para a

interiorização desses valores e princípios. Ressaltou Nascimento (2000) que,

[...] o cooperativismo é algo tão importante e singular que não se pode aceitar a ideia de as cooperativas serem transformadas em partidos políticos, em grêmios estudantis, em instrumentos corporativistas, em sindicatos, em consórcios, em agências de governo ou mesmo em meras casas comerciais, apenas para citar alguns exemplos do uso inadequado.

Essas são observações pertinentes e também se referem à responsabilidade

social, pois ao desviar-se de seus valores e princípios, imiscuindo-se em esferas como

as citadas acima, as cooperativas estarão se afastando de seus objetivos e

prerrogativas de sociedade de cunho alternativo iminentemente humanitário e

agregador.

Os princípios cooperativistas, como adesão livre, gestão democrática,

distribuição das sobras líquidas, taxa limitada de juros ao capital social,

estabelecimento de um fundo de assistência técnica, social e de educação para os

sócios e a sociedade, e, finalmente, cooperação entre as cooperativas, demonstram

claramente como as cooperativas estão voltadas para o lado social e para a gestão

democrática.

Koslovski (2006, p. 03) afirma que “as ações de responsabilidade social das

cooperativas não são esporádicas e nem têm por objetivo o marketing para alcançar

maior credibilidade, mas fazem parte do seu DNA”.

Sobre esse mesmo aspecto, afirma Souza (2006, p. 03),

[...] a responsabilidade social pode se traduzir em ações internas das empresas em relação a seus colaboradores, ou extrapolar seus muros, atingindo a comunidade que a cerca ou numa perspectiva mais ampla, atender a determinados segmentos da sociedade [...].

Vê-se, claramente, que a cooperativa precisa estender seus braços à

comunidade onde está inserida, participando de forma responsável e ativa da vida

desta comunidade.

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4.4 INTERFACES ENTRE COOPERATIVISMO E EDUCAÇÃO

Da educação cooperativista é exigido, teoricamente, um papel executivo de

desenvolvimento humano e social, extensivo ao seu público e a toda a coletividade,

sem a inserção de técnicas e métodos que produzam inconformidades. Além disso,

exige-se uma educação fundamentada no desenvolvimento de uma consciência

critica, a partir de práticas sociais, no intuito de promover a cooperação nos

processos produtivos. (CAMPOS, 2011).

A educação cooperativista possui papel inconfundível e insubstituível na

proposição e instrumentalização de novos sujeitos sociais. (FRANTZ, 2001). Assim,

[...] a educação e a capacitação são indispensáveis em qualquer instituição, mas nas cooperativas elas são questão de sobrevivência. Sem essas, as atividades cooperativas são desvirtuadas ou até absorvidas pelo sistema socioeconômico e pelo processo social dominante que é a concorrência e o conflito. (SCHNEIDER, 2003, p. 13).

Os membros fundadores da reconhecida Society of Equitable Pioneers

(Pioneiros de Rochdale) elegeram, por ocasião da fundação, entre os princípios

fundamentais, a “sétima regra”: “desenvolvimento da educação cooperativa dos

sócios”. (PINHO, 2003, p. 137), mantida e valorizada historicamente pela Aliança

Cooperativa Internacional (ACI), até os dias atuais:

[...] essa regra, estabelecida pela ‘Lei Primeira’ do Cooperativismo, ou Estatuto da Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, vem sendo mantida há mais de um século e meio. Aliás, logo no início do funcionamento da Sociedade, quando os Pioneiros fizeram alguns acertos estatutários, nos anos de 1845 e 1854, para adequá-los à prática – mantiveram a regra de educação dos membros. Em seguida, esse ‘princípio’ passou as ser valorizado pela ACI (Aliança Cooperativa Internacional), desde sua fundação em Londres, em 1895, para ‘continuar a obra dos Pioneiros de Rochdale’. (PINHO, 2003, p. 137).

Assim,

Diz-se em Direito, que as cláusulas pétreas do Direito Constitucional não podem ser mudadas porque representam os pilares básicos de sustentação das garantias individuais e da própria estabilidade de uma nação. Por isso, são convertidas em ‘pedras’ e sua imutabilidade é garantida nas Constituições dos Estados Modernos. Metaforicamente, pode-se afirmar que a educação dos associados, ou a educação cooperativa, é importante ‘cláusula pétrea’ do sistema cooperativo internacional. (PINHO, 2003, p. 136).

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Mesmo com as alterações sofridas ao longo do tempo, os princípios

cooperativos, desde Rochdale, são valorizados e reconhecidos, e a educação aparece

como princípio fundamental. Porém, na prática, percebe-se que os programas de

educação cooperativista se apresentam descontínuos e assistemáticos, o que reflete

diretamente no desempenho das cooperativas. Existem, no entanto, iniciativas

educacionais cooperativistas em todos os níveis, desde a alfabetização de crianças,

jovens e adultos, até cursos de pós-graduação lato sensu.

Até por volta do ano de 1990, os cursos, principalmente os de curta duração,

dependiam de verbas públicas. Como a burocracia determinava o atraso no repasse

de verbas, o sistema cooperativo recebia, em geral, no final de cada exercício as

verbas pertinentes a atender os planos anuais, o que, consequentemente,

inviabilizava suas execuções. (PINHO, 2003).

Baioto (2008, p. 15) limita-se a analisar a missão da educação cooperativista

dentro da dimensão das inter-relações pessoais no seio das instituições

cooperativas, a fim de promover a organização do trabalho, considerando que, para

ele, a “educação cooperativa solidária visa a potencializar formas de construções

coletivas e interpessoais entre os trabalhadores, como forma possível de

organização do trabalho”. Salientando que:

Os valores e princípios cooperativos necessitam ser considerados como uma das prioridades de um empreendimento que se propõe a ser caracterizado como cooperativa. Além da efetividade econômica e do registro legal, necessita desenvolver uma gestão voltada a conciliar a efetividade da dimensão econômica e social. Sendo neste sentido o investimento em educação cooperativa, tão estratégico como o investimento em capacitação técnica. (BAIOTO, 2008, p. 46).

As cooperativas são compostas por duas dimensões concomitantes, com

demandas diversas, que os gestores precisam atender de forma a não negligenciar

nenhuma das duas: uma empresarial, de mercado, e a outra, associativa, baseada

em princípios sociais. Dentro desse contexto, Schneider (2003, p. 30) afirma que:

Todos os associados necessitam de informação, enquanto conhecimento exato e atualizado dos fatos e acontecimentos, em relação com as tarefas práticas ou as decisões a adotar ou pôr em prática. Necessitam igualmente de conhecimento técnico, que os relacione com a complexidade de funcionamento das instituições cooperativas, em especial com a engrenagem do processo democrático.

Afirma ainda Schneider (2003, p. 237) que:

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301

O ideal seria haver um justo equilíbrio entre os dois conceitos de legitimidade cooperativa. Por isso, várias cooperativas exigem dos candidatos a algum cargo de direção que não sejam apenas bons técnicos, bons profissionais ou bons administradores, mas também que tenham tido um período mínimo de vivência, formação e informação cooperativa, por exemplo: participando por algum tempo de forma ativa em comitês de educação ou em núcleos de base.

Na construção de um modelo diferenciado de convivência econômica e social,

devem ser evitadas soluções pré-fabricadas. Este deve ser um processo que os

agentes possam vivenciar juntos, de forma que a evolução do conhecimento seja

compartilhada pelo grupo no decorrer do processo, partindo da realidade concreta

do seu dia-a-dia, de maneira que todos participem, independentemente de serem

gestores, consumidores ou apenas associados. Faz-se necessário que esta

educação aconteça nos moldes da educação construtivista, evitando-se a

domesticação daquele que recebe os ensinamentos (a educação bancária da qual

fala Paulo Freire), permitindo-lhe condições de assimilar e internalizar concepções e

princípios através do esforço pessoal.

As cooperativas que investem na formação profissional, e transformam isso

em incentivo e motivação, geram qualidade e produtividade, propiciando um retorno

benéfico à administração e ao corpo associativo. Isso melhora sua imagem e resulta

em crescimento da competitividade, pois a educação é uma forma eficaz de

combater a desigualdade social e, consequentemente, promover uma melhor

distribuição de renda, o que colabora sobremaneira para o desenvolvimento da

cooperativa e sua inserção no mercado.

Assim, o educador deve colaborar no despertar de valores, crenças e

atitudes, os quais devem ser trabalhados, filtrados e por fim assimilados pelo próprio

educando. Para que este possa assumir esses valores e atitudes como próprios,

porque está convencido interiormente da importância que representam para a sua

pessoa e porque estão de acordo com a realidade que vive e enfrenta e não porque

outros lhe impuseram. Tal orientação deve levá-lo à certeza de que os valores

pessoais e comunitários são importantes e que poderá, através da vivência destes,

visualizar a construção da própria história, relacionando-a com a história dos outros,

que se unem e agregam através da cooperação. (SCHNEIDER, 1979).

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302

5 RESULTADOS

A educação nas cooperativas visa a despertar uma cultura cooperativista e por

isso requer uma pedagogia ativa, própria e permanente. A educação cooperativista tem

como missão difundir ideias, princípios, experiências e práticas e, ao mesmo tempo,

deve proporcionar uma formação técnica. Assim, pode-se afirmar que uma cooperativa

só é autêntica quando coloca em prática a educação, a capacitação e a formação de

seus participantes, utilizando a informação de maneira a atingir todos os seus

cooperados, sejam eles apenas associados ou associados dirigentes.

Em atendimento aos objetivos deste trabalho, tornou-se oportuno saber, por

um lado, quais são os principais problemas identificados na cooperativa pelos

respondentes, e, por outro, as potencialidades ou pontos fortes para, com base

nesses dados, analisar a existência, ou não, de relações entre a efetivação de

práticas de educação cooperativista e as perspectivas de futuro da cooperativa sob

a ótica dos informantes. Pelo exposto, percebe-se claramente a importância da

educação cooperativista na organização e na sobrevivência da associação

cooperativa e sua influência na gestão, de tal modo que pode determinar se a esta

terá sucesso ou estará fadada à estagnação ou mesmo ao desaparecimento.

Foram utilizados dois instrumentos para a coleta dos dados: visitas com

conversas informais a dirigentes e cooperados e aplicação de um questionário,

composto por sete módulos, com questões direcionadas ao atingimento do objetivo

geral da pesquisa. O questionário foi divido da seguinte maneira:

a) Módulo I – Perfil dos respondentes;

b) Módulo II – Informações sobre a matéria-prima utilizada pelos cooperados;

c) Módulo III – Situação do respondente na cooperativa;

d) Módulo IV – Conhecimentos sobre cooperativismo;

e) Módulo V – Conhecimentos sobre a cooperativa e sua história;

f) Módulo VI – Conhecimentos sobre o funcionamento e a gestão da

cooperativa;

g) Módulo VII – Avaliação pessoal sobre a gestão da cooperativa

Módulo I - Perfil dos respondentes

Tabela 4 - Quanto à idade

Acima de 60 anos: 33,3%

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Abaixo de 60 anos: 66,7%

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 5 - Quanto ao gênero

Homens 22,2%

Mulheres 77,8%

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 6 - Quanto ao estado civil

Casados 77,8%

Viúvos 11,1%

Solteiros 11,1%

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 7 - Quanto à escolaridade

Até a 4ª série E.F. 22,2%

De 5ª a 8ª série E. F. 33,4%

E. Médio completo 22,2%

E. Médio incompleto 11,1%

Ensino superior 11,1%

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 8 - Quanto à residência

Na cidade 66,7%

Na periferia 33,3%

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 9 - Tempo como sócio da cooperativa

Mais de 20 anos 44,4%

Entre 10 e 20 anos 44,4%

Menos de 10 anos 11,2%

Fonte: Elaborada pela autora.

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Tabela 10 - Quanto à participação na diretoria e/ou no conselho fiscal

Diretoria e conselho fiscal 33,3%

Somente diretoria 55,5%

Somente conselho fiscal 11,2%

Fonte: Elaborada pela autora.

Nessa questão, perguntou-se o motivo da participação do associado na

diretoria e/ou no conselho fiscal.

Os respondentes 06, 07, 08 e 09 declararam que foi para colaborar com a

cooperativa, o que evidencia seu desconhecimento sobre o significado do ato

cooperativo. Percebe-se que estes associados, 44,4% do total de respondentes, não

se veem como donos da cooperativa, mas como meros colaboradores. Os demais,

55,6%, não responderam a esse questionamento.

Módulo II - Informações sobre a matéria-prima utilizada pelos cooperados

Tabela 11 - Podendo assinalar até duas alternativas

A O artesão mesmo a produz B Adquire de terceiro através de compra C Compra no comércio local D Troca matéria-prima por trabalho E A cooperativa disponibiliza a matéria-prima a seus associados F

Compra por encomenda, de outros centros comerciais (regional, estadual, nacional, internacional)

Fonte: Elaborada pela autora.

Os respondentes 02, 04, 06 e 08 (44,4%) assinalaram apenas a questão A.

Isso demonstra claramente que, apesar de residirem na cidade, ainda mantêm o

vínculo com o campo, onde criam ovelhas. Os respondentes 03 e 07 (22,2%)

assinalaram as questões A e B, verificando-se que o vínculo com o campo também

foi preservado, mesmo em menor intensidade, visto que necessitam adquirir parte

da matéria-prima de terceiros. O respondente 02 (11,1%) assinalou as questões A e

D, demonstrando que também mantém vínculo com o campo.

Esses resultados mostram que, dos nove respondentes, sete ainda

conservam algum tipo de ligação com o meio rural. Percebe-se que o artesanato

típico (principalmente o artesanato em lã de ovelhas) é uma atividade cultural, que

os mantêm ligados às suas origens.

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

305

Quanto à questão D, que se refere à troca de trabalho por matéria-prima, foi

assinalada pelos respondentes 01 e 02 (22,2%). O respondente 01 também

assinalou a questão C, que trata da compra de matéria-prima no comércio local. O

respondente 05 (11,2%) assinalou B e F, o que significa que compra toda a matéria-

prima que utiliza, no comércio local e em outros centros comerciais.

Módulo III - Situação do respondente na cooperativa

Tabela 12 - Podendo assinalar até duas alternativas

A É sócio da cooperativa e trabalha em outra atividade B É sócio da cooperativa e está desempregado C É aposentado e sócio da cooperativa D É somente sócio da cooperativa e dela depende financeiramente E É sócio e dirigente da cooperativa F É sócio e conselheiro fiscal

Fonte: Elaborada pela autora.

Os respondentes 07 e 08 (22,2%) além de serem sócios da cooperativa, e

nela colocarem seus produtos para comercialização, desempenham outra atividade.

O respondente 08 (11,1%), além de ser aposentado, possui uma pequena oficina em

sua casa, onde produz teares, rocas e outros equipamentos que são utilizados no

artesanato típico regional; seus clientes são os próprios cooperados da COOBART e

artesãos de todo o estado. O respondente 07 (11,1%) trabalha com artesanato e é

representante comercial. Três respondentes (33,4%), 01, 04, e 09, disseram ser

aposentados e sócios da cooperativa. O respondente 03 (11,1%) é sócio da

cooperativa e está desempregado. O respondente 06 (11,1%) disse ser aposentado

e sócio dirigente da cooperativa.

Módulo IV - Conhecimentos sobre cooperativismo

Tabela 13 – Conhecimentos sobre cooperativismo

1. Você conhece os princípios do cooperativismo?

Sim Não Parcialmente

2 1 6

2. Você conhece as Leis 5.764/71 e 12.690/2012?

Sim Não Parcialmente

1 3 5

3. Você saberia definir o que é uma cooperativa?

Sim Não Parcialmente

- 3 6

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

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4.

Você conhece seus direitos e deveres de cooperado?

Sim Não Parcialmente

4 - 5

Fonte: Elaborada pela autora.

Módulo V - Conhecimentos sobre a COOBART

Tabela 14 - Questões fechadas

1. Você conhece a história da sua cooperativa? Sim Não

7 2

2.

O processo de adesão (ingresso na cooperativa) ocorre de

forma livre e voluntária?

Sim Não

8 1

3. Você participa das assembleias regularmente? Sim Não

8 1

7.

Você conhece todos os membros da diretoria?

Sim Não

9 0

11. Os membros da diretoria cumprem expediente na cooperativa? Sim Não

7 2

12. Os cooperados que não integram a diretoria também cumprem

expediente na cooperativa?

Sim Não

4 5

13. A cooperativa possui empregados registrados? Sim Não

1 8

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 15 - Questões abertas

4. A cooperativa pratica uma gestão democrática, com a participação dos sócios na criação de políticas e tomadas de decisões?

Sim Não

4 5

Por quê?

02: Porque não há participação dos sócios. 04: Não, pela ausência dos sócios. 05: Sim, porque é uma cooperativa. 07: Não, porque a maioria não participa das reuniões. 09: Não, pois falta conhecimento e união.

5.

A cooperativa incentiva a participação dos sócios em todas as atividades, como assembleias, reuniões de comissões, feiras etc.?

Sim Não

9 -

Por quê? 02: Sim, mas os sócios não aparecem nas reuniões. 07: Sim, pois convida por telefone, convite escrito e avisos de rádio.

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6. A cooperativa proporciona atividades de educação e formação a seus cooperados?

Sim Não

1 8

Quais são esses

momentos?

02: Respondeu não e não sabe explicar quais são os momentos oportunizados. Observação: os demais não comentaram suas respostas.

8. Você acha que as pessoas que dirigem a cooperativa estão preparadas para fazê-lo?

Sim Não

2 7

Por quê?

05: Não, porque tem que haver a união de todos. 07: Não, porque não participam de cursos, não se atualizam. 08: Não, pois não conhecem nem as leis do cooperativismo. 09: Não, porque falta muita coisa, muito conhecimento.

9. Você considera que os integrantes do conselho fiscal estão preparados para as funções de fiscalização?

Sim Não

2 7

Por quê?

07: Não, por que não comparecem à cooperativa e não se reúnem. 09: Não, pois não são preparados, não sabem as suas obrigações.

10. O conselho fiscal é atuante? Sim Não

3 6

Como atua?

04: Não, porque é médio. 05: Não, porque atua parcialmente. 09: Não, porque atua muito pouco, pois não sabem o que fazer. Observação: os demais nada comentaram.

Fonte: Elaborada pela autora.

Módulo VI - Conhecimentos sobre o funcionamento da cooperativa

Tabela 16 - Questões fechadas

1. A cooperativa realiza Assembleia Ordinária todo ano, para aprovação das contas, rateio das sobras e destinação de verbas aos fundos?

Sim Não

4 5

3. Há participação econômica regular dos associados para a cooperativa (cotas-parte, mensalidades, destinação das sobras para os fundos etc.)?

Sim Não

5 4

4. A cooperativa proporciona aos cooperados atividades culturais, sociais e de lazer?

Sim Não

2 7

5. A cooperativa possui fundos para educação, fundo de reserva e outros?

Sim Não

- 9

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6. Os dirigentes da cooperativa são remunerados?

Sim Não

- 9

7. A cooperativa oferece capacitação aos componentes do conselho fiscal?

Sim Não

- 9

8. O Estatuto Social é disponibilizado a todos os cooperados? Sim Não

7 2

9. A cooperativa possui Regimento Interno ou Regulamento Interno, que dispõe sobre atribuições e responsabilidades, além do Estatuto Social?

Sim Não

2 8

11.

Há comitê eleitoral instituído por ocasião da realização de eleições, para conduzir o processo?

Sim Não

3 6

12. As demonstrações contábeis e os relatórios das contas são disponibilizados a todos os cooperados?

Sim Não

3 6

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 17 - Como é feita a escolha da diretoria e do conselho fiscal da cooperativa? Questão aberta

A Os dirigentes são escolhidos no momento da realização da

assembleia, sem inscrição prévia. 2

B A eleição conta com chapas concorrentes, previamente inscritas e

conhecidas dos cooperados. 3

C Ocorre sem chapas concorrentes e por aclamação. 1

D Ocorre por chapa única, inscrita previamente e conhecida dos

cooperados. 3

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 18 - Quais são os canais utilizados pela cooperativa para comunicar-se com os cooperados? Marcar até 3 opções

1. Mural na cooperativa 1

2. Jornais 1

3. Internet -

4. Boletins regulares da cooperativa -

5. Telefone 7

6. Pré-assembleias 3

7. Rádio 3

8. Outros -

Fonte: Elaborada pela autora.

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

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Módulo VII - Avaliação pessoal sobre a cooperativa

Tabela 19 - Assinale os aspectos que você considera que precisam ser melhorados na gestão da cooperativa, para que a mesma possa se manter no

mercado?

A Capacitar os dirigentes. 8

B Educar dirigentes e cooperados. 3

C Instalar-se em prédio próprio. 7

D Melhorar a gestão em geral. 1

E Atuar com mais transparência. 1

F Aumentar o capital. 3

G Nenhuma das alternativas. -

H Todas as alternativas. 4

Fonte: Elaborada pela autora.

Questões abertas.

Tabela 20 - Você avalia a COOBART como um empreendimento de sucesso?

Sim 1

Por quê? Disse não saber explicar.

Não 8

Por quê?

05: Não tem sucesso porque falta união dos sócios.

06: Porque os sócios não colocam toda a produção na cooperativa.

07: Falta mais união, mais conhecimento e mais sócios dispostos a atender na

cooperativa, pois não tem funcionário contratado.

08: Por falta de mais conhecimento.

09: Porque não progride. Está diminuindo, em vez de aumentar.

Fonte: Elaborada pela autora.

Tabela 21 - Você considera importante que a COOBART proporcione aos cooperados educação cooperativista e capacitação?

Sim 9

Por quê?

03: Quando todos entenderem o que é uma cooperativa, vão participar mais.

06: Os cooperados da COOBART não trabalham como cooperativa.

07: Porque através de uma educação cooperativa, os sócios terão mais

conhecimentos sobre o que é uma cooperativa.

09: Para ter mais união, entrar na realidade, saber o que é e como funciona uma

cooperativa.

Fonte: Elaborada pela autora.

Para você, qual o principal problema enfrentado pela COOBART?

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

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Respondente 01: Verba para capital e acesso a crédito, alguém que possa

auxiliar, pois não temos auxílio de ninguém.

Respondente 02: Não respondeu.

Respondente 03: Falta de educação cooperativa para os sócios.

Respondente 04: A desunião dos sócios.

Respondente 05: Falta de conhecimento de cooperativismo.

Respondente 06: Falta de uma sede própria.

Respondente 07: A total falta de interesse e participação por parte dos sócios,

no tocante às assembleias, reuniões e outras atividades.

Respondente 08: Falta de cooperação dos associados.

Respondente 09: Falta de união.

Quando questionados acerca do principal problema enfrentado pela

Cooperativa Bageense de Artesanato, 34,1% dos respondentes apontaram que a

falta de união e cooperação são os principais obstáculos para o bom funcionamento

da cooperativa. Já 22,1% responderam que a insuficiente prática da educação

cooperativista e a falta de profissionalização da gestão e do quadro social foram os

principais limitantes no desenvolvimento do empreendimento. O respondente 01

(11,1%) aponta as dificuldades financeiras e de acesso a capital de giro, o que

chamou de ajuda externa, como o principal problema encontrado na cooperativa. O

respondente 06 (11,1%) diz ser a falta de uma sede própria, o que afeta o

desenvolvimento e a autonomia da cooperativa. Para o respondente 07 (11,1%),

seria a total falta de interesse e de participação dos sócios o grande entrave ao

desenvolvimento da cooperativa. O respondente 02 (11,1%) não respondeu à

questão.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei 5.764/71 estabelece, no artigo 28, inciso II, que as cooperativas são

obrigadas a constituir um “Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social

(FATES) destinado à prestação de assistência aos associados, seus familiares e,

quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa, constituído de 5%

(cinco por cento), pelo menos, das sobras líquidas apuradas no exercício”.

Este artigo é, sem dúvida, um dos mais importantes da lei geral das

cooperativas, pois implica a valorização do homem e desmitifica a ideia do homem-

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

311

máquina no processo produtivo, tornando-o pessoa capaz de usufruir em proveito

próprio do efetivo resultado do trabalho cooperativo. Assim, para vários

especialistas, o princípio da educação cooperativista não é somente a base do

cooperativismo, mas sua regra de ouro. Pode-se afirmar que a educação

cooperativista constitui não só requisito prévio como ainda condição permanente de

qualquer cooperativa.

A Aliança Cooperativista Internacional define que “o fomento da educação

cooperativa torna possível a observância e a aplicação dos demais princípios

cooperativistas”. A legislação cooperativista brasileira previu, sabiamente, que

muitas cooperativas, principalmente as pequenas, não poderiam sozinhas executar

tal objetivo. Assim, estabeleceu que elas pudessem fazer convênios com entidades

públicas e privadas, já existem diversas entidades que promovem cursos de

cooperativismo, como UNISINOS, Escoop Porto Alegre, Senar, Universidade

Federal de Santa Maria, entre muitas outras.

Porém, algumas circunstâncias dificultam a priorização da educação nas

cooperativas, tais como a indiferença de alguns dirigentes; a falta de perseverança e

continuidade nas atividades educativas e de capacitação; o desvio das finalidades

dos recursos previstos para a educação para outras finalidades (capital de giro etc.);

a falta de pessoas motivadas e preparadas para oferecerem, na própria cooperativa,

as atividades educativas; entre outras.

Assim, fica clara a necessidade de os dirigentes das cooperativas e seus

associados entenderem que através da observância do 5º princípio poderão adquirir

os conhecimentos gerais e as experiências que favorecem um desenvolvimento

mais adequado das entidades cooperativas, podendo então usufruir com maior

plenitude de todos os benefícios decorrentes dessa prática. Faz-se necessário o

esclarecimento de que falamos aqui em educação cooperativista, uma educação

que possibilite ao cooperado adquirir hábitos de pensar, sentir, julgar e agir

conforme os princípios cooperativistas.

7 CONCLUSÃO

No decorrer do estudo realizado na COOBART, vimos que a educação

cooperativista é de extrema importância e que, sem ela, a cooperativa não se

desenvolve plenamente. Durante as visitas e mesmo através do questionário, ficou

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

312

evidente que muitos sabem pouco sobre o movimento cooperativista e que nunca

tiveram qualquer tipo de educação cooperativista, nem mesmo para conhecimento

dos fundamentos mais elementares.

Os participantes do estudo comentaram nas conversas informais que há

pouco tempo começaram a ouvir algo sobre a importância das cooperativas e sobre

suas peculiaridades de organização. Oito deles comentaram que as primeiras

informações recebidas sobre os princípios cooperativistas foi através de uma

palestra sobre cooperativismo realizada pela Emater/RS-Ascar, em 2012, na sede

da cooperativa.

Segundo eles, em razão da escassez de recursos e por desconhecimento,

não administraram a cooperativa da maneira técnica mais adequada,

desconsiderando o planejamento e outras fases da administração, em várias

dimensões. Consequentemente, também segundo eles, não observaram

criteriosamente a educação como ferramenta ou recurso importante para o

desenvolvimento da ação cooperativa, pois desconheciam sua importância.

Em todas as conversas, os participantes demonstraram preocupação em

promover mudanças no que se refere à educação cooperativista. Frisaram

insistentemente que desejam organizar, na gestão da cooperativa, um projeto de

educação de forma continuada, capaz de atingir a todos os cooperados e gestores.

Foi possível perceber, durante a coleta de dados, que os discursos não estão muito

afinados, mas que a maioria deseja adquirir conhecimentos. As respostas obtidas no

questionário não alteraram significativamente o quadro observado durante as

entrevistas.

Ficou evidente, nas entrevistas, o interesse em obter mais conhecimentos,

tanto pelos cooperados, quanto pelos dirigentes. Também foi possível perceber a

preocupação dos gestores com as questões legais da cooperativa, que se

encontram rigorosamente em dia. Outro ponto positivo anotado refere-se à alta

qualidade do artesanato produzido e às potencialidades do grupo quanto ao

aumento da produção de peças confeccionadas, visto que dominam totalmente as

técnicas artesanais empregadas por eles.

É possível registrar a conclusão de que os cooperados iniciaram um negócio

no segmento da cooperação, sem conhecer o movimento cooperativista. Fundaram

uma cooperativa, sem saber o que era uma cooperativa, ou quais os princípios ou

fundamentos que a estruturavam. Os motivos não foram declarados abertamente,

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Capítulo XIV - A Educação Cooperativista e sua Influência na Gestão da Cooperativa Bageense de Artesanato: possibilidades e limitações

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mas insinuados como sendo a união de poucos recursos individuais dispostos de

forma coletiva, que favoreceram o empreendimento a partir do momento em que

novos membros com novos recursos se agregavam ao negócio. Logo, não fundaram

uma cooperativa com objetivos cooperativistas, com sabedoria das questões e

fatores envolvidos.

Os cooperativados salientaram, contudo, que desejam adotar, a partir de

agora, uma série de iniciativas educacionais para organizar métodos e

procedimentos, com interesses de aplicação técnica para execução das atividades

exigidas pelo mercado. Estas deverão estar voltadas para a integração dos

cooperados nas atividades da cooperativa e para o desenvolvimento de um plano de

educação cooperativista, do ponto de vista social e técnico.

REFERÊNCIAS

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