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A CONCEPÇÃO DE QUALIDADE NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NOS DOCUMENTOS NORMATIVOS SOBRE OS DIREITOS HUMANOS Crisley Monteiro de Monteiro 1 RESUMO: Entendendo por direitos humanos os destacados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, tais como, liberdade e igualdade nos seus direitos humanos, dignidade no valor dos seres humanos liberdade de expressão, dignidade, a cultura e, em destaque na nossa discussão, a educação de qualidade, esse trabalho tem como objetivo descrever a concepção de qualidade na formação de professores no que concerne aos direitos humanos presente nesses documentos normativos nacionais e internacionais. Para isso, realizamos uma pesquisa de tipo documental, coletando, descrevendo e analisando documentos normativos de fonte primária, dos quais, podemos citar: CONAE - Conferência Nacional de Educação ocorrida no Brasil 2011; a LDBN - Lei de Diretrizes e Base Nacional 1996; o Manual dos Direitos Humanos, Brasil 2011; UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação; a Ciência e a Cultura 2002 e Declaração Universal dos Direitos Humanos 2009. A pesquisa constituiu-se através de abordagem qualitativa tendo como referencial teórico de análise os autores: Luiz Fernandes Dourado; João Ferreira de Campos Oliveira; Djalma Pacheco de Carvalho; Dalva Regina Araújo da Silva; Maria das Graças da Cruz; Maria Elizete Guimarães Carvalho. As análises permitiram evidenciar uma minimização da participação do Estado, tanto no que se refere aos gastos financeiros com as instituições de ensino e de professores, como no que diz respeito, à formação intelectual desses profissionais com relação aos direitos humanos. PALAVRAS-CHAVE: Formação de professores - Qualidade - Direitos Humanos - Documentos Normativos. 1. INTRODUÇÃO No início do século XX, a preocupação com a Formação dos professores no Brasil tornou-se palco de discussões e investimentos - isso se deve ao fato da Lei de Diretrizes e Bases 1 Crisley Monteiro de Monteiro: Mestranda em Educação, pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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A CONCEPÇÃO DE QUALIDADE NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES NOS

DOCUMENTOS NORMATIVOS SOBRE OS DIREITOS HUMANOS

Crisley Monteiro de Monteiro 1

RESUMO:

Entendendo por direitos humanos os destacados na Declaração Universal dos Direitos

Humanos, tais como, liberdade e igualdade nos seus direitos humanos, dignidade no valor dos

seres humanos liberdade de expressão, dignidade, a cultura e, em destaque na nossa discussão,

a educação de qualidade, esse trabalho tem como objetivo descrever a concepção de qualidade

na formação de professores no que concerne aos direitos humanos presente nesses documentos

normativos nacionais e internacionais. Para isso, realizamos uma pesquisa de tipo documental,

coletando, descrevendo e analisando documentos normativos de fonte primária, dos quais,

podemos citar: CONAE - Conferência Nacional de Educação ocorrida no Brasil 2011; a LDBN

- Lei de Diretrizes e Base Nacional 1996; o Manual dos Direitos Humanos, Brasil 2011;

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação; a Ciência e a Cultura 2002 e

Declaração Universal dos Direitos Humanos 2009. A pesquisa constituiu-se através de

abordagem qualitativa tendo como referencial teórico de análise os autores: Luiz Fernandes

Dourado; João Ferreira de Campos Oliveira; Djalma Pacheco de Carvalho; Dalva Regina

Araújo da Silva; Maria das Graças da Cruz; Maria Elizete Guimarães Carvalho. As análises

permitiram evidenciar uma minimização da participação do Estado, tanto no que se refere aos

gastos financeiros com as instituições de ensino e de professores, como no que diz respeito, à

formação intelectual desses profissionais com relação aos direitos humanos.

PALAVRAS-CHAVE: Formação de professores - Qualidade - Direitos Humanos -

Documentos Normativos.

1. INTRODUÇÃO

No início do século XX, a preocupação com a Formação dos professores no Brasil

tornou-se palco de discussões e investimentos - isso se deve ao fato da Lei de Diretrizes e Bases

1Crisley Monteiro de Monteiro: Mestranda em Educação, pela Universidade Federal do Mato Grosso

do Sul.

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da Educação, Lei 9.394/96, propor alterações para as instituições formadoras e para os cursos

de formação de professores. Desse modo, exigia-se dos professores atuantes na rede de ensino,

formação em nível superior no prazo de dez anos.

A partir do início do século XXI ocorre uma preocupação com a formação de um novo

sujeito que precisa se desenvolver intelectualmente, culturalmente e socialmente, obtendo uma

visão crítica da realidade. Entende-se que desse modo o sujeito alcançará o objetivo principal

dos programas de ensino do país: a amenização do analfabetismo. Desta maneira, a Formação

Continuada, tornou-se importante a partir do momento que capacita professores que irão

despertar no aluno o interesse pela aprendizagem. Há nesse momento a urgência, por meio dos

órgãos mundiais, de uma educação mais justa, igualitária e de qualidade, que venha corrigir os

altos índices de analfabetismo.

Encontramos na Declaração Mundial sobre Educação - esta firmada em Jomtien 1990

no seu Preâmbulo - a afirmação que toda pessoa, para seu desenvolvimento necessita de

educação:

Há mais de quarenta anos, as nações do mundo afirmaram na Declaração

Universal dos Direitos Humanos que "toda pessoa tem direito à educação".

No entanto, apesar dos esforços realizados por países do mundo inteiro para

assegurar o direito à educação para todos, persistem as seguintes realidades:

• mais de 100 milhões de crianças, das quais pelo menos 60 milhões são

meninas, não têm acesso ao ensino primário: mais de 960 milhões de adultos

- dois terços dos quais mulheres - são analfabetos, e o analfabetismo funcional

é um problema significativo em todos os países industrializados ou em

desenvolvimento:

• mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento

impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a

qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças socias e

culturais: e

• mais de 100 milhões de crianças e incontáveis adultos não conseguem

concluir o ciclo básico, e outros milhões, apesar de concluí-lo, não conseguem

adquirir conhecimentos e habilidades essenciais. (UNESCO, 1998, p.02)

Diante dessa citação, percebemos que ocorre através da busca pela legalização Direitos

Humanos nos documentos normativos, uma reafirmação da educação enquanto instrumento de

dignidade humana como meio de corrigir as desigualdades educacionais. A educação é tratada

como mediadora entre as relações sociais e interculturais garantindo a comunicação,

solidariedade, respeito e tolerância entre os povos. Assim, um dos objetivos com relação à

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legalização dos Direitos Humanos é a garantia de que todos tenham acesso à educação de

qualidade. Candau e Sacavino (2013) afirmam que:

A problemática dos Direitos Humanos é um dos componentes fundamentais

das sociedades atuais. Do plano internacional ao local, das questões globais às

da vida cotidiana, os Direitos Humanos atravessam nossas preocupações,

buscas, projetos e sonhos. Afirmados ou negados, exaltados ou violados, eles

fazem parte da nossa vida pessoal e coletiva. Além disso, um discurso incisivo

e persistente defende fortemente a importância dos Direitos Humanos se

queremos construir verdadeiras democracias. (CANDAU; SACAVINO,

2013, p.01).

Como afirmam os autores, a legalização dos Direitos Humanos é de extrema

importância pelo fato de que através dela a sociedade possa se educar para relações mais

empáticas. Quando nos referimos à Educação como Direito Humano, estamos refletindo sobre

processos formativos com a finalidade para a formação de pessoas mais justas e livres. Vemos

na Declaração Universal dos Direitos humanos a afirmação de que toda pessoa tem o direito de

acesso à cultura e educação, sem restrições.

A ASSEMBLÉIA GERAL proclama a presente DECLARAÇÃO

UNIVERSAL DOS DIRETOS HUMANOS como o ideal comum a ser

atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada

indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração,

se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses

direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter

nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua

observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-

Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. (UNESCO,

1998, p. 02).

É direito de toda a pessoa ter acesso à educação, à formação de qualidade e à cultura

que compõe sua identidade e raiz histórica. Desta maneira, o professor termina por ser atuante

na vida do aluno, uma vez que sua prática profissional está inteiramente voltada a processos

formativos educacionais. Para que o professor transmita um ensino de qualidade há a

necessidade de se investir na sua capacitação, e com ela, auxiliar no desenvolvimento

intelectual, cultural e democrático do aluno.

Nesse sentido, objetivamos descrever a concepção de qualidade na formação de

professores - no que concerne aos direitos humanos - presentes em documentos normativos

nacionais e internacionais, tais como: A formação do professor nesses documentos é tratada

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como mecanismo social para a garantia da educação de qualidade e como sendo primordial para

o ser humano, visto que através da ação formativa do professor, a sociedade poderá ampliar os

seus conhecimentos. Silva, Cruz e Carvalho afirmam que:

Uma vez que o Direito à Educação está compreendido no âmbito dos Direitos

Sociais, sendo fundamental para a manutenção de uma vida com dignidade,

torna-se necessário não apenas seu reconhecimento e promoção, mas

principalmente sua proteção. (SILVA; CRUZ; CARVALHO, 2009 p.01).

Utilizamos estudos realizados por Dourado e Oliveira (2009); Campos (2000);

Carvalho (2016), Silva; Cruz; Carvalho (2009), Candau e Sacavino (2013), Fernandes e

Paludeto (2010), Silva (2009) e Tedesco (2015), estes evidenciam a questão da Formação, com

um “olhar” voltado para a valorização profissional dos professores, assim como também da

qualidade na Educação. Os principais estudos que sustentaram este artigo foram: Declaração

Mundial sobre Direitos Humanos (1998); Declaração Universal da Diversidade Cultural

(2002); Programa Nacional em Direitos Humanos (2006) e outros que firmaram nossas

colocações.

2. QUALIDADE NA EDUCAÇÃO

Descreveremos a relação entre dois temas de relevância para a academia: a formação de

professores e a qualidade na educação como garantia dos direitos humanos - tanto nos

documentos normativos nacionais e internacionais como de autores já citados.

Nos últimos anos tem se discutido muito sobre a qualidade da educação, o acesso e a

permanência, como também, de tantos outros termos que dão referências ao incentivo para o

crescimento e conexão com a escola. A questão da qualidade na Educação vem sendo debatida

desde a década de 80, período em que o Brasil teve uma abertura política, principalmente com

a Constituição de 1988, que institui a Educação como um alavanque para o desenvolvimento

humano. Vemos na Constituição de 88 no artigo 206, inciso VII e 211, inciso 1º, que a

Qualidade é garantida para as Instituições de Ensino Público:

1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios,

financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria

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educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização

de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino

mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios; (BRASIL, 1988, artigo 211).

Desde 1988, há uma preocupação em dar assistência financeira e técnica, aos Estados,

Municípios e Distrito Federal para que se alcancem as metas mínimas de qualidades. A Lei de

Diretrizes e Bases, Lei n° 9394/96 (LDB), Título III, no 4° artigo reforça a questão do padrão

mínimo de qualidade “Padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e

quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de

ensino-aprendizagem”. (BRASIL, 1996, artigo 4º).

A orientação em dar o mínimo para a Educação Pública está basicamente em quase

todos os documentos que garantem a educação com qualidade, tais como a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, UNESCO, a Constituição de 1988, o Manual dos Direitos

Humanos e nos documentos que dão sustentação a educação brasileira, como a LDBN. Vemos

que esses documentos direcionam todo o processo de ensino, como podemos observar no

Manual dos Direitos Humanos quando se trata da Educação Escolar com garantia do Padrão de

Qualidade:

A educação pública precisa respeitar um padrão de qualidade definido

nacionalmente. Esse padrão deve assegurar a todos os estudantes condições

semelhantes de aprendizado adequado, respeitada a diversidade de

expectativas educacionais. Uma das formas de se estabelecer tal padrão é

determinar quais os insumos mínimos que devem ser assegurados a todas as

escolas, por exemplo: infraestrutura escolar, quadras esportivas, número de

estudantes por sala, material didático-escolar, formação e remuneração dos

professores e funcionários, etc. Temos poucos avanços na definição desses

padrões, no entanto, nos sistemas estaduais e municipais de ensino é comum

seu estabelecimento, sobretudo pelos Conselhos de Educação. Do ponto de

vista nacional, um avanço significativo foi a discussão e aprovação do Parecer

n° 8, de 2010, do Conselho Nacional de Educação, que estabelece os padrões

mínimos de qualidade de ensino para a educação básica pública e calcula o

Custo Aluno Qualidade Inicial. (BRASIL b, 2011, p. 38).

Observa-se nos documentos normativos nacionais que cada aluno é calculado como

custo, acreditando-se que assim se oferece a qualidade. Espera-se da Educação Pública o

mínimo de qualidade, também no mínimo de garantia de investimento por lei, sendo assim: a

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legalização da minimização da participação do Estado com relação a esse objetivo. Dourado,

Oliveira (2009, p.07) sinaliza:

[...] construir dimensões e definir fatores de qualidade para a educação e,

sobretudo, para a escola não requer apenas a identificação de condições

mínimas, mas de condições que articulem a natureza da instituição aos

objetivos educativos e à fase de desenvolvimento da vida das crianças,

adolescentes e jovens. De qualquer modo, a qualidade da escola implica a

existência de insumos (input) indispensáveis, de condições de trabalho e de

pessoal valorizado, motivado e engajado no processo educativo a ser definido

em consonância com as políticas e gestão da educação de cada país [...].

A qualidade educacional é algo complexo e de grande desafio, pois cabe não só aos

governantes assegurá-la, mas também precisa de toda uma integração desde a família,

estudantes, Secretaria de Educação, professores que formam o elo da educação. Sendo tantos

personagens que integram a Educação, não poderia ser exigido apenas o mínimo. Diante da

necessidade de excluir o analfabetismo no Brasil nota-se que é preciso investir muito na

educação para se ter qualidade. Para isso, teria que se investir em medidas urgentes, mas traz

acúmulos aos cofres públicos e a minimização dos investimentos como afirma Campos:

Todas essas medidas, evidentemente, implicavam em aumentos nos

investimentos e no custeio dos sistemas de ensino. Ora, quando no final da

década de 80, a chamada crise do Estado e a adoção das políticas de ajuste

econômico pressionaram os governos no sentido de uma contenção das

despesas públicas, criou se uma grande contradição entre os objetivos de

melhoria das redes de ensino e a disponibilidade de recursos para alcançá-los.

(CAMPOS, 2000, p. 06).

Cabe observarmos que a questão da Qualidade da Educação tem todo um contexto

Histórico e Político, pois para cada período há uma exigência de mudanças para a Educação.

Os interesses políticos acabam direcionando a qualidade para uma determinada instância social,

como afirma Dourado e Oliveira:

Outra questão fundamental consiste em identificar, no âmbito das políticas

internacionais, quais são os compromissos assumidos pelos diferentes países

na área da educação, como tais compromissos se configuram em políticas,

programas e ações educacionais e como eles se materializam no cotidiano

escolar. Por outro lado, é fundamental apreender quais são as políticas

indutoras advindas dos referidos organismos multilaterais e que concepções

balizam tais políticas. Para tanto, é fundamental problematizar a ênfase dada

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à teoria do capital humano, sobretudo pelo Banco Mundial, identificando o

papel reservado à educação, bem como as diferentes feições assumidas por ela

no que concerne à escola de qualidade. (DOURADO; OLIVEIRA, 2009, p.

204).

A qualidade, muitas vezes está baseada nos acordos políticos e mercadológicos, pois

para atender aos compromissos firmados entre o Banco Mundial e os países, usa-se a Educação

como intermediária entre Política e População. Sendo assim só se alcança qualidade quando se

alcançou os interesses políticos ou quando se atendeu o mercado. Nota-se que aquela qualidade

que visualizamos nada mais é que a imposição dos gerenciadores mundiais. Para Campos

(2000) o mercado também gerencia o tipo de qualidade que se quer:

As concepções de qualidade que começam a ser defendidas para os sistemas

educacionais são delineadas sob várias influencias: uma delas provém de

programas oriundos das empresas privadas, desenvolvidos mundialmente

visando ganhos de produtividade, conhecidos como programas de “qualidade

total”; elas também são parte integrante das reformas educacionais

desenvolvidas nos países latino americanos, influenciadas pelos acordos e

convênios firmados com agências multilaterais, os quais trazem em suas

cláusulas a previsão de projetos e monitoramentos e avaliação das políticas

implantadas nas redes escolares públicas, com a preocupação de estimar as

relações de custo-benefício dessas intervenções e subsidiar a continuidade das

reformas. (CAMPOS, 2000, p. 07).

Destaca-se que a qualidade muitas vezes fica à mercê do mercado e das políticas de

desenvolvimento dos países. Atualmente o que se busca é um novo modelo de ensino voltado

para o social, pois o mercado, que transforma tudo em mercadorias, e investe na educação

privada, pois esta lhe garantirá lucro e para escola pública assume o papel de assistencialista.

Fernandes e Paludeto afirmam que:

O modo de produção capitalista tornou a educação um instrumento de

reprodução das desigualdades inerentes ao sistema de classes. E a sociedade

de consumo trouxe consigo a ideia de concorrência, na qual os consumidores

tornaram-se mercadorias. Neste sentido, Saviani (2004, p. 157) justifica a falta

de investimento no setor educacional decorrente da prioridade política

brasileira, que teria maior interesse em investir em setores privados ou até

mesmo em outros setores, do que na educação, devido a um caráter “da própria

estrutura da sociedade capitalista que subordina invariavelmente as políticas

sociais à política econômica”, adquirindo esta um caráter financeiro que

passará a assumir as políticas sociais, dando origem à “abordagem neoliberal

das políticas públicas”. Igualdade e direitos humanos em um mundo pela

globalização neoliberal excludente não se coadunam, daí a necessidade do

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respeito a ideias como o multiculturalismo. (FERNANDES; PALUDETO,

2010, p.08)

Para tanto, para que não haja uma discrepância entre o ensino privado e público

os direitos humanos compreende que se deve ter uma educação com qualidade e

desenvolver ações democráticas no ensino. Na Conferência Nacional de Educação

(CONAE/ 2010) o termo Qualidade na Educação foi tratado como um dos cinco desafios

para o Estado e para a sociedade brasileira, como podemos observar:

Manter constante o debate nacional, orientando a mobilização nacional pela

qualidade e valorização da educação básica e superior, por meio da definição

de referências e concepções fundamentais em um projeto de Estado

responsável pela educação nacional, promovendo a mobilização dos

diferentes segmentos sociais e visando à consolidação de uma educação

efetivamente democrática. (CONAE, 2010, p. 09).

A partir desta conferência há uma busca por valorização e qualidade, mas que somente

discutindo a construção de um projeto de Estado é que haveria uma Educação Democrática e

há também a necessidade de uma participação mais ativa da sociedade. Durante a Conferência

também houve o debate sobre o que seria necessário para se alcançar esta Educação de

Qualidade:

Alguns pontos dessa agenda são imprescindíveis para assegurar, com

qualidade, a função social da educação e da instituição educativa, dentre

eles: a educação inclusiva; a diversidade cultural; a gestão democrática e o

desenvolvimento social; a organização de um Sistema Nacional de Educação,

que promova, de forma articulada, em todo o País, o regime de colaboração;

o financiamento e acompanhamento e o controle social da educação; a

formação e valorização dos trabalhadores da educação. Todos esses aspectos

remetem à avaliação das ações educacionais e, sobretudo, à avaliação do

Plano Nacional de Educação, suas metas e diretrizes, visando ajustá-lo às

novas necessidades da sociedade brasileira. (CONAE, 2010, p. 10).

Na citação acima percebe-se que são muitas as pontuações que o Brasil precisa alcançar

para ter uma educação com qualidade, para tanto é primordial que o país se adeque ao Plano

Nacional de Educação e que venha ao encontro das necessidades sociais da população. Quando

se investe em uma Educação de Qualidade simultaneamente é necessário investir também na

Formação dos professores, tema que discutiremos a seguir no próximo capítulo.

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3. FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

Atualmente a palavra ‘qualidade’ se encontra frequente nos documentos normativos

educacionais, porém, apresenta-se com diferentes entendimentos, e um deles é no que se refere

à formação continuada de professores. Há nessas capacitações, uma tentativa de buscar a

qualidade na educação de maneira que venha corrigir as inúmeras deformidades decorrentes de

problemas educacionais anteriores. Desta maneira:

A formação de professores representa um dos elementos fundamentais através

dos quais a Didática intervém e contribui para a melhoria da qualidade de

ensino. Para Gimeno (1982), representa “uma das pedras angulares

imprescindíveis em qualquer tentativa de renovação do sistema educativo”.

(TEDESCO 2015, p. 18).

Diante desta colocação percebe-se que através da formação e do aprimoramento da

didática o professor desenvolverá estratégia para a aprendizagem efetiva dos alunos. Desta

maneira há uma importância em se investir na Formação do Professor. Carvalho pontua que:

No momento atual, necessitamos de uma política pública de formação, que

trate, de maneira ampla, simultânea, e de forma integrada, tanto da formação

inicial, como das condições de trabalho, remuneração, carreira e formação

continuada dos docentes. Cuidar da valorização dos docentes é uma das

principais medidas para a melhoria da qualidade do ensino ministrado às

nossas crianças e aos nossos jovens. (CARVALHO, 2016, p. 82).

Carvalho apresenta uma preocupação quanto às políticas públicas voltadas para a

educação, ele acredita que existe uma necessidade de um “olhar” mais aprofundado para as

“condições de trabalho, remuneração, carreira e formação continuada dos docentes”, visto que

são estes itens de primordial relevância para o desenvolvimento do professor, logo o

incentivador do ‘ensino de qualidade’. Encontramos em alguns documentos à exemplo o da

CONAE/ 2010, em que apresenta no eixo IV, a Formação e Valorização dos Profissionais da

Educação, colocando que não há como separar esses dois temas, pois estão completamente

interligados e somente através deles é que haverá qualidade no ensino e acrescenta:

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Considerando a legislação vigente, as necessidades das instituições e sistemas

de ensino e, ainda, a garantia de um padrão de qualidade na formação dos que

atuam na educação básica e superior, é fundamental a institucionalização de

uma Política Nacional de Formação e Valorização dos Profissionais da

Educação, articulando, de forma orgânica, as ações das instituições

formadoras, dos sistemas de ensino e do MEC, com estratégias que garantam

políticas específicas consistentes, coerentes e contínuas de formação inicial e

continuada, conjugadas à valorização profissional efetiva de todos os que

atuam na educação, por meio de salários dignos, condições de trabalho e

carreira. Acrescente-se a esse grupo de ações, que garantem a valorização

desses profissionais, o acesso via concurso público, para aqueles que atuam

na educação pública. (CONAE/2010, p.62).

O texto amplia a visão de que há necessidade de uma política de valorização

profissional, no qual, é preciso atentar para as necessidades do professor, pois acredita que

quando este profissional se sente desvalorizado, não motivará para desenvolver ações para seu

crescimento intelectual e consequentemente interfere no futuro dos cidadãos que estão se

formando, tornando o processo de aprendizagem incerto ou inexistente.

Encontramos no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos de 2006, a

afirmação que a educação em direitos humanos é primordial para a orientação do sujeito como

ser em formação, dessa maneira necessita estar atento:

a) Apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre direitos

humanos e a sua relação com os contextos internacional, nacional e local;

b) Afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura

dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade;

c) A formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente nos níveis

cognitivo, social, ético e político;

d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de

construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos

contextualizados;

e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e

instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos

humanos, bem como da reparação das violações. Sendo a educação um meio

privilegiado na promoção dos direitos humanos, cabe priorizar a formação de

agentes públicos e sociais para atuar no campo formal e não formal,

abrangendo os sistemas de educação, saúde, comunicação e informação,

justiça e segurança, mídia, entre outros. (Brasil, 2006)

O documento afirma que a educação é a porta de acesso para os outros direitos, sendo

assim é de grande importância para a valorização e crescimento intelectual das classes menos

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favorecidas, pois é através dela que o sujeito conseguirá transpor as barreiras a ele imposta seja

ela cultural ou social.

A Declaração Universal abrange os dois Pactos internacionais e a Declaração dos

Direitos Humanos – todavia ela apresenta os princípios do direito político, econômico,

educacional, social e cultural. Entre esses direitos nos atemos aos direitos educacionais.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura afirma no

Preâmbulo de sua Constituição que:

[...] a ampla difusão da cultura e da educação da humanidade para a justiça, a liberdade

e a paz são indispensáveis para a dignidade do homem e constituem um dever sagrado

que todas as nações devem cumprir com um espírito de responsabilidade e de ajuda

mútua. (UNESCO, 2002, p.02)

Nota-se uma constatação clara na Declaração Universal sobre a educação como

instrumento crucial de uma economia voltada para o saber, visto que esta forma a identidade de

um povo possibilitando a livre circulação das ideias, palavras e imagens para que a pluralidade

cultural seja conhecida e disseminada. Desta maneira a formação do professor não deve ficar

distanciada da realidade cultural e social do país.

A Resolução Nº 4, de 13 de julho de 2010, do Conselho Nacional de Educação (CNE)/

Câmara de Educação Básica (CEB), ao tratar do acesso e permanência para a conquista da

qualidade social, dispõe no título IV, artigo 10, inciso 2° que sinaliza:

Para que se concretize a educação escolar, exige-se um padrão mínimo de

insumos, que tem como base um investimento com valor calculado a partir

das despesas essenciais ao desenvolvimento dos processos e procedimentos

formativos, que levem, gradualmente, a uma educação integral, dotada de

qualidade social. (BRASIL, 2010, p. 03).

Nota-se que a palavra “mínimo”, agora entra na questão de empregar investimentos na

Formação, calculando somente o necessário, porém o fim é a busca pela qualidade social, visto

que a preocupação é a de suprir o mínimo, essa educação volta-se para uma educação mais

assistencialista. Libâneo e Pimenta (1999) acreditam que deve haver um investimento na

qualidade da Formação docente devido às constantes mudanças que ocorrem na rotina do

professor, sendo assim:

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A atividade docente vem se modificando em decorrência de transformações

nas concepções de escola e nas formas de construção do saber, resultando na

necessidade de se repensar a intervenção pedagógico-didática na prática

escolar. Um dos aspectos cruciais dessas transformações, os quais têm se

evidenciado em avaliações educacionais como o Saresp (1996, 1997 e 1998),

é o investimento na qualidade da formação dos docentes e no aperfeiçoamento

das condições de trabalho nas escolas, para que estas favoreçam a construção

coletiva de projetos pedagógicos capazes de alterar os quadros de reprovação,

retenção e da qualidade social e humana dos resultados da escolarização.

(LIBÂNEO e PIMENTA, 1999, p. 258).

Perante esses novos desafios para a Educação, existe uma necessidade em se repensar

em metodologias que atendam a necessidade não somente do aluno, como também dar suporte

para o professor. Libâneo e Pimenta ainda acrescentam:

Uma escola que inclua, ou seja, que eduque todas as crianças e jovens, com

qualidade, superando os efeitos perversos das retenções e evasões,

propiciando-lhes um desenvolvimento cultural que lhes assegure condições

para fazerem frente às exigências do mundo contemporâneo, precisa de

condições para que, com base na análise e na valorização das práticas

existentes que já apontam para formas de inclusão, se criem novas práticas:

de aula, de gestão, de trabalho dos professores e dos alunos, formas coletivas,

currículos interdisciplinares, uma escola rica de material e de experiências,

como espaço de formação contínua, e tantas outras. Por sua vez, os professores

contribuem com seus saberes específicos, seus valores, suas competências,

nessa complexa empreitada, para o que se requer condições salariais e de

trabalho, formação inicial de qualidade e espaços de formação contínua.

(LIBÂNEO e PIMENTA, 1999, p. 261).

Diante da citação acima apresentada os autores entendem que para o aluno conseguir

atingir a educação com qualidade, deve-se investir na formação dos professores de maneira que

garanta a eles salários dignos, materiais, métodos de aprendizagem e uma formação que seja

produtiva para o professor e para seus alunos.

4 CONCLUSÃO

Problematizar sobre Educação de Qualidade e Formação continuada remete-nos a

construção de práticas pedagógicas que possam ampliar os conhecimentos dos alunos, desse

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modo, busca-se políticas educacionais direcionadas à garantia da escola de qualidade e para

todos, em todos os níveis. A constituição de uma escola de qualidade deve atender o social e o

cultural, contornando os problemas que envolvem a escola como fracasso escolar, a desistência

a desigualdade e as problemáticas trazidas pelos alunos. Para tanto o professor deve estar

sempre preparado em suas práticas para atender este aluno, buscando formas de melhorias do

ensino – aprendizagem. Vimos que a garantia do ensino com qualidade é um direito do aluno,

deve-se então criar condições e fatores que leve ao ensino de qualidade. Sendo assim:

Assegurar o direito à educação significa não só o acesso e permanência,

mas a qualidade do ensino, estruturas escolares adequadas, condições

básicas de trabalho aos profissionais da escola, enfim, tornar as leis um

fato, ou seja, sair do texto e se direcionar para o contexto.

(FERNANDES; PALUDETO, 2010, p. 06)

A Formação de Professores torna-se importante, a partir do momento em que está

voltada para a interação do aluno no ensino com qualidade. Portanto para que este professor

possa estar sempre buscando conhecimento, o Estado deve oferecer uma formação que tenha

qualidade, valorização profissional e crescimento cultural e intelectual. Vimos no documento

da Conferencia Nacional de Educação que através valorização é que o sujeito crescerá

profissionalmente. Infelizmente o que vemos atualmente são formações voltadas para

programas, projetos e ações que são do interesse do Estado, portanto a qualidade gera o

resultado das conquistas dos interesses do mercado, isso causa frustrações tanto para os

professores que tem uma ideologia de ensino quanto para os alunos que se tornam objetos de

programas públicos.

Sabemos que se investissem mais na valorização do professor e na verdadeira qualidade

do ensino, não aquela qualidade que tem como objetivo o mercado, mas sim a que garante um

aprendizado voltado para o social, crítico, moral e solidário e que esteja interligada com as

políticas públicas, somente assim teríamos uma escola para todos e com a garantia da qualidade.

Não há como negar que para haver crescimento no campo Educacional é primordial que

se invista nos professores, pois são eles que irão transferir conhecimentos e garantir a qualidade

do ensino através das suas práticas pedagógicas. Tendo em vista que é o professor o principal

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ator no processo ensino-aprendizagem e cabe pensarmos nele como um sujeito crítico, capaz

de levar o aluno a reflexão e alcançar a autonomia e emancipação.

A qualidade do ensino está ligada à valorização do professor, sem esta valorização o

professor fica impossibilitado de crescer profissionalmente, assim como também garantir a

qualidade no ensino que por ele é transmitido.

Vemos então que para que se tenha uma escola de qualidade, é preciso investir na

valorização dos professores, ter melhores salários e principalmente investir na Formação.

Compreendemos que a constituição dos saberes pedagógicos se dá a partir da construção de

habilidades, competências, atitudes e valores que vão se formulando na prática e se

transformando em desenvolvimento pessoal, garantindo a qualidade dos conhecimentos

repassados aos alunos.

Há em comum nos documentos utilizados na construção deste artigo o propósito de

afirmar educação e a formação continuada como direito humano fundamental, portanto

percebemos nos documentos normativos, acordos entre os chefes de estados, para possibilitar

o acesso educação a todos os cidadãos, concordando com a Declaração Universal dos Direitos

Humanos. A Declaração afirma também da necessidade de “promover, por meio da educação,

uma tomada de consciência do valor positivo da diversidade cultural e aperfeiçoar, com esse

fim, tanto a formulação dos programas escolares como a formação dos docentes”.

(UNESCO,2002, p.06). Vimos que que a formação dos professores é primordial para a

disseminação da cultura, do conhecimento científico e crítico, portanto deve estar sendo sempre

repensada, pois sabemos que educação é essencial nas relações humanas, ela caracteriza um

grupo, um povo mantendo suas particularidades, crenças, tradições, língua e religião, todavia

quando nos referimos ao ensino para a formação de caráter da sociedade há uma inadequação

entre os valores tão bem apresentados na teoria e a prática nula neste aspecto, percebemos isso

quando há nos documentos normativos uma minimização do estado quanto aos recursos

financeiros. Ao mesmo tempo em que o Brasil firma acordos com os países inseridos nas

Declarações Universais ele oferece o mínimo para se integrar na política internacional.

Fernandes e Paludeto afirmam que:

A educação voltada para os direitos humanos ainda não faz parte da prática

nem do currículo da escola como deveria. Em momentos de crise de valores

públicos e privados e da sociedade como um todo, torna-se imperativo que a

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temática da igualdade e da dignidade humana não faça parte apenas de textos

legais, mas que, igualmente, seja internalizada por todos que atuam tanto na

educação formal como na não formal. E aqui podemos propor não só revisão

curricular, mas a formação docente para que inclua em seu programa os

direitos humanos, que são para todos e cuja proposta aconteça de fato e de

direito. (FERNANDES; PALUDETO, 2010, p. 15).

Existe atualmente uma necessidade em compreender que as necessidades educacionais

vão além da aritmética e da língua, era tempo em que apenas saber ler, escrever e realizar

equações matemáticas eram suficientes para a formação da sociedade, hoje exige-se muito mais

das pessoas, as informações estão cada vez mais rápidas e as tecnologias mais avançadas, temos

que pensar uma nova educação, atualizar o indivíduo nos seus direitos, no acesso a história de

suas raízes, à música, ao teatro, a política, a ética, a moral e a cidadania, por isso a importância

da revisão curricular e no investimento na formação continuada.

A minimização do estado nos investimentos financeiros no que se refere a educação é

percebida na constituição de 1988 quando trata: “§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e

os Municípios deverão assegurar, no financiamento da educação básica, a melhoria da

qualidade de ensino, de forma a garantir padrão mínimo definido nacionalmente”. (BRASIL,

1988, p. 166). Percebemos aqui que há uma preocupação em dar uma educação de qualidade,

porém com o mínimo de investimento. Sabemos que é praticamente impossível conquistar

qualidade educacional, aplicando o mínimo de recursos financeiros, haja visto que para

desenvolver atividades que irão dar retorno é necessário adquirir bens materiais que são de

valores altos. Diante disso investir minimamente na formação continuada para o professor,

significa restringir o conhecimento do professor e consequentemente em repassá-lo de maneira

reduzida.

Na LDB no capítulo que trata do direito à educação e do dever de educar, encontramos

a oferta de: “IX – padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e

quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de

ensino-aprendizagem”. (BRASIL 1996, p. 11). Notamos que essa minimização do estado pode

interferir de maneira direta no ensino e aprendizagem do aluno, de forma que sempre irá ficar

incompleto o seu conhecimento, como podemos notar:

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Além da alta taxa de exclusão de adolescentes e jovens do ensino médio e das

desigualdades no acesso a esse nível de ensino, as condições de qualidade da

oferta também são insuficientes. Praticamente metade dos estudantes (43,9%)

do ensino médio público não tem acesso a laboratório de ciências em suas

escolas (2009) e 9,1% das escolas de ensino médio não possuem sequer

biblioteca. Em decorrência da desvalorização profissional dos (as)

trabalhadores (as) da educação, há grande carência de professores (as) com

habilitação específica para as disciplinas que lecionam. Somente 21% dos (as)

professores (as) de física, 37,6% dos (as) professores (as) de química e 51,9%

dos (as) professores (as) de matemática têm licenciatura nessas áreas de

conhecimento. (BRASIL b, 2011, p.12).

A minimização do estado acarreta sérias consequências, que deformam a educação

brasileira. Temos diante desta colocação a percepção de que tanto a qualidade, quanto as

condições financeiras não são suficientes para o desenvolvimento educacional do país. Esta

desvalorização do profissional, ou a falta de incentivo financeiro, acarreta em desinteresses por

parte da classe dos professores em aprimorar-se. Dourado percebe que:

Ao analisar as políticas propostas pelo Banco Mundial para a educação,

Coraggio (1996) indica como seu fundamento o reducionismo economicista

presente nas proposições para a área educacional, cujo escopo se centra na

visão unilateral de custos e benefícios. Desse modo, tal concepção de política

assenta-se: na defesa da descentralização dos sistemas (ênfase no localismo,

desarticulação de setores organizados...); no desenvolvimento de capacidades

básicas de aprendizagens necessárias às exigências do trabalho flexível; na

realocação dos recursos públicos para a educação básica; na ênfase à avaliação

e à eficiência, induzindo as instituições à concorrência; na implementação de

programas compensatórios (programas de saúde e nutrição, por exemplo),

onde se fizerem necessários; na capacitação docente em programas paliativos

de formação em serviço, dentre outras orientações. (DOURADO, 2002, p. 06).

Desta maneira, a minimização financeira por parte do estado, garante uma educação

apenas emergencial, visto que é encontrado nos documentos normativos educacionais a redução

das obrigações por parte dos órgãos gerenciadores educacionais. Sendo assim, a partir do

momento que o estado minimiza a sua atuação e passa a sua responsabilidade para os órgãos

regionais ele acaba fragmentando todo o processo seja ele de aprendizagem do aluno ou da

formação do professor. Daí surge-se programas na intenção de compensar os problemas gerados

pela falta de investimento de formação de qualidade. Portanto torna-se necessário a priorização

da formação de professores, pois através deles é que se expandirá o ensino de maneira

qualitativa.

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