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NOTAS E COMENTÁRIOS A Competitividade da Indústria Brasileira de Alumínio: Avaliação e Perspectivas: James M. G. Weiss Pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas do IPT e Professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração da EAESP/FGV. * RESUMO: A indústria do alumínio é um dos setores mais competitivos do país, sendo responsável por quase 10% do saldo da balança comercial brasileira. Apenas cinco empresas disputam o mercado doméstico e aproximadamente 90% das exportações brasileiras são constituídas de metal primário. A expansão desta indústria no mercado internacional deu-se num contexto de escassez energética nos países industrializa- dos que coincide com um período de grande retração da econo- mia brasileira. Através da análise dos determinantes das van- tagens comparativas nacionais, explicam-se as razões do ele- vado grau de competitividade internacional alcan.çado por es- te setor industrial. São também indicados alguns Importantes fatores que poderão comprometer, no futuro, a competitivida- de das empresas brasileiras de alumínio. * PALAVRAS-CHAVE: Alumínio, competitividade, setor de 48 Revista de Administração de Empresas alumínio, vantagem competitiva, estrutura setorial, competi- ção internacional. * ABSTRACT: The aluminium industry is one of the most competitive brazilian industrial sectors. It is respon~ible for approximately 10% of the brazilian trade balan~e. FlVe com.- panies compete in the domestic market and pnmary alur~ll- nium accounts for almost 90% of the exports. The expanslOn of this industry in the interna~io~al market was und~rtaken in the context of energy scarciiu In developed couniries and during a period of economic recession in Brazil. An analysis of the determinants of national cOl1}petitive advanta~e. m,akes possible an understanding of the high. level of compeiiiitniu of this industrial sector. Some important factors that can aftect the competitive position of brazilian aluminium companies are also pointed out. * KEY WORDS: Aluminium, competitiveness, aluminium industry, competitive advantage, structure of the industry, international competition. • Agradeço ao Eng. Raymundo Machado pelas informações fornecidas e ao Prof. Dr. [acques Marcovitch pelas valiosas sugestões. São Paulo, 32(1): 48-59 Jan./Mar. 1992

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Page 1: A Competitividade da Indústria Brasileirade Alumínio ... · A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DEALUMíNIO INTRODUÇÃO o presente artigo analisa a indústria brasileira de alumínio

NOTAS E COMENTÁRIOS

A Competitividade da IndústriaBrasileira de Alumínio:Avaliação e Perspectivas:• James M. G. Weiss

Pesquisador da Divisão de Economia e Engenharia deSistemas do IPT e Professor do Departamento dePlanejamento e Análise Econômica Aplicados àAdministração da EAESP/FGV.

* RESUMO: A indústria do alumínio é um dos setores maiscompetitivos do país, sendo responsável por quase 10% dosaldo da balança comercial brasileira. Apenas cinco empresasdisputam o mercado doméstico e aproximadamente 90% dasexportações brasileiras são constituídas de metal primário. Aexpansão desta indústria no mercado internacional deu-senum contexto de escassez energética nos países industrializa-dos que coincide com um período de grande retração da econo-mia brasileira. Através da análise dos determinantes das van-tagens comparativas nacionais, explicam-se as razões do ele-vado grau de competitividade internacional alcan.çado por es-te setor industrial. São também indicados alguns Importantesfatores que poderão comprometer, no futuro, a competitivida-de das empresas brasileiras de alumínio.

* PALAVRAS-CHAVE: Alumínio, competitividade, setor de

48 Revista de Administração de Empresas

alumínio, vantagem competitiva, estrutura setorial, competi-ção internacional.

* ABSTRACT: The aluminium industry is one of the mostcompetitive brazilian industrial sectors. It is respon~ible forapproximately 10% of the brazilian trade balan~e. FlVe com.-panies compete in the domestic market and pnmary alur~ll-nium accounts for almost 90% of the exports. The expanslOnof this industry in the interna~io~al market was und~rtakenin the context of energy scarciiu In developed couniries andduring a period of economic recession in Brazil. An analysisof the determinants of national cOl1}petitive advanta~e. m,akespossible an understanding of the high. level of compeiiiitniu ofthis industrial sector. Some important factors that can aftectthe competitive position of brazilian aluminium companiesare also pointed out.

* KEY WORDS: Aluminium, competitiveness, aluminiumindustry, competitive advantage, structure of the industry,international competition.

• Agradeço ao Eng. Raymundo Machado pelas informações fornecidase ao Prof. Dr. [acques Marcovitch pelas valiosas sugestões.

São Paulo, 32(1): 48-59 Jan./Mar. 1992

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DEALUMíNIO

INTRODUÇÃO o presente artigo analisa a indústriabrasileira de alumínio com o objetivo deidentificar e avaliar os determinantes dacompetitividade internacional deste setor.Para tanto, utiliza-se o frame-work propos-to por Porter', obtido a partir do estudo dasvantagens comparativas de dez países in-dustrializados, líderes do mercado mun-dial de produtos industrializados.

A aplicação deste modelo a um dos seto-res mais fortemente exportadores da eco-nomia nacional tem por objetivo identificaros determinantes da competitividade nestecaso, contribuindo para o debate sobre di-retrizes para o desenvolvimento econômi-co nacional e para o delineamento de estra-tégias de ação de setores e/ou empresasnacionais potencialmente competitivos.

Aindústria brasileira de alumínio pri-mário é fortemente exportadora,contribuindo de maneira significati-

va para o saldo positivo da balança comer-cial brasileira. Em 1990, o país exportou1,16bilhões de dólares (FOB) em alumínioprimário, ligas e produtos semimanufatu-rados de alumínio, tendo importado ape-nas 97 milhões de dólares destes produtos.A contribuição do setor de alumínio ao sal-do positivo da balança comercial brasileirafoi de 1,06bilhões de dólares, ou seja, 9,6%do total.

Uma avaliação mais aprofundadaaponta, no entanto, vários fatores que têmcontribuído para o desenvolvimento dessaindústria no Brasil, entre eles as tarifas deenergia elétrica subsidiadas e a disposiçãodos países industrializados em deslocarpara o Terceiro Mundo a produção de ma-térias-primas industriais fortemente po-luidoras e/ ou consumidoras de energia.

No âmbito mundial, o setor de alumínioprimário caracteriza-se como uma indús-tria madura, com taxa de crescimento de-clinante, excesso de capacidade instalada esujeita a grandes oscilações nas cotaçõesinternacionais do produto. O elevado graude rivalidade interna, característico de umsetor que atinge a maturidade, tem provo-cado a retirada de muitos concorrentes im-portantes que, antes, disputavam essemercado. Por outro lado, condições espe-cíficas de fatores de produção têm facilita-do a entrada de novos concorrentes, entreeles as empresas brasileiras.

O alumínio primário é uma commoditycotada nas principais Bolsas de Mercado-rias do Mundo. Os produtores competementre si racionalizando seus custos de pro-dução de modo a maximizar as margensobtidas no negócio, uma vez que o preçodo produto resulta do balanço entre a ofer-ta e a demanda mundiais.

O principal insumo para a produção dealumínio é a energia elétrica que, emboraainda seja abundante no Brasil, se torna acada dia mais escassa em função do cresci-mento da demanda interna e da ausênciade investimentos no setor de geração elé-trica. Existe hoje, no país, uma tendênciageral ao aumento de tarifas elétricas e/ oulimitação do consumo interno. Sendo a in-dústria do alumínio altamente consumi-dora de energia elétrica, é de se esperaruma sensível redução de sua posição com-petitiva internacional à medida que o ce-nário de escassez energética se concretize.

O CONTEXTO MUNDIAL DA INDÚSTRIADO ALUMíNIO

A indústria do alumínio primário apre-sentou um faturamento total de 35,1 bi-lhões de dólares em 1989.2 O volume deprodução atingiu 17.980 mil toneladas,2,1% superior à produção do ano anterior.'

Esse setor apresenta todas as caracterís-ticas de uma indústria global. As empresasprodutoras atuam internacionalmente, ex-traindo minério, refinando alumina, pro-duzindo alumínio e comercializando ometal na forma primária ou semitransfor-mada, em países que apresentem condi-ções locais favoráveis, seja em relação àdisponibilidade de recursos naturais, sejaem relação a estruturas de subsídios e in-centivos governamentais.

O alumínio é, depois do silício, o metalmais abundante na crosta terrestre. Alémde abundante, o alumínio pode ser obtidopor um processo químico extremamentesimples e conhecido: a redução eletrolíticado óxido de alumínio (alumina), o qual érefinado a partir da alumina hidratada im-pura existente no minério de bauxita.' Oprocesso apresenta, no entanto, o inconve-niente de consumir grandes quantidadesde energia elétrica, sendo esta uma dasprincipais razões do preço relativamenteelevado deste metal.

Em virtude de suas propriedades físi-cas, o alumínio é um metal amplamenteutilizado como matéria-prima de inúme-ros produtos industriais,. Basicamente, oalumínio é um material maleável, dúctil,resistente à corrosão, de elevada conduti-vidade térmica e elétrica, além de ser mui-to leve. Tais características justificam o usodeste material em diversos segmentos in-

1. PORTER, Michael E. TheCompetitive Advantage of Na-tions. New York, The FreePress, 1990.2. Estimativa baseada na cota-ção média do ano (US$1952.77 /t), levantada pelaABAL, multiplicada pela produ-ção mundial do mesmo ano:17.98_0 mil toneladas. ASSO-CIACAO BRASILEIRA DE ALU-MINlO. Anuário EstatísticoABAL.1989.3. ALUMINIUM ASSOCIA-TION. Aluminium statistical re-view 1989. Washington, 1990,63p.4. UNITED STATES BUREAUOF MINES. Mineral facts andproblems. Washington, 1985,bul, 675, 956 p.

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5. sÁ, Paulo de. From oligo-po/y to competition: The chan-ging a/uminium industry. Cen-tre d'Economie des Ressour-ces Naturelles. Paris, 1989,34 p,6. ROSKILL Information servi-ces. The economics of a/umi-nium. 2ª ed. Londres, 1985.7. Os quais importavam miné-rio e energia para produzir alu-mínio.8. ASSOGIA8ÃO BRASILEIRADE ALUMINI . Op. cit.

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dustriais importantes, tais corno: motores,aeronaves, condutores elétricos, esqua-drias metálicas, recipientes e embalagens,componentes mecânicos e estruturais demáquinas e veículos etc.

A despeito da ampla gama de aplica-ções e usos deste metal, a indústria do alu-mínio é altamente concentrada. Os seismaiores produtores de alumínio primáriodetêm aproximadamente 50% do mercadomundial. São eles a Alcoa, Alcan, Kaiser,Reynolds, Alussuisse e Pechiney. No en-tanto, o primeiro choque do petróleo(1973) desencadeou um profundo proces-so de reestruturação setorial que, entre ou-tras conseqüências, vem diminuindo ograu de concentração dessa indústria," Onovo patamar de preços dos insumos ener-géticos representou, não apenas um subs-tancial aumento dos custos de produção econseqüente aumento dos preços do pro-duto, corno também provocou urna forteretração da demanda mundial.

O reajuste recessivo a que foram sub-metidas as economias industrializadasapós 1973 teve urna influência decisiva so-bre a reestruturação da indústria do alumí-nio. Variações nas taxas de câmbio e nas ta-xas de juros provocaram a retração do co-mércio internacional e da atividade indus-trial corno um todo. Sendo o alumínio urnamatéria-prima de amplo uso industrial, énatural que a redução da atividade econô-mica nos países industrializados provo-casse a retração do seu consumo. Essa re-tração ultrapassou, no entanto, todas asexpectativas do setor. O gráfico 1 apresen-ta a produção e o consumo mundial de alu-mínio primário e secundário, de 1962 a1989. Nele pode ser observada a retraçãodo consumo mundial de alumínio primá-rio ocorrida após 1979.O crescimento mé-dio da demanda, que fora de 10% ao anoentre 1960 e 1973, caiu para aproximada-mente 2% ao ano, entre 1973e 1984.s

Essa grande retração do consumo, as-sociada ao aumento dos custos de produ-ção, expulsou do setor muitos fabricantesimportantes, inclusive a quase totalidadedos produtores japoneses.' A produçãomundial de alumínio deslocou-se para ospaíses em desenvolvimento e/ou comampla disponibilidade de recursos ener-géticos, entre eles o Brasil, a Venezuela, aNova Zelândia e a Austrália. O Brasil, emparticular, possuía não apenas recursoshídricos abundantes, corno também gran-des reservas de bauxita com elevado teorde alumínio.

Nesse contexto, houve a expansão daindústria brasileira de alumínio e a con-quista de urna posição de destaque entreos países exportadores do produto.

Durante as décadas de 50 e 60, o preçodo alumínio havia sido mantido em tomode US$ 550/ tonelada, representando umgrande estímulo ao consumo e induzindoa substituição de outras matérias-primasindustriais por este metal. Após o choquedo petróleo, tomou-se praticamente im-possível manter a estabilidade do preço doalumínio. A partir de 1979, o metal primá-rio passou a ser cotado na Bolsa de Merca-dorias de Londres (LME), tomando-se al-vo de movimentos especulativos e debruscas variações de preços. Durante a dé-cada de 80, a cotação internacional do pro-duto atingiu um nível inferior de US$900/ t e um nível superior de US$ 4000/ t.8

..............................................................A competitividade de uma

nação é,pois, um processo quedepende basicamente da

capacidade de seus setoreseconômicos em inovar eaperfeiçoar processos,produtos e canais de

comercialização.

O gráfico 2 apresenta a evolução da co-tação média anual do produto na Bolsa deMercadorias de Londres, comparando-acom a evolução dos estoques comerciaisexistentes no mundo, durante o período1979-1990.Verifica-se que o mercado é ca-racterizado por freqüentes desequilíbriosentre a oferta e a demanda e que as cota-ções do produto têm refletido esses dese-quilíbrios.

o PROCESSO PRODUTIVO EOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

Dada a relativa abundância de minériode alumínio na face da Terra, o insumo maisescasso para a produção do alumínio é aenergia elétrica. Apenas no processo de re-dução da alurnina (óxido de alumínio) dís-pendem-se 13.750 a 19.400 KWh/toneladade alumínio, dependendo da tecnologia deprodução utilizada. As plantas mais mo-dernas, de elevada capacidade instalada,

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

Gráfico 1: Produção e consumo mundial de alumínio (1962-90)

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74 76 78 80 82 84 86 88 9062 64 66 68 70 72

Fontes: IPAI-INTERNATIONAL PRIMARY ALUMINIUM INSTITUTE.lntemational Statistics, Londres; WORLD BUREAU OFMETAL STATISTCS, World Metal Statistics, Lond res.

Gráfico 2: Estoques e cotações internacionais de alumínio primário (1979-90)

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81 82 83 84 85 86 8880 87 89Fontes: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMíNIO. Op. cit. (cotações); World Metal Statistics. Op. cit. (estoques)

90

PROD. PRIMÁRIO

CONS. PRIMÁRIO

PROD. SECUNDÁRIO

COTAÇÕES (US$/I)

ESTOQUES (1000t)

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9. ADAMS, R. G. Competitiveeconomics and the manage-ment of structural change. In:5th INTERNATIONAL ALUMI-NIUM CONFERENCE, Caracas,30-31 novo 1988.10. ASSOÇIACÃO BRASILEIRADE ALUMINIO. Op. cit.11. MACHADO, Raymundo C.Apontamentos da história doalumínio no Brasil. Ouro Preto,Fundação Gorceix, 1985, 61 Op.12. Dado o caráter contínuo doprocesso de produção do alu-mínio, a capacidade nominal deuma fábrica é praticamenteigual à produção, podendo in-clusive superá-Ia.

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tendem a apresentar rendimentos próxi-mos de 13.750KWh/ tonelada produzida.

Trata-se de um setor profundamenteheterogêneo, no qual, em todo o mundo,instalações muito antigas coexistem complantas de elevado grau de sofisticaçãotecnológica. Diversos fatores contribuempara a operação de plantas tecnologica-mente defasadas, entre eles os subsídiosgovernamentais, a existência de fontes pri-vilegiadas de energia elétrica, a longa vidaútil das instalações e o elevado montantede capital requerido pelas instalações paraprodução de alumínio.

A estrutura de custos médios de produ-ção de uma planta tecnologicamente mo-derna de alumínio primário é apresentadana tabela 1.9 Verifica-se que 33,9% a 38,2%dos custos de produção se referem à amorti-zação do capital. O custo de capital referen-te a uma unidade de produção varia de3.750a 4.250dólares por tonelada de capaci-dade instalada. Considerando a escala deprodução característica das fábricas moder-nas, em tomo de 100mil toneladas/ ano, ve-rifica-se que uma fábrica nova de alumínioprimário representa um investimento da or-dem de 400milhões de dólares. A atividadeé, portanto, tipicamente capital-intensiva.

No Brasil, a existência de plantas mo-dernas e antigas, produzindo conjunta-mente, conduz a um coeficiente médio deconsumo energético igual a 15.700KWh/tonelada de alumínio." As plantasmais modernas estão situadas na RegiãoNorte do país e contam com tarifas de for-necimento de energia elétrica subsidiadaspelo Governo. São elas a Albrás e a Alu-mar. A primeira, situada em Belém (PA), éuma joint-venture da Companhia Vale doRio Doce com um consórcio de empresasjaponesas consumidoras de alumínio(NAAC), e a segunda, situada em São Luís(MA), é uma joint-venture entre as multina-cionais Alcoa (líder mundial do setor) eBilliton (empresa do Grupo Shell),

BREVE HISTÓRICO DA INDÚSTRIADO ALUMíNIO NO BRASIL

O Brasil é o quinto maior produtormundial de alumínio primário, tendo pro-duzido 930,6 mil toneladas em 1990. Aprodução de alumínio foi introduzida noBrasil logo após a Segunda Guerra Mun-dial como parte do amplo processo desubstituição de importações que caracteri-zou a economia brasileira no período. Aprodução voltava-se basicamente ao mer-cado interno.

Foi somente a partir de 1982que o Brasilse tomou exportador de alumínio, em par-te como conseqüência da maturação dosinvestimentos governamentais implemen-tados no âmbito do 11PND (1974-1978).Nesse contexto, em janeiro de 1982, entrouem operação a fábrica da Valesul Alumí-nio S.A. (localizada em Santa Cruz, RJ),empresa holding da Companhia Vale doRio Doce, em associação com a Billiton. Oprojeto tivera início em 1975,durante o go-verno Geísel."

O gráfico 3 apresenta a evolução da pro-dução nacional, do consumo doméstico,das exportações e das importações de alu-mínio entre 1975 e 1989. Verifica-se que agrande expansão da indústria nacional sedá a partir de 1982,exatamente quando en-trou em operação a usina da Valesul, cujaprodução anual era 92 mil t/ ano. Em 1984,a usina da Alumar (Alcoa + Billiton), loca-lizada em São Luís (MA), iniciou sua pro-dução, fabricando 100 mil t/ ano. No anoseguinte, a Albrás (CVRD + consórcio ja-ponês) colocou em operação seu primeiromódulo de produção, fabricando 80 milt/ano. Entre 1981 e 1985, a CBA (empresado grupo privado nacional Votorantim)também expandiu sua produção, passan-do de 83 mil t/ano para 170 mil t/ano. De1982a 1988, a produção nacional de alumí-nio mais do que triplicou, aumentando de261 mil t/ano para 875 mil t/ano."

A classificação das empresas brasilei-ras de alumínio, realizada pela revistaExame, é apresentada na tabela 2. Verifica-se que a liderança do setor, no Brasil, é dis-putada pela Alcoa e pela CBA. Esta tem si-

. do, nos últimos anos, sistematicamenteeleita como a melhor do ano no setor demetalurgia, que engloba as indústrias pro-dutoras de metais não-ferrosos. Verifica-se a grande instabilidade do setor em rela-ção à lucratividade das empresas. Em1989, todas as cinco produtoras nacionaisde alumínio primário apresentaram mar-gens satisfatórias de lucro. No ano seguin-te, apenas a CBA conseguiu apresentar lu-cro enquanto as demais tiveram prejuízossignificativos e grandes reduções em seuspatrimônios.

OS DETERMINANTES DAVANTAGEM COMPETITIVA NACIONAL:UM MODELO DE ANÁLISE

O comércio internacional está cada vezmais fundado em economias de escala, li-derança tecnológica e produtos diferencia-dos. Neste contexto, apenas as empresas

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

capacitadas a produzir de acordo com es-tas condições serão competitivas no mer-cado mundial. Porter", analisando as van-tagens comparativas dos países industria-lizados, verificou que os padrões de com-petição, bem corno as fontes de vantagenscomparativas, variam muito dependendodos setores industriais ou, mesmo, dossegmentos industriais considerados. Poroutro lado, as condições econômicas espe-cíficas dos países considerados têm um pa-pel determinante sobre a competitividade

internacional dos setores econômicos ne-les sediados.

Empresas obtêm e mantêm vantagenscomparativas através de aperfeiçoamento,inovação e desenvolvimento de novas tec-nologias ou métodos envolvendo novosprodutos, novas técnicas de produção, no-vas concepções de markeiing, identificaçãode novos grupos de clientes etc. O processoapresenta um caráter profundamente dinâ-mico cuja natureza não é o equilíbrio, masum contínuo estado de mudança. Assim

Tabela 1: Estrutura de custos de produção de alumínio primário

Item Países em desenvolvimento Países indusfrializados( US$/t) (%) ( US$/t) (%)

"Alumina 352,73 23,7% 382,73 25,9%.-

Mão-de-obra 50,00 3,4% 130,00 8.,9%

Energia 206,25 13,9% 206,25 13,9%.. ._-

Transporte 55,00 3,7% 35,00 2,4%-l- I- - I

Capital de giro 29,63 2,0% 23,85 1,6%-

Outros custos 225,00 15,1% 200,00 13,5%

Subtotal 918,61 61,8% 977,83 66,1%- ,. -

Custo de capital 568,94 38,2% 502,01 33,9%

Total 1487,55 100,0% 1479,84 33,9%

Fonte: ADAMS, R.G. Op. cit

Gráfico 3: Alumínio - Produção, consumo doméstico e exportações brasileiras (1975-90)

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600

500

400

3no200

100

o75 76 77 78 79 80 81

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALUMíNIO. Op. cit.

13. PORTER, M.E. Op, cit,

PROD.NACIONAl

CONS.DOMÉSTICO

IMPORTAÇÕES

EXPORTAÇÕES

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Tabela 2: Classificação das empresas brasileiras de alumínio primário (1989 e 1990)(1989)* (US$ milhões)Empresa Receita Lucro Patrimônio Controle

líquido líquido

AlCOA 874,3 165,7 619,7 AmericanoCBA 604,3 157,8 600,7 BrasileiroAlCAN 566,4 21,9 181,1 Canadense

AlBRÁS 245,1 20,6 227,1 EstatalBllllTON 288,1 44,8 473,5 Inglês(1990)** (US$ milhões)

Empresa Receita lucro Patrimônio Controlelíquido líquido

AlCOA 563,2 -55,7 316,4 AmericanoAlCAN 497,6 -99,0 15,1 CanadenseCBA 424,9 57,2 439,0 BrasileiroAlBRÁS 309,5 -187,5 -18,3 Estatal

BllllTON 191,2 -39,9 374,8 Inglês

*Fonte:Exame, agosto1990."Fonte: Exame, agosto1991.

sendo, abusca de explicaçãopara vantagenscomparativas de empresas exportadorasenvolve a análise do papel das economiasnacionais, enquanto geradoras ou estimula-doras de aperfeiçoamento e inovaçõesno in-terior de determinados setores econômicos.

Algumas nações oferecem um ambienteeconômico no qual empresas aperfeiçoame inovam e continuam a fazer isso de ma-neira mais intensa e em direções maisapropriadas do que as empresas sediadasem outras nações. Por outro lado, empre-sas internacionalmente competitivas sãofreqüentemente aquelas que não apenaspercebem novos mercados e o potencial denovas tecnologias, mas também se movi-mentam de maneira agressiva para explo-rá-los. Nesse sentido, o ambienteeconômi-co de determinados países parece induzirmovimentos mais rápidos e mais agressi-vos das empresas neles sediados.

A competitividade de uma nação é,pois, um processo que depende basica-mente da capacidade de seus setores eco-nômicos em inovar e aperfeiçoar proces-sos, produtos e canais de comercialização.

Os determinantes da competitividadenacional em setores econômicos específicosresidem em quatro importantes atributos:(1)condições de fatores, (2)as condições dedemanda locais, (3)os setores relacionadosou de apoio e (4) a estrutura, estratégia egrau de rivalidade das empresas do setor.

Tais atributos são definidos da seguinteforma:

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1.Condições de fatores: a disponibilidadeem fatores econômicos utilizados nos pro-cessos de produção característicos do se-tor, por exemplo: mão-de-obra treinada equalificada, infra-estrutura de apoio e re-cursos naturais. Para Porter, as condiçõesde fatores não decorrem necessariamenteda dotação de recursos básicos da naçãomas, principalmente, da forma como estessão desenvolvidos e utilizados.

2. Condições de demanda: a natureza dademanda interna da nação pelo produtoou serviço oferecido pelo setor. Tão impor-tante ou mais que a dimensão do mercadointerno é o grau de sofisticação e exigênciados consumidores, o qual representa umestímulo para o constante aprimoramentodos produtos.

3. Setores relacionados ou de apoio: aexistência de fornecedores e de setoresrelacionados que sejam internacional-mente competitivos. Setores relaciona-dos são aqueles onde empresas podempartilhar atividades na cadeia produtiva(canais de distribuição, pesquisa e desen-volvimento etc.) ou transferir tecnologiade um setor para outro (por exemplo,através da indústria de máquinas e equi-pamentos e das empresas de engenhariaconsultiva).

4. Estrutura, estratégia e grau de rivalida-de: as condições determinantes da manei-

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A COMPET/TIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

capita de alumínio no Brasil foi de apenas2,67 Kg/hab./ ano, menos de um décimo doconsumo norte-americano ou japonês. Ademanda interna extremamente fraca inibeo desenvolvimento de elos mais complexosda cadeia produtiva e mantém o país na po-sição de exportador do metal primário.

O baixo nível de atividade industrialque caracterizou a economia brasileira nadécada de 80 foi também um fator inibidordo consumo de alumínio no país. O consu-mo doméstico de alumínio expandiu-se de356,8 t em 1980 para 392,7 t em 1989, ou se-ja, apenas 10% em toda uma década.

ra como as empresas locais são criadas, or-ganizadas e geridas, bem como a naturezada rivalidade entre estas empresas. Deacordo com Porter, as empresas se aperfei-çoam quando são forçadas a enfrentaruma concorrência local acirrada e quandoos governos estabelecem regulamentos epadrões exigentes."

OS DETERMINANTES DA COMPETITIVIOADEINTERNACIONAL E O SETOR BRASILEIRODE ALUMíNIO PRIMÁRIO

A aplicação do modelo de análise dacompetitividade de Porter ao caso da in-dústria brasileira de alumínio conduz a al-gumas constatações que são discutidas aseguir.

3. Estrutura, estratégia e graude rivalidade

Tratando-se de um processo de produ-ção intensivo em capital, as empresas pro-dutoras de alumínio são, em geral, verti-calmente integradas, da extração de miné-rio à produção do metal primário. A tecno-logia de produção é internacionalmentedifundida e os ganhos de produtividadesão incrementais.

No interior do setor brasileiro de alumí-nio, o número de empresas é pequeno e ograu de rivalidade é baixo. Existem váriasjoint-ventures entre as empresas para pro-dução de metal, alumina e minério, reve-lando um relativo grau de cooperação en-tre elas. Essas empresas se expandiram apartir do programa de substituição de im-portações traçado pelo 11PND, e se toma-ram exportadoras a partir de 1982, quandose acumularam grandes excedentes deprodução, não absorvidos pelo mercadointerno. No mercado externo, as empresasbrasileiras enfrentaram cotações declinan-tes do produto (vide gráfico 2) e uma con-juntura em que vários concorrentes inter-nacionais se retiraram do setor, que, então,atingia a maturidade.

No Brasil, as três maiores empresas dosetor (Alcoa, CBA e Alcan) adotaram es-tratégias de integração vertical, do minérioao metal primário, e deste aos semímanu-faturados de alumínio, sendo as que siste-maticamente apresentam melhores resul-tados financeiros. A CBA, em particular,adota uma política de geração própria deenergia elétrica que a protege das ameaçasde racionamento ou de aumentos proibiti-vos das tarifas elétricas: 60% do seu consu-mo é gerado internamente. A Billiton e aCompanhia Vale do Rio Doce são empre-sas de mineração que estabeleceram estra-tégias de integração para cima, de modo aproduzirem o metal primário, de maiorvalor adicionado que o minério. A Billiton

1. Condições de fatores de produçãoO Brasil é um país rico em recursos na-

turais, entre os quais se encontram gran-des jazidas de minério de bauxita com ele-vado teor de alumínio. O país é um dosmaiores exportadores de bauxita do mun-do. Além disso, a energia hidroelétrica érelativamente abundante. A presença des-ses dois insumos fundamentais para a pro-dução de alumínio primário conduziu opaís à posição de destaque que ocupa entreos produtores mundiais do produto.

Por outro lado, a crise da dívida externatem limitado, de forma determinante, oacesso a fontes de financiamento de longoprazo requeridas por uma atividade in-dustrial intensiva em capital. A capacida-de instalada no país é basicamente resulta-do das inversões feitas no período anteriorà crise. Assim, o principal insumo para aprodução de alumínio (o capital) é, hoje,extremamente escasso no país.

A mão-de-obra, embora abundante e ba-rata no Brasil, é pouco relevante nesta ativi-dade que, como se viu, é capital-intensiva.

A energia elétrica é ainda disponível,mas os custos de geração são crescentes,não apenas em virtude do custo de capital,como também das características físicas dasbacias hídricas ainda inexploradas. As ba-cias hídricas mais rentáveis do país já foramaproveitadas e as que restaram apresentamcustos de geração muito superiores aos dasusinas hidrelétricas atualmente existentes.

2. Demanda internaNo Brasil, a demanda interna é não ape-

nas limitada, como pouco exigente. Diver-sos estudos empíricos já mostraram que ademanda por alumínio é função da rendaper capita nacional." Em 1989, o consumo per

14. Idem ibidem, p.71.15. RUGERONI, L. World Mar-ket Trends. In: 5th INTERNA-TIONAl AlUMINIUM CONFE-RENCE, Caracas, 30-31 novo1988.

ss

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RAE

de articulação com o setor de mineração éelevado: todas as empresas participam deatividades de mineração e as joint-venturessão freqüentes. O setor brasileiro de mine-ração é internacionalmente competitivo. Jáo setor de geração elétrica, embora bem ar-ticulado com a indústria de alumínio, en-frenta sérios problemas de descapitaliza-ção e falta de estrutura para atender aocrescimento da demanda de energia elétri-ca para uso doméstico. A perspectiva deracionamento de energia, num futuro pró-ximo, possivelmente gerará conflitos entreesses dois setores e provocará a revisãodos contratos de fornecimento de energiapara o setor de alumínio.

Quando se verificam as possibilidadesde integração para cima, com a produção eexportação de transformados de alumínio,constata-se que o nível de articulação como complexo metal-mecânico nacional éainda limitado. Alcoa e Alcan assumem ocompromisso com a produção de semima-nufaturados de alumínio, seja através deunidades próprias de processamento, sejaatravés de contratos de fornecimento atransformadores nacionais. A Valesul, aAlbrás e a Billiton são basicamente expor-tadores ou fornecedores descompromissa-dos do mercado interno. A CBA praticauma política de produção flexível, forne-cendo semitransformados ao mercado in-terno ou exportando lingotes do metal, deacordo com as cotações desses produtos.Para que o país se tome um exportador ex-pressivo de transformados de alumíniofaltam não apenas o domínio das tecnolo-gias de transformação mecânica, comotambém a proximidade dos grandes cen-tros consumidores mundiais. O transportede alumínio transformado apresenta, emgeral, grandes problemas de acondiciona-mento, sendo mais econômico transportá-lo na forma de lingotes e transformá-lo lo-calmente. A empresa norueguesa NorskeHidro, por exemplo, grande exportadorade alumínio, possui 14 unidades de trans-formação localizadas em diferentes paísesda Europa.

16. Entrevista com Miguel deCarvalho Dias, vice-presidenteda CBA, realizada em 3/7/91.

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adotou uma política de participação em di-ferentes empreendimentos conjuntos comoutros produtores, inclusive a estatal Valedo Rio Doce; seus resultados dependemdos resultados dos seus parceiros nestesempreendimentos. As empresas controla-das pela Companhia Vale do Rio Doce sãoas que apresentam maiores problemas dedescoordenação estratégica e também ospiores resultados financeiros.

A usina da Valesul, por exemplo, apre-senta desde a sua inauguração três impor-tantes pontos fracos. Em primeiro lugar, alocalização no Sudeste do País, onde as ta-xas de expansão de consumo energéticosão mais elevadas e os recursos hídricossão muito limitados. Em segundo lugar, oinvestimento de recursos governamentaisem um setor cujo mercado interno estavasendo satisfatoriamente atendido pela ini-ciativa privada. E, por último, a dependên-cia da usina em relação ao óxido de alumí-nio (alumina) importado. Além destes, aempresa iniciou sua produção no momen-to de maior depressão de preços da histó-ria do alumínio.

A Albrás é outra empresa do grupo Va-le do Rio Doce, voltada essencialmente àsexportações, cujo suprimento de óxido dealumínio (alumina) é também problemáti-co. O empreendimento, originalmenteconcebido para ser integrado, do minérioao metal primário, sofreu diversas altera-ções ao longo do tempo, e a construção dausina de beneficiamento de alumina foitemporariamente abandonada. Este proje-to foi retomado no ano passado e deveráestar concluído em abril de 1994. Até lá, ocomplexo Albrás dependerá de óxido dealumínio importado para suprir a fábricade alumínio que, hoje, produz 194 milt/ano.

Observa-se, portanto, que o principalproblema das usinas estatais de alumínioprimário consiste na ausência do elo da ca-deia produtiva relativo à transformaçãodo minério em óxido de alumínio (alumi-na). O que é um problema para a Compa-nhia Vale do Rio Doce é a fonte de compe-titividade para a CBA que produz todo ominério e alumina que consome, gera 60%da energia elétrica que consome e realizatodos os seus investimentos preferencial-mente com capital próprio."

4. Setores relacionados e de apoioBasicamente, a indústria de alumínio

interage com os setores de geração elétricae mineração (fornecedores) e com o com-plexo metal-mecânico (clientes). O nível

TENDÊNCIAS MUNDIAIS

A produção mundial de alumínio pri-mário passa por um processo de desloca-mento em direção a países dotados de re-cursos energéticos abundantes. Este pro-cesso se originou no primeiro choque dopetróleo (1973) e ainda não está totalmenteconcluído. A longa vida útil das fábricasde alumínio, bem como o elevado montan-

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

te de capital exigido na atividade viabili-zam a operação de plantas antigas e inefi-cientes (geralmente já depreciadas) mes-mo nos países industrializados. O Japão,dada a sua total carência de recursos natu-rais, já abandonou esta atividade, tornan-do-se o maior importador mundial do pro-duto. O gráfico 4 mostra a evolução, de1975a 1990,do consumo menos a produ-ção doméstica de alumínio primário no Ja-pão, EUAe Europa Ocidental. Observa-seque o Japão parte de uma quase auto-su-ficiência, em 1975, para um grande cres-cimento do consumo de metal importa-do, atingindo, em 1990,um consumo de2.380, 1 mil toneladas contra uma produ-ção doméstica de apenas 34,2 mil t. OsEUA apresentam grandes oscilações nobalanço consumo menos produção do-méstica, observando-se, a partir da com-paração dos gráficos 2 e 4, uma tendênciade aumento das importações nos períodosem que as cotações internacionais do pro-duto estão em baixa. Neste país, a partemais antiga da capacidade produtiva é de-sativada quando os preços do metal estãodeprimidos e reativada quando estes vol-tam a aumentar. A Europa Ocidental, porsua vez, tem apresentado um grande cres-

cimento do consumo de metal importadode outras regiões do mundo. Entre 1980e1990,este consumo aumentou de 94,5mil tpara 872,4mil t.

Os maiores exportadores mundiais dealumínio primário são Canadá, Austrália,Noruega e Brasil. O gráfico 5 apresenta aevolução, de 1975a 1990,das exportaçõesdesses países, mostrando que a produçãoestá se deslocando principalmente paraCanadá, Austrália e Brasil. Canadá e No-ruega, por serem ricos em recursos hídri-cos, são tradicionais exportadores do me-tal. A Austrália possui grandes jazidas decarvão mineral de onde extrai energia paraprodução de alumínio. O Brasil só se tor-nou exportador a partir de 1982,quandomaturaram os investimentos feitos no âm-bito do II PND.

A POSiÇÃO COMPETITIVA NACIONAL

A análise do setor brasileiro de alumí-nio primário mostra que a competitivida-de desta indústria está excessivamentecentrada nos recursos naturais do país:bauxita e energia elétrica. No caso do mi-nério, essa dependência não representaproblema na medida em que o país dispõe

Gráfico 4: Alumínio - Consumo menos produção. Países selecionados

2000

1500

1000

500

o

75 76 77 78 79 80 81Fonte: ALUMINIUM ASSOCIATION. Aluminium Statistical Review. Washington (vários anos).

82 83 84 85 86 87 88 89 90

(x1000 t)2500~--~--~--~--~-.--~--~--~--~--~~--~--~--~~EUROPA

JAPÃO

EUA

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RAE

Gráfico 5: Alumínio-Exportações menos importações. Países Selecionados

(x1ODO t)1400~------------------~--~--~--~--~------~--~--~--~--~

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75 76 77 78 79 80 81

NORUEGA

CANADÁ

AUSTRÁLIA

BRASil

Obs.: Alumínioprimário.

Fonte: Aluminium Association, Aluminium Statistical Review Washington(váriosanos),

Quadro 1: Posicionamento do setor brasileiro de alumínio frente aos determinantes da competitividade

Determinantes Propulsores Inibidores..

• ProdUÇãOde aiumma1. Condição de • Disponibilidade • Setor elétrico no

de minério limite dafatores • Fábricas modernas capacidade

• Custo de capitalelevado

,-

• Baixa renda per2-. Demanda capita

interna • Produção industrialestagnada

• Falta de tecnologia3. Estrutura, • Integração do minério

própriaestratég ia, • Pequeno númerorivalidade

ao metal primário de empresas• Plantas estatais

não integradas

4. Setores • Falta de integraçãorelacionados • Setor de mineração para cima (semi-e de apoio competitivo manufaturados)

• Setor energéticodescapitalizado

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A COMPETITIVIDADE DA IND. BRASILEIRA DE ALUMíNIO

petitivo. No âmbito da estratégia das em-presas, verifica-se que a maior parte delasé verticalmente integrada, do minério àprodução de metal primário, seguindo atendência mundial do setor. A exceção res-tringe-se às fábricas estatais cuja etapa deprodução de óxido de alumínio (alumina)só estará concluída a partir de 1994.

O número de inibidores da competitivi-dade internacional no setor brasileiro dealumínio é, no entanto, muito superior aonúmero de propulsores. No âmbito dos fa-tores de produção, destacam-se a já citadafalta de capacidade instalada para produ-ção de óxido de alumínio (alumina) nas fá-bricas estatais, a capacidade limitada degeração elétrica e o elevado custo de capi-tal vigente no país. Com relação à deman-da interna, o principal inibidor da compe-titividade do setor deriva da baixa rendaper capita que caracteriza a economia na-cional. O consumo interno de alumínio sópoderá aumentar à medida que a rendanacional aumente. E a conjuntura atual deestagnação da produção industrial nãopermite visualizar a superação da criseeconômica a curto prazo.

O pequeno número de empresas pro-dutoras (cinco no total) e o reduzido graude rivalidade entre estas são outros ele-mentos que atenuam as pressões no senti-do do aperfeiçoamento, mas que são carac-terísticos de um setor capital-intensivo. Aintegração para cima, com a produção detransformados de alumínio, é ainda restri-ta no país, podendo ser atribuída princi-palmente à distância dos grandes centrosconsumidores (Europa e Japão) e às difi-culdades de transporte deste tipo de pro-duto. Além disso, o complexo metal-mecâ-nico brasileiro não é internacionalmentecompetitivo e articulado com o setor dealumínio.

Em síntese, o setor brasileiro de alumí-nio primário não apresenta elos de ligaçãosignificativos entre os quatro determinan-tes da competitividade internacional. Acompetitividade desse setor é fundada emapenas um dos determinantes: os fatoresde produção, no caso, recursos naturais eenergia. Estes, aliás, são abundantes e, empelo menos parte da produção nacional,incorretamente alocados e administrados.Assim, em pelo menos dois dos determi-nantes (demanda interna e os setores rela-cionados e de apoio), detectam-se impor-tantes obstáculos à manutenção, no longoprazo, da posição competitiva do setorbrasileiro de alumínio primário no merca-do internacional.O

de grandes reservas de bauxita de elevadaqualidade. No caso da energia elétrica, en-tretanto, o cenário é preocupante: o setorhidrelétrico nacional encontra-se próximodo limite de sua capacidade de geração eenfrenta sérias dificuldades para atenderao crescimento da demanda interna. Este éo principal problema que o setor de alumí-nio enfrentará num futuro próximo e quepoderá comprometer seriamente a posiçãocompetitiva internacional até agora con-quistada. O custo da energia utilizada naprodução de alumínio, que era de US$14/MWh no início da década de 80, pas-sou a ser US$ 27/MWh em 1989 (média daindústria)."

No Brasil, a demanda interna é nãoapenas limitada, como pouco

exigente. Diversos estudos emíricosjá mostraram que a demanda poralumínio é função da renda per

capita nacional.

Considerando a tarifa média atual daenergia elétrica no Brasil (US$ 27/MWh),constata-se que o custo da energia paraprodução de alumínio em uma fábrica detecnologia moderna (13.750 kWh/tonela-da de metal) tende a ser US$ 371 por tone-lada produzida, ou seja, 1,8vezes superiorà tendência mundial do setor (vide tabela1). Esses dados mostram que, no âmbitodos custos de produção, o país não podeser considerado competitivo para projetosde expansão da capacidade produtiva dealumínio primário.

O quadro 1 sintetiza o posicionamentodo setor brasileiro de alumínio frente aosdeterminantes da competitividade, segun-do o modelo de Porter. A comparação deelementos propulsores e inibidores dacompetitividade internacional, apresenta-da neste quadro, revela um grande núme-ro de inibidores e um número escasso deelementos propulsores.

Entre os elementos propulsores da com-petitividade destaca-se, além da disponi-bilidade de minério, a existência de fábri-cas modernas de tecnologia recente, cujoconsumo energético é relativamente redu-zido. Além disso, o país conta com um se-tor de mineração internacionalmente com- 17. ASSOCIACÃO BRASILEIRA

DE ALUMINIÓ. Op. cit.

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