a cobiçada lady lindsey-179

Upload: emarianna

Post on 30-May-2018

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    1/57

    Ttulo: ACobiada Lady Lindsey.Autora: Barbara Cartland.Dados da Edio: Nova Cultural, So Paulo, 1987.Ttulo Original: Love and Kisses.Gnero: romance.Digitalizao: Fernando Jorge Alves Correia.Correco: Dores Cunha

    Estado da Obra: Corrigida.Numerao de Pgina: Rodap.Esta obra foi digitalizada sem fins comerciais e destinada unicamente leitura de pessoas portadoras de deficincia visual. Por fora da lei dedireitos de autor, este ficheiro no pode ser distribudo para outrosfins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente.

    BARBARA CARTlANDA mais famosa e perfeita autora de romances histricos, com 350 milhesde livros vendidos em todo o mundo

    ACobiada Lady Lindsey

    Contracapa: Amanhecia em Londres. Escondida na carruagem, trmula desusto e ansiedade, Arilla observava os dois homens que iam bater-se emduelo por sua causa.Um deles a queria para amante; o outro a defenderiaat a morte. Por um dos dois batia alucinado seucorao de mulher apaixonada. O mediador comeou a contar... um, dois,trs... dez passos. Fogo! Ao abrir os olhos, um grito escapoulhe dagarganta. Quem estaria cado ensanguentado no cho (fim da contracapa)?

    BARBARA CARTLANDACobiada Lady Lindsey

    Leitura - a maneira mais econmica de cultura, lazer e diverso.

    Ttulo original: Love and KissesCopyright: (c) Cartland Promotions Ltd. 1986Traduo: Maria Thereza Dias de Andrade CastelloCopyright para a lngua portuguesa: 1987EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.Av. Brigadeiro Faria Lima, 2. 000 - 3. andarCEP 01452 - So Paulo - SP - BrasilCaixa Postal 2372

    Esta obra foi composta na Tipolino Artes Grficas Ltda. e impressa naEditora Parma Ltda.

    NOTA DA AUTORA

    Apesar de no ser bem-aceito, o duelo no fora proibido de fato at a eravitoriana. E, mesmo assim, continuou sendo considerado o meio maishonroso de se resolver uma contenda entre cavalheiros.Em 1809, lorde Castlereagh bateu-se em duelo com George Canning, sob leisgovernamentais e, na mesma poca, o famoso duque de Wellington fez omesmo com o conde de Winchilsea.Em 1798, William Pitt, o Moo, duelou com um membro do partido polticoingls, George Tierney. Como Pitt era extremamente magro e Tierneydemasiado gordo, foi sugerido que se marcasse com giz o contorno dasilhueta de Pitt sobre o corpanzil de Tierney e que qualquer perfurao

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    2/57

    fora dessa rea no fosse considerada.Tenho em minha casa um retrato da linda mas infame condessa deShrewsbury, cujos restos mortais descansam na Igreja de St. Giles. Elafoi amante do segundo duque de Buckingham, um campeo de tiro, e com eleplanejou o assassinato do conde, seu marido.A condessa compareceu ao duelo fatal trajada como pajem e assistiu morte do conde pela arma assassina de seu amante. Em seguida deitou-se

    com o duque, que ainda vestia a camisa manchada com o sangue de seuprprio marido.

    CAPTULO I1817Arilla olhou ao longo do malcuidado caminho de acesso velha residncia.J ia voltando para a casa, desalentada, quando vislumbrou qualquer coisaa distncia.Em um segundo constatou serem cavalos e deu um grito de alegria.Para poder ver melhor, subiu os degraus cobertos de limo da corrodaescada de pedra que dava para a entrada principal.Era uma carruagem que se aproximava, puxada por uma parelha de alazes,idnticos em porte e cor.

    Quando chegou mais perto, ela identificou, com alegria no corao, ocondutor da elegante viatura, que, com um gesto largo e cavalheiresco,tirou o chapu para cumpriment-la.- Harry! - exclamou ela. - Eu sabia que voc viria!O homem entregou as rdeas ao cavalario que, abandonando o assentodescoberto do carro, j tinha pulado ao cho.A carruagem era do tipo faetonte: alta, de quatro rodas e de finoacabamento. Porm no era to veloz e eficiente quanto o ltimo modelointroduzido na Inglaterra, pelo prncipe regente. Contudo era mais leve,com melhor molejo e bastante rpida em vias no lamacentas.Sem pressa, o cavalheiro circundou o faetonte e, antes de subir osdegraus, lanou um olhar para a casa. Havia uma expresso de desprezonaquele semblante formoso e msculo.Era de se esperar, pois o solar estava em um estado lastimvel, com

    pedras precisando de reparos e muitos vidros quebrados, pedindosubstituio. As trepadeiras, havia muito tempo sem poda, emaranhavam-sedesordenadamente, quase cobrindo as vidraas embaadas das janelas.Harry fez um ar de desgosto e subiu as escadas, dizendo para Arilla:- Exatamente duas horas para chegar at aqui; devo ter batido um recorde,a no ser que algum tenha levado menos tempo.- Ningum dirige melhor do que voc, Harry. Alm disso, nossos visitantesno possuem animais to fogosos.Reparando no ricto nervoso nos lbios dele, ela continuou:- So seus?A resposta veio, como esperava:- Por um dia. So emprestados, como de costume.- Oh, Harry! Voc est em m situao?

    - Como sempre.Juntos, entraram no vestbulo cujo aspecto era mais desolador do que eleimaginara. Chegaram sala de estar, que um dia fora bonita, mas, comotodo o resto da casa, estava tristemente descuidada. As cortinas seapresentavam descoradas, o estofamento dos sofs rasgados, os tapetesralos e as paredes com marcas de quadros ou espelhos, antes alidependurados.Harry Vernon ps o chapu e as luvas de montaria sobre uma pequena mesa ealisou os cabelos com as mos. Em tom de lamento disse:- Sinto muito, Arilla, pela morte de seu pai. Sem olh-lo ela suspirou.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    3/57

    - Eu e papai sempre fomos muito unidos, Harry; nossa amizade foi a melhorcoisa que me aconteceu!- disse, saudosa.- Voc tem sofrido muito?- Este ano que passou foi terrvel. - Depois de uma pausa, prosseguiu: -Papai ficou muito mal, em coma, e no me reconhecia mais. No haviadinheiro em casa para pagar os mdicos, nem remdios.

    Harry franziu a testa, antes de repreend-la:- E por que no me avisou?- Para qu? A no ser que voc estivesse com dinheiro sobrando, o queachei pouco provvel.- Acertou! Mesmo assim eu tentaria ajud-la.- Eu sei... eu sei. Agora, tudo acabou. Sabe, Harry, papai morreu de fatoh um ano.Harry Vernon sabia o que ela queria dizer.Sir Roderick Lindsey sofrera uma queda, um ano atrs, durante uma caada.Daquele dia em diante, tornara-se um morto-vivo. Ficara totalmenteparalisado, mas seu corao continuava batendo. Os mdicos noconseguiram devolver-lhe a conscincia, e ele levou, a partir da, umavida meramente vegetativa.

    Foi uma tragdia para sua nica filha, que passou a trat-lo com grandedevoo, durante meses de muito sacrifcio. Harry no esperava que osprximos dias fossem muito melhores."Pouco ou nada poderei fazer", pensava com tristeza.Como se tivesse lido aqueles pensamentos, Arilla o consolou:- No se aborrea. O pior j passou e, mais do que nunca, preciso de seuauxlio. Por favor, Harry, me ajude, no tenho mais ningum...- Farei tudo que estiver ao meu alcance, o que muito limitado!Enquanto falava, ele atravessou a sala e se postou janela. Tentandoesconder o embarao, ficou observando o maltratado jardim.Era primavera, e os narcisos silvestres pareciam um tapete amargo;embaixo das velhas rvores os lilases e as margaridas-do-campo tambmestavam floridos.Apesar do aspecto selvagem, o cenrio era bonito e levou Harry de volta

    infncia.Seus pais o deixavam ficar por muitos dias no Solar de Little Marchwood,onde sempre fora bem recebido por sir Roderick e lady Lindsey. Ambos otratavam como o filho que nunca tiveram. Fora sir Roderick quempersuadira seu pai, primo de lady Lindsey, a mand-lo a Eton. Tambm foraele o responsvel por seu encaminhamento para a guarda policial inglesaquando o pai comunicara a inteno de mant-lo na infantaria, por sermais barato."Eu acho que devo a sir Roderick o meu gosto refinado!", ele pensou.Em voz clara e firme, comunicou:- vou ajudar voc, Arilla, evidente. Mas s Deus sabe como vai serdifcil!- No quero dinheiro, Harry!

    Arilla fitou-o e viu surpresa em seus olhos.- No quer? E como.- Deixe-me contar o que tenho em mente. Mas antes vou servir-lhe algumacoisa para beber... J devia ter feito isso, mas estava to saudosa. queno quis me afastar de voc.Deu-lhe um sorriso franco e segredou:- S sobrou uma garrafa do fino clarete de papai. Escondi-o dos mdicospara voc... quando viesse nos visitar.- Pelo amor de Deus, Arilla, no me faa sentir mais culpado do que jestou.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    4/57

    Sem esconder a emoo, ele se dirigiu ao canto extremo da sala, ondesabia ser o lugar das bebidas. Uma garrafa de fino vinho e um copo decristal esperavam-no.Harry serviu-se e perguntou com delicadeza:- Voc no vai beber comigo?- No. O vinho todo seu. Vai precisar de uns goles. mesmo! - Arillaafirmou.

    - O que est aprontando para mim, Arilla? - ele perguntou temeroso. - Masantes de me contar quero lhe dizer uma coisa: voc ficou uma moa linda,sabia?Um sorriso largo serviu de agradecimento a esse elogio, provocando duasgraciosas covinhas nas alvas faces de Arilla. Seus olhos, de um azulintenso, pareciam cintilar.- Sempre desejei ouvir isso de voc!- a pura verdade - ele declarou, sorvendo o delicioso vinho. - Apesarde estar um pouco magra, melhorou bastante. em comparao quelamenininha gorducha que voc era.- No to menina... - reclamou ela, corando. Tenho dezenove anos agora.Voc j imaginou, Harry, dezenove anos! Estou ficando velha!- Ento sou o prprio Matusalm! Estou com vinte e sete.

    Ambos caram na risada. Ento Harry sentou-se com muito cuidado, na gastapoltrona de gobelino, porque seus culotes eram demasiadamente justos, deacordo com os ltimos figurinos. Ele pousou o clice na mesinha e logoArilla lhe aproximou a garrafa.Em vez de sentar-se na cadeira oposta, ela se ajoelhou para acomodar-seno cho, ao lado dele. Voltando o rosto iluminado para Harry, com muitagraa, disse:- Seja imparcial, julgue-me como se eu fosse uma estranha e no a pessoaque voc conhece desde o bero.Parecendo saber o que ela ia perguntar, ele confirmou:- Estou sendo sincero, Arilla. Voc est muito linda!- Jura?- com um vestido novo e um penteado adequado, ficaria sensacional!Notando o brilho em seus olhos azuis, ele refletiu: "De que adianta tanta

    beleza? As nicas criaturas que aqui esto para admir-la, alm dospssaros e das abelhas, so os rudes trabalhadores destes campos! Sou umidiota em despertar-lhe a vaidade! "No havia mais ningum em Little Marchwood, " lugar que ele sempreclassificara como o fim do mundo.- Exatamente o que eu precisava ouvir - ela murmurou como se falasseconsigo mesma. - No poderia deixar de ser assim, pois sou muito parecidacom mame. segundo dizem.- mesmo. Pena desperdiar tanta beleza neste buraco. No chegou algumvizinho novo por aqui?- Se est querendo falar num bom partido, a resposta no."Harry ficou quieto, e Arilla teve a certeza de que pensava napossibilidade de trazer alguns amigos para conhec-la. Mas de que jeito?

    Ela no tinha condies de receb-los com boa comida e bebidas finas."Esta a ltima garrafa de vinho desta casa", ela lembrara com amargura.- Que pena! E para voc morar? Ser que no h alguma famlia...Arilla riu do que ele estava insinuando.- Voc conhece as pessoas daqui. Esto todas com os ps na cova e maispobres do que eu. Nada mudou desde que ramos crianas. E as pessoas desuas relaes, com exceo do duque, esto nas mesmas condies, no,Harry?- O duque! - ele repetiu com um tom de escrnio.- No me faa esquecer uma histria de Sua Graa sobre o modo como ele

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    5/57

    economiza em gorjetas... Por enquanto vamos ao que interessa: voc.O duque de Vernonwick, primo de Harry, era o cabea da famlia Vernon,alvo de caoadas e, talvez, o homem mais avaro da Inglaterra.Nunca se ouvira falar que tivesse ajudado algum, por pior que fosse oembarao da desventurada pessoa.Todos se divertiam em colecionar piadas e exagerar fatos relacionados aessa figura to peculiar.

    Harry lembrou-se de seu pai, quando, certa vez, o velho observou comressentimento:"A nica coisa que o duque nos proporciona darmos boas risadas suacusta".A famlia de Harry era to pobre como a de Arilla, mas tinha sanguenobre, o que lhe dava entrada ao beau monde de Londres.Alm disso, Harry era to carismtico e belo que at o prncipe regentetornara-se um de seus melhores amigos.- Mas... voltando ao que falvamos - props Arilla -, voc disse que eusou bonita e, se me vestir bem, ficarei to ou mais linda que mame,certo? Por isso, resolvi. ir para Londres!Harry quase caiu da cadeira, de susto.- Como?

    Ela se acomodou melhor e explicou:- Cheguei concluso de que, se no quiser ficar aqui mofando, ou pior,morrendo de fome, preciso me... casar com um homem rico!Harry ia abrir a boca para falar, mas Arilla adiantou-se:- Como voc disse, no h possibilidade de cair um anjo rico dos cus deLittle Marchwood. - E sorrindo, continuou: - No h tambm esperanas deacontecer algum acidente de carruagem aqui, s portas do solar, que me da possibilidade de ser a enfermeira de um rico e jovem senhor. Tudo issos acontece em histrias de prncipe encantado, prprias dos folhetins.Ento o que pretendo ficar conhecida na alta sociedade de Londres comoa Incomparvel. S conseguirei isso com sua preciosa ajuda.- No vai ser possvel. Voc no entende? Assim.Ela no o deixou continuar.- Calma! Ainda no terminei. evidente que no posso tornar-me a

    Incomparvel com este meu visual. Sei tambm que precisaria de uma damade companhia, de acordo com os ditames da sociedade inglesa, e issoincorreria em muitos gastos.- E ento?- Serei a maravilhosa e jovem viva de sir Roderick Lindsey.Harry ficou to aturdido que no pde articular palavra. Encarou-aatnito, achando que ela enlouquecera, e balbuciou, intrigado:- A viva de seu pai?Exatamente. Ningum est sabendo ainda que ele morreu, exceto voc e opessoal aqui da cidade. No tive dinheiro para pr a notcia na Gazetteou no Morning Post. Alis, seria uma perda de tempo informar pessoasdesinteressadas e distantes sobre a morte de um amigo esquecido.- Entendo. Mas no vejo razo para tal disfarce.

    - No seja ingnuo. Tudo mais fcil para uma jovem e rica viva do quepara uma inocente debutante!- Rica? - Ele quase gritou.- essa a impresso que vamos passar ao mundo todo, ao universo socialem que voc brilha!Harry aprumou-se e passou a mo pela testa mida.- Decididamente voc enlouqueceu! E o dinheiro. de onde sair?- De nossa imaginao!- De quanto vai precisar?- Depois eu digo.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    6/57

    - Voc acha que vo acreditar em ns?- Eles vo acreditar em voc - Arilla afirmou com segurana. - Voc vaiespalhar entre seus nobres amigos que uma jovem e sedutora viva, pormbem-comportada, est em Londres, sem conhecer ningum. No lhe passoudespercebido o ar de incredulidade de Harry mas assim mesmo prosseguiu:- Deve criar um suspense a respeito de lady Lindsey e convid-la para umaou duas recepes, em que ela ser a sensao da noite.

    - Assim... com essa apresentao?Ele olhou-a de alto a baixo com desdm, mas ela no se perturbou.- No sou tola como voc pensa! Planejei tudo, desde que me convenci deque ia perder meu pai. Fiquei desesperada pensando na solido em queficaria, s tendo o velho Johnsons para conversar. Ento fui engendrandouma maneira de mudar a situao, mesmo porque j est na hora deaposentar esse nosso leal empregado, digno de um bom descanso.- uma loucura, mas continue.- A nica coisa que me restou foram as prolas que mame me deu ainda emvida, assim como o broche de brilhantes que ela s usava nas raras masgrandes ocasies.Arilla prosseguiu com voz embargada:- Sempre adorei essas jias. Depois que se tornaram minhas, me apeguei

    mais ainda, de tal forma que no pude desfazer-me delas. Mas agora seique s elas me abriro as portas de um mundo novo, aquele que minha mesempre sonhou para mim. Sabe, sinto-a to perto... me inspirando,fortalecendo e amando como sempre.- No acredito que sua me esperasse de voc o impossvel.- Por que impossvel? - ela retrucou, meio agressiva. - Pense um pouco:voc disse que sou bonita. as jias me daro dinheiro para viver algunsmeses, com parcimnia... A nica despesa maior ser com roupas que no odeixem envergonhar-se de mim.- No vai ser rica?Arilla deu uma risada cristalina.- Sabia que voc ia dizer isso. Mas muitas pessoas ricas no esbanjamdinheiro. Voc mesmo conhece gente com fama de rica que leva uma vidamodesta.

    - verdade. H muitos duques por a...- Veja lorde Colton, por exemplo. Mora aqui neste lugar e riqussimo!Papai dizia que, quando ele recebia, oferecia uma comida to miservel evinhos to ordinrios que eram um verdadeiro insulto aos convidados!- Voc tem toda razo quando diz que muitos ricos no demonstram o quetm. Eu mesmo conheo alguns.- A nica pessoa rica que conheci foi minha madrinha, e ela me desejavabom Natal com carto que havia recebido no ano anterior. Portanto, Harry,o que voc dever fazer pr na cabea de seus distintos amigos que ladyLindsey rica! E eles no vo esperar dela nada mais do que elegncia notrajar.- Onde voc pretende ficar em Londres?- Eu pensei. que talvez voc. pudesse me ajudar. Se eu alugasse uma casa

    por dois meses... no sobraria o suficiente para comprar os vestidos!- Pronto, chegou onde eu queria. Ento no h nada a fazer...Mas, quando ele viu o desapontamento nos olhos midos de Arilla, noresistiu e disse:- Espere um pouco, tive uma ideia!- Teve? - ela exclamou, reanimada.- Quando recebi sua carta comunicando-me a morte de seu pai e que vocqueria me ver, tinha acabado de me despedir de uma amiga que ia a Paris,onde ficaria por dois meses.Arilla no o interrompeu. Seu semblante mostrava uma comovedora expresso

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    7/57

    de esperana.- Minha amiga no pertence alta sociedade prosseguiu ele - e tambm no uma pessoa que eu possa apresentar a voc. Contudo est bem instaladaem uma luxuosa casa em Islington. Antes de partir me disse que, se eutivesse algum problema com acomodao, poderia dispor dessa casa, bemcomo da criadagem.- Oh, Harry!. Voc acha.

    - H certamente uma possibilidade - ele interrompeu - e ento a nicadespesa seria com a comida e com generosas gorjetas para os empregados aseu servio.Ela deu um gritinho de alegria e se aproximou mais.- Voc quer dizer que. vai fazer isso por mim?- Acho que uma ideia absurda, louca e ridcula! Mas melhor do quedeix-la ficar aqui para sempre!- Oh, Harry!As lgrimas j inundavam os grandes olhos de Arilla que, sem poder evit-las, deixou que se derramassem copiosamente por suas faces acetinadas.Abraando os joelhos, ela ergueu o olhar para Harry e balbuciou comdoura:- Eu... eu sempre achei que voc era bonzinho. o mais maravilhoso primo

    que algum poderia ter!- No me agradea ainda! J est resolvido que tomaremos parte nessacorrida mas. h muitos obstculos para transpor antes de atingirmos alinha de vitria!Arilla, com um gesto infantil, enxugou as lgrimas com o dorso das mos edisse:- Eu sei. Mas eu prometo: tudo que conseguir dividirei com voc.- Espera l. O que quer dizer com isso? - perguntou ele, num tom dereprovao.- No seja tolo e orgulhoso, Harry. Ns sempre repartimos tudo quandocrianas, porque no continuar fazendo o mesmo? No vou achar ruim.- Mas eu vou. Explique-me melhor, Arilla!- Bem, se eu me casar com um homem rico, pretendo dar-lhe tudo o que vocno pode ter agora.

    Harry teria retrucado, mas ela ergueu os dedos e pressionou-os contra oslbios dele, impedindo-o de falar.- Estamos juntos nessa luta, Harry. Podemos perder ou ganhar. Se voc serecusar, eu ficarei aqui at o fim de meus dias como solteirona.Ele no pde deixar de rir e declarou:- bobagem brigarmos por alguma coisa que no aconteceu e... poder noacontecer! Se depois de dois meses voc ficar encalhada em minhas mos,eu a largarei no primeiro asilo de indigentes que encontrar!- No, no vai ser preciso... tudo dar certo com voc a meu lado. - Fezuma pausa e depois confessou:- Detesto v-lo vivendo sombra de seus amigos nobres e ricos, parapoder manter seu alto padro de vida. Voc, por si s, no poderiavestir-se assim to bem e nem ter, como no tem, cavalos prprios. Enfim,

    no seria o cavalheiro elegante que .- No fale assim; estou prestes a romper em pranto - ele brincou e,rindo, pediu que ela se calasse. melhor planejarmos juntos esse contode fadas, nos prevenindo para que voc no seja agarrada por algummonstro ou devorada por um drago faminto, assim que chegar a Londres!- Se voc me ajudar. . . nada disso ir acontecer.- Vou ajud-la. . . mas, se no der certo, serei o mais perfeitocandidato para o hospcio!Ambos deram boas gargalhadas, no pela observao mas por causa doexcitamento em que se encontravam.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    8/57

    Arilla encheu o copo de Harry, convidando-o jovialmente:- Vamos brindar a nosso sucesso. Como h apenas um clice, beberemos osdois da mesma fonte, o que muito simblico!- Simblico? S me faz lembrar. . . misria! Em meio a risadas, eleergueu o copo e desejou:18- Incomparvel lady Lindsey, para que ela consiga tudo o que deseja!

    Bebeu um pouco e deu a taa a Arilla, que brindou:- Para Harry, o arcanjo que me abrir as portas do paraso.com os olhos brilhando de alegria, ela tomou um golezinho e pousou oclice sobre a mesa.- At que enfim, Harry, voc se convenceu de que deve me orientar para euno fazer nenhuma bobagem!- E voc se convenceu de que deve me obedecer cegamente!- Alis, o que eu sempre fiz! Lembra-se de quando ramos crianas e vocme fazia de sua escrava? Eu pegava todas as bolas que saam fora noboliche e no cricket. . . Chegava a ficar cansada!Ele riu gostosamente.- Naquela poca, eu achava que meninas s serviam para isso!- E agora. .. para que mais elas servem?

    - Voc vai descobrir.. . quando morar em Londres!Duas semanas mais tarde, viajando em uma carruagem que Harry lhe mandara,Arilla sentia-se nas nuvens. Apesar de o dia estar quente, suas mosachavam-se frias e umedecidas.No tinha sido difcil sonhar, durante o sombrio perodo em que seu paijazera imvel na cama e ela ficara sem ningum para conversar, alm dosvelhos e leais criados.Eles s falavam de reumatismo e do trabalho extra que os mdicos exigiam,cada vez que eram chamados.Passavam-se semanas sem que ela tivesse contato com algum fora de casa.Se no fosse por sua imaginao frtil, Arilla teria se sentido muitomais infeliz do que fora realmente; os sonhos atenuaram-lhe a tristesolido.19

    Agora, como que por encanto, o impossvel tornava-se realizvel. Sentiavontade de se beliscar para ter certeza do que estava acontecendo.Harry tinha voltado para Londres levando as jias. Escrevera depoiscontando que as vendera por mais do que esperavam. Logo despachara umvestido e um chapu de viagem, para que ela chegasse bem-arrumada casade Islington.Arilla estava curiosa em relao moradora daquela casa, mas Harry semantivera misterioso a respeito.No entanto, ela intura que a mulher, por quem Harry parecia alimentargrande afeio, estava em Paris com o senhor que a presenteara com a casade Islington. . .Ela achava estranho o fato de um homem, no sendo casado, dispor de tantodinheiro na compra de um imvel para uma mulher que mesmo Harry no

    admitia entre suas melhores amigas e nem queria que ela conhecesse.Arilla sabia da existncia de mulheres, como as artistas, por exemplo,que aceitavam convites de cavalheiros para cear, em altas horas da noite.. ."Mas elas no fazem parte do mundo social em que lady Lindseybrilhar.. .", pensou Arilla e continuou em suas divagaes.Precisava tomar cuidado para no cometer nenhuma gafe.No fora toa que a me, falecida quando ela contava dezesseis anos,ensinara-lhe boas maneiras, apesar de eles serem pobres.Mesmo nos frugais jantares em famlia, seus pais arrumavam-se com esmero

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    9/57

    para sentarem-se mesa. No se vestir condignamente para o jantar, cadanoite, seria to extravagante como no se lavar cada manh.Quando ela crescera o bastante para participar das refeies, tambmfazia o mesmo.Se havia algum prato mais sofisticado, a me se retirava com discriopara a cozinha, a fim de dar o toque final, antes que o velho Johnsons oservisse.

    O pai se mantinha impassvel, fingindo no notar a ausncia da esposaque, ao voltar, mais corada, mas sempre linda, tomava seu lugar mesa eo fio da conversa interrompida.Arilla sabia receber, desempenhando-se principescamente, mesmo com ovigrio, o mdico ou algum raro amigo da vizinhana.No caso de cometer algum deslize, mais tarde, com carinho, a me acorrigia. "Querida, quando voc apresentada a algum, deve olhar para apessoa. A timidez no desculpa para baixar os olhos; algo feio eindelicado, assim como no dar a mo na altura e com a presso certas",ensinava a me.Arilla havia aprendido tambm a fazer reverncia rainha para o caso,to almejado agora, de um dia ser apresentada corte."Uma apresentao ao prncipe regente seria muito mais interessante",

    pensava Arilla. "Talvez agora isso acontea, pois Harry to amigodele!" De sbito lembrou-se de que Sua Alteza preferia mulheresmaduras. . . Chegara mesmo um boato em Marchwood de que ele, antes de secasar com a princesa Carolina de Brunswick, o que fora um desastre, jtivera um casamento secreto com a sra. Fitzherbert, muito mais velha doque Sua Alteza Real. De qualquer maneira, seria excitante conhec-lo.No entanto, o que ela precisava era de um marido rico!Se o arranjasse, haveria de saldar todas as dvidas de Harry. dar-lhecavalos, criados, tudo que seu refinado bom gosto reclamava! Sabia como oprimo se sentia humilhado quando tinha de recorrer a um amigo para obtertransporte de Londres at Marchwood.Ele, que sempre fora exmio cavaleiro, at ganhara uma medalha do duquede Wellington, aps a batalha de Waterloo!"Que pena Harry ter deixado o regimento", dissera o sr. Roderick ao

    terminar a guerra. Quando Arilla perguntou a razo, o velho informou-lhe,suspirando, que o rapaz no tinha meios para se manter naquela arma e commgoa se culpou pelo fato de no t-lo deixado fazer a infantaria."Ele era to hbil e garboso num cavalo que eu no resisti ao desejo det-lo em meu regimento", concluiu o pai de Arilla."Harry tem que possuir cavalos", ela admitiu. "Vou fazer de tudo para quemeu marido goste dele, tanto quanto eu. Ento ir morar conosco, tercavalarios e salo nobre para receber seus amigos!"Arilla no conseguia imaginar o rosto de seu futuro marido, todavia sabiaque iria ser um velhote um pouco barrigudo mas bondoso e compreensivocomo seu pai.A me s vezes se queixava de que ele teria dado aos necessitados sualtima camisa se ela no o tivesse impedido.

    "Poderamos ter ficado ricos", dissera uma vez. "Mas ele muito bom egeneroso em pensamentos, palavras e aes. . . e por isso que o amo comtodo o fervor!""Ento ele , na verdade, um homem rico, mame!", Arilla exclamara."Concordo e acho que ns temos muito mais do que o dinheiro poderiacomprar!"Notando a expresso intrigada da filha, lady Lindsey explicara:"Estou falando de amor! Meu amor por seu pai, o que ele tem por mim e nspor voc! Todos os dias agradeo a Deus pela adorvel filhinha que Elenos deu!"

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    10/57

    Quando a me morrera, Arilla pensara que o sol tivesse abandonado aquelacasa. Sabia que o pai jamais seria o mesmo.A princpio ele se isolava, cavalgando sem destino ou bebendo muito. Maisde uma vez ela vira lgrimas indiscretas rolarem por seu rosto abatido.Arilla quase tinha certeza de que, quando aconteceu o acidente, eleestava montando com negligncia, como que absorto na grande mgoa quepesava em seu corao.

    Ela se desesperara ao v-lo sem sentidos, transportado sobre uma velhaporteira, o meio improvisado pelo qual o levaram para casa. No podiaacreditar que fosse perd-lo to logo depois da morte da me."Por favor, meu Deus, no o leve...", ela rezara. "Se ele se for, vouficar completa e absolutamente sozinha!"Mais tarde viera a melhora, mas num corpo sem alma... e ela se convencerade que a morte seria uma bno, no s para ele mas tambm para os que orodeavam.Era desesperador ver deitado, inerte como um vegetal, aquele que outrorafora to belo e garboso!No momento em que os mdicos, ao sarem do quarto, balanaram a cabea emsinal de que nada mais havia a fazer, ela entendeu que seu pai jamais aouviria de novo ou a reconheceria.

    medida que as semanas se acumulavam em meses, Arilla sentia estarperdendo no apenas o pai, mas a essncia da prpria vida!Ento foi como se a me, para confort-la e faz-la rezar, lhe tomasse asmos pondo-as em postura de prece. Ela implorou a Deus para que nodeixasse essa desgraa afet-la a ponto de arruinar sua vida."Eu vou viver como a senhora queria se tivssemos tido mais posses,mame. Mesmo que seja por pouco tempo, tudo vai mudar."Os planos de Arilla dia a dia se solidificavam, e ela examinavapormenorizadamente cada etapa de sua luta pela ascenso glria!Diante do espelho recordava os meneios que a me lhe ensinara. Precisavaser graciosa no andar, no movimento das mos, da cabea, na maneira defalar.Arilla esforou-se para se pr a par das notcias do Parlamento, dosproblemas sociais, enfim, entender a situao geral do pas. No foi

    tarefa muito fcil porque o dinheiro de um jornal lhe fazia falta.Sabia que o vigrio e um funcionrio aposentado do banco eram assinantesde um jornal e o aougueiro lia um pasquim, no dizer de seu pai. Tinhasido embaraoso, para ela, pedir-lhes que guardassem esses noticiosos,mas felizmente eles logo se prontificaram a faz-lo.O vigrio lhe fornecia o The Times com trs dias de atraso. O bancrio,leitor do The Morning Post, queria dois dias para ler... e o aougueirono abria mo do Reformists Register a no ser depois de uma semana. casono o tivesse usado para embrulhar a carne. Mas muitas vezes ele o cediaantes mesmo de terminar a leitura, em ateno grande amizade que nutriapor sir Roderick.Arilla nunca reclamava porque, com atraso ou no ia se atualizando.Parecia-lhe que Little Marchwood ficava em um planeta diferente e que s

    agora ela estava descobrindo a terra.Esperava que seus habitantes fossem todos inteligentes e divertidos comoHarry e como ela pretendia ser. Esperava tambm sair-se bem entre essaspessoas to diferentes daquelas a que se acostumara.Agora, o milagre comeava a se realizar: muito feliJ ela estava a caminhode Londres, em uma linda carruagem conseguida por Harry e conduzida porum cocheiro de capa vermelha e um lacaio de libr cinzenta."J me sinto uma deusa, agora preciso me comportar como tal", pensouArilla.Harry tinha lhe mandado um vestido bem diverso daqueles que usava. Era de

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    11/57

    um azul muito vivo, todo debruado com fitinhas de cetim em tom maisescuro, formando desenhos delicados, e tinha mangas compridas queterminavam em gracioso babado, que avanava um pouco em suas mosdelicadas e alvas. A cintura era ainda alta, como a dos modelos dedurante a guerra.Arilla nunca vira em Little Marchwood um chapeuzinho mais galante do queaquele que vaidosamente ostentava. Tinha fitas azuis amarradas abaixo do

    queixo, a aba circundada com finssima renda do mesmo tom e um tufo deplumas de avestruz, em degrade azul, enfeitando a delicada copa.Ao olhar-se no espelho, antes de sair, ela mal podia acreditar que fossesua a imagem ali refletida. E admitira, sem falsa modstia, que estavalinda!"No vou envergonhar Harry", pensara.E quando vira a luxuosa carruagem com dois cavalos de raa, a portinholaaberta, os criados a postos convidando-a para entrar, conscientizara-sede que uma grande aventura comeava."Acontea o que acontecer no futuro, jamais me arrependerei de t-lavivido! "CAPITULO IIA carruagem percorreu preguiosamente a alameda e parou em frente a uma

    suntuosa residncia, em Islington. Encantada, por uns instantes Arilla semanteve esttica, contemplando a manso.O lacaio apeou, tocou a sineta e a majestosa porta se abriu. No umbralsurgiu uma criada, de avental branco de babadinhos engomados e gorrocombinando. Arilla desceu com elegncia.- Bom-dia! - exclamou ao ser reverenciada pela servial.- Bom-dia, senhora. Espero que tenha feito uma boa viagem!- Foi muito boa, obrigada.Sem saber se deveria ou no se despedir do cocheiro e seu ajudante, elaadentrou o imponente hall.- O sr. Vernon est aqui?- Est esperando pela senhora no salo - informou a criada, indicando ocaminho.Arilla mal podia conter a impacincia. Sua vontade era correr ao encontro

    do primo, mas... como boa menina, comportou-se.De repente sentiu medo do que se havia proposto. S Harry poderia lheassegurar xito nessa arriscada aventura. Rezava para que tudo estivessebem encaminhado.O luxuoso salo dava para um bem tratado jardim ao fundo da casa. Prximo janela Harry cismava.- Lady Lindsey, senhor - anunciou a criada.Ele se voltou e Arilla, com espontaneidade, correu ao seu encontro.- Harry! Aqui estou eu, primo. Oh! Harry, ser que vai dar tudo certo?Ele sorriu, segurou-a pelos ombros e se ps a examin-la.- Deixe-me ver como voc est!Arilla fitou-o apreensiva, enquanto o primo a media da cabea aos ps.- Perfeito! - disse ele com entusiasmo. - Exatamente como eu queria que

    estivesse!- Fala a verdade?- Claro! Do fundo do meu corao. Precisa ter mais confiana em si,Arilla.- Eu tenho, Harry. Mas tive medo de desapont-lo.- Que tolice! O pior seria voc se desapontar, e no eu... O que estachando do ambiente?Ela examinou a enorme sala. A moblia, de fino brocado azul, era deincontestvel bom gosto: preciosos lustres de cristal pendiam do tetoalto e lavrado. Por toda a parte havia um fulgor de prata e ouro nos

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    12/57

    objetos de adorno.As paredes exibiam quadros de grande beleza. "Devem ser reprodues depintores famosos, cujos quadros esto expostos na Galeria Nacional ou emoutras capitais da Europa", ela pensou maravilhada, e respondeu:- Digno de uma rainha!- Tem razo. Barlow tem um gosto extraordinrio!- Barlow? - inquiriu Arilla, curiosa.

    - O nome de seu hospitaleiro, que, no entanto, no sabe que a hospeda -Harry informou rindo.Ela se intrigou.- Pensei que morasse uma senhora aqui. Encabulado, ele indagou:- E que diferena faz? Veja bem, no caso de perguntarem, esta a casa delorde Barlow, alugada paravoc em considerao a seu falecido marido, de quem gostava muito.Arilla deu um profundo suspiro.- Espero me lembrar de tudo.- Vai se lembrar - Harry afirmou com confiana.- Agora, a primeira coisa a fazer comprar roupas. J marquei umacostureira para depois do almoo.- Aqui? Pensei que fssemos a alguma loja!

    No seria prudente. Algum poderia v-la. Quero que voc surja nouniverso social como um cometa inesperado.- Ah, no caoe! E quando isso vai acontecer?- Amanh noite. J est tudo programado: voc vai ser apresentada a umaimportante anfitri de Londres. Se ela gostar de voc, talvez a faaentrar para o Almack's.O Almack's era o mais conceituado e exclusivo clube londrino, ondebrilhavam as grandes figuras do beau monde, e, entre elas, Harry, oprotegido dos membros da corte. Esse clube seria, para Arilla, opassaporte de entrada para toda a alta sociedade britnica.- E quem essa grande dama?- A condessa de Jersey. Uma mulher caprichosa e imprevisvel. Tanto podeglorificar como destruir uma pessoa. Por isso temida e bajulada.Esse comentrio no foi nada entusiasmante para Arilla, como tambm no o

    foi o lauto almoo servido logo depois.Harry saboreava um delicioso vinho quando ela ousou observar:Quanto vai nos custar isso?- Est tudo sob controle. Voc tem uma farta despensa e uma criadagem,que consiste em uma cozinheira e uma criada de quarto. S mulheres!Quando lorde Barlow se hospeda aqui, traz um criado particular paraservi-lo; por isso voc tem que se arrumar sem mordomo.Outra vez ela se viu diante de um enigma. Se aquela era a casa de lordeBarlow, por que Harry falara "quando ele se hospeda aqui"? Mas no quisespecular.Antes do almoo, Arilla subira para tirar o chapu e se aprontar para arefeio. Ficara pasmada ante o conforto e o luxo do quarto.Nunca havia pensado existir coisas to aconchegantes e belas: o cortinado

    de musselina de seda envolvendo o grande leito;os ricos tufos de rendaque ornavam o toucador antigo e os espelhos italianos que aumentavam oambiente e refletiam sua imagem, propagando-a de parede a parede.A camareira era uma moa encantadora, evidentemente orgulhosa de seuofcio.- Estou bem assim? - Arilla lhe perguntara, antes de descer.- Sim, est linda! Parece uma lady. Desculpe, no sei se posso cham-laassim. - E a criaturinha enrubescera.Estranha observao, mas Arilla absteve-se de comentar com Harry. Estavapreocupada em agradecer-lhe aquela casa maravilhosa.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    13/57

    Quando o almoo terminou e eles voltaram ao salo, ela disse, um poucoansiosa:- Vamos ser prudentes e no gastar muito em roupas. E se tudo der em nadamais cedo do que esperamos?Harry, sem se impressionar com a admoestao, continuou:- Eu fiz o seguinte: prometi costureira que aumentaria sua clientelacom as muitas mulheres elegantes que vo apreciar suas toaletes. - Depois

    de uma pausa, acrescentou: - Ela costura para a moa que mora aqui. masvoc vai se comprometer a arranjar-lhe novas freguesas entre as madamesque conhecer. As que ela tem, na maioria, so prosti... - Na penltimaslaba parou e falou artistas.- Ah! J sei. Ela pensa que sou uma pessoa da alta sociedade e espera queeu lhe apresente outras senhoras importantes.Harry suspirou aliviado.- Exato.- E se ningum me admirar?- Como no? Faremos o possvel e o impossvel para torn-laincomparavelmente linda! - ele exclamou confiante.Quando a costureira chegou, Arilla surpreendeu-se com sua beleza ejovialidade.

    - Estou s suas ordens, sr. Vernon. Como sempre, fui cativada pelo seucharme. A caminho questionava-me sobre a razo de minha obedincia.- No seja irnica, Liza. Voc no se arrepender por ajudar lady Lindseya atingir o sucesso que lhe est destinado.Pensativa, Liza analisou Arilla. Depois, fazendo uma espalhafatosareverncia, sorriu para Harry:- Meus parabns, voc venceu!Ele se desmanchou em sorrisos, como se fosse responsvel pela belezairrefutvel da prima.Arilla sempre havia pensado que comprar vestidos fosse um prazer. Nuncasupusera ser algo to cansativo. Exauriu-se experimentando os muitosmodelos que Liza trouxera. Foi mais cansativo do que andar um dia inteiroa cavalo, ou mesmo cuidar de Seu pai doente.Contudo, ela ficou conhecendo uma nova faceta de Harry. Jamais imaginara

    que ele pudesse conhecer to a fundo a arte de vestir uma mulher.Harry sugeria alteraes em quase todos os vestidos, e era surpreendentecomo recebia a total aprovao de Liza. A costureira se perguntava, apscada ideia nova dele, por que no pensara naquela sugesto antes.Isso aconteceu com um vestido de gaze verde, a cor dos brotos daprimavera. Ele insistiu para que ela o enfeitasse comdelicadas flores na barra, valorizando-o muito. De outra feita, negou-sea comprar um determinado modelo, dizendo:- No prprio para Arilla... a faz mais velha e caipira!Mas, de um modo geral, todos os vestidos eram muito lindos, dificultandoa escolha.Harry escolheu quase todos, com exceo de dois. Arilla ento no pdeesconder sua perplexidade.

    - Voc vai comprar. .. todos esses?- .. .e alguns mais. Liza vai trazer figurinos, amanh.- Mas. .. eu no vou.. . No possvel! - ela reagiu.E como Harry lhe lanasse um olhar reprovador, sua voz se converteu numvago lamento, sumindo pouco a pouco no silncio.Ficou combinado que dois vestidos seriam entregues nessa mesma noite e osoutros, no dia seguinte, tarde.Depois que Liza partiu levando as caixas na carruagem, Arilla criticouHarry severamente:- Voc ficou louco? No vamos poder pagar esses vestidos! Alm disso, no

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    14/57

    terei chance de us-los todos.Harry foi para junto dela e vendo-a to assustada, a ponto de tremer,disse-lhe com grave serenidade:- Ou voc aceita minhas determinaes ou deixo tudo por sua conta.- No, no. Pelo amor de Deus! Voc sabe que eu no posso fazer nadasozinha. Mas. . . que fortuna!- Da qual a rica lady Lindsey pode dispor - garantiu Harry, enfatizando o

    adjetivo. Todavia, ao olhar para ela, to frgil e insegura, parecendo umbichinho assustado, apiedou-se. - Deixe comigo. Prometo que tudo darcerto e voc no vai ser molestada por nenhum credor.- Mas quase no temos dinheiro!Ele a abraou fraternalmente, encorajando-a.- No fique assim, Arilla. Logo seu prncipe encantado vai chegar e...vocs vivero felizes para sempre.- No aspirar muito? - choramingou ela.- Que nada! Assim que voc chegou, achei que venceramos.- Tem certeza?- Absoluta. Sabe o que mais me entusiasma? Enganar toda essa gentepedante e convencida de que sabe e pode tudo!A maneira alegre e decidida como ele falou imprimiu novo alento em

    Arilla.- Vamos conseguir, Harry.. . vamos conseguir!- Quando olho para voc, assim to linda, s posso achar que sim. Sabe oque Liza me disse ao sair? Ele fez uma pausa para causar impacto. - "Osenhor est no rumo certo, sr. Vernon. Ela rica e h muito tempo novejo criatura to encantadora! Cuidado para no perd-la."- Falou isso?!- Sim, moa, e esteja certa de uma coisa: ela vai decantar sua beleza ameio mundo! Amanh mesmo um bom nmero de freguesas estar falando sobrevoc.- Ai, isso me apavora, mas ao mesmo tempo empolgante!- E estimulante! Mas lembre-se: muito importante voc assumir o papelque representa, para no falhar em nenhum ponto.- Se sou to rica... ser que Liza no estranhou voc pechinchar tanto?

    - Eu disse que seu falecido marido era muito econmico e voc seacostumou a isso. Reforcei dizendo que ainda no tinha tomado posse daherana. .. Recomendei a ela que no a assustasse com esses preosexagerados da city porque voc sempre morou na zona rural.- Mas, quando cheguei, eu estava com um chapu e um vestido bem finos.Por sinal voc no me disse quanto custaram.- Nada.- Como?- Eu os pedi emprestados a uma amiguinha. Quando suas coisas chegarem,vou devolv-los.- Oh! Harry, como vou fazer para agradecer-lhe?- Eu agradeo por voc. Alis, tambm no posso apresent-la a voc, bemcomo a minha amiga que mora aqui.

    - E elas so. .. suas amigas?- Comigo diferente!- Ah! J sei, so.. . artistas! Por isso o vestido e o chapu so tolindos!- So.. . so artistas - ele respondeu com rapidez. Arilla teve aimpresso de que ele mentia, mas noatinava com a razo.Harry despediu-se, avisando que jantariam juntos.- No se incomode, Harry. Se tiver um programa mais interessante, mearranjarei sozinha - ela declarou com humildade, mas torcendo para que

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    15/57

    no fosse verdade que ele tivesse coisa melhor a fazer.- Farei um pequeno sacrifcio - ele falou calmamente. - Tenho instruesa lhe dar, para evitar em baraos amanh.- No vou me embaraar. Fique sossegado. Depois que Harry saiu, Arillasubiu para seus aposentos. Sentia-se deveras cansada.A camareira, de nome Rose, sugeriu que ela se deitasse um pouco antes depreparar-lhe o banho.

    Tal mordomia agradava-lhe muito. Arilla seguiu o conselho e, quando suacabea tocou o travesseiro, caiu no sono.Dormira mal a noite anterior, pois pesavam-lhe no s o futuro, mastambm os ltimos acontecimentos de sua vida. Os Johnsons lhe causavampreocupao. Alm de seus parcos salrios, ela lhes dera algum dinheiroque lhes provesse de alimento por um pouco de tempo.Estava decidida a pedir a Harry uma mesada para eles, pois j haviampassado mal por ocasio da doena de seu pai. Quando fosse rica, dariauma penso generosa aos Johnsons. Poderiam ficar morando no solar, ouento ela lhes compraria uma casinha na cidade.Se arranjasse um marido rico, haveria tanto a fazer com o dinheiro dele!Muita gente, como o senhor do emprio, o aougueiro, tinha sido bondosa,dando-lhe crdito quando o dinheiro faltara. Gostaria de retribuir, assim

    que pudesse, apesar de no saber se sua fortuna seria de grande monta.Que desgraa se seu "prncipe de ouro" fosse to avaro quanto os ricaosque ela e Harry conheciam! Mas, nesse caso, ela no se casaria.Rose despertou-a, avisando que o banho estava pronto.Logo depois, Arilla sentia-se uma princesa de contos de fada! E, aovestir o modelo esvoaante de Liza, teve certeza disso.Estava bem diferente daquela menina interiorana de cabelos malcuidados evestidos de algodo barato de Little Marchwood. Agora era s charme eelegncia!O vestido de gaze realava a beleza de suas formas esbeltas e mostravaseu colo delicado, num decote audacioso em desacordo com seus hbitosprovincianos.A imagem refletida no espelho do quarto era to maravilhosa e irreal quea fez temer que se desfizesse na nebulosidade de um sonho.

    Mas, ao descer, os espelhos do salo confirmaram sua beleza, enriquecidapor uma atitude e um porte de rainha.Apesar da temperatura agradvel da tarde, a noite estava fria, e alareira fora acesa. Em p, na frente do fogo, Arilla ouviu a porta seabrir. Um arrepio a fez estremecer de alegria. Harry devia ter chegado.A empregada anunciou:- Lorde Rochfield, senhora.Um homem distinto e belo adentrou a sala, para surpresa de Arilla."Harry deve t-lo convidado para jantar", pensou ela.Mas, quando ele a olhou com o mesmo espanto que seus olhos mostravam,percebeu que se enganara.- Boa-noite. amiga de Mimi?- Mimi? - ela perguntou, em dvida. Achou que ele esperava encontrar a

    dona da casa e foi logo dizendo:- Estou morando aqui e... no h mais ningum alm das empregadas.- Mimi viajou? estranho. Sabia que eu viria esta noite. Deixou vocpara me consolar, no foi?Arilla ficou perplexa. Antes que pudesse retrucar, ele prosseguiu:- Que amor! No sei como no notei voc antes.Ele a media com um olhar atrevido, fazendo-a sentir-se desconfortvel.Sabia que ali, em frente ao fogo, suas vestes deviam estar transparentese seu decote, perturbador.- Sinto muito que o senhor esteja desapontado por no. . . encontrar a

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    16/57

    dona da casa.- De maneira nenhuma! No estou desapontado. Voc muito mais atraentedo que ela. fascinante, ... muitas coisas que lhe direi, mais tarde,depois de nosso jantar.O lorde deu um passo frente e Arilla, aterrorizada, recuou com medo deque ele a tocasse.- Vamos jantar aqui mesmo ou quer sair?

    - Eu. . . eu preciso explicar - ela falou, desamparada, comeando atossir.- No, no quero explicaes; eu a quero o mais rapidamente... na cama. -E ia avanar para ela quando uma voz metlica e firme anunciou:- O sr. Vernon, senhora.Lorde Rochfield virou-se contrariado mas, controlando-se, exclamou:- Harry Vernon! Que diabo voc est fazendo aqui?- Devolvo-lhe a pergunta - disse Harry, de mau humor.- Ainda bem que Mimi deixou uma substituta.. . Esta deusa encantadora.Nesse momento Harry j tinha alcanado Arilla que, amedrontada, agarrou-se ao brao dele.- Vossa Graa talvez no saiba que Mimi foi a Paris, e minha prima, ladyLindsey, alugou esta casa de Barlow, na ausncia dela.

    Lorde Rochfield olhou desconfiado para Arilla, achando que estivessesendo ludibriado. Todavia, ao perceber o pavor estampado no semblante dajovem, convenceu-se.- ... parece que houve um engano.- No foi culpa sua. Mimi devia ter avisado que deixaria a Inglaterra poralgum tempo - disse Harry, com firmeza. - Minha prima, milorde, levavauma vida serena no campo e chegou recentemente a Londres. Espero que noa desaponte, pois Sua Graa o primeiro representante da sociedadelondrina a ser-lhe apresentado.- Uma situao assaz privilegiada! - exclamou o lorde.- Vou servir um drinque. Deve haver champanhe por aqui. - Harryatravessou o salo, afastando-se.- Espero que me desculpe se a ofendi antes de conhec-la.- Oh, sim. Eu apenas fiquei confusa porque nem sabia o nome da senhora

    que mora aqui.Lorde Rochfield tossiu e falou com voz acariciante:- Gostaria de lev-la para dar uma volta de carruagem pelo parque. -Sorriu e achou melhor arriscar outro convite: - Talvez vocs doisconcordem em jantar comigo uma noite dessas?- Ser um prazer!Harry j voltava com duas taas de champanhe, que entregou a ambos,retornando ao bufet para servir-se.- No h necessidade de desejar sucesso a voc disse o lorde, levantandoa taa para Arilla - porque, obviamente, o ter, e esmagador! Espero,isso sim, que no esquea seu primeiro contato aqui em Londres. fazendo-me seu amigo.- O senhor . muito amvel.

    E as duas taas tilintaram ao tocarem-se delicadamente.S depois de meia hora, com visvel relutncia, lordeRochfield despediu-se.Arilla achou que ele esperava um convite para jantar, mas no caberia aela faz-lo. Assim que a carruagem distanciou-se, comentou:- Que sorte voc ter chegado, Harry. Lorde Rochfield comeou a falar deum modo to estranho!- Eu sabia.- Mas ele se desculpou, depois. Notou como queria ficar para jantar?- Sim. Mas no pessoa indicada para se envolver com voc. Se bem que...

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    17/57

    prefervel t-lo como amigo do que como inimigo.- Por que no posso envolver-me com ele?- Muito simples: nunca se casaria com voc.- No? E se me conhecesse melhor?- Ele faladssimo por seus casos amorosos, que nunca o levaro a umoutro desastroso casamento.- Ah! Ento j foi casado?

    - evidente. com essa idade! E foi casado com uma mulher encantadora,filha do duque de Doncaster mas a fez sofrer muito.- O que ele fazia?- Tinha muitas amantes, divertia-se com coristas enfim, quase matou aesposa de desgosto. Ela morreuh cinco anos, mas, garanto, ele no vai se amarrar outra vez. J temdois filhos para herdarem seu ttulo e uma imensa fortuna. Ele acha avida de bomio mais divertida e interessante do que a de um esposodedicado.- Esse homem horrvel. - concluiu Arilla, com ingenuidade.- Por isso deve mant-lo a distncia.- Mas voc foi gentil com ele.- Para evitar que crie problemas.

    - Como?Harry sacudiu os ombros, descontente.- Chega de falar nele. Estamos perdendo nosso tempo.- Concordo. E, francamente, nunca mais quero encontrar esse monstro - eladisse em voz fraca. Lembrava-se da maneira vulgar e atrevida com que elea fitara e das palavras estranhas que lhe tinha dirigido.- Ento esquea-o. Se um dia a convidar para sair, apenas negue, oumelhor, eu a orientarei como fazer.- J me convidou para passear no parque e quer que jantemos qualquernoite com ele.Harry soltou uma risada e disse:- Ele estava querendo "emendar o soneto". Pois tomou-a por uma.Hesitou mas Arilla j completava:- Substituta de Mimi. Sei l o que isso possa significar.

    - Que lorde Rochfield v para o inferno com sua impertinncia. Devia terimaginado que voc era uma moa de famlia.- Antes de voc chegar pensou que eu fosse uma. empregada?Harry pigarreou, nervoso e ao mesmo tempo encantado com a inocncia daprima. " Isso no estava no programa. Preciso avisar amoa que atende porta para ter mais cuidado e receber s pessoaspreviamente recomendadas.- Talvez ela tenha pensado que ele era seu convidado.- ... talvez. Mas no deve acontecer de novo.A seguir os dois foram jantar. Harry se mostrou alegre e carinhoso,parecendo querer compensar o aborrecimento causado por lorde Rochfield.Mas Arilla no mais pensava no incidente, encantada que estava com acompanhia sempre to agradvel do primo.

    Quando terminaram de jantar, Harry disse com ar protetor:- vou mand-la para a cama cedo porque amanh temos muito o que fazer. noite, quero voc na melhor das formas para uma entrada triunfal nasociedade mais sofisticada da Inglaterra. - Deteve-se por um instante eprosseguiu: - muito importante a condessa de Jersey aceitar voc. Porisso fiquei preocupado com o lorde. Ele poder fazer algum comentriodesagradvel a seu respeito. pelo fato de morar sozinha, sem uma dama decompanhia.- Isso mau?- Para pessoas tradicionais, apegadas a convencionalismos... um

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    18/57

    escndalo! Mas. todos sabem que sou seu primo e uma espcie de tutor, oque atenua a situao. Alm disso, voc mora em uma boa rea desta cidadee tambm est rodeada de criados. - Brincou.- Ningum vai lhe atirar pedras, espero.- Se fosse para ter uma dama de companhia, preferia ser uma debutante.- E no conheceria nem a metade das pessoas importantes que, como vivarica, vai conhecer.

    - No se interessam por mocinhas?Elas causam problemas para a maioria dos ho mens e, de um modo geral, sodesinteressantes. inexperientes. - Meio sem jeito, Harry aconselhou: Tomecuidado com homens do tipo de lorde Rochfield!Cortejam as mulheres por outras razes... nunca para oferecer uma alianade casamento.- Que outras razes?Harry entrou em conflito: deveria ou no dizer a verdade? No queriaferir os sentimentos de Arilla. Ademais, sabia que sua inocncia e aurade pureza a faziam ainda mais atraente e a protegiam melhor do que elemesmo a poderia proteger.Ao mesmo tempo, pensou: "Ela est to bela e sedutora nesse vestido degaze que entendo por que lorde Rochfield relutou tanto para sair". Temia

    pelo futuro dela, pensando nos inmeros Rochfield espalhados por essemundo afora.Harry ficou carrancudo, e Arilla o interrogou, aflita:- Voc est zangado, Harry? Falei alguma bobagem?- No, claro que no. Nossa corrida j comeou. V para a cama convencidade que teve um bom incio, minha linda priminha. - E acrescentou, feliz:- J ultrapassou a primeira cancela, agora as outras sero mais fceis.Arilla sorriu de modo encantador.- O primeiro obstculo a ser vencido ser a condessa de Jersey - lembrou.- Por enquanto s pulei um perigoso fosso: lorde Rochfield.- H muitos outros obstculos, cuidado!- Mas eu me agarrei em voc, Harry. Vai ser empolgante!- Vai mesmo, Arilla, e... haja o que houver, no desistiremos de correratrs de nossa boa sorte!

    CAPITULO iiiAo entrar no magnfico salo de recepes da condessa de Jersey, Arilladesejava ardentemente que a me a estivesse vendo. Havia lustres decristal da Bomia, moblia francesa, tapetes Aubusson, e o teto eralavrado a ouro.Quando Harry chegara a Islington para apanh-la, ela procurava aprovaopara sua aparncia no olhar dele.O espelho de seu quarto lhe mostrara a imagem de uma boneca, criada porLiza e Harry, e no a sua.Seu vestido de renda, cheio de flores, fitas e babados, longe de ser pordemais enfeitado, lembrava em leveza e nuances a chegada da primavera.Era a prpria Persfone, deixando o Hades para se oferecer luz e aocalor do sol.

    Contudo, ao cruzar a sala em direo ao primo, um tremor percorrera-lhe ocorpo, receosa de que ele no a achasse bela. com ansiedade, perguntara:- Que tal?- Liza trabalhou muito bem - afirmara ele. E colocara-lhe a estola sobreos ombros desnudados porque uma leve brisa se fazia sentir l fora.Uma confortvel e luxuosa carruagem os esperava. No era um faetonte edevia ter sido emprestada, como sempre.Sem nada dizer, Arilla lamentou, mais uma vez, a situao de dependnciade Harry, apesar de sab-lo muito querido entre os ricos amigos. Nodescartou, todavia, a possibilidade de alguma vez ele ter sido objeto

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    19/57

    de chacota por estar em inferioridade econmica. E sofreu com isso, comoele prprio teria sofrido.Arilla foi tomada de pnico ao se aproximar da manso."E se estivermos cometendo um grave erro com toda essa encenao?",questionou-se.Sua grande preocupao era no prejudicar os bons relacionamentos deHarry. Lembrava-se de como ele a prevenira sobre o papel importante da

    condessa em seu meio social.Contudo, Harry no entrara em detalhes a respeito do que ela representavapara o prncipe regente. Tivera medo de chocar Arilla, que jamaisentenderia como Frances Jersey destrura a felicidade entre o entoprncipe de Gales e a sra. Fitzherbert.Me de dois filhos e sete filhas, dos quais alguns a haviam presenteadocom netos, a condessa era nove anos mais velha do que o prncipe, pormdona de um charme maduro e marcante, aliado a uma incrvel formosura.Harry lembrava-se de como o pai e seus contemporneos se referiam a elacomo algum que transpirava malcia, encanto e seduo. Tambm comentavama respeito como sendo uma mulher perversa e inescrupulosa na conquista desuas ambies.Certa ocasio, o velho pai observara:

    "O prncipe no poderia deixar de cair nas malhas dessa infernal Jezebel.Ele estava ciente de toda a crueldade dela, mas os artifcios femininosque ela usou eram de tal forma significantes que lhe foram fatais".E o pai continuara em tom amargo:"Na verdade, o prncipe regente queria ambas as mulheres. No lhe foifcil viver sem a sua Fitzherbert. Mas, finalmente, com uma frreaperseverana, a condessa de Jersey venceu".Era evidente que, depois de ouvir tudo isso sobre a condessa, Harryquisesse conhec-la. Por isso, ao voltarda guerra e estando em Londres, ele a procurou. Encontrou-a velha, masainda bonita e sensual.E Harry, atraente, de personalidade forte e muito boas maneiras, advindasde sua origem nobre, tornou-se o encanto da velha senhora, que oimpulsionou s alturas da sociedade inglesa.

    Em troca, ela esperava que ele estivesse sempre disposto a colorir suasreunies com seu encanto e inteligncia brilhante. Chegava mesmo a sentircime dele, quando requisitado pelo prncipe para outras atividadessociais que no as suas.Mais tarde, com medo de perder prestgio, aconselhou-o a atender SuaAlteza Real, sem deixar de preveni-lo porm:"O prncipe muito interesseiro. adora bajulao. Quando menos esperar,se descartar de voc. E se voc fosse rico... o faria pagar peloprivilgio de t-lo como amigo! "Harry rira gostosamente na ocasio. A mordacidade da condessa o divertiamuito.Agora, ao levar Arilla para conhec-la, sabia estar usando mais daintuio do que da lgica.

    A velhice tornava certas pessoas ms e invejosas, e a prima poderia vir aser uma vtima da condessa. com sua beleza inegvel, Arilla seriainvejada at por criaturas jovens, quanto mais por essa mulher to atenta sua progressiva decrepitude. A condessa poderia detest-la e mesmomago-la, em vez de ir em seu auxlio.Mas a sorte estava lanada, e ele esperava que, apesar de Arilla portaruma aliana de casamento, seu aspecto quase infantil despertasse abenevolente proteo da velha. Mas no transmitira sua inquietao prima para no deix-la nervosa, roubando-lhe a espontaneidade.Mesmo de longe, Arilla notou os vestgios de beleza no rosto da condessa,

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    20/57

    mas achou-a mais velha do que supunha.Depois de serem anunciados, eles se dirigiram at a antiga bergre, ondea anfitri se encontrava, como se estivesse num trono, rodeada porcavalheiros atentos e distintos, carentes de sua considerao.Quando Harry se aproximou, ela ofereceu-lhe a mo para ser beijada.- Voc est mais lindo do que nunca, Harry! Como poderia negar um pedidoseu? Onde est sua prima? Se isso o que realmente ela !

    - Claro que minha prima! Jamais mentiria a Vossa Senhoria.- Voc capaz de tudo para atingir seus objetivos, Harry - retrucou ela,com sabedoria. - Vamos, mostre-me a jovem.- Arilla, venha conhecer a condessa - ele sussurrou, virando-se paratrs. A seguir apresentou: - Esta lady Lindsey, Arilla Lindsey.Arilla fez uma graciosa reverncia para a condessa de Jersey.- J sei que voc viva, Arilla. Eu tambm sou e lhe asseguro que, seas pobres mulheres quiserem ter um mnimo de liberdade em suas vidas,devem providenciar para nascerem vivas ou rfs.Risos soaram pela sala em aplauso espirituosa observao da condessa,que continuou.- com essa carinha, duvido que continue por muito tempo em seu invejvel"estado de graa", ainda mais, como disse seu primo, sendo beneficiria

    de to grande fortuna.Como era de se esperar, Arilla enrubesceu.- Vossa Senhoria est encabulando minha prima. Mas gostaria de informarque, se ela contrair npcias novamente, ser em razo de suas valiosasqualidades pessoais.- facilmente reconhecveis - completou a condessa. - E muito brevesurgiro dezenas de candidatos.- com a sua preciosa colaborao - Harry acrescentou com ousadia.Por um momento reinou um silncio constrangedor; depois a condessabrincou:- Audacioso como sempre, no , meu rapaz? Por isso, gosto de voc -disse ela. E voltou-se para os convidados: - Quem os senhores sugerem queseja apresentado a essa jovem e charmosa viva?Todos comearam a falar ao mesmo tempo, para total embarao de Arilla,

    que se aproximou mais de Harry, pedindo guarida. Ele entendeu seu gesto edeu-lhe um sorriso tranquilizador.Nesse instante alguns retardatrios adentraram o salo. Harry,aproveitando a distrao da condessa, sussurrou ao ouvido da prima:- No se preocupe. J foi bem-aceita. Agora o resto fcil!Harry tinha razo. Seguiram-se inmeras apresentaes a cavalheiros bem-apessoados, todavia, sempre acompanhadas das mordazes observaes dacondessa.Quando conversava com um par da Cmara dos Lordes, que falava com orgulhosobre um discurso que l fizera, Arilla, para seu desalento, ouviu omordomo anunciar:- Lorde Rochfield, milady.Ela notou logo a satisfao da condessa e observou o olhar soberano que o

    lorde lanou pelo salo. Virou o rosto, mas ele imediatamente areconheceu. Prova disso foi o comentrio que a condessa de Jersey fez,com voz maliciosa:- J conhece lorde Rochfield... no, Arilla? Ele insiste em umaapresentao formal, por razes desconhecidas para mim. Portanto eu osapresento: lady Lindsey, lorde Rochfield.Enquanto Arilla o saudava friamente, ele explicava:- Quero iniciar um relacionamento sem equvocos.Ao encontrar os mesmos olhos escuros e atrevidos, ela se certificou maisuma vez de que o detestava. Aquele homem, contra o qual Harry j a havia

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    21/57

    prevenido, a amedrontava. E, quando ele fez meno de se aproximar mais,ela se desculpou:- com licena, preciso ver uma pessoa...Antes que lorde Rochfield pudesse retrucar, Arilla desapareceu entre osgrupos de convivas. Encontrou Harry em animada conversa com um velho econceituado estadista, que discretamente se afastou ante o surgimentoinesperado dela.

    - Lorde Rochfield chegou, Harry - ela disse baixinho.- Eu vi. Seja gentil, mas evite-o, o mais que puder. No o contrarie,para no criar problemas.Arilla ia dizer-lhe que no sabia como seguir instruo to contraditriaquando o lorde os alcanou, falando em tom cordial:- Boa-noite, Vernon. Pensei que o encontraria no clube. Pretendiaconvenc-lo a levar essa jovem fascinante para jantar em minha casa. -Sorriu para Arilla e prosseguiu: - vou dar um jantar em sua honra, com apresena de Sua Alteza Real, a quem devo no s um, mas muitos antares!- Isso se aplicaria a muitos de ns. O que nos consola pensar que oprncipe gosta mesmo de ser o convidado principal de sua prpria mesa -disse Harry rindo.- Talvez. Eu j prefiro ser o anfitrio de sua adorvel parente. Quando

    me daro esse prazer?O desejo de Arilla era que esse jantar nunca se realizasse. No entanto,ele lhe daria uma tima oportunidade para encontrar personalidadesinteressantes e iniciar relacionamentos de futuro. Harry tambm devia serda mesma opinio, tanto que logo se pronunciou.- Muita gentileza sua, milorde. Lady Lindsey e eu nos sentiramoshonrados com sua hospitalidade. Mas. estamos com nossa agenda lotada.Deixe-me ver... na prxima quarta-feira?- Perfeito! - exclamou lorde Rochfield. - S espero que lady Lindsey sedivirta porque... quanto aos outros... quem no se compraz ante toencantadora criatura?"Muito formais para serem sinceras essas palavras", pensou Arilla.Notou que os olhos do lorde a examinavam com a mesma avidez da noiteanterior. E, outra vez, sentiu-se desconfortvel, achando que seu vestido

    era um pouco transparente e exagerado no decote.Apesar de ingnua, Arilla percebia que aquela no era a maneira de umcavalheiro olhar para uma dama de respeito."Ele odioso e est se comportando de um modo abominvel", considerou.Nesse instante a condessa tocou Harry com seu leque para dizer-lhe:- A princesa de Lieven acaba de chegar. Veja se voc a entretm a fim deparalisar sua lngua viperina.Atnita, Arilla ouviu a risada dele e viu-o apressar-se obedientemente emdireo princesa, esposa do embaixador russo. Quis segui-lo, mas lordeRochfield levou-a Para o canto extremo do salo, onde havia um sofdesocupado.- Agora me fale de voc. Acredito que no campo, onde esteve escondida,sua beleza foi decantada apenas Pelos pssaros e pela brisa! No deixa de

    ser uma pena.- um poeta, milorde - disse ela em tom de ironia.- S quando estou com voc. Quando a encontrei ontem, pensei estar tendouma viso.Contrariada, Arilla virou o rosto, mas ele continuou:49- Ser que ainda no me desculpou por t-la confundido com uma dasmeninas da Mimi? As circunstncias me levaram a isso!- Continuo sem entender. No conheo essa Mimi.- Ento vamos esquecer a noite de ontem, com exceo do impacto que voc

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    22/57

    me causou. Sem mais delongas, minha linda, estou perdidamente apaixonadopor voc.- No possvel, milorde! - retrucou ela. - E no devia falar assim...Em to pouco tempo de conhecimento!Lorde Rochfield riu.- No sabe que tempo no tem nada a ver com emoes? O amor nasce derepente, como uma fasca

    em cu tempestuoso...- S posso duvidar de um sentimento com bases nafragilidade de um mero encontro!As palavras de Arilla eram frias e duras e seus olhos moviam-se, aflitos, procura de Harry.com surpresa e desagrado, sentiu as mos do lorde segur-la peloscotovelos e ouviu a voz clara e firmedizer:- Oua bem, sou um homem obstinado. Quero voce vou t-la s para mim... - E, fitando-a com ternura,continuou: - Tomarei parte no jogo, seja l qual for,mas ao final a terei em meus braos.Arilla no pde evitar a vaidade motivada por tal

    declarao, jamais ouvida da boca de algum homem.Instintivamente, olhou-o, impressionando-se com a chama reluzente quebrilhava naqueles olhos escuros.Apavorou-se quando sentiu mos poderosas agarrarem-na, puxando-a parajunto de um corpo fremente. Teve mpetos de fugir, mas seu bem treinadoautocontrole de menina inglesa a fez raciocinar e optar peladiplomacia.- Cuidado, milorde, est quebrando o mais primriodos princpios da moral vitoriana. Sinto dizer que suas palavras no meinteressaram, e com todo o respeito que peo permisso para me retirar.Levantou-se com firmeza e afastou-se dele devagar. Lorde Rochfield no adeteve, para evitar escndalo. medida que ela caminhava, ouvia-lhe a risada desdenhosa e artificial.Mais uma vez aproximou-se de Harry, que se ocupava com a princesa. Ele ia

    apresent-la princesa, quando um senhor atarracado, que estava ao lado,tomou a dama pelo brao, e ambos se afastaram falando em russo.- O que houve? - Harry perguntou, contrafeito.- Lorde Rochfield est sendo inconveniente. Vamos embora.- Pelo amor de Deus! A ceia nem foi servida. e seria um insulto sairmosantes da meia-noite. Ser que no sabe intimidar lorde Rochfield? Tenhapacincia, Arilla, voc parece uma criana - reclamou Harry com vozirritada.- vou tentar... no fcil.- Nada fcil... mas faz parte de nossa empreitada - ele retorquiu. -Venha c, vou apresent-la a um grande amigo meu.Dirigiram-se a um jovem que atravessava o salo.- Charles, vem c, h algum que quero que conhea.

    - Ol, Harry, sabia que iria encontr-lo aqui. Ao ver Arilla, ficouvivamente alvoroado.- Sir Charles Ledger, minha prima lady Lindsey- apresentou Harry com voz solene.- Nunca soube que voc tivesse uma prima assim encantadora, Harry! Todosos seus parentes que conheo so exatamente como os meus: maantes eantipticos. Mas. como dizia meu pai, "mesmo no pntano pode aparecer umaflor".51Arilla achou graa no exagero da observao e deu uma risada cascateante.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    23/57

    - Paris deixou-o afiado, hem, menino! Nunca o vi to loquaz! Charlesesteve em Paris, sob os auspcios da Secretaria dos Negcios do Exterior- Harry explicou- e, como se v, aproveitou bem a viagem.- Adoraria conhecer Paris, agora que acabou a guerra - disse Arilla. -Tantos lugares que no passavam de simples nomes para ns tornaram-sepropcios a uma visita.

    - Harry e eu conhecemos grande parte do continente durante a guerra. Mas,graas a Deus, as coisas esto muito diferentes agora.- . ouvi falar. Precisaria examinar in loco disse Harry, dando umprofundo suspiro."Se eu fosse rica. faria tudo por Harry", pensou Arilla. "Parece incrvelque ele seja to pobre... enquanto seus amigos tm tanto dinheiro paraesbanjar "E realmente no havia nenhum sinal de economia naquela noite. Sentaram-separa uma ceia magnfica, onde todo o requinte da arte de comer e de beberhavia sido empregado. Excelentes vinhos foram servidos, sempre natemperatura ideal: suficientemente frios para parecerem aveludados nalngua, mas nunca to gelados que perdessem o aroma e o sabor.Os dois amigos no pouparam elogios.

    - Ao que parece, a condessa quer sobrepujar as reunies de Carlton Houseou do Pavilho Real, em Brighton - comentou Charles. - Alis, o queaspiram todos esses gr-finos depois da reforma feita no bar e na adegado prncipe regente. Sua Alteza Real conseguiu criar uma verdadeira grutade Aladim!- Gostei da comparao! - exclamou Harry. J imaginou o que deve tercustado ao tesouro real?- E no sei se valeu a pena. Eu no gostei... Todaaquela decorao oriental no faz o meu gnero. Devo admitir que tudomuito luxuoso, e a atmosfera bem prpria do gosto do prncipe.- Deve ser - Harry afirmou, lamentando no ter estado l ainda.Arilla sonhava ter a oportunidade de algum dia visitar Carlton House e oPavilho Real, mas lembrou-se, com tristeza, do fraco que o prncipetinha por mulheres maduras, se que os mexericos eram verdadeiros.. .

    Quando voltaram ao salo, aps a ceia, a orquestra de cordas tocava umapea romntica, enchendo o salo de poesia e sensibilidade.Harry e Charles entretinham-se falando sobre as corridas a se realizaremno dia seguinte.Atrada por um quadro de Rubens, Arilla afastou-se um pouco. E outra vezsoou ao seu ouvido a desagradvel voz de lorde Rochfield:- Voc muito mais bonita do que qualquer obra de arte.Ela notara que, durante a ceia, o lorde sentara-se ao lado da anfitri,provando sua grande respeitabilidade, e como temesse desagradar acondessa, aceitou com pacincia o cumprimento dele.- Por certo Vossa Senhoria conhece bem a arte da pintura. Ser quepoderia me instruir sobre essas valiosas obras? - disse com ingenuidade emostrou a fileira de quadros expostos ao longo das paredes.

    - Prefiro olhar para voc, mas. . . vou lhe mostrar um quadro que no hquem no admire. um Poussim.Levou-a para o fundo do salo, onde uma esplndida tela despertou, emArilla, a ambio de posse, que no passou despercebida ao lorde. Mais doque depressa, ele informou-lhe:- Vou presente-la com um quadro desse mestre. Ou... prefere diamantes?Arilla retesou-se. Sabia, por intuio, que no seriaprprio um homem oferecer-lhe jias... Sentiu-se insultada e respondeuironizando:- Nem uma coisa, nem outra... Prefiro cavalos!

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    24/57

    - Ento vai t-los.Ela deu um gritinho de susto.- Eu estou brincando! evidente que no posso receber presentes de VossaSenhoria, seja l o que for.- E por que no? Voc muito inocente. Duvido que nesta sala haja algumamulher que j no tenha sido generosamente presenteada pelo sexo oposto.- Talvez, milorde. Na minha cidadezinha, tnhamos outros valores. Cresci

    sabendo que presentes... s se recebe de marido.Lorde Rochfield riu-se.- O que voc me diz muito claro: quer alguma coisa muito mais valiosapara uma mulher como voc do que quadros, brilhantes e cavalos. umaaliana de casamento.- Nem pensei nisso! Mas. talvez tenha razo. Arilla sabia que ele no erado tipo de se casar. Harry j a havia prevenido. Assim como o prnciperegente, o lorde jamais chegaria ao casamento. Ambos escandalizavam todaa sociedade com suas aventuras amorosas. No buscavam as mulheres para asatisfao de um ideal; queriam-nas apenas para a cama. Sua me tambm sechocaria, se conhecesse o lorde.Ao chegar a essa concluso, sentiu-se bem esperta para uma moa simplesdo interior.

    Pondo um fim ao dilogo, voltou a contemplar Poussin. Nenhuma outrapintura a encantaria tanto!Em um sussurro, ouviu a voz de lorde Rochfield:- Quer se casar outra vez, no ? Poderemos pensar nisso, mais tarde.Arilla achou que no tinha ouvido bem e, quando se voltou, deparou-se comuma expresso estranha naqueles olhos escuros. No entendeu mas seamedrontou bastante. Ele se aproximou ainda mais para dizer:Desde a noite passada voc no saiu de meu pensamento. No vejo maisnada, alm da beleza de seus olhos e do tom dourado de seus cabelos.Havia algo de esquisito naquela voz. Ela teve medo de fit-lo. - de serhipnotizada e impulsionada para aqueles braos suplicantes. Mas era muitotarde para se arrepender de t-lo acompanhado ao fundo do salo.- Voc j foi casada, minha querida. Por que est to nervosa e emdvida? Tinha medo de seu marido?

    - No quero falar nisso.- Se ele no tivesse posto essa aliana em seu dedo, no acreditaria quealgum homem a tivesse possudo ou mesmo. beijado. H uma aura de purezaem voc, e isso me enlouquece e me faz prisioneiro de seus encantos.Havia paixo nessas palavras, e Arilla amedrontou-se. Olhou para osconvidados em busca de Harry, suspirando aliviada quando o viu caminhandopara ela.Ao alcan-la, ele advertiu:- Se voc pretende montar amanh, conveniente irmos embora.- Tem razo - ela apressou-se a dizer. - Tambm estou muito cansada.- Na verdade. est querendo fugir - lorde Rochfield emendou.- Fugir? - exclamou Harry. - Por acaso esteve aborrecendo minha priminha,lorde Rochfield? Ela veio do campo e no est habituada com dom-juans da

    cidade.- Logo se v. Mas lhe garanto que no tive inteno de mago-la ouaborrec-la.- Espero que no - Harry declarou com secura e firmeza.- Pode confiar em mim. vou tomar a liberdade de visitar lady Lindsey,amanh.- No sei se... vou poder.Arilla no completou a frase porque Harry j dizia:- Estamos muito ocupados. No temos tempo para receb-lo.- Est me provocando, ou prefere fazer uma aposta, sr. Vernon?

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    25/57

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    26/57

    aceit-lo.""Que bom voc tambm no ter gostado!", Arilla exclamara aliviada.Harry, ento, sugerira-lhe que usasse uma fita de veludo e pregasse nelauma orqudea branca, dando assim um toque chique e primaveril. Ficaramais bonito do que antes, e ela fora sobejamente elogiada; algunscomentrios chegaram aos ouvidos do primo:"A viva rica to linda quanto modesta... digna e discreta em suas

    atitudes. No se preocupa em exibir suas jias. vou inclu-la em meucrculo de amizades".Talvez para essa noite ele tambm a quisesse usando apenas flores; porisso Arilla pediu a Rose que procurasse o mais lindo boto de rosa entreos frescos ramalhetes recm-chegados para a decorao da casa, a fim decoloc-lo em sua gargantilha.Infelizmente, no gostou do efeito e optou por uma simples fita de veludocor-de-rosa.- Est lindo! - aprovou Rose.- Falta alguma coisa... - Arilla pensou em voz alta.- Est timo assim e. garanto que o sr. Harry vai gostar. assim que nso tratamos aqui - Rose informou, dando uma risadinha.- Espero que goste - Arilla respondeu. Depois, num impulso, ela

    perguntou: - Voc disse que chama o sr. Vernon de sr. Harry? Ele vem aquicom frequncia?- Vem, sim. Dona Mimi louca por ele, como tambm todas as outras. Masele no pode muito. Rose parou de falar de repente, como se percebessesua indiscrio. Depois gaguejou: - Mas. Sua Graa, o lorde Barlow, muito generoso, e todas gostamos de trabalhar para ele.- Porm ele no mora aqui, mora?Arilla lembrou-se de que, ao passar por Berkeley Square, Harry lhemostrara a manso dos Barlow, impressionante pela suntuosidade.- Oh, no, milady! Sua Graa s vem quando pode. por pouco tempo... Houtros cavalheiros! Mas gostamos mesmo do doutor Harry."Qual ser o relacionamento de lorde Barlow e Mimi?", Arilla conjecturou.Perguntara muitas vezes a Harry mas ele se esquivara. Tinha perguntadotambm em que teatro Mimi trabalhava e nunca recebera resposta concreta:

    "Ela est trabalhando, no momento, em Paris, com o lorde. Por issoestamos aqui, usando a casa,as carruagens, os cavalos de Sua Excelncia, sem... gastarmos nada! "Arilla esboou um sorriso de felicidade por ter deixado tudo nas mos doesperto primo e pensou: "Ele j deve estar chegando". Como seria bom sejantassem sozinhos. mesmo em casa. Eram to poucos seus momentos a sscom ele.Apesar de Harry estar sempre presente para opinar sobre sua aparncia,ela o queria a seu lado por mais tempo, uma vez que em sociedade ficavamdistanciados, preocupados apenas com os bons partidos que poderiamaparecer.Parecia impossvel j ter sido pedida em casamento em to curtapermanncia em Londres. A proposta viera de um par do reino, a quem

    encontrara apenas duas vezes. Ele havia se sentado a seu lado durante umjantar, ignorando por completo todos os que o rodeavam, a ponto de Arillaach-lo sem muita fidalguia.Depois do jantar, danaram. O nobre senhor a convidara para se retirarema uma sala, contgua ao salo, com o pretexto de admirarem uma pintura.Para surpresa dela, a sala estava deserta. Ele fechara a porta e dissera:"Finalmente a consegui s para mim. Gostaria de saber se me dar honrade ser minha esposa".Arilla ficara estupefata. Nunca havia pensado que um pedido de casamentopudesse acontecer to rpido e de forma to banal. Por um instante achou

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    27/57

    que ele estivesse brincando, mas quando o viu, grave e emocionado,convenceu-se da seriedade da proposta."Case-se comigo, por favor. Juro que ser feliz! Poderemos fazer tantascoisas juntos, em minha fazenda..." Tomara-lhe as mos e as cobrira debeijos.Os lbios frios e sequiosos a deixaram to nauseada que lamentou o fatode no ter calado as luvas, pois assim teria evitado aquele contato

    desagradvel."Desculpe... ", ela comeara a falar, com voz trmula, quando a porta seabriu e um grupo de pessoas invadiu alegremente a sala, dando-lheoportunidade para escapar em direo a Harry.Naquele momento, uma linda mulher no disfarava a atrao que sentia porele. Sentara-se a seu lado durante o jantar, e, segundo Arilla, pareciaenamorada. Sussurrava-lhe algo ao ouvido e tocava-lhe o brao com a moornada por faiscante e valioso anel, revelando claramente seussentimentos.Assim que Arilla aproximou-se, Harry dissera com alegria:"Ah, voc chegou! Queria mesmo apresent-la a uma de minhas melhoresamigas, a marquesa de Westbury".A nobre dama no mostrara entusiasmo e, com cerimnia, moveu a cabea num

    cumprimento formal. Depois, como se Arilla no existisse, virou-se paraHarry e continuou o assunto:"No v se esquecer, querido... Ficarei muito zangada se voc noaparecer"."Jamais se zangaria comigo!", afirmara ele.A marquesa se afastou. Ento Harry apressara-se em perguntar: "O quehouve, Arilla? Est assustada!" "Agora no posso falar. ", dissera elaolhando ao redor."Ento vamos danar."Harry pegou-a pelo brao e a levou at a pista de dana. O som de umavalsa sentimental, recentemente apresentada em Londres pela condessa deLieven, enchia o salo.Muitos a achavam imprpria e reprovavam a maneira audaciosa com que ospares costumavam bailar aos acordes dessa recente composio.

    Arilla sabia que Harry era um timo danarino. Enquanto danaram, elacontou-lhe, com voz fraca e nervosa, que o duque de Fladbury acabara delhe pedir em casamento. Ergueu o rosto espera de uma resposta, temendoque ele quisesse uma aceitao sua, mas, surpreendentemente, ele soltaraum riso franco."J esperava por isso.""Como assim? ""Ele est procura de uma mulher rica. Est enterrado at os olhos dedvidas e h dois anos persegue herdeiras de grandes fortunas.""E... eu fiquei com medo.""De ter que casar-se com ele? No. No o indicaria minha pior inimiga!"Arilla dera um riso sonoro e jovial. De repente a festa tornara-se mgica

    e animada. As luzes dos candelabros brilhavam mais, e os sons inebriantesda valsa transportavam-na aos cus.Finalizando os preparativos para jantar na casa de lorde Rochfield,Arilla pensava em quo maante e cansativo seria o passeio. Consolava-secom a certeza de no ser assediada com um pedido de casamento.Rose foi ao guarda-roupa escolher um agasalho que combinasse com ovestido e trouxe um lindo casaco de veludo azul-claro, debruado complumas. Arilla jogou-o displicentemente nos ombros e examinou-se aoespelho. Nesse instante, uma batida na porta sobressaltou-a.- A carruagem chegou, milady - avisou o lacaio.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    28/57

    - O sr. Vernon teve um imprevisto e manda avisar que vai encontrar asenhora em casa de Sua Graa.Arilla ficou gelada de aflio e quase chorou de desapontamento.Uma das coisas de que mais gostava eram as idas e vindas das recepes,quando podia conversar a ss com o primo, sem a preocupao derepresentar o papel de viva rica e ser simples e natural como semprefora.

    "Qual ser o imprevisto? A marquesa de Westbury ou alguma outra mulher?",perguntou-se.Harry era um homem atraente, sempre rodeado de mulheres belas einteligentes, apesar de mais velhas do que ele. Isso s vezes a faziasentir-se um estorvo na vida dele.Desanimada, tomou a carruagem, grande, confortvel e luxuosa. Nunca usarauma igual. Os cavalos eram de raa, e, assim que a portinhola foifechada, comearam a andar em passo suave e disciplinado.O som metlico e ritmado das ferraduras batendo nas pedras cessou e, maisdo que nunca, ela quis ter Harry a seu lado. Assim que despediu ococheiro, arrependeu-se. Agora nada mais havia a fazer a no ser rezarpara que outros convidados j tivessem chegado. Eles evitariam a maneiradesagradavelmente ntima e atrevida com que o lorde costumava receb-la.

    Arilla no revelara a Harry seus temores, pois ele a qualificaria de tolae j lhe dissera ser prefervel ter Rochfield como amigo. Tambm noqueria instigar o primo contra o lorde, embora, na verdade, o detestasseapavorando-se com sua presena asquerosa de rptil.Havia chegado Manso Rochfield, em Picadilly em menos de vinte minutos.A casa ficava prxima ao recm-construdo palcio do duque de Wellingtonna esquina do Hyde Park.Os duplos e pesados portes de ferro, decorados com herldicosunicrnios, a marca do braso dos Rochfield foram abertos de par em par.Ela subiu a escadaria exterior, coberta por um tapete vermelho at aporta, onde um mordomo e mais quatro lacaios esperavam entrada doimenso vestbulo de mrmore.Um dos criados tomou o agasalho de Arilla, e o mordomo a fez subir por umdos lanos da escada em curva at o primeiro andar. No pararam onde ela

    supunha ser o salo de recepo. Continuaram pelo largo corredor queostentava obras de pintores clebres, iluminadas por pesados candeeirosde bronze.Em outra circunstncia Arilla teria se interessado por esses quadros epelas lindas peas de moblia francesa, dispostos ao longo da galeria,mas agora preocupava-se, achando que ningum havia chegado e que seadiantara demais. Mais uma vez culpou-se por no ter feito a carruagemesperar at que Harry chegasse...O mordomo abriu uma porta e anunciou:- Lady Lindsey, milorde.Entrando na sala, ela sentiu um aperto no corao ao ver uma nicapessoa, em p, prxima lareira de mrmore ladeada por dois jarreschineses, repletos de lrios do vale: o anfitrio. Lorde Rochfield no se

    moveu, esperou que ela fosse ao seu encontro.Arilla no podia conter o tremor de suas pernas e com dificuldade chegouat ele. Seus olhos, imensos em seu rosto, demonstravam pnico. A vozsaiu dbil e trmula:- Che... cheguei muito cedo, milorde. Meu primo vir mais tarde...atrasou-se.- Deve ter tido um bom motivo... - comentou, e ela o odiou pelainsinuao. - Mas voc est aqui, o que me interessa...Lorde Rochfield tomou-lhe a mo e a levou aos lbios, sem pressa, e essecontato provocou-lhe repulsa.

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    29/57

    Um pajem entrou com uma bandeja que continha duas taas de champanhe, queofereceu a ambos; ao pegar a sua, lorde Rochfield falou:- Hoje preciso fazer um brinde especial porque esta a primeira vez quevoc visita minha casa. Espero que tenha gostado.- H lindos quadros aqui!- E muitos deles retratam deusas, mas nenhuma delas to linda ouatraente quanto voc!

    Os olhos escuros e cobiosos cintilaram fitando-lhe o colo, como se elaestivesse decotada demais.Arilla olhou para a entrada esperando ver Harry ououtro convidado chegar. A porta se abriu, mas quem entrou foi o mordomo,no para anunciar algum, porm para comunicar:- O sr. Vernon, milorde, manda apresentar suas desculpas por no podercomparecer esta noite. por motivo de fora maior.- Obrigado - lorde Rochfield respondeu mais do que depressa.- O que ser que aconteceu? Como Harry pde faltar a um compromisso assimna ltima hora? - perguntou Arilla, no escondendo seu nervosismo.Lorde Rochfield lanou-lhe um olhar de homem experiente.- muito fcil de se entender. A "fora maior" pode ser o prncipe outalvez algum mais interessante como... a linda marquesa.

    - Mas. que indelicadeza!- Para mim um presente dos deuses. Um verdadeiro milagre t-la s paramim!Arilla percebeu nos olhos do lorde uma centelha demalcia enquanto um largo sorriso lhe aflorava aos lbios. com timidez,ousou perguntar:- E os outros convidados da festa?- No h outros - ele respondeu cinicamente. No poderia permitir nossaateno desviada para outros convidados.- Quer. quer dizer. que estamos sozinhos?- Devo confessar que no via a hora de chegar este momento e. tenhocerteza de que voc no vaime desapontar.Enquanto pensava no que fazer, Arilla ouviu o criado anunciar o jantar.

    Lorde Rochfield ofereceu-lhe o brao, e ela timidamente o acompanhou.Todos os sales de banquete que conhecera ficavam no andar trreo, porisso ela pensou que se encaminhariam escada. Contudo, seguiram at ofim do corredor, onde dois pajens os aguardavam diante de uma portaescancarada.Passando por ela, Arilla admirou-se com o tamanho reduzido da sala e coma decorao um tanto bizarra, repleta de flores e plantas, o que lhe davaa impresso de estar em um quiosque de jardim pblico.Teve vontade de rir vendo-se ali naquele "caramancho", cercada delrios, em uma companhia pouco conhecida, mas muito desagradvel.No pde comer quase nada, pois o nervosismo no o permitiu.Contudo, manteve uma atitude calma porque no queria mostrar-seconstrangida diante da criadagem. Permaneceu quieta, pensando num meio de

    escapar dali. Como se o anfitrio lesse seus pensamentos, procuroudistra-la, falando sem parar de suas propriedades e fazendo comentriossobre as ltimas reunies a que haviam comparecido.Arilla no o fitava, com medo de encontrar o atrevimento e a sensualidadesempre presentes naquele olhar.O jantar foi mais simples do que ela esperava, mas tudo que lambiscouestava delicioso. Quando terminaram, lorde Rochfield sugeriu:- Vamos sentar no sof; ficar mais vontade para provar um licor muitoespecial enquanto tomo meu brandy.- No quero mais nada - retrucou ela. No lhe passara despercebida a

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    30/57

  • 8/9/2019 A cobiada Lady Lindsey-179

    31/57

    Era como se uma cinta de ao a cingisse dolorosamente. S lhe restavagritar e. gritar muito.Harry chegou apertada entrada de seu alojamento, na rua Half Moon, esubiu os trs lanos da escada, at o ltimo andar.As melhores hospedarias e aposentos para homens modernos, frequentadoresde St. James, ficavam nessa rua e Harry sabia disso, como tambm sabiaserem bastante caros para ele.

    Contudo, Watkins, um subalterno seu da poca do regimento de cavalaria,lhe arranjara essa gua-furtada, de nmero 19, na rua Half Moon. Erausada como depsito de malas e mveis velhos por um dos donos daquelespequenos estabelecimentos.Fora Watkins quem convencera o proprietrio desses quartinhos a alug-lospor uma ninharia, e Harry ocupava dois cmodos. O bom amigo era quemcuidava desses aposentos, como tambm da roupa de Harry, considerado omais elegante cavalheiro do beau monde londrino.- No possvel, Watkins - Harry dissera ao deixar o regimento. - Seique seu maior desejo ser meu valete, mas. no posso pagar. Infelizmenteessa a verdade.- No tem importncia... capito.- Eu gostaria muito, porm no possvel mesmo.

    - Talvez seja. talvez no.Watkins achara um trabalho nas estrebarias do mercado, prximo aoalojamento de Harry. Costumava acord-lo e servir-lhe o caf da manh,alm de ajud-lo a vestir-se para as recepes da noite. Se Harry tinhaalgum dinheiro, coisa rara, dava ao amigo; caso contrrio, ele viviaapenas do salrio.- No sei o que seria de mim sem voc! - Harry exclamava.De fato, ao entrar achava tudo sempre limpo e em seus lugares. Nesse diasabia que logo Watkins chegaria para preparar-lhe o banho e ajud-lo a sevestir.Harry foi at a velha escrivaninha para pegar a correspondncia, farta emconvites e cartinhas perfumadas. Cada uma, em caro papel timbrado,recendia um odor caracterstico, permitindo sua identificao.Acabava de olhar no relgio quando ouviu um rudo na porta, pouco antes

    de surgir a figura atarracada de Watkins, carregando camisas muito bemlavadas e passadas.- Pensava em voc pois constatei que hora de meu banho - disse Harry,preocupado.- No preciso se apressar.- Como no? J tarde!- Um mensageiro comunicou, h algum tempo, que madame est com uma fortedor de cabea e no vai sair esta noite.- Dor de cabea? Ela parecia muito bem na hora do almoo!Haviam almoado com a sra. Holland, uma dama da sociedade, clebre porsuas reunies culturais.Harry ficara encantado com o desempenho de Arilla na conversa, todiferente das frvolas fofocas da maioria das anfitris do beau monde.

    Dois dos mais inteligentes homens de Londres estavam presentes e aouviram com ateno.Ao voltarem para Islington, ela se achava to exuberante quanto durante oalmoo, e quando ele se despedira, apressado, pois deveria encontrar-secom o prncipe regente em Carlton House, esquecera-se de que ela poderiaestar nervosa por causa do jantar e nem lhe dera uma palavrinha de nimo."Deve ser uma desculpa para se livrar do lorde", pensou Harry.Lorde Rochfield era um homem perigoso e por isso bajulado pela alta roda,preocupada em no t-lo como inimigo. Harry no gostava dele, apenas oaturava, e temia que Arilla se i