a comissão europeia lamenta a decisão dos estados...

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IP/03/681 Bruxelas, 13 de Maio de 2003 A Comissão Europeia lamenta a decisão dos Estados Unidos de apresentar uma queixa junto da OMC sobre os OGM e considera esta decisão inoportuna e desnecessária Os Estados Unidos anunciaram hoje a sua intenção de solicitar a realização de consultas no âmbito da OMC sobre o sistema de autorização da União Europeia no que se refere aos organismos geneticamente modificados (OGM). A Comissão Europeia lamenta esta medida que considera sem fundamento do ponto de vista jurídico, economicamente injustificada e politicamente inútil. O comissário europeu responsável pelo comércio, Pascal Lamy, declarou: "O quadro regulamentar da União Europeia para a autorização dos OGM está conforme às regras da OMC: é claro, transparente e não discriminatório. Não há, por conseguinte, nenhuma questão que a OMC tenha de examinar. Os Estados Unidos afirmam que existe uma "moratória", mas a verdade é que a União Europeia já autorizou no passado variedades geneticamente modificadas e que está actualmente a examinar outros pedidos. Qual é, portanto, o verdadeiro objectivo dos Estados Unidos ao apresentar esta queixa?" O comissário europeu responsável pela saúde e pela protecção dos consumidores, David Byrne, declarou: "Os Europeus fazem todos os esforços para completar o quadro regulamentar em conformidade com os progressos mais recentes no plano científico e internacional. O termo deste processo está iminente. É essencial restabelecer a confiança dos consumidores em relação aos OGM na Europa." David Byrne recordou que o baixo nível de vendas de produtos geneticamente modificados no mercado da UE se deve à falta de procura por parte dos consumidores. "Os consumidores continuarão cépticos em relação aos produtos geneticamente modificados, a menos que verifiquem que o processo de autorização é adequado e tem em conta todos os motivos legítimos de preocupação." A comissária europeia responsável pelo ambiente, Margot Wallström, acrescentou: "Esta decisão dos Estados Unidos é inútil. Torna ainda mais difícil um debate já crítico na Europa. Mas, entretanto, a Comissão está firmemente convencida de que os Europeus deveriam completar a adopção da legislação relativa à rastreabilidade e à rotulagem, bem como aos produtos alimentares e aos alimentos para animais, que está actualmente a ser examinada pelo Parlamento Europeu. Não deveríamos afastar-nos ou deixar de prosseguir a política que consideramos adequada para a UE."

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IP/03/681

Bruxelas, 13 de Maio de 2003

A Comissão Europeia lamenta a decisão dosEstados Unidos de apresentar uma queixa junto daOMC sobre os OGM e considera esta decisãoinoportuna e desnecessáriaOs Estados Unidos anunciaram hoje a sua intenção de solicitar a realizaçãode consultas no âmbito da OMC sobre o sistema de autorização da UniãoEuropeia no que se refere aos organismos geneticamente modificados(OGM). A Comissão Europeia lamenta esta medida que considera semfundamento do ponto de vista jurídico, economicamente injustificada epoliticamente inútil. O comissário europeu responsável pelo comércio,Pascal Lamy, declarou: "O quadro regulamentar da União Europeia para aautorização dos OGM está conforme às regras da OMC: é claro, transparentee não discriminatório. Não há, por conseguinte, nenhuma questão que aOMC tenha de examinar. Os Estados Unidos afirmam que existe uma"moratória", mas a verdade é que a União Europeia já autorizou no passadovariedades geneticamente modificadas e que está actualmente a examinaroutros pedidos. Qual é, portanto, o verdadeiro objectivo dos Estados Unidosao apresentar esta queixa?" O comissário europeu responsável pela saúde epela protecção dos consumidores, David Byrne, declarou: "Os Europeusfazem todos os esforços para completar o quadro regulamentar emconformidade com os progressos mais recentes no plano científico einternacional. O termo deste processo está iminente. É essencialrestabelecer a confiança dos consumidores em relação aos OGM naEuropa." David Byrne recordou que o baixo nível de vendas de produtosgeneticamente modificados no mercado da UE se deve à falta de procura porparte dos consumidores. "Os consumidores continuarão cépticos emrelação aos produtos geneticamente modificados, a menos que verifiquemque o processo de autorização é adequado e tem em conta todos os motivoslegítimos de preocupação." A comissária europeia responsável peloambiente, Margot Wallström, acrescentou: "Esta decisão dos EstadosUnidos é inútil. Torna ainda mais difícil um debate já crítico na Europa. Mas,entretanto, a Comissão está firmemente convencida de que os Europeusdeveriam completar a adopção da legislação relativa à rastreabilidade e àrotulagem, bem como aos produtos alimentares e aos alimentos paraanimais, que está actualmente a ser examinada pelo Parlamento Europeu.Não deveríamos afastar-nos ou deixar de prosseguir a política queconsideramos adequada para a UE."

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A posição da União Europeia sobre os OGM está em conformidadecom as regras da OMCA União Europeia quer assinalar os desafios colocados pelas tecnologias modernasde modificação genética. As suas disposições regulamentares fornecem um quadrofiável para OGM na União Europeia, correspondendo às exigências do ambiente eda saúde humana e animal na Europa. O quadro regulamentar da União Europeiaprevê que os efeitos potenciais dos OGM sobre o ambiente e sobre a saúdehumana, animal e vegetal devem ser avaliados cientificamente antes que estesprodutos sejam postos no mercado. Neste quadro, as empresas que têm a intençãode comercializar OGM na União Europeia devem primeiro apresentar um pedidonum Estado-Membro, incluindo uma avaliação completa dos riscos para o ambiente.Esta avaliação será dirigida à Comissão Europeia, que a comunicará aos outrosEstados-Membros. Se forem emitidas objecções, a Comissão Europeia solicitará oparecer do Comité Científico (e, no futuro, da Autoridade Europeia para aSegurança dos Alimentos) e, seguidamente, adoptará uma decisão. No total, foramjá autorizados 18 OGM na União Europeia.Frequentemente, faz-se referência a uma denominada "moratória" da UE sobre aautorização de novas variedades geneticamente modificadas, o que estárelacionado com o facto de, desde Outubro de 1998, não se autorizar a libertaçãono ambiente de nenhum novo OGM, devido a lacunas no regime regulamentar daUnião Europeia, que não permite responder aos desafios da tecnologia moderna demodificação genética. O novo quadro regulamentar foi adoptado em Março de 2001e entrou em vigor em Outubro de 2002.A entrada em vigor destas regras melhoradas em matéria de procedimentos deautorização permitiu que as empresas de biotecnologia apresentem novos pedidosde autorização para os seus produtos inovadores. Recentemente, foi autorizada acomercialização no mercado comunitário de dois óleos de algodão de uso alimentar.Encontram-se numa fase avançada do procedimento de exame diversos novospedidos de comercialização de OGM e nos próximos meses podem ser concedidasas autorizações em conformidade com as disposições comunitárias.A União Europeia está também a concluir a adopção de normas em matéria derotulagem e rastreabilidade, destinadas a responder à vontade dos cidadãos demelhor informação sobre os OGM e a facilitar a livre escolha entre produtosagrícolas novos e produtos mais tradicionais. O sistema instaurado pela UniãoEuropeia baseia-se, e continuará a basear-se, em considerações científicas e nãoem considerações económicas.É necessário recordar que os Estados Unidos se têm até agora oposto ao Protocolode Cartagena sobre a biossegurança, assinado por mais de 100 países e destinadoa garantir por meio de regras acordadas à escala internacional que os paísesexportadores e importadores disponham das informações necessárias para adoptaruma postura fundamentada em matéria de OGM.

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Os problemas ocorridos nos Estados Unidos fazem apenas reforçar os argumentosem prol de mecanismos de autorização e de regras de comercialização adequados.O processo "Starlink" ilustra claramente a necessidade de regras adequadas deautorização e rastreabilidade dos OGM. Em 2000, verificou-se que grandesquantidades de milho geneticamente modificado não autorizado para o consumohumano entraram na cadeia de produção alimentar nos Estados Unidos. Asautoridades americanas tiveram de retirar dos supermercados mais de 300 marcasde produtos. Num estudo de Fevereiro de 2002, a Academia das Ciênciasamericana concluiu que o enquadramento regulamentar das plantas transgénicasnos Estados Unidos apresentava diversas insuficiências.

O argumento do desenvolvimento não tem em conta as preocupaçõeslegítimas dos países em desenvolvimentoNumerosos países em desenvolvimento, incluindo um grande número de paísesafricanos que sofrem de escassez alimentar, pediram aos principais doadores deajuda alimentar que evitassem fornecer-lhes alimentos que contenham OGM. AComissão Europeia considera inaceitável que os Estados Unidos utilizem aspreocupações legítimas desses países contra a política da União Europeia emmatéria de OGM. A Comissão considera que autoridades dos países emdesenvolvimento têm o direito legítimo de determinar o seu próprio nível deprotecção e de adoptar as decisões que entendam oportunas a fim de impedir alibertação não deliberada de sementes transgénicas.A ajuda alimentar às populações vítimas da fome deveria procurar responder àsnecessidades humanitárias urgentes das vítimas e não favorecer a divulgação noestrangeiro dos alimentos transgénicos (permanecendo, ao mesmo tempo, àmargem do consenso internacional expresso, por exemplo, no Protocolo deCartagena), ou cultivar variedades transgénicas destinadas à exportação, ouencontrar mercados para os excedentes da produção nacional, o que constitui umaspecto deplorável da política de ajuda alimentar dos Estados Unidos.A política da Comissão Europeia em conseguir, na medida do possível, a ajudaalimentar de emergência na região afectada, contribuindo assim para odesenvolvimento dos mercados locais, oferecendo incentivos suplementares aosprodutores e assegurando-se de que os produtos distribuídos correspondem aoshábitos locais de consumo.As variedades geneticamente modificadas que têm interesse para os países emdesenvolvimento, como as resistentes à seca e os solos com um teor elevado deacidez, ainda não passaram da fase de laboratório. As variedades geneticamentemodificadas comercializadas são dominadas em grande medida pelas variedadesresistentes aos herbicidas (75%) e aos insectos (17%). No entanto, a utilização dosherbicidas nas pequenas explorações agrícolas dos países pobres é muito limitada,enquanto os insecticidas são geralmente utilizados para as variedades comerciais,como o algodão, mas não para os produtos de base.

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Alguns números de referência relativos ao comércio das mercadoriasOs Estados Unidos são, de longe, o principal produtor mundial de milho e exportamcerca de 20% da sua produção. Contudo, economias emergentes como a Argentinae a China começaram a fazer concorrência à exportação do milho americano.

1. Produção e fluxo comercial de milho (média 1997 – 2001) – em milhõesde toneladas

País Produção Importaçõeslíquidas

Exportaçõeslíquidas

Consumointerno

Mundo 591 ' ' 'EUA 241 ' 47.1 189.9China 118 ' 5.6 116.9UE 37.3 2.1 38.9Argentina 16.1 ' 10.7 5.4México 18.3 4.9 ' 23.3

(fonte: Ministério da Agricultura dos EUA, Departamento de Investigação Económica- USDA ERS)A recusa do milho transgénico por um número crescente de países importadoresconstitui uma ameaça séria para as exportações de milho americano. Nos EstadosUnidos, cerca de 35% do milho é modificado geneticamente, mas só 1 a 2% daprodução é separada. Por conseguinte, cerca de 98% do milho americano podeconter variedades de milho transgénico, dos quais uma parte considerável não foiautorizada noutros países. Como os Estados Unidos se negam a aplicar medidaspara separar e controlar a difusão das diferentes variedades de milhogeneticamente modificado, as suas exportações sofrem as consequências.

2. Origem predominante das principais importações de milho na UE1995-2002 (em toneladas)

Origem Argentina EUA1995 528 028 3 325 0821996 584 453 2 045 3171997 918 790 1 708 4451998 1 433 829 237 5671999 2 031 431 30 3592000 2 238 814 52 6352001 1 357 138 32 0182002 1 347 595 25 934

Desde 1997, as importações de milho americano para a União Europeia foramsubstituídas em grande parte por milho argentino, porque a cultura de certasvariedades de milho transgénico cultivadas nos Estados Unidos não é autorizada naUnião Europeia. Em contrapartida, os produtores argentinos de milho geneticamentemodificado cultivam e exportam variedades de milho transgénico autorizadas e têmagora uma vantagem competitiva sobre os produtores americanos.

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3. Origem das importações de soja na UE 1995-2002 (em toneladas)Origem EUA Argentina Brasil1995 9 811 570 2 081 522 3 073 0571996 8 571 884 1 288 060 3 121 0941997 7 843 877 350 494 4 637 2691998 6 691 269 1 064 751 5 439 6131999 6 471 928 960 502 6 105 7562000 6 908 250 381 482 6 372 4002001 6 474 057 670 486 9 729 1362002 5 518 096 1 163 840 8 933 295

Nos Estados Unidos, os produtores de soja cultivam apenas a soja transgénicaautorizada na União Europeia, não tendo, por conseguinte, nenhum problema paraaceder ao mercado comunitário. A diminuição da quota de mercado da sojaamericana traduz, por conseguinte, uma perda de competitividade da sojaamericana no mercado internacional.

ContextoProcesso de consultas e de resolução de litígios na OMCA primeira etapa da resolução de um litígio na OMC é um pedido de consulta pelaparte queixosa. A parte acusada tem 10 dias para responder a este pedido e deveiniciar as consultas num prazo não superior a 30 dias (salvo acordo em contráriodas duas partes). O objectivo da consulta deve ser a resolução positiva da questão.Se as consultas não permitirem chegar a um acordo num prazo de 60 dias a contarda data de recepção do pedido de consulta, a parte queixosa pode requerer aoÓrgão de Resolução de Litígios (ORL) a criação de um painel (a parte queixosapode, contudo, requerer a constituição de um painel durante este período de 60 diasse ambas as partes considerarem que as consultas não permitiram resolver olitígio).Uma vez designados os membros do painel, a parte queixosa tem normalmenteentre 3 e 6 semanas para apresentar as suas primeiras observações escritas e aparte acusada dispõe de 2 a 3 semanas suplementares para responder. Têm depoislugar duas audições, seguidas pelas segundas observações escritas. Em média, oprocedimento do painel dura 12 meses. Pode ser seguido por um procedimento derecurso que não deveria durar mais de 90 dias. Num processo como o que nosocupa, a necessidade de consultar peritos científicos pode dilatar os prazos.

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Calendário (utilizando os prazos mais curtos possíveis)Introdução da queixa pelos Estados Unidos: meados de MaioConsultas: 60 dias - meados de JulhoPedido de constituição de um painel: imediatoCriação do painel: +/- 45 dias - fim AgostoDesignação dos membros do painel: 20 dias - fim de Setembro1ªs observações escritas dos Estados Unidos: 3 semanas - meados de Outubro1ªs observações escritas da CE: 2 semanas - início de NovembroPara mais informações:http://trade-info.cec.eu.int/europa/index_en.phphttp://europa.eu.int/comm/food/fs/gmo/gmo_index_en.htmlhttp://europa.eu.int/comm/environment/biotechnology/index_en.htm

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Anexo

Legislação comunitária actual sobre OGMA legislação comunitária no domínio dos OGM está em vigor desde o início dosanos 90. Este quadro regulamentar foi sendo completado e aperfeiçoado ao longode toda a década. A UE adoptou disposições específicas para proteger a saúde doscidadãos europeus bem como o ambiente, criando ao mesmo tempo um mercadounificado das biotecnologias.

Libertação deliberada no ambiente de OGMA Directiva 2001/18/CE, que entrou em vigor em Outubro de 2002, estabelece asdisposições que regem a libertação deliberada no ambiente de OGM. Instaura umprocedimento de autorização por etapas, baseado numa avaliação numa basecasuística dos riscos para a saúde humana e o ambiente de qualquer libertaçãodeliberada no ambiente ou da comercialização de OGM, de produtos quecontenham ou consistam em OGM, como o milho, os tomates ou osmicro-organismos.De acordo com a directiva supracitada, qualquer empresa que pretendacomercializar OGM deve apresentar previamente um pedido junto da autoridadecompetente do Estado-Membro onde o produto vai ser posto no mercado pelaprimeira vez. Este pedido deve incluir uma avaliação completa dos riscosambientais. Se a autoridade nacional emitir um parecer favorável à comercializaçãodo OGM em questão, o referido Estado-Membro informa os outrosEstados-Membros através da Comissão. Na ausência de objecções, a autoridadecompetente que realizou a avaliação inicial atribui a autorização de comercializaçãodo produto, que pode ser comercializado seguidamente no conjunto da UniãoEuropeia, respeitando as eventuais condições requeridas na autorização.Em caso de objecções, deve ser adoptada uma decisão a nível comunitário. AComissão solicita em primeiro lugar o parecer dos seus comités científicos,compostos por cientistas independentes, altamente qualificados nos domíniosrelacionados com medicina, a alimentação, a toxicologia, a biologia, a química ououtras disciplinas similares. Se o parecer científico for favorável, a Comissãoapresenta então um projecto de decisão ao comité regulamentar, composto porrepresentantes dos Estados-Membros, para que este emita o seu parecer. Casoeste parecer seja favorável, a Comissão adopta a decisão.Caso contrário, o projecto de decisão é transmitido ao Conselho de Ministros paraadopção por maioria qualificada ou rejeição. Na ausência de decisão do Conselhonum prazo de três meses, a Comissão pode adoptar a decisão.Durante o procedimento de notificação, o público é igualmente informado e podeaceder aos dados postos à disposição na Internet (http://gmoinfo.jrc.it/).Foram apresentados à Comissão três processos completos (milho geneticamentemodificado NK 603, colza oleaginosa geneticamente modificada WP 73, milhogeneticamente modificado NK 603 x MEUS 810 – produzidos por Monsanto). Estestrês processos referem-se unicamente a um pedido de importação e detransformação (não ao cultivo).

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Alimentos geneticamente modificadosO Regulamento (CE) n° 258/97 relativo a novos alimentos e ingredientesalimentares fixa regras relativas à autorização e rotulagem dos novos alimentos,incluindo os produtos alimentares que contenham ou consistam em OGM, ou sejamproduzidos a partir de OGM.A primeira etapa do procedimento de autorização consiste na avaliação do pedidode comercialização de um produto geneticamente modificado, realizada peloEstado-Membro no qual o alimento vai ser comercializado pela primeira vez. Nocaso de parecer favorável, este Estado-Membro informa os outrosEstados-Membros através da Comissão. Se nenhuma objecção for emitida contra opedido, o Estado-Membro em questão pode autorizar a comercialização do produtona UE.Se alguns Estados-Membros apresentarem objecções, é necessária uma decisão anível comunitário. A Comissão consulta os comités científicos para as questõesrelacionadas com a saúde pública e adopta uma decisão após ter recebido oparecer favorável do comité regulamentar, que reúne representantes dosEstados-Membros.Apesar do disposto sobre o procedimento completo de autorização, o regulamentosobre os novos alimentos prevê um procedimento simplificado para os alimentosque são derivados de OGM mas que já não contenham OGM e que são, porconseguinte, "substancialmente equivalentes" a alimentos existentes do ponto devista da sua composição, do seu valor nutritivo, do seu metabolismo, do uso para oqual são destinados e do seu teor em substâncias indesejáveis. Em tais casos, asempresas só têm de informar a Comissão sempre que introduzam um produto nomercado, juntamente com uma justificação científica que ateste a equivalênciasubstancial do produto, ou um parecer correspondente emitido para esse efeitopelas autoridades competentes de um Estado-Membro.No âmbito do regulamento relativo aos novos alimentos, existem dois pedidos numafase avançada do procedimento de autorização (um relativo ao milho GA 21 deMonsanto e o outro ao milho doce Bt 11 de Syngenta); espera-se uma decisão embreve. A Comissão Europeia coopera com estas duas empresas a fim de esclarecervárias questões pendentes.Em Dezembro passado, a Comissão informou os Estados-Membros de que o óleode algodão produzido a partir de duas variedades de algodão geneticamentemodificado por Monsanto tinha sido comercializado em conformidade com oprocedimento simplificado previsto no regulamento sobre os novos alimentos (quedispõe que, no caso dos alimentos ou ingredientes alimentares que apresentemuma equivalência substancial, o requerente notifique simplesmente acomercialização à Comissão). Não se pode fazer nenhuma distinção entre os doisóleos de algodão em questão e os óleos tradicionais.A UE examina actualmente outro pedido de comercialização ao abrigo doregulamento sobre os novos alimentos (no que respeita ao milho geneticamentemodificado NK 603 de Monsanto).

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Regras comunitárias actuais em matéria de rastreabilidade erotulagemA UE reconhece o direito dos consumidores à informação e à rotulagem comoinstrumentos de uma escolha com conhecimento de causa. A rotulagem que indicaa presença OGM como tais ou num produto é obrigatória desde 1997.Desde 17 de Outubro de 2002, a Directiva 2001/18/CE dispõe que osEstados-Membros tomem todas as medidas necessárias para garantir, em todas asfases da comercialização, a rotulagem de OGM como tais ou nos produtos.O regulamento sobre os novos alimentos prevê a rotulagem obrigatória dosalimentos e dos ingredientes alimentares que contenham ou consistam em OGM,sem prejuízo das outras disposições do direito comunitário em matéria derotulagem. As regras de rotulagem dos alimentos produzidos a partir de OGM, masque já não os contenham, baseiam-se no conceito da equivalência.O Regulamento (CE) n° 1139/98 do Conselho adopta medidas relativas à rotulagemdos alimentos e dos ingredientes alimentares derivados de uma variedade de milhoe de uma variedade de soja em função da presença de ADN ou de proteínas queresultem de uma modificação genética. Este critério serve de modelo às regrasaplicáveis à rotulagem de todos os alimentos e ingredientes alimentares derivadosde OGM.Em Janeiro de 2000, a Comissão adoptou o Regulamento (CE) n° 50/2000 quegarante que os aditivos e aromas também sejam rotulados quando no produto finalse encontrem igualmente ADN ou proteínas resultantes de uma modificaçãogenética.A Comissão adoptou recentemente duas posições comuns, uma sobre os alimentose ingredientes alimentares geneticamente modificados e a outra sobre orastreabilidade e a rotulagem de OGM. Estas posições comuns estão a seranalisadas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, devendo ser adoptadasantes do final do ano. A segunda leitura está prevista para Julho.

Quadro regulamentar internacional aplicável aos OGMTodos os acordos internacionais, como o acordo da OMC sobre as medidassanitárias e fitossanitárias, o acordo da OMC sobre os obstáculos técnicos aocomércio e o Protocolo de Cartagena sobre a biossegurança, anexado à Convençãosobre a Diversidade Biológica, reconhecem aos seus membros o direito de tomar asmedidas previstas nos níveis que considerem adequados, por exemplo, paraproteger a saúde das pessoas ou dos animais ou ainda o ambiente.O Protocolo de Cartagena da Convenção sobre a Diversidade Biológica regula acirculação transfronteiriça dos OGM. Foi assinado por 102 países, incluindo a UniãoEuropeia. Os Estados Unidos não são partes desta convenção e,consequentemente, não assinaram o protocolo sobre a biossegurança. Esteprotocolo entrará em vigor após a sua ratificação por 50 países (no final de Janeirode 2003, 41 países já o tinham ratificado, incluindo a Comunidade Europeia). Serájuridicamente vinculativo para os países que o ratifiquem e pressupõe-se que ospaíses que o tenham assinado, em virtude do direito internacional, agirão de boa fée não tomarão medidas susceptíveis de ser contrárias aos seus objectivos.

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O protocolo estabelece um procedimento de acordo prévio com conhecimento decausa, destinado a garantir que os países recebam as informações necessáriaspara adoptar decisões, com pleno conhecimento de causa, antes de aceitarem aimportação para o seu território de OGM destinados a ser libertadosdeliberadamente no ambiente (o que inclui todas as partes vegetativas destinadas àplantação, como as sementes). O procedimento supracitado não é aplicável,contudo, aos OGM destinados à alimentação humana ou animal ou a sertransformados.Nestes três casos, devem ser fornecidas às partes informações relevantes atravésdo Centro de Intercâmbio de Informações sobre Biossegurança (mecanismoinstituído pelo protocolo para facilitar a troca de informações sobre OGM,nomeadamente a regulamentação nacional na matéria, e ajudar os países a aplicaro protocolo). Além disso, estes produtos devem, aquando da sua exportação, seracompanhados de documentos que precisem que "são susceptíveis de conter"OGM e que não são destinados a ser libertados deliberadamente no ambiente. Aspartes devem decidir os requisitos detalhados aplicáveis ao efeito, nomeadamentesobre a maneira de especificar a identidade dos OGM e qualquer identificaçãoespecífica.Os Estados Unidos são não somente o principal exportador de produtos agrícolasmas também o primeiro produtor de culturas geneticamente modificadas. Em 2002,dos 58 milhões de hectares de culturas geneticamente modificadas existentes nomundo, 35 milhões eram-no nos Estados Unidos. Os Estados Unidos opõem-se aoprotocolo sobre a biossegurança porque a sua aplicação dificultará as principaisexportações americanas de produtos agrícolas, nomeadamente milho e soja. Se osEstados Unidos tivessem de cumprir o protocolo sobre a biossegurança, teriam deprecisar, por exemplo, a possibilidade de uma ajuda alimentar conter OGM.Vários países adoptaram um procedimento de autorização, numa base casuística,dos OGM, mas as autorizações não estão sincronizadas em todos os casos com asdos Estados Unidos. Outros países, como o Sri Lanca, que ainda não adoptaramum quadro regulamentar, proibiram a importação de OGM. Mesmo a China, quepossui um maiores sectores de biotecnologia, adopta actualmente uma abordagemcautelosa em matéria de aprovação dos produtos alimentares geneticamentemodificados.Como os empresários americanos recusam a prática da separação, o milho e a sojaamericanos encontram-se em dificuldade no mercado internacional devido àpossível presença, nas remessas, de OGM não autorizados nos paísesimportadores. Além disso, as preocupações dos consumidores quanto à segurançados OGM fazem que o sector agroalimentar e a indústria de alimentos para o gadose dirijam cada vez mais para o fornecimento de milho e de soja não transgénicos.Por estas razões, os Estados Unidos têm interesse na desregulamentação, a nívelinternacional, do comércio de OGM e na aplicação de uma política de não rotulagemdos produtos alimentares e dos alimentos para animais geneticamente modificados.

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A União Europeia elaborou um quadro regulamentar detalhado aplicável aos OGMbem como aos produtos alimentares e aos alimentos para animais geneticamentemodificados, que compreende disposições em matéria de rastreabilidade erotulagem. Muitos países estão actualmente a analisar a política comunitária, com opropósito da elaboração da sua própria política. Os Estados Unidos temem quevários países adoptem uma abordagem similar à da UE para a regulamentação dosOGM bem como dos produtos alimentares e dos alimentos para animaisgeneticamente modificados.

OGM e ajuda alimentarDiversos países em desenvolvimento, em especial em África, enfrentam uma crisehumanitária como consequência de condições climáticas adversas.Os Estados Unidos comprometeram-se a fornecer 499 000 toneladas de sementesde milho, como ajuda alimentar, entre Setembro de 2002 e Março de 2003. NosEstados Unidos, 35% do milho é produzido a partir de OGM. Contudo, só 1 a 2% dacolheita é objecto de uma separação (devido ao custo da operação, o milho quebeneficia desta prática é mais caro que o milho não separado). Portanto, é provávelque o milho americano contenha OGM.Alguns países africanos da região negaram-se inicialmente a aceitar este milho porvárias razões, designadamente de ordem sanitária e ambiental, por temor do riscode libertação de componentes transgénicos na sua própria produção de milho e dasconsequências eventuais desta libertação no comércio regional e internacional e,por último, devido a preocupações ligadas aos direitos de propriedade intelectual.Na sequência da proibição dos OGM pela Zâmbia, os Estados Unidos patrocinaramuma viagem de estudo de cientistas desse país aos Estados Unidos e a váriascapitais europeias. Estes cientistas foram recebidos pelos serviços da ComissãoEuropeia e receberam cópias dos pareceres científicos emitidos pelos comitéscientíficos da UE (pareceres favoráveis em todos os casos).No seu relatório, os cientistas zambianos, contudo, mantinham os seus argumentoscontra a introdução de milho transgénico na África austral. O governo zambianoconfirmou a sua decisão de proibir, face a este relatório, o milho transgénico.Outros países (Zimbabwe, Moçambique e Malawi) acabaram por aceitar o milhoamericano desde que esteja moído, processo que impede a libertação de OGM noambiente (a sua proibição inicial era ligada a preocupações ambientais). Os EstadosUnidos, contudo, recusaram financiar este processo.Os Estados Unidos responsabilizam a União Europeia pela recusa pela África doseu milho. A Comissão, contudo, declarou várias vezes que não havia nenhumarazão para considerar apenas os produtos alimentares geneticamente modificadosapresentassem, em si mesmos, um risco para a saúde pública. Os poderes públicosdos países em desenvolvimento têm, contudo, o direito legítimo de fixar o seupróprio nível de protecção e de adoptar a decisão que considerem oportuna paraproteger o seu território contra uma libertação não deliberada de sementestransgénicas.

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Tratando-se da ajuda alimentar, a política da Comissão é obter, na medida dopossível, na própria região, os produtos necessários para responder a uma situaçãode emergência, dado que isso contribui para o desenvolvimento dos mercadoslocais, oferece estímulos suplementares aos produtores e garante uma adequaçãoestreita entre os produtos distribuídos e os hábitos locais de consumo. A políticaamericana, por seu lado, consiste em fornecer a ajuda alimentar em espécie e emutilizar os excedentes de produção.Por razões práticas e no intuito de respeitar a escolha dos países beneficiários, aComissão pediu ao Programa Alimentar Mundial que comprasse, com o propósitoda sua distribuição sob a forma de ajuda alimentar, unicamente milho convencional(não transgénico). Essa situação permite evitar a recusa da ajuda, o custo damoagem (no caso do Zimbabwe, do Malawi e de Moçambique) e os problemasligados ao trânsito de OGM no território de certos países - como foi o caso deMoçambique -, que adoptaram medidas para o impedir.A ajuda alimentar está a ser distribuída. Na Zâmbia, a Comissão destinou 20milhões de euros ao PMA para compras regionais de milho. Em meados de Janeiro,tinham sido compradas 174 000 das 277 000 toneladas que a UE se haviacomprometido a fornecer e 99% deste volume foi objecto de contratos adjudicadosna região (70% na África do Sul, 23% no Malawi, 7% na Tanzânia e menos de 1%na UE).