a criaÇÃo de uma escola baiana de pintura e seus
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A CRIAÇÃO DE UMA ESCOLA BAIANA DE PINTURA E SEUS ARGUMENTOS
THE CREATION OF A BAIANA PAINTING SCHOOL AND ITS ARGUMENTS
Darlane Silva Senhorinho / UFBA
RESUMO Este artigo teve como objetivo conhecer a Escola Baiana de Pintura desde seu início, com seu precursor José Joaquim da Rocha, até sua continuidade e regeneração por seu discípulo
Antonio Joaquim Franco Velasco. Utilizou-se uma metodologia analítico-sintética, com leituras bibliográficas interdisciplinares e pesquisas arquivista. Os resultados mostraram que, distinguindo-se de seu mestre e de seus condiscípulos, Velasco criou a sua escola, denominada de “Escola Velasco”, apresentando uma pintura diferente da que se produzia nos finais do século XVIII, assim como atuou de forma distinta enquanto professor de desenho da Aula Pública de Desenho na cidade de Salvador. Concluiu-se que existiu não só uma, mas duas escolas que antecederam a Aula Pública de Desenho: a Escola Bahiana de Pintura e a Escola Velasco. PALAVRAS-CHAVE Escola de pintura; Bahia; Franco Velasco; Aula de desenho. ABSTRACT This paper aimed to know the Bahia School of Painting from its inception, with its precursor José Joaquim da Rocha, until its continuity and regeneration by his disciple Antonio Joaquim Franco Velasco. An analytical-synthetic methodology was used, with interdisciplinary bibliographical readings and archival research. The results showed that, distinguishing himself from his master and his classmates, Velasco created his school, called the "Velasco School", presenting a painting different from that produced at the end of the 18th century, as well as acting in a different way, professor of drawing of the Public Class of Drawing in the city of Salvador. It was concluded that there existed not only one but two schools that preceded the Public Drawing Class: the Bahia School of Painting and the Velasco School. KEYWORDS Painting school. Bahia. Franco Velasco. Drawing class.
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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O tema deste estudo é a criação da Escola Baiana de Pintura pelo pintor José Joaquim
da Rocha e sua regeneração por Antonio Joaquim Franco Velasco, reconhecido entre
seus contemporâneos por sua genialidade. A Escola criada por Rocha é um tema
frequente em teses e dissertações no cenário da historiografia da arte baiana, mas
aqui o foco não é tal escola, mas sua regeneração por um dos discípulos do seu
criador, que a historiografia apresenta como tendo um estilo distinto do mestre.
A atuação do mestre de pintura e professor Franco Velasco teve influência plástica no
cenário baiano das artes entre o ano de morte de seu mestre José Joaquim da Rocha,
em 1807, e a abertura da Aula Pública de Desenho, em 1813. Franco Velasco assumiu
o ensino na oficina de Rocha, adotando métodos distintos do mestre. Criou a chamada
“Escola Velasco”, citada no documento das “Noções” e descrita por José Rodrigues
Nunes, no jornal “O Musaico”, ambos do século XIX. Assim, este estudo é relevante
por abordar o período subsequente à Escola Baiana de Pintura, trazendo para a
contemporaneidade a atuação de Franco Velasco não só como pintor e discípulo de
Rocha, mas como mestre de uma escola, que defendemos ter igual relevância para a
historiografia da arte, por permitir compreender como a feição neoclássica tomou
forma nas pinturas baianas.
Nos estudos da historiografia da arte baiana dos últimos cem ou cento e vinte anos,
observamos Franco Velasco sempre em segundo plano. À sua frente sempre estão
José Joaquim da Rocha, seu mestre, e José Teófilo de Jesus, seu condiscípulo, seja
pelo número de obras produzidas, seja pelo fácil acesso a documentos que tratam da
obra e da vida desses. É comum ver Franco Velasco apenas como discípulo de
Rocha. Poucas são as vezes em que seu trabalho como professor é abordado, tendo
reduzida sua importância quando se trata do ensino do desenho e da pintura. A
dissertação de Robson Santana Barbosa (2005) é um dos trabalhos mais abrangentes
acerca da vida de Franco Velasco, porém tem por objetivo a análise dos passos da
paixão da igreja do Senhor do Bomfim.
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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Neste artigo, teremos como objeto de estudo o pintor e professor Franco Velasco. A
necessidade de abrir novas discussões acerca do ensino do desenho do início do
século XIX, na Bahia, bem como resgatar a importância de Franco Velasco para o
campo das artes, seja na sua atuação como fomentador e como pintor, seja como
professor de desenho, que defendia o ensino não só na prática mas também na teoria,
justifica o estudo. Além disso e principalmente, a “Escola Velasco” é apresentada
como uma escola mais técnica e com influências neoclássicas, aspecto que a difere
da Escola Baiana de Pintura presidida por Rocha. Apesar de sua curta existência, foi
relevante para os caminhos trilhados pelo ensino do desenho e da pintura na Bahia.
Escola é aqui entendida não como a união formal entre esses artistas, com disciplinas
práticas e teóricas a serem cumpridas, como ocorrerá com a Aula Pública. O termo
“escola” assume a característica de um conjunto de adeptos de um mestre, ou
características comuns em obras produzidas em uma região geográfica; assim como
um sistema, determinadas concepções técnica e estética da arte seguidas por artistas
(REAL, 1962; TEIXEIRA, 1985). A “Escola Velasco”, aqui abordada, não traz
inovações revolucionárias para a arte baiana. Entretanto, como sinaliza Pifano (2008,
p. 26), ao citar Nicolas Poussin, reverenciado por seu classicismo: “A novidade em
pintura não consiste principalmente num tema jamais visto, mas em uma disposição
e uma expressão boa e nova e assim o tema, de comum e velho que era, torna-se
singular e novo.” Aqui propomos a apresentação de Franco Velasco como professor,
criador de uma escola, e sua docência na Aula Pública de Desenho, além de sua
relevância para a arte baiana oitocentista.
Este artigo apresenta parte das pesquisas para tese de doutoramento sobre a vida e
atuação de Franco Velasco como pintor e professor de desenho. Utiliza uma
metodologia analítico-sintética, com leituras bibliográficas interdisciplinares e
pesquisa em arquivos.
A referência mais antiga que conhecemos à Escola Baiana de Pintura está no jornal
intitulado “O Musaico”, de 1845, em artigo escrito por José Rodrigues Nunes, pintor e
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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professor de desenho da Aula Pública de Desenho, responsável pela coluna “História
das Artes e sua Marcha Progressiva na Província da Bahia”. Esse colunista dedicou-
se a escrever sobre os artistas baianos, principalmente os pintores dos finais do século
XVIII e início do século XIX.
O ambiente político-cultural na Bahia da segunda metade do século XVIII pouco ou
nada favoreceu o desenvolvimento das artes. Como pondera Flexor (1974), em
acordo com Ott (1961), não existiam escolas do gênero e os trabalhadores de pintura
eram mal remunerados. O que recebiam era suficiente para sobrevivência, mas não
para custearem uma especialização. Os artistas podiam abrir suas asas apenas até a
altura que a mentalidade em vigor lhes permitisse.
Este artigo tem como objetivo conhecer a Escola Baiana de Pintura desde seu início,
com seu precursor José Joaquim da Rocha, até sua continuidade e regeneração por
seu discípulo Antonio Joaquim Franco Velasco.
Início da escola
O pintor José Joaquim da Rocha1 ao regressar de Portugal por volta 17642 (OTT,
1982, p. 26), tornou-se pintor das principais obras da Bahia. O grande número de
obras a serem executadas exigiu a formação de discípulos para ajudá-lo. Com isso,
transmitiu o conhecimento de sua arte para discípulos, formou escola de tela,
estofadores e decoradores, dentre os quais ganharam destaque os pintores Verissimo
de Sousa, Manoel de Sousa Coutinho, José Teófilo de Jesus e Antônio Joaquim
Franco Velasco, dentre outros que seguiram vieses distintos como estofadores e
decoradores (QUIRINO, 1911).
José Joaquim da Rocha, segundo a tradição, teria se inspirado na pintura portuguesa,
por ter se especializado naquele país, e na italiana, segundo Ott (1961). Para José
Rodrigues Nunes (1845a, 1845b, 1845c), Rocha teria recebido influência do estilo
romano. O certo é que, com tal convergência de estilos ou não, ele pôde criar uma
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pintura nova, a pintura baiana, expressando, em seu trabalho, algo distinto do que se
via até então nas igrejas baianas.
A escola principiada por José Joaquim da Rocha criou soluções estilísticas e
iconográficas que caracterizaram a pintura baiana, divergindo da predominante em
Portugal e nas demais províncias brasileiras. É possível admitir uma feição estética e
técnica entre seus continuadores. O aprendizado deu-se pela prática constante do
ofício, sob supervisão do mestre que corrigia e ensinava. A partir de tais ideias e
conceitos, estudiosos como Manoel Quirino (1911), Carlos Ott (1961, 1982) e Marieta
Alves (1976) ampliaram suas leituras e investigações sobre essa escola de pintura
baiana, solidificando sua existência.
Como era costume, aprendizes associavam-se às oficinas dos mestres, a exemplo de
Franco Velasco, mencionado por José Rodrigues Nunes (1845b, p. 23)3, que teria sido
“[...] entregue ao pintor José Joaquim da Rocha em sua oficina para que aprendesse
o ofício”. No caso desse jovem aprendiz, não sabemos se estaria morando com o
mestre, como comumente ocorria em Portugal. Nesses casos, um contrato estipulava
deveres e obrigações de ambas as partes. Ao mestre cabia primordialmente ensinar
o ofício, sem esconder nada, além de fornecer cama, comida, roupas e, algumas
vezes, ensinar a ler e escrever; aos aprendizes, cabia obedecer ao mestre, preparar
as tintas e não se ausentar da oficina durante o prazo do contrato. Em caso de
desistência, o tutor deveria pagar a diária de um oficial até o término do prazo do
contrato. Ao final do contrato, o aprendiz poderia fazer o exame e, sendo aprovado,
abrir sua própria oficina (FREIRE, 2006; SERRÃO, 1983).
Em documento anônimo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e sem
data, mas provavelmente do final do século XIX, constam dados biográficos de Franco
Velasco, além de algum detalhamento acerca da relação entre a família Velasco e o
pintor José Joaquim da Rocha, que supostamente se conheciam. Acreditamos que
isso possivelmente teria ocorrido, uma vez que era comum os artistas se conhecerem
no período, sendo poucos os que atuavam. Como Franco Velasco já era amador da
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arte, “[...] Rocha teria reconhecido o talento e a atenção que prestava as produções
da arte e suas indagações, teria convidado o jovem a estudar a arte da pintura, que
sendo questionado por sua mãe, este aceitou” (IGHB, [18--?).
Franco Velasco4 foi um dos últimos aprendizes de Rocha. É provável que tenha
iniciado seu aprendizado antes mesmo dos 15 anos, como de costume no período.
Ficou o tempo necessário para aprender o ofício e apartou-se de seu mestre e seus
condiscípulos, segundo Nunes (1845b) e Quirino (1911), por inveja desses. Talvez
por ter ficado somente durante os anos de aprendizado, não tenha absorvido o estilo
do mestre, o que lhe favoreceu, ao criar seu próprio estilo.
O discípulo mestre regenerador
Dos múltiplos discípulos que José Joaquim da Rocha tivera, dois ganharam destaque
José Teófilo de Jesus5 e Antonio Joaquim Franco Velasco e ambos demonstravam
aptidão para a pintura. Segundo o documento “Noções sobre a procedência d’arte na
pintura na província da Bahia” ([18--?], p. 2): “[...] a maior glória de José Joaquim da
Rocha fora seus dois discípulos regeneradores da arte”. Entretanto, com a morte do
mestre em 1807 e a inobservância de José Teófilo de Jesus em dar continuidade ao
ensino de seu mestre, como relatam Quirino (1911) e Nunes (1845a, 1845c), Franco
Velasco assumiu a função de dar seguimento à escola de seu mestre, que, por
décadas, ensinou o ofício do desenho e pintura aos jovens baianos.
Franco Velasco não saiu da Bahia para se especializar com grandes mestres.
Entretanto, lia sobre os clássicos, geometria, arquitetura e perspectiva em livrarias.
Ao dedicar-se à pintura de retratos, foi admitido nos principais círculos da sociedade
baiana, ganhou prestígio e, em 1810, realizou sua primeira grande obra conhecida na
igreja do Santíssimo Sacramento de Santana, conforme menciona Manoel Quirino
(1911). José Rodrigues Nunes também faz esse relato no jornal “O Musaico”6 (1845b).
Ao dar prosseguimento à escola de pintura de Rocha, Velasco assumiu o papel de
regenerador da pintura ensinada, optando por uma pintura moderna, como em voga
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na Europa. Por isso, teria recebido críticas de seus contemporâneos. Optou, então,
por uma pintura mais vigorosa, usando “[...] liberdade de pincel, e força de imaginação
[...] podiam contar as pinceladas, parecendo até que o artista tirava a tinta da palheta
com uma faca, e a empregava no pano” (NUNES, 1845b, p. 24). Esta característica
produzia fama para os artistas europeus, mas, aqui, para Velasco, lhe valeu o
contrário: “[...] inventavam para o vulgo, que Velasco pintava com tintas grossas, com
muita sombra e outras sandices semelhantes” (NUNES, 1845b, p. 24, grifo do autor).
Esse pintor e professor considerava que a sociedade baiana, ainda com mentalidade
arcaica, não conseguia apreciar as novidades apresentadas por Velasco.
Nas obras observadas de perto, do artista Franco Velasco, pouco dessas
características expostas por Nunes puderam ser observadas. Talvez pelas
restaurações (algumas feitas pelo próprio Nunes, ainda no século XIX, como na igreja
de Santana) e pela ação do tempo já não mais as possuam. Entretanto, é possível
observar seus contornos firmes e bem definidos, a anatomia humana pujante realçada
pelas cores vivas ao mesmo tempo em que as faces trazem suavidade e força na
expressão.
Franco Velasco aproximou-se do neoclassicismo e eliminou a profusão de detalhes,
dispondo os elementos segundo ordenação geométrica pré-concebida, enfatizando a
definição plástica formal, como podemos observar nos estudos e nas telas da via
sacra produzida para a igreja do Bomfim em Salvador (Figuras 1 e 2).
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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Figura 1 – Franco Velasco, estudo, do tema A flagelação de Cristo 1818, óleo sobre tela. Acervo do Museu de Arte da Bahia. Fonte: Reprodução fotográfica Romulo Fialdini.
Figura 2 – Franco Velasco, A flagelação de Cristo 1818, óleo sobre tela. Igreja do Bonfim-Salvador. Fonte: Fotografia de Felipe Miranda.
A Escola Velasco
Velasco criou um estilo expressivo no qual fez escola. Distinguiu-se do seu mestre
num período em que a arte na Bahia já apresentava renovações e rupturas com o
século anterior, mas também ainda se podiam ver certas constâncias, à medida que
o gosto da pessoa que encomendava sobrepunha-se à criatividade do artista7.
No Brasil colônia e durante parte do Império, predominou a “imitação servil” – imitação8
em sua totalidade ou reprodução (ou tentativa) fiel – de gravuras vindas de toda a
Europa. Este procedimento, consoante Pifano (2008), não significa que a doutrina da
imitação excluísse a noção de invenção. Velasco teria deixado a rotina das cópias para
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estudar a natureza, por meio da observação do mundo natural. Com essa visão, passou
a valorizar a superfície material e da imagem, tendo como componente unificador a luz
que, envolvendo todas as partes, valorizava as minúcias (NUNES, 1845b).
Franco Velasco levava seu trabalho com tamanha seriedade que “[...] nos passeios
em família ou com seus discípulos se mantinha armado com lápis e papel, para que
tudo quanto lhe chamasse a atenção copiasse” (NUNES, 1845b, p. 25). Dedicou-se
ao estudo de diversas escolas, mas teria sido a escola flamenga a que mais o
entusiasmou. Esse novo estilo posto por Franco Velasco e transmitido aos seus
discípulos foi denominado de “Escola Velasco”9 por Nunes (1845b, 1845c).
Franco Velasco teria estimulado seus discípulos a criar a partir da natureza do
cotidiano, bem como a se instruírem na literatura da arte e tudo quanto mais pudesse
contribuir para a aprendizagem. Ele acreditava que o conhecimento acerca dos
grandes homens que os antecederam na mesma profissão e desventura os levaria a
se entreter e aprimorar na arte que praticavam. Ensinou não só a prática, mas também
a teoria, incitando seus discípulos a questionarem o proceder artístico. Seu método
distanciava-se daquele praticado por seu mestre, à medida que propunha um
ensinamento prático e teórico, aproximando-se do que seria seu magistério na Aula
Pública de Desenho (VELASCO, 1828)
Velasco teve sua escola num tempo em que as artes já apresentavam um cunho
liberal. Esta circunstância propiciou-lhe gozar de certa liberdade criativa, diferindo do
tempo de seu mestre que, ainda sob uma mentalidade arcaizante, criou sua escola.
Ainda assim, suas composições demonstram a assimilação de elementos distintos,
nascendo o estilo característico de José Joaquim da Rocha (OTT, 1961, 1982).
A Escola Velasco fez discípulos, dentre os quais se destacaram Luiz da Silva Dias,
Bento José Rufino da Silva (Capinan), José Joaquim da Rocha Bastos, José
Rodrigues Nunes. Este último acompanhou o mestre em todas as suas empreitadas
(NUNES, 1845c; NOÇÕES..., [18--?]).
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Aula Pública de Desenho e Franco Velasco
Conta-nos José Rodrigues Nunes (1845c) que muitos foram os discípulos de Franco
Velasco, apesar da pouca duração dessa promissora Escola. A primeira Aula Pública
de Desenho aconteceu em 20 de maio de 1813, tendo como professor o português
Antonio da Silva Lopes, que não produziu nenhuma obra pública ou privada durante
o período de magistério (NUNES, 1845c).
Com a abertura da Aula Pública de Desenho, alguns aprendizes que estavam com
Franco Velasco migraram para essa Aula. Foi grande o número de alunos que se
matricularam, o que era concebível devido à propensão que os jovens baianos
possuíam para as belas artes, “[...] não só os que desejavam preparar-se para artistas,
como também os filhos de pessoas gradas da Província como amadores, para aí
afluírem com ardor” (NUNES, 1845c, p. 76).
Os resultados da Aula Pública de Desenho ficaram aquém do esperado, pelo
desconforto causado entre os alunos, sobretudo entre aqueles que demonstravam
inclinação pelas belas artes, pelo sistema a “lápis vermelho” que usavam ou pelo
professor, que levava seus alunos ao extremo da paciência, ao aguardarem cerca de
seis meses para fazer a cópia de uma cabeça de tamanho natural. Assim, “[...] pouco
proveito tiveram os alunos, que nenhum pintor saiu de sua aula, mas desenhadores e
bons copistas” (NUNES, 1845c, p. 76-77). Esses fatos são também narrados por
Manoel Quirino (1911) quando apresenta a síntese da nomeação de Franco Velasco,
extraída de documento datado de 182310.
O número de alunos da Aula Pública de Desenho reduziu-se a um número muito
limitado entre 1819 e 1820. Ainda no ano de 1816, Franco Velasco enviou a D. João
VI uma carta, solicitando sua nomeação como lente substituto do professor titular,
observando que as aulas pouco proveito traziam aos alunos. Ele desejava ensinar,
para que os alunos matriculados, dentre os quais alguns que saíram de sua escola,
tivessem um ensino adequado e pudessem ter conhecimento acerca das belas artes.
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Em sua proposta, negada pelo Rei, ele aceitaria o cargo sem receber os devidos
honorários, mas sob a condição de ser o único lente11.
Somente em 21 de novembro de 1820, Antônio Joaquim Franco Velasco foi nomeado
substituto para a Cadeira de Desenho, por oferta de dois quadros12 a óleo, dos quais
não possuímos referências acerca da temática. Entretanto, só em 1823 ele foi
efetivado no cargo de substituto; em 1825, em decorrência do falecimento do titular,
tornou-se efetivo. Passou, então, a usar o método que utilizava com seus discípulos,
distinguindo-se do que estava sendo praticado por seu antecessor por considerá-lo
de pouco proveito para os alunos (NUNES, 1845b, VELASCO, [1828]).
Franco Velasco dedicou-se ao magistério. Buscou fundos junto ao Imperador D. Pedro I,
para que a Aula de Desenho mantivesse seu andamento, bem como a expansão do
local de funcionamento, que permanecia no convento franciscano. Em 1826, durante
visita à Aula Pública de Desenho, D. Pedro I deixou-se retratar por Franco Velasco e
aceitou do artista algumas telas oferecidas. Em duas sessões, o esboço foi feito,
sendo colorido posteriormente. Concluído o trabalho, Velasco o enviou ao Imperador
junto com uma carta na qual pedia proteção para a Aula Pública de Desenho, bem
como informava que deixava uma cópia do retrato na dita Aula13. Hoje este retrato
consta no acervo do Museu de Arte da Bahia.
Segundo a literatura (OTT, 1982; QUIRINO, 1911; BARBOSA, 2005), só no ano de
1827, dois anos após tornar-se efetivo, Franco Velasco encontrou-se no exercício
permanente do cargo de professor de desenho da Aula Pública. Por ocasião da abertura
da nova aula, em decorrência da ampliação do espaço e de melhorias feitas por ordem
de D. Pedro I, proferiu, no dia 25 de março de 1828, um discurso, convidando os
amadores das Belas Artes a visitarem a aula e julgarem o aproveitamento de seus
alunos. Nesse discurso, ele menciona que os alunos aprenderão acerca das ilusões da
perspectiva, a harmonia das cores, bem como a delinear as formas do homem, “[...]
determinadas em reunião que patenteia o belo ideal” (VELASCO, 1828, p. 8),
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conhecimentos comuns a um artista do início do século XIX. Cita, como exemplos,
Apollo, de Belvedero, Hercules, de Farnesi, e Vênus, de Medices.
Para que seus alunos alcançassem a perfeição, julgava ser necessário o trabalho
contínuo de repetição e a cópia daqueles que considerava grandes mestres, como
Rafael, com suas engenhosas composições, Ticiano, com a harmonia de seu colorido,
e Rubens, com seus efeitos de sombras (VELASCO, 1828). Esses artistas estavam
em voga no período, por consequência do neoclassicismo que, há pouco menos de
três décadas, havia chegado ao Brasil.
Franco Velasco via, nos artistas Dominiquino e Poussin, exemplos nos quais seus
alunos deviam espelhar-se, não só por sua obra, mas também por sua trajetória de vida.
Para ele, conhecer os clássicos e saber reproduzir o que faziam de melhor não era
suficiente para tornar-se um bom artista. Era também necessário copiar a natureza,
exercitando a imaginação, chegando ao ponto de conseguir transmitir para a tela aquilo
que via como o melhor que os clássicos podiam ensinar (VELASCO, 1828).
Seu principal objetivo era motivar seus alunos prestes a embarcarem numa carreira
que considerava um tanto quanto “escabrosa”. Entretanto, entendia que, se esses
conhecessem os recursos que possuíam em si para resistirem e se afastarem dos
inumeráveis males que poderiam assaltá-los, o estudo e a prática das Bellas Artes
poderiam auxiliar a suavizar as amarguras e os infortúnios da vida (VELASCO, 1828).
Franco Velasco manteve-se na docência até o ano de 1833, quando faleceu, em
decorrência de uma doença. Nesse ano executava a pintura do forro da nave da igreja
da Ordem Terceira de São Francisco, tendo feito apenas os esboços para os quadros.
Coube a José Rodrigues Nunes preenchê-los com tinta, juntamente com outros.
Delfina Sanches Velasco, esposa de Franco Velasco, juntamente com Nunes,
encarregou-se de concluir a obra (FREIRE, 2006; NUNES, 1845b).
Morte de Velasco e declínio da Aula Pública
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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Com a morte de Franco Velasco, Nunes assumiu a cadeira de desenho da Aula Pública.
Alguns alunos, já sob direção de Nunes, mostraram esperanças, tais como Joaquim
Marcelino d’Oliveira, Olímpio José da Matta, Joaquim Rufino d’Abreu Fialho, Macario
José da Rocha, Francisco Rodrigues Nunes, João Francisco Lopes Rodrigues,
Ambrozio de Macedo Costa e Francisco da Silva Romão. Dentre estes “[...] poucos se
sobressaíram como artistas, parte atuou como pintores de miniatura e/ou professores
de colégios ou casas particulares; dos que se destacaram, podiam ser apreciados nas
exposições anuais, onde apresentavam seus estudos” (NUNES, 1846, p. 224).
Apesar de alguns dos alunos destacarem-se após a morte de Franco Velasco, muito
se perdeu. Os artistas não ensinavam o pouco que sabiam, o que resultou na
decadência do ensino do desenho. Como esclarece Quirino (1911, p. 150) foi “[...] a
mocidade quem primeiramente experimentou os desastrados efeitos da decadência
da arte. Os poderes públicos, sempre armados de indiferentismo condenável, não
tinham o menor interesse pelo que dizia respeito à instrução”.
A arte baiana entrou em declínio, restringindo-se a iniciativas privadas, como bem
coloca Silva (2008), que corrobora o que diz Manoel Quirino (1911), ao informar que,
antes da institucionalização do ensino superior das belas artes, o ensino e a produção
de pintura artística na Bahia possuíam dependência de iniciativas particulares, a
exemplo da cadeira de geometria e mecânica, que iniciou em 1834 no extinto Arsenal
da Marinha. A autora acrescenta que, em “[...] 1841 Paul Geslim, que fora pintor da
Academia de Paris divulgou através da imprensa que abria curso de desenho e pintura
e em 1845 Luiz Antonio Dias ensinava ceroplastia” (SILVA, 2008, p. 42). Somente na
década de 60 do século XIX, surgem as primeiras tentativas de apoio governamental.
Manoel Quirino (1911) relata que, após a morte de Franco Velasco, o ensino do
desenho não progrediu.. Com a ausência de vigorosos continuadores do trabalho
iniciado por José Joaquim da Rocha e Franco Velasco, assim como a desassistência
financeira por parte do poder público, a arte na Bahia viu-se num desmonte. Como
resultado, seus artistas não passavam de copistas. Na pintura, só na década de 1870,
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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novos impulsos ocorrem com a abertura do Lyceu de Artes e Ofícios, em 1872, e a
abertura da Academia de Belas Artes da Bahia em 1877.
Conclusão
O estudo permitiu-nos concluir que existiu não só uma, mas duas escolas que
antecederam a Aula Pública de Desenho, sendo a Escola Bahiana de Pintura, que
teve como mestre José Joaquim da Rocha, na qual preponderava o estilo barroco
cuja mentalidade religiosa setecentista tolheu a liberdade criativa, reprovava a
invenção para evitar erros na compreensão da doutrina católica e não podia inovar,
pois esta competência restringia-se aos teólogos e representantes da Igreja; ao artista
(pintor) cabia reproduzir as gravuras passadas pelo crivo da Igreja, sobretudo numa
sociedade cujo Santo Ofício imperava. A Escola Velasco, com Franco Velasco, no
qual os artistas gozavam de maior liberdade criativa, as artes apresentaram
tendências neoclássicas e acadêmicas; mesmo supostamente não tendo viajado, ele
apresentou um método distinto do que era praticado, apresentou a leitura dos
clássicos, das teorias e de variados estilos e escolas aos seus alunos; sua
metodologia aproximou-se do que iria acontecer nas Academias de Belas Artes; sua
participação na Aula Pública de Desenho teria sido essencial para o seu
funcionamento, ao explorar o que de melhor seus alunos podia produzir, e incentivá-
los no conhecimento da literatura artística.
A manifesta preocupação de Franco Velasco com o ensino do desenho na Bahia é
notável em todos os documentos aqui mencionados, bem como a sua capacidade
para a criação e animação da pintura. Entretanto, ainda não é claro o abrandamento
de sua participação na historiografia da arte, tanto na função de pintor como de
professor, já que dá continuidade à escola de seu mestre e cria sua própria escola,
tendo como mestres inspiradores os grandes artistas clássicos. Com sua importante
participação na regeneração da arte baiana e implementação de ideias neoclássicas,
pôde experimentar uma renovação no gosto da sociedade.
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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Este estudo carece de maior aprofundamento, pois são muitos os vieses que devem
ser ponderados, especialmente acerca dos métodos e técnicas empregados por
Franco Velasco em suas aulas.
Notas
1 Incerto é o local de nascimento de José Joaquim da Rocha. José Rodrigues Nunes, nascido em 1800, em publicação no “O Musaico”, afirma ser desconhecida a procedência desse artista (NUNES, 1845a). Não se sabia se viera de Minas Gerais, Rio de Janeiro ou Bahia. Manoel Quirino (1911) afirma que era baiano e justifica com o fato de Rocha ter voltado de Portugal diretamente para a Bahia. 2 Sobre a data do retorno de José Joaquim da Rocha não existe consenso entre os estudiosos. Ott (1961) afirma ter sido em 1764, José Rodrigues Nunes (1845a),1740, Manoel Quirino (1911) não estabelece uma data. Usaremos a data fornecida por Ott (1961) por julgarmos a mais adequada, considerando aspectos históricos. 3 Discípulo de Velasco que participou de todas as suas obras e assumiu, como titular, o cargo de professor de desenho após a morte de seu mestre, em 1833 4 Filho de Mateus Franco da Silva e Maria Francisca de Molina Velasco, cuja profissão e procedência são desconhecidas, nasceu em fevereiro 1780 e faleceu em março de 1833. Ainda em sua infância perdeu seu pai, sendo educado por sua mãe. 5 José Teófilo, considerado pela literatura o aprendiz preferido de Rocha, recebeu de seu mestre uma viagem à Europa, para que se especializasse e possivelmente se capacitasse para dar continuidade ao seu trabalho. No entanto, após seu regresso, dedicou-se à pintura e não ensinou a qualquer aprendiz. 6 Manoel Quirino foi mais cronista do que historiador. Não se preocupou em comprovar as informações que colhia da oralidade, bem como omitiu as fontes que tão valiosas informações lhe forneceram. Durante a escrita deste artigo, chamou a atenção os fatos narrados e sua semelhança textual com os escritos de José Rodrigues Nunes. Ficou evidente que Quirino transcreveu parte das informações apresentadas por Nunes em sua coluna “História das Artes e sua marcha progressiva na província da Bahia” no jornal “O Musaico” dos anos de 1845 e 1856. Do mesmo modo, transcreveu parte do texto que Carlos Ott, menciona no artigo “Noções sobre a procedência d’arte de pintura na província da Bahia” publicado na Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de 1947, que trata do manuscrito de mesmo título, encontrado na Biblioteca Nacional, sem indicação de autoria, local e data, mas que, segundo Ott, teria sido produzido entre os anos de 1863-1873. Como exemplo da semelhança entre os textos dos dois autores, Ott cita parte do texto de Querino e do Autor Anônimo, que se referem a José Teófilo de Jesus. É tão significativa a semelhança que até mesmo a ordem de apresentação dos artistas listados por Quirino, no livro “Artistas Baianos”, segue a mesma exposta por Nunes. Deste modo, é hoje certo que Quirino utilizou escritos de Nunes em distintos trechos do livro “Artistas Baianos”, no qual é notável a semelhança com o manuscrito das “Noções” (OTT, 1947; FLEXOR, 2004). 7 A produção dos artistas do século XIX podiam apresentar dois aspectos peculiares: as encomendas religiosas e as particulares. Nas primeiras, que ainda seguiam os moldes contrarreformistas impostas pelo Cardeal Paleotti, cuja ativa participação no Concílio de Trento ficou conhecida e aqui ganhou reforços com as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, ainda podiam ser notadas com fervor na vida religiosa. Nas encomendas particulares, eles tinham maior liberdade criativa. 8 No livro de compromisso da Irmandade de São Lucas, de 1794, é possível distinguir ao menos dois tipos de imitação: a “imitação louvável ou original” e a “imitação escolar”. A primeira é a imitação da natureza, de ideias ou artes diversas; estas são originais; a segunda é a imitação de outras pinturas e desenhos; essas são cópias. Para Franco Velasco, ambas as imitações eram necessárias para o aprendizado das artes (PIFANO,2008). 9 Esta denominação é também encontrada em documento arquivado no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia ([18--?]). 10 Arquivo Público da Bahia – Doc. 1055-1823 – Licenças, nomeações, cartas – Seção judiciária. 11 Arquivo Público da Bahia – Doc. 118. Ordens Régias de 1816-1817. 12 Informação fornecida por José Rodrigues Nunes (1845b) e encontrada no manuscrito no qual Franco Velasco oferece o quadro em favor da Cadeira de Desenho (VELASCO, [1828]). 13 Biblioteca Nacional. Seção de manuscritos. C.0269, 006 nº002, 1827.
SENHORINHO, Darlene Silva. A criação de uma escola baiana de pintura e seus argumentos, In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais [...] Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1151-1167.
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Darlane Silva Senhorinho
Graduada em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Mestre em Artes Visuais na linha de Teoria e História da Arte pela Universidade Federal da Bahia e doutoranda em Artes Visuais na linha de Teoria e História da Arte pela Universidade Federal da Bahia. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). E-mail: [email protected]