a conquista da terra mantem unida a família de anita e vital

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1695 Fevereiro/2015 A conquista da terra mantem unida a família de Anita e Vital Vital Gomes Duarte e Anita Alta dos Santos Duarte são casados há 32 anos e tiveram três filhos: Rodrigues, Sebastião e Israel. A propriedade em que vivem tem 7 hectares e está localizada no sítio Tanques, no município de São Sebastião de Lagoa de Roça/PB, região agreste da Borborema. A família é natural do Vale do Piancó, Alto Sertão Paraibano. Depois que saiu do Sertão, morou em muitos lugares até chegar onde estão. Saíram do Sertão porque passavam muitas dificuldades, mesmo plantando, criando, trabalhando de aluguel, vendendo mercadorias de porta em porta, a renda não era suficiente para manter a família. Em busca de uma vida mais digna, deixaram a terra natal. Seu Vital soube por um amigo que um “doutor” queria que ele fosse tomar conta de uma chácara, no sítio São Tomé, região de brejo, no município de Alagoa Nova/PB. Nesta localidade, ele trabalhou cuidando do gado e da roça por quatro anos. Neste período, conheceram o projeto de compra de terras financiada pelo banco. Na comunidade, formaram um grupo de dez famílias para participar do projeto. Era a oportunidade que eles queriam para conquistar um pedacinho de terra. As famílias saiam visitando propriedades para escolher a que comprar. Era um trabalho lento de procura e identificação. Após quatro anos, trabalhando de domingo a domingo, sem descanso, a família saiu da chácara e alugou uma propriedade, por dois anos, no Sítio Queira Deus, também em Alagoa Nova, enquanto resolvia a burocracia do projeto. Foi um momento muito difícil, explicou dona Anita. Seu Vital gastou e perdeu muito dinheiro com o projeto. Ele precisou vender um pedacinho de terra que tinha no Sertão, fruto de herança, para financiar as despesas com a documentação e andamento do processo. Depois de várias visitas, e de algum tempo, encontraram uma propriedade, a que moram hoje, mas eles não tinham dinheiro para comprar, porque o projeto pelo banco não saiu. A permanência na terra só foi possível porque as proprietárias, dona Lurdes Alves e sua filha Luciana, insistiram para a família ficar na terra, depositando toda confiança neles. O projeto ainda não foi aprovado, mas, com recursos próprios, eles já começaram a pagar pela terra. São Sebastião de Lagoa de Roça/PB Vital, Anita e Rodrigues

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A família de Anita e Vital, saíram do sertão, terra natal, para tentar uma vida melhor na região agreste da Borborema. Depois de trabalhar em várias propriedades como empregado, conseguiram encontrar uma terra para viver com mais dignidade.

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Page 1: A conquista da terra mantem unida a família de Anita e Vital

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1695

Fevereiro/2015

A conquista da terra mantem unida a família de Anita e Vital

Vital Gomes Duarte e Anita Alta dos Santos Duarte são casados há 32 anos e tiveram três filhos: Rodrigues, Sebastião e Israel. A propriedade em que vivem tem 7 hectares e está localizada no sítio Tanques, no município de São Sebastião de Lagoa de Roça/PB, região agreste da Borborema.

A família é natural do Vale do Piancó, Alto Sertão Paraibano. Depois que saiu do Sertão, morou em muitos lugares até chegar onde estão.

Saíram do Sertão porque passavam muitas dificuldades, mesmo plantando, criando, trabalhando de aluguel, vendendo mercadorias de porta em porta, a renda não era suficiente para manter a família. Em busca de uma vida mais digna, deixaram a terra natal.

Seu Vital soube por um amigo que um “doutor” queria que ele fosse tomar conta de uma chácara, no sítio São Tomé, região de brejo, no município de Alagoa Nova/PB. Nesta localidade, ele trabalhou cuidando do gado e da roça por quatro anos.

Neste período, conheceram o projeto de compra de terras financiada pelo banco. Na comunidade, formaram um grupo de dez famílias para participar do projeto. Era a oportunidade que eles queriam para conquistar um pedacinho de terra. As famílias saiam visitando propriedades para escolher a que comprar. Era um trabalho lento de procura e identificação.

Após quatro anos, trabalhando de domingo a domingo, sem descanso, a família saiu da chácara e alugou uma propriedade, por dois anos, no Sítio Queira Deus, também em Alagoa Nova, enquanto resolvia a burocracia do projeto. Foi um momento muito difícil, explicou dona Anita.

Seu Vital gastou e perdeu muito dinheiro com o projeto. Ele precisou vender um pedacinho de terra que tinha no Sertão, fruto de herança, para financiar as despesas com a documentação e andamento do processo.

Depois de várias visitas, e de algum tempo, encontraram uma propriedade, a que moram hoje, mas eles não tinham dinheiro para comprar, porque o projeto pelo banco não saiu. A permanência na terra só foi possível porque as proprietárias, dona Lurdes Alves e sua filha Luciana, insistiram para a família ficar na terra, depositando toda confiança neles. O projeto ainda não foi aprovado, mas, com recursos próprios, eles já começaram a pagar pela terra.

São Sebastião de Lagoa de Roça/PB

Vital, Anita e Rodrigues

Page 2: A conquista da terra mantem unida a família de Anita e Vital

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

Quando chegaram na propriedade, Iniciaram um plantio de hortaliças, seguindo o exemplo dos vizinhos, mas não deu certo. A terra era fraca e o manejo era diferente do que eles estavam acostumados, lembra seu Vital. Aos poucos foram melhorando o lugar, plantaram várias fruteiras como melancia, coco, graviola, acerola, manga, goiaba, pinha, carambola, laranja, maçã, abacaxi, mamão, maracujá e café.

No inverno, nos roçados eles plantam batata, milho, macaxeira, fava, feijão macassa e de arranque. Nos canteiros de hortaliças cultivam pimentão, pimenta, couve, alface e plantas medicinais. A família preserva uma matinha nativa, que serve para barrar a correnteza da água, mantendo-a na propriedade.

No período da seca, seu Vital trabalha de aluguel, construindo cercas e destocando roçados em propriedades vizinhas. Dona Anita trabalha nos afazeres domésticos, no roçado e no arredor de casa. De vez em quando, ainda pega mercadorias para revender em catálogos de revista.

No Sertão era diferente. Para sustentar a família, seu Vital trabalhava muito, arrancava toco na terra do pai e nas propriedades vizinhas. Dona Anita vendia galinhas e frutas como banana e manga de porta em porta. Acompanhada dos filhos, ainda pequenos, saia puxando um jegue, oferecendo as mercadorias na vizinhança. Também fez vários empréstimos para comprar roupas e sair revendendo. O dinheiro que conseguiam era pouco, e quando não trabalhavam, não tinham recurso.

A saída dos filhos para São Paulo à procura de emprego foi um momento difícil para dona Anita. Durante o período que moraram fora, ela sentiu muito a falta deles, e não quer que isso aconteça novamente. Deseja a família unida, perto um dos outros.

Hoje, todos trabalham e vivem na agricultura. Rodrigues mora na comunidade São Tomé no município de Alagoa Nova, mas trabalha com o pai. Sebastião vive no sítio Queira Deus também em Alagoa Nova, e trabalha com produtores de hortaliças. Já Israel mora e trabalha na propriedade junto com os pais.

Através dos momentos de formação, conheceram a experiência com canteiros econômicos, Fundos Rotativos Solidários, cercas de telas e o trabalho de valorização e preservação das sementes.

Este ano, através do Projeto Uma Terra e Duas Águas, conquistaram uma Cisterna-calçadão, que armazena 52 mil litros de água, que favorece a produção de alimento e a criação de animais. Com maior oferta de água, ampliaram o número de canteiros. Pensam em ampliar ainda mais o trabalho com as hortaliças.

Hoje, eles possuem um banco de sementes que estocam muitas variedades, que são armazenadas em garrafas pets. Seu Vital comprou 50 metros de tela e cercou uma área onde planeja criar galinhas e, posteriormente, porcos. As dificuldades ainda existem, mas hoje a vida é bem melhor, avaliam dona Anita, seu Vital e os filhos.

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