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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS
CURSO DE DIREITO
A CONTRADIÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO À LUZ DAS DIRETRIZES
DA LEI DE EXECUÇÕES PENAIS BRASILEIRA
HELAINE CRISTINA BITTELBRUNN
ITAJAÍ, OUTUBRO/ 2007
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CURSO DE DIREITO
A CONTRADIÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO À LUZ DAS DIRETRIZES
DA LEI DE EXECUÇÕES PENAIS BRASILEIRA
HELAINE CRISTINA BITTELBRUNN
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Msc. Rodrigo José Leal
ITAJAÍ, OUTUBRO/2007
Agradecimento
Inicialmente, agradeço a Deus meu Mestre, que além de ter me dado sabedoria e
inteligência, deu-me muita coragem e força para continuar nos momentos de
desânimo e fraqueza.Em segundo lugar, agradeço a meus pais, que sempre me
apoiaram e acreditaram em mim. Agradeço também ao meu marido e ao meu
filho, que tiveram paciência comigo e que foram o meu impulso para conquistar a
vitória!!!
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, Outubro de 2007
Helaine Cristina Bittelbrunn
Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Helaine Cristina Bittelbrunn , sob
o título A Contradição do Sistema Penitenciário à Luz das Diretrizes da Lei de
Execuções Penais Brasileira, foi submetida em Novembro de 2007 à banca
examinadora composta pelos seguintes professores :Rosane Rosa e Jusmar e
aprovada com a nota 9,5 ( nove e meio).
Itajaí, Outubro de 2007
Prof. MSc. Rodrigo José Leal
Orientador e Presidente da Banca
Prof. Msc. Antônio Augusto Lapa
Coordenação da Monografia
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que a autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Cárcere
Prisão, cadeia, cela onde o preso fica detido.
Lei de execução penal
Complexo de preceitos destinados a efetivar as disposições de sentença ou decisão em matéria criminal, e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do interno.
Pena
É a sanção aflitiva imposta pelo estado, mediante ação penal, ao autor de uma infração penal, com retribuição de ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos.
Penitenciária
Local onde os condenados à reclusão cumprem as sua sentença.
Prisão
Ato ou efeito de prender. Estabelecimento para segregação de delinqüentes.cognatos: aprisionar, pôr em prisão; prisional, relativo à prisão.
Reinserção social
Retorno do preso ao convívio social, reeducado e ressocializado e, principalmente, com perspectiva de vida para o futuro, ou seja, com estudo e condição de exercer uma atividade laborativa digna.
Reincidência
Tornar a praticar um certo ato; perpetrar de novo um crime ou delito da mesma espécie.
Sistema penitenciário
É o conjunto de todas as prisões do Brasil, abrangendo os xadrezes de delegacias, presídios, casa de detenção, penitenciárias e manicômios judiciários.
Trabalho prisional
É o meio pelo qual o estado tem de fazer com que o preso realize ações que o
motivem, procurando com isso minimizar os problemas dentro das penitenciárias
quanto à ociosidade e a falta de perspectiva para o futuro.
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................. XII
INTRODUÇÃO........................................................................................................1
CAPÍTULO 1...........................................................................................................3
DAS PENAS ...........................................................................................................3
1.1 ABORDAGEM HISTÓRICA..............................................................................3
1.2 CONCEITO .......................................................................................................6
1.3 FINALIDADE DA PENA ...................................................................................7
1.4 CARACTERÍSTICAS DAS PENAS ..................................................................8
1.5 ESPÉCIES DE PENAS.....................................................................................9
1.5.1 AS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE ...............................................................9
1.5.2.1 DA PENA RESTRITIVA DE DIREITO.......................................................11
1.5.2.2 PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA.....................................................................12
1.5.2.3 PERDA DE BENS E VALORES................................................................12
1.5.2.4 PRESTAÇÃO DE SERVIÇO A COMUNIDADE OU ENTIDADES
PÚBLICAS.............................................................................................................13
1.5.2.5 PENA DE MULTA......................................................................................15
1.5.2.6 DA INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITO........................................17
1.6 DA LIMITAÇÃO DO FIM DE SEMANA...........................................................18
1.7 REGIMES DE EXECUÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE............18
1.7.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES..........................................................18
1.7.2 REGIME FECHADO.....................................................................................19
1.7.3 REGIME SEMI-ABERTO..............................................................................20
1.7.4 REGIME ABERTO........................................................................................21
1.7.5 CUMPRIMENTO DO REGIME ABERTO EM CASA DE ALBERGADO OU
EM OUTRO LOCAL..............................................................................................22
CAPÍTULO 2..........................................................................................................24
ESTABELECIMENTOS PENAIS...........................................................................24
2.1 NOÇÕES GERAIS...........................................................................................24
2.2 DA PENITENCIÁRIA.......................................................................................24
2.3 DA COLÔNIA AGRÍCOLA, INDUSTRIAL OU SIMILAR................................26
2.4 DA CASA DO ALBERGADO..........................................................................28
2.5 DO CENTRO DE OBSERVAÇÃO...................................................................31
2.6 DO HOSPITAL DE CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO..............33
2.7 DA CADEIA PÚBLICA....................................................................................35
CAPÍTULO 3..........................................................................................................38
3.1 OS DIREITOS E DEVERES DO SENTENCIADO NO CURSO DA
EXECUÇÃO PENAL..............................................................................................38
3.2 DEVERES DO CONDENADO.........................................................................38
3.2.1 ESPECIFICAÇÃO DOS DEVERES..............................................................39
3.3 DIREITOS DO CONDENADO.........................................................................43
3.4 A FUNÇÃO RESSOCIALIZADORA DA PENA...............................................50
3.5 O RESPEITO E A APLICAÇÃO DOS DIREITOS DOS PRESOS NA
PENITENCIÁRIA INDUSTRIAL JUCEMAR CESCONETO..................................51
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................56
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS............................................................58
ANEXOS................................................................................................................59
RESUMO
As idéias e instituições penais nasceram por exigência do
próprio homem, que sempre sentiu a necessidade de um ordenamento coercitivo
que garantisse a paz e a tranqüilidade na sua luta e convivência junto aos demais
seres humanos. O Direito Penal reconheceu cinco fases na sua evolução
primitiva: período da vingança privada, período da vingança divina, período da
vingança pública e período humanitário. A Legislação Penal Brasileira é produto
de uma longa trajetória evolutiva. Vigoraram e foram aplicadas as normas
jurídicas contidas nas Ordenações Afonsinas, nas ordenações Manuelinas, no
Código de D. Sebastião e nas Ordenações Filipinas. Aos poucos o Brasil foi
abandonando a velha legislação portuguesa, e em 1830 foi aprovado o Código
Criminal do Império. Com a proclamação da República, é editado um novo
estatuto repressivo.
No ano de 1984, criou-se a lei número 7.210, da qual se
refere aos estabelecimentos penais e aos direitos e deveres do preso. Nessa
mesma lei, encontra-se o princípio da individualização da pena. Analisando a
culpabilidade do agente, será determinado o tipo de pena, o tempo de execução,
bem como o regime inicial de cumprimento e a eventual substituição. As penas
são classificadas em: privativas de liberdade, restritivas de direitos e de multa. De
acordo com a LEP, a execução penal tem com objetivo proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado. Porém a ineficácia da lei é
comprovada pela situação atual do Sistema Penitenciário Brasileiro. Vários são os
problemas que o afligem como a superpopulação, a reincidência e a violência
entre os próprios presos. A situação é de difícil solução. Por isso discute-se com
intensidade propostas a melhora efetiva do Sistema Carcerário Brasileiro. Uma
delas e colocar em prática o trabalho como mecanismo ressocializador do
detento.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto o tema: “A
Contradição do Sistema Penitenciário à Luz das Diretrizes da Lei de Execuções
Penais Brasileira ”, e, como objetivo institucional, produzir uma monografia para
obtenção do grau de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI; geral, analisar o sistema penitenciário brasileiro e de que forma
possibilita a ressocialização do detento; específicos, destacar os problemas mais
relevantes nos presídios, como a superlotação, violência policial, falta de higiene,
assistência médica e dignidade humana.
O seu objetivo é explanar os problemas enfrentados pelo
sistema prisional e, por extensão, do próprio sistema de execução penal, de forma
a contribuir na discussão e busca de soluções quanto à problemática da aplicação
de pena no país, principalmente no que tange ao reingresso do preso no convívio
social.
Para tanto, principiam–se, no Capítulo primeiro, apresentar
aspectos históricos e atuais das penas criminais e evolução.
No segundo capítulo, introduzir noções sobre os
estabelecimentos penais e suas principais características previstas na LEP.
No terceiro capítulo tecem-se considerações sobre os
deveres e direitos dos presos sem olvidar de questões como alguns dos
problemas que cercam o sistema carcerário de todo país, a exemplo da violência,
reincidência e a superpopulação carcerária.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
2
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre o sistema penitenciário brasileiro.
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
1. O objetivo da pena criminal no Brasil é ressocializar o
apenado evitando-se a reincidência.
2. Os estabelecimentos penais carecem de uma estrutura
que dê ao preso um mínimo de dignidade.
3. O trabalho, direito e dever do preso, seria uma grande
e eficaz ferramenta de transformação para melhor da pessoa do condenado.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase
de Investigação foi utilizado o método dedutivo, que para Pasold1 é: “estabelecer
uma formulação geral, em seguida buscar as partes do fenômeno de modo a
sustentar a formulação geral”, na fase de tratamentos de dados será o
Cartesiano, e, dependendo do resultado das análises, no Relatório da Pesquisa
poderá ser empregada a base indutiva e/ outra que for mais indicada.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa
Bibliográfica. O tema abordado é de interesse e ao mesmo tempo de
preocupação para toda a sociedade. Pois se o Sistema Penitenciário Brasileiro,
não possibilitar a ressocialização do detento, esse voltará a delinqüir; a roubar,
matar, seqüestrar, traficar, etc. E quem sofre as conseqüências disso é a própria
sociedade.
1 Pasold, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica-idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 7º ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002, p 103.
CAPÍTULO 1
DAS PENAS
1.1 ABORDAGEM HISTÓRICA
Vale destacar, neste escorço histórico as palavras de
Mirabete2:
O nascimento do crime e com ele a pena, foi no alvorecer da
humanidade com os homens primitivos e as cidades ainda
rudimentares. A agressão a um interesse individual ou coletivo
era considerada um crime e a resposta era a pena.
A pena surge como uma reação de defesa, pois, os interesses
dos indivíduos e posteriormente do grupo, necessitam serem
protegidos de ataques.
A manifestação de vingança individual, foram às primeiras
penas, extremamente severas, desproporcionais e excessivas.
O direito de punir poderia ser exercido pelo próprio ofendido ou
por alguém por ele, geralmente um parente de sangue, e a
pena era o que bem entendesse, em qualidade e quantidade.
Por isso, nasce à necessidade de limitar as primeiras penas,
em beneficio do grupo social. Lentamente surgem formas
primitivas do Estado organizado pelas comunidades, ou com
isso a vingança penal passa a ser uma feição de natureza
pública.
As primeiras espécies de pena não se consolidam sem que
sejam limitadas, e a tempo, que como vingança, adquirem
caráter divino e, mais tarde pública, chegando posteriormente à
formação do tabelião e da composição.
2 Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2005
4
Ainda consoante Mirabete3
O tabelião constitui importante conquista, pois estabelece uma
proporcionalidade entre ação e reação. O instituto de legítima
defesa é um vestígio de tabelião.
A composição foi outro progresso, onde o ofensor compre a
impunidade do ofendido, com dinheiro, gado, armas, a maneira
das indenizações de vida e de honra em vigor na atualidade.
O Código de Hammurabi, editado a mais de dois mil anos a.c,
contempla o tabelião e a composição, porém, o Código de
Manu, aproximadamente mil anos mais recentes, não faz
referências esses dois importantes institutos. Neste as penas
são corporais, com o corte de dedos, pés, queima do homem
adúltero e entrega da mulher adúltera aos cães para que a
devorem.
O Direito Romano conheceu a vingança o tabelião e a
composição.
Ao tempo do Justiniano, o fundamento da pena está no
interesse do Estado, demonstrado sua natureza pública.
O aparecimento da igreja católica e do Direito Canônico faz
acompanhar as idéias de humanizar e espiritualizar as penas.
As ideais cristãs permitiam a construção de intencionalidade
como medida de punição e foram de suma importância para o
direito penal.
Descreve ainda Mirabete4
A diminuição da idéia de que a pena deveria ser proporcional
ao crime praticado, nasceu com o pensamento de Santo
Agostinho.
3 Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. p.33 4 Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. p.33
5
Em toda a idade média, todavia, a brutalidade e a crueldade
das penas ainda constituem a tônica.
Com o desenvolvimento das ideais iluministas é que a pena
criminal passa a ganhar um matiz de humanidade. Com a
Revolução Francesa, a Declaração de Direitos Humanos, não
mais se admitiria a punição por pura e simples vingança.
Desse marco em diante, as penas vão sendo humanizadas.
Caminha-se em direção de um novo ideário penal, o de
recuperar, educar ou reformar o condenado.
Na história brasileira a justiça penal era o arbítrio dos Capitães
até 1530.
Apenas em 1824, com a primeira Constituição Brasileira, do
Império, foram abolidas as penas de tortura de aceites e de
marca de ferro quente.
Já em 1930, com o nosso primeiro Código Criminal, comina a
pena de morte na força, a de Galés. Entretanto em 1890, com
o advento da Republica antes da Constituição, a pena de Galés
era abolida.
As penas previstas no Código Penal Republicano, em 1890
eram a de prisão celular, banimento, reclusão, prisão com
trabalho obrigatório, prisão disciplinar, interdição, suspensão e
perda do emprego público e multa. Estabeleceu ainda que as
penas privativas de liberdades seriam temporárias e não
poderiam exceder a 30 anos.
Arremata o autor5
A Constituição Republicana de 1934 proibiu a pena de morte,
porém em 1937 a Carta Autoritária restabeleceu a possibilidade
de adoção pela lei ordinária de pena de morte para alguns
5 Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. p.35
6
crimes na maioria da natureza política e para o homicídio
cometido por motivo fútil e com extremos de personalidades.
Em 1938, a Constituição de 37 foi emendada pela Lei
Constitucional nº 1 que determinou a adoção de pana de morte
para o homicídio fútil e também para o homicídio cometidos
com “extremo de perversidades”6 .
Vale lembrar que o Código Penal de 1940, não incluiu a pena
de morte, adotando apenas a reclusão, detenção e multa.
Segundo Teles7:
Apesar de inúmeros estudos ou estudiosos, de idéias as mais
díspares e todos visando à resolução dos problemas derivados da criminalidade, ainda se vive um tempo de perplexidade. S e é verdade que a pena de morte, as penas corporais foram
devidamente, banidas do ordenamento jurídico dos povos civilizados, não menos verdade é a conclusão de que a pena privativa de liberdade está completamente falida, e não se presta à coisa alguma, a não ser tornar o condenado um ser ainda mais revoltado e perigoso para o convívio com a
sociedade.
A história da pena é um registro de luta contra sua crueldade e
severidade. Com a pena nasceu à necessidade de limitá-la.
1.2 CONCEITO
A pena é assim conceituada por Leal8:
Em seu sentido filosófico e de ponto de vista jurídico-penal, a
acepção é a mesma: pena é castigo, é reprimenda ao individuo
6 Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2005. 7 Teles, Ney Moura.Direito Penal: parte geral, vol. 1. São Paulo : Atlas, 2004. p. 320. 8 Leal, João José. Direito Penal Geral. São Paulo : Atlas, 2004. p 314.
7
que agiu com culpa, violando uma norma de conduta
estabelecida pelo estado, representante dos interessas das
coletividades ou das classes sociais.
Teles9 explica que a pena é a conseqüência jurídica da
existência do crime, a sanção característica da violação da norma penal
incriminadora.
Para Barros10, pena é a sanção, que consiste na privação de
determinados bens jurídicos, que o Estado impõe contra a prática de um fato
definido na lei como crime.
1.3 FINALIDADE DA PENA
As questões dos fins da pena suscitam acirrado debate,
variando seu enfoque de acordo com posicionamentos históricos, morais,
sociológicos, filosóficos, religiosos, políticos e institucionais.
Para Maggio11:
A pena tem duas finalidades: a de retribuição ou castigo ao
autor de uma infração penal, e a preventiva, no sentido de
evitar novas infrações. A retribuição estabelece uma punição,
consistente em um mal imposto ao autor da ação penal.A
prevenção visa evitar a prática de novas infrações penais.
Destinando-se a todos os membros da sociedade, para estes
não praticarem infração por meio de pena aplicada ao agente.
O artigo 59 do Código Penal assumiu expressamente um duplo
sentido para a pena: retribuição e prevenção. Diz textualmente: "O juiz, atendendo à
9 Teles, Ney Moura. Direito Penal: parte geral, vol. 1. São Paulo : Atlas, 2004. p. 36 10 Barros, Carmem Silva de Moraes. A individualização da Pena na Execução Penal.São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001.p. 53 11 Maggio, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal Parte Geral: volume 1: 3. ed. São Paulo: Edipro, 2002. p 185.
8
culpabilidade, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para a
reprovação e prevenção do crime: as penas aplicáveis dentre as cominadas ...".
O artigo 1º da Lei de Execução Penal, por sua vez, sublinha
que "A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado ou do internado".
No momento da sentença, a pena deve ser aplicada com o
sentido retributivo e preventivo. No momento da execução, firmou-se a orientação
primordial da integração social (prevenção especial). De qualquer modo, o sentido
da pena em um determinado momento (da sentença) não se exclui quando ela
passa para a fase seguinte (executiva).
1.4 CARACTERÍSTICAS DAS PENAS
Para Orandyr Teixeira Luz12:
Na pena devem existir diversas características, fundam-se, em
verdade, na verificação de princípios como o da personalidade,
proporcionalidade, legalidade e da inderrogabilidade da
personalidade.
No entendimento de Luz13:
O princípio da personalidade consiste na força do principio
constitucional da responsabilidade pessoal (art. 5º, XLV, da
CF), só devendo alcançar o agente do crime, não podendo
ultrapassar sua pessoa não atingir seus descendentes e
ascendentes.
A Constituição da República Federativa do Brasil em seu artigo
5º, XLV diz que:
12 Luz, Orandyr Teixeira. Aplicação das Penas Alternativas. Goiânia : AB, 2000. pg. 46 13 Luz, Orandyr Teixeira. Aplicação das Penas Alternativas. Pg. 46
9
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
(...)
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
Para Luz14 o princípio da proporcionalidade será observado
entre o crime e a pena. Cada crime deve ser reprimido com uma sanção
proporcional ao mal causado.
No entendimento de Luz15, a pena deve ser legal, consistindo
na exigência prévia da lei para imposição da pena. Este princípio da legalidade está
previsto na Carta Magna em seu artt 5º, XXXIX, que diz:
“XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
sem prévia cominação legal;”.
Por fim, para Luz16 o princípio da inderrogabilidade, diz que,
praticado o delito, a imposição deve ser certa e a pena cumprida.
1.5 ESPÉCIES DE PENAS
O Código Penal em seu artigo 32 traz três tipos de penas, que
são a privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa.
1.5.1 As penas Privativas de Liberdade
14 Luz, Orandyr Teixeira. Aplicação das Penas Alternativas. Pg 46 15 Luz, Orandyr Teixeira. Aplicação das Penas Alternativas. Pg 46 16 Luz, Orandyr Teixeira. Aplicação das Penas Alternativas. Pg 46
10
Tais penas são as mais utilizadas nas legislações modernas,
consistindo na perda de sua liberdade física de locomoção, o que se efetiva
mediante seu internamento em estabelecimentos prisionais.
Essa espécie de pena foi colocada no centro de nosso sistema
punitivo. Está prevista para todos os crimes e para a grande maioria das
contravenções penais. É classificada em três espécies: reclusão, detenção e prisão
simples.
Conforme dispõe o art 33 do Código Penal Brasileiro17:
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado.
No entendimento de Leal18:
A distinção entre ela é meramente formal ou quantitativa: a
primeira é cominada para os crimes mais graves, enquanto a segunda para os mais
leves. A prisão simples é cominada apenas para as penas previstas
contravencionais.
Para Maggio19:
A reclusão destina-se a crimes dolosos, já a detenção, tanto a
dolosos como culposos. Hoje não existe diferença essencial
entre reclusão e detenção. A lei usa esses termos mais como
índices ou critérios, para a determinação dos regimes de
cumprimento da pena.
A detenção pode ser cumprida nos regimes semi-aberto ou
aberto. A reclusão é cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.
17 Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.Código Penal. 18 Leal, João José. Direito Penal Geral. p 328. 19 Maggio, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal Parte Geral: volume 1: 3. ed. p 187.
11
Para Leal20, o artigo 33 caput, demonstra a inexistência de
diferença substancial entre reclusão e detenção.
1.5.2.1 DA PENA RESTRITIVA DE DIREITO
A Constituição Federal de 1988, em seu inciso XLVI do artigo
5º, orientou o legislador para adotar as penas de “restrição de liberdade, perda de
bens, prestação social e suspensão ou interdição de direitos”.
Para Maggio21 as penas restritivas de direito são sanções
autônomas que substituem as penas restritivas de liberdade, se preenchidos os
requisitos legais.
As penas restritivas de direitos adotadas pelo Código Penal
são: prestação pecuniária, perda de bens e valores; prestação de serviços à
comunidade ou a entidades públicas; interdição temporária de direitos; limitação de
fim de semana (art 43 do CP)
Como se verá, são penas que serão executadas sem privação
de liberdade, de modo descontínuo e apenas em substituição de penas privativas de
liberdade.
Neste sentido ensina Andreucci22:
Essa pena foi instituída para substituir a pena privativa de liberdade, não perdendo o caráter de castigo, porém, evitando os malefícios da pena carcerários de curta duração.
O juiz, após condenar o acusado a uma pena privativa de
liberdade, poderá substituí-la por uma pena restritiva de direito, desde observado
algumas condições:
a) A pena substituída deve ser não superior a quatro
anos ou resulte de crime culposo.
20Leal, João José. Direito Penal Geral. p. 328 21 Maggio, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal Parte Geral: volume 1: 3. ed. p 151. 22 Andreucci , Ricardo Antonio. Manual de Direito Penal : volume 1: parte geral. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p.110
12
b) O crime não pode ter sido cometido com violência
ou grave ameaça à pessoa.
c) Exige como condição subjetiva que o réu não seja
reincidente em crime doloso;
d) Para a substituição devem ser analisados os
elementos subjetivos do condenado, pois, somente são aplicadas se a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
1.5.2.2 Prestação pecuniária
No entendimento de Maggio23
A prestação pecuniária é o pagamento em dinheiro, de um
valor fixado pelo juiz, entre 1 e 360 salários mínimos, a ser feito
a própria vitima ou seus dependente, ou, quando o crime não
tiver atingido interesse jurídico do particular, à entidade pública
ou privada com destinação social.
O valor pago será deduzido do montante da eventual
condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.
Havendo aceitação do benefício, a prestação pecuniária pode
consistir em prestação de outra natureza, tal como fornecimento de cestas básicas,
medicamentos, etc.
1.5.2.3 Perda de bens e valores
23 Maggio. Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal Parte Geral: volume 1: 3. ed. p 192.
13
Essa espécie de penalidade recai sobre o patrimônio do
condenado em favor do Fundo Penitenciário Nacional, conforme dispõe o artigo 43,
II, do CP.
Para que o juiz quantifique tal pena deve se considerar o
prejuízo causado pela infração penal ou o proveito obtido pelo apenado ou por
terceiro, nos termos do art 45, § 3º do mesmo diploma legal.
A sentença substituirá a pena privativa de liberdade pela
decretação da perda de bens ou de valores que o condenado possuir, tendo como
valor máximo o do prejuízo ou o do auferido com a prática do crime.
Como se trata de pena alternativa, o condenado poderá
recusá-la, escolhendo a privação da liberdade se lhe convier.
Neste sentido Teles24 posiciona-se:
Melhor teria sido que a pena de perda de bens tivesse sido instituída para certos crimes de natureza econômica - os chamados crimes do colarinho branco – e não como alternativa à prisão.
1.5.2.4 Prestação de serviço à comunidade ou entidades públicas
A Prestação de serviços à comunidade é uma medida que
permite que o condenado se conscientize dos problemas sociais e tenha maior valor
coercitivo.
É socialmente mais útil que curta a detenção segundo a
maioria da doutrina a respeito, no nosso Código Penal, a pena de prestação de
serviços à comunidade está prevista no art.46:
Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.
As prestações de serviços à comunidade consistem na
atribuição ao condenado de tarefas gratuitas a entidades assistenciais, hospitais,
24 Teles, Ney Moura. Direito Penal: parte geral, vol. 1 p. 379.
14
escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas
comunitários ou estatais.
As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do
condenado, devendo serem cumpridas, durante oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a jornada normal de
trabalho. Tal modalidade substitutiva da pena de prisão, porém, dá-se apenas
quando o fato processual reúne as condições previstas no artigo 44 do CP, ou seja,
quando a pena privativa de liberdade aplicada ao caso for inferior a um ano; o réu
não for reincidente e a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem
que esta substituição seja suficiente.
Findo ou suspenso o processo penal com base no art.89 da Lei
9.099 de 26.09.1995, o Ministério Público opinará acerca do cabimento da pena de
prestação de serviços à comunidade. Caberá então ao Magistrado, em acolhendo as
razões do Ministério Público e de acordo com o seu próprio convencimento com
relação aquele acusado em especial e às circunstâncias que o levaram a infringir o
sistema legal sentenciar o condenado ou processado (em caso de suspensão do
processo) , na forma legalmente prevista, pelo tempo que julgar, dentro dos
parâmetros legais, conveniente ao apenado, e designar, de logo, a entidade ou
programa comunitário ou estatal junto ao qual prestará serviço, o condenado ( ou
processado ). Este, após intimado da sentença será cientificado do local onde
cumprirá a pena e seguirá com a documentação que lhe for fornecida pelo cartório
(ofício à entidade e cópia da sentença).
A Lei de Execução Penal25, trata da prestação de serviços à
comunidade nos arts. 149 e 150 :
Art. 149 - Caberá ao juiz da execução:
I - designar a entidade ou programa comunitário ou estatal,
devidamente credenciado ou convencionado, junto ao qual o
condenado deverá trabalhar gratuitamente, de acordo com
25 Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal.
15
suasaptidões;
II - determinar a intimação do condenado, cientificando-o da
entidade, dias e horário em que deverá cumprir pena;
Art. 150 - A entidade beneficiada com a prestação de serviços
encaminhará mensalmente, ao juiz da execução, relatório
circunstanciado, bem como a qualquer tempo, comunicação sobre
ausência ou falta disciplinar. "
De acordo com as mais modernas escolas de política criminal,
a pena toma um caráter de função defensiva ou preservadora da sociedade. Sabe-
se ainda que na luta contra crime, os meios de prevenção são muito mais eficazes
do que as medidas repressivas.
Tais postulados básicos levam-nos a propor como medida de
caráter preventivo a criminalidade, a substituição da competência jurisdicional na
aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade, entre outras. Isto porque
o juiz sumariamente, assim como o Órgão do Ministério Público atuante em
determinado processo criminal, têm acesso direto ao apenado, podendo com a
maior facilidade fazer a aplicação e a fiscalização da execução das penas a que nos
referimos.
Teles26 nos ensina que:
A um só tempo, o condenado vai conhecer o homem que cultiva os
valores da solidariedade e do respeito, e o que necessita do amor, do
apoio. Participar dessa relação humana é a melhor terapia para
alguém que violou a norma penal possa compreender a importância
de valorizar os bens importantes da sociedade.
1.5.2.5 Pena de Multa
Nos ensinamentos de Leal27:
26 Teles, Ney Moura. Direito Penal: parte geral, vol. 1 Pg 27 Leal, João José. Direito Penal Geral. p. 326
16
Atualmente, a multa parece destinada a conquistar importante
espaço no contexto do sistema punitivo, surgindo como uma das
alternativas à prisão por representar uma forma mais branda, menos
cruel e, politicamente, mais adequada de se punir o autor de crimes
de menor potencial ofensivo.
A pena de multa é uma importante arma contra as penas
curtas de prisão.
As vantagens da pena de multa são assimiladas, seja por
aquilo que proporcionam, ou pelo que evita.
O réu não é retirado de suas ocupações ou do seu convívio
familiar, não é enviado ao cárcere que corrompe, não sobrecarregando o erário, não
tendo os custos de encarceramento.
Ensina Mirabete28
A pena de multa consiste, nos termos da lei nova, no pagamento de fundo penitenciário de quantia fixada na sentença e calculada em dias multa, sendo, no Maximo, de 360, no mínimo, de 10 dias multas. (art 49).
A fixação do valor de dia multa é fixada pelo juiz sempre
baseado no valor do salário mínimo mensal vigente à época do fato, não podendo
ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato,
nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário (art 49 § 1ª do CP).
O legislador considera que as penas têm existência certa e
determinada, não podendo o juiz aplicar outra sanção que não seja definível ao
tempo do fato considerado delituoso.
Após a vigência da Lei nº 9.268, de primeiro de abril de mil
novecentos e noventa e seis, a multa aplicável em sentença irrecorrível e
considerada dívida de valor, aplicando-se as normas relativas as dividas da Fazenda
Pública (art 51 do CP)
28Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. p 285.
17
A correção monetária esta prevista no art 49, §2º do CP e é
exigida pelos artigos 2º § 2º e 32 e seus §1º e§ 2º da Lei 6.830/80, já a correção é
calculada de acordo com índices da Ufir (Lei 8.383/91).
A fixação da pena em dias-multa o juiz deve estar calçada
dentro do prudente arbítrio do juiz, que não pode desprezar os parâmetros fixados
em Lei. Devendo atender, principalmente, à situação econômica do réu. (art 60 do
CP).
O valor de cada dia-multa deve ser fixado levando se em conta
exclusivamente, a situação econômica do réu, como a justa retribuição pelo crime
diante das condições pessoais de seu autor.
O pagamento da multa deve ser efetuado dentro de 10 (dez)
dias depois de transitada em julgado a sentença condenatória. (art 50, caput do CP).
As multas constituem recursos do Funpen (Fundo
Penitenciário Nacional), criado pela Lei Complementar nº 79, de 7-1-94, que foi
regulamentada pelo decreto nº 1.093, 23/3/94, conforme dispõe o art 2º, inciso V do
primeiro diploma.
1.5.2.6. Da Interdição Temporária de Direitos
A interdição temporária de direitos constitui uma
incapacidade temporária para o exercício de determinada atividade, podendo ser
proibição do exercício do cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato
eletivo, proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público e suspensão de
autorização ou de habilitação para dirigir veículo, conforme art.47,CP.
Assim essa pena poderá ser aplicada quando o indivíduo
cometer algum crime no exercício da administração pública, crime este que não
pode ser superior a um ano ou quando profissionais que tenham determinada
licença para exercer sua profissão, cometam algum crime por intermédio desta,
como por exemplo, um médico que viola um segredo profissional ou ainda pode ser
18
aplicada esta pena para aqueles que cometem crimes culposos de trânsito, ficando
suspensa a autorização para dirigir veículo.
Contudo, não poderá a pena privativa de direito substituir a
interdição, se no momento do crime, o indivíduo não tinha autorização para dirigir ou
se tiver acabado de habilitar-se. Porém tal suspensão não afasta a obrigação de
realizar novos exames.
1.6.Da Limitação do Fim de Semana
Consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e
domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento
adequado, podendo ser ministrados aos condenados, durante essa permanência
cursos e palestras, ou atribuídas a eles atividades educativas, art.48,parágrafo
único, do CP.
Nos ensina Teles29 que:
Infelizmente, a própria lei considera uma simples faculdade a
realização dos cursos,palestras e atividades educativas, pelo que,
mesmo que houvesse, no país, estabelecimentos adequados ao
cumprimento dessa pena, nenhuma atividade tendente à
recuperação do condenado seria, necessária e obrigatoriamente, ali
executada.”
As vantagens dessa pena, é a permanência do condenado
junto à sua família, ocorrendo o seu afastamento apenas nos dias dedicados ao
repouso semanal, a possibilidade de reflexão sobre o ato cometido, a permanência
do condenado em seu trabalho, não trazendo assim dificuldades materiais para a
sua família, o não contato com condenados mais perigosos, o abrandamento da
rejeição social.
1.7 Regimes de Execução da Pena Privativa de Liberdade
1.7.1 Considerações Preliminares
29 Teles, Ney Moura. Direito Penal: parte geral, vol.1. p 385.
19
No entendimento de Leal30:
Adotando o sistema progressivo, nosso Código Penal prevê três
regimes para a execução da pena privativa de liberdade: fechado,
semi-aberto e aberto.Em princípio esses três regimes são aplicados
aos reclusos, aos detentos ou também aos presos simples, embora,
para essas duas ultimas categorias de condenados, o regime
fechado somente passa a ser aplicado em caráter excepcional.
Ainda escreve Leal31que:
O condenado que iniciar o comprimento de sua pena em regime
fechado poderá progredir para alcançar o regime semi-aberto e
aborto e, em seguida, obter o livramento condicional até a liberdade
completa. Tudo dependerá de seu comportamento prisional.
Revelador de uma provável recuperação moral e social.
1.7.2 Regime Fechado
O Código Penal Brasileiro32 considera fechado o regime de
execução de pena privativa de liberdade em estabelecimento penal de segurança
máxima ou média (art 33, § 1º, alínea a do CP) onde o condenado fica sujeito a
trabalho a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. (art
34, § 1º do CP).
No ensinamento de Maggio33
O regime fechado prevê o isolamento do condenado durante o
período noturno, em comportamento individual salubre e trabalho em
comum durante o dia, conforme suas aptidões e as ocupações
anteriores, desde, é claro, que compatíveis com a privação de
liberdade.
30 Leal, João José. Direito Penal Geral . p 328. 31 Leal, João José. Direito Penal Geral. p 328. 32 Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.Código Penal 33 Maggio. Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal Parte Geral: volume 1: 3. ed. p. 188.
20
O trabalho interno é obrigatório e está regulado na Lei de
Execução Penal nos artigos 31 a 35, cabendo ressaltar que a jornada de trabalho
não será inferior a seis e nem superior a oito horas, assegurando o descanso aos
domingos e feriados.
O objetivo é a formação profissional do condenado. Como
incentivo ao trabalho do condenado, a lei dispensa a licitação a aquisição por órgão
da administração direta ou indireta, da União, dos Estados do Distrito Federal e dos
Municípios, de bens ou produtos do trabalho realizado nos estabelecimentos
prisionais.
Os recursos oriundos da comercialização dos produtos
reverterão ao estabelecimento penal ou á fundação ou empresa pública que
gerenciar a atividade laboral do presídio ou penitenciária.
O § 3º do art 34 do Código Penal Brasileiro prevê a
possibilidade de o condenado em regime fechado trabalhar fora da penitenciária, em
serviços ou obras públicas. Os art 36 e 37 da Lei de Execução Penal regulam o
trabalho externo, que é obvio, será remunerado, e tem como requisito o
cumprimento de, no mínimo, um sexto da pena. Evidentemente o trabalho externo
precisará de regida fiscalização, para evitar fugas e manter a disciplina.
1.7.3 Regime Semi-aberto
O art 33, § 1º., alínea b, do CP assim dispõe:
§ 1º - Considera-se:
(...)
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
O condenado pode ser alojado em compartimento coletivo
observados os mesmo requisitos da salubridade do ambiente, exigidos na
penitenciária. (art 91 e 92 da LEP)
21
Neste regime o trabalho também não é obrigatório, se
desenvolvido no próprio estabelecimento, será em comum e durante o período
diurno, observados as mesmas regras para o trabalho interno do regime fechado.
O trabalho externo poderá ser autorizado, ainda que em obras
ou serviços particulares, diferentemente do regime fechado, mais, igualmente,
mediante remuneração e fiscalização é certo.
O condenado cumprindo pena nesse regime terá direito a
freqüentar curso supletivo, profissionalizante, de instrução de segundo grau ou
superior (art 35§ 2º do CP).
E de instrução de segundo grau ou superior (art. 35, § 2º do
CP)
No regime semi-aberto, o condenado poderá obter autorização
para sair do estabelecimento temporariamente, sem qualquer vigilância direta, para
visitar a família e também para participar de atividades que proporcionam condições
para o seu retorno ao convívio social.
Segundo Mirabete34:
A idéia de prisão semi-aberta apareceu na Suíça com a construção da prisão de Witzwill. O estabelecimento situava-se na zona rural, obrigando os sentenciados que trabalhavam como colonos de uma fazenda, com vigilância muito reduzida e confiando-se no sentenciado. A constatação porem, de que a maioria dos criminosos provém dos grandes centros urbanos levou o legislador pátrio a optar, pela diversidade do estabelecimento semi-aberto, incluindo os industriais e similares.
1.7.4 Regime aberto.
O regime aberto é aquele cuja prisão “baseia-se na
autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado” (art 36 do CP), que
34 Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. p 287.
22
cumprirá sua pena privativa de liberdade exercendo durante o dia o trabalho externo
ao estabelecimento prisional e neste permanecendo durante o período noturno e nos
domingos e feriados.
Conforme Mirabete35
A prisão aberta teve sua origem mais remota em 1868 quando no estado de New York se fez à primeira experiência, ingressando depois no Direito Britânico (1907), belga (1915) Sueco (1918), Tcheco-eslavo (1919), Austriano (1920), Francês, (1951). No Brasil surgiu em 1965.
O condenado que vier transferido de outro regime mais
severo, só poderá progredir para o regime aberto se comprovar a promessa de
trabalho externo. Evidentemente que este regime não poderá ser negado se
estiverem presentes os pressupostos legais, durante o tempo necessário a procura e
obtenção e emprego.
1.7.5 Cumprimento do regime aberto em casa de albergado ou em outro local
Em situações onde o condenado não estiver trabalhando,
permanecerá recolhido em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
O Código Penal36 em seu art 36, § 1º prescreve:
O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.
A permanência do condenado neste local se da sem nenhuma
vigilância, por demonstrar responsabilidade e senso de autodisciplina.
Consoante João José Leal37:
35 Mirabete.Julio Fabbrini, Manual de Direito Penal. p 287. 36 Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.Código Penal
23
O número de casas de albergados em nosso país, ainda é insignificante, bastando como exemplo o caso de Santa Catarina, onde existem apenas dois estabelecimentos desse tipo, localizados em Florianópolis e em Joaçaba.
37 Leal, João José. Direito Penal Geral. p 335.
24
CAPÍTULO 2
ESTABELECIMENTOS PENAIS
2.1 NOÇÕES GERAIS
A lei de execução penal preocupou-se com a previsão das
classificações dos estabelecimentos penais, de acordo com os indivíduos sujeitos a
eventual privação de liberdade. São estabelecimentos penais:
a) a penitenciária (destinada ao condenado a pena de
reclusão, em regime fechado);
b) colônia agrícola, industrial ou similar (destinada ao
cumprimento da pena em regime semi-aberto);
c) casa de albergado (destinada ao cumprimento de pena
privativa de liberdade em regime aberto e da pena de limitação de fim de semana);
d) centro de observação (destinado a realização de exames
gerais e criminológicos, assim como pesquisas criminologias); hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico (destinado aos inimputáveis e semi-imputáveis) e:
e) cadeia pública (destinada ao recolhimento de presos
provisórios, que ainda não foram julgados definitivamente).
2.2. DA PENITENCIÁRIA
Tem-se que a penitenciária destina-se ao condenado de
reclusão superior a oito anos em regime fechado.
25
Art. 87 - A Penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado.
Ao ser acolhido na penitenciária a lei exige que o condenado
deva ser alojado em cela individual, com área mínima de seis metros quadrados,
dormitório, aparelho sanitário e lavatório.
Art. 88 - O condenado será alojado em cela individual que
conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório.
Parágrafo único - São requisitos básicos da unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de
aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à
existência humana;
b) área mínima de 6 m2 (seis metros quadrados).
Também por força da lei n.º 8.072, de 25-7-90, alterada pelas leis
n.º 8.930, de 6-9-94, 9.695, de 20-8-98 e 11.464/07, são destinados a regime
fechado, para cumprirem integralmente a pena, independentes de pena aplicada e
de serem os condenados não reincidentes os autores de crimes hediondos e
equiparados.
Todavia na maioria dos presídios acumulam-se vários presos
numa única cela, vivendo estes em promiscuidade e total falta de higiene, posto que,
utilizam apenas um banheiro, assim mesmo aberto, sem qualquer discrição.
Já as penitenciárias femininas devem ter, além dos requisitos
exigidos para as masculinas, outros mais, como a sessão para gestantes e
parturientes e creches com a finalidade de assistir o menor desamparado, cuja
responsável esteja presa.
Art. 89 - Além dos requisitos referidos no artigo anterior, a
penitenciária de mulheres poderá ser dotada de seção para
gestante e parturiente e de creche com a finalidade de assistir
ao menor desamparado cuja responsável esteja presa.
26
Geralmente os condenados vivem na maior ociosidade
deixando de conseguir a tão almejada educação para vida pós-punição.
As penitenciárias devem ser construídas em local afastado do
centro urbano a distancia que não restrinja a visitação.
Art. 90 - A penitenciária de homens será construída em local
afastado do centro urbano a distância que não restrinja a
visitação.
Mirabete escreve que:
Por razão de segurança, determina-se que a penitenciária de
homens seja construída em local afastado do centro urbano.
A possibilidade de motins e fugas exige que assim seja para a
segurança da comunidade que, de outra forma, estaria envolvida em
acontecimentos que poderiam causar-lhes sérios perigos.
Entretanto, a localização do estabelecimento não deve restringir a
possibilidade de visitação de presos, que é fundamental no processo
de reinserção social38.
É importante a construção de penitenciárias em local afastado
do centro urbano para que as fugas não gerem risco à população no entorno.
2.3 DA COLÔNIA AGRÍCOLA, INDUSTRIAL OU SIMILAR.
A Colônia Agrícola, Industrial ou similar destina-se ao
cumprimento da pena em regime semi-aberto para pena superior a quatro e inferior
a oito anos, salvo se o condenado cumprindo pena no regime fechado, passar para
o semi-aberto, ou progredir ou regredir.
38 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, p. 242.
27
Art. 91 - A Colônia Agrícola, Industrial ou similar destina-se ao
cumprimento da pena em regime semi-aberto.
Nesses estabelecimentos deve existir necessariamente
trabalho como meio de tornar o condenado mais útil a si mesmo e à própria
sociedade.
Para Mirabete:
A colônia agrícola industrial ou similar destina-se ao cumprimento da
pena em regime semi-aberto, conforme determina o art. 91 da Lei de
Execução Penal. A par do inegável avanço com o sistema da prisão
semi-aberta, notou-se nele alguns inconvenientes, entre os quais o
de estarem os estabelecimentos situados na zona rural e serem
destinados ao trabalho agrícola, situações a que não se adaptaram
os condenados da sociedade.
Contornando tal situação idealizou-se um sistema misto, com
setores industriais nas prisões semi-abertas ou mesmo com
instauração de colônias agrícolas industriais.
Em razão disso, a lei de execução destina esses condenados a
cumprir a pena em regime semi-aberto às colônias agrícolas,
industrial ou similar.39.
No regime fechado, impõe a lei o alojamento do condenado
em cela individual, enquanto no semi-aberto, poderá ser alojado em compartilhado
coletivo, sem ter a previsão de números de preso em cada cela.
Art. 92 - O condenado poderá ser alojado em compartimento
coletivo, observados os requisitos da letra a do parágrafo
único do art. 88 desta Lei.
Parágrafo único - São também requisitos básicos das
dependências coletivas:
a) a seleção adequada dos presos;
39 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, p. 245.
28
b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de
individualização da pena.
Mirabete ensina que:
Os estabelecimentos semi-abertos têm configuração arqueológica
mais simples, uma vez que as preocupações com segurança as
menores do que as previstas para a penitenciaria. Funda-se o
regime principalmente na capacidade de senso de responsabilidade
do condenado, estimulado e valoriza, que o leva a cumprir com os
deveres próprios de seu status, em especial o de trabalho,
submeter-se a disciplina e não fugir.
Diante da legislação brasileira que destinou os estabelecimentos de
segurança média para os condenados que cumprem a pena em
regime fechado, a prisão semi-aberta deve estar subordinada
apenas a um mínimo de segurança e vigilância.
Nela os presos devem movimentar-se com relativa liberdade, a
guarda do preso não deve estar armada, a vigilância deve ser
discreta e o sentido de responsabilidade do preso enfatizado 40.
A cela individual no regime fechado justifica-se pela
necessidade do condenado ficar isolado e faz com que o mesmo possa manter a
sua individualidade sem estar sujeito a agressões e abusos de colegas sem limites.
2. 4. DA CASA DO ALBERGADO
A casa de albergado é fruto da prisão-albergue, ou regime
aberto, criação pioneira do Estado de São Paulo, através do provimento 16/65,
sendo substituído pelo provimento 25/66, do Conselho Superior da Magistratura do
Tribunal de Justiça de São Paulo para aquelas penas de pequena duração, o que
permitia ao condenado trabalhar normalmente e apenas dormir no albergue.
40 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal, p. 246.
29
Art. 93 - A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de
pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de
limitação de fim de semana.
Art. 94 - O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado
dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência
de obstáculos físicos contra a fuga.
Art. 95 - Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa de
Albergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para
acomodar os presos, local adequado para cursos e palestras.
Parágrafo único - O estabelecimento terá instalações para os
serviços de fiscalização e orientação dos condenados.
A razão desse regime pressupõe o baixo quantitativo de pena,
a não reincidência e, ainda, indicação de que o condenado pode cumprir a sanção
neste regime (art. 33, § 3ºdo CP).
Além de não ser reincidente, a pena aplicada deve ser igual ou
inferior a 4 (quatro) anos e, também, as circunstâncias como personalidade,
antecedentes, conduta social delineados no comando do art. 59, do Código Penal
devem ser favoráveis.
Este é o escólio Mirabete41:
(...) há condenados cujo tipo de personalidade e cuja atitude
consciente de aceitação da sentença condenatória e da pena
aplicada fazem com que se submetam à disciplina do
estabelecimento penal sem conflitos e sem intentar fuga.(...)
Determina o art. 93 que a Casa de Albergado se destina ao
cumprimento da pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da
pena de limitação de fim de semana.
A denominação Casa de Albergado (ou seja, prisão-albergue), para
designar o estabelecimento destinado ao condenado em regime
41 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 250
30
aberto, é uma expressão feliz porque se refere a uma simples prisão
noturna, sem obstáculos materiais ou físicos contra a fuga.
A segurança, em tal estabelecimento, resume-se ao senso de
responsabilidade do condenado. A prisão-albergue constitui-se uma
modalidade ou espécie do gênero prisão aberta, experiência que em
outros países é conhecida com denominações que equivalem, em
português, a ‘prisão noturna’ ou ‘semiliberdade’.
Outra espécie de prisão aberta é a denominada prisão domiciliar,
prevista na nova lei ao mencionar ‘regime aberto em residência
particular42.
Destinam-se ao regime aberto os condenados aptos para viver
em semiliberdade, ou seja, aqueles que, por não apresentarem periculosidade, não
desejarem fugir, possuírem autodisciplina e senso de responsabilidade, estão em
condições de desfrutarem sem porem em risco a ordem pública por estarem
ajustados ao processo de reintegração social.
Contudo, diz ainda a Lei de Execução Penal que o prédio da
Casa de Albergado será situado em centro urbano (art. 94) e, ainda,
peremptoriamente, que cada região deverá ter uma Casa de Albergado (art. 95):
Conforme Mirabete:
A própria lei dispõe, entretanto, que os mesmo conjuntos
arquitetônicos, podem abrigar estabelecimentos de destinação
diversa destes que devidamente isolados.
Diante dessas faculdades, na comarca em que não contar com uma
casa de albergado, o que infelizmente constitui a regra, pode-se
colocar em pratica o regime aberto improvisando o alojamento em
dependências de cadeia pública, distritos policiais ou prédios
públicos que não estejam em uso, observando-se, porém, a
obrigatória de separação dos albergados com os presos processuais
ou que esteja cumprindo pena me regime diverso.
42 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 250
31
Tal solução é muito mais conveniente do que a concessão de
regime de albergue onde não exista casa de albergado, já que esse
regime destina-se exclusivamente os condenados com situações
especiais43.
Diz ainda no art. 203, § 2º, que no prazo de seis meses, a
contar da publicação desta lei, serão editadas as normas complementares e
regulamentares necessárias à eficácia dos dispositivos não auto-aplicáveis.
Também, no mesmo prazo, deverá ser providenciada a
aquisição ou desapropriação de prédios para instalação de casas de albergados.
Apesar da determinação legal de cumprimento da pena no
regime aberto em Casa de Albergado e, ainda, apesar da assinalação de prazo para
instalação dos prédios respectivos, alguns Estados não atenderam a tais
prescrições.
2.5. DO CENTRO DE OBSERVAÇÃO
No Centro de Observação realizar-se-ão os exames gerais e o
criminológico, cujos resultados serão encaminhados à comissão técnica de
classificação.
O convívio em comum de pessoas de periculosidade distintas
poderá gerar efeitos contrários aos desejados na execução penal, assim durante a
execução da pena, deverá ser buscado um plano para o tratamento do condenado
que atenda às suas necessidades, capacidades e inclinações pessoais.
Entretanto na maior parte do país não existe qualquer
espécie de centro de observação, fazendo que o condenado seja classificado de
acordo com o crime que cometeu quantidade de pena, etc.
43 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 251
32
A atual realidade dificulta a execução penal, visto que a
inexistência de exame criminológico prévio contribui para a promiscuidade fazendo
com que a prisão se torne a “escola do crime”.
Art. 96 - No Centro de Observação realizar-se-ão os exames
gerais e o criminológico, cujos resultados serão encaminhados
à Comissão Técnica de Classificação.
Parágrafo único - No Centro poderão ser realizadas pesquisas
criminológicas.
Art. 97 - O Centro de Observação será instalado em unidade
autônoma ou em anexo a estabelecimento penal.
O art. 112 da LEP dispõe que a pena privativa de liberdade será
executada em forma progressiva, com a transferência para regime menos rigoroso, a
ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da
pena no regime anterior e seu mérito indicarem a progressão.
Mas a decisão será motivada e precedida de parecer da
Comissão Técnica de Classificação e do exame criminológico, quando necessário.
Art. 98 - Os exames poderão ser realizados pela Comissão
Técnica de Classificação, na falta do Centro de Observação.
Nota-se que Comissão Técnica de Classificação, existente em
cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por dois
chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, quando se
tratar de condenado à pena privativa da liberdade.
Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da
Execução e será integrada por fiscais do Serviço Social.
Ora, na falta de Centro de Observação a própria Lei admite
que os exames sejam realizados pela Comissão Técnica de Classificação, na falta
do Centro de Observação.
33
Os exames psiquiátricos, ou outros requisitados pelo Juiz
poderão ser feitos pelo psiquiatra que deve integrar a Comissão Técnica de
Classificação.
Lembra-se que, todo condenado para cumprir pena privativa
de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a
obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à
individualização da execução.
Todavia, no caso de progressão a transferência para regime
menos rigoroso, deve ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao
menos um sexto da pena no regime anterior e seu mérito indicar a progressão,
sendo que a decisão será motivada e precedida de parecer da Comissão Técnica de
Classificação e do exame criminológico, quando necessário.
Segundo Mirabete44, os centros de observação devem instalar-
se em unidade autônoma ou anexa ao estabelecimento penal.
Quando anexa ao estabelecimento penal não significa que os
centros se destinem apenas aos exames gerais e criminológicos dos condenados do
estabelecimento penal anexo.
São estabelecimentos de unidade federativa destinada as
primeiras classificações do condenado a fim de verificar para qual penitenciária ou
colônias estes irão.
2.6. DO HOSPITAL DE CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO
O hospital de custodia e tratamento psiquiátrico é um hospital-
presídio, um estabelecimento penal que visa assegurar a custódia do internado.
Embora se destine ao tratamento, que é o fim da medida de
segurança, pois os alienados que praticam crimes assemelham-se em todos os 44 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 251.
34
pontos a outros alienados, diferindo essencialmente dos outros criminosos.
Infelizmente no Brasil são raros os hospitais psiquiátricos existentes.
Art. 99 - O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no art.
26 e seu parágrafo único do Código Penal.
Parágrafo único - Aplica-se ao Hospital, no que couber, o
disposto no parágrafo único do art. 88 desta Lei.
Art. 100 - O exame psiquiátrico e os demais exames
necessários ao tratamento são obrigatórios para todos os
internados.
Art. 101 - O tratamento ambulatorial, previsto no art. 97,
segunda parte, do Código Penal, será realizado no Hospital de
Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com
dependência médica adequada.
MIrabete escreve que:
A adoção das medidas de segurança trouxe consigo a exigência de
diversos estilos arquitetônicos e da existência de aparelhagem
interna nos estabelecimentos penais destinados a execução.
Assim o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico é um
hospital-presídio, pois, embora se destine ao tratamento é também
um estabelecimento penal que visa assegurar a custodia do
internado.
Embora se destine ao tratamento que é o fim da medida de
segurança, pois, os alienados que pratiquem crimes, assemelham-
se em todos os pontos a outros alienados, diferindo essencialmente
de outros criminosos, não se pode afastar a coerção a liberdade de
locomoção do internado, presumidamente perigoso em decorrência
da lei45.
45 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 254.
35
2.7. DA CADEIA PÚBLICA
A separação instituída com a destinação à Cadeia Pública é
necessária, pois a finalidade da prisão provisória é apenas a custódia daquele a
quem se imputa a prática do crime, com a finalidade de que fique à disposição da
autoridade judicial.
Para Mirabete:
Destina a lei que cada comarca terá pelo menos uma cadeia
pública, justificando tal exigência a necessidade de se resguardar o
interesse da administração da justiça criminal e a permanência do
preso em local próximo ao sue meio familiar.
É evidente recomendável que o provisório esteja próximo de onde
se desenvolve o inquérito policial e do juízo onde corre o processo
penal pelo crime que é acusado.
Sua presença nesses locais será muitas vezes necessária para
realização das investigações, audiência e julgamento.
Alem disso não deve ficar afastado de seu ambiente social e
familiar, nem participar do convívio com os reclusos para
cumprimento de pena, no próprio resguardo da presunção de
inocência, apanágio de todo cidadão46.
A cadeia pública deve estar localizada em centro urbano para
evitar o afastamento da família do preso provisório e facilitar o desenvolvimento do
processo.
Como ocorre com relação a casa de albergado, a cadeia deve estar
localizada em centro urbano para evitar o afastamento do ambiente
social e familiar do preso provisório e para facilitar o
desenvolvimento do inquérito e do processo crime. Permite, porém,
46 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 258.
36
a lei, que a cadeia pública, como qualquer outro estabelecimento
penal, esteja no mesmo conjunto arquitetônico de outro de
destinação diversa, desde que ele esteja devidamente isolado47.
A cadeia pública também é utilizada nos casos de prisão civil e
administrativa, para coagir o preso à satisfação de suas obrigações (alimentos,
depósito infiel, restituição de bens do Estado etc.).
Art. 102 - A Cadeia Pública destina-se ao recolhimento de
presos provisórios.
Art. 103 - Cada comarca terá, pelo menos, uma Cadeia
Pública a fim de resguardar o interesse da administração da
justiça criminal e a permanência do preso em local próximo ao
seu meio social e familiar.
Art. 104 - O estabelecimento de que trata este Capítulo será
instalado próximo de centro urbano, observando-se na
construção as exigências mínimas referidas no art. 88 e seu
parágrafo único desta Lei.
Exige-se que também estejam preenchidos na construção os
requisitos de salubridade e área mínima previstos para os demais estabelecimentos
destinados ao cumprimento da pena e da medida de segurança, mas, além disso, a
existência de celas individuais.
Os custos crescentes do encarceramento e a falta de
investimentos no setor por parte da administração pública geram a conseqüente
superlotação das prisões. Surgem, então, os problemas como a falta de condições
(falta de higiene, de regime alimentar adequado etc); deficiências no serviço médico;
elevado índice de consumo de drogas; corrupção; reiterados abusos sexuais;
ambiente propício à violência; quase ausência de perspectivas de reintegração
social etc.
Como afirmava Foucault:
47 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 259.
37
Aquilo que, no início do século XIX, e com outras palavras criticava-
se em relação à prisão (constituir uma população ‘marginal’ de
‘delinqüentes’) é tomado hoje como fatalidade. Não somente é
aceito como um fato, como também é constituído como dado
primordial48.
A finalidade da prisão de ressocializar a pessoa presa, nas
situações atuais, é tarefa difícil.
Denise de Roure49 descreve que “falar em reabilitação é quase
o mesmo que falar em fantasia, pois hoje é fato comprovado que as penitenciárias
em vez de recuperar os presos os tornam piores e menos propensos a se
reintegrarem ao meio social”.
48 FOUCAULT, Michel. Resumo dos cursos do Collège de France, p.31. 49 ROURE, Denise de. Panorama dos Processos de Reabilitação de presos. Revista Consulex. Ano III, nº 20, Ago. 1998
38
CAPÍTULO 3
3.1 OS DIREITOS E DEVERES DO SENTENCIADO NO CURSO DA EXECUÇÃO
PENAL
Na LEP estão estabelecidas as normas fundamentais, que
regerão os direitos e obrigações do Sentenciado no Curso da Execução da Pena.
Constitui-se no principal estatuto dos presos, tendo como finalidade atuar como um
instrumento de preparação para o retorno ao convívio social do recluso.
3.2 DEVERES DO CONDENADO
A lei de Execução Penal em seu art. 38 estabelece que:
“Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado,
submeter às normas da execução da pena”.
Entende Mirabete50 que:
A situação do condenado não é mera situação vital, natural, dentro
da qual o condenado há de ser considerado de modo meramente
naturalístico, como um composto biopsíquico que não funciona bem,
mas que, submetido a tal a qual “tratamento”, vai funcionar bem, vai
funcionar a contento. Os status do condenado, que deriva da
especial relação de sujeição criada com a sentença condenatória
transitada em julgado, configura complexa relação jurídica entre o
Estado e o condenado, em que há direitos e deveres de ambas as
partes a serem exercidos e cumpridos.
O artigo 38 esclarece que é um dever do preso submeter-se à
privação de liberdade imposta pela condenação. Torna-se indiscutível a obrigação
fundamental de cumprir com o dever de se submeter à pena, ou mesmo à prisão.
50 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 109.
39
A administração deverá contar com os pertinentes meios
coercitivos e disciplinares, sempre combinando com um critério de rigor, na defesa
da ordem nos estabelecimentos penais, requerido pelas próprias necessidades de
internamento, e da demanda social da paz, com o humanismo que inspira toda a
reforma penitenciária, necessitando assim da constituição de alguns deveres do
condenado.
O artigo 39 da LEP51 diz que:
Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I- Comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - Obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem
deva relacionar-se;
III - Urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - Conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga
ou de subversão à ordem ou a disciplina;
VI - Execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
VII - Submissão à sanção disciplinar imposta;
VIII - Indenização à vítima ou aos seus sucessores;
IX - Indenização ao Estado, quando possível, das despesas
realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional
da remuneração do trabalho;
X - Higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
XI - Conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo Único – Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o
disposto neste artigo.
Com a sentença condenatória transitada em julgado surgem
para os condenados os deveres acima elencados.
3.2.1 ESPECIFICAÇÃO DOS DEVERES
Em primeiro lugar, constitui dever do condenado
“comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença”.
51 Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal.
40
Segundo Mirabete52:
Em complemento a esse dispositivo, provê a lei uma seção especial
referente à disciplina, dividida entre disposições gerais (arts. 44-58),
faltas disciplinares (arts. 49-52), sanções e recompensas (arts. 53-
56), aplicação das sanções (arts. 57 e 58) e procedimento disciplinar
(arts. 59 e 60), sem prejuízo das normas estabelecidas pela
legislação estadual e pelos regulamentos penitenciários internos. Por
cumprimento fiel da sentença entendem-se não só o dever do preso
de submeter-se à privação da liberdade, de não evadir-se, como
todos aqueles decorrentes diretamente da sentença condenatória:
pagamento da multa, impedimentos decorrentes dos efeitos da
condenação (ex: inabilitação para dirigir, etc.) etc.
Em seguida deve o condenado obediência ao servidor e
respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se.
Segundo Mirabete53
Exige-se o acatamento das ordens legais dos funcionários das
instituições penitenciárias e autoridades judiciárias ou
administrativas, tanto dentro do estabelecimento, como fora dele, por
ocasião dos traslados, transferências, condução ou prática de
diligência. Atos de conduta insolene, ameaçadora, desobediência,
rebeldia, insubordinação etc. Podem constituir um crime (resistência,
desobediência, desacato etc.), e sempre serão faltas disciplinares
graves (art. 50, VI). Também é falta grave o desrespeito a qualquer
pessoa com quem o preso deve relacionar-se (funcionários do
instituto penitenciário ou outros servidores, visitantes etc.).
O terceiro dever é a urbanidade e respeito no trato com os
demais condenados.
52 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 112 53 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 112.
41
Escreve Mirabete54:
O interno deve observar conduta correta com seus companheiros de
prisão ou com outros presos ou internados com as quais deve, ainda
que eventualmente, conviver. Já se tem observado que os presos
dificilmente formam amizade com outros presos, embora se tratem
como “companheiros” e com os quais podem chegar até uma
camaradagem.
O próximo dever do condenado seria “conduta oposta aos
movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à
disciplina”.
No entendimento de Mirabete55:
É dever do condenado não só a não-adesão, mas até uma conduta
oposta aos movimentos individuais ou coletivos de evasão, tanto nos
estabelecimentos penitenciários, como fora deles. A mesma
exigência se faz com relação aos movimentos de subversão à ordem
a disciplina nas prisões ou fora delas. Refere-se a lei, aqui, aos
movimentos de rebeldia e insubordinação, à destruição ou
vandalismo, aos atos insolenes e ameaçadores contra autoridades
ou funcionários, ou quaisquer outros que levem a insegurança ou à
desordem, subvertando a regular a vida carcerária.
O quinto dever do condenado é a execução de trabalho, das
tarefas e das ordens recebidas
.
Para Mirabete56 o trabalho prisional evita os efeitos corruptores
do ócio e contribui para manter a ordem”.
Escreve, ainda, referido autor57:
54 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, pg. 112 55 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, pg. 113. 56 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 92. 57 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 113.
42
A obrigação de trabalhar já foi considerada anteriormente, mas a lei
reporta-se também genericamente à execução “das tarefas e das
ordens recebidas. Assim, ainda que não se trate de uma das
obrigações decorrentes do trabalho atribuído ao condenado, de
acordo com a disciplina legal, deve o preso obediência às ordens
recebidas das autoridades e funcionários competentes, desde que
não ilegais, constituindo-se a desobediência em falta disciplinar
grave (art. 50, VI).
Em seguida, outro dos deveres do preso é o de se submeter à
sanção disciplinar imposta.
Para Mirabete58: deve o preso acatar a sanção disciplinar
regularmente imposta a sua recusa ou resistência poderá constituir, conforme lei
regulamentadora, uma nova falta disciplinar, sem prejuízo da execução coercitiva da
primeira.
O sétimo dever do preso é a indenização à vítima ou aos seus
sucessores, outro dos deveres do condenado.
No entendimento de Mirabete59:
É possível a Administração descontar do produto de remuneração,
pelo trabalho do preso uma parte destinada ao entendimento dessa
indenização, desde que esteja determinado judicialmente”. Mas,
além dessa execução forçada, a indenização é devida mesmo no
caso de não trabalhar o preso, e é seu dever, se dispuser de meios
satisfazê-la.
Já o oitavo dever do condenado é a indenização do Estado,
quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante
desconto proporcional da remuneração do trabalho.
58 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 113. 59 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 114.
43
Doutrina Mirabete60:
Esse desconto, não pode prejudicar a destinação prevista na lei para
a indenização à vítima, ou a seus sucessores, assistência a família e
despesas pessoais”. A lei local cabe dispor sobre a porcentagem do
desconto destinado a tal indenização.
Por fim constituem deveres do condenado os cuidados
necessários à higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento e conservação dos
objetos de uso pessoal.
No entendimento de Mirabete61:
A necessidade de convivência forçada, nos alojamentos e locais de
trabalho, de ensino, de recreação etc., como a própria condição de
dignidade humana, exigem que o preso mantenha princípios básicos
de higiene, com relação a roupas, camas, etc., além de providenciar
e zelar pela limpeza dos alojamentos e suas instalações, celas etc.,
preservando também os objetos de uso pessoal.
3.3 DIREITOS DO CONDENADO
O art. 40 da LEP62 nos diz que: “Impõe-se a todas as
autoridades o respeito a integridade física e moral dos condenados e dos presos
provisórios”.
No entendimento de Mirabete63:
O interesse atual pelos direitos do preso é, de certa forma, um
reflexo do movimento geral de defesa dos direitos da pessoa
humana”. Ninguém ignora que os presos, em todos os tempos e
lugares, sempre foram vítimas excessos e discriminação, quando
submetidos aos cuidados de guardas ou carcereiros de presídios,
60 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 114. 61 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 114. 62 Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. 63 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 114
44
violando-se assim aqueles direitos que naturalmente correspondem a
cada pessoa pelo simples fato de serem seres humanos e em razão
da dignidade a tal condição e às de liberdade, segurança, igualdade,
justiça e paz em que toda pessoa deve viver e atuar.
A execução penal, no Estado Democrático e de Direito, deve
observar estritamente os limites da lei e do necessário ao cumprimento da pena e da
medida de segurança. Tudo o que excede aos limites contraria direitos.
Todas as pessoas possuem direitos que devem ser respeitados
independente da situação em que se encontram. Quando as leis tratam dos direitos
fundamentais, não fazem qualquer distinção entre pessoas presas e as pessoas não
presas. Dessa forma, para entendermos os direitos dos presos, é preciso termos
sempre em mente que o condenado e o internado continuam a ter todos os direitos
que não são atingidos pela sentença penal condenatória. Isto significa dizer que os
presos podem perder temporariamente o direito à liberdade e sofre outras restrições,
mas o Estado deve sempre garantir a defesa de sua integridade física e psicológica,
bem como de sua honra e dignidade.
A seguir veremos um breve relato da legislação brasileira no
que diz respeito aos direitos dos presos.
A Constituição é a legislação suprema de um país. Nela estão
contidos os princípios e regras que orientam toda a legislação do ordenamento
jurídico pátrio.
A Constituição Brasileira, promulgada em 1988, estabelece
uma série de direitos e garantias fundamentais inerentes a todos os seres humanos.
O artigo 1º da Constituição Federal do Brasil afirma que o
Estado Brasileiro tem como fundamentos a cidadania e a dignidade da pessoa
humana. Diante disto, o estudo sobre os direitos fundamentais, inclusive os direitos
dos presos deve sempre estar norteado por tais fundamentos.
45
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa
do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
O artigo 5º da Constituição Federal do Brasil traz as principais
garantias individuais do cidadão brasileiro, cuja transcrição segue abaixo:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano
ou degradante;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;
46
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal;
Vale ressaltar o “princípio da legalidade”, expresso acima ao
fixar que ninguém pode ser obrigado a fazer alguma coisa se a lei não o obrigar.
Isso afasta constitucionalmente a arbitrariedade de alguns governantes,
especialmente aquelas verificadas na época da ditadura militar no Brasil.
Os incisos XXXIII e XXXIV do artigo 5º asseguram o direito à
informação, de forma gratuita e o direito de se dirigir ao Poder Público para defender
seus direitos.
Diversos incisos do artigo 5º estabelecem as garantias jurídicas
dos cidadãos brasileiros, especialmente aquelas voltadas ao sistema penal e
penitenciário.
Vale trazer à discussão também os parágrafos de
encerramento do artigo 5º, que dão aplicabilidade a todos os direitos e garantias
minuciosamente descritos no decorrer do texto constitucional:
§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.
§ 3º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
47
respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.
§ 4º - O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
A posição que os tratados internacionais ratificados25 pelo
Brasil assumem no ordenamento jurídico brasileiro gera grande discussão tanto
entre ativistas de direitos humanos quanto entre membros do Poder Judiciário e
políticos
A Lei de Execução Penal trata exclusivamente do cumprimento
de penas e medidas de segurança, determinando as características principais do
regime penitenciário em todo o país. Dessa forma, é nesta lei que é estabelecida a
grande parte dos direitos dos presos.
De acordo com a Exposição de Motivos da Lei de Execução
Penal, a execução penal tem dois objetivos fundamentais: efetivar as decisões de
sentença e possibilitar a reintegração do condenado e do preso provisório à
comunidade. Na verdade, esses objetivos constituem os dois princípios essenciais
da execução penal e devem sempre ser observados.Para facilitar a compreensão da
Lei e permitir aos leitores um conhecimento amplo acerca dos direitos e deveres dos
presos, indicamos a seguir alguns artigos considerados essenciais.
No texto da LEP64:
Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de
sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado.
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os
direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.Parágrafo único. Não
haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou
política.
64 Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal.
48
Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas
atividades de execução da pena e da medida de segurança.
Ainda nos traz a LEP65:
Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade
física e moral dos condenados e dos presos provisórios.
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o
descanso e a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e
desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da
pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e
religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da
individualização da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de
direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência
escrita, da leitura e de outros meios de informação que não
comprometam a moral e os bons
costumes.
65 Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal.
49
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da
responsabilidade da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão
ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do
estabelecimento.
É bem verdade que o artigo 41 da LEP estabelece um vasto rol
onde estão elencados os direitos, o que se convencionou denominar direitos do
preso.
Quer nos parecer, entretanto, que referido rol é apenas
exemplificativo, pois não esgota, em absoluto, os direitos da pessoa humana,
mesmo daquela que se encontra presa, e assim submetida a um conjunto de
restrições.
Também em tema de direitos do preso, a interpretação que se
deve buscar é a mais ampla no sentido de que tudo aquilo que não constitui
restrição legal decorrente da particular condição do sentenciado, permanece
como direito seu.
Ainda nos ensina a LEP66:
Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança
pessoal do internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por
seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o
tratamento.
Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular
serão resolvidas pelo Juiz da execução.
Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida,
atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou por
auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à condenação,
salvo para instruir processo pela prática de nova infração penal ou
outros casos expressos em lei.
66 Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal.
50
3.4 A FUNÇÃO RESSOCIALIZADORA DA PENA
É através da LEP que o condenado preso pode saber que
conduta pode realizar no âmbito da penitenciária. Que horas terá de dormir - ou
quem determinará o horário em que deve dormir -, a quem e como deve obedecer,
etc. Através da LEP é que toma conhecimento dos comportamentos que pode exigir
dos demais internos, agentes do Estado, da sociedade, já que a função principal das
penitenciárias é a ressocialização - de acordo com a Lei - e que esta só é possível
se o Homem mantiver sua qualidade humana, o que implica o exercício de direitos.
A LEP, possibilita, formalmente, um exercício de uma série de experiências, de
relação social, de pacto social, todas fundamentais para que o condenado recupere
um nível mínimo de valores benéficos à sociedade. É somente através da
experiência que os valores são modificados, é através da prática cotidiana desses
valores que estes vão sendo sedimentados, a experiência é que permite a
superação das limitações naturais, genéticas, físicas do Ser Humano, através do
hábito.
A lei deixa bem claro que é pressuposto da ressocialização do
condenado a sua individualização, a fim de que possa ser dado a ele o tratamento
adequado. Já encontramos aqui o primeiro grande obstáculo do processo
ressocializador do preso, pois devido a superlotação de nossas unidades prisionais
torna-se praticamente ministrar um tratamento individual a cada preso.
A finalidade da prisão de ressocializar a pessoa presa, nas
situações atuais, é tarefa impossível. Como evidencia Denise de Roure67:
Falar em reabilitação é quase o mesmo que falar em fantasia, pois
hoje é fato comprovado que as penitenciárias em vez de recuperar
os presos os tornam menos propensos a se reintegrarem ao meio
social.
67 Roure, Denisende. Panorama dos Processos de Reabilitação de Presos. Revista Consulex. Ano III, nº 20, Ago. 1998, p. 15-17.
51
3.5 O RESPEITO E A APLICAÇÃO DOS DIREITOS DOS PRESOS NA
PENITENCIÁRIA INDUSTRIAL JUCEMAR CESCONETO.
A Penitenciária Industrial Jucemar Cesconeto em Joinville, foi
criada a dois anos, pelo Governo Estadual, com recursos da União e contrapartida
do Estado (R$ 6,2 milhões).
Luiz Henrique da Silveira68 disse que a construção da
Penitenciária faz parte do esforço nacional para combater a superpopulação nos
presídios, a penitenciária integra um processo de "guerra contra a criminalidade"
deflagrado em Joinville, disse o governador.
A unidade prisional tem seu endereço na Rua Seis de Janeiro,
s/nº, no bairro Paranaguamirim, em Joinville e tem capacidade para 347 presos em
regime fechado.
A administração da penitenciária e feita no modelo de co-gestão,
ou seja, o Estado normaliza, fiscaliza e dá diretrizes para o funcionamento, e a
Empresa Montesinos faz a manutenção e dá a mão-de-obra para o trabalho no
funcionamento da e segurança da unidade prisional.
No dia 12 de setembro de 2007, a penitenciária contava com
369 internos.
Em pesquisa de campo realizada na Penitenciária Industrial
Jucemar Cesconeto em Joinville, analisamos o cumprimento especialmente dos
Direitos dos Presos, especificados na LEP, no art. 41 e seus incisos, o que será
apresentado a seguir.
68SILVEIRA, Luiz Henrique.Disponível em www.ssp.sc.gov.br. Acesso em 12/03/2007.
52
O inciso I do art. 41, diz que o preso tem direito a alimentação
suficiente e vestuário, em relação a alimentação suficiente, existe o respeito por
parte do Estado, pois há uma empresa terceirizada no próprio estabelecimento que
prepara a alimentação com acompanhamento de uma nutricionista. Já o item
vestuário é lamentável, pois em dias frios, os presos possuem um uniforme
comprido, porém muito fino que não os protege suficientemente do lugar frio e úmido
onde estão.
Em relação a atribuição do trabalho e sua remuneração, é um
direito que apenas 179 internos possuem, pois não há trabalho suficiente para todos
ainda, são apenas 6 empresas instaladas na penitenciária, como a Tigre que possui
132 trabalhadores, a Busscar com 12 trabalhadores, a Nutribem também com 12
funcionários, a Montesinos com 09 empregados, a Panificadora Maykon com 05
funcionários e a Schulz com 09 empregados.
A remuneração de ¾ do salário é respeitada por 5 empresas,
apenas 1 delas não atinge esse número. Do salário que cada um ganha 25% é
destinado ao Fundo Penitenciário de Santa Catarina.
O inciso V, diz que a proporcionalidade na distribuição do
tempo para o trabalho, o descanso e a recreação, realmente eles trabalham de 6 a 8
horas, tem horário para descanso e recreação.
O exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas
e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena, é um
direito que não está sendo aplicado, pois embora ser um estabelecimento que
possui presos em regime fechado e semi-aberto, é como se todos estivessem no
fechado.
O inciso VII, diz que o preso tem direito a assistência material,
à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa.
A assistência material é precária, pois o indivíduo é privado de
muita coisa que tinha em seu lar, os arts. 12 e 13 da LEP são um sonho.
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A alimentação é fornecida três vezes ao dia, ou seja, café da
manhã, almoço, e café da tarde, tendo direito a comer apenas no horário que a
comida é entregue, não podendo guardar nenhum tipo de alimentação nas celas. A
alimentação é entregue e logo já é recolhida.
Os produtos e objetos permitidos são apenas os fornecidos
pela Administração, não sendo admitidos familiares trazer nem um sabonete para o
interno. Os produtos fornecidos são de péssima qualidade.
A assistência à saúde é outro direito que é prestado de forma
deficiente, pois o médico atende apenas duas vezes na semana no período
matutino, é um médico para 369 internos, e o consultório de atendimento é precário,
apenas uma mesa e duas cadeiras.
O atendimento odontológico está longe de ser humano, pois
há o dentista, mas não o consultório.
A farmácia é o único direito a assistência à saúde que funciona
bem, há quatro funcionários para fazer o controle dos medicamentos e horários de
fornecimento aos pacientes, o que é seguido corretamente.
Em casos mais graves o preso é levado a hospital público e
fica esperando no meio do povo como cidadão comum, com o diferencial de estar
algemado e com escolta policial.
A assistência jurídica é cumprida de acordo com os arts. 15 e
16 da LEP. No estabelecimento existem 2 advogados com 2 auxiliares, que
trabalham 8 horas de segunda à sexta-feira, e realizam atendimento no parlatório
aos internos, duas vezes na semana.
A assistência educacional é um direito que está a disposição
do interno. Compreende a instrução escolar até o ensino médio, com aulas de
segunda a quinta-feira.
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Apenas 90 alunos estudam, de acordo com a Pedagoga
Liliam. A maioria são analfabetos e não tem nenhum interesse em melhorar seu
nível cultural.
São projetos para 2008 os cursos profissionalizantes e os
técnicos.
A penitenciária possui auxílio da Secretaria Municipal da
Educação e da Secretaria Estadual de Educação.
A assistência social é prestada com dificuldades, pois são
apenas 2 assistentes sociais, para atenderem presos e familiares.
A assistência religiosa é prestada aos internos que tem a
vontade de participar dos cultos. Há cultos para evangélicos e católicos, prestados
por pastores e padres.
O direito a proteção contra qualquer forma de sensacionalismo
é prestado pelo estabelecimento.
O inciso IX, do art. 41 diz que o preso tem direito a entrevista
pessoal e reservada com o advogado, e realmente este direito encontra amparo pelo
estabelecimento.
O direito as visitas também é respeitado, em especial a visita
íntima, que tem local específico no estabelecimento, como todos os cuidados
higiênicos necessários para a realização da mesma, com o fornecimento de
preservativos.
O chamamento nominal é um direito prestado a alguns, o
chamamento numeral ainda existe neste estabelecimento.Como por exemplo os
duques.
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O inciso XII diz respeito a igualdade de tratamento salvo
quanto às exigências da individualização da pena, não é prestado, pois existe uma
grande diferença no tratamento prestado aos presos.
O direito a audiência com o diretor do estabelecimento
também encontra amparo, e fica a critério do interno, sendo solicitada por
comunicação interna.
A representação e petição a qualquer autoridade, em defesa
de direito, também é permitida.
O contato com o mundo exterior por meio de correspondência
escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometem a moral e
os bons costumes, é prestado por meio do setor de Censura, que lê todas as
correspondências que entram e saem da penitenciária.
O direito elencado no inciso XVI do citado artigo, que é o
direito a atestado de pena a cumprir, também encontra amparo pela autoridade
judiciária competente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Direito Penal passou por várias mudanças. A evolução
passou pela Lei do Talião e chegou as leis penais mais avançadas do ocidente.
Algumas fases na evolução do Direito Penal, assim como de
suas penas e legislação foram abordadas no presente trabalho. Verifica-se que ao
longo dos anos, a legislação penal, tornou-se mais justa, adequando o ato delituoso
com o tipo de pena a ser cumprida pelo condenado.
A Lei de Execução Penal em sua teoria é coerente e justa.
Porém, na prática, muito fica a desejar. Pode-se observar a situação de degradação
generalizada no Sistema Penitenciário Brasileiro.
Um breve relato do presídio e do de presos de Joinville, cidade
ao norte catarinense, mostrou alguns dos problemas do sistema carcerário que são
notórios: superpopulação; lentidão do processo de busca dos benefícios entre
outros.
As conseqüências de prisões abarrotadas refletem-se nos
motins, na falta de assistência ao preso, tornando, então, as prisões, um ambiente
sem as mínimas condições de sobrevivência a um ser humano.
A violência entre os próprios presos cresce com a própria
população carcerária, formando-se um sistema de normas não escritas do qual se
decide quem vive e quem morre. A violência sexual nas penitenciárias é uma forma
de expressar a posição de poder, do qual o medo é sentimento constante entre a
população carcerária.
O índice de reincidência é apenas uma das conseqüências de
um sistema penitenciário que não possibilita a recuperação do detento. A ineficácia
na melhora do condenado dentro do sistema é quase que inevitável.
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O assunto abordado no presente trabalho é de suma
importância, visto que, a sociedade paga um alto preço social pela ineficácia do
sistema prisional.
Não podemos cobrar mudanças de melhora da população
carcerária enquanto esses viverem no meio de um ultrajante processo de
ressocialização. Enquanto a dignidade de um homem for massacrada diariamente,
alimentando a revolta, o desprezo e a incerteza ao sair da prisão, nada restará
senão voltar à vida criminosa.
Ao final, pode-se concluir que as hipóteses levantadas durante
a pesquisa foram confirmadas: a) No Brasil, a ressocialização do preso não está
ocorrendo como preceitua a LEP; b) A não ressocialização é conseqüência direta da
falta de estrutura mínima dos estabelecimentos penais que na prática não possuem
os requisitos mínimos previstos na LEP; c) O preso carece de trabalho dentro do
sistema. Não só em quantidade, mas em qualidade para que aprenda algo útil para
quando sair do estabelecimento penal.
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REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS
Andreucci , Ricardo Antonio. Manual de Direito Penal : volume 1: parte geral. 3.ed.
São Paulo: Saraiva, 2004.
Barros, Carmem Silva de Moraes. A individualização da Pena na Execução
Penal.São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2001.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 27º ed. São Paulo:
Saraiva, 2001.
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.Código Penal.
Leal, João José. Direito Penal Geral. São Paulo : Atlas, 2004.
Lei nº 7210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal.
Luz, Orandyr Teixeira. Aplicação das Penas Alternativas. Goiânia : AB, 2000.
Maggio, Vicente de Paula Rodrigues. Direito Penal Parte Geral: volume 1: 3. ed.
São Paulo: Edipro, 2002.
Mirabete.Julio Fabrini, Manual de Direito Penal. 22.ed. São Paulo: Atlas, 2005
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal. São Paulo : Atlas, 1997.
Roure, Denisende. Panorama dos Processos de Reabilitação de Presos. Revista
Consulex. Ano III, nº 20, Ago. 1998.
SILVEIRA, Luiz Henrique.Disponível em www.ssp.sc.gov.br. Acesso em 12/03/2007
Teles, Ney Moura.Direito Penal: parte geral, vol. 1. São Paulo : Atlas, 2004.
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ANEXOS
FOTO DA PENITENCIÁRIA INDUSTRIAL JUCEMAR CESCONETO EM JOINVILLE
FOTO DA 1ª FORMATURA DE ALUNOS DE ENSINO MÉDIO