a economia não observada no brasil - instituto de economia · •apresentar uma primeira medida...
TRANSCRIPT
A Economia Não Observada no Brasil Um estudo baseado na metodologia do Sistema
de Contas Nacionais
IE/UFRJ – Out/2012
Estudante: João Hallak Neto Orientador: João Saboia Co-orientador: Roberto Olinto (IBGE)
A Economia Não Observada (ENO/NOE) é o conjunto de todas as atividades produtivas que não são captadas diretamente pelas fontes tradicionais do sistema estatístico (pesquisas, censos, outros registros).
O que é ENO?
O porquê da ENO... i) subcobertura: quando unidades não estão incluídas no programa de compilação de dados; ii) não-resposta: unidades estão incluídas mas não há dados coletados para elas e a imputação não foi adequadamente realizada;
iii) subdeclaração: quando a informação é parcialmente declarada pelo entrevistado (intencionalmente); ou, os dados foram corretamente informados mas equivocadamente registrados pelo órgão compilador.
Introdução
Importância da cobertura completa (ou “exaustiva”) da produção econômica para as CN:
- para compiladores: desequilíbrios internos na consistência do sistema;
- para usuários: evitar em PIB subestimado (valor); ou imprecisas taxas de crescimento (tendência), pois o segmento não obs usualmente apresenta variação distinta, quando não inversa, do observado.
... Assim, mesmo não declarada, a ENO deve ser estimada e incorporada ao SCN com a finalidade de agregar qualidade e utilidade às contas nacionais.
• UNECE (1993): Inventário com a experiência de 09 países da UE na
estimação das atividades “hidden” e “informal” para as CN;
• Calzaroni (2000): Metodologia de estimação “exaustiva da produção” da
Itália, posteriormente difundida;
• UNECE (2003): Prosseguimento do debate com um segundo levantamento
sobre a NOE, em 2001, com 29 países membros;
• Blades and Roberts (2002): “Measuring the NOE” - Resumo e “anúncio” do Manual de ENO da OECD;
• OCDE (2002): NOE – a Handbook - Guia sobre as melhores práticas para
a completa estimação do PIB considerando a ENO coerentemente com o enfoque do SCN;
• UNECE (2008): Inventário com as práticas de estimação da ENO (43 países): prover uma plataforma para a comparação; constituir-se em uma referência para os países obterem uma estimação exaustiva do PIB.
Atenção crescente / Publicações
Motivação / justificativa para a pesquisa
• Experiência na Conac/IBGE, sobretudo no desenvolvimento
da nova série do SCN (série 2000) e na conta da renda;
• Destacar conceitualmente a ENO, visando contribuir para
novos estudos e desdobramentos;
• Apresentar uma primeira medida para o Brasil de acordo
com a metodologia do SCN, considerado que é um tema
ainda pouco conhecido;
• Contribuir para melhorias no SCN do IBGE,
Considerações sobre a ENO
• O tamanho e a estrutura da ENO variam entre países e
variam com: o alcance do sistema nacional de estatística; o
estágio de desenvolvimento da economia; a legislação
vigente; a organização da sociedade...
• A ENO tende a apresentar maior peso nos países em
desenvolvimento por causa da maior informalidade e da
menor fiscalização relativas.
• A cobertura do sistema nacional de estatística, que tende a
ser maior nos países mais desenvolvidos, também explica a
menor parcela de ENO nestes.
As Contas Nacionais devem incluir toda a
produção de bens e serviços que estejam dentro da
“fronteira de produção”
A articulação entre ENO e SCN:
a Fronteira de Produção
• Toda a atividade produtiva cujos bens e/ou serviços são
destinados ao mercado, seja à venda ou à permuta;
• Inclui ainda os produtos fornecidos gratuitamente às famílias
ou à comunidade pelos serviços da Adm. Pub. ou pelas
ISFLSF; bem como algumas atividades produzidas pelas
famílias para o próprio consumo.
Fronteira de Produção
Ficam fora
da fronteira da
produção
(não fazem parte
do PIB)
São bens e
serviços que
ficam dentro
da fronteira de
produção
(fazem parte
do PIB)
Utilizam-se insumos de capital,
trabalho ou materia-prima para
produzir os bens e serviços?
Não
Sim Troca-se
por dinheiro ou
realiza-se
escambo?
Sim
Não
São bens? Sim
São serviços de aluguéis
ocupados por seus
proprietários ou serviços
domésticos remunerados?
Não
Sim Não
Exemplos:
jazidas de petróleo,
fauna marítima,
bosques naturais
Exemplos:
cozinha, roupa,
cuidado filhos,
reparos,
feitas pela própria família
produção de
bens para
autoconsumo
Fonte: Elaboração do autor baseada no SNA-2008 e Blades and Roberts (2002).
Economia Observada
Atividade econômica
captada estatisticamente
de forma direta por fontes
tradicionais:
censos/pesquisas, outros
registros oficiais
ENO
Atividade não captada diretamente por fontes
tradicionais:
informal / uso final próprio / subdeclarada /
ilegal / subcoberta
Todo processo produtivo de bens e
serviços que exista uma demanda de
mercado a preços economicamente
significativos
Espaço da fronteira da produção da economia: EO e ENO
Fonte: Elaboração própria a partir das definições de OECD (2002).
a) produção informal Produção das unidades não agrícolas que se caracterizam por
um baixo nível de organização, que não possuem uma clara divisão entre trabalho e capital enquanto fatores de produção e cujo destino é o mercado (OIT e SNA).
A finalidade principal é gerar emprego e renda para as pessoas
envolvidas – vínculos informais.
ENO e suas áreas: tipos de produção
b) produção das famílias para o próprio uso Toda a produção para a qual não existem transações entre unidades produtoras e consumidoras, realizada pelas famílias para uso final próprio, como a produção de alimentos para o próprio consumo, a própria construção, o aluguel imputado e o serviço doméstico remunerado.
Refere-se às atividades produtivas legais mas que não são declaradas integralmente às autoridades públicas para evitar: pagamento de impostos e contribuições; cumprimento de normas legais relacionadas ao trabalho, segurança ou saúde; cumprimento de procedimentos administrativos...
c) produção subdeclarada (ou oculta)
.
ENO e suas áreas: tipos de produção
d) produção ilegal
produção de bens e serviços cuja venda, distribuição ou posse é proibida por lei; ou atividades que geralmente são legais mas que se tornam ilegais quando produzidas por agentes não autorizados.
e) produção subcoberta
consiste em parte da produção que não é captada por ineficiências do sistema estatístico.
Os processos de produção não registrados possuem naturezas distintas. Conhecê-las é o primeiro passo para se viabilizar sua correta estimação da ENO.
ENO e suas áreas: sobreposição / complexidade
Entretanto não se exige a distinção de cada área isoladamente, até mesmo porque as categorias podem apresentar-se sobrepostas. O que é crucial é que a EO e a ENO sejam incorporadas ao SCN (cobertura exaustiva) – segundo as possibilidades de estimação ou imputação a partir das estatísticas disponíveis.
• A maneira ideal é o fortalecimento do sistema estatístico:
EO tão exaustiva quanto possível, minimizando a ENO;
• Entretanto, além de dispendiosos, tais esforços devem ser
incessantes e, ainda assim, os registros não alcançarão
toda a atividade definida na fronteira de produção do
SCN...
... haverá sempre algumas atividades que não serão
diretamente observadas.
Como atingir a exaustividade?
• I) métodos baseados na compilação estatística:
I.1) estimativas diretas:
consiste na busca da informação por levantamentos diretos como
pesquisas sobre produção informal, Orçam. Fam., ou o uso do
tempo;
I.2) estimativas indiretas:
realizar estimações indiretas que são combinadas com outras
informações disponíveis no SCN (basicamente de três tipos).
• II) Há também os métodos baseados em técnicas de
modelagem (modelos macroeconômicos que fornecem
estimativas da ENO).
Métodos mais utilizados
I.2.a) baseados na oferta:
Quando existem dados sobre insumos para estimar a produção
(trabalhadores, matérias-primas, terra, capital fixo...),
associando-os aos coef. tec. (PO/VP; Rem/VP; CI/VP);
SCN do Brasil: trabalho e remunerações como insumo.
I.2.b) baseados na demanda:
Indicadores quantitativos de usos específicos de bens e serviços
que indicam a produção, tais como: materiais de construção,
despesas domésticas de CF, utilização de m-p para o
processamento de produtos; ou ainda, dados administrativos
que indicam a demanda por um produto específico;
Métodos de compilação estatística indireta
I.2.c) baseados no fluxo de produtos:
Fundamentam-se no equilíbrio entre recursos e usos de produtos por meio de equações contábeis, que levam em conta a oferta e a demanda dos produtos.
Se D > O, houve falha na compilação dos dados de oferta (subd., subc., não resp.), havendo espaço para a estimação de uma oferta não observada, pois:
Métodos de compilação estatística indireta
Se:
CI + CF + FBC + X < P + M
=> estimação da oferta
Método também utilizado no Brasil: “equilíbrio de produtos”
II) baseados em técnicas de modelagem
(modelos monetários ou de indicador global) Modelagem em termos de estoque ou fluxos de moeda ou por
variável correlacionada ao PIB:
i) ENO = f (PMPP/Dép);
ii) ENO = f(var), p. ex: energia elétrica; Estimativas para a ENO como um todo underground economy.
Críticas:
1) falta de clareza na definição do que se procura medir; 2) alta dependência de pressupostos excessivamente simplistas; 3) obtenção de diferentes resultados sob as mesmas circunstâncias; 4) falta de plausibilidade de muitos destes resultados.
O uso dos dados básicos, seja pela estimação direta ou indireta, é
sempre preferível.
Métodos de compilação estatística indireta
Comparações internacionais e temporais
1. Não há um único método utilizado internacionalmente;
2. Mais de um método geralmente são aplicados, em função das possibilidades do sistema estatístico dos países;
3. Atenção à comparação em um mesmo país, pois a cobertura e a qualidade das fontes de dados pode melhorar, implicando que atividades que podem ter sido anteriormente consideradas ENO serão cada vez mais observadas no processo regular diminuindo, portanto, o peso da ENO.
4. Assim, as variações da ENO no PIB podem ser tanto uma indicação de mudanças na economia real ou podem ocorrer por causa da evolução dos instrumentos estatísticos, ou pela combinação em qualquer grau de ambos os fatores.
Atividades não observadas incluídas no PIB de países selecionados
(Participação percentual – anos em torno de 2000)
Fonte: Elaboração própria a partir de Unece (2008, p. 10)
• Divulgação da série 2000 do SCN e o conhecimento dos métodos
registrados no Handbook NOE;
• Assim como em outros países, no Brasil também são aplicados
diferentes métodos de estimação indireta para se alcançar a
exaustividade do PIB;
• Na base de dados do SCN do Brasil, os conjuntos de unidades que
possuem características semelhantes ficam alocados em “modos de
produção” próprios, definidos pelo sistema;
– Modo 6: famílias (informal, próprio uso): métodos baseados na oferta
(fator trabalho e massa de rendimentos combinados à relação CI/VP
disponível);
– Modo 7: empresas (subdeclarada, subcobertas): métodos baseados no
fluxo de produtos ou na demanda.
Uma estimativa da ENO no Brasil
A ENO será caracterizada como a soma dos resultados dos
métodos de estimativas indiretas utilizados no SCN, contidos
nestes dois modos de produção:
(i) a estimação da produção de parte das atividades do
setor famílias, que compreende principalmente a
produção informal;
+
(ii) o ajuste entre oferta e demanda que tem como causas
a subdeclaração ou a subcobertura no setor empresas.
Uma estimativa da ENO no Brasil
• Estes resultados devem ser entendidos como a parcela do
PIB, que é correntemente divulgado, oriunda de atividades
não captadas diretamente pelo sistema estatístico. Não
corresponde às atividades não mensuradas e que deveriam
então ser adicionados ao PIB;
• Tais resultados estão de acordo com marco teórico do SCN
e com as recomendações internacionais para o cálculo da
ENO.
Uma estimativa da ENO no Brasil
Composição da ENO no Brasil obtida por métodos de estimação indireta segundo o setor institucional – 2000/2009
(Participação % em relação ao PIB)
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados do SCN/IBGE
Posição relativa do Brasil segundo o peso da ENO no PIB Brasil (2000 e 2009); demais países (anos em torno de 2000)
Fonte: Elaboração própria a partir da base de dados do SCN e de Unece (2008)
• Brasil (2000) é o quinto entre os países de maior taxa de PIB não
observado, seguido por Itália e Sérvia;
• Brasil (2009) é o décimo, próximo ao México, Hungria e Espanha;
• Redução de 4,2 p.p. principalmente pela queda da estimativa da
produção familiar (3,6 p.p.), que perdeu peso desde o início;
• A estabilidade da ENO encontrada pelos método baseado no fluxo
de produtos para empresas era esperada:
não houve grandes alterações no sistema de coleta ou na
compilação dos dados, e ...
... tampouco houve significativa instabilidades econômica ou
institucional que justificassem fortes variações na subdeclaração e
na não resposta ao sistema estatístico nacional.
Resultados / conclusões (1)
• A redução de peso do resultado obtido pelo método baseado na
oferta (famílias) pode ser atribuída às mudanças na economia do
país ao longo da década de 2000: trajetória ascendente do emprego
formal e queda relativa da informalidade no mercado de trabalho
brasileiro;
• De 2000 a 2009: OCV (+50,7%); OSC (+11,0%); OA (+ 1,1%);
• Mudança na composição do emprego refletiu-se na redução de
peso da atividade produtiva do setor informal e da ENO obtida
pelo método de estimação baseado na oferta;
• A ENO brasileira se deve majoritariamente às características da
economia brasileira que concentra ainda um peso significativo na
produção familiar e informal.
Resultados / conclusões (2)