a doutrina dos sete pecados capitais e a ordem … · este trabalho não tem como objetivo entrar...
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doi: 10.4025/10jeam.ppeuem.03030
A DOUTRINA DOS SETE PECADOS CAPITAIS E A ORDEM DOS
CISTERCIENSES: SEU SIGNIFICADO A PARTIR DE TEXTOS
ALCOBACENSES.
LIMA, Darlan Pinheiro de (UFRGS/CAPES)
Introdução
A crise que se estabeleceu no império romano ocidental e a consequente infiltração
dos povos germanos pagãos em seu território, de certa forma contribuíram para que uma
nova visão sobre o sobrenatural e a religiosidade pudesse construir seus alicerces num
mundo em constantes transformações.
O período medieval se caracteriza e se forma pela fusão de três elementos
fundamentais: a herança germânica, a herança romana e o cristianismo. No ponto de vista
da civilização medieval, podemos dizer que o cristianismo teve um papel fundamental
desde os primeiros contatos entre as civilizações romana e germânica. Ele foi o elo
aglutinador destas culturas, que aos poucos formará o mundo medieval que conhecemos
hoje1.
Sendo o cristianismo tão importante para a sociedade medieval, cabe a nós
entendermos quais valores esta doutrina defendeu em seus primeiros tempos alcançando
aos poucos o sucesso e a supremacia da futura Igreja Cristã. A base do cristianismo está
nos ensinamentos de Jesus, e sabemos através disto que o caminho para a salvação se
baseia sobre as ações do ser humano, fazendo dele um bom ou mau cristão. Com isto as
discussões sobre o bem e o mal se tornam bastante frequentes, e acaba-se por construir
paulatinamente os preceitos divinos, o modelo de ser humano, enfim, o bom cristão.
Este trabalho não tem como objetivo entrar nas discussões e desdobrar assunto de
ampla plenitude, e que se desloca para profundas discussões teológicas e filosóficas. Basta
1 JUNIOR, Hilário Franco. A Idade média: nascimento do Ocidente. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 2001.
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sabermos que a construção do bom cristão está diretamente relacionada com o que o ser
humano não pode fazer para tornar-se um. E, neste caso, se forma a ideia da falta, dos atos
contra os ideais divinos, as ações que ferem a nova doutrina em ascensão, enfim,
caminhamos para a formação do que denominaremos pecado.
O conceito de pecado sempre esteve arraigado nas principais discussões religiosas
durante o período medieval, estando presente em todos os aspectos da vida do homem da
Idade Média. Desde o início da era cristã, quando os alicerces do cristianismo estão sendo
lapidados, as teorias para definição do pecado percorrem e se defrontam nas estruturas
cristãs e fora delas. Desta forma, criam-se diversas visões e conceitos em relação ao
pecado, e com isso surge a necessidade de defini-los, classificá-los e conceituá-los2.
As discussões entre o bem e o mal já eram presentes nos correntes debates dos
mestres escolásticos, que buscaram também na filosofia antiga definições que pudessem
contribuir para uma melhor e mais aceita definição de ato pecaminoso. A noção que todo
ser humano já nasce dominado pelo pecado original foi o ponto de partida para a definição
do próprio conceito de pecado na Idade Média3.
Diante da ideia de que o pecado infiltrou-se na terra através do pecado original, o
clero católico procurou limitar a ação dos pecados através da instituição de várias práticas
rituais, tanto individuais quanto coletivas. Entre elas estão o batismo, a confissão, o jejum,
a oração, a punição corporal e a peregrinação. E estando o pecado presente em todos os
espaços terrestres, foi preciso fugir dele e criar um lugar protegido contra a mal, o
mosteiro. Os primeiros ascetas são anacoretas que buscam fugir dos prazeres mundanos,
esperançosos em obter a paz espiritual nos desertos do Oriente. Um dos pioneiros desta
prática foi Santo Antonio (251-356), que por quase toda sua vida isolou-se no deserto do
Egito4.
E para este trabalho é de suma importância o trabalho do monge grego Evágrio
Pôntico (345-399), que teve grande influência anacoreta. Em busca da comunicação com
2 Para ter uma noção geral, o conceito, e a evolução do conceito de pecado no período medieval ver Carla CASAGRANDE & Silvana VECCHIO. “Pecado”. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2002, vol. 2, pp. 337-351. 3 Outra consulta importante é a obra de Jean DELUMEAU. O pecado e o medo: a culpabilização no Ocidente. São Paulo: EDUSC, 2003, 2 vols. 4 Para ver sobre a história do monasticismo ler Lester K. LITTLE. “Monges e Religiosos”. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2002, vol. 2, pp.225-241.
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Deus, através de manifestações e renúncias dos prazeres mundanos é que surgem as
tentações, que de certa forma são naturalmente as condições para o nascimento do pecado.
Evágrio Pôntico listou os oito maiores males ou necessidades que os monges sofriam no
deserto, e desta forma nasce o que futuramente será a mais importante doutrina sobre
pecados do período medieval, os sete pecados capitais.
Os primeiros cristãos foram essenciais para a difusão da nova doutrina, tanto dos
povos que adentram no império romano quanto os que ainda se dedicam às doutrinas pagãs
fora dele. Teve como papel fundamental na consolidação e sucesso do cristianismo a
competente ação dos monges. Sendo a doutrina dos sete pecados capitais, ou setenário,
nascida em ambiente monástico, e tendo os monges o importantíssimo papel de dispersar o
cristianismo na Europa, é de se entender que a doutrina a partir das primeiras décadas do
período medieval foi bastante usada como meio de entender o que é o pecado, quais os
pecados mais graves, e outras particularidades que formam a essência do cristianismo.
João Cassiano (370-435) fez diversas viagens pelo oriente, tendo contato com os
pioneiros da prática monacal, e com isso divulgou-a pelo próprio oriente e principalmente
ocidente, contribuiu para que aos poucos o trabalho dos primeiros monges fosse conhecido,
respeitado e copiado, para ser usado como mais uma ferramenta na dispersão da religião
cristã. Não por acaso, João Cassiano poderia ser reconhecido hoje como o pioneiro na área
do jornalismo, pelas importantes informações que divulgou em sua época na Europa.
A doutrina dos sete pecados capitais5 foi com certeza a mais importante forma de
classificação criada durante o período medieval. Isto é notório com a readaptação da
doutrina pelo Papa Gregório Magno (590-604) logo no início do período medieval, e
também, com a agregação da doutrina à da Igreja Católica, onde será utilizada
principalmente nos rituais de confissão e nos sermões. E tendo considerado em seu
pontificado a cristianização de todos os povos germânicos como a principal questão
política, podemos reconhecer a importância de seu trabalho para não apenas divulgar o
cristianismo, mas também a doutrina do setenário adaptada por ele. Também podemos citar
a missão formada por monges que o mesmo papa enviou para a região da atual Inglaterra,
5 Para ver os primeiros estudos sobre a evolução da doutrina dos sete pecados capitais: Morton BLOOMFIELD. The seven deadly sins. A introduction to the history of a religious concept, with special reference to medieval English literature. Michigan: East Lansin, 1952. E ainda o estudo das historiadoras Carla CASAGRANDE, e Silvana VECCHIO. Histoire des péchés capitaux au Moyen Age. Paris: Aubier, 2003.
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que obteve um excelente resultado na cristianização dos povos anglo-saxões. Tanto foi a
competência nesta missão, que fez com que os próprios monges ingleses saíssem para fazer
o mesmo em regiões ainda não cristianizadas. Dentro de todas essas particularidades,
destaca-se o simples fato de que até Gregório Magno, a doutrina dos sete pecados capitais
era mantida apenas no ambiente monástico. A partir dele, além de continuar se mantendo
neste ambiente, a doutrina irá ganhar uma difusão mais ampla, dentro e fora dos mosteiros,
já estabelecida como uma doutrina da Igreja Católica.
Gregório Magno construiu a ideia que a alma humana é testada, assediada por um
exército de vícios, liderados pela soberba, e que portanto exerce a função de comandante
deste exército, alicerçado ainda pela vaidade, inveja, ira, avareza, acídia, luxúria e gula.
Cada um destes pecados considerados capitais é responsável pela geração de outros
secundários, menos importantes.
Outra tradição bastante difundida é a da psicomáquia6, conhecida como o combate
espiritual entre os vícios e as virtudes, introduzida principalmente por Prudêncio, no século
IV. Estes confrontos espirituais vieram a inspirar obras em diversos campos, tanto na
literatura quanto na iconografia, que serão muito importantes para esta pesquisa.
É de vital importância analisar o intenso trabalho de Tomás de Aquino7, que no
século XIII contribuiu para um melhor entendimento na relação entre o conceito de
pecado, os atos negativos e a noção de considerar-se culpado por seus atos. Sua visão sobre
as diferenças entre os vícios capitais considerados mais graves e outros vícios decorrentes
desses também contribuirá para este estudo. Principalmente, porque o estudo tomista em
relação aos pecados capitais surgiu no momento em que esta doutrina sofria certo declínio,
pois desde seu surgimento já sofria a concorrência de outros sistemas, como o ternário,
proposto por Santo Agostinho no século V, e o sistema do decálogo, que se refere aos atos
contrários aos Dez Mandamentos.
Através da filmografia, literatura, televisão e outros meios de comunicação, a
doutrina dos sete pecados capitais se tornou bastante conhecida do público em geral. Um
assunto muito divulgado, e através dele, foram produzidos vários trabalhos de cunho
6 Ver MARTINS, Mario. “Psicomaquia ou combate espiritual”. In: Alegorias, símbolos e exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Lisboa: Edições Brotéria, 1975, PP.173-206. 7 TOMÁS DE AQUINO. Sobre o ensino. Os sete pecados capitais. Trad. Luiz Jean LAUAND. 2ed São Paulo: Martins Fontes, 2004,
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ficcional. Mas, infelizmente são muito poucas as pesquisas históricas que abordaram tal
assunto. Um assunto às vezes polêmico que desperta a atenção e curiosidade do público de
todas as idades, ainda não teve sua merecida atenção de uma pesquisa sobre suas origens,
conceitos e representações formadoras de um sistema utilizado como doutrina em grande
parte do período medieval.
A amplitude do tema me remete a buscar limites de espaço e tempo, pois seria
demasiadamente grande a tarefa de estudar a doutrina do setenário durante o período
medieval, sua evolução, os debates em relação à mesma e as reflexões desenvolvidas por
diversos pensadores a respeito do tema. Por isso, evitando o risco de generalização,
delimitei a pesquisa na baixa Idade Média portuguesa, entre fins do século XIV e início do
século XVI. Sendo a doutrina criada em ambiente monástico, direcionarei meu olhar para
as fontes de uma das ordens monásticas mais importantes do período medieval, a ordem
dos cistercienses8. E sendo um assunto que apresenta ainda um amplo campo de estudo,
delimitarei minha temática no estudo dos textos produzidos na mais importante abadia
beneditina em solo português, a abadia de Santa Maria de Alcobaça.
Construída entre os séculos XII e XIII, a abadia de Alcobaça9 foi um dos centros
monásticos cistercienses que mais contribuíram para a cultura religiosa portuguesa na
baixa Idade Média. Principalmente devido ao grande número de textos produzidos e
copiados por seus monges, somando-se atualmente em mais de quatrocentos e cinqüenta,
os quais, abordarei mais adiante nas fontes primárias que pretendo utilizar.
É lógico que este trabalho tem como tema central o significado dos pecados, e
particularmente da doutrina dos sete pecados capitais, mas tomei o cuidado para enfatizar a
delimitação temporal, espacial e temática nos textos produzidos após o IV Concílio de
Latrão (1215), pois a partir dele estabeleceu-se a obrigatoriedade da confissão anual. Com
isso houve uma maior motivação para a produção de manuais, tanto para formação de
confessores e penitentes quanto à preparação também dos fiéis para o ritual da confissão.
O presente trabalho, portanto, tem como objetivo explorar um tema ainda pouco
abordado pela historiografia, cuja temática nos orienta para a concepção de pecado e,
8 MATOS, Leonor Correia de. A ordem de Cister em Portugal: mito e razão. Lisboa: Fundação Lusíada, 1999. MARQUES, Maria Alegria Fernandes. Estudos sobre a ordem de Cister em Portugal. Lisboa: Edições Colibri, 1998. 9 Para conhecer a história da abadia de Alcobaça, ler GUSMÃO, Antonio Nobre de. A Real Abadia de Alcobaça. 2ª edição. Lisboa: Livros Horizonte, 1992.
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principalmente, a doutrina dos sete pecados capitais. E tem como espaço exatamente em
uma instituição onde nasceu esta doutrina, o meio monástico. E também direcionando o
estudo para a ordem cisterciense, em que os motivos para sua fundação baseiam-se na fuga
dos pecados cometidos pelos monges no próprio ambiente.
Problema de pesquisa
Sendo a doutrina dos sete pecados capitais criada em ambiente monástico,
apresento como problemática deste trabalho saber o quanto esta doutrina aparece ou ainda
estava presente nos textos de uma das ordens monásticas mais importantes do período
medieval, a ordem dos cistercienses. As fontes primárias a serem analisadas neste projeto
foram produzidas em espaço de tempo diferentes, para também comparar o quanto a
doutrina permaneceu ou não como fonte de inspiração para a ordem.
A regra fundacional da ordem cisterciense será analisada. A Carta de Caridade,
regra seguida pelos cistercienses, produzida na França em meados do século XII. E os
textos alcobacenses, sendo um disciplinar/doutrinário, o Virgeu de Consolaçon, e três
literários, o Orto do Esposo, o Boosco Deleitoso e o Castelo Perigoso, ambos produzidos
e/ou copiados na importante Abadia de Alcobaça entre os séculos XIV e XVI.
O eixo principal da problematização desta pesquisa é avaliar o quanto as
concepções originais cistercienses estão presentes nos textos alcobacenses, no que se refere
ao pecado e principalmente ao pecado capital. O que mudou, o que evoluiu e o que
permaneceu para a ordem cisterciense até fins do período medieval lusitano? O que é
propriamente de Portugal? Qual o papel dos pecados, e dos pecados capitais na ordem
cisterciense? De que forma a doutrina é utilizada ainda na formação dos monges
cistercienses em fins do período medieval português? Como o pecado capital aparece na
expressão literária, nos textos disciplinares e na regra fundacional cisterciense? O que os
textos literários nos trazem da regra, e de que forma a doutrina dos sete pecados capitais se
insere neles? O conceito de pecado capital nas regras fundacionais se apresenta na mesma
representação na expressão literária?
Desta forma, trarei informações que nos possibilitará compreendermos a
importância da doutrina para a ordem em fins do século XV e início do século XVI.
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Objetivos
A Ordem Cisterciense foi fundada em um momento no qual acontecia uma reforma
no meio monástico, a qual se relacionava com a busca de se respeitar os ensinamentos de
Bento de Núrsia. A importância de se estudar tal ordem também se depara com a
constatação de que os cistercienses, no contexto histórico monástico, já representavam um
movimento de reforma dentro de outra reforma. Esta primeira representada pela fundação
de Cluny, que aos poucos deixou de corresponder plenamente aos anseios dos monges
mais devotos. Assim surge a reforma cisterciense, de grande sucesso, visto as dezenas de
mosteiros fundados pela ordem a partir do século XII.
Tenho como um dos objetivos, através desta pesquisa, contribuir para produzir um
estudo desta ordem, seus anseios, suas indagações, e principalmente razões que
provocaram sua fundação, e de que forma a doutrina do setenário aparece como
justificativa de seus conceitos.
Analisarei os documentos fundacionais, fazendo uma comparação entre a regra
beneditina, seguida pela grande maioria dos mosteiros europeus, e a carta de caridade,
regra seguida apenas pelos cistercienses, sendo o documento de fundação da ordem. Desta
forma terei condições de analisar o quanto a doutrina do setenário contribuiu como
conceito argumentativo não somente na fundação da ordem de cister, mas também na
ordem beneditina, obtendo a representação de como a doutrina aparece na Ordem de São
Bento e como ela aparece também na Carta de Caridade. Com isso, procurarei abordar o
que uma difere da outra, sempre buscando as justificativas ou diferenças baseadas no
conceito de pecado e/ou pecado capital.
Tendo obtido essas informações, passarei para a análise dos textos produzidos em
Alcobaça, um códice doutrinário e três textos literários. O objetivo é saber como a doutrina
dos sete pecados capitais aparece em diferentes documentos cistercienses: na regra
fundacional, em um texto de caráter doutrinário e em três textos literários.
Referencial teórico e metodológico
Analisando as particularidades deste projeto, anseio que ele se integre na linha da
história cultural medieval portuguesa, relacionado simultaneamente à literatura
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confessional, aproximando-se, não obstante, da teologia. Apesar de o tema central cotejar
os conceitos de pecado, pecado capital e relacioná-los com uma ordem monástica, creio
que a análise documental a ser desenvolvida diga respeito à construção das representações
coletivas dos monges pertencentes a tal ordem. Desta forma, esta pesquisa se diferencia da
maioria das pesquisas correntes de historiadores ibéricos, nas quais o foco se estabelece no
campo da história política e social.
Não que a história política e social represente para mim um obstáculo, muito pelo
contrário: vejo nos estudos da história social um grande passo para o estudo da cultura de
uma sociedade. É através da delimitação e estabelecimento dos grupos sociais inseridos na
sociedade que partimos para a escolha das fontes produzidas por ela, para que através de
um levantamento e uma utilização rigorosa destas fontes possamos obter uma
reconstituição das representações mentais de um recorte histórico determinado. A partir
daí, fazendo uma relação destas representações com o nosso comportamento atual,
revelando valores ainda presentes no nosso modo de pensar10.
As representações são muito importantes para esta pesquisa, sendo elas alicerçadas
e construídas a partir do real são, portanto, um reflexo da realidade vivida, e
principalmente permitem revelar as expressões que os homens criaram para explicar o
mundo ao qual estavam inseridos, e a si próprios.
Até a primeira metade do século XX, a História se preocupava apenas com o que
existiu. Com a revolução a partir dos Annales, ampliaram-se as fontes e principalmente os
instrumentos utilizados nas análises das mesmas. A multiplicidade de dimensões, domínios
e abordagens nos proporciona uma diversidade de ideias, a partir do tema e da
problemática de um trabalho.
A História, segundo Le Goff, é constituída por dois tipos de estruturas e eventos,
mas sempre vinculadas com o real11. O imaginário nos dá a primeira impressão de ser algo
que não existiu, que até pode não existir concretamente, mas existe, no mínimo enquanto
expectativa. O mais importante é que o imaginário mantém sempre uma relação dialogada
com o mundo real, e esta relação pode variar. Portanto, há uma série de valores que dão
10 Ver a entrevista de José Mattoso cedida a ABREM, realizada pelo renomado medievalista brasileiro Hilário Franco Junior, publicada na revista desta entidade, nº3. 2001. 11 LE GOFF, Jacques, “O imaginário medieval”. Signum: Revista da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais), n°10, 2008, pp63-72.
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sentido ao mundo para as pessoas, e estes valores variam de acordo com a cultura, faixa
etária e grupo social aos quais essas pessoas pertencem. Essa variação é o que Jacques Le
Goff chama de variação dos sistemas simbólicos12, e também o que Aron Gurevitch define
como categorias mentais de pensamento13. É exatamente no estudo destas variações que
podemos observar como uma sociedade se relaciona com o mundo. E a maneira como as
pessoas representam, por exemplo, o tempo e o espaço, são fundamentais para
determinarmos a visão de mundo desta sociedade.
Neste trabalho, o que estudo é o mundo, a cultura e, de certa forma, o universo
fechado dos monges cistercienses, no qual almejo analisar traços de comportamento que
produzem imaginários, expressando uma visão de mundo monástica. Há uma fonte sobre a
qual não há estudos, e terei a oportunidade de analisar a visão de mundo que está expressa
neste documento, utilizando-me dos instrumentos que a história cultural dispõe. Buscarei
dentro das dimensões historiográficas a melhor forma de decifrar a realidade, extrair o
máximo das fontes e, como um bom historiador, revelar o que está por trás delas. Vejo,
desta forma, que a pesquisa em História necessita de comunicação, conexão entre suas
dimensões, seus domínios e na forma como a fonte é abordada.
Adentrando no caminho da história cultural portuguesa, e ainda delimitando-a na
baixa Idade Média lusa, a meu ver o tema e a metodologia relacionam-se com as pesquisas
realizadas pelo grande medievalista português José Mattoso14. É através do trabalho,
pensamento e profundas reflexões deste medievalista que conseguimos resgatar e analisar
o pensamento coletivo, as percepções coletivas, e os comportamentos das sociedades
abordadas em seus estudos. As representações culturais de uma sociedade religiosa estão
direta e intimamente relacionadas com as próprias instituições religiosas, e como estas se
relacionam com a própria sociedade, seja ela religiosa ou laica15. Portanto, as análises das
fontes nos revelam a representação de um “modelo de mundo” que o poder clerical almeja,
o que consequentemente também nos revela suas indagações e seu modo de pensar.
12 LE GOFF, Jacques. “O Imaginário Medieval”, 3ed. Lisboa: Estampa, 1994. 13 GUREVITCH, Aron. “As Categorias da Cultura Medieval”, Lisboa: Editorial Caminho, 1990. 14 Apesar da maioria de seus trabalhos ter se dedicado aos aspectos políticos, sociais e econômicos, a obra desse autor tem contribuído muito para a construção das representações da sociedade medieval portuguesa. Principalmente a partir da publicação de Fragmentos de uma composição medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1983. 15 MATTOSO, José. “Religião e cultura na Idade Média portuguesa”, 2ed. Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1997.
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Segundo Mattoso, é essencial entender como se articula o inter-relacionamento
cultural entre os grupos sociais que compõem a sociedade em estudo, pois assim veremos
expostas as principais representações mentais e o imaginário coletivo. No caso deste
projeto, mais do que nunca, os aspectos religiosos que permeiam a vida dos monges e, por
assim dizer, também da sociedade alcobacense16. Em uma obra que o autor trata
especificamente do assunto deste projeto, isto é, o pecado, José Mattoso concentra o estudo
nos chamados pecados nefandos, relacionando-os com o tratamento dado a eles pelo poder
eclesiástico, sugerindo que o mesmo, durante um determinado tempo, tentou ocultar os
pecados mais graves, como forma de evitar a propagação dessas práticas17. Com isso
define e diferencia a sua própria concepção de pecado e pecados nefandos, tão importantes
para a elaboração desta pesquisa.
A temática deste trabalho se aproxima da história cultural portuguesa, ou melhor, se
remete à história religiosa lusa. Portanto, meus estudos específicos sobre tal área histórica
se encontram nos grandes historiadores que se dedicaram e se dedicam ainda ao estudo da
literatura, religiosidade, pensamento e representações da sociedade portuguesa da baixa
Idade Média.
Não apenas em Portugal, mas também em todo o território peninsular, o tema sobre
pecados e principalmente sobre pecados capitais não foi um assunto muito abordado pelos
estudiosos e historiadores. Em Portugal, por exemplo, é de meu conhecimento que José
Mattoso18 é um dos poucos historiadores medievalistas interessados não somente na
cultura portuguesa medieval, mas também na questão dos pecados. Entre suas importantes
obras destaca-se a coleção História de Portugal, no qual concentrarei meus estudos no
segundo volume desta coleção, que se refere À monarquia feudal (1096-1480). Na área
cultural cito duas obras de extrema importância do mesmo autor, Religião e cultura na
idade média portuguesa e ainda O essencial sobre a cultura medieval portuguesa.
16 MATTOSO, José. “O essencial sobre a cultura medieval portuguesa (séculos XI ao XIV)”. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1986.p.19. 17 MATTOSO, José. “Pecados Secretos”. Signum: Revista da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais), n°2, 2000, pp11-42. 18 Entre as diversas obras de José Mattoso cito a coleção História de Portugal, concentrando-se no volume II: A monarquia feudal (1096-1480) Lisboa: Editorial Estampa, 1993. Não obstante a obra “Religião e cultura na Idade Média portuguesa”, 2ed. Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1997. Ainda “O essencial sobre a cultura medieval portuguesa (séculos XI ao XIV)”. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1986. Outras obras já citadas, na parte que se refere a teoria e metodologia empregada neste projeto.
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Também podemos destacar, em se tratando de literatura medieval portuguesa, os
estudos de Mário Martins19, os quais muito refletiram inclusive sobre alguns textos
alcobacenses, que se inserem como fontes primárias nesta pesquisa. As obras que mais
destaco deste autor referem-se aos intensos estudos do mesmo na literatura portuguesa,
como Estudos de cultura medieval, Estudos de literatura medieval, ou ainda a importante
pesquisa e interpretação de alguns textos alcobacenses presentes em Alegorias, símbolos e
exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Textos aos quais tem se dedicado
Aires Augusto Nascimento20, com Os códices alcobacenses da Biblioteca Nacional e seu
significado cultural.
Mesmo sabendo da particularidade dos estudos literários, que mais se referem às
representações, destaco os estudos da historiadora Patrícia Baubeta21, explorando os
pecados em diversas obras literárias portuguesas em seu principal trabalho Igreja, pecado e
sátira social na idade média portuguesa, que muito contribuiu para o estudo do cotidiano
da sociedade lusa.
Sobre os pecados capitais direcionarei meus estudos em diversas referências
bibliográficas, entre as quais destaco o pioneiro trabalho de Morton Bloomfield22, no qual
me concentrarei na abordagem do autor sobre a evolução e conceituação dos pecados
capitais. Muito me auxiliará também os estudos das historiadoras italianas Carla
Casagrande e Silvana Vecchio23, onde o enfoque teológico dados por elas, produzirá uma
luz sobre esta visão mais religiosa em relação aos pecados capitais.
19 Ver a vasta obra de Mário Martins: Estudos de cultura medieval. Lisboa: Editorial Verbo, 1969; Estudos de literatura medieval: Braga: Livraria Cruz, 1956 ; Alegorias, símbolos e exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Lisboa: Edições Brotéria, 1975. 20 De Aires Augusto Nascimento, ver: Os códices alcobacenses da Biblioteca Nacional e o seu significado cultural. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1979. 21 BAUBETA, Patricia Anne Odber de. Igreja, pecado e sátira social na Idade Média Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1995. 22 Morton BLOOMFIELD. The seven deadly sins. A introduction to the history of a religious concept, with special reference to medieval English literature. Michigan: East Lansin, 1952. 23 CASAGRANDE, Carla & VECCHIO, Silvana. Histoire des péchés capitaux au Moyen Age. Paris: Aubier, 2003. Carla CASAGRANDE & Silvana VECCHIO. “Pecado”. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT. Dicionário temático do Ocidente Medieval, vol. 2, pp. 344-347. Carla CASAGRANDE & Silvana VECCHIO. Les pechés de La langue: discipline et éthique de la parole dans la culture médiévale. Paris: Du Cerf, 1991. Sigfried WENZEL. The seven deadly sins: some problems of research. Speculum, 43, 1968, pp.1-22.
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Importante para esta pesquisa também será o estudo sobre a história dos
cistercienses de uma forma geral e principalmente em solo português. No estudo genérico
sobre esta ordem dedicarei atenção especial à obra Cister: os documentos primitivos24, que
aborda uma diversidade de documentos da ordem, incluindo a importante Carta de
Caridade.
Sobre a história dos cistercienses em Portugal, abordarei principalmente a obra de
Maria Alegria Marques, Estudos Sobre a Ordem de Cister em Portugal25, na qual a autora
discute desde a formação e datação dos primeiros monges brancos em solo luso. Além
disto, nos mostra em detalhes os aspectos políticos, religiosos e econômicos dos mosteiros
cistercienses, mostrando a importância da historicidade própria da ordem em Portugal.
Nas fontes primárias que utilizarei nesta pesquisa, muitas vezes nota-se a influência
castelhana, por exemplo, num dos códices chamado Virgeu de Consolaçon26. Para Mário
Martins trata-se de uma cópia de um manual castelhano. Pretendo, portanto, também me
dedicar à leitura de obras de historiadores que se dedicaram e se dedicam ainda à história
cultural e religiosa da baixa Idade Média espanhola. Entre as poucas obras produzidas,
dedicarei meu tempo de leitura ao estudo da obra Los pecados capitales em La literatura
medieval española27, de Eliezer Oyola, e dos estudos de Adeline Rucquoi apesar de sua
obra História Medieval da Península Ibérica28 enfatizar mais os aspectos políticos da
formação dos estados peninsulares. Seu outro trabalho, Mancilla y limpieza: la obsesión
por el pecado em Castilla a fines de siglo XV29, nos mostra uma representação, uma forma
de utilização do conceito de pecado para justificar os atos caracterizados pela presença do
mal e, não obstante, a diferenciação entre o bem e o mal. Também não deixarei ausente de
24 Cister: os documentos primitivos / trad., introd. e coment. Aires Augusto Nascimento. Lisboa: Edições Colibri, 1999. 25 MARQUES, Maria Alegria Fernandes. Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal. Lisboa: Edições Colibri, 1998. 26 Virgeu de Consolaçon. Editado por Albino Bem Veiga. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1959. 27 Eliezer OYOLA. Los pecados capitales em la literatura medieval española. Barcelona: Puvill Editor,
1979. 28 RUCQUOI, Adeline. História medieval da Península Ibérica. Lisboa: Editorial Estampa, 1995. 29 Adeline RUCQUOI. “Mancilla y limpieza: la obsesión por el pecado en Castilla a fines del siglo XV”. In: Os “últimos fins” na cultura ibérica dos séculos XV a XVIII (Porto, 1997, pp. 113-135).
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minha pesquisa os estudos de António Garcia30 e Manuel Diaz y Diaz31, que muito se
dedicaram ao estudo do pensamento cristão em textos produzidos na península ibérica.
Outro trabalho que merecerá minha atenção para aproximar-me da visão cristã castelhana
em relação à religiosidade, que logicamente me levará à concepção do bem e do mal, é o
de José Maria Soto Rábanos32, que muito se dedicou ao estudo de textos confessionais
produzidos em Castela.
As fontes
As fontes primárias que utilizarei neste trabalho encontram-se todas editadas, e se
dividem em três grupos, de acordo com a problematização proposta. Analisarei as regras
fundacionais da ordem cisterciense, ou ainda, as regras a serem seguidas nos mosteiros de
tal ordem: a Regra de São Bento e a Carta de Caridade.
A escolha das fontes, o contexto e época histórica em que foram produzidas
inserem-se na problematização deste projeto. A Regra de São Bento foi produzida no
século VI na Abadia de Monte Cassino na Itália, onde e no momento em que nasce a
Ordem Beneditina33. Embora ter sido no reinado de Carlos Magno, e com a retomada da
regra com Bento de Aniane, considerado o segundo fundador da ordem, que acontecerá a
difusão da mesma no ocidente europeu.
A análise da regra fundacional cisterciense, isto é, a Carta de Caridade será outro
documento importantíssimo para esta pesquisa, pois é o documento oficial da fundação da
30Antonio GARCIA Y GARCIA. Iglesia, sociedad y derecho (Biblioteca Salmanticencis, estudios 74). Salamanca: Universidad Pontificia de Salamanca, 1985; “Derecho canonico y vida cotidiana”. Revista Portuguesa de História (Coimbra), vol. 24, 1988, pp. 189-226. 31 Manuel DIAS Y DIAS. “Para um estúdio de los penitenciales hispanos”. In: Études de civilisation médiévale (IX-XII siècles) – Mélanges offerts à Edmond-René Labande. Poitiers: CESCM, s.d., pp. 217-222. 32 José Maria SOTO RÁBANOS. “Derecho canonico y praxis pastoral em la Espana bajo medieval”. Monumenta Iuris Canonici, Series C, subsidia 7 (Bibliotheca Apostolica Vaticana, Citta del Vaticano), 1985, pp. 595-617; “Disposiciones sobre la cultura Del clero parroquial em la literatura destinada a la cura de almas (siglos XIII-XV). Anuario de Estudios Medievales, vol. 23, 1993, pp. 257-356; “Pedagogia medieval hispana: la transmission de los saberes em el bajo clero”. Revista Española de Filosofia Medieval, vol. 2, 1995, pp. 43-57. 33 Benedicti Regula monachorum. Edição e tradução: ENOUT, J.E. A Regra de São Bento.
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ordem. Redigida em um mosteiro francês no século XII, traduzida, e comentada por Aires
Augusto Nascimento34.
Das obras produzidas na Abadia de Alcobaça utilizarei dois tipos de gêneros
textuais, um disciplinar e dois literários. O texto disciplinar e/ou doutrinário chama-se
Virgeu de Consolaçon, e os textos literários são o Boosco Deleitoso e o Orto do Esposo.
O Virgeu de Consolaçon, de autor anônimo, editado por Albino de Bem Veiga35 é
uma obra de gênero doutrinário, e seu conteúdo é alicerçado nas conclusões de autoridades
religiosas e nos textos bíblicos. Esta obra faz parte do códice descrito por A. F. de Ataíde e
Melo, no Inventário dos Códices Alcobacenses36. Mário Martins37 compara o Virgeu com
um incunábulo castelhano chamado Vergel de Consolación do frade dominicano Jacobo de
Benavente, impresso na cidade de Sevilha em 1497. Sugere em sua análise que são duas
obras com a mesma linguagem, mesmo título e mesma época. Diz ainda que existem
algumas diferenças estruturais, mas que nada interfere na conclusão de que são as duas
uma obra única.
O Boosco Deleitoso38, também de autor anônimo, é de gênero literário, e de acordo
com Lênia Márcia Mongelli39, esta obra deve ser inserida no gênero de prosa, ou ainda na
literatura de devoção, de doutrinação e de exemplos morais. Segundo José Leite de
Vasconcelos, o Boosco foi impresso no século XVI e possivelmente escrito no século XV.
De clara influência da obra de Francesco Petrarca (1304-1374), o prólogo nos
revela o propósito da obra, que é exatamente guiar o pecador no caminho da salvação. O
texto conta a trajetória de um pecador, que durante suas andanças encontra diversas
virtudes, que são o “remédio” para a alma, o oposto do pecado. Melhor dizendo, são as
qualidades do bom cristão para manter-se afastado dos atos pecaminosos.
34 Cister: os documentos primitivos. Tradução, introduções e comentários de Aires A. Nascimento. Lisboa: Edições Colibri, 1999. 35 Virgeu de Consolaçon. Ed. Albino de Bem VEIGA. Salvador: Publicações da Universidade da Bahia, 1959. 36 Inventário dos códices alcobacenses/[ed.lit] Biblioteca Nacional de Lisboa / [apresentação de A. Botelho da Costa Veiga; introdução de A. F. de Ataíde e Melo]. Lisboa: Biblioteca Nacional de Lisboa, 1930-1932. 37 MARTINS, Mário. O Vergel da Consolação. In: Estudos de literatura medieval. Braga: Livraria Cruz, 1956, pp. 60-73. 38 Boosco deleitoso. Ed. Augusto MAGNE. Brasília: INL/MEC, 1950, 2 vols. 39 MONGELLI, Lênia Márcia. A Literatura Doutrinária na Corte de Avis. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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Escrito em vernáculo português o Castelo Perigoso40 produzido e/ou copiado em
Alcobaça, possivelmente na primeira metade do século XV, convida o leitor a edificar a
sua fortaleza através da ascese purificadora e a obtenção da paz espiritual junto às virtudes
opostas aos pecados.
Outra fonte importante é o texto chamado Orto do Esposo41 produzido entre fins do
século XIV e a primeira metade do século XV. De autoria anônima, é considerado por
Mário Martins42 um texto ascético que em alguns momentos se revela rude e em outros
simplista, fazendo alusão ao esforço que o leitor de nossa época deve ter ao analisá-lo por
uma questão de adaptação.
O Orto é um texto que mostra uma série de narrativas históricas e alegóricas, mas
que talvez não despertou maior atenção dos estudiosos devido ao anonimato do autor e sua
distância do tipo de literatura apreciada pelos príncipes da dinastia de Avis. Muitas vezes
também, o caráter literário do Orto é colocado em dúvida. Isto se deve à forma como o
texto foi produzido, compilando trechos de diversas fontes. Daí o porquê de Álvaro Júlio
da Costa Pimpão incluir o Orto como um texto voltado para a história da língua e da
cultura, e não especificamente da literatura.
De diferente opinião, Elisa Rosa Pisco, em um trabalho de síntese das provas de
aptidão pedagógica e capacidade científica de 1987, intitulado Da imagem do rei no Orto
do Esposo: contribuição para o estudo do personagem do rei na literatura da Idade Média
revela e caracteriza o Orto como uma belíssima obra, considerando então uma injustiça
encontrá-la ainda em tamanha obscuridade, não passando de breves citações. Outros
estudiosos como o erudito Mário Martins, Luciano Rossi43 e Hélder Godinho44 também
reconhecem o valor literário da obra, destacando-a como detentora de um “sabor poético” e
ainda como uma das mais belas obras de prosa da literatura medieval portuguesa.
40 Castelo Perigoso. Ed. Elsa Maria Branco da SILVA. Edições Colibri: Lisboa, 2001. 41 Orto do esposo. Ed. Bertil MALER. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1954-1964, 3 vols. 42 MARTINS, Mário. À volta do Horto do Esposo. In: Estudos de literatura medieval. Braga: Livraria Cruz, 1956, pp. 423-434.
MARTINS, Mário. As alegorias e exemplos do Horto do Esposo. In: Alegorias, símbolos e exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Lisboa: Edições Brotéria, 1975, pp. 213-229. 43 ROSSI, Luciano. A literatura novelística da Idade Média, Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, 1979. 44 GODINHO, Hélder. Prosa Medieval Portuguesa. Lisboa: Comunicação, 1986.
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Há claros indícios que o Orto alcançou prestígio em sua época. Ao apresentar um
levantamento dos acervos das bibliotecas dos mosteiros cistercienses portugueses, José
Mattoso45 diz que ela está presente na biblioteca do Mosteiro de Bouro, por exemplo.
Afirma ainda ser a única obra espiritual presente naquela biblioteca desde o século XII. De
acordo com o prólogo da obra, o Orto se enquadra na função de instruir e edificar na
doutrina cristã os simples fiéis através de narrativas, às vezes retiradas da bíblia, da
literatura hagiográfica e, não obstante, de fábulas e bestiários, prática comum na literatura
moral e religiosa.
O Virgeu de Consolaçon
Encontro-me nesta fase da pesquisa no fichamento de fontes, e alguns dos
primeiros resultados apresento através da leitura do Virgeu de Consolaçon, texto inédito
em Portugal, editado no Brasil na década de 1950 pelo professor Albino De Bem Veiga.
O título desta belíssima obra explica-se assim: “E portanto, esta obra he chamada
Virgeu de plazer e consolaçon por que bem assi como no virgeu son achadas flores e
fructos de desvayradas maneyras assy em esta obra son achados muitas e desvayradas
auctoridades, que dam plazer maravilhosamente ao coraçon daquel que as com vóóntade
leer ou ouvir” (fl. 8)46.
O Virgeu de Consolaçon trata sobre os pecados e as virtudes, é composto de cinco
partes. As duas primeiras partes falam sobre os pecados e os vícios e as três últimas
baseiam-se nas virtudes, totalizando setenta e oito capítulos.
Quase totalidade da obra é composta por citações de uma diversidade de moralistas
que o autor coloca com o objetivo de sustentar os seus argumentos. Com a leitura o leitor
conheceria os males, os vícios e as virtudes da vida, e conseqüentemente o caminho para a
salvação.
45 MATTOSO, José. Religião e cultura na Idade Média portuguesa, 2ª Ed, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1997. 46 Citado em: MARTINS, MÁRIO. Estudos de Literatura Medieval. Braga, 1956. pág.62.
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Os Sete Pecados Capitais
Na primeiro capítulo da segunda parte, o autor define o que é pecado. A concepção
de pecado para o autor apresenta-se da forma como Santo Agostinho o define, o autor usa
uma citação do próprio para sustentar seu argumento:
“Segundo diz sancto Agostinho, peccado he desamparar home o bem de Deos que
nunca se perde, e fazer muito pelos bees do mundo que continuadamente falece. E diz esse
meesmo: Peccado he dizer ou fazer ou cuidar ou cubijçar contra a ley de Deos”.
Na primeira parte do códice o autor faz uma recapitulação rigorosa dos diversos
pecados, já nos mostrando a forte influência da doutrina dos sete pecados capitais, que
muito lembra a forma como Tomás de Aquino classificou-os47.
Logo na primeira parte do Virgeu anuncia-se o que é considerado o mais
importante entre os pecados, nitidamente está expressa a doutrina do setenário pelo autor
na introdução como: “Aqui se começa a primeyra parte desse livro, que fala dos peccados
principaes, e ha sete capítulos”.
Considera-se a soberba como o início de todo o pecado, classificando-a como um
mal gravíssimo. Se torna explícito isto quando o autor diz que Lúcifer foi expulso do céu
por ser soberboso.
“Primeyramente começa o tractado da soberva, por que todo pecado trage começo
dela, a scriptura afirmante e dizente no livro Ecclsiastico. Soberva he começo de todo
peccado, pore, assi como en cabeça dos outros peccados he de começar, ca da raiz dessa
meesma saae sete peccados: Vãa gloria, enveja, jra, tristeza, avareza, gula, luxuria. E
cada huu destes peccados ha contra nós seu ofício”.
A inveja:
“A enveja quer sempre bem apartado aver e sem outro conpanheyro e
enteyramente”.
A sanha ou ira:
“Jra quer todalas cousas apropriar e nõ aver outro companheyro e sem nehuu
contrayro. Da ira nascem pelejas, enchimentos de voontade, braados e arroydos,
47 TOMÁS DE AQUINO. Sobre o ensino. Os sete pecados capitais. Trad. Luiz Jean LAUAND. 2ed São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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blasfêmia, nõ querer nehua cousa sofrer, maldade, homizio, mal querença. Onde o ódio
pode seer dicto sanha antiga”.
A preguiça ou acidia
Da pigriça e negligecia de be fazer que he accidia.
“Accidia quer manteer e aver todalas cousas sem nehuu trabalho. Da accidia
nascem muitos maaes, primeyramente nasce dela malicia, rancor, desmembramento,
desasperança, pigriça nos mandamentos de Deos, vagar na voontade contra as cousas de
razom.
A avareza
“Avareza sempre deseja e cobijça o que nõ he de cobijçar. E nascem dela muitos
maaes, scilicet, symonya, usura, ladroice, trayçom, engano e obras e em palavras, erro
nas obras, perjuro nos jrmãaos, vida sem folgança, e crueldade contra a misericórdia,
ceguidade de coraçõ”.
A gula
“Gargantuice cobijça cousas deleitosas e muy doces comeres saborosos, por
proveito de sy meesma. E dela nace alegria vã e deshonesta, bevedice sem razon, palavras
deshonestas e caçurritas. E outrossy nasce dela seere os homees lixosos e palrreyros e
faze-os rudes e botos do entendimento. E porem os meestres departe assi da gargantuice:
gargantuice he cuidado sôo do corpo maao e enpeencivil e ha razõ pera comer comer
muito. Gargantuice he cobijça e vootade desmesurada de comer”.
A luxúria
“A luxuria demanda que os homees compram desejo desaguisado. E dela nascem
ceguidade e teebas do entendimento, nõ pensar nehuu bem, fraqueza e torvamento e amor
de si mesmo, mal querença, avorrecimento de Deos, talente e cobijça deste mundo,
desperaçõ do coraçon”.
É notório a presença da doutrina do setenário já a partir do simples fichamento das
fontes, às vezes coesa e outras diluída, nota-se o importante significado para a ordem
cisterciense. A representação e diferenciação da doutrina nos textos doutrinários,
disciplinares e fundacionais nortearão os próximos passos do nosso trabalho.
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