a d g princesas · longe de ser um conto de fadas, a vida das “fallen princesses” é...

1
A FOTÓGRAFA DINA GOLDSTEIN PEGOU NO ERA UMA VEZDOS CONTOS INFANTIS E TROUXE AS PRINCESAS ENCANTADAS PARA OS DIAS DE HOJE. AS “FALLEN PRINCESSESNÃO TÊM, NECESSARIAMENTE, UM FINAL FELIZAs longas tranças de Rapunzel não resistiram à quimioterapia. Jasmine trocou a lâmpada mágica por uma metralhadora M-16. À custa de operações plásticas, a Bela confunde-se com o Monstro. O Capuchinho Vermelho sofre de obesidade infantil. Branca de Neve está presa às “alegrias” da maternidade. Cinderela afoga as mágoas num bar, solitária. Estes são os cenários alternativos que Dina Goldstein, fotógrafa canadiana, cons- truiu para as histórias infantis escritas pelos irmãos Grimm e popularizadas pela Disney nos últimos anos. Tendo crescido em Israel na década de 1970, Dina não conviveu de perto com estas histórias. E ao ser confrontada com o fascínio que as princesas da Disney exercem sobre as crianças, a fotógrafa resolveu dar um toque de realidade às personagens. Longe de ser um conto de fadas, a vida das “Fallen Princesses” é deca- dente, neurótica, cheia de desilusões, vícios e doenças. Moderna, portanto. «Publiquei as imagens na revista JPG [www.jpgmag.com] para obter reacções de colegas de profissão. A partir do momento em que alguém pegou nas fotos e as colo- cou online o projecto tornou-se viral», conta-nos Dina Goldstein. «Antes de me aper- ceber, as fotografias já tinham dado a volta ao mundo.» E se houve reacções positivas, também houve controvérsia. «Houve quem tives- se ficado ofendido com a imagem do Capuchinho Vermelho, uma criança obesa que carrega um cesto cheio de fast-food pela floresta, por assumir que estava a depreciar as pessoas obesas. No caso da Jasmine, o facto de colocar uma mulher do Médio Oriente num cenário de guerra causou alguma confusão aos norte-americanos, pois con- sideraram que era uma terrorista. Não é o caso. A minha intenção foi mostrá-la como uma guerreira, à semelhança de tantas mulheres que combatem na linha da frente.» A autora das fotos convive bem com todas as críticas. «Acredito que a arte serve para criar diálogo», justifica. «Apercebi-me de que a discussão me transcende e que o meu trabalho tem uma vida própria.» A esta série de imagens juntam-se, este mês, mais duas: Ariel, a pequena sereia, e a princesa da ervilha. Dina Golstein irá mostrá-las ao público numa exposição na Buschlen Mowatt Gallery, em Vancouver. As “Fallen Princesses” e outros projectos de Dina Goldstein em http://www.dinagoldstein.com Princesas caídas Texto: Laura Alves Imagens: © Dina Goldstein 48 FOTOGRAFIA

Upload: phungnhi

Post on 08-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A FOTÓGRAFA DINA GOLDSTEIN PEGOU NO “ERA UMA VEZ” DOS CONTOS INFANTIS E TROUXE AS PRINCESAS ENCANTADAS PARA OS DIAS DE HOJE. AS “FALLEN PRINCESSES” NÃO TÊM, NECESSARIAMENTE, UM FINAL FELIZ…

As longas tranças de Rapunzel não resistiram à quimioterapia. Jasmine trocou a lâmpada mágica por uma metralhadora M-16. À custa de operações plásticas, a Bela confunde-se com o Monstro. O Capuchinho Vermelho sofre de obesidade infantil. Branca de Neve está presa às “alegrias” da maternidade. Cinderela afoga as mágoas num bar, solitária.

Estes são os cenários alternativos que Dina Goldstein, fotógrafa canadiana, cons-truiu para as histórias infantis escritas pelos irmãos Grimm e popularizadas pela Disney nos últimos anos. Tendo crescido em Israel na década de 1970, Dina não conviveu de perto com estas histórias. E ao ser confrontada com o fascínio que as princesas da Disney exercem sobre as crianças, a fotógrafa resolveu dar um toque de realidade às personagens. Longe de ser um conto de fadas, a vida das “Fallen Princesses” é deca-dente, neurótica, cheia de desilusões, vícios e doenças. Moderna, portanto.

«Publiquei as imagens na revista JPG [www.jpgmag.com] para obter reacções de colegas de profissão. A partir do momento em que alguém pegou nas fotos e as colo-cou online o projecto tornou-se viral», conta-nos Dina Goldstein. «Antes de me aper-ceber, as fotografias já tinham dado a volta ao mundo.»

E se houve reacções positivas, também houve controvérsia. «Houve quem tives-se ficado ofendido com a imagem do Capuchinho Vermelho, uma criança obesa que carrega um cesto cheio de fast-food pela floresta, por assumir que estava a depreciar as pessoas obesas. No caso da Jasmine, o facto de colocar uma mulher do Médio Oriente num cenário de guerra causou alguma confusão aos norte-americanos, pois con-sideraram que era uma terrorista. Não é o caso. A minha intenção foi mostrá-la como uma guerreira, à semelhança de tantas mulheres que combatem na linha da frente.»

A autora das fotos convive bem com todas as críticas. «Acredito que a arte serve para criar diálogo», justifica. «Apercebi-me de que a discussão me transcende e que o meu trabalho tem uma vida própria.»

A esta série de imagens juntam-se, este mês, mais duas: Ariel, a pequena sereia, e a princesa da ervilha. Dina Golstein irá mostrá-las ao público numa exposição na Buschlen Mowatt Gallery, em Vancouver.

As “Fallen Princesses” e outros projectos de Dina Goldstein em http://www.dinagoldstein.com

Princesas caídas

Texto: Laura AlvesImagens: © Dina Goldstein

48 FOTOGRAFIA