a disciplina em sala de aula nas series iniciais do...

44
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA Cristina Aparecida Jordao A DISCIPLINA EM SALA DE AULA NAS SERIES INICIAIS DO EN SINO FUNDAMENTAL NA VISAO DA PSICOPEDAGOGIA Monografia apresentada a Pr6~Reitoria de P6s-gradua9ao, Pesquisa e Extensao - PROPPE como quesito parcial para obtenQao do titulo de Especialista em Psicopedagogia. OrientaQao: Prol l Maria Letizia Marchese Curitiba 2005

Upload: duongbao

Post on 02-Dec-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

Cristina Aparecida Jordao

A DISCIPLINA EM SALA DE AULA NAS SERIES INICIAIS DOEN SINO FUNDAMENTAL NA VI SAO DA PSICOPEDAGOGIA

Monografia apresentada a Pr6~Reitoria deP6s-gradua9ao, Pesquisa e Extensao -PROPPE como quesito parcial paraobtenQao do titulo de Especialista emPsicopedagogia.

OrientaQao: Proll Maria Letizia Marchese

Curitiba2005

E imperioso que nossos alunosaprendam aver e a descobrir nadiferen9a a surpresa, ° encantamento,a temura, ° insubstituivel direito deser diferente e, ainda assim, sernormal.

Gelso Antunes

SUMARIO

lNTROOU(:AO ...............................................•..•...•..•........ . " " ...•....•......... 6

2. CONCEITOS DE OISCLPLfNA ...•..•..........•.. .......•...........•..•....•..•.......•..•.............................8

2.1 PERSPEcnVA HISTORJCA DA ESCOLA BRASILEIRA 132.2. EDUCACAo FAMIUAR..... . 17

3. i\'IODELOS DISCIPLINARES .....•.........•..•..........•..•......•.. , ..•..........•..•....•..•.................................•....... , ... 20

3.1. A DlSCIPLlNA PELOTEMOR 243.2. A INDISCIPUNA COMO CARENCIA PSIQUlCA 273.3. ESCOLHA DE METODO D1SCIPUNAR 283.4. ANALISE DA REALIDADE 293.5. PROJE<;:AO DA FINALIDAOE 323.6. PLANEJAMENTO DAS FORMAS DE MEDlA<;:Ao 333.7. 0 PAPEL DA PSICOPEDAGOGlA NA ESCOLA 36

CONCLusAo ........................................•.........•..•...........................................•..•..•.•..•.•.•..•.•.•..•..•..•................41

REFEnENClAS BIBLIOGRA.FICAS ......................•.......•.....•..•••.....•..•..•..........................•.....•.•..•.•.•.•.......... 44

RESUMO

A presente monografia tem por objetivo demonstrar 0 tratamento dispensado adiscipiina na escola e a necessidade de criagao de mecanismos educacionais quedeem conta da problematica disciplinar do educando nos anos iniciais do EnsinoFundamental. Bern como, proceder a analise de um processo de desenvolvimentoda aprendizagem a partir de conceitos da Psicopedagogia, refletindo sobre aspossibilidades de aplicabilidade em sala de aula pelo professor assessorado por umprofissional da Psicopedagogia. Para tanto, se elegeu como problema deinvestigagao a indisciplina em sala de aula e a atuagao do professor frente aoproblema. A metodologia caracteriza-se por uma abordagem qualitativa, explorat6ria.Adotou-se como metodo de procedimento 0 estudo bibliogr8fico sobre disciplina, 0

que permite maior conhecimento sobre 0 tema e das possibilidades de solugao doproblema. Assim propos-se a aplicagao do conhecimento psicopedag6gico it sala deaula atraves da caracterizagao e compreensao do aluno, fornecida pela revisao dosprincipais conceitos gerados por algumas teorias do desenvolvimento e daaprendizagem infantil, sugerindo-se alguns encaminhamentos elaborados porFortuna corno forma de assessoramento do psicopedagogo junto ao professor emsala de aula, tendo por objeto 0 sucesso do aluno e seu desenvolvirnento.

Palavras-chave: Disciplina, Educagao, Psicopedagogia e Sala de aula.

INTRODU9AO

A escola no inicio do seculo XXI se depara com um dos seus maiores

problemas, a indisciplina em sala de aula e, por conseguinte a perda de controle do

professor da turma.Nao raro S8 houve nos noticiarios a violencia que assola a escola, alunos

que vao para a sala de aula armados e ameaeam colegas e professores, ou ainda

dilapidam 0 patrimonio publico. Aeoes essas de jovens que freqlientam a escola

desde a tema idade e sabem muito bem sua finalidade.

E de responsabilidade da escola a educaeao e transmissao do

conhecimento, papel esse tambem da familia. No entanto, nenhuma das duas

instituieoes esta conseguindo dar conta da missao educativa.

Os familia res muitas vezes S8 queixam ao professor por nao conseguiremcontrolar 0 proprio filho, dizendo "nao sei mais 0 que fazer com ele"; "ele nao

obedece ninguem". Da mesma forma se queixa 0 professor que por sua vez repassa

o problema para a Orientaeao que, nem sempre encontra solueao para a aeao

negativa do aluno.

Sao essas aeoes do cotidiano escolar que motivam 0 presente trabalho e

suscitam a problematica de que relaeoes existem entre 0 docente e 0 discente em

sala de aula que necessitam serem aprimoradas?Tal problematica suscita a tematica sobre 0 comportamento disciplinar do

aluno em sala de aula como uma questao de conquista nos primeiros anos iniciaisdo ensino fundamental.

Por isso 0 presente trabalho tem por objetivo demonstrar 0 tratamento

dispensado a disciplina na escola e a necessidade de criar;ao de mecanismos

educacionais que deem conta da problematica disciplinar do educando nos anos

iniciais do ensino fundamental.

Para se atingir tal proposta e preciso, situar a Disciplina no contexte da

evolueao social, atraves de estudo historico critico sobre a forma em que foi

abordada na escola. E demonstrar em que bases podem-se fundamentar 0 processodisciplinar na escola.

As considera90es feitas a partir de constataeoes empiricas sobre disciplina,

conduziram a formulaeao de alguns aspectos que se destacam na atualidade.

o primeiro aspecto, sem duvida, e ainda a disciplina ser vista sob uma otica

autoritaria, avaliadora dos valores morais e comportamentais do individua, cercadade tabus e preconceitos, em detrimento da liberdade de criagao no ambiente

escolar.o segundo aspecto trata do papel da familia frente as questaes disciplinares

que ao se libertar da educagao tradicional que era severa e respeitosa, ultrapassa

limites. A isso se denominou falta de limites, como um novo conceito de liberdade,

onde se estabelece uma confusao entre as realizagaes do eu com 0 sentimento de

liberdade, associando-o com vontade propria, ou seja, realiza somente aquilo que for

de seu agrado pessoal.

Assim, para se compreender 0 fenomeno disciplinar e seus efeitos na

sociedade brasileira, e preciso em primeira instancia desmitifica-Ia no meio escolar.A comegar pelos educadores frutos desta sociedade, levam para a sala de aula seus

conceitos e preconceitos transpassados aos educandos p~r sua linguagem e

postura profissional.

Em segunda instiincia, se faz necessario observar as questaes sobre

disciplina sob a otica metodologica, entendendo como forma de dominagao a

propria repressao disciplinar.Isto perque para 0 melhor desenvolvimento de aprendizagem, tanto na vida

escolar quanto na familiar e preciso uma boa disciplina seguida de desejos e

conquistas. Em situac;oes do cotidiano escolar e relevante notar-se 0 entendimento

da turma em relagao a este assunto tao comentado nos dias atuais.

A analise dos fatos intervenientes no processo disciplinar que se pretende

sera baseada em pesquisa bibliografica de autores que tratam do tema disciplina de

forma relevante. Para 0 desenvolvimento da monografia optou-se per uma

abordagem qualitativa, p~r tratar de um estudo que envolve as relagaes humanas

em sociedade.

o trabalho estara composto de capitulos que tratarao do referencial teorica

sobre disciplina; conceitos e modelos disciplinares; a educagao familiar na relagiio

disciplinar. Bem como as consideragaes depreendidas a partir do estudo realizado.

2. CONCEITOS DE DISCIPLINA

A sociedade contemporanea sob um novo enfoque de liberdade

educacional. a falta de Iimites, gerou 0 fen6meno da indisciplina, que por defini,ao a

a insujei,ao as normas sociais vigentes, posto que 0 eu estabelece a sua vontade

de a,ao independente e desconectada da organiza,ao publica. Essa vontade

expressa, baseada somente no eu, transforma 0 ser em objeto descartavel e de

consumo. Torna-o prisioneiro e, conseqOentemente, impossibilitado de realizar algo

mais duradouro do que sua propria existrmcia. Nesse sentido, a sala de aula tornou-

se um espa,o de individualismos, rompendo com 0 coletivo que seria um dos papais

da escola, ou seja, de promover a coletividade, a colabora,ao e a democracia.

Eo possivel assim, pensar a sala de aula, como um espa,o democratico,

contudo a inobservancia das regras que regem a convivencia humana em

sociedade, abre um vacuo onde se instala a indisciplina, podendo ser entendida

como a manifesta,ao da vontade de uma pessoa em atos sem qualquer

significancia, somente uma a,ao individual. Mas, uma outra conota,ao pode se

emprestar ao ato indisciplinar, como, a coragem de Dusar, de desafiar as padr6es

vigentes, 0 transforma em virtude.

A moral religiosa que a principio regeu a educa,ao no Brasil, faz um

contraponto com essa educa,ao liberta de regras, divide as a,oes entre 0 bern e 0

mal estigmalizando-as. Assim a disciplina em sala de aula, ao invas de ser

compreendida como urn pre-requisito para 0 aproveitamento escolar, e encarada

como resultado da pratica educativa realizada na escola. A 85sa ordem S8 antep6e 0

aluno, que as entende como coercivas de suas vontades, as quais a propria

sociedade legitima, quando serve aos interesses da esfera coletiva.

Portanto a indisciplina esta alam das a,oes do aluno no rompimento da

ordem vigente, esta centrada nos valores morais e como cita Aquino (1996)

indisciplinado a aquele que nao tem limites, que nao respeila a opiniao e

sentimentos alheios, que apresenta dificuldades em entender 0 ponto de vista do

outro e de se aulogovernar, que nao consegue compartilhar, dialogar e conviver de

modo cooperativ~ com seus pares. Oessa forma a entender 0 aluno como portador

de defeilos ou qualidades morais e psiquicas.

Segundo Foucault (1987, p. 128) a disciplina e uma anatomia politica do

detalhe. "Todo detalhe e importante, pois aos olhos de Deus nenhuma imensidao e

maior que um detalhe, e nada ha tao pequeno que nao seja querido por uma dessas

vontades singulares".Por esse conceito do detalhe se pautou as meticulosidades da educa,ao

crista e da pedagogia escolar.o principio da disciplina S8 inicia com a meticulosidade de S8 estruturar 0

espa,o fisico. Na educa,ao crista os conventos sao edificios encerrados em si

mesmo, uma fortaleza. Seu espa,o disciplinar consiste em celas individuais com

circulac;ao difusa que conduzem ao masma lugar, evitando-se assim, 0

desaparecimento descontrolado dos individuos.

Os edificios escolares observam semelhan,as com os conventos, as salas

de aulas obedecem ao principio de celulas. A ordena,ao de fileiras no seculo XVIII

come,a a definir a grande forma de reparti9ao dos individuos na ordem escolar: filas

de alunos na sala, nos corredores, nos patios; alinhamento das classes de idade

uma depois das outras; sucessao dos assuntos ensinados, das questaes tratadas

segundo uma ordem de dificuldade crescente. E nesse conjunto de alinhamentos

obrigatorios, cada aluno segundo sua idade, seus desempenhos, seu

comportamento, ocupa ora uma fila, ora outra; ele se desloca 0 tempo todo numa

serie de casas. Para Foucault (1987, p. 134) tais mudan,as representam "idea is, que

marcam uma hierarquia do saber au das capacidades, outras devendo traduzir

materialmente no espa90 da classe ou do colegio essa reparti,ao de valores ou dosmeritos".

Essa divisao causava ainda problemas de disciplina em sala de aula para 0

mestre, alguns alunos terminavam suas tarefas e ficavam aciasos na espera de

novas atividades. A saida foi a organiza9ao de um espa,o serial, determinando

lugares individuais, tornou possivel 0 controle de cada um e 0 trabalho simulli'meo

de todos. 0 espa,o escolar torna-se uma maquina de ensinar, mas tambem de

vigiar, de hierarquizar e recompensar com promo,aes, uma espa,o classificatorio,

inclusive quanto ao poder de riqueza da familia.

As atividades em sala de aula sao controladas tambem pelo tempo, 0 horario

de inicio e termino de cada atividade sao rigorosos. Esse esquema de aula tem

inicio no seculo XIX, de acordo com 0 modelo fabril, a exemplo Foucault cita,

8:45 h entrada do monilor, 8:52 h chamada do monitor, 8:56 h entrada dascrianryas e oraryao, 9 horas entrada nos bancos, 9:04 h primeira lousa, 9:08h fim do dilado, 9:12 h segunda lousa, etc.a ultima pancada do relogio, umaluno batera 0 sino, e ao primeiro toque, lodos os alunos se porao dejoelhos, com os bracos cruzados e os olhos baixos. Terminada as oraryoes,o professor dara a sinal para os alunos se levantarem, um segundo parasaudarem Cristo, e 0 lerceiro para se sentarem (1987. p. 137).

Qualquer atraso 13punido com severidade ou ainda nao podendo mais entrar

no recinto. Esse preciosismo temporal chega ate os dias de hoje e 0 professor 13seu

maior defensor, se 0 aluno chega apos 0 sinal nao podera mais entrar na sala,

alguns criam criterios, como fechar a porta, fazer a chamada, dados como prazos

para entrar na sala. Evidentemente, 0 aluno atrasado 13um intruso na sala de aula,

portanto perde 0 direito de participayao nao interessando seus motivos.

Interessante observar essa cronometragem ainda marcada pelo sinal, nada

ainda 0 substitui, embora a sineta manual tenha sido substituida pelo sinal eletrico

au ainda par musica. dando a nor;aa de inavar;aa, a qual nao e real, pais naa S8

rompeu com 0 marco temporal. A exemplo, 0 primeiro sinal soa as 7:25 h para 0

professor, 7:30 h para 0 aluno, 7:40 h prazo para os atrasados antes de se fecharem

os portoes, ayoes essas que 0 professor enfrenta em determinados colegios.

o que pode se depreender com 0 texto de Foucault 13a importancia dos

detalhes que ultrapassam 0 pr6prio tempo, como parte fundamental do processo

disciplinar, 0 aluno atrasado 13 indisciplinado, pOis alem da ausencia causa

interrupyoes das tarefas. Pode-se considerar 0 primeiro item para trayar 0 perfil de

um aluno indisciplinado independente de seu aproveitamento escolar.

A demarcayao disciplinar fisica da escola demonstrada por Foucault,

comparando-a ao modelo eclesiastico que tinha por objetivo as regras para atingir a

beatitude, diferem dos pressupostos de disciplina que regem a vida escalar, embora

em alguns discursos no ambiente escolar estabeleyam essa relayao: "Fufano e urn

anjinho, e atenciosa, qUieta, respeitoso"

o carater de disciplina escolar segundo Carvalho (1996) e "0 conjunto das

prescriyoes ou regras destinadas a manter a boa ordem, propria e oriunda de outras

instituir;oes sociais onde a ordem e a hierarquia se configuram como um modo de

vida".

Nesse sentido depreende-se que 0 termo disciplina implica na relayao de

aprendizado das diversas ciencias, artes ou demais areas da cultura. 0 que

configura a area do conhecimento estudada na escola par meio de urn curricula.

Mas quando a discussao e 0 aluno, as quest6es disciplinares ficam em segundo

plano e ressalta-se 0 comportamento em sala de aula, como se 0 objetivo do

processo educacional repousasse priaritariamente na fixac;ao de certos

comportamentos e nao na transmissao e assimilac;ao de determinados

conhecimentos, habilidades ou atitudes, que eventualmente exigem certos tipos de

compartamento e procedimentos como meios.

Conforme CaNalho (1996) 0 termo disciplina e derivada da palavra latina

disco que significa "aprendo", sua raiz encontra-se na ideia de uma submissao do

aprendiz as regras e estruturas do que pretende aprender ou a autoridade do

mestre, como aquele que inicia 0 discipulo em uma arte ou area do conhecimento.

As regras nao tem validade aut6noma, como um imperativ~ categorico que valha por

si, mas encontram seu significado como um caminho para a aprendizagem. Nesse

sentido, para 0 autor a compreensao dos problemas da disciplina e da indisciplina

escolar consiste na explicita9ao do vinculo entre a n09ao de discipiina como area de

conhecimento e a de disciplina como comportamentos/procedimentos, vinculo que eproprio e especifico da rela9ao escolar.

o vinculo entre os significados do termo discipiina e suplantado pelo

conceito de comportamento que se imp6e como objetivo unico e universal ao qual a

escola deve sempre se aproximar como se existisse urn unico tipo de

comportamento denominado disciplinado, 0 que revela a indisciplina.

De acordo com CaNalho (1996),A acao disciplinada e freqOentemente um saber-fazer e nao um saberproposicional; e urn tipo de ayao e nao a posse de um discurso.Transferindo-se eslas ideias para uma sala de aula, a disciplina naonecessariamente precede de forma discursiva 0 Irabalho, mas concreliza-se em urn trabalho. Assirn ela nem sempre implica a clareza de regras decomportamento apresentadas verbalmente, mas sempre imptica a clarezade meios e objetivos para urn Irabalho. Tanto 0 trabalho do professor, quee 0 ensino, como 0 do atuno, que e a aprendizagem, s6 sao possiveisporque ha uma ayao em alguma medida rnetodica e regrada, portantodisciplinada, mesmo que permeada par comportamentos que nao sejarnimediatarnente identificados com a boa ordem.

o contexto de disciplina enquanto area do conhecimento pode requerer

formas diferenciadas de comportamento, a exemplo, 0 nivel de concentra9ao do

aluno para realizar calculos ou escrever urn texto, com uma atividade de educa9ao

fisica que se permanecer muito quieto restrito as regras nao aproveitara a atividade.

Portanto as regras de comportamento se determinam de acordo com as proposi,oes

do contexte disciplinar, sem necessariamente obedecer ao modelo eclesiastico.

Neste caso, cabe ao professor propor um metodo ou regras para uma pratica

essencialmente social.o termo expressa a ideia de um regulamento formulado, em que conste

proibi,oes, exigencias e permissoes; pode expressar instru,oes, ou ainda preceitos

morais e religiosos que visam guiar a a,ao de um individuo. De qualquer forma tem

em comum a questao de impor condutas e atitudes.

A crian,a em sua segunda etapa evolutiva que Piaget chamou de

heteronomia (seis ate dez anos de idade) desenvolve 0 interesse em participar de

atividades coletivas e regradas. De acordo com Antunes (2002, p. 23) neste periodo

a crian,a respeita as regras como algo absoluto, mas h8.uma contradi,ao "se de um

lade de sua personalidade demonstra esse respeito irrestrito e absoluto as regras,

quando questionado durante a a,ao, portanto quando estiver jogando, mostra-se

perfeitamente livre, sem imaginar ser necessaria consultar os parceiros, para

introduzir mudan,as que possam distorcer 0 resultado e fazendo-o vencedor".

Assim, as regras e disciplinas nao sao s6 reguladoras (no sentido de

permitir, proibir, facultar), mas tambem constitutivas, no sentido de que a sua

existencia e que possibilita a cria,ao. As regras que formam as disciplinas escolares

nao tem uma fun,ao exclusiva ou preponderantemente regulamentadora (da boa

ordem), mas constitutiva, posto que possibilitam uma forma de trabalhar, de ver 0

mundo na perspectiva da hist6ria, das artes, da ffsica etc..a professor ao compreender a significa~ao de disci pi ina, tendera a romper

com ideia de formata,ao do aluno e passan; a executar seu trabalho de forma

criativa, segundo seus objetivos e as caracteristicas daquilo que ensina. Conforme

Carvalho (1996) "ter um metodo para transmitir disciplinas nao e ter um discurso

sobre a discipiina, mas e criar uma maneira de trabalhar". Tal maneira sera tanto

mais eficaz quanto mais 0 professor tiver clareza de objetivos e procedimentos dos

conteudos ou areas de conhecimento com os quais deseja trabalhar. Nesse sentido,

o problema da disciplina escolar desloca-se do ambito e da perspectiva de

comportamento.

2.1 PERSPECTIVA HISTORICA DA ESCOLA BRASILEIRABari \},\ /

A disciplina vista como comportamento coincide com a pr6pria formay Veducacao no Brasil. A arganizacao escolar brasileira se inicia com a necessidade de

aculturayao sistematica e intensiva do elemento indigena aos valares espirituais e

morais do modelo de colonizacao portuguesa. Esse primeiro processo educacional

ficou a cargo dos padres jesuitas chefiados par Manoel da N6brega a partir 1549

que tinha claro 0 objetivo de catequizar e instruir indigenas (RIBEIRO, 1981).

A instalayao no Brasil de comerciantes e nobres portugueses necessitou

tambem de educayao e a unica forma disponivel era a jesuita, 0 que gerou duas

formas a de reconhecimento para os mestiyos e de externato para filhos de colonos.

A educayao indigena tinha em si 0 carater comportamental, 0 aumento de

contingente cat61icopara a Igreja, e para a economia da colonia a constituiyao de

mao-de-obra d6cil. Sem a necessidade uma educacao profissional, pois se aprendia

atraves do convivio no ambiente de trabalho. Para as mulheres a educayao se

restringia a boas maneiras e prendas domesticas.A elite colonial era preparada para 0 trabalho intelectual segundo um modelo

religioso cat6lico, independente de ser padre. Os Colagios Jesuitas representavam

toda a formayao intelectual na colonia.

A educayao brasileira, portanto alheia a formacao profissional e, por

conseguinte da ciencia, moldada a visao religiosa sera marcada por uma intensa

rigidez na maneira de pensar e, consequentemente, de interpretar a realidade. A

conversao necessita do afastamento da influencias consideradas nocivas. E por

isso 0 preparo do professor a cuidadoso, segundo Ribeiro,o professor lamava-5e aplo ap6s os 30 anos, selecionavamcuidadosamente as Ilvros e exerciam rigoroso controle sobre as quest6esa serem suscitadas pelos professores, especialmente em filosofia eleolog;a. Se alguns forem amigos de novidades ou de espirita demasiadolivre devem ser afastados sem hesitay80 do servico docente (1981, p. 30).

o que se depreende a que 0 ensino religioso planejado pela Companhia de

Jesus tinha um fim em si mesmo, sem visao politica ou beneficio social. Pois os

alunos mais inteligentes e pertencentes a elite seriam padres da pr6pria Ordem.

Em 1827 cria-se a Lei de 15 de outubro relativa ao ensino elementar ata

1946, conforme Ribeiro (1981, p. 48) esta Lei regulamenta somente escolas de

primeiras letras, ou seja, ensino primario. A educacao a dever do estado, da

distribui9ao racional por todo 0 territ6rio nacional das escolas dos diferentes graus e

da necessaria gradua9ao do processo educativo. Contudo, a na9ao que se

constituia ap6s 1822 manteve sua base escravocrata, assim a escolaridade reduziu-

se aos filhos dos homens livres.

° modelo Educacional seguia 0 metodo ingles lancasteriano: os alunos de

toda uma escola se dividem em grupos que ficam sob a dire9ao imediata dos alunos

mais adiantados, os quais instruem a seus colegas na leitura, escrita, calculo e

catecismo, do mesmo modo como foram ensinados pelo mestre, horas antes. Estes

alunos auxiliares S8 denominam monitores. Alem dos monitores ha na classe Qutrofuncionario importante - 0 inspetor, que S8 encarrega de vigiar as monitores, deentregar a estes e deles recolher os utensilios de ensino, e de apontar ao professor

as que devem ser premiados au corrigidos.Urn severo sistema de castigo e premios mantem a disciplina entre os

alunos. ° mestre se assemelha a urn chefe de fabrica que tudo vigia e que intervem

nos casas dificieis. Nao da lic;oes senaa a monitores e aos jovens que desejam

converter-se em professores (RIBEIRO, 1981, p. 51)

Nesse periodo hist6rico a profissao nao era atrativa pelo desamparo que

sofria, assim em geral, os profissionais eram despreparados para 0 magisterio.

Ao final do seculo XIX, a eduCa9aOnos grandes centros urbanos como Sao

Paulo sofrem infiuencia da escola protestante norte-americana no tocante ao

tratamento a crianc;a que a V8 como S8r ativD, havendo a necessidade de S8respeitar a ordem natural do seu crescimento, de desenvolver as sentidos,

capacitando-a a descobrir as caisas por si mesma e, em consequencia, 0 preparo doprofessor seria indispensavel, e par consequencia 0 processo disciplinar tambemnao seguiria a rigor lancasteriano.

Par essa influencia e tambem pelo positivismo a escola prima ria no inicio daRepublica e organizada em duas categorias, 0 1" grau para crian9as de 7 a 13 anos

e de 2" grau para crian9as de 13 a 15 anos.

a positivismo introduz ° pensamento cientlfico, diminuindo assim °predominio da educa9ao humanista com vista il prepara9ao a escola superior. As

disciplinas eram matematica, astronomia, fisica, quimica, biologia, sociologia e

moral.

Ribeiro (1981, p. 72) avalia essa mudan,a como um dilema forma,ao

humana x prepara,ao para 0 superior e forma,ao humana baseada na literatura x

forma,ao humana baseada na ciencia. A fusao das disciplinas tornou 0 ensino

enciclopedico.Na decada de 20 do seculo XX, surge um movimento nacionalista, pela

educa,ao denominado de Escola Nova liderado por educadores como Anisio

Teixeira. Segundo Cotrim e Parisi,As bases filosoficas do movimenlo assentavam-se na Psicotogia, 6iologiae outras ciencias que passam a ser aplicadas a Educacao. Com issa 0

metoda de ensina S9 modifica e as prolessores descobrem a importanciado ala de aprender, 0 que possibilitoua concepcao de uma cifmciaespecifica para 0 estudo do comportamento da crianca, a Pedologia,analisava de maneira global os aspectos biol6gicos, psicologicos eeducativos do aluno. Tats analises gerou uma critica a pedagogia daimposicao, baseada no tamar aos casligos. E embora nao tenha sesedimentado neste periodo em lunyao de ideias reacionaria etradicionalista de certos educadores, inlluencia a educacao ainda naalualidade (1986. p. 270).

A primeira influencia escolanovista se faz sentir na Constitui,ao de 1934,

com a cria,ao do Ministerio da Educa,ao e Saude, estabelecendo que todos os

brasileiros possuiam 0 direito de receber uma educa,ao elementar ministrada pela

familia e poderes publicos, bem como 0 ensino tecnico e profissionalizante. Na

sequencia foi estabelecida a Lei de diretrizes e Bases em 20 de dezembro de 1961.

Em 1968, surge a lei 5.540 com uma legisla,ao especifica para 0 ensino superior,

suas normas de organiza9ao e funcionamento. Em 1971, surge a Lei 5692,

reformulando 0 ensino de primeiro e segundo graus, que visou conciliar a auto-

realiza,ao pessoal do individuo com os interesses da comunidade, tendo por metas

basicas a qualifica,ao para 0 trabalho (COTRIM e PARISI, op.cit.).

A questao de um ensino voltado para os interesses da comunidade e do

trabalho, com enfoque para uma escola popular, diminuem as press6es

comportamentais, ja e possivel dialogar na classe e os metodos de sociabiliza,ao

se fazem sentir nas dinamicas de grupo, a primeira fase do ensino fundamental se

remodela e as crian,as adquirem liberdade de expressao e criatividade.

A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 introduz mudan,as nao somente

pedagogicas, mas estruturais na Educa9ao. A Constitui,ao de 1988, garante 0

atendimento em creches e pre-escolas as crian,as de zero a seis anos de idade, sob

a denomina,ao de educa,ao infantil, pois se deu conla da importancia dos primeiros

anos de vida para 0 desenvolvimento do individuo e das consequencias

desfavoraveis em que vive uma parcela da populagao brasileira.

A educagao infantil e 0 ensino fundamental conjugam-se como prioridade

dos municipios, beneficiando-se esse conjunto com 0 percentual obrigat6rio de 25%

da receita de cada um deles. Esta liga,ao segundo Niskier (1996, p. 9) "abre

caminho para uma forma de corregao da discrepancia entre os niveis de ensino e 0

desequilibrio da piramide educacional".

A Educa,ao infantil tornou-se a base do sistema, aliviando a sobrecarga

existente na l' serie do ensino fundamental, obrigada atualmente a assumir 0 que

deveria ser da competencia da pre-escola, isto e, a receber 0 aluno sem 0 dominic

da tecnica de leitura e da escrita. Isto porque 0 ensino fundamental tem por objeto 0

domfnic da leitura. da escrita, do calculo e do racioclnio, preparando

progressivamente 0 educando para a compreensao dos problemas humanos e 0

acesso sistematico aos conhecimentos.A mudanga de foco da educa,ao basica, porem se confronta com 0

fenomeno da indisciplina a que se deve a diversos fatores:

• "A dignidade do magisterio esta aviltada, a comega pelos niveis de

compensa,ao salaria!. Os cursos de Pedagogia, em estado agonico,

deveriam ser prioritarios em termos socia is" .

• Os problemas educacionais as voltas com 0 crescimento populacional sao de

dificil solu,ao. Na M empreendimentos sociais que garantam trabalho

posterior tanto no plano quantitativo como no qualitativo. Os investimentos em

longo prazo tendem a se tornar infinitos e inoperantes (NISKIER, 1996, p. 17)

• 0 professor nao desenvolve urn trabalho consciente de estimulo as

habilidades operat6rias, ao desenvolvimento de uma aprendizagem

significativa e vivencias geradoras da forma,ao de atitudes socialmente

aceitas em seus alunos (ANTUNES, 2002, p. 10).

Neste contexto social em que a Educagao brasileira sofre a intervengao

politica e economica como se depreendeu em seu perfil hist6rico, nao diferente

ocorre com a disciplina em sala de aula, posto que as crian,as que ali estao

pertencem aquele momenta historico e, portanto interagem com 0 meio e dele

reproduzem regras e atitudes comportamentais. Assim, entender 0 processo

disciplinar requer 0 conhecimento sobre os diversos modelos que 0 delineiam no

ambiente escolar.

2:2. EDUCAVAo FAMILIAR

A educa,ao familiar tradicional se pautou pelo processo disciplinar, tendo

por base 0 discurso de que a crian,a deve saber 0 seu lugar. Em geral, as crian,as

possuiam uma disciplina rigida, com regras morais e comportamentais. Os castigos

eram severos para as atos indisciplinares.A visao da crian,a como um ser em forma,ao que precisa de alimento e

afeto e que deve ser protegida pede se dizer recente, pois as questDes de prote,ao

ao menor quanto ao trabalho, escolaridade e direitos sao a,Des sociais atuais como

o proprio estatulo da crian,a e do adolescente.

as castigos fisicos em famflia naD se tratavam de violEmcia contra as

crian,as, mas de disciplina, tais como apanhar de fio de ferro, chicote, puxDes de

cabelos, piparotes no cranio (extremamente doloridos a ponto de deixar a crian,a

zonza), dentre outras formas de educaC;ao.

Assim depreende-se que S8 a familia exercia com rigor sua autoridade aeduca<;8.oescolar naD poderia sar tao diferente, alem do mais a crianc;a teria uma

tendencia comportamental ja moldado e pouco a alteraria, pois sabia dos rigores dos

castigos.

E a partir da decada de 1960 que se inicia uma nova visao de educa,ao

infantil, em que a crianc;anaD e um pequeno adulto irresponsavel e nesse sentido apropria escola teve que rever seus habitos disciplinares, embora ja tivesseabandonado a palmat6ria, as castigos vexat6rios ainda eram comuns.

Com 0 fim dos castigos fisicos e vexatorios a disciplina tomou novos rumos

e abre espac;o para 0 dialogo no lar, 0 tom da conversa se ameniza e a crianc;a

passa a ser principe da casa. "Sua maior alegria era ver 0 titho contente. Seu maior

sofrimento, ter dizer nao ao filho. Ele era um escravo do sim" (TIBA, 1996, p. 19).

A educac;ao da crianc;a passa de um extrema a Dutro, antes sem voz,limitada as regras, atualmente sem Iimites. Isso em alguns casos se explica pela

propria educaC;ao dos pais, que sofreram na carne os rigores paternos e nao

gostariam de passar isso aos seus filhos e rompem com as regras limitadoras.

A falta de limites toma os filhos folgados e por isso rompem com as regras

basicas de convivencia familiar, porem na infancia alos esses entendidos como

temperamento da crian9a.

Para Tiba (1996) a indisciplina come9a com os pais principalmente quando

ha excesso de zelo, a mae fica num estado de tensao psicologica tao intensa que

tudo 0 que acontece com 0 filho ela percebe, inclusive altera90es minimas que

passam despercebidas para as outras pessoas.

Uma das situa90es complicadas de se lidar em sala de aula e a "birra", a

crian~a a tude reage com rebeldia, nao ace ita quaisquer imposilYoes.Segundo Tiba (1996, p. 32) a birra e um rompimento de relacionamento, no

qual se impoe a outra pessoa uma condigao: se voce me atender, otimo; caso

contra rio, va; safrer muito". Nao ha razao no ata para fazer prevalecer uma vontadesem muita importimcia.

Em casa a birra em crian9as sem limites e a arma preferida, pois deixa os

pais constrangidos, principal mente frente a outras pessoas, acabam cedendo para

terminar logo com a cena. Esse ceder ao capricho da crian~ae a propria indisciplinada mae ou do pai que proibiu e deu. Desrespeitou sua propria ordern, ensinando 0

seu filho a fazer 0 mesmo, ou seja, desrespeita-Io. Portanto nao houve disciplina

tambem por parte dos pais.

A liberdade de a9aO e a melhor disciplina e e a tonica do discurso

contemporimeo, a crian9a tem que ter liberdade de expressao. Mas isso so tem

valor se for seguido de responsabilidade.

A crian\=a das series iniciais nao tern claro, 0 que e liberdade, simples mente

faz 0 que tem vontade de fazer, sem limites, 0 que e diferente de liberdade,

aproveita-se da situa9ao e destroi tudo a sua frente, quebra objetos, seus

brinquedos, e os pais ficam pasmos sem saber 0 que fazer. Muitas vezes recorrem

ao psicologo para achar uma saida para 0 "monstrinho" que tinham criado.

EVidentemente, que na escola seu comportamento nao sera muito diferente ja que

esta acostumado a ter posse da situa9ao.

Afirmar que os problemas de indisciplina na escola tem origem na eduCa9aO

familiar e desacreditar 0 papel dos pais como educadores, pois ha casos em que a

crian9a apresenta comportamento diverso daquele de casa, deixando os pais em

situa9ao delicada frente a orienta9ao. Por isso. julgar os metodos educacionais

adotados requer um olhar maior para as formas de educar.

3. MODELOS DISCIPLINARES

o professor ao estabelecer as regras de atua,ao do aluno, tambem

estabelece seus aspectos negativos disciplinares e em torno deles molda sua visao

disciplinar. ISIOporque a educa,ao escolar brasileira esta centrada nos erros e

menospreza as acertos, par mais que S8 tente eliminar tais vicios do seia da escola,

o padrao de avalia,ao por nota e media impede maior a,ao pedag6gica. Da

mesma feita sao julgadas as a,5es do aluno no que tange ao comportamento em

sala.Por tradi,ao indisciplina e a manifesta,ao de um individuo ou grupo de forma

inadequada, um sinal de rebeldia, intransigencia, desacato, traduzida na falta de

educa,ao ou de respeito pelas autoridades. Eo vista como uma incapacidade do

aluno em S8 ajustar as normas e padr5es comportamentais esperados. A

aprendizagem s6 acontece em ambienle de total silencio, docilidade, passividade e

respeito. Neste sentido qualquer manifesta,ao de inquieta,ao, questionamento,

discordancia, conversa ou desaten,ao por parte dos alunos e entendida como

indisciplina.

Ao analisar 0 problema disciplinar Rego (1996, p. 84) declara que a

disciplina assume uma conota,ao de opressao e enquadramento. Portanto, todas as

regras e normas existentes na escola devem ser subvertidas, abolidas ou ignoradas.

Sempre que S8 taz questionamentos aos alunos sobre 0 desempenho administrativo

da escola, 0 maior numera de sugest5es referem-se ao seu carater auto rita rio em

naD permitir a saida em qualquer horario, naD fumar no estabelecimento, nao utilizarwalkman durante a aula, como tambem a impossibilidade de brincar e conversar em

sala. Por outro lado, no plano educalivo, um aluno indisciplinado pode ser entendido

como aquele que naD tern Iimites, que naD respeita a opiniao e sentimentos alheios.

que apresenta dificuldades em entender 0 ponto de vista do outro e de se

autogovernar que nao consegue compartilhar, dialogar e conviver de modo

cooperativQ com seus pares.

Riboulet avalia 0 conceito de disciplina em educa9ao da seguinte forma,

A educac;ao realiza·se em ambiente de suavidade, de satisfac;ao alegre, deliberdade bern entendida. Liberdade nas manifestac;6es de sua piedade:nada de legislac;aouniforme, que esmaga 0 surto das almas;unicainfluencia exterior, Que alua sabre 0 menino, sao as bons exemplos doscolegas. Liberdade muito sensata nos brinquedos, contanto que lodosestejam brincando. Uberdade relativa nas aulas; nem estandardizac;ao nemapassivamento; 0 aluno cria interesse pela lic;ao, saticila esclarecimentos,apresenta reflexoes pessoais e ate objec;oes: nada depara que the eslarvea espontaneidade. (196J. p. 26)

Sua analise sobre indisciplina escolar esta alem das singularidades

expostas, esses acontecimentos cotidianos parecem constituir urn conjunto na

medida em que, par um lado, opoem-se aqueles considerados de natureza violenta,

como, por exemplo, agredir fisicamente um colega ou furar os pneus do carro do

professor.Outro dado interessante sobre indisciplina refere-se ao fato de a indisciplina

atravessar indistintamente as escolas publica e privada, elas parecem sofrer as

masmas tipos de afeito.

A indisciplina seria, 0 inimigo numero um do educadar atual, cujo manejo

das correntes te6ricas nao conseguiria propor de imediato uma 501U98,O, uma vez

que se trata de algo que ultrapassa 0 ambito estritamente didatico-pedagogico

imprevisto ou ate insuspeito no idea rio das diferentes teorias pedagogicas. E um

novo problema para ser resolvido de forma interdisciplinar. Haja vista que a

educa9ao familiar tambem alterou seus pad roes, os rigores religiosos impostos, sao

bem mais brandos, e a questao disciplinar familiar cede espa,o para a liberdade de

expressao e direitos dos filhos, uma transforma9ao hist6rica da vida privada.

Indisciplina, entao, seria 0 sintoma de injun9ao da escola idealizada e gerida

para um determinado tipo de sujeito e sendo ocupada par outro. Ou seja, a

confrontac;:aodeste novo sujeito hist6rico a velhas formas institucionais cristalizadas.Para Aquino (1996, p. 41) esse confronto denota a tentativa de rupturas,

pequenas fendas em um ediffcio secular como e a escola, potencializando assim

uma transic;:ao institucional, mais cedo OU mais tarde, de um modele auto rita rio de

conceber e efetivar a tarefa educacional para um modelo menos elitista e

produ9ao de novos significados e fun90es, ainda insuspeitos, a escola.

Nesse sentido, entender as praticas escolares como testemunhas das

transforma,6es historicas, 0 que significa dizer que seu perfil vai adquirindo

diferentes contornos de acordo com as contingencias socio-culturais, tem-se que

admitir tambem que a indisciplina nas escolas revela algo sabre os dias atuais.Segundo Foucault (1987, p. 134) a ordena,ao por fileiras, no seculo XVIII,

come,a a definir a grande forma de reparti,ao dos individuos na ordem escolar:

filas de alunos na sala, nos corredores, nos patios; coloca,ao atribuida a cada um

em rela,ao a cada tarefa e cada prova; coloca,ao que ele obtem de semana em

semana, de mes em mes, de ana em ana; alinhamento das classes de idade umas

depois das outras; sucessao dos assuntos ensinados, das quest6es tratadas

segundo uma ordem de dificuldade crescente. A seguir a alternancia de series de

acordo com 0 nivel de aprendizagem e capacidade, podendo retornar em caso de

nao aprendizagem. Tal modele nao difere do presente, embora ja se tenham

passados dois seculos.

Aparentemente 0 que mudou na atualidade, sao alguns elementos fisicos,

como nao formar filas na entrada e saida das salas, as carteiras em forma de mesa

e cadeira, fornecem um aspecto de liberdade, desde que nao tiradas do local, caso

contra rio e indisciplina.

Nessa estrutura escolar secular, talvez 0 Que mais sofreu com as mudangassociais foi 0 papel do professor, antes autorit<irio imbuido de poder legal dominante.

Pois, a escola tinha por incumbencia a forma,ao de habitos fisiologicos de atitudes,

de ordem e de asseio; habitos intelectuais; habitos morais e religiosos. Assim

deveria ser impasto ao aluno uma rotina rfgida e de intolenlncia ao primeiro sinal dequebra da ordem, como sujeiras no chao ou borr6es de tinta; ruidos ao retirar 0

material da mala demoradamente, capricho na resolu,ao dos exercicios, saidas

continuas da sala de aula.

A subversao da ordem esta exatamente nesses particulares que tornam os

professores saudosistas, "naquele tempo se aprendia e as crian,as eram educadas".

Mas saudosismos a parte e preciso imaginar uma escola nao contraditoriade atua,ao libertaria na qual a sociedade e a escola formem um todo sinergetico

com 0 intuito de se ter um modelo escolar adequado ao seu tempo. Portanto, se faz

necessario 0 conhecimento de modelos disciplinares com a compreensao dos

movimentos sociais modificadores dos padroes escolares.

Segundo Foucault (1987, p. 126) houve durante a epoca classica, uma

descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Esse corpo que se manipula se

modela, se treina, que obedece, responde, se torna habil ou suas for9as se

multiplicam. Eo 0 homem-maquina, uma redu9ao materialista da alma e uma teoria

geral do adestramento, no centro dos quais reina a n09ao de docilidade. Eo docil um

corpo que pode ser submetido, que pode ser utilizado, que pode ser transformado e

aperfei90ado.

Os metodos utilizados esquadrinham ao maximo 0 tempo, 0 espa90, os

movimentos e permitem 0 contrale minucioso das operac;6es do carpa, realizam a

sujei9ao constante de suas for9as e Ihes impoem uma rela9ao de docilidade-

utilidade, sao as disciplinas, como bern cita Riboulet,A disciplina promove a observancia do regulamento. A regra e principia devida: traz a volta dos mesmos exercicios, das mesmas 1190es;norteia 0

alune hora a hora, dia a dia; am para-o contra seus insHnlas, seu genic,suas veleidades de indolelncia au de independencia prematura, ensina-thea obedecer a sua consciemcia e a Deus. A disciplina cria ambiente propicioao esfon;o pessoal. Canaliza lodas as atividades do jovem em dire9ao aotrabalho; permite a born aproveitamenlo do tempo; comunica a emula~aoeficacia plena; provoca a atenc;ao, falor precipuo de qualquer born exito(1961. p. 12)

Portanto, esse conceito de disciplina reafirma a necessidade de rigidez e

controle efetivo sobre os alunos, muito semelhante a uma tropa do que uma turma

de crian9as e adolescentes.

A rigor a discipiina procede em primeiro lugar a distribui9ao dos individuos

no espa90. Gada individuo no seu lugar; e em cada lugar, um individuo. Evitar as

distribui90es p~r grupos; decompor as implanta90es coletivas. 0 espa90 disciplinar

tende a se dividir em tantas parcelas quando corpos ou elementos ha a repartir. Eo

preciso criar taticas de antideser9ao, antivadiagem, antiaglomera9ao. Eo importante

estabelecer as presenr;as e as ausencias, saber onde e como encontrar as

individuos, instaurar as comunica90es uteis, poder a cada instante vigiar 0

comportamento de cada urn, aprecia-Io, sanciona-Io, medir as qualidades ou os

meritos.

A organiza9ao de urn espa90 serial, a partir do seculo XVIII, tornou possivel

o controle de cada urn e 0 trabalho simultaneo de todos. Organizou uma nova

economia do tempo de aprendizagem. Fez funcionar 0 espa90 escolar como uma

maquina de ensinar, mas tambem de vigiar, de hierarquizar, de recompensar.

Um modelo disciplinar nos moldes tradicionais e 0 processo de exame

vestibular, especialmente os das Universidades Federais: entrada em local de prova

trinta minutos antes do seu inicio; sentar em lugar previamente marcado com seu

numero de matricula e documento de identidade; numero restrito de participantes em

cada sala, tres inspetores imbuidos de poder a qualquer transgressao do

regulamento. Mesmo se considerando 0 avan90 tecnologico imposto ao processo de

vestibular, como cartoes de resposta, ainda nao se venceu 0 modelo disciplinar

tradicional. Posto que os modelos de provas seguem os padroes classicos de

avaliavao do conhecimento, prevalecendo a hierarquia da nota.

Muitos colegios adotam calendarios de provas, com regulamentos rigorosos

para a aprova9ao bimestral: distribui9ao simetrica das carteiras para que nao haja

comunicavao entre os participantes; manter sobre a mesa somente 0 material

necessario a execu9ao do teste; climas de puni9ao a qualquer movimento duvidoso

aliam-se estabelece a postura militar ao ocupante da cadeira de forma a

impossibilitar ao outro qualquer contato fisico ou visual. A prova e um objeto

disciplinar de teor coercivo poderoso sobre 0 psicologico do aluno.

3.1. A DISCIPLINA PELO TEMOR

A psicologia contemporanea chama a aten9ao para 0 importante papel

mediador exercido por outras pessoas nos processos de forma9ao dos

conhecimentos, habilidades de raciocinio e procedimentos comportamentais de cada

sujeito, que indica, delimita e atribui significados a realidade. E assim que os

membros imaturos da especie humana vao paulatinamente se apropriando, de modo

ativo, dos modos de funcionamento psicologico, do comportamento e da cultura,

enfim, do patrimonio da historia da humanidade e de seu grupo cultural.

A apropria9ao pela crian9a desse conhecimento patrimonial pode se dar nos

mais diversos ambientes, principalmente 0 familiar. A atitude dos pais e suas

praticas de cria9ao e educac;ao sao aspectos que interferem no desenvolvimento

individual e, consequentemente, influenciam 0 comportamento da crian9a na escola.

Segundo Aquino (1996, p. 94) "Vygotsky ressalta 0 papel crucial que a educa9ao

tem sobre 0 comportamento e 0 desenvolvimento das fun90es psicologico

complexas, como agir de modo consciente, deliberado, de autogovernar-se,

aspectos estes ligados diretamente a disciplina".Nesse sentido e possivel inferir que 0 comportamento indisciplinado e

aprendido. Portanto, a familia e a escola sao responsaveis por comportamentos

indisciplinados, ja que, na sociedade contemporanea elas sao as agencias centrais

de educa9ao.Eo preciso nesse contexto entender indisciplina como 0 rompimento das

regras determinadas pelo ambiente social passivel de puni9ao pelos guardiaos da

ordem.

Entao 0 processo de aprendizagem e desenvolvimento do conhecimento

atraves da inteligEmcia e substitufdo pelo processo de imita<;8.o das rotinas

tradicionais do patrimonio cultural.Krishnamurti (1976, p. 56) declara que 0 desejo de imitar e um poderoso

tater na vida, nao 56 nos niveis superficiais, mas tambem nos mais profundos.

Quase S8 pode dizer que as pessoas nao tern pensamentos e sentimentos

independentes. Quando Deorram, sao meras rea<;oes e, par conseguinte, nao esUio

livres do padrao estabelecido porque na rea9ao nao ha liberdade.

A imilacao daquilo que deverfamos 5er gera medo; e 0 medo destr6i 0pensamenlo criador. 0 medo em bola a mente e 0 corar;ao, de modo quemio podemos estar despertos para sentir 0 inteiro significado da vida;tarnamo-nos insensiveis aos nassos pr6prios sofrimentos, aos movimentosdos passaros, aos sorrisos e as lagrimas alheias.Uma das consequEmcias do medo e a aceilacao da autoridade naexistElncia hum ana. A autoridade e criada pela nossa deseja de estarcertos, seguros, em conforto, de viver livres de conflilos au perturbac;5esconscientes. (KRISHNAMURTI, 1976, p. 58)

o elemento temor no processo disciplinar sempre foi considerado

indispensavel em qualquer ate de poder e governo. Assim e em educa9ao e 0

historico das doutrinas pedagogicas estabelece que tal sentimento sempre esteve na

origem da autoridade.

o lemor afasta as veleidades de insubordinaC;ao e de resislEmcia, da asordens do mestre mais peso e faz que sejam obedecidas com maiorpresteza e aplicaCao. 0 temor tempera as almas, como a frio, 0 ferro. Todomen ina que nao liver experimentado grande temores, nao possuira grandesvirtudes; as pol€mcias de sua alma nao terao sido postas em movimento.Sao as fortes temoTes da vergonha Que fazem a educac;ao publica superiora educacao domestica, porque a censura publica e a unica que enregela desusto as betas atmas (AIBOULET , 1961. P. 136).

Contudo, 0 elemento temor nao se restringiu ao pensamento humano, criou

formas geometricas de coergao corporal com vistas Ii transformagao do individuo.

Era comum os pais se utilizarem desse expediente coercivo para aterrorizarem os

filhos indisciplinados: "se nao fores obediente te mando para 0 colegio interno".

Numa conotagao similar Ii prisao. Nao diferente a concepgao de escola-edificadora,

embora nao tao assustadora, traz na sua configuragao espacial: salas de aula

fechadas com pouca ventilagao, lado a lado, com corredor central, mantendo nas

extremidades pesadas portas vigilantes. 0 interessante e que 0 visual do predio

possuia algo de assustador, cores s6brias, sem ornamento, um lugar de

recolhimento espiritual.

E como coloca Foucault,

A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos d6ceis.A disciplina aumenta as fOf/tas do corpo (em lermos econ6micos deulilidade) e diminuem essas mesmas forr;:as (em termos politicos deobedie!ncia). Em uma palavra: eta dissocia 0 poder do corpo; faz dele parum lado uma aplidao, uma capacidade Que ela procura aumentar; e invertepor outr~ lado a energia, a polencia que poderia resullar disso, e laz delauma rela~ao de sujeicao estrita (1987, p. 127).

o fato e que 0 temor, sob qualquer forma, impede 0 individuo da

compreensao de si mesmo e das relagOesque traga com todas as coisas. Por isso

a adesao a um credo ou sistema de ideias e uma rea,ao de autoprote,ao. Aceitar a

autoridade pode ajudar temporariamente a esconder as dificuldades e problemas;

mas evitar um problema e apenas intensifica-Io e, quando 0 faz, renuncia-se ao

autoconhecimento e liliberdade.

Para Krishnamurti (1976, p. 5) "a filosofia e a religiao estabelecem metodos

pelos quais se pode chegar Ii compreensao da verdade ou de Deus; entretanto, a

observancia de um metodo significa permanecer sem compreensao nem integragao,

por mais beneficios que 0 metodo parega oferecer ao individuo em sua vida social

de cada dia".

Contudo a que se considerar a importancia do metodo cientifico, onde se

busca a verdade nas reJac;6es interativas do ser humano, conforme se posiciona

Vygostsky (1989, p. 69), baseando-se na abordagem materialista dialetica da analise

da hist6ria humana, acredita que 0 desenvolvimento psicol6gico dos homens e parte

do desenvolvimento hist6rico geral da especie humana e assim deve ser entendido.

A aceita,ao dessa proposi,ao significa ter que encontrar uma nova

metodologia para a experimenta,ao disciplinar. Mesmo porque 0 rompimento com a

disciplina teologica deixou uma lacuna no processo disciplinar escolar.

3.2. A INDISCIPLINA COMO CARENCIA PSiQUICA

E comum nos conselhos de classe 0 professor analisar os alunos pelo

comportamento em sala de aula e os taxarem de inaptos para a convivencia em

grupo ou com desequilibrio emocional e geralmente par problemas gerados na

familia. Aquino (1996, p.4S) observa que as queixas comuns dos educadores

recaem sobre a agressividade/rebeldia, ou apatiaiindiferen,a, ou, ainda,

desrespeito/falta de limites, eventos esses quase sempre representados como

supostos indices de insalubridade moral, alem de obstaculos centrais do trabalho

pedagogico. Contudo, e impossivel a escola assumir a tarefa de estruturaQao

psiquica previa ao trabalho pedagogico; ela e de responsabilidade do ambito

familiar.

A indisciplina, sob 0 ponto de vista, revela, supostamente, sintoma de

rela,oes familiares desagregadoras, incapazes de realizar a contento sua parcela

nos trabalhos educacionais das crianQas e adolescentes. Um esfacelamento do

papel classico da instituiQaofamilia.

Contrariamente ao ja aqui exposto a educa,ao nao e de responsabilidade

integral da escola. A instituiQaoescolar cabe a reproduQaocientifica e cultural, 0 que

fica esquecido em pro de atribui,oes disciplinadaras e moralizadoras.

Tais atribui,oes causam 0 desperdicio da forQa de trabalho qualificada, do

talento profissional especifico de cada educador, 0 desvio de funQao, bem como, a

quebra do contrato pedagogico, 0 que implica, em comprometimento da ordem etica,

uma vez que a proposta de trabalho educacional raramente se cumpre de maneira

satisfatoria. E preciso, portanto que a familia se responsabilize por sua parte na

educa9ao infra-estrutural do aluno.

A principio percebe-se que as familias nao tem controle sobre tais eventos,

nesse sentido, e passivel a escola criar mecanismos de auxllio educacionais asfamilias, nos moldes utilizados para as questoes de saude, como c~;~~~a.'§ASOb\

:::l BJBUj'· r, -:"\

$r-.~' I

~

saneamento basico; apontando para as formas saudaveis de educar seus filhos. Se

e possfvel ensinar a cuidar do corpo e possivel ensinar a cuidar da psique.

Mas isso dependera do metodo disciplinar a ser adotado pela escola, pois

tantas mudangas legais acabaram por confundir os papeis pedag6gicos.

3.3. ESCOLHA DE METODO DISCIPLINAR

A procura de um metodo torna-se um dos problemas mais importantes de

todo empreendimento para a compreensao das formas caracteristicamente humanas

de atividade psicol6gica. Nesse caso, 0 metodo e, ao mesmo tempo, pre-requisito e

produto, 0 instrumento e 0 resultado do estudo (VYGOTSKY, 1989).

Vasconcelos (1993, p. 17) afirma que uma das dificuldades do educador ao

enfrentar a problematica disciplinar e este nao dispor de uma concepgao, de um

metodo, de uma ferramenta eficiente. 0 educador e um idealista, cheio de ideias

bonitas sobre disciplina, geralmente de bases conservadoras religiosas, contudo nao

consegue aplica-las aos seus objetivos. POis,falta-lhe a consciancia dialetica: agao-

reflexao-ag80, conforme quadro 1.

Quadro 1: Planejamcllto das formas de media~ao

Pratica --------II- reflexao ------+- pratica --------II- reflexao

Problema --to> analise -------fo- soluc;ao ------+- analise

Percepc;ao ----+ analise da realidade ----+ atuar na realidade ---+ crftica e

coletiva

Sincretica __ projeg8o da finalidade

Planejamento das formas de mediag80

Assim a construg80 de um metoda parte da reflex80 sobre os estudo dos

tras eixos do esquema: Analise da Realidade, Projegao das Finalidades e Formas de

Mediagao. Neste enfoque 0 trabalho do professor, posto 11prova pela disciplina que

reina no ambiente de aprendizagem, devera conter novas valores a principia

nominados por Vasconcellos (1993, p. 18) de Relacionamento Interpessoal;

29

Organiza,ao da Coletividade (disciplina); Trabalho com 0 Conhecimento em

projetos.Mas 0 sucesso de tal empreitada dependera do envolvimento toda a

organizac;:ao escolar.

3.4. ANALISE DA REALI DADE

A compreensao do problema primeiramente passa pelo conhecimento de

suas causas, oriundas nao exatamente na escola, mas numa sociedade que tende

a anarquia.as valores socio-culturais teologicos e filos6ficos burilados durante os dois

ultimos milenios que configuraram a sociedade perfeita nao conseguiram evitar 0

aumento da desigualdade de classes em virtude do capital excludente,

desarticulador de sonhos e perspectivas futuras.

A problematica do desemprego nao se limita II ausencia de salario, mas

lan,a as pessoas em situa,oes degradantes na busca de formas de sobrevivencia

alternativas, contagiando aqueles a sua volta, ou seja, as crian,as e jovens. Estes

S9 acostumam com a constants quebra dos valores organizacionais, tais como

batidas policiais, parentes presos ou drogados, assassinatos.

Os problemas disciplinares assim maximizados deparam-se com as novas

fontes desorganizadoras do espa,o escolar: a sua utiliza,ao para usa de drogas,

bebidas alcoolicas e demonstra,ao de poder viril. Sendo preciso a interven,ao

policial, travestida em patrulha escolar. Porque a indisciplina dos alunos fere 0

codigo social, transformando-a em caso de policia. Portanto, essa nova realidade

disciplinar transgrediu 0 conceito institucional de que a escola e urn ambiente de

transformac;ao do ser imaturo atraves do conhecimento cientffico.E evidente que esses problemas nao pertencem a totalidade dos alunos,

mas sao altamente perturbadores da ordem e contagiantes, pois se exibem e

demonstram poder ao transgredir 0 espa,o escolar. Em sala de aula sua

demonstra,ao de poder esta na desobediencia ao poder emanado do professor e

alimentado pelos colegas.

Outra realidade e a preocupa,ao do Estado com a estatistica quantitativa

exigindo um numero excessivo de alunos par sala de aula. "E quase impossivel

estabelecerem-se relacoes diretas e significativas entre professor e aluno quando 0

professor tern a responsabilidade de turmas muito numerosas e incontrolaveis".

(KRISHNAMURT, 1976, p. 94).Vasconcelos (1995, p. 25) analisa a tarefa escolar como nao sendo a mais

idilica, nesse contexto. Ha uma desorientacao geral hoje na sociedade: quer se

superar 0 velho, mas nao se sabe bern como e 0 novo. Ha crise da racionalidade,

crise dos projetos sociais, das utopias, do sentido para viver, crise da autoridade em

nivel mundial, mudanca no sistema de valores. Constata-se que as agimcias

produtoras de sentido como, a politica, Igreja, familia, escola, ciimcia, ja nao fazem

tanto sentido, em funcao do poder do capital, gerador do consumo, que hoje faz a

diferenca social, e 0 poder aquisitivo que distingue as pessoas na sociedade.

A identidade escolar devido aos fatores desnorteadores encontra-se em

profunda crise, ate entao, seu papel de seleCao social estava guarnecido pelas

instituicoes e pelo proprio capital que Ihe garantia clientela disciplinada, pOis

dependia dela para a entrada no mercado de trabalho e ascensao social.

Tal situaCaoconfortavel ficou no passado, a crise de identidade e 0 lim das

ideologias, exige neste seculo a reestrutura~ao das perspectivas da escola,baseando-se na Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 que determina novas formas de

atuacao por Competencias e Habilidades, apregoando a preparacao para a vida e

na~ somente para tarefas especificas.

Reconhece-se que 0 conhecimento tornou-se lator principal na prodw;ao.Aprender a aprender Colaca-se como competencia fundamental parainsen;:ao numa dinamica social que se reestrutura continuamente. Aperspectiva 13,pois, de uma aprendizagem permanente de uma formac;aocontinuada, lendo em vista a constru~o da cidadania. Dentro dessasreflexoes, vale deslacar algumas considerac;6es oriundas da Reuniao daComissao Internacional sabre Educa<;aopara 0 Seculo XXI.a) a educa<;aodeve cumprir um triplo papel: economico, cientllico e cultural;b) a educava,o deve ser estruturada em quatro alicerces: aprender aconhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser (MELLO,1998, p. 24).

Contudo a problematica na~ se reduz somente aos sentidos, ha ainda a

questao dos limites na formacao do cidadao que devera ser capaz de autogovernar-

se, de gerenciar a sua aquisicao do conhecimento. A dificuldade para tal e que tanto

o professor, quanto a escola e a familia nao estao com seus autogovernos definidos,

ficando 0 aluno desorientado tambem.

JI

Segundo Vasconcellos (1993, p. 26) a crise social e consentida e ate

incentivada pela classe dominante, que tem como objetivo a dissemina,ao da

permissividade tendo em vista 0 consumismo. Par isso entende que 0 modele

capitalista atual de libera,ao do consumo de bens supertluos e uma exigencia desse

sistema que domina a crian,a, 0 jovem impondo-Ihes condutas mercadol6gicas

traduzidas em marcas e griffes .. "Rousseau descobriu a crian,a para a pedagogia; a

midia, para 0 consumo".o fundamental, portanto, e 0 entendimento das mudan,as ocorridas na

sociedade, nesta decada 0 Brasil tem sofrido sucessivas crises de ordem etica,

politica e economica, que depoem contra a moral e a ordem social. Os programas

televisivos de maior sucesso entre as massas foram os que exploraram acontravenc;8.oem todos os niveis, demonstrando a falemcia das instituic;oes.

o aluno que se atende na escola publica e participante desse mundo

ca6tica, seus conceitos familiares, par mais s6lidos que sejarn, deixam-se contagiarpelo caos prenunciado tambem nas can,oes, como grupos: Os Irracionais,

moradores em favelas, fazem 0 rappy de protesto a ordem estabelecida pela elite

dominante, conclamando a todos a se rebelarem e lutarem por seus direitos de

cidadao; Os Raimundos conjunto pop, por sua vez agradam a garotada com suas

letras recheadas de palavroes e frases subversivas a organiza,ao estabelecida.

Estes fatores Ihe emprestaram tal vigor que toda a institui,ao com suas

regras morais e eticas nao conseguem vence-Ios, posto que os elementos

mantenedores foram retirados do seu meio. As escolas tradicionais possuiam

atividades multiplas, alem da missa, as aulas de orlean, onde se trabalhava os

talentos musicais, aulas de teatro, a expressao maxima do corpo e alma em perfeitaharmonia, principalmente as encena,oes de autos natalinos. Atividades estas de

altissimo valor disciplinar. Assim, a disciplina perfeita de moldes religiosos, cedeu

espa90 a disciplina da midia.

o professor em sala de aula fica preso a esses conceitos tradicionais de

uma boa escola e desta forma delimita a espa,o para as inova,oes que atinge a

juventude.

32

3.5. PROJE9AO DA FINALIDADE

Eo preciso ter-se claro que modelo de disciplina se pretende em sala de aula,

tarefa que cabe ao corpo pedag6gico e administrativo, porque em sala de aula 0

aluno reage sobre aquilo que Ihe e transmitido. Nesse sentido deve haver uma

uniformidade de a,ao entre os professores, nao canalizando esfor,os negativos.

Vasconcelos (1993, p. 27) ao analisar os modelos disciplinares em uso em

sala de aula, faz a seguinte classifica,ao:a) Liberais - e preciso ser condescendente e nao reprimi-Ios, divide a sala e

atende os que querem estudar;

b) Autoritarios - usar 0 poder de autoridade com mao de ferro "com a

autoridade, impera a ordem; com a autoridade, aparece a estima, 0

respeito, a obediencia; fica possivel a educa,ao" (RIBOULET, 1961, p.28).

c) Conformados - a indisciplina e consequencia da epoca em que se vive,

nao ha como S8 rebelar;

d) Comprometidos - se a indisciplina e 0 mal da epoca, como sera possivel

resolver tal problema; 0 que os alunos desejam aprender?

e) Bem resolvidos - intuitivos, ou conscientes;

f) Acusadores - todos sao culpados pelo fracasso do aluno, menos seu

metodo de ensino.

g) Desesperados - veem 0 problema de forma unilateral, as saidas

pedag6gicas para resolu,ao de problemas nao fazem sentido.

A questao e que autoridade e autonomia sao dois palos do processo

pedagogico. Autoridade do professor e a autonomia dos alunos sao realidades

aparentemente contraditorias, mas, de fato, complementares. 0 professor

representa a sociedade, exerce um papel de media,ao entre 0 individuo e a

sociedade. 0 aluno traz consigo a sua individualidade e liberdade. Entretanto, a

liberdade individual esta condicionada pelas exigencias grupais e pelas exigencias

da situa,ao pedagogica, implicando a responsabilidade. Nesse sentido, a liberdade

e 0 fundamento da autoridade e a responsabilidade e a sintese da autoridade e da

liberdade (LiBANIO, 1994, p. 251).

A disciplina da classe esta diretamente ligada ao estilo do professor, a sua

autoridade moral e tecnica. Por iSso, a motiva,ao dos alunas para a aprendizagem,

33

depende do conteudo apresentado e seu significado e compreensao para 0 aluno. Edescobrir seu metodo de trabalho de acompanhamento das a,oes dos alunos.

3.6. PLANEJAMENTO DAS FORMAS DE MEDIAQAO

Se ensinar e vocacao pode-s8 sentir temporaria malogro par nac S8

encontrar uma saida para 0 presente caos em que S8 acha a educavao. E

atualmente, nao e exatamente uma questao de incentivQ, pais esta aconleee em

todos os meios, no lar, na midia, na sala de aula com recursos multiplos.

o ate de ensinar esta ligado ao desejo de fazer 0 aluno rico interiormente,

em virtude do exato valor que ele atribuira aos bens materiais. Quando nao ha

riquezas interiores, as coisas mundanas se tornam demasiado importantes. 0 ato de

ensinar e 0 de ajudar 0 aluno a descobrir suas verdadeiras voca,oes, seu

autoconhecimento, livre de dogmas e preconceitos a ele impastos.Nesse sentido os planejamentos das a,oes docentes devem assumir um

carater especial: acreditar na potencialidade do aluno, independente de sua idade;

descobrir seus talentos e suas habilidades.

o planejamento deve limitar as restri,oes que coibam a livre iniciativa do

aluno, nao se atendo aos defeitos, as impertei,oes do aspecto fenomenico para nao

acentuar esteri6tipos.

Taniguchi afirma que,A palavra e farya criadora. E por isso que os melodos educacionaisortodoxos, que consistem em apontar as pontcs negativos da crianc;:a etentar corrigir-lhes as defeitos, sempre acabam fracassando. Sera infrutiferaa tenlativa de melhorar uma crianca que apresenla pessimo desempenhoescolar, se nos referirmos a ela como uma crianca de mentalidade abaixodo normal. Tolhida pelo efeilo reslritivo de tais palavras, a vida dessacrianca se atrofiara ainda mais, ao inves de desenvolver (1990, p. 3).

E possivel que 0 primeiro passe para um planejamento sadio, esteja na

analise interior de si pr6prio, nao e mais viavel Hmitar-se aos metodos livre seas comformas milagrosas de atuac;8.ae par tim constatar sua ineficacia. Aquele que exploraseu interior com a maximo empenho fara impartantes descabertas sabre a seudesejo de planejar para seus alunos e de como conduzir 0 ensino-aprendizagem.

Posto que seu foco de aten,ao nao e exatamente a Institui,ao.

o segundo passo e atender a uma premissa basica do ser humano de

relacionamento socio-interacionista. A fala e um dos estimulos para a compreensao,

conforme Vigotsky (1989, p. 28) a fala da crian~a e tao importante quanto a a~ao

para atingir um objetivo. Quanto mais complexa a a~ao exigida pela situa~ao e

menos direta a solu~ao, maior a importancia que a fala adquire na opera~ao como

um todo. As vezes a fala adquire uma importancia tao vital que, se nao for permitido

seu USQ, as criant;as nao sao capazes de resolver a situat;8o.Conclui-se, portanto, que as crianc;as resolvem suas tarefas praticas com a

ajuda da fala, assim como dos olhos e das maos. Como resultado, 0 imediatismo da

percep~ao natural e suplantado por um processo complexo de media~ao: a fala

como tal torna-se parte essencial do desenvolvimento cognitivo da crian~a.

Os metodos disciplinares contrariam tal premissa, a fala e qualquer a~ao

que conote indisciplina sao severamente punidas. Os conhecimentos adquiridos

atendem as necessidades do individuo de forma egocentrica, alijando-o do processo

comunicativo. E preciso deixa-los trocar informac;oes, faze rem inferencias pessoais,

brincarem com 0 objeto a ser apreendido ate que este se torne um objeto de desejo.

E para tal e preciso ter um relacionamento real com 0 objeto.

Outra forma mediadora de intera~ao com 0 meio social, que possibilita a

apropria~ao da cultura elaborada pelas gera~6es precedentes se dao atraves dos

signos como Aquino (org.) interpreta,

Vygolsky esclarece que a relattao do homem com 0 mundo nao e urnarelac;;:ao direta. Sao as instrumentos tecnicos e as sistemas de signos,construidos historicamente, assim como lodos as elementos presentes noambiente humane impregnados de significado cultural, que fazem amediar;:aodos seres humanos ente si e deles com 0 mundo. A linguagem eurn signo mediador por excelencia, pOis ela carrega em 51 as conceitosgeneralizados e elaborados pela cultura humana que permitem acomunica~o entre os individuos. 0 estabelecimento de significadoscomuns aos diferentes membros de um grupo social, a percep(:8o einterprela~o dos objetos, eventos e silua(:oes do mundo circundante(1996. p. 94).

o planejamento nesse sentido deixa de atender a uma aula, mas sim a

temas categorizados, onde seus elementos de estudo estao dispostos de forma a

despertar a perce~ao do aluno e assim interagirem com 0 processo de

aprendizagem.

o processo de aprendizagem por estar intimamente ligado a fatores

piscologicos, nao acontece de forma linear e metodica, bem como 0 ato de ensinar.

"

o esludo de lemas calegorizados empresla ao professor a possibilidade de explorar

as diversas formas de media;:ao, seja ela visual, oral ou escrila.

A sele,ao do lema podera ser feila em conjunlo com os alunos, ou de

acordo com a necessidade do conleudo, 0 melodo selecionado devera alender a

dificuldade de compreensao e nao simplesmenle alendimenlo de normas. Ao

ensinar os alunos as normas de comportamenlo devem-se inseri-Ias como conleudo

lemalico. 0 aluno desinleressado e indisciplinado podera em algum momenta do

processo de media,ao ser locado e despertado pelo lema discorrido. A a,ao do

docenle cenlrada em uma lematica Ihe propiciara maior oporlunidade de verificar a

desempenho individual do aluno, possibililando-Ihe uma maior participa,ao no seu

proprio processo de aprendizagem.

Se a preocupa,ao do professor esliver cenlrada na forma,ao do enle

humano, a sala de aula podera ser a lugar de experimenla,ao e explicila,ao da

humanidade que habita 0 ser humano, eleva-Ie ao seu limite maximo, criando novasconfigura,6es humanas. E a compreensao do mundo em que se vive hoje, e

defender a direilo de existir socialmente.

Tais perspeclivas obedecem a Lei 9394/96, no que tange a competencias e

habilidades, e passa necessariamenle par mudan,as no comportamento do docente,

mas lambem no papel ideologico da escola.

Becker, avalia a poslura que se exige do professor em sala de aula,

conforme segue,o essencial da eseela nao e a performance do professor no que se refere atransmissa.o - nem falemos de conslrw;ao! - do conhecimento, mas sim acompetencia no controle do comportamenta, na capacidade disciplinadora.Justifiea-se ludo se a professor tern dominic de turma, sabe impor disciplina.Se um docente inventa alguma forma pedagogica Que inclua a fala doaluna, que tire as carteiras das mon6tonas retas direcionadas para a lousa,se da liberdade para ir ao banheiro na hera que desejar, ele tera que pravarque saba a materia e que sabe ensinar. Esle pacta de mediocridade daescola com 0 professor disciplinador/condicionador e a intolerancia com 0professor que reflele, propoe mudan~as, inventa e tenia novas formas deencarar a relacao ensino/aprendizagem, bem denuncia 0 papel ideologicoda instjtui~ao escolar ( 1993, p. 294).

A escola do seculo XXI se debate enlre as teorias tradicionais e a percep,ao

de que a modelo esla ultrapassado e necessila ser revisto. Mas a lemor da

indisciplina faz com que a instituiqao seja tenlada a implementar maior rigor

disciplinar e quando isso ainda nao resolve, a culpa e do professor que nao lem

conlrole sabre a turma. Ora nao ha curso de disciplina e sim de conhecimento, a

36

didatica tem sua preocupa9ao voltada para 0 metodo e ensinar e supostamente

disciplinar, posto que aluno disciplinado, calado, aprende. Portanto 0 professor ja

planeja sua aula para esse aluno, sem considerar nenhuma variante

comportamental em sala de aula por isso sofre 0 impacto quando a turma responde

com a baderna, barulho e toda especie de brincadeira.

a fato e que 0 aluno atual pertence a uma familia liberal, consumista,

individualista, onde ele e 0 principe; dificil em sala de aula romper com essa rela9ao

e quere-Io coletivo, receptor do controle e de valores conservadores.

Assim, e possivel que a indisciplina possa ser resolvida com a interven9ao

da psicopedagoga que por sua abrangencia observe 0 comportamento domiciliar e

sua correspondencia em sala de aula, a principio observada pelo professor e

comunicado ao profissional que de posse dessas observa90es podera entao iniciar

sua investigar;ao e buscar solur;6es para 0 problema e 0 mais importante auxiliar 0aluno a aprender nao somente conteudos, mas a S8 situar no mundo.

3.7. 0 PAPEL DA PSICOPEDAGOGIA NA ESCOLA

A Psicopedagogia surgiu como uma necessidade de compreender os

problemas de aprendizagem, refletindo sobre as questoes relacionadas ao

desenvolvimento cognitiv~, psicomotor e afetivo, implicitas nas situa90es de

aprendizagem.

De acordo com defini9ao de Barbosa (2002, p. 7) "0 papel do pedagogo na

escola implica em ter uma visao ampla, calcada na hist6ria da aprendizagem e

voltada para as mudan9as que ja sao fatos e para aquelas que ainda estao por vir".

a trabalho do psicopedagogo e relativamente novo no Brasil, cerca de 20

anos, sua evolu9ao foi rapida em decorrencia das necessidades de uma sociedade

em transforma9ao. Sua importancia reside no fato de fazer ampla abordagem da

Neurologia, Psicologia, Psicanalise, Pedagogia, Linguistica, Medicina,

Fonoaudi610gia,Psicomotricidade, Terapia acupacional, 0 que possibilita a inser9ao

de profissionais de diversas areas do conhecimento que desejam compreender 0

processo de aprendizagem do ser humano.

Um dos aspectos de modernizagao da escola esta na incorporagao de bases

psicologicas para a educagao, formulando teorias educacionais centradas na

psicologia, para sustentar os metodos de ensino, a didatica, a elaboragao dos

curriculos, bem como a base comportamental dos alunos. Assim, incorpora 0

conceito de adapta\=ao e normalidade em sua pratica, em seu processo de ensinar, e

na compreensao do que e aprendido.Nesse contexto a Psicopedagogia em sala de aula conceitua 0 aluno a partir

do ponto de vista do seu desenvolvimento cognitivo, psicossexual e social, a fim de

explicar 0 muito daquilo que acontece em sala de aula.

Na questao do desenvolvimento cognitivo a inteligencia repousa sobre agoes

que no decorrer do processo educativo vao se modificando e ganhando carater de

rea90es circulares a me did a que 0 educando cresee, a exemplo, tem-S8 na primeirafase de desenvolvimento da crianga, em idade pre-escolar agoes que nao passam

de reflexos, sem reversibilidade que e a capacidade de fazer e desfazer,

mentalrnente, uma agao ou trajetoria cognoscitiva. Ela e egocentrica, pois e incapaz

de colocar seu ponto de vista entre muitos outros pontcs de vista.Seu raciocfnio e baseado em relayoes anal6gicas que S8 orientam do

particular para 0 particular sendo sincretico; centra a atenc;ao em urn aspectoparticular da realidade, sendo incapaz de atraves de outros aspectos equilibrar seu

raciocinio.

Segundo Fortuna (1996, p. 6-7) as experiencias sexuais infantis fornecem,

ao longo do desenvolvimento, modelos prototipicos de funcionamento, ou seja,

esquemas do que tai vivido em cada etapa, mantem-se em vigor pelo resto da vida,

depois de combinados com as experiencias subsequentes. Atitudes tais como

ataque, voracidade, criatividade, destruigao, produtividade sao resultantes destas

vivencias.Para a autora alem da dualidade prazer/desprazer e pulsoes de vida/pulsoes

de morte, ha 0 importante principio do prazer e principio da realidade que, em

negociayao perens, constituem a "vida", A sublimac;ao, menanismo insconsciente

que desvia a pulsao sexual para urn fim social mente valorizado, em aten9aO nao s6

a realidade, mas ao alfvio da angustia, e ° que interessa, especial mente para a

escola, pOis e ela que dispoe ao sujeito a energia psiquica para aprender, estudar,

conhecer.

38

A curiosidade infantil, a principia dirigida para suas investigac;:6es e leorias

sexuais, se aplica aos contelidos escolares, aos jogos, as brincadeiras, convertendo-

S8 em curiosidade intelectual. Portanto e na idade de 7 anos que com a conversaode seus dilemas em torno das diferen,as sexuais que a crian,a estara disponivel

para aprender.

o desenvolvimento social firmar-se a partir do dominio de uma identidade, a

qual seja, segundo Erikson (1987) "a sensa,iio subjeliva do proprio eu, de sua

existencia como unidade elou individuo, ocupando um lugar no espa,o, tendo uma

continuidade temporal ou historica e desempenhando um papel social".

o sentimento de identidade constitui-se ao longo da vida, sob a for,as dos

vfnculos especificamente com a figura materna e depois com as pais. Nestas

rela,oes desenvolve-se 0 sistema simbolico: cren,as, conjunto de valores, atitudes,

expectativas, habitos linguislicos, dentre outros.

Neste contexto de socializa,iio insere-se a escola, que por sua vez possui

sistemas simbolico proprios, diferentes daquele a que a crian,a estava inserida. A

mudan,a de ordens e valores contraditorios causam 0 que Fortuna (1996, p. 8)

denomina de "desmapeamento - niveis diferentes de consciemcia, de dais ou mais

conjuntos de valores ou mapas internalizados em algum momento da forma,iio dacrianc;:a."

o desmapeamento pode causar conflitos que movem ou paralisam a

aprendizagem escolar, gerando a indisciplina que deixam em muitos casos os pais

at6nitos, pois seu filho jamais fez isso em casa. 0 professor por sua vez critica a

educa,iio familiar por tal comportamento.

Nesse sentido a intelVen,iio da psicopedagoga se faz essencial para

compreensiio do desmapeamento que esta ocorrendo com a crian,a, interpretando

a continuidade ou descontinuidade entre os dois processos de socializa,iio, por

meio de processo investigativo baseado nas a,oes comportamentais do

desenvolvimento, tendo em vista 0 sucesso escolar e com 0 progresso das

aquisic;:6es evolulivas.

Fortuna (1996, p. 9) delineia alguns passos para a atua,iio do

psicopedagogo em sala de aula, conforme segue:

39

a) rever os principais conceitos gerados pela teoria do desenvolvimento e da

aprendizagem infantil relativos a compreensao da crianga e para intervengao

junto ao docente;

b) observar que do ponto de vista de seu desenvolvimento cognitiv~ a crianga

tem 0 pensamento concreto, necessitando de atividades fisicas e mentais;

c) implementar e manter a vida de fantasia da crian,a;

d) enfatizar a ideia da crian~acomo construtora de conhecimento;

e) priorizar 0 trabalho em grupo, com 0 decorrente confrento de pontos de vista

e exigencia de cooperac;ao, como forma de veneer progressivamente 0

egocentrismo e assim aprimorar sua identidade.

Esses pontos podem ser desenvolvidos na agao pedagogica em sala de aula

a partir de planejamento com 0 professor a partir de uma mudanga de postura, em

que ele seja instigante e problematizador, 0 que significa suscitar no aluno sua

capacidade de resolver problemas, sua curiosidade e seu espfrito critieD. Criar

situag6es problemas, apoiando 0 aluno em sua resolu,ao, sem, contudo resolve-Io

para 0 aluno.

Partilhar com 0 aluno a gestao em sala, enaltecendo a necessidade de a,ao

solidaria, que implica ajuste de pontos de vista e sincronia. Bem como, privilegiar 0

carater ludico de forma a tornar a aula prazerosa. 0 espago do faz-de-conta precisa

estar bem demarcado para a crian,a.

Partir das vivencias dos alunos para atingir 0 conhecimento socialmente

valorizado, atraves de atividades pSicomotoras desenvolvidas em grupo ou

individuais, como par exemplo, a elabora~aode materiais de ensina em que todos

participem do planejamento e criagao.

Com esse roteiro baseado em Fortuna (op.ci!.) e possivel compreender que

a agao disciplinar da crian,a em sala de aula nem sempre se liga a educagao

familiar e, portanto chamar os pais para conversar sobre 0 fato pode ser uma atitude

de alienagao da equipe pedagogica e mesmo que nao tenha em seu quadre um

psicopedagogo e possivel contatar um profissional e estudar casos que

aparentemente nao tenham solu,ao. Alem de que na atualidade as escolas ja

contam em seus com pedagogos que fizeram especializa,ao em Psicopedagogia. Eo

preciso entao, criar uma nova cultura na escola de assessoramento da PSicologia ao

40

cotidiano escolar de forma a tornar 0 ambiente escolar 169ico, prazeroso e benefico

ao desenvolvimento e a aprendizagem.

41

CONCLusAoPara que realmente se atingisse 0 objetivo deste trabalho, no que se refere

ao desenvolvimento de uma visao sobre disciplina, a analise dos conteudos de

forma critica, sobre 0 tema proposto devera ser amplamente debatido e discutido na

escola. Seria de maxima importancia tambem discutir a Disciplina no ambito da

escola e da familia, pois se trata de uma questao social.

o tema a disciplina em sala de aula aqui enfocada a principio na visao do

professor que sofre a intervenc;aoem suas aulas extrapolou para as dimensoes de

controle social, sobretudo no que tange a novas formas de educac;ao familiar que

apregoa a liberdade de expressao da crianc;a,que estabelece ac;ao independente e

desconectada da organiza,ao publica.

Entretanto, se a escola se limitar ao papel instrumental das questoes

disciplinares, principalmente sabre a agressividade, se assistira jil. nas primeiras

series do ensino fundamental a,oes de violencia entre os colegas, atitudes

extremamente prejudiciais iIaprendizagem de conteudos e dos valores sociais.

A discipiina enquanto processo de controle da sociedade permeou toda a

existencia do ser humano desde as antigas civiliza,oes. Foi materia filos6fica e se

expandiu para as questoes psicol6gicas de dominio. As religioes tambem dela

fizeram U50, posta que as diversas formas doutrinarias nada mais sao que

elementos disciplinares da conduta humana com 0 objetivo de salvac;aoda alma.

A escola ao assumir a tarefa de educar e preservar as valores da sociedadese ve no meio de um conflito a partir das mudanc;as imperiosas impostas pelo

capital, a sociedade de consumo atinge a todos. As crianc;as atualmente sao objeto

desse movimento e para tanto, devem ter autonomia e vontades pr6prias. A escola

por sua vez, de uma visao tradicionalista presa aos conceitos disciplinares religiosose preocupada com 0 preparo de pessoas para a ocupa,ao de postos de trabalho

busca a manuten,ao de uma unica forma disciplinar, a lei do silencio e da

obediencia.

Ora se a crianc;ae educada sob a 6tica da autonomia tendera a rejeitar as

regras tradicionais impostas na escola e contra elas reagir da maneira que sabe, a

42

birra, a agressividade. Contudo, considera-se tambem que a desorganiza,ao da

familia afeta 0 desenvolvimento comportamental da crian,a em sala de aula.

Seja de que forma for que ocorra a indisciplina S8 faz necessaria uma

analise de caso pela otica da pedagogia e psicologica.

Pouco foi feito no ambito didatico-pedagogico de enfrentamento ao

problema disciplinar com 0 rompimento das regras repressoras, gerando frequentes

reclama,oes por parte dos educadores. Obstaculo ao desenvolvimento pleno da

fun,ao da escola no que tange ao seu papel de reprodutora do conhecimento

cientifico e cultural da humanidade. Prendendo-se as questoes moralizadoras e

disciplinares 0 proprio educador fecha-se a novas experiencias didaticas.

Somente uma base metodologica construida sob novos valores de rela,oes

interpessoais, centrada da atua,ao da coletividade de constru,ao de projetos

mudara 0 panorama ainda reinante de talsos moralismos, preconceitos e crendicessobre a postura dos alunos no espa,o escolar.

A familia deve ser envolvida no processo. Os pais talvez sejam os mais

necessitados de ajuda para melhor compreender seus filhos, independente de sua

conduta disciplinar, posto que a presente proposta visa 0 ate de integra,ao social

atraves de seu proprio conhecimento.o professor, nesta proposta, deve apresentar equilibrio emocional e

disposigao para 0 trabalho, demonstrando ser pessoa confiavel.

o embasamento empirico em Vygotsky demonstra a necessidade de

pSicologia na escola, evidentemente oposta ao desenvolvimento ainda defendido

pelo professor.

o tema disciplina em sala de aula pela sua complexidade nao se esgota em

tratamentos pontuais. Ainda mais porque 0 ser humane encontra-se em constante

processo evolutivo e acompanha-Io requer do educador aprimoramento constante do

seu metodo de trabalho, e nesse sentido e preciso estabelecer uma parceria entre 0

sujeito e 0 educador, tendo condi,oes suficientes para a autonomia, criticidade e

bom senso, a que se poderia chamar de conquista.

A palavra conquista neste contexto leva a pensar na sensibilidade enquanto

educador para 0 crescimento do aluno como um todo. Conquistar e ser conquistado

faz parte da supera,iio pessoal e social do sujeito.

43

Assim, Ii possivel conceituar que Disciplina Ii uma conquista diaria individual

ou coletiva que depende da abertura de espa90s para uma aula dinamica e

animada, em que a crian9a possa se expor sem receios, 0 que desenvolve tamblim

sua auto-estima, fazendo-na sentir-se segura no grupo.

44

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

ANTUNES, Celso. Novas Maneiras de ensinar; novas formas de aprender. PorioAlegre: Artmed, 2002.

__ . Professor bonzinho = aluno diflcil. Petr6polis: Vozes, 2002.

AQUINO, Rubim S. L. de, FRANCO, Denize de A. e LOPES, Oscar G. P. C.Hist6ria das Sociedades: das comunidades primitivas as sociedadesmedievais. Rio de janeiro: Ao livre tecnico, 1980.

BARBOSA, Laura Monte Serrat. Psicopedagogia e Aprendizagem. Coletanea dereflex6es. Apostila. Curitiba, 2002.

BECKER, Fernando. A Epistemologia do professor: 0 cotidiano da escola.Petr6polis:Vozes.1993.

CARVALHO, Jose Sergio Fonseca de. as sentidos da {in}disciplina regras emetodos como praticas sociais. In Aquino, J. G. (Org.). Indisciplina na escola:allernativas te6ricas e pn\ticas. Sao Paulo: Summus, 1996.

COSTAS, Ruth. Com medo dos alunos. Sao Paulo: Veja, Educa,ao, p. 61-66,11 demaio de 2005.

COTRIM, Gilberto V e PARISI, Mario. Fundamentos da Educa9iio: hist6ria efilosofia da educa9iio. Sao Paulo: Saraiva. 1986.

ERIKSON, E. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

FORTUNA, Tania Famos. A psicopedagoia na sala de aula: do porque ao que fazer.Sao Paulo: Revista Psicopedagogia, vol. 15, n' 37 de julho/1996.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisiio. Petropolis: Vozes,1987.

HAETINGER, Max. G. Criatividade: criando arte e comportamento. Porto Alegre:Criar, 1998.

KRISHNAMURTI, J. A educa9iio e 0 significado da vida. Sao Paulo: EditoraCultrix. 1976.

LlBANIO, Jose Carlos. Oidatica. Sao Paulo: Cortez. 1994.

MELLO, Guiomar Nama de. Diretrizes Curricu/ares Nacionais para 0 EnsinoMedio: MEC/CNE. 1998.

NISKIER, LOB, a nova lei da educa9ilo. Rio de Janeiro: Consultor, 1996.

45

REGO, Teresa Cristina R. A Indisciplina e 0 Processo Educativo. In : Aquino, Julio G.(Org.) Indisciplina na Escola: alternativas te6ricas e praticas . Sao Paulo: Surnrnus,1996.

RIBEIRO, Maria Luisa S. Historia da educa"iio brasileira. 3. ed. Sao Paulo: Moraes,1981.

RIBOULET, L. Disciplina preventiva. Sao Paulo: Editora do Brasil S/A 1961.

TANIGUCHI, Massaharu. A verdade da vida. Pedagogia na pratica (1), vol. SaoPaulo: Seicho-no-ie do Brasil. 1990.

TIBA, 19arni. Disciplina: 0 limite na medida certa Sao Paulo: GenIe, 1996.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina: constru"iio da disciplina conscientee interativa em sala de aula e na escola. Cadernos pedag6gicos do Libertad. SaoPaulo: C.S. Vasconcellos, 1993.

VYGOTSKY, L. S. A forma9iio social da mente: 0 desenvolvimento dos processospsicol6gicos superiores. Sao Paulo: Martins Fontes. 1989.