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1
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU
CURSO DE DIREITO
A COMPETÊNCIA JURISDICIONAL EM AÇÕES DE SEGURO HABITACIONAL
ÂNGELA MARIA CESCONETTO DE PIERI
Biguaçu(SC), 19 de junho de 2009
2
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU
CURSO DE DIREITO
A COMPETÊNCIA JURISDICIONAL EM AÇÕES DE SEGURO HABITACIONAL
ÂNGELA MARIA CESCONETTO DE PIERI
Monografia submetida à Universidade
do Vale do Itajaí - UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em Direito.
Orientador: Professor MSc. SÉRGIO LUIZ VERONESE JUNIOR
Biguaçu (SC), 19 de junho de 2009
3
AGRADECIMENTO
À Deus, porque acredito no ser maior, que me dá
saúde e faz enfrentar a caminhada, e que nos
momentos de cansaço, me deu energia para vencer
mais esta etapa.
Aos professores, que me instruíram durante estes
cinco anos de graduação, e que contribuíram
diretamente para a formação acadêmica em especial
permitindo realizar esta tarefa com fundamentação
lógica e científica.
Ao professor orientador, MSc. Sérgio Luiz Veronese
Junior, pelo seu empenho em fazer as revisões
necessárias e pelo tempo de leitura das versões
inacabadas, me orientando e dando opiniões e
compartilhando seu conhecimento jurídico.
A todos os colegas e acadêmicos, que, até mesmo
nos corredores da faculdade naquelas conversas
informais, nos debates de estudo de caso ou até
mesmo após as provas, em que sempre aprendia
algo e era um incentivo a mais, para ir embora mais
animada que não estava tão aquém, dos
conhecimentos jurídicos.
4
DEDICATÓRIA
Em especial ao meu esposo Dener De Pieri, que
muito me ajudou a vencer mais esta etapa, nas
horas boas e difíceis, me apoiando e incentivando,
sempre com compreensão.
Ao meu filho, Victor Cesconetto De Pieri, que muitas
vezes me cobrava, quando iria parar de estudar, que
pelo menos a noite queria ficar um pouco mais
comigo e eu respondia as férias estão chegando
ficaremos o tempo todos juntos.
5
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade
do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Biguaçu (SC), 19 de junho de 2009.
Ângela Maria Cesconetto De Pieri
Graduando
6
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do
Vale do Itajaí - UNIVALI, elaborada pela graduanda Ângela Maria Cesconetto De
Pieri, sob o título "A Competência Jurisdicional em Ações de Seguro Habitacional",
foi submetida, em 19/06/2009, à banca examinadora composta pelos seguintes
professores: Prof. MSc. Sérgio Luiz Veronese Junior (Presidente), Professor
Dino Adalberto Krieger Filho e Professor Emanuel Dal Toé e aprovada com a nota:
9,1 (nove virgula hum).
Biguaçu, 19 de junho de 2009.
Professora MSc. SÉRGIO LUIZ VERONESE JUNIOR
Orientador e Presidente da Banca
Professora MSc. HELENA NASTASSYA PASCHOAL PITSICA
Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica
7
ROL DE ABREVIATURAS OU DE SIGLAS
ART. Artigo
ASH Apólice de Seguro Habitacional
BNH Banco Nacional da Habitação
CC Código Civil
CEF Caixa Econômica Federal
CCFCVS Conselho Curador de Fundo de Compensação de
Variações Salariais
CMN Conselho Monetário Nacional
CNSP Conselho Nacional de Seguros Privados
COHAB Companhia da Habitação
CPC Código de Processo Civil
CPISH – PE Comissão Parlamentar de Inquérito Sistema Habitacional
do Estado de Pernambuco
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil
DFI Danos Físicos em Imóveis
DL Decreto Lei
FESA Fundo de Equalização da Sinistralidade da Apólice de
Seguro Habitacional
FCDS Fundo de Compensação Global de Desvios de
Sinistralidade
FCVC Fundo de Compensação de Variações Cambiais
FCVS Fundo de Compensação de Variações Salariais
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
IBH Instituto Brasileiro da Habitação
IRB Instituto de Resseguros do Brasil
MHU Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente
MP Medida Provisória
PES Plano de Equivalência Salarial
PCM Plano de Correção Monetária
PCR Plano de Comprometimento de Renda
RCC Responsabilidade Civil do Construtor
SASSE Caixa Seguradora S/A
8
SBPE Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo
SFH Sistema Financeiro da Habitação
SH Seguro Habitacional
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
SUSEP Superintendência de Seguros Privados
TJPE Tribunal de Justiça de Pernambuco
TJPR Tribunal de Justiça do Paraná
TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina
TJSP Tribunal de Justiça de São Paulo
TRF Tribunal Regional Federal
9
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................11
ABSTRACT................................................................................................................12
INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
CAPÍTULO I..............................................................................................................16
1 Sistema Financeiro da Habitação – SFH............................................................16
1.1 Antecedentes do SFH........................................................................................16
1.2 Implantação do SH/SFH.....................................................................................19
1.3 Principais Características Institucionais do BNH...........................................21
1.4 Extinção do BNH................................................................................................23
1.5 O Início da Administração do Sistema de Poupança e Crédito Popular......24
1.6 Evolução da Administração dos Fundos do SFH...........................................25
1.6.1 O FCVS e a Responsabilidade pelo saldo devedor......................................27
1.6.2 O FCVS e o Passivo Crescente dos Saldos Devedores do SFH................28
1.7 A Transferência da Responsabilidade do SH para o FESA...........................31
CAPÍTULO II..............................................................................................................35
2 SEGUROS NO BRASIL.........................................................................................35
2.1 Evolução Histórica do Seguro no Brasil..........................................................35
2.2 O Contrato de Seguro........................................................................................39
2.2.1 Considerações Gerais....................................................................................39
2.2.2 Natureza Jurídica do Contrato de Seguro....................................................40
2.3 As Espécies de Seguro......................................................................................42
2.3.1 Seguro de Dano...............................................................................................43
2.3.2 Seguro de Pessoa...........................................................................................45
2.4 O SEGURO HABITACIONAL DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇAO...........45
2.5 IRB – RE – Instituto de Resseguros do Brasil................................................48
2.6 O RESSEGURO..................................................................................................51
CAPITULO III............................................................................................................54
10
3 COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE AÇÕES ENVOLVENDO SEGURO
HABITACIONAL NOS CONTRATOS REGIDOS PELA SFH...........................................54
3.1 Competência Lato Sensu...................................................................................54
3.2 Determinação e Critério da Competência .......................................................56
3.2.1 Critério Territorial............................................................................................58
3.2.2 Critério Funcional............................................................................................58
3.2.3 Competência Absoluta e Relativa: Possibilidade de Modificação..............58
3.3 COMPETÊNCIA PARA AS AÇÕES DE SEGURO HABITACIONAL...........................59
3.4 COMPETÊNCIA PARA REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE SEGURADORA.......63
3.5 A ILEGITIMIDADE DA CEF NAS AÇÕES DE SEGURO HABITACIONAL...............66
3.6 UNIFORMIZAÇAO DE JURISPRUDÊNCIA – LEI DOS RECURSOS REPETITIVOS ..70
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................72
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...................................................................74
ANEXOS....................................................................................................................79
11
RESUMO
Esta monografia tem por objeto o estudo da competência para apreciação de
ações judiciais relacionadas ao seguro habitacional do Sistema Financeiro da
Habitação. Como metodologia adotamos o modelo dedutivo, pois a partir de uma
premissa maior chega-se a uma premissa menor. No primeiro capítulo são
fornecidas informações para que seja possível ter uma noção do problema
habitacional brasileiro, e a preocupação do governo federal em saldar uma
crescente necessidade de moradia digna e quais mecanismos foram utilizados ao
longo dos anos para tentar reduzir esta desigualdade. São trazidas, também,
algumas informações de como o sistema tenta proteger o mutuário, através de
fundos comuns, o mutuário, contra as intempéries econômicas e contra os riscos
pessoais e do imóvel que os seguros normalmente fazem cobertura. Já no segundo
capítulo será demonstrado que em termos históricos a figura do seguro em nosso
país é recente, logicamente aperfeiçoou-se com o passar do tempo, mesmo que
muito lentamente. Além disso, durante muito tempo as seguradoras nacionais não
podiam garantir grandes contratos, e por isso recorriam à seguradoras estrangeiras.
Então depois de mais de um século do inicio da atividade securitária no país, é que
foi criado um órgão (IRB) que viria a garantir a nacionalização dos contratos de
seguro, para que o mercado de seguros brasileiro pudesse se desenvolver.
Finalmente no terceiro capitulo devido a amplitude e a complexidade do tema, será
abordado de quem é competente para o julgamento destas ações de seguro
habitacional. Se de um lado existe a defesa de que a justiça estadual é a
competente para processar e julgar ações propostas contra entidade privada,
versando sobre contratos de seguros e que todas as ações de seguro habitacional
até hoje foram julgadas por ela, por outro existe a contestação deste posicionamento
e o pedido de mudança de foro para justiça federal, sob a alegação de interesse das
entidades governamentais descritas no art. 109 da Constituição Federal.
Palavras-chave: Sistema Financeiro da Habitação. Seguro Habitacional.
Competência Jurisdicional.
12
ABSTRACT
The main purpose of this monograph is to study the competence of the
Housing Finance System in the housing insurance claims. The methodology adopted
for this research was based on the deductive model, whereas from a larger premise,
a smaller one is achieved. In the first chapter, we try to provide some information on
the Brazilian housing issue and about the Federal Government concerns regarding
the growing needs of decent dwellings, as well as to indicate which mechanisms
have been used during the years in attempt to reduce the inequalities. We also
approach how the System tries to protect the borrower, through common funds,
against economical weatherings as well as against personal risks or property
damages, which is generally covered by the insurance. In the second part, we
demonstrate that, historically, the concept of insurance is recent in our country and
have been clearly, although very slowly, improved throughout the years. Besides, for
a long time, national insurance companies could not guarantee large contracts, and
so they used to resort to foreign insurance companies. Then, after more than half a
century from the beginning of the insurance activities in our country, an organ (IRB)
was created to assure the nationalization of the insurance contracts, so that the
Brazilian insurance market could develop. Finally, in the third chapter, because of the
argument’s wideness and complexity, the difficulties of understanding for those who
are in charge of the judgment of these housing insurance claims become clear. If can
be defended that the state justice is competent to process and judge actions on
insurance contracts which are purposed against private institutions and that all
housing insurance claims have been judged by it until now, on the other side there
are contestations to that position and a request to the Federal Justice for forum
change, under allegation of governmental institutions, which are described at article
109 of the Federal Constitution, interests.
Keywords: Housing Finance System. Housing insurance. Jurisdictional
competence.
13
INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como objeto a delimitação da competência
jurisdicional em ações de seguro habitacional.
O objetivo geral é a avaliação da competência jurisdicional das ações de
seguro habitacional e os objetivos específicos consistem em investigar a
competência jurisdicional e a ilegitimidade passiva da CEF em ações de seguro
habitacional.
Quanto à metodologia empregada, registre-se que foi adotado o método
dedutivo. Analisando as ações de seguro habitacional a sua competência
jurisdicional, culmina-se para uma hipótese especifica, que é a discussão do não
envio das mesmas à Justiça Federal.
O Sistema Financeiro de Habitação foi criado com o intuito de permitir o
financiamento de moradias populares para as classes mais desassistidas. Então, no
mesmo instrumento em que é contratado o financiamento, o mutuário contrata os
seguros que cobrem a operação, aderindo obrigatoriamente à Apólice de Seguro
Habitacional.
Quando da ocorrência do sinistro que se apresentam normalmente na forma
de vícios construtivos o mutuário não consegue ver seu direito de reparação, apenas
informando a seguradora ou ao agente financeiro da necessidade de ressarcimento,
e a regra é ter de manifestar-se judicialmente. Para facilitar o entendimento, é
pertinente a transcrição das palavras do eminente Desembargador do Egrégio
Tribunal de Justiça de Pernambuco, José Fernandes, que no ensejo de julgar a
Apelação Cível n° 1981-0/91 declarou: “Algumas seguradoras sempre se
apresentam ávidas no momento de recebimento dos prêmios e avaras no momento
do pagamento da indenização.”
No primeiro capítulo será demonstrado que na década de 40, o Brasil
passava por uma forte crise no setor imobiliário em decorrência do aumento
desenfreado dos alugueres e, ainda com o início do Êxodo Rural, que gerou um
crescimento desordenado da população nas grandes cidades.
O Governo Federal, impulsionado por estes acontecimentos, (aumento da
demanda por moradia nas cidades) resolveu através do Plano Nacional de
Habitação criar o Sistema Habitacional, hoje conhecido como SFH (Lei n° 4.380/64)
14
e o Banco Nacional da Habitação (BNH), que tinham por objetivo facilitar a aquisição
da casa própria e diminuir os problemas habitacionais de nosso país1.
Na seqüência, surgiu a Lei n° 5.170/66 que criou o FGTS, propiciando aos
trabalhadores estabilidade e garantia no emprego, e ao mesmo tempo conferindo
maior firmeza ao sistema, pois sua criação previa a arrecadação de recursos,
fornecimento de empréstimo para a compra de imóveis e garantir o retorno deste
empréstimo, até a reaplicação do dinheiro.
Com a criação do SFH visou-se não utilizar os recursos financeiros do
Tesouro Nacional para habitação. Foi estabelecido um subsidio cruzado, interno ao
sistema, que consistia em cobrar taxas de juros diferenciadas e crescentes, de
acordo com o valor do financiamento, formando uma combinação que, mesmo
utilizando taxas inferiores ao custo de captação de recursos nos financiamentos
menores, produzira uma taxa média capaz de remunerar os recursos e os agentes
que atuavam no sistema, como o IRB, seguradoras, agentes financeiros e etc.
O segundo capítulo é direcionado para a figura do seguro e mais
especificamente para o Seguro Habitacional, que constitui modalidade de seguro
obrigatório, criado pelo Decreto Lei 73/66 e pela Lei n° 4.591/65 e que visava
preservar os recursos públicos aplicados nas construções das casas e apartamentos
financiados pelo SFH, e também para proteger o investimento pessoal dos
mutuários e em última análise garantir moradia digna para a população brasileira.
O Seguro Habitacional foi criado para favorecer as camadas mais humildes
da população, pois, após a assinatura do contrato, o segurado passa a contar com a
Cobertura Compreensiva Especial da Apólice Habitacional, na qual estão incluídas
as garantias contra Danos Físicos nos Imóveis (DFI), Morte e Invalidez Permanente
(MIP) e Responsabilidade Civil do Construtor (RCC).
A Apólice do Sistema Financeiro de Habitação está inserida no âmbito do
Sistema Nacional de Habitação com o objetivo de facilitar e promover a moradia
digna para a maioria da população brasileira.
Será tratado neste capítulo também do resseguro e é importante ressaltar,
nesta parte, que o resseguro não tem característica de contrato de adesão, como no
seguro habitacional. Tratando-se de contrato comercial, pactuado eminentemente
por empresas do mesmo ramo, não há se falar em desequilíbrio financeiro, como
1 Sistema Financeiro da Habitação. Rio de Janeiro: IBMEC. 1980.
15
acontece entre seguradora e mutuário, onde aquela tem inegável supremacia
econômica e financeira sobre este. Ademais o dirigismo estatal de proteção social,
presente nos contratos de seguro habitacional, aqui já não encontra espaço, seja
pela expressão de autonomia privada que se detém nestes, seja pela
empresariedade que os acompanha.
Finalizando este trabalho, no terceiro capítulo, será abordado a questão da
competência.
A Jurisdição é uma função pública, realizada por órgão do Estado, em
consonância com os ditames legais, através da qual e por ato judicial, determina-se
o direito das partes, com o objetivo de dirimir seus conflitos e controvérsias de
relevância jurídica, por decisões com autoridade de coisa julgada.
E por fim se pretende demonstrar que quando é invocada a participação da
CEF no pólo passivo das ações de SH, a maioria das decisões dos juízos indeferem
o pedido, por não encontrarem nenhum dos motivos legais que tornariam válida sua
participação.
O presente trabalho de monografia encerra-se com as considerações finais.
16
CAPÍTULO I
1 SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO - SFH
Neste capítulo são fornecidas informações para que seja possível ter uma
noção do problema habitacional brasileiro, e a preocupação do governo federal em
saldar uma crescente necessidade de moradia digna e quais mecanismos foram
utilizados ao longo dos anos para tentar reduzir esta desigualdade. São abordados
também algumas informações de como o sistema tenta proteger, através de fundos
comuns, o mutuário, contra as intempéries econômicas, e contra os riscos pessoais
e do imóvel que os seguros normalmente fazem cobertura.
1.1 ANTECEDENTES DO SFH
À medida que o instituto da escravidão começou a debilitar-se, com a
abolição do tráfico negreiro, a alforria dos sexagenários, a Lei do Ventre Livre a
compra da liberdade pelos próprios escravos, ou por associações abolicionistas,
começaram a aumentar, nos povoados, vilas e, em menor escala, nas cidades, as
habitações individuais construídas com materiais rústicos e extremamente
deficientes em suas condições de higiene. Com o incremento de atividades
industriais e de investimentos estrangeiros em infra-estrutura, a população urbana
começa aumentar e a necessidade de habitações nas cidades também.2
O início da intervenção governamental então se dá no governo do Presidente
Rodrigues Alves (1910/1914) com obras do governo federal para melhorar o
saneamento no Rio de Janeiro, então capital da república, e que deu ensejo a um
grande programa de revitalização do centro carioca, que provocou o despejo das
famílias que habitavam cortiços e outras moradias precárias localizadas na área
remodelada. A resposta governamental a esta situação foi excessivamente tímida e
resumiu-se a construção de três conjuntos, totalizando 120 unidades germinadas, na
zona limítrofe do centro antigo da cidade. Na realidade, a ação direta no campo
habitacional somente, viria a assumir alguma significação durante o segundo
período do governo de Getúlio Vargas (o chamado “Estado Novo”), com a
2 ARAGÃO, José Maria, Sistema Financeiro da Habitação: uma análise sócio- jurídica da
gênese, desenvolvimento e crise do sistema. 2. ed. / Curitiba: Juruá, 2001. pp. 65/66.
17
reorientação dos recursos que eram destinados aos financiamentos individuais para
a construção de conjuntos de grande porte.3
A primeira experiência Habitacional em grande escala que se tem notícia no
Brasil foi a criação da Fundação Casa Popular, durante o governo Eurico Gaspar
Dutra (1946-1951), por tendências fortemente políticas, e também para manter a
ordem social. Antes disso as tentativas, ou melhor dizendo, as investidas do governo
federal no campo da habitação, foram poucas, com alguns estados atuando
isoladamente, sendo Pernambuco, “o programa habitacional... mais importante do
gênero desenvolvido em uma unidade federada, no período do ”Estado Novo”.4
Os resultados da atuação da Fundação Casa Popular foram muito limitados
quando se tem em conta a escassez de recursos financeiros que marcou os seus 18
anos de vida cronológica que, em termos de produção efetiva, reduziram-se a pouco
mais da metade. A Fundação, responsável principal pela política habitacional em
cinco administrações fortemente diferenciadas no campo político (Eurico Gaspar
Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart),
constituiu, sem dúvida, um testemunho eloqüente da precariedade dos esquemas de
provisão de habitação baseados exclusivamente em dotações orçamentárias. Tal
fonte de recurso tem na aleatoriedade e descontinuidade suas principais
características, além do caráter errático das dotações orçamentárias anuais, a
Fundação Casa Popular deveria, também, fazer face às incertezas e irregularidades
dos cronogramas de desembolso do tesouro nacional, cujos reflexos negativos
sobre a viabilidade dos projetos se tornaram mais graves a partir do incremento das
taxas de inflação, na segunda metade dos anos 50.5
Nessas circunstâncias, não chega a surpreender que toda a produção da
Fundação, entre 1946 e 1964, não tenha superado as 17 mil unidades
(aproximadamente 1.000 unid/ano).6
Paralelamente à atuação da Fundação existiam as Caixas Econômicas
Federais, que eram utilizadas pelos grupos de renda média e, em proporção menor,
os estratos superiores da classe média (funcionários públicos de nível universitário,
profissionais liberais, empregados de estatais etc.), que constituíam a clientela
3 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. pp. 66/67.
4OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Sistema financeiro de habitação: doutrina-ementário,
jurisprudência-modelo processual/Celso Marcelo de Oliveira. Campinas: editora LZN, 2002. p.15 5 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 70.
6 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 71.
18
preferencial dos financiamentos destes órgãos e dos Institutos de Previdência
Social.7
Em 1953 houve a tentativa de transformar a Fundação em banco hipotecário,
tornando a política habitacional auto-sustentável. Durante um período de forte
instabilidade social a tentativa do governo era a de tornar o cidadão um aliado do
sistema em vez de um excluído, "De revoltado contra a ordem social, o beneficiário
passará a ser um sustentáculo dela, um homem que acredita na ascensão social",
essa mensagem que foi endereçada ao congresso nacional com o anteprojeto do
Instituto Brasileiro da Habitação (IBH) é contundente nas críticas que faz à ação de
governos anteriores no setor, onde diz que é... “indispensável a fixação de diretrizes
de âmbito nacional, que só poderão ser definidas pela centralização do
planejamento, capaz de coordenar num único órgão federal, os esforços
desenvolvidos por todas as entidades públicas e privadas”.8
A partir dessa argumentação, o anteprojeto propunha a criação do Instituto
Brasileiro da Habitação (IBH), como autarquia federal subordinada diretamente ao
Presidente da República, “como órgão único para planejamento e coordenação e
principal quanto à execução dos objetivos” da sua lei institutiva.9
Em 1963, o presidente João Goulart propôs ao Congresso uma reforma
urbana, primeiro passo para a formulação de um programa de crédito voltado à
população de baixa renda. Entretanto o golpe militar de 64 tornou infrutíferas as
tentativas de começar um programa habitacional no país. Mas por razões óbvias
para a época ter o povo a favor do regime concedendo-lhe incentivos era muito mais
interessante, "o proprietário da casa própria pensa duas vezes antes de se meter em
arruaças ou depredar propriedades alheias e tornar-se um aliado da desordem”,
dizia o então Ministro do Planejamento General Castelo Branco.10
Nesse ínterim criou-se o Banco Nacional da Habitação, cinco meses após o
golpe militar, juntamente com a tão conhecida Correção Monetária para as
prestações, pois sem ela o sistema não seria auto-sustentável.11
7 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 72.
8 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 73.
9 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 77.
10 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 78.
11 SINDICATO DOS PROFESSORES DO RIO GRANDE DO SUL. Extra classe especial 10
anos. Edição eletrônica 1997. Disponível em: <http//www.sinpro-rs.org.br/extra/jul97/movim1.htm>
Acesso em: 03 agosto 2008.
19
Este novo regime tinha como, meta principal tornar-se auto-sustentável, pois
pelas tentativas anteriores o programa era caótico, observe-se que em 26 anos, de
1938 a 1964, foram construídas apenas 120.000 habitações pelo sistema então
vigente. O governo tinha recursos limitados, e mecanismos tão prodígios que
somente poderiam atender uma minoria, quem considerava perfeito o sistema
evidentemente eram os poucos que o usufruíam.12
Então fica evidente a preocupação do governo de ao mesmo tempo sem
descurar a relevância do problema social das populações de baixa renda em adquirir
moradia, levar em conta a necessidade de garantir a manutenção do valor real das
poupanças e dos capitais investidos no setor habitacional, como forma de mobilizar
a poupança privada e de assegurar a continuidade do programa de investimento em
habitação sem gerar maiores pressões sobre o tesouro nacional.13
1.2 IMPLANTAÇÃO DO SH/SFH
Aprovada a Lei n. 4.380, de 21 de agosto de 1964, nasce então o Banco
Nacional da Habitação e institui-se o Sistema Financeiro da Habitação, com a
promessa de tentar resolver o problema habitacional de nosso país. Ainda em 1964
e durante 1965, a lei institutiva viria a sofrer modificações e ser complementada por
novos diplomas legais destinados a dinamizar o setor de construção civil, estruturar
o sistema financeiro nacional e o mercado de capitais.14
Outrossim, em 31 de dezembro de 1964, a Lei 4.595 cria o Conselho
Monetário Nacional, o Banco Central do Brasil e disciplina o funcionamento das
instituições monetárias creditícias e bancárias, transferindo a estes as funções de
fiscalização, criação, observação de funcionamento e liquidação das sociedades de
crédito imobiliário, no entanto, devido ao caráter especializado do crédito imobiliário,
o BNH continuou a atuar nestas matérias, sempre sendo órgão de consulta daqueles
criados para esse fim, emitindo proposições e pareceres técnicos consultivos.15
A 24.07.65, a lei n. 4.728, que disciplinou mercado de capitais, também
introduziria modificações na lei n. 4.380/64, que incluiu a possibilidade de correção
12
EDITORA ABRIL. Arquivo Veja, Reportagens Históricas. Reportagem de 29 de setembro de 1971. Disponível em: <http//www.veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_29091971.shtml> Acesso em: 04 agosto 2008.
13 OLIVEIRA, Marcelo Celso de. Ob. cit. p.18
14 ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 95.
15 ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 97.
20
monetária trimestral, pela variação da ORTN, das prestações mensais e do valor dos
contratos de venda ou construção.16
Em 29.11.65, foi sancionada a lei n. 4.864, criando uma série de estímulos a
construção civil e diversos incentivos tributários, entre eles a correção semestral das
prestações e do saldo devedor; e também a criação no Banco Central de um Fundo
de Compensação de Variações Cambiais (FCVC).17
Em 1967, a situação do BNH seria fortemente influenciada por dois fatores: a
criação pela lei n. 5.107, 13 de setembro de 1966, do Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço (FGTS); e o início do funcionamento do Sistema Brasileiro de Poupança
e Empréstimo (SBPE).18
O FGTS inicialmente surgiu como opção à estabilidade no emprego, que
ocorria aos dez anos de serviço. Uma vez que obrigava as empresas a depositar
uma quantia de 8% sobre o total das remunerações devidas no mês anterior, abria-
se então uma fonte de recursos primordial para auxiliar a sustentação do SFH,
dessa forma sua criação constituiu um fato de importância similar ou até superior ao
da própria instituição do SFH que, sem ele, muito provavelmente, ao menos no que
respeita à ação do Poder Público, não teria ido muito além do que foi obtido pela
fundação da Casa Popular.19
O início do funcionamento do SBPE, também, proporcionou incremento de
substancial importância para o fortalecimento do SFH. Este sistema agruparia as
entidades públicas e privadas encarregadas de captar recursos na modalidade de
poupança voluntária junto ao público e canalizá-las para o setor habitacional. Tais
entidades eram as Caixas Econômicas Federais e Estaduais, no âmbito das
entidades públicas e no setor privado as responsáveis eram as Sociedades de
Crédito Imobiliário e as Associações de Poupança e Empréstimo.20
Se de um lado o incremento de recursos (483%, somente no ano 1967)
aumentou consideravelmente, permitindo um maior dinamismo à atuação do BNH,
como banco de investimento e gestor do sistema, por outro lado a administração
deste volume de recursos nas aplicações habitacionais, levaria necessariamente, a
uma melhor gestão e redefinição do perfil destas aplicações. Isto porque, o custo
16
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 97. 17
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 97. 18
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 100. 19
ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 100. 20
OLIVEIRA, Marcelo Celso de. Ob. cit. p.18
21
financeiro e administrativo do FGTS e das cadernetas de poupança era de caráter
reembolsável.21
Sendo assim, o BNH e SFH naturalmente teriam em conjunto a obrigação de
obter em suas aplicações uma rentabilidade média suficiente para cobrir os custos
operacionais e financeiros e assegurar um mínimo de reservas técnicas destinadas
a compensar o risco de eventuais inadimplências dos tomadores de empréstimos
concedidos pelas entidades financiadoras. 22
Esta nova situação proporcionou novos números ao sistema que durante o
funcionamento da Fundação da Casa Popular (18 anos), o número de habitações
produzidas girava em torno de 17 mil unidades, e antes da instituição do FGTS e do
SBPE a taxa média anual era de 3.354 unidades (triênio 1965/67), passou agora a
23.552 unidades (triênio 1968/70).23
1.3 PRINCIPAIS CARACTERISTICAS INSTITUCIONAIS DO BNH
Durante a década de 50 e meados dos anos 60 a forma predominante de
instituição de organizações estatais de caráter não tradicional, ou seja, fora das
funções típicas de governo como: segurança, fiscalização sanitária, educação, etc,
era a autarquia, pessoa jurídica de direito público, dotada de patrimônio próprio e
autonomia administrativa. Tendo em suas origens um caráter predominantemente
social, não é de surpreender que o BNH tenha assumido, em 1964, a forma de
autarquia. Fruto de um momento político que vivia o país, a criação do BNH como
autarquia e não como empresa pública ou sociedade de economia mista,
correspondia à concepção inicial do banco como uma agência estatal financiada
fundamentalmente com recursos fiscais e voltada para a produção de habitações
para as famílias mais pobres, do que um banco propriamente dito.24
Como principal agente da política habitacional do governo foi expressamente
proibido de operar diretamente em financiamento, compra e venda ou construção de
habitações, com isso obrigava-se o BNH, a recorrer em suas operações de rotina, a
intermediações de agentes promotores e financeiros para o planejamento e
21
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 102. 22
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 104. 23
ARAGÃO, José Maria. Ob. cit. p. 105. 24
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 109.
22
execução dos projetos habitacionais e comercialização das unidades produzidas (as
principais eram as COHABs).25
Vários eram os inconvenientes mercadológicos que restringiam a atuação do
BNH como principal banco financiador da política do SFH, as dificuldades iniciais
para a correção monetária das prestações dos financiamentos habitacionais em uma
conjuntura recessiva e de achatamento salarial (1968/70), os elevados índices de
inadimplência dos mutuários, as dificuldades de comercialização de unidades, o
freqüente abandono de habitações por compradores sem condições de pagamento
ou insatisfeitos com a qualidade da moradia passaram a constituir um grave
problema administrativo e político, afora isso existia também um forte
questionamento pela imprensa e dentro do próprio governo se o sistema imposto
estava dando o retorno esperado em função da relativa abundância de recursos
proporcionada pela FGTS (fluxos líquidos e crescentes de recursos) e pela
aceleração extraordinária do crescimento urbano naquele período. Desse modo o
governo se obrigou a reformular as linhas de atuação do BNH, mudando diretores,
presidentes e alterando também sua forma institucional, transformando-o em 1971,
através da lei n. 5.762, de 14.12.71, em empresa pública e em banco de segunda
linha. Dessa maneira passaria o banco a ser pessoa jurídica de direito privado o que
implicaria em sua perda da condição de imunidade tributária, figurando juridicamente
de maneira sui generis, pois deveria receber a rigor outra denominação, que não
sociedade anônima, porquanto nem é sociedade stricto sensu (totalmente do
governo federal), por não preencher o requisito de pluralidade estabelecido no artigo
1.363 do Código Civil, nem é anônima, por faltar-lhe também a configuração exigida
pela lei para este tipo de entidade, porque ao pertencer a único proprietário ela é
unipessoal.26
Mesmo com a permissão concedida pela lei n. 5.762/71, para uma posterior
transformação do banco em sociedade de economia mista, a abertura de seu capital
ao setor privado, não chegou a ser utilizada, (transformação em empresa pública)
em parte porque o BNH pelo menos até 1981/82, não enfrentou problemas de
escassez de recurso que tornassem necessária a participação de terceiro em seu
25
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 110. 26
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 114.
23
capital, mas, também, porque o tipo de atividades desenvolvidas pelo banco não
oferecia, por definição, lucratividade suficiente para atrair investidores privados.27
Neste aspecto, deve-se ter em vista, que o banco uma vez dotado com o
capital exclusivamente da União deveria, evidentemente, refletir as prioridades
políticas e administrativas do governo federal. Sob uma ótica da restrição legal da
atuação do BNH na produção e comercialização de habitações, constituiu uma
limitação importante à consecução dos objetivos da política habitacional para os
seguimentos de baixa renda, na medida em que deixou o banco inteiramente à
mercê dos governos estaduais e municipais para desenvolvimento e execução de
projetos nestas áreas. Estes governos por sua vez se não dessem prioridade aos
investimentos em habitação, através de seus órgãos atuantes (COHABs),
condenavam a atuação do BNH à inércia em seus territórios.28
Mesmo assim o reconhecido êxito do BNH/SFH na mobilização para setores
de habitação, saneamento básico e investimentos urbanos não elimina sua principal
limitação: a insuficiência ou inadequação de suas fontes de financiamento para
atender necessidades da população de baixa renda (até cinco salários mínimos).29
1.4 EXTINÇÃO DO BNH
No inicio de 1986, pouco antes da edição do plano cruzado, o quadro
vislumbrado pelo BNH apresentava condições para um incremento em suas
atividades, porque a recuperação da arrecadação liquida era crescente, melhoravam
os índices de retorno de créditos concedidos e crescia o fluxo de recursos externos
para os projetos de saneamento básico. Entretanto, decretado o plano cruzado, o
primeiro efeito imediato foi um aumento brutal nos saques de cadernetas de
poupança, ocasionando a queda dos rendimentos nominais o que refletia
sobremaneira nos recursos do SBPE; apesar de graves, esses não foram os únicos
problemas causados pelo plano que levaram a extinção do banco. O desequilíbrio
patrimonial causado pela edição do plano, em função da opção descabida do
governo de utilizar indexadores diferentes para correção de ativos e passivos, e
troca de índices da noite para o dia, levaram o BNH a ser a primeira instituição
27
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 115. 28
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 116. 29
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 129.
24
financeira brasileira a ter sua “falência decretada” por um instrumento legal e não
como resultante de desempenho operacional negativo. Considerando este quadro e
o interesse do governo, em repassar as atividades do setor da habitação para outros
agentes financeiros, como a Caixa Econômica Federal, o Banco Central e o CMN, o
BNH estava com seus dias contados. No dia 21.11.86, foi editado o decreto-lei n.
2.291, que pôs fim ao Banco Nacional da Habitação, e firmou um marco divisor na
política habitacional em nosso país, contudo, passa-se a um novo processo de
atuação do Sistema Financeiro da Habitação, que conta agora com a participação
da Caixa Econômica Federal, como principal agente.30
Nesse sentindo Valério31 (2002, p. 1) colaciona:
Com a extinção do BNH, que tinha a função de propiciar o financiamento para habitação, ficou, como órgão máximo no cumprimento da política habitacional, a Caixa Econômica Federal (CEF), atrelada às decisões do CMN. No Sistema Financeiro da Habitação encontram-se também as Caixas Econômicas Estaduais equiparadas, pelo art. 24 da Lei n. 4.380 de 21 de agosto de 1964 a CEF, além das Sociedades de Crédito Imobiliário.
1.5 O INÍCIO DA ADMINISTRAÇÃO DO SISTEMA DE POUPANÇA E CRÉDITO POPULAR.
Neste tópico será analisado, em parte, a história e evolução dos sistemas de
poupança e crédito popular, que na realidade em certos momentos confunde-se com
a história das caixas econômicas, instituição popular e com presença marcante em
diversos países inclusive no Brasil.
As caixas econômicas originaram-se no continente europeu, com uma
presença marcante sempre após os períodos de guerra (Guerras Napoleônicas, 1ª e
2ª Guerras Mundiais), em que para superar crises econômicas e auxiliar os países
devastados precisavam de um agente ativo em seu processo de reconstrução, de
captação de poupança e de fornecimento de crédito popular. Nos tempos atuais as
caixas econômicas ainda desempenham um papel importante como instrumento de
políticas governamentais, contudo, hoje enfrentam os efeitos de uma guerra de
mercado, produto da globalização.32
30
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. pp. 555/560 e 605/620. 31
VALÉRIO, Marco Aurélio Gumieri. Reforma regulatória e Sistema Financeiro Nacional. Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 59, out. 2002. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3333>Acesso em: 04 agosto 2008. 32
SILVA, Getúlio Borges da, Caixas Econômicas: A questão da função social – Rio de
Janeiro: Forense, 2004. p. 01.
25
No Brasil, as caixas econômicas também desempenharam um papel muito
importante para o desenvolvimento econômico e social. Embora, em seus primórdios
a lei tenha limitado ao mínimo suas atividades, foi a partir da década de 1930,
quando houve a primeira reforma, e especialmente na década de 1960, quando
houve a criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e a unificação das
caixas econômicas federais numa única empresa – a Caixa Econômica Federal -, a
poupança e o crédito popular passaram a ser fatores decisivos para a transformação
do país.33
1.6 EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO DOS FUNDOS DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇAO.
Com a edição do Decreto n. 2.723, a 12 de janeiro 1861, é criada a Caixa
Econômica da Corte. Em 1874, foram criadas as caixas econômicas das províncias,
que em 1889, com o advento da República, foram transformadas em Caixas
Econômicas Federais, instituições independentes com sedes nas capitais dos
Estados Brasileiros. Somente em 1970, ocorre o processo conhecido como
“unificação”, quando as 22 autarquias foram extintas, dando lugar a uma única
instituição financeira, a Caixa Econômica Federal – CEF.34
A criação do Sistema Financeiro da Habitação, pelo Governo Militar, teve um
impacto muito forte na vida financeira e empresarial brasileira, na medida em que
determinou a intervenção direta do governo federal no setor habitacional. Agentes
públicos e privados passaram a ser coordenados pelo BNH, tendo como prioridade
as construções de habitações de interesse social e geração de empregos. Com isso,
as caixas econômicas federais que até então concediam empréstimos hipotecários
sem preocupação com a destinação do dinheiro emprestado, passaram a direcionar
os seus recursos para a área habitacional.35
Com a transformação sofrida pelas caixas econômicas federais a partir da
criação do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), houve um incremento
extraordinário em suas atividades, pois, inúmeras funções de interesse público
foram sendo delegadas pelo governo federal, ao mesmo tempo em que o Banco
Central também lhes autorizava a realizar operações financeiras antes apenas
permitidas aos bancos comerciais. No entanto, no desempenho das funções
33
OLIVEIRA, Marcelo Celso de. Ob. cit. pp. 20/21. 34
SILVA, Ob. cit. pp. 85 a 87. 35
SILVA, Ob. cit. pp. 133 a 135.
26
delegadas pelo governo federal e realizando operações bancárias típicas, deixaram
a condição de agentes financeiros secundários na estrutura do Sistema Financeiro
Nacional e passaram a ocupar um espaço cada vez maior, exercendo um duplo
papel, como instituição bancária e órgão de execução de políticas públicas, atuando
tanto na área econômica quanto na área social. Em 1966, dois grandes fatores
influenciaram uma participação mais ativa do Sistema Financeiro da Habitação,
sendo uma delas a criação da correção monetária, com o objetivo de preservar o
valor dos depósitos em cadernetas de poupança e dos financiamentos habitacionais,
a outra foi a criação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, que se destinou a
formação de poupança individual e compulsória.36
Pelo Decreto-Lei n. 759 de 13 de agosto 1969, a Caixa Econômica Federal
teve sua criação autorizada. Foi uma espécie de carta de princípios que definiu a
natureza jurídica e as finalidades da instituição. No entanto, sua constituição jurídica
e estruturação operacional, como empresa pública, ocorreram através de seu
estatuto, editado pelo Decreto n. 66.303, de 06 de março de 1970. Dessa maneira,
foram extintas as 22 autarquias existentes e o Conselho Superior, que foram
substituídos por uma única instituição financeira, sob a forma jurídica de empresa
pública federal. A partir da unificação desapareceram as dificuldades legais que até
então haviam impedido a modernização dessa instituição em épocas anteriores
(Império, República Velha e Revolução de 1930).37
Com a extinção do BNH em 1986, o Banco Central assumiu a competência de
normatização e fiscalização, enquanto que ao Ministério da Habitação coube a
responsabilidade pelo planejamento e fixação de políticas para os setores
habitacional e de desenvolvimento urbano. A tarefa mais difícil foi assumida pela
Caixa Econômica Federal que no caso, foi a incorporação do ativo e passivo que
eram de competência do BNH. Num primeiro momento, esta tarefa que deveria ter
sido um grande negócio, pois passaria a CEF a ser depositária e administradora de
importantes fundos públicos, como FESA e FCVS. Na realidade, a gravidade dos
problemas dos ativos do BNH era tão grande que acabou colocando em risco a
própria sobrevivência da CEF, porque os subsídios concedidos aos devedores do
SFH, com a redução do valor das prestações, causou problemas de fluxo de caixa,
pois não havia retorno mensal do dinheiro aplicado. Afora isso, a incorporação de
36
SILVA, Ob. cit. pp. 137 a 141. 37
SILVA, Ob. cit. pp. 150 à 156.
27
carteiras de crédito imobiliário das instituições financeiras que estavam em processo
de liquidação extrajudicial deixou a CEF com sérios problemas contábeis. Esses
problemas podem ser resumidos da seguinte maneira: quando um contrato de
financiamento chegava ao final, mesmo com todas as prestações pagas, restava um
saldo devedor residual, cuja soma superava a capacidade de resgate pelo FCVS.38
1.6.1 O FCVS E A RESPONSABILIDADE PELO SALDO DEVEDOR.
Até a criação do Sistema Financeiro da Habitação, os financiamentos
habitacionais eram firmados pelas Caixas Econômicas e Institutos, com autorização
expressa da Presidência da República, e não continham cláusula de correção
monetária, esta última criada durante a gestão do Ministro do Planejamento: Roberto
de Oliveira Campos (1964-1967).39
O BNH era então responsável por orientar, disciplinar, e controlar o SFH,
além de financiar e refinanciar habitações por interesse social. Com o advento da
correção monetária, que foi instituída juntamente com o BNH pela Lei 4.380 de
1964, imaginou-se ser este mecanismo capaz de evitar possíveis desequilíbrios que
viessem a surgir durante o período de vigência dos contratos de financiamento
habitacional.40
Tal instrumento, porém, se mostrou inadequado em virtude de fatores tais
como instabilidade macroeconômica, predominância de variáveis sociais sobre as
regras de mercado e atuação dos legisladores buscando a ordem social em
detrimento da atividade econômica.41
Nos seus anos iniciais, o Sistema Financeiro da Habitação contava com
formulas de financiamento denominadas Planos “A”, “B” e “C”. Surgem então os
desequilíbrios no comportamento da evolução dos saldos devedores dos
empréstimos. As prestações pactuadas não mais seriam suficientes para adimplir os
contratos na sua totalidade, comprometendo-se assim a sua liquidação. Com isso,
tais “planos” não se apresentavam satisfatórios, já que não davam garantias ao
mutuários quanto a satisfação do débito, seja porque nos dois primeiro as
38
SILVA, Ob. cit. pp. 165 à 168. 39
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Secretaria-Geral das Sessões; Sessão Ordinária do Plenário, Ata n. 01 de 22 de janeiro de 2003, acórdãos de pauta n. 1 a 24, 29 e 30. p.115.
40 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Ob. cit. p.115
41 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Ob. cit. p.115
28
prestações não estavam atreladas aos salários, ou quanto ao último, o prazo era
prorrogado até a efetiva quitação do saldo, nunca se sabendo ao certo quando isso
ocorreria. Então para promover a correção deste desequilíbrio, foi lançado através
da Resolução 36, de 11 de novembro de 1969, o Plano de Equivalência Salarial –
PES, substituindo os Planos “A” e “C”. O Plano “B” passou a denominar-se Plano de
Correção Monetária – PCM. O PES de 1969, estipulava que a responsabilidade pelo
saldo devedor dos financiamentos contratados, seria assumida, em nome dos
mutuários, pelo FCVS, a partir daí determinou-se que o número de prestações
pactuadas seria fixo, bem como o reajuste das prestações seria realizado sessenta
dias após o aumento do salário mínimo e na mesma razão da variação deste, e
facultava-se ao mutuário pré-determinar o mês de reajustamento da prestação.42
1.6.2 O FCVS E O PASSIVO CRESCENTE DOS SALDOS DEVEDORES DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO.
Em decorrência da estagnação econômica, dos altos índices inflacionários e
das elevadas taxas de juros verificados durante a década de 80, o Governo Federal
concedeu sucessivos e cumulativos subsídios aos mutuários do SFH, ao permitir
que as prestações previstas nos contratos habitacionais não fossem majoradas com
base nas condições contratualmente pactuadas.43
Nesse período, merece destaque a edição do DL n. 2.065, de 26.10.83, o qual
produziu impacto direto nos saldos devedores dos financiamentos, na medida em
que proporcionou a redução das obrigações dos adquirentes de moradia própria e,
conseqüentemente, imputou ao FCVS a responsabilidade pelo pagamento desses
benefícios. Deve ser ressaltado, por oportuno, que a assunção desses
compromissos ocorreu ao longo do tempo sem a imprescindível cobertura de
recursos orçamentários. As sucessivas postergações do pagamento das obrigações
do Fundo foram também decisivas ao atingimento do nível de desequilíbrio ora
existente entre o ativo e o passivo do FCVS.44
42
ARAGÃO, José Maria, Sistema Financeiro da Habitação: uma análise sócio- jurídica da gênese, desenvolvimento e crise do sistema. 2. ed. / Curitiba: Juruá, 2001. pp.282 a 286.
43 CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, Relatório de Gestão FCVS 2005, Disponível em
<http//www.caixa.gov.br/downloads/relatorios/pdf>. Acesso em: 10 de setembro de 2008. 44
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, Organograma do Fundo de Compensação das Variações Salariais, Disponível em <http//www.caixa.gov.br/downloads/relatorios/pdf>.Acesso em: 10 de setembro de 2008.
29
Assim, o FCVS, que foi criado em 1967 (Resolução n. 25 de 16 de junho
1967), com o propósito de liquidar eventuais saldos devedores residuais, passou a
assumir, desde aquela época, responsabilidades crescentes, incompatíveis com o
seu patrimônio e seu fluxo de caixa, acarretando, como conseqüência, o acúmulo da
dívida ao longo do tempo. O DL n. 2.164, de 19.9.84, ao conceder subsídio de 10%
a 25% aos mutuários, mediante a emissão de bônus pelo BNH, estabeleceu que,
para os contratos firmados a partir daquela data, o FCVS ressarciria os saldos
devedores em parcela única. Já o DL n. 2.291, de 21.11.86, autorizou a concessão
de novo subsídio e estabeleceu que a dívida seria liquidada no prazo de cinco anos.
O DL n. 2.406, de 5.1.88, autorizou a concessão de mais subsídio e prorrogou o
prazo de pagamento da dívida por mais cinco anos. Além da assunção dos
compromissos decorrentes dos subsídios acima mencionados, o FCVS, com a
edição do DL n. 2.476, de 18.09.88, passou também a garantir o equilíbrio do seguro
habitacional do SFH em todo o território nacional. A liquidação da dívida do FCVS foi
mais uma vez prorrogada quando da edição da Lei n. 8.004, 15.3.90, que, ao
conceder novos subsídios, determinou que o Fundo quitaria os saldos de sua
responsabilidade no prazo de 10 anos com 3 anos de carência. Por oportuno
ressalte-se que todos os mecanismos (Leis e Decretos) editados pelo Governo
durante todos estes anos tiveram somente o intuito de arrolar esse passivo
crescente do sistema habitacional, protegendo assim os recursos públicos.45
Cabe observar que todos os normativos que estabeleceram prazos para
ressarcimento dos saldos de responsabilidade do FCVS asseguram aos credores
(agentes financeiros) o reajuste mensal das dívidas, tendo por base o mesmo índice
utilizado para corrigir depósitos de poupança, e juros adicionais calculados à taxa do
contrato original. Em meados da década de 90, o Governo Federal, objetivando
equacionar esse significativo passivo contingente, decidiu pela novação das dívidas
do FCVS.46
Assim, foi elaborado projeto de Medida Provisória, que se transformou na MP
no 1.520/96, a qual foi convertida na Lei n. 10.150, de 21.12.2000, autorizando a
União a novar tais dívidas, após a prévia compensação entre débitos originários de
contribuições devidas pelos agentes financeiros ao Fundo e créditos decorrentes
dos resíduos apurados dos contratos, condicionado, ainda, ao pagamento das
45
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Ob. cit. p.115 46
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 597
30
demais dívidas no âmbito do SFH. Por meio da novação, o pagamento da dívida do
FCVS será efetuado no prazo de 30 anos, contados a partir de 1.1.97. Em relação à
inadimplência dos mutuários, cabe expor uma peculiaridade da cobertura do FCVS:
a proteção é para o mutuário e não para o Agente Financeiro; caso o mutuário esteja
inadimplente, em nada interfere na cobertura, sendo um problema entre as partes.
No caso de o Agente Financeiro estar inadimplente com suas obrigações perante o
FCVS, seus créditos não poderão ser novados até a regularização da situação. Ou
seja, a operação real do FCVS funciona da seguinte maneira: ao final do prazo do
contrato de financiamento habitacional concedido o mutuário que tenha contribuído
para o FCVS, e que tenha saldo devedor residual, este saldo é habilitado pelo
agente financeiro junto ao FCVS, que após os descontos do que estes devem para o
FCVS, é pago em títulos da dívida pública. Na verdade o FCVS foi autorizado a, se o
agente financeiro quisesse, considerar os contratos em andamento, firmados antes
de 31 de dezembro de 1987, como se contratos findos fossem, e a partir daí o
agente financeiro poderia receber o valor do saldo devedor do FCVS, mas primeiro
teria que pagar o que deve para o próprio FCVS e para o SFH como um todo.47
Atualmente compete à Caixa Econômica Federal – CEF – a administração do
FCVS, conforme disposto na Portaria n. 48, de 11/05/1988, do Ministério da
Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente – MHU, e no Decreto n. 4.378, de
16/09/2002. A gestão do Fundo compete ao Ministério da Fazenda, por intermédio
do Conselho Curador do FCVS – CCFCVS, conforme Leis n. 7.739, de 16/03/1989,
e n. 10.150, de 21/12/2000, e Decreto n. 4.378, de 16/09/2002. Este fundo tem como
objetivos básicos:
- garantir o limite de prazo para a amortização das dívidas contraídas pelos
adquirentes de unidades habitacionais, no âmbito do Sistema Financeiro da
Habitação – SFH, respondendo pela cobertura dos saldos devedores residuais aos
Agentes Financeiros quando do término dos contratos habitacionais em relação aos
quais tenha havido, quando devida, contribuição ao FCVS;
- responder pelo ressarcimento dos descontos concedidos pelos Agentes
Financeiros do SFH aos mutuários finais, cujos financiamentos tenham cobertura do
FCVS;
47
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Ob. cit. p. 125.
31
- garantir o equilíbrio do Seguro Habitacional – SH, do Sistema Financeiro
Nacional, em todo o território nacional, permanentemente, assim como as
obrigações de crédito do extinto Seguro de Crédito do SFH.48
Assim os contratos firmados até 31 de dezembro de 1987, foram quitados
pela Lei n.10.150/00, de forma antecipada. E os contratos que ainda estão vigentes,
ao final do prazo devem ser liquidados pelo FCVS. Vale ressaltar que o FCVS, a
partir da Lei n. 8.692 de 28 de julho de 1993, que criou o Plano de
Comprometimento de Renda – PCR, extinguiu a responsabilidade do fundo para
novos contratos de imóveis destinados a famílias de baixa renda, sendo que a partir
de 1987, já estava extinta a possibilidade de cobertura para os imóveis de famílias
de renda média alta. O que ocorre é que a partir de 1987, com a extinção da opção
pelo FCVS, os novos contratos já não previam em sua ampla maioria essa
cobertura, ficando os mutuários como responsáveis pela integralidade do saldo
devedor existente ao final do prazo contratual.49
1.7 A TRANSFERÊNCIA DA RESPONSABILIDADE DO SH PARA O FUNDO DE EQUALIZAÇÃO DA SINISTRALIDADE DA APÓLICE DE SEGURO HABITACIONAL - FESA
Com a extinção do BNH, em 1986, a administração do Seguro Habitacional foi
avocada pela IRB – Instituto de Resseguros do Brasil, atual IRB – Brasil Resseguros
S/A. Sob a responsabilidade do IRB, os recursos do SH passaram a integrar o
Fundo de Equalização da Sinistralidade da Apólice – FESA, em substituição ao
Fundo de Compensação Global de Desvios de Sinistralidade – FCDS. Nos termos
do art. 2º, inciso I, do Decreto-Lei n. 2.476/88, ao FCVS atribuiu-se a
responsabilidade de garantir o equilíbrio do Seguro Habitacional do SFH,
permanentemente a nível nacional.50
Em 31/07/2000, foi publicada a portaria n. 243/00 do gabinete do Ministro da
Fazenda, que transferiu à Caixa Econômica Federal os saldos da reserva técnica do
Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação, os recursos do SH/SFH
registrados na subconta específica do FCVS (FESA – portaria n. 569/93, MF) e todo
48
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. p. 451. 49
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. pp. 450 à 452. 50
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Ob. cit. p. 128.
32
e qualquer recurso desse seguro em poder da IRB – Brasil – Re, bem como
transferiu à CAIXA as funções administrativas do SH que ao IRB cabiam.
Concluí-se que atualmente a CEF exerce as atividades que antes cabiam ao
IRB, referentes ao Seguro Habitacional, ou seja, ficou responsável pelo equilíbrio da
apólice de seguro habitacional do SFH, em detrimento da administração da subconta
específica do FCVS, chamada de FESA. Afora isso, a CEF também exerce as
funções que antes eram atreladas ao BNH, sendo hoje o órgão máximo dentro do
SFH, subordinado somente ao Ministério da Fazenda e ao CMN.
A atual apólice de Seguro Habitacional do SFH é a aprovada pela Circular n.
111 de 1999 da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados), que passou a
vigorar em 1º de janeiro de 2000. Esta apólice compreende as condições especiais
do Seguro Habitacional, as condições particulares de cada risco segurado (I - Riscos
de danos físicos, II - Riscos de morte e invalidez permanente e III - Riscos de
responsabilidade civil do construtor) e as normas e rotinas aplicáveis à cobertura
compreensiva especial do seguro habitacional do SFH.51
O FCVS é responsável pelo equilíbrio da Apólice de Seguro Habitacional –
ASH, de todos os contratos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da
Habitação - SFH, com ou sem cobertura deste Fundo, quando o mutuário não optar
pela substituição da apólice, conforme descrito na Lei n. 10.150, de 21 de dezembro
de 2000, que estatui em seu art. 23 que os contratos firmados no SFH, sem
cobertura do FCVS, poderão, a critério da instituição financiadora, ser novados entre
as partes, ficando os Agentes Financeiros autorizados a propor a mudança da
apólice de cobertura do contrato habitacional para os seus mutuários, saindo do SH
para uma apólice privada. Como limitante, foi definido que tal procedimento só
poderia ser realizado uma única vez, para evitar migrações de apólice que apenas
atendessem ao interesse das companhias seguradoras associadas aos Agentes
Financeiros, ou mesmo para coibir a mudança da apólice quando do conhecimento
de sinistro pela seguradora. Tal procedimento de migração da apólice visa reduzir o
valor dos prêmios de seguro oferecidos aos mutuários, reduzindo o valor da
prestação mensal. Cada mutuário pode ter o valor do prêmio equivalente calculado
51
SUSEP: Superintendência de Seguros Privados. Circular N. 111, de 03 de dezembro de 1999. Dispõe sobre as Condições Especiais, Particulares e as Normas de Rotinas para a Apólice de
Seguro Habitacional do Sistema Financeiro de Habitação – SFH e dá outras providências. Publicado em: 07/12/1999. Disponível em: <http://www.susep.gov.br/menubiblioteca/biblioteca.asp>. Acesso em: 02 nov. 2008.
33
tendo por base suas características pessoais e as características do imóvel
segurado (localização, padrão construtivo etc.).52
Operacionalmente, quando da implantação do Sistema Financeiro da
Habitação – SFH, verificou-se não ser viável a assinatura de uma apólice de seguro
individualizada para cada contrato, assim, foi criada uma apólice única, englobando
todos os contratos com cobertura pelo SH. Com o intuito de aumentar a capilaridade
do seguro, delegou-se competência a consórcios de companhias seguradoras para
efetuar o recolhimento dos prêmios e pagamento de sinistros, pagando-se uma taxa
de administração definida pelo Ministério da Fazenda. As companhias seguradoras
responsáveis pelo recebimento dos prêmios e pagamento de sinistros recebem uma
taxa de 7,1 % (percentual definido pela Portaria n. 235, do Ministro de Estado de
Fazenda). Desses prêmios recebidos pelas seguradoras após a retenção da parte
que lhes cabe, repassam o restante à CEF para a composição do FESA. O FESA é
uma subconta do FCVS, que enquanto este é um fundo denominado pela maioria
das literaturas como deficitário, aquele é sempre colocado como superavitário.53
Durante o exercício de 2001, o Seguro Habitacional teve um superávit de
R$ 67.173.075,85 (sessenta e sete milhões, cento e setenta e três mil, setenta e
cinco reais e oitenta e cinco centavos), menor do que o experimentado em 2000,
que superou a cifra de R$ 150 milhões.54
O Seguro Habitacional, como seguro obrigatório, é pago juntamente com a
prestação devida ao SFH, e ao longo do tempo, acumulou um superávit de R$ 2,4
bilhões (dados de 2003), resultante da relação favorável sinistro/prêmio válida para a
maior parte dos contratos e da aplicação de suas reservas no mercado financeiro.
Hoje este tipo de seguro movimenta anualmente algo em torno de R$
500.000.000,00 (quinhentos milhões de reais).55
Analisando os números do Seguro Habitacional, podemos apreender ser o
mesmo superavitário, apesar de esta tendência não ser a esperada a longo prazo. A
liquidação antecipada de contratos antigos, cuja relação sinistro/prêmio se mostra
52
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Ob. cit. p. 128 53
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Comissão Parlamentar de Inquérito. Sistema Habitacional do Estado de Pernambuco (CPISH-PE). Relator Dep. Sílvio
Costa. 2005. p. 34. 54 DURIGAN, P.L. SFH: a prática jurídica. ebook. Disponível em <http://www.apriori.com.br/
artigos/sfh.pdf>. Acesso em: 03 de outubro de 2008. 55
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Comissão Parlamentar de Inquérito. Sistema Habitacional do Estado de Pernambuco (CPISH-PE). Relator Dep. Sílvio
Costa. 2005. p. 34.
34
desfavorável, aliada à mudança da apólice (novação) de uma parcela significativa de
mutuários têm força para desestabilizar este superávit.56
Então nota-se que apesar desses fundos terem garantia pública, e o FCVS,
ter um déficit potencialmente vultoso, decorrente de saldos devedores residuais e o
Tesouro Nacional já ter quitado parte desta cifra, o FESA, por outro lado trabalha
com os recursos que lhe são próprios, oriundos da parcela da prestação paga pelo
mutuário à titulo de seguro, sem a necessidade da intervenção do erário público.
A partir desta observação nota-se o caráter eminentemente privado dos
recursos que compõem este fundo, e de acordo com as considerações feitas na
Decisão Monocrática do Agravo de Instrumento do Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná:
Enquanto entidade gestora do Sistema de Habitação (Portaria n. 243/00 do Ministério da Fazenda), a CEF apenas administra os valores pagos aos beneficiários do seguro habitacional, extraídos, em principio, do Fundo de Equalização de Sinistralidade da Apólice do Seguro Habitacional – FESA, composto de recursos privados e que representa mera sub-conta do Fundo de Compensação de Variações Salariais – FCVS (art. 1º , caput e parágrafo único, da Portaria n. 243, c/c art. 3º, § 9º, da Lei n. 10.150/00).
57
Conforme outro Agravo de Instrumento do TJPE:
Ante as fortes razões anteriormente expostas, é de ser afastado o alegado interesse da empresa pública federal na demanda e, consequentemente o reconhecimento da competência da Justiça Estadual para processar e julgar a lide existente no feito originário.
58
Verifica-se com estas decisões o caráter controverso existente na
determinação da competência para processar e julgar processos que envolvem o
Seguro Habitacional no SFH.
Assim, após discorrido sobre a criação e evolução do sistema financeiro da
habitação e dando continuidade a formação teórica básica do tema proposto, passa-
se a apresentar o conteúdo do segundo capítulo, ou seja, a formação dos contratos
de seguros e especificamente o seguro habitacional do sistema financeiro da
habitação.
56
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, Ob. cit. p. 130 57
Decisão Monocrática proferida nos Autos de Agravo de Instrumento n. 2008/473770-8, 10ª Câmara Cível do TJPR, relator o Dês. Arquelau Araújo Ribas, em 14/03/2008.
58 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Agravo de Instrumento n.
146.253-9, Relator o Dês. Lucio Grassi de Gouveia, em 02/01/2007. TJPE, 1ª Câmara Cível.
35
CAPÍTULO II
2 SEGUROS NO BRASIL
Em termos históricos, a figura do seguro no Brasil é recente, logicamente
aperfeiçoou-se com o passar do tempo, mesmo que muito lentamente. Além disso,
durante muito tempo as seguradoras nacionais não podiam garantir grandes
contratos, e por isso recorriam à seguradoras estrangeiras. Então depois de mais de
um século do inicio da atividade securitária no país, é que foi criado um órgão (IRB)
que viria a garantir a nacionalização dos contratos de seguro, para que o mercado
de seguros brasileiro pudesse se desenvolver.
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO SEGURO NO BRASIL
O início da história dos seguros no Brasil, situa-se por volta da independência
do país, mais acertadamente com a chegada da Família Real Portuguesa (1808),
que em um período inicial compreende a fase de implantação das primeiras
seguradoras no país, com base nas leis portuguesas e nos subsídios da cultura
jurídica européia. Após sua chegada, o Príncipe Regente de Portugal assinou um
importante ato de abertura de nossos portos ao comércio com o estrangeiro. Foi
nesta época que autorizou o estabelecimento da primeira companhia de seguros do
Brasil, com sede na Bahia (Companhia de Seguros Boa-Fé).59
Com a promulgação do Código Comercial em 1850, iniciou-se a segunda fase
do seguro em nosso país, correspondendo a um período de expansão, o Estado
passou a exigir prévia autorização para funcionamento das Companhias de Seguro,
onde o ramo de seguros se disseminou das operações marítimas para a terrestre, de
vida e de incêndio (uma delas se propunha a segurar bilhetes das loterias do Estado
sendo posteriormente cassada sua autorização sobre o fundamento de que o seguro
indeniza perda eventual e não pode ser meio de obter lucro). Para se ter uma idéia
no período entre 1850 e 1916, surgiram no país 133 companhias nacionais e 45
estrangeiras. As companhias estrangeiras trouxeram a prática de seus
59 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. O contrato de seguro no direito brasileiro. Niterói:
Frater et Labor, 2000. pp. 17/18.
36
conhecimentos, como não havia legislação específica para o seguro terrestre no
Brasil, implantaram as normas contratuais de suas apólices originais, traduzidas
para o português. Assim, as condições gerais dos contratos de incêndio, transportes,
vida etc. eram a tradução das apólices inglesas, alemãs, italianas, de onde provinha
a maior parte das seguradoras estrangeiras. Nem sempre se conformavam suas
exigências com os princípios jurídicos estabelecidos em nosso país, gerando
conflitos, levados ao judiciário que, por sua vez, carecia de normas específicas, e
aplicava aquilo que lhe parecia mais condizente com nossa tradição jurídica. Apesar
de o Código Civil ter disciplinado os seguros terrestres de coisas e pessoas, a
legislação nacional ainda dependia em muito de uma regulamentação.60
O primeiro regulamento das operações de seguro ocorreu em 1.895 (Decreto
294), aplicava-se às companhias estrangeiras que operavam com o seguro de vida,
e estas como não aceitaram a regulamentação preferiram encerrar suas atividades
no país. No mesmo caminho foi baixado, em 1901, o Decreto n. 4.270 (conhecido
como regulamento Murtinho), ampliando as normas de fiscalização a todas as
companhias de seguros nacionais e estrangeiros, qualquer que fosse o ramo de
atuação.61
Em virtude do monopólio exercido pelas seguradoras estrangeiras dentro do
território nacional, as seguradoras brasileiras ficavam a mercê da aceitação dos
contratos por aquelas, pois as seguradoras nacionais não tinham condições de
garantir grandes contratos, então repassavam-nos para as companhias estrangeiras,
ficando assim impedidas de um desenvolvimento mais sólido, pois os recursos
arrecadados eram transferidos para as matrizes no exterior. Preocupado com esta
situação o governo resolveu restringir este fluxo de dinheiro para o exterior, editando
um novo regulamento (Decreto n. 2.063 de 07.03.1940), que determinava prazo para
as companhias estrangeiras nacionalizarem-se ou cessar suas operações em
território nacional. Preceitos estes que não chegaram a acontecer por força da
Constituição de 1.946, que não incluiu uma exigência de nacionalização das
companhias estrangeiras.62
Marco importante da história de seguros no Brasil, foi a edição do Decreto Lei
n. 1.805, de 27.11.1939, que criou o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil).
60 ALVIM, Pedro. O contrato de seguro. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1999. pp. 48/52. 61
ALVIM, Pedro. Ob. cit. p. 54. 62
ALVIM, Pedro. Ob. cit. p. 54.
37
Principal instrumento de política securitária nacional, este órgão foi criado para
fortalecer as seguradoras nacionais através de diversas medidas, inclusive o
resseguro automático. Agora, mesmo as seguradoras de pequeno porte poderiam
operar grandes contratos, pois o excesso de sua capacidade seria transmitido
automaticamente para o ressegurador.63
No ano de 1966 ocorreu a grande reforma do setor de seguros no Brasil,
através do Decreto lei nº. 73/66, foi criado o Sistema Nacional de Seguros Privados,
composto pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNPS), pela
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), pelo Instituto de Resseguros do
Brasil (IRB) e pelos corretores e seguradoras.64
O conselho (CNSP) tem uma competência muito ampla, pois pode interferir
em todos os setores empresariais, técnicos ou de gestão; fixando as diretrizes e
normas da política de seguros privados; regula a constituição, organização,
funcionamento e fiscalização dos que exercem atividades subordinadas ao
regulamento; estabelece as características gerais dos contratos de seguros, os
limites técnicos etc.65
O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) é o órgão normativo das atividades securitícias do país, foi criado pelo Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, diploma que institucionalizou, também, o Sistema Nacional de Seguros Privados, do qual o citado Colegiado é o órgão de cúpula. A principal atribuição do CNSP, na época da sua criação, era a de fixar as diretrizes e normas da política governamental para os segmentos de Seguros Privados e Capitalização, tendo posteriormente, com o advento da Lei nº 6.435, de 15 de julho de 1977, suas atribuições se estendido à Previdência Privada, no âmbito das entidades abertas. Conforme disposto no Art. 1º da Lei nº 8.392, de 30 de dezembro de 1991, o CNSP teve o prazo da vigência para funcionar como órgão Colegiado, prorrogado até a data de promulgação da Lei Complementar de que trata o Art. 192 da Constituição Federal. O CNSP tem se submetido a várias mudanças em sua composição, sendo a última através da edição da Lei nº 10.190, de 14 de fevereiro de 2001, que lhe determinou a atual estrutura.
66
63
ALVIM, Pedro. Ob. cit. pp. 55/56. 64
ALBUQUERQUE, J. B. Torres. O seguro no direito brasileiro. São Paulo: Edijur, 2003.
pp.18/19. 65
ALVIM, Pedro. Ob. cit. pp. 57/58. 66
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Link do CNSP, serviços Disponível em:<http://www.fazenda.gov.br/portugues/orgaos/cnsp/cnsphist.asp>. Acesso em: 09 de agosto 2008.
38
A Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) é o órgão executor das
medidas adotadas pelo conselho, podendo, para tanto, baixar instruções e expedir
circulares relativas à regulamentação das operações de seguros. Tem como
principal função a fiscalização das seguradoras.67
A SUSEP é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, foi criada pelo Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, que também instituiu o Sistema Nacional de Seguros Privados, do qual fazem parte o Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP, o IRB Brasil Resseguros S.A. - IRB Brasil Re, as sociedades autorizadas a operar em seguros privados e capitalização, as entidades de previdência privada aberta e os corretores habilitados. Com a edição da Medida Provisória nº 1940-17, de 06.01.2000, o CNSP teve sua composição alterada.
68
O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) é um órgão de operação limitada à
faixa de resseguros. Não interfere nas operações diretas de aceitação de negócios,
de exclusividade das seguradoras. Em outras palavras, as seguradoras contratam
com os segurados, emitindo as apólices. O IRB recebe das seguradoras o excesso
de sua responsabilidade, segundos critérios preestabelecidos em normas referentes
a cada ramo de seguros.69
O Instituto de Resseguros do Brasil (hoje IRB-Brasil Re) é uma sociedade anônima de economia mista, foi criado em 1939 pelo então presidente Getúlio Vargas com objetivo bem delineado: fortalecer o desenvolvimento do mercado segurador nacional, através da criação do mercado ressegurador brasileiro. A medida pretendia ainda aumentar a capacidade seguradora das sociedades nacionais, retendo maior volume de negócios em nossa economia, ao mesmo tempo em que captaria mais poupança interna.
70
Para complementar saliente-se que o dispositivo constitucional, que
assegurava ao IRB o monopólio das operações de resseguros, foi modificado. Como
já citado transformou-se em sociedade anônima, com a denominação IRB-Brasil
Re.71
67
ALVIM, Pedro. Ob. cit. p. 58. 68
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Link da SUSEP, serviços Disponível em:<http:// www.susep.gov.br/menususep/apresentacao_susep.asp>Acesso em: 09 de agosto 2008.
69 ALVIM, Pedro. Ob. cit. p. 58.
70IRB BRASIL RE. Instituto de Resseguros. Disponível em: <http://www2.irb-
brasilre.com.br/site/>Acesso em: 08 de agosto 2008. 71
ALVIM, Pedro. Ob. cit. p. 58.
39
2.2 O CONTRATO DE SEGURO
Inicialmente se faz necessário conceituar os contratos de forma geral, para
depois entrar no mérito do contrato securitário que é uma das várias espécies de
contratos.
Nesse sentido, Diniz aduz que o contrato constitui uma espécie de negócio
jurídico, de natureza bilateral ou plurilateral, dependendo, para a sua formação, do
encontro da vontade das partes, por ser ato regulamentador de interesses
privados.72
O contrato de seguro requer conhecimentos específicos, trata-se de instituto
que coaduna com o direito social e tem relevante intervenção do estado. O código
civil disciplina a matéria em 46 artigos, compreendendo as disposições gerais, o
seguro de dano e o seguro de pessoa.73
2.2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Atualmente o contrato de seguro está delineado no Código Civil, do artigo 757
ao 802, Diniz ao interpretar o Art. 757 do CC, conceitua o contrato de seguro,
vejamos abaixo:
O Contrato de seguro é aquele pelo qual uma das partes (segurador) se obriga para com outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a garantir-lhe interesse legítimo relativo a pessoa ou a coisa e a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros, previsto no contrato.(CC, art. 757; RSTJ, 106:225).
74
Extraí-se do conceito anteriormente citado, alguns elementos do contrato
securitário. O primeiro deles diz respeito às partes, segurador e segurado.
Segurador é aquele que mediante o recebimento de um prêmio assume a garantia
de um ou de vários riscos previstos na apólice e passa a ter como contraprestação a
garantia de que irá indenizar no caso de ocorrência do sinistro. Importante frisar que
somente pode ser parte no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal
fim legalmente autorizada, já a outra parte no contrato de seguro, o segurado, é
72
DINIZ, Maria Helena. Direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações contratuais e
Extracontratuais. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 3. p. 23. 73 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2003. v. 3. p. 375. 74 DINIZ, Maria Helena. Ob. cit. p. 488.
40
aquele que mediante o pagamento de um prêmio repassa para o segurador o risco
contratado.75
Outro elemento que se pode extrair do conceito securitário é o objeto do
contrato. A doutrina diverge sobre o assunto, porém, segundo Venosa, a
interpretação mais atual é a esculpida no art. 757 do CC, onde o legislador aduz que
o objeto do contrato de seguro é garantir interesse legítimo do segurado relativo a
pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. Sendo assim, o legislador adotou
a mesma posição de grande parte da doutrina, que o objeto do contrato de seguro é
o interesse segurável, esse interesse representa uma relação econômica ameaçada
ou posta em risco, nesse contexto, qualquer conteúdo do patrimônio ou até mesmo
atividade humana pode ser objeto do seguro. Nesse vértice, há de se observar que
sobre um mesmo bem podem incidir vários interesses seguráveis, por exemplo,
sobre um mesmo automóvel pode ser contratado seguro contra perda ou
deterioração da coisa, bem como seguro contra danos causados a terceiros.76
O risco por sua vez, é elemento característico do contrato de seguro, diz
respeito a um acontecimento futuro e incerto, que pode causar dano ao interesse
segurável. Quando este dano ocorre, a técnica securitária o denomina de sinistro.
Esses riscos devem estar previstos na apólice (Art. 760 do Código Civil), até mesmo
porque o contrato de seguro tem uma interpretação restrita, não admitindo a
cobertura de riscos que não estejam contemplados na apólice.77
Por último, extraí-se do conceito de seguro o elemento remuneração, que se
apresenta na forma de um prêmio, representando a parte pela qual o contratante
ingressa na mutualidade de segurados. O prêmio propicia a formação de um fundo
englobador de recursos, com o qual se faz o pagamento das indenizações quando
da materialização dos riscos previstos na apólice.78
2.2.2 NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE SEGURO
O contrato de seguro, para que possa produzir os efeitos desejados pelas
partes, deve obedecer aos princípios e pressupostos de validade inerentes à
75 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Ob. cit. pp. 45/48. 76 VENOSA, Sílvio de Salvo. Ob. cit. pp. 381/382. 77
VENOSA, Sílvio de Salvo. Ob.cit. pp.382/383. 78 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Ob. cit. p. 57.
41
qualquer contrato, tais como, “autonomia da vontade limitada pela supremacia da
ordem pública, relatividade das convenções, força vinculante do contrato,
capacidade das partes, licitude do objeto e forma prescrita em lei”. Aliado a isso, é
importante precisar a natureza jurídica dos contratos securitários, a fim de evidenciar
as suas características com o objetivo de diferenciá-lo dos demais contratos, bem
como para identificar os seus efeitos na seara jurídica.79
Várias são as doutrinas que classificam a natureza jurídica dos contratos de
seguro. Para Venosa, o contrato de seguro é bilateral, oneroso, aleatório,
consensual, de adesão, de boa-fé qualificada e de execução continuada:
Bilateral – Porque gera obrigação aos dois contratantes, tendo em vista que o
segurado tem o dever de pagar o prêmio e por sua vez a seguradora tem a
obrigação de indenizar o segurado, caso ocorra o sinistro previsto na apólice.80
Oneroso – Porque ambas as partes procuram obter vantagem patrimonial
com a celebração do contrato, o segurado, visa obter proteção contra o risco, a
seguradora, receber o pagamento do prêmio e indenizar o valor previsto na apólice
no caso de ocorrência de sinistro.81
Aleatório – Tendo em vista não haver equivalência entre as prestações, o
segurado ao pagar o prêmio não pode prever o que receberá em troca da sua
prestação, até mesmo porque o segurador assume um risco, que pode ocorrer ou
não, daí a aleatoriedade desse contrato.82
Consensual – Porque embora a legislação vigente expresse que o contrato de
seguro não obriga enquanto não reduzido a termo, a doutrina é homogênea em
considerá-lo consensual, tendo em vista que essa formalidade não é da substância
do ato, tendo apenas caráter probatório. O seguro surge do acordo de vontades, a
prática tem demonstrado que as partes freqüentemente dispensam as formalidades
legais, sendo sua formalização hoje concluída por telefone, fac-símile, correio
eletrônico e outros meios informatizados, sendo a apólice encaminhada
posteriormente.83
79 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Ob.cit. p. 28. 80 DINIZ, Maria Helena. Ob. cit. p. 491. 81 BONATTO, Maura de Fátima; VIEIRA, Cristiane Maria. O Seguro brasileiro e sua prática
nos dias atuais. São Paulo: LED, 2000. pp. 36/37. 82 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. Campinas: LZN, 2002a. p. 8. 83 VENOSA, Silvio de Salvo. Ob. cit. p. 378.
42
De Adesão – As cláusulas do contrato securitário já estão previamente
estipuladas, cabendo ao contratante aderir ou não ao contrato, a interpretação no
caso de obscuridade ou contradição deve sempre favorecer ao aderente/segurado,
por força do art. 423 do Código Civil.84
Boa-fé qualificada – Os contratos em geral são regidos pelo princípio basilar
da boa-fé, no contrato de seguro essa boa-fé é posta em evidência, tendo em vista
que é de suma importância as declarações exatas do segurado na hora da
contratação do seguro, bem como do segurador. Até mesmo porque, o contrato
securitário é baseado no risco, se no tempo da contratação o segurado omite
alguma informação sabendo que impediria ou oneraria o contrato, agiu com má-fé.
Aliado a isso, o art. 765 do Código Civil é claro ao expressar que:
O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na
execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto
como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.85
De execução continuada – O contrato de seguro deve perdurar algum tempo,
mesmo que seja um lapso temporal exíguo, pois seu intuito é o de proteger o bem
ou a pessoa.86
2.3 AS ESPÉCIES DE SEGURO
O contrato de seguro é utilizado para garantir interesse legítimo do segurado
e no caso de ocorrência de sinistro, indenizá-lo nos moldes da apólice, tendo em
vista que qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica, está sujeita a sofrer danos.
Nos dias atuais, o ramo securitário se adaptou ao mercado e se difundiu em várias
espécies securitárias, desta forma é salutar frisar que é possível segurar bens
economicamente apreciáveis, como um carro, uma casa, um prédio, etc, bem como
bens que não detém natureza econômica, mas da mesma forma estão sujeitos a
riscos. Como exemplo destes bens estão, a vida, a integridade física e até mesmo a
integridade moral.87
Nesse entendimento, observa-se que o ramo securitário está inserido nos
mais amplos seguimentos da sociedade. Encontra-se seguro de perna de jogador de
84 ALBUQUERQUE, J. B. Torres. Ob. cit. pp. 32/33. 85 VENOSA, Sílvio de Salvo. Ob. cit. 380/381. 86
DINIZ, Maria Helena. Ob. cit. p. 491. 87
ALVIM, Pedro. Ob. cit. pp. 215 à 217.
43
futebol, de plataformas de petróleo, de satélites artificiais, bem como tantos outros
seguros existentes. Nesse contexto surgiu o seguro habitacional, que é um seguro
obrigatório, instituído por lei, e foi criado com o intuito de atender os anseios sociais,
da observação necessária de proteger o patrimônio investido nos planos
habitacionais, bem como proteger o patrimônio das pessoas que financiam os
imóveis. 88
Como demonstrado, o conceito de seguro, embora seja unitário, fragmenta-se
em múltiplas modalidades, sempre com característica de reparação ou
compensação do dano, nesse sentido colaciona-se trecho da obra do Doutrinador
Venosa, vejamos:
Como Visto, todo interesse apreciável pode ser segurado. Dentro das categorias básicas, podem ser encontradas centenas de modalidades de seguro, desde o seguro de vida até o sofisticado seguro de comunicações via satélite.
89
Tendo em vista a existência de múltiplas modalidades de seguros, a doutrina
classifica esse contrato de várias maneiras. Porém, visto que o Código Civil adotou a
postura de analisar o seguro de duas formas, seguro de dano e seguro de pessoa,
essa é a classificação mais aceita atualmente.
2.3.1 SEGURO DE DANO
Para que se faça uma melhor diferenciação entre seguro de dano e seguro de
pessoa, importante se faz conceituar esses dois institutos, cada qual em seu
respectivo tópico, sendo assim, colaciona-se trecho da obra de Oliveira:90
O seguro de dano possui caráter indenizatório, visando a reparar prejuízos materiais decorrentes (sic) de determinado dano ocorrido. Deve ser realizado levando-se em consideração o valor da coisa segurada, devendo o segurado ser ressarcido, em dinheiro ou em espécie, somente até o limite do valor do bem segurado. Não se pode lucrar com o sinistro.
O Código Civil atual enquadrou o seguro de dano nos artigos 778 a 788, essa
distinção visa um procedimento em que o valor da indenização não deve ultrapassar
o valor da coisa.
88
ALVIM, Pedro. Ob. cit. pp. 217 à 220. 89 VENOSA, Sílvio de Salvo. Ob. cit. pp. 383/384. 90
OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Ob. cit. p. 11.
44
De acordo com Diniz:91
No seguro de dano sofrido pelo bem, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no instante da conclusão do contrato, sob pena de perda do direito à garantia, além de ficar o segurado obrigado ao prêmio vencido. Se a inexatidão na declaração daquele quantum não resultou de má fé do segurado, o segurador poderá rescindir o contrato ou cobrar, mesmo depois do sinistro, a diferença do prêmio (CC, arts. 778 c/c 766 e parágrafo único). A indenização não poderá ser superior ao valor do interesse segurado no momento do sinistro, e, em caso algum, ao limite máximo da garantia estipulado na apólice, exceto se o segurador estiver em mora (CC, art. 781). O segurador moroso deverá responder pelos juros moratórios, mesmo que venham a superar aquele limite.
Outro ponto que merece guarida, é que o pagamento de tal indenização deve
ser em dinheiro, salvo se convencionada a reposição do bem, um exemplo desta
forma de indenização é o seguro de automóvel e assemelhados, onde pode-se
convencionar a indenização em dinheiro, reparação de danos ou substituição da
coisa. A doutrina esclarece que o direito a indenização pode ser transmitido a
terceiro como acessório da propriedade, estabelece ainda que a regra geral é a
possibilidade de cessão da posição contratual e em relação as demais situações de
transferência da propriedade é admissível, desde que não haja proibição na
apólice.92
No mesmo vértice, merecem destaque as matérias relativas à duplicidade de
seguros de dano, que só é aceita quando os seguros, em conjunto, cobrem o valor
integral do bem, jamais pode um seguro cobrir a integralidade e após isso se
contratar outro seguro, sobre o mesmo bem e sobre os mesmo riscos; sobre a
cobertura parcial do sinistro, nos casos em que se contrata o seguro sobre uma
proporção do valor integral do bem, a indenização também deverá ser proporcional.
Acerca da omissão de vícios intrínsecos por parte do segurado, nesse caso o
segurador eximir-se-á da garantia de seguro. Por fim, o segurador que vier a pagar a
indenização, sub-rogar-se-á, nos limites do seu valor, nos direitos e ações que
competirem ao segurado contra o autor do dano, porém, não haverá sub-rogação se
o dano foi causado, salvo dolo, pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou
ascendentes.93
91
DINIZ, Maria Helena. Ob. cit. p. 502. 92 VENOSA, Sílvio de Salvo. Ob. cit. p. 392. 93
DINIZ, Maria Helena. Ob. cit. pp. 502/503.
45
2.3.2 SEGURO DE PESSOA
Quanto a esse tipo de seguro, o Código Civil o enquadrou nos artigos 789 a
802, diferenciando-o do seguro de dano, permitindo que a pessoa humana seja
objeto de seguro. Nesse sentindo a doutrina de Albuquerque explica o seguro de
pessoa, vejamos:
O Novo Código Civil, de certa forma, buscando a inovar certos aspectos adstritos em nossa lei material civil, mudou em alguns casos, a nomenclatura, tendo como caso típico, o da modalidade de seguro em estudo, denominado seguro de pessoas, comumente conhecido por seguro de vida, que teve sua origem em Londres no ano de 1600 cujo objetivo é o de garantir, mediante prêmio ajustado, pagamento de certa importância, a qual é fixada livremente pelo segurado e aceita pelo segurador em razão da morte do segurado. Nos termos do art. 789 está modalidade de seguro, em função de ser previdenciário, pois neste aspecto o prejuízo é abstrato, pois, a garantia é contra riscos de morte, de perigo à sua integridade física, de saúde e dos mais variados tipos de acidentes a que estão sujeito, o segurado, alem do mais, o valor da vida é inestimável.
94
Nesse tipo de seguro é possível o segurado contratar mais de um seguro
sobre o mesmo interesse, tendo em vista que o valor da vida é inestimável,
entretanto, o presente estudo não adentrará de forma mais aprofundada nessa
espécie de seguro, cabendo apenas diferenciá-lo do seguro de dano.
2.4 O SEGURO HABITACIONAL DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO
O seguro habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (SH/SFH), surgiu
na modalidade de seguro obrigatório, através da Lei nº. 4.380/64.95
Demonstrar-se-á os aspectos peculiares deste ramo do seguro, das normas
de direito civil pertinentes ao caso, até as cláusulas gerais da apólice, bem como, no
que for necessário, colacionar jurisprudência demonstrando como as discussões
sobre este tipo de seguro são apreciados pelos tribunais pátrios.
Importante deixar claro que o SH/SFH é um ramo que foi pouco estudado
pelos doutrinadores. Muito se fala sobre o Sistema Financeiro Habitacional, mas
pouco sobre o Seguro Habitacional do SFH. Alguns até mencionam esta espécie de
seguro em suas obras, como Oliveira, que a trata em único parágrafo em seu livro
de 794 páginas. Vejamos:
94 ALBUQUERQUE, J. B. Torres. Ob. cit. p. 57. 95
OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Ob. cit. p. 101.
46
Hoje, são obrigatórios os seguros determinados pelo art. 20 do Decreto-lei nº 73/66, além do seguro habitacional, instituído pela Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, que criou o Sistema Financeiro da Habitação.
96 [...]
O mesmo ocorre na obra de ARAGÃO, que em mais de 700 páginas dedica-
se a falar superficialmente sobre o seguro habitacional, limitando-se a abordar o
assunto de maneira genérica, dada a profundidade com que cuidou do SFH e BNH.
Tratou no decorrer de suas páginas sobre os tipos de cobertura, quanto ao mutuário
(morte e invalidez permanente), quanto ao imóvel (incêndio, explosão,
desmoronamento, destelhamento, inundação ou alagamento), quanto ao de
responsabilidade civil do construtor (RCC) por danos causados a terceiros, e
também sobre o valor do prêmio, que era um dos mais baratos do mercado.97
Diante deste problema, o estudo é pautado nas poucas doutrinas que existem
sobre o tema, bem como na apólice habitacional (SUSEP: CIRCULAR n. 111, 1999)
que é o contrato pertinente ao caso, não obstante a isso, no que for necessário
serão analisadas decisões de tribunais.
Quando o seguro habitacional foi criado contemplava a cobertura de seguro
de vida de renda temporária. Logo após foi promulgado o Decreto Lei n. 73, de
21.11.1966 (Dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados), que ampliou a
cobertura securitária no âmbito do SFH. O SH/SFH, como já citado, foi criado com o
intuito de preservar os recursos públicos aplicados na construção de imóveis
financiados pelo SFH, bem como garantir aos mutuários a solidez do bem
financiado98.
Coadunando com este entendimento, extraí-se do texto da Lei 4.380/64:
Art. 14 - Os adquirentes de habitações financiadas pelo Sistema Financeiro da Habitação contratarão seguro de vida de renda temporária, que integrará, obrigatoriamente, o contrato de financiamento, nas condições fixadas pelo Banco Nacional da Habitação.
O mutuário, além de contratar o financiamento do imóvel junto ao SFH,
obrigatoriamente contrata o seguro deste. Nesse sentido é de boa prática salientar
que o seguro habitacional é seguro obrigatório (Lei nº. 4.380/64) e é um
96
OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Ob. cit. p. 101. 97
ARAGÃO, José Maria, Ob. cit. pp.192/193. 98 ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Comissão Parlamentar
de Inquérito. Sistema Habitacional do Estado de Pernambuco (CPISH-PE). Relator Dep. Sílvio
Costa. 2005.
47
característico contrato de adesão, onde normalmente o contratante sequer tem
conhecimento de suas cláusulas.
Nesse vértice, a fim de corroborar com os argumentos anteriormente
suscitados, extraí-se trecho de um julgado do juízo da Unidade de Direito Bancário
da Comarca da Capital/SC, que, no processo 023.00.053264-1, ensina:
As apólices habitacionais dos segurados são de caráter obrigatório. Firmados os contratos de mútuo para a aquisição de imóvel residencial o pagamento dos prêmios é inserido nas prestações do financiamento. As cláusulas de referida apólice são impostas aos segurados que, via de regra, sequer tem acesso a elas, que dirá a possibilidade de discuti-las ou reformá-las, apenas a elas aderindo.
99
Em 1966, com o surgimento do Sistema Nacional de Seguros Privados, que
previa, no Parágrafo Único, do art. 15, do Decreto-Lei n. 73/66, a garantia do BNH
às operações do SFH se estas não encontrassem cobertura no mercado nacional.
No início, as operações eram feitas através de consórcio entre várias seguradoras,
sistemática esta que perdurou até meados de 1967, quando foi criado um novo
modelo (em detrimento da instituição do Sistema Nacional de Seguros Privados),
este era contemplado com a participação das Seguradoras, do BNH e do IRB–Brasil
RE, tal norma evidenciava as dificuldades do mercado segurador à época.100
A partir de 1970, instituiu-se uma apólice única, via IRB e BNH (CPISH – PE,
2005, p. 33).
A escolha das seguradoras se dava através de sorteio, uma líder para cada
região, dentre as oito regiões definidas pelo BNH, que são:
1ª – Acre, Amapá, Amazônia, Pará e Rondônia; 2ª - Ceará, Maranhão e Piauí; 3ª – Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte; 4ª – Bahia e Sergipe; 5ª – Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais e Tocantins; 6ª – Rio de Janeiro; 7ª – Mato Grosso do Sul, Rondônia e São Paulo, e 8ª – Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. (SUSEP: CIRCULAR consolidada n. 111, 1999, p. 30).
99
SANTA CATARINA. Poder Judiciário de Santa Catarina. Unidade de Direito Bancário da Capital. Processo n. 023.00.053264-1. Data da Sentença: 26/02/2007. Disponível em:
<http://www.tj.sc.gov.br>. Acesso em: 09 agosto 2008. 100 MARTINS, Renata Marinho. Sistema Financeiro Habitacional: Seguro Habitacional no
Ramo de Danos Físicos. Trabalho de Conclusão de Curso - (Graduação em Direito). Centro
Universitário da Cidade (Univer Cidade). Rio de Janeiro, 2005. p. 13.
48
Na atualidade a seguradora interessada em atuar no ramo SH/SFH, a cada
ano deverá comunicar a Caixa Econômica Federal sua intenção de participar da
escolha, no período de 1º a 31 de julho, do ano anterior. (SUSEP: CIRCULAR n.
111, 1999, p. 30, item 2.2.2).
A Caixa divulgará a cada ano, até 10 de agosto, a relação das seguradoras
autorizadas a atuar no SH/SFH, bem como as regiões de abrangência de sua
operação. (idem, item 2.2.3).
Considerando as dimensões de cada região (8 no total), as seguradoras
logicamente irão recorrer ao resseguro como forma de diluição do risco contratado,
seguindo esta linha de raciocínio explanaremos a seguir como se desenvolveu este
instituto em nosso país.
2.5 IRB – RE - INSTITUTO DE RESSEGUROS DO BRASIL
O Instituto de Resseguros do Brasil – IRB surgiu como instrumento da
nacionalização do seguro brasileiro. Fazia parte do projeto de Lei em discussão no
Congresso sobre as medidas que seriam adotadas para alcançar aquele objetivo.
Os acontecimentos políticos de 1937 puseram em recesso o Legislativo, mas, logo
depois, foram retomados os estudos para a implantação do IRB. Foi criado pelo
Decreto-Lei n. 1.186, de 03 de abril de 1939, iniciando suas operações no ano
seguinte, em abril de 1940.101
O IRB teve sua legislação consolidada posteriormente pelo Decreto-Lei n.
73/66 e seus Estatutos reformados pelo Decreto n. 60.460, de 13.3.67, alterados
depois pelos Decretos n. 61.618, de 03 de novembro de 1967; n. 66.065, de 27 de
agosto de 1969, n. 65.318, de 10 de outubro de 1969.102
A preocupação do Governo com a proteção à economia nacional, no sentido
de se evitar que divisas produzidas internamente fossem expropriadas pelo capital
estrangeiro era notória em diversos segmentos da economia (exploração de petróleo
e derivados, telecomunicações, energia elétrica), o que se repetia no setor de
resseguro.103
101 GOLDBERG, Ilan, Do Monopólio à Livre Concorrência a Criação do Mercado
Ressegurador Brasileiro, 2007. 195 f. Dissertação (Mestrado em Direito) – UCAM (Universidade
Cândido Mendes), Rio de Janeiro, 2007. p. 159. 102 GOLDBERG, Ilan, Ob. cit. p. 160. 103
ALVIM, Pedro. Ob. cit. p. 56.
49
O desenvolvimento da economia brasileira, mais precisamente do mercado de
seguros e do setor de resseguro, carecia de que os grandes riscos gerados no país
recebessem internamente as respectivas coberturas, securitária e ressecuritária,
evitando-se a migração de bons negócios e divisas para o exterior e,
conseqüentemente, o natural controle por parte dos resseguradores estrangeiros.
Segundo Ana Frazão de Azevedo Lopes:
O advento do Estado social certamente representou a superação da concepção ingênua de que a economia se regularia por si só. Daí a aceitação da intervenção estatal na atividade econômica em uma amplitude bem maior do que a observada ao longo do Estado liberal, apesar da advertência de alguns autores que, a exemplo de Weber, sustentavam que a economia era uma área particularmente refratária à incidência do direito. O Estado social prontificou-se, pois, a assumir o papel e a responsabilidade que antes eram confiados ao mercado, sem perceber que uma maior reflexão a respeito da própria estrutura social e das relações entre as
pessoas precisava ser realizada.104
Dessa maneira o monopólio estatal era necessário por ser o mecanismo de
controle das atividades das multinacionais e dos monopólios privados, muito
precários.
Após o advento da Constituição de 1988, os princípios da livre iniciativa e da
livre concorrência passaram a receber um tratamento diferenciado, em relação a
instituição de monopólios pelo Estado e por empresas privadas, pois aumentaram os
mecanismos de controle de atividades e supervisão (note-se pelos setores de
energia e telecomunicações).105
Com a Emenda Constitucional n.13, de 1996, a expressão “órgão oficial
ressegurador” que era parte do art.192 da Constituição de 1988, foi suprimida,
abrindo espaço para uma flexibilização do mercado monopolizado do Brasil.106
Hoje denominado IRB – Brasil RE, criado pelo Decreto-Lei n. 1.186, de
3.4.1939, com nova redação dada pela Lei nº. 9.482/1997, o IRB passou a ser uma
sociedade por ações, iniciando a trilha de um caminho que culminaria na inclusão
dele no Programa Nacional de Desestatização (Decreto n. 2.423 de 16 de dezembro
de 1997), juntamente com esta iniciativa, o Governo Federal encaminhou ao
104
LOPES, Ana Frazão de Azevedo. Empresa e Propriedade – Função Social e Abuso de
Poder Econômico. Quartier Latin. São Paulo, 2006, p. 15. 105
GOLDBERG, Ilan. Ob. cit. p. 161. 106
GOLDBERG, Ilan, Ob. cit. p. 161.
50
Congresso Nacional um projeto de lei objetivando a transferência de atribuições
regulatórias exercidas pelo IRB-Brasil Re à SUSEP, este projeto transformou-se na
Lei n. 9.932, de 20 de dezembro de 1999.
Diogo de Figueiredo Moreira Neto afirma:
Finalmente, a necessidade de repensar o desenho da administração pública encontrou também um importante impulso no fenômeno contemporâneo, reiteradamente observado e descrito, da fragmentação e despublicização do interesse público, marcando “o sendeiro tangível da passagem de uma administração monista e monoorganizada para uma administração pluralista e pluriorganizada”, o que corresponde, com não menor relevância, ao aperfeiçoamento da aplicação e do controle do poder político. Com o desmonte dos pesados aparatos interventivos em todos os países que haviam experimentado um alto grau de estatização, a Europa, em processo de democratização, optando por republicizar os controles das atividades econômicas, preferiu fazê-lo, então, nos moldes da solução norte-americanada regulação, adotando modelo das suas agências
independentes.107
Amadeu Carvalhaes Ribeiro, sintetiza, crítica ao monopólio do resseguro da
seguinte forma:
Atualmente o monopólio do IRB, ao invés de favorecer a atividade seguradora, prejudica-a. Entre os efeitos adversos do monopólio estão a redução da higidez do mercado, a limitação da capacidade técnica dos seguradores diretos e a diminuição do grau de concorrência entre estes, que por sua vez implica serviços mais caros e de pior qualidade aos
consumidores.108
A partir da edição da Lei Complementar n.126, de 15 de janeiro de 2007,
ocorre a quebra do monopólio estatal, configurado pelo IRB-Brasil Re, e passa a não
mais exercer a exclusividade do mercado de resseguro. Dessa maneira, o mercado
de resseguros no país não terá mais sua influencia na formação de preços dos
prêmios, nem às regras atinentes ao mercado de seguro, resseguro e
retrocessão.109
O Brasil foi um dos últimos países do mundo a manter o monopólio do
resseguro, prejudicando a comercialização de apólices de seguros de grandes
riscos, quer pelo elevado custo do prêmio pago, quer pelo engessamento de
107
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Mutações do Direito Público. Rio de Janeiro:
Renovar. 2006, p. 389. 108
RIBEIRO, Amadeu Carvalhaes. Cooperação e desenvolvimento: a regulação da atividade reguladora. In:Regulação e Desenvolvimento. Coord. Calixto Salomão Filho. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 171.
109 GOLDBERG, Ilan. Ob. cit. pp. 162/164.
51
investimentos privados no setor, pois muitas vezes o segurador direto não tem
capacidade suficiente para assumir riscos de proporções maiores, como no caso de
seguros de aeronaves, plataformas de exploração e produção de petróleo e grandes
obras.110
2.6 O RESSEGURO
Resseguro é seguro. Tal constatação, apesar de evidente, é importante para
a compreensão da natureza do contrato de resseguro, pois o que pode ser objeto do
contrato de seguro também pode ser objeto do contrato de resseguro.111
O resseguro é utilizado para garantir seguros de grande monta, “como o nome sugere, resseguro é o seguro do seguro. Quando uma companhia assume um contrato de seguro superior à sua capacidade financeira, ela necessita repassar esse risco [...]
112
Assim o resseguro é o "seguro" das empresas seguradoras, que fazem
contratos além da própria capacidade de cobertura e são obrigadas a dividir riscos
com grupos financeiramente mais fortes. Esses grandes conglomerados mundiais
que estão chegando ao Brasil, e na estimativa do mercado, até o final do ano (2007),
cerca de 25 empresas estrangeiras estarão atuando no pais.113
As operações de resseguro são fundamentais para a atividade seguradora.
Dele depende o desenvolvimento e a estabilidade das operações de seguro, porque
esta é a maneira que a seguradora tem de dividir responsabilidades.114
Note-se neste contexto que a divisão de responsabilidade entre segurador e
ressegurador diz respeito somente a este, o segurado não tem qualquer relação com
o ressegurador, assim diz Pedro Alvim:
Embora o ressegurador assuma parte ou mesmo a totalidade das obrigações
do segurador direto, só este aparece nos entendimentos com o segurado, sobre
tudo no momento da liquidação de sinistros.115
110
GOLDBERG, Ilan, Ob. cit. pp. 164/166. 111
INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DO SEGURO (IBDS). Seguros: Uma Questão Atual, São Paulo. Ed. Max Limonad, 2001. p. 32.
112 IBDS. Ob. cit. p. 170.
113 GOLDBERG, Ilan. Ob. cit. p. 172.
114 IBDS, Ob. cit. p. 173.
115 ALVIM. Ob. cit. p. 367.
52
Cabe ainda frisar que, de acordo com o Decreto 60.460/67 e o Decreto Lei
73/66, o IRB não pode ser compelido a pagar indenização diretamente ao segurado,
até mesmo porque o contrato de SH/SFH se dá entre o mutuário e a seguradora, já
o contrato de resseguro se dá entre a seguradora e o IRB. Pode o IRB, sim, emitir
declaração de vontade que autoriza o pagamento pela seguradora. Nesse sentido, a
jurisprudência predominante colaciona:
Apelação cível n. 1999.020706-4, da Capital – TJSC.
Relator: Des. Wilson Augusto do Nascimento. APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - ILEGITIMIDADE PASSIVA - ACTIO AFORADA PELA SEGURADA CONTRA O INSTITUTO DE RESSEGUROS DO BRASIL - IRB - EXEGESE DO DEC. LEI N. 73/66, ART. 68, § 3º E DEC. 60.460/67, ART. 71, § 3º - RECURSO NÃO PROVIDO. De acordo com o Decreto n. 60.460/67 e o Dec. Lei n. 73/66, o Instituto de Resseguros do Brasil não responde diretamente ao segurado pela avença firmada entre este e a seguradora. A obrigação do IRB restringe-se à emissão de declaração de vontade que permita à seguradora o pagamento do seguro devido ao sinistrado. (SANTA CATARINA, 2003, p.1).
116
É importante salientar que o IRB, de acordo com a Portaria n. 243 de 28 de
Julho de 2000, não é mais responsável pela administração do Seguro Habitacional
do Sistema Financeiro da Habitação, transferindo este encargo a Caixa Econômica
Federal conforme a seguir:
Art. 1º - A IRB-Brasil Resseguros S/A (IRB-Brasil Re.) transferirá à Caixa Econômica Federal (CAIXA), no décimo dia útil do mês de agosto de 2000, os saldos de reserva técnica do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habitação (SH) e os demais recursos do SH registrados na subconta específica do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS), e todo e qualquer recurso desse seguro em poder do IRB-Brasil Re.
§ 1º A CAIXA, a partir do décimo dia útil do mês de agosto de 2000, assumirá a administração do SH, absorvendo as funções administrativas desempenhadas pela IRB-Brasil Re, segundo critérios estabelecidos pelo Conselho Curador de Fundo de Compensação de Variações Salariais (CCFCVS).
Observa-se que o seguro e o resseguro no Brasil passaram por grandes
transformações, desde de um “controle” estrangeiro, para ser posteriormente
116 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação cível n.
1999.020706-4, da Capital. Apelação cível - Ação de cobrança - Ilegitimidade passiva - Actio aforada
pela segurada contra o Instituto de Resseguros do Brasil - IRB - Exegese do Dec. Lei n. 73/66, art.
68, § 3º e Dec. 60.460/67, Art. 71, § 3º - Recurso não provido. Relator: Des. Wilson Augusto do
Nascimento. Data da decisão: 09/05/2003. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br/>Acesso em: 09
agosto 2008.
53
nacionalizado, com a criação do IRB, e mais uma vez ter seu mercado aberto, só
que agora com uma forte presença estatal em sua regulamentação. Note-se também
que no ano de 2000 o IRB deixou de ser responsável pelo resseguro do SH/SFH,
ficando o encargo para CEF, que com isso não tornou-se um ressegurador, mas sim
mera gestora do fundo (FESA).
O que se pretende elucidar no terceiro capítulo é que a CEF, que apenas
administra o FESA, não faz parte da relação jurídica nos contratos de seguro
habitacional, e que esta relação restringe-se ao mutuário do SFH e a seguradora,
com a qual firmou seguro obrigatório para a obtenção de indenização no caso de
avarias ocorridas no seu imóvel.
54
CAPÍTULO III
3 COMPETÊNCIA PARA O JULGAMENTO DE AÇÕES ENVOLVENDO SEGURO HABITACIONAL NOS CONTRATOS REGIDOS PELO SFH.
Devido a amplitude e a complexidade do tema, conforme demonstrado nos
capítulos anteriores, fica clara a dificuldade de entendimento de quem é competente
para o julgamento das ações envolvendo o seguro habitacional. Se de um lado
existe a defesa de que a justiça estadual é a competente para processar e julgar
ações propostas contra entidade privada, versando sobre contratos de seguros e
que todas as ações de seguro habitacional até hoje foram julgadas por ela, por outro
existe a oposição a este posicionamento, sob a alegação de interesse da CEF e por
conseguinte da União, e o pedido de mudança de foro para justiça federal. Além da
CEF ser mera administradora do fundo FESA e que os contratos de seguros serem
de natureza privada, existe também a parte humanitária deste problema que esta
além da questão jurídica. Os segurados na sua maioria são pessoas extremamente
carentes, desconhecedores do direito que as guarnece, e que, em virtude de
desmando e variações de posicionamento da CEF vêm sendo prejudicadas pelo
envio desnecessários das ações à Justiça Federal. Esta atitude ocasiona um
retardamento desnecessário se constatarmos que afora as novas diligências e o fato
de novo entendimento por parte de outro julgador serão necessários para o deslinde
das ações acarretando assim o principio da celeridade processual e da economia
processual.
3.1 COMPETÊNCIA LATO SENSU
É sabido que a jurisdição é una e não comporta divisão ou fragmentação, e
que todos os juízes nacionais exercem essa função representativa da soberania
estatal de modo simultâneo e independente, sendo assim organizar estas atuações
para uma perfeita prestação jurisdicional vem, segundo CELSO AGRICOLA
BARBI117, com a “divisão do trabalho entre juízes e como resultado” a limitação da
atividade de cada um, tendo em vista determinada área territorial, ou a natureza das
questões a serem decididas, ou a qualidade das pessoas interessada no litígio, ou o
117
Comentários ao Código de Processo Civil. 10 ed. Rio de Janeiro : Editora Forense, 1998, vol. 1, p. 290
55
tipo especial de atividade que o juiz é chamado a desenvolver em determinado
processo, é chamada competência, e que vem regulamentada na Constituição
Federal e leis ordinárias.
A Constituição Federal e as Constituições Estaduais, o Código de Processo
Civil e o Penal, as leis federais ordinárias e os Códigos de Organização Judiciárias
dos Estados, bem como os Regimentos Internos dos Tribunais, são fontes de regra
de competência e regerão essa divisão de trabalho de forma organizada. As
competências fixadas constitucionalmente são absolutas e exaustivas, podendo ser
alteradas somente, via de regra, por emenda constitucional. Nesse sentido;
ANTÔNIO CARLOS DE ARAÚJO CINTRA, ADA PELEGRINI GRINOVER E
CANDIDO RANGEL DINAMARCO118, afirmam que a distribuição do exercício da
jurisdição resulta na competência, que é a quantidade de jurisdição atribuída a cada
órgão ou grupos de órgãos, resultante de um “processo gradativo de concretização”
e de legitimação guiado por “regras legais”, constitucionais ou ordinárias, que
reservam a determinados órgãos o poder de atuar em concreto na expedição e
imposição de atos, de forma a excluir todos os demais.
A competência, então, é antes de tudo um fator de organização interna que
serve a prevenção e a reparação de ameaças ou lesões ao princípio da segurança
jurídica, uma vez que define previamente um único órgão julgador que deverá,
compulsoriamente, realizar a tarefa de pacificar o conflito entre as partes, buscando
um resultado conforme o direito e a justiça. Observação deve ser feita quanto a
competência que esta não pode ser entendida como um fator de “cisão” da
soberania estatal, e sim como já explicado de organização, da função
jurisdicional.119
Assim, explica Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart:
Deixando-se de lado os fins mais importantes da jurisdição, o certo é que o Estado, para exercer o ”poder jurisdicional”, precisa de vários juízes, juízos e tribunais, principalmente em um pais com dimensão territorial do Brasil, pelo que, para que a “justiça” possa ser ordenada e efetivamente exercida, é necessário que os vários casos conflitivos concretos sejam classificados e agrupados de acordo com pontos que tem em comum, que os processos que a eles servem de instrumentos tem em comum, ou que as pessoas que
118
Jurisdição e Competência. 14 ed. São Paulo : Saraiva, 2005. p. 246 119
Jurisdição e Competência. 14 ed. São Paulo : Saraiva, 2005. p. 247.
56
neles estão envolvidas possuem em comum, distribuindo-se o poder jurisdicional na medida dos casos que forem agrupados.
120
À distribuição do poder jurisdicional dá-se o nome de competência à jurisdição
que pode e deve ser exercida por apenas um órgão ou por vários, então essa
competência nada mais é do que uma parcela da jurisdição. Assim divide-se o
exercício da função jurisdicional entre vários órgãos, mas sem descuidar que esta,
enquanto poder, é una e indivisível, de tal forma que cada órgão quando atua nos
casos de sua competência tem poder integral. Fixada essa divisão por meio de
normas jurídicas, com a atribuição de uma parcela ou um conjunto de causas para
cada órgão, tem-se o entendimento da célebre frase que “a competência é medida
da jurisdição”.121
No entanto, para Wambier, esta frase não reflete o verdadeiro sentido da
palavra competência, é o que diz:
Daí não ser feliz a imagem criada por alguns autores no sentido de que a competência seria a medida da jurisdição, como se os órgãos do Poder Judiciário exercessem apenas “parte” da jurisdição. Na verdade, quando, a partir das regras de competência, se determina que um determinado órgão do Poder Judiciário deva exercer a jurisdição, este o fará integralmente.
122
Do mesmo modo Alexandre Freitas Câmara afirma que não se afigura a
possibilidade de medir a “quantidade de jurisdição” que cada órgão jurisdicional
exerce, pois todos eles a exercem na mesma medida já que esta função é do Estado
e é indivisível.123
3.2 DETERMINAÇÃO E CRITÉRIO DA COMPETÊNCIA
No plano interno, deve-se dividir a função jurisdicional entre os diversos
órgãos que integram o Poder Judiciário nacional, dessa forma o legislador organizou
um sistema de critérios para que se possa saber, diante de um caso concreto, que
120
MARINONI, Luiz Guilherme e Sérgio Cruz Arenhart, Curso de processo civil, volume 2: Processo de Conhecimento – 6. Edição revista, atual. e ampl. da obra manual de processo de conhecimento. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pp . 36/37.
121 Destefanni, Marcos, Curso de Processo Civil, volume 1: processo de conhecimento e
cumprimento da sentença – São Paulo : Saraiva, 2006. pp. 56/57. 122
Wambier, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de processo civil, volume 1: teroria geral do processo de conhecimento/Luiz Rodrigues Wambier, Flavio Renato Correia de Almeida, Eduardo Talamini; - 9 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos tribunais, 2007. p. 93
123 CAMARA, Alexandre Freitas, Lições de Direito Processual Civil, 17ª edição,
inteiramente revista, Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2008. pp. 91/92.
57
juízo, dentre todos aqueles igualmente investidos na função jurisdicional, tem
competência para processar e julgar determinada causa. Observa-se então que o
legislador utiliza-se de critérios para distribuir as causas entre a justiça comum e a
especial, mas é importante a advertência de que são freqüentes os casos em que
mais de um fator é relevante para a solução de um só problema de competência de
modo que a competência afinal determinada constitui o resultado de dois ou mais
fatores. De fato, o legislador, quase sempre, utiliza-se de uma combinação de
critérios, como ocorre, por exemplo, no art. 2ª da Lei da Ação Civil Pública (Lei n.
7347/85): a ação civil pública será proposta no foro local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa. Como se vê, são
combinados os critérios territorial e funcional.124
O Código de Processo Civil Brasileiro filia-se à corrente dominante no direito
comparado, que utiliza o critério tripartite para disciplinar a competência, ou seja: o
direito nacional utiliza três critérios básicos para a fixação do órgão jurisdicional
competente para cada causa, e um deles é dividido em dois, resultando da
existência de quatro elementos capazes de determinar a competência: objetivo
(valor e matéria); territorial e funcional.125
Critério objetivo de competência, em razão da matéria (ratione materiae),
considera, ao se fixar a competência, a natureza da relação jurídica material a ser
decidida, por exemplo: para conhecer de uma ação de separação, será competente
um dos juízes das Varas da Família e Sucessões, quando os houver na Comarca;
só o STJ pode homologar sentenças estrangeiras (art. 105, I, CRFB/88),
competência em razão do valor, (art. 91, CPC), muito menos usado, serve para
delimitar, entre outras hipóteses, competência de varas distritais, ou quando houver
organizado, dos Tribunais de Alçada.126
124
DESTEFANNI, Marcos, Curso de Processo Civil, volume 1: processo de conhecimento e cumprimento da sentença – São Paulo : Saraiva, 2006. pp. 65 a 68.
125 MARINONI, Luiz Guilherme e Sérgio Cruz Arenhart, Curso de processo civil, volume 2:
Processo de Conhecimento – 6. Edição revista, atual. e ampl. da obra manual de processo de conhecimento. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. pp .41/41
126 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de processo civil, volume 1: teoria geral do
processo de conhecimento/Luiz Rodrigues Wambier, Flavio Renato Correia de Almeida, Eduardo Talamini; - 9 ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos tribunais, 2007. p. 98
58
3.2.1 CRITÉRIO TERRITORIAL
Os órgãos jurisdicionais de forma geral devem exercer a jurisdição nos limites
de suas circunscrições territoriais, estabelecidas na Constituição Federal e/ou
Estadual e nas Leis. Destarte, os juízes estaduais são competentes para dizer o
direito nas suas comarcas, e os juízes federais nos limites da sua seção judiciária.
Os Tribunais Estaduais são competentes para exercer a jurisdição dentro de seu
Estado, os Tribunais Regionais Federais, nos limites da sua região. O STJ e o STF
podem dizer o direito em todo território nacional. Do ponto de vista da parte, a
competência territorial leva a determinação do foro competente, ou seja, o local onde
deve ser ajuizada determinada ação.127
3.2.2 CRITÉRIO FUNCIONAL
Trata-se de critério que, via de regra, tem utilidade quando já proposta a ação
perante o juízo competente e é determinada pela função que o órgão jurisdicional
deve exercer no processo, mas pode ocorrer de, no mesmo processo, terem de
atuar dois ou mais órgãos jurisdicionais, ou mais de um juiz possa ou deva atuar
dentro do mesmo processo, em razão das distintas fases do procedimento
(hierarquia), ou de outras circunstancias.128
3.2.3 COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA: POSSIBILIDADE DE
MODIFICAÇÃO
A competência, de um modo geral, pode ser classificada em competência
absoluta e competência relativa.
Nos casos em que a competência é determinada em função do interesse
público, tem-se a competência absoluta, que é imposta ao juiz e indisponível pelas
partes, pois estas não podem convencionar de forma distinta da previsão legal,
gerando com isso sanções muito mais graves.129
Em face do caráter absoluto desse tipo de competência, o juiz que receber
uma ação e não for competente para conhecê-la, deverá, de ofício, remeter os autos
127
WAMBIER. Ob. cit. p. 98 128
WAMBIER. Ob. cit. p. 99 129
CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e Competência. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
59
ao juízo competente, independentemente do requerimento das partes, como versa o
(art. 113 do CPC). São espécies de competência absoluta a competência em razão
da matéria, e funcional.130
Já a competência relativa, cujo exemplo mais expressivo é a competência
territorial, ou de foro é caracterizada pela disponibilidade das partes, uma vez que é
determinada unicamente em função dos seus interesses. Isto equivale a dizer que
há regras para a determinação da competência quando se está diante de interesses
particulares. Contudo, a competência inicialmente determinada pelo legislador pode
ser modificada, mediante requerimento de uma das partes (art. 112 do CPC).
Todavia, o art. 95 do CPC, estabelece a exceção a essa conclusão, prevendo
hipótese em que a competência territorial passa a ser absoluta, fugindo, por
conseqüência, da disponibilidade das partes. Esta exceção é normalmente
conhecida como competência territorial funcional, ou seja, quando as ações são
fundadas em direito real sobre o imóvel é competente o foro da situação.131
3.3 COMPETÊNCIA PARA AS AÇÕES DE SEGURO HABITACIONAL.
Considerando que todos os órgãos e entidades delineados até agora, ou
eram diretamente ligados ao governo Federal ou eram empresas ou autarquias
vinculadas à órgãos do Governo Federal e, apesar de todas as mudanças ocorridas
nas últimas décadas, no Sistema Financeiro da Habitação, esse quadro não mudou
muito, pois o controle efetivo deste sistema continua sendo gerenciado pela União.
Apesar disso, e de toda essa mudança, as questões sobre Seguro Habitacional
sempre tiveram a atenção da Justiça Comum, apesar de todos os órgãos envolvidos
estarem direta ou indiretamente relacionados com o poder público.
Inserida no Título IV, capitulo III, seção IV, da Constituição Federal, mais
especificamente nos artigos 106 a 110, está a competência dos Tribunais Regionais
Federais e dos Juízes Federais, sendo que, no artigo 109, encontra-se elencadas
exaustivamente as atribuições delegadas pela Carta Magna aos juízes federais, e no
inciso I deste mesmo artigo está a descrição da competência que é objeto do
presente trabalho, onde se lê que nas causas em que a União, entidade autárquica
ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as
130
DESTEFANNI, Marcos, Ob. cit. pp. 60/61 131
DESTEFANNI, Marcos, Ob. cit. pp. 62/63
60
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho, serão processadas e julgadas
pela Justiça Federal.132
O que ocorre é que a competência “originária” para o julgamento dessas
ações de seguro habitacional é, por exclusão, da Justiça Estadual, pois como já
citado, a competência da Justiça Federal está expressa e taxativamente elencada
dentro da Constituição Federal. Conforme preleciona Alexandre de Moraes:
A competência da Justiça Federal vem taxativamente prevista na constituição.
Dessa forma, conclui-se que a competência da justiça comum é subsidiaria. 133
Alexandre de Moraes com base em decisão do STJ, ensina em sua obra
Constituição do Brasil Interpretada: a competência dos juízes federais é estabelecida
pela Constituição, não podendo ser ampliada com base em disposições de normas
infraconstitucionais. Assim, excluído o ente federal do feito, a competência passa a
Justiça Estadual, ainda que o processo cautelar preparatório tenha sido ajuizado no
foro especial. (STJ – 2ª seção – CC n. 9100-4/SP – Rel. Min. Eduardo Ribeiro, Diário
da Justiça, seção 1, 17 out. 1994, p. 27.854).134
A competência da Justiça Federal é, como já mencionado, absoluta e em
razão de privilégio dos entes federais, ou seja, autarquias, empresas públicas, e
qualquer outro ente federal, em que tenha interesse a União.
Portanto, a Justiça Federal nada mais é do que a criação de um aparato
jurisdicional pela União para julgar os conflitos os quais os entes federais sejam
litigantes. Para a determinação se a Justiça Federal e a competente para julgar uma
certa demanda utiliza-se o critério de exclusão, ou seja, se nenhum dos litigantes for
ente federal, ou se não houver interesse da União a ser defendido, a competência é
da Justiça Comum Estadual.135
Outra interessante observação é que nas causas de interesse da União, a
análise da legitimidade do interesse é competência da própria Justiça Federal, ou
seja, a Justiça Estadual não teria poder para aferir essa legitimidade, conforme
leciona Alexandre de Moraes: “O ingresso da União Federal numa causa, vindicando
132
Vade Mecum RT – 4ª ed. rev., ampliada e atualizada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.p. 52.
133 Moraes, Alexandre de, Direito Constitucional - 17º edição – São Paulo: Atlas, 2005, p.520.
134 Moraes, Alexandre de, Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional – 6ª
edição. Atualizada até a EC n.52/06 – São Paulo: Atlas, 2006. p.1596. 135
PORTAL JURIDICO INVESTIDURA.Biblioteca Jurídica, artigos, Processual Civil. Disponível em: <http//www.investidura.com.br/biblioteca- juridica/artigos/processocivil/478_acomp.html>Acesso em 25/03/2009.
61
posição processual definida (RTJ 46/73 - RTJ 51/242), gera a incompetência
absoluta da justiça local (RT 505/109), pois não se inclui na esfera de atribuições
jurisdicionais dos magistrados e Tribunais estaduais o poder para aferir a
legitimidade do interesse da União Federal, em determinado processo (RTJ 93/1291
– RTJ 95/447 – RTJ 101/419). A legitimidade do interesse manifestado pela União
só pode ser verificada, em cada caso ocorrente, pela própria justiça Federal (RTJ
164/359).136
Além dos julgados já citados, tem-se ainda a Súmula n. 150 do STJ, que
reforça o entendimento de que a competência para a análise da legitimidade de
interesse da União, suas autarquias e Empresas públicas é da própria Justiça
Federal.
Súmula n.150: Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de
interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas autarquias
ou empresas pública.
Consoante este entendimento, nos casos em que a demanda ajuizada
inicialmente perante o Juízo Estadual é remetida a Justiça Federal, com vistas à
definição de interesse da Caixa Econômica Federal, tem-se nos julgados da Justiça
Federal uma unanimidade de decisões, devolvendo a Justiça Estadual os processos.
É o que se extrai do julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina em
Ação Ordinária (procedimento comum ordinário) n. 2007.72.14.000835-5/SC, onde
Silvana Linkowski Pinto e Outros contra Bradesco Seguros S/A ingressaram com
ação de rito ordinário. O processo tramitou na Justiça Estadual, comarca de
Canoinhas/SC, e obteve sentença de parcial procedência. Houve Recurso, e na
segunda instância, a CEF sustentou ter interesse na causa e pedindo para integrar o
pólo passivo da demanda na condição de litisconsorte passivo, motivo pelo qual
requereu a declinação da competência para a Justiça Federal, bem como a
intimação da União para manifestar seu interesse.
Convertido em diligência pela colenda da segunda câmara, por votação
unânime, determinou a remessa dos autos à Vara Federal de Mafra, para
apreciação.
136
Moraes, Alexandre de, Ob. cit. pp .1596/1597.
62
No parecer do Juiz Federal Substituto, Adriano Vitalino dos Santos, vem
evidenciado o indeferimento do requerimento da CEF para ingressar no pólo passivo
da causa, também indeferida a intimação da União para o ingresso na ação, e por
fim, declara, a incompetência absoluta da Justiça Federal para processar e julgar o
feito, por não estar presente nenhuma das hipóteses previstas no art. 109 da
Constituição Federal. Determinando o regresso dos autos para o Egrégio Tribunal de
Justiça de Santa Catarina.137
A mesma decisão citada acima, de retorno dos autos à Justiça Estadual, se
repete em vários outros julgados, sendo que, em muitos casos o procedimento de
envio sequer ocorreu, por clara economia e celeridade processual. Conforme os
julgados que citamos a seguir:
Agravo de Instrumento n. 2002.04.01.045415-6/RS, Rel. Des. Federal Carlos
Eduardo Thompson Flores Lenz, do Tribunal Regional Federal 4ª região v.u., em
25/03/2003.138
Agravo Regimental em Recurso Especial em Apelação Cível n. 2007.027140-
4/0001.01, de Sombrio. Rel. Des. Nelson Schaefer Martins em 16/07/2008.139
Agravo (§ 1º art. 557 do CPC) em Agravo de Instrumento n. 2008.015458-
9/0001.00, de São Joaquim. Relator designado: Des. Nelson Schaefer Martins em
17/07/2008.140
Normalmente, as decisões da Justiça Federal baseiam-se na Súmula n. 224
de STJ quando há conflito de competência, pois quem julga se há interesse da
União, autarquias ou empresas pública na causa, é a própria Justiça Federal. E se
excluído o ente federal do feito não há que se falar em conflito de competência.
Conforme se extrai dessa Súmula:
137
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Consulta Processual – Tribunal de Justiça. Processo n. 2007.72.14.000835-5/SC. Disponível em: < http//www.tj.sc.gov.br> Acesso em: 20 de março 2009.
138 TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO. Consulta Processual –. Processo n.
2002.04.01.045415-6/RS. Disponível em: < http//www.trf4.jus.br> Acesso em: 29 de junho de 2009. 139
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Consulta Processual – Tribunal de Justiça. Processo n. 2007.027140-4/0001.01/SC. Disponível em: < http//www.tj.sc.gov.br> Acesso em: 29 de junho de 2009.
140 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Consulta Processual –
Tribunal de Justiça. Processo n. 2008.015458-9/0001.00/SC. Disponível em: < http//www.tj.sc.gov.br> Acesso em: 29 de junho de 2009.
63
Súmula n. 224: Excluído do feito o ente federal, cuja a presença levará o Juiz
Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não
suscitar conflito.
3.4 COMPETÊNCIA PARA REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE SEGURADORA.
A partir do pressuposto de que o seguro Habitacional foi determinado pelo art.
14 da Lei n. 4.380, de 21 de novembro 1964 (Lei que criou o BNH), e sua instituição
ficou a cargo do Decreto-Lei n. 73 de 21 de novembro de 1966, que dispõe sobre o
Sistema Nacional de Seguros Privados, regula as operações de seguros e
resseguros e da outras providências. Mais especificamente em seu art. 7º que diz:
Compete privativamente ao Governo Federal formular a política de seguros
privados, legislar sobre suas normas gerais e fiscalizar as operações no mercado
nacional. Ainda neste mesmo Decreto em seu art. 32 é criado o Conselho Nacional
de Seguros Privados – CNSP, ao qual compete primitivamente: I – Fixar as
diretrizes e normas da política de seguros privados; II – Regular a constituição,
organização, funcionamento e fiscalização dos que exercerem atividades
subordinadas a este Decreto-Lei, bem como a aplicação das penalidades previstas;
III – Estipular índices e demais condições técnicas sobre tarifas, investimentos e
outras relações patrimoniais a serem observadas pelas Sociedades Seguradoras; IV
– Fixar as características gerais dos contratos de seguros; V – Fixar normas gerais
de contabilidade e estatística a serem observadas pelas Sociedades Seguradoras;
VI – Delimitar o capital do IRB e das Sociedades Seguradoras, com a periodicidade
mínima de 2 anos, determinando a forma de sua subscrição e realização; (...), XI -
Prescrever os critérios de constituição das Sociedades Seguradoras, com fixação
dos limites legais e técnicos das operações de seguro.141
A Constituição Federal em vários de seus artigos trata das operações de
seguro, demonstrando de maneira marcante sua preocupação inequívoca em
regular atividade securitária, caracterizando um forte dirigismo estatal neste setor.
Primeiramente, o legislador constituinte mostrou sua preocupação com o
setor de seguros deixando a cargo, prioritariamente, somente da União essa
responsabilidade, e, de maneira suplementar, os Estados. Como vem delineado em
141
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Link do CNSP, serviços Disponível em:<http://www.fazenda.gov.br/portugues/orgaos/cnsp/cnsphist.asp>. Acesso em: 25 de março 2009.
64
seu artigo 22, inciso VII, que diz: Compete privativamente à União legislar sobre:
política de crédito, câmbio, seguros, e transferência de valores.
Já no artigo 21 da Constituição Federal fica enumerado em seu inciso VII que,
Compete à União: administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
operações de natureza financeira, especialmente as de crédito e capitalização, bem
como as de seguro e de previdência privada.142
A preocupação da regulamentação estatal esta bem definida no comentário
feito pelo professor José L. Carvalho:
A principal justificativa para a regulamentação das atividades das sociedades seguradoras, de capitalização e das entidades de previdência privada tem sido a proteção ao cliente devido a problemas associados à informação assimétrica, ao risco moral e à possibilidade da falência de uma empresa contaminar todo o setor, provocando uma sucessão de falências. Para proteger os agentes econômicos desse risco sistêmico, as autoridades públicas têm submetido tais mercados a normas de natureza estrutural e de prudência. Dentre as normas de prudência, observa-se que restrições às aplicações das reservas técnicas dessas organizações são comuns a todos os países onde tais mercados estejam estabelecidos.
143
A Constituição Federal também é clara ao vetar expressa e objetivamente o
envolvimento de recursos públicos no pagamento de indenizações securitárias, e,
dirimindo qualquer dúvida quanto a este tema, determina em seu artigo 192 - O
Sistema Financeiro Nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento
equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, será regulado em Lei
Complementar, que disporá, inclusive, sobre: (...) II – a autorização e o
funcionamento de estabelecimentos de seguro, previdência e capitalização, bem
como do órgão oficial fiscalizador e do órgão oficial ressegurador; (...) VII – a criação
de fundo ou seguro com o objetivo de proteger a economia popular, garantindo
créditos, aplicações e depósitos até determinado valor, vedada a participação de
recursos da União; (...).(grifamos).144
O objetivo de tal determinação se constrói sobre o alicerce de que as
Sociedades Seguradoras devem garantir suas responsabilidades ou riscos, com seu
próprio patrimônio. Como nos explica Pedro Alvim:
142
Vade Mecum RT – 4ª ed. rev., ampliada e atualizada. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. pp. 26/28.
143 CARVALHO, José L. in Revista Brasileira de Risco e Seguro, nº 3, ano 2006, pág. 3
144 Vade Mecum RT – 4ª ed. rev., ampliada e atualizada. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009. p.72.
65
Para garantia de todas as suas obrigações, as seguradoras constituirão reservas técnicas, fundos especiais e provisões de conformidade com os critérios fixados pelo Conselho Nacional de Seguros Privados, além das reservas e fundos determinados pela legislação sobre sociedades anônimas. Os bens garantidores serão registrados na SUSEP e não poderão ser alienados ou gravados sem prévia e expressa autorização, sob pena de nulidade. Os segurados e beneficiários que sejam credores por indenização ajustada ou por ajustar têm privilégio especial sobre os bens garantidores. Não poderão ser distribuídos lucros ou quaisquer fundos correspondentes às reservas patrimoniais, desde que essa distribuição possa prejudicar o investimento obrigatório do capital e reserva. A seguradora não poderá aplicar livremente suas reservas técnicas. Seguirá a orientação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.
145
Além desta determinação da Constituição Federal, o Decreto-Lei n. 73/66,
também evidencia a preocupação da legislação infraconstitucional, em garantir a
responsabilidade das companhias de seguradoras conforme se vê em seu artigo 5º,
A política de seguros privados objetivará (...) V – Preservar a liquidez e a solvência
das Sociedades Seguradoras, e também em seu artigo 84, Para a garantia de todas
as obrigações, as Sociedades Seguradoras constituirão reservas técnicas, fundos
especiais e provisões, de conformidade com os critérios fixados pelo CNSP, além
das reservas e fundos determinados em leis especiais. 146
Esta preocupação governamental em delinear minuciosamente a atuação das
Companhias Seguradoras, e fixar a não participação de recursos públicos para
cobertura de riscos, tem fundamento na medida em que as ações indenizatórias são
consideradas ações puras de seguro, ou seja, a responsabilidade obrigacional
deverá ser coberta pela reserva matemática constituída pelos prêmios arrecadados.
No entanto, o controle de boa parte dos recursos arrecadados com o prêmio
dos seguros fica adstrita ao FESA, que é administrado pela CEF, o que causa uma
certa confusão de quem seria a responsabilidade pelas indenizações. E foi através
da Portaria n. 243 do Ministério da Fazenda, de 28/07/2000, é que houve
transferência da administração do FESA, para a CEF, que antes era encargo do
IRB-Brasil Re, e isto fica bem claro, ao prever a utilização dos recursos do fundo
somente no caso de os prêmios recolhidos em âmbito nacional, por todas as
companhias seguradoras no seguro habitacional e mais reservas técnicas, serem
145
ALVIM, Pedro. Ob. cit. p. 182. 146
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Link do CNSP, serviços Disponível em:<http://www.fazenda.gov.br/portugues/orgaos/cnsp/cnsphist.asp>. Acesso em: 25 de março 2009.
66
insuficientes para cobrir determinado sinistro. O que se nota é que mesmo sendo
utilizados os recursos do FESA, o capital envolvido continua sendo privado.147
3.5 A ILEGITIMIDADE DA CEF NAS AÇÕES DE SEGURO HABITACIONAL
A CEF, até o ano de 2007, em centenas de ações de seguro habitacional, não
havia mostrado interesse em ser parte nos processos. A partir daí, a CEF tem
argüido que com a edição da Portaria n. 243/2000 do Ministério da Fazenda, deveria
compor o pólo passivo das ações por ter assumido algumas funções do IRB – Brasil
Re, e este, antes de sua privatização, por força do Decreto Lei 73/66 era
litisconsorte passivo necessário em ações dessa natureza.
Então desde 2007, discute-se, o interesse e a legitimidade da Caixa
Econômica Federal nas ações em que adquirentes de casas e apartamentos
financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação postulam indenizações por Danos
Físicos em Imóveis (DFI) ante as companhias seguradoras que atuam no mercado
de seguro habitacional.
Através de alguns julgados, a CEF inicialmente se mostra desinteressada em
atuar no pólo passivo da relação obrigacional nas ações de SH, não perquirindo a
mudança de foro, e posteriormente, ao contrário de todas as razões, intensifica sua
investida para a mudança de foro e julgamento pela Justiça Federal.
Conforme transcreve-se abaixo a ementa do julgado: Jurisprudência do
Tribunal de Justiça Agravo de Instrumento n. 2007.019369-8, de Criciúma:
Relatora: Des. Maria do Rocio Luz Santa Ritta:
SEGURO HABITACIONAL. INTERVENÇÃO DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF. INTERESSE JURÍDICO DA CEF POR ELA MESMA REFUTADO EM MOMENTO ANTERIOR DA CAUSA. INTERPRETAÇÃO DA SÚMULA N. 150, STJ. LITISCONSÓRCIO E ASSISTÊNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. EMPRESA PÚBLICA FEDERAL ENQUANTO MERA ENTIDADE GESTORA DO SEGURO HABITACIONAL, CUJAS INDENIZAÇÕES SÃO COBERTAS, EM LINHA DE PRINCÍPIO, POR FUNDO COMPOSTO DE CAPITAL PRIVADO - FESA. AUSÊNCIA DE PROVA CONCRETA DA TRANSCENDÊNCIA E DA NECESSIDADE DE APORTE SUBSIDIÁRIO DE CAPITAL PÚBLICO DE FUNDO PARALELO - FCVS. REMESSA DOS AUTOS À JUSTIÇA FEDERAL. DESCABIMENTO.
147
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Link do CNSP, serviços Disponível em:<http://www.fazenda.gov.br/portugues/orgaos/cnsp/cnsphist.asp>. Acesso em: 25 de março 2009.
67
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA PROCESSAR E JULGAR A LIDE. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. ART. 17, I, V E VI, CPC. RECURSO PROVIDO.148
Ademais, como instituição bancária que é, a CEF absorveu do IRB-Brasil Re
apenas administração dos recursos do FESA – Fundo de Equalização da
Sinistralidade do Seguro Habitacional, que serve de fundo de liquidez deste
mercado, visando garantir a capacidade de pronta indenização das seguradoras.
Outro ponto também importante é a característica privada do contrato de seguro
conforme se extrai dos julgados a seguir:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. SISTEMA FINANCEIRO DA
HABITAÇÃO. SEGURO. É da competência da Justiça Estadual processar e julgar ação
proposta contra entidade privada, versando sobre o contrato de seguro habitacional.
Conflito conhecido e declarada a competência do juízo suscitado. (STJ, Conflito de
Competência 18198-RS, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar).149
Nas ações em que se discute a respeito do contrato de seguro adjeto ao mútuo
hipotecário, a competência para o respectivo processo e julgamento é da Justiça
Estadual; a lide aí se trava entre a seguradora e o mutuário, sem que a sentença
possa, de modo algum, comprometer os recursos do SFH. (STJ-1ª Seção, CC.
18.279/RS, Rel. Min. Ari Pargendler, j. 11.12.96, v.u. DJU 18.2.97, p.2.361).150
PROCESSO CIVIL. Conflito Negativo de Competência. Execução Hipotecária.
Embargos de Terceiros. SEGURO HABITACIONAL. 1. Em litígio originado de seguro
habitacional, decorrente de contrato de mútuo hipotecário, a competência é da Justiça
Estadual. 2. Precedentes jurisprudenciais. 3. Conflito conhecido, declarando-se a
competência da Justiça Estadual. (1a Seção do STJ, CC. n. 21.412 - RS, Rel. Ministro
Milton Luiz Pereira, votação unânime).151
148
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Consulta Processual – Tribunal de Justiça. Processo n. 2007.019369-8/SC. Disponível em: < http//www.tj.sc.gov.br> Acesso em: 20 de março 2009.
149 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – consulta processual. Disponível em:
<http//www.stj.jus.br/webstj/processo/ justiça > acesso em: 25 de março/2009. 150
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – consulta processual. Disponível em: <http//www.stj.jus.br/webstj/processo/ justiça > acesso em: 25 de março/2009.
151 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – consulta processual. Disponível em:
<http//www.stj.jus.br/webstj/processo/ justiça > acesso em: 25 de março/2009.
68
PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGURO
HABITACIONAL. EXCLUSÃO DA CEF DO PROCESSO. FUNDO ADMINISTRADO
PELA CEF. PORTARIA N. 243 DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. EFEITOS.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. (...) Ademais, é importante destacar que saldos
existentes para custear o Seguro Habitacional são constituídos por capital
eminentemente privado, resultante do pagamento dos prémios pelos mutuários do
Sistema Financeiro Habitacional, sem qualquer participação de recursos públicos,
evidenciando a inexigibilidade de participação da CEF na relação jurídico
processual." (TRF/4a, Al. n. 2002.04.01.045415-6/RS, Rel. Dês. Federal Carlos
Eduardo Thompson Flores Lenz, v.u., em 25/03/2003).152
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - CONTRATO DE SEGURO FIRMADO ENTRE
MUTUÁRIO DO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO E A SASSE -COMPANHIA
NACIONAL DE SEGUROS GERAIS - COBERTURA SECURITARIA -VINCULAÇÃO
EXCLUSIVA DAS PARTES CONTRATANTES - ILEGITIMIDADE DA CAIXA
ECONÓMICA FEDERAL - INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL - Visando à
ação o pagamento de prémio de seguro, somente as partes contratantes estão
obrigadas a observar as cláusulas pactuadas, mesmo quando em garantia de contrato
de financiamento de imóvel adquirido pelo Sistema Financeiro da Habitação.
Ilegitimidade passiva da Caixa Económica Federal para o processamento e julgamento
do feito em favor da Justiça Estadual, ante a inocorrência, na espécie, de qualquer das
hipóteses previstas no art. 109 da Constituição Federal de 1988. Sentença monocrática
anulada. (TRF, 1a R., AC. 01000577273- BA - 6a T., Rel. Moacir Ferreira Ramos, v.u.,
em 04/02/2002).153
COBRANÇA DE SEGURO - Inclusão da CEF no pólo passivo da demanda
determinada pelo juízo 'a quo' - Inadmissibilidade - Relação jurídica fundamental que
envolve tão somente os moradores do núcleo de casas construídas pela COHAB/Bauru
qualificados na petição inicial, que são mutuários do SFH, e a SASSE, que recebe
mensalmente os prémios arrecadados pelo agente financeiro, estando obrigada,
destarte, a compor as indenizações relativas a eventuais sinistros - Peculiaridades do
152
TRIBUNAL REGIONAL DA 4ª REGIÃO – consulta processual. Disponível em: <http//trf4.jus.br/trf4/> acesso em: 25 de março/2009.
153 TRIBUNAL REGIONAL DA 1ª REGIÃO – consulta processual. Disponível em:
<http//trf1.jus.br/trf1/> acesso em: 25 de março/2009.
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contrato de seguro, de natureza estritamente privada, e regramento aplicável
que não permitem vislumbrar a responsabilidade da CEF perante os segurados, o
que arreda a incidência da regra contida no art. 47 do CPC -Agravo provido.(1a CDP do
TJSP, no AU. n. 214.965-4/3-00, Rel. Dês. Paulo Dias Mascaretti, v.u., em
27/11/2001).154
Afora o que já foi demonstrado, em que a CEF não pode ser considerada
parte em processos envolvendo o SH, por ser a ASH um contrato privado, e de
maneira muito clara e objetiva temos julgados que delineiam com maior clareza o
porquê desta decisão, haja vista como já citado, o FESA ser mera subconta do
FCVS e ser composto unicamente de recursos privados. Conforme as ementas
descrita abaixo:
RESPONSABILIDADE SECURITARIA – SEGURO OBRIGATORIO FIRMADO
POR FORÇA DE CONTRATO DE MUTUO HABITACIONAL – FESA
ADMINISTRADO PELA CEF – FUNDO AUTONOMO E PRIVADO – COMPETENCIA
DA JUSTIÇA ESTADUAL – LEGITIMIDADE DA SEGURADORA – VICIOS DE
CONSTRUÇÃO – RISCOS COMPROVADOS POR LAUDO PERICIAL –
COBERTURA SECURITARIA PREVISTA – MORA DA SEGURADORA – MULTA
DECENDIAL INCIDENTE – INABITABILIDADE DO IMOVEL – ALUGUERES
DEVIDOS POR FORÇA DE PREVISÃO NO PACTO RECURSOS DESPROVIDOS.
(TJPR, 9ª Câmara Cível, Apelação Cível n. 0266505-6 de Pato Branco, Rel. Des.
Luiz Lopes, v.u. em 16/11/2004).155
Processual. Litisconsórcio. Indenização. Seguro Habitacional. Deferimento de
pedido da seguradora ré de integração da lide pela CEF, como litisconsorte passivo
necessária. Inadmissibilidade, nem mesmo a título de denunciação da lide. Hipótese
em que o FCVS não é afetado. Decisão reformada. Agravo provido. (TJSP, Agravo
de Instrumento n. 313.912-4/4-00 de Marília, Segunda Câmara de Direito Privado,
relator Des. J. Roberto Bredan, v.u. em 18/11/2003).156
154
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO – consulta processual. Disponível em: <http//www.tj.sp.gov.br/consulta/processo.aspx> acesso em: 25 de março/2009.
155 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ - consulta processual. Disponível em:
<http//www.tjpr.jus.br/web/djud> acesso em: 25 de março/2009. 156
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO – consulta processual. Disponível em: <http//www.tj.sp.gov.br/consulta/processo.aspx> acesso em: 25 de março/2009
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SEGURO HABITACIONAL – CEF – LITISCONSORCIAÇÃO PASSIVA –
INOCORRENCIA. É firme o entendimento jurisprudencial, segundo o qual sendo a
CEF mera administradora do fundo de seguro habitacional, que deve repassar à
seguradora, não é ela parte passiva na ação de ressarcimento buscada pelo
segurado. (...) AGRAVO IMPROVIDO – DECISÃO UNANIME. (TJPE, 2ª Câmara
Cível, Agravo de Instrumento n. 098811-2, Rel. Des. Jovaldo Nunes Gomes, v.u. em
05/10/2004).157
Então como demonstrado, através dos julgados acima estudados são várias
as razões que determinam o julgamento deste tipo de ação pela justiça estadual
quer seja pelo fato de a CEF apenas reter a administração do FESA, que é um fundo
autônomo e privado, diferentemente do IRB – Brasil Re, quer seja pelas
características da apólice de seguro em ser um contrato tipicamente privado ou pela
própria natureza dos recursos que compõem o fundo que servirá de lastro para a
satisfação das necessidades de cobertura na possibilidade de ocorrência de um
sinistro.
3.6 UNIFORMIZAÇAO DE JURISPRUDÊNCIA – LEI DOS RECURSOS
REPETITIVOS
No dia 11 de março do corrente ano, por unanimidade a Segunda Seção do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que compete a Justiça Estadual processar
e julgar as ações envolvendo contratos de seguro habitacional vinculados ao
Sistema Financeiro da Habitação que não tenham relação com o FCVS. O tema foi
julgado com base na Lei n. 11.672/2008, Lei dos Recursos Repetitivos.
A Seção concluiu que, conforme jurisprudência já consolidada, a formação do
litisconsórcio passivo com a Caixa Econômica Federal só é necessária quando
houver possibilidade de comprometimento do FCVS. Caso contrário, trata-se de
mera cobertura securitária entre seguradora e mutuário.
Quando a Colenda Câmara cita a falta de relação com o FCVS, esta se
referindo ao fato, de na indenização securitária o FESA não ter recursos suficiente
para a cobertura dos sinistros e como já explanado isso não ocorre, (Pois este fundo
157
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE PERNAMBUCO – consulta processual. Disponível em: < http://www.tjpe.jus.br/processos/ > acesso em: 25 de março/2009.
71
(FESA) é um fundo que por natureza é superavitário); ou refere-se ao fato de os
contratos do SFH, a partir de 1993 não serem mais cobertos pelo FCVS.
Portanto, não existe responsabilidade solidária da CEF como agente
financeiro nos feitos em que se busca o pagamento de indenização em virtude de
avaria ocorrida em imóvel coberto por seguro que não compromete recursos do SFH
e não afeta o FCVS.
A Seção rejeitou todos os argumentos apresentados pelos recorrentes e
reiterou que, ao determinar a competência dos Tribunais Estaduais para o
julgamento dos feitos, os acórdãos revelaram total conhecimento da jurisprudência
da Corte Superior. O relator aproveitou este julgamento para ressaltar que a Lei dos
Recursos Repetitivos não foi criada para discutir tese nova, mas sim, para
uniformizar a jurisprudência da Corte em nome da segurança jurídica.
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de não ser o modelo ideal, perfeito e acabado, como a maioria da
população gostaria que fosse, o que se nota através do estudo do tema é que o
governo federal sempre teve um interesse considerável em relação ao problema
habitacional. Por razões eleitoreiras, políticas, econômicas, etc.? O fato é que se
preocupou, tentando ao contrário do que muitos pensam, fazer um sistema auto-
sustentável, e não calcado em recursos públicos, e que fica claramente evidenciado
no primeiro capítulo, haja vista as primeiras preocupações governamentais neste
sentido terem iniciado ainda no século XIX. No entanto, a mais significativa
influência estatal foi a criação do BNH, a partir de meados do século passado e que
de certo ponto de vista, até a sua extinção em 1986, cumpriu com sua função de
uma maneira ímpar.
O seguro habitacional compreendido nas apólices, as quais fazem parte dos
contratos de financiamento do modelo habitacional brasileiro, vem corroborar esta
preocupação, apesar de num primeiro momento a sensação seja de mais uma
cobertura da grande solidariedade estatal, a observação mais detalhada do tema
nos mostra o grande engano, pois todos os órgãos criados para supervisionar e
controlar o mercado segurador cumpriam e cumprem essa função de uma maneira
extremamente rígida, com base nas determinações constitucionais, legais e
infralegais, sempre almejando a proteção do mutuário e também dos recursos
públicos.
Então, o demonstrado interesse da CEF, devido a sua preocupação do
envolvimento de recursos do Tesouro Nacional, direciona no terceiro capítulo a uma
necessidade de ser delineada a competência. Primeiro de uma maneira ampla, e em
seguida pontualmente, cuidando especialmente a competência para as ações de
seguro Habitacional. Onde se evidencia em alguns julgados a ilegitimidade da CEF
73
nesse tipo de ação, o não envolvimento de recursos públicos e a competência da
justiça estadual para o julgamento destas.
O fundamento deste trabalho de pesquisa teve suporte na observação
detalhada do assunto, na pouca doutrina e principalmente na jurisprudência, que
apesar de tudo, proporcionou um bom embasamento para desmistificação do tema.
A partir do objeto da pesquisa tentou-se trazer a tona o real interesse da CEF
nas ações de seguro habitacional, delineou-se o pensamento dos juristas a respeito
das várias legislações que tratam do tema, e de reiteradas negativas e
indeferimentos nos julgados, acerca do legítimo interesse do ente federal nos
pleitos.
Mostra-se que a Justiça Estadual, tem apreciado e afastado o pedido de
intervenção da CEF, e que com este posicionamento, os mutuários do SFH, tem
garantido um direito fundamentalmente constituído que se efetiva na prerrogativa de
ter julgado o seu interesse num prazo razoável, consagrando assim os princípios da
economia e da celeridade processual.
Por fim, salienta-se que o assunto foi objeto de interpretação pela Segunda
Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Note-se que a colenda câmara pacificou o assunto, no sentido de que nos
feitos em que se discute a respeito de contrato de seguro, por envolver discussão
entre seguradora e mutuário, e não afetar o FCVS (fundo de Composição de
Variações Salariais), inexiste interesse da CEF a justificar a formação de
litisconsórcio passivo necessário, sendo, portanto, a competência da Justiça
Estadual para o seu julgamento.
74
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ANEXOS