a concordÂncia verbal de 3ª pessoa do plural no

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Universidade Federal do Rio de Janeiro A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS EUROPEU Fernanda Villares Vianna Barreto 2014

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Page 1: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

Universidade Federal do Rio de Janeiro

A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS

EUROPEU

Fernanda Villares Vianna Barreto

2014

Page 2: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO PORTUGUÊS

EUROPEU

por

FERNANDA VILLARES VIANNA BARRETO

Curso de Pós-Graduação em Letras Vernáculas

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Letras

Vernáculas da Universidade Federal do Rio

de Janeiro – UFRJ, como quesito para a

obtenção do Título de Mestre em Letras

Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientadora: Profª Doutora Silvia

Rodrigues Vieira

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2014

Page 3: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

Barreto, Fernanda Villares Vianna.

A concordância verbal de 3ª pessoa do plural no Português

Europeu/ Fernanda Villares Vianna Barreto. Rio de Janeiro: UFRJ/

Faculdade de Letras, 2014.

xiii, 124f.: il.

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Faculdade de Letras/

Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, 2014.

Referências Bibliográficas: f.117-124.

1. Concordância Verbal. 2. Português Europeu.

3. Sociolinguística. I. Vieira, Silvia Rodrigues. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras,

Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III. A

concordância verbal de 3ª pessoa do plural no Português Europeu

Page 4: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

A concordância verbal de 3ª pessoa do plural no Português Europeu

Fernanda Villares Vianna Barreto

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas.

Examinada por:

_________________________________________________

Presidente, Profa. Doutora Silvia Rodrigues Vieira

_________________________________________________

Profa. Doutora Ângela Marina Bravin dos Santos - UFRRJ

_________________________________________________

Profa. Doutora Silvia Figueiredo Brandão - UFRJ

_________________________________________________

Profa. Doutora Filomena de Oliveira Azevedo Varejão – PPG Letras Vernáculas

– UFRJ, Suplente

_________________________________________________

Profa. Doutora Danielle Kelly Gomes – UFF, Suplente

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2014

Page 5: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

BARRETO, Fernanda Villares Vianna. A concordância verbal de 3ª pessoa do plural no

Português Europeu. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Faculdade de Letras/ UFRJ. 2013.

RESUMO

O objetivo do presente trabalho é descrever os padrões de concordância verbal

de 3ª pessoa do plural do Português Europeu, a fim de verificar se a regra atuante é de

natureza categórica, semicategórica ou variável (cf. LABOV, 2003), levando-se em

consideração entrevistas orais realizadas com informantes das seguintes localidades de

Portugal: Oeiras, Cacém e Funchal.

O corpus, disponibilizado pelo Projeto Padrões de concordância em variedades

africanas, brasileiras e europeias do Português (ALFAL 21), conta com 18 entrevistas

de cada uma das localidades, organizadas segundo sexo, escolaridade e faixa etária de

cada informante, além de uma amostra complementar formada por 12 entrevistas. O

trabalho conta com o aporte da Teoria da Variação e Mudança (WEINREICH; LABOV;

HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 1994, 2001, 2003), para determinar não só o estatuto

da regra, mas também os contextos envolvidos na realização ou não da marca de

pluralidade. Para o tratamento estatístico dos dados, utilizou-se o pacote de programas

Goldvarb-X. Realizou-se ainda, em uma subamostra com 9 informantes de Oeiras e 9

informantes de Funchal, a descrição fonética das terminações dos verbos de 3ª pessoa

do plural com baixa saliência fônica, para testar os contextos em que ocorre perda da

marca de concordância.

Considerando a totalidade dos dados, obteve-se o resultado de 2,2% de não

marcação de plural, o que indica que o fenômeno da concordância verbal no PE se

configura como uma regra semicategórica. Quantitativa e qualitativamente, os dados de

não concordância no Português Europeu – de praticamente todos os estratos sociais

controlados – são muito particulares e limitam-se a contextos muito específicos,

preferencialmente com sujeitos pospostos, com referentes inanimados, representados na

oração pelo relativo “que”, com verbos de baixa saliência fônica, inacusativos ou

copulativos, e, por vezes, influenciados pelo contexto fonético seguinte, iniciado por

som vocálico ou nasal.

Palavras-chave: Concordância verbal. Português Europeu. Sociolinguística.

Page 6: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

BARRETO, Fernanda Villares Vianna. A concordância verbal de 3ª pessoa do plural no

Português Europeu. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:

Faculdade de Letras/ UFRJ. 2013.

ABSTRACT

The objective of this paper is to describe the patterns of verbal agreement of 3rd

person plural European Portuguese in order to verify that the active rule is categorical,

semi-categorical or variable nature (cf. LABOV, 2003), taking into account oral

interviews with informants of the following locations in Portugal: Oeiras, Cacém and

Funchal.

The corpus provided by Project Patterns in African, Brazilian and European

Varieties of Portuguese (ALFAL 21), has 18 interviews in each city, organized

according to gender, education and age of each informant, plus a complementary sample

including 12 interviews. The work relies on the contribution of the Theory of Variation

and Change (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV 1972, 1994, 2001,

2003), to determine not only the status of the rule, but also the contexts involved in

making or not the plurality brand. For statistical treatment of the data, we used the

package Goldvarb-X programs. Also held, in a subsample of 9 informants from Oeiras

and 9 informants from Funchal, the phonetic description of the endings of verbs in the

3rd person plural low overhang phonics, to test the contexts in which there is loss of

concordance brand.

Considering the totality of the data, we obtained the result of 2.2% non-marking

plural, indicating that the phenomenon of verb agreement in EP is configured as a semi-

categorical rule. Quantitatively and qualitatively, the data of non-compliance in

European Portuguese - virtually controlled all social strata - are very private and are

limited to very specific contexts, preferably with subject after the verb, with inanimate

referents, represented in the prayer for the relative pronoun "que", with low protrusion

phonic verbs, unaccusative or copulative and sometimes influenced by the following

phonetic context, initiated by nasal or vowel sound.

Keywords: Verb agreement. European Portuguese. Sociolinguistics.

Page 7: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

A meu pai, Celio,

o homem que me deu a vida,

ensinou-me a andar e que sei que,

se estivesse aqui, ficaria feliz em

ver que sigo caminhando.

Page 8: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

AGRADECIMENTOS

À Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira, pela orientação não só durante o

mestrado, mas também durante toda a graduação. Agradeço os conhecimentos

transferidos, a paciência e compreensão, as conversas firmes e as encorajadoras.

À equipe do Projeto Padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e

europeias do Português (ALFAL 21), que com grande contribuição tornou esse trabalho

possível.

À Dani Coelho, pelo constante apoio, pelo carinho, amor e atenção, pelas noites mal

dormidas e pela enorme compreensão. Agradeço por ter sido sempre meu porto seguro

e, muitas vezes, meu único apoio.

À minha mãe e eterna professora, Regina, que me ensinou a falar e a tomar gosto pela

Língua. Agradeço pelo exemplo de profissional e pelas aulas inspiradoras na época do

colégio. Agradeço não só as aulas de Português, mas as aulas sobre a vida. A ela

agradeço por ter-me encorajado a começar essa etapa e também a terminá-la.

Aos meus irmãos e grandes companheiros, Carla, Renata e Bruno, pelos essenciais

momentos de descontração e por compreenderem meus muitos momentos de ausência.

A Luis, meu padrasto, que tantas vezes teve carinho e atenção de pai, pelas palavras de

força durante todo esse processo.

Aos meus amigos, em especial Marcella Vianna, Bia Mayo, Vivian Tinoco, Maurício

Alves, Pedro Monnerat, Gisela Carvalho, Pedro Dantas, Steffi Vigio e Renato Cruz, que

tantas vezes me deram palavras de apoio e compreenderam minha constante ausência.

Page 9: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

SINOPSE

Estudo sobre a concordância verbal

de 3ª pessoa do plural na variedade

europeia do Português. Exame de

entrevistas sociolinguísticas. Uso dos

pressupostos teórico-metodológicos

da Teoria da Variação e Mudança.

Page 10: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................14

2. O PORTUGUÊS EUROPEU E AS ORIGENS DO PORTUGUÊS DO

BRASIL........................................................................................................19

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.........................................................................23

4. PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS...................................37

4.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................37

3.1.1 O aporte sociolinguístico variacionista..........................................37

4.2 METODOLOGIA..................................................................................41

4.2.1 Descrição das localidades......................................................41

4.2.2 Caracterização do corpus.......................................................46

4.2.3 Etapas do trabalho.................................................................48

5. AS VARIÁVEIS...............................................................................................50

5.1 A VARIÁVEL DEPENDENTE...........................................................50

5.2 AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES................................................51

5.2.1 Variáveis extralinguísticas..................................................51

5.2.1.1 Faixa etária................................................................51

5.2.1.2 Escolaridade..............................................................51

5.2.1.3 Sexo...........................................................................52

5.2.1.4 Localidade.................................................................53

5.2.2 Variáveis linguísticas...........................................................55

5.2.2.1 Posição do sujeito em relação ao verbo.....................58

5.2.2.2 Distância entre o núcleo do SN e o SV.....................60

5.2.2.3 Configuração morfossintática do SN sujeito.............61

5.2.2.4 Paralelismo no nível oracional..................................63

5.2.2.5 Animacidade do sujeito/referente..............................65

5.2.2.6 Saliência fônica.........................................................66

5.2.2.7 Tipo de verbo quanto à transitividade.......................69

5.2.2.8 Paralelismo no nível discursivo.................................71

5.2.2.9 Presença de elementos intervenientes........................72

5.2.2.10 Tempo verbal .......................................................74

6. RESULTADOS E ANÁLISE............................................................................76

6.1 Distribuição geral dos dados.................................................................76

Page 11: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

6.2 Resultados de Oeiras e Cacém..............................................................82

6.2.1 Posição do sujeito em relação ao verbo.................................84

6.2.2 Presença do relativo que........................................................86

6.2.3 Animacidade do sujeito/referente..........................................87

6.2.4 Tipo de verbo quanto à transitividade...................................90

6.3 Resultados de Funchal...........................................................................92

6.3.1 Posição do sujeito em relação ao verbo.................................93

6.3.2 Configuração morfossintática do SN sujeito.........................96

6.3.3 Animacidade do sujeito/referente..........................................97

7. DESCRIÇÃO FONÉTICA DAS TERMINAÇÕES VERBAIS....................99

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................110

9. BIBLIOGRAFIA.............................................................................................117

Page 12: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

ÍNDICE DE FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS

FIGURAS

Figura 1: Localização da cidade de Lisboa no mapa de Portugal................................. 43

Figura 2: Localização do Distrito da Ilha da Madeira no mapa de Portugal.................43

Figura 3: Localização do Concelho de Oeiras na cidade de Lisboa..............................44

Figura 4: Localização da freguesia de Oeiras no Concelho de Oeiras...........................44

Figura 5: Localização do Concelho de Sintra na cidade de Lisboa...............................45

Figura 6: Localização da Freguesia de Cacém no Concelho de Sintra..........................45

Figura 7: Localização do Concelho de Funchal no Distrito da Ilha da Madeira...........45

GRÁFICOS

Gráfico1: Percentuais de falta de concordância na totalidade do Corpus Concordância

(amostra básica mais complementar) em Oeiras, Cacém e Funchal...............................77

QUADROS

Quadro 1: Critérios de exclusão de dados nos estudos variacionistas sobre a

concordância verbal no PE..............................................................................................34

Quadro 2 : Estratificação do corpus de Funchal com códigos de identificação de cada

informante.......................................................................................................................46

Quadro 3: Estratificação do corpus de Cacém com códigos de identificação de cada

informante........................................................................................................................46

Quadro 4: Estratificação do corpus de Oeiras com códigos de identificação de cada

informante........................................................................................................................47

Quadro 5: Distribuição das gravações da amostra complementar com códigos de

identificação de cada informante.....................................................................................47

Quadro 6: Grupos de fatores controlados.......................................................................55

Quadro 7: Dados de não-concordância em Oeiras e Cacém..........................................82

TABELAS

Tabela 1: Características dos trabalhos sobre concordância verbal no PE: localidade,

estratificação social e porcentagem de falta de concordância obtida.............................32

Tabela 2: Distribuição dos dados de não-concordância nas três localidades do Corpus

Concordância (amostra básica).......................................................................................76

Page 13: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

Tabela 3: Distribuição dos dados de não-concordância na totalidade do Corpus

Concordância (amostra básica mais complementar).......................................................77

Tabela 4: Índices de não concordância segundo a variável Escolaridade nas localidades

de Oeiras, Cacém e Funchal............................................................................................78

Tabela 5: Índices de não concordância segundo a variável Sexo nas localidades de

Oeiras, Cacém e Funchal.................................................................................................80

Tabela 6: Índices de não concordância segundo a variável Faixa etária nas localidades

de Oeiras, Cacém e Funchal............................................................................................81

Tabela 7: Índices de não concordância segundo a variável Posição do sujeito nas

localidade de Oeiras e Cacém..........................................................................................85

Tabela 8: Índices de não concordância segundo a variável Animacidade nas localidades

de Oeiras e Cacém...........................................................................................................89

Tabela 9: Índices de não concordância segundo a variável Escolaridade na localidade

de Funchal.......................................................................................................................93

Tabela 10: Índices de não concordância segundo a variável Sexo na localidade de

Funchal............................................................................................................................93

Tabela 11: Índices de não concordância segundo a variável Posição do sujeito na

localidade de Funchal......................................................................................................94

Tabela 12: Índices de não concordância segundo a variável Posição do sujeito na

amostra geral....................................................................................................................95

Tabela 13: Ìndices de não concordância segundo o cruzamento Tipo de verbo x Posição

do sujeito em relação ao verbo........................................................................................95

Tabela 14: Índices de não concordância segundo a variável Configuração

morfossintática do SN sujeito na localidade de Funchal................................................96

Tabela 15: Índices de não concordância segundo a variável Animacidade na localidade

de Funchal.......................................................................................................................97

Tabela 16: Índices de não concordância segundo a variável Animacidade na amostra

geral.................................................................................................................................98

Tabela 17: Regional diffusion of non-standard variants of 3PL in EP (BAZENGA,

2012 p. 14)……………………………………………………………………………...99

Tabela 18: Índices de não concordância segundo a variável Saliência fônica na amostra

geral...............................................................................................................................100

Tabela 19: Distribuição dos dados de baixa saliência fônica na subamostra de descrição

fonética de Oeiras e Funchal..........................................................................................103

Page 14: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

Tabela 20: Índices dos tipos de ditongos padrão na subamostra de descrição fonética de

Oeiras e Funchal.....................................................................................................................104

Page 15: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

14

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho está centrado no interesse pelo conhecimento dos padrões de

concordância do Português Europeu a partir dos pressupostos da Teoria da Variação e

Mudança. Vale ressaltar que a pesquisa está vinculada ao Projeto Estudo comparado

dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e europeias do

Português (ALFAL 21). Tal projeto, de cunho internacional, visa à comparação entre

variedades do português usadas no Brasil, na África e na Europa, tomando como foco a

concordância morfossintática.

Esta pesquisa, em particular, tem por objetivo analisar a concordância em

estruturas com sujeitos de 3ª pessoa do plural extraídos do corpus oral constituído pelo

referido projeto. Valendo-se dos recursos metodológicos oferecidos pela

Sociolinguística Laboviana, pretende-se verificar se há de fato uma regra variável no

Português Europeu (doravante PE) e, se for o caso, demonstrar os fatores linguísticos e

extralinguísticos que presidem a variação.

Dentre os problemas dos quais o trabalho se ocupa, está a seguinte questão

central: a concordância verbal de 3ª pessoa plural configura na variedade europeia do

Português uma regra variável, semi-categórica ou categórica, de acordo com os

postulados de Labov (2003)?

Submetidas ao problema central formulado para a pesquisa, ao menos três outras

questões constituem objeto da investigação: (i) em que contextos, estruturais e sociais,

há cancelamento da marca de número de terceira pessoa do plural no corpus analisado?;

(ii) os contextos de não-concordância verificados são quantitativa e qualitativamente

comparáveis aos dados verificados em outras investigações sobre o fenômeno

desenvolvidos com amostras do Português do Brasil (doravante PB)?; e (iii) Quais são

as realizações fonéticas que estabelecem e oposição singular – plural? Para resolver

essas questões, a pesquisa conta com detalhada descrição dos dados coletados, além das

diferentes interpretações propostas por estudiosos brasileiros e portugueses em trabalhos

científicos sobre o tema da concordância.

O fenômeno da concordância verbal tem sido amplamente estudado com dados

brasileiros, pois “a não-realização da regra de concordância verbal, no português do

Brasil, constitui, sem dúvida, um traço de diferenciação social, de cunho

estigmatizante” (VIEIRA, 2011). No que diz respeito às variedades europeias, até onde

Page 16: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

15

se sabe, o fenômeno não conta com os mesmos índices de não-marcação de plural do

PB. De qualquer modo, há uma carência de trabalhos variacionistas a respeito dos

padrões de concordância verbal na oralidade do PE, considerando especialmente

entrevistas semiespontâneas recentemente recolhidas. Dessa forma, justifica-se a

necessidade de atestar a concretização do fenômeno, com a finalidade de descobrir se a

regra da concordância verbal é de fato variável e em que contextos haveria o

cancelamento das marcas plurais.

Conta-se com alguns trabalhos com dados europeus mais recentes, ainda que

poucos, nos moldes variacionistas sobre o tema da concordância verbal de 3ª pessoa

plural no PE, descritos na seção de revisão bibliográfica. São eles: Varejão (2006),

Monguilhott (2009, 2010), Monte (2012), Rubio (2012), Brandão e Vieira (2012b) e

Bazenga e Vieira (2013).

A concordância verbal de terceira pessoa do plural no português

brasileiro (PB) vem sendo estudada, à luz da sociolinguística

variacionista, desde a década de 70 (...). No português europeu (PE),

estudos nos moldes labovianos já não são tão recorrentes como no PB,

embora alguns estudos sobre a concordância verbal de terceira pessoa

do plural já apontem variação (...) desde a década de 50.

(MONGUILHOTT, 2010. p. 1)

Alguns desses trabalhos, como o de Monguilhot (2009, 2010), apresentam a

questão da concordância verbal de 3ª pessoa do plural como um caso de variação no PE,

mas os últimos estudos sobre o tema, como o de Bazenga e Vieira (2013), propõem que

o fenômeno atue como semicategórico, ao menos na variedade continental do PE. Ao

que tudo indica, os contextos de cancelamento de plural no verbo não são os mesmos

para o PB e o PE. Sobre a comparação entre variedades do português (europeia,

brasileira e são-tomense), Bazenga e Vieira declaram o seguinte:

Os índices gerais permitem afirmar que as amostras do Português

Europeu, grosso modo, apresentam uma regra semicategórica de

concordância de 3ª pessoa, embora Funchal demonstre

comportamento no limite entre o semicategórico e o variável, nos

termos de Labov (2003). De outro lado, os índices de marcação de

plural nas demais variedades urbanas, tanto no Português de São

Tomé quanto no Português do Brasil, sinalizam o comportamento de

uma regra variável, com forte preferência pela concordância.

(BAZENGA; VIEIRA, 2013, p. 4)

Page 17: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

16

Este trabalho – que fundamenta sua análise a partir do mesmo corpus estudado

por Bazenga e Vieira (2013) – particulariza-se em relação aos demais estudos por

investigar o fenômeno da concordância de 3ª pessoa do plural em amostra

contemporânea em três pontos de inquérito em Portugal, estratificada segundo a faixa

etária, a escolaridade e o sexo do informante, conforme se descreve na seção referente à

metodologia. Fica claro, desse modo, que, apesar de os trabalhos citados e devidamente

descritos na seção referente à revisão bibliográfica também se ocuparem da variedade

europeia, possuem outra configuração no que diz respeito ao corpus e/ou ao tratamento

dado.

Na realidade, o presente trabalho apresenta a mesma configuração e constitui

uma extensão do estudo recentemente publicado por Bazenga e Vieira (2013) no âmbito

do referido Projeto. Assim, aprofunda o trabalho citado e dele se diferencia nos

seguintes aspectos: (i) além da amostra básica do Corpus Concordância, analisa uma

amostra complementar, a fim de ampliar o número de dados em estudo e verificar se o

comportamento atestado se mantém ou se altera; (ii) além das variáveis linguísticas já

investigadas, acrescentam-se outros grupos de fatores que possam ter influência sobre

os padrões de concordância praticados; e (iii) apresenta, além da análise variacionista

provida pelo pacote de programas Goldvarb-X, uma descrição fonética da oposição

singular-plural em relação às desinências verbais efetivamente realizadas por falantes

portugueses.

A realização deste trabalho justifica-se pela existência de um amplo debate a

respeito das origens do Português do Brasil, considerando-se os altos índices de falta de

concordância em certas variedades. Tal debate é alimentado pela contraposição das

seguintes teses: a primeira defende a ideia de que o PB seria uma continuação do

português arcaico, tendo sofrido pequenas modificações, proposta que ficou conhecida

como tese da deriva (NARO; SCHERRE, 2007); a segunda interpreta características do

PB como decorrentes de um período de falares de base africana e/ou de uma

transmissão linguística irregular, típica de situações de contato (LUCCHESI et al.,

2009).

O desenvolvimento deste trabalho, em última instância, tem por propósito, por

meio da comparação dos resultados obtidos para o PE com os resultados amplamente

divulgados em pesquisas sobre o PB, contribuir para o debate acerca da constituição das

origens do português do Brasil, tendo em vista que os defensores da tese da deriva

Page 18: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

17

normalmente advogam semelhança entre PB e PE no que se refere às motivações para a

não marcação de número nessas variedades.

Para cumprir os objetivos citados, a dissertação está organizada de modo a

retratar as fases de desenvolvimento da pesquisa.

No capítulo 2, referente à revisão bibliográfica, estão descritos os estudos já

realizados sobre o fenômeno da concordância verbal de 3ª pessoa do plural com dados

europeus recentes. Apresentam-se o comportamento geral do fenômeno na variedade

brasileira e uma descrição específica dos resultados obtidos nos estudos sobre a

variedade europeia com os quais se conta. O conhecimento de tais trabalhos é de

extrema importância, principalmente para a formulação das hipóteses que norteiam esta

investigação.

O capítulo 3 apresenta os pressupostos teórico-metodológicos que serviram de

base para a construção da pesquisa. Além do aporte sociolinguístico variacionista,

expõem-se, em seção particular, as visões contrastivas que formam o debate sobre a

origem da variedade brasileira do português. Na parte em que estão expostos os

procedimentos metodológicos, há a descrição do corpus e do projeto ao qual este

trabalho está atrelado, a exposição das etapas de desenvolvimento da pesquisa e também

a enumeração das construções que não foram consideradas na coleta de dados.

No capítulo 4, estão a apresentação e a exemplificação da variável dependente,

motivadora deste trabalho, além da descrição das variáveis independentes, formadas

pelos fatores de cunho social – Sexo, Escolaridade, Faixa etária e Localidade – e as

variáveis linguísticas. Apresentam-se as hipóteses que direcionaram o controle de cada

grupo de fatores, os fatores que os compõem, estando todos devidamente

exemplificados.

No capítulo 5, estão expostos e analisados os resultados obtidos para cada uma

das localidades em estudo, apontando-se o estatuto da regra no PE e a descrição do

comportamento das variáveis relevantes. Após a análise dos resultados quantitativos

obtidos, procede-se, no capítulo 6, à descrição fonética das terminações verbais

especificamente dos pares de baixa saliência fônica, a fim de contribuir com o

conhecimento morfofonológico da expressão da concordância em variedades europeias.

Por fim, no capítulo 7, estão em destaque as conclusões obtidas sobre o

fenômeno em estudo, em que são sintetizados os resultados e são feitas algumas

Page 19: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

18

reflexões a fim de contribuir para o debate acerca da concordância na modalidade oral

da variedade europeia do Português.

Page 20: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

19

2 O PORTUGUÊS EUROPEU E AS ORIGENS DO PORTUGUÊS DO BRASIL

O interesse em estudar o fenômeno da concordância verbal no Português

Europeu está relacionado à existência de um amplo debate a respeito das origens do

Português do Brasil, considerando-se os altos índices de falta de concordância em

algumas variedades brasileiras. Tal debate é alimentado pela defesa das seguintes teses:

(i) a de que o PB seria uma continuação do português arcaico, tendo sofrido pequenas

modificações, proposta que ficou conhecida como tese da deriva (NARO; SCHERRE,

2003); e (ii) as características do PB seriam decorrentes de um período de falares de

base crioula e/ou de uma transmissão linguística irregular, típica de situações de contato

(BAXTER; LUCCHESI, 1997; LUCCHESI, 2003; BAXTER, LUCCHESI; RIBEIRO,

2009). Dessa forma, as estruturas encontradas no PE devem ser comparadas tanto de

forma quantitativa quanto de forma qualitativa às estruturas do PB, a fim de subsidiar

uma ou outra hipótese.

Para Lucchesi (2003), tendo em vista que o PB passou por intenso contato com

línguas africanas – além das indígenas – durante séculos, muitas de suas características

estruturais seriam resultado de processos de mudança induzidos pelo contato entre

línguas. Essa situação de contato teria acontecido com uma grande população de adultos

(agentes) – na maioria das vezes falantes de línguas diferenciadas e mutuamente

ininteligíveis – que é forçada a adquirir uma segunda língua emergencialmente em

função de relações comerciais e/ou sujeição, ocorrendo, portanto, de modo consciente.

O contato entre a língua alvo e outras línguas pode resultar em uma língua

historicamente nova (um pidgin, ou ainda, uma língua crioula) ou na formação de uma

nova variedade histórica da língua que predomina na situação de contato. Essa nova

variedade, por possuir apenas função comunicativa, costuma apresentar forte

redução/simplificação em sua estrutura gramatical, o que se deve: 1) ao difícil acesso

dos falantes das outras línguas aos modelos da língua-alvo, sobretudo nas situações em

que os falantes da língua alvo são numericamente inferiores aos das demais línguas; 2)

ao fato de os falantes dessas outras línguas, por serem em sua maioria adultos, não

terem mais acesso aos dispositivos mentais da faculdade da linguagem, que atuam na

aquisição da língua materna; e 3) à ausência de uma ação normativizadora que oriente e

restrinja o processo de nativização.

Page 21: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

20

O processo de transmissão linguística irregular, derivado da situação de contato,

acontece, segundo Lucchesi, em etapas. Inicialmente, com a prolongada situação de

contato, a variedade da língua alvo progressivamente assume novas funções na rede de

interação linguística; em seguida, converte em modelo para a aquisição como língua

materna pelas crianças (língua natural). Por necessidades funcionais, há então um

incremento da sua estrutura gramatical, ocorrendo a gramaticalização de itens lexicais

oriundos da língua alvo e a incorporação de dispositivos gramaticais das outras línguas

nessa nova variedade. No decorrer do processo, quanto menor o contato dos falantes

com a língua alvo, maior a possibilidade de formação de uma nova língua (crioula), e

quanto maior for o contato dos falantes com a língua alvo, maior a possibilidade de se

ter apenas uma variedade da língua alvo, que se torna o modelo.

Característica fundamental do processo de transmissão linguística irregular é que

a intensidade da erosão gramatical que se dá no momento inicial do contato determina a

intensidade do processo. Dessa forma, menor será a erosão, se maior for o contato com

a língua alvo, de modo que se torna menor a necessidade de recomposição da gramática;

e maior será a erosão, se menor for o contato com a língua alvo, tornando-se maior a

necessidade de recomposição da gramática.

Para Baxter e Lucchesi (2006, p. 206), os processos de transmissão linguística

irregular mais leves “marcaram profundamente a história das variedades populares do

português brasileiro”. Os autores elencam sete traços que, ainda hoje, se conservam nos

dialetos rurais e populares do país, dentre os quais está a redução/eliminação de

morfologia flexional do verbo e do nome, com consequências para os processos

sintáticos a ela relacionados.

Baxter e Lucchesi (1993, 1997) afirmam, ainda, que o fenômeno variável da

concordância, em que a variante zero é predominante em comunidades rurais afro-

brasileiras isoladas, também pode ser encontrado, hoje, em todas as comunidades rurais

do Brasil.

Outro estudioso que se valeu do fenômeno da concordância para evidenciar suas

hipóteses foi Gregory Guy, que defende a ideia da crioulização prévia. Guy acredita que

o português popular brasileiro é marcado por tendências presentes nas línguas crioulas.

O autor leva em consideração o enorme contingente de escravos vindos para o Brasil.

Page 22: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

21

Para argumentar em favor da tese da deriva, Naro e Scherre propõem que não há

estruturas novas no PB, induzidas pelo contato entre línguas ou pela nativização do

português entre os segmentos de falantes de outras línguas e seus descendentes. Todas

as estruturas alegadas como brasileiras teriam a existência confirmada em dialetos rurais

e não-padrão de Portugal. Para eles, o processo de transmissão linguística irregular não

desencadeou aqui processos novos de variação e mudança, mas apenas ampliou

fenômenos já (e ainda) existentes na variedade europeia. A variação maciça se deveria à

falta quase total de uma norma estável e geralmente aceita durante o período da

aquisição do português como primeira língua no Brasil. O que estaria relacionado à

história sociolinguística do Brasil é o espraiamento de estruturas e variações, e não a sua

criação.

Sobre o fenômeno da concordância no PE, Naro e Scherre afirmam que

A distribuição, ampla e geograficamente equilibrada, mostra que o

fenômeno não é apenas um exotismo, estranho à estrutura da língua.

(...) não sabemos qual é o nível de frequência de uso da concordância

variável (...), mas seguramente é muito mais baixo que no Brasil. A

variação na concordância representa uma deriva latente, de longo

prazo, documentada até mesmo na fase clássica do latim e das línguas

europeias que o precederam. (NARO; SCHERRE, 2003)

Scherre e Naro (2007), ao refletirem sobre a origem do PB, assumem ainda que

houve uma

CONFLUÊNCIA DE MOTIVOS: vemos a atração de forças de

diversas origens – algumas oriundas da Europa; outra da América;

outras, da África – que, juntas, se reforçaram para produzir o

português popular do Brasil. (SCHERRE; NARO, 2007 p. 25)

Sobre o debate, Mattos e Silva (2004), em tom consensual, afirma que os

africanos e afro-descendentes adquiriram a língua dos colonizadores portugueses

como L2, em um contato oral diversificado, multifacetado. Não havia a imposição

de uma norma de controle escolar e, em função disso, a “voz africana e dos afro-

descendentes [...] reestruturou o português europeu que no Brasil começa a chegar em

1500 e sucessivamente ao longo do período colonial”, dessa forma ganhando força

no século XIX com a chegada de grandes contingentes de imigrantes portugueses.

Com o presente trabalho, pretende-se contribuir para o debate de modo a

esclarecer em que contextos há o cancelamento da marca de concordância no PE.

Page 23: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

22

Seriam esses contextos os mesmos do PB? Com a vasta quantidade de dados

contemporâneos em análise, pretende-se demonstrar “o nível de frequência de uso da

concordância variável” no PE e os contextos dessa suposta variação. Desse modo, pretende-

se mostrar a configuração do fenômeno atualmente no PE, em termos quantitativos e

qualitativos.

Page 24: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

23

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os estudos aqui descritos são alguns dos poucos com os quais se conta sobre a

análise da concordância verbal no Português Europeu contemporâneo. Os trabalhos

variacionistas a que se teve acesso foram os de Varejão (2006), Monguilhott (2009),

Monte (2012), Rubio (2012), Brandão e Vieira (2012b) e Bazenga e Vieira (2013).

Varejão (2006) analisou a concordância verbal de terceira pessoa do plural em

um corpus extraído de inquéritos coletados em Portugal, que fazem parte do Projeto

Corpus Dialetal com Anotação Sintática – CORDIAL-SIN. Teve como questão

motivadora de sua tese a dúvida se teria havido uma língua crioula na base da

estruturação do PB ou se os fenômenos variáveis estariam também no sistema do PE.

Para isso, a investigação se deu em áreas mais ou menos distantes dos grandes centros

urbanos e de vários pontos do continente português e das ilhas, pressupondo que a fala

não-urbana seria mais conservadora.

Dessa forma, a hipótese que se tinha era a de que, se o português mais

conservador apresentasse evidentes ausências de marcas de concordância verbal, a

pesquisa poderia contribuir com a argumentação de que tais estruturas não seriam

restritas ao PB, já que fariam parte do sistema da língua portuguesa, e constituiriam

fenômenos implicados em um antigo e mais geral quadro de mudança.

O corpus utilizado por Varejão contou com 120 informantes, sendo 75 homens e

45 mulheres analfabetos ou com pouca escolarização, nascidos na localidade em que

viviam. Como muitas das fichas dos informantes não estavam completas, não contendo

informações de idade e escolaridade, essas variáveis sociais não foram controladas.

Segundo a autora, partindo do objetivo de mostrar que, em relação à concordância

verbal, a fala lusitana popular e a brasileira seriam sensíveis à variação na mesma

medida de qualidade, foram descritos efetivamente os dados com ausência da marca de

concordância verbal de 3ª pessoa do plural.

Para atender aos propósitos do trabalho, foram excluídos da amostra os seguintes

casos: 1. verbos cujas formas de 3ª pessoa do singular e do plural apresentam realização

fonética idêntica ou de difícil distinção; 2. frases em que ocorre uma possível

concordância com um pronome expletivo; 3. Sequências de pergunta e resposta, nas

quais o informante repete a forma verbal da pergunta do inquiridor; 4. verbo na 3ª do

singular seguido de pronome se, ante a dupla possibilidade de interpretação sintática do

Page 25: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

24

sujeito; e 5. sujeito com dois núcleos à direita do verbo, cuja concordância pode ocorrer

apenas com o núcleo mais próximo.

As demais ocorrências foram quantificadas segundo os seguintes grupos de

fatores: Saliência fônica da desinência verbal; Tipo de verbo; Forma verbal; Posição do

sujeito em relação ao verbo; Estrutura do SN sujeito; Estatuto sintático do verbo que

carrega as marcas de concordância.

Quanto aos resultados, do total de 2520 ocorrências, foram encontrados 223

dados com ausência da marca de plural e 2297 com marcas de concordância. Em termos

de porcentagem, a amostra apresentou aproximadamente 9% de ausência de marcas. A

autora observou que os casos de falta de concordância não estavam homogeneamente

distribuídos entre as 21 localidades em estudo. Em relação aos fatores sociais, foi

inviável quantificá-los, já que a amostra não foi estratificada segundo critérios

extralinguísticos, como escolaridade, faixa etária, dentre outros, e, além disso, as fichas

dos informantes não estavam completas, conforme já se informou.

As variáveis que se mostraram mais influenciadoras na falta de concordância

foram as seguintes: a Saliência fônica; o Tipo de verbo (verbo ser versus outros verbos);

Forma verbal; Posição do sujeito; Estrutura do SN sujeito; e Estatuto sintático do verbo

que carrega as marcas de concordância.

Em relação à saliência fônica, Varejão propõe que os dados confirmam a tese de

que o menor grau de diferenciação entre as formas verbais singular e plural favorece a

perda de marcas. Reunindo o verbo ser e outros verbos, do total de 223 dados, 128

(57%) pertenciam ao grupo da oposição menos saliente e 95 (43%) estavam entre os de

diferenciação mais saliente.

Outro fator observado foi o relativo à comparação entre o verbo ser versus

outros verbos. Em relação a essa variável, não se confirmou a hipótese de que a

presença do verbo ser estaria diretamente ligada à ausência de marcas de concordância.

Quanto à forma verbal, foram encontradas, entre os dados sem marca de

concordância, 112 ocorrências no presente, 90 no pretérito imperfeito e 21 distribuídas

entre o infinitivo e o pretérito perfeito. Dessa forma, foi possível observar que, nos

verbos no presente, houve maior perda das marcas de concordância em verbos menos

salientes, como fica/ficam, do que em formas mais salientes, como é/são. No tempo

pretérito imperfeito, foi frequente uso do verbo ser (era/eram), muito utilizado no

gênero textual descrição, que predomina nas entrevistas. Foram 58 ocorrências de

Page 26: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

25

verbos no pretérito imperfeito contra 32 em outros tempos verbais. No pretérito

perfeito, houve apenas ocorrências com outros tipos de verbo, ficando impossibilitada a

comparação do efeito dessa forma verbal sobre os outros grupos. Já em relação ao

infinitivo, houve apenas uma ocorrência do verbo ser contra 6 de outros verbos, sempre

mais salientes.

A respeito ainda da forma verbal, foi confirmada a forte atuação da saliência

fônica, já que foi observado o fato de que as formas verbais do presente com maior

frequência de ausência de marcas estão em verbos diferentes de ser.

A variável Posição do sujeito em relação ao verbo confirmou a hipótese de que a

posição pós-verbal desfavorece a marcação da concordância. A partir dos resultados, a

autora propôs uma hierarquia na atuação do aspecto posição do sujeito, partindo da mais

favorável para a menos favorável em relação à ausência de marcas: 1. posição pós-

verbal, a mais favorável; 2. Sujeito expresso à esquerda próximo; 3. Sujeito plural

retomado por pronome relativo; 4. Expresso à esquerda distante; 5. Sujeito nulo com

antecedente próximo ou distante, a menos favorável.

Quanto à estrutura do SN sujeito, também foi feita uma hierarquização na ordem

de frequência da ausência de marcas de concordância nos verbos, sendo a estrutura em

que mais se faz notar essa ausência a de SN simples e a que menos apresenta a não

marcação a de sujeito constituído de núcleo mais complemento no plural.

Por fim, a partir da variável Estatuto sintático do verbo que carrega as marcas de

concordância, não se confirmou a hipótese de que o verbo ser apresente mais ausência

de marcas. Os resultados mostraram que outros tipos de verbos exibem mais ausência

de marcas, na posição principal (71%) ou na de verbo auxiliar (72%). Juntando esses

dois contextos verbais, das 223 ocorrências sem marcas de concordância, em 191 (86%)

o verbo ocupa o status de principal.

Varejão concluiu, a partir da análise dos dados, que, no PE popular, os principais

aspectos favoráveis à ausência de marcas de concordância verbal são a saliência fônica

e a posição do sujeito à direita do verbo. Além disso, a hipótese inicial de que o verbo

ser seria um aspecto interveniente no processo de perda de marcas verbais não se

confirmou, mas se evidencia ao contrapor esta variável com outras analisadas. A partir

da comparação com resultados de pesquisas realizadas sobre o PB, a autora conclui que

a ausência de marcas de concordância verbal de 3ª pessoa do plural ocorre nos mesmos

contextos tanto no PB quanto no PE popular.

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26

Outro importante trabalho sobre a concordância verbal no PE é o de Monguilhott

(2009), que analisa o tema em amostras sincrônica e diacrônica. Os aportes teórico-

metodológicos utilizados são a Sociolinguística quantitativa e a Dialetologia

pluridimensional. Quanto à amostra sincrônica, a autora observou localidades urbanas e

não urbanas, tanto no PB (Santa Catarina) quanto no PE (Lisboa), a fim de controlar as

dimensões diatópica e diazonal. Além disso, foram também investigadas peças teatrais

de autores catarinenses e portugueses, diacronicamente.

O objetivo foi traçar o percurso histórico da variação da concordância verbal do

século XIX ao século XX. Além disso, buscou provar também que tanto o PB quanto o

PE apresentam um sistema de concordância obrigatória com sujeito posposto no século

XIX e de variação da concordância no século XX, apesar de a variação encontrar

maiores índices no PB.

Buscando verificar os contextos favorecedores para cada uma das variantes na

amostra contemporânea, foram investigados os seguintes grupos de fatores linguísticos:

1. Saliência fônica; 2. Paralelismo formal; 3. Tipo de verbo; 4. Posição do sujeito em

relação ao verbo; 5. Traço humano no sujeito; 6. Tipo de sujeito. Os grupos de fatores

extralinguísticos foram divididos entre sociais (Sexo; Idade/Escolaridade; Redes

sociais) e geográficos (Diatopia e Diazonalidade).

Com base nos resultados encontrados para o PE, identificaram-se os contextos

favorecedores da marcação da concordância verbal de terceira pessoa do plural: verbos

com sujeito com traço [+humano], verbos com sujeito antecedente, assim como visto no

trabalho de Varejão, verbos do tipo transitivo e intransitivo prototípico, verbos com

sujeito nulo cujo antecedente apresenta marcas de plural e verbos com sujeito do tipo

pronome pessoal.

Em relação aos resultados dos grupos de fatores extralinguísticos, geográficos e

sociais, constatou-se que, na amostra, os informantes que mostraram maior

favorecimento da marcação da concordância são os que possuem o seguinte perfil:

jovens com ensino superior, do sexo feminino, pertencentes a redes sociais bem

integradas e com muita mobilidade, moradores/nativos da Região Central, pertencentes

à zona urbana.

Page 28: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

27

Um dos trabalhos variacionistas mais recentes sobre a concordância verbal de 3ª

pessoa do plural no Português Europeu é o de Monte (2011), que busca investigar a

variação encontrada no português falado na cidade de São Carlos, localizada no interior

de São Paulo/Brasil, e a variação encontrada no português falado em Évora, situada no

Alentejo, sul de Portugal. A pesquisa contou com 18 entrevistas entre informante e

documentador, distribuídas segundo sexo (masculino e feminino) e escolaridade (não

alfabetizados, Ensino Fundamental-EJA e Ensino Médio) para cada localidade.

Durante a coleta dos dados, para atender as finalidades da pesquisa, foram

excluídos da amostra os seguintes casos: formas verbais que no singular e no plural não

se distinguem na pronúncia; respostas em que se repete a forma verbal da pergunta feita

pelo documentador; verbo no plural com casa vazia do sujeito indeterminado; orações

com verbo ‘ter’ com valor existencial; sujeito representado pelo pronome indefinido

‘tudo’ remetendo a um SN de 3ª pessoa do plural; sujeito representado por substantivo

coletivo no singular; sujeito constituído por expressão partitiva; verbos no infinitivo

pessoal; sujeito composto quando está posposto ao verbo e com o núcleo mais próximo

no singular; e pronomes interrogativos.

Para a análise do fenômeno, foram estabelecidos os seguintes grupos de fatores

linguísticos: 1. Saliência fônica; 2. Paralelismo formal no nível oracional; 3. Posição do

sujeito/SN em relação ao verbo; 4. Traço semântico do sujeito/SN; 5. Distância entre o

sujeito/SN e o verbo em termos do número de sílabas; 6. Presença ou ausência do ‘que’

relativo ou complementizador; 7. Tipo estrutural do sujeito/SN; 8. Tipo de verbo: verbo

‘ser’ versus outros verbos. Como grupos de fatores sociais, foram usados o gênero e a

escolaridade.

Após a rodada do programa Goldvarb-X, obteve-se, para o PE, um total de 1440

ocorrências, em que apenas 100 (6,9%) traziam a variante zero de plural nos verbos. Os

grupos de fatores selecionados pelo programa em ordem de relevância foram os

seguintes: Posição do sujeito/SN em relação ao verbo, Traço semântico do sujeito/SN,

Tipo estrutural do sujeito/SN, Tipo de verbo (verbo ‘ser’ versus outros verbos),

Saliência fônica e Gênero.

A partir da análise das variáveis selecionadas pelo programa, Monte constatou

que o índice de frequência de concordância diminuiu de 95,1% para 77,4% quando o

sujeito estava posposto ao verbo, comportamento também verificado em outros

trabalhos aqui expostos.

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28

Em relação ao traço semântico do sujeito/SN, os índices de marcação de plural

obtidos para sujeito com traço [+ humano / + animado] foram de 95,8% e para sujeito

com traço [- humano / - animado] de 82,4%, confirmando a hipótese de que sujeito

[animado e humano] favorece a concordância.

Quanto ao tipo estrutural do sujeito, o que obteve maior frequência de

concordância foi o pronome vocês, com 100% de marcas de plural. Em contrapartida, o

SN pleno composto obteve o menor índice de marcação de plural, 82,4%. Neste caso

foram 17 dados de SN pleno composto em que apenas 3 não possuíam a marca de

plural, sendo duas com o SN posposto e com o verbo ‘ser’, fatores que favorecem no PE

a não concordância.

O quarto grupo selecionado pelo programa Goldvarb foi o Tipo de verbo (verbo

‘ser’ versus outros verbos). Confirmou-se, com os resultados, a hipótese de que

sentenças com o verbo ‘ser’ inibem a marca explícita de plural. As sentenças com verbo

‘ser’ apresentaram 85,1% de marcação de plural e as sentenças com outros verbos

95,5%.

A Saliência fônica também se mostrou atuação relevante na concordância entre

verbo e sujeito; as chances de marcação de plural são maiores quando ocorre aumento

da saliência do material fônico na oposição singular/plural.

Apesar de os efeitos linguísticos serem mais fortes do que os sociais, a variável

Gênero também foi selecionada pelo programa, mostrando maior marcação de plural na

fala feminina. Esse foi o único estudo sociolinguístico sobre o tema que mostrou

relevância da variável gênero, o que precisa ser investigado em outros estudos com

dados europeus.

Outro recente trabalho sobre o tema aqui descrito é o de Rubio (2012). Esse

trabalho, sob a ótica da Sociolinguística Quantitativa de Labov, apresenta um estudo

comparativo da concordância verbal de primeira e de terceira pessoa do plural e o

estudo comparativo da alternância entre formas pronominais nós e a gente, em amostras

de língua falada do português brasileiro e europeu, sendo este – o que nos cabe

investigar – extraído do Corpus de Referência do Português Contemporâneo (CRPC).

As entrevistas utilizadas foram retiradas do sub-corpus oral espontâneo do CRPC e

foram coletadas por pesquisadores portugueses, entre as décadas de 1980 e 1990. Foi

utilizado para o PE um total de 133 entrevistas com duração média de 10 minutos. O

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29

corpus está estratificado em faixa etária, sexo e escolaridade, mas não há equivalência

entre os estratos sociais. Há uma concentração maior de informantes na faixa etária

entre 36 e 55 anos (61 informantes), nas faixas de escolaridade 1 e 2 (45 informantes) e

no gênero masculino (68 homens e 65 mulheres).

Rubio controlou as seguintes variáveis sociais a fim de verificar a marcação de

plural em verbos de 3ª pessoa: Escolaridade, Faixa etária e Gênero. Como variáveis

linguísticas foram controladas a Posição do sujeito, o Traço semântico do referente do

sujeito, Paralelismo formal discursivo, Saliência fônica verbal, Paralelismo formal

oracional e Tipo morfológico do sujeito.

A partir da análise dos dados, o autor encontrou 93,7% de marcação de plural no

PE, apresentando, portanto, apenas 6,1% de não marcação. Dentre as variáveis

analisadas, três foram selecionadas pelo programa Goldvarb como influenciadoras na

não-marcação de plural dos verbos, sendo todas elas relacionadas ao sujeito: Posição do

sujeito, Traço semântico do referente do sujeito e Tipo estrutural do sujeito. Nenhuma

variável social foi selecionada, o que pode indicar que o fenômeno apresenta

comportamento estável nos diferentes estratos sociais.

Os resultados obtidos por Rubio evidenciaram a hipótese de que o sujeito

posposto favorece a não marcação de plural. O autor encontrou 76,8% de marcação do

plural na posição pós-verbal e 96% de marcação na posição pré-verbal (com distância

de 0 a 5 sílabas), o que confirma a hipótese de que sujeitos distantes de seus verbos ou

em posição pós-verbal desfavorecem a concordância verbal.

Em relação ao segundo grupo de fatores selecionado, Traço semântico do

sujeito, a hipótese de que sujeitos com traço [+ animado] tendem a um maior índice de

emprego de formas de 3ª pessoa do plural se confirmou, tendo como resultado 97% de

concordância com sujeitos com traço [+humano] e 86,8% de concordância com sujeitos

com traço [-animado].

O último grupo de fatores selecionado pelo programa para o PE foi Tipo

estrutural do sujeito. Houve uma discrepância considerável de quase 30 pontos

percentuais de frequência entre a categoria que apresentou a menor frequência, SN-

pleno nu, com 70,6% de marcação de plural, e a categoria com maior frequência,

pronome pessoal, que teve resultado quase categórico na marcação de 3ª pessoa do

plural, com 99,4 de frequência.

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30

Os próximos estudos a serem aqui abordados são os que mais se assemelham à

proposta da presente pesquisa. Brandão e Vieira (2012b) abordam o tema da

concordância nominal de número e verbal de terceira pessoa do plural em variedades

urbanas do Português Europeu (Cacém), do Português do Brasil (Nova Iguaçu) e do

Português de São Tomé. Os dados utilizados na pesquisa foram, para as variedades

brasileira e europeia, do Projeto Estudo comparado dos padrões de concordância em

variedades africanas, brasileiras e europeias do Português e, para a variedade africana,

do Corpus VARPOR. Cada ponto de inquérito em questão contava com 18 entrevistas

estratificadas segundo a escolaridade, a idade e o sexo do informante.

Foram controlados grupos de fatores linguísticos e sociais para avaliar a

realização das marcas de plural. Para a concordância verbal, foram considerados a faixa

etária, a escolaridade e o sexo como variáveis sociais. Como variáveis linguísticas,

foram testados os seguintes grupos de fatores: Posição do sujeito em relação ao verbo,

Distância entre o núcleo do SN e o SV, Presença de elementos intervenientes entre o SN

sujeito e o verbo, Configuração morfossintática do SN sujeito, Paralelismo no nível

oracional (entre sujeito e verbo), Animacidade do sujeito, Saliência fônica, Tempo

verbal e Transitividade verbal.

O resultado obtido para a concordância verbal no PE, em Cacém, foi de apenas

1,1% de não marcação de plural. Das 1.515 construções de 3ª pessoa do plural apenas

17 não apresentaram marca de concordância verbal. Os 17 dados, além de um de

infinitivo pessoal, foram analisados qualitativamente e estão distribuídos da seguinte

forma: (1) sete dados de estruturas com o verbo ser em construções predicativas; (2)

cinco dados de posposição do sujeito; (3) três dados em que o suposto referente sujeito

não se encontra adjacente ao verbo; e (4) dois dados em que o referente-sujeito foi

retomado por pronome cópia.

Com a análise desses dados, as autoras chegaram à conclusão de que, em termos

quantitativos, a falta de concordância no PE configura-se um caso de regra

semicategórica (Labov, 2003) e, em termos qualitativos, a falta de concordância está

concentrada em contextos linguísticos específicos, não ocorrendo na diversidade de

contextos verificados no PB e no PST.

O mais recente trabalho sobre o tema da concordância no PE é o de Bazenga e

Vieira (2013). Utilizaram-se, na pesquisa, dados do PB, do PE e dados da África,

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31

relativos a São Tomé (PST). Para a variedade brasileira, os pontos de inquérito

utilizados foram Copacabana (COP) e Nova Iguaçu (NIG). Para a variedade europeia,

utilizaram-se dois pontos da Região Metropolitana de Lisboa, Oeiras (OEI) e Cacém

(CAC), e um ponto na Ilha da Madeira, Funchal (FNC).

O aporte teórico-metodológico utilizado foi o da Sociolinguística Variacionista

(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972, 2003) e, para a

determinação do estatuto da regra linguística, a proposta de Labov (2003).

Testou-se a atuação dos seguintes grupos de fatores sociais: Faixa etária, Sexo e

Escolaridade. De natureza estrutural, controlou-se a influência dos seguintes: (i) quanto

ao sujeito: Posição em relação ao verbo, Configuração morfossintática; Distância entre

o SN sujeito e o verbo; Paralelismo entre as marcas do SN sujeito e as do verbo

(paralelismo oracional); Traço semântico (animacidade); e (ii) quanto às formas

verbais: Saliência fônica; Transitividade; Paralelismo entre as marcas dos verbos em

série (paralelismo discursivo).

Como critério de recolha, as autoras atenderam ao pressuposto de que um

enunciado pode remeter a estruturas sintáticas diferentes, concluindo que nem sempre a

aparente falta de expressão mórfica de plural constitui de fato um caso de não

concordância. Dessa forma, foram excluídas da amostra as seguintes construções:

formas verbais de 3ª pessoa plural empregadas como recurso de indeterminação;

aparentes sujeitos de 3ª pessoa plural (expresso ou nulo) que remetem a constituintes

topicalizados; construções com verbo copulativo, que podem ser interpretadas como

apresentacionais; formas verbais infinitivas, dada a frequente ambiguidade na

referência, se pessoal ou impessoal; ocorrências de “ter” e “vir” no presente do

indicativo, por serem homófonas ou de difícil reconhecimento na maior parte das

ocorrências do corpus; construções cuja determinação da forma verbal como singular

ou plural é de definição duvidosa por motivos fonético-fonológicos, além das diversas

construções com coordenação, expressões partitivas, numéricas, títulos de obras, dentre

outras, cuja interpretação possa ser singular ou plural.

Encontrou-se um total de 7063 ocorrências distribuídas da seguinte forma: 1467

em Oeiras, 1185 em Cacém, 914 em Funchal, 1395 em Copacabana, 1365 em Nova

Iguaçu e 737 em São Tomé. A porcentagem de casos sem marca de número em cada

localidade foi: 0,9 em Oeiras; 0,8 em Cacém; 5,3 em Funchal; 7,9 em São Tomé; 11,9

em Copacabana; 21,8 em Nova Iguaçu.

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32

Com os resultados obtidos, as autoras definem o PE como um caso de regra

semicategórica de concordância de 3ª pessoa, embora admitam que Funchal apresente

comportamento no limite entre o semicategórico e o variável, nos termos de Labov

(2003). Como os resultados da seleção estatística no PE não permitiram estabelecer a

lista de grupos de fatores relevantes, dada a limitada concretização da não concordância,

partiu-se para uma análise detalhada dos contextos em que não se concretizou a masca

de plural e, especificamente em Funchal, de alguns índices percentuais.

As autoras listam as estruturas mais comuns encontradas sem a marcação de

plural: (i) estruturas do tipo V SN compostas em sua maioria por verbos inacusativos;

(ii) presença de sujeitos com traço semântico [- animado]; (iii) presença de verbo

seguido de um fone (consoante nasal; vogal) que pode alterar a qualidade vocálica final

do verbo e não se configurar, possivelmente, uma forma verbal idêntica à do singular.

Concluiu-se com o estudo que o PE não partilha o mesmo perfil quantitativo

nem qualitativo do PB vernacular. Os contextos em que se constatou a suposta falta de

concordância no PE nada podem revelar do estatuto social dessa variedade.

Para melhor compreensão dos resultados dos trabalhos aqui expostos, foi

elaborada uma tabela com as características principais de cada trabalho e o percentual

de falta de concordância encontrado.

Variedade Características sociais Percentual de não

marcação

Portugal

P. popular

(Varejão, 2006)

Escolaridade: nula e até 4

anos de escolarização

Faixa etária: 18 a 35, 36 a

55 e mais de 56 anos

Gênero: masculino e

feminino

8%

Lisboa – PT

(Monguilhott, 2010)

Escolaridade: fundamental

e superior

Faixa etária: 15 a 36, 45 a

76 anos

Gênero: masculino e

9%

Page 34: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

33

feminino

Évora – PT

(Monte, 2012)

Escolaridade: nula, Ensino

Fundamental-EJA e Ensino

Médio

Faixa etária: não

controlada

Gênero: masculino e

feminino

6,9%

Portugal

CRPC

(Rubio, 2012)

Escolaridade: 1 a 4, 5 a 8, 9

a 11 e + de 12 anos

Faixa etária: 16 a 25, 26 a

35, 36 a 55 e + de 55 anos

Gênero: masculino e

feminino

6,1%

Cacém – PT

(Brandão e Vieira, 2012)

Escolaridade: fundamental,

médio e superior

Faixa etária: 18 a 35, 36 a

55, 56 a 70

Gênero: masculino e

feminino

1,1%

Cacém

Oeiras

Funchal

(Bazenga e Vieira, 2013)

Escolaridade: fundamental,

médio e superior

Faixa etária: 18 a 35, 36 a

55, 56 a 70

Gênero: masculino e

feminino

0,8%

0,9%

5,3%

Tabela 1: Características dos trabalhos sobre concordância verbal no PE: localidade,

estratificação social e porcentagem de falta de concordância obtida.

É possível traçar semelhanças e diferenças entre os estudos descritos. Para

entender os índices e os contextos em que ocorre a falta de concordância no PE, é

necessário ver o perfil do corpus utilizado por cada estudo. Os perfis sociais dos

Page 35: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

34

informantes de cada pesquisa são diversificados, visto que em alguns estudos, como o

de Varejão (2006) e o de Monte (2012), não há um preciso controle da variável faixa

etária, por exemplo. Esses trabalhos avaliam também a fala de indivíduos analfabetos, o

que não ocorre nos demais. Além disso, é preciso atentar para o fato de que os estudos

de Varejão (2006) e Rubio (2012) analisam sobretudo a fala de indivíduos em áreas não

urbanas, ao passo que Monguilhott (2009, 2010), Monte (2012), Brandão e Vieira

(2012b) e Bazenga e Vieira (2013) contemplam o falar de regiões urbanas,

exclusivamente ou não.

Outra importante observação a ser feita é sobre os critérios de exclusão de dados

utilizados por cada autor. Com base no quadro utilizado por Bazenga e Vieira (2013, p.

27), elaborou-se o quadro abaixo, que mostra os contextos estruturais excluídos de cada

pesquisa.

Contexto estrutural excluído da coleta de dados Estudo

sociolinguístico Verbos na 3ª pessoa plural em contextos de

indeterminação do sujeito

Monguilhott (2010)

Monte

(2012)

Rubio

(2012)

Bazenga e

Vieira

(2013)

Estrutura tradicionalmente chamada de passiva sintética Monguilhott

(2010) Varejão

(2006)

Bazenga e

Vieira (2013)

Concordância semântica com nome singular (o pessoal)

Monguilhott

(2010)

Monte (2012)

Page 36: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

35

Formas verbais homófonas do tipo tem/têm Monte

(2012)

Varejão

(2006)

Rubio

(2012)

Bazenga e

Vieira

(2013)

Respostas em que se repete a forma verbal da pergunta

feita pelo documentador Monte

(2012)

Varejão

(2006)

Orações com verbo ‘ter’ com valor existencial Monte (2012)

Sujeito representado pelo pronome indefinido ‘tudo’

remetendo a um SN de 3ª pessoa do plural (os filhos e o

marido é tudo Benfica)

Monte (2012)

Sujeito constituído por expressão partitiva Monte (2012)

Bazenga e Vieira (2013)

Verbos no infinitivo pessoal Monte (2012)

Bazenga e Vieira (2013)

Sujeito composto e posposto ao verbo com o núcleo mais

próximo no singular (morreu a senhora e o patrão) Monte

(2012)

Varejão

(2006)

Sujeito do tipo pronomes interrogativos Monte (2012)

Frases em que ocorre uma possível concordância com um

pronome expletivo, do tipo ele falta-me umas peças ...

Varejão (2006)

Page 37: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

36

Aparentes sujeitos de 3ª pessoa plural (expresso ou nulo)

que remetem a constituintes topicalizados

Bazenga e Vieira (2013)

Construções com verbo copulativo, que podem ser

interpretadas como apresentacionais

Bazenga e Vieira (2013)

Construções cuja determinação da forma verbal como

singular ou plural é de definição duvidosa por motivos

fonético-fonológicos

Bazenga e Vieira (2013)

Quadro 1: Critérios de exclusão de dados nos estudos variacionistas sobre a

concordância verbal no PE

Os trabalhos que apresentam maior detalhamento quanto aos critérios de recolha

de dados são os de Monte (2012) e Bazenga e Vieira (2013). Certamente, se a recolha

tivesse sido mais criteriosa nos outros estudos, os índices de marcação de plural no

verbo seriam maiores do que os obtidos. A questão é que, como dizem Bazenga e Vieira

(2013, p. 28), “há estruturas interpretadas como variáveis em um estudo, e não variáveis

em outro.”

Em relação aos grupos de fatores investigados, de forma geral, os estudos

mostram que o controle de variáveis como a configuração morfossintática do SN

sujeito, a animacidade do sujeito e o tipo de verbo é importante para a caracterização do

fenômeno, mas, sem dúvida alguma, a variável que se mostrou relevante em todas as

pesquisas foi a posição do sujeito em relação ao verbo, sempre mostrando a posição

pós-verbal como desfavorecedora da marcação de plural no verbo.

De modo geral, observadas as ressalvas feitas quanto à coleta de dados, os

estudos vêm apontando – ainda que tratem o fenômeno como variável - uma regra de

concordância bastante controlada no PE, em que a não-marcação de número se dá em

contextos bastante específicos.

Page 38: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

37

4 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

4.1 Fundamentação teórica

4.1.1 O aporte sociolinguístico variacionista

O trabalho apresentado tem como base a Teoria da Variação e Mudança (cf.

WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968; LABOV, 1972a, 1972b, 1994, 2003),

conhecida também como Sociolinguística Quantitativa ou Sociolinguística

Variacionista. Esse aporte teórico-metodológico parte do pressuposto de que a variação

é inerente à língua e não ocorre aleatoriamente, podendo ser sistematizada e

desencadear ou não uma mudança linguística. Essa abordagem científica tem como foco

a relação entre língua e sociedade, permitindo, para uma melhor compreensão da

concordância verbal – a variável dependente em questão –, observar os possíveis

condicionamentos linguísticos e extralinguísticos – as variáveis independentes – que a

motivam ou restringem.

Para investigar um determinado fato linguístico segundo a perspectiva variacionista,

é necessário atender a algumas exigências: as variantes devem ocorrer no mesmo

contexto e com o mesmo valor de verdade. Durante algum tempo, estudiosos

defenderam a aplicação da teoria apenas em estudos fonológicos, visto que, nesse caso,

são indubitavelmente atendidas as referidas exigências. Ocorre que, desde o início, o

Brasil já mostrou produtiva aplicação do modelo variacionista ao estudo de fenômenos

de outros níveis linguísticos, como o morfológico, sintático e semântico. Os estudos

sociolinguísticos levam em consideração fenômenos que apresentem formas alternantes

com o mesmo valor referencial ou, ao menos, a mesma comparabilidade funcional.

Paredes da Silva apresenta o que foi dito por Silva-Corvalán (1986) a respeito da

abertura do tratamento variacionista para outros níveis linguísticos que não só o

fonológico:

Segundo Silva-Corvalán (1986), o sucesso dos estudos de variação

fonológica de orientação laboviana motivou os sociolinguistas a

aplicar os mesmos métodos e técnicas à análise de casos de variação

na sintaxe. Parecia, à primeira vista, uma evolução natural na

aplicação do modelo. Se se encontra variação sistemática e

Page 39: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

38

quantificável no campo da fonologia, por que não estender sua

procura à sintaxe, à semântica e até ao discurso?

(PAREDES DA SILVA, 2008, p.68)

Assim, a Sociolinguística mostra ser estruturado o aparente “caos” linguístico,

formado pelo confronto entre variantes linguísticas (duas ou mais maneiras de se dizer a

mesma coisa) motivado por variáveis linguísticas e extralinguísticas. Essas variáveis

refletem o ponto de partida de que se vale a Teoria, que é a relação entre língua e

sociedade. Essa relação era defendida pelos estruturalistas nas décadas de 20 e 30, sob

outra perspectiva, mas foi abandonada pela escola gerativo-transformacional,

especialmente em seus primeiros modelos. Para Chomsky (1965), o objeto dos estudos

linguísticos é o falante-ouvinte ideal, inserido em uma comunidade linguisticamente

homogênea. Já o objeto da Sociolinguística é a comunidade de fala, cuja

heterogeneidade linguística e social apresenta sistematicidade.

O marco inicial da sociolinguística é a obra de Weinreich, Labov e Herzog

(1968), em que se propõe o princípio da heterogeneidade ordenada. Constitui tarefa da

área, segundo os autores, resolver os chamados “problemas da mudança”, que são: a

restrição, em que se avalia que condições favorecem ou restringem as mudanças; a

transição, que tem por fim avaliar através de que percurso a mudança se realiza; o

encaixamento, que mostra como a mudança está encaixada na estrutura linguística e na

estrutura social; a avaliação, que determina em que medida a avaliação subjetiva do

indivíduo frente às variantes pode interferir no processo de mudança; e, por fim, a

implementação, que analisa o motivo de uma determinada mudança ocorrer em um

determinado lugar e um momento e não em outro lugar e outro momento.

William Labov, em vasta obra (1972, 1994, 2003, dentre outros), é considerado

o orientador dos trabalhos que se valem do tratamento da variação, por mais que não

tenha sido o primeiro sociolinguista, em termos latos, no cenário da investigação

linguística. Foi a obra de Labov que voltou a insistir na relação entre língua e sociedade

e na possibilidade de sistematização da variação existente na língua falada. O modelo de

análise proposto por ele é chamado de “sociolinguística quantitativa”, pois utiliza

sistematicamente índices quantitativos e tratamento estatístico dos dados.

Toda comunidade de fala, em que são frequentes as formas linguísticas em

variação, chamadas de variantes linguísticas, pode ser caracterizada segundo os usos

dessas formas e as avaliações que delas fazem seus usuários. Segundo Labov,

Page 40: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

39

A comunidade de fala não é definida por nenhuma concordância

marcada no uso dos elementos linguísticos, mas sim pela participação

num conjunto de normas compartilhadas; estas normas podem ser

observadas em tipos de comportamento avaliativo explícito e pela

uniformidade de padrões abstratos de variação que são invariantes no

tocante a níveis particulares de uso. De igual modo, por meio de

observações do comportamento linguístico, é possível fazer estudos

detalhados da estrutura de estratificação de classe numa dada

comunidade. Verificamos que existem algumas variáveis linguísticas

correlacionadas com uma medida abstrata de posição de classe social,

derivada de uma combinação de vários indicadores não-isomórficos,

em que nenhuma medida única, menos abstrata, vai gerar correlações

igualmente boas. (LABOV, 1972, p. 150)

As referidas variantes são, como já foi dito, as diversas formas alternativas que

configuram um fenômeno variável. Um conjunto de variantes forma uma variável

linguística, chamada, para fins de tratamento estatístico, de variável dependente. A

concordância entre o verbo e o sujeito constitui uma variável linguística (ou um

fenômeno variável), pois se realiza através de duas variantes, duas alternativas possíveis

e semanticamente equivalentes: a marca de concordância no verbo ou a ausência da

marca de concordância.

A variável é tida como dependente no sentido de que o emprego das variantes

não é aleatório, mas influenciado pelas variáveis independentes, que são os grupos de

fatores de natureza social ou estrutural. Dessa forma, as variáveis independentes ou

grupos de fatores podem ser de natureza interna ou externa à língua e podem ter

influência sobre seus usos, aumentando ou diminuindo sua frequência de ocorrência. Os

grupos de fatores são os parâmetros reguladores dos fenômenos variáveis,

condicionando positiva ou negativamente o emprego das formas variantes. As variantes

podem permanecer estáveis no sistema (continua havendo alternância no uso das formas

variantes) durante um período curto de tempo ou até por séculos, ou uma das formas

pode desaparecer, fenômeno que é chamado de mudança linguística.

É a Sociolinguística que investiga o grau de estabilidade ou de mutabilidade da

variação, diagnostica as variáveis que têm efeito positivo ou negativo sobre a

emergência dos usos linguísticos em alternância e prevê seu comportamento regular e

sistemático. A variação e a mudança são, portanto, contextualizadas. É importante

ressaltar que os condicionamentos que concorrem para o emprego das formas variantes

Page 41: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

40

são muitos, agem simultaneamente e emergem de dentro ou de fora do sistema

linguístico.

As variáveis linguísticas podem ser de natureza fono-morfo-sintática, semântica,

discursiva e lexical. No conjunto de variáveis externas à língua, estão os fatores

inerentes ao indivíduo (como etnia e sexo), os propriamente sociais (como escolaridade,

nível de renda, classe social e profissão) e os contextuais (como o grau de formalidade

discursiva e tensão discursiva). O presente trabalho utiliza como variáveis

extralinguísticas a Faixa etária, a Escolaridade, o Sexo e a Localidade a que pertence o

indivíduo.

É necessário atentar para o fato de que “as variáveis, tanto linguísticas quanto

não-linguísticas, não agem isoladamente, mas operam num conjunto complexo de

correlações que inibem ou favorecem o emprego de formas variantes semanticamente

equivalentes” (MOLLICA, 2008, p. 27). O nível de escolarização elevado, por exemplo,

contribui para o aumento na fala e na escrita das variantes prestigiadas. No caso da

variável Localidade, pode influenciar no fenômeno o fato de ser uma zona com

características mais urbanas ou mais rurais.

Antes mesmo da descrição do comportamento das variáveis sociais, alguns

questionamentos, baseados em conclusões de avançados estudos que correlacionam as

variáveis Sexo, Idade e Escolaridade, devem ser feitos sobre a discussão acerca de um

efeito padronizado desses grupos de fatores. São elas: a) o grau avançado de

escolarização concorre para um comportamento linguístico ajustado ao padrão

considerado culto? b) o sexo feminino é mais conservador do ponto de vista da norma

considerada culta? Esses e outros pontos são problematizados quando correlacionamos

variáveis sociais a fenômenos de variação.

Este trabalho está pautado também nos postulados de Labov (2003), segundo o

qual existe uma tipologia de regras em que se encaixaria cada fenômeno,

caracterizando-o como uma regra variável, semicategórica ou categórica.

A regra de Tipo I é a regra categórica, que opera com 100% de frequência, não

havendo nenhuma violação no discurso natural. As regras categóricas existem em todas

as formas de comportamento social, mas são extremamente difíceis de serem

naturalmente detectadas, porque elas nunca são violadas e ninguém pensa sobre elas.

Linguistas têm descoberto e formulado regras desse tipo por muitos séculos. Segundo

Labov, são elas que formam a “espinha dorsal” da estrutura linguística.

Page 42: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

41

A regra de Tipo II, chamada semicategórica, é a que demonstra raras e

reportáveis violações; são as regras que são geralmente ensinadas na escolas. Segundo

Labov, as regras semicategóricas são comumente encontradas no início ou no fim de

uma mudança linguística em progresso1, na qual a forma é rara o suficiente para ser

notada sempre que ocorre. Esse tipo de regra opera com frequência entre 95% e 99%.

A regra de Tipo III, regra variável, que opera com frequência entre 5% e 95%,

apresenta violações não reportáveis2, pois ocorre de maneira natural em cada

comunidade de fala.

É a partir dessa terminologia proposta por Labov (2003) que analisaremos o

fenômeno da concordância verbal de 3ª pessoa do plural no Português Europeu, que, em

princípio, parece apresentar um tipo de regra distinto do referente ao Português do

Brasil.

4.2 Metodologia

4.2.1 Descrição das localidades

Utilizou-se para este estudo o corpus constituído pelo projeto bilateral Estudo

comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e

europeias, que conta com entrevistas de orientação sociolinguística. O projeto

anteriormente vinculado à CAPES e, atualmente, configurado como Projeto ALFAL 21,

visa à comparação entre variedades do Português presentes no Brasil, em Portugal e na

África. No Brasil, o projeto está integrado ao Programa de Pós-graduação em Letras

Vernáculas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, em

1 Ao que tudo indica, conforme demonstra a própria análise da concordância aqui apresentada, nem

sempre o comportamento semicategórico se vincula a um fenômeno em mudança, hipótese que

necessita de aprofundamento para melhor compreensão.

2 A generalização feita por Labov a respeito da regra de Tipo III talvez não se aplique a todos os

fenômenos, como é o caso da concordância verbal, visto que a não realização da marca de plural no

verbo sofre estigma. Desse modo, o fato de a violação ser reportável ou não dependeria do estatuto da

variável.

Page 43: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

42

Portugal, ao Grupo Fontes, conhecimento e modelização em Linguística, do Centro de

Linguística da Universidade de Lisboa (CLUL).

Segundo a elaboração do referido projeto, ao comparar as três variedades do

português citadas (África, Brasil e Europa) no que diz respeito a uma questão central

das gramáticas, busca-se estabelecer padrões variáveis de concordância, “associando-os

a variedades e subvariedades (desde o standard até outras variedades dialetais), dessa

forma contribuindo para determinar diferentes gramáticas em co-existência e em

concorrência, em cada espaço geográfico onde se fala português.”

(www.letras.ufrj.br/concordancia)

Comparando o PB com o PE e com o português de África

(PA), o projeto busca construir um quadro comparativo global que

permita:

(i) traçar, do ponto de vista geográfico, intercontinental, isoglossas

de padrões de concordância (marcando a diferenciação e os continua

linguísticos);

(ii) determinar tendências de mudança linguística em curso ou que

se anunciam, através da análise de cada variedade e da comparação

entre variedades;

(iii) pôr hipóteses ou testar hipóteses prévias sobre a origem das

diferenças observadas, tendo em conta a história do português; e

(iv) testar hipóteses explicativas do conjunto dos fenômenos

observados, à luz dos princípios subjacentes a todas as gramáticas e

dos parâmetros específicos a subconjuntos de gramáticas

(www.letras.ufrj.br/concordancia)

Este trabalho, especificamente, utilizou as entrevistas realizadas em três

localidades distintas de Portugal, sendo estas Oeiras/Lisboa, Cacém e Funchal. As duas

primeiras localizam-se na porção continental do referido país, mais especificamente na

cidade de Lisboa, e a última, na porção insular, sendo a capital da Ilha da Madeira.

Page 44: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

43

Figura 1: Localização da cidade de Lisboa Figura 2: Localização do Distrito da

no mapa de Portugal3 Ilha da Madeira no mapa de Portugal

Oeiras é a sede do Concelho de Oeiras, composto por dez freguesias. Localiza-se

a 14 quilômetros de Lisboa, situando-se na margem direita do Rio Tejo. O Concelho de

Oeiras, por possuir localização privilegiada junto a Lisboa e também devido à dinâmica

de desenvolvimento, abriga hoje Parques de Tecnologia, com algumas (poucas)

atividades agrícolas e atividades industriais. Com o crescimento de seu território com

características marcadamente urbanas, constitui hoje um dos principais polos de

desenvolvimento da Área Metropolitana de Lisboa e do país.

Segundo a Câmara Municipal de Oeiras4, o Concelho de Oeiras é hoje detentor

dos seguintes indicadores: é o maior rendimento per capita em nível nacional; o 2º

maior poder de compra per capita de Portugal; o 2º maior Concelho na arrecadação de

impostos; possui a maior concentração de empresas de base tecnológica no país; maior

concentração de licenciados e doutorados no país; possui cinco estabelecimentos de

Ensino Superior; 26% da população com Ensino Superior – a mais alta taxa do país; e

possui a mais baixa taxa de desemprego da Área metropolitana de Lisboa. Com isso,

caracteriza-se por ser povoado por pessoas de alto poder aquisitivo e nível sociocultural

elevado. É o local onde estão presentes importantes institutos de pesquisa científica e

grandes empresas multinacionais, como Samsung, Peugeot, Nestlé, Fiat, General

Motors, Laboratórios Pfizer, L’oreal e Tetra Pak.

3 Fonte: www.ine.pt

4 Dados disponíveis no site da Câmara Municipal de Oeiras <http://www.cm-oeiras.pt>

Page 45: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

44

Nas figuras abaixo, é possível localizar o Concelho de Oeiras, localizado na

cidade de Lisboa, e a freguesia de Oeiras, localizada no Concelho de Oeiras.

Figura 3: Localização do Concelho Figura 4: Localização da freguesia de

de Oeiras na cidade de Lisboa Oeiras no Concelho de Oeiras

Cacém é a maior freguesia pertencente à cidade de Agualva-Cacém, sendo esta

composta também pelas freguesias de Agualva, Mira Sintra e São Marcos. A cidade

Agualva-Cacém está localizada no Concelho de Sintra. Sintra, classificada pela

UNESCO como Paisagem Cultural e Patrimônio da Humanidade5, é marcada pela

passagem de muitos povos e culturas ao longo dos tempos. Cacém ainda abriga grande

concentração de imigrantes, sobretudo das ex-colônias africanas: Angola, Guiné, Cabo

Verde e outras. Devido ao grande crescimento populacional, toda a cidade de Agualva-

Cacém enfrenta problemas de cunho ambiental e urbanístico.

A população de Cacém possui menor poder aquisitivo e nível sócio-cultural

também inferior e, devido aos preços mais baixos das moradias, muitos moradores

optam por viver em Cacém, ainda que trabalhem em Lisboa ou em outra região de

Sintra. Como há grande facilidade de acesso ao sistema de trens urbanos, os moradores

de Cacém saem para trabalhar de manhã e só retornam à noite para dormir. Dessa

forma, Cacém apresenta características de “bairro-dormitório”.

Nas imagens abaixo, estão expostos o Concelho de Sintra, também localizado na

cidade de Lisboa, e a freguesia de Cacém, pertencente ao Concelho de Sintra.

5 Dados disponíveis no site da Câmara Municipal de Sintra <http://www.cm-sintra.pt>

Page 46: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

45

Figura 5: Localização do Concelho Figura 6: Localização da Freguesia de

de Sintra na cidade de Lisboa Cacém no Concelho de Sintra

Por fim, Funchal, capital da Região Autônoma da Madeira, é o principal núcleo

populacional do Arquipélago. Por possuir o melhor porto, clima ameno e excelente

posição geográfica na costa sul (a mais produtiva da ilha), rapidamente teve um

fulgurante desenvolvimento urbano. Nessas condições, foi local de passagem das rotas

comerciais portuguesas, o que até hoje gera a grande circulação de comerciantes de

diversas localidades. Ao longo do século XIX, a Ilha da Madeira e, mais

especificamente, Funchal transformaram-se em mitos românticos europeus, fazendo que

a ilha recebesse a visita de grandes personalidades como rainha, imperadores e

princesas. Desde então e principalmente após a instalação do Porto do Funchal e do

Aeroporto de Santa Catarina, Funchal tornou-se um centro de turismo internacional,

atividade essa que sustenta sua economia atualmente.

Figura 7: Localização do Concelho de Funchal no Distrito da Ilha da Madeira

Page 47: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

46

4.2.2 Caracterização do corpus

A amostra principal da qual se valeu este trabalho está composta por 54

transcrições de gravações de entrevistas de modelo sociolinguístico, sendo 18

informantes de cada uma das três localidades acima descritas. Os 18 informantes estão

organizados de acordo com as seguintes características sociais: sexo (masculino e

feminino); escolaridade (Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior); e faixa

etária (faixa A - 18 a 35 anos; faixa B - 36 a 55 anos; faixa C - 56 a 75 anos).

Os quadros abaixo mostram a organização do corpus e o código usado ao

decorrer do trabalho para indicar a que informante pertence cada exemplo.

Escolaridade /

Idade / Sexo

Nível 1 de instrução Nível 2 de instrução Nível 3 de instrução

Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Faixa A FNC A1H FNC A1M FNC A2H FNC A2M FNC A3H FNC A3M

Faixa B FNC B1H FNC B1M FNC B2H FNC B2M FNC B3H FNC B3M

Faixa C FNC C1H FNC C1M FNC C2H FNC C2M FNC C3H FNC C3M

Quadro 2 : Estratificação do corpus de Funchal com códigos de identificação de cada

informante.

Escolaridade /

Idade / Sexo

Nível 1 de instrução Nível 2 de instrução Nível 3 de instrução

Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Faixa A CAC A1H CAC A1M CAC A2H CAC A2M CAC A3H CAC A3M

Faixa B CAC B1H CAC B1M CAC B2H CAC B2M CAC B3H CAC B3M

Faixa C CAC C1H CAC C1M CAC C2H CAC C2M CAC C3H CAC C3M

Quadro 3: Estratificação do corpus de Cacém com códigos de identificação de cada

informante.

Page 48: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

47

Escolaridade /

Idade / Sexo

Nível 1 de instrução Nível 2 de instrução Nível 3 de instrução

Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher

Faixa A OEI A1H OEI A1M OEI A2H OEI A2M OEI A3H OEI A3M

Faixa B OEI B1H OEI B1M OEI B2H OEI B2M OEI B3H OEI B3M

Faixa C OEI C1H OEI C1M OEI C2H OEI C2M OEI C3H OEI C3M

Quadro 4: Estratificação do corpus de Oeiras com códigos de identificação de cada

informante.

Além da amostra principal, utilizou-se também a amostra complementar

disponibilizada pelo Projeto, com a finalidade de expandir o número de dados e ter

resultados mais consistentes. Essa amostra complementar está composta por outras

entrevistas que não fazem parte da amostra básica pelo fato de já haver algum outro

informante que atendesse ao perfil desejado ou porque o informante não foi considerado

ideal por diversos fatores como: o informante nasceu em outra região e se mudou para a

localidade estudada quando era criança ou o informante era muito tímido e o tempo de

gravação acabou ficando inferior aos 30 minutos estabelecidos como tempo mínimo.

Escolaridade/Idade NÍVEL 1 NÍVEL 2 NÍVEL 3

FAIXA A CAC A1M c CAC A2H c

FNC A2M c

FNC A3H c

FNC A3M c

FAIXA B OEI B1M c OEI B2H c

FNC B2H c

OEI B3M c

FAIXA C CAC C1H c

FNC C1H c

FNC C1M c

------

------

Quadro 5: Distribuição das gravações da amostra complementar com códigos de

identificação de cada informante.

Page 49: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

48

É importante salientar, ainda, os contextos considerados variáveis para a coleta

das ocorrências de verbos ligados a sujeitos de 3ª pessoa plural. Este trabalho, assim

como os outros no âmbito do Projeto, assume o pressuposto de que “um enunciado

pode remeter a estruturas sintáticas diferentes, o que implica assumir que nem sempre a

aparente falta de expressão mórfica de plural constitui efetivamente um caso de não

concordância” (BAZENGA; VIEIRA, 2013, p. 3). Nesse sentido, não compõem o

conjunto de dados as seguintes construções:

a) formas verbais de 3ª pessoa plural empregadas como recurso de indeterminação;

b) aparentes sujeitos de 3ª pessoa plural (expresso ou nulo) que remetem a

constituintes topicalizados;

c) construções com verbo copulativo, que podem ser interpretadas como

apresentacionais;

d) formas verbais infinitivas, dada a frequente ambiguidade na referência, se

pessoal ou impessoal;

e) ocorrências de “ter” e “vir” no presente do indicativo, por serem homófonas

ou de difícil reconhecimento na maior parte das ocorrências do corpus;

f) construções cuja determinação da forma verbal como singular ou plural é de

definição duvidosa por motivos fonético-fonológicos, além das diversas

construções com coordenação, expressões partitivas, numéricas, títulos de

obras, dentre outras, cuja interpretação possa ser singular ou plural.

4.2.3 Etapas do trabalho

A seguir, estão enumeradas as etapas metodológicas realizadas para a

concretização do presente trabalho.

a) Leitura da bibliografia que norteia a fundamentação teórica e a revisão

bibliográfica do trabalho apresentado.

Page 50: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

49

b) Coleta de dados com sujeito de 3ª pessoa do plural da amostra básica.

c) Levantamento das possíveis variáveis linguísticas influenciadoras no fenômeno

em questão.

d) Codificação dos dados, segundo variáveis linguísticas e sociais.

e) Tratamento computacional dos dados com o pacote de programas GOLDVARB-

X.6

f) Coleta de dados com sujeito de 3ª pessoa do plural da amostra complementar.

g) Codificação dos dados, segundo as mesmas variáveis linguísticas e sociais.

h) Tratamento computacional dos dados da amostra completa (básica +

complementar) com o pacote de programas GOLDVARB-X.

i) Sistematização e interpretação dos resultados.

j) Transcrição fonética das desinências finais dos verbos com baixa saliência

fônica considerando uma subamostra de entrevistas, composta pelos 9

informantes do sexo masculino de Funchal mais 9 de Oeiras.

k) Sistematização e interpretação dos resultados fonéticos.

l) Redação do texto.

6 A Sociolinguística Variacionista ou Sociolinguística Quantitativa, como o próprio nome diz, prevê

tratamento estatístico dos dados. O GoldVarb-X é a ferramenta de análise multivariada utilizada para

analisar dados de variação sociolinguística. O programa indica os grupos de fatores significativos ao

fenômeno em ordem de relevância, apontando o peso relativo de cada fator em relação a uma das

variantes da variável dependente, aquela eleita como valor de aplicação. É preciso, porém, que o

pesquisador utilize a ferramenta de forma a auxiliar sua análise, que deve partir de hipóteses linguísticas

baseadas em teorias consistentes.

Page 51: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

50

5 AS VARIÁVEIS

Faz-se necessária a descrição dos grupos de fatores, tanto de cunho social quanto

de cunho linguístico, que foram controlados e analisados neste trabalho com a

finalidade de mostrar os contextos que (des-)favorecem a marcação da concordância.

5.1 A variável dependente

A variável dependente, motivo desta pesquisa, constitui um grupo binário –

ausência ou presença da marca de plural de 3ª pessoa no sintagma verbal.

concordância

(1) por exemplo se eu fosse sair à noite os meus pais mandavam estar por exemplo

à meia noite em casa (OEI A1H)

não-concordância

(2) acho que não e acho que as pessoas ainda nem sequer estão a pensar nisso –

7falou-se nisso quando foi aprovado e acabou - saiu algumas gramáticas

alteradas mas ninguém está a usar nada – acho que a grande complicação é por

exemplo quando chegamos à altura dos nossos filhos (OEI A3M)

7 Nas transcrições das entrevistas foram utilizados os seguintes códigos:

Pausa breve: - Pausa longa: – Pausas preenchidas: ah eh mmh Hipótese do que se ouviu: /hipótese/ Incompreensão de palavras ou segmentos: ( ) Comentários do transcritor: (( )) Interrogação: ? Exclamação: ! Superposição, simultaneidade de vozes: Sublinham-se as duas falas sobrepostas

Page 52: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

51

5.2 As variáveis independentes

5.2.1 Variáveis extralinguísticas

5.2.1.1 Faixa etária

A variável Faixa etária foi controlada com a intenção de testar o grau de

conservadorismo ou de inovação na fala dos portugueses. Parte-se do princípio de que

informantes mais velhos utilizem a variante mais conservadora, nesse caso, a aplicação

da regra de concordância. Os falantes mais novos, por sua vez, mais propensos à

inovação, apresentariam maiores frequências de cancelamento da marca de plural.

É a variável Faixa etária um dos recursos que permitem a análise do fenômeno

como um caso de mudança em progresso ou como variação estável. De todo modo, é

necessário atentar para o fato de que a predominância de uma determinada variante

linguística na fala dos mais jovens pode indicar duas possibilidades: a) a instalação

gradual de uma nova variante na língua (mudança linguística); ou b) uma diferenciação

linguística etária que se repete a cada geração.

Com o intuito de testar essas possibilidades, os informantes foram estratificados,

na amostra utilizada, de acordo com as seguintes faixas de idade:

A – 18 a 35 anos

B – 36 a 55 anos

C – 56 a 75 anos

5.2.1.2 Escolaridade

A escolaridade tem sido amplamente estudada e testada a fim de verificar o seu

grau de influência sobre os falantes quanto à apropriação da norma de prestígio. Silva &

Scherre (1996) apresentaram três tendências observadas quanto ao efeito da

escolarização sobre as formas padrão, próprias a estilos e gêneros mais formais:

Page 53: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

52

a) Podem ocorrer casos em que os falantes entram na escola oscilando

entre um grande e um pequeno uso da variante padrão; a escola “poda” a

criança que não se amolda ao sistema de ensino. (...) Nesses casos, trata-

se de variantes estigmatizadas pela escola, que chegam a ser

sistematicamente corrigidas.

b) Em outros casos, em que a maioria dos falantes entra na escola sem usar

a variante padrão, esta é adquirida durante sua escolarização sem que

desapareça, porém, a variante não-padrão. Enquanto no primeiro ano

escolar só há indivíduos que tendem a usar a variante não-padrão, nos

últimos anos escolares há falantes que tendem a usar ambas as variantes.

(...) Algumas variantes não-padrão não chegam a ser estigmatizadas pela

escola, não sendo objeto de correção.

c) Finalmente, uma terceira modalidade ocorre quando os falantes entram

na escola apenas com a variante que se considera não-padrão, mas,

paulatinamente, substituem essa variante pela considerada padrão.

(SILVA; SCHERRE, 1996, p. 346, 348-349)

Pelo fato de o fenômeno da concordância ser amplamente trabalhado na escola

devido à estigmatização atribuída à falta de concordância, supõe-se que, quanto maior a

escolaridade, maior será a frequência de concordância apresentada por esses indivíduos.

Para isso, controlou-se a escolaridade da seguinte forma:

Nível 1 – ensino fundamental

Nível 2 – ensino médio

Nível 3 – ensino superior

5.2.1.3 Sexo

Ao analisar a dimensão extralinguística da variação, não se pode ignorar que a

maior ou menor ocorrência de certas variantes, principalmente das que envolvem o

binômio forma padrão/forma não-padrão, e o processo de implementação de mudança

estejam associados ao sexo/gênero do falante e também à forma de construção social

dos papéis masculino e feminino.

Diversos estudos sobre fenômenos em variação no português apontam o que se

pode chamar de maior consciência feminina do status social das formas linguísticas, isto

é, as mulheres demonstram maior preferência pelas variantes linguísticas mais

prestigiadas socialmente. Ademais, quando se trata de mudança linguística, as mulheres

Page 54: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

53

parecem liderar os processos de mudança, estando, muitas vezes, uma geração à frente

dos homens. Ou seja, quando se trata de implementar na língua uma forma socialmente

prestigiada, as mulheres tendem a assumir a liderança da mudança. Ao contrário,

quando se trata da implementação de formas socialmente desprestigiadas, as mulheres

assumem uma atitude conservadora e os homens tomam a liderança do processo.

O que se tem generalizado até o momento é a maior sensibilidade feminina ao

prestígio social que comunidades atribuem a certas variantes linguísticas. No entanto, é

preciso considerar que o efeito da variável sexo isoladamente camufla outras questões

que devem ser examinadas. É necessário que a análise da correlação entre sexo e a

variação linguística faça referência não apenas ao prestígio atribuído pela comunidade

às variantes linguísticas, como também à forma de organização social da comunidade de

fala em estudo.

A consistência do padrão que aponta o conservadorismo linguístico

das mulheres emerge da análise de variações em comunidades de fala

ocidentais, que partilham diversos aspectos da organização

sociocultural. Esse padrão pode ser revertido, no entanto, quando se

consideram dados de comunidades de fala caracterizados por outros

valores culturais e outra forma de organização social. (PAIVA,

2008, p.35)

Com o controle dessa variável, pretende-se verificar se a caracterização do

informante quanto ao sexo influencia na concretização da concordância e refletir sobre o

processo de socialização e os papéis que cada comunidade atribui aos homens e às

mulheres.

5.2.1.4 Localidade

A variável Localidade foi controlada com a finalidade de avaliar as “diferenças

linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origens

geográficas distintas” (ALKMIM, 2001, p. 34), observando a influência da variação

diatópica na regra de concordância verbal no PE.

Pesquisas sociolinguísticas (LUCCHESI, 2009) apontam diferenças

significativas entre o falar de um indivíduo brasileiro que mora na zona urbana e de

outro que more na zona rural. Mostram, ainda, principalmente em relação ao fenômeno

da concordância, que os falantes da zona urbana ou da capital, quando comparados com

Page 55: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

54

os da zona rural ou do interior, costumam preservar a forma padrão, enquanto os

falantes interioranos e da zona rural tendem a usar menos essa forma.

Estudos relativos ao PB vêm demonstrando com mais frequência a atuação dessa

variável no fenômeno da concordância, como é o caso do trabalho de Vieira (1995), que

investigou a concordância verbal de 3ª pessoa do plural em dialetos populares de três

comunidades pesqueiras da Região Norte-fluminense do Estado do Rio de Janeiro.

Após a análise de 18 inquéritos do arquivo sonoro do projeto APERJ, observou-se que

há diferença de comportamento linguístico entre os falantes das diferentes localidades

estudadas, pelo fato de a cidade estar mais ou menos afastada do litoral. São João da

Barra, localiza no litoral do Estado, apresentou menor tendência à não-concordância,

seguida de São Fidélis, consideravelmente afastada do litoral. A cidade que apresentou

maior tendência à não-concordância foi Itaocara, que está mais distante do litoral.

Motivou o controle dessa variável a suposição de que o comportamento do

fenômeno seria diferente nas três localidades controladas, pelo fato de elas possuírem

características sociais diferentes, como se retoma sinteticamente abaixo.

Oeiras, sede do Concelho de Oeiras, caracteriza-se por ser povoado por pessoas

de alto poder aquisitivo e nível sociocultural elevado. É o local onde estão presentes

grandes empresas multinacionais e importantes institutos de pesquisa científica.

Cacém, pertencente ao Concelho de Sintra, apresenta características de “bairro-

dormitório”, estando presente grande concentração de imigrantes, principalmente das

ex-colônias africanas. A população de Cacém possui menor poder aquisitivo e nível

sociocultural também inferior.

Por fim, Funchal, capital da Região Autônoma da Madeira, foi um dia local de

passagem das rotas comerciais portuguesas, trazendo até hoje a grande circulação de

comerciantes de diversas localidades. Sua economia hoje tem como base o setor

terciário, principalmente as atividades ligadas ao turismo.

Para cada uma das três localidades em estudo, conforme já se descreveu na

Metodologia, foram utilizadas 18 gravações (além das complementares), estratificadas

segundo sexo, escolaridade e idade. Cada informante tem, portanto, um código que

indica sua localidade, sua faixa etária, o nível de escolaridade que possui e o sexo.

Page 56: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

55

5.2.2 Variáveis linguísticas

O quadro abaixo mostra as variáveis e seus respectivos fatores utilizados para o

controle linguístico do fenômeno. Após a rodada inicial, pela inexpressividade de

alguns contextos, foi necessário fazer uma recodificação amalgamando fatores, mas o

quadro abaixo mostra por completo as variáveis utilizadas em sua configuração inicial.

GRUPOS DE FATORES FATORES

Posição do sujeito em relação ao verbo - sujeito explícito anteposto

- sujeito explícito posposto

- sujeito não-explícito

Distância entre o núcleo do SN e o SV - zero sílaba

- 1 sílaba

- 2 sílabas

- 3-4 sílabas

- 5-6 sílabas

- mais de 6 sílabas

- sujeito não expresso

Configuração morfossintática do SN

sujeito

- pronome pessoal

- pronome demonstrativo

- pronome possessivo (precedido ou não

de artigo)

- quantificador indefinido

- quantificador numeral (precedido ou não

de artigo)

- SN sem SPrep encaixado

- SN com SPrep encaixado

- SN /pronome com uma oração

relativa/adjetiva

- SNs plenos/pronomes coordenados (com

ou sem oração relativa)

- Sujeito não expresso (oculto/desinencial)

- pronome relativo

Paralelismo no nível oracional

(Características formais do sujeito da

construção)

- vocábulo isolado no plural

- morfema de plural explícito (-s) no

último elemento não-inserido em um

sintagma preposicional

- morfema de plural zero no último

elemento não-inserido em um sintagma

preposicional

Page 57: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

56

- morfema de plural explícito (-s) no

último elemento inserido em um sintagma

preposicional

- morfema de plural zero ou forma não-

marcada de singular no último elemento

inserido em um sintagma preposicional

- numeral no último elemento não inserido

em um sintagma preposicional

- numeral no último elemento inserido em

um sintagma preposicional

- núcleos coordenados

- sujeito não expresso (oculto/desinencial)

- sujeito posposto

Animacidade do sujeito/referente - [+ animado] [+ humano]

- [+ animado] [- humano]

- [- animado]

Saliência fônica NÍVEL 1

- 1a. não envolve a mudança na qualidade

da vogal na forma plural - acréscimo de

nasalidade (come/comem)

- 1b. envolve mudança na qualidade da

vogal na forma plural - acréscimo da

semivogal [w] (fala/falam)

- 1c. envolve acréscimo de segmentos na

forma plural e possível mudança na

realização da consoante final do singular

(faz/fazem)

- 1d. (quer/querem)

NÍVEL 2

- 2a. envolve apenas mudança na

qualidade da vogal na forma plural

(dá/dão)

- 2b. envolve mudança na qualidade da

vogal na forma plural e queda da

semivogal da forma singular (vai/vão)

NÍVEL 3

- 3a. envolve acréscimo de segmentos sem

mudanças vocálicas na forma plural,

queda da semivogal da forma

singular (comeu/comeram)

- 3b. envolve acréscimo de segmentos

com mudança vocálica na forma plural,

queda do ditongo. (falou/falaram)

- 3c. envolve acréscimo de segmentos -

com ou sem mudanças/acréscimos

vocálicas(os) - na forma plural, mudança

da tonicidade do vocábulo

Page 58: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

57

(disse/disseram)

NÍVEL 4

- 4a. envolve acréscimo de segmentos

com mudança na raiz e na tonicidade do

vocábulo (fez/fizeram)

- 4b. Mudança quase completa - caso

único (veio/vieram)

- 4c. Mudança completa - caso único

(é/são)

Tipo de verbo quanto à transitividade - inergativo = intransitivo

- inacusativo

- transitivo – direto, indireto, relativo ou

circunstancial, transitivo direto e indireto,

transitivo bi-relativo / circunstancial,

transitivo direto e relativo, direto e bi-

relativo, transitivo predicativo

- copulativo

Paralelismo no nível discursivo - verbos precedidos de verbo com marca

formal de plural no discurso do

informante

- verbos precedidos de verbo com marca

zero de plural no discurso do informante

- verbos isolados ou primeiros de uma

série (não precedidos de verbos com

sujeitos plurais)

Presença de elementos intervenientes –

entre o sujeito e o verbo

- ausência de elementos

- palavra negativa

- advérbio

- palavra negativa + advérbio

- advérbio + palavra negativa

- oração adverbial

- construções apositivas

- conjunção

- marcador discursivo

- pronome

- preposição

- predicativo do sujeito

- sujeito não expresso

- advérbio + preposição

- advérbio + marcador discursivo

- advérbio + pronome

- conjunção + advérbio

- conjunção + pronome

- palavra negativa + pronome

- marcador discursivo + pronome

- marcador discursivo + palavra negativa

Page 59: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

58

- advérbio + palavra negativa + pronome

- conjunção + advérbio + pronome

Tempo verbal - presente do indicativo em forma simples

- presente do indicativo em forma

perifrástica

- pretérito perfeito do indicativo

- pretérito perfeito composto do indicativo

- pretérito imperfeito do indicativo em

forma simples

- pretérito imperfeito do indicativo em

forma perifrástica

- pretérito mais que perfeito do indicativo

- pretérito mais que perfeito composto do

indicativo

- futuro do indicativo em forma simples

- futuro do indicativo em forma

perifrástica

- futuro do presente composto do

indicativo

- futuro do pretérito do indicativo

- futuro do pretérito composto do

indicativo

- presente do subjuntivo

- presente composto/pretérito perfeito do

subjuntivo

- imperfeito do subjuntivo

- imperfeito composto/pretérito mais que

perfeito do subjuntivo

- futuro do subjuntivo

- futuro composto do subjuntivo

- infinitivo

Quadro 6: Grupos de fatores controlados.

5.2.2.1 Posição do sujeito em relação ao verbo

Controlou-se essa variável a fim de testar a hipótese de que os sujeitos que

aparecem na posição pós-verbal tendem a favorecer a não marcação de plural do verbo,

hipótese que vem sendo comprovada em diversos trabalhos empíricos.

Monguilhott (2001), por exemplo, encontrou, em dados europeus, cerca de 29%

de não marcação de concordância de número entre sujeito e verbo na ordem VS, sem

distinção de escolaridade.

Berlinck (1997), considerando dados brasileiros, também apresenta resultados

que apontam maior tendência aos sintagmas nominais pospostos desencadearem falta de

Page 60: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

59

concordância. A autora aponta que essa relação entre o sujeito em posição pós-verbal e

a não marcação da concordância tem servido de argumento à tese do caráter menos

‘subjetivo’ do sujeito. Pontes (1986) evidencia que o sujeito do sintagma posposto

apresenta características de objeto. Em um teste feito com alunos da Faculdade de

Letras da UFMG, a autora constatou que o sintagma posposto é considerado, muitas

vezes, como objeto por uma parcela de indivíduos que, por consequência, apresentam

dificuldade na marcação de concordância com esses tipos de sintagma.

Monte (2012) também discute o caráter não sujeito do sintagma nominal que

aparece em posição pós-verbal, citando um teste realizado pelo Ministério da Educação

de Portugal, em que 65% dos alunos que realizaram o teste identificaram um sujeito

posposto como objeto.

Desse modo, a posição do sujeito parece ser um princípio geral, recorrente em

muitos estudos, sendo um dos poucos contextos que caracterizam o fenômeno tanto no

PB quanto PE.

Segundo Castilho (2010),

a ordem VS é favorecida pelo sintagma nominal (1)

informacionalmente novo, textualmente mencionado pela primeira

vez, (2) semanticamente específico e não agentivo, (3) selecionado

por verbo monoargumental, (4) cujo Complementador (= sintagma

adjetival, sintagma preposicional e sentenças relativas) figure à direita

do núcleo nominal, (5) foneticamente “pesado”, isto é, que contenha

mais de sete sílabas. (CASTILHO, 2010, p. 292)

Na presente pesquisa, foram controlados os sujeitos em posição anterior ao

verbo, em posição posterior ao verbo e os sujeitos não explícitos, para que fossem

excluídos da leitura dos dados em momento oportuno.

Os exemplos abaixo mostram os fatores que compuseram esta variável:

a) sujeito anteposto

(3) não é medo é receio—a gente nunca sabe o que é que os filhos fazem (OEI

A1H)

b) sujeito posposto

Page 61: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

60

(4) acho que não e acho que as pessoas ainda nem sequer estão a pensar nisso –

falou-se nisso quando foi aprovado e acabou - saiu algumas gramáticas

alteradas mas ninguém está a usar nada – acho que a grande complicação é por

exemplo quando chegamos à altura dos nossos filhos (OEI A3M)

c) sujeito não-explícito

(5) I-não é medo é receio—a gente nunca sabe o que é que os filhos fazem

D-pois

I-por vezes não contam não é? é só isso (OEI A1H)

5.2.2.2 Distância entre o núcleo do SN e o SV

Avalia-se a distância entre o núcleo do SN e o SV para testar a hipótese de que,

quanto maior a distância entre esses dois constituintes oracionais, maior seria a

probabilidade de cancelamento da marca plural.

Considerou-se o número de sílabas presentes entre o sujeito e o verbo. Segundo

Naro e Scherre (1999a), cada sílaba ocupa mais ou menos a mesma quantidade de

tempo entre o sujeito e o verbo, o que demonstra ser mais eficaz calcular a distância

dessa forma do que com palavras ou com outras unidades hierarquicamente superiores.

Os casos de sujeitos não-explícitos não foram considerados, visto que a não

realização formal desse constituinte impede, obviamente, o cálculo da distância.

a) 0

(6) se eu fosse sair à noite os meus pais mandavam estar por exemplo à meia noite

em casa (OEI A1H)

b) 1 – 3

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(7) espero bem que mude- se não qualquer dia as pessoas já não saem à rua com

medo (OEI A1H)

c) 4 – 5

(8) eles hoje em dia consomem drogas muitos dizem eu sou mau- quero que me

respeitem (OEI A1H)

5.2.2.3 Configuração morfossintática do SN sujeito

O controle dessa variável está baseado nas distintas representações do SN

sujeito, que estão relacionadas a outras variáveis linguísticas, como a posição do sujeito

e o paralelismo no nível oracional, e podem, dessa forma, influenciar as marcas de

concordância presentes nos verbos.

Segundo Zilles (2000), o sujeito do tipo pronome pessoal apresenta forte

tendência a ocorrer na posição anterior ao verbo, característica que, como comprovada

em trabalhos sobre o tema da concordância, contribui para a marcação de plural nos

verbos. Já os sujeitos do tipo SN pleno (simples ou composto) ou pronome indefinido

possuem posição menos fixa, podendo ocorrer em posição posterior ao verbo, que é

prototipicamente a posição que desfavorece o uso da concordância verbal de 3ª pessoa

do plural.

No caso de sujeitos compostos, há duas possibilidades: podem ter núcleos

coordenados no plural ou no singular. Quando o núcleo mais próximo à forma verbal

está no plural, aumentariam as possibilidades de ocorrer concordância verbo/sujeito.

Para testar essas hipóteses, foram controlados os fatores expostos em tabela

anterior e aqui exemplificados:

a) pronome pessoal

Page 63: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

62

(9) porque se baterem é pior- porque eles ficam-- tornam-se-- como hei-de dizer?

revoltados (OEI A1H)

b) pronome demonstrativo

(10) gostava de conhecer mesmo Itália- Veneza- o Japão- deve ser fantástico

também--e- e estes são os principais depois pronto- uma daquelas viagenzinhas

ao Brasil (OEI A2H)

c) pronome possessivo (precedido ou não de artigo)

(11) Há sempre muitos compromissos sociais há festas de aniversário de uma ou de

outra ou alguém vai dormir a nossa casa ou as minhas vão lá dormir a casa das

amigas. (OEI B1M)

d) quantificador indefinido

(12) e por que é que foram todos ali - os problemas e por ver como de facto é

vantajoso tentar (OEI A3H)

e) quantificador numeral (precedido ou não de artigo)

(13) muito novos pronto eles vieram acabaram por se encontrar cá são os dois da

mesma terra ah mas vieram trabalhar (OEI B2H)

f) SN (núcleo do tipo nome) sem SPrep encaixado

(14) não temos essas coisas que as pessoas procuram hoje em dia pra se pra se

divertirem (CAC A1M)

g) SN (núcleo do tipo nome) com SPrep encaixado

Page 64: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

63

(15) as pessoas de Cascais não podem ir para Lisboa sem passar primeiro pelo

hospital de Cascais (OEI B1M)

h) SN /pronome com uma oração relativa/adjetiva

(16) quando a carrinha da polícia vai a passar há senhoras que- senhoras que ( )

pronto senhoras que são relativamente normais dizem ah olha a grande olha a

grande que é a polícia aquela carrinha grande da polícia. (OEI A2H)

i) SNs plenos/pronomes coordenados (com ou sem oração relativa)

(17) portanto todas estas misturas e todas estas coisas acabam por provocar alguma

( ) na pronto na na maneira de nós – do do nosso dia-a-dia ah e provoca alguns

desequilíbrios na própria comunidade não é? (OEI B2H)

j) Sujeito não expresso (oculto/desinencial)

(18) por exemplo se eu fosse sair à noite os meus pais mandavam estar por exemplo

à meia noite em casa e eu às vezes não conseguia estar a essa hora e não tinha

meios de comunicar- ficavam preocupados (OEI A1H)

k) pronome relativo

(19) havia pais que davam uma liberdade enorme aos filhos (CAC C2H)

5.2.2.4 Paralelismo no nível oracional

Com o estudo desta variável, objetivou-se verificar se há correlação entre o tipo

de marca existente no sujeito e o tipo de marca existente no verbo. Partiu-se do

princípio geral do paralelismo (SCHERRE, 1988) de que “marcas levam a marcas e

zeros levam a zeros”, supondo que marcas explícitas de plural no referente levem à

presença de marcas de plural no SV. Busca-se ainda verificar se o traço semântico de

Page 65: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

64

pluralidade contido nos SNs constituídos por numeral exerce alguma influência sobre a

concordância verbal.

Anteriormente ao estudo de Scherre (1988), outros trabalhos como os de Omena

(1978) e de Emmerich (1984) já observavam o efeito da repetição. Investigações

posteriores, como as de Scherre (1991; 1997); Scherre e Naro (1991); Naro e Scherre

(1996), também avaliaram o efeito dessa variável. Scherre (1998) explica que

A própria repetição das variantes de uma mesma variável dependente

no discurso tem se evidenciado como uma restrição importante na

análise de fenômenos variáveis de todos os subsistemas lingüísticos

em diversas línguas. Esta restrição ou variável independente ocorre

entre as cláusulas (plano discursivo), no interior da oração (plano

oracional), no interior do sintagma (plano sintagmático), e entre

palavras e no interior da palavra (plano da palavra). (SCHERRE, 1998

p. 30)

Nessa variável, não foram controlados os casos de sujeitos não-expressos e de

sujeitos pospostos, já que não é possível verificar a influência do paralelismo no nível

oracional nesses tipos de construção. No caso de sujeitos pospostos, a marca do SN

sujeito, vindo após o verbo, não poderia influenciar a concordância e, no caso de

sujeitos não-expressos, a não realização formal do SN anula a hipótese de uma marca

influenciar a outra.

a) vocábulo isolado no plural

(20) depois eles vêem que ele é uma criança (OEI A1H)

b) morfema de plural explícito (-s) no último elemento não-inserido em um

sintagma preposicional

(21) não sei se foi por causa do euro- em que os preços foram para o dobro (OEI

A1H)

c) morfema de plural zero no último elemento não-inserido em um sintagma

preposicional

Page 66: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

65

(22) as brincadeira era poucas (FNC C1M)

d) morfema de plural explícito (-s) no último elemento inserido em um sintagma

preposicional

(23) muitos dos meus amigos estão ligados (CAC A2H)

e) morfema de plural zero ou forma não-marcada de singular no último elemento

inserido em um sintagma preposicional

(24) porque os do tempo da infância estavam estavam mais associados ao local

onde vivia que já não vivo (OEI B3H)

f) numeral no último elemento não inserido em um sintagma preposicional

(25) quatro são iguais não é equivalente (CAC B1M)

g) núcleos coordenados

(26) ela e e o Júlio são diferentes (OEI A1M)

5.2.2.5 Animacidade do sujeito/referente

O controle da variável Animacidade do sujeito/referente teve por objetivo testar

a influência de traços semânticos do tipo [+/- humano] e/ou [+/- animado] do referente,

investigada em outros estudos.

O estabelecimento dessa variável teve como motivação a hipótese de que o traço

[+ animado] favorecesse a concordância, tendo em vista a possibilidade de o sujeito

constituir, por exemplo, o agente da oração e, assim, estabelecer uma relação mais

íntima com o verbo, que muitas vezes carrega traços dinâmicos, como os típicos de

ações, eventos e processos. Dessa forma, os sujeitos com traço [- humano] e [- animado]

Page 67: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

66

seriam os que mais induziriam a falta de concordância. O controle dessa variável foi

feita com os seguintes fatores:

a) [+ animado] [+ humano]

(27) as pessoas pensavam que estavam a ser atacadas (OEI A1H)

b) [+ animado] [- humano]

(28) de maneira que quando aparecem cães (OEI C2M)

c) [-animado]

(29) comunidade neo-catecumenal ajuda-me a perceber que as coisas não são

relativas (OEI A2H)

5.2.2.6 Saliência fônica

O princípio da saliência fônica, proposto por Lemle e Naro (1977), consiste,

segundo Scherre (1998), em estabelecer que as formas cuja diferenciação seja maior, as

mais salientes, são mais prováveis de serem marcadas. Para o estabelecimento dos

fatores da variável, considera-se: (1) a força da acentuação e (2) a diferenciação material

em termos fonológicos, com a hipótese de que, quanto maior o nível de saliência fônica,

maior a possibilidade de realização da concordância verbal.

a perda das marcas de concordância, em sintagmas nominais e verbais,

se difunde na morfologia afetando primeiro e mais frequentemente as

formas nas quais as consequências da perda são foneticamente menos

notáveis, do ponto de vista ou do ouvinte ou do falante ao monitorar

seu próprio discurso (NARO; LEMLE, 1977, p.263)

Para o presente trabalho, aplicou-se, inicialmente, aos dados europeus, a escala

de saliência fônica que é normalmente aplicada aos dados brasileiros, apesar de não

parecer adequada ao PE. A escala será, então, retomada no capítulo 6, de modo a

Page 68: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

67

investigar se as desinências finais dos verbos em 3ª pessoa do plural são realizadas

foneticamente da mesma maneira que no PB.

NÍVEL 1

a) não envolve a mudança na qualidade da vogal na forma plural - acréscimo de

nasalidade (vive-vivem)

(30) tou convencido que essas pessoas vivem a:: não vivem ou seja eu acho

que vivem em zonas ou passam por zonas onde não se apercebem da miséria

(CAC C2H)

b) envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural - acréscimo da

semivogal [w] (fala/falam)

(31) eles mostram que realmente a igreja está muito viva através do Espírito

Santo que eles invocam a cada momento (CAC C2M)

c) envolve acréscimo de segmentos na forma plural e possível mudança na

realização da consoante final do singular (faz/fazem)

(32) as pessoas de idade já não fazem isso (FNC C2M)

d) envolve acréscimo de segmentos na forma plural e possível mudança na

realização da consoante final do singular (quer/querem)

(33) e se eles optarem por carreira de futebolista ainda melhor- ganham bem

(OEI A1H)

NÍVEL 2

e) envolve apenas mudança na qualidade da vogal na forma plural (dá/dão)

Page 69: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

68

(34) se eu precisar de ajuda eles estão lá para me ajudar (OEI A1H)

f) envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural e queda da semivogal

da forma singular (vai/vão)

(35) Agosto e Setembro as pessoas vão de férias quando vêm das férias ah é

quando tentaram ver se o casamento estava certo (OEI A1M)

NÍVEL 3

g) envolve acréscimo de segmentos sem mudanças vocálicas na forma plural,

queda da semivogal da forma singular (comeu/comeram)

(36) boa pergunta- como é que eles se conheceram-- ah! já já sei (OEI A2H)

h) envolve acréscimo de segmentos com mudança vocálica na forma plural, queda

do ditongo (falou/falaram)

(37) só que muitas pessoas recomendaram-me a ir pali e eu fui pali e pronto

mesmo sendo mais longe da minha casa (CAC A2H)

i) envolve acréscimo de segmentos - com ou sem mudanças/acréscimos

vocálicas(os) - na forma plural, mudança da tonicidade do vocábulo

(disse/disseram)

(38) a primeira vez que eu fumei foi com eles que eles sempre- sempre me

disseram desde desde pequeno que se quisesse experimentar fumar ou e e isso-

sim fumar a- ele que- que fosse ao pé deles (OEI A2H)

NÍVEL 4

j) envolve acréscimo de segmentos com mudança na raiz e na tonicidade do

vocábulo (fez/fizeram)

Page 70: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

69

(39) os portugueses também já fizeram isso (OEI A3H)

k) Mudança quase completa - caso único (veio/vieram)

(40) os meus pais vieram muito novos para cá (OEI B2H)

l) Mudança completa - caso único (é/são)

(41) as minhas festas de Natal nunca são com a minha família (CAC A2H)

Tendo em vista que a saliência fônica está diretamente relacionada à forma

como são produzidos/realizados os verbos, é necessário avaliar se a cadeia de saliência

fônica estudada e aplicada para o PB é de fato eficiente para o controle dos verbos no

PE. Ainda não há estudo que faça uma descrição fonética dos verbos de 3ª pessoa do

plural no PE. Para isso, é preciso recorrer às gravações, para que sejam analisadas as

desinências finais dos verbos referentes a sujeitos de 3ª pessoa do plural. Haveria no PE

alguma realização fonética diferenciada do PB? Em seção posterior à dos resultados

variacionistas, serão descritas foneticamente as desinências finais dos verbos de baixa

saliência fônica em uma subamostra em dois pontos de inquérito do PE, Funchal e

Oeiras.

5.2.2.7 Tipo de verbo quanto à transitividade

Para o controle dessa variável, utilizou-se a divisão e classificação dos verbos

em intransitivos, inacusativos, transitivos e copulativos, conforme se esclareceu na

metodologia.

Os verbos monoargumentais apresentam características particulares, de forma

que os inacusativos só exibem uma posição temática, a de argumento interno e este não

recebe caso acusativo. Considera-se, dessa forma, que o verbo de uma construção

intransitiva seleciona apenas um argumento externo, enquanto o verbo de uma

Page 71: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

70

construção inacusativa seleciona um argumento interno, argumento que recebe

normalmente a função temática de tema.

Controlou-se também o verbo das construções transitivas, em que são

selecionados um argumento interno e um externo necessariamente. Controlaram-se,

ainda, os verbos cópula, dos quais foram excluídos os casos de verbo ser que podem ser

interpretados como apresentacionais.

O controle dessa variável permite-nos observar a particularidade das construções

copulativas no Português Europeu, em especial as construções com o verbo ser, que tem

demonstrado comportamento diferenciado em outros estudos (MONTE, 2012;

BAZENGA; VIEIRA, 2013). Além disso, avalia-se também a hipótese de que os verbos

inacusativos, relacionados à posição de sujeito pós-verbal, favoreceriam a não

realização da concordância verbal.

O controle dessa variável valeu-se da seguinte subdivisão:

a) inergativo ou intransitivo

(42) umas aprendem e mudam de mentalidades outros não- quando trabalham mas

continuam na mesma (OEI A1H)

b) inacusativo

(43) sim sim sim passa mesmo no centro do Cacém e depois a partir da estação

existe os autocarros para os diversos sítios (CAC A3M)

c) transitivo – direto, indireto, relativo ou circunstancial, transitivo direto e

indireto, transitivo bi-relativo / circunstancial, transitivo direto e relativo, direto

e bi-relativo, transitivo predicativo

(44) os miúdos precisam de controle e se nós não os controlarmos podemos temos

sempre o risco de os perder (OEI A3H)

(45) eles utilizam mais essa essa linguagem (OEI A3H)

Page 72: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

71

(46) e eles dão dinheiro aos bancos para não fecharem e as empresas fecham (OEI

A1H)

d) copulativo

(47) sim os temas são diferentes o tema de conversa normalmente é diferente (CAC

A3M)

5.2.2.8 Paralelismo no nível discursivo

A variável paralelismo no nível discursivo, assim nomeada por ultrapassar o

nível da oração e formar relação entre orações de uma sequência, consiste na repetição

de formas verbais no discurso. Essa variável controla a influência da marca de um SV

sobre o SV seguinte.

Foi utilizado um grupo de fatores reduzido, em função dos poucos exemplos de

séries discursivas no corpus. Dessa forma, controlou-se apenas a marca de um verbo de

3ª pessoa sobre outro de 3ª pessoa do plural, na fala do próprio informante. Outros

estudos controlam essa variável de forma mais detalhada, como o de Vieira (1995),

controlando a influência de marcas do discurso do entrevistador, no discurso do

informante e de marcas de referentes distintos.

No presente trabalho, a variável paralelismo no nível discursivo foi controlada

da seguinte forma:

a) verbos precedidos de verbo com marca formal de plural no discurso do

informante

(48) as coisas aumentaram mas os ordenados também aumentaram podem não ter

tido a mesma o mesmo crescimento mas não se pode comprar (CAC A3M)

b) verbos precedidos de verbo com marca zero de plural no discurso do informante

Page 73: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

72

(49) com a minha idade os meus pais já tavam casados- já já me tava a ter quase-

já trabalhavam (OEI A2H)

(50) as brincadeiras com o meu irmão basicamente era andarmos à porrada

((risos)) e continuam a ser... (CAC A2H)

c) verbos isolados ou primeiros de uma série (não precedidos de verbos com

sujeitos plurais)

(51) sim...ao futebol principalmente... eu não gosto de futebol...mas...sou mais

chegado ao básquete por exemplo...sim...pode-se dizer que as pessoas são muito

chegadas aos desportos (CAC A2H)

5.2.2.9 Presença de elementos intervenientes entre o sujeito e o verbo

Controlou-se essa variável a fim de observar a presença ou ausência de

elementos entre o sujeito sintático e o verbo. No caso de haver elementos intervenientes,

foram controlados os tipos de elementos: palavra negativa, advérbio, preposição etc.

O comportamento dessa variável está relacionado à distância entre o sujeito e

verbo, mas principalmente ao grau de integração estabelecido no vínculo gramatical e

cognitivo entre os referentes que estão em relação de concordância.

Com essa variável, objetivou-se determinar quais estruturas morfossintáticas

presentes entre o sujeito e o verbo influenciariam na não marcação de concordância.

Além das estruturas simples, controlou-se a combinação de termos, como vemos

exemplificado abaixo:

a) ausência de elementos

(52) na sociedade também cada vez as empresas exigem mais das pessoas (OEI

A3H)

b) palavra negativa

Page 74: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

73

(53) mas vai haver um tempo em que eles não vão querer aceitar isso (CAC

B3M)

c) advérbio ou locução adverbial

(54) os meus pais neste momento tão separados (CAC A1M)

d) palavra negativa + pronome

(55) A diferença é que as pessoas não se conhecem o suficiente pra casar (CAC

C1H)

e) oração adverbial

(56) os dois primeiros presidentes da república se não estou em erro eram

açorianos (FNC A3H)

f) conjunção

(57) eles pôem umas etiquetas com côres e em função das côres eles então

atendem ou não mais rápidamente... (CAC B3H)

g) marcador discursivo

(58) por acaso os meus filhos ah são duas crianças que nunca tiveram

problemas em matemática nem a Inglês (CAC B2M)

h) pronome

(59) eu acredito que os pais lhe dão uma boa educação mas tem a ver com feito

da criança (CAC B3M)

i) predicativo do sujeito

Page 75: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

74

(60) e pomo-nos todos a cantar é muito divertido... são muito divertidas as

nossas festas (CAC A2H)

5.2.2.10 Tempo verbal

O controle desse grupo de fatores se deu na tentativa de testar quais os tempos

verbais que levariam, em maior ou menor escala, à não marcação da concordância

verbal. É necessário salientar que essa variável está relacionada à saliência fônica, já

que os diferentes tempos verbais apresentam desinências mais ou menos salientes em

suas formas no singular e no plural. Buscou-se ainda avaliar, no corpus em estudo,

algumas hipóteses testadas em outros trabalhos sobre o tema. Segundo o estudo de

Vieira (1995), sobre a concordância verbal em dialetos populares no PB,

Os tempos verbais apresentam tendência à não-concordância, na

seguinte ordem: presente do subjuntivo, futuro do subjuntivo, presente

do indicativo, pretérito do indicativo e futuro do indicativo em forma

perifrástica. (VIEIRA, 1995, p.132)

Os dados abaixo mostram os tempos verbais encontrados no corpus:

a) presente do indicativo em forma simples

(61) as pessoas aprendem com os pais (OEI A1H)

b) pretérito perfeito do indicativo

(62) os meus pais vieram pra cá (CAC A1M)

c) pretérito imperfeito do indicativo em forma simples

(63) o meu filho que às vezes trazia ditados que chegavam com dezanove quinze

(CAC B1M)

Page 76: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

75

d) futuro do indicativo em forma simples

(64) claro que se fôr um Português puro e duro por vezes não falarão tão bem

(CAC B3H)

e) futuro do indicativo em forma perifrástica

(65) eles vão perguntar...porque a curiosidade da criança é perguntar (CAC

B1M)

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76

6 RESULTADOS E ANÁLISE

6.1 Distribuição geral dos dados

Os resultados serão apresentados e analisados na ordem em que aconteceram os

procedimentos metodológicos. Em princípio, trabalhou-se apenas com a amostra básica,

que conta com 18 informantes de cada uma das três localidades. Obteve-se com esse

conjunto de dados um total de 3.450 ocorrências de verbos ligados a sujeitos de 3ª

pessoa do plural, sendo 1.335 provenientes de Oeiras, 1.183 de Cacém e 932 de

Funchal.

Na tabela abaixo, apresenta-se a distribuição dos casos de não marcação de

pluralidade em cada uma das localidades e suas respectivas porcentagens.

Nº de ocorrências %

Oeiras 13/1.335 1,0

Cacém 9/1.183 0,8

Funchal 58/932 6,2

Total 80/3.450 2,3

Tabela 2: Distribuição dos dados de não-concordância nas três localidades do Corpus

Concordância (amostra básica)

Apenas considerando a amostra básica, já é possível perceber o baixo índice de

falta de concordância na variedade europeia do Português. Dentre as 3.450 ocorrências

de verbos com sujeito na 3ª pessoa do plural, apenas 80 não apresentaram a marcação de

plural no verbo, obtendo-se, portanto, o índice de 2,3% de falta de concordância verbal

na etapa inicial de quantificação de dados da pesquisa.

Enquanto Oeiras e Cacém apresentam comportamento semicategórico, com

pouquíssimos dados sem a marcação de plural, Funchal demonstra comportamento

aparentemente variável, apesar de possuir também alta concretização da concordância

de número. Após a rodada com a amostra básica, uniram-se a esses dados os

Page 78: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

77

provenientes da amostra complementar, descrita na seção de metodologia. Essa amostra

contou com 717 ocorrências, cujo comportamento confirmou e até acentuou,

especialmente em Oeiras, a alta realização da marca de número no PE. A localidade de

Oeiras demonstrou comportamento que chama atenção pelo fato de, entre seus 227

dados, não haver qualquer caso de falta de concordância.

Obteve-se, por meio da junção da amostra básica com a complementar, o total

de 4.165 ocorrências, dentre as quais 92 não apresentaram marcação de plural no verbo,

o que indica 2,2% de falta de concordância, quando somadas as três localidades em

estudo. A distribuição dos dados ocorreu da seguinte forma:

Nº de ocorrências %

Oeiras 13/1.612 0,8

Cacém 12/1.329 0,9

Funchal 67/1.226 5,5

Total 92/4.167 2,2

Tabela 3: Distribuição dos dados de não-concordância na totalidade do Corpus

Concordância (amostra básica mais complementar)

Gráfico1: Percentuais de falta de concordância na totalidade do Corpus Concordância

(amostra básica mais complementar) em Oeiras, Cacém e Funchal

Page 79: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

78

Com a totalidade dos dados estudados, não houve alterações relevantes na

concretização do fenômeno em estudo. Dessa forma, partindo-se, na presente

investigação, do corpus ampliado, é possível afirmar que, de modo geral, a variedade

europeia do português possui regra semicategórica de concordância de 3ª pessoa, ainda

que Funchal esteja no limite entre o semicategórico e o variável (cf. LABOV, 2003),

como já haviam atestado Vieira e Bazenga (2013), no artigo com os primeiros

resultados do Projeto.

Para a melhor compreensão do fenômeno sociolinguístico, procedeu-se à análise

dos resultados referentes às variáveis sociais. Como os índices percentuais de Funchal

se diferenciam dos de Cacém e Oeiras, optou-se por apresentar os resultados das

variáveis sociais referentes a cada uma das três localidades e não da amostra como um

todo. Assim, evita-se que os índices referentes a Funchal influenciem os relativos a

Cacém e Oeiras, localidades que, em conjunto, tiveram apenas 25 casos de falta de

concordância.

A variável escolaridade não demonstrou relevância na totalidade dos dados da

presente investigação. Apenas em Funchal houve aumento gradativo do uso da marca de

plural no verbo de acordo com o crescimento do nível de escolaridade, ou seja, quanto

maior o nível de escolaridade, maior a concretização da concordância. Os índices

alcançados pelas outras variedades não demonstram discrepância de um nível de

escolaridade para outro.

Nível fundamental

(5 a 8 anos)

Nível médio

(9 a 11 anos)

Nível superior

(12 a 15 anos)

Oeiras 6/494

1,2%

2/420

0,5%

5/698

0,7%

Cacém 4/461

0,8%

3/450

0,7%

5/416

1,2%

Funchal 34/335

10,1%

12/303

4,0%

21/588

3,6%

Tabela 4: Índices de não-concordância segundo a variável Escolaridade nas localidades

de Oeiras, Cacém e Funchal

Page 80: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

79

Na realidade, a diferença mais evidente em Funchal refere-se ao índice maior de

não concordância na fala dos informantes da mais baixa escolaridade (10,1%), em

contraposição às taxas verificadas para os níveis médio e superior (4,0% e 3,6%,

respectivamente), quase idênticos. Uma das hipóteses que se tem para o fato de haver

diferenças entre o português europeu continental e o insular é o fato de Funchal ser alvo

de intensa migração interna, de modo que, além de receber muitos turistas, a própria

população rural, concentrada nas periferias, contribui com atividades e serviços na

cidade (cf. VIEIRA; BAZENGA, 2013). O grande fluxo de pessoas circulando no local

parece dar abertura à adoção da forma inovadora.

Ainda que Funchal tenha apresentado essa particularidade quanto ao

comportamento da variável escolaridade, os resultados europeus como um todo são

fortemente contrastantes com o que ocorre no Português do Brasil. Estudos sobre a

concordância verbal na variedade brasileira têm demonstrado forte influência da

escolaridade na concretização da marcação de plural no verbo, que chega a criar o que

Lucchesi (2009) considera um caso de polarização sociolinguística: enquanto a fala

urbana e escolarizada chega a índices de mais de 90% de marca, a fala rural e não

escolarizada chega a registrar, em comunidades isoladas, 16% de concordância.

O estudo de Vieira e Bazenga (2013), por exemplo, que utilizou para a variedade

brasileira as localidades de Nova Iguaçu e Copacabana, ambas urbanas, também

demonstrou, a partir dos resultados, que o fenômeno da concordância está altamente

atrelado ao grau de escolarização. Em Copacabana, por exemplo, os informantes de

Nível fundamental apresentaram 72,9% de concordância, os de Nível médio obtiveram

89% e os de Nível superior, 97,8% de marcação de plural no verbo.

De qualquer forma, há de se levar em consideração que o nível de escolarização

está atrelado a outros fatores sociais. Como bem diz Bortoni-Ricardo (2004, p. 48), “os

anos de escolarização de um indivíduo e a qualidade das escolas que frequentou

também têm influência em seu repertório sociolinguístico. Observe-se que esses fatores

estão intimamente ligados ao estatuto socioeconômico”. Ainda sobre o efeito da

escolarização, Paiva e Scherre fazem a seguinte reflexão:

É possível também que a influência da variável escolaridade reflita, na

verdade, a ação da variável classe social. Se assim for, as

consequências são ainda mais perversas: não se modificam variantes

linguísticas, mas, sim, se excluem os indivíduos que não possuem

Page 81: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

80

determinadas variantes linguísticas. (PAIVA; SCHERRE, 1999,

p. 217-218)

Sem dúvida, é preciso conhecer melhor a realidade sociocultural e econômica,

em que se inclui a escolaridade portuguesa, especialmente em Funchal, para que se

interprete melhor o comportamento dos dados dessa comunidade quanto à falta de

concordância. Observando exclusivamente os resultados da presente pesquisa, é

possível perceber que as variedades do PE, em relação ao comportamento da variável

escolaridade, mesmo a insular, estão longe de se assemelhar à variedade brasileira, em

que nitidamente quanto maior a escolarização, maior é a concretização da concordância

verbal, tendência confirmada em diversas amostras no país.

Outro grupo de fatores de natureza extralinguística que demonstrou irrelevância

em relação ao fenômeno na variedade europeia foi a variável sexo. Há uma pequena

diferença em pontos percentuais entre a concretização da concordância entre homens e

mulheres, segundo a qual as mulheres, ao contrário da hipótese inicialmente formulada,

registram índices um pouco maiores de não marcação de plural.

Tabela 5: Índices de não-concordância segundo a variável Sexo nas localidades de

Oeiras, Cacém e Funchal

Homens Mulheres

Oeiras 3/765

0,4%

10/847

1,2%

Cacém 4/634

0,6%

8/693

1,2%

Funchal 27/639

4,2%

40/587

6,8%

Page 82: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

81

Também no que se refere à faixa etária, a diferença de comportamento é muito

pequena.

Faixa A

(18 a 35 anos)

Faixa B

(36 a 55 anos)

Faixa C

(56 a 75 anos)

Oeiras 2/507

0,4%

5/616

0,8%

6/489

1,2%

Cacém 6/445

1,3%

4/493

0,8%

2/389

0,5%

Funchal 18/442

4,1%

25/318

7,9%

24/466

5,2%

Tabela 6: Índices de não-concordância segundo a variável Faixa etária nas localidades

de Oeiras, Cacém e Funchal

A pouca diferença percentual entre as faixas de idade e os baixos índices

encontrados para a ausência de marcação de pluralidade impedem, nesse caso, que se

avalie a concordância como um caso de variação estável ou de mudança em progresso.

Assim como as outras variáveis sociais analisadas, a faixa etária não parece ser

determinante no processo de marcação de plural no verbo na amostra analisada.

Ainda que o corpus tenha se ampliado, julgou-se inapropriado realizar o

tratamento estatístico – por meio da rodada multivariada do Programa Goldvarb-X –

para a análise de Oeiras e Cacém, visto não terem sido detectados nessas localidades

índices condizentes com o que Labov (2003) propôs como uma regra variável, que

seriam da faixa de 5 a 95% em uma variedade de contextos. Dessa forma, optou-se por

considerar separadamente Funchal das demais localidades.

Para a apresentação dos resultados, será feita, portanto, uma análise qualitativa

dos 25 casos de falta de concordância de Cacém e Oeiras, observando os contextos em

que há o cancelamento da marca de plural no verbo; adicionalmente, utilizam-se os

resultados de uma rodada multivariada, que foi feita experimentalmente com o total de

dados obtidos na pesquisa, apenas como confirmação das tendências verificadas. Logo

após, Funchal será analisado separadamente, com base no tratamento estatístico das

ocorrências.

Page 83: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

82

6.2 Resultados de Oeiras e Cacém

Tomando por base o quadro com as ocorrências de cancelamento da marca de

plural exposto em Vieira e Bazenga (2013), apresentam-se aqui os 25 dados em que não

houve concretização da concordância em Cacém e Oeiras.

OEI A3H (66) estes óculos estão a estão a cinquenta euros mas querem aumentá-

los para sessenta e cinco - então metem o preço em cima sessenta e

cinco euros e depois metem riscado os os cinquenta euros tipo a dizer

que está em promoção

OEI A3M (67) saiu algumas gramáticas alteradas mas ninguém está a usar nada –

acho que a grande complicação é por exemplo quando chegamos à

altura dos nossos filhos

OEI B1M (68) ah as coisas que a gente conhece também não é coisas assim é os

carros

OEI B1M (69) é muito chata porque eu já sabia de quem era não sabia de quem

era os carros mas sei sei que é dos vizinhos não é?

OEI B1M (70) está assim um bocado a situação que aparece pessoas que a gente

pensa às vezes que nem que não precisam

OEI B2M (71) há coisas que noto que leva muito tempo para se conseguir uma

consulta hum hum

OEI B3M (72) antigamente as pessoas tinham mais mais tempo mais tempo

porque tava mais em casa am eram mais presentes

OEI C1H (73) os hábitos que não me agrada muito a é é é- neste momento que

estamos a atravessar

OEI C1M (74) para esses há crise e também aquelas pessoas que vieram de fora

também chegou aqui também não têm nada não é?

OEI C1M (75) portanto continua os tempos a evoluir cada vez mais não é?

OEI C2H (76) pelo menos por aquilo que me dizem e por aquilo que vejo ah -

coisas que- no meu tempo- era muito diferente-

OEI C3M (77) e eles são cumpridores (...) quando têm que estudar não- primeiro

estudam- o que é bom também ( D-isso é óptimo) nunca foge nem

pouco mais ou menos não é?

OEI C3M (78) os livros dantes eram um bocado agora agora vejo a diferença acho

Page 84: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

83

achava que era era um bocado massudos não é?

CAC A1M (79) tem umas feiçõezinhas que identifica logo que elas são brasileiras...

CAC A3M (80) muito poucas muito poucas mesmo ah.. especificamente no Cacém

temos alguns não existe cinema não existe teatro não

existe…exposições esse tipo de não existe…

CAC A3M (81) e depois a partir da estação existe os autocarros para os diversos

sítios

CAC B1M (82) vai ver a bola...claro juntamente com outros amigos que se junta a

ver a bola...

CAC B2M (83) oitenta mil escudos equivale neste momento a quatrocentos

euros...

CAC B3M (84) é assim a de antigamente tinha as suas partes chatas que era

aquelas regras completamente absurdas

CAC B3M (85) os meus pais não nos deixavam ir pra rua brincar não nos deixava se

calhar receber amigos em casa

CAC C1H (86) chegou ao fim do mês não pagou aquela/quinhentos euros só pagou

trezentos fica os outros duzentos a pagar

CAC C3H (87) existe vários tipos de população relativamente à classificação que

deveremos desenvolver aplicar

CAC A1M (88) existe brancos portugueses que fazem asneiras...

CAC A2H (89) corridas online que é chamado os picanços online

CAC A2H (90) é só instalar o jogo e copiar o próprio jogo e pronto e fica os níveis

todos feitos e aquilo a gente não perde nada.

Quadro 7: Dados de não-concordância em Oeiras e Cacém

Em relação aos dados de Cacém e Oeiras, apresentam-se, a seguir, os principais

fatores que parecem estar relacionados à ausência da marca de plural nos 25 dados

apresentados.

Page 85: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

84

6.2.1 Posição do sujeito em relação ao verbo

De modo geral, para o fenômeno da concordância verbal, a posição do sujeito

vem-se destacando como uma das principais variáveis a relacionar-se com o fenômeno.

Dos 25 casos expostos, 10 apresentam sujeito posposto, o que indica que, de todas as

ocorrências obtidas sem marca, 40% – praticamente a metade – são casos de sujeito

posposto. Os exemplos abaixo permitem observar melhor o contexto:

(67) saiu algumas gramáticas alteradas mas ninguém está a usar nada – acho que a

grande complicação é por exemplo quando chegamos à altura dos nossos filhos (OEI

A3M)

(69) é muito chata porque eu já sabia de quem era não sabia de quem era os carros

mas sei sei que é dos vizinhos não é? (OEI B1M)

(70) está assim um bocado a situação que aparece pessoas que a gente pensa às vezes

que nem que não precisam (OEI B1M)

(75) portanto continua os tempos a evoluir cada vez mais não é? (OEI C1M)

(80) muito poucas muito poucas mesmo ah.. especificamente no Cacém temos alguns

não existe cinema não existe teatro não existe…exposições esse tipo de não existe…

(CAC A3M)

(81) e depois a partir da estação existe os autocarros para os diversos sítios (CAC

A3M)

(86) chegou ao fim do mês não pagou aquela/quinhentos euros só pagou trezentos fica

os outros duzentos a pagar (CAC C1H)

(87) existe vários tipos de população relativamente à classificação que deveremos

desenvolver aplicar (CAC C3H)

(88) existe brancos portugueses que fazem asneiras... (CAC A1M)

(90) é só instalar o jogo e copiar o próprio jogo e pronto e fica os níveis todos feitos e

aquilo a gente não perde nada. (CAC A2H)

Page 86: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

85

Observando os exemplos, parece haver uma relação entre fatores nos poucos

dados de não concordância verificados. Dessa forma, compreende-se ser importante

confrontar as variáveis Posição do sujeito em relação ao verbo e Tipo de verbo, visto

que elas estão intimamente relacionadas.

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar a presença do verbo inacusativo: dos

10 dados de sujeitos pospostos levantados, 6 são de verbos inacusativos. Além disso,

dentre esses 6 casos, 4 são do verbo existir. Como se pode observar, além de serem

poucos os casos de não marcação de pluralidade, eles ocorrem em contextos muito

particulares. Já a respeito dos verbos copulativos, também usualmente responsáveis por

influenciar a não-concordância, dentre os 10 casos de verbos sem marcação de plural

com sujeito posposto, 4 são de verbos copulativos.

No que se refere à posição do sujeito, embora se tenha observado que a metade

dos dados de ausência de marca plural ocorra com sujeitos pospostos, essa influência

efetiva-se de forma discreta na amostra como um todo. A tabela abaixo mostra o

comportamento da variável no conjunto dos dados nas duas localidades ora em análise,

das quais foram retirados os exemplos citados.

Anteposto Posposto

Oeiras 5/873

0,6%

4/45

8,9%

Cacém 5/829

0,6%

6/55

10,9%

Tabela7: Índices de não concordância segundo a variável Posição do sujeito nas

localidades de Oeiras e Cacém

Os resultados revelam que o contexto de sujeito posposto apresenta muito mais

casos de não concordância – chegando a configurar um contexto com discreta variação

– do que o de sujeito anteposto ao verbo – praticamente invariável. Ainda assim, apenas

cerca de 9 a 11% dos casos de verbos em posição pós-verbal registram falta de

Page 87: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

86

concordância. A concordância suplanta claramente a não concordância também nesse

contexto.

6.2.2 Presença do relativo que

De acordo com a Gramática Tradicional, quando o sujeito está representado na

oração por um pronome relativo, o verbo deve concordar com o antecedente desse

pronome, porém os estudos da concordância têm demonstrado que a presença do

relativo parece desviar o foco do referente, levando à não marcação de pluralidade.

Além disso, está ainda relacionada a essa variável a distância entre o verbo e o referente

com o qual deve concordar. Quanto mais distante está o verbo, maior costuma ser o

apagamento da desinência plural.

Os contextos abaixo representam os dados em que há a presença do relativo na

função de sujeito, dentre os 25 casos sem marcação de plural no verbo, na amostra

continental do PE, ou seja, do total de casos sem concordância, 28% possuem o

pronome relativo.

(71) há coisas que noto que leva muito tempo para se conseguir uma consulta hum hum

(OEI B2M)

(73) os hábitos que não me agrada muito a é é é- neste momento que estamos a

atravessar (OEI C1H)

(76) pelo menos por aquilo que me dizem e por aquilo que vejo ah - coisas que- no meu

tempo- era muito diferente- (OEI C2H)

(79) tem umas feiçõezinhas que identifica logo que elas são brasileiras... (CAC A1M)

(82) vai ver a bola...claro juntamente com outros amigos que se junta a ver a bola...

(CAC B1M)

(84) é assim a de antigamente tinha as suas partes chatas que era aquelas regras

completamente absurdas (CAC B3M)

(89) depois temos também corridas online que é chamado os picanços online (CAC

A2H)

Page 88: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

87

Há, entre os casos com pronome relativo, por vezes, a presença do verbo

copulativo ser. São 3 casos de verbo ser no total de 7 dados. Nesses dados, os verbos

copulativos, relacionados também ao pronome relativo, parecem influenciar

conjuntamente na falta de marcação da concordância.

De todo modo, ainda que em quantidade restrita de dados, a presença do relativo

que, nos exemplos mencionados, parece constituir influência sobre o fenômeno pelo

fato de a relação entre o SN e o verbo ser mediada por uma forma singular, não

pluralizável. Os estudos de Monte (2012) e Bazenga e Vieira (2013) sobre o PE

também controlaram a presença do relativo que e registraram ligeiro aumento na

aplicação da concordância, quando o verbo não se relacionava ao seu referente através

do relativo.

6.2.3 Animacidade do sujeito/referente

Diferentemente dos pronomes de primeira e segunda pessoas – que são dêiticos,

remetendo necessariamente ao falante e ao ouvinte, respectivamente, como instâncias

do discurso, e, portanto, para entidades animadas –, os pronomes de terceira pessoa,

tanto quanto os substantivos, podem remeter indiferentemente a referentes animados ou

não animados.

Subordinado ao traço [± animado] está o [± humano], visto que um referente

animado não precisa ser necessariamente humano. Embora tenham sido controlados

inicialmente esses dois traços em separado, optou-se, pela improdutividade do fator [+

animado] [- humano], por fazer uma recodificação, amalgamando os fatores [+

animado] [+ humano] e [+ animado] [- humano]. Dessa forma, controlou-se apenas a

oposição entre sujeitos animados e inanimados.

Nas localidades de Oeiras e Lisboa, foram encontrados 17 casos de sujeito

inanimado dentre os 25 casos sem concordância, o que representa um percentual de

68%. Apenas 8 dados, dentre os que não possuem a marca de pluralidade, são de sujeito

animado. Os 17 casos com traço [- animado] são aqui listados:

Page 89: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

88

(66) estes óculos estão a estão a cinquenta euros mas querem aumentá-los para

sessenta e cinco - então metem o preço em cima sessenta e cinco euros e depois metem

riscado os os cinquenta euros tipo a dizer que está em promoção (OEI A3H)

(67) saiu algumas gramáticas alteradas mas ninguém está a usar nada – acho que a

grande complicação é por exemplo quando chegamos à altura dos nossos filhos (OEI

A3M)

(68) ah as coisas que a gente conhece também não é coisas assim é os carros (OEI

B1M)

(69) é muito chata porque eu já sabia de quem era não sabia de quem era os8 carros

mas sei sei que é dos vizinhos não é? (OEI B1M)

(71) há coisas que noto que leva muito tempo para se conseguir uma consulta hum hum

(OEI B2M)

(73) os hábitos que não me agrada muito a é é é- neste momento que estamos a

atravessar (OEI C1H)

(75) portanto continua os tempos a evoluir cada vez mais não é? (OEI C1M)

(76) pelo menos por aquilo que me dizem e por aquilo que vejo ah - coisas que- no meu

tempo- era muito diferente- (OEI C2H)

(77) os livros dantes eram um bocado agora agora vejo a diferença acho achava que

era era um bocado massudos não é? (OEI C3M)

(80) muito poucas muito poucas mesmo ah.. especificamente no Cacém temos alguns

não existe cinema não existe teatro não existe…exposições esse tipo de não existe…

(CAC A3M)

(81) e depois a partir da estação existe os autocarros para os diversos sítios (CAC

A3M)

8 Observa-se, em alguns casos, a possível influência do contexto fonético posterior ao verbo em relação

à não marcação de pluralidade. Os exemplos sugerem que, em situação de sândi externo, o encontro da

desinência final dos verbos com vogais e nasais iniciando a palavra seguinte favoreceria o cancelamento

da marca de número.

Page 90: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

89

(83) oitenta mil escudos equivale neste momento a quatrocentos euros... (CAC B2M)

(84) é assim a de antigamente tinha as suas partes chatas que era aquelas regras

completamente absurdas (CAC B3M)

(86) chegou ao fim do mês não pagou aquela/quinhentos euros só pagou trezentos fica

os outros duzentos a pagar (CAC C1H)

(87) existe vários tipos de população relativamente à classificação que deveremos

desenvolver aplicar (CAC C3H)

(89) corridas online que é chamado os picanços online (CAC A2H)

(90) é só instalar o jogo e copiar o próprio jogo e pronto e fica os níveis todos feitos e

aquilo a gente não perde nada. (CAC A2H)

No total da amostra de Cacém e Oeiras, o grupo de fatores Animacidade do

sujeito apresentou comportamento curiosamente idêntico nas duas localidades, em que

apenas 0,3% dos verbos acompanhados de sujeitos animados e 3,6% dos verbos

relacionados a sujeitos inanimados não apresentaram concordância.

Animado Inanimado

Oeiras 4/1362

0,3%

9/250

3,6%

Cacém 3/1074

0,3%

9/253

3,6%

Tabela 8: Índices de não concordância segundo a variável Animacidade nas localidades

de Oeiras e Cacém

Em termos quantitativos, embora a não concordância seja pouquíssimo

produtiva tanto com sujeitos animados, quanto com inanimados, cabe observar que o

percentual de ausência de plural com sujeitos inanimados é muito maior, já que passa de

Page 91: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

90

apenas 0,3% para 3,6%. Quando se analisaram qualitativamente os 25 casos que não

apresentaram plural no verbo, percebeu-se, como já se observou, a nítida predominância

de referentes de sujeitos com o traço [- animado].

6.2.4 Tipo de verbo quanto à transitividade

A hipótese que se tinha era a de que os verbos inacusativos desfavoreceriam a

marcação de concordância, diferentemente dos verbos transitivos, que, em hipótese,

seguiriam a tendência geral da variedade, que é a de alta marcação de plural no verbo.

A hipótese se confirmou nas amostras de Cacém e Oeiras, em que os poucos

casos de falta de concordância são constituídos, em sua maioria, por verbos inacusativos

e copulativos, como nos casos extraídos abaixo. São 8 verbos copulativos (32%) e 7

verbos inacusativos (28%), dentre os 25 casos de não marcação plural.

a) copulativos

(66) estes óculos estão a estão a cinquenta euros mas querem aumentá-los para

sessenta e cinco - então metem o preço em cima sessenta e cinco euros e depois metem

riscado os os cinquenta euros tipo a dizer que está em promoção (OEI A3H)

(68) ah as coisas que a gente conhece também não é coisas assim é os carros (OEI

B1M)

(69) é muito chata porque eu já sabia de quem era não sabia de quem era os carros

mas sei sei que é dos vizinhos não é? (OEI B1M)

(76) pelo menos por aquilo que me dizem e por aquilo que vejo ah - coisas que- no meu

tempo- era muito diferente- (OEI C2H)

(78) os livros dantes eram um bocado agora agora vejo a diferença acho achava que

era era um bocado massudos não é? (OEI C3M)

(84) é assim a de antigamente tinha as suas partes chatas que era aquelas regras

completamente absurdas (CAC B3M)

(86) chegou ao fim do mês não pagou aquela/quinhentos euros só pagou trezentos fica

os outros duzentos a pagar (CAC C1H)

Page 92: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

91

(90) é só instalar o jogo e copiar o próprio jogo e pronto e fica os níveis todos feitos e

aquilo a gente não perde nada. (CAC A2H)

b) inacusativos

(67) saiu algumas gramáticas alteradas mas ninguém está a usar nada – acho que a

grande complicação é por exemplo quando chegamos à altura dos nossos filhos (OEI

A3M)

(70) está assim um bocado a situação que aparece pessoas que a gente pensa às vezes

que nem que não precisam (OEI B1M)

(74) para esses há crise e também aquelas pessoas que vieram de fora também chegou

aqui também não têm nada não é? (OEI C1M)

(80) muito poucas muito poucas mesmo ah.. especificamente no Cacém temos alguns

não existe cinema não existe teatro não existe…exposições esse tipo de não existe…

(CAC A3M)

(81) e depois a partir da estação existe os autocarros para os diversos sítios (CAC

A3M)

(87) existe vários tipos de população relativamente à classificação que deveremos

desenvolver aplicar (CAC C3H)

(88) existe brancos portugueses que fazem asneiras... (CAC A1M)

c) intransitivos

(77) e eles são cumpridores (...) quando têm que estudar não- primeiro estudam- o que

é bom também ( D-isso é óptimo) nunca foge nem pouco mais ou menos não é? (OEI

C3M)

Page 93: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

92

6.3 Resultados de Funchal

Como a variedade madeirense apresentou comportamento diferente do das

demais localidades, configurando-se como uma regra no limite entre o semicategórico e

o variável, foi possível proceder ao tratamento estatístico dos dados, analisando,

portanto, as variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb-X. São elas:

1) Escolaridade

2) Sexo

3) Posição do sujeito em relação ao verbo

4) Configuração morfossintática do SN sujeito

5) Animacidade do sujeito

Com os grupos de fatores selecionados pelo programa e a análise qualitativa dos

fatores que supostamente influenciaram os 25 casos de falta de concordância em Cacém

e Oeiras, é possível perceber que há muito mais semelhanças do que diferenças entre o

comportamento dessas localidades e o de Funchal em termos estruturais. As condições

percebidas como atuantes nos exemplos foram também selecionadas pelo Programa

para a subamostra de Funchal. Verificou-se, apenas, uma discreta diferença no controle

do fenômeno entre a variedade insular e a variedade continental: no que diz respeito à

variável configuração morfossintática do sujeito, foi possível analisar, nas ocorrências

de Cacém e Oeiras, apenas a presença do pronome relativo que.

Assim sendo, a particularidade de Funchal refere-se especificamente aos índices

gerais de marcação de pluralidade, que são menores, e ao fato de haver comportamento

diferenciado quanto ao condicionamento externo à língua. Os grupos de fatores

extralinguísticos, selecionados pelo programa para Funchal, não demonstraram qualquer

relevância nas amostras de Cacém e Oeiras. Em Funchal, conforme já se descreveu, os

resultados confirmam que os indivíduos pouco escolarizados e as mulheres realizam

menos a marca de plural do que os demais. Como os fatores extralinguísticos já foram

analisados na seção referente à distribuição geral dos dados, abaixo estão apenas as

tabelas que mostram os pesos relativos dos fatores sociais Escolaridade e Sexo, que

Page 94: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

93

confirmam as tendências descritas anteriormente com base em percentuais. Trataremos,

em seguida, nesta seção, exclusivamente dos grupos de fatores linguísticos selecionados

pelo programa.

Aplic./Total % PR

Nível fundamental 34/335

10,1% .84

Nível médio 12/303

4,0% .53

Nível Superior 21/588

3,6% .27

Tabela 9: Índices de não concordância segundo a variável Escolaridade na localidade de

Funchal

Aplic./Total % PR

Homens 27/639

4,2% .38

Mulheres 40/587

6,8% .63

Tabela 10: Índices de não concordância segundo a variável Sexo na localidade de

Funchal

6.3.1 Posição do sujeito em relação ao verbo

A variável linguística que demonstrou maior relevância na amostra de Funchal

foi a Posição do sujeito em relação ao verbo. Como é possível perceber pelos dados da

tabela a seguir, construções com o sujeito posposto ao verbo apresentam maiores

Page 95: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

94

índices de falta de concordância do que as construções em que o sujeito aparece

anteposto ao verbo.

Aplic./Total % PR

Anteposto 29/767 3,8 .43

Posposto 29/60 48,3 .97

Tabela 11: Índices de não concordância segundo a variável Posição do sujeito na

localidade de Funchal

Abaixo estão alguns exemplos da não realização da concordância atrelada à

posposição do sujeito nos dados de Funchal:

(91) por exemplo um lego e tiver lá as estradinhas mas mas pra quê que serve as

estradinhas se não há investimento em que há nem as infra-estruturas necessárias

(FNC A3H)

(92) se ajuda a a que a que na nas nações unidas não exista dois textos um escrito em

português de portugal outro do brasil acho que é importante (FNC A3H)

(93) voltou a se provar que existia ainda substâncias do codipron (FNC B2H)

Como já se demonstrou anteriormente, a variável posição do sujeito não

influenciou apenas a variedade insular, mas a amostra como um todo. Na tabela abaixo,

é possível ver o comportamento da variável, que foi uma das selecionadas pelo

programa Goldvarb X – numa rodada com as três localidades – como as que mais

influenciam a falta de concordância. Em 160 ocorrências de sujeito posposto em toda a

amostra, 39 não possuem marca formal de plural no verbo, o que indica 24,4% de

cancelamento da marca. O peso relativo de .94 demonstra a grande influência da ordem

VS na falta de concordância. Os resultados vão ao encontro da hipótese de que o sujeito

posposto é, muitas vezes, interpretado como objeto do verbo, por ser, na realidade, um

argumento interno, não trazendo a marca de plural.

Page 96: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

95

Aplic./Total % PR

Anteposto 39/2469 1,6 .45

Posposto 39/160 24,4 .94

Tabela 12: Índices de não concordância segundo a variável Posição do sujeito na

amostra geral

Nos estudos sobre a concordância no PE, a posição pós-verbal do sujeito

costuma ser citada como influenciadora na falta de concordância. Em todos os estudos

descritos na seção de revisão bibliográfica, há a confirmação desse grupo de fatores

como relevante para a concretização do fenômeno.

Conforme já se discutiu, está relacionado à posição do sujeito o tipo de verbo na

perspectiva sintática. Com os verbos inacusativos, por exemplo, os sujeitos costumam

aparecer em posição pós-verbal. Dessa forma, tornou-se necessário o cruzamento das

duas variáveis em questão, para esclarecer como se dá, na distribuição dos dados, a

interface entre esses grupos de fatores. Confirmou-se, assim, a predominância dos

verbos inacusativos, no caso sem marcação de plural, na posição posterior ao verbo.

Sujeito anteposto Sujeito posposto

Transitivos 15/1581

0,9%

5/49

10,2%

Copulativos 15/537

2,8%

9/27

33,3%

Inacusativos 5/134

3,7%

22/62

35,5%

Intransitivos 4/217

1,8%

3/22

13,6%

Tabela 13: Ìndices de não concordância segundo o cruzamento Tipo de verbo x Posição

do sujeito em relação ao verbo.

Page 97: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

96

Assim como na análise qualitativa dos dados de Cacém e Oeiras, a amostra de

Funchal também demonstrou altos índices de falta de concordância com os verbos

inacusativos e copulativos, especialmente com sujeito posposto. Ao que tudo indica, a

posição do sujeito é a influência preponderante na aplicação da ausência da marca de

número plural.

6.3.2 Configuração morfossintática do SN sujeito

Em relação à variável Configuração morfossintática do SN sujeito, foi

necessário fazer recodificações e amalgamar alguns dos fatores (descritos no capítulo

4), pela inexpressividade quantitativa revelada nos resultados iniciais e para que fosse

possível prosseguir com a análise estatística. A tabela a seguir apresenta os resultados

considerando os fatores devidamente amalgamados.

Aplic./Total % PR

pronome pessoal + pronome possessivo +

pronome demonstrativo + quantificador

indefinido + quantificador numeral

3/231 1,3 .21

SN (núcleo do tipo nome) sem SPrep

encaixado

36/377 9,5 .57

SN (núcleo do tipo nome) com SPrep

encaixado + SN/pronome com uma oração

relativa/adjetiva + SNs plenos/pronomes

coordenados (com ou sem oração relativa)

6/41 14,6 .83

Sujeito não expresso (oculto/desinencial) 9/399 2,3 .42

pronome relativo 13/178 7,3 .82

Tabela 14: Índices de não concordância segundo a variável Configuração

morfossintática do SN sujeito na localidade de Funchal

Page 98: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

97

Assim como nos casos de Oeiras e Cacém, o pronome relativo se mostrou

desfavorecedor à aplicação da regra de concordância. Além disso, os SNs mais

complexos (como nos exemplos a seguir), aqueles que apresentam um SPrep encaixado,

uma oração relativa ou até SNs ou pronomes coordenados, também favorecem a falta de

concordância, possivelmente por atenuar a relação do referente plural com o verbo,

aumentar a distância entre o núcleo do SN e o SV e também pelo fato de o último

elemento inserido no SPrep ou na oração relativa poder estar no singular. Dessa forma,

o foco no núcleo do SN plural se perderia, seja pela presença de outras informações,

seja pela proximidade de outros SNs com o SV ou pelo fato de o último elemento

coordenado estar no singular, o que desfavoreceria a concordância.

(94) as pessoas do de lisboa não são frias (FNC C2M)

(95) ela e ele tava [estavam] (FNC C1M)

6.3.3 Animacidade do sujeito/referente

A variável Animacidade, assim como nos casos de Cacém e Oeiras, comprova

com seus resultados a hipótese de que os sujeitos inanimados contribuem para a falta de

concordância. Os exemplos desse caso podem ser vistos após a tabela.

Aplic./Total % PR

Animado 26/981 2,7 .42

Inanimado 41/245 16,7 .75

Tabela 15: Índices de não concordância segundo a variável Animacidade na localidade

de Funchal

(96) as mercearias na altura fechava às onze (FNC B1M)

(97) as tabuadas era salteade (FNC B1M)

Page 99: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

98

Na análise multivariada com todas as ocorrências das três localidades, confirma-

se em índices probabilísticos a influência exercida pelo traço [- animado], apresentando

esse fator o peso relativo de .80.

Aplic./Total % PR

Animado 33/3384 1,0 .42

Inanimado 59/689 7,9 .80

Tabela 16: Índices de não concordância segundo a variável Animacidade na amostra

geral.

Page 100: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

99

7 DESCRIÇÃO FONÉTICA DAS TERMINAÇÕES VERBAIS

Segundo Mota, Miguel e Mendes (2012), a falta de concordância acontece

quando a forma verbal relativa à 3ª pessoa do plural é homófona à da 3ª pessoa do

singular. Nos verbos regulares, na maioria dos paradigmas verbais, a diferença entre as

duas formas consiste na presença de um ditongo nasal vs. de uma vogal. As autoras

apontam ainda que, em variedades rurais não standard no PE, ocorrem as seguintes

variantes de flexão para verbos com vogal temática –A, como lavam: (i) com ditongo

nasal: lav[a], lav[e ]; (ii) com vogal nasal: lav[a ], lav[o ], lav[u], lav[e], lav[i]; (iii) com

vogal oral: lav[u], lav[].

A tabela abaixo, pertencente ao trabalho de Bazenga (2011, p. 14), mostra as

desinências verbais canônicas para a 3ª pessoa do plural no PE e como foram realizadas

em algumas localidades descritas nos trabalhos de Rodrigues e Mota (2008) e Bazenga

(2010).

Corpus – PE1

(Rodrigues & Mota,

2008)

Northern EP dialects

Corpus BBAA

(Rodrigues & Mota,

2008)

Central Southern EP

dialects

Corpus –

Funchal

(Bazenga,

2010)

Insular EP

dialect

Standard 3PL

variants Non-standard 3PL variants / Tokens

[ã] Present tense

(1st conj.)

[] / 4

[u] / 1

[] / 1

[j] / 1

[ã] / 27

[ã] Present tense

(2nd

, 3rd

conj.)

[i] / 12

[]~ / 3

[ ã] Past Imperfect

Tense

(1st, 2

nd, 3

rd

conj.)

[] / 4

[u] / 1

[] / 1

[ã] / 8

[ã] Past Perfect

Tense

(1st, 2

nd, 3

rd

conj.)

[] / 5

[u] / 2

[i] / 45

[e] / 35

[a] / 12

[e] / 33

[u]~[u] / 6

Page 101: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

100

Tabela 17: Regional diffusion of non-standard variants of 3PL in EP (BAZENGA,

2012 p. 14)

Tendo percebido as especificidades da pronúncia portuguesa quanto a

determinadas terminações verbais, apresenta-se, aqui, uma breve descrição fonética

acerca das oposições singular e plural especialmente dos pares verbais de baixa

saliência fônica, aqueles que mais evidentemente demonstrariam comportamento

distinto do previsto na escala de saliência fônica empregada normalmente em estudos

sobre o Português do Brasil.

A variável saliência fônica não foi selecionada como relevante quanto ao

emprego de plural nos verbos da variedade europeia. Os índices abaixo são os

resultados absolutos e percentuais referentes aos fatores usualmente controlados, que

tiveram que ser amalgamados para melhor controle quantitativo.

Aplic./Total %

come/comem; sai/saem

24/614 3,9

fala/falam 49/1787 2,7

faz/fazem

0/121 0

quer/querem

0/117 0

dá/dão

2/395 0,5

vai/vão

1/201 0,5

comeu/comeram; foi/foram; viu/viram

5/171 2,9

falou/falaram

3/207 1,4

Page 102: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

101

disse/disseram; quis/quiseram

0/17 0

fez/fizeram; teve/tiveram

0/58 0

veio/vieram 0/17 0

é/são 10/462 2,2

Tabela 18: Índices de não concordância segundo a variável Saliência fônica na amostra

geral.

Com os índices encontrados para a variável Saliência fônica, é possível perceber

que não há um comportamento regular dos dados em relação à hipótese inicialmente

formulada. Em pares de média (faz/fazem; quer/querem) ou de alta (disse/disseram;

quis/quiseram; fez/fizeram; teve/tiveram; veio/vieram) diferenciação nas formas

singular-plural, ocorrem índices categóricos de concordância. Além disso, nesses pares,

praticamente todos os exemplos encontrados são de sujeitos pospostos, o que indica que

não se trata mesmo de uma motivação da saliência em si. Os dados da oposição é/são

são obviamente diferentes dos demais por constituírem construções copulativas, como

já se observou na análise variacionista.

Embora não se tenha atestado a efetiva atuação da escala de saliência proposta,

já que a posição do sujeito e o tipo de construção estavam coatuando nitidamente, os

dados europeus mostram que, excetuando-se essas influências, é nos pares de baixa

saliência fônica que está a maior concentração dos dados de ausência de plural. Desse

modo, a descrição da pronúncia das terminações verbais permite não só aferir o

contexto fonético-fonológico em que se dá a não realização da marca de plural, mas

também avaliar se a escala proposta para o PB se ajusta aos dados do PE.

Neste trabalho, fez-se tão-somente uma primeira observação das pronúncias das

terminações verbais, a título de análise complementar, de modo a confirmar ou não a

hipótese de que o componente fonético-fonológico precisa ser investigado de forma

mais detalhada em investigações futuras. É preciso deixar claro que a tarefa de ouvir,

descrever e analisar as terminações verbais é complexa, ainda mais quando se trata de

Page 103: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

102

uma pronúncia não familiar à audição do pesquisador. Nesse caso, assume-se aqui a

necessidade de dar prosseguimento ao trabalho futuramente com o auxílio de

pesquisadores europeus que utilizem a fonética perceptiva, estando eles já habituados e

familiarizados com a pronúncia estudada. Além disso, o uso da fonética acústica

também será de grande valia, visto que conta com ferramentas que podem sanar

possíveis dúvidas. Espera-se que uma descrição pormenorizada sobretudo do timbre

vocálico em cada par opositivo poderá contribuir para determinar, de forma acurada, a

diferenciação ou a ausência de diferenciação entre as formas singular e plural.

Como a descrição de cunho fonético-fonológico não constitui o foco principal da

pesquisa e em função dos limites naturais do trabalho, optou-se por tratar da questão em

uma subamostra do Corpus Concordância. Foi realizado o levantamento das desinências

finais dos verbos de 3ª pessoa do plural em 9 entrevistas de informantes do sexo

masculino em Oeiras e 9 entrevistas de informantes do sexo masculino em Funchal.

Assim, atentando para o mesmo perfil do informante, a descrição contempla tanto o

Português continental quanto o insular, nas duas capitais correspondentes.

Conforme já se informou, foram analisados os verbos que possuem pequena

diferença na realização fônica entre suas formas singular e plural. Desse modo, a partir

da escala de saliência fônica utilizada nesta pesquisa, foram observadas as formas

verbais compreendidas nos seguintes casos:

a) não envolve a mudança na qualidade da vogal na forma plural - acréscimo

de nasalidade (vive-vivem)

b) envolve mudança na qualidade da vogal na forma plural - acréscimo da

semivogal [w] (fala/falam)

c) envolve acréscimo de segmentos na forma plural e possível mudança na

realização da consoante final do singular (faz/fazem)

d) envolve acréscimo de segmentos na forma plural e possível mudança na

realização da consoante final do singular (quer/querem)

Page 104: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

103

Da subamostra de Funchal, foram transcritas as desinências de 298 formas

verbais e, na de Oeiras, 418, totalizando 716 ocorrências de baixa saliência fônica

analisadas, distribuídas pelas localidades e pelos níveis de saliência da seguinte forma:

OEIRAS FUNCHAL

a) vive/vivem 76/418 77/298

b) fala/falam 297/418 206/298

c) faz/fazem 24/418 9/298

d) quer/querem 21/418 6/298

Tabela 19: Distribuição dos dados de baixa saliência fônica na subamostra de descrição

fonética de Oeiras e Funchal

Como resultado geral, observou-se, de acordo com a intuição da percepção

auditiva brasileira, que haveria predominância, nas duas variedades, do uso das formas

ditongadas [] – típica dos verbos com vogal temática -A – e [] – típica dos verbos

com vogal temática -E ou -I –, consideradas padrão, em exemplos como:

(98) as pessoas aprendem com os pais (OEI A1H)

(99) eles não viviam comigo- mas pronto (OEI A2H)

(100) centenas ou milhares de indivíduos que dependiam dele (FNC B3H)

Nos dados de Oeiras, apenas um, apresentado a seguir, não foi realizado com

o referido ditongo. Já em Funchal, houve certa variabilidade na realização das

terminações verbais em termos fonéticos, estejam elas realizadas como na forma

singular, como um ditongo não padrão ou como vogal nasal. A tabela abaixo mostra o

número de dados e os percentuais de uso das formas [] e [], consideradas padrão.

Page 105: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

104

OEIRAS FUNCHAL

a) vive/vivem [] 76/76

100%

72/77

93,5%

b) fala/falam [] 296/297

99,7%

182/206

88,3%

c) faz/fazem [] 24/24

100%

9/9

100%

d) quer/querem [] 21/21

100%

6/6

100%

Tabela 20: Índices dos tipos de ditongos padrão na subamostra de descrição fonética

de Oeiras e Funchal

Os casos que fugiram à forma padrão encontram-se em diferentes tipos de

estruturas quanto aos contextos fonéticos da palavra seguinte, contextos que

possivelmente exerceram influência sobre a pronúncia das terminações verbais. O

primeiro a ser comentado é a utilização da desinência de 3ª pessoa do singular, que,

nos dados em estudo, foi percebida como sinalizando ausência da marca de

concordância. São 12 ocorrências desse tipo, em que apenas uma é de Oeiras.

(73) os hábitos que não me agrada muito a é é é - neste momento que estamos

a atravessar (OEI C1H)

(102) coisas que não acontece (FNC B1H)

(103) há situações que nos põe um sorriso na boca (FNC B1H)

(104) as próprias feições das pessoas _ acho que muda de zona p’ra zona

(FNC B1H)

(105) as patas roda de volta (FNC C1H)

Page 106: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

105

(106) [mulheres] puxava as saias (FNC C1H)

(107) aqueles canteires que trazia a mercadoria (FNC C1H)

(108) trazia batata trazia semilhas (FNC C1H)

(109) voltou a se provar que existia ainda substâncias do codipron (FNC B2H)

(110) muito mais quando existe armas de fogo (FNC B2H)

(111) quando existe ameaças (FNC B2H)

(112) só quando era colunas de opinião (FNC B3H)

Esses casos, em que não ocorre a variante padrão ditongada, podem ser

distribuídos pelos seguintes contextos:

a) [] e [] seguidos de vogal:

(103) há situações que nos põe um sorriso na boca (FNC B1H)

(106) [mulheres] puxava as saias (FNC C1H)

(107) aqueles canteires que trazia a mercadoria (FNC C1H)

(109) voltou a se provar que existia ainda substâncias do codipron (FNC B2H)

(110) muito mais quando existe armas de fogo (FNC B2H)

(111) quando existe ameaças (FNC B2H)

b) [] seguido de nasal:

(101) os hábitos que não me agrada muito a é é é (OEI C1H)

c) [] seguido de pausa:

(102) coisas que não acontece (FNC B1H)

d) [] seguido de consoante não-nasal:

Page 107: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

106

(104) as próprias feições das pessoas _ acho que muda de zona p’ra zona

(FNC B1H)

(105) as patas roda de volta (FNC C1H)

(108) trazia batata trazia semilhas (FNC C1H)

(112) só quando era colunas de opinião (FNC B3H)

É preciso assinalar, aqui, que, especialmente no contexto seguido de consoante

nasal ou de som vocálico, a mera percepção auditiva da terminação verbal não permite

assegurar se a qualidade vocálica em questão – aqui identificada como não plural – é,

de fato, idêntica à da realização da forma no singular. Sem dúvida, recursos de uma

análise acústica poderiam colaborar com essa determinação.

Além dos casos tidos como sem a marca de concordância, ocorreu também

outra forma não-padrão. Percebeu-se a utilização da variante [e], na amostra de

Funchal, para verbos com VT /a/, que possuem como terminação canônica da 3ª pessoa

do plural a forma [ã]. Esse fato – que também foi registrado por Vieira & Bazenga

(2013) – se concretizou em 11 ocorrências da amostra insular. O fato de essa forma não

ter sido encontrada na variedade continental confirma o comportamento diferenciado do

Português que a Ilha apresentou na análise multivariada.

(113) tinha alguns sargues que erem [eram] muite velhes (FNC C1H)

(114) erem [eram] muite grandes (FNC C1H)

(115) punhem [punham] em terra gastava no calhau (FNC C1H)

(116) naquele tempo ai mulheres nem usavem [usavam] cuecas (FNC C1H)

(117) erem [eram] as saias compridas pa mijar em pé (FNC C1H)

(118) as mulheres esticavem [esticavam] a perna (FNC C1H)

(119) eles vinhem [vinham] em cima da gente (FNC C1H)

(120) os vizinhes não faziem [faziam] case (FNC C1H)

(121) aqueles carres que andem [andam] de noite (FNC C1H)

(122) na festa eles davem [davam] um pão grande (FNC C1H)

(123) trabalhavem [trabalhavam] pra_ um era barbeiro (FNC C1H)

Page 108: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

107

Por último, estão os dados em que a desinência final do verbo foi representada

por uma vogal com traço de nasalidade, mas em que não há ditongação.

a) []

(124) algumas mulheres ehhhh quando encontravam um marido (FNC C2H)

(125) os homens encontravam uma mulher (FNC C2H)

(126) melhor do que viviam no dia anterior (FNC B3H)

(127) também não convinham de maneira alguma (FNC C2H)

(128) eles já não _ já não se deixam (FNC B1H)

b) []

(129) eles lá recolhem as pessoas (FNC A1H)

(130) há situações que nos põem um sorriso na boca (FNC B1H)

Dentre os 30 casos em que não foi usada a forma padrão ditongada, 20 estão

diante de um segmento nasal ou de uma vogal, o que demonstra a forte influência do

sândi externo na realização dessas terminações verbais.

Partindo-se da hipótese de que a forma verbal “quer” e outras formas no

infinitivo poderiam possuir, na pronúncia portuguesa, a inserção do segmento vocálico

[] ao fim (como em “quere”, “saire”), optou-se por ouvir dados também no singular

para observar se verbos como o par quer/querem estariam, na fala portuguesa,

pronunciados consoante o mesmo grau de saliência fônica da oposição come/comem.

Como esse interesse surgiu com o desenvolvimento do trabalho e não constitui foco

principal da investigação, percebe-se a necessidade de fazer dessa questão um trabalho à

parte, tendo em vista que, nesse caso, é necessário coletar e analisar também vasta

quantidade de dados no singular.

Na pequena quantidade de dados observados, a hipótese aparentemente se

confirmou pela percepção auditiva de um suposto segmento vocálico em vocábulos

Page 109: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

108

como os destacados nos exemplos abaixo, o que precisa ser confirmado em análise

específica do fenômeno:

(131) antes da idade ele quer sair pode sair comigo não com os amigos (FNC A1H)

(132) se ele ler porque o pai obriga ele não quer ler ou se for estimulado por obrigação

(FNC B3H)

(133) o que eu gostava de seguir? (FNC A2H)

(134) querer quero _ agora conseguir (FNC A2H)

(135) quando há jogos no liceu tipe costuma ir lá antes dos jogos (FNC A2H)

Seguindo essa análise dos dados europeus, a presente descrição sugere que

investigações futuras da concordância devam investigar a variável saliência fônica a

partir da efetiva realização fonética dos pares verbais. Com base nos resultados obtidos

neste trabalho, propõe-se que uma nova escala de saliência fônica deve ser estabelecida,

de modo que o par quer/querem (quer[]/quer[]) poderia ser classificado, por exemplo,

junto com verbos como vive/vivem (viv[]/viv[]). Ademais, as pronúncias dos

ditongos não padrão deveriam estar acomodadas separadamente daquelas consideradas

padrão. Os casos de faz/fazem ficariam separados, tendo em vista que a pronúncia de

poucos vocábulos do tipo faz no corpus analisado não revelou a presença de um som

vocálico como parece ser o caso de quer, o que obviamente deve ser investigado com

mais profundidade em número maior de ocorrências. Dessa forma, os dados de baixa

saliência se reorganizariam supostamente da seguinte forma:

a) Mudança na qualidade da vogal na forma plural - Ditongo tradicional []

vive/vivem; quere/querem

b) Mudança na qualidade da vogal na forma plural - Ditongo tradicional []

canta/cantam

Page 110: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

109

c) Mudança na qualidade da vogal na forma plural - Ditongo não padrão [e]

canta/cantem

d) Acréscimo de segmentos na forma plural e mudança na realização da consoante

final do singular – Ditongo padrão []

faz/fazem

Page 111: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

110

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo sobre o comportamento do fenômeno da concordância verbal de 3ª

pessoa do plural na variedade europeia do Português, considerando as localidades de

Cacém, Oeiras e Funchal, constatou alta produtividade da marcação de plural,

demonstrando que a ausência de marca de concordância se dá em contextos

morfofonológicos e morfossintáticos bastante específicos.

A amostra básica, que contava com 18 informantes de cada uma das três

localidades, e a amostra complementar, com 12 informantes, registraram o índice de

apenas 2,2 % de ausência de marca plural, o que, segundo Labov (2003), caracteriza o

fenômeno não como variável, mas como semicategórico, visto não alcançar sequer a

marca de 5% de uma das formas alternantes.

A partir das primeiras rodadas multivariadas dos dados no programa Goldvarb-

X, ficou claro que, apesar de, em conjunto, as localidades em estudo apresentarem

baixíssimo índice de falta de concordância, a variedade madeirense se diferencia das

demais, pois apresenta comportamento no limite entre o semicategórico e o variável na

marcação da concordância, como já haviam apontado Vieira e Bazenga (2013),

valendo-se apenas da fala de informantes da amostra básica.

Dessa forma, optou-se por avaliar separadamente as ocorrências do português

continental e as da variedade insular. Analisando-se qualitativamente os 25 dados em

que não se registrou a marca de plural nas amostras de Cacém e Oeiras, foi possível

apresentar os raros contextos em que o verbo não concordou com seu referente, o que

pôde ser confirmado, em alguns casos, pelos índices percentuais relativos às variáveis

em questão.

As variáveis sociais controladas – nível de escolaridade, faixa etária e sexo –

nada revelaram sobre o valor social do fenômeno da concordância nos dados do PE

tomados em conjunto e principalmente nas variedades continentais, isto é, não

demonstraram influência sobre os resultados explicitados. A única constatação que se

obteve a respeito da caracterização social da concordância no PE é o fato de, apenas em

Funchal, os informantes com menor nível de escolaridade e as mulheres serem

responsáveis por maiores índices de cancelamento da marca de plural (e também pela

produção da maior parte das desinências verbais não padrão). Sem dúvida, esse

resultado sinaliza o vasto campo de investigação que precisa ser explorado acerca do

Page 112: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

111

Português Madeirense, em relação não só aos usos linguísticos praticados nos dias

atuais, mas também à sua constituição histórica particular.

A variável escolaridade demonstrou maior aplicação da regra de concordância

por falantes com maior grau de escolaridade. Os informantes com nível fundamental

obtiveram 10,1% de falta de concordância. Em contrapartida, os de nível médio e

superior atingiram os índices de 4% e 3,6%. Ao que parece, a escolaridade constitui

fator importante na diferenciação entre os menos escolarizados, de um lado, e os demais

indivíduos, medianamente ou muito escolarizados.

Ainda sobre a caracterização social do fenômeno na variedade insular, apesar de

pequenas diferenças percentuais, as mulheres parecem liderar o uso da forma inovadora

e estigmatizada. Enquanto os homens apresentaram 4,2% de falta de concordância, em

Funchal, as mulheres apresentaram 6,8%. Levando-se em consideração as configurações

sócio-culturais e sócio-históricas da comunidade de Funchal, em que o acesso a bens

culturais é mais restrito e a economia é centrada no setor terciário, principalmente

relacionada ao turismo, é curioso o comportamento diferenciado das mulheres, que

contraria a hipótese de que elas estariam à frente do uso da forma conservadora e de

prestígio.

Em relação às características socioeconômicas e culturais de Cacém e Oeiras,

constatou-se que o fato de estarem localizados em região aproximada ou na própria

cidade de Lisboa, que é considerada, juntamente com Coimbra, o berço da norma

padrão culta do português europeu, faz com que tenham comportamento mais

conservador em relação ao fenômeno. É fato que a freguesia de Oeiras se destaca de

Cacém por ser o local, dentre os três em estudo, de maior poder aquisitivo, em que estão

instaladas grandes empresas multinacionais e importantes universidades e centros de

estudos, além de não ser rota principal de turistas, o que faz com que os usos locais,

conservadores, se mantenham de certa forma afastados da influência de formas

inovadoras trazidas por visitantes.

Cacém, por sua vez, ainda está em desenvolvimento, apresentando constante

crescimento urbano e populacional. Devido a isso, recebe estrangeiros que, atraídos por

menores custos residenciais, fazem da freguesia uma espécie de “bairro dormitório”.

Durante o dia, saem do Cacém para irem trabalhar em Lisboa e regiões próximas,

retornando a suas casas apenas à noite para dormir. De qualquer forma, ainda que com

características distintas de Oeiras, pelo fato de estarem localizados na porção

Page 113: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

112

continental de Portugal e próximos à capital, parecem manter, de forma geral, as formas

linguísticas de prestígio, ao menos no que se refere, não só ao fenômeno da

concordância verbal, mas também, como demonstram outros estudos científicos, à

concordância nominal (BRANDÃO; VIEIRA, 2012) e à implementação da forma nós

de 1ª pessoa do plural (VIANNA, 2009).

Em relação aos contextos relacionados aos poucos casos de ausência de marca

plural encontrados em Cacém e Oeiras, embora não se possam atestar efetivas restrições

ao fenômeno, por não se postular aqui a existência de uma regra variável, observaram-

se os contextos envolvidos em tais dados, quais sejam: a Posição do sujeito em relação

ao verbo; a Presença do relativo que, a Animacidade do referente e o Tipo de verbo na

perspectiva sintática.

Dentre as 25 ocorrências em que a forma verbal apareceu no singular, 10

possuíam o sujeito em posição pós-verbal. Esse resultado dá relevância à hipótese de

que o sujeito, quando aparece em posição posterior ao verbo, é, por vezes, interpretado

como objeto, justificando, portanto, a não marcação de plural no verbo. É importante

salientar ainda que, relacionado à posição do sujeito está o tipo de verbo. Desses 10

dados com sujeito posposto, 6 possuíam verbo inacusativo, que costuma aparecer em

ordem VS. Os outros 4 casos são de verbos copulativos, que devido, muitas vezes, à

dúvida sobre o referente criado na relação entre o sujeito e o predicativo, levam à falta

de concordância. De todo modo, o estudo sugere que é a posição do sujeito em si o fator

desencadeador da não marcação de pluralidade, o que apenas se correlaciona mais com

determinado tipo de verbo.

O segundo contexto analisado nos dados da amostra continental do PE foi a

presença do relativo que, que foi controlada a partir da variável Estrutura

morfossintática do SN sujeito. Com a observação desse fator, constatou-se que a

presença do relativo que, não pluralizável e em posição interveniente entre o verbo e seu

referente, leva à não marcação de plural no verbo por ‘desviar’ o foco em relação ao

referente. Registraram-se 8 ocorrências, nas 25, em que o relativo que exercia a função

de sujeito sintático.

Nas mesmas 25 ocorrências, a variável Animacidade do sujeito/referente

também pareceu relevante, pois 17 dados possuíam o traço [-animado]. Assim como nos

estudos de Monguilhott (2009), Monte (2012), Rubio (2012) e Bazenga e Vieira (2013),

os sujeitos inanimados demonstraram ser desfavorecedores da concordância.

Page 114: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

113

A respeito do Tipo de verbo, os copulativos e os inacusativos, com 8 e 7

ocorrências respectivamente, demonstraram predominância nos casos de não marcação

de plural no verbo, assim como já se mencionou na análise dos sujeitos pospostos,

contexto que constitui o fator preponderante para a ausência da marca de plural.

Diferentemente das amostras de Cacém e Oeiras, que obtiveram apenas 0,8 e

0,9% de falta de concordância, respectivamente, Funchal apresentou 5,5% de não

marcação, o que permitiu que fosse dado seguimento ao tratamento estatístico dos

dados. As variáveis selecionadas pelo programa Goldvarb-X como relevantes para o

fenômeno na variedade madeirense foram as seguintes: Escolaridade, Sexo, Posição do

sujeito em relação ao verbo, Configuração morfossintática do SN sujeito e Animacidade

do sujeito/referente.

A análise variacionista confirmou o comportamento das variáveis sociais já

discutido: mulheres e indivíduos menos escolarizados de Funchal realizariam menos a

marca de plural nos verbos.

A variável Posição do sujeito em relação ao verbo demonstrou o mesmo

comportamento observado em Cacém e Oeiras, com a diferença de possuir índices

significativos. Dentre os sujeitos pospostos, 48,3% não possuíam concordância

verbo/sujeito.

O comportamento da variável referente à configuração morfossintática do SN

sujeito reforçou o fato de o relativo que favorecer a não concordância. Além disso, os

SNs que apresentam um SPrep encaixado ou uma oração relativa ou, ainda, núcleos

coordenados também favoreceram a ausência da marca de pluralidade.

Por último, a Animacidade do referente confirmou a hipótese de que os sujeitos

com traço [+ animado] favorecem a concordância, enquanto o traço [- animado]

desfavorece a mesma. Os sujeitos inanimados não concordaram com o verbo em 7,9%

dos casos, enquanto os animados apresentaram apenas 1% de não concordância.

Além da análise qualitativa das ocorrências e do tratamento estatístico dos

dados, optou-se por descrever, apenas com base na percepção auditiva, a pronúncia das

terminações dos verbos que apresentam particularidades fonéticas relativas à distinção

entre suas formas singular e plural, o que geraria diferença na escala de saliência fônica

que foi proposta para as amostras brasileiras e é utilizada também para o PE. Essa

descrição, de caráter preliminar, teve por motivação as especificidades apontadas na

pronúncia portuguesa quanto a determinadas terminações verbais.

Page 115: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

114

Com o levantamento das desinências, constatou-se a preferência pela utilização

das formas ditongadas [] e [], em verbos como fala/falam, vive/vivem, faz/fazem e

quer/querem. De 716 ocorrências, sendo 418 de Oeiras e 298 de Funchal, 29 em

Funchal e apenas 1 em Oeiras não utilizaram as formas padrão ditongadas. Dentre

essas 30, estavam 12 casos de realizações apenas de vogais, o que costuma ser

considerado falta de concordância, 11 casos em que o ditongo não padrão [e] foi

utilizado em verbos com vogal temática /a/, e 7 em que as desinências estavam

representadas apenas por uma vogal nasal.

Observou-se, ainda, que, dos 30 casos em que não foi utilizada a terminação

ditongada, 20 estão diante de um segmento nasal ou de uma vogal, o que demonstra a

forte influência do sândi externo na realização dessas terminações verbais. Esses

contextos favorecem, ao que tudo indica, o enfraquecimento da realização fonética

plena na forma dos citados ditongos decrescentes.

A descrição fonética das terminações verbais permitiu, ainda, sugerir que a

escala de diferenciação entre as formas singular e plural merece ser reformulada em

função das características particulares da variedade em análise. Observados

especialmente os baixos graus de saliência fônica, que foram propostos em Lemle e

Naro (1977) para dados da variedade brasileira, propõe-se que os pares verbais precisam

ser realocados em função das terminações verificadas nas variedades europeias. Desse

modo, o par quer/querem, por exemplo, poderia ser analisado em conjunto com

come/comem, já que a forma singular quer parece ser pronunciada com a vogal [] ao

final, como ocorre em come. Além disso, devem constar na escala de saliência fônica os

verbos que são realizados com a variante não padrão [e], como em canta/cantem. Dessa

forma, a escala de saliência fônica atenderia melhor ao perfil da variedade europeia do

Português.

De todo modo, cabe ressaltar que a descrição fonética preliminarmente realizada

na presente pesquisa constituiu apenas uma observação preliminar das pronúncias das

terminações verbais, a título de análise complementar, de modo a confirmar ou não a

hipótese de que o componente fonético-fonológico precisa ser investigado de forma

mais detalhada em investigações futuras. Nesse sentido, contar com a audição das

formas verbais por parte de investigadores portugueses e com uma análise de natureza

acústica constituem recursos fundamentais em investigação futura.

Page 116: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

115

Em linhas gerais, os resultados do presente trabalho, somando-se às

contribuições de outros estudos sobre o tema – como o de Varejão (2006), Monguilhott

(2009, 2010), Monte (2012), Rubio (2012), Brandão e Vieira (2012b) e Bazenga e

Vieira (2013) –, apresentam evidências de que existem diferentes padrões de

concordância na língua portuguesa: um variável, apontado em estudos sobre o

Português do Brasil e o Português de São Tomé, por exemplo; e outro semicategórico,

como observado no Português Europeu, sobretudo nas amostras continentais.

Embora o estudo tenha detectado algumas restrições, atuantes principalmente na

amostra de Funchal (localidade cujas características socioculturais, históricas e também

linguísticas também precisam ser mais bem estudadas em trabalhos futuros), que

funcionam em praticamente todas as amostras brasileiras – como a posição e a

constituição formal do sujeito e a animacidade do referente –, entende-se, assim como

propuseram Brandão e Vieira (2012b), que essas variáveis não são reveladoras do que

seria o PB e o PE em particular. Antes, parecem ser princípios gerais, possivelmente de

natureza cognitiva/processual, que poderiam ser verificados em línguas diversificadas,

independentemente de suas origens comuns ou de suas semelhanças tipológicas.

O fato é que, quantitativa e qualitativamente, os dados do Português Europeu –

de praticamente todos os estratos sociais controlados na presente investigação – são

muito particulares, configurando um quadro semicategórico de concordância e os

poucos dados de não realização da marca se limitam a contextos muito específicos,

preferencialmente com sujeitos pospostos, com referentes inanimados, representados na

oração pelo relativo “que”, com verbos de baixa saliência fônica, inacusativos ou

copulativos, e, ainda, influenciados pelo contexto fonético seguinte, iniciado por som

vocálico ou nasal. Essa realidade nem de perto se assemelha à ampla variação detectada

no Português do Brasil, em qualquer tipo de construção, variedade em que se delimita

um contínuo de realização de plural, que vai da alta preferência pela concordância em

comunidades de fala urbana e de alta escolaridade até a alta produtividade da não

concordância, como se verifica em comunidades rurais e/ou de baixa escolaridade, o

que ocorre inclusive em ordem direta e com verbos de alta saliência fônica, como em os

menino estudou aqui.

Tendo o PE contextos tão específicos de não marcação da concordância, sendo

estes, inclusive, de caráter universal, nada se pode dizer a respeito do estatuto social da

Page 117: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE 3ª PESSOA DO PLURAL NO

116

variedade. Dessa forma, os resultados obtidos não corroboram a hipótese de que teria

havido a expansão das estruturas europeias para a constituição do Português do Brasil.

Espera-se, por fim, que o presente trabalho, desenvolvido no âmbito do Projeto

Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e

europeias do Português (ALFAL 21), possa contribuir para a compreensão do

fenômeno da concordância verbal na variedade europeia, fornecendo vasta quantidade

de dados retirados de amostras contemporâneas e estratificadas de acordo com os

pressupostos da Sociolinguística Variacionista.

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