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401 Capítulo 6 - Trabalho, Emprego e Promoção Social Rosalina Bergamo - SETP Ariston Azevedo Mendes - SETP João Marcelo Crubellate - UEM 1 Introdução O presente trabalho tem por objetivo apresentar de forma sucinta algumas questões do cenário do trabalho infantil no Brasil tais como dados estatísticos, a legislação que protege as crianças e adolescentes do trabalho precoce, a participação da sociedade civil organizada e os mecanismos de defesa e controle, bem como as principais causas estruturais que justificam socialmente a incorporação precoce desse significativo segmento da população no mercado de trabalho e, por fim, uma análise do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil desenvolvido em cinco Municípios da região metropolitana de Maringá compreendendo o Município pólo e os Municípios do entorno, que são Marialva, Paiçandu e Sarandi. A Constituição de 1988 garante a Prioridade Absoluta às crianças e adolescentes na agenda das políticas públicas, através do art. 227, que é regulamentado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069), porém, através dos dados e noticias da mídia, percebemos que ainda há uma lacuna muito grande entre o Brasil Legal e o Brasil Real. Mas, se existe uma Lei tão completa, por que ainda inviabilizamos a infância brasileira por abandono, negligência, trabalho infantil, exploração sexual, tráfico de drogas etc.? A resposta é que não basta apenas termos Leis; é preciso todo um movimento articulado entre Estado e Sociedade que garanta a cidadania às pessoas. Necessita-se introjetar na consciência das pessoas que todos os cidadãos são sujeitos de direitos, cabendo aos diversos atores sociais, que estão à frente das políticas públicas, conselhos deliberativos, conselhos tutelares e diversos movimentos populares de defesa, divulgar para a população o seu direito a ter direitos. Segundo NOGUEIRA (2004, p. 103), “nenhuma sociedade civil é imediatamente política. Sendo o mundo das organizações, dos particularismos, da defesa muitas vezes egoísta e encarniçada de interesses parciais, sua dimensão política precisa ser construída”. O choque, a concorrência e as lutas entre os diferentes grupos, projetos e interesses funcionam como os móveis decisivos de sua politização. É dessa forma, ou seja, como espaço político que a sociedade vincula-se ao espaço público democrático e pode funcionar como base de uma disputa hegemônica e de uma oposição efetivamente emancipadora, popular e democrática às estratégias de dominação referenciada pelo grande capital. A sociedade civil é despolitizada, não se dispõe como um espaço de organização de subjetividade, no qual pode concorrer a elevação política dos interesses econômicos corporativos ou, em outros termos, a “catarse”, a passagem dos interesses do plano “egoístico-passional” para o plano “ético-político”, com a estrutura sendo elaborada ou superestruturada na consciência dos homens (GRAMSCI 1999, p. 314), fato que, por sua vez, pressupõe a configuração dos grupos sociais, como sujeitos de pensamento, vontade e ação, capacitados para se universalizarem, saírem de si, se candidatarem à direção e a dominação. Portanto, a garantia da cidadania passa pela participação, consciência e mobilização da sociedade civil. 2 O Olhar do Adulto sobre a Criança A relação dos adultos com os pequenos está revelada em três grandes tendências. A primeira consiste em considerar a criança como uma pessoa adulta em A CRIANÇA E O ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE TRABALHO INFANTIL NA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ: PERSPECTIVAS DE ERRADICAÇÃO E A EFICIÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

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401Capítulo 6 - Trabalho, Emprego e Promoção Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Rosalina Bergamo - SETP Ariston Azevedo Mendes - SETP João Marcelo Crubellate - UEM

1 Introdução

O presente trabalho tem por objetivo apresentar de forma sucinta algumas questões do cenário do trabalho infantil no Brasil tais como dados estatísticos, a legislação que protege as crianças e adolescentes do trabalho precoce, a participação da sociedade civil organizada e os mecanismos de defesa e controle, bem como as principais causas estruturais que justificam socialmente a incorporação precoce desse significativo segmento da população no mercado de trabalho e, por fim, uma análise do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil desenvolvido em cinco Municípios da região metropolitana de Maringá compreendendo o Município pólo e os Municípios do entorno, que são Marialva, Paiçandu e Sarandi.

A Constituição de 1988 garante a Prioridade Absoluta às crianças e adolescentes na agenda das políticas públicas, através do art. 227, que é regulamentado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069), porém, através dos dados e noticias da mídia, percebemos que ainda há uma lacuna muito grande entre o Brasil Legal e o Brasil Real.

Mas, se existe uma Lei tão completa, por que ainda inviabilizamos a infância brasileira por abandono, negligência, trabalho infantil, exploração sexual, tráfico de drogas etc.? A resposta é que não basta apenas termos Leis; é preciso todo um movimento articulado entre Estado e Sociedade que garanta a cidadania às pessoas. Necessita-se introjetar na consciência das pessoas que todos os cidadãos são sujeitos de direitos, cabendo aos diversos atores sociais, que estão à frente das políticas públicas, conselhos

deliberativos, conselhos tutelares e diversos movimentos populares de defesa, divulgar para a população o seu direito a ter direitos.

Segundo NOGuEIRA (2004, p. 103), “nenhuma sociedade civil é imediatamente política. Sendo o mundo das organizações, dos particularismos, da defesa muitas vezes egoísta e encarniçada de interesses parciais, sua dimensão política precisa ser construída”. O choque, a concorrência e as lutas entre os diferentes grupos, projetos e interesses funcionam como os móveis decisivos de sua politização. É dessa forma, ou seja, como espaço político que a sociedade vincula-se ao espaço público democrático e pode funcionar como base de uma disputa hegemônica e de uma oposição efetivamente emancipadora, popular e democrática às estratégias de dominação referenciada pelo grande capital.

A sociedade civil é despolitizada, não se dispõe como um espaço de organização de subjetividade, no qual pode concorrer a elevação política dos interesses econômicos corporativos ou, em outros termos, a “catarse”, a passagem dos interesses do plano “egoístico-passional” para o plano “ético-político”, com a estrutura sendo elaborada ou superestruturada na consciência dos homens (GRAMSCI 1999, p. 314), fato que, por sua vez, pressupõe a configuração dos grupos sociais, como sujeitos de pensamento, vontade e ação, capacitados para se universalizarem, saírem de si, se candidatarem à direção e a dominação. Portanto, a garantia da cidadania passa pela participação, consciência e mobilização da sociedade civil.

2 O Olhar do Adulto sobre a Criança

A relação dos adultos com os pequenos está revelada em três grandes tendências. A primeira consiste em considerar a criança como uma pessoa adulta em

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO DE TRABALHO INFANTIL NA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ: PERSPECTIVAS DE ERRADICAÇÃO E A EFICIÊNCIA DAS

POLÍTICAS PÚBLICAS

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402 A Criança e o Adolescente em Situação de Trabalho Infantil na Região Metropolitana de Maringá...

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miniatura. Sob este prisma, uma criança deve ser vestida como adultos, direcionada a comportar-se como os adultos, o que inevitavelmente, deriva para uma abreviação da infância. (BLANDES; CARVALHO; BARREIRA, 1992). Com as descobertas psicológicas das características próprias da criança, uma segunda tendência analítica surgiu. Houve, assim, o reconhecimento das peculiaridades do período de crescimento e da diversidade qualitativa do comportamento infantil. A criança passou a ser vista não só quantitativamente diferente do adulto em relação ao tipo físico, no sentido que ela vivencia diferenças biológicas significativa, no desenvolvimento do organismo, de seu corpo, dos seus órgãos etc., mas também psicologicamente diferente do adulto.

Se na primeira tendência prevalecia uma maneira rígida exigente de tratar a criança, a segunda considerava a criança como menor, no sentido de incapaz, de objeto de tutela, de proteção. Logo o adulto, a sociedade ,deveriam decidir pela criança, porque ela é menor. As legislações brasileiras, pautadas no Código de Menores, cometeram uma grande violência contra as crianças e adolescentes “pobres” cujas famílias, por falta de políticas públicas adequadas, não conseguiam prover adequadamente o sustento e a educação de seus filhos. O Estado decidia, através do Juizado de Menores, o destino dessas crianças tirando-as de suas famílias e afastado-as de suas comunidades de origem, colocando-as em grandes instituições onde estariam “protegidas”, onde receberiam tudo pronto, onde continuariam menores, incapazes, alienadas até a maioridade, e após eram devolvidas às suas famílias e a comunidade de origem incapaz, alienada, sem vínculos familiares e aptos a reproduzir esse ciclo de pobreza e abandono.

A terceira tendência foi consagrada na Convenção Internacional dos Direitos da Criança, garantida pela Doutrina de Proteção Integral, com a afirmação de que a criança é uma pessoa em condição peculiar de desenvolvimento, um cidadão de direitos.

A expressão em condição peculiar de desenvolvimento significa que ela é pronta, acabada enquanto criança, enquanto adolescente, enquanto jovem, mas em relação ao adulto está em desenvolvimento. A característica de desenvolvimento não deve ser motivo de subordinação, mas sim uma garantia de direitos:

direito à vida, à saúde, à educação, ao esporte, à cultura, ao lazer, de profissionalizar-se e de produzir no trabalho de acordo com sua idade, direito à convivência familiar e comunitária. Assim nenhuma criança ou adolescente poderá ser afastado de sua família por questões de sobrevivência, cabendo ao Estado a garantia destes direitos através de políticas públicas.

3 A Criança, o Adolescente e a Exploração da Mão-de-Obra Infantil

uma das formas mais antigas e presentes na sociedade capitalista é a exploração do trabalho infantil. Segundo MINAyO-GOMES e MEIRELLES (1997 apud THOMPSON, 1987, p. 136), o capitalismo não inventou o trabalho infantil, mas criou as condições para que as crianças não só fossem transformadas em adultos precoces, em trabalhadores “livres”, como destituídos de uma tradição em que trabalho e relações familiares, como eram vividas nas indústrias e domicílios, permitiam sua reprodução enquanto criança. Ao entrarem no espaço fabril, eram jogadas às maquinas, permaneciam sob a supervisão de estranhos, forçadas a submeter-se a longas formas de trabalho sem intervalo, recebendo um pagamento inferior ao do adulto pelo seu trabalho.

De acordo com ALVIM (1994), tinha-se no início da industrialização a concepção de que crianças e adolescentes pobres deveriam trabalhar, porque o trabalho os protegeria do crime e da marginalidade, uma vez que o espaço fabril era concebido em oposição ao espaço da rua, o qual era considerado desorganizado e desregulado, além de permitir um aumento da renda familiar, e ao mesmo tempo em que podia ser visto como uma escola, a escola do trabalho.

Nos dias atuais, no Brasil em especial, muito embora tenhamos um conjunto de ações e Legislações que proíbem a exploração da mão-de-obra infanto-juvenil, a cultura da educação pelo trabalho ainda está muito incutida nas pessoas contribuindo para que os vícios uma ideologia retificadora do trabalho que tem seus expoentes em ditos populares tais como “o trabalho dignifica o homem”; “é melhor estar trabalhando do que ficar nas ruas fazendo coisas erradas”; ou “eu sempre trabalhei desde pequeno por isso sou um adulto de bem”.

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Estas idéias assumem um caráter de normalidade, possibilitando que o trabalho, até mesmo quando exercido de forma indigna, seja visto como um valor supremo, como formador de espírito educador.

A história do trabalho infantil, reconhecidamente ilegal até os 16 anos pela Constituição Brasileira e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, acompanha a própria trajetória do país enquanto colônia, quando crianças descendentes de negros e índias eram obrigadas a incrementar a mão de obra das fazendas. De lá para cá se expandiram as possibilidades de trabalho infantil passando de meninos dos bijus, engraxate, vendedor de jornal, até chegar aos soldados e os mediadores do tráfico de droga. As estatísticas indicam que, no Brasil 3,8 milhões de crianças e adolescentes exercem algum tipo de atividade, e este dado faz do Brasil 3º país da América Latina que inviabiliza a infância (uNICEF). Entre as causas que mais colaboram com este numero vergonhoso estão a pobreza e o desemprego crescentes, que acabam servindo de justificativa para aqueles que empregam esses jovens, ou mesmo aqueles que se defrontam diariamente com meninos vendendo balas no sinaleiro, entregando panfletos nos calçadões, engraxando sapatos, pedindo esmolas, desenvolvendo algum tipo de atividade agrícola ou vitimas de exploração sexual.

Nas populações em situação de precariedade econômica e social observa-se uma importante vulnerabilidade e desqualificação social, não raras vezes evoluindo para um estado de exclusão propriamente dita. A pobreza intensa, além da carência de bens materiais, coloca o individuo em uma realidade de vulnerabilidade e degradação. Os pobres são cidadãos incompletos, e os excluídos não são cidadãos. Esta diferença destaca o pobre que está incluído no mercado de trabalho, embora com salários baixos e injustos, do excluído deste mercado. um dos grandes problemas que o Brasil enfrenta é, sem duvida, o desemprego crescente e, portanto, o aumento da vulnerabilidade e das situações de exclusão de um número, também crescente, de grande parte da população.

O desemprego permanente, as dificuldades de inserção profissional e a desqualificação social são experiências muito humilhantes e perigosas.

O tema da exclusão social é muito complexo, sobretudo na perspectiva sócio-econômica. O que

está em seu bojo são relações de poder, implicando em produção de imaginários e subjetividades. Há uma subjetividade, não emancipada, produzida no pobre e no excluído, e um imaginário de fracasso social. Pobres e excluídos, via de regra, nos programas assistencialistas, são responsabilizados pela sua condição. A vulnerabilidade e a exclusão produzem vários itinerários: salariais, conjugais, escolares etc. Portanto, discutir a prevenção e a erradicação do trabalho infantil, e a conseqüente inclusão social e escolar das crianças e adolescente, requerem necessariamente, que se analise e apresente propostas visando à inclusão social de suas famílias, pois vive-se o tempo em que grande parte da população brasileira tem seus direitos violados, cabendo a toda sociedade participar neste processo de construção da cidadania. Cidadania entendida como pleno exercício dos direitos sociais, civis e políticos.

A situação da infância brasileira deve ser prioridade na sociedade. Cabe ao poder público, nos três níveis de administração, parte importante da resposta. No entanto, não se deve esperar que o governo isoladamente forneça todas as soluções. O efetivo enfrentamento das dificuldades só ocorrerá quando os principais atores sociais atingirem um grau de conscientização que incentive uma ação coordenada e plural. Embora os direitos estejam bem fundamentados na Constituição Federal de 1988, também conhecida como Constituição Cidadã, ainda se tem que fazer um grande esforço para garantir a cidadania plena, e isso implica em organizar a sociedade para participar da decisão das políticas públicas, através dos conselhos deliberativos, e exercer de fato o controle social. O controle é indispensável para acompanhar a execução de programas, apontar falhas, desvios, velar pela boa utilização e guarda dos bens patrimoniais e pela perfeita aplicação dos recursos, pois muitas vezes os recursos não chegam até seus destinatários porque são constantemente desviados para outros fins.

Como signatário da declaração do Milênio e do documento “um mundo para as crianças”, o Brasil se comprometeu a melhorar significativamente seus indicadores em relação à infância. Embora os números tenham avançado na maioria das áreas, eles ainda são preocupantes. O cenário do trabalho infantil demonstra que em 1980, o Brasil contava com cerca de 6 milhões de crianças e adolescentes em situação de trabalho. Em 1992,

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registrou 9,6milhões com idade entre 5 e 17 anos. Em 1995, este número decresce para 9,5 milhões. Porém, foi somente em 1998 que este quadro sofreu uma alteração significativa, passando para cerca de 7,7 milhões de crianças e adolescentes. Em 1999, este número foi reduzido para a casa dos 6,6 milhões. De acordo com a Pesquisa Nacional Amostra por Domicílio (PNAD) em 2001, cerca de 5,5 milhões de crianças e adolescentes com idade entre 5 e 17 anos encontravam-se em situação de trabalho precoce. Destes, cerca de 300 mil estariam na faixa etária entre 5 a 9 anos, 2,8 milhões entre 10 e 15 anos e 2,4 milhões se encontravam entre os 16 e 17 anos de idade. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – (IBGE, 2003) realizada entre 1995 a 2003, a mão-de-obra de crianças e adolescentes de 5 a 15 anos diminuiu de 5,1 milhões para 2,7 milhões em todo o país. Na última pesquisa realizada em 2003, o numero de crianças trabalhadoras na faixa compreendida de 5 a 9 anos ficou em 1,3% da população; de 10 a 14 anos, 10,4%, e de 15 a 17anos, 30,3 %. Em uma análise mais profunda, a pesquisa constatou que a faixa em que mais há trabalhadores é a que compreende as idades entre 14 e 15 anos (19,6%).

As características da criança em situação de trabalho infantil, segundo dados do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Trabalhador Adolescente apontam, como sendo a maioria do sexo masculino, com ressalvas ao trabalho infantil doméstico; mais de 50 % são de cor negra (pardos e pretos); 43% dos trabalhadores são brancos; 0,5% indígenas; e 0,5% amarelos.

A zona rural agrega mais trabalhadores com idade entre 05 e 15 anos, predominando também o setor agrícola nessa faixa etária. Em contrapartida, os adolescentes que trabalham com idade entre 16 e 17 anos estão, sobretudo, na zona urbana. Quanto à remuneração, quase a metade dos trabalhadores infantis não possui qualquer remuneração por seu trabalho. Do ponto de vista educacional, cerca de 2,7% das crianças e adolescentes que trabalham no país estão fora da escola, concentrando-se esse percentual naqueles com idade entre 16 e 17 anos.

As crianças que trabalham registram nível de escolarização inferior ao daquelas que não trabalham, sendo que as crianças e adolescentes trabalhadores estão com idade mais avançada

para a série cursada em relação às crianças e adolescente que não trabalham. De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2002 apud BRASIL, 2004) e do Programa Internacional de Eliminação do Trabalho Infantil, existem no mundo cerca de 350 milhões de crianças entre 5 e 17anos envolvidas em alguma atividade econômica. Deste total, cerca de 250 milhões estão submetidos a condições consideradas de exploração, o que equivale a uma criança em cada seis no mundo. Destas, 170 milhões trabalham em condições perigosas e 76 milhões tem idade inferior a 10 anos, sendo que a maior parte desse exército de trabalhadores mirins (entre 5 e 17 anos) vive na Ásia (127 milhões), África e Oriente Médio (61 milhões). Na América Latina e Caribe são 1,4 milhões, ou seja, 8% do total. Os países industrializados e o leste europeu não são bons exemplos do problema, uma vez que abrigam pelo menos 5 milhões de crianças trabalhando. uma parte menor, mas dramaticamente consistente desse contingente de trabalhadores, é vitima de escravidão e destinada, por exemplo, à atividade de exploração sexual, estimada em 8,4 milhões de crianças no mundo.

Em pesquisa realizada em 2003, a Organização Internacional do Trabalho e o Programa Internacional de Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC) investigaram os custos que a exploração infantil traz para a economia dos países. O resultado foi surpreendente: se os 250 milhões de crianças não fossem explorados e tivessem acesso à educação, até considerando o trabalho e a produção perdida, a vantagem econômica global seria notável. Em vinte anos, para cada dólar gasto em educação das crianças que são exploradas, se obteria na renda 9,9 dólares em média no mundo e 15,6 dólares em média nos países emergentes. A eliminação do trabalho infantil causaria, nos mesmos vinte anos, um incremento médio de 9,3% do PIB nos países da América Latina e de 5,1% nos países emergentes.

O Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente estabelece o conceito de trabalho infantil como todo o trabalho desempenhado por crianças e adolescentes com idade mínima de inicio ao trabalho inferior a 16 anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. Os documentos internacionais reconhecem a criança como àquela pessoa com idade inferior a 18 anos.

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

4 Ações de Enfrentamento à Erradicação do Trabalho Infantil

Em âmbito nacional, o trabalho infantil, nesta ultimas décadas, vem obtendo especial atenção da sociedade civil organizada, do poder público, dos empregadores, dos trabalhadores e das agências de cooperação internacional. Entre as iniciativas empreendidas pelo governo federal para alteração da exploração laboral de crianças e de adolescentes registra-se o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, que atualmente beneficia 1.007.962 mil crianças e adolescentes em 27 unidades federativas e 3.296 Municípios. (Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome)

O PETI tem se destacado por sua relação direta com a diminuição da exploração do trabalho de crianças e adolescentes no Brasil. O desenho do programa objetivando atingir a raiz do problema compreende três eixos de atuação: a concessão da Bolsa Criança Cidadã, a manutenção da jornada ampliada e o trabalho realizado junto às famílias. O benefício monetário representa uma alternativa à escassez de acesso aos bens e serviços básicos. A jornada ampliada oferece atividades sócias educativas e culturais, fomentando o processo de aprendizagem das crianças e adolescentes envolvidos. O trabalho com as famílias envolve o desenvolvimento de ações sócio-educativas e de geração de emprego e renda.

5 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI

O PETI é um programa instituído pelo governo federal que visa eliminar, em parceria com os diversos setores dos governos estaduais e municipais e da sociedade civil, o trabalho infantil nas atividades consideradas perigosas, insalubres e degradantes nas zonas urbana e rural, possibilitando às crianças e adolescentes de 07 a 16 anos incompletos a ampliação do universo cultural e o desenvolvimento de potencialidades com vistas à melhoria do desempenho escolar e inserção no circuito de bens, serviços e riquezas social. Tem como principais referencias o núcleo familiar, a escola e a comunidade.

O programa tem com objetivos específicos:

a) Mobilizar a sociedade, comprometendo-a com o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, por meio da remoção de fatores indutores do engajamento no trabalho precoce;

b) Possibilitar o acesso, a permanência e o sucesso de crianças e adolescentes na escola, mediante a concessão de uma complementação mensal de renda: Bolsa Criança Cidadã;

c) Proporcionar apoio e orientação às famílias beneficiadas por meio da oferta de ações sócio-educativas e geração de renda;

d) Fomentar e incentivar a ampliação do universo de conhecimentos da criança e do adolescente, por meio de atividades culturais, desportivas e de lazer no período complementar ao da jornada do ensino regular - Jornada Ampliada;

e) Estimular mudanças de hábitos e atitudes, buscando a melhoria da qualidade de vida das famílias, numa estreita relação com a escola e à comunidade;

f) Estabelecer parcerias com agentes públicos que garantam ações de caráter intersetorial, principalmente no que diz respeito à oferta de programas e projetos de geração de trabalho e renda, como formação e qualificação profissional de adolescentes e adultos;

g) O PETI considera atividades laborais perigosas, insalubres, penosas e degradantes as seguintes: Zona urbana: as atividades relacionadas ao comércio de drogas, exploração sexual, ao trabalho em “lixões” e ao comércio (em feiras, ambulante, “flanelinha”, de distribuição de jornais, panfletos etc.). Zona Rural: carvoaria, colheita de agave, algodão, extrativismo vegetal, cana de açúcar, fumo, horticultura, casas de farinha, citricultura, salinas, tecelagem, atividades de pesca, atividades relacionadas à extração e corte de madeira e fabricação de móveis/laminação de madeira, atividades relacionadas à fabricação de tijolos, telhas, cerâmicas e atividades relacionadas à extração de pedra e garimpo.

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406 A Criança e o Adolescente em Situação de Trabalho Infantil na Região Metropolitana de Maringá...

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

5.1 A Política de Erradicação do Trabalho Infantil

A Política de Erradicação do Trabalho Infantil deve assegurar:

a. O incentivo à formação de fóruns e comissões estaduais e municipais de prevenção e erradicação do trabalho infantil;

b. A sensibilização, mobilização e articulação dos diversos setores do governo e das organizações da sociedade civil, por meio das comissões estaduais e municipais de prevenção e erradicarão do trabalho infantil;

c. O fortalecimento das estruturas e serviços especializados de defesa e de proteção de crianças e adolescentes, dentre os quais se destacam os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, Conselhos Tutelares, as Defensorias Públicas e Varas de Justiça especializadas;

d. A ampliação da fiscalização e a punição dos empregadores que utilizam mão de obra infantil;

e. A oferta de bolsa e de caráter temporário, em áreas de exclusão social, tendo as famílias o compromisso de retirar seus filhos do trabalho, mantendo-os na escola e jornada ampliada;

f. O fortalecimento emancipatório das famílias por meio da oferta de informações e desenvolvimento de habilidades e competências facilitadoras de inclusão social;

g. A revitalização da rede pública e privada prestadora de serviço;

h. O co-financiamento das três esferas de governo, bem como do setor privado;

i. A garantia de acesso ou reingresso, de permanência e de sucesso das crianças e adolescentes na escola;

j. A formação continuada dos atores sociais;

k. A formação e qualificação profissional de adultos, a assessoria técnica e a concessão de crédito popular para projetos de

agricultura familiar, com financiamento do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, e outros empreendimentos produtivos geradores de trabalho e renda; e, a produção e a melhoria dos dados e informações sobre o trabalho infantil.

Os objetivos do PETI são bastante amplos e envolvem necessariamente a participação das três esferas de governo em diversos setores, como a educação, a assistência social, a saúde, a justiça e o trabalho, dentre outros. A participação da sociedade, por meio de seus diversos segmentos, é fator relevante para o êxito do Programa. Para que o PETI tenha sucesso, faz-se necessário que todas as crianças e adolescentes abandonem de imediato a atividade na qual estão inseridos e freqüentem regularmente a escola e a jornada ampliada.

O trabalho de apoio sócio-educativo realizado com as famílias, agregado à oferta de programas e projetos de geração de trabalho e renda, contribui para o seu processo emancipatório, tornando-os protagonistas do seu próprio desenvolvimento social.

5.2 Papel do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

O Fórum foi criado para atuar como uma instância aglutinadora e articuladora dos agentes institucionais envolvidos em políticas e programas de proteção integral à criança e ao adolescente, com o objetivo de combater, prevenir e erradicar o trabalho infantil. O Fórum Nacional atualmente é integrado por 40 entidades, sendo sua composição quadripartite: governo, trabalhadores, empregadores e organizações não governamentais.

5.3 Papel e Composição da Comissão Estadual/Municipal de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil

A Comissão Estadual/Municipal é constituída por membros do governo e da sociedade, de caráter consultivo e propositivo, tendo como objetivo contribuir para a implantação e implementação de programas e projetos que visem à erradicação do trabalho infantil. Pode ser formalizada por meio de decreto do Governador ou do

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407Capítulo 6 - Trabalho, Emprego e Promoção Social

Gestão de Políticas Públicas no Paraná

Prefeito, sendo formado por representantes das políticas setoriais do Estado/Município, Conselho Estadual/Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, Conselho Tutelar, Ministério Público, Ministério Público do Trabalho, Delegacia Regional do Trabalho/Sub Delegacias/Núcleo de Combate ao Trabalho Infantil, Sindicatos Patronais, Sindicatos dos Trabalhadores, Instituições Formadoras, Instituições de Pesquisa e Organizações Não Governamentais.

6 Marco Legal que Norteia o Combate e a Erradicação do Trabalho Infantil

A normatização legal brasileira sobre o trabalho infantil tem como premissa a doutrina da proteção integral. Em 1989, a Organização das Nações unidas – ONu estabeleceu a Convenção sobre os Direitos da Criança, sob a ótica de proteção e defesa da criança. Esta convenção registra, entre outras garantias, em seu artigo 32, a proteção contra a exploração sexual, trabalho perigoso ou que produza efeitos negativos à educação, que seja nocivo à saúde, aos desenvolvimentos físicos, mentais, espirituais, morais ou sociais.

A Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT traz como garantias que o adolescente que tenha menos que dezoito anos de idade e por ocasião da rescisão contratual trabalhista, deverão ter assistência do responsável, sendo proibido exercer serviços noturnos, atividades em locais insalubres, perigosos ou prejudiciais à moral, trabalhos na rua, praças e logradouros públicos, salvo mediante autorização judicial. No caso de adolescente com idade legal para trabalhar, o empregador deverá garantir o tempo necessário à freqüência escolar.

Lei da Aprendizagem n.º 10.097, de 19 de dezembro de 2000, artigos 403, 428, 429, 430, 431, 432, 433 legislam e normatizam o trabalho do adolescente na condição de aprendiz.

Os artigos de 60 a 69 do Estatuto da Criança e do Adolescente legislam sobre a proteção do adolescente trabalhador, porém devemos nos ater à questão da guarda (artigo 33 e 34), que pode ser confundida com a facilidade do desenvolvimento do trabalho infantil doméstico. Vale ressaltar que o parágrafo da lei, do modo como está elaborado, permite abusos, facultando o uso da guarda no emprego de crianças e jovens no serviço doméstico privado e descaracterizado,

assim a finalidade da guarda como instrumento de proteção e ocultando a exploração infanto-juvenil das meninas trabalhadoras domésticas.

O Estatuto estabelece ainda mecanismos como os Conselhos de Direitos e Tutelares tratados nos artigos 88, 131 e 132 para a garantia dos direitos legislados. Esses Conselhos são co-responsáveis no processo de erradicação do trabalho infantil.

A Convenção n.° 138 da Organização Internacional do Trabalho de 1973 (BRASIL 2004b) estabelece a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho, chamando atenção para a necessidade de uma política nacional de erradicação do trabalho infantil e prevendo a idade mínima para o ingresso no trabalho. Das restrições exigidas, ficou estabelecida como a idade mínima àquela não inferior à conclusão da escolaridade compulsória, em qualquer hipótese não inferior a 15 anos.

Convenção n.° 132 foi ratificada pelo Brasil somente em 2001, enquanto a Convenção n.° 182 de 1999 foi ratificada em 2000 (BRASIL, 2004b). Já a Convenção n.° 182 estabelece a proibição das piores formas de trabalho infantil, bem como a elaboração e implementação de programas para sua eliminação. Como piores formas estão expressas todas as formas de escravidão, exploração sexual, tráfico de entorpecentes que prejudiquem a saúde, a segurança ou a moral das crianças e dos adolescentes. Em 2002, a ONu apresentou o documento final de sua Sessão Especial sobre a Criança, denominando um Mundo para a Criança.

A Lei das Diretrizes e Bases da Educação – LDB, n.° 9394 de 20 de dezembro de 1996, em seu artigo 87, parágrafo 5, estabelece que “serão conjugados todos os esforços objetivando a progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o regime das escolas em tempo integral”. E a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, n°, de 7 de dezembro de 1993, artigo 2, objetiva a proteção à família, à criança e ao adolescente em situação de risco social.

7 Ações Realizadas por Organismos Nacionais e Internacionais no Enfrentamento do Trabalho Infantil

No âmbito internacional a questão do trabalho infantil está inserida no debate realizado em torno

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dos direitos humanos, cujo eixo é a proteção dos direitos dos excluídos e vulneráveis, tendo como estratégia a mobilização da sociedade civil contra todos os tipos de exclusão, discriminação e repressão. Através de tratados, a comunidade internacional tem buscado a garantia de melhoria das condições de vida dos indivíduos, visando assegurar-lhes seus direitos fundamentais.

A OIT tem por atribuição a proteção dos direitos humanos, no que se refere às esferas econômicas e trabalhistas, estando o combate ao trabalho infantil ali considerado. Sua contribuição tem sido registrada desde 1992, por meio do Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil – IPECE. Este programa, juntamente com parceiros locais, vem elaborando diagnósticos, estudos de casos, pesquisas e avaliações com objetivo de erradicar o trabalho infantil.

O Fundo das Nações unidas para a Infância - uNICEF tem por mandato participar de aplicação de Convenção sobre os Direitos da Criança. A prevenção e a erradicação do trabalho infantil constam da cooperação técnica e financeira desde a década de 1990. A participação na definição de políticas, implementação de programas e projetos, elaboração de metodologias e estratégias inovadoras, registro de boas práticas para o enfrentamento do trabalho infantil e atendimentos diretos de crianças e adolescentes, constituem as ações prioritárias de sua programação no Brasil.

No âmbito nacional, destaca-se a criação do Fórum Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil, criado em 1994, que tem por finalidade viabilizar um espaço de articulação e mobilização dos atos sociais institucionais relacionados com políticas e programas destinados a prevenir e erradicar o trabalho infantil no país.

O governo federal vem se comprometendo com a prevenção e erradicação do trabalho infantil por meio do desenvolvimento e aplicação da legislação e por ações desenvolvidas pelo poder executivo através do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, através da Secretaria Nacional de Assistência Social, que tem contribuído para prevenção e erradicação do trabalho infantil por intermédio dos programas Sentinela e PETI.

O programa Sentinela destina-se a combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescente, tendo como metas programáticas a implantação de centros referência, serviços

especializados para o atendimento do público-alvo e promoção de ações de mobilização da sociedade e instituições.

O Ministério do Trabalho vem contribuindo para o objetivo da erradicação do trabalho infantil, intensificando a fiscalização, bem como delimitando os procedimentos adotados pelos auditores fiscais do trabalho em parceria com os Conselhos Tutelares, entidades sindicais e Ministério Público do Trabalho. Cabe ao Ministério do Trabalho o mapeamento dos focos de trabalho infantil no Brasil. Outra medida efetivada por esse Ministério foi a criação dos Grupos Especiais de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalho Adolescente – GECTIPAS, estando instalados em 27 unidades federativas, foram instituídos no âmbito das Delegacias Regionais do Trabalho – DRTs.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, que esta diretamente ligada à Presidência da República, também vem atuando na problemática do trabalho infantil, especialmente no que se refere às atividades ilícitas, na implementação do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil.

O Ministério Público do Trabalho instituiu a Coordenadoria Nacional de Combate à exploração do trabalho da criança e do adolescente, que tem como objetivo integrar as Procuradorias Regionais do Trabalho em uma atuação uniforme e coordenada de combate ao trabalho infantil e de regularização do trabalho do adolescente, bem como fomentar a troca de experiências e discussões sobre a temática. A coordenadoria estabeleceu como metas prioritárias o combate ao trabalho infantil doméstico, o trabalho de crianças e adolescentes em lixões e em atividades ilícitas (tráfico de drogas e exploração sexual).

No âmbito da sociedade civil organizada podem ser destacadas importantes ações desenvolvidas por diferentes organizações não governamentais tais como: Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI, Cáritas Diocesana, Fórum Nacional dos Direitos das Crianças, Fórum Nacional Lixo e Cidadania, Instituto Ayrton Sena, Instituo Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, Instituto de Estudos Sócio Econômico – INESC, Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua – MNMMR, Missão Criança e Movimento de Organização Comunitária – MOC.

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

As centrais sindicais e o setor patronal tem tido uma participação fundamental, pois tem se posicionado publicamente contra o trabalho infantil e realizado ações específicas, participando junto com os empregadores no Fórum Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil.

A Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança desde 1996 vem articulando cadeias produtivas para a pactuação de não empregar crianças, apoiar a escola e investir nos fundos municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente. Desenvolve também o Programa Empresa Amiga da Criança que estimula o crescimento do número de empresas engajadas no enfrentamento do trabalho infantil.

8 Descrição e Análise dos Dados

8.1 Considerações sobre os Procedimentos Metodológicos

Os dados a serem apresentados foram obtidos através de entrevistas com gestores da Política Municipal de Assistência Social, coordenadores do programa, conselheiros municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e Conselheiro Tutelar. A metodologia adotada foi entrevista com os diversos atores sociais, tendo como apoio um questionário que foi preenchido através de visitas e entrevistas informais. Os Municípios pesquisados foram Maringá, Marialva, Paiçandu e Sarandi, os quais compõem a região metropolitana.

8.2 Caracterização dos Municípios

• MunicípiodeMaringá

O Município de Maringá é cidade pólo da Amusep (Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense), atualmente com uma população estimada pelo IBGE de 324.327 habitantes, e a população infantil juvenil na faixa de 0 a 19 anos é de 102.713, a etária de maior incidência é a de 15 a 19 anos. Com um índice populacional estimado em 1,86% e índice de desenvolvimento humano IDHM de 0.841, Maringá ocupa a 67.ª posição no país, é centro de referencia da região desempenhando papel central nas áreas comercial, industrial, cultural, além de centro universitário e de pesquisa. À sua volta tem cidades caracterizadas como “dormitórios” com

uma população aproximada em 70% em relação ao total, que trabalha ou mantém relação cotidiana com Maringá. Esta relação de dependência mais acentuada aparece os Municípios de Paiçandu e Sarandi, que mantêm uma relação de dependência com a rede de serviços sociais, trabalho, educação, saúde e assistência social. A relação de dependência de Municípios de pequeno e médio porte com Municípios pólos, exige uma atuação política regional para enfrentamento dos problemas, cabendo ao Governo Federal e Estadual a manutenção dos serviços.

• MunicípiodeMarialva

O Município de Marialva, classificado segundo o IPARDES como Município de pequeno porte II (acima de 20.0000 habitantes) conta com uma população estimada em 33.194 habitantes, sendo a população de 0 a 19 anos um total de 10.726 e a faixa mais significativa de 15 a 19 anos. O IDHM é de 0,784 o que o coloca em 4º lugar da região com melhor índice. Tem uma característica diferenciada de Sarandi e Paiçandu já que não mantém uma relação de dependência com o Município pólo na área dos serviços sociais e emprego, tendo uma característica essencialmente agrícola composta de pequenos agricultores e agricultura familiar, faz com que tenha um índice de desemprego pouco significativo.

• MunicípiodeSarandi

Sarandi tem a classificação de Município de médio porte (população acima de 50.000 habitantes) e conta com uma população estimada de 88.747 habitantes, sendo a população de 0 a 19 um total de 29.410 e a faixa de maior incidência é a de 5 a 9 anos. O IDHM é de 0.768. O Município tem apenas 24 anos de emancipação política, mas é uma das cidades do estado que apresenta um dos maiores índices de crescimento populacional, isto devido ao grande número de migrações advindas de regiões periféricas que buscam fixar residência no Município, pois a moradia custa mais barato do que nos grandes centros. Segundo dados do Plano Municipal de Assistência Social (2005), 58% da população não está economicamente ativa, vivendo de trabalhos informais e recebendo auxilio através dos programas de transferência de renda do Governo Federal.

• MunicípiodePaiçandu

O Município de Paiçandu é considerado de pequeno porte II, conta com uma população

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estimada pelo IBGE de 37.096, sendo a população na faixa de 0 a 19 anos de 12.543, e a faixa mais significativa é a de 5 a 9 anos. O IDHM é de 0,746. Muito embora tenha mesmas características do Município de Sarandi, considerada cidade dormitório de Maringá, mantém ainda que em menor grau, uma dependência dos serviços, principalmente no setor empregatício.

8.3 Processo de Implantação do PETI

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil no Município de Maringá foi implantado em 2000, e conta com 483 metas, para zona urbana, sendo que todos os recursos para sua implantação foram liberados através de emenda parlamentar. No Município de Paiçandu também a liberação de recursos deu-se através de emenda parlamentar, liberada no ano de 2000. O Município conta com 71 metas da zona urbana.

Em Marialva o processo de implantação se identifica com o de Maringá e Paiçandu. O programa foi implantado em 2001, contando com 65 metas da zona urbana e 74 da zona rural.

Quanto ao processo de implantação do programa nestes Municípios, avaliamos que prevaleceu o critério político que é liberado por representantes da Assembléia Legislativa Federal, através dos deputados federais. Segundo os gestores da política municipal de Assistência Social, este processo apresentou dificuldades e irregularidades na implantação do programa sendo as principais: curto prazo para adequação de espaços físicos para realização das atividades da jornada ampliada, dificuldades para organização das equipes de monitores, educadores e pessoal de apoio, bem com dificuldades para localizar as crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil. Os gestores relatam que no inicio colocaram crianças e adolescentes que estavam fora dos critérios para garantir o recurso, e depois com mais tempo organizaram o programa de acordo com a normativa do Programa Nacional de Combate ao Trabalho Infantil. Outra incoerência cometida pela coordenação nacional do programa é a não observância da realidade dos Municípios, pois se comparamos a realidade do Município de Paiçandu com o Município de Marialva, constatamos que Marialva tem um índice populacional menor que Paiçandu, tem melhor IDHM e a questão social e o desemprego também são em menor grau

que Paiçandu, no entanto as metas do PETI são em numero maior. Segundo dados colhidos na entrevista, a coordenação municipal informa que não necessita de todas as metas, pois o numero de crianças que exerciam algum tipo de trabalho não atingem as 139 metas. Neste caso concluímos que o Município de Marialva não necessita de manter este programa, pois segundo o gestor municipal o trabalho infantil já foi erradicado no Município, permanecendo o PETI como um programa de transferência de renda para crianças e adolescentes de baixo poder aquisitivo, que não é seu objetivo.

No Município de Sarandi o processo foi diferenciado, tendo sido primeiramente realizado um diagnóstico das crianças e adolescente em situação de trabalho infantil, para depois ser encaminhado à Secretaria Nacional de Assistência Social que liberou, no final do ano de 2001, recursos para atendimento a 319 crianças e adolescentes de 07 a 16 anos. Este procedimento é considerado positivo pelo Município, pois propiciou a implantação do programa de forma planejada, embora que as metas liberadas não tenham sido suficientes para cobertura total da demanda.

8.4 Atividades Desenvolvidas pelas Crianças e Adolescentes antes de serem integradas ao Programa

Quanto às atividades que as crianças exerciam antes de serem integradas ao programa, podemos considerar que Maringá, Paiçandu e Sarandi eram os Municípios onde se encontravam as piores formas de trabalho, pois havia crianças atuando como: catadores de lixo no lixão, vendedor ambulante, engraxate, trabalho doméstico, carroceiros. No Município de Marialva a ocupação principal era na zona rural na colheita de uva (agricultura familiar) catador de lixo reciclável (latinhas) babá, vendedor ambulante e flanelinha.

8.5 Crianças e Adolescentes inseridas no Programa e que continuam trabalhando

Quanto a esta questão, se existem no Município crianças que estão inseridas no programa e continuam trabalhando, a coordenação do

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programa no Município de Marialva afirma que não, ao passo que os Municípios de Sarandi, Paiçandu e Maringá responderam que sim. Entre as causas que eles listaram estão: baixo valor da bolsa, as famílias obrigam as crianças e adolescentes a trabalharem em finais de semana e à noite, principalmente em coleta de recicláveis (catar latinhas). Nesse sentido, o Município de Maringá é o que oferece os maiores atrativos, dado que se trata de um Município com maior porte populacional e com uma camada da população com alto poder aquisitivo. Assim a prática de ficar em sinaleiros e imediações de restaurantes e locais de diversão pedindo esmolas se torna uma atividade mais rentável do que o valor da bolsa criança cidadã. Nota-se neste caso, que o ganho financeiro imediato, tanto para as crianças como para suas famílias, é mais importante que o ganho social que se obtém através da educação, acesso ao universo informacional, atividades de cultura e lazer e programas destinados às famílias como profissionalização e geração de renda, que compõem o objetivo do PETI.

Quanto à questão se existe no Município crianças e adolescentes que estão trabalhando e não estão inseridos no PETI, o Município de Marialva informa que não, os Municípios de Paiçandu e Sarandi atribuem ao número limitado de metas destinadas pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, já no Município de Maringá as crianças e adolescentes continuam trabalhando pelas características próprias de cidade de grande porte.

8.6 Bolsa Criança Cidadã e Jornada Ampliada

Com relação ao valor da Bolsa Criança Cidadão, o Município de Marialva avalia que há uma discrepância entre o valor da bolsa da zona urbana (R$ 40,00) e da zona rural (R$ 25,00). Na verdade, a necessidade das crianças não tem diferença, sejam na zona rural, seja na zona urbana. Se avaliarmos a bolsa da zona rural, esta deveria ser maior, pois é lá que encontramos dificuldades de acesso aos bens e serviços básicos com maior freqüência. Já os Municípios de Maringá, Paiçandu e Sarandi avaliam que para a criança de 7 a 12 anos, o valor da bolsa é suficiente para suas necessidades de criança. Para o adolescente cujas necessidades são mais exigentes, e em muitos

casos a bolsa não se constitui em um atrativo significativo por isso os Municípios consideram o valor baixo, justificando assim o abandono do programa por parte das crianças e adolescentes, para desenvolver outras atividades mais lucrativas, porém inadequadas para seu desenvolvimento.

Quanto ao valor repassado pelo Governo Federal de R$ 20,00 mensais, por criança ou adolescente para o desenvolvimento das atividades da Jornada Ampliada, os Municípios avaliam que este é insuficiente. Além disso, eles argumentam que desde a implantação do programa não houve reajuste, o que somado à questão da burocracia na forma de aplicar o recurso, dificulta a agilização do procedimento de aplicação. Se são os Municípios que sabem das suas necessidades de gasto, eles deveriam ser livres para aplicar os recursos no que acharem mais importante e necessário às suas realidades.

8.7 Investimentos dos Municípios

Quanto ao investimento nas ações do PETI, todos assinalam que o maior investimento fica a cargo dos Municípios, no que diz respeito ao pagamento de pessoal, manutenção do espaço físico, alimentação, material didático pedagógico, esportivo, e outros que forem necessários. Os Municípios colocam que a participação do Estado e da união no processo de municipalização das ações ainda não ocorreu de fato. A realidade é que houve desconcentração dos serviços e não de recursos.

8.8 Participação e Compromisso da Comissão Municipal de Erradicação do Trabalho Infantil

Com relação à participação e compromisso da comissão os Municípios de Maringá, Marialva e Paiçandu informaram que a comissão municipal está desarticulada, não tendo se reunido e cumprido os objetivos conforme orientação do Programa Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil. A comissão municipal de Sarandi tem cumprido suas atribuições com calendário mensal de reuniões. Embora a coordenação do programa não faça parte da comissão, ela fornece todo apoio técnico e logístico, contribuindo assim para a consecução de seus objetivos. O não funcionamento das comissões impossibilita

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

a identificação de possíveis problemas e a busca conjunta de soluções para os mesmos.

8.9 Indicadores da Eficiência, Eficácia e Efetividade do Programa

Quanto ao percentual de crianças e adolescentes retirados do trabalho e inseridos no programa, os Municípios de Sarandi e Paiçandu informam que este não atinge 100%, dada à limitação das metas, insuficiência de espaço físico e de pessoal. O Município de Maringá, por ser um Município de grande porte, apresenta dificuldades em se localizar todas as crianças e adolescentes que estão em situação de trabalho. O fato de o Município através do Centro de Referencia da Criança contar com uma equipe de educadores que realiza abordagens pedagógicas nas ruas, e esta ação se localiza mais na região central, onde se concentra maior numero de crianças e adolescentes, nos bairros distantes, a situação foge aos olhos dos órgãos de fiscalização. É nesse ponto que a sociedade pode e deve colaborar denunciando as situações de trabalho infantil. Também, devido ao fato de Maringá ser um Município maior e com mais atrativos existe nas ruas uma população que entra para suas estatísticas, mas que pertence ao Município de Sarandi e Paiçandu. O Município de Marialva informa que 100% das crianças que exerciam algum tipo de atividade saíram do trabalho e foram inseridas no programa.

8.10 Percentual de Permanência na Escola e Freqüência nas Atividades da Jornada Ampliada

O Município de Paiçandu informa que 100% das crianças e adolescentes freqüentam a escola regularmente, mas isto acontece porque a coordenação do programa e a Secretaria Municipal de Educação mantêm uma vigilância constante da freqüência escolar. O Município de Sarandi informa que 95% das crianças e adolescentes freqüentam regularmente a escola. A coordenação também mantém controle da freqüência e das notas. No Município de Maringá e Marialva, 100% das crianças e adolescentes freqüentam regularmente a escola. Ressaltamos que as freqüências escolares não são sinônimas de produção escolar.

Nas informações disponibilizadas pelos Municípios quanto à freqüência na jornada ampliada, Marialva informa que 100% das crianças

freqüentam as atividades da jornada ampliada, em Sarandi, Paiçandu e Maringá a freqüência oscila de 80 a 95 %, devido a dois motivos fundamentais: elas faltam porque tem que cuidar dos irmãos menores, ou, quando há dificuldades financeiras, são obrigadas pelos responsáveis a saírem pelas ruas para trabalhar ou pedir esmolas.

8.11 Participação das Famílias nos Programas de Apoio Sócio Familiar

O desinteresse das famílias em participar ativamente das ações do Programa foi destacado pelos quatro Municípios. um dos principais fatores parece ser a cultura do assistencialismo à que sempre foram alvo, programas pontuais que não tinham caráter emancipatório e a reversão de valores e atitudes que perpassam gerações até atingir um grau de equidade desejável. Os Municípios ressaltam que um percentual de 80% das famílias tem trabalho fixo, 15% trabalham em serviços temporários ou esporádicos, e tem um percentual aproximado de 5% que não tem nenhuma atividade econômica, são vitimas de uma pobreza crônica associada ao consumo de drogas e álcool. Todos os Municípios apontaram que a maior participação das famílias está nas reuniões mensais, que são realizadas para tratar de assuntos das crianças e do programa Essa participação é atribuída ao receio de que as famílias poderiam perder o beneficio, caso não participe da reunião.

8.12 Programas que o Município Oportuniza para as Famílias

Os programas de apoio sócio familiar são oportunizados através da rede de proteção social e especial realizada pelo poder público e pelas organizações não governamentais sendo: qualificação e requalificação profissional, apoio psicossocial, escolarização, encaminhamento aos serviços sociais básicos, atividades de geração de renda, reuniões de sensibilização e conscientização e assistência jurídica.

8.13 Dificuldades Enfrentadas pelos Municípios na Execução do Programa

Os Municípios apontam como principais dificuldades: limitação de recursos financeiros

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no orçamento municipal, pouca participação da sociedade civil, recursos repassados pelo Governo Federal para a jornada ampliada e pagamento da bolsa criança cidadã muito baixo e sem alteração desde a implantação do programa, atrativos de outras atividades que oferecem maior rentabilidade que provoca o abandono do programa e da escola.

9 Principais Resultados Obtidos pelo Programa

Os principais resultados obtidos pelo programa apontados pelos Municípios são:

• Melhoriadorendimentoescolar;

• Melhoriadaauto-estimadascriançaseoudas famílias;

• Melhoria no desenvolvimento físico dascrianças;

• Melhorianaqualidadedevidadasfamíliasatravés dos programas de apoio sócio familiar;

• Fortalecimentodosvínculosfamiliares;

• Melhoriadoaproveitamento/desempenhoescolar das crianças e adolescente;

• Ampliaçãodouniversodeconhecimentodas crianças/ adolescentes;

• Melhoria na capacidade de geração derenda das famílias;

• Redução de crianças e adolescentes emsituação de trabalho infantil;

• Redução do índice de evasão escolar,causado pelo trabalho.

9.1 Aspectos Positivos do PETI

A questão do trabalho infantil faz parte da agenda das políticas públicas das três esferas de governo. A busca de soluções conjuntas através das várias instâncias executivas e deliberativas e o envolvimento dos diversos atores sociais estimula uma compreensão esclarecedora do fenômeno e das causas dessa problemática, possibilitando o estabelecimento de metas e prazos para redução e erradicação do trabalho infantil.

Como pontos principais, os Municípios apontam: resgate da cidadania, valorização da

educação, a qualidade dos serviços prestados, o envolvimento, ainda que parcial, das famílias, e as ações articuladas com as políticas setoriais (saúde, educação, trabalho, esporte, cultura, lazer e assistência social) que tem contribuído para o sucesso do programa.

O novo modelo paradigmático do poder público e da sociedade no olhar e no trato às crianças e adolescentes, a concepção de que para pobre qualquer coisa serve ou programas pobres para pessoas pobres, é um conceito que vai sendo eliminado, empurrado para o passado e garantido no presente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que estabeleceu o Sistema de Garantia de Direitos, responsável pela Doutrina de Proteção Integral, onde todas as crianças e adolescentes independentes de raça, cor, condição social são sujeitos de direitos, com Prioridade Absoluta.

9.2 Aspectos Negativos do PETI

Os Municípios aval iam com pontos negativos:

• Dificuldadesdeampliaçãodemetasparaos Municípios de Paiçandu e Sarandi;

• Excessodeburocracianosistemaoperacionaldo programa e dificuldades no acesso às informações com a gerência nacional do PETI;

• Atrasonopagamentodasbolsasprovocaareincidência de crianças e adolescentes no trabalho;

• Falta de atualização do valor da bolsa eda jornada ampliada, este fator requer cada vez mais investimento financeiro dos Municípios;

• Desinteressedeumaparceladas famíliasem participar ativamente das ações do programa, remando em posição contrária, levando os filhos ao trabalho ao invés de incentivá-los a freqüentar a escola e a jornada ampliada;

• Aconcepçãoaindapresentenasociedadeda educação pelo trabalho, como requisito para o desenvolvimento da criança e do adolescente;

• Avisãodemarginalidadeda sociedadeemuitas vezes da direção e professores das

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escolas, a questão do rótulo “as crianças do PETI são bagunceiras, encrenqueiras, mal educadas, trombadinhas”.

10 Considerações Finais

Para falarmos em erradicação do trabalho infantil, primeiramente temos que erradicar das famílias, da sociedade e dos próprios excluídos, a concepção de que trabalho é solução, é sinal de virtude, e que brincar, divertir e estudar é perda de tempo. Não basta criarmos um programa para tirarmos as crianças e adolescente do trabalho, mais importante é criarmos mecanismos de combater as causas que provocam essa inserção precoce, e isto só conseguiremos quando o Estado, a Sociedade, e a Família, respeitarem o Principio da Prioridade Absoluta, pessoa em condição peculiar de desenvolvimento, com direito a ter direitos.

A questão do cumprimento do direito, passa pela questão da ética, que normatiza a conduta humana, e o direito é uma ética politicamente definida pelo Estado. Para consolidarmos o direito, temos que ter como principio a parcialidade, ter compromisso com a causa, dedicação, paixão, deixarmos de lado o interesse individual, o coletivo deve fazer parte do nosso cotidiano.

A Constituição Federal de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, socializou o poder com a sociedade civil, através da participação nos conselhos deliberativos e outras instâncias de mobilização e articulação, mas infelizmente nenhuma sociedade civil é imediatamente política, por isso temos que ter espaços permanentes de discussão e capacitação dos diversos atores sociais.

Portanto, se avaliarmos o PETI de uma forma isolada, podemos afirmar que o mesmo está conseguindo atingir seu objetivo, qual seja retirar as crianças e adolescentes da situação de trabalho irregular, mas no conjunto da realidade

ele se torna um programa a mais que tenta corrigir as distorções de um país que desde o seu descobrimento inviabilizou nossa infância quer seja no massacre dos índios para posse das terras, quer seja no regime de escravidão que até os dias atuais mantém a população excluída refém da alienação, baixa auto-estima, dependência de favores, exploração etc.

O programa não atingiu o princípio da universalidade, muitas crianças e adolescentes estão na lista de espera aguardando uma vaga, enquanto isso seus direito continuam violados.

Em última análise devemos repensar o sistema educacional, será responsabilidade da Política de Assistência Social o planejamento e execução de programas de apoio em horário contrário a escola, de oferecer reforço para as crianças e adolescentes que tem dificuldades de aprendizagem, de oferecer atividades culturais, de esporte, de lazer, profissionalização e alimentação, porque não pensarmos em escolas em período integral que garantam todas as atividades acima citadas, daí a Política de Assistência Social teria mais pessoal e recursos para investimento na promoção e emancipação das famílias, que atualmente não está atingindo os objetivos conforme normatiza o Programa Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil.

O Estado, e a Sociedade devem estar vigilantes na garantia do Principio da Prioridade Absoluta, não podemos primeiro deixar as situações de violação e violência contra crianças e adolescentes aconteçam para depois criarmos programas que amenizam a situação, mas não trazem de volta a infância perdida, não curam as mutilações causadas por atividades perigosas, não recuperam o atraso escolar. Resta ao poder público e à sociedade civil conjugar todos os esforços no cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, para que possamos ter as futuras gerações de adultos preparados para uma vida digna.

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Gestão de Políticas Públicas no Paraná

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