a dimensÃo da competÊncia profisssional do professor

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A DIMENSÃO DA COMPETÊNCIA PROFISSSIONAL DO PROFESSOR A organização e a direção de situações de aprendizagem O professor tradicional sempre foi, e em alguns casos ainda é, o detentor de conhecimentos; ele faz emergir os saberes. Transmitir esses conhecimentos, “dar lições”, corrigi-las e instruir alunos foram, ou são, competências desse modelo de profissional. O destaque, porém, nesta unidade será para competências novas num novo conceito de professor. O conceito de conceptor e dirigente de situações de aprendizagem. Para tal, é preciso MUDAR a partir do entendimento do processo educativo atual e ter coragem para trabalhar muito e de forma diferente. Há várias dificuldades presentes nesse processo e em seus diferentes níveis. Por exemplo, a interação do professor com seus alunos nas séries iniciais de escolaridade é bastante diversa da que tem com alunos adolescentes ou adultos. Pela diferente quantidade de aprendizes por classes, pela forma como se organizam os currículos, pela distribuição de tempo e de espaço, entre outras. A nossa intenção é destacar um ensino-aprendizagem mais centrado nos alunos (com suas representações, suas atividades, as situações concretas com que se defrontam e seus efeitos didáticos) do que no professor que acredita estar fazendo sua parte: ensinar pela opção de transmitir seus conhecimentos. Trata-se, sim, de um professor com VONTADE de CONCEBER SITUAÇÕES DIDÁTICAS de QUALIDADE. Situações amplas, abertas, carregadas de sentido, com pesquisas, identificação e resolução de problemas. Para a concepção, organização e animação de situações de aprendizagem, o professor competente precisa: 1) Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem O problema aqui está na tradução dos conteúdos em objetivos de aprendizagem. É mais importante definir a finalidade de determinada aprendizagem de um conteúdo do que o conteúdo propriamente dito. Não sejamos ingênuos em pensar que basta listar objetivos. O ensino obviamente persegue objetivos, mas não mecânica e obsessivamente. Eles intervêm no planejamento didático, na análise das situações e das atividades, para delimitar ou ampliar o que realmente foi desenvolvido, e na avaliação para o controle dos conhecimentos que os alunos adquiriram. A tradução dos programas em objetivos de aprendizagem tem sua importância na transposição destes para as situações e atividades de aprendizagem. Para que trabalharei um e não outro conteúdo e para que utilizarei esta situação ou atividade e não outra? Isso valoriza o que é para ser valorizado e destacado no processo ensino-aprendizagem: a ação propriamente dita.

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A organização e a direção de situações de aprendizagem.

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  • A DIMENSO DA COMPETNCIA PROFISSSIONAL DO PROFESSOR A organizao e a direo de situaes de aprendizagem O professor tradicional sempre foi, e em alguns casos ainda , o detentor de conhecimentos; ele faz emergir os saberes. Transmitir esses conhecimentos, dar lies, corrigi-las e instruir alunos foram, ou so, competncias desse modelo de profissional. O destaque, porm, nesta unidade ser para competncias novas num novo conceito de professor. O conceito de conceptor e dirigente de situaes de aprendizagem. Para tal, preciso MUDAR a partir do entendimento do processo educativo atual e ter coragem para trabalhar muito e de forma diferente. H vrias dificuldades presentes nesse processo e em seus diferentes nveis. Por exemplo, a interao do professor com seus alunos nas sries iniciais de escolaridade bastante diversa da que tem com alunos adolescentes ou adultos. Pela diferente quantidade de aprendizes por classes, pela forma como se organizam os currculos, pela distribuio de tempo e de espao, entre outras. A nossa inteno destacar um ensino-aprendizagem mais centrado nos alunos (com suas representaes, suas atividades, as situaes concretas com que se defrontam e seus efeitos didticos) do que no professor que acredita estar fazendo sua parte: ensinar pela opo de transmitir seus conhecimentos. Trata-se, sim, de um professor com VONTADE de CONCEBER SITUAES DIDTICAS de QUALIDADE. Situaes amplas, abertas, carregadas de sentido, com pesquisas, identificao e resoluo de problemas. Para a concepo, organizao e animao de situaes de aprendizagem, o professor competente precisa: 1) Conhecer, para determinada disciplina, os contedos a serem ensinados e sua traduo em objetivos de aprendizagem O problema aqui est na traduo dos contedos em objetivos de aprendizagem. mais importante definir a finalidade de determinada aprendizagem de um contedo do que o contedo propriamente dito. No sejamos ingnuos em pensar que basta listar objetivos. O ensino obviamente persegue objetivos, mas no mecnica e obsessivamente. Eles intervm no planejamento didtico, na anlise das situaes e das atividades, para delimitar ou ampliar o que realmente foi desenvolvido, e na avaliao para o controle dos conhecimentos que os alunos adquiriram. A traduo dos programas em objetivos de aprendizagem tem sua importncia na transposio destes para as situaes e atividades de aprendizagem. Para que trabalharei um e no outro contedo e para que utilizarei esta situao ou atividade e no outra? Isso valoriza o que para ser valorizado e destacado no processo ensino-aprendizagem: a ao propriamente dita.

  • Mas, as aes educativas so dinmicas e envolvem mais de um objetivo e mais de uma disciplina pela multiplicidade e complexidade das situaes. A competncia do professor est em organizar e dirigir estas situaes. necessrio que ele conhea os contedos que as envolvam, mas no apenas para torn-las inteligveis aos seus alunos. A competncia requerida hoje em dia o domnio dos contedos com suficiente fluncia e distncia para constru-los em situaes abertas e tarefas complexas, aproveitando ocasies, partindo dos interesses dos alunos, explorando acontecimentos, em suma, favorecendo a apropriao ativa e a transferncia dos saberes, sem passar necessariamente por sua exposio metdica, na ordem prescrita por um sumrio. (Perrenoud, 2000). O grfico pode ilustrar melhor esta competncia do professor.

    2) Trabalhar a partir das representaes dos alunos Nas unidades anteriores, discutimos exaustivamente esta questo, mas importante que a retomemos aqui em um sentido de competncia para ensinar. preciso que o professor se coloque no lugar do aluno, para conseguir ajud-lo a fundamentar-se nas suas representaes prvias. Em seguida, encoraj-lo a encontrar um ponto de entrada em seu sistema cognitivo. Enfim, conseguir uma maneira de desestabiliz-lo apenas o suficiente para, novamente reestabelecer o equilbrio, incorporando novos elementos s representaes existentes, reorganizando-as, se necessrio. 3) Trabalhar a partir dos erros e dos obstculos aprendizagem Voc consegue imaginar um trabalho assim? Pense um pouco: o que voc j aprendeu at este momento na sua vida a partir de erros e obstculos? Certamente sua resposta ter vrios itens.

  • Aprender no memorizar, mas reestruturar o sistema de compreenso de mundo. Isso requer um importante trabalho cognitivo para restabelecer-se um equilbrio rompido. A partir de um problema diante da aprendizagem de um determinado contedo, o aluno procura, dentre os conhecimentos construdos, alternativas para resolv-lo, mas nem sempre as tem ou as tem com conceitos e procedimentos errneos do ponto de vista cientfico. Aproveitar esses erros requer uma competncia do professor para caminhar junto com seus alunos na busca de solues. Ensinar, dessa forma, bastante diferente de se dar uma frmula pronta para que se resolva um problema. Por exemplo, para resolver a situao de ter sado de casa com certa quantia de dinheiro, ter gasto 70 reais primeiramente e, depois, 40 e querer saber quanto era a quantia quando saiu de casa, o aluno que recebeu como frmula para resolver problemas de subtrao, dicas de palavras como gastar, tentar resolver este problema subtraindo 40 de 70. Mas a soluo no coerente, pois 30 como resultado um valor inferior a cada uma das quantias gastas. Deste erro, pode-se solucionar o problema pela soma dos gastos. Deparar-se com o obstculo , em um primeiro momento, enfrentar o vazio, a ausncia de qualquer soluo, at mesmo de qualquer pista ou mtodo, sendo levado impresso de que jamais se conseguir alcanar solues. Se ocorre a devoluo do problema, ou seja, se o aluno apropria-se dele, sua mente pese em movimento, constri hipteses, procede a exploraes, prope tentativas para ver. Em um trabalho coletivo, inicia-se a discusso, o choque das representaes obriga cada um a precisar seu pensamento e a levar em conta o dos outros. (Perrenoud, 2000)