a despensa-do-rio-de-janeiro

1
8 - EXTRA O GLOBO Sábado, 3 de março de 2012 ZONA OESTE ZONA OESTE Sábado, 3 de março de 2012 EXTRA O GLOBO -9 ECONOMIA A despensa do Rio de Janeiro Fronteira agrícola, região é responsável pela maior parte da produção da cidade WILSON MENDES [email protected] Legalmente, não há mo- rador em Zona Rural, na cidade do Rio, de acordo com os dados do IBGE. Mas não é “por milagre” que brotam das terras da Zona Oeste aipim, milho, banana e caqui, entre tan- tos outros produtos. Eles surgem de lavouras meca- nizadas ou mesmo pelo trabalho braçal, quase ar- caico, de agricultores co- mo Luis Carlos Santana, de 62 anos. Diariamente, Luis sobe e desce o Caminho da Virgem Maria, no Rio da Prata, Campo Grande. Em seus burros, jacás abarrotados: — Produzo e vendo mi- lho, caqui, abacate, aipim. O carro-chefe é a banana. A região é a última fronteira agrícola da cida- de. Empurrada para o Oeste pela expansão urba- na, que ocorreu, principal- mente, na década de 60 — Antes o cinturão agrícola chegava onde ho- je funciona o Ceasa, em Irajá. Agora a produção vem de cidades do interior e parte da Zona Oeste — explica Roberto Marques Pinto, engenheiro agrôno- mo do Núcleo de Informa- ção e Documentação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do estado (Emater). De acordo com dados da empresa, o município do Rio foi responsável por uma produção, em 2010, de 55,5 mil toneladas de vege- tais. Quase metade é de ai- pim, mas também se pro- duz chuchu e coco verde. O VINAGRE de caqui: produto exclusivo, vendido pelos agricultores a restaurantes da Zona Sul D O novo cenário da cooperativa Se hoje Luis sobe e desce a montanha de Rio da Pra- ta sem fazer manha, houve uma época em que faltava motivação. Com o preço dos produtos em queda li- vre, e sem condições de competir com a agricultura intensiva, os produtores fa- miliares como ele, abando- naram os cultivos. O cená- rio só mudou depois que os produtores se reuniram em uma cooperativa. — Quando o preço ficou baixo eu fui tentar a vida lá fora. Mas com a associação, voltei — comenta Luis. A Associação de Produ- tores Orgânicos da Pedra Branca e Rio da Prata (Agroprata) tem papel A nova perspectiva no campo não atrai apenas quem deixou a terra. O metalúrgico aposentado Mario Ribeiro, de 53 anos, já trabalha para tornar o sítio comprado em 2004 em lavoura orgânica: — Tenho abacate, banana e caqui, mas não tenho cer- tificação. Com o preço mais alto, vou ampliar o cultivo. O mercado está aqueci- do. Embora a prefeitura não tenha uma secretaria de agricultura, os assuntos da pasta relativos à produ- ção familiar estão inseri- dos em Desenvolvimento Econômico Solidário. De acordo com o setor, o circuito de feiras orgânicas será ampliado de seis para 12 feiras. Além da Zona Sul, serão melhor cobertas as zonas Norte e Oeste. O FOGÃO à lenha usado na produção agrícola: preparo de alimentos antes da venda ao consumidor OS AGRICULTORES da Associação de Produtores Orgânicos da Pedra Branca e Rio da Prata e a diretora (ao centro) O EX-METALÚRGICO Mário Ribeiro: lavoura orgânica FOTOS DE THIAGO LONTRA D O campo atrai o homem da cidade Hoje a produção vem do interior e da Zona Oeste Roberto Pinto Engenheiro agrônomo preponderante nesta reto- mada do campo, como ex- plica a diretora-executiva Rita Caseiro: — O trabalho com os produtores é para agregar valor ao produto. Além de conseguirmos a certifica- ção de produção orgânica, sem agrotóxicos, também criamos novos produtos. Hoje, além dos alimentos orgânicos, são comercializa- dos em toda a cidade a ba- nana passa e produtos ino- vadores, como o vinagre de caqui. Com o diferencial da produção orgânica, o preço do quilo da banana chega a R$ 5, contra os R$ 2 do cul- tivo tradicional.

Upload: silvia-baptista

Post on 30-Jul-2015

100 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: A despensa-do-rio-de-janeiro

8 - EXTRA ● O GLOBO ● Sábado, 3 de março de 2012 ● ZONA OESTE ZONA OESTE ● Sábado, 3 de março de 2012 ● EXTRA ● O GLOBO - 9

ECONOMIA

AdespensadoRiodeJaneiroFronteira agrícola, região é responsável pela maior parte da produção da cidade■ WILSON [email protected]

■ Legalmente, não há mo-rador em Zona Rural, nacidade do Rio, de acordocom os dados do IBGE.Mas não é “por milagre”que brotam das terras daZona Oeste aipim, milho,banana e caqui, entre tan-tos outros produtos. Elessurgem de lavouras meca-nizadas ou mesmo pelotrabalho braçal, quase ar-caico, de agricultores co-mo Luis Carlos Santana,de 62 anos.

Diariamente, Luis sobe edesce o Caminho da VirgemMaria, no Rio da Prata,Campo Grande. Em seusburros, jacás abarrotados:

— Produzo e vendo mi-lho, caqui, abacate, aipim.O carro-chefe é a banana.

A região é a últimafronteira agrícola da cida-de. Empurrada para oOeste pela expansão urba-na, que ocorreu, principal-mente, na década de 60

— Antes o cinturãoagrícola chegava onde ho-je funciona o Ceasa, emIrajá. Agora a produçãovem de cidades do interiore parte da Zona Oeste —explica Roberto MarquesPinto, engenheiro agrôno-mo do Núcleo de Informa-ção e Documentação daEmpresa de AssistênciaTécnica e Extensão Ruraldo estado (Emater).

De acordo com dados daempresa, o município doRio foi responsável poruma produção, em 2010, de55,5 mil toneladas de vege-tais. Quase metade é de ai-pim, mas também se pro-duz chuchu e coco verde.

O VINAGRE de caqui: produto exclusivo, vendidopelos agricultores a restaurantes da Zona Sul

DO novocenário dacooperativa■ Se hoje Luis sobe e descea montanha de Rio da Pra-ta sem fazer manha, houveuma época em que faltavamotivação. Com o preçodos produtos em queda li-vre, e sem condições decompetir com a agriculturaintensiva, os produtores fa-miliares como ele, abando-naram os cultivos. O cená-rio só mudou depois que osprodutores se reuniram emuma cooperativa.

— Quando o preço ficoubaixo eu fui tentar a vida láfora. Mas com a associação,voltei — comenta Luis.

A Associação de Produ-tores Orgânicos da PedraBranca e Rio da Prata(Agroprata) tem papel

■ A nova perspectiva nocampo não atrai apenasquem deixou a terra. Ometalúrgico aposentadoMario Ribeiro, de 53 anos,já trabalha para tornar osítio comprado em 2004em lavoura orgânica:

— Tenho abacate, bananae caqui, mas não tenho cer-tificação. Com o preço maisalto, vou ampliar o cultivo.

O mercado está aqueci-

do. Embora a prefeituranão tenha uma secretariade agricultura, os assuntosda pasta relativos à produ-ção familiar estão inseri-dos em DesenvolvimentoEconômico Solidário.

De acordo com o setor, ocircuito de feiras orgânicasserá ampliado de seis para12 feiras. Além da ZonaSul, serão melhor cobertasas zonas Norte e Oeste.

O FOGÃO à lenha usado na produção agrícola: preparo dealimentos antes da venda ao consumidor

OS AGRICULTORES da Associação de Produtores Orgânicos da Pedra Branca e Rio da Prata e a diretora (ao centro)

O EX-METALÚRGICO Mário Ribeiro: lavoura orgânica

FOTOS DE THIAGO LONTRA

D

O campo atrai ohomem da cidade

‘’Hoje aproduçãovem dointerior e daZona Oeste

Roberto PintoEngenheiro agrônomo

preponderante nesta reto-mada do campo, como ex-plica a diretora-executivaRita Caseiro:

— O trabalho com osprodutores é para agregarvalor ao produto. Além deconseguirmos a certifica-ção de produção orgânica,sem agrotóxicos, tambémcriamos novos produtos.

Hoje, além dos alimentosorgânicos, são comercializa-dos em toda a cidade a ba-nana passa e produtos ino-vadores, como o vinagre decaqui. Com o diferencial daprodução orgânica, o preçodo quilo da banana chega aR$ 5, contra os R$ 2 do cul-tivo tradicional.