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1 A definição dos limites territoriais entre Brasil e Bolívia: incorporando sertões aos Estados nacionais (1867-1928) Alexia Helena de Araujo Shellard 1 Resumo: A definição dos limites territoriais entre Brasil e Bolívia ocorrida entre fins do século XIX e início do século XX representou uma drástica alteração nas paisagens do coração do continente sul-americano. O avanço das fronteiras nacionais promoveu intensas mudanças nas relações socioespaciais de cada povo da região, imprimindo um caráter predatório na relação homem-natureza a partir da privatização e mercantilização da terra. O texto considera trata de três questões centrais: o avanço das fronteiras nacionais, incluindo uma análise das migrações, tanto dentro da própria fronteira quanto de fora para dentro da fronteira; as transformações no meio ambiente causadas pelo avanço dessas fronteiras; e a questão simbólica embutida na transformação de paisagens, já que é importante entender as idéias de natureza dos povos que estão participando dessa dinâmica. Palavras-Chave: Sertões. Estados Nacionais. Brasil. Bolívia. Capitalismo. Abstract: The definition of the boundaries between Brazil and Bolivia between the late nineteenth and early twentieth century caused drastic changes in the heart of South America. The consolidation of national borders promoted intense changes in the socio-spatial relations of all local people, contributing to the spread of predatory attitudes towards nature specially because of the privatization and commodification of land. The text deals with three key issues: the advancement of national borders, including an analysis of migration; the changes in the environment caused by the advance of these borders; and the symbolic issue revealed in the transformation of landscapes, since it is important to understand the ideas of nature from people who were participating in this dynamic. Key-Words: Wilderness. National Estates. Brazil. Bolivia. Capitalism. 1 Doutoranda em História Social no PPGHIS/UFRJ. Email para contato: [email protected]

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A definição dos limites territoriais entre Brasil e Bolívia: incorporando sertões aos

Estados nacionais (1867-1928)

Alexia Helena de Araujo Shellard1

Resumo: A definição dos limites territoriais entre Brasil e Bolívia ocorrida entre fins do século

XIX e início do século XX representou uma drástica alteração nas paisagens do coração do

continente sul-americano. O avanço das fronteiras nacionais promoveu intensas mudanças nas

relações socioespaciais de cada povo da região, imprimindo um caráter predatório na relação

homem-natureza a partir da privatização e mercantilização da terra. O texto considera trata de

três questões centrais: o avanço das fronteiras nacionais, incluindo uma análise das migrações,

tanto dentro da própria fronteira quanto de fora para dentro da fronteira; as transformações no

meio ambiente causadas pelo avanço dessas fronteiras; e a questão simbólica embutida na

transformação de paisagens, já que é importante entender as idéias de natureza dos povos que

estão participando dessa dinâmica.

Palavras-Chave: Sertões. Estados Nacionais. Brasil. Bolívia. Capitalismo.

Abstract: The definition of the boundaries between Brazil and Bolivia between the late

nineteenth and early twentieth century caused drastic changes in the heart of South America.

The consolidation of national borders promoted intense changes in the socio-spatial relations of

all local people, contributing to the spread of predatory attitudes towards nature specially

because of the privatization and commodification of land. The text deals with three key issues:

the advancement of national borders, including an analysis of migration; the changes in the

environment caused by the advance of these borders; and the symbolic issue revealed in the

transformation of landscapes, since it is important to understand the ideas of nature from

people who were participating in this dynamic.

Key-Words: Wilderness. National Estates. Brazil. Bolivia. Capitalism.

1 Doutoranda em História Social no PPGHIS/UFRJ. Email para contato: [email protected]

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1. Ambientação

Logo nas primeiras décadas do século XIX, os processos de independência das colônias

sul-americanas trouxeram, ao centro das discussões políticas do continente, o tema dos limites

territoriais internacionais. As elites políticas das colônias caducantes buscavam estender os

respectivos territórios, incorporando fundos territoriais aos sistemas econômicos nacionais. A

América Latina compartilhava uma herança colonial no qual a propriedade fundiária

representava poder; assim, ao tornarem-se independentes, muitos países emancipados

fundamentaram seus projetos nacionais na ocupação de territórios considerados não-ocupados2.

Evidentemente, as próximas décadas seriam assim marcadas por disputas territoriais

entre os novos Estados, já que nesse movimento de expansão, os limites dos diferentes países

acabavam se sobrepondo. Não menos importante, outro fator que gerava violentas

controvérsias estava relacionado ao domínio sobre rios navegáveis; num momento em que as

embrionárias economias nacionais buscavam se inserir nos mercados internacionais, agora não

mais na condição de colônias, era crucial o acesso a vias de transporte e escoamento.

Brasil e Bolívia iniciaram suas contendas em torno desses dois temas: fundos

territoriais e vias fluviais. Em 1837, quando o governo imperial brasileiro legislou sobre

sesmarias nas florestas do interior do continente, a república boliviana alegou-se lesada em sua

soberania, ainda que as terras em questão estivessem localizadas em territórios indefinidos,

consideradas nos próprios mapas bolivianos como não descobertas; já em 1844, as posições se

invertem, e o franqueamento do rio Amazonas à navegação estrangeira, objetivado pelo

governo boliviano, sofre protestos do governo brasileiro3.

A determinação dos limites territoriais entre Brasil e Bolívia era, assim, uma questão

mister para ambos os Estados. Em disputa, estava o domínio sobre vastas extensões de terra

que articulariam as duas principais redes hidrográficas do continente: as bacias platina e

amazônica4. Convém lembrar que as primeiras ferrovias chegaram à América do Sul apenas em

meados do século XIX; as vias fluviais eram, portanto, os únicos acessos viáveis a

determinadas localidades – especialmente no interior do continente. Logo, o controle dessas

vias de comunicação e transporte seria estratégico em termos geopolíticos.

2 MORAES, Antonio. C. R. Notas sobre formação territorial e políticas ambientais no Brasil. Revista Território,

1999. Disponível em: <http://www.revistaterritorio.com.br/pdf/07_4_moraes.pdf>. Acesso em: 17 set. 2013. 3 COSTA, João C. A conquista do deserto ocidental: subsídios para a história do território do Acre. 2 ed. São Paulo, Editora Nacional, 1973. 4 XAVIER, Lídia. O. Fronteira Oeste Brasileira: entre o contraste e a integração. 2006. 232 f. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, Brasília, 2006.

3

Em 1867, após frustradas tentativas anteriores, foi firmado em Ayacucho o primeiro

tratado de limites entre Brasil e Bolívia. O único trecho de fronteira internacional do acordo

mantido até os dias atuais designa o rio Guaporé seguindo até o rio Mamoré seguindo até o rio

Beni e seguindo então até o início do rio Madeira como linha divisória entre os dois países; na

verdade uma diretriz, em parte, herdada do Tratado de Madri (1750)5. A condição que

permeava grande parte da área em demarcação – desconhecida e selvagem – impossibilitou a

definição de determinados trechos da linha que separaria os respectivos territórios nacionais.

Assim, o próprio documento condicionou a vigência efetiva do tratado à demarcação in loco

dos intervalos controversos; tal procedimento seria efetuado de comum acordo por

representantes de ambos os países6.

Ficaram acordados dois prazos: em até seis meses, seria nomeada uma comissão para

efetivar os trabalhos de delimitação em campo, e em seis anos seria celebrado um novo tratado

para as alterações e clarificações necessárias. A prática, contudo, não se mostrou tão simples: a

primeira expedição para fixar os limites internacionais se iniciou apenas em 1870 e não

ultrapassou o rio Madeira; por outro lado, o próximo tratado de limites entre os dois países

seria ratificado com três décadas de atraso7. Ainda que no período estivesse em curso um

contundente fluxo migratório em direção ao sul e oeste da Amazônia, a imensidão de densas

florestas ao norte, e a Guerra do Paraguai (1864-1870) ao sul – através da proibição da

navegação de embarcações brasileiras em águas paraguaias – mantinham perene o isolamento

da hinterlândia sul-americana.

Outras barreiras separavam essas porções extremas dos respectivos territórios nacionais

dos centros políticos e econômicos dos quais emanavam os ideais de nacionalidade. Insetos

transmissores de inúmeras pragas e doenças alarmavam os grupos civilizados que lá quisessem

se instalar. Cobras, jacarés e jaguares eram algumas das feras que ameaçavam esses grupos

humanos, dificultando o estabelecimento de fazendas. Ademais, na parte sul da futura linha

geodésica, localizava-se a área de mais ampla inundação da América, onde sazonalmente um

grande mar raso ocupava a extensa depressão geográfica coberta por uma vegetação

característica de savana tropical8. Por outro lado, a parte norte, como mencionado acima,

5 COSTA, João C. Op. Cit. 6 TRATADO DE AMIZADE ,LIMITES, NAVEGAÇÃO,COMERCIO E EXTRADIÇÃO (Tratado de Ayacucho), 1867. Disponível em<http://info.lncc.br/btt1867.html>. Acesso em: 15 out. 2013. 7 COSTA, João C. Op. Cit. 8 WILCOX, Robert. Cattle and environment in the pantanal of Mato Grosso, Brazil, 1870-1970. Agricultural History, v. 66, n. 2, 1992, p. 232-256.

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atravessava uma das maiores e mais densas florestas tropicais do mundo: a floresta amazônica.

Enfim, toda a extensão da fronteira internacional representava um desafio à ocupação humana

nos padrões modernos: os custos de implementação de infra-estrutura como vias de

comunicação e transporte era deveras alto e não havia um fator que os justificasse.

O período colonial havia deixado poucas marcas antrópicas permanentes nos

entremeios da América Ibérica: se distinguiam uns poucos fortes militares nas margens dos

afluentes principais – como o Forte Príncipe da Beira construído pelos portugueses no século

XVIII próximo às margens do rio Guaporé (ou rio Iténez para os bolivianos) – e alguns

resquícios das missões jesuíticas. A cartografia histórica do continente havia, assim,

desenvolvido a ideia de oposição entre as duas faixas de territórios marcadamente humanizados

– uma acompanhando o traçado da costa atlântica, das Guianas ao sul do Brasil, e outra

seguindo o maciço andino, e abrindo-se ao sudeste até o rio da Prata – e um interior de terras

selvagens, desconhecidas e não povoadas9. Enquanto a costa e os Andes se notabilizavam pela

densa e ostensiva presença de marcas humanas; no coração do continente, a existência humana

era subordinada ao ritmo das forças da natureza, sendo associada à barbárie, à animalidade,

encaixando-se, por conseguinte, na condição de sertão10.

Isso não significa, então, que o elemento humano era por ali inexistente. Havia povos

indígenas, ou de origem indígena, como os Nambiquaras, Bororo e Chiquitanos. Havia

criadores de gado de origem lusa que haviam migrado para o oeste da colônia portuguesa,

acompanhando a economia mineradora do século XVIII, estabelecendo rústicas fazendas nos

arredores da futura cidade de Cáceres11. E havia uma nova onda de migrantes, provenientes do

nordeste brasileiro, especialmente do Ceará, que se aprofundava cada vez mais nos sertões da

Amazônia para explorar látex. Contudo, eram considerados povos exóticos, diferentes,

selvagens, saídos de outra época, que não se inseriam na típica formação de nacionalidade –

proclamada pelo Estado e por segmentos hegemônicos da sociedade12. Eram seres humanos

considerados não tão humanos assim13. Além disso, não tinham forças políticas ou econômicas

para quebrar o isolamento no qual se mantinha o sertão que separava Brasil e Bolívia.

9 SANTAMARÍA, Daniel J. Fronteras indígenas del oriente boliviano:ladominación colonial enMoxos y

Chiquitos, 1675-1810. Boletin Americanista, n. 36, p. 197-228, 1986. Disponível em: <http://www.raco.cat/index.php/BoletinAmericanista/article/view/98465>. Acesso em 10 out. 2013. 10MORAES, Antonio C. O Sertão: um outro geográfico. Terra Brasilis, 2003. Disponível em: <http://terrabrasilis.revues.org/341>. Acesso em: 17 set. 2013. 11 WILCOX, Robert. Op. Cit. 12 MORAES, Antonio C. R. Op. Cit. [b] 13

CASTRO, Eduardo. V. Eduardo Viveiros de Castro: entrevista. 2014. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/29/opinion/1412000283_365191.html.

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A crença na dualidade entre barbárie e civilização expressa, no espaço, no contraste

entre paisagens naturais e paisagens altamente antropizadas, representava uma visão de mundo

herdada do período colonial, antecipando um projeto de apropriação dos territórios

considerados primitivos e vazios, que implicava na superação da natureza virgem através da

superioridade da civilização14. Nem a independência de Brasil e Bolívia, nem tampouco a

mudança de regimes políticos – a proclamação da república no Brasil em 1889 e a ascensão do

poder civilista e oligárquico na Bolívia nos anos 1880 – alteraram a dinâmica de expansão

sobre territórios considerados atrasados. As paisagens dos espaços não incorporados às

economias nacionais e internacionais continuavam associadas à idéia de natureza intocada,

devendo ser transformados em prol da modernidade.

Embora a proposta de conquista do sertão tenha sido incorporada ao projeto nacional

brasileiro como a própria razão de ser do Estado – que construiria a unidade nacional a partir

do território, utilizando a população como instrumento15; na Bolívia, havia uma enorme

dificuldade em elaborar um discurso nacional, já que ao se ampararem na dicotomia

civilização-bárbarie para alijar dos processos sócio-políticos os povos indígenas, as elites

contrariavam mais de dois terços da população do país, compostos por indígenas e

descendentes16.

Assim, a mesma idéia, em roupagens distintas, legitimava a extensão da fronteira de

ocupação de ambos os países, mas enquanto na Bolívia, os conflitos entre as forças governistas

e as populações nativas eram constantes17, o Estado brasileiro, amparado por sua imensidão

espacial, adotava uma postura mais conciliatória, tentando evitar o embate através de um

discurso que impunha aos povos indígenas a condição de infância da civilização. Do período

monárquico ao republicano, o Estado brasileiro tentou incorporar, em sua idéia de unidade

nacional, os povos nativos, através de sua conversão em trabalhador, como exemplifica a

criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais, em

14 CORRÊA, Dora. S. Paisagens sobrepostas: índios, posseiros e fazendeiros nas matas de Itapeva (1723-1930). Londrina: EDUEL, 2013. 15 MORAES, Antonio C. R. Op. Cit. [b] 16 CAMARGO, Alfredo J. C. J. Bolívia: a criação de um novo país. A ascenção do poder político autóctone das civilizações pré-colombianas a Evo Morales. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 2006. 17 ROCA, Jose. L. Economía y sociedadenel Oriente boliviano (siglos XVI-XX). Santa Cruz de laSierra: Cotas, 2001.

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1910, que tinha por metas a garantia da sobrevivência física de povos indígenas para

possibilitar sua absorção pela sociedade nacional enquanto trabalhadores18.

Nesse sentido, é importante clarificar que ainda que esteja apoiada em retóricas

superficialmente distintas, a estratégia para cooptação de trabalhadores é basicamente a

mesma: a apropriação de terras de povos do sertão que, destituídos de seus meios de

subsistência, se vêem obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver; na verdade,

seria apropriado tratar do tema, aludindo à questão da mercantilização da terra e das relações

sociais19. O avanço da fronteira introduz um novo elemento na dinâmica sócio-espacial do

sertão – a propriedade privada da terra – que transforma as relações humanas ao reificar a

natureza e o próprio homem. Evidentemente a quebra do vínculo entre homem e natureza,

promove impactos na paisagem, criando uma tendência a posturas predatórias, extrativistas.

Cabe aqui um parêntese sobre a teoria da fronteira na obra de Martins20 que nos

auxiliará a situar o presente projeto de pesquisa em termos teóricos; o autor considera que o

conceito de fronteira está inevitavelmente associado à expansão territorial do capital, mas ele

reconhece que há fases distintas no processo. A frente de expansão, associada a um movimento

demográfico, e a frente pioneira, associada a uma transformação econômica, apesar de

coexistirem, representam duas situações distintas. A primeira estaria relacionada à expansão da

sociedade nacional, através da migração de posseiros que ocupam territórios originariamente

tribais, mantendo nesses ambientes, contudo, relações sócio-espaciais não pautadas pelo

mercado em função da distância dos mercados e precariedade das vias e meios de

comunicação: o camponês produziria seus meios de subsistência, comercializando apenas os

excedentes21.

Nas frentes pioneiras, a economia de excedentes seria substituída por uma economia de

mercado, através de mecanismos como a privatização da terra. Assim, esse movimento

econômico induziria “à modernização, à formulação de novas concepções de vida, à mudança

social”22, exigindo o estabelecimento de infra-estrutura que facilite a circulação de capitais,

como redes viárias e redes de comunicação, além de instituir a contratualidade das relações

18 FREIRE, Carlos. A. R. O Serviço de Proteção aos Índios (SPI). Disponível em:

<http://bndigital.bn.br/redememoria/spi.html>. Acesso em 20 set. 2013. 19 MARTINS, José S.O tempo da fronteira: retorno à controvérsia sobre o tempo histórico da frente de expansão e da frente pioneira. Tempo social, São Paulo, v. 8, n.1, p. 25-70, 1996. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/edicoes/v081/o_tempo.pdf>. Acesso em: 17 set. 2014. [a] 20 MARTINS, José S. A degradação do Outro nos confins do humano. São Paulo: Contexto, 2009. [b] 21 MARTINS, José S. Op. Cit. [a] 22 MARTINS, José S. Op. Cit. p.29. [b]

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sociais. A frente pioneira, portanto, traz consigo mudanças extremas na paisagem, instalando

em sua esteira ferrovias, cidades e monoculturas. Por outro lado, aprofunda ainda mais o

estranhamento entre homem e natureza, inserindo novas escalas de apropriação da natureza que

intensificam as atividades predatórias humanas.

A propriedade privada de terra, que é elemento central na dinâmica da frente pioneira,

resulta no surgimento conceitual do ‘dono’ isto é, daquele que tem acesso legal à terra, e do

‘pobre’, ou seja, daquele que é possuidor apenas de sua força de trabalho, que nunca teve ou

que perdeu o acesso à terra23. Como alega Eduardo Viveiros de Castro24: no Brasil, houve “um

processo circular de transformação de índio em pobre. Tira a terra, tira a língua, tira a religião.

Aí o cara fica com o quê? Com a força de trabalho. Virou pobre”. Evidentemente não apenas

os índios foram transformados em pobre, mas todas as populações a quem foi negado ou

retirado o acesso à terra. Na Bolívia, a oligarquia fundiária promoveu o confisco de terras,

baseando-se na alegação do anacronismo dos sistemas comunais de propriedade: em 50 anos,

as comunidades indígenas perderam um sexto de suas terras, que em 1880 representavam

metade das terras bolivianas25.

Dois eixos principais orientaram o desenvolvimento da fronteira a partir dos anos 1870:

a exploração da borracha que subia o rio Amazonas e seus tributários, cruzando os limites

internacionais entre Brasil e Bolívia; e a pecuária que percorria o fluxo inverso, ascendendo em

direção às cabeceiras da bacia Platina. A economia da borracha mobilizou um grande fluxo de

capital internacional para a região amazônica, especialmente entre os anos 1870 e 1910. Ao

longo desse período, a borracha representou um significativo percentual no total de exportação

de Brasil e Bolívia, exigindo uma disponibilidade crescente de capitais. Os investimentos de

capital visavam dedicar integralmente a força de trabalho à extração da borracha, articulando

uma rede de comércios para o abastecimento das áreas caucheiras que tendia a verticalizar os

negócios26.

O momento no qual seringueiro é privado da faculdade de cultivar sua subsistência

coincide com aquele da privatização das terras através da violência. A existência de um ‘dono’

justifica a proibição do uso de terras para cultivo dos próprios meios de vida. Nesse contexto, 23 MARTINS, José S. Op. Cit.[b] 24 CASTRO, Eduardo. V. Op. Cit. 25 BETHELL, Leslie. Historia de América Latina. América del Sur, c. 1870-1930. Barcelona: Editorial Crítica, 1992. T. 10. [a] 26

GARCIA, Domingos C. C. Territórios e negócios na “Era dos Impérios”: os belgas na fronteira oeste do Brasil. Brasília: FUNAG, 2009.

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emerge a escravidão por dívida como principal forma de trabalho não apenas na Amazônia

caucheira, mas também nas áreas da fronteira internacional onde a pecuária se desenvolve.

Nos anos 1870, a exploração da borracha atraindo o primeiro investimento efetivo de

capital transnacional por meio dos projetos de construção da ferrovia Madeira-Mamoré.

Banqueiros europeus financiaram a primeira fase do empreendimento, condicionando o

fornecimento do dinheiro à contratação de uma empresa inglesa. Todavia, novos capitais

seriam necessários para dar prosseguimento às obras: os recursos da empreiteira londrina

haviam sido minados em apenas um ano, em função de doenças, batalhas e dificuldades

topográficas27.

Os capitais multinacionais acabaram triunfando e concluindo a ferrovia após algumas

décadas, mas os percalços na construção daquela que ficou conhecida como ferrovia do diabo

simbolizam, não apenas as dificuldades de expansão do capitalismo nas franjas territoriais do

sistema mundial, mas principalmente,os altos custos humanos que os Estados não hesitaram

em pagar para movimentar a economia caucheira. O sistema neo-escravista obrigou milhares

de índios e caboclos a enfrentar cruéis condições de trabalho, retratadas, entre outras obras, em

El sueño del celta28. Embora romanceada, a biografia de Roger Casement nos mostra as

péssimas circunstâncias a que eram submetidos os seringueiros da Amazônia.

O incremento da população nas zonas caucheiras, sustentado por numerosas migrações,

intensificou a demanda de gêneros alimentícios, ocasionando o aumento na produção

agropecuária, especialmente nas regiões meridionais dos limites internacionais, como Mato

Grosso e Santa Cruz. As fazendas de gado se multiplicaram no Brasil e na Bolívia e algumas,

de acordo com Rondon29 chegaram a ter 600 mil rezes; em sua conferência na Sociedade de

Geographia do Rio de Janeiro, o marechal, ao contar sobre a expedição em que acompanhou

Roosevelt ao extremo ocidente do Brasil, nos atenta a duas questões importantes: a forte

presença do capital estrangeiro, materializado particularmente na propriedade de extensas

fazendas como a do Descalvado que, depois de pertencer ao Syndicato Belga “Produits

Cibilis”, foi comprada pelo rico empresário americano Percival Farquhar; e o abandono

27 CARVALHO, Valéria. N. C. O Brasil e a Amazônia internacional no século XIX. 2006. Dissertação (Mestrado

em História) – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, Brasília, 2006. 28

LLOSA, Mario V. El sueño del celta. Doral: Alfaguara, 2010. 29

RONDON, Candido M. S. Conferências realizadas nos dias 5, 7 e 9 de outubro de 1915 pelo Sr Coronel Candido Mariano da Silva Rondon no Teatro Phenix do Rio de Janeiro sobre Trabalhos da Expedição Roosevelt e da Comissão Telegraphica. Rio de Janeiro: Typ. do “Jornal do Commercio”, 1916. 266 p.

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político-econômico em que se encontram as fazendas nacionais, sendo freqüentemente

roubadas por brasileiros e bolivianos.

A erva-mate, por sua vez, passou a ser produzida em larga escala, especialmente no sul

do Mato Grosso, onde a Cia Matte-Larangeira tornou-se um dos principais empreendimentos

comerciais da província30. A produção agropecuária concentrava-se no sul da fronteira

internacional, sendo escoada, em fins do século XIX, majoritariamente através das hidrovias do

rio Paraguai e afluentes, já que os planos ferroviários ainda não haviam se concretizado. No

norte, os mercados não-extrativistas eram bastante pontuais, tendo particularmente se

sobressaído a ganadaria bovina em Beni31.

Os padrões de exploração econômica refletiam, então, a grande influência ambiental na

determinação de atividades: as diferenças ecológicas que marcam as zonas da fronteira

internacional Brasil-Bolívia, caracterizadas ao sul por predominância de paisagens pantaneiras

e ao norte por predominância de paisagens amazônicas, contribuíram imensamente para o

surgimento de distintos ramos de atividades produtivas. Além disso, a questão dos transportes

era outro fator ambiental decisivo, já que a mobilidade, não apenas de mercadorias, mas de

pessoas era extremamente dependente de rotas fluviais.

Evidentemente outros fatores, como diretrizes políticas e disponibilidade de capitais,

também tiveram papel crucial na diversificação econômica, mas as limitações naturais

seguramente direcionaram os processos históricos da região. A conjuntura política e econômica

possibilitou o estabelecimento de grandes latifúndios agropecuários no Mato Grosso, por

exemplo, mas se não houvesse condições edáficas e topográficas favoráveis e rotas fluviais de

escoamento, possivelmente o alcance das técnicas do período não conseguiria suplantar as

barreiras ecológicas.

Em que pesem as muitas semelhanças sociais, econômicas, ecológicas, ideológicas, os

distintos contextos políticos de Brasil e Bolívia imprimiram severas diferenças na articulação

entre os dois países e a economia capitalista no período estudado. A Bolívia teve sua economia

severamente limitada pelos muitos conflitos internacionais que travou com países vizinhos,

disputando territórios com Peru, Brasil, Chile e Paraguai. Nas contendas com Chile e Brasil,

acabou perdendo territórios economicamente importantes: após a Guerra do Pacífico (1879-

30 XAVIER, Lídia O. Op. Cit. 31 ROCA, Jose. L. Op. Cit.

10

1883), teve de ceder a província de Antofagasta que lhe garantia o acesso ao mar; e devido à

Revolução Acreana, acabou abdicando do Acre32.

Pertencendo oficialmente à Bolívia, segundo o Tratado de Ayacucho, o Acre se

encontrava, no final do século XIX, habitado majoritariamente por seringalistas brasileiros que

não aceitaram as altas taxas aduaneiras que o governo boliviano quis impor sobre a borracha,

iniciando uma série de revoltas armadas33. Para manter o domínio sobre o território e garantir a

arrecadação de impostos, a Bolívia arrendou o Acre a um conglomerado multinacional,

despertando protestos, especialmente, dos governos do Amazonas e do Pará. O Brasil então

proibiu o tráfico boliviano no rio Amazonas e declarou litígio em determinadas áreas da

fronteira internacional. O território do Acre foi declarado estado-nacional independente e, após

inúmeros conflitos armados, foi incorporado à República do Brasil através de um acordo

diplomático34.

O Tratado de Petrópolis que rendeu o Acre ao Brasil, em 1903, tratava também desse

posicionamento: a ferrovia planejada por Brasil e Bolívia submeteria o escoamento das

exportações das regiões bolivianas de Beni, Madre de Dios e Orton à soberania brasileira sobre

o rio Amazonas35. Embora conciliados nesses aspectos, Brasil e Bolívia ainda tinham questões

de limites irresolutas na virada do século XX; para solucionar as pendências, o governo

boliviano solicitou ajuda à Royal Geographical Society, que enviou o Coronel Percy Harisson

Fawcett. Na viagem pelo rio Acre, o britânico notou que, enquanto na margem boliviana, a

exploração do látex era fatal às seringueiras, no Brasil, as árvores sobreviviam (LEAL, 2007).

Depois de percorrer muitos lugares inóspitos, Fawcett se surpreendeu com a

modernidade de alguns núcleos como Xapuri, que crescera na esteira da economia gomífera36.

O número de habitantes da Amazônia, entre 1877 e 1900, mais do que dobrou, no auge da

produção caucheira que atraia migrantes de várias partes da América, e, especialmente, do

nordeste brasileiro; a área era marcada pela fragmentação do território: em meio à vastidão do

sertão, escassas ilhas de ‘civilidade’ progressivamente se multiplicaram e estenderam, num

processo paralelo ao adensamento das redes de transporte e comunicação: “poco a poco La

32 BETHELL, Leslie. Historia de América Latina. América latina: economía y sociedad, c. 1870-1930. Barcelona: Editorial Crítica, 1991. T. 7. 33 BETHELL, Leslie. Op. Cit. [b] 34 XAVIER, Lídia. Op. Cit. 35

BANDEIRA, L. A. M. A Guerra do Chaco. Rev. Bras. Polít. Int., v.41 n.1, p.162-197, 1998. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v41n1/v41n1a08.pdf> Acesso em: 15 out. 2013. 36 LEAL, Hermes. O enigma do Coronel Fawcett: o verdadeiro Indiana Jones. 4. ed. Rio de Janeiro: Geração Editorial, 2007.

11

autoridad gubernamental fue haciéndose más estable y más omnipresente” (BETHELL, 1991,

p.4).

Acompanhando o padrão demográfico da Amazônia, a população do departamento

boliviano de Santa Cruz também aumentou drasticamente nos últimos anos do século XIX,

entretanto, em Beni, o número de residentes se reduziu significativamente na segunda metade

do século37. Algumas hipóteses para essa distorção seriam: a evasão massiva de indivíduos em

busca de oportunidades econômicas, erros metodológicos nas estatísticas ou o extermínio de

grande parte da população por forças militares que reprimiam as rebeliões indígenas que

culminaram nos movimentos messiânicos mencionados anteriormente.

Concomitantemente, a malha ferroviária do Brasil se expandia, conectando os centros

políticos e econômicos da nação brasileira, Rio de Janeiro e São Paulo, ao Mato Grosso. O eixo

da modernidade, sustentado por ciência e técnica, telégrafos e ferrovias avançava em brado

retumbante aos antigos sertões da nação, levando Rondon a alegar em sua conferência de 1915

o “bom êxito do emprehendimento iniciado em 1907, para abrir e entregar á civilização um

extenso território da nossa Patria, até então abandonado e selvatico”38. Embora tenha alcançado

concretos resultados, os projetos ‘civilizatórios’ iniciados no fim do Brasil Império e

perpetuados ao longo da Primeira República, não extinguiram a condição de fronteira,

especialmente na Amazônia, que ainda hoje presencia situações de conflitos entre grupos e

indivíduos que, vivendo em tempos históricos e culturais diferentes, possuem interesses,

linguagens, planos e cosmologias divergentes39.

Em relação à Bolívia, a integração nacional foi ainda mais precária, e hoje, um território

pouco conectado contrasta duas regiões distintas, o Altiplano indígena-andino e as terras baixas

modernizadas; diferentemente do Brasil, a incorporação de espaços econômicos ao mercado

mundial, na Bolívia, priorizou espaços periféricos política e administrativamente. Assim, se

por um lado, um mesmo movimento global de incorporação econômica dos mercados de

matérias-primas e terras ‘disponíveis’ orientava a modernização desses espaços, tanto na

Bolívia quanto no Brasil, por outro, as distintas conjunturas contribuíram para a diferenciação

dos dois lados da linha fronteiriça.

37 BETHELL, Leslie. Op. Cit. [a] 38 RONDON, Candido M. S. Op. Cit. 39

PÁDUA, José A. As bases teóricas da história ambiental. Estudos Avançados, São Paulo, v.24, n.68, p.81-101, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142010000100009&script=sci_arttext>. Acesso em: 15 set.2012.

12

Em 1928, foi assinado o Tratado de Natal – marco final do presente projeto – que

visava esclarecer pendências dos documentos de 1867 e 1903. Considerando a necessidade de

“complementar-se a definição da fronteira commum” e “de se caracterizarem melhor outros

trechos, já demarcados”, o acordo trata também de questões referentes à ligação ferroviária

entre os dois países previstas no Tratado de Petrópolis40. Vagos e inviáveis, os planos

ferroviários previstos no documento tiveram que ser complementados em acordos reversais

antes de serem efetuados décadas depois41.

O objeto de estudo proposto, portanto, nesse projeto de pesquisa é a transformação da

paisagem na área dos limites internacionais entre Brasil-Bolívia entre os anos de 1867 e 1928.

Ao longo desse período, as monoculturas se ampliaram, as reses se multiplicaram, as culturas

indígenas se reduziram; vastas áreas foram desmatadas para abertura de campos necessários à

ampliação da lavoura, dos pastos, das ferrovias e das linhas telegráficas; populações

abandonaram modos de vida semi-nômades; enfim, uma série de mudanças que refletem

iluminadamente a dialética homem-natureza.

Pretendemos orientar esse estudo através das idéias dos historiadores Donald Worster42,

e José Augusto Pádua43, que mostram que em todos os eventos históricos, os fatores biofísicos,

sociais e culturais estão interagindo. “No sentido mais profundo, o desafio analítico é o de

superar as divisões rígidas e dualistas entre natureza e sociedade,em favor de uma leitura

dinâmica e integrativa”44. As paisagens – simbolizando a natureza humanizada – seriam,

portanto, marcas e matrizes das ações humanas45 e sua análise ajudaria a romper a dicotomia

característica das tradições historiográficas.

As obras bibliográficas tratam majoritariamente do lado brasileiro da fronteira, sendo

escassos textos sobre o oriente boliviano, destacando-se, destarte, a análise sócio-econômica do

boliviano José Luis Roca46 sobre sua terra natal, na qual enfatiza a importância da mão de obra

indígena para o desenvolvimento econômico das regiões baixas da Bolívia. O autor, no

40 TRATADO DE NATAL. Op. Cit. 41 BANDEIRA, L. A. M. Op. Cit. 42 WORSTER, Donald. Para fazer História Ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.4,n.8, p.198-215, 1991. [a] 43 PÁDUA, José. Op. Cit. [a] 44 PÁDUA, José. Op. Cit. [a] p. 97. 45 BERQUE, Augustin. Paisagem–Marca, Paisagem–Matriz: Elementos da Problemática para uma Geografia Cultural. In: CORRÊA, Roberto Lobato e ROSENDAHL, Zeny (org). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1998, p. 84-91. 46 ROCA, José. Op. Cit.

13

entanto, marcado pelo imaginário positivista, glorifica o desenvolvimento econômico enquanto

ignora os custos sociais da modernidade, como a exploração do trabalho indígena.

Assim como Roca, o escritor Alcides Arguedas também revela, em seu emblemático

ensaio, Pueblo Enfermo47, as influências positivistas que marcaram seu pensamento. Ao clamar

pelo progresso europeu, Arguedas culpabiliza indígenas e mestiços pelo que considerava o

atraso material e moral do país, corroborando a retórica das elites, que imputava à condição

indígena os males nacionais – entre eles, a perda da Guerra do Pacífico. Ao determinismo

racial, o autor soma questões ambientais, propondo, como idéias para o desenvolvimento, a

ampliação da produção agrícola do país e migrações selecionadas.

A produção agrícola do oriente boliviano, contudo, deu seus maiores passos a partir do

último quartel do século XX.O artigo Total Historical Land-Use Change in Eastern Bolivia 48relata as transformações ambientais por que passou o oriente boliviano nesse momento.

Embora não trate profundamente do período selecionado pelo presente projeto, 1867 a 1928, o

texto revela importantes características ecológicas transtemporais da região. Mostrando as

relações entre migrações, agricultura e desmatamento, os autores iluminam as dinâmicas

originais dos ecossistemas bolivianos.

O filósofo Francisco Foot Hardman também escreveu acerca do tema em Trem

Fantasma49. No livro, que conta a história da Ferrovia Madeira-Mamoré, Hardman defende a

idéia de que mais do que solucionar problemas logísticos, a estrada de ferro era proposta como

signo de progresso e modernidade, sendo redundante em termos efetivos. Mais do que

transportar mercadorias, a função da estrada seria ostentar os paradigmas capitalistas.

O mundo, no período estudado, estava cada vez mais interconectado, principalmente

em função do capital, que forçava uma expansão constante da economia-mundo em busca de

novos mercados50. Certamente as relações de poder causavam assimetrias nas relações entre os

diferentes Estado nações, fazendo com que se desenvolvesse uma dicotomia entre países

desenvolvidos e subdesenvolvidos. A cultura hegemônica, portanto, era aquela proveniente dos

centros capitalistas, inicialmente localizados na Europa e, posteriormente, também nos Estados

47 ARGUERAS, Alcides. Pueblo enfermo (fragmentos). Cuadernos de cultura latinoamericana, México, n. 46, p.1-18, 1979. 48 KILLEN, Timothy J. e all. Total Historical Land-Use Change in Eastern Bolivia: Who, Where,When, and How Much? Ecology and Society [online], v.13, n.1. Disponível em: <http://www.ecologyandsociety.org/vol13/iss1/art36/>Acesso em: 15 set. 2013. 49 HARDMAN, Franscisco F. Trem Fantasma:a modernidade na selva. São Paulo, Cia. das Letras,1988. 50

HOBSBAWM, Eric J. A era do capital: 1848-1875. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

14

Unidos. O livro escrito por Percy Fawcett “Exploration Fawcett”51 é emblemático nessa

questão, pois ainda que revele um olhar cosmopolita, é predominantemente impregnado da

cultura européia, refletindo os pensamentos político-culturais dominantes do período. Por outro

lado, Rondon, embora marcado pelas idéias ‘universais’ de progresso e modernidade, expõe

em suas conferências uma visão particularmente nacionalista onde enaltece as origens

indígenas do povo brasileiro52.

2. Perspectivas teóricas

Na virada do século XX, a área limítrofe entre Brasil e Bolívia era caracterizada por

uma dupla condição de fronteira, representada tanto pelos limites políticos entre distintos

territórios nacionais – nesse caso, optamos por usar o termo fronteira internacional – quanto

pelos limites entre ‘civilização’ e ‘bárbarie’, entre modernidade e atraso. Enquanto os limites

políticos puderam ser estabelecidos – ao menos em mapas – ao longo dos anos posteriores a

1867, as fronteiras ‘civilizatórias’ permaneceram indefinidas enquanto o uso capitalista dos

territórios não foi consolidado53.

Assim, muitos pesquisadores diferem os conceitos de fronteira e limite: o primeiro seria

usado para representar espaços de confronto entre distintas lógicas culturais e econômicas,

tendo necessariamente que ser espaços vivenciados por grupos sociais distintos, enquanto o

limite estaria na esfera das abstrações políticas54. Nesse sentido, os limites entre Brasil e

Bolívia não seriam considerados fronteira enquanto não se consolidassem as distintas

identidades nacionais. Partindo dessa perspectiva, podemos perceber dois processos

concomitantes: o encurtamento da fronteira ‘civilizacional’, à medida que a modernidade e o

capitalismo avançam, e a emergência da fronteira nacional à medida que se constituem as

identidades boliviana e brasileira na região dos limites territoriais internacionais55.

A fronteira ‘civilizacional’, acompanhada fielmente do elogio ao progresso

material e à ciência positivista, estabelece a condição de não-lugar a tudo que não segue sua

51 FAWCETT, Percy. H. Exploration Fawcett: Journey to the Lost City of Z. New York: Penguin, 2010. 356 p. [a] 52 RONDON, Candido M. S. Op. Cit. 53 PÁDUA, José. Natureza e sociedade no Brasil Monárquico. In: GRINBERG, K. e SALLES, R. (org.) O Brasil Império. Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira: 2009.v. III, p. 313-365. 54 MACHADO, Lia. O. Limites e fronteiras da alta diplomacia aos circuitos da ilegalidade. Revista Território, Rio de Janeiro, v. 8, p. 9-29, 2000. 55

BRUSLÉ, Laetitia. The front and the line: the paradox of south american frontiers applied to the bolivian case. Geopolitics, v.12, n.1, p. 57-77, 2007.

15

lógica56. Por isso, a noção de fronteira está associada ao sertão, já que esse carrega em si a

idéia do selvagem, do desconhecido, simbolizando o ‘outro geográfico’; na visão dos

‘planejadores’ da nação, o sertão é visto como um fundo territorial, “como o objeto de um

movimento expansionista que busca incorporar aquele novo espaço, assim denominado, a

fluxos econômicos ou a uma órbita de poder que lhe escapa naquele momento”57. Nesse

sentido, a devastação da natureza é identificada ao progresso através do paradoxo que relaciona

a riqueza natural das Américas aos entraves postos ao avanço ‘civilizatório’58.

A natureza não capitalizada é considerada, assim, um espaço virgem que convida à

exploração. As populações desse espaço, por sua vez, são associadas à selvageria e à

animalidade e, ainda que, os discursos sobre os povos indígenas na Bolívia e no Brasil tenham

sido construídos em bases ligeiramente diferentes – no Brasil sendo construída uma imagem

romântica que derivou uma atitude convenientemente paternalista do governo – ambos se

apoiavam na etnocêntrica idéia do evolucionismo social que supunha os índios na aurora da

civilização. No século XIX, a‘disponibilidade’ do binômio terra-mão de obra no coração da

América do Sul atrai poderes nacionais e globais, privados e públicos, que visam integrar esses

sertões à economia-mundo59.

A Amazônia transnacional, o Pantanal mato-grossense,o Chaco boliviano, eram vistos,

nessa conjuntura, como fronteiras territoriais onde era possível expandir o capital. As relações

sociais nesses locais, ainda pautadas por valores locais, passaram então a ser confrontadas

incessantemente por forças extra-locais que tentam estruturar economicamente os lugares,

respaldados por ações do governo60.

Dizimando ou absorvendo as populações locais, muitas vezes indígenas, especialmente

através da ação dos Estados nacionais, o capital reorganiza o espaço transformando extensas

áreas continentais em monoculturas voltadas para o mercado capitalista61. Crosby62, em seu

56 FIGUEIRÔA, Silvia F. M. ‘Batedores da ciência’ em território paulista: expedições de exploração e a ocupação do ‘sertão’ de São Paulo na transição para o século XX. Hist. cienc. saúde-Manguinhos , v. 15, n.3, p. 763-777, jul. /set. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v15n3/10.pdf>. Acesso em: 10 set. 2013. 57 MORAES, Antonio. Op. Cit. [b]. p.3. 58 PÁDUA, José. Op cit. [c] 59 HOBSBAWN, Eric. Op. Cit. 60 BECKER, Bertha. K. Amazônia. São Paulo: Ática, 1990. 61 WORSTER, Donald. Transformações da terra: para uma perspectiva agroecológica na história. Ambiental. soc. [online], v.5, n.2, p. 23-44, 2003. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-753X2003000200003&script=sci_arttext> Acesso em: 17 set. 2013.

16

livro Imperialismo Ecológico, investiga os primórdios desse processo que se inicia como uma

expansão européia fundamentalmente ecológica, onde um ínfimo número de espécies

biológicas é selecionado para ocupar vastas áreas nos cinco continentes. A ascensão do

capitalismo, mesmo que rompendo com a centralidade européia não perde as origens e

continua priorizando o modelo monocultor. A conquista dos sertões representou, portanto, uma

severa transformação na dinâmica relação entre sociedade e natureza. Todavia, ao contrário do

que aludem certos setores historiográficos apegados à idéia da natureza virgem,a fronteira não

introduziu o elemento humano, mas sim novas práticas, técnicas e imaginários.

O historiador norte-americano Donald Worster, considerado um dos fundadores da

história ambiental sugere em seu artigo, Para fazer história ambiental63, que as análises

históricas dentro da linha ambiental enfoquem três distintos níveis: o nível ecológico, o nível

econômico e o nível cultural. Nessa pesquisa, pretendemos examinar esses três aspectos,

respondendo aos três conjuntos de questões propostos pelo pesquisador. É importante

considerar especialmente a questão cultural para evitar posicionamentos excessivos por parte

dos autores da pesquisa.

Considerando que as fontes não são repositórios neutros, mas filtros que nos permitem

ter apenas um vislumbre dos acontecimentos históricos, analisaremos os documentos em

paralelo aos seus contextos. As representações de paisagens, expressas nas fontes, resultam de

processos arbitrários, conscientes ou não, que selecionam, recortam, ordenam e fragmentam a

realidade, assim, ao descrever, fotografar, ou expor uma imagem, os autores projetam a si

mesmos naquilo que percebem64.

Ao interpretar as fontes, portanto, devemos responder, quando possível, às seguintes

indagações: quem são os autores e interlocutores, quais as finalidades da obra, quais os

períodos e locais de produção, e como foram elaboradas; essas respostas nos fornecerão pistas

para que tentemos chegar o mais próximo possível à realidade. Evidentemente, nossa narrativa

não tem a ilusória pretensão de alcançar a verdade absoluta, pretendendo apenasapresentar

possibilidades semânticas que contribuam para a reconstrução do passado no presente65.

62 CROSBY, A. W. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa, 900-1900.São Paulo, Companhia

das Letras, 2011. 63 WORSTER, Donald. Op. Cit. [a] 64 CORRÊA, Dora. Op. Cit. 65 CERTEAU, M. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. 384 p.

17

Como as fontes primárias, o autor contemporâneo também imprime sua experiência

conjuntural na pesquisa empreendida, aproximando, assim, o real e o discurso66. Dialogando

com Certeau, alegaríamos que o pesquisador, portanto, ao fazer uso de fontes primárias, não

estaria trabalhando com matéria prima, mas com uma matéria já secundária que será

novamente transformada, resultando em uma matéria terciária. As fontes orais seriam ainda

mais críticas, nesse sentido, já que envolveriam desde sua produção, as interpretações tanto das

fontes quanto dos pesquisadores.

Ainda assim, pretendemos utilizar fontes orais, em nossa pesquisa, para apreender os

significados das transformações para aqueles que as vivenciaram através dos relatos de seus

antepassados. Os indivíduos que viveram a idade adulta no período englobado no estudo estão

provavelmente todos mortos, no entanto, ao entrevistar filhos, netos e bisnetos dessas pessoas,

estaremos fazendo um importante exercício para perceber como as memórias do passado são

dinâmicas, estando sempre em processo de construção, desconstrução e reconstrução.

3. Fontes

Em relação às fontes textuais e iconográficas, realizamos um inventário de fontes

propícias à nossa exploração. A Comissão Rondon produziu mais de 200 publicações que além

de textos, estão também recheadas de fotos e mapas. Distribuídas por museus e bibliotecas do

Brasil, há também algumas obras em meio digital como a tradução para o inglês das

conferências de Rondon sobre as explorações pelo interior do Brasil.

A versão original publicada pelo Jornal do Comércio67 nos mostra um militar

influenciado pelos “ensinamentos de Comte” que enaltece a Patria e seu projeto ‘civilizatório’.

Apresentadas na Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro que, desde sua fundação contava

com a presença notória de militares entre seus quadros, as conferências são relatos de projetos

nacionais e globais coletivos, proferidas por alguém que esteve em campo. Em seu discurso

positivista, Rondon representa os ideais nacionais progressistas, organizando sua fala para

ratificar a dicotomia entre civilização/progresso e barbárie/sertão: “bom êxito do

emprehendimento iniciado em 1907, para abrir e entregar á civilização um extenso território da

nossa Patria, até então abandonado e selvatico”.

Sendo Rondon militar, o Arquivo Histórico do Exército dispõe de inúmeros

relatórios, fotografias, mapas e instrumentos. Por sua vez, o acervo da Universidade Federal do

66 CERTEAU, M. Op. Cit. 67 RONDON, Candido. Op. Cit. P. 10.

18

Rio de Janeiro dispõe de títulos não apenas da Comissão – “Relatório dos trabalhos realizados

de 1900-1906...” (1949), “Missão Rondon: apontamentos sobre os trabalhos realizados pela

Comissão” (1916) – mas do próprio Marechal – “Índios do Brasil” (1946) e “A etnografia e a

etnologia do Brasil em revista” (1946). O Museu do Índio também possui um vasto acervo de

documentos primários da Comissão, além de documentos relacionados aos primórdios do

Serviço de Proteção aos Índios, criado a partir do trabalho efetuado por Rondon e seus

companheiros militares.

A construção da ferrovia Madeira-Mamoré, por outro lado, também deixou inúmeros

documentos como mapas e fotos, estando alguns disponíveis na Biblioteca Nacional. O acervo

dessa biblioteca conta também com mapas sobre a área trabalhada, elaborados entre fins de

século XIX e início de XX, e até com um manuscrito sobre preços de navegação do rio

Madeira no século XIX (1866). Há também um exemplar de “Apontamentos sobre a

Revolução Acreana” do próprio Plácido de Castro, líder do movimento de independência do

Acre (2007). Fotos da construção da ferrovia também foram digitalizadas pelo Museu Paulista

que contém uma coleção de 189 negativos, alguns disponíveis na Internet.

As fontes fotográficas como a coleção de negativos de Dana Merril enquadram uma

parcela da realidade e, ainda que, portanto, fragmentem a totalidade, contêm traços de

objetividade. Para entender as paisagens estudadas, as fotos serão imprescindíveis, pois

revelam muitas características ecológicas, além de técnicas, populações e práticas, como

exemplificam particularmente e respectivamente as fotos 4, 12, 23, 98 no site

<http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias/efmm/exposicao-fotos-EFMM-7.shtml>. É importante

ressaltar, contudo, que as fotos não são completamente autorais já que refletem não uma visão

individual, mas empresarial.

O coronel britânico Percy Fawcett também deixou fontes textuais, estando muitas

contidas nos arquivos da Royal Geographic Society em Londres como cartas do explorador a

sua esposa e relatos de sua expedição ao rio Aquiry. Além disso, seu filho reuniu manuscritos e

cartas em uma publicação chamada Exploration Fawcett, disponível em livrarias.

Os tratados políticos como o Tratado de Ayacucho, marco inicial da presente pesquisa,e

o Tratado de Natal, marco final, de quais trechos selecionados estão disponíveis online estão

disponíveis no Arquivo Histórico do Itamaraty. Tais documentos foram escritos a partir de

19

reuniões de informações históricas, técnicas e políticas, discussões e conflitos de interesses,

tratando, no sentido que Machado68 explicitou, de limites.

No Arquivo Nacional da Bolívia, em Sucre, a Biblioteca Boliviana de Gabriel René

Moreno possui documentos, datados do século XVII até 1907, que tratam da relação entre

comunidades indígenas e o Estado boliviano, dos impactos político-econômicos da

mercantilização das terras indígenas e das explorações dos sertões bolivianos.

Referências

a. Documentos Publicados: RONDON, Candido M. S. Conferências realizadas nos dias 5, 7 e 9 de outubro de 1915 pelo Sr Coronel Candido Mariano da Silva Rondon no Teatro Phenix do Rio de Janeiro sobre Trabalhos da Expedição Roosevelt e da Comissão Telegraphica. Rio de Janeiro: Typ. do “Jornal do Commercio”, 1916. 266 p. FAWCETT, Percy. H. Exploration Fawcett: Journey to the Lost City of Z. New York: Penguin, 2010. 356 p. b. Documentos Digitalizados: TRATADO DE NATAL: Brasil/Bolívia, 1928. Disponível em:<http://info.lncc.br/btt1928.html>. Acesso em: 15 out. 2013.

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68 MACHADO, Lia. Op. Cit.

20

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