OS POBRESOS POBRES

(Carlos Drummont de Andrade)(Carlos Drummont de Andrade)

Automático com som

Domingo. Domingo. Tarde.Tarde.

Consócio da Matriz. Consócio da Matriz.Luz escassa no adro verde.Luz escassa no adro verde.

Comprida toalha vermelho-vinhoComprida toalha vermelho-vinhoamacia a mesa das deliberações.amacia a mesa das deliberações.

Ao derradeiro raio de solAo derradeiro raio de sol

Bailam crepúsculo no ar.Bailam crepúsculo no ar.A Conferência vicentinaA Conferência vicentina

considera a vida dos pobres.considera a vida dos pobres.

O pai não veio desta vez.O pai não veio desta vez.Mandou-me em seu lugar. Sou Mandou-me em seu lugar. Sou

grande,grande,já não sou menino estabanadojá não sou menino estabanadoao cuidar da vida dos pobres.ao cuidar da vida dos pobres.

Mas que sei da vida dos pobressenão que vivem: sempre, sempreComo a água, a pedra, o costume?

Se São Vicente manda verSe São Vicente manda verno rosto deles o Cristo,no rosto deles o Cristo,

o que vejo é comum pobrezao que vejo é comum pobrezaresignada, consentida,resignada, consentida,

tão natural como sinal na tão natural como sinal na pele.pele.

Estendo a mão com gravidadeNa hora de contribuir.

Não é meu dinheiro? É meu gesto.Não salvo o mundo. Mas me salvo.