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A configuração de uma cidade de porte médio e suas relações com os centros e subcentros ligados ao planejamento de transporte coletivo público (linhas de ônibus) Alisson de Britto (1) Eluiza C. B. Pereira (2) Geison Machado (3) Alcindo Neckel (4) Juliano Lima da Silva (5) Maurício Kunz (6) (1) Escola de Arquitetura e Urbanismo - IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Escola de Arquitetura e Urbanismo - IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (3) Escola de Arquitetura e Urbanismo - IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (4) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, PPGARQ, IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (5) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, PPGARQ, IMED, Brasil. E-mail: [email protected] (6) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGARQ, IMED, Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: A pesquisa tem por objetivo identificar as centralidades e possíveis deficiências no planejamento das linhas de transportes coletivos através de uma metodologia aplicada em fases distintas: i) levantamento de dados para configuração de um mapa onde se apontará as centralidades; ii) aplicabilidade de dois processos para identificar centros e subcentros; iii) elaboração de um mapa contendo todas as linhas de transporte coletivo; iv) definição e análise das áreas de centralidades relacionadas ao mapa das linhas de transporte coletivo visando identificar as deficiências no planejamento. Por fim definiu-se que as centralidades identificadas por meio da Teoria de Sintaxe espacial coincidem em grande parte com os Subcentros apontados a partir dos conceitos de Kneib e ao relacionar com o estudo de fluxos dos transportes coletivos, observou-se que as linhas dispostas atendem todas as centralidades, porém sendo perceptível uma sobreposição possivelmente excessiva nas linhas, deixando este estudo como um ponto de partida na identificação de deficiências no plano de transportes afim de resolver a saturação viária. Palavras-chave: Centralidades urbanas; Planejamento urbano; Transportes públicos. Abstract: The research aims to identify the centrality and potential weaknesses in the planning of public transport lines using a methodology applied in different phases: i) survey data for

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Page 1: A configuração de uma cidade de porte médio e suas ... · sua área central uma avenida principal (Av. Brasil) e algumas ruas paralelas (Ruas Moron, Paissandu, Independência,

A configuração de uma cidade de porte médio e suas relações com os

centros e subcentros ligados ao planejamento de transporte coletivo

público (linhas de ônibus)

Alisson de Britto (1) Eluiza C. B. Pereira (2) Geison Machado (3) Alcindo Neckel (4) Juliano

Lima da Silva (5) Maurício Kunz (6)

(1) Escola de Arquitetura e Urbanismo - IMED, Brasil.

E-mail: [email protected]

(2) Escola de Arquitetura e Urbanismo - IMED, Brasil.

E-mail: [email protected]

(3) Escola de Arquitetura e Urbanismo - IMED, Brasil.

E-mail: [email protected]

(4) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, PPGARQ, IMED, Brasil.

E-mail: [email protected]

(5) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, PPGARQ, IMED, Brasil.

E-mail: [email protected]

(6) Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPGARQ, IMED, Brasil.

E-mail: [email protected]

Resumo: A pesquisa tem por objetivo identificar as centralidades e possíveis deficiências no

planejamento das linhas de transportes coletivos através de uma metodologia aplicada em fases

distintas: i) levantamento de dados para configuração de um mapa onde se apontará as

centralidades; ii) aplicabilidade de dois processos para identificar centros e subcentros; iii)

elaboração de um mapa contendo todas as linhas de transporte coletivo; iv) definição e análise das

áreas de centralidades relacionadas ao mapa das linhas de transporte coletivo visando identificar as

deficiências no planejamento. Por fim definiu-se que as centralidades identificadas por meio da

Teoria de Sintaxe espacial coincidem em grande parte com os Subcentros apontados a partir dos

conceitos de Kneib e ao relacionar com o estudo de fluxos dos transportes coletivos, observou-se que

as linhas dispostas atendem todas as centralidades, porém sendo perceptível uma sobreposição

possivelmente excessiva nas linhas, deixando este estudo como um ponto de partida na identificação

de deficiências no plano de transportes afim de resolver a saturação viária.

Palavras-chave: Centralidades urbanas; Planejamento urbano; Transportes públicos.

Abstract: The research aims to identify the centrality and potential weaknesses in the planning of

public transport lines using a methodology applied in different phases: i) survey data for

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configuration of a map where it will point the centralities; ii) applicability of two processes to identify

centers and sub-centers; iii) preparation of a map containing all public transportation lines; iv)

definition and analysis of areas of centralities related to the map of the public transportation lines to

identify the shortcomings in planning. Finally it was decided that the centralities identified through

space syntax theory largely coincide with the sub-centers singled out from the concepts of Kneib and

relate to the study of public transport flows, it was observed that the lines arranged meet all centrality,

but is perceptible a potentially excessive overlap in rows, leaving this study as a starting point to

identify deficiencies in the transport plane in order to resolve the road saturation.

Keywords: Urban centralities; Urban planning; Public transport.

1. INTRODUÇÃO

As cidades policêntricas, são configuradas por centros e subcentros, áreas onde mantêm-se relações

necessárias para o atual modo de vida urbano. Muitos autores buscam definir o que são centralidades, para Villaça (2001), os subcentros são aglomerações mistas de comércio e serviços, réplicas menores

de centro, já Kneib (2008, 2013) abrange de forma mais ampla dividindo em quatro grupos os fatores

que caracterizam as centralidades: acessibilidade, simbolismo, relações e concentração de atividades, e valor do solo.

Uma cidade que não dispõe de centralidades planejadas tende a apresentar problemas na interligação

de seus serviços, no caso de longas distâncias, quando não efetivos os meios de transportes públicos,

torna-se necessário o uso de automóveis particulares, que ao transitar juntamente com os coletivos, podem resultar na saturação das vias.

Tal fenômeno pode ser identificado em Passo Fundo, RS, Brasil, cidade de porte médio, com 783,421

km² de extensão e 184.826 habitantes (IBGE, 2013), com estrutura espacial policêntrica, possui em sua área central uma avenida principal (Av. Brasil) e algumas ruas paralelas (Ruas Moron, Paissandu,

Independência, Uruguai) que vêm a anos sofrendo com a saturação viária.

Alguns bairros passo-fundenses podem ser identificados como subcentros, com possibilidades de

acesso curto (a pé) e médio (a pé ou bicicleta) aos serviços necessários, o que não existe em outros, dessa forma, alguns bairros configuram diferentes níveis de subcentros, os que funcionam como

réplicas menores de centro e os que se caracterizam por meio da acessibilidade ou simbolismo.

Um centro, ou mais facilmente, um subcentro, pode ser configurado por sua relação de acesso, pela facilidade ou restrição do mesmo, assim pode-se considerar a acessibilidade como resposta ao

problema de transporte, pois sua principal função é realizar a transição entre locais distintos. Já, a

questão de simbolismo, se apresenta como a delimitação ou identificação de certa área, sendo através da nomenclatura de um bairro tradicional por exemplo, ou pela identificação de um marco que envolve

ou situa tal região.

De tal forma, é evidente a importância social da identificação dos centros e subcentros na malha

urbana de uma cidade, pois torna-se possível obter um embasamento científico e funcional para gerar um paradigma eficaz no planejamento do território e seus transportes.

Sendo assim, o principal objetivo deste manuscrito consiste em analisar a estruturação espacial urbana

de Passo Fundo, apontar suas centralidades e relacionar ao atual plano de transporte coletivo, para

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assim identificar as deficiências no planejamento das linhas de ônibus, almejando aproximar-se da resolução da saturação viária.

2. METODOLOGIA

A metodologia de trabalho, dividiu-se em etapas metodológicas:

Etapa I: Levantamento de dados como a identificação de limites, bairros e ruas do munícipio a partir de mapas fornecidos pela prefeitura de Passo Fundo, onde os mesmos foram simplificados a fim de

estabelecer uma transparência nas informações relevantes a este manuscrito.

Etapa II: Identificação dos centros e subcentros a partir da combinação de dois processos: O estudo da teoria de Sintaxe Espacial, realizado a partir da análise gerada no programa depthmapX, que realiza a

leitura do mapa axial da cidade; e a aplicabilidade do Método de Kneib (MK), que consiste na

elaboração de um referencial teórico para embasar o procedimento metodológico, a aplicação dos métodos em um estudo específico no município estudado e a elaboração de análises complementares

para apontar as centralidades.

Etapa III: Elaboração de um novo mapa a partir de imagens e dados fornecidos pelas três empresas

que efetuam o transporte público em Passo Fundo, contendo os fluxos dos transportes coletivos urbanos em todas as linhas de ônibus existentes no município.

Etapa IV: Definição e análise das áreas de centralidades em relação ao mapa das linhas de transporte

coletivo, para assim identificar as deficiências na atual configuração do planejamento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da identificação dos limites, bairros e ruas do munícipio, gerou-se um mapa axial para a

análise da Sintaxe Espacial realizada no programa depthmapX, considerando como 4 o número de

passos topológicos. A teoria de Sintaxe espacial é baseada na configuração do traçado urbano e suas

relações entre os espaços, almejando identificar de modo quantitativo aspectos como integração, conectividade, acessibilidade e a distribuição de uso do solo (HILLIER; HANSON, 1984). Assim

resultando nas possíveis centralidades identificadas pelas cores quentes que denotam a integração local

em relação a configuração da malha urbana (FIGURA 1).

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6876000

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356000 358000 360000 362000 364000 366000 368000

Menor integração

Maior integração

0 2000 4000 6000 8000

FIGURA 1 – Mapa de localização de centralidades através da Sintaxe Espacial.

Fonte: Elaboração própria (2016).

Seguindo as bases teóricas de Villaça e Kneib, apontou-se como centralidades configuradas em Passo

Fundo as áreas destacadas no Mapa de Centralidades referente a figura 2.

123

45

67

8

9

1011

12

1314

Centro Principal

Subcentros (réplicas menores de centro)

Subcentros (Acessibilidade/Simbolismo)

1 Centro Principal; Vergueiro.2 Petrópolis.3 Vera Cruz.4 Boqueirão.5 Nenê Graeff.6 Vila Luiza; Lucas Araújo.7 São Cristóvão.8 São Luiz Gonzaga.9 Roselândia.10 Santa Marta.11 Jardim América.12 Jaboticabal; Integração.13 José Alexandre Zachia.14 São José.

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6870000

356000 358000 360000 362000 364000 366000 368000

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FIGURA 2 – Mapa de Centralidades.

Fonte: Elaboração própria (2016).

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Com as informações obtidas na prefeitura Municipal de Passo Fundo e as empresas de ônibus,

resultou-se no mapa (FIGURA 3) demonstrando a territorialidade da cidade junto com as linhas de trajeto que os coletivos devem percorrer diariamente.

Rotas de ônibus Coleurb

Rotas de ônibus Codepas e Transpasso

6876000

6874000

6872000

6870000

356000 358000 360000 362000 364000 366000 368000

0 2000 4000 6000 8000

FIGURA 3 – Mapa contendo a sobreposição dos fluxos de todos os coletivos urbanos.

Fonte: Elaboração própria (2016).

Como última análise deste estudo, após identificar e localizar as centralidades e as linhas de ônibus de Passo Fundo, relacionou-se os mapas anteriormente apresentados, obtendo-se como resultado o mapa

apresentado na figura 4.

Subcentros

Centro Principal

Linhas de ônibus

6876000

6874000

6872000

6870000

356000 358000 360000 362000 364000 366000 368000

0 2000 4000 6000 8000

FIGURA 4 – Mapa de centralidades e fluxos dos transportes coletivos.

Fonte: Elaboração própria (2016).

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4. CONCLUSÕES

Como resultante das análises de centralidades, foi possível concluir que a Teoria de Sintaxe Espacial, que apresenta subcentros através da própria malha urbana, coincide na maioria das áreas de

centralidades identificadas segundo os conceitos apresentados na metodologia de Kneib (MK) e ao

relacionar as centralidades com o estudo de fluxos dos transportes coletivos, observou-se que as linhas dispostas passam em pontos de todas as centralidades, porém não necessariamente atenda a todas,

onde este estudo fica como um ponto de partida para novas análises como áreas de abrangência das

paradas de ônibus e a possível sobreposição excessiva nas linhas almejando identificar as deficiências

no plano de transportes afim de resolver a saturação viária.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IBGE – Instituto Brasileiro de Geometria e Estatística. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/,

acessado em 23 de setembro de 2016.

HILLIER, Bill; HANSON, Julienne. The social logic of space. Cambridge: Cambridge University

Press, 1984.

KNEIBE, E. C. (2008). Subcentros urbanos: contribuição conceitual e metodológica à sua definição e

identificação para planejamento de transportes. Tese de doutorado em Transportes, Publicação T. TD

– 002A/2008, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF

KNEIB, E. C. (2014). Mobilidade e centralidades: reflexões, relações e relevância para a vida urbana.

In E. C. Kneib (Org.), Projeto e cidade: centralidades e mobilidade urbana. Goiânia: FUNAPE.

VILLAÇA, Flávio, 2001. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 2001, p. 293.