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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ ARIADINIS BARATA DIAS GENOVEZ A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES Biguaçu 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ARIADINIS BARATA DIAS GENOVEZ

A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS

ASTREINTES

Biguaçu

2010

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ARIADINIS BARATA DIAS GENOVEZ

A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS

ASTREINTES

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial à obtenção do grau em Bacharel em Direito. Orientadora: Profa. MSc. Solange Lúcia Heck Kool

Biguaçu 2010

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ARIADINIS BARATA DIAS GENOVEZ

A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito Processual Civil

Biguaçu, 31 de maio de 2010.

Profa. MSc. Solange Lúcia Heck Kool UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientadora

Prof. MSc. Nome Instituição Membro

Prof. MSc. Nome Instituição Membro

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Dedico este trabalho a minha mãe, Donizeti Aparecida Barata Dias,

verdadeiramente meu maior incentivo para continuar e

o maior amor do mundo. Aos meus irmãos Alessandro Barata Prado e

Adriano Barata Prado, e ao meu sobrinho Luuã Cabral Barata,

por terem sempre acreditado em mim.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente pela dádiva da vida.

Mais uma vez a minha mãe, Donizeti Aparecida Barata Dias, pelo

sorriso sempre aberto, pelo colo sempre disponível, pela batalha em me fazer

chegar aonde ela não teve oportunidade de estar.

Ao meu irmão, Adriano Barata Prado, um incentivo recíproco, inclusive

na companhia para cursar esta faculdade.

Ao meu irmão Alessandro Barata Prado, com quem sempre pude

contar, apesar de todas as nossas diferenças.

Ao meu sobrinho, Luuã Cabral Barata, que me contagia com a alegria

de criança nos momentos mais críticos.

A todos os meus amigos de perto e de longe, que estiveram ao meu

lado em presença ou em pensamento nesses cinco anos de faculdade, por cada

palavra de força, momentos bons de festas e de dedicação, onde pude buscar

ajuda tendo a certeza de que a encontraria.

Aos Mestres de Direito, que por vezes foram a nossa família, nos

transmitindo seus conhecimentos, compartilhando sua experiência, em especial a

minha Orientadora Solange Lúcia Heck Kool, que acreditou na minha capacidade,

e que, me deu o suporte para conclusão deste trabalho.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho,

meus sinceros agradecimentos.

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Dê a um menino um chocolate e o fareis rir de alegria; mas para fazê-lo chorar bastará dar simultaneamente dois a seu irmão. Esse menino, que não entende de Códigos, nem de justiça distributiva, nem de ato normativo, gritará entre lágrimas

que ''não é justo'' que ele tenha um só chocolate e seu irmão dois: e a dor da injustiça, em definitivo, terá superado e dominado o prazer do obséquio.

Luigi Vittorio Berliri

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade

do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 31 de maio de 2010.

Ariadinis Barata Dias Genovez

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RESUMO

A presente monografia tem por escopo investigar o disposto no art. 5 º, inciso XXXV da Constituição Federal, e nos art. 273, 461 e 461-A do Código de Processo Civil, qual seja a análise da exigibilidade ou não de adimplemento da multa cominatória nos casos em que, depois de deferida liminar e sendo esta descumprida até a análise do mérito, a sentença foi de improcedência. O problema formulado questiona exigibilidade ou não da pena cominatória em casos de descumprimento de decisão liminar, quando da prolação de sentença de improcedência nas ações de cumprimento de obrigação de fazer e não fazer, e de entrega de coisa, identificando qual o entendimento doutrinário e jurisprudencial sobre o tema. Existem duas correntes que definem o assunto. Uma delas afirma que em sendo a multa um instrumento meramente processual, não deve acompanhar a análise da ação, assim é devida mesmo que a ação seja julgada improcedente. Neste sentido, a falta de aplicação da multa seria o mesmo que deixar de considerar que o réu não cumpriu decisão judicial. Outra corrente afirma que a multa somente seria devida após o trânsito em julgado da ação. Quanto a esta corrente os doutrinadores afirmam que a ação sendo desprovida, a referida multa segue a principal se tornando inexigível, ficando vinculada ao mérito da ação. A escolha do tema se deu em primeiro momento, pelo anseio de pesquisar mais a fundo a aplicabilidade do processo civil no cotidiano do operador do direito. Neste sentido, foi buscado durante os últimos semestres, assuntos da atualidade, e que estivesse sem solução pacificada entre doutrinadores e aplicadores do direito.Num segundo momento, houve a oportunidade de o autor do presente projeto, presenciar um tema que estivesse cumprindo os requisitos de maneira a oportunizar a presente pesquisa. Por fim, este estudo foi aprofundado, haja vista a importância da solução da questão no dia a dia dos operadores do direito. A pesquisa será voltada aos aspectos doutrinários, legais e jurisprudenciais que o presente tema pode abordar, de suma importância para o alcance do direito e justiça. Empregando-se o método dedutivo, entendido como aquele que parte do geral para o específico, estabeleceu-se como ponto de partida o estudo do conceito de obrigações e de tutela específica, posteriormente tratou-se da aplicação da multa cominatória, para então enfrentar a problemática, qual seja, as divergências jurídicas acerca da influencia da decisão final de mérito e a exigibilidade da multa. Palavras-chave: Obrigação de fazer. Obrigação de não fazer. Obrigação de entrega de coisa. Tutela específica. Pena pecuniária. Multa. Astreinte. Execução provisória. Sentença de improcedência.

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ABSTRACT

This thesis aims at investigating the provisions of art. 5, item XXXV of the Federal Constitution and Art. 273, 461 and 461 of the Code of Civil Procedure, which is examining the enforceability or otherwise of the penalty payment where, after being accepted and this injunction breached until analysis of the merits, the sentence was dismissed action. The problem formulated questions of liability or non-coercive penalty in cases of breach of injunction, when the pronouncement of sentence for refusing to comply with the actions required to do and not do, and delivery of thing, identifying where an understanding of doctrine and jurisprudence on the subject. There are two trends that define the subject. One says that in the fine being a purely procedural, not to accompany the action analysis, and is payable even if the action is dismissed. In this sense, the lack of enforcement of the penalty would be to overlook that the defendant has not complied with a court decision. Another thought is that the fine would be payable only after the action of res judicata. As for this current writers affirm that the action being devoid, that follows the main fine becoming unenforceable, bound by the merits of the action. The choice of topic was in the first instance, by a desire to further assess the applicability of civil procedure in the daily operator's right. In this sense, was sought during the past semesters, current affairs, and that no solution was pacified among scholars and applicators. In a second time there was an opportunity to the author of this project witnessed a theme that was fulfilling the requirements of way to create opportunities to present research. Finally, this study was thorough, considering the importance of settlement of the day to day operators of the law. The research will focus on doctrinal issues, legal and jurisprudential that this issue can be addressed, of paramount importance to the achievement of law and justice. Employing the deductive method, understood as that part of the general to specific, established himself as a starting point to study the concept of obligations and specific protection, subsequently dealt with the application of punitive fine, and then face the problem, that is, disagreements about the legal influence the final decision on the merits and enforceability of the fine. Keywords: Obligation to do. Obligation not to do. Obligation to deliver something. Specific protection. Pecuniary punishment. Fine. Astreinte. Provisional execution. Judgement of dismissal.

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ROL DE ABREVIATURA

Art – Artigo CC – Código Civil de 2002 CF – Constituição Federal de 1988

CPC – Código de Processo Civil CP – Código Penal STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TJ/PR – Tribunal de Justiça do Paraná

TJ/RS – Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

TJ/SC – Tribunal de Justiça de Santa Catarina

TJ/SP – Tribunal de Justiça de São Paulo

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ROL DE LOCUÇÕES ESTRANGEIRAS

A quó – “Juiz ou tribunal de instância inferior, de onde provém o processo objeto de recurso; dia ou termo inicial de um prazo. Locução latina em uso na linguagem forense, para designar o juiz de instância inferior ou aquele de onde procedeu a demanda, ou ato que se discute em outro juízo.[...]”1 Astreintes – “Vocábulo de origem francesa, sem tradução para o vernáculo, indica, na técnica processual civil, a pena pecuniária nas execuções. É medida cominatória de constrição contra devedor de obrigação de fazer ou não fazer, cujo valor diário, fixado pelo juiz na sentença executada, que durará enquanto permanecer a inadimplência.”2 Codex – “Código. Derivado do latim codex, tirado de caudex (tronco de árvore, primitivamente, com a significação de tábua ou prancha, passou a designar toda espécie de coleção de escritos sobre determinados assuntos. Na terminologia jurídica significa coleção de leis.”3 Código Procesal Civil e Comercial de la Nacion – Código de Processo Civil e Comercial da nação Argentina4. Contempt of court – “Pode-se definir o contempt of court como a ofensa ao órgão judiciário ou à pessoa do juiz, que recebeu o poder de julgar do povo, comportando-se a parte conforme suas conveniências, sem respeitar a ordem emanada da autoridade judicial. “5 Decisum – “Decisão. Derivado do latim decision, de decidere (compor, harmonizar, arbitrar, resolver), significando o ato de decidir, quer dizer a deliberação, que se toma a respeito de certos fatos, ou a solução que se dá a respeito dos mesmos ou de certas coisas.”6

1 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.128. 2 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.153. 3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.302. 4 ARGENTINA. Código procesal civil e comercial de la nacion. Disponível em <http://www.infoleg.gov.ar/infolegInternet/anexos/15000-19999/16547/texact.htm#2>. Acesso em: 22 de abril de 2010. 5 ASSIS, Araken de. O Contempt of Court do Direito Brasileiro. Textos da Academia Brasileira de Direito Processual Civil. Disponível em: < http://www.abdpc.org.br/artigos/artigo6.htm>. Acesso em 25 de maio de 2010. 6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.414

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Ex nunc – “De agora em diante; a partir do presente momento; sem efeito retroativo.”7 Ex tunc – “De então, ou desde então; com efeito retroativo.”8 Fumus boni iuris – “Expressão que significa que o alegado direito é plausível (fumaça do bom direito). A expressão é geralmente usada como requisito ou critério para a concessão de medidas liminares, cautelares ou de antecipação de tutela, bem como no juízo de admissibilidade da denúncia ou queixa, no foro criminal.”9 In casu – “Na espécie em julgamento.”10 In natura – “Na natureza, da mesma natureza.”11 Ipso facto – “Expressão latina, significando pelo mesmo fato, usada na linguagem jurídica para exprimir a modificação ou a alteração de uma situação jurídica ], operada naturalmente, sem qualquer pronunciamento da justiça, pela evidência do fato, de que decorre: o abandono do cargo, por determinado tempo, pelo funcionário, sem motivo justificado, importa ipso facto em sua renúncia.”12 Nomem iuris – “Locução latina aplicada como expressão técnico-jurídica, no sentido de denominação legal.”13 Periculum in mora – “Perigo de mora, perigo na demora.”14

7 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.569 8 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.569 9 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.641. 10 Dicionário de Latim Forense. Disponível em <http://www.centraljuridica.com/dicionario/g/2/l/p/dicionario_de_latim_forense/dicionario_de_latim_forense.html>. Acesso em 25 de maio de 2010. 11 Dicionário de Latim Forense. Disponível em <http://www.centraljuridica.com/dicionario/g/2/l/p/dicionario_de_latim_forense/dicionario_de_latim_forense.html>. Acesso em 25 de maio de 2010. 12 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.776. 13 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.957. 14 Dicionário de Latim Forense. Disponível em <http://www.centraljuridica.com/dicionario/g/2/l/p/dicionario_de_latim_forense/dicionario_de_latim_forense.html>. Acesso em 25 de maio de 2010.

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Quantum – “Quantia (em pecúnia pedido em condenação).”15 Status – “Voz latina, que se traduz por estado, foi frequentemente usado pelo Direito Romano no mesmo sentido de caput e de conditio. [...] Atualmente, designa o conjunto de direitos e deveres que caracterizam a posição de uma pessoa em relação com as outras.”16

15 Dicionário de Latim Forense. Disponível em <http://www.centraljuridica.com/dicionario/g/2/l/p/dicionario_de_latim_forense/dicionario_de_latim_forense.html>. Acesso em 25 de maio de 2010. 16 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 25.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 1327.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 1 TUTELA ESPECÍFICA ............................................................................ 17

1.1 CONCEITO DE TUTELA ESPECÍFICA.................................................... 21 1.2 ESPÉCIES DE TUTELAS JURISDICIONAIS ........................................... 24 1.2.1 TEORIA TRINARIA ....................................................................................... 24 1.2.1.1 TUTELA DE CONHECIMENTO ........................................................... 25 1.2.1.2 TUTELA DE EXECUÇÃO................................................................... 27 1.2.1.3 TUTELA CAUTELAR........................................................................ 29 1.2.2 TEORIA QUINÁRIA....................................................................................... 30 1.2.2.1 EFICÁCIA DECLARATÓRIA ............................................................... 31 1.2.2.2 EFICÁCIA CONSTITUTIVA ................................................................ 32 1.2.2.3 EFICÁCIA CONDENATÓRIA .............................................................. 33 1.2.2.4 EFICÁCIA EXECUTIVA ..................................................................... 34 1.2.2.5 EFICÁCIA MANDAMENTAL ............................................................... 34 1.3 PROCEDIMENTO NAS AÇÕES DE CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE

FAZER, NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA ........................................ 35 1.4 A MULTA COMINATÓRIA NAS AÇÕES DE CUMPRIMENTO DE

OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA ............ 39 2 A INCIDÊNCIA DA MULTA COMINATÓRIA NAS AÇÕES DE CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA 43

2.1 MOMENTO PROCESSUAL DE APLICAÇÃO DA PENA COMINATÓRIA PELO ESTADO-JUIZ ............................................................................... 44

2.2 A ADEQUAÇÃO DA PENA COMINATÓRIA E A DISCRICIONARIEDADE DO MAGISTRADO................................................................................... 49

2.3 A APLICAÇÃO DAS ASTREINTES CONTRA A FAZENDA PÚBLICA, CONTRA O PRÓPRIO AUTOR E CONTRA TERCEIROS ....................... 52

2.4 O BENEFICIÁRIO DO CRÉDITO DA MULTA; ......................................... 55 3 A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES........................................................................................................ 59

3.1 O EFEITO DOS RECURSOS SOBRE A EXIGIBILIDADE DAS ASTREINTES; ......................................................................................... 59

3.2 A ASTREINTE E O PROCESSO DE EXECUÇÃO OU CUMPRIMENTO DE SENTENÇA; ............................................................................................ 66

3.3 A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES .......................................................................................... 71

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3.4 APONTAMENTOS JURISPRUDENCIAIS ACERCA DA DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES............................... 75

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 88

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15

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como estudo a exigibilidade da pena de multa

na tutela específica quando da sentença de improcedência. Neste sentido vem

analisar o disposto no art. 5 º, inciso XXXV da Constituição Federal, e nos art. 273,

461 e 461-A do Código de Processo Civil.

O problema central se dá quando de uma ação de obrigação de fazer, não

fazer ou entrega de coisa, o juiz defere um pedido de tutela específica em liminar

e define pena cominatória em caso de descumprimento. Uma corrente afirma que

se o réu descumpra a liminar, até que o processo chegue à sentença, que declara

a ação improcedente, seria a multa um instrumento meramente processual, não

acompanhando a análise da ação. Assim é devida mesmo que a ação seja julgada

improcedente. Neste sentido, a falta de aplicação da multa seria o mesmo que

deixar de considerar que o réu não cumpriu decisão judicial.

Porém, grande divergência, existe quando outra corrente afirma que a multa

somente seria devida após o trânsito em julgado da ação. Quanto a esta corrente

os doutrinadores afirmam que a ação sendo desprovida, a referida multa segue a

principal se tornando inexigível, ficando vinculada ao mérito da ação.

É nesse momento que surge a controvérsia, ponto de exame da presente

pesquisa e alvo de entendimentos divergentes.

Neste sentido, tais indagações fizeram refletir quanto à exigibilidade ou não

de adimplemento da multa cominatória nos casos em que, depois de deferida

liminar e sendo esta descumprida até a análise do mérito, a sentença foi de

improcedência da ação.

Assim, o objetivo do trabalho é o estudo sobre as espécies de tutela

específica, e análise de forma geral da natureza jurídica, a aplicação e a

obrigatoriedade de pagamento da pena cominatória, bem como de sua

exigibilidade em ação de obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa.

Para tanto, a presente pesquisa é dividida em três partes distintas, nas

quais, se desenvolverá todo o arcabouço teórico pertinente.

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16

No primeiro capítulo, discorrer-se-á sobre a tutela específica em si. As

espécies de tutelas jurisdicionais, o conceito de tutela específica, o procedimento

nas ações de cumprimento de obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa,

bem como introduziremos o estudo quanto à pena cominatória nas ações de

cumprimento de obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa;

No segundo capítulo, serão evidenciados o modus operandi da

exigibilidade da pena cominatória nas ações de cumprimento de obrigação de

fazer, não fazer e entrega de coisa. Neste capítulo abordaremos o momento

processual de aplicação da pena cominatória pelo Estado-Juiz, bem como a

adequação da pena cominatória e diante da discricionariedade do magistrado.

Verificar-se-á contra quem a multa poderá ser imposta, bem como os beneficiários

desta.

Já no terceiro capítulo, examinar-se-á mais detalhadamente a exigibilidade

da multa na tutela de obrigação específica, a natureza jurídica da pena

cominatória nas ações de cumprimento de obrigação de fazer e não fazer, e

entrega de coisa quando da prolação de sentença de improcedência, e os

apontamentos doutrinários e jurisprudenciais acerca do tema.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, será utilizado o método

dedutivo, que consiste em pesquisas que partirão dos conceitos de tutela

específica; o procedimento nas ações de obrigações de fazer, não fazer e entrega

de coisa; a relação da pena cominatória em tais ações; até chegar ao problema do

projeto, que seria a exigibilidade da multa na tutela de obrigação específica.

Com efeito, será utilizada a técnica de documentação indireta, através da

pesquisa documental, que envolverá como mencionado, análise do disposto no

art. 5 º, inciso XXXV da Constituição Federal, e nos art. 273, 461 e 461-A do

Código de Processo Civil, e da pesquisa bibliográfica em livros, artigos, jornais e

revistas que versem sobre tutela específica, a fim de alcançar uma solução ao

problema proposto.

Enfim, pretende-se com a presente pesquisa, contribuir para o

esclarecimento de alguns pontos controvertidos/ polêmicos quando da concessão

de tutela específica, cominada com multa em caso de descumprimento.

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17

1 TUTELA ESPECÍFICA

Neste primeiro capítulo discorrer-se-á sobre a tutela específica em si. Serão

abordadas as espécies de tutelas jurisdicionais, o conceito de tutela específica, o

procedimento nas ações de cumprimento de obrigação de fazer, não fazer e

entrega de coisa, bem como o estudo quanto à pena cominatória nas ações de

cumprimento de obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa.

Importante destacar, num primeiro momento, as situações abrangidas pelo

instituto que será analisado, e que se encontra disposto nos artigos 461 e 461-A

do CPC, onde estão disciplinadas as condutas a serem observadas nas

obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa. Neste sentido, cabe tecer um

breve comentário acerca do direito das obrigações, da idéia de jurisdição e

processo, para chegarmos às tutelas jurisdicionais.

Obrigação é um vínculo jurídico que outorga ao devedor o direito de exigir o

cumprimento de uma prestação por parte do credor17. Maria Helena Diniz afirma

que o direito obrigacional é aquele que regula as relações jurídicas de natureza

pessoal, cujo objeto é de cunho patrimonial, em que haja ação ou omissão da

parte vinculada à relação. Assim, diante do descumprimento espontâneo da

prestação, o credor tem a capacidade de postular o seu cumprimento através de

ação judicial18.

Para o autor José Eduardo Carreira Alvim, a obrigação é norteada

basicamente pelo fato de que toda ela deve ser satisfeita pelo devedor, ou então,

a sua custa, podendo, em alguns momentos, ser convertida em perdas e danos19.

Em verdade, é cabível afirmar que habitualmente a obrigação vincula as partes em

caráter transitório, onde cumprida a obrigação pactuada, extingue-se o direito;

17 GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito civil brasileiro, volume II: teoria geral das obrigações. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2006, vl. 2, p.21. 18 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 2º volume: teoria geral das obrigações. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, vl. 2, p. 3. 19 ALVIM, J. E. Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 38.

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18

possui um caráter pessoal, em que somente pode ser cumprida pelas partes que

pactuaram; também possui um caráter econômico, já que gera encargos

financeiros às partes, assim como, o credor tem como garantia o patrimônio

pessoal do devedor; e, por fim, a prestação pode ser positiva – dar e fazer - ou

negativa - não fazer20.

Neste diapasão, Maria Helena Diniz ainda traduz a estrutura jurídica da

relação obrigacional em três vértices principais. O primeiro elemento estrutural é o

pessoal, ou subjetivo, que garante que existam dois sujeitos para compor a

relação, o passivo, que seria o devedor, e o ativo, que seria o credor. O segundo

elemento seria o material, referindo-se ao objeto da obrigação, positiva ou

negativa. E por fim, o terceiro elemento seria o vínculo jurídico que sujeita o

devedor ao cumprimento do desejo do credor21.

Especificamente quanto ao elemento material, afirma-se que existem

formas, ou espécies de obrigações. Conforme Carlos Alberto Gonçalves

coleciona:

As codificações seguiram rumos diversos quanto à abrangência geral das obrigações. O legislador brasileiro manteve-se fiel à técnica romana, dividindo-as, em função de seu objeto, em três grupos: obrigações de dar, que se subdividem em obrigação de dar coisa certa e coisa incerta, obrigações de fazer e obrigações de não fazer. Os nossos Códigos, tanto o atual como o anterior, afastaram-se do direito romano apenas no tocante à terceira categoria, substituindo o praestare, dada a sua ambigüidade, pelo non facere. (grifo do autor) 22.

As formas de extinção destas obrigações podem ser através do pagamento

direto ou cumprimento voluntário da obrigação pelo devedor; pelo pagamento

indireto ou mediante consignação, sub-rogação, imputação do pagamento ou

outros institutos dispostos no CC de 2002; pela prescrição ou implemento de

20 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 2º volume: teoria geral das obrigações, p. 33. 21 ______. Curso de direito civil brasileiro, 2º volume: teoria geral das obrigações. p. 34-43. 22 GONÇALVES, Carlos Alberto. Direito civil brasileiro, volume II: Teoria geral das obrigações, p.21.

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condição ou termo extintivo da obrigação; ou ainda pela execução forçada, através

de sentença judicial23.

Para uma convivência social harmônica gerou a necessidade de

acompanhamento e regulamentação jurídica das atividades interpartes, surge

então a figura do Estado. A ele é atribuída a função de criar regras que eliminem

os conflitos oriundos de uma insatisfação social, podendo ser um direito difuso ou

coletivo, ou ainda oriunda de uma insatisfação individual24.

Entretanto, a atuação do Estado era deveras morosa, o que levava a

descrença e ao distanciamento da população. Foi necessária uma reforma do

direito processual brasileiro, para que o Estado se tornasse mais garantista diante

do que “prometia” aos litigantes quanto aos resultados das ações. A partir de

então aplica-se mais efetivamente o instituto da tutela específica, ainda frágil e

pouco utilizado no CPC de 193925.

A CF veio garantir em seu artigo 5º, inciso XXXV, que “a lei não excluirá da

apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Tal dispositivo pode

garantir a aplicação das espécies de tutelas jurisdicionais, aos que temem ver seu

direito lesado. Neste sentido menciona Alexandre de Moraes:

O princípio da legalidade é basilar na existência do Estado de Direito, determinando a Constituição Federal sua garantia, sempre que houver violação do direito, mediante lesão ou ameaça (art. 5º, XXXV). Dessa forma, será chamado a intervir o Poder Judiciário, que, no exercício da jurisdição, deverá aplicar o direito ao caso concreto26.

Sob este prisma, a jurisdição vem para efetivar a aplicação do poder do

Estado, através do Judiciário, visando solucionar conflitos decorrentes de relações

sociais. Diz-se que a causa da atividade jurisdicional é o conflito, e sua principal

atividade é solucioná-lo, uma vez que nenhuma das partes pode impor suas

23 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, 2º volume: teoria geral das obrigações, p. 228-229. 24 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil, volume 2: processo de conhecimento. 6.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, vl. 2, p. 31. 25 ______. Antecipação da tutela. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 21. 26 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 71.

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vontades ao outro litigante27.

Assim, o Estado passa a ser o único devidamente capaz de aplicar o direito

material diante de situações litigiosas, e ainda a efetivamente fazer cumprir um

comando legal. Diante desta atividade, pode-se dizer que “jurisdição é a função do

Estado de declarar e realizar, de forma prática, a vontade da lei diante de uma

situação jurídica controvertida”28.

No Brasil, a CF em seus artigos 92 à 126, define a competência que os

órgãos têm para julgar determinados grupos de litígios. Por isso fala-se em

“justiça” trabalhista, eleitoral, militar, federal e estadual. Também na CF é definida

a atuação do STF e do STJ29.

Eduardo Talamini, entende que sempre houve, diante do prisma do direito

material, a preferência pelo resultado, entretanto, faltavam mecanismos

processuais que garantissem a eficácia da norma jurídica. Desta carência,

surgiram as tutelas jurisdicionais, que trariam celeridade e eficácia ao

procedimento (dentre elas a que possibilita ao jurisdicionado a obtenção da tutela

específica do direito material)30.

Já Humberto Theodoro Júnior afirma que:

Nessa ótica de encontrar efetividade do direito material por meio dos instrumentos processuais, o ponto culminante se localiza, sem duvida, na execução forçada, visto que é nela que, na maioria dos processos, o litigante concretamente encontrará o remédio capaz de pô-lo de fato no exercício efetivo do direito subjetivo ameaçado ou violado pela conduta ilegítima de outrem31.

27 ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 71. 28 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, v.1, p.38-40. 29 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988, Artigos 92-126. 30 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 37. 31 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência. 41.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, v. 2, p. 6.

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Por sua vez, Luiz Guilherme Marinoni afirma que o processo deve obedecer

às características das formas de tutelas prometidas pelo direito material,

garantindo a todos uma tutela jurisdicional e efetiva. Sendo assim, o direito e a

técnica processual devem andar lado a lado, equiparados32.

A atividade jurisdicional do Estado, portanto, vem direcionada ao fato de

garantir à parte litigante o direito que ora postula em face de outrem, que tem um

dever jurídico a prestar ou abster em face daquele que demanda33.

Vê-se então a tutela jurisdicional, como um instituto garantido pela CF em

seu artigo 5 º, inciso XXXV34, que propõe evitar uma possível lesão ao litigante,

antes de ter que repará-la. É uma espécie de proteção que a parte vem requerer

ao Judiciário para que haja a efetiva aplicação de seu direito, sem maiores

obstáculos, como a perda ou deterioração do objeto da lide. E como será

demonstrado adiante, as tutelas jurisdicionais podem ser classificadas de acordo

com as matérias das ações em que são requeridas35.

1.1 CONCEITO DE TUTELA ESPECÍFICA

Como mencionado anteriormente, diante da lentidão do Estado em fazer

cumprir suas decisões judiciais, os aplicadores do direito utilizaram-se do instituto

32 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil – comentado artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 424-425. 33 CARVALHO, Francisco José. ALVIM, Arruda (coord.). Atualidades do processo civil. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2007, p. 153. 34 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. “Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;[...]” 35 BACCHELLI, [...]. A Sentença no processo civil e sua classificação. Disponível em <http://professorbacchelli.spaceblog.com.br/184159/A-Sentenca-no-Processo-Civil-e-sua-Classificacao/>. Acesso em: 11 de maio de 2009.

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da tutela jurisdicional para acelerar o processo de satisfação da pretensão36.

Conforme elucida Arruda Alvim, esta é uma forma que dispõe o legislador de

tornar mais eficiente o sistema judiciário, garantindo um maior acesso à Justiça37.

Neste sentido, deve-se observar atentamente a distinção entre tutela

específica e tutela antecipada, uma vez que na prática muitos confundem, ou até

mesmo tratam ambas como se fossem a mesma. A primeira trata exclusivamente

das ações de obrigação de fazer, não fazer e entrega de coisa, enquanto a

segunda trata de outra qualquer pretensão, por exemplo, “a obrigação de pagar ou

o direito de fazer”38.

Não obstante, José Eduardo Carreira Alvim, acredita que as espécies de

tutela antecipada e específica podem ser ambas classificadas como formas de

tutelas de urgência. Assim, possuem a mesma natureza jurídica, pretendendo

satisfazer essencialmente a pretensão da parte, antes do momento considerado

natural, que seria a sentença39.

Entretanto, acredita o jurista que o legislador expressou-se erroneamente

quando da edição da norma, uma vez que o artigo 461 do CPC40 traz a palavra

“cumprimento” no sentido de obrigação, e fica vinculado a um processo de

conhecimento. Inobstante, da forma como escrito o referido artigo pode levar a

confusão com a execução da obrigação de fazer, mencionada nos artigos 63241 e

64442 do mesmo diploma legal43.

36 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação da tutela, p. 21. 37 ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, v. 2, p. 360. 38 ALVIM, J. E. Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, p. 23-25. 39 ______. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, p. 59. 40 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.[...]” 41 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 632. Quando o

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Humberto Theodoro Júnior conceitua a tutela específica quando afirma que

“Ao cumprimento forçado, em juízo, da prestação na forma prevista no título da

obrigação de fazer ou não fazer, atribuiu-se o nomem iuris de tutela específica. A

execução do equivalente econômico denominou-se ‘tutela substitutiva’ ou

‘subsidiária’.” 44.

Já o autor Eduardo Talamini contesta tal teoria do equivalente econômico

como forma de substituição da tutela primeiramente pretendida ao afirmar que:

Afirma-se, por vezes, que é “específica” a tutela que confere ao titular do direito o mesmo bem que se teria se não houvesse a transgressão, e “genérica” a que propicia o equivalente pecuniário. Mas, se fosse rigorosamente esta a distinção, seria “específica” a execução (“por quantia certa”) de uma dívida originariamente pecuniária. A classificação perderia sua relevância processual, pois reuniria em um mesmo grupo mecanismos de tutela significativamente distintos45.

Para tal problemática o mesmo doutrinador assegura que a forma genérica

da prestação da tutela especifica, seria qualquer forma de tutela em que se

obtenha o dinheiro em forma de responsabilização do patrimônio do devedor, seja

mediante dinheiro em espécie, seja mediante a transformação do patrimônio deste

em pecúnia, através da expropriação46.

No mesmo sentido, Nelson Rodrigues Netto afirma que haverá a tutela

específica sempre que o objeto da prestação jurisdicional coincidir com o

objeto da execução for obrigação de fazer, o devedor será citado para satisfazê-la no prazo que juiz lhe assinar, se outro não estiver determinado no titulo executivo.” 42 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 644. Havendo recusa ou mora do devedor, o credor requererá ao juiz que mande desfazer o ato à sua custa, respondendo o devedor por perdas e danos. Parágrafo único: Não sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação resolve-se em perdas e danos.” 43 ALVIM, J. E. Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, p. 59. 44 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência, p.34. 45 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 229. 46 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 230.

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provimento jurisdicional. O processo garante ao autor exatamente o bem jurídico a

que se referia a obrigação, por isto a denominação ‘específica’47.

A tutela específica seria, portanto, uma das espécies de tutela antecipada,

que possui maior especialidade e peculiaridade em sua aplicação48, e a partir

deste momento serão abordadas as formas de aplicação de tal instituto.

1.2 ESPÉCIES DE TUTELAS JURISDICIONAIS

Ao adentrar no assunto das espécies de tutela, convém salientar que após

a edição do Código de Defesa do Consumidor se passou a admitir diversas

espécies de ações para assegurar a efetiva tutela jurisdicional49.

Sob este prisma, quando é tratado o tema de tutelas jurisdicionais a

doutrina se divide quanto a classificação das espécies de ações, ou dos objetos a

serem tutelados. Pode-se verificar a Teoria Trinária, que classifica o instituto da

tutela jurisdicional em três espécies; e a Teoria Quinária, que classifica a tutela

jurisdicional em cinco espécies. Ambas as classificações são baseadas na

natureza da sentença que se espera50.

1.2.1 Teoria Trinaria

47 NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu, p. 137. 48 FRIEDE, Reis. Tutela antecipada, tutela específica e tutela cautelar: (à luz da denominada reforma do código de processo civil). 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.245. 49 FILOMENO, José Geraldo Brito. Curso fundamental de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2007, p. 195. 50 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009.

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A primeira teoria mencionada, a Teoria Trinária, divide as tutelas em

jurisdicional de cognição ou de conhecimento, jurisdicional de execução e

jurisdicional cautelar ou de assecuração. Tal teoria vem sendo colocada em prova

por alguns autores, uma vez que existem outras espécies de tutela a serem

asseguradas pelas sentenças no processo, e quando a força executiva da

sentença é limitada às três classificações iniciais, pode ocorrer um prejuízo ao

jurisdicionado51.

1.2.1.1 Tutela de conhecimento

A tutela de cognição ou conhecimento, de acordo com Luiz Guilherme

Marinoni, vem admitir que o aplicador do direito haja de acordo com as reais

necessidades da parte a ser tutelada52.

Neste diapasão, Nelson Rodrigues Netto, entende que a tutela cognitiva

pode ser subdividida em três modalidades: declaratória, constitutiva e

condenatória. A tutela denominada declaratória delimita-se a existência ou

inexistência de uma relação jurídica, o que acaba generalizando à quase toda

decisão judicial, uma vez que elas sempre acabam por declarar a quem pertence

um determinado direito. Já a tutela constitutiva, além do teor declaratório,

acrescenta os elementos constitutivos, modificativos ou extintivos de uma relação

jurídica. E por fim, a tutela condenatória, está integralmente ligada à sentença

condenatória que visa criar um título executivo, concomitantemente à sanção

correspondente ao cumprimento da ordem judicial53.

Já para Luiz Guilherme Marinoni, a tutela de conhecimento pode ser

subdividida em duas direções, ou seja, na horizontal – “quando a cognição pode

51 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 71 52 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação da tutela, p. 33. 53 NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 26.

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ser plena ou parcial” – ou na vertical – “em que a cognição pode ser exauriente,

sumária e superficial.”54.

Na tutela de conhecimento parcial, o magistrado pode garantir a

antecipação da tutela de determinado bem, ficando impedido de analisar questões

excluídas pelo legislador, questões estas que dêem conteúdo a uma outra

demanda. É o que acontece nas ações de busca e apreensão, onde é garantido

ao credor em 5 (cinco) dias a restituição do bem, para que possa dispor livremente

do mesmo, ainda que sem a oitiva do devedor quanto aos motivos do

inadimplemento do contrato55.

Ainda na direção horizontal, entretanto, diferentemente da parcial se

encontra a tutela de cognição plena, onde todas as hipóteses levantadas na lide

serão devidamente analisadas, garantindo a solução do litígio com intensa

apreciação56.

Já na direção vertical, quando da tutela exauriente, cabe ao autor da ação,

garantir um exímio conjunto probatório que será levado a juízo, uma vez que tais

documentos apresentados juntamente com a petição inicial, serão suficientes para

demonstrar a real existência do direito ora postulado. Isso não significa que não é

garantido a outra parte o exercício do contraditório. É o que acontece no Mandado

de Segurança, quando “exige o chamado ‘direito líquido e certo’”, a prova pré-

constituída, caso contrário fica impossível ao magistrado analisar o mérito

devidamente57.

Na tutela de cognição sumária, é permitido ao juiz prestar a tutela logo no

inicio da ação, mesmo que sem maior grau de convencimento acerca do direito, já

que é conduzido ao juízo de verossimilhança. Em regra, o juiz não vincula a

análise da ação a outorga da tutela, ele nada declara, apenas prevê a

54 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação da tutela, p. 33. 55 ______. Antecipação da tutela, p. 34. 56 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009. 57 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação da tutela, p. 40.

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possibilidade de existência de um direito, assim tal técnica pode ser concedida em

qualquer momento processual58.

Por fim, a tutela de cognição superficial, valoriza a celeridade antes mesmo

da segurança processual. Ela baseia-se exclusivamente na “aparência”, e é

garantida em casos de urgência processual, como por exemplo, nas ações que

envolvem a cobertura contratual de planos de saúde, onde o paciente corre risco

de morte59.

1.2.1.2 Tutela de execução

A tutela de execução vem efetivamente satisfazer o direito do sujeito ativo

da relação processual, aquele que dispõe de um título executivo, o chamado

exeqüente60. Cassio Scarpinella Bueno afirma que a tutela jurisdicional executiva

é o resultado de fato, que se quer obter por meio do procedimento executivo61.

Já Nelson Rodrigues Netto, elucida em sua obra o conceito de execução de

Liebman, em que afirma, “Execução civil é aquela que tem por finalidade

conseguir por meio do processo e sem concurso da vontade do obrigado, o

resultado prático a que tendia a regra jurídica que não foi obedecida.”62.

58 ______. Antecipação da tutela, p. 40. 59 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009. 60 ______. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009. 61 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva, 3. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 3, p. 7. 62 LIEBMAN, Processo de execução, p.39, apud NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu, p. 30-31.

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O autor ressalta ainda que a expressão ‘execução forçada’, utilizada

inclusive na legislação63, somente existe quando há atividade jurisdicional, e dela

não seja necessária a manifestação do demandado. Entretanto é imprescindível

que tal obrigação não seja cumprida de forma espontânea pelo devedor, para que

não descaracterize sua natureza de execução forçada64.

Via de regra, nas ações que versem sobre a execução de quantia certa, ou

nas de cumprimento de obrigações, a intenção do Estado-juiz é ver restituído ao

patrimônio do autor da ação a quantia ou o objeto não entregue voluntariamente

pelo devedor. Neste sentido, para garantir da aplicação do direito o magistrado,

em sede de tutela antecipada, pode vir a restringir o patrimônio do devedor, para

que posteriormente possa o credor convertê-lo em dinheiro recompondo o seu

patrimônio65.

Luiz Guilherme Marinoni afirma que “O direito somente é uma posição

juridicamente tutelada quando dispõe de ‘formas de tutela’ adequadas às

necessidades de proteção.”. Afirma ainda que, os meios executivos, tais como a

tutela especifica, servem para efetivar a tutela final. Assim como na sentença, a

decisão antecipatória e os meios executivos, quando utilizados adequadamente,

vêm permitir a antecipação da tutela pretendida66.

Nos casos em que uma ordem judicial que determina a concessão da tutela

é descumprida pelo devedor, prevê a legislação a possibilidade de o magistrado

aplicar o direito por meios de coerção, através das chamadas sanções

63 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 466. A sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação, consistente em dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária, cuja inscrição será ordenada pelo juiz na forma prescrita na Lei de Registros Públicos.[...]”. 64 NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu, p. 31. 65 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009. 66 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil – comentado artigo por artigo, p. 424-425.

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pecuniárias. Assim, sanção pecuniária - ou astreintes do direito francês – vem

trazer maior eficácia à tutela jurisdicional67.

Neste diapasão entende o ministro Luiz Fux:

A finalidade da execução ou a natureza da prestação objeto do vinculo obrigacional é que vai indicar qual dos meios executivos é mais eficiente, haja vista que a lei confere modus operandi diversos conforme o bem da vida que se pretenda com a tutela de execução. Assim sendo, à execução de condenação de fazer e não fazer não se aplicam os mesmos meios executivos da execução por quantia certa ou da execução para entrega de coisa certa ou incerta. Num verdadeiro sistema de ‘freios e contrapesos’ processual a lei procura atender aos interesses do credor sem sacrificar sobremodo o devedor, dispondo que o exeqüente deve receber aquilo a que faz jus segundo o título executivo, devendo-se alcançar esse fim da forma menos onerosa para o devedor (grifo do autor) 68.

Cumpre ressaltar que o instituto prevê a garantia do adimplemento da

obrigação, mas também tem a preocupação de fazê-lo de forma menos gravosa

possível ao devedor, a quem é disponibilizado todas as garantias processuais

estabelecidas na CF, como por exemplo, o contraditório e a ampla defesa69.

1.2.1.3 Tutela Cautelar

A tutela cautelar veio estabelecer uma forma preventiva de efetividade de

um processo judicial. Diante da lentidão do Judiciário, surgiu a hipótese de

perecimento do objeto do litígio, e sendo assim, acabaria a ação judicial por ser

ineficaz. As cautelares surgiram para “servir o processo de conhecimento ou de

execução”, para evitar o insucesso do objetivo central da ação. É considerada a 67 ______. Código de processo civil – comentado artigo por artigo, p. 429. 68 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009. 69 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 126-127.

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mais importante dentre todas as demais espécies de tutelas, bem como, é

considerada transitória e não-definitiva70.

Para Nelson Rodrigues Netto a tutela cautelar pode ser prestada tanto

preventivamente, em um processo autônomo, quanto incidentalmente, em um

processo de conhecimento ou de execução71.

Humberto Theodoro Júnior e Luiz Guilherme Marinoni acreditam que a

tutela cautelar deve-se restringir ao campo das providencias meramente

conservativas, que não cabe a tutela cautelar ter efeito satisfativo, a não ser que a

legislação assim previsse72. Luiz Guilherme Marinoni enfatiza que “É

imprescindível que a tutela não satisfaça o direito material para que possa adquirir

o perfil de cautelar”73.

O que difere essencialmente esta tutela das demais é o fato de ela ser um

instrumento efetivamente processual, “seu objeto é a ‘defesa da jurisdição’ [...]”,

sendo assim ela garante exclusivamente a aplicação de um direito, e não o direito

propriamente dito74.

1.2.2 Teoria Quinária

Já a Teoria Quinária, de menor prestígio, mas que vem sendo bastante

adotada por autores, inclusive por Pontes de Miranda e Araken de Assis, classifica 70 FUX, Luiz. Tutela Jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009. 71 NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu, p. 35. 72 THEODORO JUNIOR, Humberto. Tutela jurisdicional de urgência – medidas cautelares e antecipatórias. 2. ed. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2001, p.07. 73 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação da tutela, p. 133. 74 FUX, Luiz. Tutela jurisdicional: finalidade e espécie. Informativo jurídico da Biblioteca ministro Oscar Saraiva, v. 17, n.2, p. 153-168, jul./dez., 2002. Disponível em <http://bdjur.stj.gov.br/jspuibit/stream/20117661/Tutela_Jurisdicional_Finalidade.pdf/>. Acesso em: 20 de maio de 2009.

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as tutelas jurisdicionais em declarativa, condenatória, constitutiva, executiva e

mandamental. Uma das críticas mencionada a esta teoria é que as tutelas

mandamentais e executivas não seriam fundamentadas no tipo de pedido

efetuado, e sim na forma de execução da decisão75.

Araken de Assim afirma que tal classificação acaba por solucionar de forma

segura e conveniente o problema da natureza das ações, uma vez que tal divisão

estabelece “qual grau de satisfação do interesse trazido a juízo obterá o

demandante com cada eficácia possível do pronunciamento”76.

1.2.2.1 Eficácia declaratória

Tal eficácia de tutela tem o intuito apenas de declarar a existência ou não

de uma relação jurídica, ou ainda, a falsidade ou autenticidade de um determinado

documento77.

O doutrinador Araken de Assis menciona em seu texto Pontes de Miranda,

que afirma que, nesta ação “ignora-se ‘outra eficácia relevante que a de coisa

julgada material’”78.

Já Teresa Arruda Alvim Wambier afirma que:

Todas as sentenças têm, como se sabe, um cunho declaratório. A declaração se impõe logicamente, antes de tudo, ao juiz. Por vezes, a prestação da tutela jurisdicional se cinge a essa declaração, dando, assim, origem às sentenças ditas meramente declaratórias, isto é, às sentenças cuja finalidade é de declarar ou a existência ou a inexistência de uma relação jurídica. Por outro lado, há sentenças em que o juiz, além de declarar, condena o réu a uma ação ou a uma omissão e outras em que o juiz, alem de

75 NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu, p. 36. 76 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 77-87. 77 ______. Manual da execução, p. 78-79. 78 MIRANDA, Pontes de. Tratado das ações, v.1/157, §34 apud ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 78-79.

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declarar, ou constitui ou desconstitui uma situação jurídica. (grifo do autor) 79.

Por fim, tal espécie garante àquele que pleiteia, que assim que obtido êxito

na declaração nada mais terá à executar, e dar-se-á por satisfeito

completamente80.

1.2.2.2 Eficácia constitutiva

Tal eficácia da tutela tem como principal objetivo à mudança numa relação

jurídica pré-estabelecida, seja ela para criar, modificar ou extinguir tal vínculo. Esta

previsão é verificada principalmente em ações cujo objeto é subjetivo, como as de

anulação de negócio jurídico81.

Ernane Fidélis dos Santos afirma que “quando o ato é nulo de pleno direito,

a sentença que reconhece a nulidade é declaratória; se o ato é anulável

simplesmente, ela é constitutiva”, e que os efeitos da declaração de nulidade pela

sentença constitutiva são ex nunc82.

Já Humberto Theodoro Junior afirma que a simples existência desta

sentença constitutiva leva a modificação de um estado jurídico anteriormente

existente83.

Para tais sentenças também inexiste a possibilidade de execução, ou de

imposição de qualquer forma de sanção. Apenas altera-se uma situação jurídica,

79 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 92. 80 ______. Nulidades do processo e da sentença, p. 92 81 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 80. 82 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2009, v.1, p. 219. 83 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento, p.566.

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acabando por implantar uma modificação ao universo jurídico, pura e

simplesmente84.

1.2.2.3 Eficácia condenatória

A eficácia condenatória tem como intuito uma sentença declaratória de

algum ato reprovável, bem como a posterior punição do individuo que incorreu

neste mencionado ato. Pontes de Miranda afirma que “’condenar’ alguém significa

reprová-lo, ‘ordenar que sofra’”85.

Araken de Assis afirma que o juiz, num primeiro momento, declara o direito

que foi colocado em causa, para depois impor a sanção ao acusado. “Tratar-se-ia,

pois, de dois elementos declaratórios discerníveis pelo objeto [...] segundo o qual

constitui título executivo judicial a sentença que reconheça a existência de

obrigação a cargo do réu”86.

Ernane Fidelis dos Santos afirma que:

[...] são as que condenam a parte a uma prestação determinada. É

condenatória a sentença que determina a entrega de coisa; a que

além do reconhecimento do débito, estabelece para a parte uma

obrigação de pagar quantia certa e também a que condena a

prestar ou não praticar fato determinado. [...]87

Importante destacar que a eficácia condenatória é título executivo judicial,

possibilitando ao vencedor recorrer de processo de execução caso o vencido não

cumpra a prestação a que foi condenado88.

84 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença, p. 92. 85 MIRANDA, Pontes de. Tratado das ações, v.1/203, §35 apud ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 81. 86 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 81. 87 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, p. 219. 88 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento, p.565.

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1.2.2.4 Eficácia executiva

Nesta espécie existe também uma condenação, porém com uma ressalva.

Ela por si mesma satisfaz ao credor da ação, tornando desnecessário posterior

processo de execução para satisfação do autor, tal como nas espécies constitutiva

e declaratória89.

Para Araken de Assis ela tem eficácia imediata, retirando do patrimônio do

demandado o objeto, ou quantia estabelecida, favorecendo desde já o

demandante. Tal procedimento baseia-se em procedimento previamente

estabelecido, obedecendo a normas e princípios para sua concessão90.

O autor Ernane Fidelis dos Santos afirma que a eficácia executiva já

determina o que deve ser cumprido, reconhecendo que o objeto da lide está no

patrimônio de outrem quando não devia estar. Ela por si só obriga ao cumprimento

do preceito judicial91.

1.2.2.5 Eficácia mandamental

Por fim, a eficácia mandamental, condena e ordena. Seria o cumprimento

específico de uma ordem judicial, sob condição, em caso de descumprimento, de

configurar-se crime. Tal espécie, afirmam alguns doutrinadores, se completa com

a de eficácia executiva formando uma única espécie de eficácia por terem um

objetivo muito semelhante92.

89 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença, p. 95. 90 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 87. 91 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, p. 220. 92 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Nulidades do processo e da sentença, p. 95-96.

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Para Araken de Assis, esta espécie contém a declaração de um direito é

também uma ordem, proferida pelo magistrado em face de uma pessoa especifica.

O doutrinador exemplifica com as ações cautelares, e os embargos de terceiro93.

Para Ernane Fidelis dos Santos, parte da doutrina vem se inclinando em

considerar que a sentença em obrigação de fazer e não fazer também possui

caráter mandamental94.

Neste sentido, Luiz Guilherme Marinoni afirma que as obrigações

infungíveis não podem ser amparadas pelas sentenças condenatórias ou

executivas, já que neste tipo de obrigação se faz necessário que o próprio devedor

seja convencido de cumprir a obrigação. O que ocorre diferentemente nas

obrigações fungíveis, onde terceiros podem cumprir a obrigação. Por tais motivos,

é utilizada a técnica mandamental para as obrigações infungíveis95.

Diante do entendimento dos efeitos da prestação da tutela jurisdicional,

passa-se ao instrumento da tutela especifica em si, objeto do presente estudo.

1.3 PROCEDIMENTO NAS AÇÕES DE CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE

FAZER, NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA

Antes da reforma no CPC brasileiro, as decisões judiciais que versavam

sobre as obrigações de fazer e não fazer, via de regra, eram convertidas em

perdas e danos96. Com a introdução do artigo 461 do CPC, o legislador acabou

por impor ao magistrado a concessão da tutela específica, obrigando-o a traçar

93 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 85. 94 ______. Manual de direito processual civil, p. 220. 95 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela específica: arts.461, CPC e 84 CDC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 188-189. 96 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência, p.34.

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meios para que assegure o adimplemento da obrigação tal como deveria ser

quando acordada entre as partes97.

A ação regulamentada no art. 461 do CPC é de conhecimento, e possui

caráter condenatório sendo possível, diante do dispositivo do §3º, a antecipação

da tutela específica e provisória98.

O procedimento adotado nas ações de obrigação de fazer, não fazer e

entrega de coisa, é o ordinário, onde a parte afirma um determinado direito para

que o juiz, após exercício de cognição, analisando fatos, fundamentos e provas,

forma sua convicção para aplicar o direito efetivo99.

Entretanto, para que ocorra a ação, esta deve obedecer a certos requisitos,

condições da ação, que seriam o interesse de agir, a legitimação da causa e a

possibilidade jurídica do pedido. Assim, determina o art. 267 do CPC onde afirma

que será extinto o processo sem julgamento do mérito em caso de não existir

qualquer das condições da ação100.

O doutrinador Humberto Theodoro Junior trás em sua obra um esquema

explicativo do procedimento ordinário onde afirma que o processo inicia-se pela

petição inicial, que deve conter os requisitos do art. 282 do CPC. A partir da

citação do réu, este procederá com a contestação, que se não apresentada

ocorrerá a revelia. Depois da manifestação de ambas as partes, o magistrado irá

julgar o mérito da demanda, podendo extinguir o feito sem julgamento do mérito,

97 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.[...]” 98 ALVIM, Arruda (Coord.); ALVIM, Eduardo Arruda (Coord.). Atualidades do processo civil. Curitiba: Juruá, 2007, p. 460. 99 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso Avançado de processo civil, volume 1: teoria geral do processo de conhecimento. 9. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p.115-116. 100 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (...)VI - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;”

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poderá julgar antecipadamente a lide, ou sanear o processo a partir das provas

que deverão ser apresentadas. Antes da produção das provas, haverá uma

audiência conciliatória, para posteriormente ocorrer audiência de instrução e

julgamento, onde ocorrerá a produção das provas101.

No que tange o procedimento das ações de obrigação de fazer, não fazer e

entrega de coisa, ele deve ser estruturado de maneira que se permita a prestação

efetiva das espécies de tutela pretendidas, havendo uma relação entre si. Neste

sentido, a tutela específica aqui tratada, tem o condão de dar ao demandante a

possibilidade de obter a tutela específica do direito material a que lhe compete102.

A sentença condenatória em tais demandas obriga o devedor à “realizar in

natura a prestação devida”, sendo assim, o magistrado não se restringe a

determinadas ações para que faça cumprir a referida obrigação. Pode ele, no

exercício de seu poder discricionário, quando verifica a impossibilidade de

realização da obrigação, determinar o exercício de ato equivalente ao do

cumprimento original da obrigação. Entretanto, somente quando o autor requerer,

ou quando for impossível o cumprimento da obrigação poderá o juiz convertê-la

em perdas e danos. Esta hipótese é a exceção, ao contrário do exercido em

outros tempos, e não causa qualquer prejuízo a uma possível multa. Ainda,

ressalta-se que, todas as medidas que obriguem os litigantes devem ser

decorrentes de uma autorização judicial103.

O magistrado, visando cumprir a necessidade essencial da ação de

cumprimento de obrigação de fazer e não fazer, e entrega de coisa, pode também

antecipar os efeitos da tutela específica, desde que haja proeminente fundamento

na demanda (fumus boni iuris), e que haja receio de ineficácia da prestação

jurisdicional (periculum in mora). Desta sorte, em caso de descumprimento de tal

ordem judicial, também poderá o magistrado estabelecer a pena cominatória, ou

101 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. p. 366. 102 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Código depProcesso civil – comentado artigo por artigo, p. 424-425. 103 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência, p.34

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as astreintes, bem como determinar a busca e apreensão, ou a remoção de

pessoas e coisas, utilizando-se, inclusive, de força policial quando necessário. Tal

antecipação terá efeito provisório, e poderá ser revogada a qualquer tempo, em

decisão fundamentada104.

O procedimento da ação de cumprimento de obrigação de fazer e não

fazer, e entrega de coisa foi alterado pela Lei 10.444/02105. Nesta nova redação da

legislação processual, ficou estabelecido que quando o credor vier ao Judiciário

reclamar a coisa devida pelo autor, o juiz concederá a tutela específica, e

determinará na mesma decisão, um prazo para que o devedor cumpra a

obrigação. A contagem do prazo para cumprimento da obrigação dar-se-á a partir

do transito em julgado da sentença condenatória106.

Caso o mencionado prazo transcorra sem que o devedor cumpra a

obrigação, o magistrado expedirá mandado para que o oficial de justiça realize a

obrigação compulsoriamente. Nos casos de bens moveis, ocorrerá a busca e

apreensão, onde o oficial de justiça toma a coisa e entrega ao credor. Quando

tratar de bens imóveis ocorrerá a imissão da posse, em que o oficial de justiça

desaloja os ocupantes do imóvel (quando houver) para que o credor possa ser

restituído da sua posse107.

O autor Fernando A. Rodrigues afirma que:

A ação prevista no art. 461 do Código de Processo Civil é de conhecimento com caráter condenatório, sendo possível, diante da disposição do §3º, a antecipação de tutela, viabilizando com isso a expedição de mandado para execução específica e provisória. A execução dessa sentença de procedência é hoje regida pelo art. 475-I, caput, do Código de Processo Civil (grifo do autor) 108.

104 THEODORO JUNIOR, Humberto. Código de processo civil Anotado. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p.329. 105 BRASIL. Lei n. 10.444, de 7 de maio de 2002. Lex: Altera a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 –Código de Processo Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10444.htm>. Acesso em: 20 de junho de 2009. 106 ______. Código de processo civil anotado, p.329. 107 THEODORO JUNIOR, Humberto. Código de processo civil anotado, p.329. 108 CARVALHO, Francisco José. ALVIM, Arruda (coord.). Atualidades do processo civil, p. 461.

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No atual procedimento das ações de obrigação de fazer e não fazer, e

entrega de coisa, foi extinto o processo de execução de sentença. Atualmente os

procedimentos são unos, ocorrem em um único processo. O título executivo em si

(sentença condenatória) continua em vigor, o que ocorre é que toda decisão ou

sentença que tenha força terminativa, após o trânsito em julgado passam a ser

executadas nos próprios autos, sem necessidade de nova citação das partes109.

1.4 A MULTA COMINATÓRIA NAS AÇÕES DE CUMPRIMENTO DE

OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E ENTREGA DE COISA

Como mencionado anteriormente, antes da reforma processual, os

magistrados relutavam em aplicar as medidas antecipatórias dispostas no CPC de

1939. Igualmente ocorria quando da aplicação de penas cominadas, os juízes

insistiam em aguardar o processo de conhecimento para então aplicar as tutelas

específicas, o que acabavam por torná-las ineficazes. Com a influência dos

doutrinadores franceses, foi efetivada a aplicação das astreintes, o que

provavelmente foi decisivo para a difusão do instituto110. Tal medida é considerada

como “acessória, ou de apoio, que reforcem a exeqüibilidade do julgado”111.

O autor Cássio Scarpinella Bueno afirma que:

De acordo com o inciso II do art. 599, pode o juiz, em qualquer momento do processo, advertir o executado de que o seu agir constitui ‘ato atentatório à dignidade da justiça’. Tais atos, repudiados pelo sistema processual civil, são capitulados nos incisos do art. 600. É atentatório a dignidade da justiça o ato do executado que: [...]; resistir injustificadamente às ordens judiciais e (d) devidamente

109 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 156. 110 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 134-135. 111 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência, p.36.

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intimado, não indicar ao juiz, em cinco dias, quais os bens sujeitos à execução, sua localização e respectivos valores112.

Naturalmente a legislação acabou por seguir os entendimentos

jurisprudenciais e fixou a figura da astreinte na reforma de 2002 do CPC, em seu

artigo 461-A113.

Fernando Rodrigues afirma que, inclusive, “por se tratar de meio que visa a

compelir o inadimplente ao cumprimento da obrigação, a cominação da multa

independe de pedido expresso do postulante”114.

De acordo com Araken de Assis, a pena cominatória inovou o direito

processual pátrio ao possibilitar a condenação do obrigado ao pagamento de uma

quantia, por tempo de atraso no cumprimento da obrigação. Tal multa não é

vinculada à importância econômica que deriva da obrigação, e é livremente

estipulada pelo magistrado, entretanto deve ser aplicada com cautela, a fim de

evitar o enriquecimento injustificado do credor, bem como não se inculcar a perdas

e danos. Convém atentar que a pena poderá ser imposta na sentença de mérito

ou em decisão antecipatória, mesmo que não tenho sido postulada nos pedidos da

ação principal. A inobservância pelo magistrado da aplicação da multa, pode

inclusive servir de ensejo a Embargos Declaratórios por omissão do órgão

judiciário, entretanto cumpre ressaltar que a sua falta não prejudica o objeto

112 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva, 3, p. 25. 113 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 461-A. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará prazo para o cumprimento da obrigação. § 1º. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e quantidade o credor a individualizará na petição inicial, se lhe couber escolha; cabendo ao devedor escolher, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz. § 2º. Não cumprida a obrigação no prazo estabelecido, expedir-se-á em favor do credor mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. § 3º. Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1º à 6º do art. 461.” 114 RODRIGUES, Fernando A. ALVIM, Arruda (coord.). Atualidades do processo civil, p. 461.

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principal da ação, e pode ser determinada pelo magistrado a qualquer tempo,

inclusive em fase de execução115.

O autor José Eduardo Carreira Alvim afirma que a pena de multa existe

para forçar, psicologicamente e financeiramente, o obrigado a cumprir a

determinação judicial. Caso a aplicação de pena cominatória não surta o efeito

desejado, cabe ao magistrado verificar outras formas para que o obrigado

satisfaça a referida obrigação. Neste diapasão, também cabe ao magistrado ter o

bom senso na mensuração da pena para que esta não exceda até mesmo o valor

da prestação, já que a multa serve para coação do obrigado, e não para satisfação

da obrigação, ou para indenização em perdas e danos116.

Salvador Franco de Lima Laurino afirma que a principal finalidade da multa

é provocar o temor patrimonial, sendo assim ela não esta adstrita a um limite,

podendo superar até mesmo a quantia indicada no pedido. Todavia tal medida não

tem o condão indenizatório, podendo ser imposta até mesmo quando não

demonstrado dano sofrido pelo autor117.

Tal instituto permite ao julgador sua revisão a qualquer tempo, para

aumentá-la ou diminuí-la, quando verificar que sua aplicação esta insuficiente ou

excessiva. Bem como pode ser revogada se a obrigação tenha se tornado

impossível ao devedor, que deverá arcar, então, com perdas e danos. Conforme

mencionado no item 1.3, esta não é a única forma de coação ao devedor. Pode o

magistrado valer-se da busca e apreensão, ou a remoção de pessoas e coisas,

utilizando-se, inclusive, de força policial quando necessário, sendo que as

medidas dispostas no dispositivo legal são meramente exemplificativas. Também

nesses casos o magistrado pode utilizar-se de seu poder discricionário para tomar

outras providencias que entender compatíveis com o objeto em questão118.

115 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 561-563. 116 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, p. 95. 117 LAURINO, Salvador Franco de Lima. Tutela jurisdicional: cumprimento dos deveres de fazer e não fazer. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 110. 118 THEODORO JUNIOR, Humberto. Código de processo civil anotado, p.329.

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Por fim, resta claro que a aplicação de multa coercitiva tem o condão de

fazer o demandado cumprir uma obrigação por ele constituída, e não de puni-lo

pelo descumprimento. É importante destacar que a função da multa é convencer o

obrigado a cumprir a determinação judicial, desde que baseada em critérios legais

que lhe permitam alcançar sua finalidade119.

Assim, irá se verificar no próximo capítulo em quais casos são aplicáveis a

pena de multa cominatória, momento processual para aplicação desta, sua

adequação diante da discricionariedade do magistrado, o beneficiário e o sujeito

passivo da multa.

119 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil – comentado artigo por artigo, p. 428-429.

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43

2 A INCIDÊNCIA DA MULTA COMINATÓRIA NAS AÇÕES DE

CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER E

ENTREGA DE COISA

Neste segundo capítulo são trazidas noções básicas da aplicação da multa

nos casos em que é deferida em sentença e em liminar, o beneficiário da multa, a

adequação que deverá ser feita pelo magistrado, e o sujeito passivo a quem ela

possa incidir.

Seguindo este caminho, verifica-se que o magistrado ao exercer sua

atividade decisória, deve aplicar algum mecanismo que seja capaz de levar à

correção da conduta lesiva. O CPC vigente traz um rol de técnicas para a

efetivação da tutela específica, como a prisão civil, a busca pelo resultado prático

equivalente e a possibilidade de utilização das astreintes – objeto de estudo da

presente monografia120.

Como visto anteriormente, a multa diária ou astreintes é um meio de

coerção para obtenção da tutela específica121. O autor Guilherme Rizzo Amaral

afirma que “a multa é medida coercitiva, destinada a pressionar o devedor para

cumprir decisão judicial, e não a reparar os prejuízos do seu descumprimento”122.

Luiz Guilherme Marinoni afirma que:

Para que a multa possa constituir uma autêntica forma de pressão sobre a vontade do réu, é indispensável que ela seja fixada com base em critérios que lhe permitam atingir seu fim, que é garantir a efetividade jurisdicional123.

Diante de tais entendimentos, verificar-se-á em seguida que a imposição da

ordem judicial que implica na aplicação da multa irá se dar no mesmo processo de

120 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença. São Paulo: Método, 2009, vl. 3, p. 512. 121 ______. Execução civil e cumprimento da sentença, p. 513. 122 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras. 2.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 75. 123 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória: individual e coletiva. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 214.

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conhecimento, entretanto, a cobrança do valor derivado da incidência da multa,

será feita através de ação de execução por quantia certa124.

Partindo deste vértice, é importante destacar que existem alguns

procedimentos e requisitos a serem observados para que o magistrado conceda a

pena cominatória. Tais requisitos, como a aplicação dos princípios da

razoabilidade e proporcionalidade, ou ainda, a identificação do momento de

iniciativa de fixação das astreintes, serão tratados com maior zelo e profundidade

no presente capítulo.

2.1 MOMENTO PROCESSUAL DE APLICAÇÃO DA PENA COMINATÓRIA

PELO ESTADO-JUIZ

Diante do entendimento do que seriam as astreintes, e como elas se

encaixam no processo civil, passa-se agora a analisar o momento processual em

que ela deve ser concedida.

Primeiramente é importante ressaltar que tal medida, somente poderá ser

imposta diante do descumprimento da determinação judicial por parte do devedor.

Sendo assim, é necessário que o mesmo tenha ciência dos atos processuais que

estão ocorrendo, bem como é imprescindível que o magistrado tenha a certeza

dessa ciência. Neste sentido, pode-se mencionar a importância de intimação

pessoal do réu para o cumprimento da decisão.

O CPC afirma em seu art. 461, §3º, que:

Art. 461: [...] § 3o Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu. A medida liminar poderá ser revogada ou

124 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 229.

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modificada, a qualquer tempo, em decisão fundamentada. (grifo nosso) 125.

A citação referida no presente artigo significa a ciência do réu “de que o

Estado-juiz, devidamente provocado, pretende impor a ele [...] uma determinada

conseqüência jurídica, quiçá, até mesmo, retirar parcela de seu patrimônio.”126

O Superior Tribunal de Justiça se manifestou a respeito editando a Súmula

410, em que afirma que a prévia intimação pessoal do devedor é considerada uma

condição indispensável para a posterior cobrança de multa por descumprimento

de decisão judicial127.

Luiz Guilherme Marinoni afirma que128 “em geral, para a prática de atos

personalíssimos da parte, está é a via adequada [intimação pessoal], dirigida,

então, diretamente à parte, e não a seu advogado”. Aceitável, pois, tal

entendimento, uma vez que as conseqüências do descumprimento de uma

decisão de tal natureza, implica em sanções mais graves do que as que versam

sobre o simples descumprimento de um prazo processual, cuja intimação pode ser

feita ao advogado do executado129.

Entretanto, há que se ressaltar que não existem no processo civil,

procedimentos únicos e não maleáveis, que afastem outros procedimentos que

poderiam ser aplicados ao caso concreto. É imprescindível o conhecimento do réu

125 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. 126 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil, 1. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, v. 1, p. 409-410. 127 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 410. A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer. Disponível em < http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=38>. Acesso em: 18 de outubro de 2009. 128 MARINONI, Luiz Guilherme apud AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 145. 129 Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 145.

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sobre o processo, mas não há no CPC qualquer menção sobre a espécie de

notificação que deve ser encaminhada ao executado130.

Quanto a aplicação da multa cominatória, para alguns autores, não existe

um momento processual específico em que deva ser concedida a tutela

específica, e, por conseguinte, para que seja aplicada a multa cominatória.

Entretanto, pode-se verificar dois momentos processuais em que o magistrado

manifesta a fixação da multa, qual seja em liminar ou decisão interlocutória; ou em

sentença ou decisão de mérito131.

O autor Guilherme Rizzo Amaral afirma que:

Independe determinar os momentos em que a multa em estudo pode ser fixada, bem como a iniciativa para a sua fixação e modificação. Da leitura dos §§ 3º e 4º do artigo 461 CPC, depreende-se que a multa poderá ser imposta no momento do deferimento de liminar ou na sentença132.

Neste sentido, Mayke Akihyto Iyusuka ressalta que a multa pode ser

decretada de ofício pelo magistrado, sendo que este pode fixar um prazo para

cumprimento da obrigação. Caso não estipule o mencionado prazo, o

cumprimento da decisão deve ser imediato, não causando qualquer prejuízo

processual133.

Humberto Theodoro Junior entende que a multa cominatória poderá ser

utilizada tanto em sentença terminativa, quanto em sede de tutela antecipada,

afirmando ainda que tal instrumento não é exclusivo das ações de cumprimento de

obrigações de fazer e não fazer, sendo admitida também nas ações de obrigação

de entrega de coisa134.

Sob o mesmo entendimento, Luiz Guilherme Marinoni aduz que: 130 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil, 1, p. 410. 131 ALVIM, J.E Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa. p. 101. 132 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 75. 133 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 513-514. 134 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – processo de execução e cumprimento de sentença, processo cautelar e tutela de urgência, p.554

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O art. 461 do CPC – na mesma linha do art. 84 do CDC – afirma que o juiz poderá, na tutela antecipatória ou na sentença, ‘impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito’ (grifo do autor) 135.

Pode-se afirmar, então, que o termo inicial para imposição da multa é fixado

livremente pelo juiz, e que na antecipação da tutela ou na sentença seriam os

momentos ideais para sua concessão, porém nada vincula o magistrado a aplicar

a multa nestes momentos. Pode o juiz entender que não há necessidade de

aplicação da astreinte quando da antecipação da tutela, todavia diante de uma

relutância do réu no cumprimento da decisão, o magistrado pode, através de nova

decisão interlocutória, impor a referida multa136.

Entretanto, é desaconselhável que o magistrado fixe o termo final da

imposição, uma vez que tal limitação pode comprometer a eficácia do dispositivo

da astreinte137. Alguns autores dizem ainda que “a multa é infinda”, vencendo dia-

a-dia, sendo que esta somente será interrompida com o cumprimento da

obrigação138.

O Superior Tribunal de Justiça, ao se manifestar sobre o tema aduz que:

PROCESSO CIVIL - OBRIGAÇÃO DE FAZER - ASTREINTES -

FIXAÇÃO DE TERMO FINAL. IMPOSSIBILIDADE. - É lícito ao juiz modificar o valor e a periodicidade da astreinte (CPC, Art. 461, § 6º). Não é possível, entretanto fixar-lhe termo final, porque a incidência da penalidade só termina com o cumprimento da obrigação139.

Assim, o termo final da aplicação da multa é definido de acordo com sua

finalidade principal, que seria a de pressionar o devedor da obrigação. Neste

sentido, a multa incidirá até o momento em que a obrigação for satisfeita, ou, se

135 MARINONI, Luiz Guilherme. TutelaiInibitória: individual e coletiva, p. 208. 136 SPADONI, Joaquim Felipe apud AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 136. 137 LAURINO, Salvador Franco de Lima. Tutela jurisdicional: cumprimento dos deveres de fazer e não fazer. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 111. 138 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 567. 139 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 890900, da 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 17 de março de 2008. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 10 de fevereiro de 2010.

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não cumprida, enquanto houver possibilidade de sê-lo ou quando não houver

pedido de conversão em perdas e danos140.

Já quanto à periodicidade da multa, existe o entendimento de que, apesar

de o texto legal trazer a expressão “multa diária”, não há impedimento para que o

magistrado aplique outro parâmetro de fixação da mesma, conforme entender ser

mais útil ao objeto ou á própria ação141.

Pode-se dizer que a partir da reforma do CPC, foi permitida esta alteração

da fração medida superior ou inferior ao “dia”142. O autor Eduardo Talamini

entende que “é admissível, ainda, a fixação de multa de incidência periódica que

tome em conta outra unidade de tempo que não o dia – desde que consentânea

com as circunstancias concretas”. Ainda afirma que esta possibilidade decorre da

própria decomposição da unidade de tempo “dia”, e que deve o magistrado

apenas atentar ao princípio da razoabilidade no caso concreto143.

Assim, em qualquer dos prazos fixados pelo magistrado, é unânime o

entendimento de que o termo a quó da multa se dá no instante seguinte em que a

ordem judicial imposta é descumprida, seja decisão interlocutória ou sentença,

incidindo imediatamente as astreintes144.

140 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 255. 141 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 514. 142 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 141. 143 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 244. 144 ______. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 143.

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2.2 A ADEQUAÇÃO DA PENA COMINATÓRIA E A DISCRICIONARIEDADE DO

MAGISTRADO

Depois de elucidado o momento processual em que a multa pode ser

aplicada, passa-se agora ao momento de mensuração por parte do magistrado do

valor da pena cominatória.

A pena cominatória, como anteriormente disposto, tem caráter coercitivo.

Não serve para indenizar ou para punir o demandado. Sendo assim, ela não esta

adstrita a um teto, diferentemente da cláusula penal, que possui um valor pré-

estabelecido145.

Todavia, há que se ressaltar que o magistrado, para todos os atos que

pratica, está vinculado a princípios jurisdicionais que regulam sua atividade, que

lhe impõe limites. No que tange a aplicação das astreintes não seria diferente146.

O magistrado deve observar os princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade, que servem como parâmetros para a decisão. A razoabilidade

leva o magistrado a aplicar a astreinte como fonte de justiça, seria a aplicação de

um parâmetro, um equilíbrio entre a tutela e o fim pretendido. Já o princípio da

proporcionalidade leva o magistrado a análise de três premissas fundamentais,

quais sejam, a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido

estrito. Significa dizer que a multa aplicada deve ser de fato útil e adequada ao fim

a que se propõe, bem como ser efetivamente necessária e bem valorada ao caso

em questão. Por fim, vem estabelecer que aconteça o equilíbrio entre o direito a

145 DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil – execução. Salvador: Editora Jus Podivm, 2010, 2. ed., v. 5, p. 445. 146 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 388-389.

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ser tutelado e a sua respectiva execução, de forma compatível e proporcional às

peculiaridades de cada caso concreto147.

O autor Salvador Franco de Lima Laurino, afirma que:

Em face das incalculáveis maneiras de manifestação da realidade dos direitos, especialmente em obrigações duradouras, o juiz deve agir com imaginação e senso de justiça de forma a conduzir o resultado do processo à tutela específica, sem evidentemente, violar as garantias do devido processo legal148.

Tal afirmação vem salientar que o magistrado tem liberdade suficiente para

agir de acordo com juízo de valor pessoal. Neste sentido, é válido considerar que

o magistrado não fica restrito a um critério, ou valor estabelecido pelo autor da

ação, todavia deve observar se o valor da multa não levará o autor da ação ao

enriquecimento injustificado, ou ainda, deve verificar se a multa não tomou um teor

indenizatório, o que desvirtua o instituto149.

Pode-se verificar que o magistrado deve estabelecer um valor que

realmente influa no comportamento do obrigado, a fim de obter a tão mencionada

eficácia processual, oriunda do cumprimento da obrigação. Entretanto, em alguns

momentos, poderá o montante derivado da multa superar o bem jurídico visado, o

que não significa qualquer forma de enriquecimento ilícito do demandante. O

magistrado deve ater-se à suficiência e a compatibilidade do caso concreto150.

O autor Cássio Scarpinella Bueno limita o valor da astreinte quando afirma

que “a multa reservada pelo dispositivo é pecuniária e ela não poderá ser superior

a 20% do valor atualizado do débito em execução” 151.

147 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 136. 148 LAURINO, Salvador Franco de Lima. Tutela jurisdicional: cumprimento dos deveres de fazer e não fazer, p. 108-109. 149 ALVIM, Arruda (Coord.); ALVIM, Eduardo Arruda (Coord.). Atualidades do processo civil, p. 463. 150 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 249. 151 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva, 3, p. 27.

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Todavia, em face do art. 461 do CPC152, restaram poucas dúvidas de que o

valor da multa cominatória pode exceder o valor da prestação, uma vez que o

dispositivo não impõe qualquer limitação ao magistrado. Lembrando, inclusive,

que a multa poderá ser aumentada ou diminuída conforme a necessidade

vislumbrada pelo magistrado no caso concreto. Não necessariamente a multa

estipulada deverá ficar congelada até o cumprimento da obrigação. O magistrado

pode adequá-la no decorrer do processo, ao verificar se está ou não obtendo o

resultado prático desejado153.

Luiz Guilherme Marinoni afirma que no caso de o ato ilícito ser continuado,

quando o demandado oferece resistência no cumprimento da obrigação, o

magistrado pode fixar a multa de forma progressiva, fazendo com que ela

aumente com o passar do tempo154.

Importante destacar que nos juizados especiais, todo o processo tem o

mesmo andamento, e existe o posicionamento de que também não há um teto

para a imposição da astreinte. Tem-se que a multa não fica limitada ao teto dos

juizados especiais uma vez que limitá-la poderia significar a ineficácia do instituto,

já que poderia não gerar ao obrigado o temor necessário para o adimplemento da

obrigação. Cumpre esclarecer que, mesmo ultrapassando os limites dos Juizados,

a execução se dará no próprio juizado, conforme previsto na legislação que o

regulamenta155.

Em sede de título executivo extrajudicial, o magistrado pode também

interferir no valor da multa, para diminuí-la quando entender excessiva, conforme

152 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 645 - Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em título extrajudicial, o juiz, ao despachar a inicial, fixará multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida. Parágrafo único - Se o valor da multa estiver previsto no título, o juiz poderá reduzi-lo se excessivo.” 153 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 516. 154 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela específica: arts 461, CPC e 84, CDC. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, 2. ed., p. 108-109. 155 DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil – execução, p. 446.

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dispõe inclusive o art. 645 do CPC. Entretanto o dispositivo não afirma se é

possibilitado ao magistrado aumentar a multa quando entender irrisória, ou

ineficaz. É permitida ainda a imposição simultânea de multa processual e multa

contratual, uma vez que nada tem em comum uma com a outra, nem significa a

revisão da multa contratual156.

Guilherme Rizzo Amaral afirma que a astreinte não se equipara a esta

multa contratual, uma vez que a primeira é um instituto do CPC, fixada pelo

magistrado, enquanto a segunda é um instituto de direito material, fixado pelas

partes de acordo com o disposto no CC. Da mesma forma ocorrerá com todas as

demais sanções disponíveis no ordenamento jurídico, inclusive quanto à litigância

de má-fé, quanto ao crime de desobediência, ou quanto à perdas e danos. Todas

as sanções serão tratadas em separado da multa cominatória instituída pelos art.

461 e 461-A do CPC157.

2.3 A APLICAÇÃO DAS ASTREINTES CONTRA A FAZENDA PÚBLICA,

CONTRA O PRÓPRIO AUTOR E CONTRA TERCEIROS

Conforme disposto nos itens anteriores, as formas e os critérios de

aplicação para a pena cominatória. A partir de agora, será verificado a quem a

multa cominatória será destinada, sobre que parte ela recairá.

De maneira geral, tem-se que a multa cominatória está destinada a parte

demandada da ação, aquela que deixou de cumprir uma obrigação extrajudicial,e

que a parte contrária vem exigir em juízo. Todavia, em alguns momentos

156 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: processo de execução. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, 9. ed., v. 2, p. 306. 157 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 186.

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processuais, as astreintes poderão ser aplicadas à outros envolvidos na demanda,

inclusive ao autor desta158.

Como mencionado, num primeiro momento, o sujeito passivo da multa será

o demandado. Cabe a ele o cumprimento do preceito judicial que gera a incidência

do mecanismo de coerção patrimonial denominado astreinte. Neste sentido, não

importa se o demandado é pessoa física, pessoa jurídica, ou ainda, pessoa de

direito público159.

Entretanto, existe a possibilidade de o demandante ser o sujeito passivo da

multa160. Pode-se exemplificar nas ações de reconvenção, onde o demandado,

além de defender-se da ação a que lhe é imposta, propõe ação contra o autor da

primeira demanda. O réu passa a também ser autor, e o autor assume a também

postura de réu. As demandas são diferentes, e o que as une é o objeto delas, que

habitualmente é o mesmo161.

Assim, nos casos em que o demandado também possui uma posição ativa

na lide, é possível que o provimento judicial, reconhecendo o seu direito a uma

prestação, imponha à parte contrária uma ordem sob pena de multa162.

Todavia, o autor Guilherme Rizzo Amaral chama a atenção para o fato de

não se confundir a aplicação da astreinte, com a aplicação da contempt of court.

Deve-se deixar claro que a multa cominatória, é uma medida coercitiva que visa

proporcionar a tutela específica ao autor da demanda, enquanto a contempt of

court tem o condão específico de punição ao autor por descumprir uma

determinação judicial, garantindo a autoridade do Poder Judiciário163.

Cumpre destacar que a sanção disposta no art. 14 do CPC, qual seja a

contempt of court, também pode ser aplicada contra terceiros, ressaltando que seu

158 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 520. 159 ______. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 186. 160 DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil – execução, p. 448. 161 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, p. 478. 162 DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil – execução, p. 448. 163 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 131.

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objetivo é punir àquele que descumpriu uma determinação judicial, qualquer que

seja. O que não ocorre com as astreintes, que visam exclusivamente fazer o

demandando cumprir uma obrigação para com o demandante, único beneficiário

da determinação164.

Todavia este entendimento também não é pacificado, já que existe autor

que afirma que observando a necessidade de efetividade do processo, também é

cabível a aplicação das astreintes a terceiros, principalmente no que tange às

obrigações infungíveis que, como mencionado anteriormente, podem ser

cumpridas por terceiros. Neste sentido, com a determinação do magistrado, seria

cabível a aplicação de qualquer medida necessária à obtenção da tutela

específica165.

No que tange a aplicação da pena cominatória a entes do poder público,

ficou definitivamente superada a questão de que os entes públicos não seriam

passíveis de aplicação de tutela antecipada depois da edição da Lei 9.494/97. É

certo que tal Lei estabelece limites para a aplicação da tutela antecipada a entes

do poder público, ou entes privados que exerçam atividade pública. Todavia,

observadas tais normas, é perfeitamente cabível a aplicação do instituto das

astreintes também à Fazenda Pública166.

Tem-se que se tratando de conduta vinculada, e não apenas a uma dívida

de valor da administração pública, estão efetivamente sujeitos os órgão do Poder

Público às tutelas específicas constantes no art. 461167 do CPC.

O entendimento do Superior Tribunal de Justiça também é no sentido de

admitir a aplicação da multa contra a Fazenda Pública: ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. ARTS. 412 DO CC/2002 E 461, § 6º E 620 DO CPC. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. APLICAÇÃO DAS

164 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 133. 165 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 521. 166 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 249 167 NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu, p. 163.

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SÚMULAS 282 E 356 DO STF. FAZENDA PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL. MULTA DIÁRIA. CABIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS NA AÇÃO DE CONHECIMENTO. REDUÇÃO. MATÉRIA PRECLUSA. OFENSA À COISA JULGADA. PRECEDENTES. [...] 3. Esta Corte firmou entendimento de que é permitida a aplicação de multa diária contra a Fazenda Pública, na medida em que fique caracterizado o atraso do cumprimento de obrigação de fazer, nos termos dos artigos 461 e 461-A do Código de Processo Civil. Precedentes [...]168.

Ressalte-se que a argumentação de que o agente público, pessoa física,

por negligência ou má-fé no descumprimento de decisão judicial, não é motivo

suficiente para isentar o Poder Público da incidência da multa cominatória. Tem-se

que todas as empresas, públicas ou privadas, têm responsabilidade efetiva nos

atos dos seu empregados, devendo a empresa ou o ente público, controlar de

forma eficaz os atos dos seus empregados. Neste sentido, a multa não será

suportada pelo agente público diretamente, e sim pelo Poder Público que o

emprega169.

2.4 O BENEFICIÁRIO DO CRÉDITO DA MULTA;

Na legislação brasileira não existe um dispositivo específico, ou qualquer

menção de quem seria o beneficiário do crédito resultante da aplicação da multa

cominatória. Todavia há um entendimento de que o beneficiário seria o

demandante, uma vez que a multa cominatória não seria uma pena pelo

descumprimento da obrigação, como já explicado anteriormente, e sim um

mecanismo de coação do obrigado. Assim, para assegurar especificamente a

168 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 1090423 / MA, da 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 21 de setembro de 2009. Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 10 de abril de 2010. 169 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 127-128.

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autoridade do Estado existem outros mecanismos, como também mencionado

anteriormente, nos casos da contempt of court, não cabendo ao ente público

executar os valores oriundos das astreintes170. É importante destacar que o

entendimento de que este entendimento está consolidado no fato de que o Estado

não poderia beneficiar-se dos valores que decorram do prejuízo do demandante

pelo descumprimento da obrigação pelo demandado171.

A legislação brasileira, neste aspecto, teria seguido a legislação Argentina,

que determina em seu Código Procesal Civil e Comercial de la Nacion172, que os

valores referentes a sanção pecuniária são revertidos ao “litigante prejudicado

pelo descumprimento”. Estaria portanto, totalmente distante do direito português,

que dispõe a partilha dos valores resultantes da pena pecuniária entre o autor e o

Estado173.

Neste sentido, Salvador Franco de Lima Laurino, estabelece que a regra

disposta no artigo 461, §2º do CPC, que dispõe que a indenização por perdas e

danos se dará sem prejuízo da multa, leva a entender que o autor da demanda

seja o beneficiário da quantia levantada com a cominação da multa174.

Todavia há um outro entendimento de que seria incoerente o fato de o

montante oriundo da astreinte ser destinado ao autor, e não ao Estado, uma vez

que a multa possui um caráter público, já que é um instrumento de preservação da

170 NETTO, Nelson Rodrigues. Tutela jurisdicional específica: mandamental e executiva latu sensu, p. 144-145. 171 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, p. 103. 172 ARGENTINA. Código procesal civil e comercial de la nacion. Disponível em <http://www.infoleg.gov.ar/infolegInternet/anexos/15000-19999/16547/texact.htm#2>. Acesso em: 22 de abril de 2010. “Art. 37. - Los jueces y tribunales podrán imponer sanciones pecuniarias compulsivas y progresivas tendientes a que las partes cumplan sus mandatos, cuyo importe será a favor del litigante perjudicado por el incumplimiento. Podrán aplicarse sanciones conminatorias a terceros, en los casos en que la ley lo establece. Las condenas se graduarán en proporción al caudal económico de quien deba satisfacerlas y podrán ser dejadas sin efecto, o ser objeto de reajuste, si aquél desiste de su resistencia y justifica total o parcialmente su proceder.” 173 ALVIM, J. E. Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, p. 103. 174 LAURINO, Salvador Franco de Lima. Tutela jurisdicional: cumprimento dos deveres de fazer e não fazer, p. 112.

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autoridade jurisdicional175. Porém, o fato de o autor ser beneficiário da multa

acarreta em maior eficiência do instituto, uma vez que, o crédito dela derivado

será executado de forma rápida e rigorosa pelo particular, além de existir a

disponibilidade de utilizar o crédito como composição com o adversário176.

Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero afirmam que:

Nada obstante não seja essa orientação mais adequada, no direito brasileiro vigente o beneficiário do valor da multa é o demandante. Melhor: aquele a quem o cumprimento da ordem beneficia. Essa é a solução que se depreende do art. 461, § 2º, CPC, na medida em que esse afirma que a indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa177.

Ainda, cumpre destacar, que a multa tem o condão principal de garantir a

efetividade da determinação judicial, e neste sentido, mesmo que esta seja

postulada pelo autor, ela tem o intuito específico de pressionar o réu a adimplir a

decisão do juiz, não de indenizar o autor pelo descumprimento. Não seria de bom

tom que a multa se revertesse ao patrimônio do autor, como se tivesse um fim

indenizatório178.

Sob outro prisma, sabe-se que no processo civil brasileiro podem existir

ações de caráter coletivo ou individual, e neste sentido, o beneficiário do crédito

oriundo da multa cominatória poderá variar dependendo da espécie de ação a que

se refere179. É possível que o ente público figure como beneficiário do crédito

oriundo da multa, e para tal existe um fundo que recolherá tais valores, instituído

175 Barbosa Moreira apud TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 264. 176 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 264-265 177 MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Código de processo civil – comentado artigo por artigo, p. 430. 178 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória: individual e coletiva, p. 218-219. 179 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84), p. 249

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pela Lei da Ação Civil Pública n. 7.347/85, e os reverterá em prol da reconstituição

dos bens lesados180.

O autor Luiz Rodrigues Wambier afirma que “a multa reverte em benefício

do credor. Sua cobrança dar-se-á por meio de execução por quantia certa”181.

Verificar-se-á no decorrer do próximo capítulo, quais as formas de execução da

multa, e os prejuízo que poderá sofrer a incidência, e a exigência da multa diante

das decisões finais de mérito da ação.

180 BRASIL. Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. Lex: Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências.. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L7347orig.htm>. Acesso em: 19 de abril de 2010. “Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. Parágrafo único. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária.” 181 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: processo de execução, p. 306.

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3 A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA

EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA

DAS ASTREINTES

Neste terceiro capítulo será tratada a questão mais controvertida quando se

fala do instituto da astreinte, que seria a admissão da cobrança da multa diária

quando a decisão de mérito resultar na improcedência da ação182.

A astreinte, embora seja uma técnica de tutela à disposição de todos os

órgãos jurisdicionais, tem sido mais bem acolhida e aplicada pelos magistrados de

primeira instância, que possuem um elo mais próximo com as partes. Todavia,

suas decisões têm maior probabilidade de serem revistas por órgãos

hierarquicamente superiores183.

Neste sentido, irá se verificar os problemas que surgem quando as

decisões de primeira instância fixarem as astreintes e forem impugnadas por

recursos, afetadas por alguma espécie de retificação do juízo, ou ainda quando da

tutela antecipada a decisão de mérito decidir pela improcedência da ação.

3.1 O EFEITO DOS RECURSOS SOBRE A EXIGIBILIDADE DAS ASTREINTES;

Como demonstrado anteriormente as astreintes podem ser concedidas em

sede de decisão de mérito, ou em sede de antecipação de tutela. Neste sentido,

para cada espécie de decisão será cabível uma espécie de recuso.

182 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 519. 183 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 193.

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Tem-se verificado que a aplicação do instituto das astreintes é muito mais

efetiva quando da prolação de decisão interlocutória em sede de antecipação de

tutela184. Das decisões que não extinguirem o processo, ou sua fase autônoma, e

que estiverem sujeitos a preclusão, é cabível agravo de instrumento. Todavia, não

estão sujeitos ao agravo o simples despacho, nem a sentença, oponível por

apelação. Especificamente, diz-se do agravo, àquele pertinente as decisões que

não se relacionam com o mérito da demanda185.

Neste sentido é sabido que o recurso cabível para as decisões

interlocutórias, que concedem a tutela específica e determinam a multa

cominatória, é o Agravo de Instrumento, conforme determina o art. 522 do CPC,

sendo que a parte deve comprovar lesão grave ou de difícil reparação186. A regra

do art. 522 é o agravo retido, todavia o agravo de instrumento não deixou de ser

utilizado, pelo contrário, pela peculiaridade dos efeitos das astreintes, tem sido

preferido pelas partes187.

Via de regra, o Agravo de Instrumento é passível de efeitos suspensivo e

devolutivo, sendo que habitualmente não é recebido com efeito suspensivo. O fato

de o recurso ser admitido somente em seu efeito devolutivo, implica dizer que não

suspende a exigibilidade da obrigação até o seu julgamento. Uma vez exigível a

obrigação, continuará a incidir as astreintes durante todo o trâmite recursal.

Entretanto, existe a possibilidade, como mencionado, de recebimento do recurso

em seu duplo efeito, devolutivo e suspensivo. Nestes casos, restaria

substancialmente prejudicada a possível execução do crédito derivado da

184 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 206. 185 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, p. 664. 186 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua interposição por instrumento.” 187 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 526.

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aplicação da multa cominatória. Neste sentido, a suspensão da exigibilidade da

multa cominatória, suspende os efeitos da decisão recorrida188.

Nos casos em que é conferido ao Agravo o efeito suspensivo, há que se

questionar se a incidência da multa também abrange o período em que ficou

suspensa ou não. Há entendimentos que, se a ação for julgada procedente, a

multa deverá ser computada desde o momento inicial em que foi fixada189.

Divergente o entendimento majoritário no sentido de que concedido o efeito

suspensivo ao Agravo, estaria também suspendendo os efeitos da decisão

recorrida, entre eles o da exigibilidade da incidência da multa. Uma vez que a

astreinte tem caráter acessório, impõe que siga o destino da decisão judicial a que

se vinculam, restando suspensa a atividade coercitiva da multa190.

Para a parte prejudicada, caberia a impetração de mandado de segurança,

uma vez que a decisão que recebe o recurso de Agravo de Instrumento não é

suscetível de outro recurso. Como o Agravo é recebido apenas em seu efeito

devolutivo, via de regra, a decisão agravada é desde logo eficaz, e passível de

execução provisória191 como será abordado adiante.

O autor Cássio Scarpinella Bueno, afirma não ser possível, de imediato,

Agravo de Instrumento de decisão interlocutória que condena ao pagamento de

multa. Ele observa que se faz necessária a observância do “modelo constitucional

do processo civil”, onde deve ser apresentada ao juízo prolator da decisão,

impugnação cabível, estabelecendo num primeiro momento o contraditório

necessário ao aprofundamento da questão. Significaria dizer que o magistrado

seria forçado a proferir nova decisão, ouvindo ambas as partes, propiciando o

188 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 206. 189 CARVALHO, Francisco José. ALVIM, Arruda (coord.). Atualidades do processo civil, p. 470. 190 ______. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 207. 191 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 527.

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exercício do contraditório e da ampla defesa, para a partir daí proferir a decisão

interlocutória192.

Por sua vez, os Embargos Declaratórios, no sistema processual brasileiro

atual, é considerado recurso, tendo o mesmo procedimento para julgamentos em

primeira instância ou em instâncias superiores. Todavia eles não são aptos a

modificar a sentença ou acórdão193.

É sabido que o mesmo é oponível contra qualquer decisão judicial, inclusive

contra as que condenam ao pagamento da multa. Neste sentido, cabível

Embargos Declaratórios, conforme determina o art. 535 do CPC, somente quando

a decisão contiver pontos omissos, obscuros ou contraditórios194.

Não será cabível, portanto, o recurso de embargos declaratórios para

discutir o cabimento, ou o quantum da pena cominatória imposta, conforme o

entendimento jurisprudencial: PROCESSUAL CIVIL - OMISSÃO E CONTRADIÇÃO - INOCORRÊNCIA - IMPOSSIBILIDADE DE REDISCUSSÃO DA MATÉRIA DECIDIDA Os EMBARGOS de declaração não têm a finalidade de restaurar a discussão da matéria decidida com o propósito de ajustar o decisum ao entendimento sustentado pelo embargante. A essência desse procedimento recursal é a correção de obscuridade, contradição ou omissão do julgado, não se prestando à nova análise do acerto ou justiça deste, mesmo que a pretexto de prequestionamento. PROCESSUAL CIVIL - OBRIGAÇÃO DE FAZER - ASTREINTES - ALTERAÇÃO DO VALOR - EXECUÇÃO - COISA JULGADA - ART. 461, § 6º, CPC - POSSIBILIDADE "O valor das astreintes pode ser alterado a qualquer tempo, quando se modificar a situação em que foi cominada a multa" (REsp n. 705914/RN, Min. Humberto Gomes de Barros). "Não obstante inexistir previsão expressa, o magistrado pode sobrestar ou suspender a pena imposta, ainda que sem requerimento da parte. Inteligência do art. 461 do CPC. Nessas circunstâncias, não há que se falar em julgamento ultra petita"195.

192 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva, p. 431. 193 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, p. 686. 194 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. Art. 535. Cabem embargos de declaração quando: I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.” 195 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Embargos de Declaração em Apelação Cível n. 2008.067071-5, Terceira Câmara de Direito Público, Pinhalzinho, 14

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Neste sentido, há o entendimento de que o embargo possui, via de regra,

efeito suspensivo, e sendo assim, cabe o mesmo tratamento que é dado a outros

recursos recebidos com este efeito, fica suspensa a eficácia da decisão até a

análise do recurso. Tal entendimento, todavia, causa certa relutância de aplicação,

uma vez que o mesmo é observado como um recurso que nem sempre tem

aptidão para obstar a eficácia de uma decisão196.

O entendimento do Tribunal de Justiça do estado de Santa Catarina segue esta linha de pensamento:

PROCESSUAL CIVIL - OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DECLARATÓRIOS - INTERRUPÇÃO DE PRAZO PARA OUTROS RECURSOS - IMPOSIÇÃO LEGAL - Nos termos do art. 538 do Código de Processo Civil, a oposição de EMBARGOS de declaração, salvo se intempestivos, interrompe o PRAZO para a interposição de outros recursos197.

Seria o efeito suspensivo, no caso do embargo declaratório, pertinente a

apenas a contenção provisória da eficácia da decisão exarada, até o seu trânsito

em julgado, ou até a decisão do recurso com efeito suspensivo. Nestes casos,

bastaria que o demandado opusesse embargos declaratórios para que a decisão

antecipatória tivesse seus efeitos suspensos. Por esta razão, a interrupção de um

prazo recursal, não significa necessariamente, que a decisão está suspensa ou

contida. O embargo declaratório somente suspenderá a eficácia da decisão

prolatada quando for necessária a interrupção de prazo para outros possíveis

recursos com eficácia suspensiva. Por exemplo, no caso de embargo declaratório

oponível contra decisão interlocutória, passível de agravo de instrumento, via de

regra desprovido de efeito suspensivo, os embargos, embora interrompam o prazo de julho de 2009. Disponível em: < http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=embargos+declarat%F3rios+astreinte&parametros.rowid=AAARykAAHAAAA29AAA>. Acesso em: 25 de abril de 2010. 196 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 528. 197 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Agravo de Instrumento n. 2005.001465-7, Segunda Câmara de Direito Público, Correia Pinto, 26 de abril de 2005. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=embargos+declarat%F3rios+interrup%E7%E3o+prazo&parametros.rowid=AAARykAAKAABKowAAE >. Acesso em 25 de abril de 2010.

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daquele recurso, não serão passiveis de suspensão da eficácia da decisão

interlocutória198.

No que tange o recurso de apelação, muito tem de semelhança com o

recurso de agravo de instrumento, uma vez que também pode ser recebido em

efeito suspensivo e devolutivo, ressalvadas as suas peculiaridades. Via de regra a

apelação será recebida em seu duplo efeito, somente nas hipóteses dispostas no

art. 520 do CPC199 é que será permitido seu recebimento apenas com efeito

devolutivo200.

Assim, uma vez concedido o efeito suspensivo a apelação, permanece

suspensa a eficácia da sentença, não incidindo a multa cominatória, e partir do

momento em que a eficácia da decisão for restabelecida, a incidência da multa

teria efeito ex nunc, passando a incidir a partir deste restabelecimento. Há que se

destacar a hipótese mencionada no art. 520, inciso VII, do CPC que afirma que a

sentença que confirmar a concessão da tutela antecipada, somente será recebida

em seu efeito devolutivo. Neste sentido, é possibilitada a parte imediata

exigibilidade do crédito derivado da multa cominatória201.

Da decisão final, ainda não transitada em julgado, em que o recurso foi

recebido apenas em seu efeito devolutivo, caberá a execução em caráter

provisório, sofrendo as restrições do art. 475-O do CPC202, onde é ressaltada a

198 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o processo civil brasileiro: multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 218-219. 199 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 520 - A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: I - homologar a divisão ou a demarcação; II - condenar à prestação de alimentos; III - julgar a liquidação de sentença; (Revogado pela L-011.232-2005) IV - decidir o processo cautelar; V - rejeitar liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; VI - julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem; VII – confirmar a antecipação dos efeitos da tutela.[...]” 200 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa, p. 342-343. 201 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 529-530 202 BRASIL. Código de processo civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: [...]III – o levantamento de depósito em dinheiro e a

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hipótese de que não é possível a alienação de domínio ou o levantamento de

quantia em dinheiro sem a prestação de caução idôneo203.

A partir do procedimento de execução, seja provisória ou permanente, o

executado também poderá pleitear a suspensão do processo a fim de impugnar a

pretensão do crédito. Neste sentido, ele detém de dois instrumentos, os embargos

do executado e a impugnação ao cumprimento da sentença. Todavia, a Lei

10.444/02, que reformou o CPC, eliminou o processo de execução autônomo para

títulos judiciais que versem sobre as obrigações de fazer, não fazer e entrega de

coisa, cabendo para tais ações, somente a impugnação do cumprimento de

sentença. Tanto os embargos do executado, quanto a impugnação da sentença

tem função de questionar tanto matéria de âmbito processual, quanto as exceções

substanciais nascidas após o surgimento da pretensão a executar204.

O CPC prevê em seu art. 475-J que o condenado possa impugnar a

execução no prazo de 15 dias, e procedendo o executado com a impugnação,

num primeiro momento em nada irá interferir na incidência da astreinte. Sendo a

impugnação acolhida desprovida de efeito suspensivo, a multa cominatória

continua a incidir até o julgamento da impugnação. Neste sentido, somente se

concedido o efeito suspensivo à impugnação será suspensa a incidência da

multa205.

Em geral, as astreintes estão fundamentalmente vinculadas aos efeitos que

os recursos gerem sobre a exigibilidade da conduta imposta ao demandado.

prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.” 203 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil, p. 659. 204 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 1176. 205 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: processo de execução, p. 374-375.

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3.2 A ASTREINTE E O PROCESSO DE EXECUÇÃO OU CUMPRIMENTO DE

SENTENÇA;

Como mencionado anteriormente, a partir da intimação pessoal do devedor

acerca da decisão que concedeu a tutela específica com multa cominatória206, é

passível a cobrança da multa a qualquer momento, como será exposto no

presente tópico.

Importante em todos os casos, que a pressão psicológica derivada da

astreinte ocorrerá logo após o provimento judicial, ou nos termos previstos no

título extrajudicial, mas depois de exaurido o prazo de cumprimento207.

O Ministro Luiz Fux afirma que o art. 461 do CPC tornou inútil o antigo

procedimento que ditava as execuções de obrigações de fazer, não fazer e

entrega de coisa, já que diante da nova redação do artigo tais prestações se

tornaram autoexecutáveis, e a astreinte tende a acompanhar tal procedimento208.

Neste sentido, a execução do crédito derivado da multa cominatória, se

dará no próprio processo em que foi proferido o comando. O que difere da

execução da tutela específica em si, que não requer medida de tamanha urgência

para execução. Seja a multa fixada em decisão final de mérito, ou em sede de

decisão interlocutória, tal execução irá ser fundada em título judicial209.

O Superior Tribunal de Justiça também já se pronunciou acerca do tema:

1. As decisões judiciais que imponham obrigação de fazer ou não fazer, ao advento da Lei 10.444 2002, passaram a ter execuç⁄ ão imediata e de ofício.

2. Aplicando-se o disposto nos arts. 644 caput, combinado com o art. 461, com a redação dada pela Lei 10.444 2002, a⁄ mbos do

206 Item 3.1, p. 44. 207 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 565. 208 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil, p. 101. 209 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa, p. 261-262.

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CPC, verifica-se a dispensa do processo de execução como processo autônomo210.

Assim, tanto nos casos de execução provisória, quanto nos casos de

execução de fato, Araken de Assis afirma que o disposto no art. 645 do CPC

pretende dispensar a propositura de uma ação executiva a parte, realizando a

execução no processo originário211.

Sobre o tema da execução do crédito resultante da multa, o autor Luiz

Guilherme Marinoni entende que a multa não poderá ser cobrada desde logo seja

desacatada a decisão judicial, e este fato não gera incerteza e não tira do instituto

o caráter coercitivo. O mesmo afirma que o réu não é coagido pelo montante a ser

pago, e sim pelo simples fato da determinação do pagamento. Ainda, afirma que o

intuito da multa não pe penalizar o réu, e sim garantir a efetividade da ordem

judicial, e que neste sentido, a imposição da multa por si só é suficiente para

realizar este escopo212.

Neste mesmo sentido, há o entendimento de que somente quando o

beneficiário se tornar, ao fim do processo, o vencedor da demanda, é que poderá

cobrar o montante, pois a multa seria apenas um instrumento de garantia do seu

provável direito213.

Nos tribunais, a matéria também é controvertida. Em alguns casos não é

admitida a execução provisória da multa, conforme entendimento do Tribunal de

Justiça do Rio de Janeiro, que proferiu a decisão:

PROCESSO CIVIL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER -MULTA DIÁRIA - EXECUÇÃO PROVISÓRIA. O objetivo buscado pelo legislador ao prever a pena pecuniária nas ações de obrigação de fazer, nos termos do art. 644, do CPC, se destina a coagir o devedor a cumprir a obrigação específica. Tal coação, no entanto, não pode servir de justificativa para o enriquecimento sem causa.

210 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 692.323 da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 30 de maio de 2005, Disponível em > <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200401416117&dt_publicacao=30/05/2005>. Acesso em 05/05/2010. 211 ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 566. 212 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela específica: arts 461, CPC e 84, CDC. p. 108-110. 213 DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil – execução, p. 455-456.

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De qualquer modo a multa só pode ser exigida após o trânsito em julgado da sentença. RECURSO IMPROVIDO.214

Direito Processual. Execução provisória de pena pecuniária cominada em antecipação de tutela de obrigação de fazer: impossibilidade sem a cognição definitiva da causa. Os poderes que a ordem jurídica concede ao Juiz para a antecipação de tutela nas obrigações de fazer ou não fazer não abrangem, nem fungem, os poderes admitidos para a execução provisória das obrigações de dar quantia certa. A multa na obrigação de fazer se destina a coagir o devedor da obrigação ao seu cumprimento, mas não se reveste de caráter perene para que não se transmude em fonte inesgotável de ganho sem causa justa, tanto mais quando não tem natureza reparatória. A decisão incidental provisória de condenação a pagar vultosa quantia implica, sem a cognição definitiva do mérito da causa, em submeter o devedor aos efeitos devastadores do seu credito na praça bem como a imobilizar capital suficiente para garantir eventual penhora na antes mencionada execução provisória. (FJB)215

Alguns autores citam a Lei da Ação Civil Pública216, que serviu como base

para a reforma do disposto nos arts. 461 e 461-A do CPC, e o Estatuto da

Criança e do Adolescente217 para justificar o fato de que a multa somente seria

exigível após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor218.

214 RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Agravo de Instrumento n. 0019229-05.2004.8.19.0000, Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 07 de junho de 2005. Disponível em <http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw?MGWLPN=DIGITAL1A&LAB=CONxWEB&PGM=WEBPCNU88&PORTAL=1&protproc=1&N=200400223119>. Acesso em 20 de abril de 2010. 215 RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Agravo de Instrumento n. 0030144-26.1998.8.19.0000, Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 01de dezembro de 1998. Disponível em < http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw?MGWLPN=JURIS&LAB=XJRPxWEB&PORTAL=1&PGM=WEBJRPIMP&FLAGCONTA=1&JOB=2150&PROCESSO=199800208609>. Acesso em 15 de abril de 2010. 216 BRASIL. Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L7347orig.htm>. Acesso em: 20 de abril de 2010. “Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo [...] § 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.” 217 BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Lex: Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm>. Acesso em: 20 de abril de 2010.

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Por outro lado, tem-se que a multa pode ser exigível desde o instante em

que a decisão que a fixa seja eficaz. Isto significa dizer que, em caso de tutela

antecipada, ela será eficaz desde o momento em que tenha transcorrido o prazo

fixado para a prática do ato, salvo em caso de interposição de recurso de Agravo

de Instrumento com efeito suspensivo. Nos casos de concessão da tutela em

sentença de mérito, a execução da multa dependerá também da interposição de

recurso de Apelação com efeito suspensivo. Nos casos em que houver a

interposição de recurso, a multa ficará inexigível até a análise dos mesmos, como

se verá adiante219.

Em não havendo recurso, ou sendo este não atribuído de efeito suspensivo,

é cabível que seja iniciado o processo de execução provisória da multa, desde que

haja responsabilidade objetiva do exeqüente, onde mesmo diante da instabilidade

da sentença ocorre a execução com a obrigação de que, sendo a decisão

reformada, tudo volte ao estado original. Inclusive, deverá ser liquidado nos

próprios autos todo o benefício obtido pelo autor, sob pena de enriquecimento

injusto220.

O Superior Tribunal de Justiça já consolidou seu entendimento no sentido

de admitir a execução da multa antes da prolação da sentença definitiva e da

cessação dos meios de impugnação possíveis, como traduz estes entendimentos:

FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. INTERRUPÇÃO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. RELIGAMENTO. DESCUMPRIMENTO. ASTREINTES. EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. I - Trata-se de recurso especial interposto contra o acórdão que

“Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.[...] § 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.” 218 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro: Multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 256-257. 219 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional executiva, p. 416-417. 220 FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2009, vl. 2, p. 106-108.

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manteve decisão interlocutória que determina a imediata execução de multa diária pelo descumprimento da ordem Judicial. II - Considerando-se que a "(...) função das astreintes é vencer a obstinação do devedor ao cumprimento da obrigação de fazer ou de não fazer, incidindo a partir da ciência do obrigado e da sua recalcitrância" (REsp nº 699.495/RS, Rel. Min. LUIZ FUX, DJ de 05.09.05), é possível sua execução de imediato, sem que tal se configure infringência ao artigo 475-N, do então vigente Código de Processo Civil. (...)221 Assim, pode o juiz fixar multa diária para eventual descumprimento de medida cautelar. Se esta é confirmada pela sentença do processo principal (e transita em julgado), passa a ser devida e o cômputo do seu valor terá como termo inicial o dia do descumprimento da medida cautelar; conforme, inclusive, decidido no acórdão recorrido (fls. 67). Entender de modo diverso acabaria por tornar ineficaz a decisão judicial, permitindo o seu descumprimento222. PROCESSO CIVIL. MULTA COMINADA EM DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. EXECUÇÃO. A decisão interlocutória que fixa multa diária por descumprimento de obrigação de fazer é título executivo hábil para a execução definitiva. Agravo regimental não provido223.

A grande diferença estaria basicamente na incidência e na exigibilidade da

multa. Diferenciar a partir de quando ela passar a ser computada e de quando ela

será exigível.

221 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 85737 da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 27 de fevereiro de 2007, Disponível em < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=885737&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=3>. Acesso em: 20 de abril de 2010. 222 ______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 159.643 da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 23 de novembro de 2006. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=199700918505&dt_publicacao=27/11/2006>. Acesso em 21 de abril de 2010. 223 ______. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial n. 724.160 da Terceira Truma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 04 de dezembro de 2007. Disponível em <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200500171977&dt_publicacao=01/02/2008>. Acesso em: 05 de maio de 2010.

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3.3 A DECISÃO FINAL DE MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE

DO CRÉDITO RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES

Como fundamental objeto do presente estudo, será analisado a partir de

agora, quais os reflexos das decisões de mérito na concessão e exigibilidade das

astreintes. Tema controverso na doutrina e na jurisprudência, abordar-se-á neste

tópico somente o entendimento doutrinário acerca do assunto.

Diante da procedência da demanda, não existe um posicionamento

controvertido no que tange a exigibilidade da multa. Uma vez extintos os meios de

recurso, e transitada em julgado a decisão que concedeu a tutela e determinou a

multa cominatória, faz jus o autor do recebimento dos créditos resultantes da

multa. Todavia, a análise controvertida está no caso de o demandado ter

interposto recurso de agravo de instrumento diante de uma decisão interlocutória

de concessão da multa, e tendo este obtido sucesso, interrompe-se a incidência

da astreinte, para que no final da demanda seja prolatada uma sentença de

procedência da demanda. Tem-se que uma vez extinta a obrigação do

recolhimento da multa em sede de agravo de instrumento, não poderá ser esta

extinção ser revogada pela sentença de mérito. A multa não mais será devida,

cabendo ao magistrado, se entender cabível, determinar novamente o

cumprimento da obrigação sob pena de multa, esta a incidir somente sobre o

período posterior a sentença224.

Por sua vez, quando ocorrer de a sentença ser parcialmente procedente,

tendo a demanda apenas como objeto a obrigação de fazer, não fazer e entrega

de coisa, positiva a manutenção da multa, uma vez que esta incide sobre o bem

tutelado subsistente. Todavia, se ocorrer de o processo possuir mais de um bem

224 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa, p. 259.

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jurídico a ser tutelado, a multa diária incidirá somente sobre aquele objeto que

trata da tutela específica das obrigações dos arts. 461 e 461-A do CPC225.

Quando se tratar das sentenças de improcedência, o tema passa a ser

controvertido. Um primeiro entendimento seria de que, mesmo diante da sentença

de improcedência da ação, o autor faria jus ao crédito decorrente da aplicação das

astreintes, uma vez que o demandado teria colocado em cheque a autoridade do

Estado-juiz, ao contrariar uma determinação legal. Neste sentido, a multa

cominatória teria um efeito sancionatório ou punitivo ao demandado, que

descumpriu a ordem judicial. O posicionamento é de que a função da multa é de

“garantir a obediência à ordem judicial”, não importando se a análise posterior da

demanda levou ao entendimento de que o autor não era detentor do direito

postulado226.

O autor J. E. Carreira Alvim entende ser possível a manutenção da tutela

liminarmente antecipada mesmo diante da improcedência da ação. Ele justifica no

fato de que é aplicável o princípio da proporcionalidade, evitando maior prejuízo

ao autor do que benefício ao réu com a cassação da liminar. Este procedimento

tem o condão de aguardar a análise da matéria pelo Tribunal superior, para que,

caso haja a reforma na decisão, não haja prejuízo ao autor227.

Para justificar este entendimento, há a preocupação de que a parte

demandada, sabendo que a tutela específica pode ser passível de alteração, bem

como pode sua tese de defesa obter sucesso, não vê estimulo em acatar a

decisão do magistrado que determine a multa cominatória, já que uma vez

cumprindo esta estará em prejuízo pecuniário. Neste sentido, o instituto estaria

prejudicado em sua essência, que é da obtenção do resultado prático da tutela. É

225 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 520-521. 226 ARENHART, Sérgio Cruz apud AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro: Multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 194. 227 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, p. 201.

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fundamental que o instituto garanta a obediência da ordem judicial, sob pena de

negar o caráter coercitivo da medida228.

Para finalizar este entendimento, tem-se que uma vez impugnada com

sucesso a condenação à prestação principal, deveria permanecer válida a

sentença com relação a astreinte, no caso em que houvesse ocorrido a execução

provisória229. Se a busca for por um processo efetivo, que preserve a autoridade

do juiz, é necessário desvincular totalmente a exigência da multa do resultado final

do processo230.

Em contradição ao entendimento mencionado, entende-se que o credor,

diante da sentença de improcedência, não tem qualquer direito a impor qualquer

obrigação ao devedor, inclusive no que tange o pagamento do crédito resultante

das astreintes. Significaria dizer que não havia direito a ser amparado, e por isso

não haveria cabimento em fazer o devedor arcar com o pagamento da multa231.

O autor Guilherme Rizzo Amaral, traduz a inaplicabilidade dos precedentes

utilizados pela doutrina contrária, uma vez que a astreinte não tem o condão

punitivo. A multa diária é medida coercitiva acessória da tutela específica,

enquanto a multa estabelecida no atual CPC em seu art. 14 é medida punitiva a

ato atentatório a dignidade da justiça232.

Não é considerado viável o argumento de que a multa resguardaria a

autoridade do magistrado, já que a autoridade judicial se resguarda no fato de

tutelar a parte que tenha razão na lide. A tese combatida estaria consagrando o

culto a uma autoridade por si mesma, desvinculando a razão de ser do instituto.

Para os casos de descumprimento da decisão, o magistrado estaria amparado até 228 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 518-519. 229 CENDON, Paolo apud MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Específica: arts 461, CPC e 84, CDC, p. 111. 230 ARENHART, Sérgio Cruz apud LAURINO, Salvador Franco de Lima. Tutela Jurisdicional: cumprimento dos deveres de fazer e não fazer. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 111. 231 CARVALHO, Francisco José. ALVIM, Arruda (coord.). Atualidades do Processo Civil, p. 470-471. 232 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro: Multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 194-195.

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mesmo pelo CP que configura o crime de desobediência. Além do que, vigora o

princípio de que o réu deve ser ressarcido dos danos derivados de qualquer

interferência judicial, seja a título provisório ou permanente233.

Determina esta corrente que havendo a imposição de multa por decisão

interlocutória, o valor percebido por execução provisória, deverá ser devolvido,

podendo o exequente responder nos termos do art. 475-O, inc. I, do CPC234.

Afirma ser ilógico que se o processo não pode prejudicar a parte que tenha razão,

também não poderia beneficiar a parte desprovida dela235.

O autor Luiz Guilherme Marinoni afirma que:

A multa não tem o objetivo de penalizar o réu que não cumpre a ordem; o seu escopo é o de garantir a efetividade das ordens do juiz. [...] Ora, se a coerção está na ameaça, e ninguém pode se dizer não ameaçado por uma multa imposta na tutela antecipatória ou na sentença de improcedência – ao menos quando o entendimento do tribunal não é radicalmente oposto ao do juiz de primeiro grau -, não há por que se penalizar o réu que, descumprindo a ordem, resulta vitorioso no processo236.

Neste sentido, o Ministro Luiz Fux entende que não é por razão diversa que

a execução provisória corra por conta e risco do exequente, sendo esta a forma de

execução permitida quando a sentença ainda possui um grau de instabilidade, e

está aguardando ser confirmada pelo tribunal superior237.

A multa compõe técnica acessória a tutela antecipatória, neste sentido a

multa não possuiria autonomia suficiente para persistir diante da improcedência do

principal. A fixação da multa é intimamente ligada a decisão que se busca cumprir,

que estabelece a relação autor e réu na demanda. Examinando esta decisão, e

233 TALAMINI, Eduardo. Tutela relativa aos deveres de fazer e não fazer: e sua extensão aos deveres de entrega de coisa, p. 260. 234 BRASIL. Código de Processo Civil. Organização dos textos, notas remissivas e índices por Anne Joyce Angher. 5. ed. São Paulo: Rideel, 2008. “Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas: I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido;[...]” 235 SCHIMURA, Sérgio (Coord.); BRUSCHI, Gilberto Gomes (Coord.). Execução civil e cumprimento da sentença, p. 518-519. 236 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Específica: arts 461, CPC e 84, CDC, p. 110. 237 FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil, p. 108.

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concluindo que perece de fundamento, falece a antecipação decidida, bem como a

multa acessória. Ambas as correntes fundamentam a exigibilidade da multa

cominatória na conduta do réu diante da determinação judicial. Todavia, a

segunda corrente afirma que a primeira baseia-se em critérios mais intuitivos do

que estatísticos. Por este motivo, condicionar a mencionada exigibilidade da multa

ao mérito da ação principal, não parece-lhes afetar o caráter coercitivo da

medida238.

Por fim, é importante destacar que a busca pela efetividade do processo

judicial não deve se confundir com o cumprimento impensado de ordens judiciais

possivelmente ilegais e injustas. Entende-se que punir o réu por descumprimento

de decisão cuja ilegalidade não é admitida pelo próprio Poder Judiciário,

significaria desvirtuar por completo a função jurisdicional do processo que visa

restaurar o direito violado e entregar o bem da vida reclamado, satisfazendo a

parte lesionada239.

3.4 APONTAMENTOS JURISPRUDENCIAIS ACERCA DA DECISÃO FINAL DE

MÉRITO E A SUA IMPLICAÇÃO NA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO

RESULTANTE DA INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES

A partir de agora, será feita uma análise jurisprudencial da matéria

abordada. O Superior Tribunal de Justiça já proferiu decisões no sentido de aceitar

a execução da multa independentemente do mérito da demanda. PROCESSO CIVIL. MULTA COMINADA EM DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. EXECUÇÃO. A decisão interlocutória que fixa multa diária por descumprimento de obrigação de fazer é título

238 AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro: Multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 196-197. 239 NUNES, Luiz Antonio apud AMARAL, Guilherme Rizzo. As astreintes e o Processo Civil Brasileiro: Multa do artigo 461 do CPC e outras, p. 201.

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executivo hábil para a execução definitiva. Agravo regimental não provido240.

Já no Recurso Especial n. 445.905-DF, a corte superior afastou o crédito

resultante da multa que incidira sobre a sentença já transitada em julgado, por

conta de fato superveniente à sentença e que veio a desobrigar o réu. ADMINISTRATIVO - AÇÃO DEMOLITÓRIA INTENTADA, TENDO EM VISTA A EDIFICAÇÃO DE OBRA IRREGULAR - AÇÃO JULGADA PROCEDENTE, COM COMINAÇÃO DE PENA PECUNIÁRIA CASO NÃO CUMPRIDO O JULGADO - SENTENÇA CONFIRMADA PELA CORTE DE ORIGEM - PRETENDIDO PAGAMENTO DAS ASTREINTES - EMISSÃO POSTERIOR DE ALVARÁ A CONSIDERA COMO REGULAR A OBRA REALIZADA - INCIDÊNCIA DO IUS SUPERVENIENS - RECURSO ESPECIAL. - Não se pode desprezar que a ocorrência do fato superveniente ------- consubstanciado no reconhecimento de que a edificação está adequada ao Plano Diretor -------, se existente ao tempo do ajuizamento da ação, não haveria imposição de qualquer meio coercitivo para que o devedor cumprisse a obrigação. Dessa forma, não subsiste a incidência das astreintes. Aplicação da teoria do fato consumado241.

Já no julgamento do Recurso Especial n. 159.643-SP, demonstrou o

entendimento de que a multa somente seria devida diante da confirmação do

direito em sentença de mérito, conforme demonstra julgamento: PROCESSO CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. RESCISÃO DE CONTRATO DE FRANQUIA E USO DE MARCA. CONCESSÃO DE LIMINAR DETERMINANDO A SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE. FIXAÇÃO DE ASTREINTES. CABIMENTO. [...] Assim, pode o juiz fixar multa diária para eventual descumprimento de medida cautelar. Se esta é confirmada pela sentença do processo principal (e transita em julgado), passa a ser devida e o cômputo do seu valor terá como termo inicial o dia do descumprimento da medida cautelar; conforme, inclusive, decidido

240 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial n. 724.160 da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 04 de dezembro de 2007. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200500171977&dt_publicacao=01/02/2008>. Acesso em: 20 de abril de 2010. 241 ______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 445.905 da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, Brasília, DF, 13 de maio de 2003. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200200789650&dt_publicacao=08/09/2003>. Acesso em: 21 de abril de 2010.

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no acórdão recorrido (fls. 67). Entender de modo diverso acabaria por tornar ineficaz a decisão judicial, permitindo o seu descumprimento242.

Ainda a corte entendeu ser imprescindível, em caso de execução provisória

da multa, o retorno da situação ao status anterior à concessão daquela, conforme

demonstra no julgamento do Recurso Especial n. 661.683: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. OBRIGAÇÃO DE FAZER. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. EXCLUSÃO DO CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. SUPERVENIÊNCIA DE SENTENÇA JULGANDO IMPROCEDENTE O PEDIDO E REVOGANDO A MEDIDA ANTECIPATÓRIA. MULTA COMINATÓRIA APLICADA PELO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO APÓS O RECEBIMENTO DA APELAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. NULIDADE. 1. A antecipação da tutela possui conteúdo precário em virtude de seu juízo preliminar e perfunctório, contemplando apenas a verossimilhança das alegações. Uma vez proferida a sentença de mérito e refutada a verossimilhança antes contemplada, não podem subsistir os efeitos da antecipação, importando no retorno imediato ao status quo anterior à sua concessão, devido a expresso comando legal. 2. O recebimento da apelação, no seu duplo efeito, não tem o condão de restabelecer os efeitos da tutela antecipada - determinando a exclusão do nome da recorrente do cadastro de restrição ao crédito, sem cominação de multa naquele momento - expressamente revogada na sentença. 3. Por conseguinte, não subsiste jurisdição ao Juízo de primeiro grau para aplicar multa cominatória, nos termos do art. 461, § 4º, do CPC, após o recebimento da apelação, quando a obrigação de fazer estipulada na antecipação de tutela não mais existe ante a sua revogação pela sentença. 4. Recurso especial não conhecido243.

Por sua vez, os tribunais estaduais tem se manifestado no sentido de não

admitir a execução da multa antes de proferir a sentença de mérito, o que leva a

entender que a multa acompanha o mérito da demanda. O entendimento do

242 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 159.643 da Terceira Turma do Superior Trubunal de Justiça, Brasília, DF, 23 de novembro de 2005. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=199700918505&dt_publicacao=27/11/2006>. Acesso em 200 de abril de 2010. 243 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 661.683 da Quarta Turma do Superior Trubunal de Justiça, Brasília, DF, 06 de outubro de 2009. Disponível em < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&processo=661683&b=ACOR>. Acesso em 20 de março de 2010.

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Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul afirma ser impossível a execução do

crédito derivado da multa antes da sua confirmação através de sentença

transitada em julgado, conforme demonstra no julgamento do Agravo de

Instrumento n. 197.183.999, da Primeira Câmara Cível: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ACAO DE CUTELAR INOMINADA. OBRIGACAO DE FAZER COMINACAO DE MULTA DIARIA PELO DESCUMPRIMENTO. ASTREINTES. EXECUCAO ANTECIPADA. IMPOSSIBILIDADE. AINDA QUE IMPOSTA LIMINARMENTE MULTA, COMO MEIO COERCITIVO, PELO DESCUMPRIMENTO DESTA DECISAO INTERLOCUTARIA QUE ESTABELECE OBRIGACAO DE FAZER, MISTER SE FAZ A SUA MANTENCA, ATRAVES DE SENTACA TRANSITA EM JULGADO, QUE E TITULO HABIL A VIABILIZAR SUA EXIGIBILIDADE ATRAVES DE EXECUCA... DATA DE JULGAMENTO: 11/11/1997 PUBLICAÇÃO: Diário de Justiça do dia 244

No mesmo sentido entende o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, onde

afirma que uma vez julgados improcedentes os pedidos do autor, descabida a

multa por descumprimento da obrigação, gerando efeitos ex tunc: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. SENTENÇA ADSTRITA AOS LIMITES DO PEDIDO. INOVAÇÃO EM SEDE RECURSAL. INADMISSIBILIDADE. TUTELA ANTECIPADA. REVOGAÇÃO. EXIGÊNCIA DA MULTA. Nos termos do art. 460 do CPC, o magistrado fica adstrito ao pedido inicial, não podendo haver no acórdão julgamento de pretensão não deduzida em primeira instância. Se a sentença julga improcedentes os pedidos iniciais, revogando a decisão que havia concedido a tutela antecipada, não há que se falar em cobrança de multa pelo seu descumprimento. Preliminar instalada de ofício rejeitada e apelação não provida. VV.: À inteligência da norma do art. 514, II, do CPC, as razões do apelo são deduzidas a partir do provimento judicial e devem fustigar os seus fundamentos, o que inocorrreu 'in casu', razão por que o presente recurso não deve ser conhecido. (Des. Roberto Borges de Oliveira) 245

244 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo de Instrumento n. 197183999 da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, 11 de novembro de 1997. Disponível em: <http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris>. Acesso em: 28 de abril de 2010. 245 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Apelação Cível n. 1.0024.05.704456-2/001 da Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, 19 de agosto de 2008. Disponível em:

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AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - DESCUMPRIMENTO - REVOGAÇÃO DA DECISÃO CONCESSIVA DA MEDIDA - EFEITOS EX TUNC - EXECUÇÃO DA MULTA COMINATÓRIA - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO IMPROVIDO. A antecipação dos efeitos da tutela é deferida em cognição sumária, ou seja, antes da instrução do processo e da formação de um juízo exauriente dos fatos narrados na inicial. Em função disso, o Diploma Processual Civil, em seu art. 273, § 4º, prevê, de forma expressa, a possibilidade do julgador, a qualquer tempo, revogar a medida antecipatória anteriormente concedida. A revogação da antecipação de tutela, devido à própria natureza precária daquela medida, opera efeitos ex tunc, ou seja, retroativos até o momento de sua concessão. Ainda que a sentença que julgou improcedente o pedido do autor não faça qualquer menção à revogação da antecipação de tutela, anteriormente concedida, esta será revogada, ipso facto, inclusive com efeitos ex tunc. Isso porque o julgamento definitivo do feito, fundado em juízo exauriente, por obvio, deverá prevalecer sobre o decisum que concedeu a medida antecipatória, em cognição sumária. Vale acrescentar que a multa cominatória, em relação à antecipação de tutela, possui caráter meramente acessório, destinado-se a garantir a sua efetividade. Logo, havendo a revogação desta medida, de natureza principal, impõe-se a revogação também das referidas astreintes246.

O Tribunal de Justiça do estado de São Paulo proferiu decisão, em sede de

recurso de Apelação, no sentido de que a exigibilidade do crédito oriundo da

astreinte está condicionado ao mérito da demanda: CIVIL – CADERNETA DE POUPANÇA – AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE – RECURSO DO CORRENTISTA PUGNANDO PELA CONDENAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO PAGAMENTO DE MULTA COMINATÓRIA EM RAZÃO DO

<http://www.tjmg.jus.br/juridico/ea/pesquisaIdEspelhoAcordao.do?id=7715&pesquisaId=Pesquisar&lista=true&palavras=astreinte%20improced%EAncia&palavrasAnd=&palavrasOr=&palavrasNot=&fraseExata=&codigoCompostoRelator=0,0&dataPublicacaoInicial=&dataPublicacaoFinal=18/05/2010&dataJulgamentoInicial=&dataJulgamentoFinal=>. Acesso em 29 de janeiro de 2010. 246 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de Instrumento n. 1.0145.06.334341-5/001 da Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, 30 de abril de 2008. Disponível em: <http://www.tjmg.jus.br/juridico/ea/pesquisaIdEspelhoAcordao.do?id=7086&pesquisaId=Pesquisar&lista=true&palavras=astreinte%20improced%EAncia&palavrasAnd=&palavrasOr=&palavrasNot=&fraseExata=&codigoCompostoRelator=0,0&dataPublicacaoInicial=&dataPublicacaoFinal=18/05/2010&dataJulgamentoInicial=&dataJulgamentoFinal=>. Acesso em 29 de janeiro de 2010.

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RETARDO NA EXIBIÇÃO DOS EXTRATOS BANCÁRIOS – IMPOSSIBILIDADE – EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO COMUM QUE DEVE SEGUIR A REGRA PREVISTA NA LEI PROCESSUAL CIVIL – EXIGIBILIDADE DA MULTA COMINATÓRIA QUE, ADEMAIS, DEPENDE DA PROCEDÊNCIA DA AÇÃO – RECURSO IMPROVIDO. “O descumprimento injustificado da ordem de exibição de documento comum enseja a sanção do art 359, do Código de Processo Civil, não havendo se falar em aplicação retroativa de multa cominatória diária. Ademais, deve ser ponderado que a exigibilidade da pena cominatória está condicionada à procedência da ação”.247

Afirma o Tribunal daquele estado ainda, em contradição ao entendimento

do Superior Tribunal de Justiça, que não existe título que possibilite a execução da

astreinte antes de proferida a sentença: Execução - 'Astreintes' - Multa diária de R$ 500,00 fixada em sede de antecipação de tutela - Descumprimento da determinação judicial para que o réu se abstenha de incluir os nomes dos autores nos cadastros de inadimplentes – Fato incontroverso - Exigibilidade das 'astreintes' que, todavia, pressupõe a existência de sentença confirmatória da tutela antecipada - Sentença não proferida pelo d. Juízo 'a quo' - Inexistência de título executivo judicial - Intimação do devedor para o pagamento de R$ 53.000,00, sob pena de acréscimo da multa de 10% a que alude o art. 475-J do 'Codex' descabida - Recurso provido.248

Por fim, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, no julgamento

da Apelação n. 2006.030340-9, acompanha o entendimento de que a multa

cominatória é meramente acessória ao mérito da demanda, não havendo que se

falar em execução da multa quando proferida uma sentença de improcedência da

demanda. Veja: APELAÇÃO CÍVEL. REVISIONAL DE CONTA-CORRENTE E RECONVENÇÃO. SENTENÇA QUE JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS DEDUZIDOS NA EXORDIAL,

247 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Apelação n. 990.10.094418-5 da Trigésima Quinta Câmara de direito privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, 03 de maio de 2010. Disponível em: <http://esaj.tj.sp.gov.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=4458632>. Acesso em: 20 de maio de 2010. 248 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Agravo de Instrumento n. 991.09.075728-0 da Décima Sétima Câmara de direito privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, 03 de março de 2010. Disponível em: <http://esaj.tj.sp.gov.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=4412717>. Acesso em 20 de maio de 2010.

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ASSIM COMO OS PLEITOS ARGUIDOS NA RECONVENÇÃO. INSURGÊNCIA DOS AUTORES. PRELIMINARES. JULGAMENTO ULTRA PETITA. INOCORRÊNCIA. PRESTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL NOS LIMITES DOS PLEITOS VERTIDOS NA PEÇA DEFLAGRATÓRIA. EXISTÊNCIA DE RENÚNCIA EXPRESSA À COBRANÇA DE ALGUNS DOS ENCARGOS PELO BANCO QUE NÃO AFASTA O DEVER DO ESTADO-JUIZ DE MANIFESTAÇÃO ACERCA DOS MESMOS, EM FACE DO PEDIDO DOS CONSUMIDORES DE RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO DE VALORES. AVENTADO JULGAMENTO CITRA PETITA. HIPÓTESE NÃO DELINEADA. MULTA DIÁRIA FIXADA EM TUTELA ANTECIPADA em caso de descumprimento da ordem judicial. REVOGAÇÃO DA LIMINAR nA SENTENÇA. Desnecessidade de menção expressa da ASTREINTE. Efeitos QUE NÃO SUBSISTEM em face de sua acessoriedade.249

EMBARGOS DO DEVEDOR. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL FIXADO EM DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. ASTREINTES. PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA DEPENDENTE DOS AUTOS PRINCIPAIS. HERMENÊUTICA ANALÓGICA DO ARTIGO 108 DO CPC. NECESSIDADE DE SE EVITAR DISTORÇÕES DE INTERPRETAÇÃO. NULIDADE ABSOLUTA RECONHECIDA. CASSADOS OS ATOS PROCESSUAIS DECISÓRIOS OCORRIDOS APÓS A DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA. RETORNO DOS AUTOS AO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU. RECURSO PROVIDO. Para evitar distorções de interpretação, bem como para impedir injustiças para com a parte vencedora, a questão da exigibilidade das astreintes deve ser analisada dentro de um contexto mais amplo, sem perder de vista o direito material que ensejou a ação, e não sob o aspecto único e exclusivo do descumprimento de um comando emitido no curso do processo. (MESQUITA, José Ignacio Botelho de e outros. Breves considerações sobre a exigibilidade e a execução das astreintes. Revista Forense, 2006. p. 484-485 v. 384)250.

249 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 2006.030340-9, Quarta Câmara de Direito Comercial, Florianópolis, 18 de agosto de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=astreinte+improced%EAncia&parametros.rowid=AAARykAAKAAAA1wAAA>. Acesso em: 20 de maio de 2010. 250 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível n. 2005.024807-6, Primeira Câmara de Direito Cível, Florianópolis, 17 de janeiro de 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.todas=astreinte+improced%EAncia&parametros.rowid=AAARykAAIAABeNNAAH>. Acesso em 20 de maio de 2010.

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Neste sentido, é possível verificar que jurisprudência estudada, em sua

grande maioria opta por declarar a astreinte apenas acessório da demanda

principal, que no contexto não pode ser analisada distante do direito material

requerido. Sua exigibilidade está fundamentalmente interligada ao mérito da ação,

não sendo meio de punição pelo comando judicial descumprido.

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CONCLUSÃO

Muito se fala, na atualidade, sobre a efetividade do processo judicial, e

a realização prática dos princípios que regulam o ordenamento jurídico. A visão do

aplicador do direito tem se atentado mais para a realização do direito pleiteado, do

que em meras declarações de sua existência. Diante desta cena, o legislador

trouxe para a realidade jurídica instrumentos capazes de garantir esta efetividade.

Da aplicação de institutos específicos que garantem a antecipação dos

efeitos da tutela, como, por exemplo, as astreintes, surgem controvérsias como a

narrada no presente trabalho.

Para analisar essas controvérsias fez-se necessário o estudo

inicialmente de um breve histórico acerca das obrigações, espécie de vínculo

jurídico que, quando não cumprido espontaneamente pelo devedor, gera a

possibilidade de intervenção jurídica. A partir desta intervenção, se auferiu a

necessidade de tornar efetivo o resultado da demanda, criando, para o direito das

obrigações, a tutela específica.

Com base nesse estudo foram identificadas as tutelas jurisdicionais,

institutos que tornam a obtenção do direito mais rápida e efetiva. Entre elas está a

tutela específica que seria o cumprimento forçado da obrigação, onde é garantido

ao credor o bem a que teria direito. Esta espécie é limitada às ações de obrigação

de fazer, não fazer, e entrega de coisa.

As tutelas jurisdicionais são contempladas pelo Código de Processo

Civil, e as ações de cumprimento das obrigações também são reguladas pelo

diploma legal. Neste sentido, a ação que determina o cumprimento da obrigação

de fazer, não fazer e entrega de coisa, é de conhecimento, adotando o

procedimento ordinário, onde é assegurado todo o exercício de cognição do

processo.

Tal procedimento deve ser estruturado de maneira que seja permitida, a

partir da sentença condenatória do devedor, a prestação exata das tutelas

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pretendidas pelo autor. Em hipótese de exceção, quando se tornar impossível a

realização da tutela específica, poderá o magistrado converter a condenação em

perdas e danos.

Diante do novo procedimento estipulado no Código de Processo Civil,

fica estabelecido que o magistrado deverá fixar um prazo para que seja cumprida

a obrigação, fixando pena de multa para caso de descumprimento da

determinação. Será estipulado um prazo para que o devedor cumpra a obrigação,

sendo que a multa passará a incidir a partir do decurso deste prazo.

Verifica-se então a figura da astreinte, que pode ser aplicada

independentemente de pedido do autor, tanto em tutela antecipatória quanto em

decisão de mérito. A multa vem forçar o demandado, financeiramente e

psicologicamente, a cumprir a determinação judicial, e a inobservância da

aplicação da multa, pelo magistrado, dá ensejo a recurso de embargos de

declaração por omissão do órgão julgador.

Em seguida a presente monografia abordou de forma concisa o

momento de aplicação da multa, a adequação que deve ser feita pelo magistrado,

o beneficiário e o sujeito passivo a quem a mesma incide.

O momento processual em que as astreintes podem ser aplicadas é

aquele em que o magistrado verifica a necessidade do caso concreto. Não há na

legislação nenhuma determinação expressa quanto ao momento de aplicação,

devendo o magistrado se atentar ao requisito da incidência desta, que seria a

partir da citação pessoal do réu. O próprio CPC afirma que o juiz poderá impor a

multa na sentença ou em tutela antecipada, onde verifica-se que o momento de

inicio pode ser livremente fixado pelo juiz.

No entanto não deve o magistrado fixar o termo final da multa para que

o devedor não perca a motivação de adimplir a obrigação.Uma vez satisfeita a

obrigação, extingue-se a incidência da multa.

Quanto a periodicidade, verificou-se que não há restrição para que ela

incida diariamente, podendo o magistrado dispor livremente também neste

aspecto. Assim como o que ocorre na adequação da multa, onde o magistrado

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deve levar em consideração princípios básicos inerentes a sua função, tais como a

razoabilidade e proporcionalidade. Fica o magistrado livre para mensurar a multa,

todavia restrito ao equilíbrio, a necessidade e a garantia da efetividade do

instrumento. Pode agir de acordo com sua valoração pessoal, não ficando restrito

a requisição do autor, ou ao valor do bem objeto da ação.

No que tange o sujeito passivo da multa, verifica-se que de um modo

genérico, as astreintes são aplicadas a parte devedora da obrigação, sendo

possível sua aplicação a fazenda pública, observados os limites legais; ao próprio

demandante, em sede de reconvenção; e a terceiros, quando houverem

obrigações infungíveis.

O beneficiário da multa, também foi tema controvertido, porque implica

na discussão em si da exigibilidade da multa quando da sentença de

improcedência. Todavia, a legislação processual deixa implícito que o beneficiário

seria o autor da demanda por garantir a indenização por perdas e danos, sem

prejuízo dos valores obtidos a título de multa cominatória. Sendo possível, que o

Estado figure como beneficiário, nos casos em que este for o autor da demanda.

Logo, passou-se ao foco do presente trabalho, abordando com ênfase a

divergência quanto a exigibilidade da multa diante da sentença de improcedência

da ação. Foi discutido o efeito dos recursos sobre a exigibilidade, o processo de

execução do crédito oriundo da multa, a decisão final de mérito e sua implicação

na exigibilidade do crédito e os apontamentos jurisprudenciais sobre o tema.

Os recursos afetam significativamente o momento processual em que a

multa passa a ser exigida, uma vez que dependendo do efeito em que é acolhido,

pode ou não possibilitar a execução provisória do crédito resultante da incidência

da multa. O recurso de agravo de instrumento, que é cabível para decisões

interlocutórias, habitualmente não é recebido em efeito suspensivo, o que

possibilita a execução provisória.

Quanto aos embargos de declaração, oponível contra qualquer decisão

judicial em qualquer instância; a apelação, oponível contra a decisão final de

mérito; os embargos do executado e a impugnação ao cumprimento de sentença,

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manifestações com o fito de suspender o processo para impugnar a pretensão ao

crédito, via de regra possuem efeito suspensivo, o que significa o óbice da decisão

provisória. Fica o autor impossibilitado de proceder a execução provisória nestes

casos, o que demonstra que as astreintes ficam vinculadas aos efeitos dos

recursos.

Já no que tange o procedimento de execução do crédito resultante da

aplicação da multa, tem-se que ele se dará no mesmo processo que a derivou,

sendo fundado em título judicial. Para alguns tribunais, não seria possível a

execução provisória da multa, todavia o Superior Tribunal de Justiça se

manifestou confirmando a possibilidade desta desde que haja a responsabilidade

objetiva do exequente. Significa afirmar que o exequente é responsável em

ressarcir os benefícios que obtiver do crédito posteriormente declarado indevido,

devendo liquidar todos nos próprios autos, sob pena de enriquecimento injusto.

Portanto, a simples negativa da seguradora por doença preexistente,

não exclui a responsabilidade da mesma de pagar a indenização aos

beneficiários, devendo a mesma provar a má-fé do contratante ao tempo da

assinatura da proposta.

Adentrado-se efetivamente na decisão final de mérito e sua influência

na exigibilidade do crédito resultante da aplicação das astreintes, a divergência se

encontra especialmente na decisão de improcedência. O posicionamento quando

da decisão de procedência é pouco controvertido, sendo que extintos os meios de

recurso, e transitada em julgado a decisão, faz jus o autor da demanda ao

recebimento dos créditos obtidos pela aplicação das astreintes.

Tratando-se das decisões de improcedência, passa-se a divergência

chave do presente trabalho. Um primeiro entendimento afirma que o autor faria jus

aos valores obtidos a título de multa já que desobedecida uma determinação

judicial. Sendo este posicionamento escoltado no fato de a multa possuir um

caráter sancionatório ou punitivo pela desobediência do demandado.

Já quanto ao posicionamento contrário, a doutrina estudada afirma que

a astreinte não possui caráter sancionatório, sendo ela acessória da demanda

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principal. Seu fundamento seria de garantir a efetividade das ordens judiciais

através da coerção, sendo este o motivo de a execução provisória ser de

responsabilidade objetiva do exequente. A multa visa a efetividade do processo,

não a punição do demandado.

O último ponto abordado no terceiro capítulo da presente monografia

restringe-se a divergência jurisprudencial acerca da exigibilidade da multa

cominatória nos casos de sentença de improcedência.

Neste ponto, há de prevalecer o entendimento de que o objetivo deste

instituto não é penalizar o demandado pelo descumprimento da decisão, até

porque, conforme exposto no trabalho, já existe previsão no CPC de instituto que

visa punir atos atentatórios a dignidade da justiça. Faz mais sentido afirmar que o

montante resultado da aplicação da astreinte deve acompanhar o resultado da

ação principal, devendo ser devolvido ao demandado caso tenha havido execução

provisória dos valores, fazendo jus ainda ao reembolso dos valores relativos a

danos causados por esta. Há que se pensar na responsabilidade comum dos

litigantes, para que a justiça não acabe por cometer injustiças.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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