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A EDUCAÇÃO FÍSICA NUM CONTEXTO MULTICULTURAL: ESTRATÉGIA
PARA A INCLUSÃO SOCIAL
Maurício Ricardo Da Costa Horta – Lapeade - UFRJ José Jairo Vieira – Lapeade – PPGE - UFRJ
Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Comunicação Oral
1-INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem o objetivo principal de elucidar e aumentar a consciência por parte
dos profissionais de educação em geral, da importância de uma prática pedagógica inseria
num contexto multicultural. Onde as diferenças convivam e cresçam em harmonia. Onde
se consiga romper como currículo hegemônico, tradicional, que privilegia sempre o mais
forte e exclui o mais fraco. Onde se possa romper com uma monocultura criada pelos
dominantes e, detrimento dos dominados.
Nos Estados Unidos, estudantes e líderes religiosos negros se unem na luta por garantia de
direitos civis como um exercício de igualdade. Assim, surge o multiculturalismo, inserido
num contexto onde o princípio ético busca a orientação de grupos culturalmente
dominados e que não tiveram nem suas próprias características culturais preservadas.
Em Cashmore(2000) encontramos a seguinte definição para o termo: “ O multiculturalismo
possui, na sua essência, a ideia ou ideal de uma coexistência harmônica entre grupos
étnica ou culturalmente diferentes em uma sociedade harmônica”(p.371). Mais do que um
simples termo ou expressão, o multiculturalismo se apresenta como um movimento de
afirmação de cidadania contra as injustiças sociais. É a luta dos oprimidos contra a
hegemonia excludente da elite dominante.
Atualmente a questão multicultural preocupa muito algumas sociedades. Por exemplo, na
América Latina, e particularmente no Brasil, esta questão apresenta uma especifidade
singular, um contorno próprio. Nosso país apresenta um alicerce multicultural muito forte,
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onde as relações entre as diversas culturas fazem parte da nossa História, esta , dolorosa e
trágica, principalmente quando se refere aos grupos indígenas e afrodescendentes.
Candau (2003) diz que; “a nossa formação Histórica está marcada pela eliminação física
do “outro” ou por sua escravização, que também é uma forma de negação de sua
alteridade”. Podemos assim afirmar que a eliminação física do “outro” não se dá
unicamente pela sua morte, mas também pela eliminação dos seus direitos de cidadão, de
Ser Humano.
A negação do “outro” (diferente) se dá em vários planos da sociedade, como por exemplo,
no das representações sociais, onde esta minoria que foi violentada nos seus direitos de
cidadãos, Seres Humanos, procura sobreviver e afirmar tal identidade numa situação de
poder socioeconômico totalmente inferior, subordinados a condições extremas de injustiça
e exclusão social.
Para muitas pessoas a percepção desta realidade, construída durante anos e alicerçada em
cima de esteriótipos e preconceitos criados, é extremamente ameaçadora. Começa aí a
construção de um verdadeiro processo de guetificação e formação de subculturas,
produzidas pela elite dominante. Candau (2003) afirma: “surgem então comportamentos e
dinâmicas sociais que constroem muros. Física, afetiva e ideologicamente evita-se o
contato e criam-se mundos próprios, sem relação com os diferentes”.
2- MULTICULTURALISMO
A literatura já atual já aponta para a necessidade de uma prática pedagógica preocupada
com a diversidade cultural, cada vez mais presente no Brasil. Candau (2003) nos afirma
que : “ As relações entre direitos humanos, diferenças culturais e educação nos colocam no
horizonte da afirmação da dignidade humana num mundo que parece não ter mais esta
convicção como referência radical. Neste sentido trata-se de afirmar uma perspectiva
alternativa e contra-hegemônica de construção social, política e educacional”. Outros
autores já compartilham desta necessidade, por exemplo, quando Canen (2000) cita que: “a
educação multicultural, é percebida como uma via pela qual se promove o resgate de
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valores culturais ameaçados, de forma a se garantir a pluralidade cultural, compreendida
em uma perspectiva semelhante à de preservação da diversidade cultural ambiental e à
defesa de espécies em extinção, tal como foi discutido por McGinn(1996)”.
O simples reconhecimento do caráter multicultural de uma sociedade, não é o suficiente
para a construção de uma sociedade mais justa. “ Portanto a consciência do caráter
multicultural de uma sociedade não leva espontânea e necessariamente ao desenvolvimento
de uma dinâmica social informada pelo caráter intercultural” (CANDAU, 2003). Aceitar o
caráter multicultural de uma sociedade, não implica numa intervenção intercultural, ou
seja, numa participação ativa, dialética e crítica em prol do favorecimento dos alijados
socialmente. A mesma autora explica:“ Neste sentido, o interculturalismo é uma expressão
do multiculturalismo, mas nem todo multiculturalismo é intercultural”.
Olhar para a diversidade cultural é pensar criticamente na formação do aluno/cidadão, ou
seja, uma educação rompendo as barreiras dos muros da escola, a qual seguindo a linha de
pensamento de Paulo Freire se dá em qualquer seguimento da sociedade. Citando Horta
(2010) : “assim começamos a ter possibilidade de romper com uma monocultura
curricular que privilegia os ditos “ não diferentes”, por traz de um discurso democrático e
inclusivo de que todos têm direito à educação e só depende do esforço de cada um para se
ter ao menos a condição de se viver dignamente”.
3- MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO FÍSICA
O debate sobre diversidade cultural começou a ser gestado na década de 1980. Período este
marcado pela inserção das ciências sociais no panorama acadêmico da Educação Física.
Com isso, ocorreu uma crise epistemológica, com uma nova visão da área e de um novo
pensar de sua ação pedagógica. Até então sua prática limitava-se ao ativismo
inconsequente, o “fazer por fazer”. Daolio e Oliveira (2011) explicam: “Tratava-se de uma
prática que não considerava o contexto dos sujeitos e que tinha como preocupação a
“educação do físico”.
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A partir desta década que começou-se a entender e questionar a Educação física inserida
num contexto preocupado com a questão social e cultural dos sujeitos. Desse modo, com a
discussão da cultura em cena na Educação Física, não se pode mais negar a questão das
diferenças. Daolio( 2004,p.2), cita: “ […] cultura é o principal conceito para a Educação
Física, porque tida dinâmica cultural [...] expressando-se diversificadamente e com
significados próprios no contexto e grupos específicos”.
Uma prática pedagógica da Educação Física num contexto onde se considera a
historicidade de cada movimento, este fazendo parte da cultura de cada época, preocupa-se
com as diferenças dos alunos, sem criar esteriótipos e sem cotejá-los. Daolio explica: “essa
Educação Física plural parte do pressuposto de que os alunos são diferentes, recusando o
binômio igualdade/desigualdade para compará-los”.
4- MULTICULTURALISMO E INCLUSÃO
Práticas pedagógicas multiculturais exigem um repensar de nossas vidas, conceitos, valores
e princípios, para que possamos ter uma conduta ética na nossa prática profissional em
consonância com nosso discurso teórico. Behrens(2000) explica: “ a busca por um novo
paradigma demanda uma nova revisão de mundo, de sociedade e de Homem”.
É importante ressaltar que , enxergar e aceitar a diversidade cultural, não implica em uma
prática pedagógica preocupada com a inclusão e muito menos com que as diferenças
cresçam e convivam em harmonia. É necessário uma prática pedagógica intercultural
crítica, reflexiva, dialética, onde as “diferenças” passam a ser umas das pontes na
construção de uma pedagogia das “diferenças”, e como diz Candau (2005): “o que faz
com que as diferenças passem a ser identificadas como um encontro e não como um
esbarrão, atribuindo valores aos debates e conhecimentos de forma a não dar continuidade
ao status vigente”.
É necessário uma prática pedagógica que privilegie a subjetividade Humana como
possibilidade de resgatar a essência do Ser humano enquanto sujeito ativo da sociedade, e
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não mais como objeto de um capitalismo que impõe, determina, anula sua individualidade,
tornando-o cada vez mais passivo na construção da sua própria identidade.
5- CONCLUSÕES FINAIS
Infelizmente ainda hoje, observamos a prática de uma EF escolar hegemonista, reprodutora
de uma sociedade capitalista, elitista, onde o mais forte exclui socialmente o mais fraco das
mais variadas formas, etnicamente, economicamente, fisicamente , e outras tantas. Daolio (
1995) afirma: “ A escola e a Educação Física, de modo particular, sempre tiveram
dificuldades em lidar com a manifestação e a valorização das diferenças, tenderam ao
longo da História, a silenciá-las, sentindo-se mais seguras e confortáveis na
homogeneização e e padronização”. Assim, vemos a necessidade de
uma prática pedagógica inclusiva, igualitária, inserida dentro de uma visão multicultural. A
escola ao em vez de preservar a tradição monocultural, tem a obrigação de aprender a lidar
com a diversidade cultural que é peculiar do nosso país. Para que essa nova perspectiva de
práxis pedagógica seja efetivada, é necessária uma formação multicultural de professores.
Candau (2002) propõe a modificação do currículo afirmando ser necessário uma
transformação para um […] currículo na perspectiva da introdução da sensibilidade à
diversidade cultural” (p.134). Uma educação para o não preconceito, para a não
discriminação, para um convívio multicultural, pode transformar relações desiguais em
relações harmônicas de entendimento e respeito.
A realidade da educação física escolar também é diversa e multicultural. Olhar para as
diferenças culturais imersas no contexto escolar é fundamental para a formação dos
alunos/cidadãos. Gonçalves e Silva (1998) afirmam que […] e como a educação, qualquer
que seja ela, está integralmente centrada na cultura, pode-se entender porque os
multiculturalistas fizeram da instituição escolar seu campo privilegiado de atuação”(p.16)
A abordagem do multiculturalismo não vem sendo realizada com afinco no campo da EF.
Esta temática exige que repensemos nossos preconceitos, valores e nossa prática
pedagógica. “ A formação docente, dentro de uma perspectiva multicultural, deve,
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portanto, aproximar a realidade(cotidiano, cultura escolar) da teoria (conhecimentos
adquiridos na formação)...”(CANDAU,2005).
Baseado no que foi dito por Darido (2005), podemos inferir que, uma prática pedagógica
multicultural exige conteúdos alternativos e novas formas de aplicá-lo. Assim
começaremos a ter a possibilidade de romper com uma monocultura curricular que
privilegia os ditos “não diferentes”, por traz de um falso discurso de que todos tem direito
à educação e só depende do esforço de cada um para se ter ao menos a condição de se
viver dignamente. Como se isto pudesse ser verdade dentro do cenário de injustiças e
desigualdades socioeconômicas que vemos atualmente.
Assim cabe a nós profissionais da educação física, e da educação em geral, termos a
consciência desta urgente necessidade de repensarmos e mudarmos esta prática
pedagógica, mera reprodutora de uma sociedade das maiorias(“os iguais”), ultrapassada e
presa a antigos paradigmas que infelizmente ainda encontramos nas nossas escolas.
BIBLIOGRAFIA
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GONÇALVES, L. A. O.; SILVA, P. B. G. O Jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus contextos. Belo Horizonte: Autêntica, 1998
HORTA, C, R, M. A práxis da Educação Física numa perspectiva Holística”. Seminário discente da UFF (ISSN-2177-6407).