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    coleo

    cincias

    do

    comportame

    nto

    GROKPS

    a definio

    da psicologia

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    A DEFINIO DA PSICOLOGIA

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    FRED S. KELLER

    A DEFINIO DA PSICOLOGIA

    Uma introduo aos sistemas psicolgicos

    Traduo brasileira de

    RODOLPHO AZZI

    EDITRA HERDERSO PAULO

    1 9 7 0

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    Verso brasileira do original ingls: The Dejinilion oj Psycfiologry,publicado peia D. Apple toa- Cen tu r y Company, Inc., New York.1965.

    Editra Herder So Paalo 1970Impresso na Repblica Federativa do BrasilPrinted in lhe Federative Republic oj Brazil

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    N D I C E

    PREFCIO .............................................................. 1

    Cap. I A histria do problema......................... 3Cap. 11 A fundao da psicologia moderna . . . 25Cap. III Titchener e o estruturalismo............... 33Cap. IV Os Estados Unidos e o funcionalismo 55Cap. V Watson e o behaviorismo

    .....................

    73

    Cap. VI A Alemanha e a gestalt . . ................... 105Cap. VII O problema da definio................... 132REFERNCIAS ...................................................... 143

    NDICE DE ASSUNTOS E DE AUTORES . . . . 145

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    PREFCIO

    ste livro o resultado parcial de minhas tentati-vas, durante os ltimos seis anos, de prover um curso in-trodutrio que servisse ao mesmo tempo de orientao

    para os que esperam prosseguir neste campo e de ex-posio para os que desejam dedicarse a outros. Omaterial apresentado aqui foi escolhido com o objetivo

    de conduzir o principiante ao longo de parte da estradapercorrida pelos precursores e fundadores em direoaos problemas modernos de definio e sistematizaoda cincia. Na minha experincia pessoal de ensino,este material tem constitudo a primeira parte de umcurso que regularmente acompanhado de um tratamen-

    to sumrio dos quatro campos principais animal, de-senvolvimento, diferencial e patolgico para os quaisum texto se acha agora em preparao. Esta maneirade iniciao se prende a minha convico de que ostextos comuns para principiantes deixam de forneceruma concepo adequada de aspectos de constituiodesta provncia do saber e da amplitude e variedade dainvestigao dentro dela.

    Ser difcil poder retribuir ao Dr. B. F. Skinner daUniversidade de Minnesota, ao Professor Clarence W.

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    Young da Universidade de Colgate e minha espsaFrances, o encorajamento e auxlio que me deram quan-do da composio destes captulos. Sem as crticas amis-tosas que fizeram e sem os comentrios editoriais do

    Professor Elliott, muito mais defeitos seriam encontra-dos no presente retrato do que os agora expostos.s seguintes editoras: Harcourt, Brace and Company,Henry Holt and Company, J. B. Lippincott Company,Liveright Publishing Corporation, Longmans, Green andCompany, The Macmillan Company, W. W. Norton andCompany e Charles Scribners Sons meus agradecimentos

    por terem permitido citaes de passagens de livros quepublioem.

    Hamilton, Nova York, 1937 Fred S. Keller

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    CAPITULO I

    A histria do problema

    Muito antes que a psicologia viesse a ser tratadacomo uma cincia experimental havia homens interes-sados nestes assuntos que hoje seriam chamados psico-lgicos. A influncia dstes homens sbre as geraesposteriores foi bem grande e no demais que se devaabordar a questo de definir a psicologia moderna pelameno de suas opinies e descobertas. Na verdade, s assim fazendo que se pode apreciar as dificuldades emdefinir a psicologia e avaliar o tremendo avano dos

    ltimos anos.Embora nossa preparao histrica tenha de ser li-mitada a mera meia dzia de nomes, na realidade houvecentenas talvez milhares que poderiam ser consi-derados precursores da psicologia atual. Nenhuma cin-cia progride aos trancos e barrancos, como uma excur-so inicial pela sua histria parece indicar. O pro-gresso lento, fato que deve ser encorajador para o es-tudioso que aspire adicionar o seu quinho s realiza-es do passado.

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    Ao tratar aqui de algumas crenas de antigas figu-ras representativas, no pretendo sugerir que as subscre-vo, nem as cito como autoridades. Algumas seriam hoje

    consideradas fantsticas e mesmo tlas e a maio-ria s tem importncia histrica. Hm regra, que tives-sem sido sustentadas serviu apenas para que ste ouaqule problema fsse trazido para o foco da ateno,e no para resolvlo a contento de todos.

    Quo longe no passado deveremos recuar para en-contrar os fios histricos? No questo fcil de res-

    ponder. Poderamos comear com as opinies psicol-gicas do homem primitivo, especialmente com a cren-a das almassombras; mas o embasamento factualno seria muito seguro a esta distncia. Ou se poderiacomear em uma poca mais consciente com Aris-tteles (382322 a. C.), o verdadeiro pai de toda a psi-

    cologia; ou com Claudius Galeno (c. 130199 d. C.), m-dico grego cuja classificao dos temperamentos e loca-lizao da razo no crebro antecipam muita pesquisa edoutrina moderna ou com Toms de Aquino (12241275),santo que foi a voz da igreja medieval em muita ques-to de psicologia. Nenhum dles, entretanto, est to

    direta e imediatamente alinhado com as preocupaesatuais quanto o filsofo e matemtico francs Ren Des-cartes (15961650) figura to sedutora intelectual e

    pessoalmente, como se possa encontrar virando as p-ginas de um livro de histria.

    Nascido na pequena nobreza, estudante de um co-lgio jesuta, soldado por certo tempo (segundo alguns,culpado mesmo de excessos da juventude) e, final

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    mente, erudito de alta categoria e opinies radicais a histria da vida dste homem poderia facilmente desviarnos de nossa principal rota de interesses. Devemos,

    por isso, contentarnos aqui com uma breve exposio

    das razes que sobejamente o autorizam a ser denomi-nado o pai da psicologia moderna.

    Ren Descartes foi o primeiro grande dualistadentre os filsofos do mundo. Foi o primeiro a fazeruma ntida distino entre corpo e mente distin-o que, desde ento, tem dado no pouco trabalho aos

    psiclogos, at mesmo hoje. Alm disso, foi dos dua-listas que se costuma chamar interacionistas isto, acreditava que a mente podia afetar o corpo e o corpo,a mente.

    As opinies de Descartes eram quase idnticas sdo bom senso da maioria das pessoas que possivel-

    mente lero este relato prova bastante convincentede sua influncia sbre o pensar das geraes que o se-guiram. A mente, para Descartes, era o que pensa;a principal sede de sua atividade estava na cabea; eno poderia ocupar nenhum espao fsico. O corpo,de outro lado, era uma substncia extensa claramente

    objetiva, mecnica na sua ao e obediente a tdas asleis da natureza inanimada. Os animais eram, na ver-dade, no tendo mente nem alma (stes dois trmos eramsinnimos para Descartes), considerados nada mais doque mquinas.

    A hiptese adiantada por Descartes para explicar ainterao mente e corpo era, se inacurada, pelo menosengenhosa e algo de acordo com o que se sabe hoje das

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    funes do sistema nervoso. Como ilustrao podemosexaminar um aspecto de suas especulaes o queconcerne maneira pela qual a mente influencia o corpo.

    Os nervos sensoriais do corpo eram comparados

    por Descartes s cordas de sino que transmitiam a in-fluncia do mundo externo caverna central ou ventr-culo do crebro; e os nervos motores eram tidos como

    pequenos tubos pelos quais os espritos animais ouvapores do sangue surgidos do corao passavam da ca-verna do crebro para os msculos e a causavam os mo-vimentos do corpol . Assim a excitao de certo r-go dos sentidos produzir um puxo na corda de sino,que, na sua terminao central capaz de abrir mins-culas vlvulas nas extremidades dos nervos motores pr-ximos, permitindo o subseqente fluxo dos espritos atos msculos apropriados e provocando, finalmente, asaes. uma viso extremamente mecnica do sistema

    nervoso, e, ao mesmo tempo, uma antecipao de outrasque, sendo muito mais modernas, so muito menos vi-sveis.

    Mas, e a influncia da mente? A resposta de Des-cartes direta, seno plausvel. O argumento o deque sendo a alma (ou mente) unitria, deve influenciar

    o corpo que tem* duas metades simtricas, atravs deuma estrutura nica compartilhada pelas duas metades.

    1) Sensoriais e motores, como o leitor deve saber,so trmos aplicados respectivamente aos nervos que conduzemimpulsos dos rgos dos sentidos para o crebro ou para amedula e do crebro ou da medula para os rgos motores, porexemplo, os msculos.

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    mente seja, como dissemos, um papel branco, vazio dequalquer marca, sem nenhuma idia; como vir a sermobiliado?.. . A isto respondo em uma s palavra, pe-la experincia. Esta concepo no era na verdade,

    historicamente nova. Mesmo Aristteles j tinha faladoda mente como uma tabuinha inicialmente cm branco(tabula rasa). Mas o desenvolvimento desta concepo do prprio Locke; e veio em um momento muitoapropriado. Decartes e outros defenderam as idias ina-tas idias particularmente claras e pertencentes in-

    teligncia sem o influxo do mundo exterior.Ao assumir esta posio e elaborla, defendendoaa cada pgina de uma anlise cuidadosa e firmandoseem sua prpria experincia, John Locke inaugurou omovimento conhecido na filosofia como o EmpirismoIngls, que teve tamanha repercusso que mal reconhe-

    cemos sua presena no nosso pensar de hoje em dia.Sem le, entretanto, o nascimento da moderna psicologiaexperimental, da qual to orgulhosos estamos, poderiater sido retardado por muitos anos.

    Uma idia, para Locke, era qualquer coisa naqual ao pensar a mente se possa aplicar . Brancura, du-

    reza, doura, movimento, embriagus, elefante, exrcitoe pensamento tudo isso foi por le citado, como idiastpicas, e tudo pode ser tido como oriundo de uma deduas fontes: diretamente, dos sentidos, ou indiretamente,da reflexo da mente sbre o conhecimento vindo dossentidos idias, idias de idias!

    Alm disso, Locke tinha que as idias podem ser

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    simples ou complexas, as ltimas sendo na realidade com-postas das primeiras e a elas redutveis, atravs da an-lise cuidadosa. Assim, se idia de substncia fr

    unida a idia simples de uma certa cr esbranquiadaopaca, com certos graus de pso, ductibilidade e fusibilidade, teremos a idia de chumbo, uma idia com-plexa. Dste modo Locke lanou um pomo de discrdialonge no futuro, pois, como se ver, a possibilidade deanalisar a mente humana em elementos, bem como a da

    natureza provvel dstes elementos, tem sido questo ar-dentemente debatida em anos bastante recentes. Os su-cessores imediatos de Locke levaram estas noes de an-lise e composio a extremos lamentveis, e a reaoveio vigorosa.

    Uma vez que Locke tem sido com freqncia ro-

    tulado o primeiro associacionista podese bem incluiraqui meno do fato que o trmo mais geralmente usa-do para descrever a combinao e composio de idias associao. O prprio Locke empregou a frase as-sociao de idias como ttulo de um captulo do en-saio, mas deixou a seus seguidores o darlhe a nfase quea embebeu to firmemente em nosso vocabulrio coti-diano.

    Outra das distines feitas por Locke pode servircomo uma boa introduo aos ensinamentos do prximofilsofo que devemos examinar em nossa lista: a dis-

    tino entre o que chamava qualidades primrias esecundrias dos objetos, e que podemos tratar comodiferena entre idias. Concisamente enunciada assim:

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    algumas idias simples dos sentidos assemelhamse aosobjetos do mundo exterior que as causam; outras idiassimples dos sentidos, embora causadas por objetos ex-

    teriores, no se lhes assemelham. Por exemplo, idiasde solidez, figura e movimento so como os objetos ex-ternos; mas idias de cres, sons, ou sabores so des-semelhantes a qualquer coisa que possa haver nos ob-

    jetos que as provocam.No h necessidade de ocuparmonos com as razes

    desta diviso das idias simples dos sentidos em dois gru-pos, mas deve ser indicado que est aqui o reconhe-cimento por Locke de que nossas percepes do mun-do, pelo menos em alguns casos, podem no ser refle-xos especulares do prprio mundo concepo simi-lar a de um famoso fisilogo de data mais recente, que

    argiia que no temos conhecimento direto dos objetosdos sentidos, mas apenas dos nervos que esto entre osobjetos e nossas mentes!

    Se John Locke, o ingls, acreditava que podamos,direta ou indiretamente, conhecer o mundo exterior, estaopinio no era certamente compartilhada pelo irlands,

    igualmente brilhante, cujas concepes examinaremos emseguida. George Berkeley (16851753), nascido em Du-blin, formado no colgio da Trindade (Oxford), bispopor nomeao e filsofo por inclinao no acreditavana existncia da substncia material!

    A crena na mente como nica realidade verdadeira,

    embora ainda hoje refletida em algumas filosofias e dou-trinas de certas seitas, no c obviamente uma caracte

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    rstica do bom senso moderno. As pessoas mdiastendem a concordar com Byron que quando o bispoBerkeley dizia no h matria e o provava era

    imaterial o que dizia (*).No obstante, esta concepo, filosoficamente, no

    to inusitada e fcil de contradizer como indicaria oseu aparente absurdo. Alm disso, de uma forma ou deoutra, tem sido tomada sriamente por alguns psiclogosque procuram uma definio de sua cincia e buscam de-

    terminai seu lugar entre as outras cincias.Como as qualidades secundrias de John Locke (co-

    res, sons, sabores, etc.) revelavam suas duvidas sbre aexistncia de certas coisas no mundo exterior pelomenos como eram representadas na mente podesedizer que o Bispo Berkeley chegou sua posio seguin-

    do Locke mais alm do que le tinha ido, Berkeley negaque a mente represente de alguma maneira os objetos.Um pouco de reflexo convencer o leitor desta possi-bilidade perturbadora. Pense, por um momento, quea pgina que est sendo lida agorapode no estar fisica-mente l fora, mas apenas na mente! O que h,

    com absoluta certeza, seno umas tantas sensaes dequalidades visuais, auditivas ou tcteis certos modosde experincia, por assim dizer distinguidas umas dasoutras e nomeadas apenas por suas diferenas mentais?

    Outra contribuio de Berkeley, mais concreta ecompreensvel, obrigatoriamente mencionada pelos his-

    *) When Bishop Berkeley said there was no matter,And proved it, twas no matter what he said.

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    toriadores. Tratase da questo de como sabemos a dis-tncia a que esto de ns os objetos que pertencem aomundo da viso. Mais especificamente, como sabemos

    a que distncia est de ns este livro, o quadro na parede,ou as rvores que se vem pela janela?A despeito do fato de que o leitor possa nunca ter

    achado que haja problema na avaliao das distnciasou da solidez dos objetos os assim chamados aspectostridimensionais de nossa experincia visual isso temsido h muito um problema psicolgico bastante incmo-do. Leonardo da Vinci, o artistacientista reconheceuo*bem como Descartes; mas foi Berkeley quem o analisoumais completamente e, por muitos anos, conclusiva-mente.

    Berkeley sustentava que nunca percebemos a visoem profundidade ou a terceira dimenso diretamente,

    mas sempre atravs de indcios ou critrios cujo sig-nificado para tais avaliaes aprendemos a interpretar;

    pois como, poderia ter dito, como pode um objetoimagem, impressionado sbre a superfcie sensitiva do lho,dizernos de quo longe vem ou a distncia que per-correu antes de alcanar aquela superfcie? como um

    envelope postal em que o carimbo estivesse ausente ouborrado.

    Em sua Nova Teoria da Viso (1709) Berkeleydescreve a natureza provvel destes importantes indciosou carimbos. Em primeiro lugar h a questo do ta-manho relativo. A meio quilmetro de distncia vemos

    a figura de um amigo. A imagem que se impressiona em

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    nossos olhos, podese concordar, bastante pequena. Jul-garamos por isso que nosso amigo tenha encolhido? Demodo nenhum! No vemos nada estranho em seu tama-nho; apenas vemolo distncia. E o que vale para oamigo vale para todos os outros objetos quanto maio-res mais prximos, quanto menores mais longnquos de modo que dizemos, com Berkeley, que o tamanho re-lativo dos objetos um critrio de seu afastamento.

    Alm disso h outros fatres. Por exemplo, esti-

    mase que o objeto est mais perto se estiver parcial-mente escondido por outro c o fator interposio;cres desmaiadas e pouco saturadas (p. ex. o azulado dasmontanhas longnquas) esto freqentemente associadascom distncia o fator perspectiva area. Tama-nho relativo, interposio e perspectiva area todos

    foram indcios mencionados por Berkeley (em trmosmenos modernos) como auxlios de nossa avaliao dadistncia, e todos h sculos tm sido propriedade tc-nica de todos os pintores.

    O critrio seguinte no , entretanto, to bvio. Ber-keley chamavao apreciao da distncia entre as pu-

    pilas dos olhos e ns, de convergncia binocular.Quando fixamos ou focalizamos um objeto prximo,os dois olhos convergem (em casos extremos vesgueiam),e uma avaliao desta convergncia em trmos dc sen-sao dos msculos dos olhos, nos diz da distncia doobjeto fixado assim, quanto maior a convergncia,

    mais prximo est o objeto e viceversa.O critrio final o que chamamos agora acomoda-

    o e se explica pela mudana na forma das lentes dos

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    olhos em resposta contrao dos pequenos msculospresos a elas. Objetos muito prximos do lho reque-rem grande contrao dstes msculos; os que esto me-tro ou metro e meio alm, requerem muito pouco. Em-

    bora pouco familiarizado com stes detalhes, Berkeleychegou a reconhecer a influncia destas sensaes e tratouas como outra fonte de informao relativa distn-cia dos objetos olhados.

    Esta contribuio altamente especializada est tal-vez mais prxima dos estudos contemporneos de psi-

    cologia do que qualquer outra que eu tenha citado antes.Tivesse Berkeley tentado de uma forma qualquer verifi-car sua teoria pelo recurso a tcnicas experimentais maisobjetivas e controladas, pela medida das condies emque os critrios que props funcionam em um grupode pessoas, e poderamos considerlo hoje o pai da

    psicologia experimental. Mas se o tivesse feito, isso te-ria sido uma exceo ao vagaroso desenrolar do cursoda histria, e no se pode pedir tanto de um homem especialmente quando seus intersses eram mais filos-ficos do que cientficos. O surpreendente que GeorgeBerkeley, um idealista subjetivo entre os filsofos, te-nha chegado to perto quanto o fz da soluo de um

    problema cientfico que ainda nos ocupa.Assim como a incluso do nome de um conviva

    muitas vzes requer a incluso de outros, da mesma for-ma a tentao grande de acrescentar muitos nomes emnossa lista dos homens que foram de algum modo res-ponsveis pela natureza de nossas definies de psico-

    logia.

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    Talvez, pois, eu seja perdoado se devotar uma ouduas sentenas a cada um de uns poucos mais, principal-mente filsofos, que ajudaram a montar o palco psico-lgico. David Hume (17111776), filsofo escocs, his-toriador e estadista fz com Berkeley o que ste tinhafeito com Locke. Para citar uma recente resenha dascontribuies de Hume psicologia:

    Locke tinha eliminado da experincia tudo menosas impresses dos sentidos e suas combinaes. Aindaaceitava a existncia de objetos que fssem semelhantess nossas idias. Berkeley foi um passo alm, negandoa prpria existncia dos objetos. Justificava as idias

    pelo fato que Deus era quem as dava e garantia. . .Hume deu o bvio passo seguinte questionando a exis-tncia de Deus e da alma. No ficava nada de real ex-

    ceto as sensaes e idias 2.Alm disso, Hume fz uma ntida distino, ainda

    predominante, entre sensaes (Hume dizia impresses)e idias (dizemos imagens); e tratava o que encara-mos como causa e efeito no nosso mundo dirio comomera seqncia de eventos mentais ocorrendo com re-

    gularidade tal e tal ordem que nos d a iluso de queh uma conexo necessria entre duas coisas quaisquerno mundo objetivo. A significao destas idias tornarse aparente quando chegarmos ao exame de opinies

    bastante recentes sbre o verdadeiro assunto da psico-logia.

    2) W. B. PILLSBURY, The History of Psychology, pp. 92-93.

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    A David Hartley (17051757), mdico ingls e eru-dito da gerao de Hume, atribuise o desenvolvimentode dois conceitos, ambos tratados num livro trazendo ocomezinho ttulo de Observaes sbre o Homem, Seu

    Enquadramento, Seus Deveres e Suas Expectativas . Oprimeiro foi o de associao (j considerado por Locke,Berkeley e Hume) e que Hartley ampliou para incluir nos idias mas tambm sensaes e aes, e que usavapara explicar a natureza da memria, imaginao, emo-o e outros estados mentais complexos mesmo aqules atinentes moral. O segundo conceito o que hojechamamos paralelismo psicofsico, segundo o qual sen-saes, idias e outros eventos mentais correm paralelos,mas no afetados pelos eventos de natureza corporal especificamente, modificaes fsicas no crebro e nosnervos. (Expresso anterior desta opinio comparava amente e o corpo a dois relgios, colocados um de cos*

    tas para o outro, andando exatamente ao mesmo tempoum com o outro, mas sem nenhuma influncia recproca).Hartley, como Descartes era um dualista, mas paralelistaem vez de interacionista. Das duas concepes, ao con-trrio do que se poderia esperar, a de Hartley foi amais aceita pela maioria dos psiclogos mais modernos.

    James Mill (17731836), filho de um remendo es-cocs, foi o descendente intelectual de Hartley. Fz daassociao de idias uso extremo na explicao da vi-da mental. Comeando da maneira usual com sensa-es e suas cpias, as idias, indicou em grande porme-nor como as ltimas poderiam estar logicamente ligadase compostas. De acrdo com suas concepes, sumaria-

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    Mill estava menos interessado no que deveria ser umcomplexo de idias do que no quepoderia ser encon-trado. Onde diferiu de seu pai, mais se aproximou das

    doutrinas modernas.J agora, talvez, uma certa tendncia no desenvol-vimento dste esbo, seja aparente ao leitor. Vimoscomo a mente tornouse separada do corpo; ouvimos oargumento de que as idias tdas vm da experincia;fizemos a distino entre sensaes e idias; e notamos aelaborao do conceito de associao para explicar a

    formao de idias complexas e cadeias de idias. Almdisso, demos uma olhada em uma teoria psicolgica dacausalidade (Hume); foram dadas duas ou trs res-

    postas diferentes questo mentecorpo interacionismo (Descartes), idealismo (Berkeley) e paralelismo(Hartley); e vimos uma ou duas aproximaes espec-

    ficas pesquisa e teorizao contemporneas.No entanto no seria justo deixar a Inglaterra sem

    alguma referncia a outro conceito terico que estavadestinado a figurar proeminentemente na origem da psi-cologia norteamericana. a famosa teoria da evoluo.Dois nomes merecem meno especial em conexo com

    a evoluo: Charles Darwin (18091882) e Herbert Spencer (18201903).Descartes, podese dizer, tirou a alma dos animais;

    Charles Darwin devolveua com juros. Na opinio deDescartes s o homem possua alma. Para Darwin, a al-ma humana difere da animal s em grau, no em esp-cie, e esta forma mais elevada era um desenvolvimento

    evolucionrio direto da inferior. ste um aspecto algo

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    negligenciado dos ensinamentos de Darwin, mas muitoimportante para o psiclogo. Qualquer que seja ostatus atual da mente em psicologia, devemos consi-

    derar o seu desenvolvimento bem como sua natureza; efoi Darwin quem, mais do que ningum nos fz reconhe-cer esta obrigao. Veremos isto particularmente no de-senvolvimento do movimento popular na psicologia nor-teamericana conhecido como funcionalismo; mas ainfluncia no ficou confinada a uma dada escola. Mes-

    mo o folhear mais casual de qualquer texto psicolgicotrar luz algum vestgio desta doutrina darwiniana.

    Nos escritos de Herbert Spencer, filsofo e cientistaingls, o princpio evolucionista assumiu uma perspectivadiferente. Spencer foi um associacionista em psicologiaque empreendeu reconciliar a noo de algo inato com

    a noo de tudo da experincia e nos deu assim aconcepo do associacionismo evolucionrio. O cer-ne desta concepo que a mente humana o que atravs da experincia racial tanto quanto da individual.Associaes muito repetidas atravs de muitas geraes

    geram conexes psquicas automticas que tm tdasas marcas de idias inatas mas que podem ser na verda-de retraadas at experincia ancestral. Esta doutrinada herana das associaes adquiridas no tomadamuito a srio, mas encontra eco na questo moderna doque aprendido e do que no aprendido, ou dado, na

    conduta humana.No se deve concluir muito rapidamente que o pro-blema de definir a psicologia atual tenha se originado

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    nicamente na especulao de gabinete dos filsofos, es-tadistas e eruditos inglses. No continente europeu, par-ticularmente na Alemanha, havia outra fonte maior de

    influncias, de natureza mais cientfica, que contribuiucom o seu quinho para o crescimento de que nos ocupa-mos neste captulo.

    Esta corrente, que ganhou grande volume e movi-mento na primeira metade do sculo XIX, era de na-tureza fisiolgica. Compreendia o estudo dos sentidos

    viso, audio, tato, olfato e paladar, bem como do

    recmdescoberto sentido muscular (cinesttico); estudosda atividade dos nervos de homens e animais; e mesmoestudos das funes de diferentes partes do crebro. Incidentalmente, stes estudos de como o crebro trabalhativeram seus comeos na assertiva ousada da agora desa-creditada frenoogia, segundo a qual certas faculdades

    mentais, comparveis aos modernos traos de perso-nalidade, relacionavamse diretamente ao desenvolvimen-to de certas reas do crebro (e assim as vrias protube-rncias ou calombos do crnio).

    Sob certo aspecto ste trabalho era uma elaboraode idias de teorizadores como Descartes e Hartley, masfoi muito alm dos grosseiros esboos imaginrios daestrutura e do funcionamento do organismo humano eoferecia uma base mais slida para as especulaes dofuturo. Era trabalho de carter analtico e experimen-tal e indicava a importncia de uma variedade de agen-tes (estmulos) na excitao de rgos sensoriais e de ner-vos; a alta velocidade de transmisso do impulso nervo-

    so; a localizao especfica de certas atividades simples

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    tais como as acarretadas no uso dos sentidos e mo-vimentos dos msculos em certas pores do crebro.

    Um grande nmero de afamados cientistas, ingleses,franceses bem como alemes, contriburam para ste amplomovimento. Se nos confinamos aqui ao exame de um ni-co representante, apenas porque os limites de espao etempo probem a discusso das contribuies de muitos eporque o homem escolhido representa suficientemente a

    combinao de crena filosfica e disciplina cientficaque foi to caracterstica da psicologia da poca.Gustav Theodor Fechner (18011887) mais conhe-

    cido como o pai da psicologia quantitativa, e entre-tanto, jamais pretendeu ser psiclogo! Nascido era uma

    pequena aldeia da Alemanha sudeste, filho de um pas-

    tor luterano, educado em ambiente estudioso e formadoem medicina, foi subseqentemente matemtico e fsicode distino (com certo gsto pela composio de poe-mas satricos). Esta a histria da primeira metade davida de Fechner. No foi, com efeito, seno em 1850,depois de um srio e prolongado esgotamento nervoso

    que se tornou ativamente interessado na questo filo-sfica das relaes da mente com o corpo questoque o conduziu em virtude de sua formao de cincianatural psicologia experimental.

    Vimos o reconhecimento dste problema corpomente no trabalho de Descartes, Locke, Berkeley, Hume e

    Hartley, mas foi Fechner quem viu a possibilidade deataclo pelo mtodo experimental. Se com isso o re-solveu duvidoso, mas em dez anos de paciente investi

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    gaao fundou a cincia da psicofsica o estudoquantitativo das relaes entre a vida mental (Fechncr

    tratava com sensaes) e certos aspectos do mundo f-sico (estmulos).

    No essencial examinarmos aqui em pormenora psicofsica de Fechner. Deixou claro, uma vez portdas, que tcnicas experimentais e procedimentos ma-temticos podiam ser aplicados a problemas psicolgi-

    cos. Os mtodos de mensurao que desenvolveu soainda hoje levados a uso, em forma ligeiramente mo-dificada, sempre que se quer encontrar algo definido so-

    bre a sensitividade do organismo humano, ou mesmoanimal, s inmeras e perturbadoras mudanas no mundoexterior. Quo brilhante deve ser uma estrela para servista; quo alto um som para ser ouvido; quo pesado

    o toque para ser sentido? Para responder estas questese milhares de outras voltamonos para os mtodos psicofsicos de Fechner.

    O que tem isso a ver com o problema de de-finir a psicologia? A resposta simples. O trabalho deFechner (e outros) mostrou irrefutvelmente que quais-

    quer que sejam as opinies filosficas a respeito do pro-blema corpomente h ainda a possibilidade de cons-truir uma psicologia experimental. Algo especfico acrca da atividade humana (Fechner chamavao algo men-tal) podia ser medido e relacionado; de maneira exata aoutra coisa (que Fechner chamava algofsico). O enor-me volume de material relevante reunido no foi o re-sultado de um acidente, nem foi fruto da especulaofilosfica. Poucos psiclogos hoje tm conhecimento das

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    opinies de Fechner sbre a relao mentecorpo, masnenhum pode ignorar suas descobertas experimentais.

    E assim tem sido a histria desde ento. Quaisquerque sejam as concluses sbre o verdadeiro objeto dapsicologia, h sempre o formidvel e crescente corpo defatos cientficos que justificam a tentativa de um trata-mento sistemtico. As fronteiras das cincias nunca sonitidamente definidas, e um nvo campo de pesquisasno deve ser desprezado na base da falta temporria deuma definio universalmente satisfatria. Se esta de-clarao parecer obscura ao leitor, que tenha pacincia;logo a neblina erguerse ao tratarmos diretamente daconstruo de sistemas.

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    CAPTULO II

    A fundao da psicologia moderna

    Uma distino deve ser feita entre pais e funda-dores das cincias. Comparemos, um instante, umacincia com um jardim. Os pais prepararo o solo elanaro as sementes; os fundadores mantero o ter-reno livre de ervas daninhas, aguaro as plantas, trans-

    plantlaso e cuidaro das crcas tomaro conta do

    jardim no seu primeiro desenvolvimento. As sementespodero ter sido lanadas por inmeras mos, e por mui-tas delas descuradamente; da poder haver muitos pais,cada um desconhecendo o papel que desempenhou. Masos fundadores devem ter conscincia de que se trata deum como de jardim, e dles a tarefa rdua de aten-

    dlo at que outros venham ajudar. So poucos osfundadores.

    Chamei Aristteles o pai da psicologia; Descartes,o pai da psicologia moderna; e Fechner, o pai da psi-cologia quantitativa ou experimental. Outros candida-tos a tais distines poderiam ter sido propostos. Alm

    disso, medida que a especializao aparece no jardim

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    I

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    psicolgico, mais fcil identificar a ascendncia, e maise mais podem ser apontados pais, com maior justificao.

    Fechner pode, por boas razes, ser chamado o fun-dador da psicofsica e o pai da psicologia experimental,

    desenvolveu a primeira e mostrou o caminho da segun-da. Ficou, entretanto, para outro alemo notvel o tor-narse o verdadeiro fundador da moderna psicologia ex-

    perimental; e ao tratar das realizaes dste homemaproximamonos da soluo do nosso problema de de-finio.

    Wilhelm Wundt (18321920) foi, como Fechner, fi-lho de pastor luterano de parquia de aldeia e tambm,da mesma forma que Fechner, estudou medicina na Universeidade de Heidelberg. Como Fechner, seus interssespassaram do prtico para o acadmico durante osanos de sua educao formal. Fisiologia, filosofia,

    lgica e tica todos stes campos chamaram suaateno em um ou outro momento, mas foi fundamen-talmente um psiclogo e, ao contrrio de Fechner, sabiao.

    Tinha chegado o tempo para a fundao da psico-logia moderna. Ao lado do legado intelectual que j dis-cutimos, havia muitas contribuies de outros campos.

    O maior era da fisiologia. A psicologia experimentalprimitiva baseavase cm tcnicas e descobertas fisiolgi-cas. Mas, a isto e tradio filosfica, somavamse pro-blemas transmitidos pela astronomia, antropologia e pe-lo estudo do hipnotismo. Faltava s um homem do ca-libre de Wundt que os tecesse no padro de uma psicolo-

    gia nova.

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    t

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    Em 18731874, depois de pelo menos 15 anos depreparao, Wundt publicou seusEsboos de Psicolo-gia Fisiolgica, considerado por um historiador o li-

    vro mais importante na histria da psicologia moderna;em 1879, na Universidade de Leipzig estabeleceu o pri-meiro laboratrio psicolgico do mundo; em 1881 inau-gurou uma revista cientfica para a publicao de pes-quisas psicolgicas. Seu livro passou por seis ediesrevistas e aumentadas de um para trs volumes; o labo-

    ratrio prosperou, e estudantes pesquisadores, vindos deperto e de longe, encheram a revista com relatrios de ex-perimentos psicolgicos.

    O prprio Wundt era incansvel. Alm do traba-lho de ensinar, administrar, editar e dirigir pesquisa, es-creveu copiosamente. A sua Psicologia Fisiolgicaser examinada em um momento, mas houve ainda ou-tros livros sbre outras fases da psicologia, bem comotextos de filosofia, tica e lgica que lhe ocuparam otempo. Estimouse que le publicou, em mdia, maisde duas pginas por dia, durante sessenta e oito anos

    e nenhum dste material de leitura fcil!Na Psicologia FisiolgicaWundt nos d a nossa pri-meira psicologia sistemtica; diznos o que a psicolo-gia ; esboa os mtodos de investigao; indica os pro-blemas; e classifica os resultados obtidos at ento. Daamplitude e profundidade de sua formao filosfica e

    cientfica, suplementada pelo trabalho de seu laborat-rio, produz o primeiro livro de texto da nova cincia e estabelece o padro para o futuro.

    i Ke l l e r

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    Logo mais tratarei em detalhe do sistema de psi-cologia adiantado por um dos mais ilustres discpulos deWundt. um sistema to semelhante ao de Wundt eto mais fcil de resumir que no precisamos aqui de

    morarnos muito entre os pronunciamentos do fundador.Ser bastante mencionar certas caractersticas mais sa-lientes com as quais cunhou a nova psicologia.

    Em primeiro lugar, Wundt, como tantos outros des-de o tempo de Hartley, era um paralelista psicolgico emsua atitude em relao ao problema corpomente. De

    um lado havia o mundo fsico, o mundo dos objetosmateriais; de outro, havia o mental, o mundo da experin-cia. A psicologia devia tratar primordialmente do lti-mo, e podia, por isso, ser definida como a cincia daexperincia imediata . Por experincia Wundt incluafenmenos como as sensaes, percepes, sentimentos,

    emoes e que tais.O mtodo a ser usado pelo psiclogo era chamadopor Wundt introspeco termo muito malbaratadomais tarde e implicava pouco mais que o ter a expe-rincia. O ter era para ser considerado equivalenteao observar da conscincia. O que venho at agora refe-rindo como o mundo exterior era para Wundt mera-

    mente tanto outra experincia ou processo mental; equando algum o tinha, estava observado.

    O problema para a psicologia era na verdade o pro-blema de o que fazer cientificamente a propsito destaexperincia, e Wundt dava uma dupla resposta: a expe-rincia devia ser analisada em seus elementos; os ele-

    mentos deviam por sua vez ser examinados com a na-

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    tureza de suas conexes uns com os outros; e, finalmen-te, as leis destas conexes deveriam ser determinadas.

    Deve ter ficado aparente ao leitor que estas no-

    es, especialmente as de anlise e associao (cone-xes) no so de modo nenhum novas na histria doproblema. No obstante Wundt abordouas com a men-te ordenada de algum treinado nos modos cientficos de

    pensamento e acostumado a distines cuidadosas e ri-gidamente mantidas em uma palavra, tcnica do

    fisilogo. H um vasto abismo entre a idia experienciada pelo empirista ingls e o processo sensorial ouimagtico da instrospeco wundtiana. Por exemplo, aidia de elefante ou todo uma espcie diferente deelemento mental que a sensao ou imagem de verme-lho ou D sustenido e s estas ltimas seriam aceit-

    veis para Wundt como verdadeiros elementos. Anlisede elefante (em sensaes, imagens, ou ambos) po-deria ser possvel e era na verdade inevitvel gra-as a uma descrio cuidadosa da experincia, mas umadisseco mental de uma unidade simples como verme-lho no poderia ser feita. Wundt propunha descer aos

    elementos fundamentais, irredutveis antes de empreen-der a demonstrao de suas relaes uns com os outrosem fuses e combinaes da vida mental cotidiana.

    Monumentais estudos na fisiologia da viso, audioc de outros sentidos j tinham sido conduzidos por ho-mens como Fechner, Weber (que antecipou alguns dos

    trabalhos de Fechner) e Helmholtz (que talvez seja maisconhecido como fsico). stes alemes tinham feito mui-to na direo de uma anlise experimental, de modo que

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    no estranho que o texto de Wundt contenha muitosdos resultados que obtiveram. Alm disso, entretanto,a Psicologia Fisiolgica apresentava material sbre ima-gens, sentimentos, ao, ateno e uma infinidade de ou-

    tros processos. De fato no houve praticamente nadade psicolgico que tivesse escapado ao lho do fundador;e no de espantar que seu manual tenha estabelecidoestilo por muitos anos a vir.

    Finalmente, voltemos ao paralelismo psicolgico deWundt. Acreditava que para cada processo mental hou-

    vesse um correspondente, e concorrente processo fsico.Estmulos do mundo exterior, agindo sbre os rgosdos sentidos, provocavam impulsos nervosos que, por suavez, davam lugar atividade do crebro. Com a ativi-dade do crebro vinha a atividade mental, mas a pri-meira na realidade no causava a segunda, nem pode-ria a segunda causar a primeira. Eram duas esferas deatividade distintas, uma fisiolgica e a outra psicolgica;e psicologia fisiolgica parecia a Wundt a melhor ma-neira de designar o intersse duplo da nova psicologiae a ntima relao entre as duas reas de pesquisa.

    J se pode agora comear a ver a forma e a fisiono-mia da psicologia do sculo dezenove. Foi, antes de

    mais nada, um produto da unio da filosofia com a fi-siologia. Seu objeto era a mente (experincia, conscin-cia), seu mtodo era introspectivo, analtico e experimen-tal; e seus problemas eram o descrever o contedo ouestrutura da mente em trmos de elementos e suas com-

    binaes. Alm disso, tratava de questes de desenvolvi-

    mento mental e evoluo, de causa e efeito, do inato e

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    do adquirido; e tinha algo a dizer sbre a linguagem,memria, pensamento, volio e tpicos psicolgicos damesma ordem. Sua filosofia era predominantemente pa-

    rai eli st a, e ambicionava explicar as relaes da mente aocorpo pelo uso dos mtodos da cincia.A influncia de Wundt foi tremenda. Seus alunos

    e seus livros levaram seus ensinamentos s partes maislongnquas do mundo civilizado, despertando um agudointeresse no dissecar as partes da mente com os instru-

    mentos de lato da fisiologia. Novos laboratrios fo-ram criados em vrias universidades, novos cursos dcinstruo foram oferecidos, novas revistas de psicologiaapareceram e novos livros de textos foram escritos.

    Eventualmente, claro, vieram luz novos sistemasde psicologia. Nossa tarefa presente teria sido muito

    mais simples se isso no tivesse acontecido, mas da na-tureza de uma cincia saudvel crescer e mudar, reverseu programa de tempos em tempos. Diferenas de opi-nio tinham de aparecer, mesmo entre os mais leais dis-cpulos de Wundt, quanto ao tema, mtodos e problemasda psicologia.

    Um sistema de psicologia, em certo sentido, nadamais , que um quadro de referncias lgico no qualpossam ser encaixados os achados da cincia. Represen-ta uma tentativa, geralmente de um s homem, de arran-

    jar e coordenar os fatos da psicologia de maneira simplese inteligvel. Quando o sistema ou ponto de vista de

    um autor aceitvel para certo nmero de outros, quetomam parte ativa em espalhar sua influncia, o resulta-do ordinriamente uma escola de psicologia. Nem

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    todos os sistemas geraram escolas, mas uma escola nopode viver sem uma profisso de f em um sistema.Quando ste compromisso se perde, a escola se desintegrae deve ser remodelada ou suplantada.

    O sistema de Wundt no foi tanto suplantado comofoi revisto. Foi enchido em vez de esvaziado porum dos mais distintos discpulos do fundador. No foiatacado por um estranho sem esprito da escola queembotasse o gume de sua espada. A influncia de Wundt,com efeito, nunca teria sido to grande sem os labores do

    homem que apresentou sua prpria verso revista aomundo de lngua inglsa.

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    CAPITULO III

    Titchener e o estruturalismo

    Edward Bradford Titchener (18671927) era inglspor nascimento, alemo por temperamento, e norteamericano por residncia. Foi a Leipzig em 1890, depoisde brilhantes estudos em Oxford, a fim de aprender de

    primeira mo a nova psicologia. J tinha traduzido parao jngls a terceira edio da Psicologia Fisiolgica.Em um perodo de dois anos doutorouse e aceitou ochamado da Amrica, para assumir o encargo do nvolaboratrio de psicologia experimental da Universidadede Cornell. L passou o resto de sua vida, trinta e cinco

    anos, sem se naturalizar cidado estadunidense nemno sentido cvico, nem no acadmico.Em Cornell, Titchener fz jus ao prestgio de seu

    mestre. Continuou a tradio wundtiana de uma ma-neira wundtiana ensinando, escrevendo e dirigindopesquisa e com uma habilidade extraordinria. Sua

    erudio era profunda; suas aulas e escritos, modelos deexposio clara e digna; sua personalidade magntica epoderosa. Os alunos afluam s suas aulas, e doutorandos

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    ao seu laboratrio. ComelI tornouse logo o quartel ge-neral e o centro de disperso de um ramo muito impor-tante da psicologia experimental nos Estados Unidos. Ade Titchener pode no ter sido a nica psicologia dolado de c do Atlntico, mas por duas ou trs dcadasfoi a melhor organizada, mais bem expressa e a maisprxima do padro exigido por Wundt. Em nossa procurade uma definio da psicologia poderemos proveitosa-mente examinar em algum pormenor este produto deLeipzigComell, e ver o que Titchener pensava que a

    psicologia era.As opinies de Titchener modificavamse algo dc ano

    para ano, mas a gente pode obter uma excelente noode suas principais idias sistemticas em dois de seustextos publicados: oManual de Psicologia (1910) e aPsicologia para principiantes(1915). Nestes livros

    escritos principalmente para alunos de seus cursos, encon-tramos um relato mais franco do que nos delineamentosmais avanados preparados para colegas.

    Psicologia a cincia da mente. ste o enun-ciado geral comque Titchener comea seu relato siste-mtico. Mas, apressase a acrescentar, ste enunciado

    pode ser fcilmente mal interpretado pelo bom senso,e passa a qualificlo de certos modos. A mente deque a psicologia trata deve ser a mente que pode serdescrita em trmos de fatos observados; no deve seridentificada com um serzinho insubstancial dentro denossas cabeas. A fim de aproximar uma compreenso

    verdadeiramente cientfica do trmo, Titchener faz entouma distino entre o mundo da fsica e o mundo da

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    psicologia. Leiamos mais uma vez do texto paraprin-cipiantes:

    O mundo da fsica incolor, sem som, nem frio

    nem quente; seus espaos tm sempre a mesma extenso;seus tempos so sempre da mesma durao, sua massa invarivel; seria exatamente o que agora se a huma-nidade fsse varrida da face da terra. Pois que a luzem um texto de fsica? a propagao de ondas eletromagnticas; e som movimento vibratrio do ar e gua;

    e calor uma dana de molculas; e todas essas coisasso independentes do homem.

    Na viso fsica do mundo o homem deixado defora, por assim dizer; a psicologia, de outro lado, des-creve o mundo tal como na experincia humana encara o mundo com o homem dentro dele.

    O mundo da psicologia contm vistas e sons e sen-timentos; o mundo do claroescuro, de rudo e silncio,do spero e do liso; o espao algumas vzes amplo eoutras, estreito, como sabe tda a gente que na vidaadulta tenha voltado ao seu lar de infncia; o tempos vzes breve, s vzes longo; um mundo seminvarincias. Contm tambm pensamentos, emoes,memrias, imaginaes e volies que so atribudos na-turalmente mente. . . a mente simplesmente o nomeinclusivo de todos stes fenmenos.

    Destas citaes no se deve concluir que haja uma

    diferena fundamental entre a experincia do fsico e ado psiclogo. Titchener no negava que o fsico tivesseexperincia; meramente salientava o bem conhecido fatode que a descrio que o fsico faz de seu mundo em

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    trmos de coisas conceituais, como ondas eletromagnti-cas, movimentos vibratrios e molculas. Poderia tercoerentemente ido mais longe e tornar claro que o psi-

    clogo tambm descreve o seu em termos conceituais;mas ste assunto sutil e no necessrio que nos de-tenhamos aqui em discutilo.

    Titchener nos diz em seguida que no mundofsicoexistem objetos como os corpos humanos, com sistemasnervosos que os organizam em todos orgnicos, integra-dos e singulares. J aprendemos de uma variedade defontes que o fenmeno da psicologia deve ser relacio-nado a certas atividades dstes sistemas nervosos. Porexemplo, a destruio de uma poro do ccrebro fre-qentemente vinculada perda de alguma forma de ex-

    perincia, digamos visual. Da mesma forma, perturbaona experincia, ou falta de experincia, pode denotar a

    perda de certa funo cerebral. O homem deixado den-tro pouco mais que o prprio sistema nervoso. Apsicologia poderia mesmo ser definida como o estudo dosfenmenos (experincia, mente) considerados como de-pendentes de um sistema nervoso; pois onde quer que

    encontremos experincia ou fenmeno mental encontra-

    mos tambm um sistema nervoso. Nem todos os eventosnervosos tm paralelo nos eventos mentais, mas todo omental tem sua contrapartida em algo fsico que ocorreno crebro em resultado da estimulao dos rgos dossentidos ou nervos.

    No deve o leitor desesperar se ste raciocnio pa-

    rece um pouco complicado. Muito se torna claro quan-do passarmos aos detalhes menos abstratos da psicologia

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    de Titchener. O que se pode observar de passagem queest implcito em tudo isso o dualismo filosfico, umadistino entre corpo e mente, que remonta a Wundt emesmo antes, a Descartes, embora Titchener no tivessesubscrito o interacionismo.

    O mtodo da psicologia nosso ponto seguinte. Amente para ser estudada cientificamente, devia ser obser-vada. Observao a condio sine qua non de tda acincia. Titchener achava, com Wundt, que ter experinciase aproximava muito de observla: e acentuou o mtodode introspeco. Mas sua frmula para a observao in-trospectiva era mais ampla do que a de Wundt, enos d a base para distinguir entre observao psicolgi-ca e observao fsica. Mostra que tda a observao

    cientfica requer trs coisas: uma certa atitude em relaoa prpria experincia, o experienciar le prprio, e umreiato adequado da experincia em palavras. Onde aatitude fr a do psiclogo podese chamar a totalidadedo processo de observao de introspeco ; onde aatitude do fsico que est em jgo, chamamos o processo

    de inspeco ou de simples observao. s adiferena de atitude que distingue a observao do psic-logo da dos outros cientistas.

    Introspeco 6uma palavra infeliz porque, gra-as a sua histria e uso cotidiano, prestase a malenten-didos. Titchener sabiao e insistiu em mostrar que no

    devia ser tomada como uma reflexo sbre, ou con-templao da prpria experincia (como Descartes e osEmpiristas ingleses tlaiam tomado) ou como uma es-pcie de mrbida autopreocupao (para a qual um tr

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    mo melhor introverso). Titchener sempre estvealerta em mostrar que os termos cientficos em geral de-vem sempre ser cuidadosa e univocamente usados, e fre-

    qentemente indicou a confuso resultante quando signi-ficados do bom senso eram dados a palavras cien-tficas.

    Quando lemos a formulao de Titchener doproble-ma da psicologia, vemos claramente a marca dos ensina-mentos de Leipzig. O problema, mais uma vez, triplo.

    H, em primeiro lugar, a anlise dos fenmenos mentaisem seus elementos. A descrio de qualquer seco daexperincia tende a ser uma anlise, pois analisamos oque quer que descrevamos dividimos o objeto denossa observao em certas partes fundamentais. (Seo leitor desejar verificar a veracidade disto, tente descre-

    ver qualquer objeto comum que esteja mo. Analisar uma das atividades humanas mais naturais, mas rara-mente levada to longe quanto o necessrio para setornar suficientemente cientfica).

    A sntese, embora mais difcil que a anlise, acompanhaapari passu. Exige o estudo das conexes entre

    os processos mentais elementares e o caminho para adeterminao das leis de conexo destes processos, a segunda fase do problema e responde pergunta co-mo? tanto quanto a anlise, pergunta o qu?.

    O terceiro aspecto do problema vai alm da descri-o da mente (e alm do enunciado de Wundt dos pro-

    blemas da psicologia) para a explicao da mente. Pre-tende responder pergunta por qu? e, ao fazlo, ape-la para os eventos paralelos no sistema nervoso e rgos

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    o do ouvido); ou 3) os tipos de estmulo que as de-terminam, localizados quer dentro quer fora do orga-nismo. Titchener dependia principalmente das diferenas

    introspectivas na classificao de departamentos, masusava os outros mtodos quando faltavam nomes ade-quados para os grupos.

    As principais modalidades de elementos sensoriaisso ento arroladas. Encontramos sete ao todo: visual,auditivo, olfativo, gustativo, cutneo, cinesttico e or-

    gnico. Cada um dstes sentidos, por sua vez, pode so-frer anlise ulterior e subdiviso. Assim a viso produzsensaes de cor e luz cromtica e acromtica; audi-o, tons e rudos; e o olfato d uma variedade de sen-saes que podem ser colocadas em grupos distintos (co-mo odores fragrantes, perfumes e fedores) na base de se-

    melhanas e diferenas. As sensaes cutneas so di-visveis em sensaes de presso (tacto verdadeiro), frio,quente e dor; a cinesttica, o velho sentido muscular,revela conter componentes de msculos, tendes e juntas.Orgnico acaba sendo um trmo geral para tdas assensaes mal definidas provenientes dos sistemas diges-

    tivo, urinrio, circulatrio, respiratrio e genital.Uma palavra de cautela pode ser apropriada nesteponto. Titchener nunca descobriu estas sensaes. Nemdescobriu as leis de suas relaes com os estmulos am-

    bientais, de que trata longamente em seus textos. stetrabalho de descoberta, classificao e correlao j tinha

    comeado muito tempo atrs, mesmo nos dias de Aris-tteles, e tinha alcanado um alto grau de exatido nosestudos dos fisilogos do sculo XIX cujo trabalho j

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    mencionamos, O que Titchener fz foi o que outros sis-tematizadores tinham feito e ainda fazem; apropriousedstes fatos (adicionando itens de seu prprio laboratrio)

    e arranjouos dentro de seu sistema para melhor in-tegrao e clareza.

    Do ponto de vista de Titchener, as sensaes eramelementos mentais comparveis aos elementos da qumi-ca. Definese um elemento qumico fazendo refernciaa certas propriedades tais como a capacidade de refletir

    a luz, gravidade especfica, ponto de fuso, etc. Da mes-ma maneira caracterizamse os elementos mentais pela re-ferncia a certas propriedades que possuam ou no.Assim chegamos noo titcheneriana de atributos.

    As sensaes, como unidades irredutveis do mundomental, possuem certas caractersticas s quais nos refe-

    rimos quando queremos descrever estas unidades com mi-ncia. Por exemplo, tdas as sensaes de qualquer es-pcie e de qualquer fonte possuem o atributo qualidade.ste o atributo em virtude do qual nomeamos as sen-saes. D sustenido, crderosa, quente ou azdo soqualidades tais, e servem para distinguir uma sensao

    da outra.Um segundo atributo de tdas as sensaes a inten-

    sidade. Isto se verifica sempre que consideramos a fraou grau de uma sensao. Um tom pode ser alto oubaixo, a presso leve ou pesada, um cheiro forte ou fraco;e na descrio somos auxiliados por estas caractersticas

    de intensidade. Incidentalmente, foi com ste atributode intensidade que Fechner lidou na maioria de seus es-tudos psicofsicos, pois se presta a proposies quanti

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    tativas. Teoricamente, embora no prticamente, qual-quer sensao pode receber uma designao numrica emuma escala graduada do menos para o mais intenso.

    Qualidade e intensidade so os mais importantesatributos das sensaes, mas h outros. Titchener arro-laos, em 1915, como durao, vivacidade e extensoA durao referese ao aspecto temporal da sensao: o simples prosseguir, adiantarse, manterse que pode serobservado em cada uma e em tdas as sensaes. A

    vivacidade difcil de descrever: se voc quiser sabercomo... se sente a vivacidade... observe o seu processomental agora, enquanto voc se intriga com ste livro; adiferena entre primeiro plano e plano de fundo, foco emargem entre idias dominantes despertadas pelo quevoc l, e percepes obscuras do ambiente circundante

    mostrarse pelo menos grosseiramente. Extenso o fator especial elementar na experincia tal como a du-rao o fator temporal; a base ... de nossa percep-o de forma, tamanho, distncia, localizao e direo;a menor estrla no cu vespertino, ou a gta de chuvana mo estendida ambas tm tamanho perceptvel.

    Os primeiros quatro destes atributos qualidade,intensidade, durao e vivacidade so propriedadesde tdas as sensaes; mas s os elementos cutneos cvisuais, tais como cores e presses, possuem nitidamenteum atributo extensivo, cuja remoo anularia a prpriasensao.

    1) Mais tarde tornaram-se respectivamente protensity,attensity e extensity.

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    Alm disso, mesmo um atributo simples como aqualidade pode le prprio ser a resultante de dois outrs atributos distintos, cuja deteco o objetivo lti-

    mo da anlise introspectiva. A qualidade visual ver-melho, por exemplo, uma combinao de atributostais como saturao, brilhncia e tonalidade, todos quan-titativos. No necessrio, entretanto, que entremos aquinestes assuntos mais delicados. H outros elementosmentais, alm das sensaes, a serem examinados neste

    levantamento dos ensinamentos de Titchener.David Hume, como vimos, foi dos primeiros a dis-

    tinguir entre sensaes e imagens, chamandoas respec-tivamente impresses e idias, e imaginando as l-timas como cpias desmaiadas das primeiras. Mas Humefoi tambm arguto e observador o bastante para ver que

    freqentemente difcil distinguilas apenas na base daexperincia:No impossvel mas em casos particulares podem

    aproximarse bastante uma da outra. Assim no sono, nafebre, na loucura ou em muitas das emoes violentasda alma, nossas idias podem aproximarse de nossas im-

    presses: como de outro lado acontece algumas vzes,que nossas impresses sejam to desmaiadas e fracas queno se possam distinguir de nossas idias.

    Exceto em diferenas menores de terminologia istoformula quase exatamente a posio de Titchener, centoe setenta e seis anos depois, a respeito da questo das

    sensaes e imagens como elementos de igual dignidadee pso. Vai alguns passos alm de Hume, entretanto,quando diz, na Psicologia para Principiantes que

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    muito duvidoso que haja qualquer diferena entre sen-sao e imagem, mas, como Hume, recua para diferen-as no psicolgicas ao definir a imagem como um pro-

    cesso elementar mental, parente da sensao e talvezindistinto dela, que persiste quando o estmulo sensorialdesaparece ( retirado) e aparece quando o estmulo sen-sorial est ausente.

    Se isto parecer obscuro ao leitor, lembrcse que afuno do psiclogo, de acrdo com Titchener, erades-

    crever a experincia e s a experincia. Estmulos noso processos mentais, embora possam dar origem a stese possam ser em relao a stes considerados. Assim,quando diz que sensaes e imagens so talvez indistintas,quer dizer que, exclusivamente na base da observaointrospectiva, no podemos dizer a diferena: nada cmum processo mental le prprio se identifica como usou uma sensao ou sou uma imagem. (Se Titche-ner levava a srio sua prpria sugesto, em outro con-texto, de uma diferena textural introspectivamenteobservvel entre as duas, poder permanecer uma ques-to sem resposta).

    Titchener encontra uma imagem para cada sentido,

    com a possvel exceo do cinesttico e encontraas dediferentes espcies dentro, de um mesmo sentido. Almdas modalidades visual, auditiva e outras, existem tiposde imagens como as recorrentes por exemplo, uma musiquinha que persiste em nossa cabea, alucinatria (ba-tem porta, mas no h ningum), imagens onricas, mne-

    mnicas, etc. a lista longa. Estas imagens, comoas sensaes, tm seus atributos de qualidade, intensidade,

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    durao, e outros; e, como as sensaes, vo longe ao su-prir os componentes elementares da vida mental.

    Falta discutir a terceira classe de elementos de Titchener as afeces ou simples sentimentos. stes sedefinem por contraste com o processo elementar da sen-sao. Uma afeco difere de uma sensao pelo n-mero de atributos que possui; faltalhe clareza (vivacida-de) e faltalhe extenso. Pode variar na durao do tempo

    que ocupa; pode ser de grau maior ou menor (intensida-de); e sempre tem uma de duas qualidades agrado edesagrado. Nunca estas duas qualidades existem aomesmo tempo (no existem sentimentos mistos); e nodevem nunca estas formas de sentimento serem confun-didas com os sentimentos do vocabulrio popular.

    Quando se diz sinto isto liso ou enrugado, sintomebem, le sente que estou certo, estamos tentando apli-car o trmo a experincias muito mais complicadas emsua natureza e nas quais os verdadeiros sentimentos (afec-es) desempenham quando muito um papel inconsidervel. (Obviamente, no devemos confundir esta afec-

    o com a afeio entre filhos e pais, no importa oquanto de prazer ou desprazer possam acarretar!).No seu tratamento da afeco Titchener se afasta

    vigorosamente dos ensinamentos de Wundt. ste ltimono se dispunha a reconhecer o status de agradvel oudesagradvel com qualidades de processos elementares,

    e tinha dado posio igual a sentimentos tais como tensoe relaxamento, excitao e calma. Titchener examina ateoria de Wundt em detalhe, bem como os testemunhosexperimentais subjacentes, e conclui pelo carter elcmen

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    tar apenas das afeces, sendo as outras categorias desentimento de Wundt de carter combinatrio. Argu-menta que tenso, relaxamento, excitao e calma so

    na realidade sentimentossensoriais, combinaes desensaes orgnicas e sentimentos verdadeirosz.

    E chega de anlise mental. Ao voltarmonos doselementos do sistema de Titchener para as combinaesdestes elementos, vamos do simples para o complexo.Trataremos aqui das estruturas mentais como percepes,

    idias e emoes; com associao, memria e pensamen-to; e mesmo com coisas to complicadas como os sen-timentos e 0 eu. No se pode aqui fazer justia a to-dos estes tpicos, mas certos princpios gerais podem seresboados e algum material ilustrativo apresentado queajude o leitor a sentir o sistema de Titchener.

    Percepes e idias so as primeiras coisas a con-siderar. So assuntos da experincia cotidiana que seoferecem anlise. S quando assumimos a atitude delaboratrio que compreendemos sua natureza composta.

    Percepo e idias so as unidades de nossa vida men-tal diria, tal como as sensaes e sentimentos so as uni-

    dades da anlise psicolgica. Estas percepes podem seranalisadas, pela introspeco cuidadosa, em (1) certo n-mero de sensaes que so suplementadas por (2) vriasimagens e (3) moldadas pela ao de fras nervosas queno se mostram nem na sensao nem na imagem. De

    2) A controvrsia entre mestre e discpulo no deve nosdeter aqui. Alm disso, Titchener, antes de sua morte, chegou concluso de que mesmo os sentimentos de agrado e desagrado seriam provvelmente redutveis a sensaes.

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    vese notar que s as duas primeiras caractersticas so narealidade experienciais; a terceira uma inferncia, noum verdadeiro contedo mental mais sim algo que jaz por

    trs dle. Um exemplo: o ncleode nossa experincia de,digamos, uma rvore no mais do que um arranjo desensaes de cr. Com estas sensaesnucleares vmcertas imagens suplementares a rvore que sombreiao canteiro de flores de nosso vizinho no vero, a rvoreque causou uma demanda judicial, a rvore que ostenta

    ninhos de pardais em seus cabelos. Mais ainda, a rvore automticamente tomada como sendo uma coisa real,que ocupa um espao real; e estas caracterizaes po-dem ser fundadas sobre material absolutamente nomental nem sensao nem imagem mas devidas a umaespcie de hbito cerebral a que falta um representante

    na assemblia dos elementos.Tal como a percepo algo composto em que a

    sensao figura predominantemente, assim a idia tpica uma estrutura mental que possui um ncleo de imagens.A neve do ltimo inverno pode chegar a ns. . . comoum quadro visual, um espalhamento desigual de branco,

    com traos de marromacinzentado nos picos e ao longodos vales, intercruzado e quebrado parcialmente pelodeglo. ste o ncleo imagtico o contedo bsicode imagens da idia. Outras imagens podem sobreporsea ste ncleo: lembramonos do dia em que fulano che-gou com os ps molhados, ou a grande nevada daquela

    quintafeira de dezembro. Mesmo isto no tudo. Di-ficilmente podemos pensar em chegar com os ps molha-dos. . . sem algum movimento que desperte a sensao.

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    A idia pode, pois, incluir sensao material que adicio-ne sua complexidade. Finalmente, como na percepo,um hbito cerebral pode jazer atrs de nossa idia como

    fator modelador ou determinador.Gs sentimentos (agradvel e desagradvel), combi-

    nados em um nvel elementar com certas sensaes, prin-cipalmente cinestticas e orgnicas, donos sentimentossensoriais. H seis espcies dstes sentimentossensoriais: os excitantes e os calmantes, os que provocam

    tenso e os que relaxam e o agradvel e o desagradvel,cada um dependendo da natureza peculiar da misturasensaosentimento. Cada um pode se combinar, porsua vez, com ulteriores processos sensoriais e imagticose sob certas condies produzir emoes como a alegriae o mdo, clera e pesar, esperana e alvio.

    No h necessidade de prosseguir alm com steaspcto da composio psicolgica. Sua natureza gerale a direo que assumiu devem j agora ser claras; e hdois ou trs outros assuntos que so dignos de umareviso rpida antes de concluir nossa inspeo do edi-fcio que Titchener construiu.

    A primeira concerne questo que foi perguntada

    e respondida, j em 1709, no livroNova Teoria daViso do bispo Berkeley,' e uma citao dos bons es-critos do bispo introduzirnoso ao problema:

    Sentado em meu estdio ouo uma carruagem pas-sar pela rua; olho pela janela e vejoa; saio de casa eentro nela. Assim atravs da linguagem comum algum

    seria levado a pensar que ouvi, vi e toquei a mesma coisa,a saber, a carruagem. no obstante certo que as idias

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    introduzidas por cada sentido so amplamente diversase distintas umas das outras; mas, tendo sido observadoque constantemente vo juntas, falase delas como sendo

    uma e mesma coisa.Berkeley propunha isso meramente como um exem-

    plo da maneira pela qual a mente gera a matria(mais especificamente coisas ou objetos) pela com-binao ou associao de certas idias. J vimos umailustrao da mesma espcie de raciocnio na sua teoria

    da percepo de distncia. O estudante de histria, en-tretanto, pode achar nesta citao uma antecipao de umateoria muito mais conhecida a teoria do contexto dosignificado de Titchener 3.

    Caracterstica bvia de nossas percepes e idias,de acrdo com Titchener, que ambos tm um significado.A neve do inverno passado, a rvore do ptio, o estrpidoda carruagem do bispo Berkeley so todos eventossignificativos. Mas qual psicologicamente, isto , introspectivamente, o significado? A resposta pode j tersido dada quando discutimos a questo das percepes eidias, mas no faz mal ampliar um pouco.

    3) Poder ajudar, nesta discusso, dar outro paralelo aoexemplo de Berkeley. Ouo o som de um latido, e digo, eismeu cachorro; distncia vejo um objeto de fornia familiar em movimento, digo meu cachorro; sinto frio na minha orelhafora das cobertas pela manh, meu cachorro; sinto umpunjente cheiro de canil e digo outra vez meu cachorro. O

    ncleo sensorial destas percepes diferente em cada caso, vindocomo vem de diferentes departamentos sensoriais; mas cada percepo significa meu cachorro . O porqu c assim aquesto que nos ocupar a seguir.

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    Quando analisamos a mente introspectivamente des-cobrimos, no significados, mas processos mentais sensaes, imagens, sentimentos e suas combinaes. A

    rvorr de nosso exemplo, concordamos, tinha tanto desensao, mais um acrscimo de imagens; a neve do in-verso passado era afinal um tanto de imagem, mais ou-tras imagens e sensao. neste fator mais do processomental que encontraremos a resposta da pergunta.

    O significado, diz Titchener . . . sempre con-

    texto; um processo mental o significado de outro pro-cesso mental se fr o contexto dste outro. O prpriocontexto no nada seno a fmbria de processos re-lacionados que se rene em tmo de um grupo centralde sensaes ou imagens. Na percepo e na idia hum ncleo mais um contexto, e o ltimo que carre-

    ga o significado do primeiro, isto , o que se encontraquando perscrutamos a experincia na nossa busca deuma contrapartida do significado lgico cotidiano.

    Titchener oferece um certo nmero de ilustraespara mostrar a sabedoria desta distino ncleocontexto.O contexto pode, em certos casos, ser desnudado do

    ncleo como quando repetimos alto uma palavra atque o contexto desaparea e a palavra se torne sem sen-tido; o contexto pode ser adicionado ao ncleo comoquando aprendemos o significado de um desenho estra-nho ou de uma palavra estrangeira; contexto e ncleopodem ser separados no tempo como quando sabe-

    mos o que queremos dizer mas precisamos tempo paraencontrar as palavras expressivas, ou quando a graa deuma anedota s percebida em aparncia mais tarde; o

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    mesmo ncleo pode ter vrios contextos como estimplcito nas nossas preocupaes sbre o verdadeiro sig-nificado de uma observao casual; o mesmo contexto

    pode ser acrescido de diferentes ncleos como no casoda carruagem do bispo Berkeley; etc. No faltavam aTitchener exemplos para defender esta distino. Suainabilidade, entretanto, em demonstrar que o significadofsse sempre contexto se revela na admisso de que po-deria ser carregado por uma disposio cerebral na au-

    sncia de representao consciente como quando oleitor traquejado aprende o significado de uma pginaimpressa, ou uma composio musical executada naclasse apropriada, sema presena de uma fmbria de ima-gens que suplementem o ncleo da percepo.

    O contexto se acrescenta ao ncleo associativamente.

    Titchener no formulou esta afirmao explicitamente,mas claro que no se pode entender a composio denenhuma outra maneira. Podemos, pois, rpidamente,inspecionar o tratamento que Titchener d a associaocomo princpio psicolgico, e assim ver o que aconteceu velha doutrina inglsa nas mos de um experimenta-

    lista. Sempre que um processo sensorial ou imagticoocorre na conscincia, h a tendncia de aparecerem comle (naturalmente em trmos imagticos) todos os proces-sos sensoriais e imagticos que ocorreram juntos com leem qualquer presente consciente anterior. Esta afirma-

    o que a lei fundamental da associao, foi tomadadoManual de 1910, onde precedida por uma exaustivacrtica do antigo assoeiacionismo e seguida de um vasto

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    conjunto de clusulas restritivas e condicionais que noprecisamos considerar aqui. A inteno que seja umafrmula descritiva dos fatos observados da doutrina an-

    terior; a frmula explicativa de Titchener apela para oseventos neurais que correm paralelos aos processos sensoriais e imagticos acima mencionados.

    A Lei da Associao tornase muito importante nosistema de Titchener, particularmente em sua abordagemda memria e imaginao, mas o prprio Titchener com

    prefendia que no era completamente suficiente para o en-tendimento das conexes mentais tdas. Isto aparentena prpria formulao da lei. Notar que diz tendem aaparecer (grifo meu) quando fala dos processos sensoriais e imagticos associados. Lembrar tambm o usoque. fazia do hbitocerebral como fator modelador edeterminador na construo de percepes e idias. Istose resume em reconhecer que os processos mentais, bemcomo as aes, aparecem no s como resultado da for-a. dos vnculos associativos, mas tambm por causa decertas fras diretivas hbitos cerebrais, tendnciasinstintivas, disposies nervosas, etc. que podemmesmo trabalhar, contra a influncia de associaes muito> repetidas. Assim, em acrscimo s tendncias associa-tivas, temos tendncias determinantes. Processos sen-soriais e imagticos que, na base de associao passadafreqente, deveriam juntarse na mente, podem, graas presso de algumas tendncias determinantes, manteremrse apartados ter apenasprovvel o seu aparecimento.Um simples exemplo: a palavra prto, pode, em vir-tude da associao, evocar branco na mente do leitor,

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    e amargo similarmente eliciar doce; mas que teriaacontecido se se lhe tivesse dito (disposto ou deter-minado) que encontrasse rimaspara prto e amargo?

    Nosso propsito presente no exige um retrato maiscompleto ou inclusivo do ponto de vista de Titchencr.Coloquei aqui, a despeito do que o especialista possachamar trivialmente flagrantes omisses, um esquemarazovel do sistema o bastante, pelo menos, para pro-ver um quadro de referncia quando examinarmos outrasconcepes. H a experincia (processo mental); deve

    ser analisada introspectivamente em elementos (sensa-es, imagens e sentimentos), com seus atributos (quali-dade, intensidade, etc). Os elementos se fundem ou for-mam padres no espao e tempo (associados) para darnos estruturas mentais tais como a percepo, idias,sentimentossensoriais, emoes e que tais.

    Finalmente stes processos tanto o simples comoo complexo so acompanhados de eventos paralelosno sistema nervoso e determinados por les.

    ste produto de LeipzigCornell por Titchenerde Wundt foi por mais de duas dcadas a psicologiacom a qual as outras psicologias se comparavam. Como

    sistema ou escola tornouse conhecido principalmentecomo psicologia estrutural ou introspectiva por ra-zes que devem ser claras depois de um momento dereflexo, e clarificarseo ainda mais posteriormente. Omais recente rtulo proposto pelo prprio Titchener, foiexistencial, palavra escolhida para enfatizar o fato que

    o mundo dos processos mentais (simples existncia) onico mundo que a cincia pode conhecer.

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    CAPITULO IV

    Os Estados Unidos e o funcionalismo

    A mudana de terra, as novas descobertas, a trans-formao dos valores e at modas e modismos fazem com que em uma cincia nova seja muito poucoprovvel que uma dada escola de pensamento duremuito, com excluso de tdas as outras. No sobre-vive certamente sem que haja invaso de alguns setorese rebelio em outros; e isto ser especialmente vlido

    em um pas onde exista um certo desprzo pelo prece-dente e um alto apro pelo prtico. No seria, pois, dese esperar que o sistema de Titchener continuasse in-clume nos Estados Unidos.

    O ataque sbre as fileiras ordenadas e disciplinadasda psicologia estrutural foi tipicamente earlyamerican.

    No veio de uma frente nica e unida, sob o comandode um s chefe reconhecido. Foi em vez uma lutade guerrilhas, com muitos comandantes, atacando de muitospontos estratgicos, com muitas armas diferentes.

    Esta psicologia rebelde pode no ter sido bem umaescolha nem mesmo um sistema, no sentido estrito destaspalavras, mas foi inegvelmente um

    movimentoimpor

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    tante e no podemos ignorlo em nossa busca da defi-nio da psicologia. Suas doutrinas no se encontramem um texto nico de um patrono de renome, masdesempenharam um grande papel na determinao daforma e do contedo da psicologia atual. Se, pois, noque se segue, ste movimento fr mencionado comouma escola ou sistema no se ter feito grave in-

    justia.A psicologia funcional adquiriu forma pela mo de

    vrios norteamericanos, em particular, de um grupo de

    antiestruturalistas da Universidade de Chicago, duranteos ltimos anos do sculo passado e dos primeiros dste.John Dewey (18591952), filsofo e educador, e JamesR. Angell (18691949), que foi presidente da Universi-dade de Yale, so os nomes principais, mas houve umgrande nmero de outros cujos interesses e simpatias

    ou antagonismos inclinaramnos na mesma direo.Entre os representantes contemporneos do movimento,Harvey Carr (18731954), decano dos psiclogos deChicago1 talvez o mais conhecido. Raramente esti-veram stes homens em completo acrdo quanto a dou-trina sistemtica, e no pareciam se preocupar muito

    com o assunto. H, entretanto, certas caractersticas geraisque os marcam como um grupo.

    1) Opunhamse ao estruturalismo, quer do tipowundtiano, quer do titcheneriano. Foi dles o primeiroprotesto ativo nos Estados Unidos contra a espcie de

    ) Na ocasio da edio norte-americana 1937 (N. do

    Trad.).

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    psicologia que floriu no laboratrio de Leipzig e pareciaestar no caminho de tomarse a nica psicologia naAlemanha e nos Estados Unidos. A razo disso sc

    perceber logo.2) Estavam interessados no para que a mente serve,

    mais do que no que ela afuno da mente depreferncia a sua estrutura. Procuravam responder ques-tes como: o que que os processos mentais realizam?Que diferena fazem os processos mentais? Como tra-balham os processos mentais?

    3) Eram um grupo prticament orientado, que noestava acima de darse as mos na base de valores dobom senso. Titchener tinha pouco respeito pelo bomsenso e tentava valentemente manter limpas as saiasda nova psicologia do exclusivamente til. Os funcionaistas no tinham tais compulses; tanto Dewey como

    Angell acabaram por desertar da psicologia para dedicaremse prtica, isto , educao, e outros do grupomostraram tendncias similares.

    4) Representavam na psicologia antes a tradio bio-lgica do que a fisiolgica. Foram menos influenciados

    pelos cuidadosos estudos de laboratrio da fisiologia do

    sculo XIX, do que pelos conceitos estimulantes da bio-logia darwiniana. Impressionados pelas idias de evo-luo mental e sobrevivncia dos mais aptos, procu-raram determinar o papel desempenhado pela mente en-tre as contribuies para o xito dos organismos humanosou animais na luta pela existncia.

    5) Exigiam que o campo da psicologia fsse amplia-do para incluir os mtodos e descobertas da psicologia

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    animal, da criana, anormal, diferencial e outros tiposde investigao psicolgica investigaes que cadavez mais atraam a ateno de estudiosos bem intencionadosno s nos Estados Unidos como na Europa mas quenunca chegaram a ter a mesma respeitabilidade nas salasde aula do estruturalismo.

    6) Finalmente, estiveram, em um ou outro momento,direta ou indiretamnte sob a influncia do homem quetem sido com propriedade chamado o decano da psi-cologia norteamericana, e que um smbolo do que

    de melhor h no funcionalismo sem ter sido realmentemembro desta ou de qualquer outra escola.

    William James (18421910) no pode ser classificadopara atender propsitos como os nossos. Fisilogo, psi-clogo, filsofo, professor e escritor so ttulos ridieulamente pouco expressivos para ste gnio do hemis-

    frio ocidental: O leitor ter de ir ao prprio James2 por exemplo, aos seus Princpios de Psicologia se desejar sentir a fra de sua personalidade e apreciaros efeitos de seus ensinamentos sobre o carter e o des-tino da psicologia norteamericana.

    Bastar, neste contexto, notar que James se opunha

    psicologia de instrumentos de lato 3 de Wundt, comsua anlise excessivamente minuciosa de contedos men-

    2) Ou ao excelente livro em dois volumes do Prof. R. B.PERRY, The Trough and Charactcr of William James, Little,Brown and Company, Boston 1936.

    3) Instrumento de lato uma faccia que caracterizao tipo de psicologia que utiliza os aparelhos e tcnicas dofisilogo ou do fsico na investigao da mente.

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    tais; sustentava que a mente era algo pessoal, mu-tvel, contnuo, bem como um agente seletivo, tra-tando de objetos outros que a si prprio; e promovia a

    opinio darwiniana de que a mente evoluiu com o pro-psito de dirigir um sistema nervoso aumentado a talcomplexidade que j no pode regular a si prprio.Fz tudo isso, e mais, com tal proficincia e vigor, comtestemunhos to bem escolhidos e ilustraes to viva-zes, que nenhum norteamericano intelectualmente alerta

    depois de 1890, quando o The Principiesfoi publicado,poderia sem mais ignorlo. No estabeleceu uma escolanem pertenceu a qualquer uma; tinha um sistemaprprio e nunca o promoveu. Seus intersses leva-ramno logo a outros campos. Deixou, entretanto, mar-ca indelvel e indescritvel na nova psicologia.

    Tendo presentes estas caractersticas gerais do fun-cionalismo, podemos agora examinar o prprio sistema.

    No ser tarefa to fcil, e falhas sero encontradas nes-te relato desde que foi necessrio tomar e escolher devrias fontes para mostrar as qualidades distintivas dosistema. Entre os membros do grupo funcionalista nohavia muita nfase no sistema como sistema, nem tantaunanimidade de crenas sintome tentado a dizer,horror heresia como prevalecia no campo estruturalista.

    O objeto da psicologia, para o funcionalista, era aatividade mental . ste trmo foi empregado por Carr,um dos mais sistematizadores do grupo e que muito fz

    para cristalizar e modificar os ensinamentos da escolapara o consumo contemporneo. Atividade mental

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    3 Keler

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    um trmo geral que no deve ser confundido com oprocesso mental de Titchener. Referese a processosmentais como o pensamento, sentimento, imaginao,

    percepo e que tais; no a processos elementares comovermelho, doce ou d sustenido, ou mesmo com-plexos perceptivos ou imagticos dos quais so com-ponentes.

    As atividades mentais so categorias definidamentedistintas mas muito elsticas. Cada atividade mental

    individual pode acarretar um nmero de contedos men-tais como o estruturalista descrevia, nenhuma das quaisdeveria necessriamente ser exatamente duplicada de ob-servao para observao. Assim, dada atividade, talcomo pensar, nunca poderia ser reinstalada com omesmo contedo de idias ou imagens; mas pensar

    comojuno do organismo humano poderia repetirsesempre. Podemos, por exemplo, pensar atravs deum certo problema matemtico muitas vzes sem usarnunca as mesmas imagens mentais, e no entanto asfunes implicadas seriam as mesmas com respeito aofator mais importante chegar soluo correta.

    Alm disso, a atividade mental descrita comoatividadepsicojsica. Esta concepo s vzes difcilde compreender mesmo pra o estudante adiantado, central na doutrina funcionalista. Dewey sustentava queos aspectos fsicos e mentais da experincia no devemser tratados distintamente na psicologia. Nas palavras

    de uma resenha recente: atos mentais no so eventosfsicos pura e simples, so eventos nos quais tanto o

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    fsico como o psquico esto presentes 4. Carr escrevecom o mesmo propsito quando diz que as atividadesmentais no s so experienciadas, como so tambmreaes de um organismo fsico.. . So atos dos quaiso indivduo tem algum conhecimento ... que envolvemdiretamente estruturas tais como os rgos dos sentidos,msculos e nervos. Nenhum dstes eminentes funcionalistas admitiria que uma separao rgida entre corpoe mente fsse frutfera para a psicologia.

    Os mtodos da psicologia, de acordo com um funcionalista como AngelI, so a introspeco, ou obser-vao subjetiva e a observao objetiva das cinciasfsicas. Diz Carr: Observaes objetivas so refern-cias apreenso de operaes mentais de ura outroindivduo na medida em que se refletem no seu com-

    portamento. As observaes subjetivas referemse aapreenso das prprias operaes mentais do observador.

    As vantagens e desvantagens de cada um dos tiposde observao so discutidas por Carr na sua Psicologia(1925). Indica que enquanto a introspeco prov umconhecimento mais ntimo e compreensivo dos eventos

    mentais, uma forma difcil de observao para apessoa mdia. As modificaes caleidoscpicas da vidamental iludem a quem no seja observador treinado, emesmo o relato dste no verificvel pois de natu-reza essencialmente pessoal. Os mtodos objetivos de-vem, sempre que possvel, suplementar o subjetivo, e so

    4) E D N A HEIDBREDER, Seven Psychologies, The CenturyCo., 1933, p. 213.

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    bviamente preferveis no estudo de animais, crianas,primitivos e insanos.

    Oproblema

    da psicologia, para o funcionalista, q