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A DEVOÇÃO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO NO CONTESTADO Eduardo Rizzatti Salomão 1 (Colégio Militar de Curitiba) Resumo Este trabalho tem por objetivo expor resultados de pesquisa sobre a manifestação da devoção ao Divino Espírito Santo entre os integrantes do movimento do Contestado. Busca-se discutir a presença da festa do Divino nas comunidades da região onde se desenrolou a guerra e a sua relação com as crenças, os rituais e a organização adotados pelos integrantes do movimento. Nessa discussão serão abordadas as manifestações de outras crenças e festejos relacionados com o Divino no Contestado, com destaque para o culto a São Sebastião e as Cavalhadas. Das perguntas levantadas pela pesquisa, questiona-se se a devoção ao Divino teria relação com a constituição da liderança espiritual e guerreira rebelde, em particular o papel de destaque exercido por moças intituladas “virgens” e a instituição dos cavaleiros nominados “Pares de França”. Pretende-se aprofundar a discussão apresentada por autores que observaram aspectos dessa questão, por meio de revisão bibliográfica, com destaque para publicações de Maria Isaura P. de Queiroz, Maurício Vinhas de Queiroz, Duglas Teixeira Monteiro, Paulo P. Machado e Pedro Agostinho, acrescendo à discussão informações provenientes de outras obras e fontes na intenção de explorar possibilidades interpretativas diversas e, concluindo, questionar algumas afirmações que, acredita-se, reforçaram estereótipos a respeito da cultura dos habitantes do Contestado. Palavras-chave: Divino Espírito Santo; Pares de França; Cavalhadas. Introdução As festas religiosas organizadas por leigos são eventos presentes no Brasil desde a colonização. Entre as celebrações mais cultuadas, a festa em louvor ao 1 Doutor em História pela Universidade de Brasília (UnB).

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A DEVOÇÃO AO DIVINO ESPÍRITO SANTO NO CONTESTADO

Eduardo Rizzatti Salomão1

(Colégio Militar de Curitiba)

Resumo

Este trabalho tem por objetivo expor resultados de pesquisa sobre a manifestação

da devoção ao Divino Espírito Santo entre os integrantes do movimento do

Contestado. Busca-se discutir a presença da festa do Divino nas comunidades da

região onde se desenrolou a guerra e a sua relação com as crenças, os rituais e a

organização adotados pelos integrantes do movimento. Nessa discussão serão

abordadas as manifestações de outras crenças e festejos relacionados com o Divino

no Contestado, com destaque para o culto a São Sebastião e as Cavalhadas. Das

perguntas levantadas pela pesquisa, questiona-se se a devoção ao Divino teria

relação com a constituição da liderança espiritual e guerreira rebelde, em particular o

papel de destaque exercido por moças intituladas “virgens” e a instituição dos

cavaleiros nominados “Pares de França”. Pretende-se aprofundar a discussão

apresentada por autores que observaram aspectos dessa questão, por meio de

revisão bibliográfica, com destaque para publicações de Maria Isaura P. de Queiroz,

Maurício Vinhas de Queiroz, Duglas Teixeira Monteiro, Paulo P. Machado e Pedro

Agostinho, acrescendo à discussão informações provenientes de outras obras e

fontes na intenção de explorar possibilidades interpretativas diversas e, concluindo,

questionar algumas afirmações que, acredita-se, reforçaram estereótipos a respeito

da cultura dos habitantes do Contestado.

Palavras-chave: Divino Espírito Santo; Pares de França; Cavalhadas.

Introdução

As festas religiosas organizadas por leigos são eventos presentes no Brasil

desde a colonização. Entre as celebrações mais cultuadas, a festa em louvor ao

1 Doutor em História pela Universidade de Brasília (UnB).

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Império do Divino Espírito Santo ocupa papel de destaque na religiosidade luso-

brasileira.

Acredita-se que, originalmente, a devoção ao Divino comportou expressões

de conteúdo milenarista. Em Portugal, a instituição da "Festa do Império do Espírito

Santo" remontaria ao séc. XIV e a organização dos festejos teria encontrado

inspiração na obra do abade calabrês Joaquim de Flora, para quem a história da

humanidade estaria dividida em Três Idades: a do Pai, a do Filho e a do Espírito

Santo. Para os seguidores do abade, a chamada Terceira Idade estaria à vista e

coincidiria com o estabelecimento de um império cristão universal instituído sob os

auspícios do Paráclito (o Espírito Santo). Independente dos propósitos dos escritos

do abade, o joaquinismo se fez presente na constituição de movimentos

messiânicos e/ou milenaristas no continente europeu, alguns de caráter violento2. E

no Brasil? Estaria a festa do Divino associada a algum movimento messiânico ou

milenarista?

Lançando o olhar sobre as manifestações da religiosidade popular nos

estados de Santa Catarina e Paraná, este trabalho tem por objeto analisar a

devoção ao Divino no Contestado e a sua possível associação a expectativas

milenaristas. Primeiramente, busca-se investigar a presença da festa do Divino nas

comunidades da região, para, em seguida, discutir a relação entre as celebrações

religiosas locais e as crenças, os rituais e a organização comunitária adotados pelos

integrantes do movimento ao longo da guerra.

No limite do presente trabalho, será abordada a discussão apresentada por

autores que observaram esse problema, explorando outras possibilidades

interpretativas e, pari passu, questionar algumas afirmações que, acredita-se,

reforçaram estereótipos a respeito da cultura dos habitantes do Contestado. Entre as

questões propostas, destacam-se: teria a devoção ao Divino Espírito Santo relação

com a organização rebelde, em particular a instituição dos cavaleiros nominados

“Pares de França” (também chamados “Pares de S. Sebastião”) e a constituição da

liderança espiritual do movimento, com destaque para as chamadas “virgens”?

2 COHN, Norman. Na senda do milênio: milenaristas revolucionários e anarquistas místicos da Idade Média. Lisboa: Editorial Presença, 1981; e QUEIROZ, Maria I. P. O messianismo no Brasil e no mundo. São Paulo: Alfa-Ômega, 2003.

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Sobre o assunto, colheu-se da obra de Maria Isaura P. de Queiroz, La ‘guerre

sainte’ au Brésil: le mouvement messianique du ‘Contestado’ 3 , as primeiras

impressões sobre a presença da festa do Divino no Contestado. Duglas T. Monteiro,

autor de Os errantes do novo século 4 , e Maurício V. de Queiroz, autor de

Messianismo e conflito social 5 , ao investigarem a Guerra do Contestado,

reconheceram o estudo das festividades religiosas como elemento importantes para

se compreender a mentalidade e organização dos rebeldes do Contestado. E, do

conjunto do material consultado, revelou-se fundamental, em particular pelas

reflexões propostas, o artigo “Império e cavalaria no Contestado”, de Pedro

Agostinho6. De Paulo P. Machado, autor de Lideranças do Contestado7, buscaram-

se dados atualizados a respeito do perfil das lideranças rebeldes, entre outras

informações.

Dos textos e documentos consultados, mereceram atenção memórias de

personagens presentes na região à época da guerra, relatórios militares, inquéritos

policial-militares, matérias publicadas em jornais e livros escritos por militares e

padres que atuaram na região. Muito do material deixará de ser citado nesse

espaço, dado os limites do presente texto. Do conjunto, ressalto o manuscrito de

Alfredo de O. Lemos, “A história dos fanáticos de Santa Catarina e parte de minha

vida naqueles tempos” (s.d.); os livros Campanha do Contestado, de Demerval

Peixoto (1916) e A campanha do Contestado, de Herculano Assunção (1916) –

ambos militares que atuaram no conflito; e as memórias do padre Rogério Neuhaus

(publicadas por Pedro Sinzig, em 1939).

A Devoção ao Divino

3 QUEIROZ, Maria. I. P. La ‘guerre sainte’ au Brésil: le mouvement messianique du ‘Contestado’. Tese de Doutorado. Ècole Pratique des Hautes Études, Universidade de Paris. Paris, 1955. Publicada no Boletim n. 187, Sociologia I, n. 5, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, 1957. 4 MONTEIRO, Duglas T. Os errantes do novo século: um estudo sobre o surto milenarista do Contestado. São Paulo: Duas Cidades, 1974. 5 QUEIROZ, Maurício V. Messianismo e conflito social: a guerra sertaneja do Contestado. São Paulo: Editora Ática, 1977. 6 AGOSTINHO, Pedro. "Império e cavalaria no Contestado" in: Ilha, Florianópolis, v. 4, n. 2. 2002, p. 29-30. 7 MACHADO, PAULO P. Lideranças do Contestado. Campinas: Editora da UNICAMP, 2004.

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Provenientes de Portugal, os festejos em louvor ao Império do Divino se

estabeleceram ao longo da colonização do Brasil, passando dos povoados costeiros

as comunidades do interior do continente. Arraigada no catolicismo popular, a

celebração do Divino tem, tradicionalmente, início em Pentecostes (50 dias após o

domingo de Páscoa) e perdura de acordo com os costumes de cada comunidade.

Originalmente, a festa em louvor ao Divino envolvia a coroação de um imperador e

de dois reis. O imperador ostentava coroa e cetro (ou espada), tendo por

acompanhantes três juízes e duas donzelas (damas de honra).8 Há variações na

composição da corte. Nas comunidades brasileiras é comum o coroamento de um

imperador e de uma imperatriz, acompanhados de várias damas de honra, vestidas

de branco, também chamadas de “virgens”, a exemplo do que se verifica ainda hoje

em Pirenópolis, Goiás.9 Em Portugal e no Brasil, não é incomum ser escolhido como

imperador do Divino um menino, menor de 12 anos de idade, comumente filho de

quem financia a festa.10

Sobre os rituais da festa do Império do Divino, é tradição a formação de um

cortejo, destinado a percorrer a comunidade, visitando residências, na coleta de

óbolos, retribuídos com louvores e pedidos de graças − é a chamada Folia do

Divino, que ocorre antes da festa principal em algumas comunidades; em outras, a

folia é percebida como a festa propriamente dita. Nas diversas versões da folia, é

comum o acompanhamento musical, os cantos e rezas em louvor ao Divino e a

queima de fogos que se destina a anunciar a passagem do cortejo.

Os símbolos de maior destaque ostentados na folia são a coroa e a bandeira

do Divino. A bandeira é o elemento principal, confeccionada geralmente em tecido

vermelho, tendo, em destaque, no centro da flâmula, o desenho de uma pomba

branca, símbolo do Espírito Santo. No transporte da bandeira é utilizado um mastro,

de pouco mais de um metro, decorado com fitas multicoloridas, encimado por uma

pombinha.

8 CASCUDO, Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiros. Belo Horizonte: Editora Itatiaia. São Paulo: USP, 1988, p. 294 e 335. 9 CARVALHO, Adelmo de. Pirenópolis: coletânea 1727-2000. Pirenópolis: Edição do Autor, /s.d./, p. 95. 10 ABREU, Martha C. O Império do Divino: festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro 1830-1900. Tese de Doutorado em História. UNICAMP. Campinhas/SP, 1996, p. 23 e ss.

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Em diversas localidades, antes da festa principal, é muito comum que a

bandeira do Divino, acompanhada por poucas pessoas, quando não individualmente

– ou seja, sem cortejo, cânticos e louvores – percorra a comunidade na coleta de

ofertas. A bandeira é recepcionada como portadora de poderes especiais, assim

como aqueles que a conduzem, daí a importância da distribuição de bênçãos, as

quais teriam a função de afastar doenças e proteger lavouras.11

Em Santa Catarina, Estado onde se insere a maior parte da extensão de

terras que outrora compuseram a chamada “região do Contestado”, a festa do Divino

é uma das celebrações religiosas mais concorridas, tendo origem, ou se

intensificando, a partir da segunda leva de imigração açoriana (1748-1756).12 Apesar

da perda de adeptos ao longo dos anos, e mesmo de seu desaparecimento em

muitas localidades, os festejos ainda ocorrem em vários municípios, em especial no

litoral, a exemplo da capital, Florianópolis, onde se registraram, anualmente, mais de

uma dezena de celebrações.13

À semelhança de outras regiões brasileiras, a Folia do Divino em Santa

Catarina contava com a bandeira, a coroa do império e as famosas cantorias em

louvor a Terceira Pessoa da Trindade. Doralécio Soares registrou que, quando o

cortejo do Divino chegava à porta das casas dos catarinenses, eram entoados

cânticos.14 Recepcionar o Divino era motivo de alegria, beijava-se a bandeira, a

coroa era acomodada em uma mesa enfeitada de flores, seguindo-se a oferta de

bebidas e comidas aos integrantes da comitiva.15

A devoção ao Divino no Paraná também é registrada. Por exemplo, em Ponta

Grossa há uma residência, tombada pelo município, chamada "Casa do Divino", cuja

origem remontaria a devoção da dona do imóvel, que, em 1882, teria, para

agradecer a uma graça alcançada, montado um altar permanente em louvor ao

11 ARAÚJO, Alceu M. Cultura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 9 12 FRADE, Cáscia. “Festas do divino no Brasil” in: Textos escolhidos de cultura e arte populares, v. 2. n. 2, 27-36. 2005, p. 27. 13 ALVES, Joi C. “Culto ao Espírito Santo no Brasil Meridional” in: Anais do II Congresso Internacional sobre as Festas do Divino. Porto Alegre: Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul, 2006, p. 33. 14 SOARES, Doralécio. Folclore brasileiro. Santa Catarina. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1979, p. 39. 15 Id. Ibidem, p. 38-40.

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Espírito Santo, o qual se tornou alvo de peregrinação, atraindo pessoas de diversas

localidades.16

Maria I. P. de Queiroz reconheceu que as celebrações religiosas observadas

entre os habitantes do Contestado, à época imediatamente anterior à eclosão da

guerra, recordavam diversos aspectos presentes nos festejos em louvor ao Divino17.

As festividades do planalto catarinense destinavam-se a comemorar datas especiais,

dedicadas aos santos, a celebrar batizados, casamentos ou atender aos interesses

políticos do momento.18

No Contestado, consta que entre os promotores das festas religiosas estavam

fazendeiros, pequenos proprietários e comerciantes. Queiroz afirma, em sintonia

com autores como Monteiro, que as celebrações religiosas no Contestado eram

organizadas e dirigidas por irmandades leigas, tendo por patronos mais destacados

o Divino Espírito Santo e S. Sebastião.19

Uma das festas que ficou famosa na região, graças a sua relação com os

eventos que desencadearam a Guerra do Contestado, foi a festa em louvor ao

Senhor Bom Jesus. Realizada no mês de agosto, em Taquaruçu, localidade então

sob a jurisdição do município catarinense de Curitibanos, a festa era bastante

concorrida, contando com a participação de pessoas advindas de outros distritos,

com destaque para Perdizes, onde se organizava a festa em louvor ao mártir S.

Sebastião. Nos festejos de 1912, Taquaruçu recepcionou um curandeiro que crescia

em fama. Atendendo por monge José Maria, esse personagem não seria um

anacoreta ou integrante de uma ordem religiosa, mas um andarilho dedicado a

receitar remédios. Os moradores locais identificaram em José Maria um continuador

da obra de João Maria, personagem considerado santo no planalto catarinense e

assim cultuado em muitos lares. 20 Perseguido, José Maria buscou refúgio nos

campos do Irani, onde, numa malfadada operação policial, morrera para, em 1913,

16 RODERJAN, Roselys V. “Folclore no Paraná” in: Vasco José T. Ribas e Faissal el-Khatib (org.). História do Paraná. Vol. III. Curitiba: Grafipar, 1969, p. 159-162. Sobre a Casa do Divino, em Ponta Grossa, ver: <www.pontagrossa.pr.gov.br/casa-do-divino>. 08/2014. 17 QUEIROZ, Maria. I. P. de. La ‘guerre sainte’ au Brésil: le mouvement messianique du ‘Contestado’, op. cit. p. 88. 18 Id. Ibidem, p. 84-86. 19 Id. ibidem, p. 87. 20 CABRAL, Oswaldo R. A campanha do Contestado. Florianópolis: Lunardelli, 1979, p. 107-198.

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“retornar” no imaginário dos rebeldes ao lado de S. Sebastião junto a um Exército

encantado.21

Lançando os olhares sobre os registros da guerra, muitos são os elementos

que sugerem que a devoção religiosa não apenas permeou o cotidiano dos

rebeldes, mas converteu-se em ideologia que animava parcela do movimento e

inspirava a sua organização. Sobre essa questão, no agir ao longo dos combates,

na organização dos chamados “redutos” (acampamentos rebeldes), na condução

das práticas religiosas e na composição da liderança há elementos que apontam

para a relação entre as crenças de diversos rebeldes do Contestado com devoções

religiosas populares, tendo destaque a devoção ao Império do Divino.

Responsável por conduzir missões religiosas no planalto catarinense, frei

Rogério Neuhaus relatou a existência de capelas dedicadas ao Divino Espírito Santo

em comunidades do Contestado.22 Na época da guerra, no município catarinense de

Canoinhas foi preso José Tavares Freire por suspeita de integrar o grupo de devotos

de José Maria, estando de posse, segundo dados do depoimento, da bandeira de

Santa Ritta e outra acrescida de uma cruz verde e as iniciais “S.D.J.” (segundo o

declarante significando “Senhor Divino Jesus” ).23 Um dos sobreviventes da guerra,

Benedito Chato, narrou a Duglas T. Monteiro que era costume na região o cortejo

com a Bandeira do Divino Espírito Santo.24 Os relatos sobre os combates informam

que os rebeldes portavam bandeiras brancas, acrescidas do desenho de uma cruz

verde no centro da flâmula, a exemplo da bandeira apreendida com José T. Freire

em Canoinhas.

No Contestado, bandeiras com desenhos de cruz, pomba e mesmo a

reprodução do martírio de S. Sebastião foram observados entre os rebeldes.

Exemplares desses estandartes se encontram em museus, merecendo destaque a

“bandeira de S. Sebastião”, parte do acervo do Museu Histórico Nacional, no Rio de

Janeiro (consultado pelo autor deste artigo). Os “fanáticos” eram vistos agitando

21 Sobre o assunto, ver SALOMÃO, Eduardo R. A Guerra de S. Sebastião (1912-1916): um estudo sobre a ressignificação do mito do rei encoberto no movimento sociorreligioso do contestado. Brasília, 2012. 22 SINZIG, Pedro. Frei Rogério Neuhaaus. Petrópolis: Editora Vozes, 1939, p. 188. 23 Depoimento de José Tavares Freire, 18 de outubro de 1914. Auto de perguntas, acervo do Arquivo Histórico do Exército (AHEx). 24 MONTEIRO, Duglas T. Os errantes do novo século, op. cit. p. 234.

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essas bandeiras durante os combates, atitude que foi interpretada por observadores

como um sortilégio para conferir proteção contra as armas inimigas.25 Tal atitude

sugere que a crença no poder milagroso das bandeiras consagradas ao Divino e aos

santos era difundida no Contestado.

Nos “redutos” (acampamentos rebeldes), eram organizadas formaturas

(reuniões) diárias. Muitas dessas reuniões incluíam a realização de rezas e

procissões que percorriam um quadrilátero nomeado de “Quadro Santo”, onde

brados eram proferidos, a exemplo de "Viva o São José Maria! Viva o cavalo de São

José Maria! Viva a Monarquia! Viva a coroa do Império! Viva o acampamento de

São Sebastião! Viva a espada de São José Maria! Vivam os poderes de São José

Maria!".26 (Grifo meu). Vários autores perceberam na coroa do Império citada no

brado uma alusão direta a monarquia – seria essa única intenção de um brado que

reunia tantas referências? Muitas são as possibilidades interpretativas, não estando

descartada que essa referência possa aludir a coroa do Império do Divino, sem

prejuízo ao saudosismo monárquico.

Ainda sobre indicativos de que o culto ao Divino Espírito Santo esteve

presente nos “redutos” rebeldes, há uma questão que parece decisiva. Nos

acampamentos rebeldes, a presença de moças chamadas "virgens" foi objeto de

atenção de muitos observadores, que nelas perceberam jovens inocentes dispostas

ou coagidas a ceder aos caprichos de lideranças mal-intencionadas. As informações

apontam que tais moças, distantes de se dedicar a atender aos “caprichos” dos

chefes, atuavam como assistentes das lideranças e videntes (médiuns), sendo

destaque nas procissões realizadas nos acampamentos, isso quando não assumiam

papel de maior relevância, chegando mesmo, em alguns casos, a comandar

acampamentos, caso da afamada virgem Maria Rosa 27 . O papel de “virgem” é

reconhecido como parte da devoção ao Divino e, ainda hoje, no município goiano de

25 LEMOS, Alfredo de Oliveira. A história dos fanáticos de Santa Catarina e parte de minha vida naqueles tempos – 1913/1916. Passo Fundo: Gráfica e Editora Pe. Berthier, /s.d./. p. 22. 26 ASSUNÇÃO, Herculano T. de. A campanha do Contestado. Vol. 1. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, 1917, p. 236. 27 MACHADO, PAULO P. Lideranças do Contestado, op. cit., p.222 e ss.

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Pirenópolis, as festividades envolvem a coroação do imperador e a presença das

“virgens” vestidas de branco.28

Outro aspecto que merece destaque foi a formação de cavaleiros intitulados

“Pares de França” – a presença de grupo homônimo é ainda hoje observada em

diversas localidades nos festejos em louvor ao Divino. Afirmar-se que à época da

guerra, durante a permanência em Taquaruçu, José Maria teria concebido e

organizado uma irmandade, distribuindo funções de comando entre os adeptos,

horários para as rezas e procissões, entre outras práticas 29 , destacando-se a

formação de um conselho, guarda pessoal ou esquadrão de elite constituído de 24

cavaleiros – não 12, como na legenda original.30 A fonte de inspiração do curandeiro

seria a novela de cavalaria História do Imperador Carlos Magno ou os Doze Pares

de França (doravante denominada História). O rebelde Benedito Chato afirmara que

“Ele mesmo [José Maria] fazia a leitura do livro de história de Carlos Magno”.31

Poucos dias após a batalha do Irani, o jornal Diário da Tarde publicou uma matéria

comentando a leitura e utilização da História do Imperador Carlos Magno pelo

curandeiro.

[...] José Maria fez da história do famoso rei a sua bíblia. Que teria nesse livro que tanto impressionou o espírito grosseiro desse caboclo? Qual seria a façanha que o levou a fazer desse livro o seu evangelho.32

Corroborando essa versão, há a publicação do jornal O Dia, de 17 de

dezembro de 1914.

Na organização do estado maior dos fanáticos, encontra-se a influência da História de Carlos Magno, tanto assim que em Taquaruçu existem os 12 Pares de França e, em poder de um jagunço, já as forças legais encontraram um exemplar daquele livro.33

28 CARVALHO, Adelmo de. Pirenópolis: coletânea 1727-2000.op.cit. p. 94-96, 98 e ss. 29 CABRAL, Oswaldo R. A campanha do Contestado op. cit., p. 180-181. 30 QUEIROZ, Maurício V. de. Messianismo e conflito social, op. cit., p. 125. 31 Depoimento de Benedito Pedro de Oliveira (Benedito Chato). Cit. MONTEIRO, Duglas T. Os errantes do novo século, op. cit., p. 235. 32 Diário da Tarde, Curitiba, edição de 1º de novembro de 1912. Cit. por BERNARDET, Jean Claude. Guerra camponesa no Contestado. Coleção Passado e Presente. São Paulo: Global Editora, 1979, p. 29. 33O Dia, Florianópolis, edição de 17 de dezembro de 1914. Cit. por ESPIG, Márcia J. A presença da gesta carolíngia no movimento do Contestado. Dissertação de Mestrado em História. UFRGS. Porto Alegre, 1998. p. 127.

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Os Pares de França ficaram famosos pela bravura e por cometer crimes ao

longo da guerra. Supõe-se que os Pares estrearam no combate do Irani – marco do

início da guerra – a eles cabendo a morte do comandante da tropa atacante, capitão

Gualberto.34

Considerações finais

A semelhança de diversos autores, Aujor A. da Luz concluiu que, graças a

uma interpretação equivocada do significado da dignidade de “par” (igual,

semelhante), a guarda de elite inspirada nos Doze Pares foi formada erroneamente

por 24 cavalheiros.35 Para Luz, a ignorância e a incapacidade de compreensão do

“sentido” da palavra “Par” teriam aumentado o séquito de Carlos Magno.

No que se refere aos Pares e sua associação a devoção ao Divino, sabe-se

que em algumas localidades brasileiras a festa de Pentecostes é precedida da

comemoração das Cavalhadas, cujo término marca o início das comemorações.

Nessa cerimônia encenam-se batalhas em reminiscência à reconquista da Península

Ibérica, tendo como fonte de inspiração os contos de gesta transmitidos pela

tradição oral e a literatura popular. Os contendores são identificados pelos trajes e

emblemas heráldicos: doze mouros vestem roupas vermelhas e ostentam o

crescente, doze cristãos trajam uniforme azul e têm a cruz ou a pomba do Divino por

brasão. Após a encenação de lutas, o espetáculo termina com a derrota e a

conversão dos mouros, seguindo-se uma confraternização entre os cavaleiros que

terminam por formar “24” pares (dignidades).36 Justamente o número de cavaleiros

dos Pares de França do Contestado.

No Paraná há registros das Cavalhadas a partir do séc. XVIII. Os folcloristas

citaram a sua ocorrência nos municípios de Apucarana, Campo Largo, Clevelândia,

34 PEIXOTO, Demerval. Campanha do Contestado: episódios e impressões. Edição do autor. 3 vols. Rio de Janeiro, 1916, p. 129. 35 LUZ, Aujor Ávila da. Os fanáticos: crimes e aberrações da religiosidade dos nossos caboclos. Florianópolis: Editora UFSC, 1999. p. 157. 36 MACEDO, José R. “Mouros e cristãos: a ritualização da conquista no velho e no novo mundo” in: Francisco das Neves Alves (org.). Brasil 2000 – Quinhentos anos do processo colonizatório: continuidades e rupturas. Rio Grande/RS: Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FURG). 2000, p. 9-18.

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Guarapuava, Imbituva, Morretes, Palmas, Paranaguá, Ponta Grossa, Rebouças e

São José dos Pinhais.37 Atualmente poucas são as localidades que preservam esse

folguedo, destacando-se Guarapuava e Palmas. Escassas são as referências sobre

as Cavalhadas em Santa Catarina (mas abundantes no tocante ao Divino), mas é

revelador observar que no Paraná, em municípios próximos à região do Contestado,

as Cavalhadas eram encenadas e sobreviveram, preservando a tradição inspirada

na saga dos Pares de França.

A respeito do assunto, em depoimento o “par” Clementino afirmou que

Eusébio e Manoel Rocha (chefes do movimento) “diziam que ia fazer mil anos da

Guerra de Carlos Magno”.38 A referência ao comandante dos Pares, Carlos Magno,

associa-se a uma mensagem milenarista condizente com a expectativa do advento

do imperador dos últimos dias, monarca encarregado de preparar a segunda vinda

de Cristo. Outras fontes ressaltam que a citação a Carlos Magno não era incomum

na região. Uma oração encontrada nos pertences de Jerônimo Antônio Pereira,

ajudante do comandante-geral do reduto de Santa Maria, cita: “Todas as pessoas

muito se ademiram do grande milagre e o Rei dos 12 pares de França mandou

descrever com palavras do Santo Evangelho”.39

A mensagem profética presente no discurso de integrantes do movimento

sugere que não só de festejos e Cavalhadas se fez a formação dos Pares. Numa

tentativa de apaziguar os ânimos, Frei Rogério Neuhaus deparou-se com situação

inusitada. Durante um encontro buscando a rendição dos rebeldes, Neuhaus teria

sido ofendido pelo neto do líder Eusébio, Manoel – um menino de aproximadamente

12 anos –, a quem os acampados tomaram por líder espiritual. Na ocasião o menino

teria assumido uma postura desafiadora, interpelando o frade: “O que o senhor quer

fazer aqui? Cachorro! Retire-se, senão apanha!”.40 Em sua defesa, Neuhaus teria

retorquido: “Respeitem os padres! [...] eles são ministros de Deus. Deus aqui nos vê.

37 RODERJAN, Roselys V. “Folclore no Paraná” in: Vasco José T. Ribas e Faissal el-Khatib (org.). História do Paraná. Vol. III. Curitiba: Grafipar, 1969. p. 162. 38 Depoimento de Clementino. Cf. QUEIROZ, Maurício V. Messianismo e conflito social, op. cit. p. 111. 39 “Oração de S. Salvador do Mundo”. Cit. por ASSUNÇÃO, Herculano T. de. A campanha do Contestado. Vol. 1., op. cit., p. 306. 40 SINZIG, Pedro. Frei Rogério Neuhaus. Petrópolis: Editora Vozes, 1939, p. 225.

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Se me tocardes, Deus vos castigará!”. 41 Prosseguindo a discussão, em dado

momento, Querubina, avó do menino, teria respondido ao sacerdote: “Os padres não

valem mais nada”.42 Por fim, Neuhaus não conseguiu convencer Eusébio sobre o

risco iminente da ação militar e por pouco escapou de ser agredido. Expondo as

suas convicções, Eusébio teria concluído a discussão erguendo a espada e

proclamado o fim da autoridade dos sacerdotes e anunciando o despertar de uma

nova época: “Liberdade! Estamos agora em outro século!”.43

Ecos de um profetismo de inspiração joaquinista? Sebastianismo reeditado?

Muitas são as questões suscitadas pela presença de elementos constitutivos da

devoção ao Divino no Contestado e sua associação com o profetismo bíblico e o

milenarismo judaico-cristão, evidenciando um tema desafiador e que merece ser

aprofundado.

Referências

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41 Id. Ibidem. 42 Id. Ibidem, p. 226. 43 Id. Ibidem, p. 226.

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