a doutrina dos sete pecados capitais e a ordem … · este trabalho não tem como objetivo entrar...

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1 doi: 10.4025/10jeam.ppeuem.03030 A DOUTRINA DOS SETE PECADOS CAPITAIS E A ORDEM DOS CISTERCIENSES: SEU SIGNIFICADO A PARTIR DE TEXTOS ALCOBACENSES. LIMA, Darlan Pinheiro de (UFRGS/CAPES) Introdução A crise que se estabeleceu no império romano ocidental e a consequente infiltração dos povos germanos pagãos em seu território, de certa forma contribuíram para que uma nova visão sobre o sobrenatural e a religiosidade pudesse construir seus alicerces num mundo em constantes transformações. O período medieval se caracteriza e se forma pela fusão de três elementos fundamentais: a herança germânica, a herança romana e o cristianismo. No ponto de vista da civilização medieval, podemos dizer que o cristianismo teve um papel fundamental desde os primeiros contatos entre as civilizações romana e germânica. Ele foi o elo aglutinador destas culturas, que aos poucos formará o mundo medieval que conhecemos hoje 1 . Sendo o cristianismo tão importante para a sociedade medieval, cabe a nós entendermos quais valores esta doutrina defendeu em seus primeiros tempos alcançando aos poucos o sucesso e a supremacia da futura Igreja Cristã. A base do cristianismo está nos ensinamentos de Jesus, e sabemos através disto que o caminho para a salvação se baseia sobre as ações do ser humano, fazendo dele um bom ou mau cristão. Com isto as discussões sobre o bem e o mal se tornam bastante frequentes, e acaba-se por construir paulatinamente os preceitos divinos, o modelo de ser humano, enfim, o bom cristão. Este trabalho não tem como objetivo entrar nas discussões e desdobrar assunto de ampla plenitude, e que se desloca para profundas discussões teológicas e filosóficas. Basta 1 JUNIOR, Hilário Franco. A Idade média: nascimento do Ocidente. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 2001.

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Page 1: A DOUTRINA DOS SETE PECADOS CAPITAIS E A ORDEM … · Este trabalho não tem como objetivo entrar nas discussões e ... Os primeiros ascetas são anacoretas que buscam fugir dos prazeres

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doi: 10.4025/10jeam.ppeuem.03030

A DOUTRINA DOS SETE PECADOS CAPITAIS E A ORDEM DOS

CISTERCIENSES: SEU SIGNIFICADO A PARTIR DE TEXTOS

ALCOBACENSES.

LIMA, Darlan Pinheiro de (UFRGS/CAPES)

Introdução

A crise que se estabeleceu no império romano ocidental e a consequente infiltração

dos povos germanos pagãos em seu território, de certa forma contribuíram para que uma

nova visão sobre o sobrenatural e a religiosidade pudesse construir seus alicerces num

mundo em constantes transformações.

O período medieval se caracteriza e se forma pela fusão de três elementos

fundamentais: a herança germânica, a herança romana e o cristianismo. No ponto de vista

da civilização medieval, podemos dizer que o cristianismo teve um papel fundamental

desde os primeiros contatos entre as civilizações romana e germânica. Ele foi o elo

aglutinador destas culturas, que aos poucos formará o mundo medieval que conhecemos

hoje1.

Sendo o cristianismo tão importante para a sociedade medieval, cabe a nós

entendermos quais valores esta doutrina defendeu em seus primeiros tempos alcançando

aos poucos o sucesso e a supremacia da futura Igreja Cristã. A base do cristianismo está

nos ensinamentos de Jesus, e sabemos através disto que o caminho para a salvação se

baseia sobre as ações do ser humano, fazendo dele um bom ou mau cristão. Com isto as

discussões sobre o bem e o mal se tornam bastante frequentes, e acaba-se por construir

paulatinamente os preceitos divinos, o modelo de ser humano, enfim, o bom cristão.

Este trabalho não tem como objetivo entrar nas discussões e desdobrar assunto de

ampla plenitude, e que se desloca para profundas discussões teológicas e filosóficas. Basta

1 JUNIOR, Hilário Franco. A Idade média: nascimento do Ocidente. 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 2001.

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sabermos que a construção do bom cristão está diretamente relacionada com o que o ser

humano não pode fazer para tornar-se um. E, neste caso, se forma a ideia da falta, dos atos

contra os ideais divinos, as ações que ferem a nova doutrina em ascensão, enfim,

caminhamos para a formação do que denominaremos pecado.

O conceito de pecado sempre esteve arraigado nas principais discussões religiosas

durante o período medieval, estando presente em todos os aspectos da vida do homem da

Idade Média. Desde o início da era cristã, quando os alicerces do cristianismo estão sendo

lapidados, as teorias para definição do pecado percorrem e se defrontam nas estruturas

cristãs e fora delas. Desta forma, criam-se diversas visões e conceitos em relação ao

pecado, e com isso surge a necessidade de defini-los, classificá-los e conceituá-los2.

As discussões entre o bem e o mal já eram presentes nos correntes debates dos

mestres escolásticos, que buscaram também na filosofia antiga definições que pudessem

contribuir para uma melhor e mais aceita definição de ato pecaminoso. A noção que todo

ser humano já nasce dominado pelo pecado original foi o ponto de partida para a definição

do próprio conceito de pecado na Idade Média3.

Diante da ideia de que o pecado infiltrou-se na terra através do pecado original, o

clero católico procurou limitar a ação dos pecados através da instituição de várias práticas

rituais, tanto individuais quanto coletivas. Entre elas estão o batismo, a confissão, o jejum,

a oração, a punição corporal e a peregrinação. E estando o pecado presente em todos os

espaços terrestres, foi preciso fugir dele e criar um lugar protegido contra a mal, o

mosteiro. Os primeiros ascetas são anacoretas que buscam fugir dos prazeres mundanos,

esperançosos em obter a paz espiritual nos desertos do Oriente. Um dos pioneiros desta

prática foi Santo Antonio (251-356), que por quase toda sua vida isolou-se no deserto do

Egito4.

E para este trabalho é de suma importância o trabalho do monge grego Evágrio

Pôntico (345-399), que teve grande influência anacoreta. Em busca da comunicação com

2 Para ter uma noção geral, o conceito, e a evolução do conceito de pecado no período medieval ver Carla CASAGRANDE & Silvana VECCHIO. “Pecado”. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2002, vol. 2, pp. 337-351. 3 Outra consulta importante é a obra de Jean DELUMEAU. O pecado e o medo: a culpabilização no Ocidente. São Paulo: EDUSC, 2003, 2 vols. 4 Para ver sobre a história do monasticismo ler Lester K. LITTLE. “Monges e Religiosos”. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Bauru, SP: EDUSC, 2002, vol. 2, pp.225-241.

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Deus, através de manifestações e renúncias dos prazeres mundanos é que surgem as

tentações, que de certa forma são naturalmente as condições para o nascimento do pecado.

Evágrio Pôntico listou os oito maiores males ou necessidades que os monges sofriam no

deserto, e desta forma nasce o que futuramente será a mais importante doutrina sobre

pecados do período medieval, os sete pecados capitais.

Os primeiros cristãos foram essenciais para a difusão da nova doutrina, tanto dos

povos que adentram no império romano quanto os que ainda se dedicam às doutrinas pagãs

fora dele. Teve como papel fundamental na consolidação e sucesso do cristianismo a

competente ação dos monges. Sendo a doutrina dos sete pecados capitais, ou setenário,

nascida em ambiente monástico, e tendo os monges o importantíssimo papel de dispersar o

cristianismo na Europa, é de se entender que a doutrina a partir das primeiras décadas do

período medieval foi bastante usada como meio de entender o que é o pecado, quais os

pecados mais graves, e outras particularidades que formam a essência do cristianismo.

João Cassiano (370-435) fez diversas viagens pelo oriente, tendo contato com os

pioneiros da prática monacal, e com isso divulgou-a pelo próprio oriente e principalmente

ocidente, contribuiu para que aos poucos o trabalho dos primeiros monges fosse conhecido,

respeitado e copiado, para ser usado como mais uma ferramenta na dispersão da religião

cristã. Não por acaso, João Cassiano poderia ser reconhecido hoje como o pioneiro na área

do jornalismo, pelas importantes informações que divulgou em sua época na Europa.

A doutrina dos sete pecados capitais5 foi com certeza a mais importante forma de

classificação criada durante o período medieval. Isto é notório com a readaptação da

doutrina pelo Papa Gregório Magno (590-604) logo no início do período medieval, e

também, com a agregação da doutrina à da Igreja Católica, onde será utilizada

principalmente nos rituais de confissão e nos sermões. E tendo considerado em seu

pontificado a cristianização de todos os povos germânicos como a principal questão

política, podemos reconhecer a importância de seu trabalho para não apenas divulgar o

cristianismo, mas também a doutrina do setenário adaptada por ele. Também podemos citar

a missão formada por monges que o mesmo papa enviou para a região da atual Inglaterra,

5 Para ver os primeiros estudos sobre a evolução da doutrina dos sete pecados capitais: Morton BLOOMFIELD. The seven deadly sins. A introduction to the history of a religious concept, with special reference to medieval English literature. Michigan: East Lansin, 1952. E ainda o estudo das historiadoras Carla CASAGRANDE, e Silvana VECCHIO. Histoire des péchés capitaux au Moyen Age. Paris: Aubier, 2003.

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que obteve um excelente resultado na cristianização dos povos anglo-saxões. Tanto foi a

competência nesta missão, que fez com que os próprios monges ingleses saíssem para fazer

o mesmo em regiões ainda não cristianizadas. Dentro de todas essas particularidades,

destaca-se o simples fato de que até Gregório Magno, a doutrina dos sete pecados capitais

era mantida apenas no ambiente monástico. A partir dele, além de continuar se mantendo

neste ambiente, a doutrina irá ganhar uma difusão mais ampla, dentro e fora dos mosteiros,

já estabelecida como uma doutrina da Igreja Católica.

Gregório Magno construiu a ideia que a alma humana é testada, assediada por um

exército de vícios, liderados pela soberba, e que portanto exerce a função de comandante

deste exército, alicerçado ainda pela vaidade, inveja, ira, avareza, acídia, luxúria e gula.

Cada um destes pecados considerados capitais é responsável pela geração de outros

secundários, menos importantes.

Outra tradição bastante difundida é a da psicomáquia6, conhecida como o combate

espiritual entre os vícios e as virtudes, introduzida principalmente por Prudêncio, no século

IV. Estes confrontos espirituais vieram a inspirar obras em diversos campos, tanto na

literatura quanto na iconografia, que serão muito importantes para esta pesquisa.

É de vital importância analisar o intenso trabalho de Tomás de Aquino7, que no

século XIII contribuiu para um melhor entendimento na relação entre o conceito de

pecado, os atos negativos e a noção de considerar-se culpado por seus atos. Sua visão sobre

as diferenças entre os vícios capitais considerados mais graves e outros vícios decorrentes

desses também contribuirá para este estudo. Principalmente, porque o estudo tomista em

relação aos pecados capitais surgiu no momento em que esta doutrina sofria certo declínio,

pois desde seu surgimento já sofria a concorrência de outros sistemas, como o ternário,

proposto por Santo Agostinho no século V, e o sistema do decálogo, que se refere aos atos

contrários aos Dez Mandamentos.

Através da filmografia, literatura, televisão e outros meios de comunicação, a

doutrina dos sete pecados capitais se tornou bastante conhecida do público em geral. Um

assunto muito divulgado, e através dele, foram produzidos vários trabalhos de cunho

6 Ver MARTINS, Mario. “Psicomaquia ou combate espiritual”. In: Alegorias, símbolos e exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Lisboa: Edições Brotéria, 1975, PP.173-206. 7 TOMÁS DE AQUINO. Sobre o ensino. Os sete pecados capitais. Trad. Luiz Jean LAUAND. 2ed São Paulo: Martins Fontes, 2004,

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ficcional. Mas, infelizmente são muito poucas as pesquisas históricas que abordaram tal

assunto. Um assunto às vezes polêmico que desperta a atenção e curiosidade do público de

todas as idades, ainda não teve sua merecida atenção de uma pesquisa sobre suas origens,

conceitos e representações formadoras de um sistema utilizado como doutrina em grande

parte do período medieval.

A amplitude do tema me remete a buscar limites de espaço e tempo, pois seria

demasiadamente grande a tarefa de estudar a doutrina do setenário durante o período

medieval, sua evolução, os debates em relação à mesma e as reflexões desenvolvidas por

diversos pensadores a respeito do tema. Por isso, evitando o risco de generalização,

delimitei a pesquisa na baixa Idade Média portuguesa, entre fins do século XIV e início do

século XVI. Sendo a doutrina criada em ambiente monástico, direcionarei meu olhar para

as fontes de uma das ordens monásticas mais importantes do período medieval, a ordem

dos cistercienses8. E sendo um assunto que apresenta ainda um amplo campo de estudo,

delimitarei minha temática no estudo dos textos produzidos na mais importante abadia

beneditina em solo português, a abadia de Santa Maria de Alcobaça.

Construída entre os séculos XII e XIII, a abadia de Alcobaça9 foi um dos centros

monásticos cistercienses que mais contribuíram para a cultura religiosa portuguesa na

baixa Idade Média. Principalmente devido ao grande número de textos produzidos e

copiados por seus monges, somando-se atualmente em mais de quatrocentos e cinqüenta,

os quais, abordarei mais adiante nas fontes primárias que pretendo utilizar.

É lógico que este trabalho tem como tema central o significado dos pecados, e

particularmente da doutrina dos sete pecados capitais, mas tomei o cuidado para enfatizar a

delimitação temporal, espacial e temática nos textos produzidos após o IV Concílio de

Latrão (1215), pois a partir dele estabeleceu-se a obrigatoriedade da confissão anual. Com

isso houve uma maior motivação para a produção de manuais, tanto para formação de

confessores e penitentes quanto à preparação também dos fiéis para o ritual da confissão.

O presente trabalho, portanto, tem como objetivo explorar um tema ainda pouco

abordado pela historiografia, cuja temática nos orienta para a concepção de pecado e,

8 MATOS, Leonor Correia de. A ordem de Cister em Portugal: mito e razão. Lisboa: Fundação Lusíada, 1999. MARQUES, Maria Alegria Fernandes. Estudos sobre a ordem de Cister em Portugal. Lisboa: Edições Colibri, 1998. 9 Para conhecer a história da abadia de Alcobaça, ler GUSMÃO, Antonio Nobre de. A Real Abadia de Alcobaça. 2ª edição. Lisboa: Livros Horizonte, 1992.

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principalmente, a doutrina dos sete pecados capitais. E tem como espaço exatamente em

uma instituição onde nasceu esta doutrina, o meio monástico. E também direcionando o

estudo para a ordem cisterciense, em que os motivos para sua fundação baseiam-se na fuga

dos pecados cometidos pelos monges no próprio ambiente.

Problema de pesquisa

Sendo a doutrina dos sete pecados capitais criada em ambiente monástico,

apresento como problemática deste trabalho saber o quanto esta doutrina aparece ou ainda

estava presente nos textos de uma das ordens monásticas mais importantes do período

medieval, a ordem dos cistercienses. As fontes primárias a serem analisadas neste projeto

foram produzidas em espaço de tempo diferentes, para também comparar o quanto a

doutrina permaneceu ou não como fonte de inspiração para a ordem.

A regra fundacional da ordem cisterciense será analisada. A Carta de Caridade,

regra seguida pelos cistercienses, produzida na França em meados do século XII. E os

textos alcobacenses, sendo um disciplinar/doutrinário, o Virgeu de Consolaçon, e três

literários, o Orto do Esposo, o Boosco Deleitoso e o Castelo Perigoso, ambos produzidos

e/ou copiados na importante Abadia de Alcobaça entre os séculos XIV e XVI.

O eixo principal da problematização desta pesquisa é avaliar o quanto as

concepções originais cistercienses estão presentes nos textos alcobacenses, no que se refere

ao pecado e principalmente ao pecado capital. O que mudou, o que evoluiu e o que

permaneceu para a ordem cisterciense até fins do período medieval lusitano? O que é

propriamente de Portugal? Qual o papel dos pecados, e dos pecados capitais na ordem

cisterciense? De que forma a doutrina é utilizada ainda na formação dos monges

cistercienses em fins do período medieval português? Como o pecado capital aparece na

expressão literária, nos textos disciplinares e na regra fundacional cisterciense? O que os

textos literários nos trazem da regra, e de que forma a doutrina dos sete pecados capitais se

insere neles? O conceito de pecado capital nas regras fundacionais se apresenta na mesma

representação na expressão literária?

Desta forma, trarei informações que nos possibilitará compreendermos a

importância da doutrina para a ordem em fins do século XV e início do século XVI.

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Objetivos

A Ordem Cisterciense foi fundada em um momento no qual acontecia uma reforma

no meio monástico, a qual se relacionava com a busca de se respeitar os ensinamentos de

Bento de Núrsia. A importância de se estudar tal ordem também se depara com a

constatação de que os cistercienses, no contexto histórico monástico, já representavam um

movimento de reforma dentro de outra reforma. Esta primeira representada pela fundação

de Cluny, que aos poucos deixou de corresponder plenamente aos anseios dos monges

mais devotos. Assim surge a reforma cisterciense, de grande sucesso, visto as dezenas de

mosteiros fundados pela ordem a partir do século XII.

Tenho como um dos objetivos, através desta pesquisa, contribuir para produzir um

estudo desta ordem, seus anseios, suas indagações, e principalmente razões que

provocaram sua fundação, e de que forma a doutrina do setenário aparece como

justificativa de seus conceitos.

Analisarei os documentos fundacionais, fazendo uma comparação entre a regra

beneditina, seguida pela grande maioria dos mosteiros europeus, e a carta de caridade,

regra seguida apenas pelos cistercienses, sendo o documento de fundação da ordem. Desta

forma terei condições de analisar o quanto a doutrina do setenário contribuiu como

conceito argumentativo não somente na fundação da ordem de cister, mas também na

ordem beneditina, obtendo a representação de como a doutrina aparece na Ordem de São

Bento e como ela aparece também na Carta de Caridade. Com isso, procurarei abordar o

que uma difere da outra, sempre buscando as justificativas ou diferenças baseadas no

conceito de pecado e/ou pecado capital.

Tendo obtido essas informações, passarei para a análise dos textos produzidos em

Alcobaça, um códice doutrinário e três textos literários. O objetivo é saber como a doutrina

dos sete pecados capitais aparece em diferentes documentos cistercienses: na regra

fundacional, em um texto de caráter doutrinário e em três textos literários.

Referencial teórico e metodológico

Analisando as particularidades deste projeto, anseio que ele se integre na linha da

história cultural medieval portuguesa, relacionado simultaneamente à literatura

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confessional, aproximando-se, não obstante, da teologia. Apesar de o tema central cotejar

os conceitos de pecado, pecado capital e relacioná-los com uma ordem monástica, creio

que a análise documental a ser desenvolvida diga respeito à construção das representações

coletivas dos monges pertencentes a tal ordem. Desta forma, esta pesquisa se diferencia da

maioria das pesquisas correntes de historiadores ibéricos, nas quais o foco se estabelece no

campo da história política e social.

Não que a história política e social represente para mim um obstáculo, muito pelo

contrário: vejo nos estudos da história social um grande passo para o estudo da cultura de

uma sociedade. É através da delimitação e estabelecimento dos grupos sociais inseridos na

sociedade que partimos para a escolha das fontes produzidas por ela, para que através de

um levantamento e uma utilização rigorosa destas fontes possamos obter uma

reconstituição das representações mentais de um recorte histórico determinado. A partir

daí, fazendo uma relação destas representações com o nosso comportamento atual,

revelando valores ainda presentes no nosso modo de pensar10.

As representações são muito importantes para esta pesquisa, sendo elas alicerçadas

e construídas a partir do real são, portanto, um reflexo da realidade vivida, e

principalmente permitem revelar as expressões que os homens criaram para explicar o

mundo ao qual estavam inseridos, e a si próprios.

Até a primeira metade do século XX, a História se preocupava apenas com o que

existiu. Com a revolução a partir dos Annales, ampliaram-se as fontes e principalmente os

instrumentos utilizados nas análises das mesmas. A multiplicidade de dimensões, domínios

e abordagens nos proporciona uma diversidade de ideias, a partir do tema e da

problemática de um trabalho.

A História, segundo Le Goff, é constituída por dois tipos de estruturas e eventos,

mas sempre vinculadas com o real11. O imaginário nos dá a primeira impressão de ser algo

que não existiu, que até pode não existir concretamente, mas existe, no mínimo enquanto

expectativa. O mais importante é que o imaginário mantém sempre uma relação dialogada

com o mundo real, e esta relação pode variar. Portanto, há uma série de valores que dão

10 Ver a entrevista de José Mattoso cedida a ABREM, realizada pelo renomado medievalista brasileiro Hilário Franco Junior, publicada na revista desta entidade, nº3. 2001. 11 LE GOFF, Jacques, “O imaginário medieval”. Signum: Revista da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais), n°10, 2008, pp63-72.

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sentido ao mundo para as pessoas, e estes valores variam de acordo com a cultura, faixa

etária e grupo social aos quais essas pessoas pertencem. Essa variação é o que Jacques Le

Goff chama de variação dos sistemas simbólicos12, e também o que Aron Gurevitch define

como categorias mentais de pensamento13. É exatamente no estudo destas variações que

podemos observar como uma sociedade se relaciona com o mundo. E a maneira como as

pessoas representam, por exemplo, o tempo e o espaço, são fundamentais para

determinarmos a visão de mundo desta sociedade.

Neste trabalho, o que estudo é o mundo, a cultura e, de certa forma, o universo

fechado dos monges cistercienses, no qual almejo analisar traços de comportamento que

produzem imaginários, expressando uma visão de mundo monástica. Há uma fonte sobre a

qual não há estudos, e terei a oportunidade de analisar a visão de mundo que está expressa

neste documento, utilizando-me dos instrumentos que a história cultural dispõe. Buscarei

dentro das dimensões historiográficas a melhor forma de decifrar a realidade, extrair o

máximo das fontes e, como um bom historiador, revelar o que está por trás delas. Vejo,

desta forma, que a pesquisa em História necessita de comunicação, conexão entre suas

dimensões, seus domínios e na forma como a fonte é abordada.

Adentrando no caminho da história cultural portuguesa, e ainda delimitando-a na

baixa Idade Média lusa, a meu ver o tema e a metodologia relacionam-se com as pesquisas

realizadas pelo grande medievalista português José Mattoso14. É através do trabalho,

pensamento e profundas reflexões deste medievalista que conseguimos resgatar e analisar

o pensamento coletivo, as percepções coletivas, e os comportamentos das sociedades

abordadas em seus estudos. As representações culturais de uma sociedade religiosa estão

direta e intimamente relacionadas com as próprias instituições religiosas, e como estas se

relacionam com a própria sociedade, seja ela religiosa ou laica15. Portanto, as análises das

fontes nos revelam a representação de um “modelo de mundo” que o poder clerical almeja,

o que consequentemente também nos revela suas indagações e seu modo de pensar.

12 LE GOFF, Jacques. “O Imaginário Medieval”, 3ed. Lisboa: Estampa, 1994. 13 GUREVITCH, Aron. “As Categorias da Cultura Medieval”, Lisboa: Editorial Caminho, 1990. 14 Apesar da maioria de seus trabalhos ter se dedicado aos aspectos políticos, sociais e econômicos, a obra desse autor tem contribuído muito para a construção das representações da sociedade medieval portuguesa. Principalmente a partir da publicação de Fragmentos de uma composição medieval. Lisboa: Editorial Estampa, 1983. 15 MATTOSO, José. “Religião e cultura na Idade Média portuguesa”, 2ed. Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1997.

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Segundo Mattoso, é essencial entender como se articula o inter-relacionamento

cultural entre os grupos sociais que compõem a sociedade em estudo, pois assim veremos

expostas as principais representações mentais e o imaginário coletivo. No caso deste

projeto, mais do que nunca, os aspectos religiosos que permeiam a vida dos monges e, por

assim dizer, também da sociedade alcobacense16. Em uma obra que o autor trata

especificamente do assunto deste projeto, isto é, o pecado, José Mattoso concentra o estudo

nos chamados pecados nefandos, relacionando-os com o tratamento dado a eles pelo poder

eclesiástico, sugerindo que o mesmo, durante um determinado tempo, tentou ocultar os

pecados mais graves, como forma de evitar a propagação dessas práticas17. Com isso

define e diferencia a sua própria concepção de pecado e pecados nefandos, tão importantes

para a elaboração desta pesquisa.

A temática deste trabalho se aproxima da história cultural portuguesa, ou melhor, se

remete à história religiosa lusa. Portanto, meus estudos específicos sobre tal área histórica

se encontram nos grandes historiadores que se dedicaram e se dedicam ainda ao estudo da

literatura, religiosidade, pensamento e representações da sociedade portuguesa da baixa

Idade Média.

Não apenas em Portugal, mas também em todo o território peninsular, o tema sobre

pecados e principalmente sobre pecados capitais não foi um assunto muito abordado pelos

estudiosos e historiadores. Em Portugal, por exemplo, é de meu conhecimento que José

Mattoso18 é um dos poucos historiadores medievalistas interessados não somente na

cultura portuguesa medieval, mas também na questão dos pecados. Entre suas importantes

obras destaca-se a coleção História de Portugal, no qual concentrarei meus estudos no

segundo volume desta coleção, que se refere À monarquia feudal (1096-1480). Na área

cultural cito duas obras de extrema importância do mesmo autor, Religião e cultura na

idade média portuguesa e ainda O essencial sobre a cultura medieval portuguesa.

16 MATTOSO, José. “O essencial sobre a cultura medieval portuguesa (séculos XI ao XIV)”. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1986.p.19. 17 MATTOSO, José. “Pecados Secretos”. Signum: Revista da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais), n°2, 2000, pp11-42. 18 Entre as diversas obras de José Mattoso cito a coleção História de Portugal, concentrando-se no volume II: A monarquia feudal (1096-1480) Lisboa: Editorial Estampa, 1993. Não obstante a obra “Religião e cultura na Idade Média portuguesa”, 2ed. Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1997. Ainda “O essencial sobre a cultura medieval portuguesa (séculos XI ao XIV)”. Lisboa: Imprensa Nacional, Casa da Moeda, 1986. Outras obras já citadas, na parte que se refere a teoria e metodologia empregada neste projeto.

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Também podemos destacar, em se tratando de literatura medieval portuguesa, os

estudos de Mário Martins19, os quais muito refletiram inclusive sobre alguns textos

alcobacenses, que se inserem como fontes primárias nesta pesquisa. As obras que mais

destaco deste autor referem-se aos intensos estudos do mesmo na literatura portuguesa,

como Estudos de cultura medieval, Estudos de literatura medieval, ou ainda a importante

pesquisa e interpretação de alguns textos alcobacenses presentes em Alegorias, símbolos e

exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Textos aos quais tem se dedicado

Aires Augusto Nascimento20, com Os códices alcobacenses da Biblioteca Nacional e seu

significado cultural.

Mesmo sabendo da particularidade dos estudos literários, que mais se referem às

representações, destaco os estudos da historiadora Patrícia Baubeta21, explorando os

pecados em diversas obras literárias portuguesas em seu principal trabalho Igreja, pecado e

sátira social na idade média portuguesa, que muito contribuiu para o estudo do cotidiano

da sociedade lusa.

Sobre os pecados capitais direcionarei meus estudos em diversas referências

bibliográficas, entre as quais destaco o pioneiro trabalho de Morton Bloomfield22, no qual

me concentrarei na abordagem do autor sobre a evolução e conceituação dos pecados

capitais. Muito me auxiliará também os estudos das historiadoras italianas Carla

Casagrande e Silvana Vecchio23, onde o enfoque teológico dados por elas, produzirá uma

luz sobre esta visão mais religiosa em relação aos pecados capitais.

19 Ver a vasta obra de Mário Martins: Estudos de cultura medieval. Lisboa: Editorial Verbo, 1969; Estudos de literatura medieval: Braga: Livraria Cruz, 1956 ; Alegorias, símbolos e exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Lisboa: Edições Brotéria, 1975. 20 De Aires Augusto Nascimento, ver: Os códices alcobacenses da Biblioteca Nacional e o seu significado cultural. Lisboa: Biblioteca Nacional, 1979. 21 BAUBETA, Patricia Anne Odber de. Igreja, pecado e sátira social na Idade Média Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1995. 22 Morton BLOOMFIELD. The seven deadly sins. A introduction to the history of a religious concept, with special reference to medieval English literature. Michigan: East Lansin, 1952. 23 CASAGRANDE, Carla & VECCHIO, Silvana. Histoire des péchés capitaux au Moyen Age. Paris: Aubier, 2003. Carla CASAGRANDE & Silvana VECCHIO. “Pecado”. In: Jacques LE GOFF & Jean-Claude SCHMITT. Dicionário temático do Ocidente Medieval, vol. 2, pp. 344-347. Carla CASAGRANDE & Silvana VECCHIO. Les pechés de La langue: discipline et éthique de la parole dans la culture médiévale. Paris: Du Cerf, 1991. Sigfried WENZEL. The seven deadly sins: some problems of research. Speculum, 43, 1968, pp.1-22.

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Importante para esta pesquisa também será o estudo sobre a história dos

cistercienses de uma forma geral e principalmente em solo português. No estudo genérico

sobre esta ordem dedicarei atenção especial à obra Cister: os documentos primitivos24, que

aborda uma diversidade de documentos da ordem, incluindo a importante Carta de

Caridade.

Sobre a história dos cistercienses em Portugal, abordarei principalmente a obra de

Maria Alegria Marques, Estudos Sobre a Ordem de Cister em Portugal25, na qual a autora

discute desde a formação e datação dos primeiros monges brancos em solo luso. Além

disto, nos mostra em detalhes os aspectos políticos, religiosos e econômicos dos mosteiros

cistercienses, mostrando a importância da historicidade própria da ordem em Portugal.

Nas fontes primárias que utilizarei nesta pesquisa, muitas vezes nota-se a influência

castelhana, por exemplo, num dos códices chamado Virgeu de Consolaçon26. Para Mário

Martins trata-se de uma cópia de um manual castelhano. Pretendo, portanto, também me

dedicar à leitura de obras de historiadores que se dedicaram e se dedicam ainda à história

cultural e religiosa da baixa Idade Média espanhola. Entre as poucas obras produzidas,

dedicarei meu tempo de leitura ao estudo da obra Los pecados capitales em La literatura

medieval española27, de Eliezer Oyola, e dos estudos de Adeline Rucquoi apesar de sua

obra História Medieval da Península Ibérica28 enfatizar mais os aspectos políticos da

formação dos estados peninsulares. Seu outro trabalho, Mancilla y limpieza: la obsesión

por el pecado em Castilla a fines de siglo XV29, nos mostra uma representação, uma forma

de utilização do conceito de pecado para justificar os atos caracterizados pela presença do

mal e, não obstante, a diferenciação entre o bem e o mal. Também não deixarei ausente de

24 Cister: os documentos primitivos / trad., introd. e coment. Aires Augusto Nascimento. Lisboa: Edições Colibri, 1999. 25 MARQUES, Maria Alegria Fernandes. Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal. Lisboa: Edições Colibri, 1998. 26 Virgeu de Consolaçon. Editado por Albino Bem Veiga. Porto Alegre: Livraria do Globo, 1959. 27 Eliezer OYOLA. Los pecados capitales em la literatura medieval española. Barcelona: Puvill Editor,

1979. 28 RUCQUOI, Adeline. História medieval da Península Ibérica. Lisboa: Editorial Estampa, 1995. 29 Adeline RUCQUOI. “Mancilla y limpieza: la obsesión por el pecado en Castilla a fines del siglo XV”. In: Os “últimos fins” na cultura ibérica dos séculos XV a XVIII (Porto, 1997, pp. 113-135).

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minha pesquisa os estudos de António Garcia30 e Manuel Diaz y Diaz31, que muito se

dedicaram ao estudo do pensamento cristão em textos produzidos na península ibérica.

Outro trabalho que merecerá minha atenção para aproximar-me da visão cristã castelhana

em relação à religiosidade, que logicamente me levará à concepção do bem e do mal, é o

de José Maria Soto Rábanos32, que muito se dedicou ao estudo de textos confessionais

produzidos em Castela.

As fontes

As fontes primárias que utilizarei neste trabalho encontram-se todas editadas, e se

dividem em três grupos, de acordo com a problematização proposta. Analisarei as regras

fundacionais da ordem cisterciense, ou ainda, as regras a serem seguidas nos mosteiros de

tal ordem: a Regra de São Bento e a Carta de Caridade.

A escolha das fontes, o contexto e época histórica em que foram produzidas

inserem-se na problematização deste projeto. A Regra de São Bento foi produzida no

século VI na Abadia de Monte Cassino na Itália, onde e no momento em que nasce a

Ordem Beneditina33. Embora ter sido no reinado de Carlos Magno, e com a retomada da

regra com Bento de Aniane, considerado o segundo fundador da ordem, que acontecerá a

difusão da mesma no ocidente europeu.

A análise da regra fundacional cisterciense, isto é, a Carta de Caridade será outro

documento importantíssimo para esta pesquisa, pois é o documento oficial da fundação da

30Antonio GARCIA Y GARCIA. Iglesia, sociedad y derecho (Biblioteca Salmanticencis, estudios 74). Salamanca: Universidad Pontificia de Salamanca, 1985; “Derecho canonico y vida cotidiana”. Revista Portuguesa de História (Coimbra), vol. 24, 1988, pp. 189-226. 31 Manuel DIAS Y DIAS. “Para um estúdio de los penitenciales hispanos”. In: Études de civilisation médiévale (IX-XII siècles) – Mélanges offerts à Edmond-René Labande. Poitiers: CESCM, s.d., pp. 217-222. 32 José Maria SOTO RÁBANOS. “Derecho canonico y praxis pastoral em la Espana bajo medieval”. Monumenta Iuris Canonici, Series C, subsidia 7 (Bibliotheca Apostolica Vaticana, Citta del Vaticano), 1985, pp. 595-617; “Disposiciones sobre la cultura Del clero parroquial em la literatura destinada a la cura de almas (siglos XIII-XV). Anuario de Estudios Medievales, vol. 23, 1993, pp. 257-356; “Pedagogia medieval hispana: la transmission de los saberes em el bajo clero”. Revista Española de Filosofia Medieval, vol. 2, 1995, pp. 43-57. 33 Benedicti Regula monachorum. Edição e tradução: ENOUT, J.E. A Regra de São Bento.

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ordem. Redigida em um mosteiro francês no século XII, traduzida, e comentada por Aires

Augusto Nascimento34.

Das obras produzidas na Abadia de Alcobaça utilizarei dois tipos de gêneros

textuais, um disciplinar e dois literários. O texto disciplinar e/ou doutrinário chama-se

Virgeu de Consolaçon, e os textos literários são o Boosco Deleitoso e o Orto do Esposo.

O Virgeu de Consolaçon, de autor anônimo, editado por Albino de Bem Veiga35 é

uma obra de gênero doutrinário, e seu conteúdo é alicerçado nas conclusões de autoridades

religiosas e nos textos bíblicos. Esta obra faz parte do códice descrito por A. F. de Ataíde e

Melo, no Inventário dos Códices Alcobacenses36. Mário Martins37 compara o Virgeu com

um incunábulo castelhano chamado Vergel de Consolación do frade dominicano Jacobo de

Benavente, impresso na cidade de Sevilha em 1497. Sugere em sua análise que são duas

obras com a mesma linguagem, mesmo título e mesma época. Diz ainda que existem

algumas diferenças estruturais, mas que nada interfere na conclusão de que são as duas

uma obra única.

O Boosco Deleitoso38, também de autor anônimo, é de gênero literário, e de acordo

com Lênia Márcia Mongelli39, esta obra deve ser inserida no gênero de prosa, ou ainda na

literatura de devoção, de doutrinação e de exemplos morais. Segundo José Leite de

Vasconcelos, o Boosco foi impresso no século XVI e possivelmente escrito no século XV.

De clara influência da obra de Francesco Petrarca (1304-1374), o prólogo nos

revela o propósito da obra, que é exatamente guiar o pecador no caminho da salvação. O

texto conta a trajetória de um pecador, que durante suas andanças encontra diversas

virtudes, que são o “remédio” para a alma, o oposto do pecado. Melhor dizendo, são as

qualidades do bom cristão para manter-se afastado dos atos pecaminosos.

34 Cister: os documentos primitivos. Tradução, introduções e comentários de Aires A. Nascimento. Lisboa: Edições Colibri, 1999. 35 Virgeu de Consolaçon. Ed. Albino de Bem VEIGA. Salvador: Publicações da Universidade da Bahia, 1959. 36 Inventário dos códices alcobacenses/[ed.lit] Biblioteca Nacional de Lisboa / [apresentação de A. Botelho da Costa Veiga; introdução de A. F. de Ataíde e Melo]. Lisboa: Biblioteca Nacional de Lisboa, 1930-1932. 37 MARTINS, Mário. O Vergel da Consolação. In: Estudos de literatura medieval. Braga: Livraria Cruz, 1956, pp. 60-73. 38 Boosco deleitoso. Ed. Augusto MAGNE. Brasília: INL/MEC, 1950, 2 vols. 39 MONGELLI, Lênia Márcia. A Literatura Doutrinária na Corte de Avis. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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Escrito em vernáculo português o Castelo Perigoso40 produzido e/ou copiado em

Alcobaça, possivelmente na primeira metade do século XV, convida o leitor a edificar a

sua fortaleza através da ascese purificadora e a obtenção da paz espiritual junto às virtudes

opostas aos pecados.

Outra fonte importante é o texto chamado Orto do Esposo41 produzido entre fins do

século XIV e a primeira metade do século XV. De autoria anônima, é considerado por

Mário Martins42 um texto ascético que em alguns momentos se revela rude e em outros

simplista, fazendo alusão ao esforço que o leitor de nossa época deve ter ao analisá-lo por

uma questão de adaptação.

O Orto é um texto que mostra uma série de narrativas históricas e alegóricas, mas

que talvez não despertou maior atenção dos estudiosos devido ao anonimato do autor e sua

distância do tipo de literatura apreciada pelos príncipes da dinastia de Avis. Muitas vezes

também, o caráter literário do Orto é colocado em dúvida. Isto se deve à forma como o

texto foi produzido, compilando trechos de diversas fontes. Daí o porquê de Álvaro Júlio

da Costa Pimpão incluir o Orto como um texto voltado para a história da língua e da

cultura, e não especificamente da literatura.

De diferente opinião, Elisa Rosa Pisco, em um trabalho de síntese das provas de

aptidão pedagógica e capacidade científica de 1987, intitulado Da imagem do rei no Orto

do Esposo: contribuição para o estudo do personagem do rei na literatura da Idade Média

revela e caracteriza o Orto como uma belíssima obra, considerando então uma injustiça

encontrá-la ainda em tamanha obscuridade, não passando de breves citações. Outros

estudiosos como o erudito Mário Martins, Luciano Rossi43 e Hélder Godinho44 também

reconhecem o valor literário da obra, destacando-a como detentora de um “sabor poético” e

ainda como uma das mais belas obras de prosa da literatura medieval portuguesa.

40 Castelo Perigoso. Ed. Elsa Maria Branco da SILVA. Edições Colibri: Lisboa, 2001. 41 Orto do esposo. Ed. Bertil MALER. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1954-1964, 3 vols. 42 MARTINS, Mário. À volta do Horto do Esposo. In: Estudos de literatura medieval. Braga: Livraria Cruz, 1956, pp. 423-434.

MARTINS, Mário. As alegorias e exemplos do Horto do Esposo. In: Alegorias, símbolos e exemplos morais da literatura medieval portuguesa. Lisboa: Edições Brotéria, 1975, pp. 213-229. 43 ROSSI, Luciano. A literatura novelística da Idade Média, Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, 1979. 44 GODINHO, Hélder. Prosa Medieval Portuguesa. Lisboa: Comunicação, 1986.

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Há claros indícios que o Orto alcançou prestígio em sua época. Ao apresentar um

levantamento dos acervos das bibliotecas dos mosteiros cistercienses portugueses, José

Mattoso45 diz que ela está presente na biblioteca do Mosteiro de Bouro, por exemplo.

Afirma ainda ser a única obra espiritual presente naquela biblioteca desde o século XII. De

acordo com o prólogo da obra, o Orto se enquadra na função de instruir e edificar na

doutrina cristã os simples fiéis através de narrativas, às vezes retiradas da bíblia, da

literatura hagiográfica e, não obstante, de fábulas e bestiários, prática comum na literatura

moral e religiosa.

O Virgeu de Consolaçon

Encontro-me nesta fase da pesquisa no fichamento de fontes, e alguns dos

primeiros resultados apresento através da leitura do Virgeu de Consolaçon, texto inédito

em Portugal, editado no Brasil na década de 1950 pelo professor Albino De Bem Veiga.

O título desta belíssima obra explica-se assim: “E portanto, esta obra he chamada

Virgeu de plazer e consolaçon por que bem assi como no virgeu son achadas flores e

fructos de desvayradas maneyras assy em esta obra son achados muitas e desvayradas

auctoridades, que dam plazer maravilhosamente ao coraçon daquel que as com vóóntade

leer ou ouvir” (fl. 8)46.

O Virgeu de Consolaçon trata sobre os pecados e as virtudes, é composto de cinco

partes. As duas primeiras partes falam sobre os pecados e os vícios e as três últimas

baseiam-se nas virtudes, totalizando setenta e oito capítulos.

Quase totalidade da obra é composta por citações de uma diversidade de moralistas

que o autor coloca com o objetivo de sustentar os seus argumentos. Com a leitura o leitor

conheceria os males, os vícios e as virtudes da vida, e conseqüentemente o caminho para a

salvação.

45 MATTOSO, José. Religião e cultura na Idade Média portuguesa, 2ª Ed, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1997. 46 Citado em: MARTINS, MÁRIO. Estudos de Literatura Medieval. Braga, 1956. pág.62.

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Os Sete Pecados Capitais

Na primeiro capítulo da segunda parte, o autor define o que é pecado. A concepção

de pecado para o autor apresenta-se da forma como Santo Agostinho o define, o autor usa

uma citação do próprio para sustentar seu argumento:

“Segundo diz sancto Agostinho, peccado he desamparar home o bem de Deos que

nunca se perde, e fazer muito pelos bees do mundo que continuadamente falece. E diz esse

meesmo: Peccado he dizer ou fazer ou cuidar ou cubijçar contra a ley de Deos”.

Na primeira parte do códice o autor faz uma recapitulação rigorosa dos diversos

pecados, já nos mostrando a forte influência da doutrina dos sete pecados capitais, que

muito lembra a forma como Tomás de Aquino classificou-os47.

Logo na primeira parte do Virgeu anuncia-se o que é considerado o mais

importante entre os pecados, nitidamente está expressa a doutrina do setenário pelo autor

na introdução como: “Aqui se começa a primeyra parte desse livro, que fala dos peccados

principaes, e ha sete capítulos”.

Considera-se a soberba como o início de todo o pecado, classificando-a como um

mal gravíssimo. Se torna explícito isto quando o autor diz que Lúcifer foi expulso do céu

por ser soberboso.

“Primeyramente começa o tractado da soberva, por que todo pecado trage começo

dela, a scriptura afirmante e dizente no livro Ecclsiastico. Soberva he começo de todo

peccado, pore, assi como en cabeça dos outros peccados he de começar, ca da raiz dessa

meesma saae sete peccados: Vãa gloria, enveja, jra, tristeza, avareza, gula, luxuria. E

cada huu destes peccados ha contra nós seu ofício”.

A inveja:

“A enveja quer sempre bem apartado aver e sem outro conpanheyro e

enteyramente”.

A sanha ou ira:

“Jra quer todalas cousas apropriar e nõ aver outro companheyro e sem nehuu

contrayro. Da ira nascem pelejas, enchimentos de voontade, braados e arroydos,

47 TOMÁS DE AQUINO. Sobre o ensino. Os sete pecados capitais. Trad. Luiz Jean LAUAND. 2ed São Paulo: Martins Fontes, 2004.

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blasfêmia, nõ querer nehua cousa sofrer, maldade, homizio, mal querença. Onde o ódio

pode seer dicto sanha antiga”.

A preguiça ou acidia

Da pigriça e negligecia de be fazer que he accidia.

“Accidia quer manteer e aver todalas cousas sem nehuu trabalho. Da accidia

nascem muitos maaes, primeyramente nasce dela malicia, rancor, desmembramento,

desasperança, pigriça nos mandamentos de Deos, vagar na voontade contra as cousas de

razom.

A avareza

“Avareza sempre deseja e cobijça o que nõ he de cobijçar. E nascem dela muitos

maaes, scilicet, symonya, usura, ladroice, trayçom, engano e obras e em palavras, erro

nas obras, perjuro nos jrmãaos, vida sem folgança, e crueldade contra a misericórdia,

ceguidade de coraçõ”.

A gula

“Gargantuice cobijça cousas deleitosas e muy doces comeres saborosos, por

proveito de sy meesma. E dela nace alegria vã e deshonesta, bevedice sem razon, palavras

deshonestas e caçurritas. E outrossy nasce dela seere os homees lixosos e palrreyros e

faze-os rudes e botos do entendimento. E porem os meestres departe assi da gargantuice:

gargantuice he cuidado sôo do corpo maao e enpeencivil e ha razõ pera comer comer

muito. Gargantuice he cobijça e vootade desmesurada de comer”.

A luxúria

“A luxuria demanda que os homees compram desejo desaguisado. E dela nascem

ceguidade e teebas do entendimento, nõ pensar nehuu bem, fraqueza e torvamento e amor

de si mesmo, mal querença, avorrecimento de Deos, talente e cobijça deste mundo,

desperaçõ do coraçon”.

É notório a presença da doutrina do setenário já a partir do simples fichamento das

fontes, às vezes coesa e outras diluída, nota-se o importante significado para a ordem

cisterciense. A representação e diferenciação da doutrina nos textos doutrinários,

disciplinares e fundacionais nortearão os próximos passos do nosso trabalho.

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