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A CULTURA CIBERNÉTICA E O USO DAS TDS NO ENSINO SUPERIOR
Este painel debruça-se sobre as experiências vividas no Ensino Superior diante das
tecnologias digitais (TD), onde somos instigados a pensar sobre as mudanças ocorridas
ao longo do tempo. As presentes pesquisas têm como finalidade analisar a influência da
mídia e da tecnologia digital no curso de Pedagogia, em uma IES situada no Vale do
Paranhana, no Estado do Rio Grande do Sul (RS). Sendo assim, estes estudos foram
pautados em pesquisas exploratórias, de cunho qualitativo, cujas informações foram
obtidas através de pesquisa de campo e bibliográfica. As pesquisas bibliográficas foram
utilizadas para retratar conceitos importantes relacionados ao uso das TD ao longo da
história, e, também, para relatar acerca da interdisciplinaridade e a formação de
professores no Ensino Superior. Cada pesquisador buscou, em diferentes cenários, as
respostas para suas indagações individuais, que se refletem em uma busca comum,
tendo, inclusive, aportes teóricos que dialogam entre si, tais como Lévy (1993), Lück
(2013), Papert (1994), Nóvoa (2009), Perrenoud (2000), Arroyo (2011), Alonso e
Blázquez (2012), Zabalza e Zabalza (2012), entre outros. A partir das informações
adquiridas, concluiu-se que ainda existe a necessidade das IES incluírem, de maneira
prática, eficaz e correta, as TDs em seus currículos, e que é preciso fazer uma reflexão
sobre a influência das mídias e das novas tecnologias no cotidiano, procurando
ressaltar, junto aos professores, a importância da formação continuada, do contato
interpessoal, da socialização dos saberes, das competências e habilidades necessárias
ao fazer pedagógico, entre outras características colaborativas indispensáveis ao ser
professor na atualidade.
Palavras-chave: Tecnologia digital. Interdisciplinaridade. Formação docente.
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
46ISSN 2177-336X
O USO DAS TECNOLOGIAS NO CURSO DE PEDAGOGIA
Marlene Soder Ressler 1
RESUMO:
Neste trabalho, busca-se refletir sobre o uso das tecnologias da informação e
comunicação e a sua relação com as competências e habilidades adquiridas pelos
acadêmicos do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de Taquara, trazendo a
história percorrida no ensino e na aprendizagem dessas competências ao longo de duas
décadas. Propõe-se ainda uma análise dos objetivos das disciplinas específicas de
Informática na Educação e Educação e Novas Tecnologias, desde a sua autorização até
os dias atuais, e como elas contribuíram para o desenvolvimento da tecnologia na
escola e a inclusão digital na comunidade.
Palavras-chave: Tecnologias. Aprendizagem. Currículo.
INTRODUÇÃO
Os avanços tecnológicos têm proporcionado possibilidades de comunicação,
interação e informação, as quais, de maneira integrada, vêm transformando e
modificando condutas e relações, rompendo paradigmas de convivências entre os
indivíduos.
Nesse contexto, a educação, sendo a base de formação de cidadãos, precisa
preparar seus profissionais para se apropriarem do potencial educativo que a tecnologia
oferece e colocá-la à disposição do desenvolvimento e planejamento pedagógicos,
visando à construção da autonomia dos educandos e à formação plena do exercício da
cidadania e da subjetividade.
O problema da pesquisa apresenta-se diante da grande explosão tecnológica no
Brasil e a necessidade de seu uso em nossas escolas. A metodologia utilizada neste
trabalho foi o relato da implantação das tecnologias no Curso de Pedagogia das
Faculdades Integradas de Taquara apresentando a trajetória percorrida pelos alunos e
professores, e como se foi constituindo e aperfeiçoando, ao longo de duas décadas,
formando professores para atuarem nas escolas da região de abrangência da instituição.
1 Professora e Coordenadora do Curso de Pedagogia da FACCAT(RS). Mestre em Educação
pela PUCRS.
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O Curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de Taquara iniciou suas
atividades em 1989 e, em seu currículo, previa a disciplina Informática na Educação. A
disciplina ocorreu no 1º semestre de 1993 e tinha como objetivo geral relacionar as
teorias de educação e aprendizagem com o sistema LOGO, desenvolvendo projetos e
estabelecendo uma visão crítica sobre o uso do computador no ensino.
Sabe-se que, nos anos 70 e 80, a informática entrou nas escolas, tanto nas
públicas como nas privadas, num movimento do setor administrativo, informatizando
as secretarias das escolas.
Somente nos anos 80 e 90, a educação começa a sentir necessidade do uso
da tecnologia na sala de aula, onde as questões pedagógicas de uso de computadores
estavam baseadas em projetos que se estendiam ao longo do ano letivo, com uma
proposta pedagógica construcionista: era o movimento LOGO. Almeida (2009)
apresenta essa primeira fase, onde analisa as mudanças ocorridas em relação à
informática e à educação: “Em um primeiro momento, o uso de computadores foi
fortemente influenciado pelos discípulos de Piaget e Papert, chamados loguistas, que, a
partir de um universo cartesiano, demasiadamente lógico-matemático, marcaram a
época em que os pré-PC ou os PC com pouca memória e baixo poder de processamento
eram utilizados segundo a lógica de interação com a máquina a partir possiblidade de
programação no universo lógico-formal de interação entre professor e aluno”.
O Curso de Pedagogia continua também nesse movimento, abordando,
como vimos anteriormente, essa linguagem para os seus estudantes. Paralelo a isso,
surgem os programas governamentais, nos anos 80, como o EDUCOM, que eram
projetos governamentais em informática na educação, os quais tinham por objetivo
formar profissionais e criar centros de pesquisa sobre informática na educação para
utilizar os recursos de informática no processo de ensino e aprendizagem.
Em 1999, 10 anos após a autorização do primeiro curso, surge a
necessidade de uma nova estrutura de currículo, e, com isso, uma nova configuração no
conteúdo da disciplina, e ainda acréscimo de outras, necessárias para esse novo perfil
de professor/pedagogo a ser formado. Surge, assim, a disciplina de Educação e Novas
Tecnologias, que tem como ementa, no Curso de Pedagogia, a reflexão crítica dos
recursos de ensino que viabilizam o processo ensino-aprendizagem; objetivo,
utilização, vantagens e desvantagens; recursos audiovisuais e interativos; teoria das
Múltiplas Inteligências; informática educativa numa perspectiva interdisciplinar que
envolve a Psicologia, a Informática e a Educação. Como objetivo, visa propiciar ao
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educador em processo de formação oportunidades para que seja capaz de utilizar, de
forma crítica e criativa, como ferramentas pedagógicas, as tecnologias contemporâneas
e atuar como agente renovador da prática docente, levando-o a buscar, através desses
meios tecnológicos, a integração de conhecimentos, a aprendizagem colaborativa, o
desenvolvimento de capacidades e habilidades que possibilitem a busca de soluções
para problemas, além de capacitá-lo para lidar com várias áreas do conhecimento, sob o
foco de diversas dimensões, numa perspectiva de educação que vise à formação
integral
Além disso, busca uma nova configuração da disciplina de Informática
Educativa, com o objetivo de proporcionar aos acadêmicos subsídios práticos e teóricos
que os auxiliem na utilização da Tecnologia da Informação e Comunicação, no espaço
educacional, de forma crítica e humanística, disponibilizando um espaço desafiador,
interativo, colaborativo e cooperativo que possibilite o desenvolvimento de habilidades
e competências relacionadas à manipulação e à integração dos softwares voltados à
construção do conhecimento, incentivando a reflexão sobre aprendizagem, a partir da
construção de projetos, a partir do próprio processo de aprendizagem.
Dessa maneira, os alunos do Curso de Pedagogia foram sendo envolvidos e,
de certa forma, foram-lhes disponibilizadas as ferramentas necessárias para atuação em
escolas de educação básica e educação infantil, utilizando as tecnologias da informação
e da comunicação.
A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO X APRENDIZAGEM
Indo ao encontro do que foi dito acima, Jacques Delors (2003, p.89) faz as
considerações sobre a educação no século XXI, apontando como a principal
consequência da sociedade da informação uma aprendizagem fundamentada, ao longo
da vida, em quatro pilares do conhecimento: aprender a conhecer, que envolve a
aquisição dos instrumentos de compreensão; aprender a fazer, relativo ao poder agir
sobre o meio em que vive; aprender a viver junto, que se refere à participação e
cooperação com os outros, em todas as atividades humanas; aprender a ser, que é a via
essencial, integrando as três precedentes.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em vigor desde 1996, já
preconiza a necessidade da "alfabetização digital" em todos os níveis de ensino, do
fundamental ao superior.
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Historicamente, a educação escolar surgiu para suprir as necessidades da
sociedade capitalista. Atualmente, o desenvolvimento tecnológico e econômico
manifesta os novos paradigmas educacionais; segundo Lévy, “Novas maneiras de
pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e
informática” (1993, p.7), agregando a mediação de tecnologias de informação e
comunicação em ambientes educacionais.
Para Tarouco (2003), apesar da necessidade de acompanharmos as
transformações, pois, cada vez mais, a globalização se faz presente, a informática na
educação é um assunto polêmico entre os educadores, e, muitas vezes, não damos conta
de acompanhá-la, mas ela precisa ser incorporada ao processo pedagógico. Para
acompanhar e participar dessa aceleração tecnológica, não basta o acesso aos meios
tecnológicos, mas habilidades e competência para bem usá-los em benefício de vários
aspectos, formando, assim, cidadãos críticos e questionadores (LÉVY, 1993).
De acordo com essas perspectivas, o pensamento de Paulo Freire sobre as
tecnologias entende que “[...] a questão não é acabar com a escola, é mudá-la
completamente, é radicalmente fazer que nasça dela um novo ser tão atual quanto a
tecnologia” (FREIRE & PAPERT, 1996).
Como foi citado, o educador Paulo Freire defendia a atuação docente e a
informática no processo dialógico e interativo de ensino e de aprendizagem.
A pedagogia de Freire (1993) para o uso das tecnologias caracteriza-se por uma
prática pedagógica reflexiva e transformadora. A educação, nessa perspectiva
tecnológica, busca auxiliar no processo de transformação social. Ser professor, no
entendimento de Freire (1998), implica um compromisso constante com as práticas
sociais, nas quais estão envolvidas as tecnologias educacionais.
As competências para a utilização das novas tecnologias como ferramentas
pedagógicas pressupõem novas possibilidades de relacionar o conhecimento com os
outros e com o mundo; nessa perspectiva, segundo o educador freireano, “Não se faz
educação sem ela. Utilizar computadores na educação, em lugar de reduzir, pode
expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas” (FREIRE,
2001a, p.98).
Uma formação reflexiva implica que o docente, em sua própria prática
pedagógica, seja crítico em relação aos conteúdos disponibilizados e construa novos
conteúdos ao longo de sua formação. É um processo que demanda tempo, dedicação e
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principalmente envolvimento do professor nas discussões, para que o uso dos recursos
tecnológicos seja agregado à prática pedagógica na educação escolar.
Complementando, Morin (2002) argumenta que é necessário a educação estar
centrada na condição de sujeito humano, isto é, “[...] devem reconhecer-se em sua
humanidade comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a
tudo que é humano” (p. 47).
A educação, nesse sentido, complementa os conhecimentos oriundos das
ciências e das tecnologias: “Assim, uma das vocações essenciais da educação do futuro
será o exame e o estudo da complexidade humana” (p. 61). Isso mostra o significado de
refletir sobre a relação humana com as tecnologias.
Para Moran (1997), ensinar usando as tecnologias requer atitude diferenciada, o
professor descentraliza de si a atenção e passa a coordenar a integração do processo,
objetivando a mobilização e a acessibilidade, motivando os alunos sobre a importância
do conhecimento, promovendo uma inter-relação entre os conceitos estudados e a
realidade social dos alunos.
Para que de efetivo aconteça a sintonia entre as tecnologias, a escola e os alunos
(nativos digitais), proporcionando-lhes uma aprendizagem significativa, Tarouco
(2003) considera o uso das ferramentas como motivador, por possibilitar, de forma
integrada, ao sujeito aprendiz a compreensão do mundo ao seu redor.
Perrenoud (2000) apresenta em seu livro “10 Novas Competências para
Ensinar”, a utilização das novas tecnologias como sendo uma dessas competências. Se
a formação de uma nova geração frente às tecnologias está trazendo transformações na
maneira de viver, de se relacionar e de pensar, é urgente e necessário que o
professor/pedagogo se aproprie dessas tecnologias e as utilize como auxílio ao ensino,
para dar aulas cada vez mais ilustradas por apresentações de multimídia, ou para mudar
de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de
aprendizagem (2000,p.139).
Ainda o mesmo autor enfatiza a necessidade do ensino e aprendizagem das
tecnologias, quando diz: “Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o
senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de
pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e análise de
textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de
comunicação” (2000, p.128).
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Por outro lado, pode-se dizer que, na trajetória da internet na educação,
surge um movimento de aprendizagem coletiva, colaborativa e cooperativa entre as
pessoas, as quais interagem de forma a aprender em ambientes virtuais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisando o percurso dos alunos ao longo dos anos, pode-se dizer que as
competências estabelecidas na elaboração das ementas e os objetivos das disciplinas
vêm ao encontro das competências anteriormente citadas. Também é necessário que
todas as disciplinas do currículo se integrem, formando uma rede de conhecimentos
interligados.
Atualmente, pode-se dizer que os acadêmicos do curso utilizam as
aprendizagens realizadas nas disciplinas de Informática na Educação e Educação e
Novas Tecnologias como recurso para aprender e para ensinar. Acompanhando a
trajetória desses alunos, percebe-se que, nos últimos anos, houve um grande avanço na
utilização dos recursos tecnológicos, não só por parte deles como também da maioria
da população brasileira. Houve uma facilidade operacional e diminuição de preços,
ficando, assim, mais disponíveis para as escolas, empresas e também nos lares de
grande parte da família brasileira.
Concluindo, pode-se afirmar que o uso das disciplinas de Informática na
Educação e Educação e Novas Tecnologias por si só não garantem o pleno
desenvolvimento dessa aprendizagem, mas que o seu uso de forma interdisciplinar, em
outras disciplinas do curso, e a sua aplicação nas escolas, onde esses usuários atuam
como estagiários, favorece muito a cultura tecnológica e a inclusão digital na
comunidade.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Doriedson Alves. TIC e Educação no Brasil: Breve histórico e
possibilidades atuais de apropriação. Vitória: Revista Pró-discente: Caderno de
Produção Científica. Agosto/Dezembro de 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Lei no 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece
as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez.
1996, no 248, p. 1.
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DELORS, Jacques. Educação: um tesouro por descobrir. 5.ed. São Paulo: Cortez,
Brasília, DF:MEC:UNESCO, 2003.
FREIRE & PAPERT. O futuro da escola. São Paulo: TV PUC, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a pedagogia do
oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
_________Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
_________ Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13. ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
LÉVY, Pierri. As tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da
informática. 13 ed. São Paulo: Editora 32, 1993.
LUCK. Heloisa. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teóricos metodológicos. 18ª
ed. Petrópolis – RJ: Vozes, 2013.
MORAN, José Manuel. Como utilizar a internet na educação. Revista Ciência da
informação, Vol 26, n.2, maio-agosto de 1997, pag. 146-153. Disponível em:
<http://www.eca.usp.br/prof/moran/site/textos/tecnologias_eduacacao/internet.pdf>
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 5. ed. São Paulo:
Cortez, 2002.
PERRENOUD, Philippe. 10 Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed,
2000.
TAROUCO, L. M. R.; FABRE M. J. M.; TAMUSIUNAS, F. R. Reusabilidade de
objetos educacionais. In: RENOTE – Revista Novas Tecnologias para a Educação.
Porto Alegre: Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na Educação (CINTED-
UFRGS), v. 1. nº 1, 2003. Disponível em:
http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183//12975. Acesso em:
7 jun. 2015.
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A FORMAÇÃO DOCENTE E AS TDs NO ENSINO SUPERIOR
Maria de Fátima Reszka2
RESUMO
Esta pesquisa se dedica a um estudo que tem por objetivo compreender as mudanças
ocorridas na formação de docentes e discentes acadêmicos, diante do uso das
tecnologias digitais (TD), visando (re)pensá-la. O estudo se deu em uma instituição de
ensino superior do Vale do Paranhana - RS, no curso de Pedagogia. A metodologia
utilizada foi uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório, em que nos utilizamos das
narrativas orais e escritas, por meio de coletas online de depoimentos dos discentes da
disciplina de Educação e Novas Tecnologias, de questionário online para ambos e de
entrevista aberta com os docentes do curso. O aporte teórico fundamenta-se em Nóvoa
(2009), Arroyo (2011), Alonso e Blázquez (2012), Zabalza e Zabalza (2012) e outros
que trabalham a formação docente a partir de uma perspectiva de profissionalização
docente ligada à pessoalidade do professor; em Castells (2005) e demais pensadores que
nos levam à reflexão da cultura cibernética e do uso das TD nos ambientes escolares. A
interpretação dos dados foi realizada a partir da análise de conteúdo de Bardin (2004).
Os resultados apontam para a necessidade de espaços permanentes de formação, diante
das mudanças aceleradas, permeadas pelo uso das TD nas instituições.
Palavras-chave: Formação de professores. Tecnologias digitais. Ensino Superior.
A FORM(AÇÃO) DOCENTE
A formação docente, diante das novas tecnologias digitais, tem sido palco de
discussões na atualidade. A exemplo disso, na Europa, as universidades têm feito um
esforço para essa discussão junto ao Espaço Europeu de Educação Superior (EEES).
Nesse espaço, os responsáveis têm discutido a passagem dos processos centrados no
ensino para os processos centrados na aprendizagem, conforme o que é citado por
Alonso e Blázquez (2012).
2 Doutora em Educação (UNISINOS). Professora do Curso de Pedagogia nas Faculdades Integradas de
Taquara/RS
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Precisamos refletir, pois as tecnologias digitais nasceram fora do ambiente
escolar e foram, aos poucos, nele incorporadas, não integradas, muitas vezes sendo
utilizadas mais por esnobismo do que por critérios e preocupações didáticas. Isso tem
afetado a maneira de educar, particularmente no ensino superior, pois possibilita novos
tipos de aprendizagem e de transmissão de conhecimento, conforme nos apontam
Alonso e Blázquez (2012).
As universidades apresentam, nos cursos de Educação, o objetivo de contribuir
com a qualificação na formação de professores. Essa qualificação precisa ser repensada,
em função das novas relações que emergem de recentes paradigmas da cultura
tecnológica, conforme nos esclarece Schlemmer (2006).
Bacha (2002, p. 23, grifo do autor) impacta-nos quando diz:
Em sua formação, o professor é, ora substituído pelo „método‟, ora congelado
no lugar da „autoridade‟, como se ele também não tivesse uma
„interioridade”‟conflitante que talvez encontrasse, justamente na atividade
intelectual que se supõe definidora de sua profissão, um meio privilegiado de
se expressar ou de se defender. E quem sabe? Até mesmo de se elaborar.
Quando falamos que a tarefa docente é uma ação especializada e complexa, não
estamos fazendo uso de jogo de palavras para dar conta desse lugar na atualidade.
Estamos falando de uma reconstrução da figura do professor.
Zabalza e Zabalza (2012) dizem que, a partir da lifelong learning, nasce uma
visão diferente do sentido de formação. Asseguram que a formação não é um processo
pontual, que se desenrola durante os anos de carreira, mas um itinerário progressivo que
vai passando por diversas fases e se prolonga em nossas vidas. É um esforço contínuo,
para ir aprimorando nossas competências, aproveitando as atividades de formação
inicial na universidade, nas quais se estabelecem os fundamentos teóricos e práticos do
nosso saber profissional, unidos às ferramentas básicas, atitudinais e técnicas, que nos
permitem continuar aprendendo e melhorando ao longo de nossas vidas.
Colaborando, Guillot (2008, p. 118) afirma que a formação está no centro do
problema: “[...] As necessárias análises críticas não devem limitar discursos como o
formalismo de boa qualidade cultural: são as práticas de ensino que devem ser
iluminadas”.
Conforme relata uma discente em formação:
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“Nos dias de hoje, as TD são imprescindíveis a nossa vida,
tanto como ferramenta de estudo, como de ensino, e por que não
dizer de lazer, pois são uma arma importantíssima e riquíssima,
que nos garante ter o mundo de possibilidades em um clic”.
(Q1).
Arroyo (2011) indaga sobre esse professor em formação, pontuando que, se o
enxergarmos apenas como um competente reservatório e transmissor de conteúdos e de
informações, ele pode estar ameaçado. Destaca que os recursos tecnológicos podem,
efetivamente, ocupar esse papel com maior qualidade, pois sabemos que os
mecanismos de concentração e transmissão de informações nos superam em eficiência.
Afirma que somente uma visão educativa formadora do nosso papel nos torna
insubstituíveis. Nesse sentido, quanto às novas tecnologias, ele diz:
[...] poderão transmitir conhecimentos, competências, informações com
maior eficiência do que o professor, porém um vídeo, uma parabólica, um
computador... não darão conta do papel socializador da escola, do encontro
de gerações, da intersubjetividade, do aprendizado humano que se deu
sempre no convívio direto das pessoas, nas linguagens e nas ferramentas da
cultura, nos gestos, nos símbolos e nas comemorações. As tecnologias podem
repetir e transmitir até múltiplas linguagens, mas não os significados
interpessoais e dos contextos culturais. (ARROYO 2011, p. 168).
Com isso, precisamos repensar o que Arroyo (2011) e Alonso e Blázquez
(2012), citados anteriormente, trazem-nos, pois esses autores nos colocam as questões
do conhecimento perpassado pelas TD. Sabemos que as TD trazem informações, mas o
conhecimento é perpassado por questões da ação do sujeito, de como ele irá construí-lo.
“Através das TD, estamos conectados aos professores, colegas
e com a instituição, em sala de aula, para os alunos
pesquisarem, e para nós, como docentes, aprofundarmos
diferentes assuntos e prepararmos aulas utilizando esse recurso
[...] No meu mundo pessoal, está facilitando nossa vida, através
das informações, da comunicação entre as pessoas, facilitando
compras, entre outras coisas”. (Q 10).
Zabalza e Zabalza (2012) apontam que a globalização e a incorporação
progressiva das TD ao mundo do ensino têm aberto novas possibilidades e caminhos
para o trabalho docente e que talvez o mais importante seja os de estabelecer conexões
interinstitucionais. Ainda estamos iniciando, explorando essa prática de estabelecermos
esse tipo de conexão como mecanismo para melhoria do ensino. No entanto, a cultura
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do individualismo tem a atrapalhado, pois os professores, na própria instituição,
apresentam problemas em trabalhar em equipes, trabalhar em rede, compartilhando o
desenvolvimento de suas atividades.
Com isso, notamos que a nova concepção do docente, na atualidade, transita
entre o colaborar e o cooperar, ambas as palavras com o mesmo prefixo “co”, que
marca a significação da ação conjunta, mas que se diferenciam pelos significados dos
verbos operar e laborar. Essas ideias buscam uma mesma direção de apoio mútuo e de
relação de reciprocidade, importantes para nos debruçarmos sobre o processo de
ensinagem.
“Sou de uma época quando conversas com quem morava em outra cidade
eram feitas por cartas, pois, mesmo por telefone, eram raras, já que a conta
era muito cara. Surge, então, essa era de tantas facilidades e agilidade das
comunicações e troca de informações; o Faceboock aproximou todos nós,
ou quase todos, e novamente me vejo com mais um obstáculo a ser vencido,
uma nova dificuldade: Como postar fotos? Como enviar mensagens
particulares? Fazer amizades? Desfazer algumas? Mas nada que um pouco
de boa vontade e a ajuda dos amigos mais habilitados não deem conta”.
(D16).
Colaborando com a ideia, Nóvoa (2009) apresenta seu conceito sobre a
profissionalidade docente, construído no interior de uma pessoalidade do professor,
destacando aspectos que definem o bom professor. O primeiro aspecto é o
conhecimento, com a construção de práticas docentes que conduzam os alunos à
aprendizagem; o segundo, a cultura profissional, pois afere a importância do diálogo
com outros professores dentro da escola, quando se aprende a profissão; o terceiro, o
tato pedagógico como forma de conquistar os alunos para o trabalho escolar; o quarto
aspecto é o trabalho em equipe, nas dimensões coletivas e colaborativas, como
comunidades de prática, no interior da escola, mas indo além das fronteiras
organizacionais; e, como quinto aspecto, temos o compromisso social, no sentido dos
princípios, dos valores, da inclusão social e da diversidade cultural.
Conforme sugere a LDB (BRASIL, 1996, Art. 62):
[...] a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e
institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal.
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Com essa exigência de formação profissional, acredita-se que se tenham
professores melhor preparados, capazes de ministrar com maior qualidade suas aulas,
contribuindo, desse modo, de maneira mais efetiva na formação integral dos sujeitos. A
esse respeito, Gomes (2009, p. 40) destaca que:
É importante considerar que o professor não está pronto quando termina o
curso de formação docente. No exercício profissional, as diferentes situações
vivenciadas que a condição de ser professor exigirá não requer dele
referências existenciais para todos os envolvidos no processo educacional, a
começar pela compreensão de si mesmo: olhar para e si e compreender-se
educar, inserido em determinado contexto sociocultural.
Enfatizamos que somos seres atravessados e marcados pelo social, e que isso é o
que nos produz professores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mostra-se necessário destacar a importância da formação de professores ser
realizada em nível superior, mas, também, ressaltar a necessidade de o professor realizar
regularmente uma formação continuada, que se revele como um espaço de
aprendizagem e de troca de informações, com qualificação profissional, pela qual se
adquira uma bagagem abrangente de conhecimentos que, certamente, revelar-se-á na
sala de aula em suas práticas pedagógicas.
Além disso, nos tempos atuais, os professores precisam estar abertos às
mudanças e saber lidar com elas. Mesmo o aprender a utilizar o computador, entrar no
mundo virtual, por exemplo, já exige o domínio de novas linguagens, e isso pode ser
encarado como vantagem ou desvantagem, dependendo da forma como o educando é
incluído, ou apresentado a esta nova tecnologia, sabendo-se que o professor,
indubitavelmente, desempenha um papel imprescindível nesta nova descoberta e
construção do conhecimento. Como relata um dos sujeitos questionados, é necessário:
“Dominar o mundo dos jogos eletrônicos, elaborar uma aula
atraente, que desperte o interesse do aluno, utilizando essas
tecnologias, auxiliando-os a lidar com o mundo das redes
sociais”. (Q5).
Afinal, nesta escola da cibercultura, é o professor o maior agente de mudança,
embora, muitas vezes, ele também tenha que aprender a lidar com o computador e seus
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recursos e se atualizar a cada dia, para promover, efetivamente, a aprendizagem de seus
alunos, o aprender a aprender:
[...] torna-se necessário que as escolas passem a trabalhar visando à
formação de cidadãos capazes de lidar, de modo crítico e criativo, com a
tecnologia no seu dia-a-dia. Cabendo à escola esta função, ela deve utilizar
como meio facilitador do processo de ensino-aprendizagem a própria
tecnologia com base nos princípios da Tecnologia Educacional (LEITE et al.,
2000, p. 40).
É do professor a responsabilidade intransferível e marcada pela urgência de
reinventar os espaços escolares. Entende-se, através da explanação da autora acima, que
tal responsabilidade independe de faixa etária com a qual o docente esteja atuando.
Almeja-se, portanto, que um profissional da Educação possa conciliar os fato, sociais e
culturais, para garantir uma aprendizagem de qualidade. Afinal, como dizem Perrenoud
e Thurler (2002, p. 154):
A tarefa mais fundamental do professor, portanto, é semear desejos, estimular
projetos, consolidar uma arquitetura de valores que os sustentem e,
sobretudo, fazer com que os alunos saibam articular seus projetos pessoais
com os da coletividade na qual se inserem, sabendo pedir junto com os
outros, sendo, portanto, competentes.
E, para desempenhar com eficiência sua função de professor, é imprescindível
que este esteja preparado, inclusive, sabendo o que está fazendo, para, com segurança,
elaborar e aplicar seus planejamentos diários. Quanto a isso, Papert (1994, p. 180)
enfatiza que:
[...] um cuidadoso planejamento feito por um arquiteto hábil é obviamente
necessário. O modelo da catedral gótica para a Educação aplica este mesmo
princípio à construção de estruturas de conhecimento. O projetista de
currículo é escalado para o papel de um “arquiteto de conhecimento” que
especificará um plano, um programa rígido, para a -colocação de “tijolos de
conhecimento” nas mentes das crianças [...].
Por fim, com relação ao uso da TD no processo de ensino-aprendizagem, quanto
ao modo de ensinar e aprender, Braga (2013, p. 58) convida a uma reflexão, não
somente quanto às facilidades que podem ser alcançadas com o uso adequado dos
recursos tecnológicos, mas também em relação à aplicabilidade real de tais recursos na
práxis pedagógica. Em sua obra “Ambientes digitais: reflexões teóricas e prática”, a
autora citada destaca que há duas questões centrais que precisam ser observadas:
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
59ISSN 2177-336X
Primeiro, a tecnologia traz para a prática pedagógica formas mais dinâmicas
de implementar modos colaborativos ou reflexivos de ensinar e aprender.
Segundo, uma breve análise – de materiais digitais, de cursos a distância, ou
mesmo usos das TICs como meio de expansão das atividades propostas na
sala de aula – é suficiente para constatarmos que as inovações defendidas
pela teoria não estão realmente acontecendo na prática. Inúmeros “materiais
digitais” postados na rede se restringem à mera verificação do conhecimento,
demandando muito pouca reflexão por parte do aprendiz. Vários deles,
inclusive, reproduzem orientações comportamentalistas, e, por isso, do ponto
de vista pedagógico, podem ser considerados um retrocesso. Isso gera em
alguns professores a sensação de que a tecnologia em sala de aula não passa
de um modismo. (BRAGA, 2013, p. 58-59).
É desafiadora a proposta, para que o docente esteja apto a usar as tecnologias
digitais como um recurso pedagógico inovador, para o desenvolvimento de suas aulas, e
não apenas para reproduzir conteúdos que poderiam ser escritos no quadro, ou
impressos e distribuídos aos alunos de forma tradicional, pois “[...] o fato de ser digital
não garante o caráter de “inovação”. Não é a incorporação da tecnologia que determina
as mudanças nas práticas de ensino, mas sim o tipo de uso que o professor faz das
possibilidades e recursos oferecidos pelas TICs.”. (BRAGA, 2013, p. 59).
Corroborando com seu posicionamento, Alonso e Blázquez (2012) nos dizem
que propomos a integração das TD como um recurso didático, mas não nos
perguntamos sobre os modelos pedagógicos adequados para o seu uso. Talvez
colocássemos nelas a forma de inovar nas escolas, mas as TD, por si só, não supõem
inovação.
E, com as palavras de Braga (2013, p. 59), encerramos esta reflexão, na
expectativa de que esta ideia seja semeada junto aos profissionais que atuam na
educação: “Na realidade, as mudanças não são determinadas pelas mídias, mas sim pela
perspectiva pedagógica adotada e pela exploração efetiva e criativa dos recursos que o
meio oferece”. Diante disso, mostra-se necessária uma maior investigação de como
estamos lidando com as formações no ensino superior para pensarmos estratégias
metodológicas diante das TD.
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61ISSN 2177-336X
A INTERDISCIPLINARIDADE NAS TECNOLOGIAS EM EDUCAÇÃO:
UM ESTUDO A PARTIR DOS CURSOS DE GRADUÇÃO NA UNIVERSIDADE
Raquel Karpinski Lemes3
RESUMO
O presente artigo apresenta dados de uma pesquisa realizada numa instituição de
ensino superior, situada no Vale do Paranhana: as Faculdades Integradas de Taquara –
FACCAT, sobre a interdisciplinaridade nas tecnologias em educação, nos cursos de
licenciaturas. A elaboração do presente trabalho baseia-se numa revisão bibliográfica e
estudo de caso, com coleta de dados na universidade, visando esclarecer os conceitos
fundamentais ligados ao tema. Questionou-se quais os conhecimentos necessários ao
uso das novas tecnologias e se esses conhecimentos são trabalhados de forma
interdisciplinar nos cursos de graduação, também como se trabalham os desafios
contemporâneos de compreensão da interdisciplinaridade na formação humana e na
atuação docente, utilizando as mídias. Como aporte teórico, foram referenciados alguns
teóricos como Fazenda (1991), Freire (1991), Luck (1994), Lüdke e André (2013),
Moraes (1999), Paviani (2007), Trivinos (1992).
Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Ensino Superior/Professores. Interfaces.
Tecnologias.
1. Introdução
Na universidade, surge, cada vez mais, a necessidade de realizar uma
prática pedagógica que se fundamente na construção de saberes, e não somente na
obtenção de informação e acesso ao conhecimento, de forma a dar conta de certa
demanda ou estudo para aquele momento, ou seja, um saber sem significado de
aprendizagem. Dessa forma, faz-se indispensável o estudo interdisciplinar, para agregar
os conhecimentos e transformá-los, no seu dia a dia, de forma útil, em saberes com
sentido e que dialoguem com outras áreas.
Percebe-se, nos dias atuais, que a tecnologia está em alta no mundo globalizado,
inúmeros desafios estão presentes na tarefa de educar nos dias de hoje. Informação e
conhecimento transformam-se nos fatores produtivo e competitivo mais importantes no
contexto de um mercado capitalista, trazido por mudanças muito aceleradas, com as
quais precisamos interagir, para não ficarmos de fora, isolados, enquanto docentes e
cidadãos.
3 Raquel Karpinski Lemes. Pedagoga, Pós-graduação em Gestão, Orientação e
Supervisão. Mestranda UFRGS Linha Teoria e Prática. [email protected]
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Para acompanhar e participar da aceleração tecnológica, não basta o acesso a
esses meios, mas habilidades, competência e comprometimento, para bem usá-los em
benefício tanto da informação como do conhecimento para os educandos, entre outros
aspectos. Dominando esse conhecimento, é necessário, cada vez mais, assumirmos as
novas situações que se apresentam nos cotidianos profissional e pessoal, tornando,
assim, a tecnologia uma ferramenta de uso rotineiro e a nosso favor. Isso nos traz não
apenas o saber, mas também uma maior capacidade de relação coletiva, interligando
conhecimentos, pois estamos inseridos no mundo virtual.
Nesse contexto, desafios são constantes em sala de aula, os professores são
desafiados, a cada dia, pelas novas tecnologias: ensinar e aprender torna-se desafiador e
exige uma constante busca pela informação.
Cabe à universidade, enquanto instituição formadora, incentivar a
interdisciplinaridade, fazendo uso das novas tecnologias, formando cidadãos capazes
de fazer parte de uma sociedade mais justa, mais humana, e exercendo de fato a sua
cidadania.
A partir disso e dos dados coletados, é perceptível a necessidade de
dialogicidade entre os saberes, e não mais um conhecimento linear e cartesiano, pois o
processo da educação requer dinamismo e abertura.
A pesquisa teve como proposta de trabalho identificar como os professores
universitários são preparados para o uso interdisciplinar das tecnologias e mídias, nos
cursos de graduação, bem como a interdisciplinaridade e suas interfaces com as
tecnologias midiáticas. Mais especificadamente, o foco da pesquisa é visualizar se os
principais aspectos investigados dialogam com a seguinte inquietação: Que preparação
a universidade oferece aos professores para o uso das mídias? E isso acontece de forma
interdisciplinar?
Os dados analisados apresentam que as tecnologias são usadas como
recursos para o dia a dia de sala de aula, e não no intuito de capacitar os alunos a
utilizá-las.
2. Dialogando com autores sobre a interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade estudada e discutida no século XXI já é vista como uma
nova postura diante do conhecimento, buscando superar o estudo fragmentado e a falta
de uma relação deste com a realidade do aluno (Fazenda, 2001).
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Sabemos que o grande objetivo da interdisciplinaridade está em fazer ligações e
estabelecer a comunicação entre as disciplinas.
Freire (1991, p. 93) diz que “[...] esse elemento unificador é possível ser
identificado num “tema gerador ou núcleo temático ou eixo teórico”, como se queira
denominá-lo. Freire denominou de universo temático epocal o conjunto de temas em
interação num determinado momento histórico.
O centro de atenção seriam os temas atuais que compõem a unidade da época e
suas tarefas (FREIRE, 1991). Ainda para o autor, conteúdos vindos das ciências teriam
seu valor na medida em que contribuíssem para as explicações dos temas em estudo,
que, em primeira instância, atenderiam à formação competente dos cidadãos e cidadãs
e sua inserção crítica na realidade.
O diálogo acontece no coletivo, contribuindo, assim, para a
interdisciplinaridade. É pelo diálogo, pela troca de experiências que nele acontece, que
se conhece melhor o trabalho de outros grupos, trabalhando-se, assim, de forma
interdisciplinar.
O pensar e o agir interdisciplinar, para Lück (2013), apoiam-se no princípio de
que nenhuma fonte de conhecimento é completa em si mesma, e de que, pelo diálogo
com outras formas de conhecimento, de maneira a se interpenetrarem, surgem novos
desdobramentos na compreensão da realidade e de sua representação. Ainda destaca
que a interdisciplinaridade se estabelece necessariamente pela teoria e pela prática.
Para Fazenda (2001), o projeto interdisciplinar não se ensina nem se
aprende: vive-se, exerce-se. A responsabilidade é de todos, mas a responsabilidade
fundamental é a individual, pois esta é a marca do projeto interdisciplinar.
O Ministério da Educação – MEC – propõe o desenvolvimento dos temas
transversais. Com isso, possibilita a discussão e a organização de um currículo mais
aberto, mais transitório, promovendo, assim, a interdisciplinaridade.
Com isso, para que a aprendizagem aconteça, é necessária a criação de espaços
com temas geradores, partindo dos alunos, fazendo, assim, o fechamento com o
currículo, não fugindo deste e nem apagando o conhecimento do professor, específico
de sua área, mas articulando saberes, criando situações-problema que levem o
educando a questionar, problematizar, fazer parte do processo, construir, sendo o
protagonista do seu conhecimento, juntamente com o professor, pois, somente assim,
vai se sentir inserido na construção do saber, aprendendo com sentido e significado.
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Para Lück (2013, p.46), a interdisciplinaridade, do ponto de vista da laboração e
elaboração do conhecimento, corresponde a uma nova consciência da realidade, a um
novo modo de pensar, que resulta num ato de troca, de reciprocidade e de integração
entre diferentes áreas do conhecimento, visando tanto à produção de novos
conhecimentos como à resolução de problemas, de modo global e abrangente.
Sendo assim, a interdisciplinaridade, no contexto da educação, manifesta-se
como uma contribuição para a reflexão e o encaminhamento de soluções das
dificuldades relacionadas à pesquisa e ao ensino, e que dizem respeito à maneira como
o conhecimento é tratado em ambas as funções da educação.
Portanto, a interdisciplinaridade não precisa estar ligada necessariamente a um
projeto; desde que a comunidade escolar esteja envolvida de forma interdisciplinar,
qualquer assunto ou tema gerador pode ser trabalhado, pois a interdisciplinaridade é
uma forma de buscar o novo.
3. A interdisciplinaridade no ensino superior
A interdisciplinaridade na universidade, para Paviani (2007), pode ser entendida
por meio de dois pontos de vista. O primeiro diz respeito à organização da universidade
em seu aspecto estrutural, na classificação das ciências, e o segundo refere-se às
mudanças atuais e às crises epistemológicas da classificação das ciências.
Paviani (2007) destaca, a partir do século XIX até os dias atuais, a explosão de
novas disciplinas; com isso, a universidade busca a forma interdisciplinar na
construção dos saberes.
Sabemos que a organização de uma universidade em departamentos pode
dificultar a interdisciplinaridade, pois estes trabalham de forma muito fechada e
isolada.
Em vista disso, no Brasil, a LDB de 1996 aumentou a autonomia das
universidades, no sentido de elas poderem adotar com liberdade seu modelo
organizacional.
Durham (2006) diz que a estrutura departamental dificulta o estabelecimento de
áreas interdisciplinares. Sendo assim, a departamentalização deixou os cursos, nas
universidades, muito fragmentados, adotando um funcionamento isolado e individual,
cada um fazendo da sua forma, e, consequentemente, cada coordenador olhando
somente para seu próprio curso.
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E, por fim, demandas atuais da área universitária exigem uma estrutura
maleável, adequada aos seus propósitos e metas, e aberta à contemporaneidade,
envolvendo professores, educandos e coordenadores, a qual lhes permita, de modo
flexível e interdisciplinar, alcançar os resultados e objetivos finais. Dialogando de
modo inteligente com a sociedade, haverá chances de os envolvidos nesse processo se
conhecerem melhor e encontrarem incentivos para não ficar em si mesmos, não respirar
seu próprio ar, não focar apenas em seus interesses, mas exercerem o que de fato lhes
cabe, que é a formação e a informação, pois a universidade é um patrimônio da
humanidade e da sociedade.
4. Metodologia utilizada
A metodologia utilizada para a elaboração do presente trabalho baseou-se numa
revisão bibliográfica e estudo de caso, com coleta de dados na universidade, visando
esclarecer os conceitos fundamentais ligados ao tema. Foi realizada uma pesquisa
referente à interdisciplinaridade, às mídias e à relação entre essas duas áreas;
posteriormente, foram realizadas as análise e interpretação dos dados coletados.
Os dados foram coletados mediante aplicação de um questionário a cinco
docentes das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), situada no Vale do Paranhana.
Dessa forma, o estudo envolveu olhares de professores da instituição quanto ao uso de
tecnologias.
Questionou-se quais conhecimentos, em relação às novas tecnologias, são
trabalhados de forma interdisciplinar, nos cursos de graduação, e como se relacionam,
utilizando as mídias, com os desafios contemporâneos da interdisciplinaridade na
formação humana e na atuação profissional, em especial nas áreas de docência.
Neste sentido, a pesquisa buscou, segundo Lüdke e André (2013), um estudo de
caso qualitativo, desenvolvendo-se numa situação natural, rico em dados descritivos,
tendo um plano aberto e flexível e focalizando a realidade de forma complexa e
contextualizada.
Já para Triviños (1992), o estudo de caso se realiza numa situação de transição
entre os tipos de investigação quantitativa e qualitativa, constituindo-se numa
expressão importante dessa tendência nova na pesquisa educacional.
Para a discussão dos dados, realizou-se uma análise de conteúdo, na perceptiva
de Moraes (1999), com os dados que foram coletados. Sendo assim, Moraes (1999)
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propõe algumas etapas para que tal análise possa ocorrer. Dentre elas, citamos o que
este autor destaca, usando três etapas para a realização das análises: Categorização,
Descrição e Interpretação.
Sendo assim, foi realizado um estudo de caso relacionando a
interdisciplinaridade às novas tecnologias e ao modo como os professores trabalham
com essa demanda.
5. Apresentação dos resultados:
Diante da pesquisa realizada, no campo empírico, apresentam-se os resultados,
obtidos através das entrevistas realizadas com o grupo de professores das Faculdades
Integradas de Taquara – FACCAT, elegendo-se as categorias de dados apresentados
em forma de discussão na sequência.
5.1. A frequência de uso das tecnologias em sala de aula
Dentre os entrevistados, quanto ao uso das tecnologias em sala de aula, todos os
participantes declararam fazer uso das ferramentas tecnológicas como recursos, não em
todas as aulas, mas num grande número de vezes durante o semestre, sim.
No entanto, nota-se que, apesar das tecnologias estarem presentes em sala de
aula, isso não ocorre como um recurso de aprendizagem, mas como um recurso
didático, para serem apresentados os conteúdos.
5.2. As ferramentas tecnológicas e midiáticas mais utilizadas e as relações
entre teoria e prática nas aulas
Quanto às ferramentas utilizadas e à relação entre teoria e prática nas aulas,
ficou bem diversificada a forma como cada um as utiliza.
Uma das participantes disse que “Vídeos, estas são as mídias mais usadas, pois,
a partir de um documentário, posso fazer uma boa análise, juntando teoria e prática,
trazendo o assunto para discussão”.
Já para outra entrevistada, a utilização ocorre da seguinte forma: “Antigamente
utilizava CD player e DVD. Atualmente, costumo utilizar o projetor multimídia, para
realizar cine-fórum (assistimos a cenas de filmes e as analisamos teoricamente), para
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projetar power point, em aulas expositivas, dialogadas; para assistirmos DVDs
relativos à musicalização e refletirmos sobre eles; para ouvirmos CDs e realizarmos
atividades de apreciação musical ativa em sala de aula, através de movimentação
corporal, expressão da música através de imagens ou palavras; para cantarmos, ou
tocarmos, enquanto ouvimos algo; para analisarmos estilos, instrumentos, etc. Utilizo
também as redes sociais, para compartilhar conhecimentos com os alunos, extraclasse,
e realizar postagens em meus blogs sobre os conteúdos trabalhados”.
A mesma participante, quando perguntada sobre teoria e prática, disse: “A
relação entre prática e teoria, em minhas aulas, se dá da seguinte forma: os alunos
devem ler textos em casa, que são resumidos e debatidos em forma de seminário, na
primeira hora de aula, e, após, realizamos práticas sobre as leituras realizadas:
encenamos através de enquete, montamos cartazes, compomos poesias, canções,
trabalhos em grupo, respondendo a questionamentos que serão fontes de novos debates,
etc. As novas tecnologias são utilizadas em caso de apresentação de trabalhos dos
alunos, os quais necessitam de projetor multimídia, ou das formas arroladas no
parágrafo anterior, através de várias atividades práticas”.
Para fechar o relato acima reproduzido, outra forma de utilizar esses recursos é
destacada pela professora: “Em relação a equipamentos, utilizo computadores e
projetores. Em relação a ferramentas digitais, utilizo o Moodle (para disponibilizar
material da aula) e ferramentas de apresentação”.
Sendo assim, percebe-se que um dos entrevistados que trabalha na área das
tecnologias faz relações entre teoria e prática, já os demais usam-na como meio para
transmitir os conteúdos de suas aulas.
5.3. Os objetivos dos professores na utilização das tecnologias em sala de
aula.
Quando perguntados sobre os objetivos na utilização das tecnologias, as
respostas foram as seguintes:
“A utilização das novas tecnologias tem como função auxiliar nos processos de
ensino e aprendizagem, na medida em que envolvem imagens, sons, palavras-chave e
mapas conceituais, o que auxilia na exemplificação e provoca maior envolvimento por
parte dos alunos, pois, segundo a neurociência, a motivação do aluno se dá através do
acionamento de vários sentidos ao mesmo tempo. Dessa forma, uma boa eleição de
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vídeo, imagem, representação gráfica, aliados a uma boa explicação, pode prender mais
a atenção dos alunos”.
Já para outro participante, a sua utilização se dá para melhorar o aprendizado
dos alunos.
No entanto, tendo o mesmo foco, outra resposta foi a seguinte: “Propiciar ao
educador em processo de formação oportunidades para que sejam capazes de utilizar,
de forma crítica e criativa, as tecnologias contemporâneas como ferramentas
pedagógicas e como agentes renovadores da prática docente. Buscar, através dos meios
tecnológicos, a integração de conhecimentos, a aprendizagem colaborativa, o
desenvolvimento de capacidades e habilidades que possibilitem a busca de soluções
para problemas e a capacidade para lidar com várias áreas do conhecimento, sob o foco
de diversas dimensões, numa perspectiva de educação que vise à formação integral do
educando”.
Destaca-se que os objetivos de todos estão na relação aluno-aprendizagem, no
intuito de aprimorar os conhecimentos dos educandos, mesmo que essa utilização seja
na forma de recursos para as aulas.
5.4. A contribuição das tecnologias midiáticas na aprendizagem dos alunos
Na questão sobre a contribuição das tecnologias na aprendizagem dos alunos,
destaca-se, entre as respostas: “Certamente as novas tecnologias são importantes
ferramentas para processos de ensino e aprendizagem, mas não acredito que sejam
indispensáveis. Um professor que traga atividades envolventes, que cuide das
expressões comunicativas, como voz, gestos, vínculo pelo olhar, movimentação, ampla
apropriação do conteúdo em jogo e que se comunique de forma clara e objetiva, não
necessariamente precisa das novas tecnologias para prender a atenção de seus alunos e
fazer com que eles aprendam. Além disso, o professor, antes de tudo, precisa cuidar
para que haja uma interação ativa e reflexiva em sala de aula, que os alunos sejam
participativos, questionando, pesquisando, realizando atividades práticas e se
apresentando através de diferentes linguagens. Refiro-me aqui às formas, por exemplo,
de representarem suas aprendizagens e compartilharem com o grande grupo: a
expressão cênica, a visual, as linguagens escrita, oral e musical, que são bons exemplos
de diferentes formas de representação daquilo que se aprende. Os alunos podem querer
também representá-las através do move maker, do power point ou de outros programas
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computacionais. Enfim, as opções são muitas, e, se o professor proporcionar espaço
democrático para que os alunos de expressem de diferentes formas, certamente a aula
será muito mais produtiva”.
Para a mesma questão, outro participante destacou: “Toda ferramenta é útil para
o aprendizado dos alunos”.
Ainda sobre essa mesma questão, outra resposta foi esta: “A contribuição será
importante desde que o professor saiba planejar suas aulas com o apoio e o uso das
tecnologias”.
Portanto, o destaque das respostas é para a importância da contribuição dessas
ferramentas para os alunos, mas esse ensino deve ser um recurso das aulas, as quais
deverão ser devidamente planejadas por parte do professor, pois a simples existência
dessas ferramentas não torna significativa a aprendizagem desse educando.
5.5. Condições para utilizar as mídias em sala de aula
Quando interrogados sobre as condições para utilização das mídias, as respostas
dos entrevistados foram: “Sentir-se preparado para trabalhar com aquela mídia
escolhida, mas reconhecendo não saber sobre todas as mídias”.
Para dois dos participantes, muitas vezes, o desafio está em conseguir o recurso
para utilizar em sala de aula: “Quando temos acesso, fica tudo mais fácil, mas nem
sempre consigo, por exemplo, fazer reserva do equipamento”.
Desse modo, a dificuldade de acesso aos equipamentos, para a utilização das
mídias em sala de aula, dificulta o ensino.
Neste mesmo contexto, surge uma grande inquietação: seriam esses recursos
uma ferramenta auxiliar, ou um instrumento utilizado pelo professor para suas aulas, o
qual, quando não tem esse acesso, acaba por ficar alienado?
5.6. Cursos de formação para utilizar mídias na aula
Sabemos da importância da formação, seja ela em que área for. Aqui estão as
colocações sobre a formação necessária à utilização das mídias na sala de aula.
Para um dos participantes, a resposta foi a seguinte: “Desta área, ultimamente,
não tenho participado”.
Já para outro: “Quando surge algo novo, ou ainda quando os professores ou
coordenadores de curso solicitam, participo de algum curso”.
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Na mesma linha, outra resposta foi esta: “Todos os anos, a faculdade oferece
algum tipo de curso nesse sentido”.
O que se pode concluir até aqui é que a formação é oferecida pela instituição em
questão, mas nem todos aproveitam essas oportunidades de formação.
5.7. Referências bibliográficas para utilização das mídias
Com relação à bibliografia usada para a aprendizagem de como utilizar as
mídias, foram listadas as seguintes: “Li vários artigos, em revistas científicas, sobre o
tema novas tecnologias. Já orientei, inclusive, trabalhos de conclusão de curso sobre
isso, cuja aluna abordava a relação entre musicalização, na educação infantil, e as
novas tecnologias, como forma significativa de gerar conhecimento musical. Ela,
inclusive, utilizava um software de musicalização para crianças pequenas, como forma
de despertá-las para a musicalidade, além do uso de CD player, DVDs, para assistirem
a desenhos que tivessem a ver com os conteúdos, etc. Como não sou da área, apenas
conheço pesquisadores, como os professores da UFRGS, que atuam no ensino e na
pesquisa da Educação a Distância, local onde já fiz, inclusive, um curso sobre uso do
moodle. Os nomes que posso citar são Patrícia Bear (UFRGS), Regina Trilhotero
(UFPEL), Léa Fagundes (UFRGS) e Margarete Axt (UFRGS). Já li materiais
publicados por essas professoras, mas não saberia citar o nome dos artigos ou dos
capítulos de livros lidos”.
Outra citação de bibliografia foi a que apresentaremos a seguir: “Na minha
prática docente, utilizo Adolescência e mídias, A criança e a TV (Soifer); -
Homozapiens (Veu e Vraking), Geração Y, entre outros”.
A colocação de uma das entrevistadas foi a de não utilizar referência em suas
práticas, e sua resposta foi esta: “Nenhuma”.
Novas realidades emergem neste mercado das tecnologias. É mister saber cada
vez mais sobre elas, para dar conta de uma demanda globalizada e mutante a cada dia.
Neste sentido, percebe-se que alguns dos professores recorrem a referenciais
teóricos para suas aulas, mas ainda temos um grande desafio pela frente.
Conclusão
Nota-se que a tecnologia está presente em sala de aula, não como um recurso de
aprendizagem, mas sim como um recurso didático, utilizado pelos professores para
apresentar os conteúdos.
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Sendo assim, percebe-se que um dos entrevistados, o qual trabalha na área de
tecnologia, faz relações entre teoria e prática, já os demais usam-na como recurso para
apresentar os conteúdos de suas aulas. Destaca-se que o objetivo de todos está na
relação aluno-aprendizagem, no intuito de aprimorar os conhecimentos dos educandos,
utilizando as novas tecnologias tão somente como recursos para as suas aulas.
O destaque das respostas aponta para a importante contribuição dada aos
alunos, mas este emprego, ou seja, o das novas tecnologias, deve ter um objetivo, e seu
uso deve ser bem planejado por parte do professor, a simples existência desses recursos
em sala de aula, ou o seu uso desarticulado dos conteúdos, não torna significativa a
aprendizagem do aluno.
Desse modo, não conseguir, muitas vezes, acesso aos equipamentos, para a sua
utilização em sala de aula, dificulta as condições do ensino. Neste mesmo contexto,
uma grande inquietação surge: seriam esses recursos uma ferramenta auxiliar, ou um
instrumento utilizado pelo professor em suas aulas, o qual, quando não lhes tem acesso,
acaba alienado?
O que se pode concluir até aqui é que a formação para o emprego desses
instrumentos em sala de aula é oferecida pela instituição em questão, mas nem todos a
utilizam. Sabemos que novas realidades emergem neste mercado das tecnologias. É
mister saber cada vez mais sobre elas, para dar conta de uma demanda globalizada e
mutante a cada dia.
Neste sentido, percebe-se que alguns dos professores usam de referenciais
teóricos para suas aulas, mas ainda temos um grande desafio pela frente, e não temos
mais volta quanto ao uso dessas tecnologias. Sabemos o quanto elas evoluíram, da
década de 80 até os dias atuais, a ponto de, muitas vezes, não darmos conta de tanta
demanda.
Sendo assim, pelas colocações observadas, conclui-se que não existe a troca de
saberes na universidade em questão no que se refere ao emprego de recursos midiáticos
em sala de aula. O professor trabalha isolado em sua disciplina, não ocorrendo
interdisciplinaridade; ao contrário, esse procedimento acontece de forma cartesiana e
linear.
Referências
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