a depressÃo em psicÓlogos: uma pesquisa … · 2020. 6. 23. · saúde mental de psicólogos e a...
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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica
Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO
A DEPRESSÃO EM PSICÓLOGOS: UMA PESQUISA FENOMENOLÓGICA
Carolina Duarte de Oliveira
Prof. Ms. Mariana Costa Brasil Pimentel
Goiânia, 2020
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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia de Goiânia – ITGT
Curso de Pós-Graduação Lato Sensu com vistas a Especialização na Abordagem Gestáltica
Parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO
A DEPRESSÃO EM PSICÓLOGOS: UMA PESQUISA FENOMENOLÓGICA
Carolina Duarte de Oliveira
Trabalho de Conclusão de Curso pelo Instituto
de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-terapia
de Goiânia (ITGT) como requisito parcial à
conclusão do curso de Pós-Graduação Latu-
Senso em Gestalt-terapia chancelado pela
Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Orientadora: Mariana Costa Brasil Pimentel
Goiânia, 2020
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Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus e à Nossa Senhora que foram minhas principais
fontes de força para chegar até o final dessa pesquisa.
Aos meus pais, Lucinete e José que sempre me apoiaram na minha escolha
profissional e me ajudaram a seguir meu caminho.
Às minhas orientadoras que me auxiliaram com amor e carinho para que eu
conseguisse terminar essa pesquisa, em especial a Professora Mariana que com jeito doce
me fez ver meu projeto com outros olhos. Também a minha professora e terapeuta Sandra
que me ensina desde o curso introdutório do ITGT.
Ao meu companheiro Edileu Jr. que é um dos meus principais apoiadores que me
deram forças para não desistir.
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A Depressão em Psicólogos: Um Estudo Fenomenológico¹
Depression in Psychologists: A Phenomenological Study
Carolina Duarte de Oliveira ²
Mariana Costa Brasil Pimentel ³
Resumo
No Brasil cerca de 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão. A compreensão da
depressão sob a percepção da Gestalt-terapia se dá por meio da psicopatologia
fenomenológica no qual o adoecimento do organismo ocorre em sua totalidade e está ligada a
sua forma de fazer contato com o mundo. Tendo em vista a escassez de pesquisas sobre a
saúde mental de psicólogos e a sua forma de atuação, esse estudo se fez necessário. O
objetivo desta pesquisa foi compreender e descrever a vivência do psicólogo clínico com
depressão. Tratou-se de uma pesquisa fenomenológica, que teve como participantes três
psicólogas clínicas. Para a análise dos dados coletados, utilizou-se o método de Giorgi. Foi
possível chegar a três categorias que expressassem a experiência de ter o diagnóstico de
depressão: 1) Percebendo sintomas depressivos e o processo de aceitação do próprio
diagnóstico; 2) Estratégias de enfrentamento como forma de ajustamento criativo
desenvolvidos para lidar com a depressão; 3) Reflexos do adoecimento na prática clínica. Os
resultados apontam para a necessidade da humanização do papel dos psicólogos.
Palavras-chave: depressão, gestalt-terapia; ajustamento criativo, psicologia clínica.
Abstract
In Brazil, about 11.5 million people suffer from depression. The understanding of depression
by the perception of Gestalt-therapy occurs through phenomenological psychopathology in
which the illness of the organism occurs in its entirety and is linked to its way of making
contact with the world. In view of the scarcity of research on the mental health of
psychologists and the way they operate, this study was necessary. The objective of this
research was to understand and describe the experience of the clinical psychologist with
depression. It was a phenomenological research, with three clinical psychologists as
participants. For the analysis of the collected data, the method of Giorgi (2010) was used. It
was possible to reach three categories that expressed the experience of having a diagnosis of
depression: 1) Experience lived in the face of a diagnosis of depression; 2) Creative
adjustments developed to deal with depression and 3) Reflections of illness in clinical work.
The results point to the need to humanize the role of psychologists.
Keywords: depression, gestalt therapy; creative adjustment, clinical psychology.
__________________ ¹Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Gestalt-Terapia do
Curso de Pós-graduação Lato Sensu do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia
(ITGT).
²Psicóloga Clínica, cursando especialização em Gestalt-Terapia pelo ITGT. E-mail: [email protected] ³ Psicóloga, Especialista em Gestalt-Terapia pelo ITGT, mestre em Psicologia, professora-supervisora do ITGT.
E-mail: [email protected]
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A Depressão em Psicólogos: um estudo fenomenológico
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), mais de 300 milhões de
pessoas sofrem com depressão no mundo, sendo esta uma das principais doenças
incapacitantes. Estima-se que menos da metade dessas pessoas recebam tratamento eficaz
devido a fatores como diagnósticos inadequados, falta de recursos e estigmas relacionados aos
transtornos mentais.
No Brasil, cerca de 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população) sofrem com
depressão; as mulheres são as mais acometidas (Organização das Nações Unidas – ONU,
2017). Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2013, em parceria
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a faixa etária com maior
prevalência de autorrelato de depressão é a de 60 a 64 anos (11,1%). Por local de moradia, a
maior incidência é de pessoas que moram na zona urbana (8,0%) e na região Sul do país
(12,6%). Foi observado também que existe maior ocorrência em pessoas com ensino superior
completo (8,7 %) e com ensino fundamental incompleto ou sem instrução (8,6%). Em relação
ao uso de medicações estima-se que 51,7% dos homens e 52,3% das mulheres com
diagnóstico de transtorno depressivo faziam uso de medicamentos. Em relação a tratamento
psicológico, apenas 6,4% tinham acesso à psicoterapia. Essa pesquisa foi realizada com o
objetivo de levantar dados sobre a situação da saúde e os estilos de vida da população
brasileira. Deveria ter a periodicidade de cinco anos, porém não foram encontrados dados
mais recentes (IBGE, 2014).
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V,
2014), os transtornos depressivos estão classificados no grupo de transtornos de humor que
também apresentam outras patologias como: transtorno disruptivo da desregulação do humor,
transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno
depressivo induzido por substâncias/medicamentos, transtorno depressivo devido à outra
condição médica, transtorno depressivo especificado, transtorno depressivo não especificado e
transtorno depressivo maior que é o mais comum. Todos os transtornos supracitados acima
têm em comum alguns sintomas, como: humor triste, vazio ou irritável; prejuízos
significantes na funcionalidade do ser humano, associados à desregulações somáticas. Os
aspectos que os diferenciam são: o momento, a duração e a etimologia.
Os principais critérios apontados pelo DSM-V (2014) para o diagnóstico de depressão
são: humor deprimido em grande parte do dia seja este relatado pelo próprio indivíduo ou
observado por terceiros, diminuição considerável do prazer e interesse em atividades
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cotidianas, alteração do peso e do apetite, alteração do sono (insônia ou hipersonia), retardo
ou agitação psicomotora, fadiga ou perda de energia, sentimento de incapacidade ou culpa em
excesso, dificuldade em pensar, se concentrar e tomar decisões e pensamentos de morte e
suicídio. Além disso, o indivíduo deve apresentar sofrimento ou prejuízos significativos em
algum aspecto da vida (profissional, afetiva ou social).
Segundo Santiago e Holanda (2013), existem ainda fatores de risco para o
desenvolvimento da depressão como: histórico familiar de depressão, doença física, episódio
anterior de depressão, acontecimentos estressantes, perdas e abuso de medicamentos ou
drogas. Além disso, os autores corroboram com os dados supracitados quando afirmam que a
depressão atinge duas vezes mais mulheres do que homens, e acrescentam que a
vulnerabilidade feminina é ainda maior no período pós-parto.
Neste estudo buscou-se a compreensão da depressão a partir da ótica da Gestalt-
terapia, que, segundo Holanda (1998), se dá por meio da psicopatologia fenomenológica na
qual o adoecimento do organismo ocorre em sua totalidade e está ligado às suas relações com
o mundo. Estar adoecido significa estar em divergência seja na relação com o outro ou
consigo. Ao se interessar pelo potencial máximo do ser humano, a Gestalt-terapia parte da
dimensão saudável para atingir o entendimento por inteiro.
Assim, pode-se dizer que o adoecimento surge como um desequilíbrio na relação
homem/mundo. Para a Gestalt-terapia o diagnóstico não é uma categorização, ou seja, um
conjunto de sintomas que indicam uma psicopatologia, o foco está, então, na forma como a
pessoa vivencia cada sintoma. Portanto, o diagnóstico é feito de maneira processual no qual a
forma como o homem vive e descreve suas experiências no aqui e agora faz com que seus
sintomas tenham significado (Frazão, 1996).
O método usado na Gestalt-terapia é a fenomenologia, na qual afirma que os
fenômenos se revelam por conta própria, ou seja, os pressupostos ou ideias concebidas são
deixados de lado. Portanto os indivíduos não recebem rótulos ou categorias pré-estabelecidas,
porque o conceito de normalidade estática é abandonado, adotando a si próprio como seu
referencial. O homem passa a ser a medida da sua própria normalidade pois somente a partir
da sua perspectiva de compreensão experiencial é que se baseia sua saúde ou doença
(Miranda, 2003).
Nessa perspectiva é buscada a compreensão da vivência singular de cada pessoa.
Compreender significa entender as relações que compõem o fenômeno, captar o sentido
individual a partir das interrelações psíquicas, passando também pelo entendimento da
configuração que sustenta esse mesmo fenômeno. Com a intenção de descrever ao invés de
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explicar, é usado “como” e “o que” para chegar a maior compreensão do adoecer (Miranda,
2003).
Nesse sentido, em Gestalt-terapia, o diagnóstico é compreendido como um
apontamento que mostra a maneira como o indivíduo está vivenciando suas experiências. Os
sinais e sintomas são formas de alertas, bilhetes de aviso para um pedido de integração para o
caminho da saúde. É necessário que haja escuta, pois ela surge em função de um desequilíbrio
na relação homem/mundo (Hycner, 1995).
De acordo com Hycner (1995), dentro do problema está contida a sua solução porque,
através da escuta e da integração, são encontradas sementes da cura. As dificuldades são
desenhos da força vital do indivíduo e por meio da aceitação é possível enxergar o potencial
criativo nessas situações. Somente quando um indivíduo acolhe e aceita sua doença como
parte da sua existência é que ele pode integrar-se.
Para ampliar o conceito de adoecimento é preciso compreender a teoria do contato
para a Gestalt-terapia. A essência do adoecimento é um bloqueio de contato, ou seja,
interrupção do fluxo de movimento no qual consiste em aproximar e afastar. Se o movimento
está prejudicado o contato está também comprometido, coibindo assim a força de
transformação e mudança (Ribeiro 2017).
Perls, Hefferline e Goodman (1997) afirmam que existem quatro estágios do contato:
pré-contato, contato, contato final e pós-contato. O pré-contato é o período em que o corpo é o
fundo e as necessidades internas ou os estímulos ambientais são figura. O contato se
caracteriza pela mobilização da energia e a ação em direção as possibilidades de escolha
(aceitando ou rejeitando). A fase posterior ocorre quando essa escolha foi realizada e o corpo
e ambiente se tornam fundo. O pós-contato é a interação fluida entre homem e ambiente.
O lugar em que o indivíduo experiencia a interação eu/mundo é chamada de fronteira
de contato. As funções motoras e sensoriais são as principais portas de entrada para a sua
realização. Porém, o que determina a qualidade do contato é o modo como essas funções são
usadas (Polster & Polster, 2001).
O contato é compreendido através da onda “awareness-excitação-contato”. Esse
processo exige o reconhecimento das necessidades por meio de um ciclo com sete fases.
Iniciando pela sensação sobre a vivência sensorial no mundo, passa pela a awareness
propondo uma consciência mais aprofundada, caminha para a mobilização da energia na qual
existe uma preparação para a próxima etapa que é a ação em si. A penúltima parte é o contato
no qual o indivíduo se nutre ou tenta se satisfazer. Por fim a retirada/descanso que mostra a
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finalização do processo e dá espaço para que uma nova necessidade seja identificada (Zinker,
2007).
Quando existe a interrupção de algum desses pontos o indivíduo encontra-se adoecido.
Segundo Zinker (2007), a pessoa que bloqueia suas sensações interrompe seu processo de
awareness. Como consequência existe um prejuízo na mobilização de energia.
Os movimentos vitais de contato e retração (fuga ou afastamento) são os mais
importantes da personalidade já que, por meio deles, as necessidades são satisfeitas usando o
que é nutritivo e afastando o que é tóxico. Quando esse movimento entra em desequilíbrio, o
processo de crescimento é prejudicado, ou seja, o organismo sai da homeostase e seu
ajustamento criativo está adoecido (Cardella, 2014).
Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1997), na compreensão da totalidade do
indivíduo, o contato não acontece de forma passiva. Ele é criativo e dinâmico, fluindo
ativamente na direção do crescimento no campo vivencial. O ajustamento criativo tem a ver
com a competência de ser espontâneo e usar o que é nutritivo para crescer. Assim, “todo
contato é ajustamento criativo do organismo no ambiente” e que “a psicologia é o estudo dos
ajustamentos criativos” (p 45).
D’Acri, Lima e Orgler (2016) afirmam que ajustamento criativo é uma inter-relação
entre organismo e o meio no qual o indivíduo tem contato e visa o equilíbrio. Esse processo é
fundamental para a sobrevivência e crescimento humano e implica diretamente na
autorregulação. Assim, se ajustar criativamente se relaciona com a forma que cada indivíduo
assume sua responsabilidade em produzir condições saudáveis.
Os ajustamentos criativos podem se tornar disfuncionais. Isso acontece quando ele
perde sua característica criadora e passa a ser alienada e cristalizada. Não consegue assim se
atualizar de acordo com as mudanças das necessidades (Frazão, 1996).
Lima (2014) acrescenta ainda outro ponto para a homeostase que é a autorregulação
organísmica que consiste em um “princípio natural que rege o funcionamento do organismo”
(p.88). São as potencialidades do indivíduo intrinsecamente relacionadas ao seu
funcionamento total.
O estado depressivo pode ser compreendido em dois planos: ajustamento depressivo e
gestalt fixa. O primeiro tem um papel e relação com a tristeza sendo esta como qualquer outra
emoção essencial para a sobrevivência humana. O indivíduo se deprime como forma de
ajustar-se criativamente evitando entrar em contato com alguma situação desagradável (Yano,
2015).
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O segundo plano é a cristalização do ajustamento depressivo, ou seja, não existe mais
necessidade desse tipo de ajustamento no presente, contudo ele é usado de forma repetida.
Algo que foi funcional no passado juntamente com fatores sociais e biológicos se instala de
maneira fixa e enrijecida provocando perdas no desenvolvimento das possibilidades do
indivíduo (Yano, 2015).
Em consonância, Roubal (2007) afirma que as regras que foram introjetadas no
decorrer da vida do indivíduo influenciam negativamente nas suas autoavaliações, assim o
ajustamento depressivo se fixa e interrompe o crescimento. Contudo, esse ajuste também pode
significar um mecanismo adaptativo com a função de proteção.
A partir de uma compreensão Gestáltica, este estudo buscou lançar luz para o
adoecimento mental, mais especificamente a depressão, de psicólogos. Para tanto, é
necessária a conceituação do trabalho desse profissional. O código de ética estabelece em seus
princípios fundamentais as diretrizes para o desenvolvimento legal da profissão sendo que é
papel do psicólogo pautar seu trabalho “no respeito, e na promoção de liberdade, da
dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a
Declaração Universal dos Direitos Humanos” (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2005
pg.16).
Também é papel do psicólogo promover saúde e qualidade de vida, ser responsável em
parâmetros sociais, culturais e políticos, contribuir para o desenvolvimento da psicologia tanto
teórica quanto prática e zelar para que o exercício profissional seja realizado com dignidade
(CFP, 2005).
A partir do que foi abordado até aqui, levantou-se o seguinte questionamento: como o
profissional de psicologia lida com o seu próprio adoecimento mental, especificamente com a
depressão?
Existe uma complexa relação entre o trabalho e a saúde, na qual o trabalho interfere
tanto de modo positivo quanto negativo na qualidade de vida do trabalhador. Essas
consequências podem acontecer a curto e a longo prazo sendo que um dos principais sintomas
é o estresse (Duarte & Moraes, 2016).
Existem poucas pesquisas sobre depressão em profissionais da saúde. Em um
levantamento bibliográfico realizado pela pesquisadora, usando as palavras-chave depressão,
profissionais da saúde, adoecimento mental e transtornos mentais nas plataformas de busca
BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online), PePSIC
(Periódicos Eletrônicos em Psicologia) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde), foi possível encontrar apenas um artigo que tratou-se de uma revisão
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de literatura sobre o tema de transtornos mentais em profissionais da saúde. Este estudo
buscou analisar a qualidade de trabalho e os fatores relacionados à depressão em médicos
(residentes e graduados), enfermeiros e estudantes de medicina. A conclusão foi que esta é
uma condição comum tendo como fatores principais de adoecimento a grande
responsabilidade em cuidar de outro ser humano, conflitos com os usuários da unidade
médica, relacionamento interpessoal com os colegas de equipe e riscos do ambiente hospitalar
(contaminação). Além disso, o despreparo para lidar com situações de dor, sofrimento e morte
podem levar o profissional a ter sentimentos conflitantes de frustração e incapacidade (Gomes
et al, 2015).
Se tratando de pesquisas específicas com psicólogos, foram usadas as seguintes
palavras chaves: psicólogo, depressão, transtorno mental, adoecimento mental e profissionais
de psicologia. Encontraram-se apenas três estudos. O primeiro estudo realizado por Duarte e
Moraes (2016) contou com a participação de 32 psicólogos que atuam na atenção primária da
saúde no Estado de Espírito Santo e apontou baixos índices de qualidade de vida e alto nível
de adoecimento mental. Esses fatores estão relacionados a altos níveis de cobrança no
trabalho, acúmulo de tarefas, falta de espaço de debate e voz ativa na equipe
multiprofissional.
O estudo de Nascimento, Duarte e Moraes (2018), realizado com 53 psicólogos que
atuam nos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) no Espírito Santo,
corroborou com a pesquisa supracitada ao apontar que, apesar do trabalho do profissional de
psicologia ser ativo também é fonte de baixa qualidade de vida e adoecimento mental. Esses
fatores são correlacionados com as condições de trabalho e a alta demanda psicológica que os
atendimentos exigem.
O último artigo encontrado relacionou-se com a presença de sintomas depressivos
em estudantes de graduação em psicologia. Cremasco e Baptista (2017) pesquisaram a relação
da presença de sintomas depressivos e pensamentos suicidas nesse público. Foram
pesquisados 77 alunos e os resultados se dirigem a uma relação positiva entre a falta de
motivos para viver e características depressivas, bem como o suicídio sendo uma forma de
fuga.
A presente pesquisa se justifica primeiramente pelo interesse pessoal da pesquisadora
em adoecimento mental de psicólogos clínicos, sobretudo com diagnóstico de depressão.
Compreender a dinâmica de atendimento de um profissional adoecido faz parte da construção
da imagem do psicoterapeuta como pessoa que também pode ficar doente. Estar presente
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nessa constante troca terapeuta/cliente demanda preparo técnico e prático de maneira
desafiadora que pode também adoecer.
Outra justificativa para esse trabalho é a escassa quantidade de pesquisas relacionadas
a saúde mental dos profissionais da saúde, sobretudo com psicólogos. Conforme apontado no
levantamento bibliográfico supracitado, foram encontradas poucas pesquisas com psicólogos
e nenhuma com psicólogos clínicos.
Assim, essa pesquisa tem como objetivo geral compreender e descrever a vivência do
psicólogo com diagnóstico de depressão que atua na área clínica. Ainda tem-se como
objetivos específicos descrever possíveis ajustamentos criativos realizados pelos profissionais
para lidarem com sua prática profissional e apontar possíveis reflexos do adoecimento do
psicólogo em sua prática clínica.
Metodologia
Este estudo empregou como metodologia a pesquisa qualitativa fenomenológica,
utilizando como instrumento de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas. Este é um
instrumento padronizado, com confiabilidade e fidedignidade necessárias para obter os dados
relevantes da pesquisa (Giorgi, 2010).
A análise dos dados se deu através do método fenomenológico de Amadeo Giorgi
(2010), sendo este um método que parte das descrições por escrito dos participantes para
analisar suas experiências vividas e compreender a relação entre ela e o fenômeno pesquisado.
Participantes
Participaram desta pesquisa três psicólogas, duas residentes no Estado de Goiás e uma
residente no Estado do Mato Grosso. Para a seleção das colaboradoras, foram considerados os
seguintes critérios de inclusão e exclusão: serem psicólogos atuantes na clínica de qualquer
abordagem teórica, com pelo menos dois anos de formação e um ano ou mais de experiência
clínica, que tenham recebido o diagnóstico de depressão realizado por um psiquiatra que já
tivessem feito tratamento psicofarmacológico e que estivessem, no momento da pesquisa, em
acompanhamento psicológico. Para preservar suas identidades, as participantes foram
identificadas com os nomes fictícios: Alice, Camila e Amanda.
Alice tem seis anos de formação em psicologia e atua na área clínica desde que se
formou. Tem 29 anos e é casada. Teve o diagnóstico de depressão há dois anos, está em
tratamento psiquiátrico e psicofarmacológico e faz uso do antidepressivo DESV, além do
acompanhamento psicológico. Apesar de ser diagnosticada na fase adulta sente que sempre
teve sintomas depressivos.
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Camila tem duas formações, sendo que a segunda é de psicologia. Atua na área clínica
desde sua formação que foi há dois anos. Tem 36 anos e é casada. Teve diagnóstico de
depressão há sete anos e iniciou o tratamento medicamentoso na mesma época. Atualmente
não faz uso de medicações, porém continua em tratamento psicoterapêutico.
Amanda é formada em psicologia há 11 anos e já atuou em outras áreas. Trabalha na
área clínica desde que se formou. Tem 36 anos e é solteira. Recebeu o diagnóstico de
depressão desde que era adolescente. Também tem diagnóstico de TDAH (Transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade). Atualmente não faz uso de medicação contínua e está
em tratamento psicoterápico.
Local, Materiais e Instrumentos
É válido ressaltar que devido ao aumento acelerado de casos e a disseminação global
da doença COVID-19, foi declarado pela OMS estado de Pandemia, sendo assim, as
entrevistas aconteceram de maneira virtual, através de videochamada, a fim de preservar a
saúde das participantes e da pesquisadora. Assim, no momento das entrevistas individuais,
tanto a pesquisadora quanto as participantes estavam em suas casas.
Foram utilizados os seguintes materiais: dois celulares, notebook, impressora,
cartucho de tinha para impressão, papel A4 e caneta. Como instrumentos, utilizou-se o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE - Anexo A) enviados para o e-mail de cada uma
das participantes, antes do início da entrevista. Além de um Questionário Sociodemográfico
(Anexo B).
Procedimentos e Análise dos Dados
Por tratar-se de pesquisa com seres humanos, este estudo respeitou as Resoluções do
Conselho Nacional de Saúde (CNS) 510/16 e 466/12, e foi enviado ao Comitê de Ética da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás) por meio da plataforma Brasil.
Entretanto, devido à Pandemia referente à doença COVID-19, as pesquisas referentes ao
enfrentamento da doença tiveram prioridade e o projeto deste estudo foi recebido, mas não
passou pela análise final no referido comitê.
Por tratar-se de um Trabalho de Conclusão de Curso de Pós Graduação Lato Sensu,
havia um prazo para sua conclusão e para respeitá-lo, foi dado seguimento à pesquisa antes
da aprovação final no Comitê de Ética, reafirma-se ainda que foram seguidas todas as
orientações éticas de pesquisa postuladas pelas resoluções supracitadas e também do Código
de Ética do Psicólogo (2005). Assim, deu-se início à busca dos participantes através de
grupos de psicólogos nas redes sociais (Facebook, Whatsapp e Instragram) já que devido ao
isolamento social necessário para o enfrentamento à Pandemia, essa foi a maneira mais
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segura de divulgar a pesquisa.
Apenas mulheres se disponibilizaram a participar (como voluntárias) da pesquisa. As
psicólogas foram contatadas, então, através de uma rede social (Whatsapp) na qual houve o
convite formal e uma explicação inicial sobre a pesquisa. Aceitando participar, as psicólogas
foram convidadas a agendar um horário individual com a pesquisadora e responder uma
entrevista semiestruturada gravada em aúdio. As entrevistas foram online, através de
chamadas de vídeo individuais para a proteção de ambas as partes.
No dia e horário marcado, a pesquisadora fez a chamada de vídeo iniciando com um
breve rapport e a leitura do TCLE e a entrevista ocorreu somente após o consentimento
verbal da participante.
As entrevistas duraram em média 40 minutos e se iniciaram com a seguinte pergunta
disparadora: Como é para você ser psicóloga clínica tendo o diagnóstico de depressão? As
perguntas posteriores tiveram o objetivo de esclarecer essas vivências e aprofundar as suas
descrições.
Após a realização de todas as entrevistas, iniciou-se a transcrição das mesmas pela
pesquisadora. Em seguida, foi realizada a análise compreensiva do discurso conforme indica
o método fenomenológico de Giorgi (2010).
O objetivo deste método é obter “unidades de significado”, ou seja, essências contidas
nas descrições e que são reveladoras do fenômeno. Ele contém quatro passos básicos: 1 –
leitura geral da descrição (no caso desta pesquisa, tratou-se das entrevistas transcritas), para
se obter o sentido do todo; 2 – discriminação de unidades de sentido dentro da perspectiva
psicológica com foco no fenômeno pesquisado; 3 – transformação das unidades de sentido
do sujeito em linguagem psicológica; 4 – síntese das unidades significativas sendo
transformadas em um declaração consistente com relação à experiência do sujeito (Giorgi,
2010).
Resultados e Discussão
Após a análise compreensiva dos dados de cada uma das entrevistas formaram-se três
categorias frente à descrição da experiência vivida por cada participante: 1) Percebendo
sintomas depressivos e o processo de aceitação do próprio diagnóstico; 2) Estrátegias de
enfretamento como forma de ajustamentos criativos desenvolvidos para lidar com a depressão
e 3) Reflexos do adoecimento na prática clínica. Tais categorias favorecem a compreensão
dos objetivos geral e específicos deste estudo, quais sejam respectivamente: compreender e
descrever a vivência do psicólogo com diagnóstico de depressão que atua na área clínica;
compreender possíveis ajustamentos criativos realizados pelos psicólogos para lidarem com
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sua prática profissional e os reflexos do adoecimento na prática clínica.
É importante ressaltar que, apesar de todo o conteúdo das entrevistas ser fundamental
para a compreensão da totalidade da experiência vivida das participantes, foram selecionadas
vinhetas relevantes que exemplifiquem e clarifiquem os objetivos propostos.
Percebendo sintomas depressivos e o processo de aceitação do próprio diagnóstico
A forma como as psicólogas entrevistadas vivenciaram o diagnóstico de depressão
demostraram a singularidade de cada uma e os diferentes processos que ocorrem, destacando-
se em um primeiro momento o contato com seus sintomas e o posterior processo de aceitação
do seu próprio adoecimento.
Assim, sobre a percepção em relação aos primeiros sinais e sintomas da depressão,
Alice relata que: “eu tinha um cansaço físico e uma exaustão mental fora do comum assim”.
Em outro momento da entrevista: “Algumas questões até pequenas me afetavam muito assim
de eu ficar muito mexida, muito sensibilizada”.
Já Camila refere que quando nota os sintomas depressivos, percebe que: “Eu durmo
muito, eu tenho muito sono e não tenho ânimo para nada. Eu sei que tem alguma coisa para
fazer. Eu quero fazer”. Em outro momento:
São coisas simples que eu não tenho simplesmente força para fazer nada. Nada. Realmente a
vontade é só de ficar quieta, num canto. Choro recorrente. Pensamentos ruins mesmo de que
eu não dou conta, de inferioridade. Já tive pensamentos suicidas.
Amanda demonstra que: “existem duas polaridades assim quando eu trabalho demais
e quando eu trabalho de menos entendeu? Tenho muita vontade de comer doce. Não tenho
força de fazer um autocuidado, às vezes eu não tenho força nem para tomar banho”.
O contato com sintomas se dá de forma individual e única. Neste caso, ao descrever a
vivência dos sintomas, cada participante relata como é a experiência singular do que vive.
Segundo Frazão (1995), a categorização é necessária, porém para o tratamento, o mais
importante é a compreensão da singularidade de cada indivíduo, o que é particular de cada
vivência. O interesse do diagnóstico fenomenológico é entender a configuração dos
acontecimentos da vida desse indivíduo com o intuito de possibilitar um novo significado.
Outro fator importante que as três participantes expuseram como a sua forma de
trabalho contribuiu para o seu adoecimento e mostraram como fizeram contato com a
sobrecarga emocional em sua prática clínica.
Alice relatou: “Trabalhava no serviço público. Eu trabalhava 40 horas semanais e
atendia uma média de 30 a 40 pacientes. Existia uma sobrecarga de pacientes também”.
Camila contou que: “Se eu não parasse de trabalhar eu não ia dar conta (...). Ele (psiquiatra)
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falou que eu estava no quadro agudo. Teve momentos que eu fiquei muito ruim”. Amanda
afirmou que: “Acabei que eu cheguei num nível de estresse sabe? De esgotamento mesmo.
(...) Eu não conseguia. Eu tinha muita demanda e eu não conseguia dar conta daquela
demanda”.
Os relatos apresentados estão em consonância com as pesquisas de Duarte e Moraes
(2016) e Nascimento, Duarte e Moraes (2018) ao mostrarem que elevados níveis de estresse e
as altas demandas de trabalho apareceram como um dos fatores que levam ao adoecimento
mental dos psicólogos.
De acordo com Galli e Loeci (2009), o estresse no ambiente de trabalho, as relações
interpessoais difíceis e a realidade econômica liberal são aspectos que contribuem para o
aparecimento de doenças relacionadas à depressão. Além disso, existem fatores sociais e
culturais que danificam o funcionamento do indivíduo de forma integral como valorização do
individualismo, alto nível e cobranças para a produtividade e excesso de competitividade.
Alice relatou que o afastamento do trabalho foi fundamental para sua saúde e
confirmar que havia um diagnóstico lhe auxiliou a ter clareza da situação e reconhecer seus
limites de atuação: “logo que eu recebo esse diagnóstico ele impossibilita a minha atuação.
Hoje eu tenho clareza dessa situação que era impossível eu continuar atendendo estando
daquela forma, naquela situação”.
Relacionando com os estágios do contato apontado por Perls, Hefferline e Goodman
(1997) sendo eles pré-contato, contato, contato final e pós-contato, a paralisação do trabalho
pode ser considerada como uma forma do indivíduo colocar as suas necessidades internas
como figura e assim fazer emergir a sensação de estar adoecido. Quando a atividade é
interrompida, as participantes têm a oportunidade de identificar através das suas funções de
contato os fatores que a levaram a adoecer, principalmente os que envolvem sua atividade
laboral. Sendo assim, o afastamento das atividades surge como fator de proteção da saúde das
participantes, configurando uma forma de reequilibrar a relação homem/mundo (Ribeiro,
2017).
A compreensão integrada do adoecimento passa pelo o contato com as sensações
provocadas pelos sintomas. Através das funções de contato, as participantes puderam ampliar
o entendimento sobre os seus próprios sentimentos e sensações em decorrência da depressão.
Em algum momento houve uma interrupção no processo de awareness acionando defesas que
se cristalizaram (Zinker, 2007).
Após o contato com os primeiros sinais e sintomas depressivos, as entrevistadas
apontaram que existe um processo de aceitação do diagnóstico de depressão. A esse respeito
16
Alice relata sentir-se incongruente com seu diagnóstico: “É desesperador e desafiador porque
em alguns momentos faz parecer um pouco incongruente ter esse diagnóstico e trabalhar com
pessoas que (...) tem o mesmo diagnóstico. É desafiador”.
Amanda demonstra que ao notar sintomas da depressão teve dificuldade para aceitar a
possibilidade de um diagnóstico por cuidar de pessoas com sintomas semelhantes aos seus e
que só buscou ajuda quando notou o agravamento de seus sintomas, com ideação suicida:
O que me deixou mais adoecida foi pensar assim „cara eu ensino isso para as pessoas‟, eu
sei o que está acontecendo comigo, mas eu não quero assumir que isso está acontecendo. Aí
chegou no extremo, eu comecei a ter ideação suicida e falei „não, agora eu preciso de ajuda
mesmo‟.
Tanto na experiência de Alice quanto na de Amanda é possível perceber a dificuldade
em estar adoecida exercendo o papel de psicóloga. Para as entrevistadas, se perceber com um
diagnóstico que, em alguns casos, é o mesmo de seu paciente pode trazer sentimentos de
negação. A negação pode ser vista como uma forma de evitar o contato atrapalhando a
identificação de suas próprias sensações (Zinker, 2007).
Segundo Hycner (1995), o diagnóstico vai além de categorizar uma doença. Ele tem o
papel de integrar os sintomas para compreender a vivência do indivíduo. Os problemas devem
ser vistos como algo que faz parte da totalidade do indivíduo, abandonando a ideia de
anormalidade. Eles apontam para um desequilíbrio nas relações.
Apesar da dificuldade demonstrada ao que se refere à aceitação do diagnóstico de
depressão, a análise de dados apontou também para a experiência de se sentir confirmada
quando esse diagnóstico se deu. Camila, em seu relato, contou que desde a sua infância
vivencia sintomas depressivos e que receber o diagnóstico foi só mais uma maneira de
confirmar o que sentia. Camila afirmou que:
Quando eu tive aula de psicopatologia que o professor foi explicar o que era depressão eu fui
vendo os momentos da minha vida que eu estava mais ruim (SIC). Então eu não tive depressão
em 2015. Eu tenho transtorno depressivo a minha vida inteira desde a infância. Foi
assoberbado na adolescência e na vida adulta. Então assim deu para ver claramente os
episódios na minha vida. Até então eu não sabia o nome depressão.
Compreender o adoecimento passa por um processo que deve levar em consideração a
história de vida do indivíduo. Sendo assim, as vivências do passado são fatores que auxiliam
na compreensão dos sintomas considerando suas características individuais (Frazão, 1995).
No caso de Camila, o processo de confirmação de que algo não estava bem desde a sua
infância foi essencial para que houvesse aceitação da doença e o seu posterior enfrentamento.
17
No mesmo sentido, Alice também percebeu que ao longo de sua história vivenciou sintomas
depressivos e, mostra nos seus relatos, como isso colaborou para a aceitação e o
enfrentamento da depressão enquanto adulta:
Eu fui uma criança muito depressiva, muito. Eu fui adolescente muito depressiva e isso nunca
foi visto, nunca foi tratado. Então assim quando eu adoeci dessa forma foi muito importante
ter acontecido dessa forma. Que aí nesse momento eu tenho condições de cuidar de mim,
enquanto adulta enquanto psicóloga eu posso olhar para isso. Eu posso olhar para esse
sintoma que sempre existiu.
Segundo Hycner (1995), a confirmação é fundamental em todas as relações humanas.
Quando o indivíduo é confirmado em sua totalidade, desenvolve senso de segurança e
disponibilidade para relacionar-se com o mundo e com o outro. Já quando isso não acontece, a
pessoa tende a enfraquecer sua autoimagem e sua autoestima, prejudicando sua capacidade de
entrar em contato.
Para Cardella (2017) a confirmação e a aceitação são formas de chegar à mudança, ou
seja, para que a pessoa se desenvolva é necessário que ela faça contato com suas polaridades.
Esse é o paradoxo da mudança na qual a aceitação é um ponto central para que a pessoa se
torne verdadeiramente o que é, deixando de assumir o que não é.
Com os relatos das participantes foi possível compreender as dificuldades em entrar
em contato com seu diagnóstico mesmo sendo psicólogas. Essa aceitação se deu de forma
gradual e com o agravamento dos sintomas. Nas três entrevistas o afastamento do trabalho
teve papel decisivo para o enfrentamento da doença.
Estratégias de enfrentamento como forma de ajustamento criativo desenvolvidos para
lidar com a depressão
Essa categoria demostra as estratégias de enfrentamento que as psicoterapeutas
desenvolveram para lidarem com a depressão. Os exemplos relatados são ações que apontam
para possíveis ajustamentos criativos graduais necessários tanto para entrar em contato com
seu processo de adoecimento quanto para caminhar em direção a cura. Contudo é importante
lembrar que os ajustamentos criativos são organísmicos, ou seja, se estendem para além das
ações (D’Acri, Lima e Orgler, 2016).
Alice, ao entrar em contato com seus sintomas, buscou ajustar-se criativamente até
poder se afastar do trabalho definitivamente, assim, quando havia possibilidade de ter horários
livres em sua agenda, buscava não repor pacientes: “Assim, eu deixava de marcar. Se um
horário ficasse livre na minha agenda eu já não marcava, ficava livre”.
18
A depressão pode também ser vista como um ajustamento depressivo, na qual todas as
emoções são essenciais para a sobrevivência humana (Yano, 2015). Neste contexto, pode-se
supor que o adoecimento de Alice pode ter sido uma forma de se ajustar para deixar um
trabalho que era, no seu ponto de vista, adoecedor.
Camila demonstra sua forma de ajustar-se criativamente quando, ao deparar-se com
seus sintomas, reconhece a necessidade de parar e se reequilibrar, respeitando suas
necessidades do momento: “Aí realmente eu preciso dar uma parada. Parar tudo para tentar
estabilizar”. Portanto, para uma pessoa conseguir se ajustar criativamente, precisa ter clareza
de suas necessidades (Cardella, 2014).
Amanda relatou conflitos interpessoais em sua cidade que contribuíram para a piora
do seu quadro de depressão. Para se ajustar e lidar com seus sintomas depressivos, passou a
fazer viagens curtas:
Eu decidi que uma vez por mês eu iria viajar sabe? E assim eu fiz. Eu acho que aquilo era
uma forma de fugir, de não entrar em contato com aquilo. Encarar aquele movimento como
movimento de liberdade e ao mesmo tempo de transição. Essa transição para mim foi muito
dolorosa.
Nesse trecho percebe-se que o afastamento de situações conflituosas foi uma das
formas que Amanda encontrou para fazer a assimilação entre o que acontecia em seu
ambiente e consigo. Se ajustar criativamente passa por uma postura ativa, não havendo uma
simples conformação às exigências e padrões do meio (Cardella, 2017).
Esse afastamento pode ser considerado uma forma saudável de deflexão, que segundo
Ribeiro (2017), é um mecanismo de defesa que evita contato ou os tem de maneira vaga, não
absorvendo a vivência de forma completa, na qual Amanda se afasta do local onde suas
relações estão danificadas para conseguir sobreviver.
Amanda traz ainda outra forma de ajustamento criativo, a sua espiritualidade,
considerado então, um fator de proteção:
Dentro do campo espiritual a depressão para mim foi um movimento de evolução fantástico.
Foi muito, muito bom para mim, nessa questão da espiritualidade. Da minha conexão com o
sagrado. Da minha conexão com Deus mesmo. Porque para mim é assim: se você está bem
com Deus, você está bem consigo mesmo.
A Gestalt-terapia, por meio de sua visão holística, considera que a dimensão espiritual
faz parte do ser humano e contribui positivamente no processo psicoterápico. Assim, a
espiritualidade é considerada como um fator de promoção de saúde e um instrumento
terapêutico (Campos & Ribeiro, 2017).
19
Camila também recorreu à espiritualidade e demonstra ainda outros três fatores como
forma de ajustamento criativo, quais sejam: a psicoterapia, o exercício físico e a medicação.
Em seu relato falou sobre a importância desses quatro pilares no seu tratamento:
E assim meu psiquiatra falava que não adiantava só tomar remédio eu tinha que cuidar
também dos fatores protetivos que eram a terapia, exercícios físicos e a religião. Ele sempre
me perguntava isso, se eu estava fazendo essas 4 coisas.
Considerando que a saúde e a doença são etapas do mesmo processo que ocorre na
totalidade do indivíduo, o caminho do reequilíbrio passa por todas as instâncias do ser
humano. A concepção de totalidade mostra que o organismo funciona como um todo que é
constituído por suas partes em um sistema organizado (Ribeiro, 2017).
O ajustamento criativo que apareceu em todas as entrevistas foi a psicoterapia. Todas
as participantes afirmaram que estar em terapia foi fundamental para seu processo de cura.
Alice afirmou: “Eu só saía de casa para ir à terapia. Foi muito importante, muito
necessário”. Camila ressaltou: “Eu nunca parei de fazer terapia”. Amanda contou: “Eu
ficava em isolamento social e não falava com ninguém. Só falava com a minha terapeuta”.
Fernandes e Maia (2008) apontam os benefícios da prática de psicoterapia para
psicoterapeutas. O exercício clínico demanda alta disponibilidade do profissional e tendo em
vista os próprios conteúdos da sua história, a psicoterapia é uma forma eficiente de lidar com
seus problemas para conseguir lidar com o sofrimento de seus clientes. Também é uma forma
de autocuidado na qual o psicólogo aprende a lidar com seus sentimentos para que isso não
prejudique os seus atendimentos.
Reflexos do adoecimento na prática clínica
Essa categoria mostra as consequências do adoecimento das psicoterapeutas para a sua
prática clínica. O primeiro fator que chamou a atenção foi que, parece que existe um
estereótipo do ser-psicóloga, inclusive sendo este um dos fatores que dificultam a aceitação
do próprio processo de adoecimento, como abordado anteriormente. Isso fica claro quando
Alice relata:
Eu lembro que quando eu voltei para o trabalho foi muito difícil o olhar dos colegas de
trabalho porque eu escutei comentários do tipo „nossa uma psicóloga afastada por isso‟. Eu
fiquei assim pensando que eu tinha falhado em todos os sentidos, principalmente o
profissional. Assim, é o que eu escutei muito „como que uma psicóloga adoece dessa forma?‟.
Ser psicóloga implica em desenvolver habilidades para compreender o cliente. Essa
não é tarefa fácil, pois ao passo que o cliente vai fazendo contato com sua experiência nos
20
atendimentos o psicólogo também se inclui nesse processo. Acompanhar um cliente no
processo terapêutico exige postura ativa do profissional e acarreta consequências no seu
próprio processo de desenvolvimento (Cardella, 2017).
Outro ponto dessa fala são as características sobre as relações interpessoais com os
colegas de equipe. Esse fator faz parte da carga psíquica que contribui para o adoecimento do
profissional (Gomes et al, 2015).
Segundo Gali (2009), as relações que as pessoas desenvolvem no ambiente de
trabalho pode ser fonte de desequilíbrio. Alguns sintomas como rebaixamento da autoestima,
dificuldades de autocuidado, autojulgamento negativo são comuns nesse tipo de adoecimento.
Em sua fala, Alice se sente frustrada em vivenciar a depressão.
Contudo, mesmo com a dificuldade em lidar com os olhares de julgamento dos
colegas e também com a sensação de fracasso por ser psicóloga e adoecida emocionalmente,
como um reflexo da experiência vivida, Alice consegue perceber, de maneira criativa, o
paradoxo existente entre a sua profissão e o seu adoecimento: “A minha dor, a minha
vulnerabilidade me tornou ao longo desses dois anos um pouco mais ou talvez muito mais
sensível à própria vulnerabilidade do outro”. De acordo com Hycner (1995), a profissão de
psicoterapeuta tem vários paradoxos. Um deles é o constante confronto de demandas da vida
do cliente que nem sempre estão bem resolvidas em sua própria vida.
O psicólogo pode usar dos seus próprios dilemas para auxiliar seu cliente no processo
terapêutico. Isso significa que as questões não resolvidas do profissional o torna mais sensível
às dores do seu cliente, podendo nomear-se como “curador ferido”. O curador (terapeuta)
deve estar aware de suas dores para que isso seja usado a favor do cliente (ferido), de forma
que este seja o foco do trabalho clínico. Ainda é preciso lembrar que o psicólogo é seu próprio
instrumento de trabalho e deve se manter em constante atualização para acompanhar as
nuances dos atendimentos clínicos (Hycner, 1995).
Amanda demonstra também o quanto é paradoxal para ela ser psicóloga e ser
vulnerável enquanto pessoa: “A gente sofre mais ainda porque a gente lida com a
vulnerabilidade humana e não quer ser vulnerável”. Segundo Cardella (2017), um dos
trabalhos do psicoterapeuta é se acolher, isto é, para conseguir realizar o seu trabalho clínico
deve primeiramente estar em contato com seus próprios dilemas e questões.
Hycner (1995) declara que outro paradoxo da profissão de psicólogo é o uso da
subjetividade na psicoterapia. Encontrar o equilíbrio entre as dimensões objetiva e subjetiva
na psicoterapia é um desafio porque o primeiro diz do conhecimento científico generalizável e
a segunda do conhecimento ideográfico. Essas são duas polaridades essenciais para a prática
21
clínica na qual o psicoterapeuta deve decidir quando e como usará cada tipo de conhecimento.
Sendo assim, estar vulnerável ou adoecido é uma forma de subjetividade que pode auxiliar no
processo terapêutico desde que o profissional use a mesclagem dos conhecimentos citados
acima.
Outra consequência desse adoecimento é a dificuldade em conseguir realizar os
atendimentos. Alguns obstáculos foram citados pelas participantes: dificuldade em
permanecer o tempo necessário nas sessões, em se concentrar nas falas dos clientes e separar
seus conteúdos dos clientes. Alice contou:
E os atendimentos começaram a me mobilizar demais aí eu comecei a perceber que não
estava normal entre aspas né. Então na época eu atendia basicamente criança e assim dava
15 minutos de sessão eu já não conseguia. Eu já começava a ficar muito incomodada na
sessão.
Amanda também descreveu suas dificuldades: “Às vezes me cansa. Às vezes o jeito do
paciente conversar é muito devagar. São coisas que são minhas que acaba refletindo.”
Os sentimentos e sensações do psicólogo são fundamentais no processo terapêutico.
Contudo, como afirma Cardella (2017), isso deve ser usado para o desenvolvimento de
habilidades terapêuticas. O psicólogo deve buscar ampliar sua autopercepção através de um
processo contínuo de autoconhecimento priorizando sua singularidade. Bem como modificar
sua percepção a respeito do cliente, aceitando os sentimentos que surgem na relação
terapêutica. Por fim, deve desenvolver seu raciocínio clínico.
Dentro dos vários paradoxos que o psicólogo vivencia, percebe-se a forma que seu
adoecimento expõe seu lado humano. Sentimentos, sensações e emoções são formas de
aprimoramento de trabalho e indicadores do que precisa ser considerado em sua terapia
pessoal.
Considerações Finais
O estudo realizado pôde trazer uma visão gestáltica da vivência da depressão por
psicólogas clínicas. Foi possível perceber o carácter holístico do adoecimento dessas
profissionais. A quantidade de pacientes atendidos, o acúmulo de tarefas e os conflitos com a
equipe de trabalho são fatores que podem afetar a saúde desses profissionais.
A vivência da depressão passa por um processo em que a negação é um aspecto
recorrente. O afastamento do trabalho se mostra fundamental para o contato com os sintomas
e a posterior aceitação do diagnóstico. Ser psicóloga é um fator que pesa nesse processo
porque existe um estereótipo que esses profissionais não adoecem. É importante ressaltar que
22
não foram encontrados dados que demostrassem que ser psicóloga caracterizasse um fator de
proteção para doenças mentais.
Em relação aos ajustamentos criativos foi percebido que as participantes
desenvolveram, de maneira singular, formas para lidar tanto com os sintomas depressivos
quanto com o diagnóstico da depressão, como recorrer à espiritualidade, à medicação e à
psicoterapia.
Foi apontado também consequências do adoecimento do psicólogo na prática clínica
de forma que o paradoxo das psicólogas na prática clínica. O paradoxo se deu entre serem
psicólogas e ao mesmo tempo serem seus próprios instrumentos de trabalho exigem um
equilíbrio entre conhecimento objetivo (técnico) e subjetivo (de si) para saberem diferenciar-
se de si e do cliente durante o encontro terapêutico.
Deve-se considerar que essa pesquisa foi realizada em meio a uma pandemia
provocada pela doença COVID-19, possivelmente esse fato interferiu em seu
desenvolvimento. Outro obstáculo encontrado na elaboração dessa pesquisa foi encontrar
participantes. Assumir a vulnerabilidade de uma doença como a depressão para um psicólogo
é algo desafiador.
A dificuldade de encontrar outros trabalhos com esse tema demonstra a escassez de
pesquisas relacionadas à saúde mental dos profissionais de saúde de forma geral. Esse estudo
serve como incentivo para que pesquisadores desenvolvam trabalhos sobre esse tema.
Por fim, é notável a necessidade de humanizar a profissão do psicoterapeuta. Todos
podem adoecer, inclusive esses profissionais da saúde mental. O adoecimento tem fontes
multifacetadas que envolvem desde relações conflituosas no trabalho até questões da infância.
Ser psicólogo e ter depressão não deve ser sinônimo de fracasso profissional. É importante
contemplar a humanidade existente por trás do papel de psicólogo clínico.
23
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26
ANEXOS
27
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A)
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), do Projeto de
Pesquisa sob o título Psicólogos também adoecem: uma visão da Gestalt-terapia. Meu nome
é Carolina Duarte de Oliveira sou especializanda do Instituto Goiano de Terapia e Pesquisa
em Gestalt-Terapia (ITGT) orientada pela Professora Ms. Mariana Costa Brasil Pimentel.
Após receber os esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do
estudo, este documento deverá ser assinado em todas as folhas e em duas vias, sendo a
primeira de guarda e confidencialidade do pesquisador responsável e a segunda ficará sob
sua responsabilidade para quaisquer fins.
Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com o
pesquisador responsável através do número (62) 99653-0722, ligações a cobrar (se
necessárias) ou através do e-mail [email protected]. Residente na Rua José
Lobo Filho Quadra 04 Lote 09 Parque Trindade 2, Aparecida de Goiânia. Em caso de
dúvida sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato com o Comitê de
Ética em Pesquisa (CEP) da PUC Goiás, telefone: (62) 3946-1512, localizado na Avenida
Universitária, N° 1069, St. Universitário, Goiânia/GO. Funcionamento: das 8 às 12 horas e
das 13 às 17 horas de segunda a sexta-feira. E-mail: [email protected]
O CEP é uma instância vinculada à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP) que por sua vez é subordinada ao Ministério da Saúde (MS). O CEP é
responsável por realizar a análise ética de projetos de pesquisa, sendo aprovado aquele que
segue os princípios estabelecidos pelas resoluções, normativas e complementares.
Pesquisadores: Carolina Duarte de Oliveira e Mariana Costa Brasil Pimentel O motivo que nos leva a propor essa pesquisa é compreender o adoecimento
mental de Gestalt-Terapeutas e contribuir para os estudos sobre o tema de
depressão em psicólogos. Tem por objetivo compreender e descrever a vivência
do gestalt-terapeuta com transtorno depressivo que atua na área clínica.
O procedimento de coleta de dados será por meio de entrevistas não estruturadas
realizadas com cada uma dos participantes no consultório particular da pesquisadora. A
entrevista terá a duração de 1 hora.
Riscos: A presente pesquisa tem como riscos envolvidos a mobilização de
conteúdos emocionais dos participantes ou a dificuldade em falar sobre o assunto, visto que
a vivência tem caráter individual Assim, pode vir a acarretar transtornos emocionais ou
desconfortos em decorrência de sua participação. Se você sentir qualquer desconforto é
assegurado assistência imediata e integral de forma gratuita, para danos diretos e indiretos,
imediatos ou tardios de qualquer natureza para dirimir possíveis intercorrências em
consequência de sua participação na pesquisa. Para evitar e/ou reduzir os riscos de sua
participação O Código de Ética Profissional do Psicólogo Brasileiro (2005) prevê que, caso
seja necessário, serão adotadas medidas de suporte emocional para os participantes. Os
métodos adotados para minimizar os riscos seguirão as exigências da Resolução CNS
510/16, item II – assistência ao participante da pesquisa, prestada para atender danos
imateriais decorrentes da pesquisa, direta ou indiretamente.
Benefícios: Os benefícios esperados são as reflexões teóricas e vivenciais sobre as
possibilidades de atuação de Gestalt-terapeutas com diagnostico de transtorno depressivo.
Também abrir espaço para a humanização da função do psicoterapeuta, condição essa que
não impede o aparecimento de doenças mentais. Por fim, demostrar a possível relação de
saúde e doença como forma de ajustamento criativo.
28
Não há necessidade de identificação, ficando assegurados o sigilo e a privacidade.
Caso você se sinta desconfortável por qualquer motivo, poderemos interromper a entrevista
a qualquer momento e esta decisão não produzirá qualquer penalização ou prejuízo.
Você poderá solicitar a retirada de seus dados coletados na pesquisa a qualquer
momento, deixando de participar deste estudo, sem prejuízo. Os dados coletados serão
guardados por, no mínimo, 5 anos e, após esse período esse material será incinerado. Se
você sofrer qualquer tipo de dano resultante de sua participação na pesquisa, previsto ou
não no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tem direito a pleitear indenização.
Após a realziação da pesquisa e da correção da banca avaliativa os participantes
receberão o artigo em forma de PDF.
Você não receberá nenhum tipo de compensação financeira por sua participação
neste estudo, mas caso tenha algum gasto decorrente do mesmo este será ressarcido pelo
pesquisador responsável. Adicionalmente, em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao
pesquisador responsável pela pesquisa para esclarecimentos de eventuais dúvidas.
Declaração do Pesquisador
O pesquisador responsável por este estudo e sua equipe de pesquisa declara que cumprirão
com todas as informações acima; que você terá acesso, se necessário, a assistência integral
e gratuita por danos diretos e indiretos oriundos, imediatos ou tardios devido a sua
participação neste estudo; que toda informação será absolutamente confidencial e sigilosa;
que sua desistência em participar deste estudo não lhe trará quaisquer penalizações; que
será devidamente ressarcido em caso de custos para participar desta pesquisa; e que
acatarão decisões judiciais que possam suceder.
Declaração do Participante
Eu,____________________________________________________________, abaixo
assinado, discuti com a Carolina Duarte de Oliveira e/ou sua equipe sobre a minha decisão
em participar como voluntário (a) do estudo Psicólogos também adoecem: uma visão da
Gestalt-terapia. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os
procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de
confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha
participação é isenta de despesas e que tenho garantia integral e gratuita por danos diretos,
imediatos ou tardios, quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste
estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o
mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter
adquirido.
Goiânia,_________, de ____________________de_________.
Assinatura do participante
Assinatura do pesquisador
29
Questionário Sociodemográfico (Anexo B)
Nome:
Idade:
Formação:
Tempo de formação:
Estado civil:
Religião:
Tratamento:
Tempo de tratamento:
Tempo de diagnóstico:
Medicação usada:
Tempo de medicação:
Pergunta disparadora: Como é para você ser psicóloga clínica tendo o diagnóstico de
depressão?