a dieta de quem vive mais o que comem alimente sua … · tecnicamente fruta. o caju é uma haste...

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É VITAL SIM, DÁ PARA PREVENIR A PERDA DE VISÃO INCONTINÊNCIA URINÁRIA: COMO SE LIVRAR DELA APARELHOS AUDITIVOS : A NOVÍSSIMA GERAÇÃO A DIETA DE QUEM VIVE MAIS O que comem as pessoas que passam dos 100 VACINA NÃO TEM IDADE As picadas obrigatórias após os 60 Os 10 itens que não podem faltar no cardápio se você deseja melhorar o foco e preservar as lembranças ALIMENTE SUA MEMORIA SAUDE.ABRIL.COM.BR ESPECIAL LONGEVIDADE R$ 14,00 nº 423

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Page 1: A DIETA DE QUEM VIVE MAIS O que comem ALIMENTE SUA … · tecnicamente fruta. O caju é uma haste polpuda e suculenta, mas o fruto do cajueiro é a castanha que a coroa. Já o figo

É VITAL

SIM, DÁ PARA PREVENIR A PERDA DE VISÃO

INCONTINÊNCIA URINÁRIA: COMO SE LIVRAR DELA

APARELHOS AUDITIVOS: A NOVÍSSIMA GERAÇÃO

A DIETA DE QUEM

VIVE MAISO que comem

as pessoas que passam dos 100

VACINA NÃO TEM IDADEAs picadas obrigatórias após os 60

Os 10 itens que não podem faltar no cardápio se você deseja melhorar o foco e preservar as lembranças

ALIMENTE SUA MEMORIA

SAUDE.ABRIL.COM.BRESPECIAL

LONGEVIDADE

R$ 14,00 nº 423

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DEZEMBRO DE 2017NESTA EDIÇÃO

52HORA DE FECHAR A TORNEIRA

A incontinência urinária já é mais

comum do que se imaginava

34APARELHOS

AUDITIVOS: A NOVA GERAÇÃO

Minimalistas e hiperconectados:

conheça as últimas inovações contra a perda de audição

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SEÇÕES4 ............Ao leitor 5 ............Mural do leitor6 ............ Internet7 ............Compare

8 ............Radar da saúde10 ..........Nutrição12 ..........Medicina15 ..........Alternativa

16 ..........Atividade física58 .......... Sempre quis saber60 .........Filhos62 ..........Bichos

63 ..........Papo-cabeça64 .........Zoom66 .........Com a palavra

20ALIMENTE

SUA MEMÓRIASelecionamos os ingredientes mais

preciosos para deixar a cabeça tinindo

44VISÃO DE FUTURO

Cresce o número de pessoas com

cegueira ou deficiência visual.

Mas dá para prevenir a maior parte dos casos

38VACINA NÃO TEM IDADEMapeamos os imunizantes

essenciais para manter a saúde depois dos 60

28A(S) DIETA(S) DAS PESSOAS QUE VIVEM

MAISO que não falta no

prato dos povos campeões em longevidade

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MURAL DO LEITOR

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Adoro ler as matérias da SAÚDE, não importa o assunto!Juliana de Jesus, via Facebook

Ótimas explicações na reportagem “TOC Não É Brincadeira” [edição 420]. Muitos acham ou ao menos falam que têm essa doença quando na verdade só são perfeccionistas ou organizados demais. Geovânia Ceres, via Instagram

Sofro com fibromialgia há mais de dez anos. No início foi horrível, mas posso dizer que hoje vivo bem melhor. Só que, para isso, os medicamentos não foram suficientes. Precisamos mudar nossa maneira de lidar com o problema. Por isso gostei da reportagem “Malhe a Fibromialgia” [edição 420].Simone Maria, via Instagram

Gostaria de parabenizá-los por reportar a formação dentária desde o período intrauterino [Seção Sempre Quis Saber, edição 420]. É vital que as mães tenham esse conhecimento. Só queria alertar para um equívoco: no cronograma dos dentes de leite, está escrito “primeiros e segundos pré-molares”. Mas não existem pré--molares na dentição decídua, só molares. Monique Silva, por e-mail

A SAÚDE recebeu uma

medalha de ouro e duas de

prata no concorridíssimo

Premios ÑH, da Society for

News Design, pelo trabalho

gráfico brilhante de três

matérias: “A Nova Ameaça

aos Dentes”, “Combata a

Depressão à Mesa” e “O

Dossiê da Infecção Urinária”.

Veja a repercussão nas

nossas mídias sociais:

A revista é realmente de muita qualidade. Parabéns aos envolvidos!Dayane Marques,

via Instagram

Sou designer e fã do trabalho da SAÚDE. Vocês merecem. Michele Pereiras,

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Demais! Adoro essa publicação da Editora Abril.Luiza Domingues,

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Críticas, dúvidas ou sugestões para a revista, é só falar com a gente

SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 2017 • 5

AO LEITOR

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Canta Arnaldo Antunes que “a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”. E ele tem um

bocado de razão. Nunca antes na história deste país (e deste planeta) tivemos uma expectativa de vida tão alta, consequência do progresso da ciência e do acesso à medicina de qualidade. É uma boa notícia, claro. Só que esse fenômeno, por trás da chamada transição demográfica — mais velhos e menos jovens na base da população —, traz consigo desafios sem precedentes: econômicos, sociais e sanitários. E, o que mais nos interessa aqui, dá à luz um dilema de foro individual. Porque não basta viver mais. É preciso também viver bem. Viver feliz. Foi-se o tempo em que se buscava o elixir da longa vida, uma poção mágica que nos faria simplesmente passar dos 100. Hoje a gente quer saber como desfrutar de oito, nove, dez (ou mais!) décadas de vida sem doenças, com liberdade, autonomia e uma boa dose de prazer. Não há uma fórmula única e perfeita para esse propósito, mas existem alguns ingredientes que compõem uma receita de sucesso. E é por esses elementos que passearemos nesta edição. Uma edição todinha dedicada à longevidade. Mas a uma longevidade que abraça a saúde em suas mais diversas esferas: a física, a emocional, a intergeracional. É por isso que vale a pena envelhecer... e cuidar de quem envelhece.

Diogo Sponchiato Redator-Chefe

Redator-Chefe: Diogo Sponchiato Diretor de Arte: Robson Quinafélix Editor: Theo Ruprecht

Editora-Assistente: Thaís Manarini Editora de Arte: Letícia Raposo Designer: Ana Cossermelli Repórter: André Biernath

Estagiários: Giovana Feix, Vand Vieira (texto) e Helena Duppre (arte)

Conselho Editorial: Victor Civita Neto (Presidente), Thomaz Souto Corrêa (Vice-Presidente), Alecsandra Zapparoli e Giancarlo Civita

Presidente do Grupo Abril: Arnaldo Figueiredo Tibyriçá

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Presidente AbrilPar: Giancarlo Civita

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Fundada em 1950

VICTOR CIVITA (1907-1990)

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PUBLICIDADE Cristiano Persona (Financeiro, Mobilidade, Imobiliário e Serviços Empresariais), Daniela Serafim (Tecnologia, Telecom, Saúde, Educação, Agro e Serviços), Júlio Tortorello (Beleza, Higiene, Varejo, Indústria, Pet, Mídia e Cultura), Renata Miolli (Alimentos, Bebidas e Turismo), Rafael Ferreira (Moda, Decoração e Construção), William Hagopian (Regionais), Francisco Britto (Colaboração em Regionais – Contas Governamentais), André Beck (Colaboração em Direção de Publicidade - Rio de Janeiro), Christiane Martinez (Agências de PR e Associações), George Fauci (Colaboração em Direção de Publicidade - Brasília) ABRIL BRANDED CONTENT Patricia Weiss ASSINATURAS E VAREJO Daniela Vada (Atendimento e Operações), Ícaro Freitas (Varejo), Luci Silva (Relacionamento e Gestão Comercial), Patricia Frangiosi (Comunicação), Rodrigo Chinaglia (Produtos), Wilson Paschoal (Canais de Vendas) MARKETING DE MARCAS Carolina Fioresi (Eventos), Cinthia Obrecht (Estilo de Vida e Femininas), Thais Rocha (Veja e Vejinhas) ESTRATÉGIA DIGITAL Edson Ferrão MERCADO/BI Rafael Gajardo OPERAÇÕES DE PUBLICIDADE DIGITAL Renata Guimarães SEO Isabela Sperandio PARCERIAS E TENDÊNCIAS Airton Lopes PRODUTO Leandro Castro e Pedro Moreno VÍDEO André Vaisman (Colaboração em Direção de vídeo), Alexandre de Oliveira (Técnico e Editorial), Rudah Poran (Arte e Corporativo) e Silvio Navarro (Informação) MARKETING CORPORATIVO Maurício Panfilo (Pesquisa de Mercado), Diego Macedo (Abril Big Data), Gloria Porteiro (Licenças), Thiago Barros (Relações com o Mercado) DEDOC E ABRILPRESS Valter Sabino PLANEJAMENTO, CONTROLE E OPERAÇÕES Adriana Fávilla, Adriana Kazan, Emilene Pires e Renata Antunes RECURSOS HUMANOS Alessandra de Castro (Desenvolvimento Organizacional), Ana Kohl (Serviços de RH) e Márcio Nascimento (Remuneração e Benefícios), RELAÇÕES CORPORATIVAS Douglas Cantu (Gerente de Relações Públicas).

SAÚDE É VITAL, edição 423, dezembro de 2017 (ISSN 0104-1568), é uma publicação mensal da Editora Abril. Distribuída em todo o país pela Dinap S.A. Distribuidora Nacional de Publicações, São Paulo. SAÚDE É VITAL não admite publicidade redacional.

IMPRESSA NA GRÁFICA ABRIL - Av. Otaviano Alves de Lima, 4400, Freguesia do Ó, CEP 02909-900, São Paulo, SP

Na nossa edição especial sobre longevidade, mostramos os alimentos que ajudam a preservar a memória, as vacinas indispensáveis depois dos 60 e como driblar uma porção de perrengues que podem pintar com o envelhecimento.

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COMPARE POR GORETTI TENORIO

FONTE: TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS (TACO/UNICAMP)

ENERGIACaju ........................... 40 calFigo ............................ 74 cal

VITAMINA CCaju ..........................219 mgFigo ..............................2 mg

VITAMINA ACaju ......................... 40 mcgFigo .......................... 14 mcg

POTÁSSIOFigo ......................... 232 mgCaju ............................. 0 mg

CÁLCIOFigo ............................35 mgCaju ..............................4 mg

FÓSFOROCaju ............................ 18 mgFigo ............................14 mg

Originários de árvores centenárias, tanto

um quanto outro não são tecnicamente fruta. O caju é uma haste polpuda e suculenta, mas o fruto do cajueiro é a castanha que a coroa. Já o figo é uma infrutescência, ou seja, sua estrutura carnosa é uma reunião de sementes e florzinhas. O caju deve ser colhido já maduro, para aproveitar o auge da doçura e superar a sensação de travo na língua provocada pelo tanino. “Essa substância adstringente é um bom coadjuvante no controle da diarreia”, conta

a nutricionista Deborah Lestingi, de São Paulo. O amadurecimento aumenta ainda o teor de vitamina C, conhecido antioxidante e um de seus principais nutrientes. O figo até pode ser comprado antes do ponto, porque sua massa rosada continua a ganhar sabor depois de retirado da figueira. Ele é campeão em potássio e sua casca carrega luteína, componente importante na prevenção de doenças oculares. Aproveite que o verão é boa época para ambos e abra espaço para a dupla na fruteira.

(Os valores se referem a 100 gramas do alimento)

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JÁ SABE CHEGAR AOS 100 ANOS COM SAÚDE?

O PRÊMIO SAÚDE 2017 ESTÁ CHEGANDOFaremos uma extensa cobertura da 11ª edição do Prêmio SAÚDE, este ano voltado às áreas de nutrição e alimentação. São cinco categorias contempladas: campanha de educação e prevenção, estudo clínico, trabalho experimental, tecnologia de alimentos e nutrição esportiva. Confira tudo sobre o evento e os projetos vencedores no site de SAÚDE e em nossas redes sociais.

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Como você vai ver, esta é uma edição toda focada

em longevidade. Já que é a partir de certa idade que alguns cuidados se mostram mais necessários, dedicamos a maior parte destas páginas a conselhos e esclarecimentos para otimizar a prevenção de doenças e garantir corpo e mente saudáveis por anos e anos. Para saber se você captou as mensagens, bolamos um teste que estará disponível em nosso site — saude.abril.com.br — assim que a revista sair. Como forma de aquecer os motores, já deixamos aqui duas questões para você se autoavaliar. Vamos lá?

1. Algumas doenças oculares estão entre as principais causas de cegueira ligadas à idade. A respeito delas, é correto dizer:a. O diabetes leva à catarata

pelo depósito de glicose no cristalino, uma lente do olho.

b. A degeneração macular pode ser resolvida em uma cirurgia simples.

c. O glaucoma danifica o nervo óptico.

2. Das vacinas abaixo, quais são mais indicadas após os 60 anos?

a. Para gripe, pneumonia e herpes-zóster.

b. Para hepatite A, HPV e pneumonia.

c. Para gripe, sarampo e febre amarela.

Respostas: 1C | 2A

• SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 20176

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UM DADO UM LUGAR

PASSADO FUTURO

NORUEGA, O PARAÍSO DOS MAIS VELHOSO país nórdico é o melhor lugar do mundo para quem já passou dos 60, segundo um ranking feito por várias universidades americanas. Logo atrás, aparecem Suécia, Estados Unidos, Holanda e Japão. Entre os fatores analisados, estão a produtividade, o bem- -estar e a segurança física e financeira. O Brasil não participou do levantamento.

76%DOS IDOSOS não apresentam boa saúde bucal. A estatística vem do Hospital Concord, na Austrália, que avaliou dentes, gengivas e língua de 575 indivíduos internados. Três quartos deles tinham pedaços de comida, tártaro ou placa bacteriana. Manter a boca limpa ajuda a evitar uma série de encrencas no organismo inteiro.

UM PLANO NACIONAL PELO ENVELHECIMENTO SAUDÁVELO Brasil já possui a quinta maior população idosa do planeta — com projeção de crescimento nos próximos anos. Nova estratégia busca elevar a qualidade de vida nessa faixa etária

Antes tarde do que nunca: o Ministério da Saúde anunciou a primeira leva de

políticas públicas voltadas exclusivamente ao bem-estar da população idosa. Se antes o foco estava em tratar doenças, a ideia agora é capacitar os profissionais do sistema público para uma abordagem mais global e focada na prevenção de problemas. O esforço faz total sentido: 14,3% dos brasileiros são idosos, número que deve subir para 20% até 2030. Atualmente, 57% têm hipertensão, 63% estão

acima do peso e 23% já são considerados obesos. O programa funcionará nas Unidades Básicas de Saúde e o atendimento vai levar em conta questões como a necessidade de supervisão por familiares, a vulnerabilidade e o estilo de vida. O governo também distribuirá mais de 4 milhões de Cadernetas de Saúde da Pessoa Idosa, que contêm informações e conselhos sobre o autocuidado. O material ainda servirá de prontuário para o médico escrever orientações personalizadas.

TRISTEZA: MAIS ANTIGA DO QUE PARECENa edição de dezembro de 1987, SAÚDE publicou um artigo do geriatra José Antônio Curiati, do Hospital das Clínicas de São Paulo. No texto, o médico observou um aumento nos casos de melancolia entre aqueles que envelhecem. Hoje, estima-se que 15% desse público sofra de depressão.

SANGUE NOVO CONTRA A DEMÊNCIACientistas da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, infundiram o plasma sanguíneo de jovens em 18 pessoas com Alzheimer. Notaram, então, que os pacientes tiveram uma melhora na realização de atividades diárias. O teste será repetido agora em mais voluntários.

RADAR DA SAÚDE POR ANDRÉ BIERNATH

• SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 2017 SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 2017 • 9 8

UMA FRASE

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“Vivemos uma reinvenção do que é o envelhecimento. Antes, os pais ficavam chocados com o que seus filhos faziam. Agora, os filhos ficarão chocados com o que seus pais vão fazer. É o tempo dagerontolescência.”

Alexandre Kalache, médico brasileiro, ex-diretor da Organização Mundial da Saúde e presidente do Centro Internacional de Longevidade, no Rio de Janeiro

PRESENTE

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NUTRIÇÃO POR GORETTI TENORIO

APIMENTE SEUS ANOS PELA FRENTEQuem diria: o consumo de pimentas está associado a menor risco de morte precoce

ACAMADOS... E DESNUTRIDOS O problema é antigo e já aparecia no Inquérito Brasileiro de Avaliação

Nutricional Hospitalar nos anos 1990. Agora uma nova revisão de estudos confirma a condição como um dos principais desafios de saúde pública

Grande parte dos brasileiros hospitalizados ou em tratamento

domiciliar está desnutrida. “Hoje o perfil mudou, mas, com o aumento da expectativa de vida, vemos mais pessoas nessa situação”, diz o nutrólogo Dan Waitzberg, à frente da nova investigação, que considerou 49 estudos, de 18 países (veja os dados do Brasil abaixo). A desnutrição nem sempre é identificada na triagem antes da internação — não raro, é mascarada até pelo excesso de

peso. Sem o diagnóstico, a pessoa com déficit de nutrientes que passa por cirurgia ou outros procedimentos acaba correndo maior risco de complicações. “É hora de chamar a atenção para a importância da avaliação nutricional nos hospitais e ambulatórios”, convoca Waitzberg, diretor do Ganep Nutrição Humana. “Para mudar esse panorama, é preciso fornecer suplementação antes e depois das intervenções, com continuidade inclusive após a alta”, completa.

FON

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DEDO-DE-MOÇAPicância: 46 mil Nutrientes: magnésio e potássioVai bem em: temperos e saladas

DE MALAGUETA A JALAPEÑOA família das pimentas é enorme. Saiba o nível de ardor e os nutrientes de alguns tipos populares por aqui

A SITUAÇÃO NO BRASIL

OS MAIS ATINGIDOS

PACIENTES QUE RECEBERAM

SUPLEMENTOS TIVERAM...

A lém da riqueza de cheiro, cor e sabor, as pimentas podem

acrescentar às receitas um toque inusitado: estímulo para uma vida longa. A notícia vem da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, onde cientistas analisaram informações de 16 mil pessoas ao longo de quase 20 anos. Debruçados em dados sobre morte e suas causas, eles descobriram que o índice de mortalidade era 13% menor entre aquelas que comiam as ardidinhas pelo menos uma vez por mês. Embora não tenham desvendado totalmente os porquês, os benefícios são atribuídos à capsaicina. Essa substância, responsável pelo ardor do ingrediente, ajuda a regular a dilatação dos vasos sanguíneos. Com a melhora da circulação, ganha-se proteção contra as doenças cardiovasculares. “A capsaicina ainda aumenta a temperatura corporal. Portanto, promove a queima de calorias e favorece o controle do peso”, aponta o nutrólogo Enio Cardillo Vieira, de Belo Horizonte. Só não precisa exagerar e transformar as refeições em uma erupção de vulcão. Dá para tirar proveito das pimentas respeitando a sensibilidade do paladar.

MALAGUETAPicância*: 164 mil Nutrientes: fibra, magnésio e fósforo Vai bem em: pescados e carnes

CUMARIPicância: 210 mil Nutrientes: magnésio, ferro e cálcioVai bem em: cozidos e marinados

JALAPEÑOPicância: 37 mil Nutrientes: vitamina C e potássioVai bem em: molhos e geleias

50%dos brasileiros hospitalizados estavam desnutridos

SÓ 20%tinham essa informação anotada no prontuário

MENOS DE

10%recebiam suplementação

66%dos que passam por tratamento

oncológico têm déficit nutricional

53%dos indivíduos

com mais de 60 apresentam

o problema

14%dos desnutridos morrem durante

a internação

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Entrevista com João Pedro de Magalhães

O CIENTISTA QUE QUER FREAR O ENVELHECIMENTOEle é português, trabalha na Inglaterra e investiga o que podemos aprender com os genes e o organismo de animais que vivem muito. Neste papo, ouvimos suas ideias sobre as promessas da medicina para conter os efeitos da idade

O envelhecimento é um processo que pode ser, digamos, curado?Há um grande debate sobre essa questão, porque o envelhecimento em si não é reconhecido como doença. É algo natural, que acontecerá com todos. Por outro lado, se pensarmos que ele também é prejudicial, pois leva ao aparecimento de doenças — e que podemos intervir para prevenir isso —, então, sim, dá para pensar em uma cura no futuro. É um objetivo que ainda não estamos nem perto de atingir, mas daqui a 50 ou 100 anos, com a evolução da medicina, não há nenhum motivo para não acreditar que seremos capazes de atrasar ou interromper esse processo.

Quais são as tecnologias antienvelhecimento mais próximas de virarem realidade?Uma linha de pesquisa muito promissora é a dos compostos que manipulam o metabolismo e tentam preservar a saúde pelo maior tempo possível. Algumas já estão sendo testadas em humanos e creio que, num futuro próximo, algo como dez ou 20 anos, conseguirão elevar em até 10% a expectativa de vida de uma pessoa. Nada drástico, mas mesmo pequenos avanços nessa área já terão grande impacto na saúde pública.

Como funcionam esses medicamentos?Ainda não está muito claro, mas alguns compostos sintéticos e suplementos

nutricionais parecem atuar nos sistemas nervoso e hormonal, alterando o metabolismo com estratégias parecidas com as da expansão da vida em animais, caso da restrição calórica. Hoje sabemos que, se reduzirmos o número de calorias sem diminuir nutrientes, a longevidade aumenta significativamente. Em ratinhos, já se consegue aumentar em 50% a expectativa de vida com a técnica. Mas em seres humanos isso gera estresse e outras reações secundárias. Por isso existem remédios em desenvolvimento que tentam simular esse efeito.

Algumas pessoas vivem muito acima da média. O que há de diferente nelas? Sabemos que para viver bem durante uns 80 anos fatores como não fumar, comer direito e fazer exercícios são decisivos. Mas, para ter uma longevidade humana excepcional, acima dos 100 anos, a genética passa a ser mais importante. E, quando analisamos os centenários, vemos que os custos de hospitalização e o tempo que eles ficam doentes antes de morrer são bem menores do que os de uma pessoa que vive até os 80. Eles são o exemplo ideal do que queremos atingir, que é viver muitos anos com boa saúde.

Se a genética influencia tanto o envelhecimento, será possível um dia manipulá-la a nosso favor? Algumas técnicas já permitem manipular o código genético de animais

antes mesmo de eles nascerem, modificando suas células-tronco embrionárias. Existem também novas tecnologias de edição do genoma, para destruir ou silenciar genes específicos, que provavelmente receberão o Prêmio Nobel nos próximos anos. Mas ainda não há um jeito seguro e prático de manipular os genes humanos, fora o debate ético em torno do assunto. Creio que isso ocorrerá nas próximas décadas, mas o que está mais perto de acontecer é a criação de drogas que interfiram na parte do DNA relacionada ao envelhecimento ou ainda que simulem o comportamento dos genes dos centenários.

Pode contar pra gente o que é a sua linha de pesquisa em envelhecimento? Sabemos que alguns animais aparentam não envelhecer, como a baleia-da- -groenlândia e o rato-toupeira-pelado. As baleias-da-groenlândia nos interessam muito, pois se estima que vivam 200 anos e, mesmo tendo muito mais células que os humanos — e elas poderiam sofrer mutações nesse tempo —, esses animais não morrem de câncer. Então investigamos quais são as características genéticas e os mecanismos metabólicos por trás dessa longevidade e resistência. Agora planejamos criar ratinhos com genes dessa baleia e avaliar se eles viverão mais e com saúde. Mas isso é uma ideia. Também estamos testando medicações para aumentar a longevidade em experimentos com animais e, graças a colaboradores, temos acesso aos dados genéticos de milhares de pessoas. Assim, há uma outra linha de pesquisa em nosso laboratório para descobrir quais são os genes das doenças relacionadas ao avançar da idade, como o próprio câncer e o Alzheimer.

O senhor acredita que no futuro aumentaremos a expectativa de vida indefinidamente?Acredito que será um processo natural, da mesma maneira que vem ocorrendo nos últimos tempos. Há menos de 150 anos nós vivíamos até os 40 e hoje chegamos aos 80 em alguns países. Mesmo assim, ainda há um limite onde envelhecemos e morremos e, para ultrapassar essa linha, será preciso ter avanços tecnológicos superiores aos que temos no momento. Uma dessas possibilidades é a manipulação genética, ou seja, evoluir geneticamente a espécie para viver mais tempo. Contudo, antes disso precisamos entender melhor os mecanismos por trás do envelhecimento. Existem teorias, mas o fato é que ainda não sabemos ao certo por que ficamos velhos.

João Pedro de Magalhães é biólogo, pesquisador e líder do Laboratório de Genômica Integrativa do Grupo de Envelhecimento da Universidade de Liverpool, na Inglaterra

MEDICINA POR CHLOÉ PINHEIRO

• SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 2017 SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 2017 • 1 3 1 2

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POR GORETTI TENORIOALTERNATIVA

VIGOR NÃO DEPENDE DA IDADE É o que defende uma especialista em novo livro que mistura lições da medicina oriental e da ocidental

Eu sou você — só que melhor — amanhã. É assim que deve ser encarado

o envelhecimento segundo Nadia Volf, uma médica russa expert em acupuntura. No recém-lançado Seja Jovem em Qualquer Idade, focado na saúde da mulher, ela defende a importância de compreender as forças e as fraquezas de cada etapa da vida. Com o autoconhecimento, é possível atuar para reverter ou atenuar problemas típicos do avançar da idade. Para a autora, o segredo está em lançar mão das práticas orientais — além das agulhas, massagem e fitoterapia, por exemplo —, sem menosprezar os recursos da medicina ocidental. “Um torcicolo simples, por exemplo, poderá ser tratado exclusivamente com acupuntura”, ela escreve. “Mas uma artrose cervical vai requerer o uso de anti-inflamatório.” Com capítulos divididos por faixas etárias, Nadia sugere um programa que alia alimentação, atividade física e acupuntura para manter sempre em alta o desempenho do corpo e da mente.

SEJA JOVEM EM QUALQUER IDADE

Autora: Nadia Volf Páginas: 292 Preço: R$ 32,90 Editora: BestSeller

“Nascemos com um

patrimônio genético que

nos programa para viver por

120 ou 130 anos, e é nossa tarefa não nos desgastarmos

precocemente”

Nadia Volf

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SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 2017 • 1 5

UM FUTURO COM SAÚDE, FAMÍLIA E AUTONOMIA

IDADESSEXO

VOCÊ SE SENTE VELHO?

VOCÊ SE CONSIDERA SAUDÁVEL?

QUANTAS VEZES POR SEMANA VOCÊ FAZ EXERCÍCIOS FÍSICOS?

QUANTAS VEZES POR SEMANA VOCÊ LÊ UM LIVRO?*

COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ VAI A EVENTOS SOCIAIS POR SEMANA?

VOCÊ ACHA QUE COME DIREITO?

VOCÊ TOMA REMÉDIOS REGULARMENTE?

VOCÊ TEM ALGUMA DOENÇA CRÔNICA?

Eis com o que sonha e se preocupa a maior parte dos nossos conterrâneos quando o assunto é envelhecer. O diagnóstico vem de uma pesquisa com 2 mil pessoas de dez capitais realizada pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Regional São Paulo, em parceria com a Bayer. Confira seus principais achados

homens

sim

36,1% não 32% não 35,2% não23,8% sim, mais que uma

8,4%21,3%32%38,3%mulheres

não

63,9% sim 68% sim 64,8% sim38,6% sim

37,5% não

pouco preocupado

três ou quatro

três ou quatro dias

três vezes ou maismais de quatro

cinco ou seis dias

não faço

nunca

nunca

uma ou duas

um ou dois dias

uma ou duas vezes

não andar ou enxergar

sem sentimentos por isso

ter doença grave

assustado

ainda trabalhando, pois não dá para se aposentar

ser dependente do SUS

mais de uma vez por ano

ansioso por isso

com saúde equilibradacom algumas doenças

cansado, não querendo fazer nada

com uma família grande

ter problema mental

uma vez ao ano

depender dos filhos

nunca

vou ao médico

como direito

faço exercícios

durmo bem

faço atividades sociais

não fumo

não bebo álcool

nada

outros

ficar sozinho

COMO VOCÊ SE IMAGINA EM IDADE AVANÇADA?

COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ VAI AO MÉDICO PARA FAZER EXAMES?

O QUE VOCÊ FAZ PARA SE MANTER SAUDÁVEL?

QUAIS SÃO SEUS MAIORES MEDOS À MEDIDA QUE ENVELHECE?

49,1% 50,9%

55-60 61-70 71-80 81+

45,7% 54,3%

COMO VOCÊ SE SENTE SOBRE ENVELHECER?

tudo bem com isso32,2%

27,5% 29,3%

23,8%

21,3%18,2%11,8%9,9%9,5%

23,1%

25,5%

20,1%

17,7%

15,6%

14,9%

13,5%

9,8%

23,4%

17,3%

7,6%

7,2%

7%

5,2%

5,2%

3,3%

38,5% 47,8%

51,2% 24,4%

27% 35,7%

37,1%

22,8%

22,1% 16,5%

11,7%

20,5%

12,5%

14,2% 18,1% todos os dias

* OU FAZ ALGUMA ATIVIDADE PARA DESAFIAR O CÉREBRO?

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MEDICINA POR DIOGO SPONCHIATO

• SAÚDE É VITAL • DEZEMBRO 20171 4

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ATIVIDADE FÍSICA POR GORETTI TENORIO

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PASSEIO (E EXERCÍCIO) COM O CACHORRO

Um companheiro de quatro patas esperando para dar uma volta pelo quarteirão é um dos melhores estímulos a se manter ativo

A coleira e a guia dos cães já podem entrar para o rol dos equipamentos de

prática esportiva, a julgar pelos resultados de uma pesquisa das universidades de Cambridge e East Anglia. Os especialistas dessas instituições inglesas convidaram mais de 3 mil indivíduos, todos já passados da casa dos 60 anos, a usar por sete dias um acelerômetro — equipamento que registra os movimentos do corpo. Pelas respostas a um questionário, sabiam quem na turma tinha cachorro e com que frequência passeava com ele. O cruzamento dos dados levou em conta ainda informações sobre o

clima na semana do teste. Não deu outra: mesmo nos dias mais frios e chuvosos, os donos de cães apresentaram níveis de atividade física 20% maiores e passaram 30 minutos por dia menos sedentários do que aqueles sem o incentivo dos amigos animais. “Não temos dados sobre o Brasil, mas estou certo de que a conclusão seria a mesma por aí”, acredita o professor de saúde pública Andy Jones, um dos autores do estudo. Segundo ele, o ganho é de mão dupla: além dos benefícios próprios da caminhada, as pessoas ficam mais motivadas ao atender também às necessidades do bicho.

HORA CERTAFuja do sol forte. Até porque as patas do cachorro sofrem no chão quente.

OLHA A ÁGUA!A dupla deve estar bem hidratada. Leve sempre uma garrafinha com você.

PLANEJE A ROTADesvie de calçadas esburacadas, que cansam e podem provocar quedas.

O LIXO É SEU Não vale sair sem sacolinhas plásticas para recolher o cocô do animal. FO

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SEM TROPEÇOSManual para caminhar com saúde junto ao parceiro canino

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ALIMENTESUAMEMÓRIA

Alguns ingredientes têm mesmo uma afinidade especial com a massa cinzenta. E elegê-los para o cardápio é uma jogada de mestre

para melhorar o raciocínio, ganhar foco e preservar as lembranças

por REGINA CÉLIA PEREIRA | design FERNANDA DIDINI | ilustração: BIA MELO

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ABACATE

SUCO DE UVA

ESPINAFRE, BRÓCOLIS E COMPANHIA

Guarde esta: as hortaliças de coloração verde-escura concentram um mix de substâncias parceiras do sistema nervoso, daí porque não podem faltar no cardápio ao longo de toda a vida. É só escolher sua preferida e caprichar na receita. Mas vale ter em mente que o espinafre merece destaque. Ele fornece bastante luteína, que faz parte de uma família de pigmentos conhecida como carotenoides. Esse componente contribui

Encha seu copo com suco de uva roxa integral e faça um brinde: vida longa aos polifenóis! São esses os compostos responsáveis pela fama da bebida. Em Porto Alegre, um experimento realizado com 35 idosas comprovou que o consumo diário de 400 mililitros melhora a função cognitiva. “Os polifenóis penetram a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro, e inibem danos ligados ao excesso de radicais livres”, conta a biomédica Caroline Dani, do Centro Universitário Metodista IPA e uma das autoras da pesquisa. Não bastasse, eles promovem um aumento nos níveis de BDNF, proteína que estimula novas conexões entre as redes de neurônios, bem como a renovação dessas células. Apesar de a fruta em si conter as aclamadas substâncias, a bebida concentra maior quantidade, pois nela há polpa, casca e semente. E não se esqueça: tem que ser suco 100% integral, combinado?

AO GOSTO DO FREGUÊS

Os vegetais ficam ótimos em sucos, saladas, refogados e cozidos no vapor. Mas não deixe tempo demais no fogo. O calor excessivo pode reduzir o teor de compostos bacanas.

AQUI TEM GORDURA DAS BOAS

• Azeite de oliva

• Amêndoa

• Amendoim

• Castanha- -do-pará

• Gergelim

• Óleo de canola

(e muito!) para a saúde cerebral. Em estudo com 60 pessoas, realizado na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, os maiores consumidores de luteína exibiam memória e raciocínio mais afiados. Os cientistas apostam suas fichas na alta capacidade antioxidante do composto. Combater o excesso de radicais livres é uma estratégia primordial para a cabeça, já que o estresse oxidativo abre as portas para danos aos neurônios e às perdas cognitivas. E as benesses dos verdinhos não param por aí. Além do afamado espinafre, a couve, a rúcula e os brócolis oferecem ácido fólico, vitamina que resguarda a massa cinzenta e ajuda a reduzir o risco de demências. Ela também aparece em vários estudos por atuar em prol do DNA das células cerebrais. A nutricionista Evie Mandelbaum, especialista em gerontologia de São Paulo, afirma que nunca é tarde para incluir esses ingredientes na rotina. “Mas quem tem uma história de alimentação saudável e exercícios físicos já conta com uma poupança para um envelhecimento bem-sucedido”, enfatiza.

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“Abacateiro serás meu parceiro solitário nesse itinerário da leveza pelo ar.” Seja nos versos de Gilberto Gil, seja nas receitas doces ou salgadas, o fato é que o abacate deveria fazer parte do dia a dia. Apesar das calorias, a polpa cremosa é um concentrado de substâncias que, entre inúmeras funções, blindam a massa cinzenta. “O fruto é rico em vitaminas B6, B12, C e E, além de selênio, luteína, colina e outros compostos fundamentais para os neurônios”, elenca o nutrólogo e cientista de alimentos Edson Credidio, que pesquisou o fruto na Universidade Estadual de

Campinas (Unicamp), no interior paulista. A deliciosa consistência denuncia seu alto teor de gordura, que, diga-se, é das boas. Trata-se da monoinsaturada, que protege as artérias, garantindo ótimo fluxo sanguíneo inclusive para o cérebro. Um estudo americano aponta uma ligação desse tipo gorduroso com a melhor funcionalidade de uma área na cuca que tem papel crucial na concentração e no aprendizado. A conclusão é que o nutriente aperfeiçoa as conexões entre os neurônios presentes na chamada rede de atenção dorsal do cérebro. Só não rola exagerar.

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AZEITE DE OLIVA

Memorize este nome: oleocantal. A nutricionista Vanderli Marchiori, presidente da Associação Paulista de Fitoterapia, relata que já há evidências de que a substância reduz o risco de Alzheimer. Mas nem só de oleocantal se faz o azeite de oliva. Ele concentra gordura monoinsaturada e uma porção de antioxidantes. Não à toa ter recebido a alcunha de defensor da memória. Quem corrobora essa tese é uma equipe da Universidade Temple, nos Estados Unidos, que demonstrou, em animais, que o legítimo óleo de azeitona impede a proliferação das placas beta-amiloides. Essas estruturas estão associadas à destruição dos neurônios e à interrupção da comunicação entre eles (as sinapses), desencadeando a doença que provoca o esquecimento. Vanderli sugere ao menos uma colher de sopa diária do tipo extravirgem.

“Recordo (creio) suas mãos delicadas de trançador. Recordo próximo dessas mãos um mate...” O trecho vem do conto Funes, o Memorioso, e — vai saber? — revela um dos segredos do personagem criado pelo argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Funes tinha uma memória sobrenatural, lembrava-se de tudo, nos mínimos detalhes... Seria por causa do chá? Ficções à parte, não é de hoje que ele está entre os ingredientes com ação neuroprotetora — especialmente o tipo verde.

Anote e cole na porta da geladeira: salmão, atum, sardinha, arenque e cavalinha devem aparecer pelo menos duas vezes por semana no cardápio. Essa é a sugestão da nutricionista Lara Natacci, da clínica Dietnet, na capital paulista. Se antigamente se falava dos pescados como fontes exímias de fósforo, um nutriente caro ao cérebro, hoje o que se enaltecem são os teores de ômega-3. Essa gordura do time das poli-insaturadas é reverenciada por diversos motivos. E um deles tem a ver

QUAL O MELHOR?

Camomila, hortelã e erva-cidreira são infusões que favorecem a digestão e o sono, mas não têm relação com a memória. E, ainda que os chás branco, vermelho, mate e outros à base de Camellia sinensis ofertem as substâncias do verde, todos estão longe de exibir a mesma quantidade da badalada bebida.

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CHÁ PEIXE

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A bebida, de sabor levemente adstringente, é feita com a erva Camellia sinensis, espécie asiática que guarda a epigalocatequina galato, ou EGCG. “É um potente antioxidante. E o chá-verde contém ainda cafeína e L-teanina, entre outros compostos”, destaca a biogerontóloga Ivana Cruz, professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Há comprovação de que essa rica mistura ajuda a barrar agressões ao hipocampo, uma das principais regiões cerebrais associadas à memorização e ao aprendizado. Um trabalho japonês, da Universidade de Shizuoka, indicou que o consumo cotidiano de chá-verde foi eficaz no combate ao declínio cognitivo em idosos. Outras pesquisas sugerem que as substâncias da erva ajudam a evitar a deposição das placas ligadas ao Alzheimer e até colaboram com a formação de novos neurônios. Os benefícios, aliás, viriam até por vias indiretas. “Uma revisão de estudos mostra impacto na ansiedade, o que também melhora a cognição”, conta a professora Ivana.

com a cuca. “O ômega-3 atua na conexão entre os neurônios, facilitando a plasticidade sináptica”, afirma Lara. Em resumo: a conversa entre essas células flui tranquilamente. A gordura auxilia ainda na produção de neurotransmissores e tem ação anti-inflamatória, deixando o caminho livre para células do cérebro se regenerarem. Inclusive não faltam pesquisas que colocam os ácidos graxos poli-insaturados como soldados de primeira linha na luta contra o próprio Alzheimer.

NOZES, CASTANHAS E AFINS

Elas esbanjam selênio. “E há uma forte relação entre a deficiência desse nutriente e o surgimento de problemas cognitivos durante o envelhecimento”, diz Hércules Rezende, nutricionista e neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vitamina E e gorduras boas completam a receita neuroprotetora das oleaginosas. Estudos revelam que o consumo desses alimentos interfere nas ondas cerebrais envolvidas com a retenção de informações e o aprendizado. E que tal apostar nas brasileiríssimas castanha-do-pará, de caju e da menos conhecida baru? Claro: nozes, amêndoas e pistaches são outras ótimas opções para não cair na mesmice. Lara Natacci indica meia xícara ou um punhado por dia.

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NA COZINHA

A dica é aproveitar a pele do peixe, onde há altas doses de ômega-3. Já o modo de preparo vai do gosto do freguês. Mas não é para comer fritura toda hora ou grelhar até passar do ponto. Isso forma aminas heterocíclicas, moléculas perigosas para as células nervosas.

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CHOCOLATE AMARGO

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Bombons e tabletes são sinônimo de felicidade, e a ciência já mostra que o bem- -estar emocional é um guardião do cérebro. Mas é preciso esclarecer que os atributos do chocolate são, na verdade, originários de sua principal matéria-prima, o cacau. É a composição do fruto que está por trás de efeitos antioxidantes e promotores da boa circulação sanguínea. “Substâncias como teobromina, cafeína, teofilina e alcaloides purínicos podem atuar como estimulantes no sistema nervoso”, conta Hércules Rezende. E uma revisão italiana recente, publicada no periódico Frontiers in Nutrition, comprova tal habilidade. A pesquisa cita efeitos positivos sobre a memória de trabalho, cognição, atenção e, de quebra, na redução do risco de problemas cardíacos. “A quantidade adequada de chocolate não está

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MAIS CACAU, POR FAVOR

Como os benefícios do chocolate vêm dos flavonoides do cacau, quanto maior a concentração do fruto na barra, melhor. O tipo meio amargo apresenta até 60%, já os amargos de verdade devem ter a partir de 70%. “Uma dica é comer o de 70% e um pedacinho do ao leite para que o sabor mais doce predomine”, orienta Vanderli.

Você deve se recordar que ele figura entre os alimentos mais injustiçados de todos os tempos — sua culpa era carregar muito colesterol. Agora, assistimos ao seu livramento, já que estudos o safaram da pecha de vilão das doenças cardiovasculares. Que sorte (também!) para a nossa cabeça. Excelente fonte de proteínas, com destaque para a albumina, o alimento possui preciosidades como a luteína, aquele pigmento que pertence ao grupo dos carotenoides. E, conforme contamos lá atrás, sobram evidências de seu papel contra o declínio cognitivo. A gema do ovo também está repleta de colina, uma das vitaminas

bem estabelecida, mas alguns estudos falam em 30 ou 40 gramas do tipo amargo por dia”, relata a nutróloga Andreia Pereira, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A médica faz questão de frisar que abusos culminam no aumento do peso.

Apesar de a bebida carregar dezenas de compostos, caso dos fenólicos (que, veja, turbinam a bioquímica cerebral), a cafeína ainda é a estrela. Pesquisas revelam um elo entre a substância e a diminuição dos níveis das famigeradas placas beta-amiloides. “Isso explicaria seu efeito protetor contra as demências”, diz Ivana Cruz. Mas o exagero nos goles não é bacana. Cafezinhos além da conta estão por trás de insônia, taquicardia e nervosismo, especialmente para os mais sensíveis. O ideal é saborear, no máximo, cinco xícaras ao dia. A professora da UFSM ressalta que os alimentos devem surgir à mesa, sim, devido a suas propriedades benéficas, mas também pelo prazer que propiciam. Aliás, a festejada cafeína dá as caras em outras opções. “Aqui no Sul, os gaúchos tomam o chimarrão para despertar. Já no Amazonas, as bebidas com o pó de guaraná são bem populares”, nota. Sem sacrifícios, a cabeça responde ainda melhor.

do complexo B — cada vez mais famosa por auxiliar na consolidação da memória. “Trata-se de um nutriente essencial para a formação do neurotransmissor acetilcolina, importante regulador do aprendizado no córtex cerebral”, explica o professor Hércules. Em testes com animais, já se viu que a deficiência de colina pode afetar o funcionamento interno de células no cérebro. E esse desarranjo repercute negativamente na cognição. Para quem está com exames em ordem e não tem nenhuma restrição médica, dá para colocar a gema no cardápio diariamente. Desde o café da manhã, na omelete, passando pelo almoço ou jantar e nos lanches, o ovo entra em uma porção de receitas. E fique tranquilo: os teores de colina se mantêm mesmo quando o alimento passa pelo fogo. Portanto, abuse da criatividade na cozinha.

ALÉM DA GEMAConheça outras fontes de colina

• Fígado bovino

• Gérmen de trigo

• Grãos de soja

• Carne de porco

• Abacate

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Okinawa

E se viver mais e melhor dependesse das nossas escolhas alimentares? O escritor americano Dan

Buettner não só defende que é possível aumentar a longevidade com bons hábitos como desen-volveu um método para chegar lá — e ele se baseia em larga medida em ajustes no cardápio. Buettner faz questão de argumentar que, por meio de estudos com gêmeos, já se estabeleceu que apenas 20% da nossa expectativa de vida é de-terminada pelos genes. “A maio-ria dos seres humanos tem capa-cidade para viver muito bem, sem doenças crônicas, até pelo menos os 90 e poucos anos”, diz.

Foi em busca de uma resposta para o que compõem os outros 80% da equação que o americano rodou o mundo por sete anos e estudou cinco regiões que detêm os maiores índices de longevida-de do planeta. Nessa investigação — que deu origem a quatro livros best-sellers —, Buettner revelou histórias como a da americana Marge Jetton, de Loma Linda, na Califórnia, e a de Tonino Tola, morador da Sardenha, Itália.

Com 100 anos, Marge pedala mais de 10 quilômetros diaria-mente em uma bicicleta ergo-métrica e faz trabalho voluntário todas as tardes. Tola, aos 75 anos, não deixou de ralar na criação de cabras na região montanhosa onde reside. Segundo Buettner, Marge e Tola têm muito em co-mum com os habitantes da vila pesqueira de Okinawa, sul do Japão, com os gregos da ilha Icá-ria, no mar Mediterrâneo, e com os costa-riquenhos da península de Nicoya. Essas cinco pequenas localidades, redutos de centená-rios, foram batizadas pelo explo-rador americano de zonas azuis (blue zones, em inglês) e, juntas, têm muito a ensinar sobre o que comer para soprar mais e mais velinhas de aniversário.

“Enquanto eu trabalhava nas zonas azuis, entendi que ter um propósito de vida, um círculo de amizades saudáveis e viver em locais convidativos a cami-nhadas eram elementos tão im-portantes como uma boa dieta. Mas também compreendi que a comida é a porta de entrada para uma vida melhor. É uma ma-neira de começar”, conta. Para quem mora em grandes cidades, pode ser complicado adotar os hábitos desses lugares tão pito-rescos — de fato, ali as pesso-as vivem mais próximas umas das outras e em contato com a natureza. Mas as mudanças à mesa são mais acessíveis. Por isso Buettner elencou dez man-damentos para inspirar uma ali-mentação pró-longevidade — e a vantagem é que eles permitem adaptações regionais.

Um pesquisador viajou o mundo para estudar o que comem os povos mais longevos do planeta. Com as suas descobertas, ele reúne lições à mesa a quem deseja ampliar a expectativa de vida

por NAIRA HOFMEISTER e SÍLVIA LISBOA | design FERNANDA DIDINI e LETÍCIA RAPOSO | fotos DULLA

A(S) DIETA(S) DAS PESSOAS QUE VIVEM MAIS

OKINAWA(JAPÃO)

A ilha ao sul do Japão é uma das cinco zonas azuis mapeadas por Dan Buettner. Estima-se que metade de todos os nutrientes que sua população consome durante a vida venha de uma batata-doce cultivada lá — ela é rica em betacaroteno, substância aliada dos ossos e da visão. Outro destaque são os alimentos feitos a partir da fermentação da soja, como o tofu e o missô. Cheios de flavonoides, ajudam a equilibrar a flora intestinal e proteger o coração. A ingestão de carne é eventual por lá, mas os okinawenses adoram porco. É servido depois de muito tempo de cozimento, o que reduziria a concentração de gordura.

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Loma Linda

Nicoya

DEZ MANDAMENTOS DAS ZONAS AZUIS Nestas e nas próximas páginas, conheça os conselhos alimentares extraídos dos povos que mais vivem no mundo

PRIORIZE O NATURALSempre que possível, opte por legumes, verduras, frutas e grãos frescos.

COMA MENOS CARNEBifes, hambúrgueres e afins devem ser relegados a ocasiões especiais.

INCLUA PEIXES NA ROTINADevem aparecer três vezes por semana, em porções que caibam na mão.

MODERE NOS LÁCTEOSA recomendação se refere ao leite de vaca. As opções de ovelha e cabra estão liberadas.

CORTE O AÇÚCARA meta é reduzir a ingestão a sete colheres de chá ao dia ou substituir por mel.

NICOYA (COSTA RICA)

Dan Buettner garante que a combinação de milho, feijão e abóbora, muito comum na culinária desta península da América Central, é “a melhor alternativa nutricional para a longevidade”. Desse combo seria possível extrair toda a proteína de que o corpo humano necessita. O ceviche — peixe cozido no limão com ervas e normalmente associado à cozinha peruana — também aparece na culinária local. Outro hábito elogiado são as atividades ao ar livre, que ajudam na síntese da vitamina D — a deficiência da substância no organismo nos deixa mais suscetíveis a osteoporose e outros problemas de saúde. E olha que 15 minutos de sol já são o suficiente para produzi-la.

LOMA LINDA (EUA)

Esta cidade da Califórnia foi povoada por membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que difundiram sua cultura (inclusive alimentar) na região. Porções de oleaginosas (nozes, castanhas...) cinco vezes por semana estão entre os segredos da vida longa dessa comunidade, que é menos refém de doenças cardíacas. A proteção é reforçada pela alta ingestão de frutas, cereal de arroz e pão caseiro integral, além do costume de tomar pelo menos sete copos de água por dia. A fé também conta pontos aqui. Os especialistas calculam que ela ajuda os locais a viverem, em média, dez anos a mais que a população americana.

A maior parte dos precei-tos reunidos por Dan Buettner reforça o que a ciência já vem mostrando: o melhor cardápio é aquele recheado de frutas, legu-mes, verduras, grãos e um pou-co de proteína animal. Nozes, castanhas e farinhas integrais valem ouro, o consumo de açú-car deve ser limitado, e a melhor hidratação é com água pura mesmo. Comer pouco e dar pre-ferência a alimentos in natura completam as recomendações.

Mas o americano radicaliza em alguns pontos. Sugere que o cardápio deve alojar 95% ali-mentos de origem vegetal e só 5% de conteúdo animal. Carne vermelha só deveria entrar no prato em ocasiões especiais. “É uma proporção um tanto exagerada, porque a absorção de alguns nutrientes dos vege-tais nem sempre é totalmente garantida”, avalia o geriatra Nelson Iucif Jr., diretor da Asso-ciação Brasileira de Nutrologia. “Limitar as carnes é vantajoso até uma idade, só que idosos perdem massa muscular mais rápido, e a proteína animal ainda é a melhor opção”, argu-menta. Segundo Iucif, os mais

velhos deveriam comer uma porção de carne diariamente.

A dieta das zonas azuis tam-bém prega para evitarmos, quando possível, o consumo de lácteos — não porque façam mal, mas porque são coisa rara na mesa das comunidades mais longevas. A exceção fica por conta de queijos como o pecori-no, produzido com leite de ove-lha, e o feta, de cabra, comuns na Itália e na Grécia. Especia-listas discordam desse rigor. “A maior fonte de cálcio para o ser humano ainda é o leite, que também é bem-vindo à micro-biota intestinal e ajuda a nos proteger de doenças”, afirma o professor de nutrição Antonio Herbert Lancha Jr., da Universi-dade de São Paulo.

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SardenhaIcária

ICÁRIA (GRÉCIA)

A população desta ilha grega tem uma alimentação que é a cara do menu mediterrâneo — aliás, ela está envolta pelo mar que dá nome à famosa dieta condecorada pelos profissionais de saúde. Em sua base, estão peixe, azeite de oliva, frutas e verduras. Uma peculiaridade local é o apreço pelos chás preparados com ervas que geralmente usamos para temperar a comida. Cientistas já observaram, por exemplo, que infusões de alecrim, sálvia e orégano formam uma potente bebida antioxidante, que age como diurético natural e ajuda a manter a pressão arterial sob controle. A paisagem (linda!) também faz bem à saúde.

SARDENHA (ITÁLIA)

O leite de cabra produzido pelos habitantes desta ilha montanhosa no sul do país parece proteger o organismo de inflamações associadas à idade. Fora que contém altas doses de potássio, inimigo da pressão alta, e triptofano, um poderoso antiestresse. Outra bebida da região entusiasma os médicos. É o vinho típico, feito com a uva Cannonau, e que tem três vezes mais flavonoides que outros rótulos. Os tais flavonoides já são reconhecidos pela ciência por sua capacidade de ajudar a limpar as artérias. O hábito italiano de bebê-lo entre amigos acrescenta uma dose de bem-estar à receita — e anos a mais pela frente.

INVISTA NOS GRÃOSConsuma um copo por dia de grãos integrais, espalhados entre as refeições.

CAPRICHE NAS OLEAGINOSASNozes, castanhas, amêndoas... A dica é saborear um punhado diariamente.

VÁ DE FARINHA INTEGRALPreconize essa versão no mercado e nas receitas de massas, pães, tortilhas...

ATENÇÃO COM PROCESSADOSDan Buettner pede para abolir produtos formulados com mais de cinco ingredientes.

BEBA ÁGUAA dieta das zonas azuis orienta pelo menos seis copos ao dia — e nada de refris diet ou normais.

Muita calma antes de falar que os ensinamentos das zonas azuis não se aplicam ao menu brasileiro. Felizmente, temos vasta oferta de ingredientes que se encaixam na dieta da longe-vidade. O arroz com feijão, por exemplo, é excelente alternati-va para chegar à recomendação de um copo de grãos por dia — prefira o arroz integral, por fa-vor. Outro curinga nutritivo é a mandioca, também chamada de macaxeira ou aipim por aqui. O tubérculo provê energia junto a nutrientes e fibras. Pode substi-tuir a massa de trigo, com a van-tagem de estender a sensação de saciedade. “Polenta e cuscuz são

outras ótimas opções”, lembra a nutricionista Bernardete Weber, do Hospital do Coração (HCor), na capital paulista.

Nas zonas azuis, come-se pei-xe pelo menos três vezes por semana. E esse é um artigo que não falta num país com 7,4 mil quilômetros de costa e muitos rios. Os pescados de água salga-da, caso da popular sardinha, ainda fornecem ômega-3, gordu-ra importante para o cérebro e o coração. Na falta da versão fres-ca, dá para apostar na enlatada.

O lanchinho que salva as tar-des indicado por Buettner, uma mistura de oleaginosas, também pode ganhar tom e sabor tupini-quins. “Temos todas as nuts no Brasil. No Sul, a noz-pecã. No Norte, a castanha-do-pará e a de caju”, destaca a neurologista Márcia Chaves, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

E se o azeite de oliva, em geral importado, estiver muito caro, a dica é suprir as doses diárias de antioxidantes com suco de uva ou açaí, que res-guardam as artérias. “Fora que ainda temos o abacate, hoje re-comendado inclusive nas die-tas de baixa caloria”, nota a nu-tricionista Camila Torreglosa, do HCor. Não é preciso mudar de país para somar uns anos a mais — basta pegar a essência do que fazem os povos mais longevos e aplicá-la em suas próximas escolhas à mesa.

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Ludwig van Beethoven (1770-1827) já estava praticamente surdo quan-do começou a criar, aos 48 anos, sua obra mais famosa, a Nona Sinfonia.

Se existissem aparelhos auditivos na Vie-na do século 19, o compositor, que sofria de otosclerose, doença genética que com-promete a estrutura interna do ouvido, te-ria conseguido trabalhar até o fim da vida. Quase dois séculos depois, esses dispositi-vos eletrônicos prestam serviço a pessoas nas mais diversas faixas etárias e ocupa-ções — de músicos a quem curte “apenas” ouvir um som. E, agora, dão um concerto de modernidade: estão cada vez menores e mais conectados, são à prova d’água e ostentam baterias de longa duração.

Não pense que é pouca gente que deve comemorar a tendência. No Brasil do século 21, algo em torno de 10 milhões de cidadãos apresentam algum grau de perda auditiva. Desse total, 2 milhões não ouvem quase nada e só se comunicam quando o interlocutor au-menta bastante o tom de voz. “A causa mais

prevalente de perda auditiva é o envelheci-mento”, aponta a fonoaudióloga Luciana Macedo de Resende, da Universidade Fede-ral de Minas Gerais. “No entanto, a surdez decorrente de poluição sonora tem ocorrido em uma idade cada vez mais precoce”, aler-ta. É isso que amplia o escopo de atuação dos aparelhos auditivos. “Sempre que a perda de audição interferir na comunicação e no aprendizado, o médico deve indicá-los”, diz o otorrinolaringologista José Ricardo Testa, pre-sidente da Sociedade Brasileira de Otologia.

O déficit auditivo tem, em geral, dois grupos de causas: as congênitas, como a otosclerose de Beethoven, e as ambientais, caso da idade e da exposição a barulho. Diante de suspeitas, o conselho é fazer os exames audiológicos. “O ideal é detectar o problema quanto antes. Isso não quer dizer que a deficiência vai estacionar ou regredir, mas, com o uso de uma prótese, consegui-mos maximizar a audição do usuário”, ex-plica Thelma Costa, presidente do Conse-lho Federal de Fonoaudiologia.

Hiperconectados, minimalistas, ultrarresistentes... Como a tecnologia está aperfeiçoando os dispositivos

para superar a perda de audição

por ANDRÉ BERNARDO | design EDUARDO PIGNATA | ilustrações OTÁVIO SILVEIRA

A NOVAGERAÇÃO

APARELHOS AUDITIVOS OS GRAUS DA PERDA DE AUDIÇÃOO gráfico mostra os limites de captação dos sons nos quatro níveis do problema

LEVE A pessoa até interage em um bate-papo entre amigos, mas tem dificuldade para decifrar cochichos, por exemplo.

MODERADA Não se consegue falar ao telefone ou assistir à televisão sem aumentar o volume do aparelho.

SEVERANão é possível manter uma conversa em tom normal (60 dB). O indivíduo só consegue escutar ou se faz entender em volume bem alto.

PROFUNDAA pessoa escuta apenas ruídos estridentes como os de buzina, de britadeira ou aparelho de MP3 no volume máximo (entre 110 e 130 dB).

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INOVAÇÕES AUDITIVASComo a tecnologia está revolucionando o mercado dos aparelhos para ouvir melhor

ADEUS, PILHAS!Há versões que, com apenas três horas de carga, oferecem 24 horas ininterruptas de audição. Tá com pressa? A opção de recarga rápida de 30 minutos rende até seis horas de uso imediato.

QUASE INVISÍVELIndicados para perdas auditivas leves a moderadas, há modelos minúsculos e discretos. Mas seu alcance costuma ser inferior ao dos tradicionais.

HIPERCONECTADOVai assistir a uma palestra? Alguns tipos já dispõem de um microfone ultrassensível que, uma vez instalado na lapela do apresentador, manda o som direto pro aparelho.

DEBAIXO D`ÁGUAJá tem modelo que permite fazer mergulhos de até 1 metro de profundidade durante 30 minutos. E, ainda, dá pra ouvir música durante o nado.

SOB ENCOMENDAImpressoras 3D já são usadas na produção de moldes para aparelhos que ficam dentro do ouvido. Embora proporcionem maior conforto ao usuário, não reduzem os gastos.

É aí que entra a nova geração de apare-lhos auditivos. Falamos de apetrechos que, de tão pequenos, praticamente somem na mão do usuário. De versões com baterias duradouras. De modelos que se conectam à internet e a outras plataformas. O futu-ro já começou nesse mercado que, só nos Estados Unidos, tende a crescer 5% ao ano até 2020 — algo que deve ecoar no Brasil. “O tamanho do aparelho ainda é o maior atrativo para quem sofre de perda auditiva. Quanto menor, melhor para o paciente”, observa a fonoaudióloga Thelma Costa.

Por aqui, um dos principais destaques na seara de lançamentos é o aparelho Opn, da Telex Soluções Auditivas, o pri-meiro conectado à internet. Com tecno-logia de última geração, ele dá ao usuário a possibilidade de se ligar, via internet ou bluetooth, a celulares, tablets e compu-tadores. Não bastasse, ainda permite ao dono decidir o som que mais lhe interessa captar no ambiente e ajustar o volume do ruído ao seu redor. “O resultado é uma au-dição muito próxima ao normal”, garante a fonoaudióloga Isabela Carvalho, espe-cialista em audiologia da Telex.

Na trilha das inovações, a companhia Phonak acaba de lançar o Audéo B-R, que inaugura a classe de aparelhos recarregá-veis no planeta. Com apenas três horas de carga, proporciona uma autonomia de 24 horas de audição. O segredo está nas bate-rias de íons de lítio, semelhantes às usadas em celulares. “O fato de o indivíduo não precisar manusear baterias microscópicas encoraja muitos deles, principalmente os mais idosos, a aderir ao uso”, avalia a fonoaudióloga Talita Donini, gerente de produtos da Phonak.

De fato, por mais arrojados que sejam os novos modelos, a relutância em usá-los ainda é grande. Para muitos, aparelho audi-tivo é sinônimo de velhice ou, pior, surdez. E nem adianta argumentar que pessoas usam óculos de grau e, nem por isso, são chama-das de cegas. Puro preconceito ou falta de

informação, né? “Essa rejeição costuma ser natural no início”, diz a fonoaudióloga Ká-tia de Freitas Alvarenga, da Universidade de São Paulo (USP). “Depois que você explica que o aparelho vai ajudá-los a recuperar a habilidade de ouvir e interagir, tendem a perder o preconceito”, explica.

Em nome da discrição, porém, empresas já vêm bolando aparelhinhos totalmente in-ternos — ao contrário das versões tradicio-nais, esses dependem de um procedimento para a instalação. No Brasil, 35 pacientes, com graus de deficiência de leve a severa, já se submeteram à técnica que consiste em implantar um dispositivo de 3,5 milímetros de espessura dentro do ouvido. “A exemplo dos modelos convencionais, ele amplifica o som que chega ao ouvido. Só que fica debai-xo da pele e ninguém vê”, descreve o otor-rino Iulo Baraúna, que realizou a primeira cirurgia com o sistema da Cochlear no país.

O fim do silêncioApesar da eficácia nos casos de déficit leve ou moderado, há situações que os aparatos de última geração não resolvem. Quando a perda auditiva é profunda, por exem-plo, não raro a solução recai no implante coclear. Nessa intervenção, já batizada de “ouvido biônico”, eletrodos fazem as vezes da cóclea, lá dentro da orelha. “A técnica é indicada nos graus severo e profundo ou quando os aparelhos já não oferecem bene-fício”, esclarece Luciana de Resende.

Foi assim com a gaúcha Paula Pfeifer Mo-reira, de 36 anos. Quando ela tinha 16, foi diagnosticada com surdez severa. Ao com-pletar 31 anos, já sem ouvir absolutamente nada, decidiu fazer a cirurgia de implante coclear — em 2013, no ouvido direito e, em 2016, no esquerdo. “A adaptação foi mágica e cansativa ao mesmo tempo. Mas não me arrependo. Faria tudo outra vez”, conta Pau-la, que já conversa normalmente ao telefone, algo que não fez durante 15 anos. De casos brandos a graves, é a tecnologia progredindo em busca dos decibéis perdidos.

“É PARA TE OUVIR MELHOR...”

A perda auditiva não escolhe idade. Na infância, pode ser causada por infecções, lesões na cabeça ou remédios tóxicos ao ouvido. “O tratamento deve ocorrer logo após o diagnóstico. Caso contrário, ocorrem prejuízos ao córtex auditivo”, explica a fonoaudióloga Kátia de Freitas Alvarenga, da USP. Ainda que isso aconteça, felizmente existe um número expressivo de aparelhos para os pequenos. Uns com luzes que indicam falta de bateria, outros com presilhas que evitam a perda da prótese... “Só que as crianças precisam de uma equipe bem treinada para ajudá-las a se adaptar ao dispositivo”, salienta a otorrino Tânia Sih, da Sociedade Brasileira de Pediatria.

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Junto com o acesso à água potável, a va-cinação é considerada a invenção que mais salvou vidas na história da huma-nidade. Seu desenvolvimento permitiu

varrer da face da Terra vírus e bactérias que, há apenas algumas décadas, afetavam mi-lhões de pessoas, especialmente as crianças. O aprimoramento da tecnologia e do co-nhecimento científico possibilitou ampliar a ação dos imunizantes e estender seu uso para outras faixas etárias, incluindo à tur-ma que já passou dos 60. Hoje, esses recur-sos são considerados um pilar fundamental do envelhecimento saudável. “Do mesmo modo que tratamos o colesterol e a pressão alta para evitar um infarto nos idosos, temos que encarar a vacinação como a melhor es-tratégia para prevenir as doenças contagio-sas”, compara a médica Maisa Kairalla, pre-sidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia — Regional São Paulo.

Com o passar dos anos, é natural que o sistema imunológico fique mais frágil e não consiga responder ao ataque de seres microscópicos com a mesma potência de outrora. Nesse contexto, as vacinas perdem um pouquinho de sua efetividade. Mas não há razão para alarde: elas continuam im-portantes e diminuem pra valer a probabi-lidade de complicações derivadas de uma infecção. “Um indivíduo imunizado contra o vírus influenza pode até pegar uma gripe, mas o quadro será leve e ele terá um risco muito menor de sofrer uma pneumonia na sequência”, exemplifica a médica Isabela Garrido, do Fleury Medicina e Saúde.

Também não dá pra se esquecer do be-nefício coletivo das picadas. Ora, se eu estou resguardado contra determinado micróbio, não o transmito para quem está em meu círculo de convivência. Imagine alguém mais velho que mora com um por-tador de doença crônica ou com seu neto recém-nascido, ainda não totalmente va-cinado. Essas pessoas estão vulneráveis e dependem da imunidade dos outros para não contrair algumas infecções. Portanto, manter a carteirinha atualizada é uma res-ponsabilidade para com a sociedade.

Infelizmente, a visita aos postos de saúde fica mais rara conforme a idade avança. “Não temos a cultura de perguntar sobre as vacinas após a infância”, nota a geriatra Thais Ioshi-moto, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Outros motivos que explicam essa baixa popularidade são as notícias falsas espalhadas pela internet e o próprio suces-so das políticas públicas. “Como não vemos gente com sequelas de poliomielite ou de sa-rampo, parece que são coisas de um passado distante. Mas elas só permanecerão assim se insistirmos nesse esforço conjunto”, concla-ma a médica Carla Domingues, coordena-dora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. Nas páginas a seguir, você confere as vacinas que todo mundo acima de 60 anos deve tomar para percorrer uma vida longa e livre de ameaças.

Engana-se quem pensa que as picadas estão restritas à infância: os mais velhos também precisam manter a carteirinha em dia

por ANDRÉ BIERNATH | design LETÍCIA RAPOSO | fotos NIKILITOV - ISTOCK

VACINA NÃO TEM IDADE

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PERIODICIDADEUma dose da 13-valente e, seis meses depois, uma da 23-valente. Após cinco anos, é feito um reforço da 23-valente.

DISPONIBILIDADENa rede pública, apenas a 23-valente para idosos hospitalizados ou em clínicas. Na rede privada, é possível encontrar os dois produtos.

Com 70 mil óbitos anuais, a pneumonia é a terceira maior causa de morte no Brasil (na frente estão infarto e AVC). Ainda bem que existem imunizantes capazes de barrar as principais bactérias por trás da encrenca, como a Streptococcus pneumoniae, responsável por até 30% dos casos. “As vacinas 13-valente e 23-valente resguardam contra cepas diferentes de micro-organismos”, diz Thais Ioshimoto. Por questões financeiras, a 13-valente não está no sistema público. Mas o governo deve incluí-la em breve no calendário para algumas populações.

PERIODICIDADEDose única.

DISPONIBILIDADESó na rede privada.

Lembra aquela catapora que você (ou um familiar) teve na infância? Ela pode voltar a atormentar décadas depois. Isso porque o vírus que suscita a condição, conhecido como varicela-zóster, fica anos quietinho no nosso sistema nervoso. Daí ele tira vantagem de falhas da imunidade para reaparecer por meio de bolhas na pele e dores intensas, que muitas vezes viram crônicas. “A vacina diminui em até 80% o risco dessa complicação”, calcula Maisa Kairalla. Aliás, um novo imunizante acaba de ser aprovado nos Estados Unidos. De acordo com os estudos do laboratório GSK, ele seria ainda mais efetivo que a versão atual. Espera-se que a novidade chegue ao Brasil em 2018 ou 2019. Enquanto isso, vale a pena investir na fórmula disponível nas clínicas privadas do país.

SERÁ QUE EU TOMEI?

“Caso não exista um registro adequado na carteirinha de vacinação, o indivíduo deve se valer de outra dose para se certificar”, orienta a médica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, entidade que publica uma tabela de vacinas específica aos idosos. Antes de reforçar as defesas do corpo, você pode buscar o aconselhamento com seu médico ou ir direto à unidade de saúde mais próxima de sua casa.

PERIODICIDADEUma vez ao ano.

DISPONIBILIDADENa rede pública e na rede privada.

Entra ano, sai ano, todo mês de abril começa a campanha nacional de vacinação contra a gripe. Os idosos são um dos públicos-alvo. Afinal, o vírus costuma provocar problemas sérios neles e favorecer outras infecções respiratórias, com destaque para a pneumonia (veja mais à direita). A necessidade de renovar a proteção de 12 em 12 meses está relacionada à mudança no tipo de influenza que circula pelo ambiente a cada inverno — às vezes é o H1N1, outras é o H3N2 e assim por diante. “Além disso, aproveitamos a passagem deles no posto para atualizar as outras vacinas que estejam atrasadas”, conta a enfermeira Maria Lígia Nerger, coordenadora do Programa Municipal de Imunizações de São Paulo.

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HEPATITE AAplicada apenas em surtos ou quando um exame de sangue, pedido pelo profissional de saúde, mostrar que o organismo não está 100% livre do vírus.

FEBRE AMARELAMoradores de regiões onde há casos relatados dessa doença precisam tomar uma dose da vacina. Antes de ir ao posto, idosos devem se orientar com o médico.

MENINGOCÓCICA CONJUGADA ACWYResguarda contra quatro sorotipos da bactéria. É indicada antes de viagens para áreas em que a meningite está ativa, como países da África.

TRÍPLICE VIRALEvita sarampo, caxumba e rubéola. Como a maioria das pessoas já teve contato com esses vírus antes dos 60 anos, não há necessidade dessa picada rotineiramente.

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Veja outros imunizantes que são usados em alguns contextos

PERIODICIDADETrês doses com um intervalo de 30 dias entre a primeira e a segunda e seis meses para a terceira.

DISPONIBILIDADENa rede pública e na rede privada.

As doenças sexualmente transmissíveis estão em alta entre os idosos. Um exemplo claro disso é a hepatite B, difundida por meio do sêmen, das secreções vaginais, da saliva e do sangue. Em 2016, a faixa etária acima dos 60 anos passou para o primeiro lugar no número de casos da moléstia no Brasil, representando 13% do total. Além do sexo, é possível se infectar com objetos cortantes, como alicates de unha e seringas. O vírus fica alojado no fígado e pode provocar uma cirrose ou um tumor. “E a vacina é a barreira inicial contra um câncer ali”, afirma Maria Lígia Nerger. Antes restrita aos bebês, ela começou a ser prescrita para todas as idades a partir de 2013.

PERIODICIDADEUma dose a cada dez anos.

DISPONIBILIDADENa rede pública, apenas a versão dupla, que protege de difteria e tétano. Na rede privada, há o acréscimo da coqueluche.

Apesar de a difteria estar controlada no país, a imunização contra essa doença que atinge as vias aéreas segue importante para anular epidemias futuras. O tétano, marcado por fortes espasmos musculares, costuma ocorrer após acidentes. Como os idosos estão mais ativos ultimamente, o risco da infecção sobe. Por fim, a coqueluche não chega a ser uma ameaça brava ao sistema respiratório dos mais velhos. “Mas vaciná-los impede a propagação para as crianças, público em que a doença é mais séria”, diz a médica Letícia Lastoria, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

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Os carros parados numa esquina es-peram o sinal mudar. A luz verde acende-se, mas um dos carros não se move. Em meio às buzinas enfu-

recidas, percebe-se o movimento da boca do motorista: Estou cego!” O trecho, extraído do romance Ensaio Sobre a Cegueira, do por-tuguês José Saramago, é fictício, mas o dra-ma de quem convive com a perda total ou parcial da visão é real. Nos últimos 25 anos, o número de casos de cegueira no mundo passou de 30,6 milhões em 1990 para 36 mi-lhões em 2015. No mesmo período, o índice de portadores de algum tipo de deficiência

VISÃO DE FUTUROpor ANDRÉ BERNARDO | design ANA PAULA MEGDA | ilustrações AUGUSTO ZAMBONATTO

visual, de moderada a grave, registrou um crescimento de 36%. Hoje são 217 milhões de pessoas nessa situação, a maioria delas vítima de doenças não diagnosticadas e tra-tadas a tempo, como catarata e glaucoma. Pior: a expectativa é que, até 2050, esse índi-ce chegue a triplicar. “O número de cegos e deficientes visuais vem se elevando porque a população mundial, além de ter aumentado, também envelhece”, constata o oftalmolo-gista britânico Rupert Bourne, autor de um minucioso estudo que analisou a saúde ocu-lar de 188 países a partir do banco de dados Global Vision Databases.

Há uma boa e uma má notícia sobre a saúde dos olhos. A má é que o número de casos de cegueira e deficiência visual só vem

aumentando. A boa: 80% deles podem ser prevenidos

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HÁBITOS QUE ZELAM PELOS OLHOS

Medidas para conservar uma visão afiada e saudável

OS INIMIGOS DA VISTA As cinco condições mais comuns com a idade

CATARATAO QUE É: o cristalino, lente natural do olho, fica turvo.

SINTOMA: vista embaçada.

TRATAMENTO: cirurgia tradicional ou a laser.

GLAUCOMAO QUE É: doença do nervo óptico causada por aumento da pressão intraocular.

SINTOMA: estreitamento do campo visual

TRATAMENTO: colírios especiais ou cirurgia.

DEGENERAÇÃO MACULARO QUE É: lesão na mácula, área central da retina.

SINTOMA: perda do campo central da visão.

TRATAMENTO: terapia fotodinâmica ou injeções intraoculares.

• Não exponha a vista diretamente ao sol — na praia ou na piscina, vá de óculos escuros.

• Só use colírios sob prescrição e orientação médica.

• Não coce os olhos nem leve as mãos a eles sem uma boa higiene antes.

• Pare de fumar — cigarro afeta até a circulação na retina.

• Vá ao oftalmo se perceber qualquer alteração no campo visual ou, mesmo sem sintoma algum, faça visitas regulares a partir dos 40.

• Pratique atividade física, especialmente ao ar livre.

• Navegue no computador e use smartphones com bom senso.

• Siga uma alimentação equilibrada e nunca deixe de ingerir fontes de vitamina C (frutas cítricas), luteína (espinafre, milho, gema de ovo...) e ômega-3 (pescados).

RETINOPATIAO QUE É: danos nos vasinhos que irrigam a retina.

SINTOMA: visão turva ou embaçada.

TRATAMENTO: laser, injeções intraoculares e controle do diabetes.

PRESBIOPIAO QUE É: perda natural da elasticidade do cristalino.

SINTOMA: dificuldade de foco e leitura a curta distância.

TRATAMENTO: óculos, lentes de contato ou intraoculares.

Embora pese bastante, o envelhecimento não é a única explicação para esse boom. A expansão de alguns problemas sistêmicos (pressão alta, diabetes...), maus hábitos (ci-garro, sedentarismo...) e até o uso indiscrimi-nado de remédios (inclusive colírios) têm lá sua parcela de culpa. Apesar de já estar asso-ciado à miopia, o uso regular de celulares, ta-blets e computadores — bem como o hábito de ler e trabalhar em locais fechados — não parece influenciar na perda da visão em si. “Na pior das hipóteses, vai causar sensação de olho seco e vista cansada”, esclarece o oftalmo Carlos Eduardo Arieta, professor da Universidade Estadual de Campinas.

A despeito das causas desse déficit visual em massa, o fato é que o novo levanta-mento global soa um alerta: se medidas urgentes não forem tomadas já, o número de pessoas afetadas saltará de 115 milhões para 588 milhões em pouco mais de três décadas. Uma das estratégias para evitar esse cenário é conscientizar as pessoas a não esperarem o aparecimento de sinais es-tranhos, como vista embaçada ou manchas escuras no campo de visão, para procurar o médico. “A partir dos 40 anos, quando ocorre uma frequência maior de doenças potencialmente causadoras de cegueira, as consultas precisam ser rotineiras”, aconse-lha o oftalmo João Marcello Furtado, pro-fessor da Faculdade de Medicina de Ribei-rão Preto da Universidade de São Paulo.

Há quatro principais problemas que res-pondem por tanta gente sob risco de não enxergar mais direito: catarata, glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética. Dessas, a única ple-namente reversível é a catarata, com 550 mil novos casos por ano no Brasil. “A ci-rurgia para tratá-la é uma das mais realiza-das no mundo. Basta remover o cristalino danificado e, em seu lugar, implantar uma lente artificial”, descreve o oftalmo Gusta-vo Baptista, diretor da Associação Brasileira de Catarata e Cirurgia Refrativa.

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AS TERAPIAS DO AMANHÃ

O que a ciência prepara para salvar a visão da humanidade

• MICROCHIP INTRAOCULAR: feito de um material biodegradável, ele libera doses exatas de um medicamento para a retina ao longo de seis meses.

• CÉLULAS-TRONCO: elas são testadas, com relativo sucesso, para regenerar áreas comprometidas por doenças como a degeneração macular relacionada à idade.

• TERAPIA NÃO INVASIVA: o desenvolvimento de novos colírios é uma esperança de tratamento mais prático para pessoas com retinopatia diabética, normalmente controlada com injeções ou laser.

• COLÍRIO ANTICATARATA: gotinhas capazes de reverter o turvamento do cristalino já são estudadas como futura alternativa à cirurgia convencional.

Já o glaucoma, a degeneração macular e a retinopatia são mais difíceis no trato — até por causa do diagnóstico geralmente tardio. No glaucoma, que afeta o nervo óptico, nove em dez casos não apresentam sinto-mas iniciais. Daí que o indivíduo só percebe algo quando o perrengue está avançado. “O tratamento evita a progressão da doença, mas não recupera a visão perdida”, explica a oftalmo Wilma Lelis Barboza, presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma.

Diagnóstico precoce também é determi-nante para conter as enfermidades da reti-na, porção no fundo do olho que conver-te as imagens em impulsos que podem ser lidos pelo cérebro. A degeneração macular relacionada à idade não leva à perda total da vista, mas dificulta demais a leitura, o reco-nhecimento dos rostos, a prática de esportes e outras atividades do dia a dia. “Os danos vão além da limitação visual. Incluem des-de o maior risco de quedas até depressão”, observa a oftalmogeriatra Marcela Cypel, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

Ao contrário da córnea, porção mais ex-terna que pode ser trocada por transplante, e do cristalino, substituído na cirurgia de ca-tarata, ainda é impossível recuperar a retina lesada. Por isso não dá para fazer vista grossa à prevenção — sobretudo se o sujeito já tem diabetes ou hipertensão, fatores de risco para a retinopatia. O êxito aqui depende de acom-panhamento médico. “Se o indivíduo tem histórico de doença ocular na família, por exemplo, o retorno deve ser anual”, orienta o oftalmo Paulo Augusto de Arruda Mello, da Universidade Federal de São Paulo.

As visitas ao consultório — onde o especialista vai inspecionar o fundo do olho, medir a pressão intraocular... — per-mitem flagrar e remediar desde cedo os males da vista. Até porque os tratamen-tos evoluíram bastante nos últimos anos. “Devemos ir ao oftalmo não apenas para fazer óculos”, ressalta Marcela. Isso é que é visão de futuro!

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HORA DE FECHAR A TORNEIRA

Não dá para tampar todos os vaza-mentos do prédio sem conhecer a sua tubulação. Analogias à parte, a falta de dados sobre as taxas de in-

continência urinária no país fazia os experts daqui enfrentarem o problema no escuro. “Nós baseávamos as diretrizes de tratamento em estudos internacionais, que não necessa-riamente refletem a nossa realidade”, atesta o médico Carlos Bellucci, chefe do Departa-mento de Urologia Feminina da Sociedade Brasileira de Urologia. Daí porque a primeira pesquisa de âmbito nacional sobre sintomas do trato urinário inferior — que vão da sen-sação de esvaziamento incompleto da bexiga ao escape de xixi — virou destaque no últi-mo Congresso Brasileiro de Urologia.

Ao englobar 5 184 homens e mulheres acima dos 40 anos de todas as regiões do Brasil, o levantamento desenha um cenário preocupante. “Confirmamos uma alta pre-valência dessas condições em brasileiros. E mostramos que elas afetam bastante o bem--estar”, resume Cristiano Mendes Gomes, um dos autores do trabalho e urologista do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Como era de esperar, as mulheres sofrem mais com a perda de xixi: 45,5% reportaram o quadro, ante 14,7% dos marmanjos. Entre elas, a versão mais comum é a incontinência urinária de esforço. “Pelo enfraquecimen-to da musculatura pélvica, gotas escapam quando a pessoa tosse, espirra, exercita-se, carrega peso...”, diz Gomes. Entre as causas estão o envelhecimento, múltiplos partos e cirurgias na região. Já na ala masculina, o pênis serve como uma barreira extra para segurar o líquido amarelo. Neles, o descon-forto está ligado sobretudo a operações na próstata, embora esse efeito colateral dos procedimentos não seja frequente.

O tipo mais usual de incontinência entre os homens é o de urgência — e, mesmo nesse caso, as mulheres lideram o ranking. Trata--se de uma vontade repentina de fazer xixi, que às vezes não dá pra segurar até achar um banheiro. Ela pode, por exemplo, surgir em decorrência de distúrbios neurológicos como Parkinson, esclerose múltipla ou AVC. Porém, essa emergência sem aviso prévio costuma ser fruto de uma condição denominada bexiga hiperativa. Já ouviu falar dela?

O primeiro levantamento nacional sobre incontinência urinária revela uma epidemia de vazamentos entre brasileiras e brasileiros. Saiba o que podemos fazer diante dissopor THEO RUPRECHT | design ANA PAULA MEGDA | ilustrações FRANCISCO MARTINS

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OS VÁRIOS SINTOMAS DO TRATO URINÁRIO INFERIOR Eles são tão diversos quanto comuns no Brasil

JATO FRACO ESFORÇO MICCIONAL

GOTEJAMENTO APÓS URINAR

AUMENTO DA FREQUÊNCIA DE IDAS AO BANHEIRO

NOCTÚRIA (acordar à noite para urinar)

URGÊNCIA DE IR AO BANHEIRO

INCONTINÊNCIA DURANTE O SEXO

MAS, ENTRE ELES…

Depois de ser produzido pelos rins, o xixi vai parar na bexiga. E, conforme ela enche, a musculatura que a envolve começa a con-trair, disparando a vontade de tirar a água do joelho. Até aí tudo bem. Agora, quando esses músculos comprimem o órgão a todo momento, mesmo sem um acúmulo con-siderável de líquido, estamos diante da tal bexiga hiperativa. “A pessoa de repente fica com uma vontade intensa de urinar. Ela sai correndo para o banheiro sem nem esperar uns minutos até a reunião do trabalho ter-minar”, exemplifica Gomes.

Segundo o estudo brasileiro, a preva-lência da encrenca é similar entre os sexos (veja na página à direita). A maior diferença está em suas consequências. Enquanto “só” 38% dos homens deixam escapar umas go-tinhas em virtude do desejo súbito de uri-nar, 61% das mulheres acabam molhando as roupas íntimas por não controlarem esse ímpeto antes de encontrar um sanitário. A explicação para tamanha discrepância re-cai, de novo, na musculatura pélvica mais frágil e no fato de elas não contarem com um pênis para barrar a saída do xixi. “Mas a urgência por si só já pode piorar a qua-lidade de vida”, avisa o ginecologista Ro-drigo de Aquino Castro, chefe do Setor de Uroginecologia da Universidade Federal de São Paulo. Aí que está: a incontinência não é, nem de perto, o único chabu das partes baixas a bagunçar o cotidiano.

Nenhum incômodo é normalA lista de possíveis sintomas do trato uriná-rio inferior (conhecidos pela sigla Luts, que vêm da expressão em inglês lower urinary tract symptoms) é grande. Além dos diferentes tipos de incontinência, encaixam-se nesse grupo de aborrecimentos: jato fraco ou espa-lhado, necessidade de acordar várias vezes à noite para se aliviar, sensação de esvaziamen-to incompleto, esforço excessivo para abrir as comportas do canal vaginal ou peniano...

E, dependendo da intensidade, as reper-cussões são inquietantes. “Alguns indiví-duos se isolam por medo de fazer xixi na calça durante eventos sociais. Tanto que os sintomas urinários são associados a uma maior taxa de depressão”, observa Gomes. Já Bellucci lembra que, ao invadirem o período noturno, esses quadros prejudicam o sono, destrambelhando o organismo. “Há inclusi-ve uma relação entre incontinência e fratu-ra do fêmur, porque o idoso se apressa até o banheiro na madrugada, tropeça e cai no chão”, relata o urologista. Em resumo, não dá pra menosprezar esses perrengues.

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Nem toda manifestação urinária exige tra-tamento médico. “Intervimos de forma agu-da só nos cenários com um impacto negativo no bem-estar”, afirma Castro. Isso, contudo, não significa que você pode ignorar os esca-pes ou outros sintomas sob a alegação de que eles não incomodam. Embora a maioria dos sintomas venha de situações que não amea-çam a vida, existe uma pequena probabili-dade de um problema sério desencadeá-los. Câncer, infecções ou, como dissemos, males neurológicos às vezes incitam o aparecimen-to dessas chateações. Até por isso o ideal é marcar uma consulta ao reparar em qualquer alteração do tipo. “Mas poucos brasileiros fa-zem isso”, lamenta Bellucci.

Uma vez excluída a presença de enfer-midades graves, o tratamento começa com medidas comportamentais. A vítima da in-continência aprende a evitar bebidas diuré-ticas, como café e cerveja, a antecipar as idas ao banheiro e por aí vai. Eventualmente, ela recorre a fraldas, absorventes ou roupas ínti-mas descartáveis. E já pode agendar sessões de fisioterapia. “Usamos técnicas para forta-lecer a musculatura do assoalho pélvico, res-ponsável por fechar a uretra”, explica Dalila Duarte, fisioterapeuta do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

A meta também é ensinar o sujeito a con-trair essa parte do corpo em tarefas do dia a dia que ocasionariam o gotejamento. Se não pular os encontros com o físio e cumprir as lições de casa, a chance de sucesso beira os 80%. Contudo, em pleno século 21 precisa-mos lidar com um tabu por trás do método. “Como ele envolve tocar nas partes íntimas, há quem se recuse a fazê-lo. Fora que nem todo local oferece profissionais especializa-dos em fisioterapia pélvica”, pondera Dalila.

O próximo passo terapêutico, no caso da incontinência de urgência, em geral é lançar mão de medicamentos que regulam as con-trações da bexiga. “O número de remédios cresceu e chegaram opções com menos rea-

OBESIDADE: a gordura de sobra pode acabar pressionando o reservatório de urina, o que eleva a possibilidade de escoamentos indesejados.

CONSTIPAÇÃO: trechos do intestino ficam bem próximos da bexiga. Logo, se estão repletos de fezes, prensam esse órgão ou nervos que disparam as contrações responsáveis pela incontinência.

TOSSE CRÔNICA: problemas como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) culminam em acessos de “cof cof” que comprimem, lá embaixo, a musculatura do assoalho pélvico. E isso promove a saída da urina.

CONTROLE A INGESTÃO DE ÁGUANão é para viver na secura, porém o pessoal com incontinência precisa regular a quantidade de líquidos bebidos ao longo do dia. Isso é definido com o médico.

EVITE DIURÉTICOSO café e as bebidas alcoólicas estimulam a produção e a expulsão da urina.

VEJA A BULA DOS REMÉDIOSCertas medicações para a pressão, por exemplo, instigam a liberação de xixi. Converse com um médico sobre esse possível efeito colateral e se daria para trocar de comprimido. PROGRAME AS IDAS AO BANHEIROSe sente a urgência de duas em duas horas, o indivíduo pode planejar visitas ao toalete a cada 90 minutos.

Só E, desses, Desses,

30,6% 30,5%22,3%

36,8% 28,1%28,4%dos homens e dos homens edos homens e

das mulheres procuram o profissional.

das mulheres reclamam da terapia utilizada.

das mulheres recebem tratamento.

TRÊS MOTIVOS INUSITADOS QUE LEVAM À INCONTINÊNCIA Embora deixados de lado, eles contribuem para os vazamentos

MEDIDAS ANTIESCAPE

ções adversas”, comemora Castro. Isso é dig-no de nota se considerarmos que os fármacos antigos elevam mais o risco de boca seca e alterações cognitivas ou intestinais, que não raro inviabilizam a estratégia no longo prazo. Se isso acontece ou se eles não dão conta do recado, o doutor tem à disposição a aplica-ção de toxina botulínica para impedir que a musculatura ao redor da bexiga a comprima. Ou um aparelhinho batizado de neuromo-dulador sacral, que é implantado na base das costas e emite sinais capazes de atenuar a mo-vimentação involuntária desse órgão.

Já para a incontinência de esforço, há múl-tiplas técnicas cirúrgicas. A mais comum em mulheres envolve passar uma espécie de fita ao redor da uretra para reposicioná-la — com uma taxa de sucesso acima de 85%. Dian-te disso tudo, Bellucci dá um ótimo recado final: “O tratamento melhorou demais. O desafio, hoje, é garantir acesso a esses mé-todos para a população. E a nova pesquisa nos ajuda a colocar tais condições em foco e cobrar as autoridades”. Ufa!

O ATENDIMENTO ENTRE QUEM TEM SINTOMAS

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SEMPRE QUIS SABER POR IVONETE LUCIRIO

O QUE É SARCOPENIA?Essa palavrinha se refere à perda de massa e força muscular,

geralmente associada ao envelhecimento. Saiba o que ela apronta com os músculos e o que fazer para estancar esse

processo que limita a autonomia e a qualidade de vida

RECEITA DE MÚSCULO A gente consegue se movimentar e fazer diversas tarefas na rotina graças aos músculos esqueléticos. Eles parecem aquelas bonecas russas dentro das quais encontramos outras menores. Os músculos são formados por feixes musculares, que, por sua vez, são feitos de fibras e estas, constituídas de microfibrilas. A matéria-prima dessas pequenas estruturas são as proteínas, que chegam ali pela corrente sanguínea.

A MASSA NÃO CRESCE As fibras musculares sofrem um processo natural de degeneração no dia a dia, só que são reparadas pelas proteínas recém-chegadas. Com a idade, porém, a destruição das fibras passa a ser maior que a formação, o que gera perda de massa e força muscular. Esse processo começa a acontecer efetivamente a partir dos 40 anos e se acentua mais tarde. Fatores como sedentarismo e má alimentação aceleram o enfraquecimento dos músculos.

O SINAL ESTÁ FRACOO avanço da idade também costuma vir acompanhado de falhas no sistema nervoso, mais especificamente na região onde os neurônios motores se ligam à musculatura. Com isso, o comando enviado pelo cérebro para que um músculo contraia ou relaxe chega mais fraquinho, o que tem impacto na força muscular.

O gráfico mostra o processo de formação e degeneração de músculos (linha verde) e ossos (linha vermelha), que é bem semelhante. Até por volta de 40 anos, a constituição de material novo é mais intensa do que a destruição. A partir daí começa a queda — a pessoa sedentária perde de 3 a 5% da massa muscular por ano.

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FALTA MÚSCULO, SOBRA GORDURAÀ medida que as fibras musculares ficam mais reduzidas, cresce a porção de gordura que se acumula entre elas. A questão é que, no espelho, nem sempre as pessoas percebem que estão trocando massa magra por gorda.

SOBE E DESCE O que acontece com nossos músculos ao longo da vida

COMO PREVENIRAtitudes para segurar a sarcopenia

BOA MEDIDA

• Pratique exercícios, como musculação, pilates e ioga.

• Mantenha uma dieta balanceada, com bom espaço para as proteínas.

• Não fume e maneire na bebida alcoólica.

• Durma direito. É no sono que produzimos hormônios cruciais à musculatura.

• Tome sol e apure se não há déficit de vitamina D.

• Se o profissional julgar necessário, recorra a suplementos de proteínas.

Embora não ofereça um diagnóstico definitivo, a medida da circunferência da panturrilha pode funcionar como um sinal de alerta para a sarcopenia. Nos homens, ela não deve ser menor que 34 centímetros. Nas mulheres, o limite é 33 centímetros.

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POR GORETTI TENORIOFILHOS

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HÁBITOS DA VOVÓ AFETAM ATÉ A SAÚDE DOS NETOS A epigenética, área que estuda a interferência do ambiente no DNA, aponta que o comportamento na gravidez chega a influenciar a terceira geração

Há alguns anos, não era raro ver grávidas fumando. Com

um olho lá e outro cá, cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, resolveram investigar se essa alta incidência de tabagismo estaria ligada à atual epidemia de obesidade nos jovens — os filhos e netos daquelas mulheres. A partir de três grandes levantamentos feitos entre 1989 e 2009, eles analisaram a evolução do índice de massa corporal (IMC) em 6 583 famílias. E descobriram que os netos de mulheres que fumavam

mais de 14 cigarros por dia durante a gestação eram 70 gramas mais pesados ao nascer e tinham uma probabilidade 18% maior de serem obesos na adolescência. “Danos como os provocados pelo fumo interferem na expressão de genes, e essas alterações não são transmitidas só pela mãe ou pelo pai. Elas alcançam a geração seguinte”, analisa a pediatra Cristiane Kochi, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. Ou seja, há efeitos tanto a curto como a longo prazo.

No fim da Segunda Guerra Mundial (1939-

-1945), o embargo alemão à Holanda impôs à população

uma severa restrição de alimentos. Foi o inverno

da fome. E o drama repercutiu nos genes de

filhos e netos de holandesas grávidas no período. Eles herdaram uma

tendência à obesidade e maior propensão a diabetes

e doenças cardíacas.

PELO BEM DA FAMÍLIAO que evitar para proteger o DNA dos descendentes

LIÇÃO DA HISTÓRIA

• Tabagismo

• Abuso de álcool

• Alimentação desequilibrada

• Sedentarismo

• Ganho de peso

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BICHOS POR DIOGO SPONCHIATO

ALZHEIMER EM CÃES?O envelhecimento também conspira contra o cérebro deles. Conheça a síndrome da disfunção cognitiva canina — e fique atento a seus sinais

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Os avanços na nutrição e na medicina veterinária permitem

que os cachorros vivam cada vez mais. Só que a idade não deixa de impor seus efeitos colaterais — à coluna, aos olhos e até ao cérebro deles. Levantamentos acusam que vem crescendo o número de animais com a chamada síndrome da disfunção cognitiva canina. E o envelhecimento é o principal fator para seu desenvolvimento e progressão. “Entre os sinais da condição, estão distúrbios do

sono, desorientação espacial e mudanças na interação social, com demonstrações de medo ou agressividade”, lista Mário Marcondes, diretor do Hospital Veterinário Sena Madureira, em São Paulo. O diagnóstico costuma ser feito após análise do especialista e alguns exames. Para o tratamento, já existem remédios e até rações específicas. “E também indicamos algumas adaptações na casa para facilitar a rotina do animal”, diz Marcondes.

AS PISTAS DO PROBLEMA

• Mudanças comportamentais (episódios de apatia, medo ou agressividade)

• Alterações no hábito e no local do xixi e do cocô

• Desorientação espacial

• Distúrbios do sono, com períodos estendidos dormindo ou acordado

• Dificuldade para responder aos comandos do dono

E OS FELINOS?Embora a disfunção cognitiva tenha sido mais estudada

em cachorros, há indícios de que os gatos mais velhinhos também possam sofrer com uma espécie de Alzheimer.

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PAPO-CABEÇA POR GORETTI TENORIO

TUDO PELO SOCIALEvitar o isolamento é tão importante para viver mais e melhor após

a aposentadoria quanto a prática regular de atividade física

Quem sonha com os dias de descanso depois de décadas de trabalho pode

se surpreender com o abalo dessa virada em seu bem-estar se ela vier associada ao rompimento de laços sociais. Isso foi observado por pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, num grupo de 424 aposentados. Aqueles que eram membros de associações como clubes e igrejas apresentaram menor probabilidade de morrer nos primeiros seis anos da vida sem crachá. Para dar uma ideia, entre os que participavam de

dois grupos e neles permaneceram após a aposentadoria, o índice de mortalidade ficou em 2%. Já na turma que se afastou de tudo, o risco subiu para 12%. A hipótese é que o engajamento social repercute no equilíbrio emocional e na capacidade cognitiva. “A pessoa que mantém os vínculos envelhece melhor. Daí a importância de se criar uma poupança social à qual se possa recorrer na maturidade”, diz a médica Maisa Kairalla, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Seção São Paulo.

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PARA MANTER OS LAÇOS FORTESPreservar as relações é fundamental para uma transição tranquila durante a aposentadoria

VOZ ATIVA EM CASAOs mais velhos devem ser estimulados a participar das conversas e decisões em família, para escapar do isolamento e da sensação de desvalorização.

DESPEDIDA GRADUALAntes de sair de vez do escritório, conversas e atividades em comum com colegas são boas estratégias para manter contato após a aposentadoria.

BOM DIA, COMUNIDADEUma rede de apoio e troca de favores com os vizinhos facilita o dia a dia e dá segurança quando bate uma necessidade mais urgente.

AMIGOS PARA SEMPRE Fazer cursos, entrar em grupos de caminhada, aderir a clubes de leitura ou de cinema — tudo isso ajuda a criar novos laços ou alimentar velhas amizades.

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ZOOM POR THAÍS MANARINI

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4MINUTOS

É o que dura, em média, um episódio de fogacho,

a onda de calor.

45ANOS

Os primeiros sinais da menopausa surgem

por volta dessa idade.

ATIVIDADES ENCERRADAS

Ele não chega a acumular pó, como insinua a

imagem. Mas o fato é que, na menopausa, o útero

está se aposentando. Por fora, no entanto, mulheres podem viver um turbilhão, com fogacho, ansiedade, insônia... Nada que não

dê para remediar

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COM A PALAVRA

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Há alguns anos, um amigo me perguntou: depois de tantos

estudos e congressos, diga para mim o que fazer para envelhecer bem. Pergunta desafiadora sobre esse fato inexorável da vida, o envelhecimento. Esse presente que ganhamos ao nascer e nos acompanha na evolução e limitação de nossas habilidades motoras — engatinhamos, aprendemos a andar, caminhamos, corremos e depois precisamos ter cautela até para trocar de cômodo em casa — e de nossos hábitos alimentares — mamamos, aprendemos a comer em família, experimentamos sabores e, na velhice, restringimos nossas escolhas à mesa.

Joguei futebol por muitos anos de forma competitiva. Quando parei, não ousava mais “brincar” de bola — aquilo era sério demais. Com mais de 40, em um fim de semana na fazenda de um amigo, veio a nova convocação. Garotos jogavam uma partida quando o goleiro se machucou. Eles sabiam que eu havia jogado nessa posição e me chamaram: “Pega no gol pra nós, TIO!” Confesso que a palavra me incomodou. Mas fui lá. Entre uma defesa e uma falha, o jogo acabou. No dia seguinte, não conseguia levantar os braços. Mas espera: eu treinava, levantava peso, corria... Que dor era aquela? Era a dor dos anos sem jogar no gol.

Com a comida as coisas não são tão diferentes. Se deixamos

de comer de forma equilibrada e variada, o mesmo dilema surge. Perdemos paladar, não sentimos tanto prazer, reduzimos nossa capacidade de digestão. Certa vez, fui convidado para dar uma aula no Piauí e os colegas me chamaram para saborear carne-seca, macaxeira e outros pratos regionais. Lembro-me até hoje do gosto maravilhoso... e da digestão confusa e lenta. Por quê? Porque foram anos sem uma boa carne de sol.

Colocando tudo isso em perspectiva, podemos pensar em um projeto para envelhecer de forma ativa e saudável. O que ele contempla? 1) Evitar a monotonia alimentar — que tal provar um prato diferente por semana? 2) Prezar pela variedade... com frutas, legumes e iogurtes no dia a dia. 3) Desafiar o corpo, essa máquina incrível, a atividades que exijam do físico e do raciocínio — já pensou em fazer uma luta ou uma dança? 4) Manter uma rotina de exercícios, alternando aqueles que trabalham força com aqueles que demandam fôlego. 5) Caminhar e correr pelo mundo desfrutando de suas culturas e culinárias.

Por fim, deixo uma palavra que vale como um mantra: “ikigai”, da ilha de Okinawa, no Japão. Ela quer dizer “propósito”, aquilo que nos faz acordar toda manhã. Coloque você (e sua saúde) em primeiro lugar. Isso é o mais importante: seja você seu próprio “ikigai”.

Antonio Herbert Lancha Jr. é profissional de educação física, professor titular de nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e autor do livro O Fim das Dietas (Editora Abril).

Antonio Herbert Lancha Jr.

Dieta, exercício... o que é mais importante depois dos 60?

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