a contribuição da anatomia foliar para a taxonomia de raddia bertol (poaceae)

19
Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008 A contribuição da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. (Poaceae: Bambusoideae) 1 Reyjane Patrícia de Oliveira 2,5 , Hilda Maria Longhi-Wagner 3 e Kelly Regina Batista Leite 2,4 Recebido em 29/06/2006. Aceito em 4/04/2007 RESUMO – (A contribuição da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. (Poaceae: Bambusoideae). Raddia é um gênero de bambus herbáceos que inclui nove espécies ocorrentes no Brasil, uma delas encontrada também em áreas extra-brasileiras. A anatomia foliar de todas as espécies foi analisada em microscopia óptica e microscopia eletrônica de varredura, visando à obtenção de caracteres úteis para sua taxonomia. Espécies de outros gêneros de bambus herbáceos foram utilizadas para comparação. Não foram encontrados caracteres anatômicos exclusivos de Raddia, e os mesmos foram pouco relevantes para a delimitação das espécies dentro do gênero, separando às vezes, apenas grupos de espécies. Entre estes caracteres, destacaram-se, em corte transversal: forma da nervura central, posição do feixe vascular mediano, número de feixes vasculares adjacentes ao feixe mediano e a forma das células fusóides. A análise da epiderme em vista frontal (MEV) mostrou diferenças entre as espécies quanto à ocorrência, densidade e distribuição de papilas. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner e R. guianensis (Brongn.) Hitchc. & Chase apresentaram maior número de caracteres anatômicos exclusivos, entre as espécies estudadas. Um tipo de tricoma não registrado anteriormente para Bambusoideae foi encontrado em R. stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner. Palavras-chave: anatomia, bambus, Bambusoideae, Olyreae, Raddia, Gramineae ABSTRACT – (Leaf anatomy contribution to the taxonomy of Raddia Bertol. (Poaceae: Bambusoideae)). Raddia is an herbaceous bamboo genus with nine species in Brazil, one of which extends beyond Brazilian borders. The leaf anatomy of these species was analyzed using optical and scanning electron microscopy, in order to obtain useful characters for the taxonomy of the genus. Other herbaceous bamboos were used for comparison and no characters exclusive to Raddia were found. Leaf anatomy traits had little to do with species delimitation within the genus, sometimes separating only groups of species. Of these traits, the most important were as follows, in transverse section: form of the midrib, position of the intermediate vascular bundle, number of vascular bundles adjacent to the intermediate bundle and form of the fusoid cells. A surface view of the epidermis (SEM) showed differences among the species as regards occurrence, density and distribution of the papillae. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner and R. guianensis (Brongn.) Hitchc. & Chase had the largest number of exclusive characters of the species studied. A type of trichome unknown in Bambusoideae was recorded for R. stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner. Key words: anatomy, bamboos, Bambusoideae, Olyreae, Raddia, Gramineae Introdução A taxonomia das gramíneas é baseada principal- mente em caracteres morfológicos das espiguetas e inflorescências. Porém, diferenças na anatomia foliar têm se mostrado úteis na definição de grupos, especialmente subfamílias, onde vários caracteres são constantes e diagnósticos (Prat 1936; Brown 1958; Metcalfe 1960; Ellis 1987). Uma das treze subfamílias de Poaceae inclui os bambus (GPWG 2001; Sanchez- Ken et al. 2007), gramíneas essencialmente florestais muito diversificadas nas áreas tropicais das Américas e Ásia (Judziewicz et al. 1999). A maior parte das espécies de bambus lenhosos é monocárpica plurianual, ou seja, as plantas apresentam crescimento vegetativo durante muitos anos e florescem uma só vez. Isso torna o uso de caracteres reprodutivos um fator limitante para a sua identificação e, por isso, muitos autores têm 1 Parte da tese de Doutorado da primeira Autora 2 Programa de Pós-Graduação em Botânica, Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas, BR 116N km 3, 44031-460 Feira de Santana, BA, Brasil 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Botânica, Av. Bento Gonçalves 9500, prédio 43323, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil 4 Universidade Federal da Bahia, Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável, Rua Prof. José Seabra s.n., 47805-100 Barreiras, BA, Brasil 5 Autor para correspondência: [email protected]

Upload: vinicius-pina

Post on 17-Dec-2015

228 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

A Contribuição Da Anatomia Foliar Para a Taxonomia de Raddia Bertol (Poaceae)

TRANSCRIPT

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008

    A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol.(Poaceae: Bambusoideae)1

    Reyjane Patrcia de Oliveira2,5, Hilda Maria Longhi-Wagner3 e Kelly Regina Batista Leite2,4

    Recebido em 29/06/2006. Aceito em 4/04/2007

    RESUMO (A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. (Poaceae: Bambusoideae). Raddia um gnero debambus herbceos que inclui nove espcies ocorrentes no Brasil, uma delas encontrada tambm em reas extra-brasileiras. A anatomiafoliar de todas as espcies foi analisada em microscopia ptica e microscopia eletrnica de varredura, visando obteno de caracteresteis para sua taxonomia. Espcies de outros gneros de bambus herbceos foram utilizadas para comparao. No foram encontradoscaracteres anatmicos exclusivos de Raddia, e os mesmos foram pouco relevantes para a delimitao das espcies dentro do gnero,separando s vezes, apenas grupos de espcies. Entre estes caracteres, destacaram-se, em corte transversal: forma da nervura central,posio do feixe vascular mediano, nmero de feixes vasculares adjacentes ao feixe mediano e a forma das clulas fusides. A anlise daepiderme em vista frontal (MEV) mostrou diferenas entre as espcies quanto ocorrncia, densidade e distribuio de papilas. Raddiamegaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner e R. guianensis (Brongn.) Hitchc. & Chase apresentaram maior nmero de caracteresanatmicos exclusivos, entre as espcies estudadas. Um tipo de tricoma no registrado anteriormente para Bambusoideae foi encontradoem R. stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner.

    Palavras-chave: anatomia, bambus, Bambusoideae, Olyreae, Raddia, Gramineae

    ABSTRACT (Leaf anatomy contribution to the taxonomy of Raddia Bertol. (Poaceae: Bambusoideae)). Raddia is an herbaceousbamboo genus with nine species in Brazil, one of which extends beyond Brazilian borders. The leaf anatomy of these species wasanalyzed using optical and scanning electron microscopy, in order to obtain useful characters for the taxonomy of the genus. Otherherbaceous bamboos were used for comparison and no characters exclusive to Raddia were found. Leaf anatomy traits had little to dowith species delimitation within the genus, sometimes separating only groups of species. Of these traits, the most important were asfollows, in transverse section: form of the midrib, position of the intermediate vascular bundle, number of vascular bundles adjacent tothe intermediate bundle and form of the fusoid cells. A surface view of the epidermis (SEM) showed differences among the species asregards occurrence, density and distribution of the papillae. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner and R. guianensis(Brongn.) Hitchc. & Chase had the largest number of exclusive characters of the species studied. A type of trichome unknown inBambusoideae was recorded for R. stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner.

    Key words: anatomy, bamboos, Bambusoideae, Olyreae, Raddia, Gramineae

    Introduo

    A taxonomia das gramneas baseada principal-mente em caracteres morfolgicos das espiguetas einflorescncias. Porm, diferenas na anatomia foliartm se mostrado teis na definio de grupos,especialmente subfamlias, onde vrios caracteres soconstantes e diagnsticos (Prat 1936; Brown 1958;Metcalfe 1960; Ellis 1987). Uma das treze subfamlias

    de Poaceae inclui os bambus (GPWG 2001; Sanchez-Ken et al. 2007), gramneas essencialmente florestaismuito diversificadas nas reas tropicais das Amricase sia (Judziewicz et al. 1999). A maior parte dasespcies de bambus lenhosos monocrpica plurianual,ou seja, as plantas apresentam crescimento vegetativodurante muitos anos e florescem uma s vez. Isso tornao uso de caracteres reprodutivos um fator limitante paraa sua identificao e, por isso, muitos autores tm

    1 Parte da tese de Doutorado da primeira Autora2 Programa de Ps-Graduao em Botnica, Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Cincias Biolgicas, BR 116N km 3,

    44031-460 Feira de Santana, BA, Brasil3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Botnica, Av. Bento Gonalves 9500, prdio 43323, 91501-970 Porto Alegre,

    RS, Brasil4 Universidade Federal da Bahia, Instituto de Cincias Ambientais e Desenvolvimento Sustentvel, Rua Prof. Jos Seabra s.n., 47805-100

    Barreiras, BA, Brasil5 Autor para correspondncia: [email protected]

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...2

    analisado a anatomia foliar do grupo na busca dedisponibilizar mais caracteres diagnsticos (Brandis1907; Page 1947; Metcalfe 1956; Tateoka et al. 1959;Renvoize 1985; 1987; Caldern & Soderstrom 1973;Soderstrom & Ellis 1987).

    Como resultado da classificao artificialempregada ao longo dos anos, em que Bambusoideaeera uma subfamlia considerada sensu lato (e.g.Clayton & Renvoize 1986), algumas anlises deanatomia foliar publicadas incluram representantes deAnomochlooideae e Pharoideae, subfamlias aceitasatualmente como as gramneas basais (Judziewiczet al. 1999; GPWG 2001). Alm disso, inclurammembros de Ehrarthoideae, considerada como relacio-nada aos bambus herbceos principalmente pelapresena de caracteres anatmicos compartilhados,dentre eles o mesofilo no radiado, clulas fusides eclulas invaginantes no clornquima de alguns grupos,alm de tricomas bicelulares do tipo panicide (GPWG2001).

    A circunscrio atual de Bambusoideaecompreende apenas duas tribos, Bambuseae eOlyreae, bem sustentadas em estudos filogenticos(Zhang & Clark 2000; GPWG 2001), correspondendoaos grupos informais bambus lenhosos e bambusherbceos, respectivamente. Os caracteres daanatomia foliar definidos para esta subfamlia incluem:mesofilo com clulas fusides bem desenvolvidas,clulas invaginantes (arm cells) geralmente bemdesenvolvidas e com paredes fortemente invaginadas,alm da ausncia de anatomia Kranz. Quanto epiderme foliar, apresenta clulas buliformes adaxiais,tricomas bicelulares microscpicos do tipo panicide epapilas abundantes (GPWG 2001). importantesalientar que estes caracteres anatmicos so utilizadospara delimitar Bambusoideae do restante dasgramneas, mas no tm sido muito teis para definirgrupos como gneros e espcies, principalmentequando utilizados isoladamente, conforme ressaltadopor Soderstrom & Ellis (1987).

    Trabalhos envolvendo especificamente a anatomiafoliar da tribo Olyreae so pouco freqentes, masmostram que este grupo apresenta caracteres queconcordam com o tipo bambuside, envolvendo apresena de clulas fusides e invaginantes noclornquima (Caldern & Soderstrom 1967; 1973;Renvoize 1985). Alm disto, mencionado na literaturaque apresenta clulas silicosas tipicamente crenadasna epiderme, perpendiculares lmina foliar (Ellis 1987;Soderstrom & Ellis 1987). A anatomia foliar derepresentantes de Olyreae foi estudada por Caldern

    & Soderstrom (1973), Paisooksantivatana (1992) eRenvoize (1985), este ltimo com o objetivo de separaros gneros desta tribo com base na estruturaanatmica.

    Raddia Bertol. inclui nove espcies exclusivasde reas florestais e amplamente distribudas noBrasil, uma delas, R. guianensis (Brongn.) Hitchc.,ocorrendo tambm em reas extra-brasileiras(Oliveira et al. 2008). Apresenta muitos problemasde delimitao taxonmica e os caracteresvegetativos tm se revelado de grande importnciana delimitao das espcies. Caracteres anatmicosde Raddia brasiliensis Bertol. foram analisados porBrandis (1907), Renvoize (1985) e Vieira et al.(2002), e os conceitos de anatomia do gnero, atento, se restringiam ao conhecimento desta nicaespcie.

    Informaes sobre a epiderme foliar emmicroscopia eletrnica de varredura (MEV) tambmtm revelado importantes informaes taxonmicas emPoaceae (Palmer & Tucker 1981), inclusive em nveistaxonmicos mais baixos, como infragenrico (Davila& Clark 1990), e at infra-especfico (Hilu 1984).Representantes de bambus foram analisados sob esteponto de vista por Amarasinghe & Watson (1988) eClark et al. (1989), incluindo apenas espcies debambus lenhosos. No foram encontrados estes dadospara Raddia ou outros bambus herbceos na literaturaconsultada.

    O presente trabalho analisa os aspectos daanatomia foliar de todas as espcies de Raddia, como objetivo de obter caracteres de valor taxonmico quepossam auxiliar na delimitao das mesmas, e deanalisar se existe associao entre a anatomia foliar epossveis padres ecolgicos do gnero.

    Material e mtodos

    Foi analisada a anatomia foliar de representantesde todas as nove espcies de Raddia em cortetransversal, sob microscpio ptico, e a epiderme foliar,em microscopia eletrnica de varredura (MEV). Amaior parte dos exemplares-testemunho estdepositada no herbrio da Universidade Estadual deFeira de Santana (HUEFS), porm materiais de outrosherbrios tambm foram utilizados, discriminados naTab. 1 (acrnimos conforme Holmgren & Holmgren1998). Foram tambm analisadas espcies de outrosnove gneros de bambus herbceos em cortetransversal, para fins de comparao, estando osmesmos listados na Tab. 2.

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 3Ta

    bela

    1. E

    xem

    plar

    es d

    e R

    ad

    dia

    Ber

    tol.

    util

    izad

    os n

    a an

    lis

    e da

    ana

    tom

    ia f

    olia

    r em

    cor

    te tr

    ansv

    ersa

    l (*)

    e a

    nli

    se d

    a ep

    ider

    me

    em M

    EV

    (se

    m a

    ster

    isco

    ).

    Esp

    cie

    Tip

    os d

    e ve

    geta

    o

    Loc

    al d

    e co

    leta

    Tes

    tem

    unho

    Her

    bri

    o

    Ra

    dd

    ia a

    ng

    ust

    ifo

    lia S

    oder

    str.

    & Z

    uloa

    gaF

    lore

    sta

    seca

    (m

    ata

    de c

    ip

    )P

    alm

    ira

    B

    AR

    .P. O

    liveir

    a 7

    25

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a se

    ca (

    mat

    a de

    cip

    )

    Pal

    mir

    a

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 1

    07

    7H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a se

    caB

    rejo

    da

    Mad

    re d

    e D

    eus

    P

    EA

    .G. S

    ilva

    29

    2H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a se

    ca (

    mat

    a de

    cip

    )

    Itaj

    u do

    Col

    nia

    B

    AT.R

    . S

    od

    ers

    tro

    m 2

    110

    CE

    PEC

    Flo

    rest

    a m

    esf

    ila

    Uba

    ra

    B

    A

    T.R

    . S

    od

    ers

    tro

    m 2

    17

    3C

    EPE

    CR

    ad

    dia

    bra

    sili

    en

    sis

    Ber

    tol.

    Flo

    rest

    a m

    ida

    Mar

    angu

    ape

    C

    E

    R.P

    . O

    liveir

    a 9

    72

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a se

    caN

    azar

    da

    Mat

    a

    PE

    R.P

    . O

    liveir

    a 9

    73

    HU

    EF

    SF

    lore

    sta

    mes

    fil

    aU

    bar

    a

    BA

    T.R

    . S

    od

    ers

    tro

    m 2

    24

    5C

    EPE

    CF

    lore

    sta

    mes

    fil

    aM

    arac

    s

    BA

    K.R

    .B. l

    eite

    25

    0H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    ida

    Rio

    de

    Jane

    iro

    R

    JR

    ied

    el

    s.n

    . (P

    4050

    01)

    PR

    .ad

    dia

    dis

    tich

    op

    hyll

    a (S

    chra

    d. e

    x N

    ees)

    Hit

    chc.

    & C

    hase

    Flo

    rest

    a m

    ida

    (m

    ata

    higr

    fil

    a)

    Ilh

    us

    BA

    R

    .P. O

    liveir

    a 6

    01

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    ida

    (m

    ata

    higr

    fil

    a)

    Itac

    ar

    B

    A

    T.S

    . S

    an

    tos

    31

    92

    CE

    PEC

    Flo

    rest

    a m

    esf

    ila

    So

    Fel

    ipe

    B

    AR

    .P. O

    liveir

    a 9

    11*

    HU

    EF

    SR

    ad

    dia

    gu

    ian

    en

    sis

    (Bro

    ngn.

    ) H

    itch

    c.F

    lore

    sta

    mes

    fil

    aC

    acho

    eira

    B

    AR

    .P. O

    liveir

    a 9

    93

    HU

    EF

    SS

    em d

    ados

    Gui

    ana

    Lep

    re s

    .n.

    (P40

    5005

    )P

    Flo

    rest

    a m

    ida

    Itai

    tuba

    P

    AJ.A

    . S

    wa

    llen

    69

    47

    INPA

    Sem

    dad

    osG

    uare

    mal

    es,V

    enez

    uela

    H. P

    itti

    er

    91

    02

    CA

    YS

    em d

    ados

    Gui

    ana

    Fra

    nces

    aJ.J

    . G

    ran

    vil

    le 7

    311

    KS

    em d

    ados

    Gui

    ana

    Fra

    nces

    aJ.J

    . G

    ran

    vil

    le 2

    12

    6C

    AY

    Ra

    dd

    iala

    nci

    foli

    a R

    .P. O

    live

    ira

    & L

    ongh

    i-W

    agne

    rF

    lore

    sta

    mid

    a (

    mat

    a de

    tabu

    leir

    o)

    Lin

    hare

    s

    ES

    R.P

    . O

    liveir

    a 9

    80

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    ida

    (m

    ata

    de ta

    bule

    iro

    )L

    inha

    res

    E

    SD

    .A. F

    oll

    i 3

    30

    8C

    VR

    DR

    ad

    dia

    meg

    ap

    hyll

    a R

    .P. O

    live

    ira

    & L

    ongh

    i-W

    agne

    rF

    lore

    sta

    mid

    a (

    mat

    a de

    tabu

    leir

    o)

    Lin

    hare

    s

    ES

    R.P

    . O

    liveir

    a 9

    67

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    ida

    (m

    ata

    de ta

    bule

    iro

    )L

    inha

    res

    E

    SR

    .P. O

    liveir

    a 9

    81

    HU

    EF

    SF

    lore

    sta

    mid

    a (

    mat

    a de

    tabu

    leir

    o)

    Lin

    hare

    s

    ES

    R.P

    . O

    liveir

    a 9

    82

    HU

    EF

    SF

    lore

    sta

    mid

    a (

    mat

    a de

    tabu

    leir

    o)

    Lin

    hare

    s

    ES

    R.P

    . O

    liveir

    a 1

    04

    5H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    ida

    (m

    ata

    de ta

    bule

    iro

    )B

    arra

    de

    So

    Fra

    ncis

    co

    ES

    L. K

    oll

    ma

    nn

    35

    23

    MB

    ML

    Ra

    dd

    ia p

    ort

    oi K

    uhlm

    .F

    lore

    sta

    seca

    (m

    ata

    de c

    ip

    )S

    anta

    In

    s

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 8

    01

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a se

    ca (

    mat

    a de

    cip

    )

    Itae

    t

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 7

    10

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    esf

    ila

    Mar

    acs

    B

    AR

    .P. O

    liveir

    a 1

    04

    2H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a se

    ca (

    mat

    a de

    cip

    )

    Igas

    su

    BA

    C. P

    ort

    o 1

    36

    2R

    BS

    em d

    ados

    San

    har

    P

    EE

    .C T

    en

    ri

    o 6

    6/1

    25

    HU

    EF

    SR

    ad

    dia

    sod

    ers

    tro

    mii

    R.P

    . Oli

    veir

    a, C

    lark

    & J

    udz.

    Flo

    rest

    a m

    ida

    (m

    ata

    higr

    fil

    a)

    Aur

    elin

    o L

    eal

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 9

    78

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    esf

    ila

    Mar

    acs

    B

    AR

    .P. O

    liveir

    a 7

    22

    *H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    esf

    ila

    Mar

    acs

    B

    AR

    .P. O

    liveir

    a 2

    30

    HU

    EF

    SF

    lore

    sta

    seca

    (m

    ata

    de c

    ip

    )P

    alm

    ira

    B

    AR

    .P. O

    liveir

    a 1

    07

    6H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    esf

    ila

    Mor

    ro d

    o C

    hap

    u

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 1

    01

    4H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    esf

    ila

    Jagu

    aqua

    ra

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 1

    03

    0H

    UE

    FS

    Flo

    rest

    a m

    ida

    (m

    ata

    de ta

    bule

    iro

    )L

    inha

    res

    E

    S T.R

    . S

    od

    ers

    tro

    m 1

    89

    7R

    BR

    ad

    dia

    sto

    lon

    ifera

    R.P

    . Oli

    veir

    a &

    Lon

    ghi-

    Wag

    ner

    Tra

    nsi

    o e

    ntre

    flor

    esta

    m

    ida/

    mes

    fil

    aJu

    ssar

    i

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 7

    14

    *H

    UE

    FS

    Tra

    nsi

    o e

    ntre

    flor

    esta

    m

    ida/

    mes

    fil

    aJu

    ssar

    i

    BA

    R.P

    . O

    liveir

    a 1

    07

    8H

    UE

    FS

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...4

    Tabela 2. Exemplares de outros gneros da tribo Olyreae utilizados na anlise da anatomia foliar em corte transversal.

    Espcie Local de coleta Testemunho Herbrio

    Arberella bahiensis Soderstr. & Zuloaga Barro Preto BA J.G. Jardim s.n. HUEFSCryptochloa capillata (Trin.) Soderstr. Potiragu BA B. M. Silva 80 HUEFSEremitis parviflora (Trin.) Caldern & Soderstr. Monte Pascoal BA R.P. Oliveira 575 HUEFSEremitis sp. Jussari BA R.P. Oliveira 715 HUEFSLithachne pauciflora (Sw.) P. Beauv. Maranguape CE R.P. Oliveira 970 HUEFSOlyra bahiensis R.P. Oliveira & Longhi-Wagner Ilhus BA R.P. Oliveira 712 HUEFSO. caudata Trin. Garotire PA A. Gely 433 M GO. ciliatifolia Raddi Palmira BA R.P. Oliveira 723 HUEFSO. fasciculata Trin. Itanhm BA W.W. Thomas 12345 HUEFSO. filiformis Trin. Una BA R.P. Oliveira 729 HUEFSO. glaberrima Raddi Santa Teresa ES R. Verveloet 2206 HUEFSO. humilis Nees Porto Alegre RS H.M. Longhi-Wagner 8001 HUEFSO. latifolia L. Jussari BA R.P. Oliveira 713 HUEFSO. latispicula Soderstr. & Zuloaga Monte Pascoal BA R.P. Oliveira 576 HUEFSO. loretensis Mez Manaus AM S.R. Lowrie 73 INPAPariana lanceolata Trin. Itacar BA R.P. Oliveira 681 HUEFSPariana multiflora R.P. Oliveira. Longhi-Wagner & Hollowell Santa Teresa ES R.P. Oliveira 849 HUEFSParodiolyra luetzelburgii (Pilg.) Soderstr. & Zuloaga Colider PA M.N. Silva 25 INPAP. micrantha (Kunth) Zuloaga & Davidse Lenis BA R.P. Oliveira 139 HUEFSP. ramosissima (Trin.) Soderstr. & Zuloaga Itacar BA R.P. Oliveira 688 HUEFSRaddiella esenbeckii (Steud.) Caldern & Soderstr. Mata de So Joo BA R.P. Oliveira 664 HUEFSSucrea maculata Soderstr. Santa Teresa ES R.P. Oliveira 851 HUEFSS. monophylla Soderstr. Jussari BA R.P. Oliveira 716 HUEFS

    Para a anlise da anatomia em corte transversalfoi utilizada a poro mediana basal da segunda lminafoliar abaixo da inflorescncia. A maior parte domaterial utilizado nesta anlise foi obtida em seuambiente natural, onde as lminas foliares inteirasforam fixadas em FAA 70% e posteriormenteconservadas em lcool 70% (Johansen 1940). Quandonecessrio, tambm foi utilizado material de herbrioreidratado. Para tanto, o material foi fervido em guae glicerina (50%) e levado posteriormente estufa a50 C, permanecendo por aproximadamente um mspara amolecimento dos tecidos. Os materiaisreidratados foram fixados em lcool 70%, e assimmantidos at o momento do corte.

    Foram feitos cortes anatmicos mo livre,corados com azul de astra e safranina (Roeser 1972),e montadas lminas semi-permanentes, com gelatinaglicerinada. Para alguns materiais com folhas maissilicificadas foi utilizado o processo de emblocamentoem historesina, sendo os cortes posteriormente coradoscom hematoxilina e as lminas montadas em entellan(Macdo 1997). As lminas foram observadas emmicroscpio ptico Zeiss e fotomicrografadas emcmera digital Olympus, acoplada ao microscpio. A

    terminologia empregada seguiu principalmenteCaldern & Soderstrom (1973) e Ellis (1976; 1979).

    Para a anlise da superfcie da epiderme emmicroscpio eletrnico de varredura foram utilizadaslminas foliares de materiais de herbrio, sem pr-tratamento. Foram utilizados pedaos de 11 cm, altura da regio mediana das lminas, para observaonas duas faces (abaxial e adaxial). Estes cortes forammontados em pequenos cilindros de ao com fitaadesiva metlica e posteriormente recobertos com ouroem sputter Balzers SCD 050. As amostras assimpreparadas foram analisadas e eltron-fotomicro-grafadas em microscpio eletrnico de varredura LEO1430VP. Para esta anlise foi empregada aterminologia de Palmer & Tucker (1981).

    As espcies estudadas ocorrem principalmente aolongo da Mata Atlntica, a qual apresenta diferentesfisionomias, condicionadas por diferenas hdricas eedficas, incluindo basicamente florestas ombrfilas eestacionais, segundo a classificao de Veloso et al.(1991). Procurou-se relacionar os padres anatmicosobservados aos locais de coleta dos materiais e aostipos florestais referidos por Peixoto & Silva (1997),Prado (2000) e Thomas (2003).

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 5

    Resultados e discusso

    Nas espcies de Raddia (Fig. 1-6), as folhas sopseudopecioladas, assim como na maior parte dosbambus (GPWG 2001). So fortemente assimtricasno pice e na base, caracteristicamente apiculadas, evariam bastante em tamanho e forma, desde linear-lanceoladas (R. angustifolia Soderstr. & Zuloaga eR. guianensis (Brongn.) Hitchc.) at largamente ovais(R. megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner).Raddia soderstromii R.P. Oliveira, Clark & Judz.comumente apresenta folhas com colorao vincea,especialmente na face abaxial, o que tambm foiregistrado raramente para R. brasiliensis. Essacolorao comum a outros representantes de bambusherbceos, dentre eles Diandrolyra bicolor Stapf, eespcies de Eremitis Dll, Pariana Aubl. eCryptochloa Swallen (Soderstrom 1982). Soderstrom(1982) observou, a partir de materiais deR. soderstromii (citada como Raddia sp.), que estacolorao ocorre em virtude da presena deantocianinas confinadas face abaxial da lmina.

    De acordo com a classificao de Ellis (1976), asfolhas de Raddia so expandidas e relativamenteplanas, estando normalmente abertas em condiesfavorveis. Entretanto, sob condies de estresse, amaioria delas costuma se dobrar rapidamente ao longoda nervura central, ou at mesmo se enrolar, porexemplo, quando a planta retirada do solo ou quandoexposta ao calor intenso.

    Os caracteres anatmicos analisados nas folhasdas nove espcies de Raddia, que demonstraramimportncia taxonmica, esto discriminados naTab. 3.

    Epiderme A estrutura da epiderme foliar em vistafrontal (MEV) pode ser observada nas figuras 7-29.As clulas epidrmicas so arranjadas em fileiraslongitudinais e esto distribudas em zonas costais(sobre os feixes vasculares) e intercostais (entre eles),conforme ocorre nas demais gramneas. A epidermeapresenta clulas longas intercaladas por clulascurtas. Todas as espcies de Raddia apresentam umacutcula espessa recobrindo a epiderme, alm de papilasgeralmente densas na face abaxial, dificultando a claravisualizao das paredes anticlinais. Quando visveis,as mesmas revelaram-se sinuosas (Fig. 11), conformeanteriormente referido para Raddia brasiliensis(Vieira et al. 2002).

    As clulas curtas podem ser suberosas ousilicificadas. Estas ltimas so abundantes nas duasfaces da epiderme e incluem os corpos silicosos. O

    formato dos corpos silicosos tipicamente cruciformenas zonas costais e crenado nas zonas intercostais(Fig. 18-19). Na face abaxial, muitas vezes soobscurecidos pela grande densidade de papilas. Clulascurtas com corpos silicosos crenados foramclassificadas por Caldern & Soderstrom (1967; 1973)como clulas silicosas olirides, por serem tpicasdesta tribo, correspondendo ao tipo crenado-verticalde Palmer & Tucker (1981). De acordo com Piperno& Pearsal (1998), em Bambusoideae existe umagrande variao no tipo de corpos silicosos diagnsticosem nvel de tribo, subtribo e gnero, indicando paraOlyreae vrias formas que so verses irregulares decomplexos bilobados e cruciformes. Representantesde Raddia no foram analisados por estes autores,porm os corpos silicosos classificados no tipocrenado-irregular e referidos por estes autores paraMaclurolyra tecta Caldern & Soderstr. so os quemais se assemelham com aqueles que ocorrem emRaddia (Fig. 9). Renvoize (1985) j havia referido estetipo de corpo silicoso para estes dois gneros, e areferida morfologia foi amplamente observada em todasas espcies de Raddia aqui analisadas.

    Papilas grandes e cnicas foram referidas para aepiderme de Raddia por Caldern & Soderstrom(1967). A presena, distribuio e morfologia destaspapilas constituem-se em importantes caracterestaxonmicos neste gnero. As papilas esto localizadassobre as clulas longas, em geral de uma a trs emcada clula, muitas vezes associadas aos estmatos(Fig. 20, 23). Ocorrem na face abaxial de todas asespcies analisadas, porm em R. angustifolia,R. portoi Kuhlm e R. guianensis so encontradastambm na face adaxial (Fig. 7, 13). Podem ocorrerapenas na regio epidrmica acima dos feixesvasculares, ou em toda a superfcie, com variaesentre as espcies (Tab. 3). Papilas deste tipo foramanteriormente referidas para vrios bambus herbceos(Soderstrom & Caldern 1973; Renvoize 1985;Paisooksantivatana 1992), dentre eles Raddiabrasiliensis (Vieira et al. 2002), e tambm para algunsbambus lenhosos (Clark et al. 1989). interessantesalientar que estas papilas epidrmicas esto ausentesnas gramneas basais (GPWG 2001). O padro dedistribuio das papilas referido por Vieira et al. (2002)para a face abaxial de R. brasiliensis, densamenteagrupadas em faixas laterais s zonas costais, foiconfirmado para esta espcie e tambm observado emR. soderstromi, R. megaphylla, R. lancifolia R.P.Oliveira & Longhi-Wagner. Em R. guianensis aspapilas esto densamente agrupadas entre si e so,

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...6

    65

    4

    1 2

    3

    Figuras 1-6. 1. Aspecto geral de Raddia angustifolia Soderstr. & Zuloaga crescendo em mata de cip (Palmira, Bahia). 2. Raddiaguianensis (Brongn.) Hitchc. em mata mesfila (Cachoeira, Bahia). 3. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner em mata detabuleiro (Itamaraju, Bahia). 4. Raddia portoi Kuhlm. crescendo em mata mesfila (Cachoeira, Bahia). 5. Raddia soderstromii R.P.Oliveira, Clark & Judz. em mata mesfila (Corao de Maria, Bahia). 6. Raddia stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner em matamesfila (Jussari, Bahia). Barras = 5 cm.

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 7Ta

    bela

    3. C

    arac

    tere

    s an

    atm

    icos

    ana

    lisa

    dos

    em R

    ad

    dia

    Ber

    tol.

    Os

    cara

    cter

    es s

    em a

    ster

    isco

    for

    am v

    isua

    liza

    dos

    apen

    as e

    m c

    orte

    tra

    nsve

    rsal

    . Um

    ast

    eris

    co (

    *) r

    epre

    sent

    a os

    car

    acte

    res

    visu

    aliz

    ados

    ape

    nas

    em M

    EV

    . Doi

    s as

    teri

    scos

    (**

    ), q

    uand

    o vi

    sual

    izad

    os e

    m M

    EV

    e c

    orte

    tran

    sver

    sal.

    Car

    acte

    r/E

    spc

    ieR

    . an

    gu

    stif

    oli

    aR

    . bra

    sili

    en

    sis

    R. d

    isti

    ch

    op

    hyll

    aR

    . gu

    ian

    en

    sis

    R. m

    eg

    ap

    hyll

    aR

    . lanci

    foli

    aR

    . p

    ort

    oi

    R. so

    ders

    tro

    mii

    R. s

    tolo

    nif

    era

    1.P

    apil

    as n

    a fa

    ce a

    daxi

    alco

    nsp

    cuas

    ause

    ntes

    inco

    nsp

    cuas

    cons

    pcu

    as (

    Lep

    re)

    ause

    ntes

    ause

    ntes

    cons

    pcu

    asau

    sent

    esin

    cons

    pcu

    asda

    epi

    derm

    e**

    ou in

    cons

    pcu

    as(d

    emai

    s)

    2.P

    apil

    as n

    a fa

    ce a

    baxi

    alpr

    esen

    tes

    pres

    ente

    spr

    esen

    tes

    pres

    ente

    spr

    esen

    tes

    (BA

    ) ou

    pres

    ente

    spr

    esen

    tes

    pres

    ente

    spr

    esen

    tes

    da e

    pide

    rme*

    *au

    sent

    es (E

    S)

    3.D

    istr

    ibui

    ao

    das

    papi

    las

    em to

    da a

    em

    sul

    cos

    noem

    toda

    a

    em

    toda

    a

    em s

    ulco

    s no

    na fa

    ce a

    daxi

    al*

    supe

    rfc

    iece

    ntro

    das

    supe

    rfc

    ie (

    Lep

    re),

    supe

    rfc

    iece

    ntro

    das

    zona

    sou

    em

    sul

    cos

    nozo

    nas

    inte

    rcos

    tais

    inte

    rcos

    tais

    cent

    ro d

    as z

    onas

    inte

    rcos

    tais

    (dem

    ais)

    4.D

    istr

    ibui

    ao

    das

    papi

    las

    dens

    as e

    mde

    nsas

    em

    dens

    as e

    mde

    nsas

    em

    dens

    as e

    mde

    nsas

    sob

    re a

    sde

    nsas

    em

    dens

    as s

    obre

    as

    dens

    as e

    mna

    face

    aba

    xial

    *to

    da a

    faix

    as la

    teri

    ais

    toda

    ato

    da a

    faix

    as la

    tera

    iszo

    nas

    cost

    ais,

    toda

    azo

    nas

    cost

    ais,

    em

    toda

    asu

    perf

    cie

    adja

    cent

    es

    ssu

    perf

    cie

    supe

    rfc

    iead

    jace

    ntes

    s

    em fe

    ixes

    late

    rais

    supe

    rfc

    iefe

    ixes

    late

    rais

    supe

    rfc

    iezo

    nas

    cost

    ais

    zona

    s co

    stai

    s (B

    A)

    adja

    cent

    es

    sad

    jace

    ntes

    s

    ou a

    usen

    tes

    (ES

    )s

    zon

    aszo

    nas

    inte

    rcos

    tais

    ,in

    terc

    osta

    is, e

    e es

    pars

    as n

    oes

    pars

    as n

    o ce

    ntro

    cent

    ro d

    as re

    gie

    sda

    s re

    gie

    s in

    terc

    osta

    isin

    terc

    osta

    is

    5.T

    ipo

    de p

    apil

    a**

    sim

    ples

    sim

    ples

    sim

    ples

    loba

    das

    sim

    ples

    sim

    ples

    sim

    ples

    sim

    ples

    sim

    ples

    6.N

    umer

    o de

    pap

    ilas

    por

    1-2

    (3)

    (1-)

    2-3

    ou

    mai

    s(1

    -) 2

    -3 o

    u m

    ais

    (1-)

    2-3

    ou

    mai

    s1-

    2 (-

    3)1-

    2 (-

    3)1-

    2 (-

    3)(1

    -) 2

    -3 o

    u m

    ais

    (1-)

    2-3

    ou

    mai

    sce

    lula

    epi

    drm

    ica

    7.T

    rico

    mas

    uni

    celu

    lare

    sau

    sent

    eses

    pars

    osau

    sent

    esau

    sent

    esau

    sent

    esm

    uito

    den

    sos

    ause

    ntes

    mui

    to d

    enso

    sra

    ros

    oum

    icro

    scp

    icos

    cur

    tos

    eem

    toda

    aem

    toda

    aau

    sent

    essi

    lici

    fica

    dos

    (pri

    ckle

    s)su

    perf

    cie

    supe

    rfc

    iena

    face

    ada

    xial

    *

    8.T

    rico

    mas

    uni

    celu

    lare

    sau

    sent

    eses

    pars

    osau

    sent

    esau

    sent

    esde

    nsos

    em

    toda

    dens

    os n

    a re

    gio

    ause

    ntes

    dens

    os n

    a re

    gio

    espa

    rsos

    na

    mic

    rosc

    pic

    os c

    urto

    s e

    a su

    perf

    cie

    ,in

    terc

    osta

    lin

    terc

    osta

    lre

    gio

    sili

    cifi

    cado

    s (p

    rick

    les)

    na

    ou s

    na

    regi

    oin

    terc

    osta

    lfa

    ce a

    baxi

    al*

    cost

    al

    9.T

    rico

    mas

    uni

    celu

    lare

    sau

    sent

    esau

    sent

    esau

    sent

    esau

    sent

    esau

    sent

    esau

    sent

    esau

    sent

    es o

    uau

    sent

    es, o

    uau

    sent

    esm

    acro

    scp

    icos

    na

    espa

    rsos

    pres

    ente

    s ao

    epid

    erm

    e ad

    axia

    l*lo

    ngo

    da n

    ervu

    race

    ntra

    l

    10.

    Tri

    com

    as u

    nice

    lula

    res

    espa

    rsos

    ause

    ntes

    ause

    ntes

    ause

    ntes

    ou

    pres

    ente

    s ao

    ause

    ntes

    espa

    rsos

    ou

    ause

    ntes

    ause

    ntes

    mac

    rosc

    pic

    os n

    apr

    esen

    tes

    long

    o da

    ner

    vura

    ause

    ntes

    epid

    erm

    e ab

    axia

    l*ce

    ntra

    l, ou

    aus

    ente

    s

    co

    nti

    nu

    a

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...8

    Tab

    ela

    3 (c

    onti

    nua

    o)

    Car

    acte

    r/E

    spc

    ieR

    . an

    gu

    stif

    oli

    aR

    . bra

    sili

    en

    sis

    R. d

    isti

    ch

    op

    hyll

    aR

    . gu

    ian

    en

    sis

    R. m

    eg

    ap

    hyll

    aR

    . lanci

    foli

    aR

    . p

    ort

    oi

    R. so

    ders

    tro

    mii

    R. s

    tolo

    nif

    era

    11.

    Tri

    com

    as b

    icel

    ular

    esra

    ros

    espa

    rsos

    ause

    ntes

    espa

    rsos

    ause

    ntes

    ause

    ntes

    raro

    ses

    pars

    oses

    pars

    osm

    icro

    scp

    icos

    na

    face

    ada

    xial

    *

    12.

    Tri

    com

    as b

    icel

    ular

    esde

    nsos

    espa

    rsos

    dens

    oses

    pars

    oses

    pars

    osde

    nsos

    raro

    sde

    nsos

    espa

    rsos

    mic

    rosc

    pic

    os n

    afa

    ce a

    baxi

    al*

    13.

    Cl

    ula

    apic

    al d

    osal

    onga

    daal

    onga

    daal

    onga

    daal

    onga

    daal

    onga

    daal

    onga

    daal

    onga

    daal

    onga

    daca

    pita

    datr

    icom

    as b

    icel

    ular

    es*

    14.

    For

    ma

    da n

    ervu

    raco

    nvex

    a na

    sco

    nvex

    a na

    sco

    nvex

    a na

    spl

    ana

    na a

    baxi

    alco

    nvex

    a na

    sco

    nvex

    a na

    sco

    nvex

    a na

    sco

    nvex

    a na

    sco

    nvex

    a na

    sce

    ntra

    ldu

    as fa

    ces

    duas

    face

    sdu

    as fa

    ces

    e co

    nvex

    a na

    duas

    face

    sdu

    as fa

    ces

    duas

    face

    sdu

    as fa

    ces

    duas

    face

    sad

    axia

    l

    15.

    Pos

    io

    do

    feix

    ede

    svia

    do p

    ara

    cent

    ral o

    uce

    ntra

    l ou

    desv

    iado

    par

    ace

    ntra

    l ou

    cent

    ral o

    uce

    ntra

    l ou

    cent

    ral o

    uce

    ntra

    l ou

    vasc

    ular

    med

    iano

    a fa

    ce a

    baxi

    alsu

    bcen

    tral

    subc

    entr

    ala

    face

    aba

    xial

    subc

    entr

    alsu

    bcen

    tral

    subc

    entr

    alsu

    bcen

    tral

    subc

    entr

    al

    16.

    Fei

    xes

    vasc

    ular

    esau

    sent

    esdo

    isdo

    isau

    sent

    estr

    sdo

    is e

    tr

    sdo

    isdo

    is e

    tr

    sdo

    is e

    tr

    sad

    jace

    ntes

    ao

    med

    iano

    17.

    Pos

    io

    dos

    feix

    es

    acim

    a e

    afas

    tado

    abai

    xo e

    ac

    ima

    equ

    ase

    noqu

    ase

    noac

    ima

    eac

    ima

    ead

    jace

    ntes

    do fe

    ixe

    cent

    ral

    asso

    ciad

    o ao

    late

    ralm

    ente

    ao

    nve

    l do

    nve

    l do

    afas

    tado

    do

    afas

    tado

    do

    feix

    e ce

    ntra

    lfe

    ixe

    cent

    ral

    feix

    e ce

    ntra

    lfe

    ixe

    cent

    ral

    feix

    e ce

    ntra

    lfe

    ixe

    cent

    ral

    18.

    Bai

    nha

    pare

    nqui

    mt

    ica

    circ

    unda

    ndo

    inte

    rrom

    pida

    inte

    rrom

    pida

    inte

    rrom

    pida

    circ

    unda

    ndo

    inte

    rrom

    pida

    inte

    rrom

    pida

    circ

    unda

    ndo

    circ

    unda

    ndo

    do fe

    ixe

    vasc

    ular

    todo

    o fe

    ixe

    pelo

    pelo

    pelo

    todo

    o fe

    ixe

    pelo

    pelo

    todo

    o fe

    ixe

    todo

    o fe

    ixe

    med

    iano

    escl

    ern

    quim

    aes

    cler

    nqu

    ima

    escl

    ern

    quim

    aes

    cler

    nqu

    ima

    escl

    ern

    quim

    aab

    axia

    lab

    axia

    lab

    axia

    lab

    axia

    lab

    axia

    l

    19.

    Par

    enqu

    ima

    inco

    lor

    at

    5 ca

    mad

    asat

    5

    cam

    adas

    at

    5 ca

    mad

    as6

    ou m

    ais

    6 ou

    mai

    s6

    ou m

    ais

    at

    5 ca

    mad

    as6

    ou m

    ais

    at

    5 ca

    mad

    asas

    soci

    ado

    ao fe

    ixe

    de c

    lul

    asde

    cl

    ulas

    de c

    lul

    asca

    mad

    asca

    mad

    asca

    mad

    asde

    cl

    ulas

    cam

    adas

    de c

    lul

    asm

    edia

    node

    cl

    ulas

    de c

    lul

    asde

    cl

    ulas

    de c

    lul

    as

    20.

    Pos

    ico

    das

    cl

    ulas

    cent

    ral o

    ude

    sloc

    ado

    para

    cent

    ral o

    ude

    sloc

    ado

    para

    cent

    ral o

    ude

    sloc

    ado

    para

    cent

    ral o

    ude

    sloc

    ado

    para

    desl

    ocad

    o pa

    rafu

    sid

    essu

    bcen

    tral

    a fa

    xe a

    baxi

    alsu

    bcen

    tral

    a fa

    xe a

    baxi

    alsu

    bcen

    tral

    a fa

    xe a

    baxi

    alsu

    bcen

    tral

    a fa

    xe a

    baxi

    ala

    faxe

    aba

    xial

    21.

    For

    ma

    das

    clu

    las

    long

    as e

    long

    as e

    long

    as e

    curt

    as e

    long

    as e

    long

    as e

    curt

    as e

    long

    as e

    est

    reit

    aslo

    ngas

    efu

    sid

    eses

    trei

    tas

    estr

    eita

    ses

    trei

    tas

    estr

    eita

    ses

    trei

    tas

    estr

    eita

    ses

    trei

    tas

    ou c

    urta

    s e

    estr

    eita

    ses

    trei

    tas

    22.

    Cl

    ulas

    inva

    gina

    ntes

    na fa

    ce a

    daxi

    alna

    face

    ada

    xial

    subi

    guai

    s na

    sna

    face

    ada

    xial

    na fa

    ce a

    daxi

    alna

    face

    ada

    xial

    na fa

    ce a

    daxi

    alna

    face

    ada

    xial

    subi

    guai

    s na

    sco

    m in

    vagi

    na

    esdu

    as fa

    ces

    duas

    face

    sm

    ais

    evid

    ente

    s

    23.

    Inva

    gina

    es

    das

    pouc

    opo

    uco

    pouc

    opo

    uco

    pouc

    opo

    uco

    mui

    topo

    uco

    ou m

    uito

    pouc

    oc

    lula

    s in

    vagi

    nant

    espr

    ofun

    das

    prof

    unda

    spr

    ofun

    das

    prof

    unda

    spr

    ofun

    das

    prof

    unda

    spr

    ofun

    das

    prof

    unda

    spr

    ofun

    das

    do c

    lor

    nqui

    ma

    adax

    ial

    24.

    Cl

    ulas

    epi

    drm

    icas

    de a

    ltur

    asas

    da

    face

    as d

    a fa

    ceas

    da

    face

    as d

    a fa

    cede

    alt

    uras

    de a

    ltur

    asas

    da

    face

    de a

    ltur

    asda

    s du

    as f

    aces

    igua

    is o

    uad

    axia

    lad

    axia

    lad

    axia

    lad

    axia

    l ig

    uais

    ou

    igua

    is o

    uad

    axia

    lig

    uais

    ou

    subi

    guai

    slig

    eira

    men

    tem

    ais

    alta

    sm

    ais

    alta

    sm

    ais

    alta

    ssu

    bigu

    ais

    subi

    guai

    sm

    ais

    alta

    ssu

    bigu

    ais

    mai

    s al

    tas

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 9

    Figuras 7-17. Face adaxial da epiderme foliar de espcies de Raddia Bertol. 7. Raddia angustifolia Soderstr. & Zuloaga: papilas densasrecobrindo toda a epiderme. 8. Raddia brasiliensis Bertol.: tricomas unicelulares curtos e tricomas bicelulares tipo panicide; corpossilicosos cruciformes sobre os feixes e crenados entre eles. 9-10. Raddia distichophylla (Schrad. ex Nees) Chase: 9. Corpo silicosocrenado. 10. Epiderme lisa sem papilas. 11. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: paredes anticlinais sinuosas. 12. Raddialancifolia R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: cutcula espessa recobrindo a epiderme. 13-14. Raddia portoi Kuhlm.: 13. Papilas e tricomaunicelular longo. 14. Estmatos e tricoma unicelular longo. 15-16. Raddia soderstromii R.P. Oliveira, Clark & Judz.: 15. Epidermerecoberta por tricomas unicelulares curtos. 16. Tricomas bicelulares tipo panicide e tricomas unicelulares curtos. 17. Raddia stoloniferaR.P. Oliveira & Longhi-Wagner: tricoma bicelular com clula apical capitada; corpo silicoso crenado.

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...10

    Figuras 18-29. Face abaxial da epiderme foliar de espcies de Raddia. 18. Raddia angustifolia Soderstr. & Zuloaga: corpos silicososcruciformes sobre os feixes e crenados entre eles. 19-20. Raddia brasiliensis Bertol.: 19. Papilas densas distribudas lateralmente s zonascostais. 20. Estmato circundado por papilas; tricoma unicelular curto. 21. Raddia distichophylla (Schrad. ex Nees) Chase: epidermetotalmente recoberta por papilas. 22-23. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: 22. Tricoma unicelular longo e flexvel.23. Estmato circundado por papilas. 24-26. Raddia guianensis (Brongn.) Hitchc.: 24. Epiderme recoberta por papilas e numerosostricomas unicelulares longos e rgidos. 25. Detalhe dos tricomas longos e dos tricomas bicelulares tipo panicide. 26. Papilas lobadasrodeando o estmato. 27. Raddia lancifolia R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: tricomas unicelulares curtos rodeados por papilas. 28. Raddiasoderstromii R.P. Oliveira, Clark & Judz.: vista geral da epiderme. 29. Raddia stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: papilas etricomas (unicelular e bicelular).

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 11

    em sua maioria, levemente lobadas (Fig. 25-26). Asdemais espcies de Raddia apresentam papilassimples.

    Os estmatos esto distribudos nas zonasintercostais, em fileiras laterais s zonas costais. Todasas espcies de Raddia revelaram-se hipoestomticas,com exceo de R. portoi, que apresenta estmatostambm na face adaxial (Fig. 13-14), os quais somenos numerosos. Vieira et al. (2002) indicaram apresena de estmatos nas duas faces da lmina foliarde R. brasiliensis, o que no foi encontrado nosmateriais aqui analisados. Os estmatos podem estarrodeados por papilas densamente agrupadas em tornodos mesmos, como em R. distichophylla (Schrad. exNees) Chase (Fig. 20), ou no (em R. angustifolia),ou podem ainda apresentar as duas condies(R. portoi). A presena de papilas muito densasadjacentes aos estmatos por vezes dificulta a claradefinio do tipo estomtico, mas em todas as espciesesto presentes estmatos paracticos. Os estmatosesto localizados em pequenas depresses em relaos demais clulas epidrmicas (R. distichophylla eR. stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner), ouno mesmo nvel destas (Fig. 35) (R. brasiliensis,R. guianensis, R. portoi, R. soderstromii,R. lancifolia, R. megaphylla).

    Tricomas microscpicos unicelulares, curtos esilicificados (prickle-hairs) esto presentes ao longodas margens das lminas foliares de todas as espciesestudadas, e tambm foram referidos para espciesde Lithachne P. Beauv (Paisooksantivatana 1992).Com exceo de Raddia angustifolia, R. portoi,R. distichophylla e R. guianensis, estes tricomastambm podem ocorrer ao longo da nervura central ezonas costais e/ou intercostais das duas faces daepiderme, sendo mais numerosos na face abaxial. EmR. soderstromii e R. lancifolia (Fig. 27-28) essestricomas so muito abundantes e praticamentesubstituem as papilas. Em R. megaphylla, tanto podemser abundantes (Oliveira 967) (Fig. 22), quanto estarpraticamente ausentes (Oliveira 1045), em materiaisoriundos de populaes diferentes. Tricomasunicelulares macroscpicos podem tambm estarpresentes em algumas espcies, principalmente na faceabaxial, sendo longos e hspidos em R. guianensis(Fig. 25), o que torna a lmina foliar distintivamentespera ao tato. Nas demais espcies, os mesmos somais curtos e flexveis, ou esto ausentes. EmR. angustifolia e R. portoi ocorrem tanto na faceabaxial quando na adaxial.

    Tricomas bicelulares microscpicos (microhairs)esto presentes nas duas faces da epiderme, sendomais densos na face abaxial (Fig. 25, 28-29) do que naadaxial (Fig. 16). Correspondem ao tipo panicidede Prat (1936), e so amplamente registrados entre osbambus (Caldern & Soderstrom 1973). Este tipo detricoma apresenta a clula basal menor que a apical,ambas estreitas e alongadas, sendo a apical aguda.Em Raddia stolonifera, entretanto, foram observadostricomas com a clula basal muito mais longa que aapical, e esta arredondada (Fig. 17), correspondendoao tipo Enneapogon citado por Amarasinghe &Watson (1998) e referido para Pappophorum elegansNees ex Steud. (Chloridoideae) por Tateoka et al.(1959). O registro deste tipo de tricoma representauma novidade tanto para Raddia, quanto para asubfamlia Bambusoideae.

    Em corte transversal da lmina foliar (Fig. 30-48),a epiderme apresenta-se uniestratificada e com asclulas da face adaxial ligeiramente mais altas do queas da face abaxial (Fig. 34), ou de altura relativamentesemelhante nas duas faces (Fig. 36). Vieira et al. (2002)no encontraram diferenas nestes caracteres entre asespcies de Olyreae estudadas (Raddia brasiliensis eCryptochloa capillata (Trin.) Soderstr.). A anliseanatmica de outros gneros dessa tribo, no presentetrabalho, demonstrou variao neste carter tambmem representantes de Pariana Tutin e ParodiolyraSoderstr. & Zuloaga, nos quais as clulas da faceadaxial so geralmente mais altas do que as da abaxial.Na face adaxial da epiderme ocorrem grupos de clulasbuliformes distribudos ao longo de toda a extenso dalmina foliar, entre os feixes vasculares (Fig. 30-33).Estas clulas esto ausentes na face abaxial e na regioda nervura central, e so caractersticas para vriosoutros grupos de gramneas (Ellis 1976). Todas asespcies de Raddia apresentaram diferenciaoconsidervel entre as clulas buliformes e as demaisclulas epidrmicas (Fig. 30-34, 36-39). O formatodestas clulas pode variar, ocorrendo desde clulascompletamente ovais at tendendo formaarredondada. O bordo foliar pode apresentar fibrasesclerenquimticas (Fig. 40-41), ou no (Fig. 42).

    Mesofilo Em todas as espcies de Raddia, comonas demais gramneas, o mesofilo no diferenciadoem parnquima palidico e lacunoso. O clornquimanas espcies estudadas tipicamente bambuside(Caldern & Soderstrom 1973; Renvoize 1985), comclulas invaginantes (Fig. 34) e clulas fusidesassociadas aos feixes vasculares de primeira e segunda

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...12

    30

    32

    31

    33

    Figuras 30-33. Lmina foliar em corte transversal. 30. Raddia stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner (vista geral). 31-32. Raddiaguianensis (Brongn.) Hitchc.: 31. Feixe mediano fortemente deslocado para a face abaxial. 32. Feixes de primeira e segunda ordensalternados por conjuntos de clulas buliformes na epiderme. 33. Raddia lancifolia R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: epiderme formandosulcos na regio das clulas buliformes. Barras = 50 m.

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 13

    Figuras 34-42. Lmina foliar em corte transversal. 34. Raddia soderstromii R.P. Oliveira, Clark & Judz.: clulas buliformes bemdesenvolvidas; clulas invaginantes e fusides. 35. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: estmatos na face abaxial daepiderme. 36. Raddia portoi Kuhlm.: papilas nas duas faces epidrmicas. 37. Raddia guianensis (Brongn.) Hitchc.: clulas fusides curtasassociadas aos feixes secundrios. 38. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: clulas fusides longas e estreitas; clulasbraciformes. 39. Raddia lancifolia R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: clulas fusides retangulares. 40. Raddia angustifolia Soderstr. &Zuloaga: Bordo da lmina foliar. 41. Raddia brasiliensis Bertol.: Bordo da lmina foliar. 42. Raddia guianensis (Brongn.) Hitchc.: Bordoda lmina foliar. Barras = 50 m.

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...14

    46

    4443

    45

    47 48

    Figuras 43-48. Regio da nervura central da lmina foliar em corte transversal. 43. Raddia guianensis (Brongn.) Hitchc.: nervura centralproeminente na face adaxial, sem feixes vasculares adjacentes. 44. Raddia brasiliensis Bertol.: nervura central convexa nas duas faces, comdois feixes adjacentes. 45. Raddia lancifolia R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: esclernquima abaxial interrompendo a bainha do feixemediano, com dois feixes adjacentes. 46. Raddia megaphylla R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: feixe mediano com trs feixes adjacentes,dois acima e um abaixo. 47. Raddia portoi Kuhlm.: parnquima incolor associado ao feixe mediano com menos de cinco camadas de clulas.48. Raddia stolonifera R.P. Oliveira & Longhi-Wagner: feixe mediano com trs feixes adjacentes laterais. Barras = 50 m.

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 15

    ordens (Fig. 32-39). As clulas invaginantes estoposicionadas acima e abaixo das clulas fusides,apresentando-se em uma ou duas camadas na faceadaxial, e apenas uma na abaxial. A maioria dasespcies apresenta clulas invaginantes cominvaginaes mais profundas na face adaxial,excetuando-se R. distichophylla e R. stolonifera,com clulas subiguais nas duas pores do mesofilo.De modo geral, as invaginaes nessas clulas sopouco profundas. Entretanto, R. portoi apresentaclulas com invaginaes muito profundas e emR. soderstromii podem ocorrer os dois tipos.

    O comprimento e a forma das clulas fusidespodem variar entre as espcies de Raddia. Apenasem R. guianensis estas clulas so muito mais curtasdo que nas demais espcies (Fig. 37). Raddiamegaphylla apresenta clulas fusides longas eestreitas (Fig. 38), enquanto em R. lancifolia estasso longas e largas (Fig. 39). Estes caracteres tambmforam considerados de valor taxonmico para espciesde outros gneros de Olyreae, entre eles PiresiaSwallen e Olyra L. (Caldern & Soderstrom 1967).Renvoize (1985) referiu ausncia de clulas fusidespara Raddiella esenbeckii (Steud.) Caldern &Soderstr., mas no material aqui analisado, clulasfusides bem desenvolvidas foram registradas paraesta espcie.

    Apesar do padro anatmico apresentado pelomesofilo das espcies de Raddia ser consideradocaracterstico dos bambus, alguns dos tipos de clulasmencionados acima podem aparecer em outrasgramneas C3, representantes das subfamliasAnomochlooideae, Pharoideae, Puellioideae,Ehrarthoideae e Arundinoideae (GPWG 2001). Clulasfusides podem ainda, muito ocasionalmente, ocorrerem representantes da subfamlia Panicoideae, comoem espcies de Homolepis Chase (Watson et al. 1985apud Ellis 1987) e em Streptostachys asperifoliaDesv. (Morrone & Zuloaga 1991), esta ltima tambmapresentando clulas invaginantes.

    Sistema vascular Os feixes vasculares nas espciesde Raddia so semelhantes aos encontrados nasdemais Olyreae. Estes feixes constituem as zonascostais das lminas foliares e so separados pelas zonasintercostais, onde se encontram as clulas fusides eas clulas buliformes. Os feixes so circundados porduas bainhas: uma interna, com clulas de paredesesclerificadas, a bainha mestomtica, e a outra maisexterna, parenquimtica. Feixes de primeira e segundaordens em geral ocorrem em um mesmo nvel, com

    pouca variao na posio em relao s faces adaxiale abaxial da epiderme (Fig. 30). Apenas um feixevascular de segunda ordem est presente entre os deprimeira ordem (Fig. 31). Cordes de esclernquimasubepidrmicos ocorrem na face adaxial em direoaos feixes de primeira e segunda ordens, interrompendoas duas bainhas perivasculares. Na face abaxial, asfibras esclerenquimticas interrompem as bainhasapenas nos feixes de primeira ordem, em todas asespcies. Isso difere do padro verificado nas espciesde Sucrea Soderstr. (Olyreae), nas quais as bainhasdos feixes no so interrompidas pelo esclernquima.

    Regio da nervura central As espcies de Raddiaapresentam lminas foliares com nervura central bemdefinida, em geral proeminente e convexa nas duasfaces (Fig. 43-48). Essa morfologia tambm foiverificada em materiais analisados de Cryptochloacapillata, Parodiolyra ramosissima (Trin.) Soderstr.& Zuloaga, Olyra latifolia L., O. fasciculata Trin. eLithachne pauciflora (L.) P. Beauv. (Olyreae).Porm, em Raddia guianensis a nervura central mais proeminente na face adaxial (Fig. 43), conformeobservado tambm nos materiais analisados de Sucrea,alm de Parodiolyra micrantha (Kunth) Zuloaga &Davidse e vrias espcies de Olyra (O. bahiensis R.P.Oliveira & Longhi-Wagner, O. ciliatifolia Raddi,O. glaberrima Raddi, O. latispicula Soderstr. &Zuloaga e O. loretensis Mez).

    O feixe mediano da nervura central pode estardeslocado para a face abaxial da epiderme, em maior(Raddia guianensis) ou menor grau (demaisespcies). Nessa regio ocorrem em geral dois a trsfeixes vasculares de menor calibre, adjacentes ao feixemediano e posicionados lateralmente a este, ou aindadois laterais e um a dois abaixo do mesmo, em direo face abaxial, como em R. megaphylla (Fig. 46).Apenas R. angustifolia e R. guianensis (Fig. 43) noapresentam esses feixes menores adjacentes.

    A presena de dois feixes adjacentes ao medianofoi referida para Raddia brasiliensis (sob Olyrafloribunda Raddi) por Brandis (1907), Vieira et al.(2002), alm de Renvoize (1985), que indicou essacondio como padro anatmico do gnero. Entretanto,no presente trabalho, foi encontrada uma considervelvariao em relao a este padro (Tab. 3).

    Variao no nmero de feixes adjacentes ao feixemediano entre espcies de um mesmo gnero debambus herbceos foi previamente citada paraLithachne (Paisooksantivatana 1992). Dentre osmateriais aqui analisados, foi encontrada variao

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...16

    tambm entre as espcies de Sucrea, Olyra, Pariana,Eremitis Dll e Parodiolyra, ocorrendo de um a doisfeixes adjacentes, ou ausentes.

    Raddia angustifolia, R. brasiliensis (Fig. 44),R. distichophylla, R. portoi (Fig. 47) e R. stolonifera(Fig. 48) apresentam at cinco camadas de clulasparenquimticas incolores adaxiais, acima do feixevascular mediano, enquanto as demais espciespossuem seis ou mais. A quantidade de parnquimaincolor que ocorre nesta regio e a posio deste tecidodefinem a forma da nervura central, alm de torn-lamais proeminente para uma das faces, o que visualizado externamente como uma salincia.

    Feixes de fibras esclerenquimticas esto sempreassociados regio da nervura central, localizadostanto junto face adaxial quanto face abaxial daepiderme. Na maioria das espcies de Raddia, essasfibras esto isoladas do feixe vascular mediano porcamadas de clulas parenquimticas, como observadoem R. angustifolia, R. brasiliensis, R. megaphylla(Fig. 46), R. soderstromii e R. stolonifera. Nas demaisespcies de Raddia (Fig. 45, 47), assim como nosoutros gneros analisados da tribo Olyreae, estas fibrasse ligam ao feixe vascular mediano atravs de extensodo esclernquima abaxial.

    Importncia dos caracteres da anatomia foliar nataxonomia de Raddia Os caracteres observados nasespcies estudadas concordam com a caracterizaoanatmica tpica da subfamlia Bambusoideae.Considerando o gnero Raddia, os dados aquiapresentados ampliam a variao anteriormente citadana literatura, o que era esperado, tendo em vista queapenas materiais de R. brasiliensis haviam sidoestudados. A pouca variao registrada na anatomiafoliar de bambus, ressaltada por autores anteriores,torna seu uso pouco consistente para fins taxonmicos,quando utilizados isoladamente. Porm, padresanatmicos caractersticos para algumas espciesforam visualizados em Raddia, em maior ou menorgrau. Dentre as espcies analisadas, Raddiamegaphylla e R. guianensis apresentaram maiornmero de caracteres anatmicos diagnsticos. Poroutro lado, estas espcies demonstraram estruturaanatmica mais varivel, em materiais oriundos dediferentes populaes.

    Raddia brasiliensis, R. megaphylla, R. lancifolia,R. soderstromii e R. stolonifera formam um complexoespecfico (complexo Raddia brasiliensis), o qual foirecentemente estudado do ponto de vista morfomtricoe gentico por Oliveira et al. (2008). Os caracteresanatmicos foram considerados inconsistentes para

    apoiar a separao destas espcies. Porm, dentre asnove espcies de Raddia, tricomas curtos (prickles)na face abaxial da epiderme ocorrem apenas nosrepresentantes deste complexo. O padro dedistribuio das papilas na face abaxial da epidermedensamente agrupadas em faixas laterais s zonascostais, foi confirmado para as mesmas, com exceode R. stolonifera. Essa espcie apresenta papilas aolongo de toda a superfcie abaxial e tambm na faceadaxial, porm nesta face, so papilas poucoconspcuas, com distribuio apenas no centro daszonas intercostais, semelhante ao observado emR. distichophylla e em alguns materiais deR. guianensis. Estas trs espcies so macromorfo-logicamente semelhantes por apresentarem nmeroelevado de folhas (sempre mais de dez) por colmo einflorescncias masculinas e femininas apenas axilares,diferindo nesse aspecto das demais espciescongenricas. Raddia guianensis, entretanto, a nicaque apresenta a nervura central fortemente projetadapara a face adaxial, com feixe mediano deslocado paraa face abaxial, e sem feixes adjacentes.

    Raddia angustifolia e R. portoi habitamambientes semelhantes e tambm so muito prximasmacromorfologicamente. Neste caso, a anatomia foliarcontribuiu para sua separao, principalmente naestrutura da nervura central. O feixe vascular medianoest deslocado para a face abaxial e feixes adjacentesa este esto ausentes em R. angustifolia. Alm disso,nessa espcie a bainha parenquimtica perivascularcircunda todo o feixe, no sendo interrompida peloesclernquima. Raddia portoi apresenta dois feixesadjacentes ao mediano e fibras de esclernquimainterrompendo a bainha perivascular, distinguindo-seainda de R. angustifolia pelas clulas do clornquimacom invaginaes profundas e clulas fusidesretangulares.

    Quanto delimitao do gnero Raddia, oscaracteres indicados por Renvoize (1985) foramconfirmados, embora com algumas variaes, principal-mente em relao aos feixes adjacentes ao medianoda nervura central. Com base nos dados disponveis,pode-se dizer que no possvel separar Raddia dosgneros prximos, utilizando apenas caracteres daanatomia foliar.

    Foram considerados de maior valor taxonmico,do ponto de vista da anatomia foliar, os seguintescaracteres: forma da nervura central em cortetransversal, posio do feixe vascular mediano, nmerode feixes vasculares adjacentes ao mediano, forma dasclulas fusides, alm da ocorrncia, densidade e

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 17

    distribuio das papilas nas clulas longas da epiderme,conforme pode ser verificado na Tab. 3.

    Consideraes ecolgicas Judziewicz et al. (1999)afirmaram que a anatomia foliar e a estruturamicromorfolgica da epiderme das folhas dosrepresentantes de Bambusoideae esto intimamenterelacionadas sua funo fotossinttica. Os aspectosrevelados atravs do estudo da anatomia foliar dasespcies de Raddia demonstraram ainda que algunsdesses caracteres esto relacionados s condiesambientais dos locais onde as plantas ocorrem.

    Todas as espcies analisadas apresentam rotafotossinttica C3, assim como as demaisBambusoideae, e a estrutura do mesofilo difereconsideravelmente de outros grupos de gramneas(Hattersley 1987), em especial no que diz respeito presena de clulas invaginantes e clulas fusides bemdesenvolvidas. A presena de parnquima clorofilianobem compactado dificulta o transporte gasoso entreas clulas desse tecido e Clark (1991) sugeriu que asclulas fusides poderiam ter alguma funo nacaptao e reserva de CO2. Embora no existamestudos que comprovem esta hiptese, alm do papelna captao e reserva de CO2, essas clulas poderiamtambm realizar o transporte de CO2 do clornquimada face adaxial para o clornquima abaxial (Berta L.Morretes, com. pess.).

    Processos fisiolgicos relacionados fotossntesecompreendem diferentes mecanismos de adaptaodas plantas. No caso das Bambusoideae, as clulas doclornquima apresentam invaginaes que promovemo aumento da rea celular (Scatena & Scremin-Dias2003) e provavelmente isso aumenta a absoro deluz e eficincia fotossinttica. Parnquima semelhante encontrado em outras espcies que tambmapresentam rea foliar ou mesofilo reduzido, a exemplode espcies de Pinus L. (Gymnospermae), segundoScatena & Scremin-Dias (2003). A presena deparnquima pigmentado composto por antocianinas,documentada na superfcie abaxial das lminas foliaresde alguns bambus herbceos e outras gramneas dereas sombreadas (Soderstrom 1982), incluindo Raddiasoderstromii e R. brasiliensis, pode estar relacionada maior eficincia na absoro de luz pelo mesofilo,como sugerido por Lee et al. (1979). Associado a issoest ainda a grande quantidade de corpos silicosospresentes nas duas faces da epiderme, os quais,segundo Soderstrom (1982), com base nos estudos deKaufman et al. (1979), capturam e repassam a luzpara o mesofilo, e estando presentes em grande

    quantidade, tambm aumentam a capacidadefotossinttica da planta.

    As espcies analisadas e os demais bambusherbceos ocorrem exclusivamente em ambientessombreados e so pouco tolerantes insolao e baixa umidade. Uma vez retirada a cobertura florestaloriginal e ficando as plantas expostas ao sol, observa-seuma diminuio considervel no porte das mesmas enas suas dimenses foliares. Alguns dos materiaisutilizados nesta anlise foram coletados nessascondies ecolgicas consideradas extremas para ogrupo, em florestas altamente desmatadas, como osexemplares de Raddia soderstromii Oliveira 978 eOliveira 722. Nessas populaes, foi verificado queas plantas encontradas crescendo sombra de rvoresou pequenos arbustos apresentavam maior porte elminas foliares maiores do que quelas que cresciamtotalmente ao sol, menores em todas as dimenses dasestruturas vegetativas.

    Segundo Taiz & Zeiger (1998), plantas tpicas delocais sombreados apresentam uma menor quantidadede camadas de parnquima clorofiliano, o que foiconfirmado nas espcies estudadas. No entanto, asplantas que foram coletadas em reas com maiorexposio ao sol no apresentaram diferenasconsiderveis em relao ao padro anatmicoobservado nas demais amostras, coletadas exclusiva-mente na sombra. Deste modo, embora secunda-riamente expostas a condies extremas, e ainda quetenha sido observada uma evidente modificaomacromorfolgica nas plantas, especialmente no portee outras dimenses vegetativas, a estrutura anatmicano foi alterada nos materiais analisados, quandocomparadas lminas de indivduos coletados sob asduas diferentes condies.

    Davila & Clark (1990) mencionaram que emSorgastrum Nash (Poaceae, Panicoideae), a presenae a densidade de papilas nas clulas epidrmicas podemestar correlacionadas com a distribuio geogrficadas espcies. Diferentemente, em Raddia, estescaracteres foram mais associados ao tipo florestal ondeas espcies ocorrem do que propriamente suadistribuio. Papilas bem desenvolvidas e abundantesna face adaxial da epiderme foram encontradasexclusivamente nos espcimes ocorrentes em florestassecas. Nas espcies ocorrentes em florestas midas,ocorrem nessa face apenas papilas inconspcuas, ouas mesmas esto ausentes. Com base na anliseanatmica de materiais de Dactylis L. (Poaceae,Pooideae), Wilson (1977 apud Sahuquillo & Lumaret

  • Oliveira, Longhi-Wagner & Leite: A contribuio da anatomia foliar para a taxonomia de Raddia Bertol. ...18

    1995) mencionou que clulas epidrmicas papilosasdesempenham importante funo no uso eficiente dagua atmosfrica, sendo as mesmas registradas emplantas ocorrentes em reas expostas a altastemperaturas. Deste modo, estas papilas podemtambm estar relacionadas proteo da epidermecontra o dessecamento.

    Agradecimentos

    Ao Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientfico e Tecnolgico (CNPq), Fundao deAmparo Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) e ASPT (American Society of Plant taxonomists), peloauxlio financeiro aos trabalhos de campo; ao CNPq,pela bolsa de Doutorado concedida a ReyjaneP. Oliveira; ao CNPq e FAPESB, pelas bolsas deProdutividade em Pesquisa concedidas a HildaM. Longhi-Wagner e Kelly R.B. Leite; a MarcosC. Drea, pelo auxlio na reviso do texto e edio dasimagens.

    Referncias bibliogrficas

    Amarasinghe, V. & Watson, F.L.S. 1988. Comparativeultrastructure of microhairs in grasses. BotanicalJournal of the Linnean Society 98: 303-319.

    Brandis, D. 1907. Remarks on the structure of Bamboo leaves.Transactions of the Linnean Society London Botany 7:69-89.

    Brown, W.V. 1958. Leaf anatomy in grass systematics.Botanical Gazette 119: 170-178.

    Caldern, C.E. & Soderstrom, T.R. 1967. Las gramineastropicales afines a Olyra L. Atas do Simpsio sobre aBiota Amaznica 4: 67-76.

    Caldern, C.E. & Soderstrom, T.R. 1973. Morphological andanatomical considerations of the grass subfamilyBambusoideae based on the new genus Maclurolyra.Smithsonian Contributions to Botany 11: 1-55.

    Clark, L.G.; Davidse, G. & Ellis, R.P. 1989. Natural hybridizationin bamboos: evidence from Chusquea sect.Swallenochloa (Poaceae: Bambusoideae). NationalGeographic Research 5: 459-476.

    Clark, L.G. 1991. The function of fusoid cells in bamboos: anhypothesis. American Journal of Botany 78: 22(Abstracts).

    Clayton, W.D. & Renvoize, S.A. 1986. Genera graminum:grasses of the world. Kew, Royal Botanic Gardens.

    Davila, P. & Clark, L.G. 1990. Scanning Electron MicroscopySurvey of Leaf Epidermis of Sorghastrum (Poaceae:Andropogoneae). American Journal of Botany 77:499-511.

    Ellis, R.P. 1976. A procedure for standardizing comparativeleaf anatomy in the Poaceae I. The leaf-blade as viewedin transverse section. Bothalia 12: 65-109.

    Ellis, R.P. 1979. A procedure for standardizing comparativeleaf anatomy in the Poaceae II. The epidermis as seen insurface view. Bothalia 12: 641-671.

    Ellis, R.P. 1987. A review of comparative leaf blade anatomyin the sistematics of the Poaceae: the past twenty-fiveyears. Pp. 3-10. In: T.R. Soderstrom; K.W. Hilu; C.S.Campbell & M.E. Barkworth (eds.). Grass Systematicsand Evolution. Washington, D.C., SmithsonianInstitution Press.

    GPWG (Grass Phylogeny Working Group). 2001.Phylogeny and subfamilial classification of the grasses(Poaceae). Annals of the Missouri Botanical Garden88: 373-457.

    Hattersley, P.W. 1987. Variations in photosynthetic pathway.Pp. 49-64. In: T.R. Soderstrom; K.W. Hilu; C.S. Campbell& M.E. Barkworth (eds.). Grass Systematics andEvolution. Washington, D.C., Smithsonian InstitutionPress.

    Hilu, K.W. 1984. Leaf epidermis of Andropogon sect.Leptopogon (Poaceae) in North America. SystematicBotany 9: 27-257.

    Holmgren, P.K. & Holmgren, N.H. 1998. Index Herbariorumon the Internet. Disponvel em http://sciweb.nybg.org/science2/IndexHerbariorum.asp (Acesso em: 20/10/2005).

    Johansen, D.A. 1940. Plant microthechine. New York,McGraw-Hill Book Co. Inc.

    Judziewicz, E.J.L.; Clark, L.G.; Londoo, X. & Stern, M.J.1999. American Bamboos. Washington, D.C.,Smithsonian Institution Press.

    Kaufman, P.B.; Tateoka, Y. & Carlson, T.J. 1979. Studies onsilica deposition in sugarcane (Saccharum spp.) usingscanning electron microscopy, energy-dispersive x-rayanalysis, neutron activation analysis and lightmicroscopy. Phytomorphology 29: 185-193.

    Lee, D.W.; Lowery, J.B. & Stone, B.C. 1979. Abaxialanthocyanin layer in leaves of tropical rain forest plants:enhancer of light capture in deep shade. Biotropica 11:70-77.

    Macdo, N.A. 1997. Manual de tcnicas em histologiavegetal. Feira de Santana, Universidade Estadual de Feirade Santana.

    Metcalfe, C.R. 1956. Some thoughts on the structure ofBamboo leaves. Botanical Magazine 69: 391-400.

    Metcalfe, C.R. 1960. Anatomy of the Monocotyledons. IGramineae. Oxford, Clarendon Press.

    Morrone, O. & Zuloaga, F.O. 1991. Revision del gneroStreptostachys (Poaceae: Panicoideae), su posicionsistemtica dentro de la tribu Paniceae. Annals of theMissouri Botanical Garden 78: 359-376.

    Oliveira, R.P.; Borba, E.L. & Longhi-Wagner, H.M. 2008.Morphometrics of herbaceous bamboos of the Raddiabrasiliensis complex (Poaceae Bambusoideae):implications for the taxonomy of the genus and newspecies from Brazil. Plant Systematics and Evolution270: 159-182.

    Page, V.M. 1947. Leaf anatomy of Streptocheta and relationof this genus to the bamboos. Bulletin of the TorreyBotanical Club 74: 232-239.

  • Acta bot. bras. 22(1): 1-19. 2008. 19

    Paisooksantivatana, Y. & Pohl, R.W. 1992. Morphology,anatomy and citology of the genus Lithachne(Poaceae: Bambusoideae). Revista de Biologa Tropical40: 47-72.

    Palmer, P.G. & Tucker, A.E. 1981. A scanning electronmicroscopy survey of the epidermis of East Africangrasses I. Smithsonian Contributions to Botany 49: 1-84.

    Peixoto, A.L. & Silva, I.M. 1997. Tabuleiro forests ofNorthern Espirito Santo South-eastern Brazil. In: S.D.Davis; V.H. Heywood; O.H. Macbryde & A.C. Hamilton(eds.). Centres of Plant Diversity: A guide Strategy fortheir Conservation 3: 369-372.

    Prado, D.E. 2000. Seasonally dry forests of tropical SouthAmerica: from forgotten ecosystems to a newphytogeographic unit. Edinburgh Journal of Botany 57:437-461.

    Piperno, D.R. & Pearsall, D.M. 1998. The slica bodies oftropical American grasses: morphology and taxonomy,and implications for grass Systematics and fossilphtolith identification. Smithsonian Contributions toBotany 85: 1-40.

    Prat, H. 1936. La systmatique des Gramines. Annales desSciences Naturelles Botanique 18: 165-258.

    Renvoize, S.A. 1985. A survey of leaf blade anatomy ingrasses V. The Bamboo allies. Kew Bulletin 40: 509-535.

    Renvoize, S.A. 1987. A survey of leaf blade anatomy ingrasses X. Bambuseae. Kew Bulletin 42: 201-207.

    Roeser, K.R. 1972. Die nadel Schwarzkiefer. Massen-produktund kunstwerk der nature. Mikrokosmos 61: 33-36.

    Sahuquillo, E. & Lumaret, R. 1995. Variation in theSubtropical group of Dactylis glomerata L. 1. Evidencefrom allozyme polymorphysm. Biochemical Systematicsand Ecology 23: 407-418.

    Snchez-Ken, J.G.; Clark, L.G.; Kellogg, E.A. & Kay, E.E.2007. Reinstatement and Emendation of SubfamilyMicrairoideae (Poaceae). Systematic Botany 32: 71-80.

    Scatena, V.L. & Scremin-Dias, E. 2003. Parnquima,colnquima e esclernquima. Pp. 109-127. In:B. Appezzato-da-Glria & S.M. Carmello-Guerreiro(eds.). Anatomia Vegetal. Viosa, Editora UniversidadeFederal de Viosa.

    Soderstrom, T.R. 1982. Cryptochloa dressleri (Poaceae), anew bambusoid grass from Panama. Brittonia 34: 25-29.

    Soderstrom, T.R. & Ellis, R.P. 1987. The position of bamboogenera and allies in a system of grasses classification.Pp. 225-238. In: T.R. Soderstrom; K.W. Hilu; C.S. Campbell& M.E. Barkworth (eds.). Grass Systematics and Evolution.Washington, D.C., Smithsonian Institution Press.

    Taiz, L. & Zeiger, E. 1998. Plant Phisiology. Second edition.Sinauer Associates Inc. Publishers. Suderland,Massachusetts. p. 227-249.

    Tateoka, T.; Inoue, S. & Kawano, S. 1959. Notes on somegrasses. IX: Systematic significance of bicellularmicrohairs of leaf epidermis. Botanical Gazette 121:80-91.

    Thomas, W.W. 2003. Natural vegetation types in SouthernBahia. Pp. 1-4. In: P.I. Prado; E.C. Landau; R.T. Moura;L.P.S. Pinto; G.A.B. Fonseca & K. Alger (orgs.). Corredorde Biodiversidade da Mata Atlntica do Sul da Bahia.Publicao em CD Rom, Ilhus, IESB / CI / CABS / UFMG/ UNICAMP.

    Veloso, H.P.; Rangel Filho, A.L.R. & Lima, J.C.A. 1991.Classificao da vegetao brasileira adaptada a umsistema universal. Rio de Janeiro, Instituto Brasileirode Geografia e Estatstica.

    Vieira, R.C.; Gomes, D.M.S.; Sarahyba, L.S. & Arruda, R.C.O.2002. Leaf anatomy of three herbaceous bamboo species.Brazilian Journal of Biology 62: 907-922.

    Zhang, W. & Clark, L.G. 2000. Phylogeny and classificationof the Bambusoideae (Poaceae). Pp. 35-39. In: S.W.L.Jacobs & J. Everert (eds.). Grass Systematics andEvolution. Melbourne, CSIRO.

    Verso eletrnica do artigo em www.scielo.br/abb