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i Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia ITGT Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC-GO A DEPRESSÃO EM PSICÓLOGOS: UMA PESQUISA FENOMENOLÓGICA Carolina Duarte de Oliveira Prof. Ms. Mariana Costa Brasil Pimentel Goiânia, 2020

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica

Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO

A DEPRESSÃO EM PSICÓLOGOS: UMA PESQUISA FENOMENOLÓGICA

Carolina Duarte de Oliveira

Prof. Ms. Mariana Costa Brasil Pimentel

Goiânia, 2020

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia – ITGT

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica

Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO

A DEPRESSÃO EM PSICÓLOGOS: UMA PESQUISA FENOMENOLÓGICA

Carolina Duarte de Oliveira

Trabalho de Conclusão de Curso pelo Instituto

de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia

de Goiânia (ITGT) como requisito parcial à

conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-

Senso em Gestalt-terapia chancelado pela

Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Orientadora: Mariana Costa Brasil Pimentel

Goiânia, 2020

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Agradecimentos

Primeiramente agradeço a Deus e à Nossa Senhora que foram minhas principais

fontes de força para chegar até o final dessa pesquisa.

Aos meus pais, Lucinete e José que sempre me apoiaram na minha escolha

profissional e me ajudaram a seguir meu caminho.

Às minhas orientadoras que me auxiliaram com amor e carinho para que eu

conseguisse terminar essa pesquisa, em especial a Professora Mariana que com jeito doce

me fez ver meu projeto com outros olhos. Também a minha professora e terapeuta Sandra

que me ensina desde o curso introdutório do ITGT.

Ao meu companheiro Edileu Jr. que é um dos meus principais apoiadores que me

deram forças para não desistir.

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A Depressão em Psicólogos: Um Estudo Fenomenológico¹

Depression in Psychologists: A Phenomenological Study

Carolina Duarte de Oliveira ²

Mariana Costa Brasil Pimentel ³

Resumo

No Brasil cerca de 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão. A compreensão da

depressão sob a percepção da Gestalt-terapia se dá por meio da psicopatologia

fenomenológica no qual o adoecimento do organismo ocorre em sua totalidade e está ligada a

sua forma de fazer contato com o mundo. Tendo em vista a escassez de pesquisas sobre a

saúde mental de psicólogos e a sua forma de atuação, esse estudo se fez necessário. O

objetivo desta pesquisa foi compreender e descrever a vivência do psicólogo clínico com

depressão. Tratou-se de uma pesquisa fenomenológica, que teve como participantes três

psicólogas clínicas. Para a análise dos dados coletados, utilizou-se o método de Giorgi. Foi

possível chegar a três categorias que expressassem a experiência de ter o diagnóstico de

depressão: 1) Percebendo sintomas depressivos e o processo de aceitação do próprio

diagnóstico; 2) Estratégias de enfrentamento como forma de ajustamento criativo

desenvolvidos para lidar com a depressão; 3) Reflexos do adoecimento na prática clínica. Os

resultados apontam para a necessidade da humanização do papel dos psicólogos.

Palavras-chave: depressão, gestalt-terapia; ajustamento criativo, psicologia clínica.

Abstract

In Brazil, about 11.5 million people suffer from depression. The understanding of depression

by the perception of Gestalt-therapy occurs through phenomenological psychopathology in

which the illness of the organism occurs in its entirety and is linked to its way of making

contact with the world. In view of the scarcity of research on the mental health of

psychologists and the way they operate, this study was necessary. The objective of this

research was to understand and describe the experience of the clinical psychologist with

depression. It was a phenomenological research, with three clinical psychologists as

participants. For the analysis of the collected data, the method of Giorgi (2010) was used. It

was possible to reach three categories that expressed the experience of having a diagnosis of

depression: 1) Experience lived in the face of a diagnosis of depression; 2) Creative

adjustments developed to deal with depression and 3) Reflections of illness in clinical work.

The results point to the need to humanize the role of psychologists.

Keywords: depression, gestalt therapy; creative adjustment, clinical psychology.

__________________ ¹Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Gestalt-Terapia do

Curso de Pós-graduação Lato Sensu do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia

(ITGT).

²Psicóloga Clínica, cursando especialização em Gestalt-Terapia pelo ITGT. E-mail: [email protected] ³ Psicóloga, Especialista em Gestalt-Terapia pelo ITGT, mestre em Psicologia, professora-supervisora do ITGT.

E-mail: [email protected]

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A Depressão em Psicólogos: um estudo fenomenológico

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), mais de 300 milhões de

pessoas sofrem com depressão no mundo, sendo esta uma das principais doenças

incapacitantes. Estima-se que menos da metade dessas pessoas recebam tratamento eficaz

devido a fatores como diagnósticos inadequados, falta de recursos e estigmas relacionados aos

transtornos mentais.

No Brasil, cerca de 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população) sofrem com

depressão; as mulheres são as mais acometidas (Organização das Nações Unidas – ONU,

2017). Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013, em parceria

com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a faixa etária com maior

prevalência de autorrelato de depressão é a de 60 a 64 anos (11,1%). Por local de moradia, a

maior incidência é de pessoas que moram na zona urbana (8,0%) e na região Sul do país

(12,6%). Foi observado também que existe maior ocorrência em pessoas com ensino superior

completo (8,7 %) e com ensino fundamental incompleto ou sem instrução (8,6%). Em relação

ao uso de medicações estima-se que 51,7% dos homens e 52,3% das mulheres com

diagnóstico de transtorno depressivo faziam uso de medicamentos. Em relação a tratamento

psicológico, apenas 6,4% tinham acesso à psicoterapia. Essa pesquisa foi realizada com o

objetivo de levantar dados sobre a situação da saúde e os estilos de vida da população

brasileira. Deveria ter a periodicidade de cinco anos, porém não foram encontrados dados

mais recentes (IBGE, 2014).

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V,

2014), os transtornos depressivos estão classificados no grupo de transtornos de humor que

também apresentam outras patologias como: transtorno disruptivo da desregulação do humor,

transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno

depressivo induzido por substâncias/medicamentos, transtorno depressivo devido à outra

condição médica, transtorno depressivo especificado, transtorno depressivo não especificado e

transtorno depressivo maior que é o mais comum. Todos os transtornos supracitados acima

têm em comum alguns sintomas, como: humor triste, vazio ou irritável; prejuízos

significantes na funcionalidade do ser humano, associados à desregulações somáticas. Os

aspectos que os diferenciam são: o momento, a duração e a etimologia.

Os principais critérios apontados pelo DSM-V (2014) para o diagnóstico de depressão

são: humor deprimido em grande parte do dia seja este relatado pelo próprio indivíduo ou

observado por terceiros, diminuição considerável do prazer e interesse em atividades

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cotidianas, alteração do peso e do apetite, alteração do sono (insônia ou hipersonia), retardo

ou agitação psicomotora, fadiga ou perda de energia, sentimento de incapacidade ou culpa em

excesso, dificuldade em pensar, se concentrar e tomar decisões e pensamentos de morte e

suicídio. Além disso, o indivíduo deve apresentar sofrimento ou prejuízos significativos em

algum aspecto da vida (profissional, afetiva ou social).

Segundo Santiago e Holanda (2013), existem ainda fatores de risco para o

desenvolvimento da depressão como: histórico familiar de depressão, doença física, episódio

anterior de depressão, acontecimentos estressantes, perdas e abuso de medicamentos ou

drogas. Além disso, os autores corroboram com os dados supracitados quando afirmam que a

depressão atinge duas vezes mais mulheres do que homens, e acrescentam que a

vulnerabilidade feminina é ainda maior no período pós-parto.

Neste estudo buscou-se a compreensão da depressão a partir da ótica da Gestalt-

terapia, que, segundo Holanda (1998), se dá por meio da psicopatologia fenomenológica na

qual o adoecimento do organismo ocorre em sua totalidade e está ligado às suas relações com

o mundo. Estar adoecido significa estar em divergência seja na relação com o outro ou

consigo. Ao se interessar pelo potencial máximo do ser humano, a Gestalt-terapia parte da

dimensão saudável para atingir o entendimento por inteiro.

Assim, pode-se dizer que o adoecimento surge como um desequilíbrio na relação

homem/mundo. Para a Gestalt-terapia o diagnóstico não é uma categorização, ou seja, um

conjunto de sintomas que indicam uma psicopatologia, o foco está, então, na forma como a

pessoa vivencia cada sintoma. Portanto, o diagnóstico é feito de maneira processual no qual a

forma como o homem vive e descreve suas experiências no aqui e agora faz com que seus

sintomas tenham significado (Frazão, 1996).

O método usado na Gestalt-terapia é a fenomenologia, na qual afirma que os

fenômenos se revelam por conta própria, ou seja, os pressupostos ou ideias concebidas são

deixados de lado. Portanto os indivíduos não recebem rótulos ou categorias pré-estabelecidas,

porque o conceito de normalidade estática é abandonado, adotando a si próprio como seu

referencial. O homem passa a ser a medida da sua própria normalidade pois somente a partir

da sua perspectiva de compreensão experiencial é que se baseia sua saúde ou doença

(Miranda, 2003).

Nessa perspectiva é buscada a compreensão da vivência singular de cada pessoa.

Compreender significa entender as relações que compõem o fenômeno, captar o sentido

individual a partir das interrelações psíquicas, passando também pelo entendimento da

configuração que sustenta esse mesmo fenômeno. Com a intenção de descrever ao invés de

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explicar, é usado “como” e “o que” para chegar a maior compreensão do adoecer (Miranda,

2003).

Nesse sentido, em Gestalt-terapia, o diagnóstico é compreendido como um

apontamento que mostra a maneira como o indivíduo está vivenciando suas experiências. Os

sinais e sintomas são formas de alertas, bilhetes de aviso para um pedido de integração para o

caminho da saúde. É necessário que haja escuta, pois ela surge em função de um desequilíbrio

na relação homem/mundo (Hycner, 1995).

De acordo com Hycner (1995), dentro do problema está contida a sua solução porque,

através da escuta e da integração, são encontradas sementes da cura. As dificuldades são

desenhos da força vital do indivíduo e por meio da aceitação é possível enxergar o potencial

criativo nessas situações. Somente quando um indivíduo acolhe e aceita sua doença como

parte da sua existência é que ele pode integrar-se.

Para ampliar o conceito de adoecimento é preciso compreender a teoria do contato

para a Gestalt-terapia. A essência do adoecimento é um bloqueio de contato, ou seja,

interrupção do fluxo de movimento no qual consiste em aproximar e afastar. Se o movimento

está prejudicado o contato está também comprometido, coibindo assim a força de

transformação e mudança (Ribeiro 2017).

Perls, Hefferline e Goodman (1997) afirmam que existem quatro estágios do contato:

pré-contato, contato, contato final e pós-contato. O pré-contato é o período em que o corpo é o

fundo e as necessidades internas ou os estímulos ambientais são figura. O contato se

caracteriza pela mobilização da energia e a ação em direção as possibilidades de escolha

(aceitando ou rejeitando). A fase posterior ocorre quando essa escolha foi realizada e o corpo

e ambiente se tornam fundo. O pós-contato é a interação fluida entre homem e ambiente.

O lugar em que o indivíduo experiencia a interação eu/mundo é chamada de fronteira

de contato. As funções motoras e sensoriais são as principais portas de entrada para a sua

realização. Porém, o que determina a qualidade do contato é o modo como essas funções são

usadas (Polster & Polster, 2001).

O contato é compreendido através da onda “awareness-excitação-contato”. Esse

processo exige o reconhecimento das necessidades por meio de um ciclo com sete fases.

Iniciando pela sensação sobre a vivência sensorial no mundo, passa pela a awareness

propondo uma consciência mais aprofundada, caminha para a mobilização da energia na qual

existe uma preparação para a próxima etapa que é a ação em si. A penúltima parte é o contato

no qual o indivíduo se nutre ou tenta se satisfazer. Por fim a retirada/descanso que mostra a

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finalização do processo e dá espaço para que uma nova necessidade seja identificada (Zinker,

2007).

Quando existe a interrupção de algum desses pontos o indivíduo encontra-se adoecido.

Segundo Zinker (2007), a pessoa que bloqueia suas sensações interrompe seu processo de

awareness. Como consequência existe um prejuízo na mobilização de energia.

Os movimentos vitais de contato e retração (fuga ou afastamento) são os mais

importantes da personalidade já que, por meio deles, as necessidades são satisfeitas usando o

que é nutritivo e afastando o que é tóxico. Quando esse movimento entra em desequilíbrio, o

processo de crescimento é prejudicado, ou seja, o organismo sai da homeostase e seu

ajustamento criativo está adoecido (Cardella, 2014).

Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1997), na compreensão da totalidade do

indivíduo, o contato não acontece de forma passiva. Ele é criativo e dinâmico, fluindo

ativamente na direção do crescimento no campo vivencial. O ajustamento criativo tem a ver

com a competência de ser espontâneo e usar o que é nutritivo para crescer. Assim, “todo

contato é ajustamento criativo do organismo no ambiente” e que “a psicologia é o estudo dos

ajustamentos criativos” (p 45).

D’Acri, Lima e Orgler (2016) afirmam que ajustamento criativo é uma inter-relação

entre organismo e o meio no qual o indivíduo tem contato e visa o equilíbrio. Esse processo é

fundamental para a sobrevivência e crescimento humano e implica diretamente na

autorregulação. Assim, se ajustar criativamente se relaciona com a forma que cada indivíduo

assume sua responsabilidade em produzir condições saudáveis.

Os ajustamentos criativos podem se tornar disfuncionais. Isso acontece quando ele

perde sua característica criadora e passa a ser alienada e cristalizada. Não consegue assim se

atualizar de acordo com as mudanças das necessidades (Frazão, 1996).

Lima (2014) acrescenta ainda outro ponto para a homeostase que é a autorregulação

organísmica que consiste em um “princípio natural que rege o funcionamento do organismo”

(p.88). São as potencialidades do indivíduo intrinsecamente relacionadas ao seu

funcionamento total.

O estado depressivo pode ser compreendido em dois planos: ajustamento depressivo e

gestalt fixa. O primeiro tem um papel e relação com a tristeza sendo esta como qualquer outra

emoção essencial para a sobrevivência humana. O indivíduo se deprime como forma de

ajustar-se criativamente evitando entrar em contato com alguma situação desagradável (Yano,

2015).

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O segundo plano é a cristalização do ajustamento depressivo, ou seja, não existe mais

necessidade desse tipo de ajustamento no presente, contudo ele é usado de forma repetida.

Algo que foi funcional no passado juntamente com fatores sociais e biológicos se instala de

maneira fixa e enrijecida provocando perdas no desenvolvimento das possibilidades do

indivíduo (Yano, 2015).

Em consonância, Roubal (2007) afirma que as regras que foram introjetadas no

decorrer da vida do indivíduo influenciam negativamente nas suas autoavaliações, assim o

ajustamento depressivo se fixa e interrompe o crescimento. Contudo, esse ajuste também pode

significar um mecanismo adaptativo com a função de proteção.

A partir de uma compreensão Gestáltica, este estudo buscou lançar luz para o

adoecimento mental, mais especificamente a depressão, de psicólogos. Para tanto, é

necessária a conceituação do trabalho desse profissional. O código de ética estabelece em seus

princípios fundamentais as diretrizes para o desenvolvimento legal da profissão sendo que é

papel do psicólogo pautar seu trabalho “no respeito, e na promoção de liberdade, da

dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a

Declaração Universal dos Direitos Humanos” (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2005

pg.16).

Também é papel do psicólogo promover saúde e qualidade de vida, ser responsável em

parâmetros sociais, culturais e políticos, contribuir para o desenvolvimento da psicologia tanto

teórica quanto prática e zelar para que o exercício profissional seja realizado com dignidade

(CFP, 2005).

A partir do que foi abordado até aqui, levantou-se o seguinte questionamento: como o

profissional de psicologia lida com o seu próprio adoecimento mental, especificamente com a

depressão?

Existe uma complexa relação entre o trabalho e a saúde, na qual o trabalho interfere

tanto de modo positivo quanto negativo na qualidade de vida do trabalhador. Essas

consequências podem acontecer a curto e a longo prazo sendo que um dos principais sintomas

é o estresse (Duarte & Moraes, 2016).

Existem poucas pesquisas sobre depressão em profissionais da saúde. Em um

levantamento bibliográfico realizado pela pesquisadora, usando as palavras-chave depressão,

profissionais da saúde, adoecimento mental e transtornos mentais nas plataformas de busca

BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online), PePSIC

(Periódicos Eletrônicos em Psicologia) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe

em Ciências da Saúde), foi possível encontrar apenas um artigo que tratou-se de uma revisão

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de literatura sobre o tema de transtornos mentais em profissionais da saúde. Este estudo

buscou analisar a qualidade de trabalho e os fatores relacionados à depressão em médicos

(residentes e graduados), enfermeiros e estudantes de medicina. A conclusão foi que esta é

uma condição comum tendo como fatores principais de adoecimento a grande

responsabilidade em cuidar de outro ser humano, conflitos com os usuários da unidade

médica, relacionamento interpessoal com os colegas de equipe e riscos do ambiente hospitalar

(contaminação). Além disso, o despreparo para lidar com situações de dor, sofrimento e morte

podem levar o profissional a ter sentimentos conflitantes de frustração e incapacidade (Gomes

et al, 2015).

Se tratando de pesquisas específicas com psicólogos, foram usadas as seguintes

palavras chaves: psicólogo, depressão, transtorno mental, adoecimento mental e profissionais

de psicologia. Encontraram-se apenas três estudos. O primeiro estudo realizado por Duarte e

Moraes (2016) contou com a participação de 32 psicólogos que atuam na atenção primária da

saúde no Estado de Espírito Santo e apontou baixos índices de qualidade de vida e alto nível

de adoecimento mental. Esses fatores estão relacionados a altos níveis de cobrança no

trabalho, acúmulo de tarefas, falta de espaço de debate e voz ativa na equipe

multiprofissional.

O estudo de Nascimento, Duarte e Moraes (2018), realizado com 53 psicólogos que

atuam nos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) no Espírito Santo,

corroborou com a pesquisa supracitada ao apontar que, apesar do trabalho do profissional de

psicologia ser ativo também é fonte de baixa qualidade de vida e adoecimento mental. Esses

fatores são correlacionados com as condições de trabalho e a alta demanda psicológica que os

atendimentos exigem.

O último artigo encontrado relacionou-se com a presença de sintomas depressivos

em estudantes de graduação em psicologia. Cremasco e Baptista (2017) pesquisaram a relação

da presença de sintomas depressivos e pensamentos suicidas nesse público. Foram

pesquisados 77 alunos e os resultados se dirigem a uma relação positiva entre a falta de

motivos para viver e características depressivas, bem como o suicídio sendo uma forma de

fuga.

A presente pesquisa se justifica primeiramente pelo interesse pessoal da pesquisadora

em adoecimento mental de psicólogos clínicos, sobretudo com diagnóstico de depressão.

Compreender a dinâmica de atendimento de um profissional adoecido faz parte da construção

da imagem do psicoterapeuta como pessoa que também pode ficar doente. Estar presente

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nessa constante troca terapeuta/cliente demanda preparo técnico e prático de maneira

desafiadora que pode também adoecer.

Outra justificativa para esse trabalho é a escassa quantidade de pesquisas relacionadas

a saúde mental dos profissionais da saúde, sobretudo com psicólogos. Conforme apontado no

levantamento bibliográfico supracitado, foram encontradas poucas pesquisas com psicólogos

e nenhuma com psicólogos clínicos.

Assim, essa pesquisa tem como objetivo geral compreender e descrever a vivência do

psicólogo com diagnóstico de depressão que atua na área clínica. Ainda tem-se como

objetivos específicos descrever possíveis ajustamentos criativos realizados pelos profissionais

para lidarem com sua prática profissional e apontar possíveis reflexos do adoecimento do

psicólogo em sua prática clínica.

Metodologia

Este estudo empregou como metodologia a pesquisa qualitativa fenomenológica,

utilizando como instrumento de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas. Este é um

instrumento padronizado, com confiabilidade e fidedignidade necessárias para obter os dados

relevantes da pesquisa (Giorgi, 2010).

A análise dos dados se deu através do método fenomenológico de Amadeo Giorgi

(2010), sendo este um método que parte das descrições por escrito dos participantes para

analisar suas experiências vividas e compreender a relação entre ela e o fenômeno pesquisado.

Participantes

Participaram desta pesquisa três psicólogas, duas residentes no Estado de Goiás e uma

residente no Estado do Mato Grosso. Para a seleção das colaboradoras, foram considerados os

seguintes critérios de inclusão e exclusão: serem psicólogos atuantes na clínica de qualquer

abordagem teórica, com pelo menos dois anos de formação e um ano ou mais de experiência

clínica, que tenham recebido o diagnóstico de depressão realizado por um psiquiatra que já

tivessem feito tratamento psicofarmacológico e que estivessem, no momento da pesquisa, em

acompanhamento psicológico. Para preservar suas identidades, as participantes foram

identificadas com os nomes fictícios: Alice, Camila e Amanda.

Alice tem seis anos de formação em psicologia e atua na área clínica desde que se

formou. Tem 29 anos e é casada. Teve o diagnóstico de depressão há dois anos, está em

tratamento psiquiátrico e psicofarmacológico e faz uso do antidepressivo DESV, além do

acompanhamento psicológico. Apesar de ser diagnosticada na fase adulta sente que sempre

teve sintomas depressivos.

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Camila tem duas formações, sendo que a segunda é de psicologia. Atua na área clínica

desde sua formação que foi há dois anos. Tem 36 anos e é casada. Teve diagnóstico de

depressão há sete anos e iniciou o tratamento medicamentoso na mesma época. Atualmente

não faz uso de medicações, porém continua em tratamento psicoterapêutico.

Amanda é formada em psicologia há 11 anos e já atuou em outras áreas. Trabalha na

área clínica desde que se formou. Tem 36 anos e é solteira. Recebeu o diagnóstico de

depressão desde que era adolescente. Também tem diagnóstico de TDAH (Transtorno de

Déficit de Atenção e Hiperatividade). Atualmente não faz uso de medicação contínua e está

em tratamento psicoterápico.

Local, Materiais e Instrumentos

É válido ressaltar que devido ao aumento acelerado de casos e a disseminação global

da doença COVID-19, foi declarado pela OMS estado de Pandemia, sendo assim, as

entrevistas aconteceram de maneira virtual, através de videochamada, a fim de preservar a

saúde das participantes e da pesquisadora. Assim, no momento das entrevistas individuais,

tanto a pesquisadora quanto as participantes estavam em suas casas.

Foram utilizados os seguintes materiais: dois celulares, notebook, impressora,

cartucho de tinha para impressão, papel A4 e caneta. Como instrumentos, utilizou-se o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE - Anexo A) enviados para o e-mail de cada uma

das participantes, antes do início da entrevista. Além de um Questionário Sociodemográfico

(Anexo B).

Procedimentos e Análise dos Dados

Por tratar-se de pesquisa com seres humanos, este estudo respeitou as Resoluções do

Conselho Nacional de Saúde (CNS) 510/16 e 466/12, e foi enviado ao Comitê de Ética da

Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás) por meio da plataforma Brasil.

Entretanto, devido à Pandemia referente à doença COVID-19, as pesquisas referentes ao

enfrentamento da doença tiveram prioridade e o projeto deste estudo foi recebido, mas não

passou pela análise final no referido comitê.

Por tratar-se de um Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação Lato Sensu,

havia um prazo para sua conclusão e para respeitá-lo, foi dado seguimento à pesquisa antes

da aprovação final no Comitê de Ética, reafirma-se ainda que foram seguidas todas as

orientações éticas de pesquisa postuladas pelas resoluções supracitadas e também do Código

de Ética do Psicólogo (2005). Assim, deu-se início à busca dos participantes através de

grupos de psicólogos nas redes sociais (Facebook, Whatsapp e Instragram) já que devido ao

isolamento social necessário para o enfrentamento à Pandemia, essa foi a maneira mais

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segura de divulgar a pesquisa.

Apenas mulheres se disponibilizaram a participar (como voluntárias) da pesquisa. As

psicólogas foram contatadas, então, através de uma rede social (Whatsapp) na qual houve o

convite formal e uma explicação inicial sobre a pesquisa. Aceitando participar, as psicólogas

foram convidadas a agendar um horário individual com a pesquisadora e responder uma

entrevista semiestruturada gravada em aúdio. As entrevistas foram online, através de

chamadas de vídeo individuais para a proteção de ambas as partes.

No dia e horário marcado, a pesquisadora fez a chamada de vídeo iniciando com um

breve rapport e a leitura do TCLE e a entrevista ocorreu somente após o consentimento

verbal da participante.

As entrevistas duraram em média 40 minutos e se iniciaram com a seguinte pergunta

disparadora: Como é para você ser psicóloga clínica tendo o diagnóstico de depressão? As

perguntas posteriores tiveram o objetivo de esclarecer essas vivências e aprofundar as suas

descrições.

Após a realização de todas as entrevistas, iniciou-se a transcrição das mesmas pela

pesquisadora. Em seguida, foi realizada a análise compreensiva do discurso conforme indica

o método fenomenológico de Giorgi (2010).

O objetivo deste método é obter “unidades de significado”, ou seja, essências contidas

nas descrições e que são reveladoras do fenômeno. Ele contém quatro passos básicos: 1 –

leitura geral da descrição (no caso desta pesquisa, tratou-se das entrevistas transcritas), para

se obter o sentido do todo; 2 – discriminação de unidades de sentido dentro da perspectiva

psicológica com foco no fenômeno pesquisado; 3 – transformação das unidades de sentido

do sujeito em linguagem psicológica; 4 – síntese das unidades significativas sendo

transformadas em um declaração consistente com relação à experiência do sujeito (Giorgi,

2010).

Resultados e Discussão

Após a análise compreensiva dos dados de cada uma das entrevistas formaram-se três

categorias frente à descrição da experiência vivida por cada participante: 1) Percebendo

sintomas depressivos e o processo de aceitação do próprio diagnóstico; 2) Estrátegias de

enfretamento como forma de ajustamentos criativos desenvolvidos para lidar com a depressão

e 3) Reflexos do adoecimento na prática clínica. Tais categorias favorecem a compreensão

dos objetivos geral e específicos deste estudo, quais sejam respectivamente: compreender e

descrever a vivência do psicólogo com diagnóstico de depressão que atua na área clínica;

compreender possíveis ajustamentos criativos realizados pelos psicólogos para lidarem com

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sua prática profissional e os reflexos do adoecimento na prática clínica.

É importante ressaltar que, apesar de todo o conteúdo das entrevistas ser fundamental

para a compreensão da totalidade da experiência vivida das participantes, foram selecionadas

vinhetas relevantes que exemplifiquem e clarifiquem os objetivos propostos.

Percebendo sintomas depressivos e o processo de aceitação do próprio diagnóstico

A forma como as psicólogas entrevistadas vivenciaram o diagnóstico de depressão

demostraram a singularidade de cada uma e os diferentes processos que ocorrem, destacando-

se em um primeiro momento o contato com seus sintomas e o posterior processo de aceitação

do seu próprio adoecimento.

Assim, sobre a percepção em relação aos primeiros sinais e sintomas da depressão,

Alice relata que: “eu tinha um cansaço físico e uma exaustão mental fora do comum assim”.

Em outro momento da entrevista: “Algumas questões até pequenas me afetavam muito assim

de eu ficar muito mexida, muito sensibilizada”.

Já Camila refere que quando nota os sintomas depressivos, percebe que: “Eu durmo

muito, eu tenho muito sono e não tenho ânimo para nada. Eu sei que tem alguma coisa para

fazer. Eu quero fazer”. Em outro momento:

São coisas simples que eu não tenho simplesmente força para fazer nada. Nada. Realmente a

vontade é só de ficar quieta, num canto. Choro recorrente. Pensamentos ruins mesmo de que

eu não dou conta, de inferioridade. Já tive pensamentos suicidas.

Amanda demonstra que: “existem duas polaridades assim quando eu trabalho demais

e quando eu trabalho de menos entendeu? Tenho muita vontade de comer doce. Não tenho

força de fazer um autocuidado, às vezes eu não tenho força nem para tomar banho”.

O contato com sintomas se dá de forma individual e única. Neste caso, ao descrever a

vivência dos sintomas, cada participante relata como é a experiência singular do que vive.

Segundo Frazão (1995), a categorização é necessária, porém para o tratamento, o mais

importante é a compreensão da singularidade de cada indivíduo, o que é particular de cada

vivência. O interesse do diagnóstico fenomenológico é entender a configuração dos

acontecimentos da vida desse indivíduo com o intuito de possibilitar um novo significado.

Outro fator importante que as três participantes expuseram como a sua forma de

trabalho contribuiu para o seu adoecimento e mostraram como fizeram contato com a

sobrecarga emocional em sua prática clínica.

Alice relatou: “Trabalhava no serviço público. Eu trabalhava 40 horas semanais e

atendia uma média de 30 a 40 pacientes. Existia uma sobrecarga de pacientes também”.

Camila contou que: “Se eu não parasse de trabalhar eu não ia dar conta (...). Ele (psiquiatra)

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falou que eu estava no quadro agudo. Teve momentos que eu fiquei muito ruim”. Amanda

afirmou que: “Acabei que eu cheguei num nível de estresse sabe? De esgotamento mesmo.

(...) Eu não conseguia. Eu tinha muita demanda e eu não conseguia dar conta daquela

demanda”.

Os relatos apresentados estão em consonância com as pesquisas de Duarte e Moraes

(2016) e Nascimento, Duarte e Moraes (2018) ao mostrarem que elevados níveis de estresse e

as altas demandas de trabalho apareceram como um dos fatores que levam ao adoecimento

mental dos psicólogos.

De acordo com Galli e Loeci (2009), o estresse no ambiente de trabalho, as relações

interpessoais difíceis e a realidade econômica liberal são aspectos que contribuem para o

aparecimento de doenças relacionadas à depressão. Além disso, existem fatores sociais e

culturais que danificam o funcionamento do indivíduo de forma integral como valorização do

individualismo, alto nível e cobranças para a produtividade e excesso de competitividade.

Alice relatou que o afastamento do trabalho foi fundamental para sua saúde e

confirmar que havia um diagnóstico lhe auxiliou a ter clareza da situação e reconhecer seus

limites de atuação: “logo que eu recebo esse diagnóstico ele impossibilita a minha atuação.

Hoje eu tenho clareza dessa situação que era impossível eu continuar atendendo estando

daquela forma, naquela situação”.

Relacionando com os estágios do contato apontado por Perls, Hefferline e Goodman

(1997) sendo eles pré-contato, contato, contato final e pós-contato, a paralisação do trabalho

pode ser considerada como uma forma do indivíduo colocar as suas necessidades internas

como figura e assim fazer emergir a sensação de estar adoecido. Quando a atividade é

interrompida, as participantes têm a oportunidade de identificar através das suas funções de

contato os fatores que a levaram a adoecer, principalmente os que envolvem sua atividade

laboral. Sendo assim, o afastamento das atividades surge como fator de proteção da saúde das

participantes, configurando uma forma de reequilibrar a relação homem/mundo (Ribeiro,

2017).

A compreensão integrada do adoecimento passa pelo o contato com as sensações

provocadas pelos sintomas. Através das funções de contato, as participantes puderam ampliar

o entendimento sobre os seus próprios sentimentos e sensações em decorrência da depressão.

Em algum momento houve uma interrupção no processo de awareness acionando defesas que

se cristalizaram (Zinker, 2007).

Após o contato com os primeiros sinais e sintomas depressivos, as entrevistadas

apontaram que existe um processo de aceitação do diagnóstico de depressão. A esse respeito

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Alice relata sentir-se incongruente com seu diagnóstico: “É desesperador e desafiador porque

em alguns momentos faz parecer um pouco incongruente ter esse diagnóstico e trabalhar com

pessoas que (...) tem o mesmo diagnóstico. É desafiador”.

Amanda demonstra que ao notar sintomas da depressão teve dificuldade para aceitar a

possibilidade de um diagnóstico por cuidar de pessoas com sintomas semelhantes aos seus e

que só buscou ajuda quando notou o agravamento de seus sintomas, com ideação suicida:

O que me deixou mais adoecida foi pensar assim „cara eu ensino isso para as pessoas‟, eu

sei o que está acontecendo comigo, mas eu não quero assumir que isso está acontecendo. Aí

chegou no extremo, eu comecei a ter ideação suicida e falei „não, agora eu preciso de ajuda

mesmo‟.

Tanto na experiência de Alice quanto na de Amanda é possível perceber a dificuldade

em estar adoecida exercendo o papel de psicóloga. Para as entrevistadas, se perceber com um

diagnóstico que, em alguns casos, é o mesmo de seu paciente pode trazer sentimentos de

negação. A negação pode ser vista como uma forma de evitar o contato atrapalhando a

identificação de suas próprias sensações (Zinker, 2007).

Segundo Hycner (1995), o diagnóstico vai além de categorizar uma doença. Ele tem o

papel de integrar os sintomas para compreender a vivência do indivíduo. Os problemas devem

ser vistos como algo que faz parte da totalidade do indivíduo, abandonando a ideia de

anormalidade. Eles apontam para um desequilíbrio nas relações.

Apesar da dificuldade demonstrada ao que se refere à aceitação do diagnóstico de

depressão, a análise de dados apontou também para a experiência de se sentir confirmada

quando esse diagnóstico se deu. Camila, em seu relato, contou que desde a sua infância

vivencia sintomas depressivos e que receber o diagnóstico foi só mais uma maneira de

confirmar o que sentia. Camila afirmou que:

Quando eu tive aula de psicopatologia que o professor foi explicar o que era depressão eu fui

vendo os momentos da minha vida que eu estava mais ruim (SIC). Então eu não tive depressão

em 2015. Eu tenho transtorno depressivo a minha vida inteira desde a infância. Foi

assoberbado na adolescência e na vida adulta. Então assim deu para ver claramente os

episódios na minha vida. Até então eu não sabia o nome depressão.

Compreender o adoecimento passa por um processo que deve levar em consideração a

história de vida do indivíduo. Sendo assim, as vivências do passado são fatores que auxiliam

na compreensão dos sintomas considerando suas características individuais (Frazão, 1995).

No caso de Camila, o processo de confirmação de que algo não estava bem desde a sua

infância foi essencial para que houvesse aceitação da doença e o seu posterior enfrentamento.

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No mesmo sentido, Alice também percebeu que ao longo de sua história vivenciou sintomas

depressivos e, mostra nos seus relatos, como isso colaborou para a aceitação e o

enfrentamento da depressão enquanto adulta:

Eu fui uma criança muito depressiva, muito. Eu fui adolescente muito depressiva e isso nunca

foi visto, nunca foi tratado. Então assim quando eu adoeci dessa forma foi muito importante

ter acontecido dessa forma. Que aí nesse momento eu tenho condições de cuidar de mim,

enquanto adulta enquanto psicóloga eu posso olhar para isso. Eu posso olhar para esse

sintoma que sempre existiu.

Segundo Hycner (1995), a confirmação é fundamental em todas as relações humanas.

Quando o indivíduo é confirmado em sua totalidade, desenvolve senso de segurança e

disponibilidade para relacionar-se com o mundo e com o outro. Já quando isso não acontece, a

pessoa tende a enfraquecer sua autoimagem e sua autoestima, prejudicando sua capacidade de

entrar em contato.

Para Cardella (2017) a confirmação e a aceitação são formas de chegar à mudança, ou

seja, para que a pessoa se desenvolva é necessário que ela faça contato com suas polaridades.

Esse é o paradoxo da mudança na qual a aceitação é um ponto central para que a pessoa se

torne verdadeiramente o que é, deixando de assumir o que não é.

Com os relatos das participantes foi possível compreender as dificuldades em entrar

em contato com seu diagnóstico mesmo sendo psicólogas. Essa aceitação se deu de forma

gradual e com o agravamento dos sintomas. Nas três entrevistas o afastamento do trabalho

teve papel decisivo para o enfrentamento da doença.

Estratégias de enfrentamento como forma de ajustamento criativo desenvolvidos para

lidar com a depressão

Essa categoria demostra as estratégias de enfrentamento que as psicoterapeutas

desenvolveram para lidarem com a depressão. Os exemplos relatados são ações que apontam

para possíveis ajustamentos criativos graduais necessários tanto para entrar em contato com

seu processo de adoecimento quanto para caminhar em direção a cura. Contudo é importante

lembrar que os ajustamentos criativos são organísmicos, ou seja, se estendem para além das

ações (D’Acri, Lima e Orgler, 2016).

Alice, ao entrar em contato com seus sintomas, buscou ajustar-se criativamente até

poder se afastar do trabalho definitivamente, assim, quando havia possibilidade de ter horários

livres em sua agenda, buscava não repor pacientes: “Assim, eu deixava de marcar. Se um

horário ficasse livre na minha agenda eu já não marcava, ficava livre”.

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A depressão pode também ser vista como um ajustamento depressivo, na qual todas as

emoções são essenciais para a sobrevivência humana (Yano, 2015). Neste contexto, pode-se

supor que o adoecimento de Alice pode ter sido uma forma de se ajustar para deixar um

trabalho que era, no seu ponto de vista, adoecedor.

Camila demonstra sua forma de ajustar-se criativamente quando, ao deparar-se com

seus sintomas, reconhece a necessidade de parar e se reequilibrar, respeitando suas

necessidades do momento: “Aí realmente eu preciso dar uma parada. Parar tudo para tentar

estabilizar”. Portanto, para uma pessoa conseguir se ajustar criativamente, precisa ter clareza

de suas necessidades (Cardella, 2014).

Amanda relatou conflitos interpessoais em sua cidade que contribuíram para a piora

do seu quadro de depressão. Para se ajustar e lidar com seus sintomas depressivos, passou a

fazer viagens curtas:

Eu decidi que uma vez por mês eu iria viajar sabe? E assim eu fiz. Eu acho que aquilo era

uma forma de fugir, de não entrar em contato com aquilo. Encarar aquele movimento como

movimento de liberdade e ao mesmo tempo de transição. Essa transição para mim foi muito

dolorosa.

Nesse trecho percebe-se que o afastamento de situações conflituosas foi uma das

formas que Amanda encontrou para fazer a assimilação entre o que acontecia em seu

ambiente e consigo. Se ajustar criativamente passa por uma postura ativa, não havendo uma

simples conformação às exigências e padrões do meio (Cardella, 2017).

Esse afastamento pode ser considerado uma forma saudável de deflexão, que segundo

Ribeiro (2017), é um mecanismo de defesa que evita contato ou os tem de maneira vaga, não

absorvendo a vivência de forma completa, na qual Amanda se afasta do local onde suas

relações estão danificadas para conseguir sobreviver.

Amanda traz ainda outra forma de ajustamento criativo, a sua espiritualidade,

considerado então, um fator de proteção:

Dentro do campo espiritual a depressão para mim foi um movimento de evolução fantástico.

Foi muito, muito bom para mim, nessa questão da espiritualidade. Da minha conexão com o

sagrado. Da minha conexão com Deus mesmo. Porque para mim é assim: se você está bem

com Deus, você está bem consigo mesmo.

A Gestalt-terapia, por meio de sua visão holística, considera que a dimensão espiritual

faz parte do ser humano e contribui positivamente no processo psicoterápico. Assim, a

espiritualidade é considerada como um fator de promoção de saúde e um instrumento

terapêutico (Campos & Ribeiro, 2017).

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Camila também recorreu à espiritualidade e demonstra ainda outros três fatores como

forma de ajustamento criativo, quais sejam: a psicoterapia, o exercício físico e a medicação.

Em seu relato falou sobre a importância desses quatro pilares no seu tratamento:

E assim meu psiquiatra falava que não adiantava só tomar remédio eu tinha que cuidar

também dos fatores protetivos que eram a terapia, exercícios físicos e a religião. Ele sempre

me perguntava isso, se eu estava fazendo essas 4 coisas.

Considerando que a saúde e a doença são etapas do mesmo processo que ocorre na

totalidade do indivíduo, o caminho do reequilíbrio passa por todas as instâncias do ser

humano. A concepção de totalidade mostra que o organismo funciona como um todo que é

constituído por suas partes em um sistema organizado (Ribeiro, 2017).

O ajustamento criativo que apareceu em todas as entrevistas foi a psicoterapia. Todas

as participantes afirmaram que estar em terapia foi fundamental para seu processo de cura.

Alice afirmou: “Eu só saía de casa para ir à terapia. Foi muito importante, muito

necessário”. Camila ressaltou: “Eu nunca parei de fazer terapia”. Amanda contou: “Eu

ficava em isolamento social e não falava com ninguém. Só falava com a minha terapeuta”.

Fernandes e Maia (2008) apontam os benefícios da prática de psicoterapia para

psicoterapeutas. O exercício clínico demanda alta disponibilidade do profissional e tendo em

vista os próprios conteúdos da sua história, a psicoterapia é uma forma eficiente de lidar com

seus problemas para conseguir lidar com o sofrimento de seus clientes. Também é uma forma

de autocuidado na qual o psicólogo aprende a lidar com seus sentimentos para que isso não

prejudique os seus atendimentos.

Reflexos do adoecimento na prática clínica

Essa categoria mostra as consequências do adoecimento das psicoterapeutas para a sua

prática clínica. O primeiro fator que chamou a atenção foi que, parece que existe um

estereótipo do ser-psicóloga, inclusive sendo este um dos fatores que dificultam a aceitação

do próprio processo de adoecimento, como abordado anteriormente. Isso fica claro quando

Alice relata:

Eu lembro que quando eu voltei para o trabalho foi muito difícil o olhar dos colegas de

trabalho porque eu escutei comentários do tipo „nossa uma psicóloga afastada por isso‟. Eu

fiquei assim pensando que eu tinha falhado em todos os sentidos, principalmente o

profissional. Assim, é o que eu escutei muito „como que uma psicóloga adoece dessa forma?‟.

Ser psicóloga implica em desenvolver habilidades para compreender o cliente. Essa

não é tarefa fácil, pois ao passo que o cliente vai fazendo contato com sua experiência nos

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atendimentos o psicólogo também se inclui nesse processo. Acompanhar um cliente no

processo terapêutico exige postura ativa do profissional e acarreta consequências no seu

próprio processo de desenvolvimento (Cardella, 2017).

Outro ponto dessa fala são as características sobre as relações interpessoais com os

colegas de equipe. Esse fator faz parte da carga psíquica que contribui para o adoecimento do

profissional (Gomes et al, 2015).

Segundo Gali (2009), as relações que as pessoas desenvolvem no ambiente de

trabalho pode ser fonte de desequilíbrio. Alguns sintomas como rebaixamento da autoestima,

dificuldades de autocuidado, autojulgamento negativo são comuns nesse tipo de adoecimento.

Em sua fala, Alice se sente frustrada em vivenciar a depressão.

Contudo, mesmo com a dificuldade em lidar com os olhares de julgamento dos

colegas e também com a sensação de fracasso por ser psicóloga e adoecida emocionalmente,

como um reflexo da experiência vivida, Alice consegue perceber, de maneira criativa, o

paradoxo existente entre a sua profissão e o seu adoecimento: “A minha dor, a minha

vulnerabilidade me tornou ao longo desses dois anos um pouco mais ou talvez muito mais

sensível à própria vulnerabilidade do outro”. De acordo com Hycner (1995), a profissão de

psicoterapeuta tem vários paradoxos. Um deles é o constante confronto de demandas da vida

do cliente que nem sempre estão bem resolvidas em sua própria vida.

O psicólogo pode usar dos seus próprios dilemas para auxiliar seu cliente no processo

terapêutico. Isso significa que as questões não resolvidas do profissional o torna mais sensível

às dores do seu cliente, podendo nomear-se como “curador ferido”. O curador (terapeuta)

deve estar aware de suas dores para que isso seja usado a favor do cliente (ferido), de forma

que este seja o foco do trabalho clínico. Ainda é preciso lembrar que o psicólogo é seu próprio

instrumento de trabalho e deve se manter em constante atualização para acompanhar as

nuances dos atendimentos clínicos (Hycner, 1995).

Amanda demonstra também o quanto é paradoxal para ela ser psicóloga e ser

vulnerável enquanto pessoa: “A gente sofre mais ainda porque a gente lida com a

vulnerabilidade humana e não quer ser vulnerável”. Segundo Cardella (2017), um dos

trabalhos do psicoterapeuta é se acolher, isto é, para conseguir realizar o seu trabalho clínico

deve primeiramente estar em contato com seus próprios dilemas e questões.

Hycner (1995) declara que outro paradoxo da profissão de psicólogo é o uso da

subjetividade na psicoterapia. Encontrar o equilíbrio entre as dimensões objetiva e subjetiva

na psicoterapia é um desafio porque o primeiro diz do conhecimento científico generalizável e

a segunda do conhecimento ideográfico. Essas são duas polaridades essenciais para a prática

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clínica na qual o psicoterapeuta deve decidir quando e como usará cada tipo de conhecimento.

Sendo assim, estar vulnerável ou adoecido é uma forma de subjetividade que pode auxiliar no

processo terapêutico desde que o profissional use a mesclagem dos conhecimentos citados

acima.

Outra consequência desse adoecimento é a dificuldade em conseguir realizar os

atendimentos. Alguns obstáculos foram citados pelas participantes: dificuldade em

permanecer o tempo necessário nas sessões, em se concentrar nas falas dos clientes e separar

seus conteúdos dos clientes. Alice contou:

E os atendimentos começaram a me mobilizar demais aí eu comecei a perceber que não

estava normal entre aspas né. Então na época eu atendia basicamente criança e assim dava

15 minutos de sessão eu já não conseguia. Eu já começava a ficar muito incomodada na

sessão.

Amanda também descreveu suas dificuldades: “Às vezes me cansa. Às vezes o jeito do

paciente conversar é muito devagar. São coisas que são minhas que acaba refletindo.”

Os sentimentos e sensações do psicólogo são fundamentais no processo terapêutico.

Contudo, como afirma Cardella (2017), isso deve ser usado para o desenvolvimento de

habilidades terapêuticas. O psicólogo deve buscar ampliar sua autopercepção através de um

processo contínuo de autoconhecimento priorizando sua singularidade. Bem como modificar

sua percepção a respeito do cliente, aceitando os sentimentos que surgem na relação

terapêutica. Por fim, deve desenvolver seu raciocínio clínico.

Dentro dos vários paradoxos que o psicólogo vivencia, percebe-se a forma que seu

adoecimento expõe seu lado humano. Sentimentos, sensações e emoções são formas de

aprimoramento de trabalho e indicadores do que precisa ser considerado em sua terapia

pessoal.

Considerações Finais

O estudo realizado pôde trazer uma visão gestáltica da vivência da depressão por

psicólogas clínicas. Foi possível perceber o carácter holístico do adoecimento dessas

profissionais. A quantidade de pacientes atendidos, o acúmulo de tarefas e os conflitos com a

equipe de trabalho são fatores que podem afetar a saúde desses profissionais.

A vivência da depressão passa por um processo em que a negação é um aspecto

recorrente. O afastamento do trabalho se mostra fundamental para o contato com os sintomas

e a posterior aceitação do diagnóstico. Ser psicóloga é um fator que pesa nesse processo

porque existe um estereótipo que esses profissionais não adoecem. É importante ressaltar que

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não foram encontrados dados que demostrassem que ser psicóloga caracterizasse um fator de

proteção para doenças mentais.

Em relação aos ajustamentos criativos foi percebido que as participantes

desenvolveram, de maneira singular, formas para lidar tanto com os sintomas depressivos

quanto com o diagnóstico da depressão, como recorrer à espiritualidade, à medicação e à

psicoterapia.

Foi apontado também consequências do adoecimento do psicólogo na prática clínica

de forma que o paradoxo das psicólogas na prática clínica. O paradoxo se deu entre serem

psicólogas e ao mesmo tempo serem seus próprios instrumentos de trabalho exigem um

equilíbrio entre conhecimento objetivo (técnico) e subjetivo (de si) para saberem diferenciar-

se de si e do cliente durante o encontro terapêutico.

Deve-se considerar que essa pesquisa foi realizada em meio a uma pandemia

provocada pela doença COVID-19, possivelmente esse fato interferiu em seu

desenvolvimento. Outro obstáculo encontrado na elaboração dessa pesquisa foi encontrar

participantes. Assumir a vulnerabilidade de uma doença como a depressão para um psicólogo

é algo desafiador.

A dificuldade de encontrar outros trabalhos com esse tema demonstra a escassez de

pesquisas relacionadas à saúde mental dos profissionais de saúde de forma geral. Esse estudo

serve como incentivo para que pesquisadores desenvolvam trabalhos sobre esse tema.

Por fim, é notável a necessidade de humanizar a profissão do psicoterapeuta. Todos

podem adoecer, inclusive esses profissionais da saúde mental. O adoecimento tem fontes

multifacetadas que envolvem desde relações conflituosas no trabalho até questões da infância.

Ser psicólogo e ter depressão não deve ser sinônimo de fracasso profissional. É importante

contemplar a humanidade existente por trás do papel de psicólogo clínico.

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ANEXOS

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Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A)

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), do Projeto de

Pesquisa sob o título Psicólogos também adoecem: uma visão da Gestalt-terapia. Meu nome

é Carolina Duarte de Oliveira sou especializanda do Instituto Goiano de Terapia e Pesquisa

em Gestalt-Terapia (ITGT) orientada pela Professora Ms. Mariana Costa Brasil Pimentel.

Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do

estudo, este documento deverá ser assinado em todas as folhas e em duas vias, sendo a

primeira de guarda e confidencialidade do pesquisador responsável e a segunda ficará sob

sua responsabilidade para quaisquer fins.

Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com o

pesquisador responsável através do número (62) 99653-0722, ligações a cobrar (se

necessárias) ou através do e-mail [email protected]. Residente na Rua José

Lobo Filho Quadra 04 Lote 09 Parque Trindade 2, Aparecida de Goiânia. Em caso de

dúvida sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de

Ética em Pesquisa (CEP) da PUC Goiás, telefone: (62) 3946-1512, localizado na Avenida

Universitária, N° 1069, St. Universitário, Goiânia/GO. Funcionamento: das 8 às 12 horas e

das 13 às 17 horas de segunda a sexta-feira. E-mail: [email protected]

O CEP é uma instância vinculada à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

(CONEP) que por sua vez é subordinada ao Ministério da Saúde (MS). O CEP é

responsável por realizar a análise ética de projetos de pesquisa, sendo aprovado aquele que

segue os princípios estabelecidos pelas resoluções, normativas e complementares.

Pesquisadores: Carolina Duarte de Oliveira e Mariana Costa Brasil Pimentel O motivo que nos leva a propor essa pesquisa é compreender o adoecimento

mental de Gestalt-Terapeutas e contribuir para os estudos sobre o tema de

depressão em psicólogos. Tem por objetivo compreender e descrever a vivência

do gestalt-terapeuta com transtorno depressivo que atua na área clínica.

O procedimento de coleta de dados será por meio de entrevistas não estruturadas

realizadas com cada uma dos participantes no consultório particular da pesquisadora. A

entrevista terá a duração de 1 hora.

Riscos: A presente pesquisa tem como riscos envolvidos a mobilização de

conteúdos emocionais dos participantes ou a dificuldade em falar sobre o assunto, visto que

a vivência tem caráter individual Assim, pode vir a acarretar transtornos emocionais ou

desconfortos em decorrência de sua participação. Se você sentir qualquer desconforto é

assegurado assistência imediata e integral de forma gratuita, para danos diretos e indiretos,

imediatos ou tardios de qualquer natureza para dirimir possíveis intercorrências em

consequência de sua participação na pesquisa. Para evitar e/ou reduzir os riscos de sua

participação O Código de Ética Profissional do Psicólogo Brasileiro (2005) prevê que, caso

seja necessário, serão adotadas medidas de suporte emocional para os participantes. Os

métodos adotados para minimizar os riscos seguirão as exigências da Resolução CNS

510/16, item II – assistência ao participante da pesquisa, prestada para atender danos

imateriais decorrentes da pesquisa, direta ou indiretamente.

Benefícios: Os benefícios esperados são as reflexões teóricas e vivenciais sobre as

possibilidades de atuação de Gestalt-terapeutas com diagnostico de transtorno depressivo.

Também abrir espaço para a humanização da função do psicoterapeuta, condição essa que

não impede o aparecimento de doenças mentais. Por fim, demostrar a possível relação de

saúde e doença como forma de ajustamento criativo.

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Não há necessidade de identificação, ficando assegurados o sigilo e a privacidade.

Caso você se sinta desconfortável por qualquer motivo, poderemos interromper a entrevista

a qualquer momento e esta decisão não produzirá qualquer penalização ou prejuízo.

Você poderá solicitar a retirada de seus dados coletados na pesquisa a qualquer

momento, deixando de participar deste estudo, sem prejuízo. Os dados coletados serão

guardados por, no mínimo, 5 anos e, após esse período esse material será incinerado. Se

você sofrer qualquer tipo de dano resultante de sua participação na pesquisa, previsto ou

não no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tem direito a pleitear indenização.

Após a realziação da pesquisa e da correção da banca avaliativa os participantes

receberão o artigo em forma de PDF.

Você não receberá nenhum tipo de compensação financeira por sua participação

neste estudo, mas caso tenha algum gasto decorrente do mesmo este será ressarcido pelo

pesquisador responsável. Adicionalmente, em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao

pesquisador responsável pela pesquisa para esclarecimentos de eventuais dúvidas.

Declaração do Pesquisador

O pesquisador responsável por este estudo e sua equipe de pesquisa declara que cumprirão

com todas as informações acima; que você terá acesso, se necessário, a assistência integral

e gratuita por danos diretos e indiretos oriundos, imediatos ou tardios devido a sua

participação neste estudo; que toda informação será absolutamente confidencial e sigilosa;

que sua desistência em participar deste estudo não lhe trará quaisquer penalizações; que

será devidamente ressarcido em caso de custos para participar desta pesquisa; e que

acatarão decisões judiciais que possam suceder.

Declaração do Participante

Eu,____________________________________________________________, abaixo

assinado, discuti com a Carolina Duarte de Oliveira e/ou sua equipe sobre a minha decisão

em participar como voluntário (a) do estudo Psicólogos também adoecem: uma visão da

Gestalt-terapia. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os

procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de

confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha

participação é isenta de despesas e que tenho garantia integral e gratuita por danos diretos,

imediatos ou tardios, quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste

estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o

mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter

adquirido.

Goiânia,_________, de ____________________de_________.

Assinatura do participante

Assinatura do pesquisador

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Questionário Sociodemográfico (Anexo B)

Nome:

Idade:

Formação:

Tempo de formação:

Estado civil:

Religião:

Tratamento:

Tempo de tratamento:

Tempo de diagnóstico:

Medicação usada:

Tempo de medicação:

Pergunta disparadora: Como é para você ser psicóloga clínica tendo o diagnóstico de

depressão?