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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 6739 A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM MINAS GERAIS: REPRESENTAÇÕES SOBRE O ENSINO PROFISSIONAL NOS CONGRESSOS DAS CLASSES PRODUTORAS EM 1903 E 1928 1 Irlen Antônio Gonçalves 2 Fernanda Michelle Nicácio Silva Gouveia 3 Introdução O objetivo desta comunicação é apresentar reflexões comparativas acerca das representações das elites mineiras sobre o Ensino Profissional veiculadas nos Congressos das classes produtoras realizados nos anos de 1903 e 1928 em Belo Horizonte. Busca-se contribuir com o entendimento do percurso histórico da Educação Profissional em Minas Gerais na Primeira República, com base no resultado parcial da pesquisa para dissertação de Mestrado em Educação Tecnológica em curso no CEFET-MG. Para contemplar este objetivo, partiremos de uma premissa básica e conceitos. Inicialmente, devemos destacar que a instauração da República no Brasil ocorreu no ano seguinte ao fato de ter sido o último país do mundo a abolir a escravidão. O trabalho escravo, que perdurou por vários séculos no país, legara uma representação negativa sobre o trabalho que demandava alteração no contexto republicano. Assim, a premissa que perseguiremos é de que “os projetos de educação dos republicanos, principalmente o escolar, foram produzidos para produzir a República.” GONÇALVES (2011, p. 2). Os conceitos de estratégia e tática presentes na obra de Michel de Certeau (2007, p. 101), “a tática é determinada pela ausência de poder assim como a estratégia é organizada pelo postulado de um poder 4 ”, irão contribuir para buscar entender as relações entre as 1 Esta comunicação vincula-se à pesquisa “República, Educação e Formação do Trabalhador (1891-1930)”, coordenada pelo professor Irlen Antônio Gonçalves e conta com a bolsa de produtividade do CNPq. 2 Doutor em Educação (UFMG), Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica do CEFET-MG. E-Mail: <[email protected]>. 3 Mestranda em Educação Tecnológica (CEFET-MG), graduada em História e pós-graduada em História da Ciência (UFMG). E-mail: <[email protected]>. 4 CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: As artes de fazer. Trad. Ephraim Ferreira Alves. 13. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p. 101.

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 6739

A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM MINAS GERAIS: REPRESENTAÇÕES SOBRE O ENSINO PROFISSIONAL NOS CONGRESSOS DAS CLASSES

PRODUTORAS EM 1903 E 19281

Irlen Antônio Gonçalves2

Fernanda Michelle Nicácio Silva Gouveia3

Introdução

O objetivo desta comunicação é apresentar reflexões comparativas acerca das

representações das elites mineiras sobre o Ensino Profissional veiculadas nos Congressos das

classes produtoras realizados nos anos de 1903 e 1928 em Belo Horizonte. Busca-se

contribuir com o entendimento do percurso histórico da Educação Profissional em Minas

Gerais na Primeira República, com base no resultado parcial da pesquisa para dissertação de

Mestrado em Educação Tecnológica em curso no CEFET-MG.

Para contemplar este objetivo, partiremos de uma premissa básica e conceitos.

Inicialmente, devemos destacar que a instauração da República no Brasil ocorreu no ano

seguinte ao fato de ter sido o último país do mundo a abolir a escravidão. O trabalho escravo,

que perdurou por vários séculos no país, legara uma representação negativa sobre o trabalho

que demandava alteração no contexto republicano.

Assim, a premissa que perseguiremos é de que “os projetos de educação dos

republicanos, principalmente o escolar, foram produzidos para produzir a República.”

GONÇALVES (2011, p. 2).

Os conceitos de estratégia e tática presentes na obra de Michel de Certeau (2007, p.

101), “a tática é determinada pela ausência de poder assim como a estratégia é organizada

pelo postulado de um poder4”, irão contribuir para buscar entender as relações entre as

1 Esta comunicação vincula-se à pesquisa “República, Educação e Formação do Trabalhador (1891-1930)”, coordenada pelo professor Irlen Antônio Gonçalves e conta com a bolsa de produtividade do CNPq.

2 Doutor em Educação (UFMG), Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica do CEFET-MG. E-Mail: <[email protected]>.

3 Mestranda em Educação Tecnológica (CEFET-MG), graduada em História e pós-graduada em História da Ciência (UFMG). E-mail: <[email protected]>.

4 CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: As artes de fazer. Trad. Ephraim Ferreira Alves. 13. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p. 101.

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“classes produtoras” e os trabalhadores, ou ainda entre as “classes produtoras” e o Estado

durante os Congressos de 1903 e 1928.

Cabe elucidar o uso do conceito de representação que parte dos autores Michel de

Certeau e Roger Chartier. E, ainda, cabe-nos tentar situar esse estudo no campo da História

da Educação Profissional, por sua vez integrante do campo da História da Educação, esta

última definida por Luciano Mendes Faria Filho; Diana Vidal (2010) como sendo:

ao mesmo tempo, uma subárea da educação e uma especialização da história. Para os historiadores da educação isto tem significado uma forma de marcar o seu pertencimento à comunidade dos historiadores e uma maneira de reafirmar a identificação de suas pesquisas com procedimentos próprios ao fazer historiográfico. (FARIA FILHO; VIDAL, 2010, p. 16).

No campo da História da Educação, o trabalho com temas como “História dos

Intelectuais”, “História das elites” pode ser realizado sob diferentes referenciais teóricos.

Para além de uma abordagem tradicional influenciada pelo referencial do positivismo, novas

perspectivas teóricas, tais como a História Cultural e a História Social, nos permitem “uma

nova história das elites” entendidas como grupos e redes de sociabilidades com práticas

comuns, em que por meio de um universo micro de relações, podemos sondar coletividades,

seja na esfera de uma história regional ou ainda mais ampla, como num jogo de escalas.

Segundo Chartier (1991):

A história cultural separa-se sem dúvida de uma dependência demasiadamente estrita de uma história social dedicada exclusivamente ao estudo das lutas econômicas, porém opera um retorno hábil também sobre o social, pois centra a atenção sobre as estratégias simbólicas que determinam posições e relações e que constroem, para cada classe, grupo ou meio, um ser-percebido constitutivo de sua identidade. (CHARTIER, 1991, p. 183).

Essa ideia de escalas de análise histórica aproxima-se da abordagem da história

comparada, pois segundo Barros (2007) “gradualmente a História Comparada foi

assimilando novos objetos e inscrevendo-se em outras possibilidades de escalas. (...)

Circuitos de representações, também a estes focos se adaptaram as escalas possíveis de serem

utilizadas na História Comparada” (BARROS, 2007, p. 27).

Acerca do termo “elites”, partimos das proposições presentes na tese de SILVA (2016):

Para Flávio Heinz, a imprecisão do termo “elites”, percebida por alguns historiadores e cientistas sociais como uma deficiência, pode, entretanto, ser considerada “instrumental”, na medida em que permite o desenvolvimento de pesquisas sobre “grupos de indivíduos que ocupam posições-chave e que dispõem de poderes, de influência e de privilégios. (...) a apropriação dessa noção pelos historiadores permitiria (...) dar conta através da microanálise dos grupos sociais, da diversidade, das relações e das trajetórias do mundo social. (SILVA, 2016, p. 27).

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Ainda sobre os conceitos, nos apropriaremos da noção de vetores, proposta por

Bernstein (1998), que os entende como “canais” por meio do qual são inculcados normas,

valores e reflexões. A instituição escolar seria um “vetor” a difundir e fomentar ideais

republicanos de ordem e positivação do trabalho atrelados aos interesses políticos e

econômicos das elites produtoras. No discurso do estadista João Pinheiro da Silva, há a

defesa de um ensino agrícola “aplicável, que por consequência, evidenciasse o seu caráter

prático. Tal pressuposto se apoiava na perspectiva de uma educação produtiva, entrelaçando,

assim, economia e educação nas políticas do governo”. (GONÇALVES; MACHADO, 2011, p.

7).

Esses autores destacaram ainda na trajetória de João Pinheiro a sua liderança no

Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de 1903, bem como na presidência de Minas

Gerais (1906-1908) quando decretou várias leis, dentre elas a que determinava a criação de

instituições de ensino agrícola, tais como as fazendas-modelo, conforme estudos de

VERSIEUX (2010).

Outro autor a considerar é Almeida (2009), quando afirma que “a política educacional

desenvolvida pelo governo de João Pinheiro (...) está ligada ao fato de o governador ter

incorporado à sua plataforma política, de 1906 a 1908, as deliberações decorrentes do

Congresso de 1903”. (ALMEIDA, 2009, p. 27). Ademais, alguns autores irão considerar esse

Congresso como marco na história do desenvolvimentismo.5

A tese de Silva (2016) tratou das proposições educacionais no Congresso Agrícola,

Comercial e Industrial de 1903, e afirmou ter partido do clássico estudo de Maria Auxiliadora

Faria (1992)6 que percebeu os congressos7 “como cenários privilegiados de autoafirmação das

classes conservadoras, e lugares sociais da formação discursiva em torno do projeto de

desenvolvimento”.8 (FARIA, 1992, p. 173).

Em Belo Horizonte - capital recém-inaugurada e símbolo da racionalidade e

planejamento republicano - reuniram-se as lideranças da agricultura, indústria e comércio

5 DULCI, Octavio Soares. João Pinheiro e as origens do desenvolvimento Mineiro. In: GOMES, Ângela de Castro. Minas e os Fundamentos do Brasil Moderno. Belo Horizonte: Ed. UFMG, ,2005, p.109-136.

6 SILVA, Carolina Mostaro Neves da. “Para os grandes males, os grandes remédios”: propostas educacionais no Congresso Agrícola, Industrial e Comercial de Minas Gerais (1903). Tese. Doutorado em Educação. FE/USP. São Paulo: 2016, p. 18.

7 Dissertações e teses tomaram Congressos anteriores e posteriores como objeto de estudo: os Congressos de 1878 no Sudeste e Nordeste foram analisados por SIMÃO (2001), o Congresso de 1903 estudado por SILVA (2016), e o Congresso de 1935 presente no estudo de BARROS (2007). Reforça-se assim a ideia de lacuna e a pertinência de estudos sobre o Congresso de 1928.

8 FARIA, Maria Auxiliadora. A política da gleba: as classes conservadoras mineiras. Discurso e prática na Primeira República. Tese (Doutorado em História Social). USP, São Paulo: 1992, p. 173.

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que se autodenominavam “classes produtoras”9 no Congresso Agrícola, Industrial e

Comercial de Minas Gerais em 1903.

Nessa perspectiva, o Congresso de 1903 foi apontado como elemento de fomento a

articulação de “uma nova representação sobre o trabalho, que precisava ser instituída”

(NOGUEIRA; ALVARENGA, 2011, p. 1). Ainda segundo essas autoras, “pode-se afirmar que a

orientação que emergiu no Congresso de 1903, quanto à educação profissional do

trabalhador mineiro consolidou-se ao longo das duas primeiras décadas da República,

somente sofrendo alterações a partir de 1920” (idem, 2011, p. 7).

Em novo contexto, ao final dos anos 20, o país e a economia mineira vivenciaram nova

crise econômica, agravada pela queda nos preços do café no mercado internacional. Nessa

nova transição – de uma economia agrário-exportadora para a premência de uma economia

urbano-industrial – ocorreu um outro Congresso em Minas Gerais, o denominado

“Congresso Comercial, Industrial e Agrícola de Belo Horizonte”, realizado em 1928.

A carência de estudos tomando como objeto as representações sobre o Ensino

Profissional nos discursos das “classes produtoras” no Congresso de 1928, realizado de 26 a

31 de maio de 1928 por iniciativa das Associações Comerciais de Juiz de Fora e Belo

Horizonte, instigou a proposição da pesquisa sobre a qual tencionamos apresentar algumas

reflexões.

Reflexões Comparativas

No estudo de Barros (2007) encontramos que a história comparada pode ser um

interessante recurso empregado pelo historiador para “situar seu objeto diante de outros

análogos ou contrastantes” (BARROS, 2007, p. 25), permitindo, assim, ampliar

conhecimento e análise.

Em complementaridade, segundo Florindo (2013), “a História Comparada é um viável

viés de pesquisa, que traz a possibilidade de pensar questões em ambientes diferentes”

(FLORINDO, 2013, p. 379). Esse autor, retoma estudos anteriores e encontra em Marc Bloch

a definição dos aspectos fundamentais para a prática da “História Comparada que fizesse

sentido, tendo formulado dois aspectos que julgava imprescindíveis: similaridade dos fatos e

9 Segundo SILVA (2016, p. 28-29) justifica-se “trabalhar com as expressões produtores e classes produtoras, e menos frequentemente, classes conservadoras e laboriosas (...) grafando-os em itálico para ressaltar que são apropriadas com o sentido que lhes fora dado à época. Considerando que a utilização, pelo grupo, de expressões como classes produtoras e classes conservadoras fazia parte da representação de uma identidade comum, remetendo à ideia de coesão”.

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diferença nos ambientes em que essas semelhanças ocorreriam”. (Barros, 2007, p. 165 apud

FLORINDO, 2013, p. 383).

Para Barros (2007) a História Comparada consiste, grosso modo, “na possibilidade de

se examinar sistematicamente como um mesmo problema atravessa duas ou mais realidades

histórico-sociais distintas, duas estruturas situadas no espaço e no tempo, dois repertórios de

representações (idem, 2007, p. 24).

Assim, abre-se a possibilidade de um esforço comparativo entre os Congressos das

classes produtoras realizados em Minas Gerais, ainda que em contextos diferenciados, sendo

o Congresso de 1903 situado no início da Primeira República e o Congresso de 1928, ao final

desse período histórico.

Os estudos de História Comparada apontam vários usos para essa abordagem, dentre

eles uma perspectiva globalizadora e outra diferenciadora, e explicitam as peculiaridades no

uso de cada uma delas.

Optou-se pelo emprego de uma abordagem comparatista diferenciadora, caracterizada

por “submeter os diversos casos que estão sendo examinados a um certo conjunto de

variáveis – alguns traços ou questionamentos que são escolhidos para efetuar as

comparações – de modo a tirar conclusões sobre os diferenciais de cada caso examinado”.

(BARROS, 2007, p. 19).

Amparados na perspectiva da história comparada diferenciadora, buscamos ampliar os

conhecimentos acerca do Congresso de 28, a partir do exercício de compará-lo em relação ao

Congresso de 1903 segundo algumas categorias, visando a perceber deslocamentos ou

permanências a influir sobre as representações acerca da educação profissional nesses

contextos.

Importa explicitar o resultado do esforço comparativo entre os Congressos, quais sejam

inicialmente: o nome e o contexto, justificativa, a relação entre as classes produtoras e o

governo, o perfil das lideranças e apontamentos sobre a educação profissional.

A primeira diferenciação que se apresenta, diz respeito à denominação dos Congressos.

A alteração de Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de 1903 para Congresso

Comercial, Industrial e Agrícola de Belo Horizonte de 1928 oferece-nos uma pista acerca do

deslocamento no âmbito econômico, bem como do “deslocamento do foco no ensino agrícola

para uma nova formação mais ampliada”, conforme afirmado por Faria (1992, p. 213).

A mudança no nome, sinaliza um deslocamento no contexto econômico e social em

Minas Gerais, pois “é interessante observar que a alteração da nomenclatura do Congresso

sinalizou, desde a fase preparatória, certa supremacia dos setores comercial e industrial sobre

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a agricultura, que figurava em primeiro lugar na denominação do evento de 1903” (FARIA,

1992, p. 206).

Ainda com FARIA (1992) vale afirmar que tomar o Congresso de 1928 “como baliza

final” para o estudo sobre o ensino agrícola, significava que:

A ausência do tema no Congresso de 1928 pode ser entendida como um dos indícios das novas condições sociais e econômicas que propiciaram o evento e que resultaram em propostas de reciclagem do projeto esboçado no início do século. Nesse novo contexto ficava patente que a necessidade de formação profissional e de controle social dos trabalhadores devia ser também ampliada. Insistiu-se, pois, na importância do ensino profissional e até mesmo na sua obrigatoriedade no país, sem priorizar, como até então se fazia, o ensino agrícola. (FARIA, 1992, p. 213).

De igual maneira, Gonçalves (2004) alerta para esse deslocamento, ao afirmar:

Na sequência das orientações do Congresso de 1903, resguardando as especificidades dos vários contextos diferentes, as propostas para o ensino agrícola se mantiveram até o Congresso Comercial, Industrial e Agrícola de 1928, quando novas perspectivas para o setor educacional alcançaram situações menos agraristas, assumindo, nesse caso, o caráter de formação profissional mais ampliada. (GONÇALVES, 2004, p. 65).

No mesmo compasso, temos em BARBOSA (2012) a confirmação de que esse percurso

de transformações econômicas decorridos entre os Congressos de 1903 e o de 1928:

[...] por meio da agenda emergente do Congresso de 1903, constrói-se a defesa de uma política de diversificação da produção agrícola e de modernização dessa produção, por meio de apoio do poder público (...) bem como estrutura-se aquilo que o evento de 1903 concluiria ser uma política mineral arrojada. É também o período em que se constrói o debate no entorno da implantação da grande siderurgia em Minas... (2012p. 18).

Outra autora a considerar é Vieira (1984) que aponta a organização do Congresso de 28

e o uso da imprensa como estratégias das classes produtoras para enfrentar “esses momentos

críticos de maior engajamento e de ação coletiva de seus interesses” (VIEIRA, 1984, p. 47).

Com ela será possível percebermos o momento conturbado dos anos 20 em Minas

Gerais, a demandar a iniciativa do Congresso de 1928, em que a diversificação produtiva

apresentava uma expressiva produção agrícola junto aos principais setores da indústria:

o têxtil e o de produtos alimentícios (....) A presença de mulheres e crianças, principalmente na indústria têxtil, contribuía para ampliar ainda mais a mão-de-obra e a pressão dos níveis salariais para baixo. No enfrentamento dessas questões, uma forma de luta eram as greves: entre 1917 e 1930, foram deflagradas em Minas 27 greves (...) O crescimento da organização e pressão do movimento operário e o início da intervenção estatal na regulamentação do trabalho mobilizam novas formas de ação (VIEIRA, 1984, p. 31).

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A situação apontada por Vieira estava presente na imprensa do momento, quando a

Gazeta Comercial apresentava a finalidade do Congresso de 1928 em que aparece a

preocupação das classes produtoras com o controle da classe trabalhadora e com a defesa dos

seus próprios interesses, aos quais vincula o desenvolvimento do estado. Trata-se do excerto

da edição de 3 de fevereiro de 1928 sob a epígrafe “A finalidade de um Congresso”:

É bem verdade que todos os benefícios e todos os triumphos10 com que podem e devem contar as classes trabalhadoras, uma vez subordinadas ao cotrôle de uma coordenação energizante que lhe homogenize o dispersivo das forças - sua mentalidade directiva - não podem surgir de um só facto, no immediatismo daquellas deliberações collectivas. (...) Ahi está, precisamente, o que pensam, o que querem, o que pleiteam as classes conservadoras: dentro do mais rigoroso respeito aos princípios legaes, desde que não ultrapassem os limites traçados a sua fiel e exacta execução para degenerar em arbítrio, em personalismo, em ameaça, em voluntariedade - a sua actuação se evidenciará, com energia e decisão, toda a vez que se fizer necessaria a defesa de uma causa que lhe possa interessar directamente, toda a vez que for reclamada, na repulsa de uma deliberação prejudicial aos vultuosos interesses sob sua guarda e vigilância. Esta - em linhas geraes, a finalidade daquelle congresso; este - em synthese, o amplo e vasto programma que ali será exposto e debatido, para que, de sua realização pratica, resulte alguma coisa de proveitoso e de essencial ao desenvolvimento economico de Minas Geraes. (Gazeta Commercial, Juiz de Fora, 3 de fevereiro de 1928).

Assim, em ambos os congressos ocorreu uma utilização da educação profissional como

instrumento de controle. Em 1903 com vistas a valorizar o trabalho, conforme apontado por

Silva:

Em 1903, os produtores também pretendiam contribuir para o progresso social e moral de Minas Gerais, como lembrou Carlos Sá Fortes, ao responder as questões sobre a vadiagem, apontando que o saneamento moral seria um “imperioso dever” para as classes produtoras 290. Estabeleciam, assim, uma forte relação entre a função de “promotores da riqueza pública” e moralizadores da sociedade, que sustentou proposições como a regularização das relações de trabalho, a repressão à vadiagem e o ensino profissional, mostrando terem a expectativa de controle social, principalmente dos pobres. (2016, p. 96).

E, em 1928, com vistas a valorizar o trabalhador, para arrefecer a organização política

dos trabalhadores, como depreendeu Vieira (1984):

A classe dominante percebe que o controle das condições de trabalho não poderia ser viável apenas pela repressão ou por meio legais. Desta maneira, irá desenvolver, de um modo mais elaborado, formas de controle, já enunciadas no final da década de vinte, que ultrapassam o processo de trabalho e se estendem por toda a vida social, como as escolas

10 Será mantida a grafia original da época encontrada nos periódicos citados.

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profissionalizantes, as vilas operárias, a assistência médica para valorizar o trabalhador. (VIEIRA, 1984, p. 10).

Logo, constatamos que no Congresso de 1903 houve uma preocupação em dirimir a

crise econômica por meio da diversificação e aumento da produtividade agrícola via ensino

profissional e positivação do trabalho; ao passo que no Congresso de 1928 o foco era a

reorganização das classes produtoras para a defesa de seus interesses, diversificando para

isso a sua atuação.

Podemos estabelecer outro comparativo entre os Congressos a partir da análise das

suas lideranças. O Congresso de 1903 fora liderado pelo político João Pinheiro da Silva,

Bacharel em Direito, conforme estudos de MACHADO (2010). E o Congresso de 1928 fora

liderado por José Carlos de Moraes Sarmento, Engenheiro, proprietário de uma indústria

têxtil em Juiz de Fora. Essas lideranças expressam o percurso das atividades produtivas no

estado, abordada acima, bem como sinalizam um outro deslocamento, no âmbito da

formação das elites mineiras.

Esse deslocamento pode ser percebido a partir da tese de Daniel Henrique Diniz

Barbosa (2012) que abordou a transição na composição da hierarquia das “classes

produtoras” e dos quadros da liderança política e técnica do Estado: dos bacharéis em Direito

– que predominaram ao final do séc. XIX e nas primeiras décadas do séc. XX – amplia-se na

década de 20, acolhendo aos engenheiros, pois

[...] ao "conhecimento moderno" são confrontados os bacharéis e os eclesiásticos ... e os engenheiros tornam-se o paradigma de uma nova linhagem de intelectuais da elite. Isso acontece justamente por que, no novo arranjo das forças produtivas que começa a se instalar, sua posição é estratégica; esses profissionais são os agentes portadores dos conhecimentos mais adequados, mais próximos do núcleo fundador da legitimidade do arbítrio cultural que vai se tornando dominante (a ciência e a técnica). Nesse sentido, o espaço da escola é fundamental e decisivo uma vez que ela se constitui no centro irradiador do conhecimento científico. (BARBOSA, 2012, p. 59). Grifo nosso.

A palavra irradiador, utilizada pelo autor, nos remete a traçar outro paralelo entre os

Congressos: no Congresso de 1903 a educação profissional encontra nos Estados Unidos e na

França, modelos para irradiar o ensino profissional, conforme aponta SILVA (2016):

[...] o discurso em defesa do ensino profissional se difunde entre as elites, ganhando força e novos adeptos nos últimos anos desse século. Nota-se que, mesmo especificamente entre as classes produtoras, esse discurso foi sendo progressivamente assimilado, com o reconhecimento dos benefícios advindos da instrução profissional, principalmente por meio da divulgação das experiências de países considerados mais avançados do que o Brasil, como França e Estados Unidos. “A França, se quis ver a sua lavoura progredir, [...] criou o Instituto Nacional Agronômico, difundindo assim as

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ciências agrícolas”, afirmou D. Fuas, colaborador da Gazeta de Oliveira, ao tomar parte dos debates promovidos pela organização do Congresso de 1903. Para Fuas: Nós, não digo só mineiros, mas brasileiros, se quisermos fazer da agricultura uma realidade, temos, por força, de seguir os moldes da França. [...]. Instituamos cursos teóricos e práticos agronômicos, formemos o verdadeiro lavrador, consciencioso, racional em suas operações agrícolas, no emprego e uso dos aparelhos e maquinismos próprios, na seleção e aperfeiçoamento do gado bovino, lanígero, suíno, etc. [...] Que direi agora sobre o comércio e indústria? O mesmo que disse da lavoura. Tornemos o negociante e o industrial aptos para seus misteres por meio do ensino teórico e prático e temos conseguido tudo. (SILVA, 2016, p. 212).

No Congresso de 1928 percebemos a valorização dos EUA como modelo ideal,

expresso no discurso do deputado Fidélis Reis – agrônomo graduado na primeira e única

turma do Instituto Zootécnico de Uberaba e um dos fundadores da Escola de Engenharia de

Belo Horizonte (RICCIOPPO, 2014) – que liderou o debate da 5ª tese (sobre o Ensino

Profissional) durante o Congresso de 1928, na qual afirmou:

A própria orientação do paiz soffreria, ao seu ver, uma mudança profunda. Esse inconstestavelmente o facto que vae a observação constatando na evolução11 actual de todos os povos. Queremos, diz Henry Ford, que todo homem seja capaz de ganhar a vida (...) Em segundo logar - fala ainda o grande americano - uma verdadeira educação deve ter como resultado attrahir o espirito do indivíduo para o trabalho em logar de o afastar delle. Assim é que os trabalhos manuaes constituem para os americanos disciplinas ao mesmo título que o cálculo e as sciencias naturaes. Para elles a intelligencia que concebe, nada é sem a vontade que executa. O pensamento não é nada sem a acção. Onde melhor inspirar-nos do que nesse exemplo? (Jornal Minas Geraes, 31 de maio de 1928, p. 8 e 9).

Outro ponto de comparação é a relação entre as classes produtoras e o governo do

estado nos Congressos. Diferente do Congresso de 1903 - convocado e organizado pelo

governo estadual - o Congresso de 1928 decorreu da iniciativa e organização das associações

das “classes produtoras”.

No Congresso de 1903 podemos refletir sobre a relação entre as classes produtoras e o

estado, uma vez que estas classes ao pleitearem o apoio do governo para o seu fortalecimento,

utilizaram a estratégia apontada por Dulci (1999):

o setor privado não abdicou da tentativa de se organizar autonomamente para influir sobre as instâncias do poder público e sobre a sociedade em geral. Ele o fez, mas em condições iniciais muito precárias. Prova disto é a

11 A atuação de Fidelis Reis marcou não somente o Congresso de 1928, como também a história do Ensino Profissional, de acordo com os estudos de Cunha (2001), Soares (1995) e Riccioppo11 (2014). A palavra “evolução” presente em seu discurso, sinaliza a proximidade com as ideias da eugenia, objeto do estudo citado de Riccioppo. Sua representatividade no Congresso de 1928 demandam capítulo específico no âmbito da dissertação.

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reivindicação, aprovada no Congresso de 1903, de “auxílio indireto” do Estado à criação de entidades associativas das classes produtoras. É um reconhecimento de fragilidade e ao mesmo tempo um esforço para superá-la. DULCI (1999, p. 117).

No Congresso de 1928, podemos pensar em uma outra relação entre as classes

produtoras e o Estado, uma vez que as associações de classe organizaram o evento e

convocaram a presença do governo, fato interpretado como “maturidade social e política das

classes conservadoras em se legitimar enquanto sujeito histórico”. FARIA (1992, p. 202).

BARBOSA (2012, p. 21) e VIEIRA (1984, p. 45) apontam a estratégia das elites mineiras

em se diversificar ocupando cargos nos quadros políticos e técnicos junto aos poderes

legislativo e executivo do governo estadual e federal para a defesa de seus interesses;

diversificação citada como “polivalência das elites” EAKIN (2010, p. 48) e definida como “um

processo de diversificação de papéis no âmbito da elite tradicional que ajuda a explicar a

continuidade do seu domínio no decorrer do processo de modernização” por DULCI (1999, p.

165).

A figura de Lauro Jacques pode contribuir para elucidar essa questão. Apontado como

“comerciante-industrial” por FARIA (1992, p. 204), ilustra como “os setores industrial e

comercial da burguesia lançam Lauro Jacques, ex-diretor da Associação Comercial de Minas,

como deputado federal. Sua eleição constituiu a marcha inicial para a infiltração política no

aparelho de Estado” (VIEIRA, 1994, p. 45).

No excerto abaixo, encontramos indicativo desse posicionamento das classes

produtoras ou classes conservadoras:

O senhor Lauro Jacques expoz ao chefe do governo a alta e nobre finalidade do congresso, que pretende debater os assumptos de relevancia que agitam o pensamento das classes conservadoras, exigindo uma solução prompta e immediata e também desenvolver, cada vez mais, no seio dos elementos productores do Estado, um accentuado espirito associativo, afim de que, organizadas essas classes nas differentes regiões mineiras e conhecendo-se melhor através desse intercambio de idéas, possam ellas promover com exito a conquista de suas legítimas aspirações. O presidente Antonio Carlos ouviu com a maior attenção o que lhe era exposto pelo deputado Lauro Jacques e assegurou-lhe a inteira sympathia do governo de Minas a esse justo movimento das classes conservadoras (...). (Jornal Gazeta Commercial, Juiz de Fora, 20 de janeiro de 1928).

A ordem do discurso em que primeiro ocorre a enunciação de uma liderança das classes

produtoras e, a seguir, do presidente do Estado, se repetiu na cerimônia de inauguração do

Congresso.

No discurso de abertura proferido pelo Engenheiro José Carlos de Moraes Sarmento,

presidente da Associação Comercial de Juiz de Fora, encontramos o programa com as teses a

serem debatidas:

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Em nossos dias, principalmente em consequencia da Grande Guerra, novas tendencias se manifestaram. O productor, seja o industrial, seja o agricultor, na luta intensa pela conquista do consumidor, cada vez mais exigente, se vê na contingencia de estudar e applicar novos methodos, novas theorias. Dahi a producção em massa, tão bem ideada e com tanto exito posta em victoriosa execução, por Henry Ford; o Taylorismo ou direcção scientífica de empresas, quer commerciaes, quer industriaes, quer agricolas; a standartização; a nacionalização; tendentes todos à obtenção de maior efficiencia na produção [...] Congressos como este, meus senhores, que ora se inicia sob os melhores auspicios, são a fonte irradiadora de novos ideaes e contribuem decisivamente para sua divulgação. (...) Este congresso, meus senhores, deverá, após as necessarias discussões, indicar qual a melhor orientação a ser adoptada em assumptos de relevancia excepcional, como, por exemplo: a defesa do café, a cotabilização, as vias de communicação, legislação social, regimen tributário, ensino profissional e credito agrícola. (Jornal Gazeta Commercial, 26 de maio de 1928).

E por fim, para efeito dessa comunicação, cabe-nos comparar a questão das fontes

documentais sobre os Congressos.

Pelo fato da pesquisa apresentar como Metodologia a análise documental e a

prosopografia12 dos líderes do Congresso de 1928, nos remetemos à importância das fontes:

Em história, tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em "documentos" certos objetos distribuídos de outra maneira. Esta nova distribuição cultural é o primeiro trabalho. Na realidade, ela consiste em produzir tais documentos, pelo simples fato de recopiar, transcrever ou fotografar estes objetos mudando ao mesmo tempo o seu lugar e o seu estatuto. Este gesto consiste em "isolar" um corpo, como se faz em física, e em "desfigurar" as coisas para constituí-las como peças que preencham lacunas de um conjunto, proposto a priori. Ele forma a "coleção". (...) Longe de aceitar os "dados", ele os constitui. O material é criado por ações combinadas, que o recortam no universo do uso, que vão procurá-lo também fora das fronteiras do uso, e que o destinam a um reemprego coerente. (CERTEAU, 1982, p. 81).

O início da operação descrita acima, especialmente no que se refere ao estabelecimento

das fontes, nos permitiu traçar o comparativo que segue.

No Congresso Agrícola, Comercial e Industrial de 1903 os discursos dos congressistas

foram coligidos na forma de Anais, posteriormente publicados pela revista da Fundação João

Pinheiro e constituíram fonte importante para a tese de SILVA (2016). A própria autora

afirma que essa organização não ocorreu por mero acaso, uma vez que “investigar o

Congresso como memória, levando em consideração o fato de ter sido organizado com o

intuito expresso de marcar a história de Minas Gerais.” (SILVA, 2016, p. 27). Ou seja, houve

12 Ou “a biografia coletiva de um conjunto de indivíduos a partir de características observáveis”. SILVA (2016, p. 117).

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intencionalidade e esforço na construção da memória do Congresso de 1903 por meio da

organização, publicação e manutenção dos seus Anais.

A busca pelos discursos e pelos anais do Congresso de 1928, no entanto, revelaram uma

dispersão dos documentos. A visita aos arquivos das associações de classe em Belo Horizonte

e Juiz de Fora – muitas vezes em condições inadequadas de preservação – e aos arquivos e

órgãos de consulta da estado, da capital mineira e da cidade de Juiz de Fora, reiteraram a

fragmentação dos documentos.

Os periódicos da época oferecem farto e variado acervo de discursos em que os

congressistas veicularam suas representações acerca do trabalhador e do Ensino Profissional.

Ao investigar os periódicos, nos deparamos com o estudo de SILVA (2007), que nos

permitiu conhecer o histórico dos jornais com enfoque econômico na cidade de Juiz de Fora.

Este estudo, bem como o trabalho de campo na sede da Associação Comercial e Empresarial

de Juiz de Fora permitem considerar o periódico Gazeta Comercial uma fonte a expressar as

representações das classes produtoras, uma vez que “o jornal apareceu em 1924 como

instrumento noticioso da Associação Comercial de Juiz de Fora.” (SILVA, 2007, p. 62). Nesse

sentido, esse periódico constitui uma fonte relevante para esse projeto.

Essa dispersão e por vezes estado inadequado de conservação dos documentos, nos

instigam a investigar os motivos de um investimento diferenciado na memória do Congresso

de 1928, para a qual a conclusão dessa pesquisa pretende contribuir, dada a relevância desse

evento para a história da educação profissional.

Considerações Finais

Ainda que os Congressos de 1903 e 1928 guardem suas especificidades e contextos

diferenciados, o esforço de reflexão encontrou amparo no aporte teórico-metodológico da

História Comparada para elencar categorias para análise e diferenciação desses eventos.

A análise e comparação das categorias acerca dos Congressos de 1903 e 1928

apresentou mais do que rupturas; os deslocamentos e permanências na elaboração de

representações sobre o Ensino Profissional por parte das classes produtoras.

A presente comunicação procurou contribuir, ainda que a partir de dados parciais da

pesquisa, para o entendimento dos deslocamentos políticos, econômicos e sociais e seus

decorrentes reflexos em novas ênfases e representações sobre o Ensino Profissional, na

expectativa de fazer ver a história da Educação Profissional em Minas Gerais.

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