a construção do sentido na arquitetura- j. teixeira coelho netto.pdf

90
Próximo lançamento A Gramática do Decameron Tzvetan Todorov ! eEtes e ates e tes arquitetura Uma edificação nflOtem apenlls um sll:nificlldo formlll, estético,e outro funcional: nela sentidos 1i1:'l<los tanto ao po<'ticoquanto ao sociológi- co, movidos por val:0s Impulsos inconscienles ou por um nítido projeto ideológico. No entanto, hOIl p"r'" dll arquitelurll contemp0rl,nea tem deixado escapar esses nexos ou, pior allulll, manlpulll-os de maneira in- consciente, criando uni n.·luírio ond." u unluilclllrn ni,o fulu nu.is. apenas balbucia coisas que niio rum Ch"I:"111 110 irls,'nsato, ,,'sulllmdo dllí o pro- gressivo esmaganlcnto d('" st·u d••~Unul{.rio('"!'oM"lIt'tul, () hUI11CIl •. É da crítica desta soh",;i1O.1 •• · Â('o'''lrll,,,o do Senlido na Âr'l"ilel"ra parte para a sua procuru bJtsi4:ll: n «Ir' 1111111 Ihl~lInJ.:.:nl nu unlllitt"'uru cu- ja adequada operuciOIlUlilJ"'UU pw u tnu •... ronnul'" o utuul unll.itcto-téc. nico no proposítor de (,sl"',os j{' vlslulllhrndos 1'111 olllms I•.-ríodos mllis perdidos na esteira du R("volu\,uo hl4llJ~lrlnl tO no d(·t·III·~()d•. UIIIU il'0, .. a em que o produto arquih·tuntl ~III-J.:t· ,ohl(".uclo 4,'4)1I1U \'ulor dto (runl ,. nflo de uso. j. teixeira coelho netto A CONSTRUCÃO DO SENTIDO NA ARQUITETURA

Upload: viviana-dias

Post on 24-Nov-2015

1.368 views

Category:

Documents


573 download

TRANSCRIPT

  • Prximo lanamentoA Gramtica do DecameronTzvetan Todorov !eEtese atese tes arquitetura

    Uma edificao nflOtem apenlls um sll:nificlldo formlll, esttico, e outrofuncional: h nela sentidos 1i1:'l

  • Coleo DebatesDirigida por J.Guinsburg

    j. teixeira coelho nettoA CONSTRUCO

    DO SENTIDONA ARQUITETURA

    Equipe de realizao - Reviso: Jost: Bonifeio Caldas; Produo: RicardoW. Neves e Adriana Garcia.

    ~\\,/~~ ~ EDITORA PERSPECTIVA

    ~I\\~

  • Por uma Linguagem da Arquitetura .I. O SENTIDO DO ESPAO .

    1.1. Uma definio de arquitetura .1.2. Semiologia da arquitetura? .1.3. Eixos organizadores do sentido do

    espao . . .1.3.1. 1. Eixo do espao arquitetural: Es-

    pao Interior X Espao Exterior ..1.3.2. 2. Eixo: Espao Privado X Espa-

    o. Comum .1.3.3. 3. Eixo: Espao Construdo X Es-

    pao No-Construdo .1.3.4. 4. Eixo: Espao Artificial X Espa-

    o Natural : .

    Direitos reservados 11EDITORA PERSPECfIVA S.A.Av. Brigadeiro Lus Antnio. 302501401-000 - So Paulo - SP - BrasilFone: (011) 885-8388Fax: (011) 885-68781997

  • 1.3.5. 5. Eixo: Espao Amplo X EspaoRestrito 62

    1.3.6. 6. Eixo: Espao Vertical X Es-pao Horizontal 70

    1.3.7. 7. Eixo: Espao Geomtrico X Es-pao No-Geomtrico 80

    1 . O Imaginrio e o Ideolgico .2 . Trs Casos Particulares do Ideolgico

    na Arquitetura .2. 1 . O mito "forma e funo" .2.2. Teoria de produo do espao:

    uma formulao .2 . 3 . Semantizao e dessemantiza-

    zao do espao .

    lI. O DISCURSO ESTTICO DA ARQUITE-TURA .lI.L Discurso esttico? .lI.2. O ritmo .lI.3. Um eixo esttico englobante .

    IlI. DESCONSTRUO DO SENTIDO: AN-TIARQUITETURA? .III.L Arquitetura perecvel como antiar-

    quitetura .Il1.2. Arquitetura no-racional, arquitetu-

    ra irracional, arquitetura radical ..

    103103

    129129. 133142

    167

    177

    Os arquitetos no falam mais: apenas balbuciamcoisas sem sentido. Quantas vezes esta advertnciatem sido feita recentemente, com estas ou com palavrassemelhantes, nesta ou naquela lngua? Seria intil ecansativo proceder a uma contagem: o que parece tersido tambm totalmente intil foi essa mesma ad-moestao, pois o panorama nossa volta continuauma algaravia deprimente e insensata.

    Se os arquitetos no falam mais, supe-se quealguma vez devam ter-se exprimido de modo no ape-nas coerente como adequado e atraente. Quando foiisso? Por certo, mesmo na atualidade alguns arquite-tos continuam falando conscientemente, continuam apropor um discurso arquitetnico - mas no se cOn-

  • segue citar mais que um Lloyd Wright aqui, um ou-tro mais alm (e isto, cOm reservas). No parece res-tar dvidas, no entanto, que os momentos em que aarquitetura constituiu, globalmente considerada, umdiscurso significativo pertencem ao passado. O arqui-teto grego (o da Antigidade, bem entendido, pois aarquitetura comum das cidades gregas atuais no pas-sa, lamentavelmente, do nvel tristemente baixo de umestilo internacional bastardo de ntidas influncias ame-ricanas) sabia o que falava, conhecia aquilo com quef~lava, e o mesmo se pode dizer do arquiteto do g-tIco, da renascena - mas no, obviamente. dosarquitetos de todos os neos, o neogtico, o neods-sico, etc. Que se pretende dizer cOm isso? Que esses homens tinham formulado, ou formulavam, umestoque preciso de conceitos e de signos do qual reti-ravam os elementos para propor uma arquitetura ondecada elemento se define por si s e, ao mesmo tem-po, em relao aos demais, num discurso que res-ponde a determinadas necessidades do homem da po-ca e que este compreende.

    :b fcil prever, aqui, uma objeo: em suma, osgrandes monumentos da histria da arquitetura, osgrandes nomes, estes tm uma linguagem especfica,estes dominam um discurso: mas em volta de cadaNotre-Dame de Paris, de cada palcio dos Doges huma centena de habitaes menOs ou mais pobres queo cronista no registrou e de cuja linguagem no sefala porque simplesmente no existe. E neste caso sepoderia dizer que tambm nos tempos modernos osarquitetos "f"lam", pois Mendelsohn tem uma lingua-gem, Loos tem uma linguagem, etc.

    Esta objeo, em parte, tem sua razo de ser:sem dvida, o capital sempre favoreceu o desenvol-vimento das artes, e a arquitetura no faz exceo.Por certo mais fcil criar um cdigo ou falar perfeio uma certa lngua quando o "cliente" tem todoo dinheiro necessrio a tais exerckios. Dinheiro e tem-po: uma catedral gtica assunto de geraes. Tudoisto fato. No entanto, a histria da arquitetura nose limita s catedrais ou aos palcios - ou pelo me-nos n~ deveria se limitar, embora montanhas e mon-tanhas de volumes sobre histria da arquitetura repi-tam sempre, incansavelmente, os mesmos nomes, asmesmas obras, e estas so sempre Notre-Dame, So

    Pedro, ea' d'Oro, etc. E se de fato, quando se falada arquitetura grega, preciso ressaltar que se estfalando da arquitetura dos templos e deixando demencionar a grande maioria de construes inqualifi-cveis habitadas pelo povo; que quando se elogia acasa pompeana no se diz, freqentemente, ter sido elaprivilgio de bem poucos, por outro lado no me-nos verdade que tambm no se menciona uma sriede fatos (de forma alguma excees ou em minoria)no relacionados com as "grandes obras" e os "grandesarquitetos" e que no deixam de apresentar-se comoexemplos de domnio perfeito de uma linguagem precisa,clara e conveniente de arquitetura e urbanismo. Pense-seno discurso produzido por um hbil jogo entre ruas epraas que marca a maioria das cidades italianas, desdeuma minscula San Gimignano que chega at hoje pra-ticamente tal como era nos sculos XIV e XV, atuma moderna Turim (que mal ou bem, e por umasrie de razes das quais nem todas so a simples cla-rividncia urbanstica, ainda conserva, pelo menos emseu centro, essa rede antiga). Quem assinou essasobras, essas concepes? Michelngelo e Borromini seocuparam de Roma, mas quem "planejou" San Gimig-nano? O nome no ficou. E no entanto, muitas dessascidades no so simples proposies espontneas: fo-ram at certo ponto planejadas. E no o foram apennspara as grandes famlias, para os doges e papas: opovo era e seu grande usurio. E uma linguagemest presente nessas obras, uma linguagem urba-nstica onde o fechado e o aberto se completam, e oprevisvel cOm o inesperado, o protegido e o exposto,o privado e o comum, o geomtrico e o orgnico, emsuma: a unidade e a variedade. Essa uma lingua-gem completa, onde o indivduo faz parte da cidadee a cidade, parte fundamental do indivduo. O homemvive na cidade e da cidade, e a cidade no deixa deviver do homem. Recentemente falaram mais uma vez,absurdo risvel no fosse trgico, em transformar Ve-neza numa espcie de museu a ser visitado: custouconvencer tais "planejadores" que sem os habitan-tes "normais" da cidade, Veneza se transformaria numsimples amontoado de pedras que morreria rapidamentecomo qualquer ser vivo.

  • Onde se encontra, hoje, essa linguagem que no essencialmente vista e apontada-como "grande obra daarquitetura ou da urbanstica" mas que sentida fisi-camente, emocionalmente, por aqueles que ainda n:'ose deixaram entorpecer totalmente pelo vazio signifi-cativo das "cidades" modernas? Em lugar nenhum.Somente naquelas cidades o homem ainda dialoga cOmo espao que o circunda: ao final de uma ruela som-bria, a enorme surpresa sensorial de um espao aber-to; aqui, uma escada que separa duas paisagens intei-ramente distintas - mas identifica-se o todo como umconjunto unitrio que o indivduo nunca conhece intei-ramente mas que ele no deixa de reconhe:::er. E noum conjunto (na verdade, Um aglomerado) como osde hoje onde o espao inteiramente hostil ao indiv-duo (que no pertence a ele), no lhe dando nenhu-ma informao alm do mnimo exigido pelo utilita-rismo (o funcionalismo, esse deus da opresso), eque o homem no conhece nem em parte nem notodo, que o homem sempre estranha porque a cidade,a intervalos cada vez menores, constante e li~eral-mente destruda para abrigar o novo e todo-pode-roso hspede, o automvel, em novas e luzentes ave-nidas que levam do nada a lugar nenhum em termosde espao humano.

    Uma linguagem arquitetural no portanto privi-lgio das grandes obras ou dos grandes nomes: na ver-dade mesmo, ela ainda mais rica quando se mani-festa nas obras que passam despercebidas, naquelaspara as quais os guias tursticos no apontam porqueesto se servindo delas e nem pensam nisso: na ma-lha viria, no jogo dos espaos, das cores. E tam-pouco essa linguagem privilgio dos "tempos pas-sados". Se verdade que a con:::epo norte-america-na de arquitetura e urbanstica (que deixou boquia-berto o Le Corbuster de Quand les cathdrales taientblanches, esse selvagem suo prostrado diante dotemplo ilusionista de Nova York) um real cancroextremamente rduo de se combater, tampouco im-possvel propor uma verdadeira linguagem para asatuais "glomeraes". Na verdade, aquilo de que es-tas cidades carecem tremendamente justamente deuma verdadeira linguagem que substitua o amontoadode frases e signos arquitetnicos sem sentido (porquetanto quem os prope quanto quem os recebe e utili-

    za no 'Sabem o que significam, embora sintam seusefeitos) a contribuir unicamente para o caos total.

    Uma linguagem precisa. Se a arquitetura umaarte (e , efetivamente), uma arte especfica quenecessita no de uma linguagem mais ou menOs intui-tiva com a qual o sujeito da criao artstica lida eprope sua obra, porm cujo significado real ele svem a descobrir freqentem ente finda a obra, massim de uma linguagem definida tanto quanto possvelde antemo (pelo menos num de seus elementos, oespacial como se ver a seguir) e que esteja ao al-cance simultneo do criador e do re:::eptor (enquantonas outras artes, a linguagem produtora praticamen-te um segredo do criador, e a ela o receptor s temacesso mais tarde - e eventualmente).

    Quais os elementos dessa linguagem? As duasgrandes unidades sintagmticas em que se pode ini-cialmente decompor a linguagem da arquitetura (e daurbanstica) so o discurso primeiro do espao emsi mesmo (o discurso do arranjo espacial) e o discursoestti:::o do espao (o arranjo espacial sob uma formaartstica) .

    Que se deve considerar como aquilo que cons-titui o objeto de estudo referente ao primeiro discurso?Em poucas palavras, esse campo ser constitudo pe-las respostas possveis indagao bsica: afinal, que o espao? De fato, o que o espao? Isso deve-ria ser um conceito bsico, muitos diro que se tratade noo fundamental, praticamente um postuladoindefinvel. Uma das respostas mais comuns que seobtm a essa indagao : espao isso que nos cer-ca. Mas o que isso? E por que esse "nos cerca"?Por que esse conceito do homem ilhado no meio deum espao, que alis a arquitetura s faz perpetuar?No seria simplesmen~e porque no se dispe aindade uma noo adequada de espao, o qual, neste caso, visto como mais um mistrio cuja funo bsica(como a de todos os mistrios) de alguma formaoprimir o homem, isol-Io dentro de si mesmo (como omedo do desconhecido), ilh-Io? Efetivamente, noexiste ainda um corpo de coahecimentos orgnicoscapaz de reunir uma srie de noes fragmentadas so-bre o espao de modo a fornecer-nos um conceitooperacional, manipulvel. E isto tanto mais grave

  • para o arquiteto uma vez que _se supe que a arqui-tetura trabalha o espao - e grave porque o arqui-teto trabalha sobre uma coisa que ele simplesmenteno sabe o que , cujos significados (dos superfi-ciais aos mais profundos) ele desconhece inteira-mente! E se chega ao absurdo de se ter uma sriede teorias altamente elaboradas sobre o modo de tra-tar algo que no se sabe definir! Alis, necessriomesmo frisar que durante um tempo consideravelmen-te longo a prpria arquitetura no sabia nem mesmopropor-se seu verdadeiro objeto, o espao, recalcando-o sob frmulas vazias que partiam justamente dopressuposto de que se sabia, obviamente, o que era oespao. Os exemplos disto so mais de um. ComoVitrvio conceituava a arquitetura? Dizendo que arquitetura ordenamento, disposio, proporo, dis-tribuio. Do qu? Do espao, por certo - mas istoera dado como algo j estabelecido. Alberti: arquite-Itura voluptas, jirmitas, c.omfl1QdiJas..-E-.o _.espao?esposta-possvel: Est implcito. No: est escamo-

    teado. VioIlet-Le-Duc: arquitetura a arte de cons-truir. Frmula at potica, se se quiser, _mas nova-mente se parte do pressuposto de que j se conheceaquilo sobre o que se vai construir ou que se vai COns-truir. J Perret propunha que a arquitetura a artede organizar o espao: v-se aqui, pelo menos, a no-o de espao aflorar nitidamente superfcie do pen-samento arquitetural, mas o arquiteto ainda vai con-tinuar se preocupando apenas com as noes tradi-cionais de material, forma, funo e com as noesmais recentes produzidas pela sociologia e pela eco-nomia poltica. Naturalmente se poderia dizer que atmeados do. sculo xx no se tinha nem mesmo como que pensar o espao a no ser em termos tradicio-nais de geometria, o que efetivamente verdade, poisalgumas disciplinas fundamentais para a abordagem doespao s iro se firmar nas primeiras dcadas de1900 (como a psicanlise), enquanto outras s irocomear a. se estruturar bem mais tarde (como a pro-xmica). J tempo, no entanto, de trazer a pesqui-sa do espao em si para o primeiro plano dos estu-dos de arquitetura; este estudo no tem a pretenso,ainda que remota, de nem ao menos expor o proble-ma em toda sua extenso (quanto mais resolv-Io),mas pelo menos tratar de levantar aqueles elemen-

    tos que so absolutamente indispensveis para a prti-ca do espao.

    O outro dos discursos a ser aqui abordado oelaborado pela estca do espao (de acordo cOm afrmula de Perret, o sentido da "organizao do es-pao" constitui o corpo do primeiro discurso, e o pro-blema da "arte da", o corpo deste discurso segundo).Esttica: a simples meno deste termo talvez j sejasuficiente para abrir um enorme claro entre os even-tuais arquitetos leitores deste trabalho. De fato, os pro-blemas de esttica tm a peculiar propriedade de aglu-tinar contra si adeptos de duas correntes perfeitamenteopostas em arquitetura: os tecnocratas e os huma-nistas (ou a arquitetura do status quo e a arquiteturade vanguarda em seu sentido mais amplo, formal epoltico). Os tecnocratas no vem nenhuma utilida-de para a esttica ou para a arte; para estes, res-ponsveis por uma arquitetura bastarda e de pacoti-lha (os grandes edifcios, as habitaes coletivas, asmonstruosas avenidas, as vias expressas, etc.), arqui-tetura se resume na "arte" de equacionar adequada-mente foras, material, tempo e dinheiro, especial-mente estes dois ltimos elementos. Para muitos dosque se colocam sob a bandeira da vanguarda (simplesrtulo vazio, na maioria das vezes), Esttica igual-mente detestvel como signo de um ensino arcaicoe cIassista. Com que orgulho de "revolucionrio" umestudante de arquitetura de Veneza lhe contar "aslutas que tivemos para acabar com a questo da Est-tica em arquitetura" - sem se dar a menor conta doespao, do ambiente e da arquitetura que o cerca emsua prpria cidade, por certo um dos arqutipos ar-quiteturais do homem moderno!

    Por um lado, extremamente fcil saber a causade tanto dio esttica por parte destes "vanguar-deiros~': para eles, os problemas de esttica esto in-dissoluvelmente ligados, seno racionalmente, pelo me-nos ao nvel do sentimento e da "impresso", cul-tura clssica, especificamente cultura renascentista qual ainda estamos incrivelmente associados, e daqual a esmagadora maioria da arquitetura atual ainda um exemplo. Para eles (e com razo, pois estesproblemas ainda continuam a ser freqentemente co-locados em tais termos) Esttica diz respeito s ca-tegorias do belo e do feio, e s questes de forma e

  • conted~, harmonia, composio, equilbrio, ritmo, etc.Mas no percebem uma srie e coisas. Primeiro, quese -conseguem esquivar-se ao estudo de Esttica e daArte enquanto disciplinas universitrias (e, de fato, .aesmagadora maioria das faculdades no concede maisdo que 2 ou 3 semestres a tais estudos, e isto quando5 anos seriam claramente insuficientes), no se furtamaos efeitos dessa esttica tradicional porque em ou-tras disciplinas (Composio, etc.) ou nos mais "im-portantes" e conhecidos manuais de histria. da ar-quitetura ou esttica da arquitetura eles contmuam aser dirigidos como cordeiros na direo dos problemasde ritmo, harmonia e composio que no passam derebentos diretos dessa esttica. E ainda que por mi-lagre escapem desta influncia indireta e disfaradada esttica clssica, no escapam s influncias doprprio meio que nos envolve e que um meio querecende a classicismo, e revelam todas essas influn-cias em seus eventuais trabalhos. O que no cls-sico (no sentido de ritmo, harmonia, etc.)? Braslia La Dfense em Paris . A arquitetura dita "mo-derna" o , de modo esmagador. E os poucos que noso ou que no foram continuam a ser encarado.scomo visionrios (entenda-se: loucos ou mesmo pen-gosos - como Mendelsohn, por exemplo).

    Segundo, que renegando Esttica e Arte renegama prpria essncia de sua profisso, dando e~tremarazo a seus opositores, os engenheiros, dos qUals .c~~-seguiram arrancar, h no muito tempo, um pnvile-gio realmente indevido. O que foram os grandes ar-quitetos cujas obras continuam como p~rad~gma~? An-tes de mais nada, artistas: o que fOl Mlchelangelo,esse genial urbanista? Essa renegao em si s noteria maiores conseqncias (renegar, "matar" psico-logicamente "o pai", o modelo, mesn-:o a. ala~ancada afirmao e da renovao) se nao lm~hcasseuma insuportvel separao entre arte e arqUItetura.E o que preciso que se entenda que a arquite-tura a grande (e talvez realmente a nica) forma deexpresso artstica que se no conscientemente de-dicada s grandes massas , pelo menos, aquela a queestas tm acesso do modo mais imediato possvel. Eno se compreende que esses mesmos que mergulhamnuma luta por uma veiculao mais justa da arte ~smassas, como freqentemente acontece -com o arqUl-

    teto, venham negar a arte e a esttica em sua prpriaatividade primeira. f:. preciso que se diga: o arqui-teto distanciado dos problemas de Esttica um man-co das duas pernas, e a obra por ele proposta, aindaque pare em p, vale tanto quanto aquela que desa-ba, mal se tira a ltima escora: nada. No cheganem mesmo a ser um reacionrio, ele no existe. fundamental dominar, portanto, tambm esta lingua-gem esttica, de modo especial se se pretende realmentetranscender a linguagem clssica: alguns de seus pon-tos fundamentais sero, pois, dis::utidos.

    Este estudo prope-se, assim, examinar as basesde uma linguagem da arquitetura. Os mais exigentes,como os semilogos, podero no entanto dizer queno suficiente falar numa linguagem do espao,sendo antes necessrio provar que tal linguagem efe-tivamente existe e existe enquanto real linguagem -uma vez que proliferam os usos indevidos do termoe do conceito de linguagem. No deixam de ter ra-zo. Contudo, no me interessa demonstrar aqui queessa linguagem do espao de fato e rigorosamenteuma linguagem, tal como a definem as teorias dalinguagem, com suas articulaes e unidades combi-nveis, mas sim considerar o espao como uma formagenrica de expresso que efetivamente informa o ho-mem (e COmo qual os homens se informam, de modoconsdente ou no) e como detentor de sentidos pass-veis de uma formalizao necessria para a operaosobre esse mesmo espao, para a prtica arquitetura!.

  • D fato, se se passar em revista as diferentese sucessivas definies da arqitetura, se verifica queso necessrios mais de 2 000 anos, bem mais, paraque se conceitue a arquitetura de, ~odo ~fe~i~amenteadequado com seu objeto espeCifico. VltruvlO tecetod um discurso sobre arquitetura sem nem ao me-nos e Imitar de modo aceitvel seu domnio: "cin-

    . cia que deve ser acompanhad~ por uma gran?e di-versidade de estudos e conhecimentos por meIO dos-..quais ela avalia as outras artes que lhe pertencem ...O acesso a esta cincia se faz atravs da prtica eda teoria: a prtica consiste ... " etc. Mas quaJ dis-ciplina deixa de se encaixar nesse quadro? E mesmoquando Vitrvio enuncia claraf?ente, err: seus t~rmos,aquilo em que consiste a arqUItetura nao se da nemum passo na direo de um conceito clar.o e ade,quadodessa disciplina e dessa prtica: "A arqUItetura e ~om-posta por: o ordenamento. que o~ gre~os deno~ma.m)taxis, a disposio (den.~ml?ada dLQ~he~ls).' ~ eurntmla,a proporo, a convemenCla e a dlstnbUlao, que emgrego se denomina economia 2".

    A pergunta surge de imediato: ordenan;ento, dis-posio, distribuio do qu? A resposta so pod~ seruma e unicamente uma: do Espao. Por consegulllte,por que no atribuir a. esta noo o lug.ar, ~ue elaefetivamente ocupa? Os su:.:essores de Vlt~uvlO na?repararam esta lacuna, porm: Alberti defme arqUI-tetura como firmitas, commoditas et voluptas 3 - masnao este o objeto primeiro da arquitetura! E ~o en-tanto, a partir de Alberti as definies da arq~ltetur.ase sucedem sempre na mesma trilha do conceIto tn-partido e totalmente secundrio para a pre_ocup~?arquitetural. Blondel, por exemplo: co~stru.ao, dlstn-buio, decorao. Para a Society of Hlstonans of ~r:chitecture 4: venustas, firmitas, utilitas 5. Para a SocleteCentral e des Architetes (no sculo XIX), arquitetura o belo o verdadeiro e o til. Guimard sugere:sentiment~, lgica, harmonia. Para Nervi, funo,forma e estrutura. E s mais recentemente o esforo dedefinio da arquitetura abandonou essa e outras trin-dades consagradas para adotar um binarismo no en-

    2. VITRVIO, Les dix livres d'architecture. Paris, 1965.3. Solidez, comodidade, prazer.4. Ver PH. BOUDON, Sur l.'espace architecturale. Paris, 1971.5. Beleza, solldez, utllldade.

    tanto no menos mistificador, o famoso "forma Xfuno".

    Todos esses termos so por certo bastante "po-ticos" (voluptas, commoditas, venustas, belo, sentimen-to, lgica) mas, simultaneamente, duplamente engano-sos, primeiro porque no definem a arquitetura e, se-gundo, porque no definem a si mesmos (que sen-timento, ou que o belo, ou a comodidade?). Esca-moteiam o objeto da discusso e induzem em erro aprtica da arquitetura, um erro constante e cada vezmais acentuado, resultante do simples fato que aignorncia em que se mantm o arquiteto em rela-o a seu prprio trabalho, seu prprio objeto, seuprprio instrumento.

    Se uma maior simplicidade e preciso principiacom Viollet-Le-Duc, no sculo XIX ("arquitetura aarte de construir"), na verdade o erro s comeali ser corrigido por Luart: em seu Architecture, de1929, Lurat delimita o campo da arquitetura comosendo o dos volumes que se levantam no espao, queso determinados pelas superfcies que se encontram ecujas propores exatas so indicantes pela luz. Volu-me, superfcie, espao e luz so portanto, para Luart,Os componentes da arquitetura. Mas um conceito defi-ntdor no pode ser composto por elementos heterog-neos como esses quatro, alinhados num mesmo planoe sem especificaes. E no mesmo ano de 1929, LeCorbusier no colabora, em seu Prcisions, para oesclarecimento da funo da arquitetura (o que alis uma constante em seu trabalho): entre frases in-teiramente gratuitas como "A arquitetura um atode vontade consciente" (que se aplica tanto a um chu-te numa bola quanto ao ato de abrir uma torneira,passando pela mais variada gama de atividades fsi-cas, metafsicas e patafsicas), Le Corbusier roa o pro-J:>lema apenas quando afirma que arquitetura "prem ordem", faz uma valiosa sugesto quando especi-fica que se trata de "ordenar" objetos, emite uma pro-

    J>rao ainda mais til quando diz que se trata de or-denar "funes", mas pe tudo a perder quando afir----ma que se trata de "ocupar o espao com edifcios eestradas. .. criar vasos para abrigar os homens ... ".Aqui, sua terminologia nitidamente infeliz, para di-zer o mnimo, e uma anlise do contedo da dimensoverbal do environment arquitetural mostra claramente ocarter concentracionrio dessa proposio, a ser in-

  • teiramente evitada dentro de uma prtica arquitetnicaefetivamente humanista. No se trata, de fato, de "ocu-par" o espao: Augusto Perret 6, que no prop~ia-mente uma estrela da arquitetura como Le Corbusle~,prope um conceito inteiramente adequado. de, arqm-tetura: "a arte de organizar o espao (o grifo e meu)que se exprime atravs da construo". Organiza~ oespao e, mesmo, mais que isso, criar? espao: aSSim,efetivamente, se pode descrever a arqmtetura. E se fornecessrio ser ainda mais preciso, pode-se ressaltar quearquitetura simplesmente traba}ho sobre o Espa~,produo do Espao 7 - este e o elemento esp~cl-fico da arquitetura, escamoteado em todos estes secu-los e ainda hoje.

    Mas por que esta ocultao, esta marginalizao doEspao? Embora toda proposio arquitetural rel~vesempre de uma ideologia, e apesar d.e.toda a arqmte-tura em sua totalidade poder ser deflnida como resul-tante e simultaneamente alimentadora de uma ideologiarepressiva (antes de mais nad~ pela sua ~rpria natu-reza econmica - mas tambem em razao de aspec-tos materiais da construo, como se ver a seguir),ser talvez necessrio reconhecer que esse abandonodo Espao reveste-se de ~m cart.e~ "inocente", nointencional sendo fruto nao especlficamente de umam conscincia mas apenas de uma conscincia incons-ciente (claro que no por isso desculpvel). Como?possivelmente sob a influncia da geometria euclidiana(e o espao arquitetural costuma aind~ ser. i?ent~fica~ocom o espao geomtrico, embora t~l ldentlficaao sejano s desnecessria como no pertmente e mesmo no-civa como se ver), o arquiteto habituou-se a consi-der;r o Espao como um dado (no sentido primeirodo termo: oferecido) evidente por si s e portanto queno necessita ser demonstrado); um postulado, enfim.E um postulado no se discute, posto margem d.adiscusso: mesmo recalcado - e tanto que o arqm-teto nem mesmo se d mais conta dele. Contudo, anoo de Espao no e nunca foi uma noo evi-dente por si mesma. O que afinal o Espao, qual osentido do elemento sobre o qual a arqmtetura traba-lha s cegas? At o sculo XX o arquiteto no tinhacomo, na verdade, proceder a esse estudo e pouco

    mais podia fazer algum de jogar com o Espao en-quanto noo absoluta e auto-suficiente (da, porexemplo, os lamentveis enganos, hoje chamados kitsch,que foram e continuam a ser as transplantaes de es-tilos ou solues arquitetnicas: o clssico grego emWashington, um barroco francs no tropical Rio deJaneiro, um vitoriano ingls no rabe Egito, etc.) .Uma srie de disciplinas atuais, no entanto, da antro-pologia semiologia, passando por pontos de inter-seco como a proxmica, ps em realce no ape-nas o carter totalmente relativo da noo de Espa-o cama a conseqente necessidade de estudar e deli-mitar, praticamente caso por caso, os sentidos espec-ficos do Espao, conforme o lugar e o tempo. E a ar-quitetura cOm isso tem de voltar atrs e repensar (oumesmo pensar pela primeira vez) o elemento que ataqui foi sua base indiscutida: qual o sentido do Espao,afinal?

    6. M. ZAHAR,Auguste Perret. Paris, 1959.7. E no "pensamento do Espao", como sugere Boudon:

    arquitetura ao, no apenas renexo.

    1.2. Semiologia da arquitetura?

    Definido o objeto da arquitetura cama sendo aproduo do Espao, surge a questo de saber de queEspao se trata, quais suas espcies, suas delimitaes,para a seguir ser possvel indagar de seus respectivossentidos (operaes estas, alis, intimamente ligadas).Esta necessidade faz logo pensar num recurso a umasemiologla do espao arquitetura I ou no estabelecimen-

    lacre tal semiologia. No entanto, embora no reste a- menor dvida quanto ao Espao constituir uma se-mitica (i. e., num sentido mais simples, mais amPJopossvel e menos rgido: um conjunto analisvel de sig-nos), no se recorrer nem a nenhuma das "semiolo-gias" do espao j "estabelecidas", nem se tentar aquipropor uma nova. Por que esta recusa se este mesmotrabalho ser, ao final - quer queira ou no -,um trabalho de indagao semiolgica? A negativa emrecorrer a modelos de semiologia do Espao reside naverificao do quo pouco de til esses estudos trou-xeram at aqui e da previso probabilstica do quasenada que podero oferecer num futuro imediato ouremoto - pelo menos no que diz respeito ao estabe-lecimento de uma semiologia do espao arquiteturalde carter genrico e englobante, passvel de ser utili-zada como instrumento de trabalho pela maioria dosarquitetos e no apenas como tema de infindveis dis-cusses tericas. Com efeito, totalmente lcito per-

  • guntar se existe atualmente um conjunto de regras b-sicas e comuns capaz de fornecer, aos prprios tericosdo Espao e aos que dela se servem no trabalho pro-fissional, um campo nico de entendimento a respeitodaquilo sobre o que se quer falar. Estas pesquisas "se-miolgicas" constituem um verdadeiro circo onde cadaum manipula um conceito p'articular que provocar"modelos" cuja utilidade consiste unicamente em exis-tir enquanto tais e mais nada. Em 1974, aps um con-gresso de semiologia em Milo, a considerada revistade semiologia VS 8 publicou um nmero especial comuma "Bibliografia semitica" abrangendo toda a pro-duo sobre semiologia em uma srie de pases, umabibliografia que se confessa ao mesmo tempo ampla erigorosa. Mas se os critrios de rigor tivessem sido real-mente aplicados, ao invs das duzentas e tantas pgi-nas desse nmero, e de outras em nmeros seguintes,se teria talvez uma meia dzia de pginas. Os prpriosorganizadores se- do conta da barafunda conceitualexistente no campo - o que no impede que incluam,em sua relao, obras que se dizem "de semiologia"mas cuja semelhana com esta disciplina realmentemera coincidncia.

    O que se entende hoje por semiologia do espao,semiologia da arquitetura, semiologia do espao arqui-tetural, o que se admite, mal ou bem (mais mal quebem), como constituintes desses corpos de estudo? Semmuito esforo se consegue enquadrar os trabalhos exis-tentes em alguns poucos tipos bem definidos:

    a) trabalhos de inspirao nos mtodos lingsticas eque procuram mostrar as possibilidades de umaanlise semiolgica do espao com (no mximo)uma tentativa de determinar as aparentemente obri-gatrias unidades mnimas significantes e suas cOm-binaes em discursos mais amplos;

    b) trabalhos sobre sistemas de notao da lingua-gem arquitetural (na verdade s possveis depoisde se realizar o especificado no item anterior e que,no entanto, freqentem ente tentam se propor iso-ladamente) ;

    c) estudos da "dimenso verbal" da arquitetura(anlise do contedo da arquitetura atravs da

    identificao de seus anlogos verbais, visando es-tabelecer "gramticas" do espao urbano ou ar-quitetura) ou, em termos mais gerais, estudos so-bre a "representao" do espao arquitetural(atravs de fotos, esquemas, desenhos, quadros,etc) ;

    d) anlise das relaes entre espao arquitetural e oespao grfico-geomtrico (um tipo da espcieapontada acima);

    e) anlise das relaes entre espao mental e espaofsko;

    f ) estudos sobre modificao do sentido, semantiza-o ou dessemantizao do espao arquitetural lo-calizado (praas, ruas, aposentos, etc.);

    g) trabalhos sobre os modos de percepo do am-biente construdo;

    h) estudo dos espaos fsicos e sua utilizao social;

    i ) anlise da obra de arquitetos individualmente COn-siderados, em termos de morfologia e sintaxe (equi-valentes aos antigos "estudos de estilo");

    j) e, mesmo, anlise dos dicursos sobre a arquitetura(e no da arquitetura).

    De imediato se percebe que todos esses itens, menos um, relacionam tipos de obras que nada tm aver com uma anlise semiolgica entendida segundocritrios rigorosos. A maioria se diz (ou recebidacomo) semiolgica simplesmente por tentar uma ma-nipulao do problema do significado em arquiteturaou por falar do espao arquitetural enquanto signo _o que obviamente no basta se se encara o empreendi-mento semiolgico numa perspectiva rigorosa.

    E os trabalhos que seriam mais especificamentesemiolgicos so, na maioria, totalmente inexpressivos,nada trazendo que possa ser aproveitado numa realsem~ologia da arquitetura. Vejam-se por exemplo osescntos de Eco e seus discpulos 9: Eco se indaga s'o-

    9. Ver, por ex., A estrutura ausente As formas do con-tedo, Tratado e semitica geral, todos de u. Eco.

  • bre o que cdigo em arquitetura, se arquitetura ln-gua ou fala, se tem uma, duas ou mais articulaes,e termina sugerindo que os elementos de segunda arti-culao so o ngulo, a linha reta, a curva, o ponto (!)e que os de primeira articulao so o quadrado, o re-tngulo, as figuras irregulares, etc. (!!) De que, mas

    "realiiiente de que, na mais remota possibilidade, adian-ta ao terico ou ao profissional saber que um espa-o arquitetural se formula atravs de combinao entrelinhas e pontos formando figuras, e que uns so osfamosos elementos de segunda articulao e outros, osde primeira articulao? No serve para nada, rigorosa-mente para nada a no ser demonstrar a existncia deuma doena infantil da semiologia! Isso quando nose trata de trabalhos 10 que dizem o que uma lingua-gem, fazem um resumo das teorias de um ou dois au-tores que seriam aplicveis a uma semioJogia da arqui-tetura, dizem que um modelo semiolgico da arquitetu-ra seria possvel por esta ou aquela rpida razo semno entanto chegar, nem de longe, a propor tal mo-delo 11. E mais ainda: perfeitamente lcito ao arqui-teto dizer que no se interessa minimamente pelas pos-sibilidades de seu discurso ser identificado com o mo-delo proposto pela lingstica, que nada lhe diz a pro-posio segundo a qual uma linha um fonema ou quetodo o discurso arquitetural realmente um cdigo. Oque deve lhe interessar na verdade o significado deseu modo de organizar o Espao, a maneira pela qu'ala arquitetura normalmente recebida e sentida (ou

    manipulada) pelo homem e pela sociedade. E aqui severifica que os trabalhos encaixados nO~ itens de c a iacabam por revelar-se na verdade mais teis para o ar-quiteto embora nada tenham a ver com os proble-mas da semiologia propriamente dita. Eqnivale isto aafirmar que para o arquiteto o problema fundamentalest ainda antes em identificar as significaes bsi-cas de seu discurso do que em formular modelos deartkulao dessas significaes. E com isto todo tra-balho de indagao do sentido em arquitetura ser fun-damentalmente pluridisciplinar: a abordagem psicolgi-ca, a sociolgica e a histrica no podem e no devemser evitadas. Ostentar o rtulo segregacionista de "Se-miologia" antes ocultar-se sob um nome (ainda)prestigioso e ocultar uma inoperncia.

    H ainda uma outra razo para deixar de lado aspesquisas ditas semiolgicas, em particular as descritasno item a acima: todo estabelecimento de um modelosemiolgico tem por resultado (quase) inelutvel a fi-xao do discurso analisado em moldes inelsticos.Apreende-se e imobiliza-se o objeto de estudo. E no necessrio ressaltar os inconvenientes dessa soluo:--se perfeitamente possvel admiti-Ia quando se trata de,.analisar uma produo, uma linguagem j imobilizada,. j morta (a arquitetura barroca, a gtica, a arquitetu--ra de Le Corbusier) - quando mesmo instrumento

    10. Por exemplo, o livro de Maria Lulsa Scalvlnl sob opomposo ttulo L'architettura come semiotica connotativa (MI-lo, 1975) e que no prope semitica alguma da arquitetura.

    11. Para o leitor no especializado e no interessado nosproblemas de semiologia explica-se rapidamente que o propsitode multo semilogo (em particular os de extrao da EuropaOcidental) o de demonstrar que um determinado conjuntode signos (como os produzidos pelo espao, ou pela estria emquadrinhos, pelo cinema, pelos gestos humanos, etc.) constltul-se numa linguagem (um repertrio fortemente organizado de sig-nos que se combnam atravs de normas fixas, como nas lin-guas naturais: portugus, francs, etc.) que se estrutura essen-cialmente, conforme a teoria de HJelmslev (Prolgomnes unetnorie du langage, Paris, 1971), atravs da:

    a) existncia de dois planos, Expresso e Contedo. Ex: oprefixo "229" (EXpresso) de uma estao telefnica de Londresequivale ou remete ao Contedo "Bayswater" (uma rea lon-drina) ;

    b) existncia de dois eixos: Sistema (o suporte, a Infra-estrutura do texto a ser lido por um receptor: as normas decombinao) e Processo (o prprio texto que Imediatamentelido pelo receptor: uma seqncia de gestos do corpo humano, asformas e cores de uma tela, etc.);

    c) propriedade de comutao: relao entre duas unidades deum mesmo plano da linguagem, que est ligada a uma relao entreduas unidades do outro plano. Por exemplo, duas unidades doplano da expresso "687" e "405" (prefixos de estao telefnica) e

    duas unidades do plano da expresso "Museum" e, "Holborn". Entreessas unidades existe um relacionamento tal que se "687" forsubstitudo por "405", "Museum" ser substitudo por "Holborn";

    d) as propriedades da reco e combinao (relaes bemdefinidas entre as unidade lingsticas). H reco quando umaunidade Implica a outra, de modo tal que a unidade Implicada condio necessria para que a unidade que a Implica esteja pre-sente. Por exemplo, em latim uma certa preposio Implica queo nome a seguir esteja no ablativo (e se este estiver no ablatlvo. aproposio que o precede deve ser de determinada espcie). Damesma forma, num determinado semforo a presena do amareloImplica que o verde ou o vermelho o precedeu ou se lhe seguir(assim como a presena de um verde oU um vermelho implica queum amarelo o precedeu ou se lhe seguir). H combinao quandoduas unidades se relacionam sem que haja reco;

    e) a no-conformidade. Numa verdadeira linguagem, podeocorrer que determinadas unidades de um plano no encontremuma correspondncia no outro plano; numa falsa linguagem, essacorrespondncia existe sempre: por exemplo, na chamada linguagemdo semforo - que no o - toda expresso "amarelo" tem umcontedo "ateno", bem como todo contedo "siga" tem uma ex-presso "verde", etc.

    Diz-se ainda que uma linguagem formada por signos (ou mo-nemas: as menOres unidades com significado prprio, como qualquerpalavra das lnguas naturais: "gato") e. mais especialmente, porfiguras que articulam os signos (ou fonemas, unidades sem signi-ficado especfico, como d, m, p), conhecidas respectivamente comounidades de primeira articulao e unidades de segunda articulao,de modo tal que os monemas se formam atravs da artlculao dostonemas (g,a,t,o = gato) e a articulao dos monemas propeentidades maiores como os sintagmas. Essas sucessivas articulaescompem O discurso que se oferece ao receptor.

  • precioso de estudo -, ela de todo indesejvel se setrata de entender uma produo em processo, que sefaz neste instante, que no s atua ainda e efetivamen-te como quer se modificar. Neste caso, embora sejaimpossvel deixar de partir do signo (de modo maisparticular, do significante), a ateno maior se volta-r obrigatoriamente para o Interpretante (noo pro-posta por Pierce e ainda largamente ignorada pela en-sastica europia, em especial a francesa), i. e., os re-sultados causados pelo signo na quase-mente que o Intrprete. Vamos sair portanto do campo estreito dalgica, da lingstica, do formalismo dos modelos pre-determinados, extravasar os limites de uma metodolo-gia imperialista e seguir um mtodo que se elabora cria-tivamente de acordo com as necessidades do conjun-to sgnico a ser abordado. Um processo que retire deonde for conveniente o material necessrio; emboraprocura de um sentido, escavao numa semitica (poisos signos do Espao efetivamente propem uma semi-tica), a indagao ser aqui praticamente, no sen-tido expresso, anti-semitica.

    O que no significa que a anlise ser disper-siva, inorgnica, "impressionista". Pelo contrrio: queela parte igualmente de um outro ponto segundo oqual necessrio estabelecer um quadro geral, amplo,quando se fala de espao arquitetura!. Com efeito, sain-do do campo das abordagens semiolgicas ou "semio-lgicas", que ostentam uma excessiva preocupao deordem e um excessivo reducionismo, proliferam as abor-dagens de cunho psicolgico, sociolgico etc. que estu-dam cada uma aspectos no pouco importantes queno entanto no conseguem se encaixar cOm os prove-nientes de pesquisas paralelas na formao de um qua-dro unitrio; essa articulao nunca se produz, e o ana-lista da arquitetura no consegue jamais formar sua frente um quadro geral de seu objeto, onde cadaparte remeteria organicamente a uma outra. Depara-se apenas com uma SOma imensa de dados importan-tes mas que, pela falta de organicidade, resultam ino-perantes. Por que no se forma esse quadro global?Pelo fato de no se contar ainda com uma espinha dor-sal do espao arquitetural ,claramente definida a orien-tar os trabalhos e delimitar o campo de ao. Essecampo est delimitado, por exemplo, na matemtica:todo investigador sabe aqui de onde partir, o quefoi feito, o que pode ser feito, discerne claramente os

    nveis de anlise. O mesmo acontece em disciplinasmenOs rgidas aparentemente, porm de estrutura igual-mente definida, como a prpria lingstica. Mesmo nabarafunda que o campo psicolgico, o objeto de estudoj tem seus grandes eixos pelo menos demarcados. Coma arquitetura no assim. Usando um conceito dateoria da linguagem, o que, afinal, pertinente emarquitetura, o que efetivamente essenGial e se distin-gue do acessrio, o que bsico? Como se viu, Luratpor exemplo tentou apontar a coluna vertebral, a estru-tura bsica, imprescindvel e suficiente da arquiteturaquando a definiu comO "volume, superfcie, espao, luz".Se se seguisse sua demonstrao, seria possvel e neces-srio assim estudar, por exemplo, cOmo o homem sen-te tais e tais volumes, como se movimenta em deter-minadas superfcies, como tal luz se combina com talvolume, etc. Mas se sua desGrio uma das primeirasa tentar essa operao de delimitao do essencial emarquitetura, ela ainda , como se viu, inadequada, in-completa. No identificando, erroneamente, a arquite-tura com o espao, a questo ainda tem de ser colo-cada e respondida: o que pertinente para o espaoarquitetnico?

    E~t~ trabalho tentar portanto essa demarcao e aproposlao de um esquema definidor do Espao arquite-tural capaz de se apresentar como uma linguagem co-mum de anlise e reflexo. No ser esta uma anliseexaustiva, no entanto: se colocar ao nvel do mais am-plo possvel de modo a delimitar apenas (e no es-miuar), em 'Gonformidade com um princpio funda-mental do procedimento semiolgico, um primeiro tex-to de anlise que seja to extenso quanto possvel (nahorizontal), to abrangente quanto possvel, emborapermanecendo simples, a partir do qual seja possvelaprofundar na vertical a anlise at, eventualmente, es-got-Ia. Os princpios a reger a teoria exposta nesta se-o sero dois, como sugere Hjelmslev: a teoria cons-tituir um sistema dedutivo puro (no sentido em que a teoria, e s ela, que permite e determina o clculodas possibilidades resultantes das premissas que elacoloca) e, segundo: que as premissas enunciadas nat~ori~ so aquelas das quais o terico sabe por expe-nncla que preenchem as condies neGessrias para aanlise e que so to gerais quanto possvel de modoa serem aplicveis a um grande nmero de dados daexperincia.

  • Enunciados os princlplOs norteadores, que pontode vista adotar para a formul'ao dessas premissas ge-rais e to amplas quanto possvel? O fornecido pelaTeoria da Informao o adequado. Conforme pro-pe essa disciplina 12, o pro;;esso mais simples do co-nhecimento humano e, simultaneamente, da manipu-lao da informao aquele baseado na oposio bi-nria Sim x No (1 X O, aceso X apagado, etc.): umacoisa ela mesma ou seu contrrio. No cabe aqui eagora demonstrar a validade dessa proposio geral,bastar talvez lembrar que efetivamente toda informaorecebida por um sujeito por este entendid.a, (e s entendida deste modo) num primeiro instante, em opo-sio com aquilo que essa informao exclui, num pro-cesso freqentem ente inconsciente. Se digo "Hoje quinta-feira", o sentido dessa informao percebidoinicial e automaticamente pelo receptor cOmo sendo"Hoje no nenhum outro dia da semana". O primeiroprocesso sempre de excluso por oposio. A propo-sio "Uma abordagem matemtica do objeto estti-co" significa antes de mais nada que "No se trata deuma anlise potica (ou outra que se convencione comooposta matemtica) do sujeito esttico", ou mesmo" . " do sujeito funcional" (admitindo-se, apenas paraargumentar, que "esttico" e "funcional" se opem).A oposio binria realmente a mais simples, emboraexistam sistemas que se desenvolvem a partir de oposi-es com maior nmero de elementos (sempre, po-rm, com base em alguma oposio). Por exemplo, osistema lingstico: uma palavra s possvel, e s reconhecvel, atravs de um jogo de posies e oposi-es: a unidade com significado prprio e ntegro, gato,s reconhecvel graas articulao dos fonemas, g,a, t, o que nada significam a no ser que g se ope ad, b, f e qualquer outro dos demais 22, o mesmo acon-tecendo com a, t, o (eventualmente, tambm a posioter algum valor significativo: o primeiro s de casas distinto do segundo s, indicando este um valor nu-m;;o e o primeiro apenas uma oposio).

    O ponto de vista portanto ser o de proceder deincio a oposies binrias - embora se tenha plenaconscincia das limitaes e inconvenincias desse m-todo que, no campo das cincias humanas, conduz ine-vitavelmente a erros e deformaes quando aplicado

    sistematicamente e de modo absoluto. Com efeito, aoposio binria (base da lgica aristotlica) supe-rada (especialmente nas di&dplinas humanas, mas nos nelas) pela lgica dialtica. Aqui, um enuncia-do como "A A e no B" inteiramente insuficientee inadequado, pois A nunca A e nunca B, A Aem funo de B na direo de um C, e assim por dian-te. Mas para os propsitos declarados deste estudo (ge-neralidade e simplicidade) esse processo deve bastar:ele s intervir na determinao dos pares de opostosque formaro os eixos organizadores do sentido do Es-pao (na elaborao do modelo final, portanto) que, aoserem analisados, re;;uperaro toda sua complexidadee riqueza. Esse mtodo simplesmente constituir, cOmoressaltado, o momento inicial da anlise.

    Como escolher, agora, os elementos que formaroas oposies?~-I.3 . Eixos organizadores do sentido do espao

    I . 3 . I . 1.o eixo do espao arquitetural: Espao Inte-rior X Espao Exterior

    De incio, h uma grande tentao no sentido deestabelecer esse quadro delimitatrio do Espao na ar-quitetura a partir de um dado "imediato" do pensamen-to arquitetural: quando se pensa arquitetura, pensa-senas trs dimenses. Para Focillon 13, por exemplo, noh dvida alguma que as trs dimenses so a prpriamatria da arquitetura, sua substncia mesma. E no difcil encontrar, desde os autores clssicos da Antigi-dade at os ensastas mais modernos, uma colocaosegundo a qual o que distingue a arquitetura das ou-tras artes exatamente a manipulao das e nas trsdimenses reais - sem que esse raciocnio parea sedar onta de que igualmente a escultura, por exem-plo, uma operao realizada nas mesmas condies.

    Este privilgio das trs dimenses no se justificae deve ser evitado, e no apenas por esta ltima razo:o que se tem de ressaltar que ele se baseia num pontode partida no fundamental para a arquitetura (comose discutir mais adiante) e que, quando nela apa-rece, o faz apenas num segundo momento, a saber,no pensamento geomtrico. A geometria, a representa-

  • o geomtrica ser mesmo essencial a todo pensamen-to analtico (e a arquitetura uma forma desse pen-samento), mas deter-se nela e partir dela para definiro espao arquitetural e a arquitetura no descer sbases mesmas do pensamento sobre o Espao que, ape-nas numa segunda operao, ir requerer ou no a es-quematizao geomtrica. Esta compor me~mo um doseixos constituintes da linguagem da arqmtetura, maspor si s insuficiente para defini-Ia.

    O ponto de partida adequado ser determinado pelamanipulao dos dados fornecidos pela antropologia, ede imediato se constitui o primeiro eixo de oposiesda demar;:.:ao do espao arquitetural: Interior X Ex-terior. O confronto entre ambos e a passagem de umEspao Interior para um Espao Exterior constitui real-mente a noo e a operao de manipulao do Espa-o mais importante para o homem, desde os primeirostempos pr-histricos em que a sociedade n~m mes-mo existia. Quer no plano estritamente matenal (pro-teo contra o tempo, as feras e os outros homens)quanto num plano psicolgico e social: analisando da-dos fornecidos pela antropologia e querendo explicaros tabus em termos de psicanlise, Freud 14 insiste jus-tamente no valor dessa conscincia precisa de um Es-pao Exterior e um Espao Interior para os povos"primitivos", mesmo aqueles que mal se constituamnum grupo so:.:ial.H sempre, nessas "sociedades", umasrie de indivduos que por razes variadas devemmanter-se (por norma impositiva incontornvel) em de-terminados Espaos interiores Ou exteriores: em certosgrupos, o jovem de uma certa idade no penetra noEspao Interior onde esto a me e/ou as irms (tabudo incesto: impe-se o afastamento para evitar p. ten-tao da violao); a mulher menstruada, em outrosgrupos, tabu e deve permanecer em determinadosEspaos Interiores, a~astada dos outros, e ? mes~oacontece com o guerreiro que mata um adversano: aposo combate o vencedor ou no pode entrar em certosEspaos (s vezes no pode penetrar na rea da co-munidade, ficando no mato adjacente) ou sair de cer-tos Espaos. Idem em relao figura do prprio rei,quase sempre movend~-se em Espaos, ~nteriores!. etc;E ainda hoje se podena apontar resqmclOs (e nao soresqucios) dessa oposio Interior X Exterior: aburocracia, a religio, a diviso em classe sociais no

    faz mais do que manifestar-se constantemente atravsdessa oposio.

    Como se coloca a arquitetura com relao a esseeixo? Privilegia ela um ou outro desses dois terminais(i. e., define-se ela por um ou por outro deles) ou, aocontrrio, s pode ser entendida como relacionando-se a ambos simultaneamente? De incio, necessriorechaar a tendncia que ,:.:onsisteem considerar essaquesto como ingnua e j solucionada e, em particu-lar, a tendncia para considerar o Espao Interior comoo domnio da arquitetura e o Espao Exterior cOmopertencendo ao urbanismo. Pelo contrrio, essa questosempre esteve e continua em p na Teoria da Arqui-tetura.

    Existe efetivamente uma tendncia acentuada nosentido de atribuir arquitetura a preocupao primeirae fundamental de lidar com o Interior (falando-se aquino apenas do Interior e Exterior como dois elemen-tos distintos - ex.: rua = exterior; casa = interior -mas como dois aspectos de um mesmo elemento, ex.:a parte interior e a parte exterior de uma e mesmacasa). Em considerar que o interior a real substnciade uma coisa, de tal modo que quando se pensa emdefinir a substncia da arquitetura s se pode dirigirpara o Interior. E essa inclinao no exclusiva dopensamento arquitetural: est por toda parte. Bache-lard 15 analisa longamente essa espcie de valorizaointuitiva e onipresente do interior e que seria, s~gundoele, uma das caractersticas do esprito pr-cientficopara o qual o interior de uma coisa sua essncia, suaverdade, sua natureza e seu destino ltimos. E tenta-se mesmo justificar esse ponto de vista recorrendo-sepor vezes a analogias que se querem, estas, cientficas:a verdade do homem no estaria em seu interior, emsua "alma", ou em seu incons:.:iente enfim, em algo queest l dentro? Na verdade, a analogia no se susten-ta, e o pensa[ijento "interiorista" antes um pensa-mento mstico, um pensamento mgico, um pensamentodo misterioso: o interior , desde o surgimento do ho-mem, a sede de mistrios insondveis, impenetrveis emesmo aterrorizantes. Bachelard fala das formas sob asquais esse medo do interior (e por conseguinte sua va-lorizao, ou vice-versa) continua a persistir e se ma-nifestar: a atrao receosa pela gaveta, cofres, arm-

  • rios ou, o que interessa para a arquitetura, pelos poresdas ,casas (depsito de fantsmas, alucinaes e culpas- a literatura policial abunda em "mistrios de poro")e pelos cantos. : possvel mesmo encontrar na colo-cao psicolgica de Bachelard a explicao das ra-zes (seno a explicao) do enfoque que consiste emconsiderar a arquitetura como manipulao do EspaoInterior:

    terior, o que no aconteceu nem no Romnico, nemna arquitetura grega e tampouco na construo monu-mental egpda, nas quais impera ou uma acentuada di-ferena entre Exterior e Interior (na primeira) ou mes-mo uma disparidade gritante (nas outras duas).

    Essa tendncia, que vem tona e simultaneamenteatinge o auge no Gtico, ainda se verifica (em graumenor) na Renascena e no Barroco (momentos emque se coloca de maneira ntida o problema da "facha-da"), quando cOmea a declinar para, salvo momentosisolados (alguma art l1ouveall, produes dos grandesnomes como Le Corbusier ou Lloyd Wright COm seuexemplar Museu Guggenheim de New York, mais umcaso de identidade perfeita entre Exterior e Interior),ser atualmente substituda por uma arquitetura essencial-mente "de Exterior", seja o que for que pretendam di-zer os adeptos da teoria Forma X Funo (ver cap-tulo seguinte), ou seja, uma arquitetura que se dedicade maneira especfica "fachada" e que coloca em se-gundo plano o pensamento do interior ou onde, de qual-quer forma, inexiste a identificao Exterior-Interior,rompida em privilgio do primeiro.

    Como se coloca afinal a arquitetura em relao aoeixo Espao Exterior X Espao Interior, qual o Espaoque efetivamente define, aqui, o pensamento arquitetu-ral? : necessrio, de incio, repelir as proposies dosque se recusam a tomar conhecimento do problemaafirmando que impossvel determinar-se, situar-se emrelao a esses termos por se tratar de noes relativas,e duplamente relativas. Relativos um em relao aooutro (no pode haver interior sem exterior, diz Bou-don 19, e se a arquitetura interior, como pode con-tinuar a ser arquitetura sem um exterior?) e relativosconforme o observador se coloque no plano da casa ouda cidade: aqui, com efeito, a fachada (elemento exte-rior da casa) na verdade elemento interno (inerente) casa, s podendo ser considerado exterior casa aqui-lo que est afastado dela, i.e., a praa, a rua, o espaocoletivo.

    Essa objeo se supera atravs da utilizao, deincio, dos prprios termos de sua colocao: de fato,no h exterior sem interior e vice-versa. Quando com-parados um em relao ao outro, se deveria falar antesem complementao: so como as duas faces de umamoeda, e se faltar uma a moeda no pode existir. Mas

    ... todo canto numa casa, todo .arito num quarto, todo espa-o reduzido onde gostamos de nos agachar, de nos voltarmossobre ns mesmos , para a imaginao, uma solido, i. e., ogerme de um quarto, o germe de uma casa 16 (o grifo meu).

    ... o canto um refgio que nos assegura um primeiro valordo ser: a imobilidade 17.

    Conhecemos a seqncia: enquanto refgio, imo-bilidade, tranqilidade, o canto (i. e., a casa) a re-produo do primeiro abrigo humano, o tero mater-no, e por conseguinte a arquitetura, expresso perfeitada imobilidade, se decidiria por uma das pontas doeixo: o Interior. E assim tem sido efetivamente atravsdos sculos: desde a concepo de uma casa egpcia(no de um templo egpcio) da xx dinastia (aprox.1198 a.C.), passando pela casa pompeana (79 d.C.), ato perodo romnico (sculos XI, XII) obedeceu-se a essaorientao de manipular por excelncia um Espao' In-terior concebido cOmo oposio ao Exterior e com oqual se procurava uma proteo necessria - quem vo muro liso e exterior (annimo, agressivo) de umacasa pompeana incapaz de imaginar a tranqilidade, aintimidade (a imobilidade) interior.

    Mas, o "misticismo interiorista" j foi identifica-do, combatido e superado pelo menos na filosofia, de-pois do longo perodo de obscurantismo platnico eescolstico: parafraseando Lenin, por exemplo (que noestava fazendo um mero jogo de palavras, embora porcerto tinha em mente uma inteno jocosa) inques-tionvel que a aparncia essencial, ao mesmo tempoem que o essencial aparece 18. Fato que comea a semanifestar na arquitetura a partir do Gtico, quando oexterior de uma catedral um reflexo fif'l de seu in-

    16. BACHELARD,p. 30.17. Idem, p. 131.18. Em termos de arquitetura, Le Corbusler diria que "o exte-

    rior sempre um outro Interior".

  • a oposlao mencionada continua existindo, e s podeser superada (quer se trate 'de uma casa, quando sefala em interior enquanto oposto fachada, quer setrate da oposio casa = interior versus no-casa (rua,etc.) = exterior atravs de um jogo dialtico entre essesaspectos. No uma dialtica concebida enquanto con-flito simples, mas enquanto jogo combinatrio consis-tente em partir simultaneamente de uma e outra dessasduas noes para super-Ias ao mesmo tempo. Na ver-dade, se dir que, seja como for, a arquitetura o dom-nio da imobilidade real, e que se v mal como poss-vel combin-Ia com o jogo dialtico, dinmico por na-tureza e adequado aos processos humanos: este umproblema de peso, mas pode ser contornado, ou podeter um comeo de soluo atravs de uma concepoque no mais receba esses limites (o do Interior e odo Exterior) como barreiras, marcos definitivos 20. Ecom isto se repele tambm a segunda parte da objeolevantada, referente relatividade do ponto de vista(casa ou cidade): a oposio dialtica tambm aquideve ser, com toda evidncia, posta em prtica e aboli-das as barreiras definitivas entre a casa e a cidade. En-tenda-se bem: abolir muitas das barreiras, porm notodas elas; no h dvida nenhuma sobre a validadeda afirmao segundo a qual, psicolgica e biologica-mente, o homem 21 precisa gozar de uma intimidade, deum isolamento dos outros por um certo nmero de horasdirias, e sob esse aspecto a casa enquanto refgi uma necessidade - por outro lado, igualmente no restadvida que o estado democrtico (supondo que no hajaaqui uma contradio nos prprios termos) s pode seimplantar quando (no apenas nesse momento, eviden-temente: mas a as condies para essa implantaosero amplamente favorveis) se abolir o carter dis-cricionrio com que se reveste o uso dos Espaos Inte-riores e Exteriores, uso que continua a existir ainda sobmuitas formas idnticas ou assemelhadas s postas emprtica nas sociedades ditas "primitivas" antes men-cionadas.

    estudando-se tambm urbanismo; a seguir transforma-ram-se em fac~ldades de arquitetura e urbanismo, for-mando-se arqUItetos de um lado e urbanistas do outroi.e., especialistas, peritos. Ora, a especializao no s~admite aqui, pelo que se acabou de dizer mais acima:a. s~parao d~s conhecimentos s pode conduzir opo-slao casa x Cidade que se tem de evitar a todo custo.A soluo? H j alguns anos Bruno Zevi fala numanova disciplina (ou, pelo menos, num novo termo), aUrbatetura. O nome feio, por certo (seguramentefoi escolhido por excluso: algo como "arquibanismo"seria realmente intolervel!), mas a denominao defato pouco importa: o que interessa mesmo percor-rer todo o caminho de volta at a Renascena e tentarcontar de novo com homens que pensem a cidade semse esquecer que ela feita de casas, e que proponhamcasas integradas malha coletiva - tal COmopropunhaum nome talvez j desconhecido pelos arquitetos Mi-chelngelo. '

    E a respeito da dialtica casa x cidade necessrioobservar ainda um ponto: at quando se suportar adistino arquitetura e urbanismo? Conhece-se a hist-ria: no comeo as faculdades eram s de arquitetura,

    To ou ainda mais importante do que ser capazd.e_identifi~ar, formular e resolver o problema da opo-s~ao Intenor X Exterior conhecer o significado pre-CISOdessas noes, sem o que alis esse equacionamen-to impossvel ou inadequado.. Qual o significado que se atribui ao Espao Inte.nor e ao Espao Exterior ou, em outras palavras, comose percebe um Espao Interior e um Espao Exterior?Os primeiros ~a~os. vm outra vez da antropologiacultural e de dISCiplInas que dela se alimentam, como.a proxmica (definida por Hall22 como o conjunto dasobservaes e teorias referentes ao uso que o homemfaz ~o. espao enquanto produto cultural especfico) ea ek.lstl~a (termo proposto pelo arquiteto grego C. A.DoxIadls para designar o estudo dos modos de estabe-lecimento humanos).

    ~ primeira noo da importncia fundamental que seextrai desses estudos a que diz respeito aos diferentesusos que se faz de um certo espao e aos diferentes senti-dos que se atribuem a esses espaos conforme a cultura(o grupo social em questo) e a poca. Uma mesma dis-

    20. Algumas possibilidades de execuo desta alternativa sodiscutidas mais adiante, na anlise dos demais eixos propostos.

    21. Particularmente o ocidental mdio.

  • posio espacial, interior, o~ ~xterior, pode ser recebidade modos inteiramente dlStlOtOS (e mesmo opostos) pordois indivduos de culturas diferentes, noo que se deveter sempre em mente e que ainda uma vez vem lem-brar o fato (pois lamentavelmente parece ser sempre .econtinuamente necessrio faz-Io) de que cabe ao arqUi-teto e ao urbanista a pesquisa precisa dos sentidos doespao reconhecidos em seu pas ou ~ultura. antes d.epropor sugestes arquitetnico-urbanstlcas seJ~m qua,lsforem. Por mais bvia que seja esta observaao (e elao sob mais de um aspecto), ela no seguida nemde longe pela maioria dos praticantes de arquitetura, nos os de hoje como os de quase to~os os tempo,s: acultura itlica prope uma forma aqUltet~ral no ,seculoXVI e dois sculos mais tarde se tenta Implanta-Ia (ese implanta) na Frana ou nos Estados l!nidos; a arq~i-tetura inglesa transplantada para o Egito; as soluoesamericanas so seguidas ao p da letra u~ pouco portoda parte atualmente - sem que o, arqUIteto nem a.omenos se d conta das profundas diferenas cultur~ISentre o modelo que est seguindo (por moda, comodiS-mo etc.) e a realidade sobre .a qual tentar i~po: ess~modelo (e freqentemente aSSim age de modo mgenu.oe sem segundas intenes - se existisse isso em S?~lO-logia) provocando normalmente n? ~penas. modifica-es esprias e equvocas em sua propna socled~de (nomodo de comportamento, nas :xpres.se~ ~ulturaIs etc.)como inclusive srias perturbaoes pSlcologlcas nos .usua-rios desses espaos. Alguns poucos casos compiladospor Hall confirmam amplamente esses contrastes cultu-rais que devem necessariamente ser levados em conta:basta pensar, por exemplo, que na ca~a .ocidental emgeral a disposio interna das paredes e fIxa, e~quantoque na morada japonesa (p.elo menos na tradiCional)as divises so sempre semlfIxas. Ou q~e normalmen~eno se ocupa o centro de um aposento mterno no .OCI-dente (salvo simbolicamente, com um pequeno objeto,preferindo-se dispor os mveis s~bretudo ao :ongo ddsparedes), enquanto qu~ no Japao a ocupaao de u.:nespao interno comea Justamente pelo .centro - .raza~pela qual a um j?pons u~a sala OCidental 'pareceraessencialmente vazia por maiS atulhada que esteja.

    E as diferenas persistem mesmo considerando-seuma nica cultura em pocas distintas: na Frana at osculo XVIII os cmodos de uma casa no tinham fun-

    es absolutamente fixas (isto, naturalmente, nas casasdas camadas mais abastadas onde a multiplicidade deaposentos era possvel) com a conseqncia fundamen-tal de que os membros de uma famlia no podiam iso-lar-se individualmente, como hoje. Funes como comerou dormir no eram exercidas necessariamente no mes-mo lugar, continuamente, e as pessoas estranhas casaatravessavam normalmente "salas de comer" ou "quartosde dormir" (com ou sem ocupantes) sem maiores ce-rimnias. Isso visvel num caso mximo, o Palciode Versailles, onde os aposentos se sucedem em linhareta sem corredor que leve de um a outro (que, por con-seguinte, isolasse um do outro): para passar do aposen-to n. 1 ao de n. 3 no h outro caminho a no ser atra-vs do, pelo meio do n. 2, a menos que se d a voltano prdio e se entre pelo outro lado, quando ento, parachegar ao mesmo n. 3, incontornvel a travessia don. 4 etc.! E se fato que rei e rainha possuam apo-sentos especiais, separados de uma ala mais "pblica",no menos verdade que tambm estes se dispem damesma forma, por um lado, e que por outro lado osaposentos "no-reais" se sucediam sem ordem fun-cional, de forma que para se chegar a uma ala de re-cepo era necessrio atravessar uma biblioteca ou mes-mo um quarto "de dormir" de algum eventual hspedereal. Alis, esse carter de "publicidade" dos aposen-tos internos de uma morada magnificamente bemilustrado por Rosselini em seu filme sobre o Rei-Sol (Atomada do poder por Lus XIV) onde se v (com baseem exaustivas pesquisas histricas), por exemplo, a cria-da de quarto dormindo efetivamente no quarto do rei(da a denominao "criada de quarto") que s tinha asepar-Io (e a sua companheira de cama) da criada o'tecido circundante do leito, guisa de cortina; ou o des-pertar das figuras reais sendo presenciado (assistido naextenso do termo, como se assiste a um filme) porpessoas da corte que penetram na cmara e vem asprimeiras ablues do rei, etc. Ser apenas a partir dosculo XVIII que os cmodos (especialmente os quar-tos) passaro a se dispor ao longo de um corredor parao qual abrem suas portas, COmo as casas em relao rua. Nesse momento efetivamente se pode dizer, comBachelard, que o canto o germe de um quarto, que o germe de uma casa: at essa poca, o imaginrio dasolido e do recolhimento era essencialmente diferente, e

  • se poderia dizer apenas que o anto era o germe da casa,sem a etapa intermediria. Esse aspecto de "publicida-de" no interior de uma casa pode realmente ser cons-tatado em mais de um caso na histria da arquitetura: ascasas pompeanas, por exemplo, tm "quartos" sem portaalguma, e embora no se tenha de atravess-Ios para pas-sar de uma pea a outra (a circulao se faz por uma"ala" exterior aos quartos, normalmente contornando emquadriltero o jardim central), seus ocupantes ficavaminteiramente expostos visitao dos estranhos casae dos outros membros da famlia.

    Estas constataes impem que se reconhea umoutro eixo fundamental de organizao do Espao naarquitetura, decorrente do primeiro e que deve ter seussentidos especificamente determinados conforme a cultu-ra e a poca: o eixo Espao Prixado X Espao Comum(ou Espao Individual X Espao Social, embora a pri-meira denominao seja mais genrica e portanto devaser a preferida). Para o arquiteto o problema que se colo-ca aqui, de modo especfico, o de saber como, numa da-da cultura, se percebe um Espao como sendo Privado ecomo se percebe um outro Espao como sendo Comum,i.e., quais os limites de um e outro, at que ponto umespao pode ser estendido sem se ferir os Espaos Pri-vados, at que ponto estes aceitam e permitem aqueles.Considerando-se por um lado que o homem ocidental,de modo particular, valoriza ainda hoje, em termos ge-nricos, a possibilidade de recolhimento individual, deisolamento (peridico e delimitado, porm isolamento)e, por outro lado, os desequilbrios psquicos resultantesda convivncia forada e da promiscuidade, fcil com-preender a importncia desse eixo para a prtica da ar-quitetura. Os exemplos de Hall poderiam ser repetidos exausto: o alemo valoriza particularmente o cmo-do fechado (por conseguinte, valoriza a porta fechadae, essencialmente, a existncia da porta), enquanto oamericano se sente vontade num cmodo aberto ou,pelo menos, no se perturba por estar nessa situao(neste caso, admite a porta aberta ou, essencialmente, aausncia de porta), num conflito que parece ser par-ticularmente sentido nas filiais americanas de compa-nhias alems ou nas filiais alems de companhias ame-ricanas. O alemo necessita da porta fechada para sen-tir-se vontade, para se concentrar e produzir enquantopara o americano essa no uma necessidade imperio-

    sa, do que resulta para o alemo que se movimenta emambientes de portas abertas a sensao de uma atmos-fera "pouco sria" e, para o americano forado a vivera portas fechadas, a impresso de um alheamento sua pessoa, de uma esnobao ou mesmo de uma "cons-pirao" contra ele. No difcil agora entender osucesso ou a aceitao do famoso edifcio de escritriosde F. Lloyd Wright, o The LarkinBuilding (Bufallo, NewYork, 1904), onde estes "escritrios" no so mais doque mesas que se dispem volta de um poo internona forma de um quadriltero central, numa sucesso deandares no vedados por paredes, de tal forma que todosse vem no s num mesmo andar (a viso livre nos para os espaos imediatamente prximos como tam-b~m para as mesas situadas nos outros lados do quadri-latero) como em todos os andares (trs ou quatro), po-den~o todos serem vistos ao mesmo tempo por um su-pervI~or, se for o caso. Um projeto desse tipo seriarepelido de modo natural no s na Alemanha comona Inglaterra - repelido pelo menos pelos usurios dosescritrios; mas, como um projeto com uma conotao.ideologicamente lamentvel pois nele o princpio queImpera claramente o da vigilncia ("superviso" otermo moderno), receberia todo o apoio dos interessa-dos num controle absoluto do rendimento do trabalhohumano. Por outro lado, tudo indica que essa disposi-o no seria em princpio recusada pela cultura italia-na, onde os indivduos no apenas se expem mais apreenso visual dos outros como no se importam queestes se apropriem de suas opinies e pontos de vista: otom de voz utilizado em qualquer conversa considera-velmente .ele':,ado, exatamente o oposto, por exemplo, docostume mgles e de dominar a voz para que ela alcanceapenas e to-somente o interlocutor especfico (o mum-bling, considerado mesmo, na Inglaterra, indcio de boaeducao).

    Poderia igualmente ser recebido como projeto abso-lutamente "normal" na Repblica Popular da Chinaonde a noo do Espao Comum predomina am-plamente sobre a de Espao Privado - e de formamuito mais acentuada ainda. Interessante ressaltar a res-peito da China - para evidenciar a importncia do modode disposio e uso do Espao na formao de umacultura e uma ideologia - um dado normalmente nolevado em considerao pelos analistas polticos e cuja

  • inobservncia d margem a uma srie de equvocos sriose lamentveis: se uma ideologia como a marxista pdeser posta em prtica na China foi porque ela j encon-trou nessa cultura um conjunto de elementos de nature-za semelhante aos por ela defendidos e contra os quaisela no teve de entrar em conflito. E a maior partedesses elementos esto justamente no modo de organi-zao e utilizao do Espao, possivelmente um dos pri-meiros traos a determinar o tom geral de uma cultura.Efetivamente, na China sempre foi comum, em todos ostempos anteriores ao aparecimento de Mao, um modode vida do tipo, em tudo e por tudo, coletivo: desde aorganizao do trabalho no campo, passando pelos mo-dos de usufruir o tempo livre nas representaes teatraisou nas tavernas, at o costume de dormir em conjunto,membros de uma famlia ou no, no s no mesmo apo-sento como sob a mesma coberta, a norma (o ".normal") a vivncia num espao comum (no s na China, alis,como no Japo e, de modo geral, em todo o Oriente).No de se estranhar portanto, pelo contrrio, que ascomunidades familiares de trabalho ou lazer hoje postasem prtica na China tenham sido rapidamente aceitas:elas no se chocavam com a cultura tradicional dopovo e, antes, encontraram na prtica comunista umreflexo organizado e diretivo desse padro de compor-tamento. J o mesmo no parece ter-se verificado naRssia, onde o fracasso mais ou menos profundo ecertas diretivas comunistas iniciais (como atesta o apare-cimento, em larga escala, dos incentivos ao trabalho, como ressurgimento de distines econmicas e sociais entreos membros da classe social: um dirigente ganha substan-cialmente mais do que um operrio qualificado e podepossuir "seu" carro; um operrio que produz mais recebemais do que outro e pode traduzir esse mais na possede objetos cuja funo nitidamente a de individualizarseu possuidor, etc., todas elas prticas enfim do chamado mundo ocidental e burgus) indica claramente que opapel do "comum" na sociedade russa pr-revolucion-ria no era nem de longe o mesmo existente na Chinaanterior dcada de 40, e que essa sociedade russainclinava-se acentuadamente na direo do "privado".

    Estas observaes sobre o segundo eixo definidordo Espao arquitetural coloca o arquiteto-urbanistadiante de um duplo problema: primeiro, o de determinaras significaes que assumem para os membros de uma

    cultura cada um dos terminais do eixo (Espao Privadoe Espao Comum) e saber na direo de qual deles"tende" a prtica ~ocial desse grupo. Em segundo lugar,resolver essa opOSio do mesmo modo como se resolvea primeira e todas as que se seguiro, i.e., atravs deum jogo dialtico entre Comum e Privado. Se foi ditomais acima que a manipulao dessa oposio funda-m~ntal para evitar-se, por exemplo, desequilbrio ps-~ll1?OS resultantes da falta de espaos ntimos (desequi-hbnos que parecem aumentar com a sempre maior ex-ploso demogrfica e a resultante diminuio de 4rea evolume para 3S pessoas), no resta a menor dvida,como j concluram disciplinas como a sociologi

  • a proximidade aparente dos vizinhos (freqentementenada aparente, pois o vizinho penetra no e~pao do outrocom o som de seu aparelho de TV, su~ vitrola o~ mes-mo sua voz atravs de paredes excessivamente fmas esem isolam~nto acstico, por indesculpveis razes derendimento econmico - e o canal sonoro justamenteaquele pelo qual mais se sente a }nva~o de um estranho,pois o homem no pode controla-l~ a sua vontade comofaz com a viso, por exemplo) leva Justamente a proc~rarum afastamento em relao a eles. Para outros, a Sl~-pIes viso da porta "do o~tro" j constitui. uma barreiraque se estabelece automaticamente: a respeito, ~~chel~r~observa que s um indivduo extremamente loglco dlraque uma maaneta serve ~an~opara fechar como paraabrir, e isto porque para a malOna das pessoas uma ma-aneta "naturalmente" abre muito mais do que fecha, domesmo modo como uma chave fecha muito mais do queabre; que dizer, neste caso, da viso de uma. po.rt.a.comuma nica maaneta e as vrias fechaduras mdlClms demedo, insegurana, vontade de proteo e afastamento?O nico problema com esta observao de Bachelard(justificada sob mais de um asp~cto) saber as culturaspara as quais uma maaneta mms abre do qu~ fecha ..E!eno se interroga especificamente sobre o sentldo da .vlsaode uma porta, de interesse particular para .0 a~qUlteto:uma porta fechada normalmente detm um mgles, que arecebe como barreira a no ser transposta salvo se expres-samente convidado a faz-lo - mas uma porta fe~h~da(sem estar fechada chave, obviamente) ~~ constltUl demodo nenhum um impedimento para um itahano. Q~an~do um italiano deseja isolar-se (o que de resto nao enorma) ele deve girar a chave, ao passo que para umingls, entre ingleses, basta fechar a P?rta sem ,cha.ve:ele sabe que outro ingls no se abnra sem pre-avlso.

    Outras comunidades e culturas ressentem aindamais - at ao repdio - a passagem da vida em casaspara a vida em apartamentos: por exem~lo, as com~-nidades negras dos bairros pobres em mais de uma. CI-dade americana. Querendo acabar com os slums, mUltosrgos administrativos norte-a~ericanos resolveramconstruir e entregar a essas comumdades enormes blocosde apartamentos, que no entanto logo se ~~ansformaramem novos slums, como em toda parte ahas, po:-qu: osnovOs moradores simplesmente no tinham (e nao tem)como prover para a manuteno desses prdios, e as

    prefeituras no o fazem igualmente: rapidamente os re-vestimentos se deterioram, a iluminao desaparece, asujeira toma conta de halls e escadas, e corredores eelevadores (quando funcionam) se transformam em lo-cais prediletos para crimes ou em latrinas. Os gruposatingidos por essas medidas (e "atingidos" bem otermo) logo recusaram a vida nessas torres infernais,porm no especificamente pela ausncia e impossibili-dade de manuteno e insegurana dos moradores maspor uma razo mais simples e ainda mais fundamental:recusaram-nos porque tiveram a conscincia imediata deque a vida em apartamentos (i. e., em caixas ou gaiolasisoladas e muradas por todos os lados) estava simples-mente matando um modo de vida, sufocando uma cultu-ra, uma maneira de sentir o espao e os outros, aquelaque se desenrola em lugares abertos e na horizontal. Es-cadas, elevadores, paredes, portas significavam, paraeles, e com razo, a destruio de um esprito comunit-rio, de um sentimento de identificao e de pertencer aum grupo que s poderia se manifestar em espaos comoos fornecidos por casas ou sucesso de casas, onde osespaos abertos se multiplicam escondendo as portas fe-chadas (quando o esto, pois normalmente as portas deentrada da casa ficam abertas, fechando-se apenas a doscmodos, ao contrrio do que se tem no apartamento).Evidentemente, trata-se aqui de um resqucio cultural, damemria de uma realidade na verdade nunca sentida(plenamente, pelo menos) pelos membros dessas comu-nidades mas que ainda se impe fortemente a eles, amemria de uma aldeia africana remota no tempo ondetodos os abrigos se voltavam para uma zona central co-mum e onde no h nunca portas, fechadas ou abertas.

    Todos estes sentidos bsicos devem ser pesquisadospelo arquiteto antes da proposio de um projeto, combase especificamente nos dados fornecidos pela antropo-logia. No entanto, necessrio que o arquiteto tenhaaqui noo de um problema grave e suas conseqncias.A saber: a esmagadora maioria (para no dizer a quasetotalidade) dos estudos antropolgicos costuma deixarde lado em suas anlises (voluntariamente ou por sim-ples desconhecimento) a dimenso scio-econmica dasculturas abordadas, o que normalmente provoca maisde uma sria distoro. Vejamos um caso em Hall: re-lacionando as culturas americana e rabe, Hall procuramostrar como a norma na cultura rabe a participao

  • efetiva na vida comum (na vlda "dos outros"), em opo-sio cultura americana onde o "no da minha (ouda sua) conta" a regra (o que se confirma, entre outros,por inmeros casos de estupro e/ou assassinato, prati-cados nos EUA em corredores ou halls de prdios a quetodos tm acesso fsico e auditivo, sem que ningumacorra em auxlio da vtima, embora ela grite e pea aju-da por longas dezenas de minutos, como num caso c-lebre transformado em pea de teatro). E d como signoexterior dessa maior participao o fato de os rabes seamontoarem nas filas (que, logicamente, deixam des-Io) empurrando-se com o corpo e os cotovelos. ParaHnll, assim como os limites do "ego" de um europeuesto na sua pele (e na epiderme, flor da pele literal-mente, de tal forma que tocar na pele tocar no "eu", confirmar - se se trata de estranhos - uma invasoindesejada do territrio privado), para os rabes o egoest no "interior" do corpo, de modo que tocar a peleno invadir o eu. Assim, como a regra a participa-o ativa na vida em grupo, nada mais normal do que aexistncia de aglomeraes e empurres, que no seriamressentidos como invases, ao contrrio do que acont~ce. com o europeu, o norte-americano e mesmo muitas cultu-ras sul-americanas para as quais essas situaes so rela-tiva ou totalmente intolerveis. No entanto, se fato quea vida comum mais intensa no Oriente Mdio do quenos EUA, no verdade que a aglomerao de pessoasnas filas, a disputa por um lugar etc. sejam fatos "natu-rais" nessa cultura. Uma colocao deste tipo implicaque ou HalI nunca visitou um pas do Oriente Mdioou Prximo ou no soube identificar e interpretar ade-quadamente, pela falta de uma anlise de natureza so-ciolgica, os fatos presenciados - e a primeira alterna-tiva no verdadeira.

    De fato, vejamos um caso concreto: o Egito. Real-mente, desembarcar no Egito e passar pela alfndegaou trocar dinheiro num banco central do Cairo umaproeza na qual sucumbe mais de um ingnuo europeu ouindivduo de cultura assemelhada. As filas realmentenunca chegam a se formar, substitudas por aglomeraesonde todos se espremem poderosamente (sem reclama-es por parte dos rabes, certo) para chegar ao gui-ch ou "autoridade" em questo. Mas antes das "aglo-meraes" h duas outras realidades: a burocracia e osprivilgios (pode a primeira existir sem os segundos, e

    vice-versa?). E a burocracia , ali, qualquer coisa dees~antosa: desembarcando de um navio, no possvelSaIr do porto sem passar por uma mdia de 7 "autorida-des", num espao de tempo no inferior a trs horas'para se trocar dinheiro, um estrangeiro no pode dispen~sar a passagem por outras tantas sete ou oito pessoas,enquanto se desespera numa agncia bancria que uma ver~ad;ir~ anteviso ~o. caos, com centenas de pes-soas (nao e fIgura de retonca) aglomeradas diante detodos os guichs, enquanto outras se sentam em banc0scom~ num hospital ou consultrio mdico (os ban;;osfuncIOnam ~rs horas dirias, em mdia, para o pblico).A burocraCIa em parte se explica: ainda em 1975 o Egi-to era um pas praticamente em estado de guerra, e todaforn:a. de controle nos portos de desembarque era ne-cessana; por outro lado, as operaes de cmbio sofor~alment~, controladas de modo rgido pelo governo:a fl.m de eVItar as evases. Mas a burocracia se estendemUito alm desses limites e faz surgir um outro fenme-no que a revoluo de Nasser (talvez j em vias de es-qU:~I.m~,nto?) n~ co.nseguiu ~ufocar: os privilgios.A fila. para a vIstona na aIfandega continuamentedesrespeItada por alguma "autoridade" que acintosa-mente. apresenta ao encarregado algum que deve seratendIdo na hora - e tudo feito s vistas de todos oqu~ pio.r ainda pois aparentemente no se teme ev~n-tuaIs queIxas dos interessados. Da mesma forma nocmbi

  • damente, sem brecar, fora ou dentro das faixas de se-gurana; o contnuo desrespeito ao sinal vermel~o ~tc.A realidade que, apesar da queda de Farouk, ha vI~teanos, o Egito continua a ser uma terra onde o confl~tode classes intensamente sentido e onde o desrespeitoaos direitos do economicamente fraco (e no raro doseconomicamente "semelhantes") uma constante, dondeo estado de contnua luta real por um direito qualquer,do qual resultam as aglomeraes. Por certo, essa si-tuao se reflete e se implanta na estrutura do com-portamento social do egpcio, de tal.form_a qu~ el~ assimtender a agir mesmo quando a slluaao nao e, comtoda evidncia, a mesma: em "territrio europeu", umegpcio tentar "normalmente" furar uma fila para com-prar uma ficha de caf ainda que a sua frente esteja~apenas trs pessoas e que, com toda certeza, ele senaatendido rapidamente. Mas ser inteiramente inadequa-do, a partir da observao deste fato ocorrido em "ter-ritrio europeu", concluir por um comportamento espa-cial "natural" do egpcio: no se trata de um compor-tamento derivado de uma estrutura primeira e fundamen-tal de uma dada cultura, mas sim de um comportamentooriundo de uma situao eventual (o desrespeito aos di-reito sociais) que, mudando, pode mudar aquele com-portamento inicial.

    Toda investigao antropolgica no sentido do es-pao s pode ser assim efetivamente operacional se'vali-dada e corrigida pela anlise histrica do momento so-cial. Mesmo uma afirmao feita mais acima, segundo aqual o comportamento bsico e tradicional do chins avida em coletividade, precisa ser corrigida com a anO-tao de que obviamente era comum encontrar entre asclasses abastadas uma prtica bem mais acentuada do es-pao privado do que nas classes inferiores, res~ltanteobviamente das possibilidades econmicas e poltIcas depoder gozar de espaos exclusivamente particulares 23.

    fcil observar, de resto, que esta uma constante nahistria de todas as culturas em todos os momentos: ousufruto de um Espao Privado conseqncia de umasituao scio-econmica privilegiada, de tal forma quea preferncia pelo Espao Privado ou pelo Comum no uma determinante absoluta de determinada culturamas, sim, decorrncia de outros fatores - embora na-quelas sociedades onde inexistem desnveis econmicosentre seus componentes, como as sociedades primitivas,a tendncia seja para uma utilizao bem mais acentua-da do Espao Comum.

    E a conseqncia, para o arquiteto, do problemaque a falta de anlises histricas e sociais na determi-nao. dos sentido~ da manipulao do espao pode serenunciada. da segumte forma: no basta operar a partirde determllladas noes espaciais que se propem comodados primeiros de uma cultura (i.e., como estruturasfund,a~entais a. serem observadas e respeitadas); ne-cessano, a partlr desses dados, propor organizaes es-paciais que funcionem como informadoras e formadoras(educadoras) dos usurios na direo de uma mudanad~ comportamento qu~ po~sa ser considerada como aper-feloadora das relaoes mter-humanas e motrizes dopleno desenvolvimento individual (sendo certo que um

    es podem ser consideradas como justas em sua essncia elasdevem se! corrigidas necessariamente sob pena de cair-se e~ ge-neral1zaoes amplas demaIS e apressadas. Assim, no se deve esque-cer, por exemplo, as Influncias exercldas at hoje, em seus desdo-bramentos, por uma obra como O corteso, do renascentlsta BaltazarCastlgl10ne (e cdigos de etiqueta semelhantes). Na Renascena,Castlgllone escreveu esse tratado para mostrar aos prncipes, nobrese burgueses como se comportar numa sociedade segundo ele educa-da. Defendeu no s o uso de roupas que t~ndessem ace~tuada-mente para as cores escuras, se no pretas (tal como se usava nacorte de Espapha, c,?nslderada como modelo) como inclusive, ee.~peclfica.mente,propos o tom moderado na conversao e a aboll-ao das risadas, substitudas de preferncia pelo sorriso; gritar,falar alto e gargalhar eram manifestaes "vulgares" a serem evi-tadas p~los nobres (pelos "superiores"), capazes de autodomnio econtenao. Da mesma forma, para o ingls "educado" falar alto indlce .de m educao, de rompimento de um cdigo de etiqueta- mas e preciso ressaItar que essa prtica no assim recebidapor um. ingls pertencente s classes econmlcas no privilegiadas.O mesmo vale para qualquer outra cultura: o Ital1ano "sofisticado"no ~az do falar alto um valor positivo, pelo contrrio; idem emrelaao ao argentino, ao brasileiro e Inclusive ao prprio rabe decondio cultural e scio-econmlca elevada. Ou seja, h diferenasqual1tatlvas e quantitativas, marcantes dentro de um mesmo gruposocial a respeito do comportamento espacial (sonoro, gestual etc.) ,das quais s se pode dar conta atravs das anlises de correo decunho histrico, pslcossoclal e econmico. Isto no significa umaInvalldao de proposies como "o rabe fala mais alto que o ame-ricano ou se aproxima mais de seus semelhantes, corporalmente"mas apenas que este dado central deve ser necessariamentecorrigido.

    Seria possvel responder a esta objeo dizendo que na verdadetodo aquele que foge das coordenadas de um modelo bsico (porexemplo, falar alto) est mesmo escapando prpria cultura em

    23. Uma anlise histrico-social aquilo que efetivamentefalta a obras como a de Hall e sob mais de um aspecto. Chamama ateno, justamente, as ob~ervaes que Hall faz sobre a "dimer;-so auditiva" e os modos de percepo do relacionamento atravesda voz. Hall observa, por exemplo, que sob esse aspecto as culturasrabe e americana op~m-se abertamente na medida em que para orabe perfeitamente comum um tom bastante elevado na conver-sao enquanto que para o americano o que prevalece um tomacentuadamente baixo (em relao ao rabe), do que surgem. pro-blemas para InterlOcutores dessas culturas um~ ,:ez que o ara1?etenderia a considerar o tom baixo como a.usencla de convlCaodaquele que o emprega ou mesmo como autntico Indcio dementira. Da mesma forma, um Ingls falaria bem mais baixo doque um Italiano, e assim por diante. No entanto, se tais observa-

  • que se originou, pertencendo antes a uma outra cultura de adoo.Neste caso, um rabe que fala baixo ou que mantm uma dIstn-cia corporal acentuada em relao a terceiros , de fato, um europeu(e neste caso, o privlleglamento do privado sobre o comum no mais do que uma valorizao do "refgio", do "interior", do "cen-tro", que procura escapar a um universo ressentido como hostil,perigoso ou Indesejvel, o universo da "ausncia da boa educao"mas tambm da misria, do confllto etc.) , podendo ser assim des-crito segundo os moldes desta segunda cultura. No entanto, nemmesmo esta objeo pode ser aceita nesta formulao porque, deacordo com o que foi observado, esse rabe antes de pertencer cultura europia pertence a uma classe scio-econmica que apre-senta os mesmos traos gerais em todas as culturas, sendo aidentificao assim em termos scio-econmicos e no culturais. Asclasses scio-econmicas privilegiadas no tm fronteiras; so, nomundo atual, uma classe Internacional com interesses e aspiraesidnticos. Sob este aSpecto, tambm as classes Inferiores,. par-ticularmente as que esto realmente na base da pirmide socia.l,podem apresentar um quadro de comportamento proxmico decarter internaclonalista., embora sejam just"mente, por uma.srie de razes (menor exposio aos meios de propaganda. demassa como a TV, etc.), as depositrias dos traos nacionais dlfe-renciadores. No ser inadequado concluir assim qu um itallanosubtraldo do mundo da. etiqueta e da "boa. educa.O" fale to a.ltoquanto um americano ou rabe nas mesma.s condies --, embora,como se reconheceu, se possa propor que o modo gera! de comuni-cao oral do rabe seja feito num tom mais elevado do que o doa.mericano, igualmente considerado em termos genrlco,s. Apenas fundamental no perder de vista a anlise s6clo-economica, evi-tando-se o privlleglamento dos dados antropolgicos puros.

    terior) prope de imediato e de modo inelutvel oeixo Privado X Comum, da mesma forma este leva determinao do terceiro eixo da estrutura central dessalinguagem, constitudo pelas significaes geradas pelaoposio entre o Espao Construdo X Espao No-Construdo. Estas implicaes so na verdade to in-timamente relacionadas e se colocam numa funo toestreita que se torna extremamente difcil discorrer sobreos eixos numa seqncia de tpicos ao invs de falardeles puma nica unidade de anlise - e, de qualquerforma, abordar um tratar simultaneamente dos ante-riores e a eles retomar, sob um outro aspecto.

    O fato de a oposio Construdo X No-Construdodecorrer do eixo Privado X Comum (e, por conseqn-cia, do eixo Interior X Exterior) seria na verdade maisevidente desde logo se tivessem sido abordados os doistermos que se pode constatar aqui e ali nos ensaiossobre arquitetura e nas tradues para a dimenso verbalque os indivduos cstumam fazer de suas experinciascom o espao arquitetural: Espao Ocupado e EspaoLivre. Para mais de uma teoria da arquitetura, comose viu (se que se pode chamar de teoria as manifesta-es e reflexes pessoais mais ou menos organizadas dosarquitetos e que constituem, at aqui, a base habitual dopensamento arquitetural), um dos traos definidores daarquitetura a "ocupao do espao": o caso porexemplo, como citado, de Le Corbusier. Por outro lado,. constan